-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
25
DOI:10.1590/permusi20163302
ARTIGOCIENTÍFICO
Schoenberg/Boulez:ideia/sistema
Schoenberg/Boulez:idea/systemEduardoCampolinaVianaLoureiroEscoladeMúsica/UniversidadeFederaldeMinasGerais,BeloHorizonte,MG,[email protected]:Doistextosprincipaisorientamopresenteestudo:Amúsicanova,amúsicademodée,oestiloea
ideia, escritoporArnold SCHOENBERG (1977b) em1946,
eOsistemaeaideia,escritoporPierreBOULEZ(1986)em1986.Inicialmenteétrabalhadoo
conceito de ‘ideiamusical’ emdiversos textos de Schoenberg.O
conceito é entãoconfrontado com uma análise de seu Prelúdio do Op.
25, elaborada por Jack
BOSS(2014).Essaanáliselevantaaproblemáticadapercepção,conduzindoàdiscussãodotextodeBoulez.Esseúltimoétrabalhadonarelaçãoda‘ideiamusical’como‘sistema’,inicialmenteemconexãocomasegundaEscoladeVienaeemseguidacomsuaprópriaestética.Procura‐secompreendercomosearticulamessesdoisconceitosnasreflexõesdosdoiscompositores,quemuitoinfluenciaramatransformaçãodalinguagemmusicalnoséculoXX,equesesituamemumalinhaevidentedeconexãoecontinuidade.Palavras‐chave:
sistema em Arnold Schoenberg; sistema em Pierre Boulez;
ideiamusicalecomposição;PrelúdiodoOp.25deSchoenberg.Abstract:Twomaintextshaveguidedthisstudy:Newmusic,outmodedmusic,styleandidea,writtenbyArnoldSCHOENBERG(1977b)in1946,andSystemandidea,writtenbyPierreBOULEZ(1986)in1986.Firstly,theconceptof‘musicalidea’isdealtwithinseveral
of Schonberg’s texts. The concept is then confronted with an
analysis ofSchoenberg’s Prelude Op. 25 elaborated by Jack BOSS
(2014). This analysis
raisesperceptionissuesthatleadtoBoulez’stext.Thislasttextisapproachedwithafocusontherelationbetweenthe'musicalidea'andthe'system',inconnectionwiththeSecondVienneseSchool,andthenwithhisownaesthetics.Thisarticleworksonhowthesetwoconcepts
are articulated in the reflections of these two composers, who
greatlyinfluencedthedirectionsofthetransformationofmusicallanguageinthe20thcentury,andwhoareclearlylocatedinalineofconnectionandcontinuity.Keywords:systeminArnoldSchoenberg;systeminPierreBoulez;musicalideaandcomposition;Schoenberg’sPreludeOp.25.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
26
Dataderecebimento:03/02/2016.Datadeaprovaçãofinal:18/04/2016.
1‐Introdução
Em 1946, Arnold Schoenberg publica texto intitulado “A música
nova, a
músicadémodée,oestiloeaideia”1(SCHOENBERG,1977b,traduçãonossa).Trata‐sedeumtextolongo,escrito5anosantesdesuamorte,noqualsereconheceapersonalidadecombativaedeterminada,quesempredefendeudeformaradicalsuasposições,equeneste
momento procura desembaraçar os quatro conceitos que compõem o
título:“Destesquatroconceitos,ostrêsprimeirosfizeramumabelacarreiranosúltimosvintee
cinco anos; se preocuparammuitomenos com o quarto, a ideia”
(SCHOENBERG,1977b,p.93).Ésabidoqueaquestãodaorganizaçãodasalturasfoioprincipalmobilenaexistênciade
Schoenberg. Seu método dodecafônico foi o resultado concreto de uma
longaelaboração manifesta em uma escrita fechada e aberta ao mesmo
tempo, que, emprincípio, deveria assegurar a coerência e a unidade,
valores que lhe
eramextremamentecarosnaconstruçãomusical.Notextocitadopercebe‐seclaramenteoqueoincomodavanaquelemomento:suamúsica,queseapoiavaemseumétodo,eque,enquanto‘músicanova’haviasidoobjetodeforterejeiçãoporpartedopúblicoedeuma
certa crítica especializada, já era tida como ultrapassada. Ela
passava a serconsiderada como representante do fim de uma era
envelhecida, em favor
dasupervalorizaçãodeumaprodução,segundoele,equivocada.Arazãodoequívocoviriaessencialmentedamácompreensãodadiferençaentre‘estiloeideia’–valorizava‐se,naquiloquepassavaa
ser compreendidocomo ‘músicanova’,oprimeiro
termoemdetrimentodosegundo,sendoesteúltimo,paraele,odefinitivo,omaisimportante.
1Paraopresentetrabalhofoiconsultadaaversãofrancesadolivro“Lestyleetl’idée”(SCHOENBERG,1977).Otítulodoartigoapresentadoconstanessapublicaçãocomo:“Lamusiquenouvelle,lamusiquedémodée,lestyleetl’idée”(SCHOENBERG,1977b).Todasastraduçõesapresentadasnopresenteartigosãonossas–evitaremosarepetiçãodainformaçãodaquiemdiante.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
27
Em1986,PierreBoulezpublica“Osistemaeaideia”(BOULEZ,1986,2012)2.Trata‐sede
um texto denso no qual ele se dedica a uma revisão do aspecto
sistêmico nopensamento da segunda Escola de Viena, e, a partir daí,
elabora profundamente
arelaçãoentresistemaeideianointeriordesuaprópriaestética.Nasprimeiraspáginasde“Penser
lamusiqueaujourd’hui”PierreBoulezafirma:“Euestouconvencidoqueumalinguageméumaherançacoletivadaqualéprecisoassumiraevolução”(BOULEZ,1963,p.8).SuaconexãocomopensamentoeasobrasdaSegundaEscoladeVienaésuficientementeconhecidaapartirdavisitaçãodeseustextos.Acitaçãoanteriorsóvem
reforçar tal fato. Mas, enquanto referência, a estética anterior
deveria
serultrapassada,sobpenaderecairnaasfixia:“ocritériodeexcelênciajánãosemedeemtermos
de preservação das aquisições, da sua consolidação, mas em termos
deevoluçãovoluntarista,eatémesmodedestruição”(BOULEZ,1986,p.1).Aescolhadotexto“Osistemaeaideia”(BOULEZ,1986)comoparcomplementardotextonoqualSchoenbergseconcentrasobreestiloeideia(SCHOENBERG,1977b)nãoéumacaso,evidentemente.ApesardenãohaverreferênciadiretanotextodeBoulez,aconexãoentreosdoiséinegável3.
2‐SchoenbergeaideiaAverificaçãodosdiversostextosdeixadosporSchoenbergrevelaumainquietaçãoquepareceoacompanhardurantetodaavida,qualseja:comodefinirdemodosatisfatóriooconceitode‘ideia’emumaconstruçãomusical.Encontra‐senasériedeconferênciasproferidasporAntonWebernreunidassobotítulo‘Caminhosparaanovamúsica”,um
2Paraesteestudofoiutilizadaaprimeiraversãooriginaldotexto,emfrancês,de1986.Foiacrescentadanasreferênciasbibliográficasaversãotraduzidaparaoportuguês(BOULEZ,2012),queéatraduçãodasegundaversãodotexto,ampliadaepublicadaem“Jalons(pourunedécennie)”(BOULEZ,1989).3DanielleCohen‐Levinaspublica“Loietnegativité:dustyleetidéedeSchoenbergausystèmeetidéedeBoulez(COHEN‐LEVINAS,2000),textodeteormuitomaisfilosóficoqueanalítico,noqualaautoraexploraaideiadequeaatitudetantodeSchoenbergquantodeBoulezemseusmomentoshistóricosespecíficosfoiorientadapelareaçãoaumestadodecoisasquelhesprecedia,comumcomportamentofocadoprincipalmentenaatitudedenegação.Otextocertamentecontribuiparaodebate.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
28
indicativoimportante:“Schoenbergconsultounumerososdicionáriosparaencontraradefiniçãodapalavra
‘ideia’,maselenãoencontrou.Oqueéuma
‘Ideiamusical’?”(WEBERN,1980,p.113).AlexanderGoehrfazreferênciaaumpequenocomentáriosoltoemumpedaçodepapeldatadode7deabrilde1929:“Aquestãodoqueéumaideiamusicalnãofoirespondidaatéagora.[...]Hojeeupenseiqueseriacapazdeformularissoclaramente,estavatudotão
claro para mim. Mas eu ainda devo esperar. Talvez eu ainda volte a
isso”(SCHOENBERG,citadoporGOEHR,1985,p.61).TantoaobservaçãodeWebernquantoacitaçãodeGoehrtestemunhamofatodequeacompreensãodoconceitofoiquestãocentral
para Schoenberg em grande parte de sua vida. A construção de uma
obramusical naquele momento histórico deveria, segundo Schoenberg,
apoiar‐se em
3aspectosfundamentais–coerência,unidade,variação–termosquesempreretornamnostextosdeixadosporeleeseus2principaisdiscípulos(BERG,1985;SCHOENBERG,1967,
1977; WEBERN, 1980). Mas a boa articulação desses aspectos
passariainevitavelmentepelaconsistêncianaconstituiçãodaideia–daísuapreocupaçãocomoconceito.
EmcartaendereçadaaRudolfKolisch4,Schoenbergcriticaaanálisedeseu
terceiroQuarteto de Cordas, pelo fato dele ter se concentrado
excessivamente no aspectonuméricodaorganizaçãoserial:
Vocêdevetertidoumtrabalhoincrível,eeunãopensoqueteriatidoessapaciência.Vocêacreditaentãoquehajaalgumautilidadeemsaberdisso?[...]Eujárepetiistoobastante:minhasobrassãocomposiçõesdodecafônicasenão
composiçõesdodecafônicas.
[...]Aúnicaanálisequeeupossoconsideraréaquelaquefazapareceraideiaemostrasuarepresentaçãoeseudesenvolvimento(SCHOENBERG,1983,p.166).
Como é possível perceber, o foco não está na demonstração do
funcionamento dométodo de escrita,mas simnamaneira como as ideias
são ali inseridas e como se
4RudolfKolish,violinistaaustríaconaturalizadoamericano,irmãodeGertrudKolisch,segundamulherdeSchoenberg,dequemtambémfoialuno.AtuavacomoprimeiroviolinodoquartetoKolisch,responsávelporinúmerasapresentaçõesdeobrasdasegundaEscoladeViena(SCHOENBERG,1983,p.165).
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
29
articulamnaconstituiçãododiscurso–ogrifodadopeloautoràspalavrascomposiçõesedodecafônicasnãoquerdizeroutracoisa.Schoenberg
deixa uma possível definição de ideia musical fortemente apoiada
noconceitodetema:“Emumapeçadeestilocontrapontístico,aideiaérestritaaoslimitesdeumtema,deumsujeito,cujoselementosconstitutivosouvidosjuntosformamumaespéciede
‘pontodepartida’”(SCHOENBERG,1977c,p.226).
Ideiaaquiseconfundecommaterial.Emumafugatonalosujeitoéonúcleocentraldeondesurgemasváriasderivaçõesquealimentamosdesenvolvimentos;emumafuganãotonalasrelaçõesentreasalturasse
libertamdafuncionalidade(tonal),masénecessárioconservaroprincípiodedesenvolvimentolinearapartirdeuma‘ideia’básica(sujeito),sobpenadedescaracterizar
justamentea forma
‘fuga’enquantomoldedaescrita.NomesmotextoSchoenbergreforçaadefiniçãoqueaindamantemarelaçãoestreitaentreideiaematerial:
Todasasevoluçõespossíveisdeumapeçamusicalestãoemgermeemseu tema;
ali elas estão previstas, preditas, consideradas,
dispostas,prefiguradas.Euvejoumapeçamusicalcomoumlivrodeimagensque,porvariadoquesejaseuconteúdo,(a)mostrasemprecoisascoerentesumascomasoutras,(b)sóexpõevariaçõesdeumaideiafundamental,amultiplicidade
de caracteres e de formas levando em conta que
avariaçãoéoperadademúltiplasmaneiras,ométododevariaçãosendoo
‘desenrolarprogressivo’oudo ‘desenvolvimento’”
(SCHOENBERG,1977c,p.226).
Aideiamusicalaparecesoboutraperspectiva,umpoucomaisdesenvolvida,nomesmotextoondeSchoenbergrefletesobreaescritacontrapontística:
Contrapontoquerdizerqueexisteumpontoopostoaoprimeiroeésobre esta
oposição do segundo ponto em relação ao primeiro querepousa a ideia
expressa; é à existência de um ponto oposto que édevido o esquema
do conjunto. Podemos pensar, por exemplo,
naidentidade(a+b).(a‐b)=a²‐b²,naqual (a²‐b²)seriaa
ideia,(a+b)sendoopontoe(a‐b)sendoopontooposto(SCHOENBERG,1977c,p.225).
Nestecaso,aideiasedescolaumpoucodesuaconexãotãoestreitacomomaterialpuroe
deriva para amanifestação de um processo. A identidade da ideia
aparece
comoresultadodeumprocedimentotécnicomaiscomplexo,compostoporníveisdistintosesuperpostos,enãomaiscomoaexpressãodeummaterialisolado,unidimensionalna
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
30
linearidadequeoconstitui.Adefiniçãomaiscompletaedesenvolvidadaideiamusicalseencontranotextobasecitadonasprimeiraslinhasdestetrabalho:
Cadavezqueaumanotadadavocêacrescentaumaoutranota,vocêlançaumadúvida
sobreoquequeriadizer aprimeiranota. Se,
porexemplo,vocêfazseguirumDóporumSol,oouvidopodeseperguntarsevocêvaiprosseguiremDóMaior,ouemSolMaior,oumesmoemFáMenor,emMiMenor,etc.,eaadiçãodasnotasseguintesajudaráounãonasoluçãodesseproblema.Vocêprovocouassimumaimpressãodeincerteza,dedesequilíbrio,quevaiseacentuarcomasequênciadapeçaeseencontraráreforçadaporumaflutuaçãodamesmaordem,relativa
ao ritmo. O método pelo qual você consegue
restabelecerassimoequilíbriocomprometidoéameuveraverdadeira‘ideia’deumacomposição(SCHOENBERG,1977b,p.101).
Portanto,em1946,namaturidadedeseus72anosdeidade,Schoenbergécapazdeseexprimiremtermosmuitomaisamplosquenascitaçõesanteriores.Percebe‐seque,movidopelo
esforçodo refinamento, ele transformapouco a pouco sua
concepção,saindodeumadefiniçãode certa forma sumária e discreta,
apesar de
francamenteaceitável(ideiaigualatema),paraumraciocíniobemmaisarticulado,quedáorigemaumadefiniçãoqueédaordemdarepresentação.Umasituaçãoédesenhada,colocandode
formaquase táctiluma imagemquecorrespondeàconstituiçãoda
ideiamusicaldividiaem3fases:incerteza/ambiguidade–desequilíbriopeloaumentodaincerteza–resoluçãododesequilíbriocomfechamentodaideia.Ariquezaeaclarezadessadefinição,assimcomoseucaráterneutroabreumcampomuito
amplo para os trabalhos de análise (e por que não para os
exercícios decomposição?).O equilíbrio emumaconstruçãomusical, seja
ela tonal ounão
tonal,podeserestabelecidoourompidoatravésdousodelequemuitoamplodevariáveis.Oestudo
da inter‐relação dos diversos parâmetros em jogo, da regulagem de
suasintensidades, acelerações, superposições ou cruzamentos pode
dar lugar a um
semnúmerodeestratégiasdopontodevistadaconstruçãooudesconstruçãodoequilíbrio.Schoenbergexercitauma
finezadoolharquevaideparcomseupotencial
criativo.Qualquerconstruçãosensível, sejaelamusical,
cinematográfica,
literáriaoumesmo,emcertascircunstâncias,pictóricapodeservistapeloviésqueelepropõecomessa
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
31
últimadefinição.Oqueeleenuncianãoésimplesmenteumadefiniçãodeideiamusical–elenosdeixaumachaveanalíticaecriativamuitopoderosa,quepodesermoduladaemacordocomoobjetodeanálise,contribuindoparaalargaracompreensãodocampoartísticoeminúmerascircunstâncias.EmestudoextremamentedetalhadoJackBOSS(2014)seconcentranaanálisedeobrasdodecafônicasdeSchoenbergutilizandocomoeixodametodologiaaquestãodaideiamusical.Eleconstróitodoumraciocínioanalíticoquesupõe“aexistênciadeuma‘ideiamusical’comoestruturaprimordialemqualquerobradodecafônicadeSchoenberg”(BOSS,2014,p.5).SeráinteressantelançaragoraumolharumpoucomaisdetalhadosobreametodologiapropostaporBOSS,umavezqueelesebaseiaemumdosconceitoscentraisqueorientameste
texto–a ideiamusical.Alémdisto,
essepequenoatalhopoderálevantaralgunsaspectosproblemáticosnaanálisedeBOSS,queserelacionamestreitamentecomosegundotextofundamentaldesteestudo–Osistemaeaideia,dePierreBoulez(1986).
3‐AideiaeumaaproximaçãodaideiaOlivrodeJackBOSS(2014),quetrazcomosubtítulo“Simetriaeaideiamusical”,partedoprincípioqueaspeçasdodecafônicasdeSchoenbergsãoestruturadasnoentornodeumasituaçãoqueele
chamade ‘ideal’, constituídaporestruturas
simétricasquesurgemquandodacolocaçãoemfuncionamentodasérie:
Eu interpreto a ideia musical como uma estrutura analítica:
umprocessoqueabrangetodaapeçanoqualumaespéciedeoposiçãoouconflitoentreelementosmusicaiséapresentadonoinício,elaborado,eaprofundadoduranteapeça,eresolvidonooupertodofim.[...]OconflitoquecolocaaIdeiaemmovimentoestáentreum‘ideal’musicalealgumarealidademusicalqueproporcionaumaimagemimperfeitadaqueleideal(BOSS,2014,p.1).
Asimetrianaestrutura,ouo‘ideal’musicalcomoeledenominapodesemanifestardemodomaisoumenosexplícitoe,fundamentalmente,éconstituídopor“altura,classedealturae/ousimetriaintervalarnasdimensõeshorizontalevertical”(BOSS,2014,p.2).
O ‘ideal’ musical é colocado enquanto um potencial no início da
peça, sofre
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
32
deformações e desvios como consequência do desenrolar do
trabalho temático, eatingeummáximode tensãoque é conduzido à
resoluçãonaporção final da
peça.Percebe‐sequeBOSSprocuraaproximaroconceitodeideiamusicalcomopropostoporSchoenberg(ambiguidadeeincerteza,tensãoporaumentodaincerteza,resoluçãoda
incerteza), gerando uma imagem correlata (ideia em potencial,
deformações edesvios, máximo de tensão, resolução) que surge no
âmago mesmo da estruturadodecafônicaemfuncionamento.O
trabalhodeBOSSé extenso, impressionapelo fôlego, e
émuitodetalhado.Ele
seentregaàdescriçãododesenrolardasformasseriais,indicasimetriasextremamentecomplexas
distribuídas na textura, tudo isso depois de cercar seu raciocínio
comdiversas salvaguardas iniciais, no sentido de não se colocar
enquanto detentor daverdade absoluta.5No entanto, um estudo
detalhado de suas análises levanta
umaquestãoproblemática,comoserávistoaseguir.AprimeirapeçaanalisadaporBOSSéoPrelúdiodasuíteparapiano,Op.25.Asérieoriginalutilizadanaobraéaseguinte:
Figura1:SérieOriginaldaSuiteOp.25–A.Schoenberg.
Schoenbergdeixouumrascunhonoqualconstamasúnicasformasseriaisutilizadasem
toda a suite – P4, P10, I10 e I4. Ele as apresenta subdivididas em
tetracordessuperpostos,colocandoaoladodecadaumadelasaformaretrógradacorrespondente,tambémdivididaemtetracordes(BOSS,2014,p.39):
5NasprimeiraspáginasdolivroBOSSprevineoleitordequesuasanálisesnãodevemserconsideradasasúnicascorretas;comelaselenãopretendereproduziropensamentodocompositorduranteoatodecomposição;oqueelepropõesãosugestõesdeleituraqueagregamumpossível,enãooúnicosentidoàsobras(BOSS,2014,p.2‐3).
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
33
Figura2:FormasseriaisutilizadasnasuíteOp.25–A.Schoenberg.
NasformasretrógradasaordemdostetracordesfoiinvertidaporSchoenberg.AleituraordenadadeP4,porexemplo,sefazapartirdotetracordesuperioredescendo:4–5–7–1–6–3–8–2etc.AleituraordenadadeR4(retrógradodeP4)deveserfeitaapartirdotetracordeinferioresubindo:10–9–0–11–2–8–3–6etc.Aodisporasformasseriaisdessemodo,Schoenbergreforçaasimetrianaturalquetodoretrógradojásupõe–cadatetracordeapareceaoladodeseusimétrico,formandopalíndromos,comopodeservistonaFigura2.ApartirdessaconstataçãoJackBOSSconstróisuainterpretação.Elejogacomoaspectosimétricodomaterialparaprojetá‐lonaideiaqueregeacomposição.Segundoeleostetracordesapresentadosnoesquemasãoabasequedáorigemà
ideiamusical.AocomentarorascunhodeSchoenbergcomadisposiçãosimétricadostetracordeseleafirma:
Otodocriaumpalíndromo,comoofazcadavoz,asuperior,adomeioeainferior.Estaestruturaempalíndromoentãoassumeopapeldeum‘ideal’
que é sugerido e tambémmascarado nos compassos iniciais,reforçado
em grande parte da peça até um clímax
(c.17‐19),concretizado(c.20‐21)eentãoabandonado(BOSS,2014,p.38).
SegundoBOSS,portanto,aideiamusicalsemanifestanoPrelúdiocomoaimagemdeummovimentoirregularemdireçãoaumasituaçãoideal,queatingeumclímaxeemseguidaretrocedeàmedidaqueapeçaseaproximadofinal.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
34
Aanálisedoc.20confirma,pelasimetria,umpossívelclímax:
Figura3:PrelúdioOp.25,A.Schoenberg‐Análisedoc.20comanumeraçãodas
séries(BOSS,2014,p.57).
Figura4:FormasseriaisP4eseuretrógradoR4utilizadasnoexemploanterior,
subdivididasemtetracordes.
Figura5:RepresentaçãoesquemáticadostetracordesdeP4eR4relativaàimagem
daFigura3,comindicaçãodasnotascomuns(BOSS,2014,p.57).
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
35
Oc.20éorganizadodeacordocom3camadassimétricas,comopodeservistonasfigs.3e
5. Schoenberg usa a série não como uma estrutura linear com senso
único. Ostetracordes do esquema inicial aparecem comumapartição
funcional, sendo que acolocaçãodasnotasalteraaordemdos
tetracordes(R4é
iniciadasimultaneamentepelosdoisúltimostetracordes,naterceiracolcheiadocompasso),assimcomoasnotasdentrodeummesmotetracorde(emR4osegundotetracordeaparececomaordemalteradaemrelaçãoaoesquemainicial).Asimetrianoc.20éreveladacombastanteevidência(omesmopodeserverificadoemumaanálisedoc.21).Emnenhummomentodapeça,nemantesnemdepoisdessesdoiscompassosasimetriaétãoexplícita.Oproblemaaparecequandosetentaacompanharoraciocínioemsuaintegralidade.BOSS
fala da ideia musical no Prelúdio como expressão sonora de um
percurso,portantoaforçadesuaideiadependedaverificaçãodomecanismoenquantofluxonotempo;nãobastaaconstataçãodoclímax.AFigura6mostraaanálisedeumtrechoescolhidoentreofinaldoc.5eoiníciodoc.7(BOSS,2014,p.46),ondeoautordefendequeassimetriasdevemacontecermasnãodeformatãoexplícitacomofoivistonoc.20,deformaarespeitaropercursosugeridoemdireçãoaoclímax:
Figura6:PrelúdioOp.25,A.Schoenberg‐Análisedosc.5‐7comanumeraçãodas
séries.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
36
Figura7:SimetriasdetectadasporJackBOSS(2014,p.41)naanálisedosc.5‐7
apresentadosnaFigura6.OesquemadaFigura7indicaassimetriasdetectadasnaanálise.Émuitoimportanteque
fique bem compreendida amaneira comoBOSS as identifica, uma vez que
seuesquemapodedarmargemadúvidas.Serãosimétricose
formarãopalíndromo,porexemplo,ointervalo5‐0deR4com0‐5deRI4,umavezquetrata‐sedasmesmasduasclassesdenotacomsuasordenaçõesinvertidas.Damesmaformaserãopalíndromos9‐11deR4e11‐9deRI4.Nãoserãoconsideradospalíndromos4‐10deR4e4‐10deRI4umavezqueaordemdeapariçãodasclassesdenotaéamesma,nãoháinversãodaordenação.Noentanto,aoprojetaroesquemadaFigura.7sobreaorganizaçãorealdassériesnapartituradaFigura6umaspectochamaaatenção:alimpezadasimetriaapresentadanoesquemaperdeforçaquandoseobservaadistribuiçãodasnotasnapauta.BOSSdefendesimetriasmuitoclarasnoesquema,masparaqueganhemalgumafuncionalidade
efetiva é necessário ummínimode transparência na realização,
sobpenadeperdanaconsistênciadainterpretaçãoproposta.Defender,porexemplo,apartirdasFiguras6e7acima,umasimetriaempalíndromoentre
as quartas justas 5‐0 de R4 e 0‐5 de RI4 é demasiado arriscado, na
nossaavaliação. O mesmo pode ser dito de 9‐11 de R4, com 11‐9 de
RI4. A simetria
seapresentanoesquema(Figura7)masnãonapartitura(Figura6)–oesquemadescoladapartitura,enãonosparecerepresentativoobastanteparafornecertamanhoálibi.A
única configuração que no nosso entender apresenta alguma simetria
com
ummínimodepregnânciaéformadapelas4primeirasnotasdeR4:1‐7‐5‐4emrelaçãoàs
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
37
4 primeiras notas de RI4: 7‐1‐3‐4, e isto se dá muito mais pelo
caráter
imitativopresentenoperfilrítmicodaFigura3semicolcheiasiniciadasempartefracadotempo,seguidas
de nota longa – do que pela questão intervalar devida ao par
7‐1/1‐7. Asdemais supostas simetrias não possuem ancoragem mínima
suficiente no
registroperceptivoparaseremclassificadascomotal,etodasasanálisesdeBOSSnoPrelúdiovão
nomesmo caminho. As diferenças de figuração e de contexto são
tantas que
aconexãoentreasocorrênciasédiluída,praticamenteaniquiladanocurtoespaçodetempo
que as separa, impedindo a percepção da identidade projetada. A
inegáveltécnica de escrita de Schoenberg, que lhe permite a
multiplicação das
relaçõesestruturaisnessaouemqualquerpeçadeseurepertório,nãopodeserconfundidacomuma
capacidade quasemágica de gerar tal densidade de correspondências
como
ésugeridoaquienorestantedareferidaanálise.Todaessaquestãotemrelaçãocomosprocessosdesegmentaçãonaanálisemusical,sobretudonamúsicaatonal.Oproblemanãoésimpleseédeterminanteemqualquerexercícioanalítico,comopodeseratestadonosescritosdeAllenFortequededicaumaseçãodeseu“Thestructureofatonalmusic”(FORTE,1973)àquestãodasegmentação.Jean‐JacquesNattiezfazomesmoemseutexto“AllenForte’ssettheory,neutrallevelanalysisandpoietics”(NATTIEZ,2003).JackBOSSemsuaanáliseconsideracomosimetriasválidascertasestruturasqueestãoaliporsereminerentesaométodoserial,quejogajustamentecomummódulo12fixoe
recorrente. O método fatalmente produzirá correspondências à medida
que asformasseriais foremencadeadas,
istonessapeçaouemqualquerpeçaqueutilizeométodododecafônico.AquifoiatingidoocernedaproblemáticaqueperpassaaanálisedeBOSSequejustificasuainclusãonesseestudo:arelaçãoentreestruturaepercepção.Apartirdaíseráfeitaaconexãocomosegundotextofundamentaldestetrabalho–‘Osistemaeaideia’,dePierreBOULEZ(1986).AoprocurarconstituirumeixocondutorparaaanálisecalcadonasreflexõesdeSchoenbergsobreaideiamusical,BOSSelaboraummecanismoque,
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
38
paraseadequaraoprocessoéobrigadoaconsiderarapercepçãodassimetriascomoaspectosuficientementeresolvido.Éverdadequeoautornãoconsideraacategoriatotalmenteresolvida,masaomesmotemponãolhededicaamesmaatençãoquededicaàdescriçãodaestrutura:
Eu devo admitir que em algumas peças, na verdade, o amplo
arconarrativoédifícildesepercebercompletaeimediatamente.[...]Masexistempeças,sobretudoasmenores,ondeagrandeestrutura,aIdeiaseapresentaaoouvintecomoalgoquepodesersentido.OPrelúdioOp.25quemencioneiacimaéumexcelenteexemplo.Nele,umpadrãosimétricodeclassedealturaé
sugerido,
gradualmenteobscurecido,aproximadoutilizando‐sediferentespadrões,efinalmenteconcluído(BOSS,2014,p.4‐5).
A escolha do Prelúdio se deu muito em função da citação acima –
afirma‐se aí
apossibilidadedepercepçãoauditivadaideia.Nossadiscordânciaresidenofatodequeasupostaideiaquesustentaacomposiçãotrabalhacomumaregulagemdesimetriasintervalaresquesãomuitodifíceis,senãoimpossíveisdeseremidentificadascomotais,por
aparecemmescladas às demais notas que compõem a textura e pelos
desviosrítmicos,dinâmicosede
registroqueasafetam.Porconsequência,napercepçãosetornamirrecuperáveis.Essefatocriaumadistânciaexcessivaentreosdoisaspectos–estruturaepercepçãodaestrutura–oque,nonossoentender,geraproblema.PierreBoulez,próximofocodestetrabalho,emseutexto“Osistemaeaideia”(1986)dedicaespecialatençãoàquestãoperceptivaemsuarelaçãocomosistema.Antesdepassar
ao texto de Boulez, no entanto, é necessário aprofundar um pouco
mais
aproblemáticalevantadaapartirdaanáliseanterior,poisadiscussãoarespeitonãoérecente.
4‐Percepçãoversusestrutura:umaaproximação
semiológicaAdécadade1970foiummomentodeintensadiscussãonaáreadasemiologiamusical,marcada
fortemente pelos trabalhos de Jean‐Jacques Nattiez e Jean
Molino,principalmenteatravésdeseusdoistextosmaisimportantes:“Fundamentosdeuma
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
39
semiologiadamúsica”(NATTIEZ,1975b)e“Fatomusicalesemiologiadamúsica”(MOLINO,
1975). Nattiez e também Molino discutem as bases de uma
semiologiamusical que permitiria aprofundar a discussão do sentido
simbólico de qualquermúsica (NATTIEZ, 1975b, p.50). Nattiez, então,
traz para o debate a
chamadatripartiçãodeMolinosegundoaqual“oprocessodesimbolizaçãoimplica3polos:amensagemem
simesma, em sua realidadematerial, as estratégias de produção
damensageme suas estratégiasde recepção” (NATTIEZ,1975b,p.50).
Sinteticamente,diríamosqueoprimeiropoloéonívelneutro,éaquelequeservedeancoragemaofuncionamentodosoutrosdoisníveis,éavisãoanalíticadaobraemsuamaterialidademaisimediata.Osegundoníveléopoiéticoquetratadasestratégiasdeelaboraçãodomaterial,asmecânicascriativasecompositivas;eoterceiro,oestésico,éoquetratadasestratégiasderecepçãodamensagem,aextremidadeúltimadoprocesso,oníveldapercepçãomusical.Nattiezafirmaque:
Onívelneutroéumníveldeanáliseondenãosedecideaprioriseosresultadosobtidosporumprocedimentoexplícitosãopertinentesounãodopontodevistadoestésicoe/oudapoiética.Oquetornaneutroesseníveldescritivoéqueasferramentasutilizadasparaorecortedosfenômenos
são exploradas sistematicamente até suas
últimasconsequênciasesósãosubstituídasquandonovashipótesesounovasdificuldadesconduzemàproposiçãodeoutros.‘Neutro’significaaquique
se vai até o fim da aplicação de um procedimento
dado,independentementedosresultadosobtidos(NATTIEZ,1975b,p.54).
Acitaçãoacima,emparte,validariatodaaestratégiaanalíticadeBOSS.Umacoisanãose
podenegar em seu trabalho: suapersistência e capacidadedemanter o
focodaanálise.Noentanto,Molinoajudaaavançaradiscussão:
O que é, portanto, a análise musical? É essa dialética do
trabalhocientífico que, partindo da análise ‘neutra’ do material
sonorotranscrito por uma prática social que já é uma análise,
progride,definindo pouco a pouco novos estratos de análise, seja
integrandodadosemprestadosàsoutrasdimensões(produçãoerecepção),sejaquestionando
os instrumentos utilizaos para a análise e
tentandoforjarnovos(MOLINO,1975,p.58).
Aanálisesefazporetapas,eéfundamentalaintegraçãodos3eixosdatripartição,éo
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
40
que diz Molino. Os procedimentos serão sempre aproximativos, e a
interpretaçãoestará sempre ligadaà subjetividadedequemanalisa,nãohá
comocontrariaresseprincípio,eéissoquedeixaabertaadiscussão.Masopensamentosemiológiconosdiztambém:
As análises do nível neutro não representam a finalidade
últimadapesquisasemiológica,maselassãoummomentoimportante.Opontode
vista semiológico cessa ali onde não émais possível
estabelecerumaligaçãoentreamúsicaelamesmaeaquiloaqueelaremete,doduplopontodevistadocriadoredoouvinte(NATTIEZ,1975a,p.8).
Projetandoessasúltimascolocaçõessobreaproblemáticaanteriormentelevantadaépossível
considerar que a metodologia proposta por BOSS no nível neutro
foiconduzida com extremo cuidado e detalhamento, mas com um
excessivo grau detolerância em relação à suapouca conexão comonível
estésico. Se
amanifestaçãodaquiloquejustamenteguiaocompositoremsualidacomomaterial–aideia–nãoseconcretiza
de modo minimamente assimilável no nível estésico, onde se situa
suafuncionalidadedaestratégiapoiética?Acontradiçãonospareceevidente.Poroutrolado,aconexãonívelneutro/nívelpoiéticonessecasoéimpossíveldeseverificar,poróbvio;mas,acorrer‐seorisco,nelatambémnãoapostaríamos.
5‐Boulezeosistema,eaideia,eoproblemaUmaquestãoterminológicapairaportrásdaaproximaçãodotextodeSCHOENBERG(1977b)comodeBOULEZ(1986).ÉsabidoqueSchoenbergsempreevitouassociarododecafonismoaumsistema–eleseconsideravaautordeummétodo6.Ofatodenão
6Notexto“Acomposiçãocomdozesons”Schoenbergérealmenteexplícitoaodeclararemumanotadepédepágina:“Eunãosouoinventordeumsistema,massimdeummétodo,oquequerdizerdeumamaneiradecolocarlógicamenteemumaobraumafórmulapredeterminada”.[Jenesuispasl’inventeurd’unsystèmemaisbiend’uneméthode,cequeveutdired’unefaçondemettrelogiquementenoeuvreuneformuleprédeterminée.](SCHOENBERG,1977a:166).FlorivaldoMenezestececonsideraçõesarespeitocitandoinclusiveacontribuiçãodeCagequedefineem1958“métodocomo‘caminhodenotaparanota’“(MENEZES,Flo,2002:207).Nessesentido,Menezesoptapelotermométodooutécnicaquandoserefereaopensamentoserial.Feitasessasressalvas,nestetrabalhooptamosporutilizarotermosistemacomoválidoparaosdoispensamentos–dodecafônicoeserial–assimcomoofazBoulez(1986)deformagenéricaemsuareflexão.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
41
ter encontrado regras ou leis que definissem uma funcionalidade
correlativa àsfuncionalidades do sistema tonal lhe
incomodavanadefinição. Boulez fala em
seustextostodootempode‘sistema’.Ésabidotambémqueoserialismointegral,oumaissimplesmente
o pensamento serial, além de não ter tido um idealizador
principal,tendosidofrutodeumpensamentodealgumaformacoletivo,nuncafoipautadoporregras
ou funcionalidades plenamente definidas. Se for justo e
determinante
essemotivo,oequívocofoiassimiladocomoadequação–Boulezsereferetodootempoasistemaaorefletirsobreopensamentoserial.Aquiasduassituaçõesserãotratadasparalelamente,semmaioresdiferenciaçõesentremétodoesistema.Gerd
Bornheim, ao tratar de “Filosofia e sistema” (BORNHEIM, 1978,
p.101‐113)generalizaapertinênciadosistemaenquantomododepensarquenãoéexclusivodaáreadafilosofia,sendocomumatodoocampoepistemológico.Afilosofiatrabalhacomamultiplicidadeediversidadedetodososentese,nessesentido,élevadaaconsiderarorealsobumpontodevistaontológico,opontodevistadoser–oseréoquehádecomumatodososentes:
Nessesentidodetotalidadeontológicapodemosfundamentaraideiadesistema.Qualquerquesejaoaspectodorealestudadopelofilósofo,ele
o considera sempre em função de seu fundamento: trata‐se
desaberqualéoserdohomem,oserdaculturaoudanatureza,ouaindaoserdaobradearte,da
linguagemeassimpordiante(BORNHEIM,1978,p.108).
Bornheim afirma que “para explicar o sistema não é suficiente
partir do
própriosistema,poisdevemosatendertambémaquiloapartirdoqualseinstauraaexigênciasistemática,ouseja,oproblema”(BORNHEIM,1978,p.101).ApartirdacolocaçãodeBornheimserátrabalhadaamesmaperguntaemrelaçãoaosdoispontosfocaisdesteestudo,SchoenbergeBoulez:qualaverdadeiranaturezaeamplitudedoproblemaqueafetavacadaumdessescriadoresnoâmagodesuasaspiraçõesestéticasefilosóficas,nasituaçãodepressãofaceàperspectivahistóricaqueosenvolvia?O
problema que Schoenberg procura resolver com seu método é
claríssimo, e eledeixou inúmeras referências a respeito. O cerne do
problema seria assumir aemancipação da dissonância, fato amplamente
atestado pela produção do final do
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
42
séculoXIXnasobrasdeWagner,MahlerouRichardStrauss,dentreoutros.Umsegundoaspecto
seria justamente a inteligibilidade enquanto fundamental para
todaconstruçãomusical.Asériejogaafavordainteligibilidade(sem,noentanto,garanti‐la).Dainteligibilidadeépossívelpassaràcoerência:“Comoumgraudecoerênciatãoinabitualpodeseratingidonamúsicadedozesons?Graçasà
leiquedeterminaquenenhumsomsejarepetidoantesdeseulugarnodesenrolardasérieescolhidacomobase
da composição” (WEBERN, 1980, p.136). A variação: a repetição
sempre foirecurso lícito e mesmo necessário na tradição ocidental.
Schoenberg quis
evitá‐laradicalmente:“Cadaumademinhasideiasessenciaiséenunciadaumaúnicavez,ouseja,eumerepitopoucooudejeitonenhum”(SCHOENBERG,1977d,p.85).Asériededozesonsébaseadananegaçãodoprivilégiopelaausênciaderepetição.A
referência histórica é tão forte em Schoenberg que, ao propor o
métodododecafônico, ele visa trabalhar em continuidade,mas
tambémemoposição
aumasériedebalizasqueorientavamoprocessocriativodeseusantecessoresdatradiçãoocidental:
Deondeaideiadeconstruirumsistemacontraoutrosistemaenãoaolado ou
por trás. O face a face com a tradição é fundamentalmentedialético
e não renuncia nunca às virtudes antitéticas do combate,como se se
tratasse de afirmar ou construir uma teleologia datransformação
musical [...] Negatividade do sistema, no sentidoadorniano do
termo; imagem inversamente proporcional
aosolipsismoqueafetaaaplicaçãodeumaregra(COHEN‐LEVINAS,2000,p.249).
QuantoaBoulez,querespostaseledáàmesmaquestão?Ondeelelocalizaoproblema?Em
‘O sitema e a ideia’ BOULEZ (1986) se dedica a uma revisão
histórica daproblemática do sistema na criação musical, com foco
principal nas aquisições
dasegundaEscoladeViena.Suavisãocríticaaprofundapoucoapoucoasquestõesnãototalmente
resolvidas, e no correr do texto é delineada sua maior preocupação:
aquestãodaescuta,dapercepção,doestésicoemrelaçãoaodadosistematizado–esteseriaograndeproblemaaequacionar.Schoenbergnãosedescuidoudoestésico.Quandoserefereànecessidadedeclareza
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
43
naexposiçãodequalquerideiamusical,quandosepreocupacomaunidadenaescrita,quando
fala da coerência, ele na verdade procura a eficácia para chegar à
outraextremidadedacorda–arecepção.Aoproporseumétododeescritafundamentadoemumamatrizúnica,Schoenbergprocuraasuficiênciatambémnoquetocaàquestãoestésica.Masparaalémdamatriz,nocampooperacional,anecessidadedevariaçãopermanenteacrescentaumadificuldadequepõeemriscoaeficáciadométodo:
Quanto à unidadeda obra assumida pela unidade deumamatriz,
énecessárioreconhecerautopiadeumtalprojeto,porqueosprodutosderivadosdessesistemaúnico,permanentementesubjacente,devemserdiversificadospelanão
repetição
textual.Asdeduçõesmúltiplasrevelamrealmenteaentidadedepartida?Outornam‐seelasmaisoumenos
autônomas graças à personalidade que se requer delas
emrelaçãoaodesenvolvimentoeàforma,sedistanciandoaessepontodamatrizoriginalquenãopodemmaisseconectaraestafontesemumaginásticavisualquenãotemmaismuitacoisaavercomapercepção?(BOULEZ,1986,p.9).
Boulezatacaoproblemafrontalmente,nãosemobservar,énecessáriodizer,quetalinsuficiêncianãopassoudespercebida–asobrasdosvienensessãotestemunhasdasestratégiasdecompensaçãoadotadasparaneutralizaraslacunasdosistema.Boulezapontamaisumaspectoproblemático:areferênciaexcessivaaosistematonalque
aparece em diversos procedimentos adotados por Schoenberg, espécie
denostalgia mesclada à necessidade de validar sua proposta
colocando‐a ao abrigodaquelaquedeixavadelado:
Encontram–se mesmo traços textuais do antigo sistema, que
alipermanecem como a estampade uma línguamorta: no
quintetodesoprosop.26,atransposiçãoprivilegiadadasérieinicial,aquelaqueproduzirá
regiões semelhantes, será efetuada à quinta,
intervalofundamentaldalinguagemtonal.Aquinãoseriaquestãodeumretornoexatoàsfunçõestonaisdaquinta;aliásnãoseescutaessatransposiçãocomoligadaaesseintervaloespecífico,masnósacaracterizamospelasduas
regiõesde intervalosque ela suscita. Pelomenos, essaquinta‐fantasma
é perfeitamente simbólica de um estado de espírito,
oumelhor,deumestadodealma:sentimental,claro,masnãoaopontodeabdicar(BOULEZ,1986,p.10).
Aconsequênciadessetipodemecanismovairefletirnoperfildaideia,potencializando
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
44
oproblema:Aascendênciadoantigosistemasobreonovo,enquantojustificativafundamental
vai, portanto, forçar as ideias musicais a nascer e
acresceremumambientelimitadorquelhesdaráumaaparênciapré‐fabricada;asideiassãosuscitadasemvistadessaconjunçãodosdoissistemas,ehaveránãosomenteanalogiadeumaoutro,massimtotalrecobrimento(BOULEZ,1986,p.10).
A primeira peça dodecafônica de Schoenberg é uma valsa
(Op.23/V); uma dasprimeirasobras
inteiramenteescritasdeacordocomométodoéasuiteOp.25,quecontemprelúdio,gavota,minueto‐trio,giga.ObviamenteacapacidadeeacriatividadedeSchoenbergatuavam,eosprojetossempreforambemresolvidos.MasoqueBoulezaponta
aqui não é uma indigência técnica, e sim uma certa asfixia que é
possívelperceber no tematismo. Ideia e sistema se acoplam,mas com
esforço, como
numatentativadevestirummesmocorpocomduasroupasdisparates,daíaaparência“pré‐fabricada”quepairasobreotematismo.QuantoaBerg,Boulezcomentaquãoparticularéseuprocessodededuçãotemáticaapartirdasérie,porexemplo,nocasodaóperaLulu.ApartirdeumasérieoriginalBergaplicaoperaçõesarbitráriasdeescolha–umanotaacadaduas,umanotaacadatrês,umanotaacadaquatronotas.Oprodutoobtidoéumanovasériededozesons,apartirdaqualelevaiderivarnovasentidadestemáticasmelódicasouharmônicas.Oprocessode
dedução da série é absolutamente hermético à percepção,
distanciando o novomaterial da fonte que lhe deu origem. Berg pode
também retirar da série
algumintervaloprivilegiado,comoaquarta,porexemplo,quenãonecessitariadaquelasérieespecíficaparaviràtona.ApartirdaíBoulezquestiona:“porquerecorreramétodosdededuçãotãorigorososetrabalhados,seéparaesquecê‐losassimqueelestiveremservido?”
(BOULEZ,1986,p.12).Boulez comestaobservação
colocanovamenteemquestãoarelaçãoentresistemae
ideiapeloviésdapercepção:“Nadanapercepçãomusical que possa nos
conduzir à fonte; a cadeia de deduções se
mantémexclusivamentecomopropriedadedoautor,oouvinte,mesmoomaisatento,omaisesclarecido,nãoconseguepercebernadanotextofinal”(BOULEZ,1986,p.12).ÉcadavezmaisevidentequeBoulezprocurapotencializararelaçãosistema/escuta,
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
45
demodoagerarmaiororganicidadenoparsistema/ideia.
Webern,segundoBoulez,équemconseguemelhorintegrarsistemaeideia:
NaobradeWebern,contrariamenteaBergquemultiplicaoperaçõesnuméricas
destinadas enquanto tais a permanerem esotéricas, aoperação sobre a
série é redutora, simplificadora ao extremo parapermitir a
identificação imediata, para manifestar a evidência
semambiguidade(BOULEZ,1986,p.16).
A operação básica efetuada porWebern é suficientemente conhecida
– a partir
doOp.21eleintroduzeixosdesimetriaqueimprimemumaespéciedefuncionalidadenasérie,queserámanifestadeacordocomoeixoqueguiarafiguração.UmexemploclarodoaproveitamentodesseseixoséosegundomovimentodoQuartetodecordasOp.28,cujasérieéapresentadaaseguir:
Figura8:SériedoOp.28,A.Weberncomindicaçãodecélulassimétricas.
Foramindicadasnafiguraacimaassimetriasentrecélulasde2,3,4e6notas.Cadanível
manifesta um tipo de simetria, que pode ser por simples
transposição
(porexemplo,primeiraeúltimacélulasde4notas),ouporretrogradaçãoinvertidamaistransposição
(por exemplo, segunda e terceira células de 3 notas; ou primeira
esegundacélulasde6notas).ComessetipodeestratégiaWebernprocuraamenizarotrabalhodapercepção.Aoinvésdeterqueserelacionarcomummódulo12,elapassaatrabalharcommódulosmenoresde2,3,4ou6notas.OsegundomovimentodoquartetoOp.28éumbomexemplo.Aformaéextremamentesimples:A–B–A’.Webernorganizaomaterialdemodoquenaprimeiraenaúltima
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
46
parteele trabalha,emrelaçãoàssimetrias,
sobcertaneutralidade.Nenhumtipodesimetriaéexplicitamenteprivilegiadonapercepção,comexceçãodealgumasfigurasde2notasdelimitadasporligaduras,sobretudoentreosc.10e14daprimeiraparte,porexemplo,quesempreserelacionamporcromatismo:
Figura9:AntonWebern,QuartetoOp.28,segundomovimento,c.10‐14.
Nasegundaparteelealteraoprocedimento,epassaaprivilegiarclaramenteapartiçãodasérieemcélulasde3notas.ComopodeservistonaFigura.10aseguir,entreviolaeviolonceloháumjogoclaroentrefigurasde3notasquemanifestamsimetrias:
Figura10:AntonWebern,QuartetoOp.28,segundomovimento,c.20‐24.
Essetipodeprocedimentoindicaumaclaraestratégiadeconexãosistema/ideiaeéissoqueBoulezvaloriza.Seosistemafornececélulassimétricasde3notas,afiguraçãoem
algum momento específico – nesse caso, na segunda parte – vai
colocar em
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
47
evidênciataiscélulas.Oprojetocompositivoabsorveumacaracterísticaimanentedosistemae
joga comelanaarticulaçãoda forma,nodesenvolvimentodo
tematismo:“Ideia e sistema, eu repito, referem‐se um ao outro,
explicam‐se um ao outro, sefortificam, justificam‐se um pelo outro,
eles formam, no limite, um casal de
umacompletareciprocidade.”(BOULEZ,1986,p.16)BouleznãoexerceacríticasomentecontraaescoladeViena–suageraçãotambémpassa
pelo crivo, com o mesmo rigor. Assimilados os efeitos na
transformação
dalinguagemmusicalderivadosdetodoomovimentoverificadonaEuropaocidentalnaprimeirametadedoséculoXX,arespostasefeznecessária,eestenecessárioapontounadireçãodaexacerbaçãodaideia.Aforçaeopotencialrenovadorquealimentavama
reflexão e a produção de Schoenberg, Berg eWebern os colocava no
centro
dasatençõesdoscompositorescomprometidoscomatransformaçãodalinguagem.Todaa
reflexão anterior desenvolvida por eles tinha se concentrado na
questão alturas,deixando as demais variáveis numa espécie de
automatismoquedependiamais daavaliação no momento do que de uma lei
rigorosa que resolvesse a questão
daadequaçãoecoerênciademodosatisfatório:“Quefazerentão,senãounificarosistemaedarigualimportânciaatodasascomponentesdosom?”(BOULEZ,1986,p.17).Maisumavezavariável‘percepção’étomadacomofundamentobásiconaapreciaçãodoproblema.Aorganizaçãodasdozenotaspodeanularasfuncionalidadesantigas,eoresultadopodeserneutroporquedopontodevistaperceptivocadaalturapodeserequiparadaaqualqueroutra.Omesmonãoacontececomasdurações–umasériededuraçõesquepartedeumvalorcurtocomounidade,equecontemumvalormuitolongojustificadoenquantomultiplicaçãodessamesmaunidadepordoze,porexemplo,nãogeraumasérieequilibrada.Ocampodaagógicanãofuncionadamesmaformaqueocampodasalturas–anotamuito
longase impõefatalmente
faceàsmuitocurtas,imprimindooprivilégionapercepção,desequilibrandooprojetopeladestruiçãodapremissa
básica. Timbre e dinâmica são variáveis ainda mais complexas que
nãopermitemumcontroleserialanãosersobavaliaçõesmuitosubjetivas.ApartirdesseraciocínioBoulezacrescentaquenessescasos“ocontextopermanece
indispensável
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
48
como critério de julgamento” (BOULEZ, 1986, p.19). Mas, na
origem, a grandepreocupação dos compositores envolvidos com o
pensamento serial era relativa àunidade da sistematização como
consequente fortalecimento da coerência
interna,valoraprendidodahistóriarecente,equenãopoderiaserdeixadosoltoparacorreçõesemfunçãodeumcontextomalaparado.Haviaumacrençaexacerbadanaeficáciada‘ordem’derivadadeumalógicaunitáriaenquantogarantiadobomfuncionamentodosprojetos:
Era a utopia que dirigia o serialismo integral: além do desejo
deunificar o sistema, de fazer justiça às componentes até
entãonegligenciadas,dereabilitá‐las,existia,nãomenosforte,umacrençanainfalibilidadeda‘ordem’,quaseumasuperstiçãoemrelaçãoàssuasvirtudes
mágicas, se elas não substituíam completamente
apersonalidadedocompositor,oapoiavamsemfalhaemseucombatecontraa
incerteza, aopreçodeumaparte
consentidadeanonimato(BOULEZ,1986,p.18).
Oproblemaaquiressurgesoboutraperspectiva:oesforçonosentidodeconstruirumsistemaquesequerglobalizante,quegarantaoordenamentodetodasasvariáveisàdisposição
em suas perfeitas regulagens não deve gerar como produto um
sistemarígido.Aordemdevecederopassoassimqueseaproximadarigidez,econfundirosdoistermoséperderaapostaporantecipação.Boulezpropõeumasériedeconceitosouprocedimentosque
carregam junto comeles apossibilidadede flexibilizaçãodosistema, ao
mesmo tempo que funcionam como reguladores da percepção,
comoauxiliaresdamemóriaauditiva,gerandobalizasqueconduzemeorientamaescutanocorrer
da obra. Em 1997 Boulez faz uma reflexão durante uma entrevista que
ébastantesignificativaporreforçarmaisumavezesseaspecto,pornosfazerperceberque
sua preocupação de fundo é com o ajuste da percepção no momento
dasistematização, seu compromisso é com o jogo do reconhecimento no
interior dosistema:
Naépocademinhajuventude,eupensavaquetodamúsicadeveriaseratemática,semnenhumtema,efinalmenteeuestouconvencidoagoraqueamúsicadevesebasearemcoisasquepodemserreconhecíveismasquenãosãotemasnosentidoclássico,mastemasondeháumaentidade
que toma diferentes formas mas com características
tãovisíveisquenãosepodeconfundi‐lascomoutrasentidades(BOULEZ,citadoporGOLDMAN,2003,p.84).
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
49
EmconsonânciacomessaafirmaçãoBoulezpropõe3conceitosoumecanismos:aura,envelopeesinal.Essesconceitosnãoserãodesenvolvidosaqui;apenaspassaremosporelesdeformaquepossamserinseridosnoraciocínioglobalquevemsendoconstruídoatéagora.Aaurafuncionacomoumtipodecomplemento,correlativodaantigaapojatura,quegravita
no entorno de um elemento principal, descrevendo figuras variáveis
quepodemserconstruídascomaltograudeliberdade,oumesmoseremcompostasporconjuntos
de classes de notas derivados de uma estrutura anterior. A aura
podeassumirasmaisdiversasformas,epodefuncionarcomoreferênciaparaapercepçãonamedidaemquegerablocosmaisoumenosreconhecíveis.Oenvelopeéumaentidadedenaturezaglobal.Podesercaracterizadoporumaregiãodefinidadoregistro,ouumtimbreespecíficoque,umavezidentificados,poderãoserreconhecidos
numa segunda escuta. O envelope pode também ser definido
peladuração – um segmento rápido com notas curtas ou com
ressonâncias
podecaracterizarumenvelopeporsertexturadefácilreconhecimento.Osinal,contrariamenteaoenvelope,édenaturezapontual.Umsinalpodearticularaforma,podemarcaroiníciodeumdesenvolvimento.Umaformaquealternatiposdetexturadiversospodecontarcomsinaisoufamíliasdesinaisquemarcamouanunciamcadadesvio(BOULEZ,1986,p.26‐28).Esses3últimosconceitospropostosporBoulezcarregamemseuinteriorumamesmaorientaçãoou
função fundamental, reforçandoapreocupaçãosubjacentea
todasuareflexãoqueprocuramosevidenciarnesseestudo:gerarreferenciaisparaaescutadeformaamanteroouvinteconectadoàmensagemquelheéendereçada.
6‐ConsideraçõesfinaisPor tudo o que foi desenvolvido até aqui,
percebe‐se que Boulez trabalhou na
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
50
continuidadedeSchoenberg,masemumacontinuidadesignificativamenteexpandida.OquepermitiuaBoulezavançarnareflexãofoiprincipalmenteofatodeque,paraele,arelaçãocomosistemanãoseencontravainteiramenteresolvida.Asdificuldadesjáeram
apontadas na década de 1960 em um longo texto “A necessidade de
umaorientaçãoestética”(BOULEZ,2007a,p.15‐93).Nessetextoelesededicaaumalongareflexão
sobre a problemática colocada em relação à eficácia do sistema
serial
nomomentodecomposiçãodas“Structures”paradoispianos.Em“Osistemaeaideia”(1986),maisdevinteanosdepoisareflexãoémaisprofundaporquemaisamadurecida–
aqui, sua crítica tanto às soluções da Escola de Viena, quanto às
fragilidades doserialismo integral são contundentes e muito mais
abrangentes. A posição deSchoenberg não é a mesma. Apesar de
esperar futuros desenvolvimentos
nododecafonismo,quepoderiamvirdasgeraçõesaseguir,elehaviaencontradoumgrausatisfatório
de estabilidade em relação ao método, que lhe permitia compor
uma‘música nova’, para ele plenamente justificada porque unificada
e
coerentehistoricamente.Seutextoéumadefesadeseumétodo;otextodeBouleznãoequivaleaumadefesaintransigente–trata‐sedeumrealinhamentodaspremissasbásicasqueorientamaoperaçãodeseusistema,apartirdahistória,apartirdesuaexperiênciaprópria.Adiscussãoaquidesenvolvidapartiubasicamentede3termos:estilo,sistemaeideia.Dentreelessomente2foramtrabalhados:sistemaeideia.Aquestãodoestilonãofoiexplorada7porqueoparsistema‐ideianospareceugerarumfocomaisinteressante,compossibilidadesdedesenvolvimentoquerespondiammelhorquandoconfrontados.Dentre
os dois termos trabalhados, o sistema já é algo de bastante
conhecido,elaboradoediscutidona literatura tradicional,
sobretudonoque se referea todaatradição damúsica ocidental que teve
o sistema tonal enquanto principal suporte.Quantoà ideia,
trata‐sedeumconceitoquenão faz sentidosomentenocampodasartes,mas
que pode ser desenvolvido em todo campo que envolve a
racionalidadehumana.Encontramoscomoetimologiadapalavra‘ideia’:“imagemdealgumacoisaou
7DanielleCohen‐Levinas(2000)desenvolveumalinhaderaciocínionaqualotermo‘estilo’émuitoexplorado.Podeserumpontodepartidaparaumanovadiscussão.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
51
dealguém,talqueoespíritoaconservanalembrançaearepresentapelaimaginação”(CNRTL,2016).Ideia,naorigem,portanto,temavercomimagem,comimaginação.Aideiamusical,nonossoentender,deveriapassarporaí,preservandocertasimplicidadena
concepção, de forma que pudesse ser trabalhada em estreita conexão
com adimensão perceptiva, e, sobretudo, que fosse afeta ao som, à
matéria com a
qualtrabalhaocompositor.FoifeitaumacríticaàabordagemdeJACKBOSSemsuaanálisedoPrelúdiodaSuitepara
piano, Op.25 de Schoenberg. A ideia perseguida por BOSS não nos
pareceimpossível de ser trabalhada; trata‐se de uma ideia simples,
condensada, emesmofactível.Nossa discordância não é sobre a ideia
em si, que poderia ser plenamentedesenvolvida em uma composição,
mas sim sobre a falta de conexão desta com
adimensãoperceptivanaanáliseemquestão–nessecasoaideiaescapadamúsica,logoaanáliseéfragilizada.AideianoPrelúdiodoOp.25deSchoenberg,nonossoentender,temrelaçãocomumaespéciedemovimentodevaievem,naalternânciaentredois
tiposdetextura:semnotasrepetidas/comnotasrepetidas.Umaanálise,mesmoquesuperficial,mostranoiníciodecadasegmentodaforma(c.1,finaldoc.5,finaldoc.9,finaldoc.16)umatexturasemnotasrepetidas,comumapassagempaulatinaaumatexturanaqualarepetiçãodenotaspredomina.Omecanismoéfacilmentecaptadopelapercepção.Issoserepetepor
ondas, até o fim do c.19; a partir daí a ideia da textura com notas
repetidas
éabandonada.Estaobservaçãoestásendofeitaaquiapenasnosentidodeapresentarumpossívelenfoqueanalíticocapazdeclarearumaquestãoquenãoacreditamostersidobemequacionada;maséevidentequeserianecessárioumnovoartigoparaquefossesuficientementedesenvolvida.Emumaentrevistade2007Boulezdáumexemplodeextremasimplicidade,noqualdescreveamaneiracomoaideiamusicalfoiconcebidaemÉclat(1965):
Éclatfoiúnicamenteumareflexãosobreosinstrumentosressonantes.E eu
não pensei de modo algum no que quer que seja como
ideiamusical,eupenseisimplesmenteemumacombinaçãodeinstrumentosressonantes.
E eu pensei a combinação de instrumentos antes de
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
52
pensarnaideiadacomposiçãoelamesma.Mas,umavezqueocorpoinstrumental
foi decidido, aí era necessário utilizá‐lo realmente deumamaneira
lógica. Quer dizer, porque instrumentos
ressonantes?Porqueelestêmumcomportamentodiferente.Nosinstrumentosquetêmumaressonânciamuitolonga,vocêtemumaressonânciaquevocêpodeanalisarpeloouvido,porqueessaressonânciaficamuitotemponoseuouvido.Masvocêteminstrumentosressonantesqueressoammuito
brevemente, sobretudo no agudo, você tem um bandolim oumesmo um
violão que ressoam muito curto. Portanto, o que erainteressante era
encontrar uma ideia musical que justificasse esseempregoda
ressonância.Então,ouvocê tocaesses
instrumentosdeumamaneiramuitocurtaeaívocênãopodedistinguirquemtocaoquê.Ou
então, pelo contrário, você deixa a ressonânciamorrer e
aívocêpodeanalisarosinstrumentosqueresistemmaistempoàusuradaressonância.Eapartirdaívocênãopodemaisjogarcomumtempomedido.
O quemede o seu tempo? É a ressonância, quer dizer, é
oobjetoelemesmo,e,portanto,énecessáriaumaescritaextremamentelivrequenãoémaisdependentedeumamedida,querodizerdeumamedidanosentidogeraldotermo,umamedidadotempo.Efoiassimquemeveioaideia(BOULEZ,2007b,2’:05–3’:55).
Agêneseda ideiaaquiédescritacomtotal
simplicidade.Partindodeumaoposiçãoclara–muitaressonânciaxpoucaressonância–escolhe‐seumgrupodeinstrumentos.Opera‐se
uma classificação das capacidades de sustentação do som. A partir
daídefinem‐se estruturasque jogam como fator em foco, que acabapor
determinar
amaneiracomoopassardotempopodesercontrolado–tempoliso,tempoestriado.Aideiasurgedeumacaracterísticadosom–aregulagemdoparâmetroduraçãoatravésda
capacidade de ressonância de cada instrumento. Essa característica
é projetadasobre um outro aspecto do sistema – o controle do passar
do tempo, que deve
seadequaracadatipodetextura–pulsadaounãopulsada.Aseguirsãoapresentados3exemplosdeexpressãodaideiaemÉclat.Comoficouclaronacitaçãoanteriorumadaspossibilidadesdemanifestaçãodaideiaéoataquesecoesimultâneodediversosinstrumentos,comoacontecenaFigura.11,napróximapágina–trêsataquessucessivos,cadaumcomumgrupodeinstrumentos,sendoqueemcadaataquearessonânciaémantidaemalgunsdeles,gerandopercepçõesdiferenciadas:
‐ataque1–pianocomressonância
‐ataque2–bandolimevibrafonecomressonância
‐ataque3–sinoepianocomressonância
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
53
Figura11:Éclat–nº18–PierreBoulez(1965).
Outro exemplo de trabalho com as ressonâncias aparece na figura
12, onde sãocolocados sete ataques também com instrumentações
diferentes, todos
comressonância.Cadagrupogeraumtimbrepeladiferençanainstrumentação,ecadaumresistiráà‘usuradaressonância’emseutempoespecífico.Otempoaquiétotalmenteliso,
semorientaçãoquantoaoritmodosataques,
conformeespecificadonoaltodafigura,aseguir:
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
54
Figura12:Éclat–PierreBoulez(1965)–p.7,(Textonoaltodafigura:Daras7
entradasdesigualmentesemnenhumaorientaçãorítmica,ordemdosinstrumentosadlibtum).
Paraterminarumúltimoexemplo:
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
55
Figura13:Éclat–n°26–PierreBoulez(1965).
Na Figura.13 a ressonância participa da ideia interferindo de
duas maneiras:
noprimeirocompassode26,aressonâncianoataquedopianopermanece.Oregentedeveouvi‐la
e disparar o ataque do próximo compasso quando essa dissonância
seenfraquecer (observação escrita na parte do piano: ‘esperar que
se enfraqueça
aressonânciadopiano’)–logo,aressonânciaregulaaduraçãodocompasso.Nosegundocompassode26,Boulezconstróiumaimageminvertidadafiguraataque‐ressonânciadecrescendo,
comoemumgestoprovenientedamúsicaeletroacústica:
ressonânciacrescendo‐ataque (a observar o aumento na quantidade do
crescendo indicado
naproximidadedoataque).Aressonânciaéutilizadaparagerarumobjetoqueéaimagemretrogradadaevariadadogestoanteriordopiano.Com
esses últimos exemplos espera‐se ter mostrado, pelo menos em parte,
comoBoulezratificanapráticamusicaloquepropõeemsuaelaboraçãoteórica:“Osistemaremeteàideiaquetransformaosistemaquerecriaaideia,eassimsevaisemcessarna
espiral do desenvolvimento. Esse par implica uma perpétua evolução,
indica
aanalogiacomumuniversoemexpansão”(BOULEZ,1986,p.29).AimagemutilizadaporBoulezseaplicatambémaeleeaSchoenberg–ambostrabalharamativamentepelaexpansãodopensamentomusicalemsuasrespectivascontemporaneidades,apartirdossistemas,emfunçãodasideias.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
56
Referênciasdetexto
1.
BERG,Alban.(1983)Écrits:introduction,présentationetnotesparDominiqueJameux.Paris:ChristianBourgoisEditeur.2.
BORNHEIM,GerdA.(1978)Introduçãoaofilosofar:opensamentofilosóficoembasesexistenciais.PortoAlegre:EditoraGlobo.3.
BOSS,
JACK.(2014)Schoenberg’stwelvetonemusic:simetryandthemusicalidea.Cambridge:CambridgeUniversityPress.4.
BOULEZ, Pierre. (2007a) Amúsica hoje 2: Pierre Boulez. São Paulo:
EditoraPerspectiva.5. _______. (2007b) Hommage à Pierre Boulez:
entretien avec Pierre Boulez ‐Gestation et dévenir des oeuvres.
Philarmonie de Paris. Disponível em. Acesso em 5 fev.2016.6.
_______. (1989) Jalons (pourunedécennie).NATTIEZ, Jean‐Jacques
(Dir.), Paris:ChristianBourgoiséditeur.7.
_______.(1986)“Lesystèmeetl’idée”.Inharmonique:Letempsdesmutations1.Paris,vol.1,1‐30.8.
_______. (2012) “O sistema e a ideia”. In: ASSIS, Paulo de.
(Ed.).PierreBOULEZ:escritos seletos. Porto: Casa daMúsica/Centro de
estudos de sociologia e estéticamusical,2012.p.285‐354.9.
_______.(1963)Penserlamusiqueaujourd’hui.Paris:EditionsGonthier.10.
CNRTL. Centre national de ressources textuelles et lexicales.
Outils
etresourcesoptimiséespouruntraitementoptimizédelalangue.Disponívelem<http://www.cnrtl.fr/etymologie/idée>.Acessoem:10fev.2016.11.
COHEN‐LEVINAS, Danielle. (2000) “Loi et négativité: Du style et
idée
deSCHOENBERGau‘systèmeetidée’deBOULEZ”.In:COHEN‐LEVINAS,Danielle(Org.).La
loi musicale: ce que la lecture de l’histoire nous (dés)apprend.
Paris:l’Harmattan..12. FORTE, Allan. (1973)The
structureofatonalmusic. London: Yale UniversityPress.13. GOEHR,
Alexander. (1985) “Schoenberg and Karl Kraus: The Idea behind
theMusic”.MusicAnalysis,v.4(1/2),p.59‐71.14. GOLDMAN, Jonathan.
(2003) “Pierre Boulez, théoricien de l’écoute”. Circuit:
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
57
musiquescontemporaines.Montréal,v.13,n°2,p.81‐92.15. MENEZES,
Flo. (2002) Apoteose de Schoenberg: tratado sobre
entidadesharmônicas.SãoPaulo:AteliêEditorial,2ed.16.MOLINO,Jean.(1975)“Faitmusicaletsémiologiedelamusique”.Musiqueemjeu.Paris,v.17,p.37‐62.17.
NATTIEZ,Jean‐Jacques.(2003)“AllenForte’ssettheory,neutrallevelanalysisandpoietics”.AroundSetTheory.Paris:Delatour/Ircam.18.
_______.(1975a)“Delasémiologieàlasémantiquemusical”.Musiqueemjeu.Paris,v.17,3‐9.19.
_______. (1975b) Fondements d’une sémiologie de lamusique. Paris:
UnionGénéraledesEditions.20. SCHOENBERG, ARNOLD. (1983)
Correspondance: 1910‐1951. STEIN,
Erwin(Ed.).Paris:EditionsJ.C.Lattès.21. ______. (1967) Fundamentals
ofmusic composition. London: Faber & FaberLimited.22. ______.
(1977a) “Lacompositionavecdouzesons (I) (1941)”.
In:STEIN,Leonard(Org).Lestyleetl’idée.Paris:EditionsBuchet/Chastel,p.162‐187.23.
______. (1977b)“Lamusiquenouvelle, lamusiquedémodée, lestyleet
l’idée”.
In:STEIN,Leonard(Org.).Lestyleetl’idée.Paris:EditionsBuchet/Chastel,p.93‐103.24.
______. (1977c) “Le contrepoint linéaire”. In: STEIN, Leonard
(Org.). Le style
etl’idée.Paris:EditionsBuchet/Chastel,p.225‐230.25. _______.
(1977d) “Musique nouvelle:mamusique”. In: STEIN, Leonard
(Org.).Lestyleetl’idée.Paris:EditionsBuchet/Chastel,p.82‐88.26.
WEBERN,Anton.(1980)Cheminsverslanouvellemusique.Paris:Jean‐ClaudeLattès.
Referênciasdepartituras
1.
BOULEZ,Pierre(1965)Éclat:pourorchestre.London:UniversalEdition.2.
WEBERN,Anton(1955)Streichquartet:Op.28.Viena:UniversalEdition.Demais
excertos apresentados foram editados pelo próprio autor para o
presentetrabalho.
-
LOUREIRO,EduardoCampolinaViana.(2016)Schoenberg/Boulez:ideia/sistema.PerMusi.Ed.porFaustoBorém,EduardoRosseeDéboraBorburema.BeloHorizonte:UFMG,n.33,p.25‐58.
58
NotasobreoautorEduardoCampolinaVianaLoureiroéProfessordaáreadeComposiçãodaEscoladeMúsicadaUFMG,onde
foiChefedoDepartamentodeTeoriaGeraldaMúsicaentre1996‐1998eem2015;CoordenadordoCursodeEspecializaçãoemEducaçãoMusicalentre2003e2009,CoordenadordoVestibular1999‐2000.GraduadopelaUniversitédeParisVIII(Maitrise,DEA),PremierprixdeGuitarepeloConservatoiredeSaintMaur(Paris),MestradopelaFaculdadedeEducaçãodaUFMGcomdissertaçãosobreoensinodadisciplinaHarmonia,DoutoradopelaEscoladeBelasArtesdaUFMGcomtesesobreaquestãodaTécnicanamúsicaenapinturanoséculoXX.Autordolivro‘OuvirparaescreverouCompreenderparacriar’(AutenticaEditora,2001).