1 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA ÁREA DE EDUCAÇÃO FÍSICA JUSSARA LOPES GOMES O JOGO COOPERATIVO COMO FATOR DE SOCIALIZAÇÃO PARA A 5ª SÉRIE CASTRO - PR 2008
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO … · 2 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO ... Gincana Cooperativa, e também, citam-se alguns exemplos de jogos ... as drogas, aos atos infracionais
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
ÁREA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
JUSSARA LOPES GOMES
O JOGO COOPERATIVO COMO FATOR DE SOCIALIZAÇÃO PARA A 5ª SÉRIE
CASTRO - PR
2008
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
JUSSARA LOPES GOMES
O JOGO COOPERATIVO COMO FATOR DE SOCIALIZAÇÃO PARA A 5ª SÉRIE
Material Didático-Pedagógico
elaborado para definir diretrizes
de ação do Programa de
Desenvolvimento Educacional –
PDE Secretaria de Estado da
Educação do Paraná através do
Núcleo Regional de Ponta
Grossa, em parceria com a
Universidade Estadual de Ponta
Grossa.
Orientador: Prof. Ms. Nei Alberto
Salles Filho
CASTRO - PR
2008
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APRESENTAÇÃO
A presente Unidade Didática destina-se a fundamentação teórica e as
atividades práticas a serem desenvolvidos na Proposta de Intervenção
Pedagógica na Escola, como parte integrante do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná.
Esta proposta metodológica será direcionada para os alunos das 5ª
séries A e B, turno vespertino, trabalhando em conjunto com os professores e
equipe técnico-pedagógica da Escola Estadual Professora Matilde Baer,
localizada na rua: Jerônimo Cabral Pereira do Amaral, nº 2415, bairro
Invernada do Matadouro, na cidade de Castro – PR.
Ela está estruturada em tópicos, partindo da Introdução que mostra a
importância e alguns conceitos de Jogos. A seguir destaca a utilização dos
jogos na escola como uma forma de educar, porque através da brincadeira nos
socializamos com o outro e aprimoramos o aprender a conviver. Diferencia a
Competição de Convivência e Cooperação, explicando os benefícios de uma
vida com respeito a si ao outro. Na abordagem dos Jogos Cooperativos,
destaca os valores que ele desenvolve e aprimora, bem como, algumas de
suas características e conceitos. Contextualiza a realidade dos alunos das 5ª
séries, baseada na realidade e experiência profissional. Conclui com a
importância da Educação Física no processo ensino-aprendizagem e algumas
orientações que serão seguidas na aplicação do Projeto.
Nas atividades práticas que serão desenvolvidas, esboçou-se a
Gincana Cooperativa, e também, citam-se alguns exemplos de jogos
cooperativos que serão aplicados em outros Conteúdos Estruturantes.
Este material servirá de base para a implementação, sendo assim, a
expectativa é que seja a alavanca para outros conhecimentos gerados a partir
do interesse e da curiosidade dos alunos e professores envolvidos.
Objetiva-se com isto apresentar algumas possibilidades de reflexão
que possam ser capazes de abrir novos caminhos na socialização dos alunos
de 5ª série e, que ao mesmo tempo, permitam o seu sucesso na apropriação
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de novos conhecimentos e comportamentos. Atitude que pode gerar um
cidadão capaz de ouvir e emitir opiniões sobre inúmeros temas e atuar
ativamente na formação de uma sociedade mais justa, fraterna, solidária,
O jogo sempre esteve presente na história da humanidade, quer como
fonte de diversão, quer como forma de convivência, às vezes como um modo
peculiar de iniciar aproximações entre tribos diferentes, mas principalmente
como um método de ensinar e aprender.
O estudo dos povos através dos jogos permite que conheçamos a sua
cultura, a sua história, a sua evolução, a sua estrutura, os seus costumes, o
seu comportamento e muitos outros aspectos que dificilmente seriam
observados com outros instrumentos. Ortiz1, no livro organizado por Murcia
(2005, p. 9) afirma que “[...] a identidade de um povo está fielmente ligada ao
desenvolvimento do jogo, que, por sua vez, é gerador de cultura.”
O lúdico acompanha as fases do desenvolvimento humano, mas é na
infância que tem o seu papel de destaque, porque para a criança brincar é vital
como respirar, comer e beber. De acordo com Huizinga2 (1999, citado por
FREIRE e VENÂNCIO 2005, p.42), o jogo
[...] é uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais, segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceitas, e fora da esfera da
1 ORTIZ, J. P. Aprendizagem através do Jogo – Aproximação teórica à realidade do jogo. Porto Alegre:
Artmed, cap. 1 p. 10, 2005.
2 HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 4. Ed. São Paulo, Perspectiva, p. 42.
1999
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necessidade ou da utilidade material. O ambiente em que ele se desenrola é de arrebatamento e entusiasmo, e torna-se sagrado ou festivo de acordo com as circunstâncias. A ação é acompanhada por um sentimento de exaltação e tensão, seguida por um estado de alegria e distensão.
O prazer que a brincadeira proporciona é o fator motivacional para que
dela todos os interessados participem, obedecendo a uma seqüência lógica,
mas adaptável ao grupo. Brinca-se pelos benefícios que o lúdico proporciona.
Ela pode ser de caráter pessoal ou coletiva e desperta diferentes
sensações nos jogadores que podem alternar momentos de intensa euforia e
agitação por outros de felicidades e descontração e vice-versa.
A adaptação, das e as regras do jogo, favorece a interação do jogador
com o outro, com o grupo e com a própria sociedade. Esta é uma importante
aprendizagem para a própria evolução do pensar e agir da criança para a idade
da razão.
A mudança do mundo infantil para o adulto acontece em diversas
etapas e às vezes de modo muito conturbado. Os jogos possibilitam que esta
evolução ocorra naturalmente e de maneira menos traumática.
Conforme ORLICK (1989, p. 121), os jogos,
Eles têm o potencial de ajudar a diminuir a lacuna que existe entre as atitudes declaradas dos adultos e o seu comportamento efetivo, entre o que as crianças dizem querer e o que recebem agora. (...) Portanto, é viável que introduzir comportamentos e valores por meio de brincadeiras e jogos, com o tempo poderão afetar a sociedade como um todo.
O lúdico possibilita que ultrapassemos os limites da nossa imaginação e
descubramos caminhos diferentes para nos tornarmos melhor como pessoa e
como cidadão.
Se com a criança houver o cultivo de valores como: a confiança, o
respeito mútuo, a solidariedade, a responsabilidade pessoal e social teremos
um adulto responsável e com compreensão crítica da sociedade, do mundo e
de suas relações.
Brincando criam-se e recriam-se atitudes e comportamentos que
permitirão uma adaptação melhor ao mundo. Adquirimos novos
conhecimentos, novas habilidades motoras, desenvolvemos e aprimoramos
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relacionamentos sociais, aperfeiçoamos a técnica e nossas condutas morais,
assim desenvolvemos qualidades necessárias para a nossa humanização.
Acreditamos que a escola reflete a sociedade na qual está inserida,
sendo esta a causa de muitos conflitos, agressões e manifestações libertárias
que ali acontecem. A sua própria heterogeneidade, às vezes, impede que a
criança seja vista como um ser em formação e com uma bagagem cultural, um
histórico de conhecimentos, comportamentos e valores adquiridos com sua
família, seu grupo social, sua igreja, etc.
Hoje sabemos que o aluno não é uma “tabula rasa” (John Locke 1632-
1704). Ele é uma somatória de todas as interações com os seus grupos
sociais. Ele possui uma história construída e às vezes a escola parece
esquecer-se disto.
Segundo Freire (2002, p. 119)
Quem vai ao jogo leva, para jogar, as coisas que já possui, que pertencem ao seu campo de conhecimento, que já foram aprendidas anteriormente em procedimentos de adaptação, de suprimento de necessidades objetivas.
Como cobrar comportamentos socialmente adequados dos educandos
quando às vezes na própria escola há falta de valores como a solidariedade, a
empatia, a cooperação e o respeito a si mesmo e ao outro?
Uma visão assim obscurecida pode gerar, para o aluno, a exclusão
pessoal ou a imposta por outros. Outra conseqüência muito comum é a
geração de comportamentos anti-sociais que muitas vezes conduzem o aluno
as drogas, aos atos infracionais e as gangues.
A escola é uma importante fonte de informação e formação dos
indivíduos. Os professores e outros profissionais da educação têm de lidar com
conflitos, mudanças, expectativas, além de preparar os alunos nos seus
aspectos cognitivo, social, emocional, psicológico e físico para as exigências do
século 21.
Cremos que os jogos são um bom subsídio para atingir as metas acima
elencadas.
Dentro dos seus estudos Freire, (2002, p. 87) explica que “o jogo é [...]
uma das mais educativas atividades humanas [...]. Ele educa não para que
saibamos mais matemática ou português ou futebol; ele educa para sermos
mais gente, o que não é pouco”.
O lúdico possibilita que ultrapassemos os limites da nossa imaginação e
descubramos caminhos diferentes para nos tornarmos uma pessoa melhor.
Mesmo não tendo a pretensão de educar ele educa, porque através da
brincadeira nos socializamos com o outro e aprimoramos o aprender a
conviver.
Acreditamos que a contribuição, dos jogos, é fundamental na
socialização do aluno e na sua preparação para exercer uma cidadania atenta
aos interesses políticos, econômicos, sociais e culturais
A importância de adequar o jogo aos valores que queremos ensinar,
priorizar ou desenvolver é embasada em Soler R. e Soler S. S. (2008, p. 35): “
Os padrões de comportamento fluem de valores que adquirimos enquanto
brincamos e jogamos durante a nossa infância.”
A criança exercita diversos sentimentos, que auxiliam no
amadurecimento de suas emoções enquanto joga: ajudar, ser ajudado,
superar-se, ser superada, alegria, tristeza, raiva, compaixão, etc. São todos
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sentimentos que levam a maturidade emocional. Uma boa garantia de um
adulto mais equilibrado e adaptado socialmente é uma inteligência emocional
ajustada, e isto, o jogo bem conduzido pode contribuir
O jogo ensina sem que o jogador perceba conscientemente, ele até
pode no futuro descobrir que aprendeu com o jogo, mas na hora da atividade
lúdica, a recreação deve ser a motivação principal. A criança aprende
brincando e brincando ela aprende.
Apoiamo-nos em Freire (2002, p. 82-83) “O jogo ajuda a não deixar
esquecer o que foi aprendido [...] faz a manutenção do que foi aprendido [...]
aperfeiçoa o que foi aprendido [...] vai fazer com que o jogador se prepare para
novos desafios...”
Quando o lúdico for usado como fonte de aprendizagem todos os seus
elementos devem ser bem analisados pelo professor, para que ele realmente
seja um dos meios na construção do conhecimento ou a ponte que levará a
ele. O aluno aprende através do saudável caminho da alegria, do prazer, do
relacionamento amigável com o outro.
Aprende a se preparar para novos desafios, a superar dificuldades é
encorajado a aprendizagens inéditas que lhe servirão de alicerces sólidos para
o seu futuro, tanto na escola como na vida.
Brincando, socializando ele vai adquirindo novos conhecimentos,
desenvolvendo novas atitudes, revendo comportamentos e adequando-se para
superar os obstáculos que encontrará na sua caminhada.
Sabendo da importância dos jogos no processo educacional, a dúvida é:
Quais os melhores jogos para ensinar a criança bons hábitos que lhe permitam
uma integração positiva na família, na escola e na sociedade? E que permitam
a escola, conforme Ortiz3 (2005, p. 28)
Desenvolver a inteligência emocional, fomentar a curiosidade, estimular o senso de humor, bem como o estado de espírito, além de alcançar a felicidade são objetivos prioritários da educação para evitar o fracasso escolar.
3 Ibid.
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Cremos que ofertando atividades físicas baseadas nas trocas de
convivência, valorização das experiências, na busca de diversão, cooperação e
na aprovação do outro sem preconceito.
Jogos em que todos os participantes tenham voz ativa, que a inclusão
prevaleça sobre a exclusão, que o bem comum sobreponha-se ao interesse
individual e em que o conviver e cooperar com o outro seja priorizado em
Incentivar a cooperação e utilizar a competição como fator motivacional
no lazer inclusivo de e para todos, é uma meta a ser buscada pelos
educadores. Freire e Venâncio (2005, p. 145) citando Montagner, Souza e
Scaglia4 (2001)
[...] entendem que a competição é um dos conteúdos das aulas de educação física que merece tratamento pedagógico. Competir é algo que deve perpassar o processo de aprendizagem de forma a atender todos e não só os mais habilidosos, “[...] competir deve ser um conteúdo a ser ensinado, e inserido num processo ensino aprendizagem [...]”
4 MONTAGNER, P. C.; SOUZA, A. J. & SCAGLIA, A. J. Pedagogia da competição em esportes: da teoria à
busca de uma proposta prática escolar. Motus Corporis, vol.8, n.2, 2001.
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A competição exacerbada estimula um comportamento que acentua as
desigualdades, valoriza o individualismo, o egoísmo e as injustiças sociais.
Através dela freqüentemente ocorre à exclusão de alguns menos dotados das
qualidades necessárias para o projeto de vencer o outro, seja ele indivíduo ou
grupo.
A competição não como um incentivo a rivalidade, ao embate ou a
disputa contra alguém ou um grupo, mas como motivação para jogar, como um
estímulo para superar os desafios, como estratégia para incentivar a
convivência e a cooperação.
O homem é um ser social e a convivência com o outro é parte
indispensável na formação da sua personalidade. Com e através do outro,
muitos dos hábitos, atitudes e comportamentos necessários para a vida são
respeitados, aprendidos, desenvolvidos e compartilhados. O conviver e
compartilhar são pré-requisitos para o bem viver, o socializar-se, o tornar-se
cidadão do mundo.
Segundo Boff, L. (2006, p. 33) “A convivência não apaga ou anula as
diferenças.” O outro não precisa se modificar, se alterar, para ser aceito, ao
contrário o aceite das diferenças acontece quando elas deixam de ser o
referencial no relacionamento, em troca das convergências, dos pontos em
comum.
A prática da convivência diária deve visar o crescimento próprio e o do
outro, sem se ater a raça, ideologia, posição social, faixa etária, local de
moradia ou poder aquisitivo.
Concordamos com Amaral (2007, p.21) quando afirma que: “Conviver é
facilitar um processo que busca o desenvolvimento pessoal, social e
profissional durante toda a vida do indivíduo, com a finalidade de melhorar a
sua qualidade de vida e da coletividade.”
As interações positivas, geradas pelo jogo, se tornam práticas cotidianas
e, por proporcionarem sensações prazerosas, estimulam a busca por atitudes
que desencadeiem as mesmas emoções. Da convivência surgirá a
cooperação.
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Segundo Hartmann5 (1932, citado por Orlick, 1989, p.23-24): “A
cooperação é a força unificadora mais positiva, que agrupa uma variedade de
indivíduos com interesses separados numa unidade coletiva.”
Contextualizando esta definição para a realidade escola sabemos que
brincando sozinha a criança pode ser feliz, mas ao participar do jogo, que é
coletivo,compartilhado, ela terá uma visão humanizada do mundo, se
relacionará melhor com as pessoas, aprenderá a cooperar e as oportunidades
de aprender serão multiplicadas.
Uma boa proposta para alcançar, manter e ampliar a convivência e a
cooperação é proporcionad0 através do jogo. De acordo com Brotto (2001,
p.13) o jogo e a vida exercem e sofrem influências um do outro quando: “eu
jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo”
Ela aprenderá, através da convivência e da cooperação, a se preparar
para novos desafios, a superar dificuldades e será encorajada a aprendizagens
inéditas que lhe servirão de bases sólidas para o seu futuro, tanto na escola
Encontramos nos Jogos Cooperativos um indicativo a seguir, porque
segundo Amaral (2007, p.29), eles desenvolvem os seguintes valores
5 Hartmann, N. Ethics: moral values. MacMillan, Nova York, 1932.
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educativos: “construção de uma relação social positiva; a empatia; a
cooperação; a comunicação; a participação; o apreço e autoconceito positivos
e a alegria”
São todas qualidades que habilitam uma pessoa a ser chamada de
cidadã. Que conferem o status de „ser humano‟ na sua essência mais profunda,
como aquele que se preocupa em ser, aprimorar, desenvolver e preservar o
humano.
Também destacamos algumas características dos Jogos Cooperativos
que correspondem aos nossos anseios e são descritas por Samaniego e
Sanchis (1999, citados por Gómez e Samaniego6 (Murcia (Org.), 2005, p. 130)
A ausência de eliminação ou exclusão, a possibilidade de desenvolver a autonomia na tomada de decisões, a possibilidade de viver a falha como parte do processo e não como fracasso, a diversidade de soluções para o mesmo problema ou a necessidade de integrar o próprio papel do jogo com o dos demais são alguns dos principais traços afetivos desses jogos.
Jogar pelo prazer de jogar. Aprender com erro. Descobrir várias
respostas para a mesma dúvida. Participar na resolução dos problemas. O jogo
cooperativo é instigante, desafiador e motivador levando os participantes a
desenvolver e aprimorar atitudes, atos e comportamentos solidários, além de
resgatar valores necessários para uma cidadania participativa.
Acentuando e confirmando as características dos Jogos Cooperativos
Brotto (2001, p.46) assim os conceitua:
Os Jogos Cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, tendo pouca preocupação com o fracasso e o sucesso em si mesmos. Eles reforçam a confiança pessoal e interpessoal, uma vez que, ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento de todos.
Eles visam à inclusão e participação do grupo, incentivam o resultado
coletivo ao individual, excluem a competitividade exagerada diminuindo assim
as manifestações de agressividade.
6 GÓMEZ, R. S. e SAMANIEGO V. P. Aprendizagem através do Jogo – A aprendizagem através dos jogos
cooperativos. Porto Alegre: Artmed, cap. 7 p. 130, 2005.
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Promovem boas atitudes e facilitam o encontro consigo mesmo, com os
outros e com o mundo em geral. No final, os jogadores, ganham com a
experiência que os jogos propiciam porque não há somente vencedores e
vencidos, o importante será a aquisição de novos conhecimentos e
comportamentos que facilitam a interação e a comunicação entre todos.
A convivência lúdica com o companheiro através de atividades
prazerosas e agradáveis, reforçando os laços de amizade e respeito, em que o
trabalho conjunto não objetiva a vitória ou derrota, e sim o salutar exercício de
conviver, de compartilhar de somar junto com o outro isto é jogar
cooperativamente.
Concordamos com Soler (2006, p. 15) “Quando joga cooperativamente,
cada pessoa é responsável por contribuir com o resultado bem sucedido do
jogo e assim cada um se sente co-responsável e co-participante.” Não existe
líder e nem liderado, todos desempenham o mesmo papel, exercem a mesma
influência, participam juntos e a meta é comum.
Através do descobrir, a si e ao outro, a criança vai se preparando para a
vida onde a inclusão terá participação ativa, escolher não será tarefa delegada
a outros e o “nós” vai substituir o “eu”. Este comportamento é indicativo de
civilização, de educação e futuro para a humanidade,e deve ser incentivado
pelos educadores, pais, governos e sociedade em geral.
Para a escola a inserção dos Jogos Cooperativos, através do Conteúdo
Estruturante: Jogos, encontra suporte em Orlick (1989, p. 110)
Os jogos cooperativos podem ter um significado especial, para
as crianças encabuladas ou reservadas, que não confiam em si mesmas e se sentem inseguras, que não se sentem amadas, que têm habilidades sociais inadequadas, que não sabem reagir de uma maneira amistosa ou que relutam em abordar
problemas ou pessoas.
Participar recreativamente de uma atividade lúdica pelo prazer que ela
proporciona e ser parte do grupo com ele compartilhando o resultado. Sentir-se
incluído e incluir o outro, participando e atuando nas tomadas de decisões,
sendo respeitado, valorizado, e, assim também respeitando e valorizando os
companheiros.
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Um pré-requisito para o sentir-se bem e, ao mesmo tempo desenvolver e
fortalecer a auto-estima, é tomar ciência de que somos todos, parte integrante
do mesmo universo, recebemos os mesmos benefícios e sofremos as mesmas
conseqüências. Quanto antes acontecer esta conscientização, menos
violência, menos discórdia, menos terrorismo, menos guerra e mais paz, mais
cooperação, mais solidariedade, e assim um futuro para a humanidade.
Este bem-estar pode ser ampliado, conforme Boff (2006, p.43) com “a
paz” resultante, na definição da Carta da Terra: “a plenitude que deriva da reta
relação para consigo mesmo, para com os outros, para com a natureza, para
com outras vidas e para com o Todo maior do qual somos parte”.
Hoje na maioria das cidades as crianças são reféns do crescimento
desordenado acresce-se aí a violência social, a desagregação familiar, as
barreiras culturalmente impostas e a falta de planejamento dos órgãos
públicos.
O resultado são que as brincadeiras infantis não têm mais espaço para
existir e sem elas perdem-se todos os seus benefícios principalmente no
campo educativo.
Nas escolas é muito comum ouvir reclamações a respeito do
comportamento infantil, por parte de pais e professores, principalmente dos
alunos de 5ª série. Frases como: “... Cada ano eles vêm pior... Essas crianças
não têm mais educação... No meu tempo a gente sabia brincar sem brigar... Os
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alunos de hoje não sabem nem se comportar... Não sei o quê acontece com
esses alunos... Não existem mais brincadeiras saudáveis... Não agüento mais
essas crianças...”.
E a questão que se vislumbra é: Quem se responsabiliza por essas
crianças?
Analisando rapidamente vemos um jogo de repasses. A sociedade acusa
a escola de não educar; esta responsabiliza os pais; estes imputam aos
patrões pela falta de tempo para dedicarem-se aos filhos; os chefes cobram
dos governos a diminuição das taxas tributária; os mandatários transferem a
responsabilidade para a sociedade e esta retorna a crítica à escola. E assim
perpetua-se um circulo vicioso em que o aluno é a
primeira vítima. Depois vem seu grupo social, sua cidade, o país e enfim toda a
humanidade.
Nas escolas de um modo geral, os professores, têm uma formação mais
conteudista, acrescida a um olhar mais operacional que social sobre a
educação, que os impede de ver os alunos de 5ª série, como crianças de 10 a
12 anos que precisam de um período de adaptação em que predomine o
cuidado, a atenção e a paciência para melhor prepará-los à nova realidade.
Somada esta realidade escolar ao desconhecimento da realidade do
aluno e podemos ter uma série de problemas como: a evasão, a reprovação, o
aumento da agressividade, que são elementos ligados à individualidade do
aluno.
Sabemos que somos interdependentes e a resposta envolve a todos nós
porque ninguém vive por si só e segundo Orlick (1989, p. 182)
Se nossa qualidade de vida futura, e talvez até nossa sobrevivência, depender da cooperação, todos pereceremos se não estivermos aptos a cooperar, a ajudar uns aos outros, a sermos abertos e honestos, a nos preocuparmos com os outros, com as nossas gerações futuras...
A escola como instituição social tem a responsabilidade de difundir e reforçar
os valores positivos e de preparar seus alunos para viver „em‟ e „com‟ a
sociedade. Assim cabe aos educadores, elaborarem propostas e concretizá-las
com atitudes coerentes e conscientes para diminuir o abismo que separa os
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alunos de 5ª série do cidadão engajado com o mundo que pretendemos ajudar
a formar.
A interação: escola X família X sociedade X governos, é reforçada por
Brotto (2002, p. 34) quando afirma: “Entendo que aprender é sempre uma
aprendizagem compartilhada, que ocorre numa situação dinâmica de co-
educação e cooperação, em que todos são, simultaneamente, professores e
Os jogos cooperativos são um enorme aliado para o trabalho de integração do grupo no início do ano letivo, na formação de um novo grupo, na entrada de um novo membro. Desde o início, as crianças vivenciam e aprendem a superar a competição, a respeitar os outros e o grupo, a discutir os valores, a fazer amizades, e assim estarem confiantes e suficientemente felizes consigo mesmos para se expressarem livremente com todo o seu ser.
A seguir citamos algumas orientações que embasarão a aplicação do
Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, que será realizado no 1º
semestre do ano de 2009, na Escola Estadual Professora Matilde Baer:
1º - Usar o diálogo como instrumento de superação das desigualdades,
para suplantar as dificuldades, também como facilitador na apropriação de
conhecimentos e na aquisição de valores necessários para uma vida mais
digna e justa para todos.
2º - Ser tratado e tratar com respeito auxiliará no estabelecimento de
vínculos positivos entre professores e alunos. O relacionamento será
construído cooperativamente e assim todos serão autores e personagens da
história que passam a construir.
3º - Na resolução dos conflitos, ouvir todas as partes, permitir e
incentivar a opinião do grupo na escolha da melhor decisão. Estimulando
atitudes de empatia, amizade, estima e comunicação que servirão de
parâmetro em situações que envolvam ética e moral.
4º - Integrar todos, não discriminar ninguém. Estimulando e
oportunizando que cada um possa mostrar e utilizar o seu potencial criativo o
grupo se fortalece, enriquece e aprende
5º - “Provar que a vitória não depende da derrota dos outros, que
podemos ser competentes sem destruir o outro, aprendendo a compartilhar as
nossas habilidades, e notando que todos são importantes dentro do jogo.”
(SOLER, 2006, p. 46)
Estes princípios alicerçarão o projeto e temos ciência que: “Uma aula,
portanto eficaz, não se basta não se esgota no momento de sua realização, de
forma que a missão de cada disciplina é, mais que ensinar conteúdos
específicos, ensinar a viver.” (FREIRE; VENÂNCIO, 2005, p. 3).
AMARAL, J. D. Jogos cooperativos. 2. ed. São Paulo; Phorte, 2007. BOFF, L. Virtudes para um outro mundo possível. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. v. 2: convivência, respeito, tolerância BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de conveniência. Santos, SP: Projeto Cooperação, 2001.
DEACOVE, J. Manual de jogos cooperativos. 2. Ed. Tradução de Andréia de Faria Freire. Ilustração de Audrey Duarte. Santos, SP: Projeto Cooperação, 2002. Co-Operative Games Manual. FREIRE, J. B. O Jogo: entre o riso e o choro. Campinas, SP. Autores Associados – 2002. (Coleção educação física e esportes) FREIRE, J. B. (Org.). VENÂNCIO, S. O jogo dentro e fora da escola. Campinas, SP. Autores Associados, apoio Faculdade de Educação Física da UNICAMP, 2005. - (Coleção educação física e esportes). MÚRCIA, J. A. M. (Org.). Aprendizagem através do jogo. Tradução de Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2005. Aprendizage a través del juego. ORLICK, T. Vencendo a competição. Tradução de Fernando José Guimarães Martins. São Paulo: Círculo do Livro, 1989. Winning through cooperation. SOLER, R. Jogos cooperativos. 3. Ed. Rio de Janeiro: 3. ed.: Sprint, 2006. SOLER, R. ; SOLER,S. S. Alfabetização cooperativa. Rio de Janeiro: Sprint, 2008.