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ESTUDOS NO SERMO DO MONTE[Clicar em NDICE]
D.MARTYN LLOYD-JONES
TRADUTOR:
CARLOS BIAGINI
ORIGINAL EM ESPANHOL:
ESTUDIOS SOBRE EL SERMN DEL MONTE
POR D.MARTYN LLOYD-JONES
PASTOR,IGLESIA WESTMINSTER,LONDRES
http://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.html
ORIGINAL EM INGLS
STUDIES IN THE SERMON ON THE MOUNT
INTER-VARSITY PRESS
http://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.htmlhttp://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.htmlhttp://www.iglesiareformada.com/LloydJones_SDM_1.html
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Estudos no Sermo do Monte 2
NDICE
1. Introduo Geral
2. Consideraes Gerais e Anlise3. Introduo s Bem-aventuranas4.
Bem-aventurados os Pobres em Esprito (Mt 5:3, NVI)5.
Bem-aventurados os que Choram (Mt 5:4)6. Bem-aventurados os Mansos
(Mt 5:5)7. Justia e Bem-aventurana (Mt 5:6)8. Meios de Avaliar o
Apetite Espiritual (Mt 5:6)
9. Bem-aventurados os Misericordiosos (Mt 5:7)10.
Bem-aventurados os Limpos de Corao (Mt 5:8)11. Bem-aventurados os
Pacificadores (Mt 5:9)12. O Cristo e a Perseguio (Mt 5:10)13.
Regozijo na Tribulao (Mt 5:11-12)14. O Sal da Terra (Mt 5:13)15. A
Luz do Mundo (Mt 5:14)
16. Assim Brilhe Tambm a Vossa Luz (Mt 5:13-16)17. Cristo e o
Antigo Testamento (Mt 5:17-18)18. Cristo Cumpre a Lei e os Profetas
(Mt 5:17-19)19. Justia Maior que a dos Escribas e Fariseus (Mt
5:20)20. A Letra e o Esprito (Mt 5:21-22)21. No Matars (Mt
5:21-26)22. A Extraordinria Pecaminosidade do Pecado (Mt
5:27-30)23. Mortificar o Pecado (Mt 5:29-30)24. Ensino de Cristo
Acerca do Divrcio (Mt 5:31-32)25. O Cristo e Os Juramentos (Mt
5:33-37)26. Olho por Olho, Dente por Dente (Mt 5:38-42)27. A Capa e
a Segunda Milha (Mt 5:38-42)28. Negar-se a Si mesmo e Seguir a
Cristo (Mt 5:38-42)29. Amar os Inimigos (Mt 5:43-48)
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Estudos no Sermo do Monte 330. Que Fazeis de Mais? (Mt
5:43-48)31. Viver a Vida Justa (Mt 6:1-4)32. Como Orar (Mt
6:5-8)
33. Jejum (Mt 6:16-18)34. Quando orares (Mt 6:9)35. Orao: Adorao
(Mt 6:9-10)36. Orao: Petio (Mt 6:11-15)37. Tesouros na Terra e no
Cu (Mt 6:19-20)38. Deus ou as Riquezas (Mt 6:19-24)39. A Detestvel
Escravido do Pecado (Mt 6:19-24)40. No Andeis Ansiosos (Mt
6:25-30)41. Pssaros e Flores (Mt 6:25-30)42. Pequena F (Mt 6:30)43.
Aumentando a F (Mt 6:31-33)44. Preocupao: Causas e Remdio (Mt
6:34)45. No Julgueis (Mt 7:1-2)46. O Cisco e a Viga (Mt. 7:1-5)47.
Juzo e Discernimento Espirituais (Mt 7:6)
48. Buscar e Encontrar (Mt 7:7-11)49. A Regra urea (Mt 7:12)50.
A Porta Estreita (Mt 7:13-14)51. O Caminho Apertado (Mt 7:13-14)52.
Falsos Profetas (Mt 7:15-16a)53. A rvore e os Frutos (Mt
7:15-20)54. Falsa Paz (Mt 7:21-23)
55. Hipocrisia Inconsciente (Mt. 7:21-23)56. Os sinais do
Autoengano (Mt 7:21-23)57. Os dois Homens e as duas Casas (Mt
7:24-27)58. Rocha ou Areia? (Mt 7:24-27)59. A Prova e a Crise da F
(Mt 7:24-27)60. Concluso (Mt 7:28-29)
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Estudos no Sermo do Monte 4CAPTULO 1
INTRODUO GERAL
Ao examinar qualquer ensino, norma sbia proceder do geral
aoparticular. S assim se pode evitar o perigo de que as rvores
nodeixam ver o bosque. Esta norma tem importncia particular no caso
doSermo da Montanha. Devemos levar em conta, portanto, que
precisocomear por expor-se certos problemas gerais com relao a este
famosoSermo e ao lugar que ocupa na vida, pensamento e perspectivas
do
povo cristo.
O problema bvio para comear este: Por que devemos estudar oSermo
do Monte? Por que devo lhes chamar a ateno a respeito de seuensino?
Bom, a verdade que no sei que forme parte do dever do
pregador explicar os processos mentais e afetivos prprios,
emboranaturalmente que ningum deveria pregar se no sentir que Deus
lhe deuuma mensagem. Todo aquele que tenta pregar e explicar as
Escriturasdeve aguardar que Deus o guie e conduza. Suponho, pois,
que a razo
bsica de que pregue a respeito do Sermo do Monte que senti
estapersuaso, esta compulso, esta direo do Esprito. Digo isto com
todainteno, porque de ter dependido de mim no tivesse escolhido
pregaruma srie de sermes a respeito do Sermo do Monte. Conforme
entendoeste sentido de compulso, creio que a razo especfica de que
o v fazer a condio em que se encontra a Igreja crist nestes
tempos.
No me parece que seja julgar com dureza dizer que a
caractersticamais bvia da vida da Igreja crist de hoje , por
desgraa, suasuperficialidade. Esta apreciao se baseia no s em
observaes atuais,mas tambm ainda mais em tais observaes feitas luz
de pocasanteriores da vida da Igreja. Nada h mais saudvel para a
vida crist queler a histria da Igreja, que voltar a ler o referente
aos grandesmovimentos do Esprito de Deus, e observar o que sucedeu
na Igreja emdiferentes momentos de sua histria. Agora, creio que
qualquer um que
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Estudos no Sermo do Monte 5contemple o estado atual da Igreja
crist luz desse marco histricochegar concluso indesejada de que a
caracterstica destacada da vidada Igreja de hoje , como eu j disse,
a superficialidade. Quando digo
isso, penso no s na vida e atividade da Igreja em certo
sentidoevangelizador. A este respeito me parece que todos estariam
de acordoem que a superficialidade a caracterstica mais bvia. Penso
no s nasatividades evangelizadoras modernas em comparao e contraste
comos grandes esforos evangelizadores da Igreja no passado a
tendnciaatual turbulncia, por exemplo, e o emprego de recursos que
tivessemhorrorizado e chocado a nossos pais. Penso tambm na vida da
Igreja emgeral; dela pode-se dizer o mesmo, inclusive em matrias
como seuconceito da santidade e seu enfoque todo da doutrina da
santificao.
O importante que descubramos as causas disso. Quanto a mim,
eusugeriria que uma causa bsica a atitude que temos com relao
Bblia, nossa falha em lev-la a srio, em tom-la como e em
permitirque nos fale. Junto a isso, talvez, est nossa tendncia
invarivel a ir deum extremo a outro. Mas o principal, parece-me, a
atitude que temoscom relao s Escrituras. Permitam-me explicar com
algo mais de
detalhe o que quero dizer com isso.Nada h mais importante na
vida crist que a maneira como
tratamos a Bblia, e a maneira como a lemos. nosso texto, nossa
nicafonte, nossa autoridade nica. Nada sabemos de Deus e da vida
crist emcerto sentido verdadeiro sem a Bblia. Podemos tirar
concluses danatureza (e possivelmente de vrias experincias msticas)
por meio dasque podemos chegar a crer num Criador supremo. Mas
creio que a
maioria dos cristos esto de acordo, e esta foi a persuaso
tradicional aolongo da histria da Igreja, que no h autoridade parte
deste Livro.
No podemos depender s de experincias subjetivas porque h
espritosmaus alm dos bons; h experincias falsas. A, na Bblia, est
nossanica autoridade.
Muito bem; sem dvida importante que tratemos a Bblia de
umamaneira adequada. Devemos comear por estar de acordo em que
no
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Estudos no Sermo do Monte 6basta ler a Bblia. Pode-se l-la de
uma forma to mecnica que notiremos nenhum proveito disso. Por isso
creio que devemos tomarcuidado de todas as regras e normas em
matria de disciplina na vida
espiritual. bom ler a Bblia diariamente, mas pode ser infrutfero
se ofizermos s para poder dizer que lemos a Bblia todos os dias.
Sou umgrande defensor dos esquemas para a leitura da Bblia, mas
devemosandar com cuidado de que com o emprego de tais esquemas no
noscontentamos em ler a parte atribuda para o dia sem logo refletir
nemmeditar a respeito do lido. De nada serviria isso. Devemos
tratar a Bbliacomo algo que de importncia vital.
A prpria Bblia nos diz isso. Sem dvida, vocs lembram dafamosa
observao do apstolo Pedro com relao aos escritos doapstolo Paulo.
Diz que h coisas neles que so difceis de entender, asquais os
indoutos e inconstantes torcem... para sua prpria perdio. Oque quer
dizer o seguinte. Leem estas Epstolas de Paulo, naturalmente;mas as
deformam, desvirtuam-nas para sua prpria destruio. Pode-semuito bem
ler estas Epstolas e no ser melhor no final que o que se erano
comeo devido ao que algum fez Paulo dizer, desvirtuando-o para
destruio prpria. Isto algo que sempre devemos ter em mente
comrelao Bblia em geral. Posso estar sentado com a Bblia aberta
diantede mim; posso estar lendo suas palavras e percorrendo seus
captulos; e,contudo, posso estar tirando uma concluso que no tem
nada a ver comas pginas que tenho lido.
No h dvida de que a causa mais comum de tudo isso atendncia
frequente de ler a Bblia com uma teoria j em mente.
Aproximamo-nos da Bblia com tal teoria, e tudo o que lemos
ficacolorido por ela. Todos ns sabemos que assim sucede. Em certo
sentido certo o que se diz que, com a Bblia, pode-se provar tudo o
que se quer.Assim nasceram as heresias. Os hereges no eram homens
poucohonestos; eram homens errados. No deveria pensar-se que eram
homensque se propuseram expressamente errar e ensinar algo errneo;
contam-se, antes, entre os homens mais sinceros que a Igreja teve.
O que lhes
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Estudos no Sermo do Monte 7ocorreu ento? O problema foi este:
chegaram a ter uma teoria e sesentiram encantados com ela; logo
foram com esta teoria Bblia, e lhes
pareceu encontr-la na mesma. Se a pessoa ler meio versculo e
insiste
muito em outro meio versculo de outra passagem, logo
terdemonstrado sua teoria.Agora, devemos tomar cuidado com isso.
Nada h mais perigoso
que ir Bblia com uma teoria, com ideias preconcebidas, com
algumaideia favorita prpria, porque quanto se faz, passa-se pela
tentao deinsistir muito num aspecto e deixar de lado outro.
Este perigo tende a manifestar-se sobretudo no problema da
relaoentre lei e graa. Sempre sucedeu assim na histria da Igreja
desde seucomeo e continua sucedendo hoje em dia. Alguns insistem
tanto na leique reduzem o evangelho de Jesus Cristo com sua
liberdade gloriosa a
pouco mais que uma coleo de mximas morais. Para eles tudo lei
eno fica nada da graa. Falam de tal modo da vida crist como de
algoque devemos fazer para chegar a ser cristos, que se converte em
purolegalismo e a graa desaparece dela. Mas lembremos tambm que
igualmente possvel insistir tanto na graa custa da lei que tambm
se
chegue a perder o evangelho do Novo Testamento.Permitam-me lhes
dar um exemplo disso. O apstolo Paulo, nada
menos que ele, viu-se constantemente diante de semelhante
dificuldade.Nunca houve um homem cuja pregao, com sua poderosa
insistncia nagraa, fosse com mais frequncia mal entendida. Por
certo, lembram aconcluso que alguns tinham tirado em Roma e em
outros lugares.Diziam: "Pois bem, se isto o que ensina Paulo,
faamos o mal para que
a graa possa abundar, porque, sem dvida alguma, este ensino
conduz aessa concluso e no a outra. Paulo havia dito simplesmente:
"Onde o
pecado abundou, superabundou a graa" Bem pois, sigamos pecando
afim de que a graa possa superabundar.' 'Deus no o queira', diz
Paulo; etem que repetir constantemente. Dizer que porque estamos
sob a graa jno temos nada que ver com a lei, no o que ensinam as
Escrituras.
Naturalmente que j no estamos sob a lei mas sim sob a graa. Mas
isto
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Estudos no Sermo do Monte 8no significa que no precisemos
observar a lei. No estamos sob a leino sentido de que nos condene;
j no nos julga nem condena. No! masdevemos observ-la, e inclusive
ir para alm. O argumento do apstolo
Paulo que se deveria viver, no como aquele que est sob a lei, e
simcomo homem livre em Cristo. Cristo observou a lei, viveu a lei;
comoeste mesmo Sermo do Monte sublinha, nossa justia deve exceder a
dosescribas e fariseus. Na verdade, no veio abolir a lei; cada um
de seusdetalhes deve ser cumprido. E isto algo que vemos muitas
vezesesquecido nesta tentativa de situar a lei e a graa como
anttese, e aconsequncia que h homens e mulheres que prescindem da
lei deforma total.
Mas, deixem-me dizer o seguinte. No verdade que no caso demuitos
de ns, na prtica nossa ideia da doutrina da graa tal que muito
poucas vezes tomamos o singelo ensino do Senhor Jesus Cristo
comseriedade? Insistimos tanto no ensino de que tudo graa e de que
nodeveramos procurar imitar seu exemplo para ser cristos, que
ficamosvirtualmente na posio de prescindir por completo de seu
ensino e dedizer que no temos nada a ver com ela porque estamos sob
graa. Mas
me pergunto com quanta seriedade tomamos o evangelho de
nossoSenhor e Salvador Jesus Cristo. A melhor maneira de enfrentar
este
problema me parece que examinar o Sermo do Monte. Que
ideiatemos, pergunto-me, deste Sermo? Supondo que neste
momentosugerisse que escrevssemos todas as respostas s seguintes
perguntas: Oque significa para ns o Sermo do Monte? Em que sentido
entra emfazer parte de nossas vidas e que lugar ocupa em nosso
pensar e em
nossa perspectiva da vida? Que relao temos com este
Sermoextraordinrio que ocupa um lugar to proeminente nestes trs
captulosdo Evangelho segundo So Mateus? Creio que encontrariam o
resultadomuito interessante e talvez muito surpreendente. Sim,
claro, estamosmuito inteirados da doutrina da graa e do perdo, e
temos os olhos
postos em Cristo. Mas aqui nestes documentos, que dizemos tm
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Estudos no Sermo do Monte 9autoridade, est este Sermo. Em que
ponto comeam a fazer parte denossa perspectiva?
Isto quero dizer quando falo de pano de fundo e introduo. No
entanto, demos um passo mais; vamos expor-nos outra pergunta
vital. Aquem est destinado o Sermo do Monte? A quem se aplica? Qual
naverdade o propsito deste Sermo; que importncia tem? Quanto a
isto,houve opinies opostas. Houve uma vez o chamado ponto de
vista'social' do Sermo do Monte. Dizia que o Sermo do Monte na
verdadea nica coisa importante no Novo Testamento, que nele est
ofundamento do chamado evangelho social. Os princpios, dizia-se,
queele contm falam de como devem viver os homens, e a nica coisa
que
preciso fazer aplicar o Sermo do Monte. Com isso,
pode-seestabelecer o reino de Deus na terra, a guerra acabar e
todos os
problemas terminaro. Este o ponto de vista tpico do evangelho
social,mas no temos por que gastar tempo nele. J passou de moda; s
perduraentre certas pessoas que se poderiam considerar como
relquias damentalidade de trinta anos atrs. As duas guerras
mundiais acabaramcom este ponto de vista. Embora em muitos sentidos
critiquemos a
teologia do Barth, devemos lhe render este tributo: ps de uma
vez portodas em completo ridculo o evangelho social. Mas
naturalmente que averdadeira resposta a este ponto de vista a
respeito do Sermo do Monte que sempre prescindiu que as
bem-aventuranas, dessas afirmaescom que comea o Sermo,
'Bem-aventurados os pobres de esprito';'bem-aventurados os que
choram.' Como esperamos lhes demonstrar,estas afirmaes significam
que ningum pode viver o Sermo do Monte
por si mesmo, sem ajuda. Os defensores do evangelho social,
depois deter prescindido das bem-aventuranas segundo convenincia,
insistiramna considerao dos mandatos e tm dito, 'Este o
evangelho.'
Outro ponto de vista, que talvez seja mais grave para ns,
aqueleque considera o Sermo do Monte como uma simples elaborao
ouexposio da lei mosaica. Nosso Senhor, dizem, percebeu que
osfariseus, os escribas e outros mestres do povo interpretavam mal
a Lei
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Estudos no Sermo do Monte 10que Deus tinha dado ao Seu povo por
meio de Moiss; o que faz, pois,no Sermo do Monte elaborar e
explicar a lei mosaica, dando-lhe umcontedo espiritual mais
elevado. Este ponto de vista mais grave,
naturalmente; e com todo me parece que completamente
inadequadoembora no seja por outra coisa seno porque tambm
prescinde dasbem-aventuranas. As bem-aventuranas nos colocam
imediatamentenum terreno que vai completamente para alm da lei de
Moiss. OSermo do Monte, sim, explica e expe a lei em alguns pontos
mas vai
para alm disso.O outro ponto de vista que quero mencionar aquele
que
poderamos chamar ponto de vista 'dispensacional' do Sermo do
Monte. provvel que muitos de vocs o conheam. Certas 'Bblias'
popularizaram-no. (Jamais gostei de tais adjetivos; s h uma
Bblia,mas por desgraa tendemos a falar da 'Bblia tal' ou a 'Bblia
qual'.)Popularizaram-se, pois, certos ensinos por este meio, as
quais ensinamum ponto de vista dispensacional do Sermo do Monte; em
essnciaafirmam que no tem nada a ver com os cristos de hoje. Dizem
quenosso Senhor comeou a pregar a respeito do Reino de Deus, e que
o
Sermo do Monte esteve relacionado com a inaugurao deste reino.
Pordesgraa, seguem dizendo, os judeus no creram seu ensino. Por
issonosso Senhor no pde estabelecer o reino, e portanto, quase
maneirade ideia tardia, veio a morte na cruz, e maneira de outra
ideia tardia,veio a instituio da Igreja e a era da igreja, o qual
perdurar at certo
ponto da histria. Ento nosso Senhor voltar com o reino e voltar
aentrar em vigor o Sermo do Monte. Isto o que ensinam; dizem,
de
fato, que o Sermo do Monte no tem nada que ver conosco. 'para
aera do reino.' Esteve em princpio destinado para aqueles a quem
nossoSenhor pregava; entrar em vigor de novo no milnio. a lei dessa
era edo reino dos cus; e no tem absolutamente nada a ver com os
cristosde agora.
No h dvida de que estamos diante de um problema srio. Esteponto
de vista ou acertado ou errneo. Segundo ele no preciso ler o
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Estudos no Sermo do Monte 11Sermo do Monte; no me devem
preocupar os preceitos que contm;no tenho por que me sentir
condenado se no fazer certas coisas; notem nada que ver comigo.
Parece-me que se pode responder a tudo isto
do seguinte modo. O Sermo do Monte foi pregado de forma primria
eespecfica aos discpulos. 'Sentando-se, vieram a ele seus
discpulos. Eabrindo sua boca lhes ensinava, dizendo. . .' Agora,
parte-se da base deque lhes pregou . Tomemos, por exemplo, as
palavras que lhes dirigiu,'Vs sois o sal da terra'; 'Vs sois a luz
do mundo.' Se o Sermo doMonte no tiver nada que ver com os cristos
de hoje, jamais devemosdizer que somos o sal da terra nem que somos
a luz do mundo, porqueisso no se aplica a ns. Aplicou-se s aos
primeiros discpulos; voltar aser aplicado a outros mais adiante.
Mas, enquanto isso, no tem nada quever conosco. Tambm devemos
prescindir das promessas do Sermo.
No devemos dizer que devemos fazer com que nossa luz brilhe
diantedos homens a fim de que vejam nossas boas obras e glorifiquem
a nossoPai que est no cu. Se todo o Sermo do Monte no se pode
aplicar aoscristos de hoje, todo ele carece de importncia. Mas
evidente quenosso Senhor pregou a estes homens e lhes disse o que
deviam fazer
neste mundo, no s enquanto Ele estivesse aqui, mas tambm depois
deque tivesse ido. Pregou-se a pessoas que deviam pratic-lo nesse
tempo e
para sempre depois.No s isto. Para mim outra considerao muito
importante que
no Sermo do Monte no se encontra nenhum ensino que no se
achetambm nas diferentes Epstolas do Novo Testamento. Faam uma
listados ensinos do Sermo do Monte; logo leiam as Epstolas.
Encontraro
que o ensino do Sermo do Monte tambm se encontra nelas. Agora,
asEpstolas so para os cristos de hoje; por isso se o ensino que
contm o mesmo que temos no Sermo do Monte, evidente que o ensino
doSermo tambm para os cristos de hoje. Este argumento de peso
eimportante. Mas talvez se poderia expressar melhor da seguinte
forma. OSermo do Monte no mais que um desenvolvimento
acabado,grandioso, e perfeito do que Nosso Senhor chamou seu
novo
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Estudos no Sermo do Monte 12mandamento. Este novo mandamento foi
que nos amssemos uns aosoutros como Ele nos ama. O Sermo do Monte
no outra coisa senoum desenvolvimento disso. Se somos de Cristo, e
nosso Senhor nos
mandou, que nos amemos uns aos outros, aqui nos mostrado
comofaz-lo.O ponto de vista dispensacional se baseia numa ideia
errnea do
reino de Deus. Da nasce a confuso. Estou de acordo,
naturalmente, emque o reino de Deus em certo sentido ainda no foi
estabelecido na terra. um reino que h de vir; sim. Mas tambm um
reino que veio. 'Oreino de Deus est em meio de vs', e 'dentro de
vs'; o reino de Deusest em todo cristo verdadeiro, e na Igreja.
Significa 'o reino de Deus', o'reino de Cristo'; e Cristo reina
hoje em todo cristo verdadeiro. Reina naIgreja quando esta o
reconhece de fato. O reino veio, o reino vem, oreino h de vir. No
entanto, sempre devemos ter isso em mente. Ondequer que Cristo
aceito como Rei, o reino de Deus veio, de modo que,embora no
possamos dizer que reina sobre todo o mundo nos momentosatuais,
sim, reina certamente dessa forma nos coraes e vidas de todoSeu
povo. No h, portanto, nada to perigoso como dizer que o Sermo
do Monte no tem nada que ver com os cristos de agora. Antes,
queroexpress-lo deste modo: para todo o povo cristo. uma
descrio
perfeita da vida do reino de Deus.Agora, no me cabe a menor
dvida de que por esta razo Mateus o
ps no comeo de seu evangelho. Considera-se que Mateus escreveu
oevangelho especialmente para os judeus. Isto foi o que quis fazer.
Daque insista tanto no reino dos cus. E o que quis Mateus
sublinhar? Sem
dvida, isso. Os judeus tinham uma ideia falsa e materialista do
reino.Criam que o Messias era algum que ia chegar para
emancip-los
politicamente. Esperavam algum que os libertasse do jugo
romano.Sempre pensaram no reino em certo sentido externo, mecnico,
militar,materialista. Por isso, Mateus coloca o ensino verdadeiro
com relao aoreino nas primeiras pginas do Evangelho, porque o
grande propsitodeste Sermo apresentar uma exposio do reino como
algo que
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Estudos no Sermo do Monte 13essencialmente espiritual. O reino
sobretudo algo 'dentro de vs'. oque dirige e governa o corao, a
mente e a perspectiva. No s no algo que conduz a um grande poderio
militar, mas tambm 'pobre em
esprito'. Em outras palavras, no nos dito no Sermo do
Monte,'Vivam assim e sero cristos'; antes, somos informados, 'Como
socristos vivam assim.' Assim deveriam viver os cristos; assim tm
queviver os cristos.
Para completar este aspecto de nossa argumentao devemosenfrentar
outra dificuldade. Alguns dizem: Acaso no diz o Sermo doMonte que
nossos pecados so perdoados s se ns perdoarmos a outros?Acaso no
diz nosso Senhor, "Se no perdoardes aos homens as suasofensas,
tampouco vosso Pai vos perdoar as vossas ofensas"? No istolei? Onde
est a graa? Que se nos diga que se no perdoarmos noseremos
perdoados, no graa. Deste modo parece que demonstramque o Sermo do
Monte no se aplica a ns. Mas se disserem isto, teroque separar a
quase toda a cristandade do evangelho. Lembrem tambmque nosso
Senhor ensinou exatamente o mesmo na parbola que se refereno final
de Mateus 18, a do servo que ofendeu o seu rei. Este homem foi
ao rei para lhe pedir que o perdoasse; e o rei o perdoou. Mas
ele mesmose negou a perdoar um conservo que tambm lhe devia algo,
com aconsequncia de que o rei retirou o perdo e o castigou. Nosso
Senhorfaz o seguinte comentrio a respeito disso: 'Assim tambm meu
Paicelestial far convosco se no perdoardes de todo corao cada um a
seuirmo suas ofensas.' exatamente o mesmo ensino. Mas ensina
acasoque sou perdoado s por ter perdoado? No, o que se ensina ,
e
devemos tomar este ensino com toda seriedade, que se no perdoo,
nosou perdoado. Explic-lo-ia assim: aquele que se viu como
pecadorculpado e vil diante de Deus sabe que sua nica esperana do
cu queDeus o tenha perdoado. Aquele que de fato v, sabe e cr nisso
no podenegar-se a perdoar a outro. De modo que, aquele que no
perdoa noconhece o perdo. Se meu corao foi quebrantado diante da
presena deDeus no posso recusar o perdo; e, portanto, digo a
qualquer um que se
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Estudos no Sermo do Monte 14imagine que Cristo perdoou seus
pecados, embora ele mesmo no perdoea ningum. Tome cuidado, meu
amigo, no seja que despertes naeternidade e te encontres com quem
te diz, 'Aparta-te de mim; nunca te
conheci.' Interpretas mal a doutrina, a gloriosa doutrina da
graa deDeus. Aquele que foi de fato perdoado e sabe, aquele que
perdoa. Istosignifica o Sermo do Monte sobre isso.
Mais tarde entraremos em mais detalhes a esse respeito.
Nestemomento me permitam uma ltima pergunta. Tendo considerado a
quemse aplica o Sermo do Monte, perguntemo-nos o seguinte: Por
quedevemos estud-lo? Por que deveramos procurar viv-lo? Vou dar
umalista de respostas. O Senhor Jesus Cristo morreu para que
pudssemosviver o Sermo do Monte. Morreu. Por que? 'Para...
purificar para si um
povo prprio, zeloso de boas obras,' diz o apstolo Paulo - o
apstolo dagraa (veja Tito 2:14). O que quer dizer? Quer dizer que
morreu para que
pudssemos viver o Sermo do Monte. Ele o tornou possvel.A segunda
razo para estudar que nada me mostra a absoluta
necessidade do novo nascimento, e do Esprito Santo e de sua
aointerna, tanto como o Sermo do Monte. Estas bem-aventuranas
me
derrubam ao solo. Mostram-me minha absoluta impotncia. Se no
fossepelo novo nascimento, nada poderia. Leiam e estudem-no,
enfrentem a simesmos luz do mesmo. Ele os levar a compreender a
necessidadefinal do novo nascimento e da ao gratuita do Esprito
Santo. Nadaconduz ao evangelho e Sua graa como o Sermo do
Monte.
Outra razo esta. Quanto mais vivemos e procuramos praticar
esteSermo do Monte, tanto mais bnos experimentamos. Considerem
as
bnos que so prometidas aos que o praticam. O problema de muito
doque se ensina a respeito da santidade que deixa de lado o Sermo
doMonte e nos pede que experimentemos a santificao. Este no omtodo
bblico. Se quisermos ter poder na vida e receber bno,
vamosdiretamente ao Sermo do Monte. Vivamo-lo e pratiquemo-lo
comentrega total, e com isso chegaro as bem-aventuranas
prometidas.'Bem-aventurados os que tm fome e sede de justia, porque
eles sero
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Estudos no Sermo do Monte 15saciados.' Se desejamos ser
satisfeitos, no busquemos bnos msticas;no vamos a reunies com a
esperana de consegui-lo. Examine oSermo do Monte com suas implicaes
e exigncias, considere sua
necessidade absoluta, e o alcanar. o caminho direto
bem-aventurana.Isto desejo deixar impresso na mente de todos.
Digo-lhes que o
melhor mtodo de evangelismo. No h dvida de que todos
deveramosnos preocupar com isso nestes tempos. O mundo de hoje
busca enecessita desesperadamente verdadeiros cristos. Nunca me
canso dedizer que o que a Igreja precisa fazer no organizar
campanhas deevangelizao para atrair a outros, mas sim comear a
viver a vida crist.Se o fizesse, homens e mulheres encheriam nossas
igrejas. Diriam, 'Qual o secreto disso?' Quase diariamente lemos
que o verdadeiro segredo docomunismo que parece fazer algo e dar
algo s pessoas. -me dito comfrequncia, ao falar com jovens e ler
livros, que o comunismo avanatanto no mundo moderno porque as
pessoas sentem que seus seguidoresfazem algo e se sacrificam pelo
que creem. Assim ganham membros. Sh uma maneira de rebater isso, e
demonstrar que possumos algo
infinitamente maior e melhor. Tive a dita de falar no faz muito
commais de uma pessoa convertida do comunismo, e em todos os casos
nofoi consequncia de um sermo ou argumentao intelectual, mas sim
deque este comunista viu em algum cristo singelo abnegao e
preocupao por outros, mais sinceras que ele ou ela jamais
tinhamesperado.
Permitam-me sublinhar isso com uma citao de algo que li faz
algum tempo. Faz tempo foi ministro do governo ndio um
grandehomem chamado Dr. Ambedkar, prias e lder dos prias da ndia.
Nessetempo de quem estou falando tinha muito interesse pelos
ensinos doBudismo, e assistiu a um Congresso de vinte e sete pases
no Ceilo quese tinham reunido para inaugurar uma associao mundial
de budistas.Disse que a razo principal de assistir ao Congresso foi
o desejo dedescobrir at que ponto o budismo era algo vivo. Disse no
Congresso,
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Estudos no Sermo do Monte 16'Estou aqui para descobrir at que
ponto a religio budista dinmica
pelo que respeita aos habitantes deste pas.' A temos o lder dos
priasque queria examinar o budismo. Disse: 'Desejo ver se for algo
vivo. Tem
algo a oferecer s massas de meus irmos prias? Tem dinamismo?
algo que pode elevar o povo?' Mas a tragdia deste homem to capaz
eculto que j tinha passado muito tempo na Amrica e
Gr-Bretanha,estudando o cristianismo. E por ter descoberto que no
era algo vivo, porter encontrado que carecia de dinamismo,
voltava-se agora para o
budismo. Embora no tinha abraado o budismo, no entanto
procuravaver se possua a fora que andava buscando. Este a provocao
que selana a vocs e a mim. Sabemos que o budismo no a
resposta.Pretendemos crer que o Filho de Deus veio ao mundo e que
enviou o Seu
prprio Esprito Santo, com seu prprio poder absoluto que
permanecernos homens para faz-los viver uma vida como a Sua. Veio,
digo, viveu,morreu, ressuscitou e enviou o Esprito Santo para que
vocs e eu
pudssemos viver o Sermo do Monte.No digam que no tem nada a ver
com vocs. Mas, sim, tem
muitssimo que ver conosco! Se todos ns vivssemos o Sermo do
Monte, os homens saberiam que o evangelho cristo possui
dinamismo;saberiam que algo vivo; no andariam buscando em outras
partes.Diriam, 'Aqui est.' Se leem a histria da Igreja vero que os
verdadeirosavivamentos chegaram sempre quando os cristos tomaram a
srio esteSermo do Monte e enfrentaram a si mesmos luz do mesmo.
Quando omundo v o homem verdadeiramente cristo, no s se sente
condenado,mas tambm atrado, arrastado. Portanto, estudemos com
cuidado este
Sermo que quer nos mostrar o que deveramos ser. Examinemo-lo
paraque possamos ver o que podemos ser. Porque no s apresenta o que
nosexige; assinala onde est a fonte de poder. Deus nos d graa
paraexaminar o Sermo do Monte com seriedade e sinceridade e em
oraoat que nos convertamos em exemplos vivos do mesmo, de Seu
gloriosoensino.
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Estudos no Sermo do Monte 17CAPTULO 2
CONSIDERAES GERAIS E ANLISE
No captulo anterior examinamos os antecedentes do Sermo doMonte
e apresentamos uma introduo ao mesmo. Embora queria j sairdisso,
devemos ainda examinar o Sermo de uma forma geral antes deentrar em
detalhes e de analisar as afirmaes concretas que contm.Parece-me
que faz-lo assim muito bom e conveniente. No querodizer com isso
que eu v embarcar num estudo do que poderamoschamar tecnicismos. Os
peritos sentem prazer em discutir, por exemplo,
se o Sermo do Monte tal como o refere Mateus 5 e 6 igual ao
quecontm Lucas 6. provvel que muitos de vocs conheam o que sedisse
a respeito disso. Quanto a mim, com franqueza no me preocupagrande
coisa: na verdade, no temo dizer que no me interessa. No que queira
lanar por terra a coragem de uma discusso e estudocuidadosos da
Escritura nesta forma; mas sim me parece que necessrio estar
constantemente a par para no deixar-se submergir tanto
nos tecnicismos da Escritura que passemos por alto sua
mensagem.Embora devamos nos interessar pelo problema da concordncia
dosEvangelhos e por outros parecidos, Deus no quer, digo,
queconsideremos os Evangelhos como uma espcie de
quebra-cabeasintelectual. Os Evangelhos no so para que extraiamos
deles esquemase classificaes perfeitos; so para que os leiamos a
fim de que saibamosaplic-los, viv-los e pratic-los.
No tento, portanto, dedicar tempo a examinar tais
questestcnicas. Sugeriram-se vrias classificaes e subdivises do
Sermo talcomo aparece nestes trs captulos; houve muitas discusses a
respeitode questes como se h sete bem-aventuranas, oito ou nove.
Outros
podem dedicar tempo a estes problemas se assim o desejarem, mas
eucreio que o importante no so os nmeros, por assim dizer, mas sim
que
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Estudos no Sermo do Monte 18examinemos as prprias
bem-aventuranas. Por isso, espero nodefraudar a ningum que esteja
interessado nessa classe de estudo.
Quanto a isso, nunca esquecerei um homem que, sempre que o
encontrava, deixava-me com a impresso de que era um
grandeestudioso da Bblia. Suponho que em certo sentido o era, mas
sua vidapor desgraa estava muito longe do que se descreve nas
pginas do NovoTestamento. Contudo, o estudo da Bblia era seu
passatempo favorito eisto o que temo. possvel ser estudioso da
Bblia em certo sentidomecnico. Assim como alguns passam horas
analisando Shakespeare,outros o passam analisando a Bblia. muito
bom analisar a Escritura sea pessoa o faz com carter secundrio e se
ela tem cuidado de que issono se converta em algo exclusivo, de
modo que s nos interessemos emcerto sentido objetivo e intelectual.
Trata-se de uma Palavra nica, e nose deve estudar como qualquer
outro livro. Cada vez entendo maisaqueles pais e santos da Igreja
de sculos passados que diziam que aBblia s se deve ler de joelhos.
Necessitamos ser lembrados disso semcessar quando nos aproximamos
da Palavra de Deus, ou seja, que naverdade e de fato a Palavra de
Deus que nos fala diretamente.
A razo, pois, de por que considero importante que falemos
doSermo do Monte em conjunto antes de entrar em detalhes, o
perigoconstante de certas afirmaes, a nos concentrar nelas custa do
resto. Omodo de corrigir esta tendncia, creio, cair na conta de que
no se podeentender nenhuma parte deste Sermo seno luz de todo ele.
Algunsamigos me tm dito: 'Vai me interessar mais quando chegar a
dizer com
preciso o que quer dizer D a quem te pedir', etc. Isto denota
uma
atitude errada diante do Sermo do Monte. Fixam-se s em
afirmaesparticulares. Isto entranha um alto risco. O Sermo do
Monte, se mepermite empregar tal comparao, como uma grande
composiomusical, como uma sinfonia se quiserem. Agora, o todo maior
que umasrie de partes, e nunca devemos perder de vista o conjunto.
No temodizer que, a no ser que tenhamos entendido e captado o Sermo
doMonte em conjunto, no possvel entender nenhum de seus
mandatos
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Estudos no Sermo do Monte 19concretos. Quero dizer que vo e
intil apresentar a algum ummandato concreto do Sermo do Monte a no
ser que tal pessoa j tenhacrido, e aceito as bem-aventuranas, e
tenha conformado sua vida s
mesmas.Nisso radica o fato de que a chamada ideia da 'aplicao
social doSermo do Monte s necessidades modernas' seja uma falcia
tocompleta e uma heresia. Com frequncia as pessoas o aplicaram
destemodo. Por exemplo, escolhem o ponto de 'dar a outra face'.
Tiram-no docontexto do Sermo e, baseados nisso, afirmam que todas
as guerras soimorais e anticrists. No quero agora discutir o
problema do pacifismo;o que me preocupa que no se pode tomar esse
mandato concreto eapresent-lo a um indivduo ou nao ou ao mundo a no
ser que esseindivduo, ou essa nao, ou o mundo inteiro vivam j e
pratiquem asbem-aventuranas. Todos os mandatos concretos que
estudaremosseguem s bem-aventuranas com as quais comea o Sermo.
Isto querodizer quando afirmo que devemos comear com uma viso
sintica,geral totalmente antes de nem sequer comear a considerar as
partesconcretas. Em outras palavras, tudo o que o Sermo contm, se
o
tratarmos de forma adequada, e se quisermos que nos seja de
proveito,deve ser tomado em seu marco natural; e, como acabo de
sublinhar, aordem em que os mandatos aparecem no Sermo na verdade
de sumaimportncia. As bem-aventuranas no aparecem no final, mas sim
nocomeo, e no temo afirmar que a no ser que tenhamos uma ideia
bemclara a respeito delas, no vale a pena prosseguir. No temos
direito a
prosseguir.
Neste Sermo h uma espcie de sequencia lgica. E no s isso; htambm
uma ordem e sequncia espirituais. Nosso Senhor no diz estascoisas
sem pensar; tudo premeditado. Apresentam-se certos postulados,e
deles se seguem certas coisas. Por isso, nunca discuto nenhum
mandatoconcreto do Sermo com uma pessoa se no estiver bem seguro de
queela crist. De nada serve pedir a algum que j no cristo, que
procure viver ou praticar o Sermo do Monte. Esperar uma
conduta
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Estudos no Sermo do Monte 20crist de quem no nasceu de novo
heresia. Os convites do evangelhoquanto conduta, tica e moralidade
sempre se baseiam no
pressuposto de que aqueles a quem tais mandatos so dirigidos
so
cristos.Isto bvio no caso de qualquer das Epstolas, e tambm o
nestecaso. Tomem a Epstola que quiserem. Vero que a subdiviso
igualem todas; sempre a doutrina primeiro, e logo as concluses da
doutrina.Propem-se os grandes princpios e se d uma descrio dos
cristos aquem vai a carta dirigida. Logo, devido a isso, ou porque
creem tal coisa,'portanto' so exortados a fazer certas coisas.
Sempre tendemos aesquecer que todas as Epstolas do Novo Testamento
foram escritas acristos e no a no-cristos; e os convites em termos
ticos dasEpstolas se dirigem sempre aos cristos, aos que so homens
e mulheresnovos em Cristo Jesus. Este Sermo do Monte exatamente o
mesmo.
Muito bem; procuremos apresentar uma espcie de diviso geral
docontedo do Sermo do Monte. Tambm nisso vero que quaseverdade
dizer que cada um tem sua prpria subdiviso e classificao.Em certo
sentido, por que no deveriam t-la? Nada h mais vo que
perguntar: 'Qual a subdiviso e classificao corretas do contedo
desteSermo?' Pode ser subdividido de vrias maneiras. O que me
parecemais adequado o seguinte. Dividiria o Sermo numa parte gerale
outraespecfica. A parte geral do Sermo abrange do Mateus 5:3-16.
Nelestemos certas afirmaes gerais com relao ao cristo. Logo o resto
doSermo se ocupa de aspectos especficos de sua vida e conduta.
Primeiroo tema geral, e logo uma ilustrao deste tema em
particular.
Mas por convenincia, podemos ir um pouco alm em nossasubdiviso.
Em Mateus 5:3-10 temos a descrio da ndole do cristo.Quer dizer,
mais ou menos, as bem-aventuranas que so uma descrioda ndole do
cristo em geral. Logo, os vv. 11,12 diria que apresentam andole do
cristo segundo visto pela reao do mundo diante dele.Somos
informados, 'Bem-aventurados sois quando por minha causa
vosvituperem e vos perseguirem, e disserem todo tipo de mal contra
vs,
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Estudos no Sermo do Monte 21mentindo. Regozijai-vos e
alegrai-vos, porque o vosso galardo grandenos cus; porque assim
perseguiram os profetas que foram antes de vs.'Em outras palavras,
a ndole do cristo descrita de forma positiva e
negativa. Primeiro vemos que classe de homem , e logo
somosinformados, por ser assim, suceder-lhe-o certas coisas. Mas
sempre setrata de uma descrio geral. Logo, naturalmente, os vv.
13-16 so umaexposio da relao do cristo com o mundo, ou, se o
preferirem, estesversculos descrevem a funo do cristo na sociedade
e no mundo; estasdescries do mesmo ficam de relevo e so elaboradas,
e logo resumidas,
por assim dizer, na exortao: ' Assim brilhe tambm a vossa luz
diantedos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem
a vossoPai que est nos cus.'
Temos, pois, a uma descrio geral do cristo. Logo,
parece-me,chegamos ao que chamaria exemplos e ilustraes concretos
de comoum homem tal vive num mundo como este. Pode-se subdividir
destemodo. Em Mateus 5:17-18 temos o cristo diante da lei de Deus e
suasexigncias. Lembraro as vrias subdivises. Descreve-se de forma
geralsua justia. Logo nos fala de sua relao com assuntos como o
homicdio, o adultrio e o divrcio; logo como deveria falar e
suapostura com relao ao problema da vingana e autodefesa, e sua
atitudepara com o prximo. O princpio bsico que o cristo se fixa
sobretudono Esprito e no na letra. Isto no significa que prescinda
da letra, massim ele se preocupa mais com o esprito. O erro dos
escribas e fariseusfoi que se interessavam s no aspecto mecnico. A
ideia crist da lei levaem conta sobretudo o esprito, e se interessa
pelos detalhes s quanto so
expresso do esprito. Este princpio elaborado com uns
quantosexemplos e ilustraes.
Na minha opinio, todo o captulo 6 refere-se ao cristo que vive
napresena de Deus, em submisso ativa a Ele, em dependncia
completadEle. Se se ler devagar o captulo 6 me parece que se chega
a estaconcluso. Centraliza o interesse na relao do cristo com o
Pai.Tomemos, por exemplo, o primeiro versculo: 'Guardai-vos de
fazer a
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Estudos no Sermo do Monte 22vossa justia diante dos homens, para
ser vistos por eles; de outramaneira no tereis recompensa de vosso
Pai que est nos cus.'Prossegue assim do princpio ao fim, e no final
nos repete praticamente o
mesmo. 'No vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que
beberemos?Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios que
procuram todasestas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que
necessitais de todas elas;
buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justia, e
todas estascoisas vos sero acrescentadas.' A temos uma descrio do
cristo comohomem que sabe que est sempre na presena de Deus, de
modo que seinteressa no na impresso que causa em outros homens, mas
em suarelao com Deus. De modo que, quando ora, no se interessa pelo
queoutros pensem, se por acaso louvam suas oraes ou as criticam;
sabeque est na presena do Pai, e que ora a Deus. O mesmo quando
desmola, s a Deus tem em mente. Alm disso, quando se enfrenta
com
problemas da vida, com a necessidade de comida ou veste, sua
reaodiante de eventos externos, tudo o v luz de sua relao com o
Pai. Este um princpio muito importante referente vida crist.
Logo Mateus 7 pode ser considerado como uma apresentao do
cristo como algum que vive sempre sob o juzo de Deus, e no temor
deDeus. 'No julgueis, para que no sejais julgados.' 'Entrai pela
portaestreita.' 'Guardai-vos dos falsos profetas.' 'Nem todo o que
me diz:Senhor, Senhor, entrar no reino dos cus, mas aquele que faz
a vontadede meu Pai, que est nos cus.' Alm disso se compara ao
cristo com ohomem que edifica uma casa que sabe vai ser submetida
prova.
A temos, pois, no s uma anlise geral do Sermo do Monte, mas
tambm um retrato e apresentao completo do cristo. Certos
aspectossempre caracterizam o cristo, e estes so certamente os trs
princpiosmais importantes. O cristo um homem que necessariamente
deve
preocupar-se em cumprir a lei de Deus. Mencionei no captulo 1
atendncia fatal de apresentar a lei e a graa como anttese em
certosentido errneo. No estamos 'debaixo da lei' mas ainda temos
queobserv-la; a 'justia da lei' tem que 'cumprir-se em ns', diz o
apstolo
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Estudos no Sermo do Monte 23Paulo escrevendo aos Romanos. Cristo
veio 'em semelhana de carne de
pecado', condenando 'o pecado na carne'. Bem; por que 'Para que
ajustia da lei se cumprisse em ns, que no andamos segundo a
carne,
mas segundo o Esprito' (Rm 8:3,4)? De modo que, o cristo
algumque vive sempre preocupado por viver a lei de Deus e
cumpri-la. Aqui lembrado como deve consegui-lo.
O terceiro igualmente verdadeiro e fundamental. O cristo algum
que sempre anda no temor de Deus no temor pusilnime,
porque o amor perfeito exclui tal temor. No s se aproxima a Deus
talcomo diz a Epstola aos Hebreus, 'com temor e reverncia', mas
vivetoda a sua vida deste modo. O cristo o nico que vive neste
mundosob esta impresso de juzo. Deve faz-lo assim porque nosso
Senhor lhediz que o faa. Diz-lhe que vai ser julgado pelo que
edificar, que vaichegar o momento do juzo. Diz-lhe que no repita,
'Senhor, Senhor,' queno dependa do que faz na Igreja como se isto
fosse necessrio esuficiente, porque se aproxima o juzo, das mos de
Algum que v ocorao. No se fixa na veste da ovelha, mas no que h
dentro. Agora, ocristo algum que sempre lembra isso. Disse antes
que a acusao
ltima que se far aos cristos de hoje a de superficialidade
evolubilidade. Estes defeitos se manifestam agora mais que nunca, e
porisso bom que leiamos como viviam os cristos de antes. Estes do
NovoTestamento viviam no temor de Deus. Todos aceitaram o ensino
doapstolo Paulo quando escreve, ' necessrio que todos nscompareamos
diante do tribunal de Cristo, para que cada um recebasegundo o que
fez enquanto estava no corpo, seja bom ou seja mau' (2Co
5:10). Isto dito aos cristos. Mas o cristo de hoje no gosta; diz
queno combina com ele. Mas isto o apstolo Paulo ensina como
foiensinado no Sermo do Monte. ' necessrio que todos nscompareamos
diante do tribunal de Cristo'; 'Conhecendo, pois, o temordo
Senhor.' O juzo aproxima-se e vai comear pela 'casa de Deus', como
lgico, dado o que dizemos ser. Toda a seo final do Sermo doMonte
insiste nestas ideias. Sempre deveramos andar e viver com
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Estudos no Sermo do Monte 24desconfiana da carne, de ns mesmos,
sabendo que temos quecomparecer diante de Deus e ser julgados por
Ele. uma 'porta estreita,' um 'caminho apertado', aquele que conduz
vida que vida de fato.
Quo importante , pois, considerar este sermo de uma forma
geralantes de discutir a respeito do que significa quando nos diz
queapresentemos a outra face, e tudo o mais. A pessoa costuma
fixar-senestes detalhes e uma abordagem completamente falsa do
Sermo.
Estabeleamos agora alguns princpios que devem dirigir
ainterpretao deste Sermo. O mais importante que devemos
semprelembrar que o Sermo do Monte uma descrio de uma forma de ser
eno um cdigo de tica ou moral. No deve ser considerado como lei
como uma espcie de 'Dez Mandamentos' ou conjunto de normas eregras
que devemos observar mas antes, como uma descrio do que oscristos
devem ser, ilustrado em alguns aspectos concretos. como senosso
Senhor dissesse: 'Por ser o que sois, assim deveis considerar a lei
eviv-la.' Disto segue-se que cada ordem concreta no deve
serconsiderada e logo aplicar-se de uma forma mecnica ou ao p da
letra,
porque isto a faria ridcula. A pessoa l este Sermo e diz por
exemplo:
Tomemos este mandato Ao que quer demandar contigo e tirar-te
atnica, deixa-lhe tambm a capa. Se fizssemos assim logo nosobraria
nada no guarda-roupa. Esta no a forma de consider-lo. Oque se
inculca que deveria ter tal convencimento que sob
certascircunstncias e condies, devo fazer precisamente isso
entregar acapa, ou andar um quilmetro mais. No se procura uma regra
rgida que preciso aplicar; mas sou tal que, se for a vontade de
Deus e por sua
glria, estou disposto a faz-lo. Tudo o que sou e tenho dEle, e
nomeu. uma ilustrao concreta de um princpio e atitude gerais.
Penso que esta relao entre o geral e o concreto algo muito
difcilde expressar com palavras. De fato suponho que uma das coisas
maisdifceis em qualquer esfera de pensamento definir em que
consiste estarelao. O que mais chega a me satisfazer a seguinte
formulao. Arelao de um mandato concreto com a vida inteira da alma
a relao,
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Estudos no Sermo do Monte 25creio, do artista com as normas e
leis concretas que regem o que faz.Tomemos, por exemplo, o campo da
msica. Um artista pode tocar uma
pea muito inspirada de forma muito exata; talvez no cometa nem
um
s erro. E, contudo, pode dizer com verdade que no tocou a Sonata
aoLuar de Beethoven. Tocou as notas corretamente, mas no era a
Sonata.O que fez, pois? Tocou de forma mecnica as notas exatas, mas
a alma ea verdadeira interpretao estiveram ausentes. No fez o que
Beethovenquis e pretendeu. Nisto, creio, consiste a relao entre o
todo e as partes.O artista, o verdadeiro artista, sempre age de
forma correta. Nem oartista mais genial no pode permitir-se o luxo
de prescindir de regras enormas. Mas no isto o que o torna grande.
algo extra, a expresso; o esprito, a vida, 'o todo' que sabe
transmitir. A temos, parece-me, arelao do concreto com o geral no
Sermo do Monte. No se podemdivorciar, no se podem separar. O
cristo, embora se fixe mais noEsprito, preocupa-se tambm com a
letra. Mas no se preocupa tosomente com a letra, nem nunca deve
pensar na letra parte do esprito.
Permitam-me, pois, resumi-lo deste modo. Eis aqui algumas
provasnegativas que se podem aplicar. Se voc estiver discutindo com
o
Sermo do Monte, a respeito de algum ponto, significa que algo
andamal em sua vida visto que sua interpretao do Sermo
errnea.Parece-me que este critrio muito bom. Ao ler este Sermo algo
mechoca e desejo discuti-lo. Bem, pois, e o repito; isto significa
ou que meuesprito todo anda errado e que no estou vivendo as
bem-aventuranas;ou que interpreto esse mandato concreto de uma
forma errada e falsa. um sermo terrvel este Sermo do Monte. Tenham
muito cuidado ao l-
lo, e sobretudo ao falar dele. Se o criticarem em algo, vocs
dizem muitode si mesmos. Para diz-lo com as palavras de Tiago,
sejamos portanto'prontos para ouvir, tardos para falar, tardos para
ira' (Tg 1:19).
Alm disso, se a nossa interpretao faz com que um mandatoparea
ridculo, podemos estar seguros de que tal interpretao esterrada.
Vocs compreendem a ideia; mencionei-a antes na ilustrao da
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Estudos no Sermo do Monte 26tnica e a capa. Tal interpretao,
repito, deve estar errada, porque nadado que nosso Senhor ensinou
pode ser ridculo.
Finalmente, se vocs considerarem qualquer mandato concreto
deste Sermo como impossvel, mais uma vez sua interpretao domesmo
est errada. Vou diz-lo de outra maneira. Nosso Senhor ensinouestas
coisas, e espera que as vivamos. Seu ltimo encargo, lembram-no,aos
que enviou a pregar foi, 'Ide, e fazei discpulos de todas as
naes,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito
Santo;ensinando-os a guardar todas as coisas que vos mandei.'
Agora, nesteSermo encontram-se precisamente estas coisas. Quis que
se ensinassem,quis que se praticassem. Nosso prprio Senhor viveu o
Sermo doMonte. Os apstolos viveram o Sermo do Monte, e vocs se
tomam amolstia de ler as vidas dos santos ao longo dos sculos, dos
homens aquem Deus utilizou que uma forma mais visvel, vero que,
sempre,foram homens que tomaram o Sermo do Monte no s a srio, mas
emforma literal. Leiam a vida de um homem como Hudson Taylor e
veroque o viveu de forma literal, e no o nico. Estas coisas nosso
Senhoras ensinou e as destinou a ns, o seu povo. Assim como h de
viver o
cristo.Houve um tempo em que o cristo era chamado homem 'temente
a
Deus.' No creio que isto se possa nunca superar homem 'temente
aDeus.' No quer dizer temor pusilnime, no quer dizer temor
queatormente, mas uma maravilhosa descrio do verdadeiro cristo.
Necessariamente , como somos lembrados com tanto vigor no
stimocaptulo deste Evangelho, um homem que vive no temor de
Deus.
Podemos dizer de nosso bendito Senhor que sua vida foi uma vida
cheiade temor de Deus. Entendam o importante que esta ideia da vida
crist.Com frequncia, como j assinalei, os cristos modernos, que
socapazes de dar testemunhos muito brilhantes e
aparentementeemocionantes de alguma experincia que tiveram, no do a
impressode que sejam gente temente a Deus, mas antes, homens
mundanos, tantono vestir como na aparncia, numa espcie de jactncia
e confiana fcil.
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Estudos no Sermo do Monte 27Portanto no s devemos tomar os
mandatos do Sermo com
seriedade. Tambm devemos comprovar nossa interpretao concreta
luz dos princpios enunciados. Tomem cuidado com o esprito de
discutir
com eles; tomem cuidado de no torn-los ridculos; e tomem
cuidadopara no interpret-los de tal modo que paream impossveis.
Esta avida qual somos chamados, e volto a repetir e sustentar que
se todos oscristos da Igreja de hoje vivessem o Sermo do Monte, o
grandeavivamento que anelamos e pelo qual pedimos j teria comeado.
Coisassurpreendentes e assustadoras ocorreriam; o mundo estaria
pasmado, ehomens e mulheres seriam atrados ao nosso Senhor e
Salvador JesusCristo.
Que Deus nos d graa para estudar este Sermo do Monte elembrar
que no queremos julg-lo, mas somos ns os que estamos sob
juzo, e que o edifcio que estamos levantando neste mundo e nesta
vidater que fazer frente seu prova final e ao escrutnio definitivo
do olhodo Cordeiro de Deus que foi imolado.
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Estudos no Sermo do Monte 28CAPTULO 3
INTRODUO S BEM-AVENTURANAS
Terminamos j nossa anlise geral do Sermo pelo que podemoscomear
a examinar esta primeira seo, as bem-aventuranas, esteesboo do
cristo em seus aspectos e caractersticas essenciais. No me
preocupa, como disse, a discusso quanto a se as bem-aventuranas
sosete, oito ou nove. O que importa no quantas bem-aventuranas
h,mas sim tenhamos uma ideia bem clara do que se diz a respeito
docristo. Primeiro quero considerar isto de uma forma geral, mais
uma
vez, porque me parece que h certos aspectos desta verdade que s
sepodem captar se o tomamos como um todo. Ao estudar a Bblia, a
normadeveria ser sempre que comece com o todo antes de dedicar-se s
partes.
Nada h que leve mais facilmente heresia e ao erro que comear
comas partes em vez de que com o todo. O nico homem que est
emcondies de cumprir os mandatos do Sermo do Monte aquele quetem
uma ideia bem clara com relao ndole essencial do cristo.
Nosso Senhor diz que esta pessoa a nica coisa que
verdadeiramente'bem-aventurada', quer dizer, 'feliz'. Algum sugeriu
que se poderiaexpressar assim; a classe de pessoa que tem que ser
felicitado, aclasse de homem que preciso invejar, porque s ele
verdadeiramentefeliz.
A felicidade o grande problema da humanidade. Todo mundoanela a
felicidade e trgico ver em que forma procuram alcan-la. Agrande
maioria, por desgraa, fazem-no de uma forma tal que no podeseno
produzir calamidades. Qualquer coisa que, evitando asdificuldades,
produza a felicidade de algum s momentaneamente, nofaz afinal de
contas seno aumentar os problemas e a calamidade. Nistose manifesta
o engano absoluto do pecado; oferece sempre felicidade, econduz
sempre infelicidade e desdita e calamidade final. O Sermodo Monte
diz, no entanto, que se algum deseja ser verdadeiramente
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Estudos no Sermo do Monte 29feliz, esta a forma. Esta e s esta a
classe de pessoa que verdadeiramente feliz, que realmente
bem-aventurada. Esta a classede pessoa que tem que ser felicitada.
Contemplemo-la, pois, em geral,
por meio de uma reviso sintica destas bem-aventuranas antes
deexamin-las uma por uma. Ver-se- que com este Sermo adoto
umprocedimento um tanto mais pausado e o fao assim
voluntariamente.Referi-me j aos que desejam com nsia saber o que
vamos dizer arespeito do 'vai com ele duas milhas', por exemplo.
No; devemosdedicar muito tempo ao 'pobre em esprito' e ao 'manso' e
outros termoscomo estes antes de examinar esses interessantes
problemas to atrativose emocionantes. Antes de considerar a conduta
devemos primeirointeressar-nos pela conduta.
H certas lies gerais, creio, que se podem tirar das
bem-aventuranas. Primeiro, todos os cristos tm sido assim. Leiam as
bem-aventuranas, e nelas encontraro uma descrio do que deve ser
ocristo. No a simples descrio de jejuns cristos excepcionais.
NossoSenhor no diz que vai descrever como vo ser alguns
seresextraordinrios neste mundo. Descreve a cada um dos
cristos.
Detenho-me aqui por um momento, e o sublinho, porque creio
quedevemos todos estar de acordo em que a fatal tendncia que a
IgrejaCatlica introduziu, e de fato todos os grupos da Igreja que
gostam deempregar o termo 'Catlico', a de dividir os cristos em
dois grupos os religiosos e os leigos, os cristos excepcionais e os
cristos comuns,aquele que faz da vida crist sua vocao e aquele que
se dedica aosassuntos do mundo. Esta tendncia no s por completo
antibblica; em
ltima instncia destri a verdadeira piedade, e de muitas maneiras
anegao do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Na Bblia no
seencontra semelhante distino. Distingue-se entre ofcios
apstolos,
profetas, mestres, pastores, evangelistas, e assim
sucessivamente. Masestas bem-aventuranas no descrevem ofcios; so
uma descrio docarter do cristo. E sob o ponto de vista do carter, e
do que devemosser, no h diferena nenhuma entre um cristo e
outro.
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Estudos no Sermo do Monte 30Vou diz-lo de outra maneira. a
Igreja Catlica a que canoniza
certas pessoas, no o Novo Testamento. Leiam a introduo a
quasequalquer Epstola do Novo Testamento e vero que se dirige a
todos os
crentes como na Epstola Igreja de Corinto, 'chamados a ser
santos'.Toados so 'canonizados', se vocs querem utilizar este
termo, no salguns cristos. A ideia de que esta altura da vida crist
s para uns
poucos escolhidos, e de que o resto temos que viver nas
montonasplancies, uma negao completa do Sermo do Monte, e das
bem-aventuranas em particular. Todos temos que ser exemplos de tudo
o quese contm nestas bem-aventuranas. Por conseguinte, descartemos
deuma vez por todas esta ideia falsa. No to somente uma descrio
dosHudson Taylors ou dos George Mllers ou dos Whitefields ou
Wesleysdeste mundo; uma descrio de todos os cristos. Todos ns temos
quenos conformar a suas pautas e nos elevar norma que
estabelece.
O segundo princpio eu o expressaria assim: Todos os cristosdevem
manifestar todas estas caractersticas. No s so para todos
oscristos, mas necessariamente, portanto, todos os cristos tm
quemanifest-las todas. Em outras palavras no que alguns tm que
manifestar uma caracterstica e outros manifestar outra. No
adequadodizer que uns tm que ser 'pobres em esprito,' e outros tm
que 'chorar,'e alguns tm que ser 'mansos.' e outros tm que ser
'pacificadores,' eassim sucessivamente. No; todo cristo tem que ser
todas estas coisas,tem que as manifestar todas, ao mesmo tempo.
Creio, no entanto, que certo e justo dizer que em alguns cristos
algumas destas coisas se veromais que outras; mas isto no porque
deve ser assim. Deve-se s s
imperfeies que h em ns. Quando os cristos forem por fim
perfeitos,todos manifestaro todas estas caractersticas plenamente;
mas nestemundo sempre haver variaes. No o estou justificando;
simplesmenteo fao notar. O que quero sublinhar que todos e cada um
de ns temosque as manifestar todas ao mesmo tempo. Na verdade,
creio que
podemos ir alm e dizer que esta detalhada descrio tal, que
resultaabsolutamente bvio, quanto analisamos as bem-aventuranas,
que cada
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Estudos no Sermo do Monte 31uma delas implica necessariamente as
outras. Por exemplo, no se podeser 'pobre em esprito' sem 'ter fome
e sede de justia;' e no se pode tertal fome e sede sem ser 'manso'
e 'pacfico.' Cada uma destas coisas em
certo sentido exige as outras. impossvel manifestar
verdadeiramenteuma destas bnos, e receber a bem-aventurana que se
pronuncia sobreisso, sem ao mesmo tempo exibir inelutavelmente as
outras. As bem-aventuranas so um todo completo que no se pode
dividir; de modoque, embora uma pode manifestar-se de uma maneira
mais evidentenuma pessoa que em outra, esto todas presentes. As
proporesrelativas podem variar, mas esto todas presentes, e devem
estar todas
presentes ao mesmo tempo.Este princpio de uma importncia vital.
Mas o terceiro talvez
ainda mais importante. Nenhuma destas descries refere-se ao
quepodemos chamar uma tendncia natural. Cada uma delas por
completouma disposio que s a graa e a ao do Esprito Santo em ns
pode
produzir. Nunca poderia pr isto suficientemente de relevo.
Ningumresponde naturalmente s descries que so dadas nas
bem-aventuranas, e devemos ter sumo cuidado em distinguir bem
claramente
entre as qualidades espirituais que se descrevem nessa passagem
e asqualidades humanas que se assemelham a aquelas. Dito de
outramaneira, h pessoas que parecem naturalmente 'pobres de
esprito;' istono o que nosso Senhor descreve. H pessoas que parecem
sernaturalmente mansas;' quando nos analisamos esse versculo
espero
poder demonstrar que a mansido da qual Cristo fala no a que
pareceser mansido natural numa pessoa no regenerada. No se
procura
qualidades naturais; ningum assim de nascimento e por
natureza.Trata-se de algo muito sutil que difcil para muitos.
Dizem,
Conheo uma pessoa que no crist, que nunca vai a nenhuma
igreja,que nunca l a Bblia, que nunca ora, e que nos diz com toda
franquezaque no se interessa por nada disso. Mas, a verdade que me
parece que mais crist que muitas pessoas que vo igreja e que oram.
Sempre semostra educada e corts, nunca fala com aspereza nem julga
os outros, e
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Estudos no Sermo do Monte 32sempre faz todo o bem que pode. Tais
pessoas olham certascaractersticas da pessoa da qual falam e dizem:
No h dvida de queas bem-aventuranas saltam vista; esta pessoa deve
ser crist embora
negue a f. Esta a classe de confuso que com frequncia se
suscitapor no ter ideias claras a esse respeito. Em outras
palavras, ser nossaresponsabilidade mostrar que o que temos em cada
uma das bem-aventuranas no uma descrio de um temperamento natural,
masantes, uma disposio que a graa produz.
Tomemos essa pessoa que por natureza parece ser to bom cristo.Se
na verdade se trata de uma condio ou estado que harmoniza com
as
bem-aventuranas, parece-me que falso, porque algo detemperamento
natural. Agora, ningum decide qual vai ser seutemperamento, embora
at certo ponto o governe. Alguns de nsnascemos agressivos, outros
pacficos; alguns so despertos e fogosos,outros tranquilos. Somos
como somos, e essas pessoas to boas que secostuma exibir como
argumento contra a f evanglica no so de modoalgum responsveis por
ser como so. A explicao do que so
biolgica; nada tem a ver com a vida espiritual nem sobre a relao
do
homem com Deus. algo puramente animal e fsico. Assim como
aspessoas diferem quanto ao aspecto fsico, assim tambm diferem
emtemperamento; e se isto o que determina que uma pessoa seja crist
ouno, afirmo que completamente falso.
Mas, graas a Deus, no assim. Qualquer de ns, todos ns, sejacomo
for que sejamos por nascimento e natureza, como cristos temosque
ser assim. Esta a glria fundamental do evangelho. Pode tomar o
homem mais orgulhoso por natureza e faz-lo pobre em esprito.
Hexemplos maravilhosos disso. Diria que nunca houve homem
maisorgulhoso por natureza que Joo Wesley; mas chegou a ser pobre
emesprito. No; no tratamos de disposies naturais nem de algo fsico
eanimal, nem do que parece ser carter cristo. Espero saber
demonstrarisso quando chegarmos anlise destas coisas, e creio que
logo vero adiferena essencial que existe entre elas. Trata-se de
caractersticas e
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Estudos no Sermo do Monte 33disposies que so o resultado da
graa, o produto do Esprito Santo e,
portanto, possveis para todos. Abrangem todos os estados e
disposiesnaturais. Estamos, e creio que todos estaro de acordo com
isso, diante
de um princpio vital e essencial, de modo que ao analisar
estasdescries individuais, no s no as devemos confundir
comtemperamentos naturais, mas tambm devemos ter ao mesmo temposumo
cuidado em no defini-las em termos assim. Sempre devemosdistinguir
de uma forma espiritual, e baseados no ensino do
NovoTestamento.
Vejamos agora o seguinte princpio. Estas descries,
conformecreio, indicam com clareza (talvez com mais clareza que
qualquer outracoisa no mbito de toda a Escritura) a diferena
essencial e completaentre o cristo e o no-cristo. Isto o que
deveria realmente nos
preocupar; e esta a razo pela qual digo que to importante
estudar oSermo do Monte. No se procura uma simples descrio do que
ohomem faz; o bsico a diferena entre o cristo e o no-cristo. O
Novo Testamento considera isso como algo absolutamente bsico
efundamental; e, conforme vejo as coisas nestes tempos, a
necessidade
primordial da Igreja uma compreenso clara desta diferena
essencial.Foi-se obscurecendo; o mundo entrou na Igreja e a Igreja
se tornoumundana. A linha divisria no se v to clara como antes.
Houvepocas em que a distino era patente, e essas foram sempre as
eras maisgloriosas na histria da Igreja. Conhecemos, no entanto, os
argumentosque se alegaram. Foi-nos dito que temos que tornar a
Igreja atrativa parao no-cristo, e a ideia consiste em assemelh-la
mais possvel a ele.
Durante a primeira Guerra Mundial houve capeles muito populares,
quese misturavam com os soldados, fumavam com eles, e faziam
muitascoisas que seus homens faziam para anim-los. Alguns pensavam
que,como resultado disso, uma vez que a guerra terminasse, os
ex-combatentes encheriam as igrejas. Mas no sucedeu assim, e nunca
foieste o resultado. A glria do evangelho que quando a Igreja
completamente diferente do mundo, nunca deixa de atra-lo. Ento
faz
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Estudos no Sermo do Monte 34com que o mundo escute sua mensagem,
embora no comeo talvez aodeie. Assim chegam os avivamentos. O mesmo
deve ocorrer em nossocaso como indivduos. No deveria ser nossa
ambio parecermos o mais
possvel a outros, embora sejamos cristos, mas sim ser o mais
diferentespossvel de todo aquele que no cristo. Nossa ambio deveria
serassemelhar-nos a Cristo, quanto mais melhor, e quanto mais
nosassemelhemos a Ele, tanto menos parecidos seremos aos
no-cristos.
Permitam-me explicar-lhes isto em detalhe. O cristo e o
no-cristo so absolutamente diferentes no que admiram. O cristo
admira oque pobre em esprito, enquanto que os filsofos
gregosdesprezavam tal pessoa, e todos os que seguem a filosofia
grega, querintelectualmente, quer na prtica, continuam fazendo
exatamente omesmo. O que o mundo diz a respeito do verdadeiro
cristo que um
pusilnime, pouco homem. Isto o que dizem. O mundo cr naconfiana
em si mesmo, em seguir os instintos, em dominar a vida ocristo cr
em ser pobre em esprito. Vejamos os jornais para ver aclasse de
pessoa que o mundo admira. Nunca encontraremos nada que se
parea menos com as bem-aventuranas que o que atrai o homem
natural
e de mundo. O que desperta sua admirao a prpria anttese do
queencontramos neste Sermo. Ao homem natural gosta da
ostentao,quando isto precisamente o que as bem-aventuranas
condenam.
Logo tambm, como lgico, diferem no que buscam. Bem-aventurados
os que tm fome e sede. Do qu? De dinheiro, riqueza,
posio, social, publicidade? De maneira nenhuma. De justia.
Ejustia ser justo diante de Deus. Tomemos um homem qualquer, um
que no se considere cristo e que no se interesse pelo
cristianismo.Averigemos o que busca e deseja, e veremos que sempre
diferentedisso.
Logo, naturalmente, diferem por completo no que fazem. Isto
umaconsequncia necessria. Se ele admiram e buscam coisas
diferentes,sem dvida, fazem coisas diferentes. A consequncia que a
vida que ocristo vive deve ser essencialmente diferente da que vive
o no-cristo.
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Estudos no Sermo do Monte 35O no-cristo absolutamente coerente
consigo mesmo. Diz que vive
para este mundo. Ele diz: Este o nico mundo, e vou tirar dele
todo oproveito que eu puder. O cristo, pelo contrrio, comea por
dizer que
no vive para este mundo; considera este mundo s como caminho
depassagem para entrar em algo eterno e glorioso. Toda sua
perspectiva eambio so diferentes. Sente, portanto, que deve viver
de um mododiferente. Assim como o homem mundano consequente
consigomesmo, assim tambm o cristo deveria s-lo. Se o for, ser
muitodiferente do outro homem; no pode seno ser assim. Pedro o diz
muito
bem no segundo captulo de sua primeira epstola quando afirma que
secremos de fato que fomos chamados 'das trevas a sua luz
admirvel',devemos crer que isto nos sucedeu a fim de que possamos
louv-lo comnossa vida. E afirma logo: Rogo-vos como a estrangeiros
e peregrinos(os que esto neste mundo), que vos abstenhais dos
desejos carnais que
batalham contra a alma, mantendo boa vossa maneira de viver
entre osgentios; para que no que murmuram de vs como de
malfeitores,glorifiquem a Deus no dia da visitao, ao considerar
vossas boas obras'(1Pe 2:11,12). No faz mais que recorrer ao seu
sentido da lgica.
Outra diferena essencial entre os homens estriba no que creem
quepodem fazer. O homem mundano confia muito em sua
prpriacapacidade e est preparado a fazer qualquer coisa. O cristo
umhomem, o nico homem no mundo, que est verdadeiramente
conscientede suas limitaes.
Espero me ocupar destas coisas em detalhe em
captulosposteriores, mas estas so algumas das diferenas essenciais,
bvias,
patentes que existem entre o cristo e o no-cristo. Nada
h,naturalmente, o que nos exorte mais que o Sermo do Monte a ser o
quedevemos ser, e a viver como devemos viver; ser como
Cristo,apresentando um contraste total com relao a todos os que
no
pertencem a Cristo. Confio, no entanto, em que aquele que tenha
sidoculpado de procurar ser como os homens do mundo em algum
aspecto j
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Estudos no Sermo do Monte 36no continuar fazendo isso, e
compreender que implica umacontradio completa de nossa f.
Talvez possa resumir tudo do seguinte modo. A verdade que o
cristo e o no-cristo pertencem a dois reinos completamente
diferentes.Vocs devem ter notado que a primeira e a ltima
bem-aventuranasprometem a mesma recompensa, 'porque deles o reino
dos cus.' O quesignifica isto? Nosso Senhor comea e conclui assim
porque suamaneira de dizer que a primeira coisa que preciso levar
em conta comrelao a ns que pertencemos a um reino diferente. No s
somosdiferentes em essncia; vivemos em dois mundos
absolutamentediferentes. Estamos neste mundo; mas no somos dele.
Estamos no meiodessa outra gente, naturalmente; mas somos cidados
de outro reino. Isto o elemento vital que se pe de relevo em todas
as fases desta
passagem.O que quer dizer este reino dos cus? H alguns que dizem
que no
o mesmo o 'reino dos cus' e o 'reino de Deus;' mas me resulta
difcildescobrir essa diferena. Por que Mateus fala do reino dos cus
mais quedo reino de Deus? Sem dvida, a resposta que escreveu
sobretudo para
os judeus e aos judeus, e seu objetivo principal, talvez, foi
corrigir oconceito judaico do reino de Deus ou do reino dos cus.
Tinham umaideia materialista do reino; concebiam-no em certo
sentido militar e
poltico, e o objetivo principal de nosso Senhor neste caso
mostrar queseu reino primordialmente espiritual. Em outras palavras
lhes diz:'Vocs no devem pensar neste reino como em algo terrestre.
um reinonos cus, o qual sem dvida afetar a terra de muitas
maneiras, embora
seja essencialmente espiritual. Pertence esfera celestial e no
terrestree humana.' Em que consiste este reino, pois? Significa, em
essncia, ogoverno de Cristo ou a esfera ou reino em que Ele reina.
Pode-seconsiderar de trs modos. Muitas vezes enquanto viveu neste
mundonosso Senhor disse que o reino dos cus era algo j presente.
Onde querque Ele se achasse presente e exercendo funes de mando, l
estava oreino dos cus.
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Estudos no Sermo do Monte 37Lembraro como numa ocasio, quando O
acusaram de expulsar
demnios em nome de Belzebu, fez ver a insensatez que era afirmar
talcoisa, e afirmou logo: Se eu pelo Esprito de Deus expulso os
demnios, certamente chegou a vs o reino. (Mt 12:28). A est o
reinode Deus. Sua autoridade, seu reinado eram j uma realidade.
Logo est aexpresso que disse aos fariseus: 'o reino de Deus est
dentro de vs', ou'o reino de Deus est no meio de vs'. Foi como se
lhes dissesse, 'est-semanifestando no vosso meio.' No digam "vede-o
aqui" ou "vede-o l."Deixai de uma vez esta ideia materialista. Eu
estou aqui em meio de vs;estou agindo; est aqui.' Onde quer que se
manifeste o reinado de Cristoa est o reino de Deus. E quando enviou
os Seus discpulos a pregar,disse-lhes que proclamassem s cidades
que no os recebessem, 'dizei-lhes: aproximou-se de vs o reino de
Deus.'
Quero dizer isto; mas tambm quer dizer que o reino de Deus
estpresente neste momento em todos os verdadeiros crentes. A
IgrejaCatlica costumou identificar este reino com a Igreja, mas
isto no assim, porque a Igreja contm uma multido mista. O reino de
Deus ests presente na Igreja nos coraes dos verdadeiros crentes,
nos coraes
dos que se renderam a Cristo e naqueles que e no meio daqueles
quereina. Vocs lembraro como diz isto o apstolo Paulo de uma forma
quelembra a de Pedro. Ao escrever aos Colossenses d graas ao Pai 'o
qualnos libertou da potestade das trevas, e trasladou ao reino de
seu amadoFilho' (Cl 1:13). O reino de seu amado Filho, o reino de
Deus, oreino dos cus, este reino novo ao qual entramos. Ou, como
diz naEpstola aos Filipenses, nossa cidadania est nos cus. Estamos
aqui
na terra, obedecemos a poderes terrestres, vivemos assim.
Naturalmente;mas a nossa cidadania est nos cus, de onde tambm
esperamos oSalvador (Fp 3:20). Os que reconhecemos a Cristo como
Senhor,aqueles em cujas vidas Ele reina e governa neste momento,
estamos noreino dos cus e o reino dos cus est em ns. Fomos
trasladados aoreino de seu amado Filho; convertemo-nos num
sacerdcio real.
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Estudos no Sermo do Monte 38A terceira e ltima maneira de
considerar o reino esta. Em certo
sentido ainda h de vir. Veio; vem; vir. Estava presente quando
Cristoexercia autoridade: est em ns neste momento; e, no entanto,
ainda h
de vir. Vir quando este governo e reino de Cristo for
estabelecido nomundo inteiro inclusive em certo sentido fsico e
material.Chegar o dia em que os reinos deste mundo se tornaro os
reinos
de nosso Senhor, e de seu Cristo. Ento ter chegado, de uma
formacompleta e total, e tudo estar sob o Seu domnio e poder. O mal
eSatans desaparecero; haver novos cus e nova terra, nos quais
habitaa justia (2Pe 3:13), e ento o reino dos cus ter chegado nessa
formamaterial. O espiritual e o material viro a ser uma mesma coisa
em certosentido, e tudo ficar sujeito ao seu poder, de modo que em
nome deJesus Se dobre todo joelho dos que esto nos cus, e na terra,
e debaixoda terra; e toda lngua confesse que Jesus Cristo o Senhor,
para glriade Deus Pai (Fp 2:10,11).
Esta , pois, a descrio geral que se d do cristo nas
bem-aventuranas. Veem vocs quo essencialmente diferente o cristo
do
no-cristo? As perguntas vitais que nos expomos so, pois,
estas.Pertencemos a este reino? Governa-nos Cristo? Ele nosso Rei
eSenhor? Manifestamos tais qualidades na vida diria? Anelamos que
sejaassim? Compreendemos que devemos ser assim? Somos realmente
bem-aventurados? Somos felizes? Fomos cheios? Temos paz? Pergunto,
aocontemplar esta descrio geral, como vemos que somos? S aquele que
assim verdadeiramente feliz, verdadeiramente bem-aventurado. um
problema simples. Minha reao imediata a estas
bem-aventuranasindica exatamente o que eu sou. Se me parecer que so
difceis e duras,se me parecer que so muito rigorosas e que
descrevem um tipo de vidaque me desagrada, temo que isto signifique
simplesmente que no soucristo. Se no desejar ser assim, devo estar
morto em transgresses e
pecados, no recebi nunca a vida nova. Mas se sentir que sou
indigno e,contudo, desejo ser assim, bem, por muito indigno que
seja, se este
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Estudos no Sermo do Monte 39meu desejo e ambio, deve haver uma
vida nova em mim, devo serfilho de Deus, devo ser cidado do reino
dos cus e do amado Filho deDeus.
Que cada um examine a si mesmo.
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Estudos no Sermo do Monte 40CAPTULO 4
BEM-AVENTURADOS OS POBRES EM ESPRITO
Entramos agora no estudo da primeira das
bem-aventuranas:Bem-aventurados os pobres em esprito, porque deles
o reino doscus. (Mt 5:3, NVI). Como indiquei no estudo precedente,
no admiraque seja esta a primeira, porque obviamente , como
veremos, a chave detudo o que vem a seguir. Nestas bem-aventuranas
h, sem lugar advida, uma ordem bem definida. Nosso Senhor no as
pronunciou naordem em que esto por simples acaso; h nelas o que
poderamos
denominar uma sequncia espiritual lgica. Esta primeira
bem-aventurana deve necessariamente ser a primeira simplesmente
porquesem ela no h acesso ao reino dos cus, ou ao reino de Deus. No
hningum no reino de Deus que no seja pobre em esprito.
acaracterstica fundamental do cristo e do cidado do reino dos cus,
etodas as outras caractersticas so em certo sentido a consequncia
desta.Ao explic-la, veremos que significa um vazio enquanto as
outras so
uma manifestao de plenitude. No podemos ser cheios at que
noestejamos vazios. No se pode encher com vinho novo uma vasilha
queainda conserva algo de vinho velho, at que o vinho velho tenha
sidoderramado. Esta, pois, uma dessas afirmaes que nos lembram
quetem que haver um vazio antes de que algo se possa encher. Sempre
hestes dois aspectos no evangelho; h um derrubar e um
levantar.Lembrem-se das palavras do ancio Simeo com relao a nosso
Senhore Salvador quando o sustentou nos braos. Disse: Este est
posto paraqueda e levantamento de muitos. A queda vem antes do
levantamento. parte essencial do evangelho que antes da converso
deve haver aconvico; o evangelho de Cristo condena antes de
libertar. Isto algomuito fundamental. Se preferirem que o diga de
uma forma maisteolgica e doutrinria, diria que no h afirmao mais
perfeita dadoutrina da justificao pela f que esta bem-aventurana:
Bem-
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Estudos no Sermo do Monte 41aventurados so os pobres em esprito,
porque deles o reino dos cus.Pois bem, este o fundamento de todo o
resto.
Mas no s isso. obviamente uma prova muito a fundo para cada
um de ns, no s ao nos enfrentar a ns mesmos, mas tambmsobretudo
quando enfrentamos a mensagem completa do Sermo doMonte. O caso que
condena imediatamente qualquer ideia do Sermodo Monte que o veja
como algo que vocs e eu podemos fazer por nsmesmos, algo que vocs e
eu podemos levar a cabo. Nega isto desde o
primeiro instante. No comeo encontramos uma condenao to bvia
detodos esses pontos de vista que vimos antes, que o consideram
comouma lei nova ou como algo que introduz um reino entre os
homens.Agora j no se ouvem tanto estas ideias, mas continuam
existindo eforam muito populares a comeos do sculo. Falava-se ento
deintroduzir o reino, e sempre se utilizava como texto o Sermo
doMonte. Consideravam que o Sermo era algo que podia pr-se em
prtica. preciso preg-lo e logo os homens passam imediatamente
ap-lo em prtica. Mas esta ideia no s perigosa, mas tambm umanegao
absoluta do prprio Sermo, o qual comea com esta proposio
fundamental de ser 'pobres em esprito'. O Sermo do Monte, em
outraspalavras, vem a dizer: H uma montanha que vocs devem escalar,
acujo topo devem ascender; e a primeira coisa que devem levar em
contaao contemplar essa montanha que lhes dito para escalar, que
no
podem consegui-lo, que so completamente incapazes disso por
simesmos, e que qualquer tentativa de consegui-lo com suas
prpriasforas prova positiva de que no o entenderam. De primeiro
momento
condena o ponto de vista que o considera como um programa de
aoque o homem deve p-lo em prtica imediatamente.
Antes de passar a falar do mesmo, do que poderamos chamar
umaperspectiva espiritual, h um ponto que preciso considerar com
relao traduo deste versculo. H os que dizem que deveramos l-lo
daseguinte maneira: Bem-aventurados em esprito so os pobres.Alegam
em sustento de tal verso a passagem paralela de Lucas 6:20,
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Estudos no Sermo do Monte 42onde se l Bem-aventurados vs, os
pobres sem meno nenhuma depobres em esprito. Com base nisso, eles o
consideram como umelogio da pobreza. Mas esta ideia completamente
errnea. A Bblia
nunca ensina que a pobreza seja algo bom. O pobre no est mais
pertodo reino dos cus que o rico, se se pensa em ambos no terreno
natural.No h mrito nem vantagem nenhuma em ser pobre. A pobreza
nogarante a espiritualidade. Sem dvida, pois, que a passagem no
podesignificar isso. E se se considera toda a passagem de Lucas 6,
parece-meque est bem claro que nosso Senhor tambm a falou de
'pobres' nosentido de 'no estar possessos pelo esprito mundano,'
pobres nosentido, se quiserem, de no confiar nas riquezas. Isto o
que secondena, o confiar nas riquezas como tais. E obviamente h
muitos
pobres que confiam tanto nas riquezas como os ricos. Dizem: Se
eutivesse isto e aquilo e invejam os que o tm. Se eles sentem
assim
porque no so bem-aventurados. Por isso no pode ser a pobreza
comotal.
Tive que sublinhar este ponto porque a maioria dos
comentaristascatlicos e seus imitadores na Igreja Anglicana gostam
de interpretar
este versculo neste sentido. Consideram-no como a autoridade
bblicana qual se baseia a pobreza voluntria. Seu santo padroeiro
SoFrancisco de Assis; a ele e os que so como ele, consideram-nos
como osnicos que se conformam a esta bem-aventurana. Dizem que se
refereaos que abraaram voluntariamente a pobreza. O j morto Bispo
Goreem seu livro a respeito do Sermo do Monte ensina isso com
todaCaridade. a interpretao 'catlica' tpica desta afirmao
concreta.
Mas bvio, pelas razes expostas, que violenta as Escrituras.Ao
que nosso Senhor refere-se ao esprito; a pobreza de esprito.
Em outras palavras, em ltima instncia a atitude do homem
paraconsigo mesmo. Isto o que importa, no o fato de ser rico ou
pobre.
Nisto temos uma ilustrao perfeita de um desses princpios gerais
quedeixamos estabelecidos antes, quando dissemos que estas
bem-aventuranas indicam com uma clareza nica a diferena total e
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Estudos no Sermo do Monte 43essencial entre o homem natural e o
cristo Vimos que h uma diviso
bem clara entre estes dois reinos o reino de Deus e o reino
destemundo, o homem cristo e o homem natural uma distino e
diviso
completas e absolutas. Pois bem, no h talvez afirmao que
sublinhe eponha de relevo essa diferena melhor que este
Bem-aventurados ospobres em esprito. Permitam-me mostrar-lhes o
contraste. Trata-se dealgo que no somente o mundo no admira;
despreza-o. No possvelencontrar uma anttese maior ao esprito e viso
mundanos que a queencontramos neste versculo. Quanto insiste o
mundo na crena nadependncia de si mesmo, na confiana em si mesmo!
Sua literatura nodiz outra coisa. Se se quer prosperar neste mundo,
afirma, preciso crerem si mesmo. Esta ideia domina por completo a
vida dos homens denosso tempo. Na verdade diria inclusive que
domina a vida toda comexceo da mensagem crist. Qual , por exemplo,
a essncia da arte devender segundo as ideias modernas? dar a
impresso de confiana esegurana. Se se quer impressionar o cliente
esta a forma de consegui-lo. A mesma ideia prevalece e se pe em
prtica em outros campos deatividade. Se se quer ter xito numa
profisso, o importante dar a
impresso de ser uma pessoa de xito, de modo que se d a entender
quealgum uma pessoa de mais xito que o que na verdade se , e a
pessoadiga: Este o tipo de pessoa a quem se deve consultar. Este
o
princpio que rege a vida atual crer em si mesmo, notar a fora
inataque h em algum e fazer com que todo mundo o veja.
Autoconfiana,segurana, autodependncia. Como resultado disso os
homens creem quese viverem segundo esta convico podem introduzir o
reino; nisto se
baseia a suposio fatal de que s com leis aprovadas pela Cmara
deDeputados pode-se produzir uma sociedade perfeita. Por todas as
partesvemos esta trgica confiana no poder da educao e da cincia
comotais para salvar o homem, para transform-lo e convert-lo em
serhumano honesto.
Agora, neste versculo -nos apresentado algo que est em
contrastetotal e absoluto com isso, e lamentvel ver como as
pessoas
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Estudos no Sermo do Monte 44consideram este tipo de afirmao. Faz
sculos algum criticou o famosohino do Carlos Wesley, Jesus, Lover
of my soul. Um crtico disse:Quem, se quer conseguir um trabalho ou
emprego, teria a ideia de ir ao
empresrio para dizer: "Sou mpio e cheio de pecado"? ridculo!
Epor desgraa disse isso em nome do que considerava como
cristianismo.Creio que vocs veem quo grande mal-entendido desta
primeira bem-aventurana revelam estas palavras. Como lhes
explicarei a seguir, nose procura homens que reconhecem o que so
uns diante de outros, massim de homens que se apresentam diante de
Deus. E se algum sente na
presena de Deus algo que no seja uma absoluta pobreza de
esprito, emltimo termo, quer dizer que nunca esteve diante dEle.
Este osignificado desta bem-aventurana.
Mas nem sequer na Igreja de hoje tem muito bom nome esta
bem-aventurana. Isto tinha em mente quando lamentei antes o
contrastesurpreendente e bvio entre a Igreja de hoje e a de pocas
passadas,sobretudo na poca puritana. Nada h to no-cristo na Igreja
de hojecomo este falar nscio a respeito da 'personalidade.'
Perceberam isso esta tendncia a falar a respeito da 'personalidade'
da parte dos oradores e
a empregar expresses como 'Que personalidade to estupenda tem
estehomem'? A propsito, lamentvel ver a maneira como os que
assimfalam tm de definir a personalidade. Costuma ser algo
puramentecarnal, uma questo de aparncia fsica.
Mas, e isto ainda mais grave, esta atitude costuma basear-se
numaconfuso entre autoconfiana, segurana em si mesmo, por um lado,
e averdadeira personalidade, por outro. De fato, s vezes notei uma
certa
tendncia de inclusive no valorizar o que a Bblia considera como
avirtude maior, ou seja, a humildade. Ouvi membros de uma
comissofalar de certo candidato e dizer: 'Sim, muito bem; mas lhe
falta
personalidade,' quando minha opinio desse candidato era que
erahumilde. Existe a tendncia a valorizar certa agressividade e
seguranaem si mesmo, e a justificar que algum se sirva de sua
personalidade
para procurar imp-la. A propaganda que se emprega cada vez mais
na
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Estudos no Sermo do Monte 45obra crist pe bem claramente de
manifesto esta tendncia. Quando sel relatos das atividades dos
maiores obreiros cristos de outros tempos,evangelistas ou outros, a
gente percebe quo discretos eram. Mas hoje
em dia, estamos vendo algo que a anttese mais completa
disto.Empregam-se com profuso anncios e fotografias.O que quer
dizer isso? No nos pregamos a ns mesmos, diz
Paulo, mas a Jesus Cristo como a Senhor. Quando foi a Corinto,
diz-nos, foi com fraqueza, e muito temor e tremor. No subiu ao
plpitocom confiana e segurana em si mesmo para dar a impresso de
umagrande personalidade. Antes, o povo dizia dele, seu presena
corporal() fraco, e a palavra desprezvel. Quanto nos apartamos da
verdade e
pautas das Escrituras. Que pena! Como permite a Igreja que o
mundo eseus mtodos influam e rejam suas ideias e vida! Ser pobres
emesprito j no bem visto nem sequer na Igreja como foi em
outrotempo e como sempre deveria s-lo. Os cristos devem refletir
nestes
problemas. No aceitemos as coisas por sua aparncia;
evitemossobretudo que a psicologia do mundo se apodere de ns; e
caiamos naconta do primeiro momento de que estamos falando de um
reino
completamente diferente de tudo o que pertence a este mundo
corrupto.Tratemos agora deste tema de uma forma mais positiva. O
que
significa ser pobre em esprito?Permitam-me mais uma vez dizer o
queno . Ser 'pobres em esprito' no quer dizer que deveramos
serdesconfiados ou nervosos, nem tampouco significa que deveramos
sertmidos, fracos ou frouxos. H certas pessoas, certo, que, em
reaocontra esta segurana em si mesmos que o mundo e a Igreja
descrevem
como 'personalidade', creem que significa precisamente isso.
Todosconhecemos pessoas que so naturalmente discretas e que, longe
deimpor sua presena, sempre ficam em segundo termo. So assim desde
onascimento e talvez sejam tambm naturalmente fracos, tmidos e
semcoragem. Antes pusemos de relevo o fato de que nenhuma destas
coisasque se indicam nas bem-aventuranas so qualidades naturais.
Ser
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Estudos no Sermo do Monte 46pobres em esprito, portanto, no
significa que algum nasa