Top Banner
“Escrever é traduzir. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional
182

Saramago (1)

Apr 16, 2017

Download

Documents

João Couto
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: Saramago (1)

“Escrever é traduzir.

Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria

língua. Transportamos o que vemos

e o que sentimos para um

código convencional de signos, a

escrita...”

Page 2: Saramago (1)

“...e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação

a responsabilidade de fazer chegar à

inteligência do leitor,

não tanto a integridade da experiência que nos

propusemos transmitir,...”

Page 3: Saramago (1)

“...mas uma sombra,

ao menos,do que no fundo do

nosso espírito sabemos bem ser intraduzível,por exemplo...”

Page 4: Saramago (1)

“...a emoção pura de um

encontro, o

deslumbramento de uma

descoberta,esse instante

fugaz de silêncio anterior àpalavra que vai ficar na memória como

o rasto de um sonho que o tempo não apagará por completo.”José Saramago

Page 5: Saramago (1)

“Muito universo, muito espaço

sideral, mas o mundo

é mesmo

uma aldeia.”José Saramago

Page 6: Saramago (1)

Estamos numa aldeia

chamada Azinhaga,

no Alentejo português,

a região sul do país onde se produzem azeitonas, cortiça

e trigo.

Page 7: Saramago (1)

E nesta pequena aldeia,

modestas plantações

e criação de porcos é o que há para

ser feito.

Page 8: Saramago (1)

Jerónimo e Josefa estão

particularmente felizes hoje, 16 de

novembro de 1922, pois é o dia que viu

nascer o seu mais novo neto,

a quem o destino conferiu o nome de

José Saramago.

Page 9: Saramago (1)

Livros e letras não fazem parte da rotina deste

casal de camponeses,

bem como de tantos

outros vizinhos.As poucas palavras faladas lhes

servem aos propósitos, e o

seu mundo é o quintal

que em breves minutos

percorremos.

Page 10: Saramago (1)

Na primavera de 1924,

os pais de Saramago,

Maria da Piedade e José de Sousa,abandonam o seio do campo e se

mudam para Lisboa,

onde ele conseguiuum novo trabalho como policial do

trânsito.

Page 11: Saramago (1)

Em Lisboa, Maria da Piedade

passa a cuidar dos afazeres

domésticos, e se dedica aos

filhos, Francisco, de quatro anos,

e José Saramago, que conta com

dois anos de idade.

Page 12: Saramago (1)

No mês de dezembro

do mesmo ano em que se mudam para

Lisboa, o filho mais velho

do casal, Francisco,com apenas quatro anos de idade,

morre de broncopneumonia.

Page 13: Saramago (1)

Uma dor que Maria da Piedade

carregará pelo restante

dos seus dias.

Page 14: Saramago (1)

Saramago passa afrequentar a escola

primária na capital, e já é fluente na leitura,

aos oito anos.

Page 15: Saramago (1)

Sua mãe o envia nas férias para Azinhaga,

para o contato com o

campo e com os avós

maternos.

Page 16: Saramago (1)

E nas temporadas que passa na aldeia dos avós,

o pequeno José sente-se feliz como um pássaro livre.

Page 17: Saramago (1)

O contato com a Natureza – a inocência, cheia de beleza e serenidade, das

coisas puras.

Page 18: Saramago (1)

Os peixes que, nadando velozes, mantêm-se,

por vezes, imóveis contra a força da corrente...

Page 19: Saramago (1)

Anos mais tarde, recordará Saramago algumas lembranças do avô Jerónimo:...

Page 20: Saramago (1)

“Recordo daquelas noites mornas de

Verão, quando dormíamos debaixo da figueira

grande, ouço-o falar da vida que teve,

das histórias e lendas

da sua infância distante.”

Page 21: Saramago (1)

“Adormecíamos tarde,

bem enrolados nas mantas por

causa do fresco da madrugada...”

Page 22: Saramago (1)

As lembranças da pequena aldeia

e o tempo passado na companhia dos

avós – as grandes

referências morais e sentimentais na sua vida –

acompanharão o pequeno José

pelosanos e décadas

vindouros.

Page 23: Saramago (1)

O tempo passa e transforma crianças

em jovens adultos.

Page 24: Saramago (1)

Por falta de recursos,

Saramago não chega a concluir

o secundário,trocando os

estudos acadêmicos pelo

curso de serralharia

mecânica numa escola técnica de

Lisboa.

Page 25: Saramago (1)

Aos dezenove anos passa a trabalhar

num hospital, fazendo a

manutenção do maquinário.Com o trabalho a

consumir as horas do dia, cultiva a

rotina de dedicar a noite à leitura.

Page 26: Saramago (1)

Todas as noites, depois de jantar,

vai a pé, apesar da longa distância, até a biblioteca

pública de Lisboa, onde permanece

até a hora de fechar,

lendo tudo o que pode.

São estas leituras as suas aulas, o seu professor,o seu mestre...

Page 27: Saramago (1)

“Como gostava de, um dia, começar a

escrever, afinal, ser um escritor! E ser escritor era

para o jovem José

uma reflexão sobre a vida

e os seus absurdos...”

Sobre esta fase, recordará anos mais tarde:...

Page 28: Saramago (1)

“Guiado talvez pela

beleza da persistência, ainda

que trêmula,de uma daquelas estrelas que vira

no céu na casa do avô

Jerónimo e da avó Josefa, decidiu ser todo uma só vontade,

todo um atrevimento e

lançou-se no voo alto de

escrever...”

Page 29: Saramago (1)

Em 1944, aos 22 anos

de idade, casa-se com a pintora Ilda

Reis,sendo que três anos mais tarde, em 1947, nasce

a filha, que recebe o nome Violante. Neste ano também

publica o seu primeiro

livro, ‘Terra do Pecado’.

Page 30: Saramago (1)

José Saramago, Ilda Reis e a filha Violante, 1951

Page 31: Saramago (1)

Pais e filhos – a convivência gera laços;

no entanto, o amor, a admiração e o carinho necessitam ser

construídos.

Page 32: Saramago (1)

Leva tempo, atenção e cuidado arar a terra que fecunda

afeição e ternura, respeito e carinho.

Page 33: Saramago (1)

Leva tempo, atenção e cuidado arar a terra que fecunda

afeição e ternura, respeito e carinho.

José Saramago e Violante

às margens do rio

Almonda Azinhaga,

1951

Page 34: Saramago (1)

“A expressão vocabular humana

não sabe ainda e

provavelmente não o saberá

nunca,conhecer,

reconhecer e comunicartudo quanto é

humanamente experimentável

e sensível.”José Saramago

Page 35: Saramago (1)

“A expressão vocabular humana

não sabe ainda e

provavelmente não o saberá

nunca,conhecer,

reconhecer e comunicartudo quanto é

humanamente experimentável

e sensível.”José Saramago

José Saramago e ViolanteAzinhaga,

1953

Page 36: Saramago (1)

Embora tenha seu primeiro livro,

‘Terra do Pecado’, ignorado pela

crítica,Saramago continua a escrever, tendo diversos contos e

crônicas publicados em jornais e

revistas.

Page 37: Saramago (1)

A sua paixão pela literatura leva-o

a conseguir posições

de certo destaque no meio editorial,

atuando comocolunista, revisor,

tradutor ecrítico literário.

Page 38: Saramago (1)

Com aproximadamente quarenta anos de

idade, seu nome começa

a ser conhecido no

campo da literatura e

cultura em Portugal.

Page 39: Saramago (1)

Saramago passa a ocupar diversas

funções, como coordenador do suplemento de cultura do jornal

‘Diário de Lisboa’, e diretor-adjunto do ‘Diário de Notícias’.

Page 40: Saramago (1)

Em 1970, Saramago

e Ilda Reis se divorciam.

E em 1975, ao deixar afunção de

editorialista do jornal onde

trabalha,resolve dedicar-se exclusivamente

à literatura.

Page 41: Saramago (1)

Em 1980, aos 58 anos de idade,

Saramago publica o seu segundo

romance, chamado“Levantado do Chão”.

Page 42: Saramago (1)

Desta vez, a acolhida é

bem diferente; a obra é recebida com êxito, tanto

pela crítica, quanto pelo

público, em Portugal.

Page 43: Saramago (1)

Aos sessenta e poucos

anos de idade Saramago dá início

a uma tardia e improvável carreira

literária.

Os livros que se seguem

nos anos seguintes são igualmente

aclamados pelo país afora.

Page 44: Saramago (1)

Estamos em 1986, Saramago

encontra-se com 63 anos de

idade.Separado, com a

filha já adulta.Realizou o sonho de escrever e ser

lido.Com um sucesso considerável em Portugal , parece

um homem satisfeito com a

vida que lhe fora destinada.

Page 45: Saramago (1)

“Aos 63 anos de idade, o que

um homem pode ainda esperar da

vida?...”afirmaria numa

entrevista, “Não muito...”.

Page 46: Saramago (1)

Mas o futuro ainda lhe

reserva algumas

surpresas...

( fim da primeira parte desta

apresentação )

Page 47: Saramago (1)

1986 - Sevilha, Espanha. Uma jornalista espanhola, nos seus

trinta e poucos anos, passeia por uma

livraria à procura de títulos interessantes.

Page 48: Saramago (1)

Ao passar por uma estante que contém alguns livros separados

para serem devolvidos à editora, se depara com um

título que chama sua atenção.

Page 49: Saramago (1)

Mesmo sem ter ouvido falar do autor,

ela resolve comprar o livro, sem poder imaginar

as consequências que tal decisão, aparentemente trivial, poderá ter.

Page 50: Saramago (1)

Coincidências da vida, dirão alguns,enquanto outros atribuirão o

ocorrido ao destino, ao acaso, ao inevitável...

Page 51: Saramago (1)

O livro se chama ‘Memorial do Convento’.E a jovem

jornalista que o

acaba de adquirir,

Pilar del Río.

Page 52: Saramago (1)

Blimunda, a

protagonista de ‘Memorial do Convento’,

ocupa um lugar especial dentre

todos os personagens femininos

criados por Saramago.

Page 53: Saramago (1)

Pilar gosta tanto do livro que compra vários exemplares para

presentear às melhores amigas, comentando sua

grande vontadede conhecer esse homem

capaz de tocar tanto

a alma feminina

através de Blimunda.

Page 54: Saramago (1)

Ela procura outros livros de Saramago, e diante

da revelação e fascinação sentida

após cada leitura, resolve entrar em

contato com o autor.

Page 55: Saramago (1)

Pilar recordará mais tarde: “Senti que tinha a

obrigação moral de dizer a José Saramago o que tinha experimentado. Um autor

só acaba a sua obra quando o livro é lido e

entendido. E eu queria

dizer-lhe: completou-se o ciclo, li-o e

entendi.”

Page 56: Saramago (1)

Uma bela tarde, toca o

telefone na casa de

Saramago.Pilar se identifica, dizendo ser uma leitora

e admiradora.Conversam sobre os

livros de Saramago, sobre a literatura,

sobre a vida...

Page 57: Saramago (1)

E ao fim da conversa,

combinam de se encontrar numa cafeteria

em Lisboa, para uma entrevista

que Pilar propõe realizar para

o jornal em que trabalha.

Page 58: Saramago (1)

Por ocasião do encontro,

aproveitam para passear pela

cidade de Lisboa, e falam de quase

tudo.Depois, ela

retorna para Sevilha.

“Com uma estranha

paz.”

Page 59: Saramago (1)

No dia seguinte, Saramago retribui a visita de Pilar a Lisboa, enviando-

lhe uma carta, acompanhada de rosas.

Page 60: Saramago (1)

Caminhos que se entrecruzam, vidas prestes a se mudar para

sempre...

Page 61: Saramago (1)

Coincidências da vida, dirão alguns.O destino, o acaso, o

inevitável, afirmarão outros...

Page 62: Saramago (1)

Há quem afirme que as histórias de amor, todas elas, desde o início dos tempos, se

parecem, se repetem.

Page 63: Saramago (1)

O que muda são os nomes, os detalhes, os corações...

Page 64: Saramago (1)

As idas e vindas entre Sevilha e Lisboa, onde Pilar e

Saramago residem, respectivamente, passam a se

tornar cada vez mais frequentes.

Page 65: Saramago (1)

Os 28 anos de vida que separam Pilar, com 34 anos, e Saramago, 63, se tornam um

mero detalhe diante do amor que sentem.

Page 66: Saramago (1)

Em outubro de 1988 celebram o casamento.

Page 67: Saramago (1)

Ao lado de Pilar, Saramago inicia o que chama de sua

‘segunda vida’.

Page 68: Saramago (1)

Saramago observa que aos 63 anos, “quando já não se espera nada”,

encontrou “o que faltava para passar a ter tudo” – Pilar.

Page 69: Saramago (1)

Ela, espanhola: sonhadora, lutadora, vive a batalha de

mudar o mundo; Ele, português: melancólico, sereno...

Page 70: Saramago (1)

Uma combinação perfeita.

Page 71: Saramago (1)

Os livros que Saramago

passa a escrever

desde então são

todos dedicados

a ela.

Page 72: Saramago (1)

“A Pilar, os dias todos”“A Pilar,

até ao último instante...”

“A Pilar, minha casa”

Page 73: Saramago (1)

Com a mudança para Lisboa, Pilar abandona a carreira jornalística

que exercia na televisão espanhola.

Page 74: Saramago (1)

É a primeira leitora dos textos de Saramago, e a

tradutora das obras do marido para o

espanhol.

Page 75: Saramago (1)

Em 1991, Saramago publica o livro

“O Evangelho segundo Jesus

Cristo”, onde conta a

história de Jesus de forma moderna, sob um

olhar narrativo que

humaniza Cristo.

Page 76: Saramago (1)

Em 1992, a Secretaria

de Cultura de Portugal veta a

inscrição do livro na disputa do

Prêmio Literário Europeu,

por considerá-lo “ofensivo para o catolicismo do povo

português.”

Page 77: Saramago (1)

Em reação a tal veto, que

considera censório, Saramago se muda

de Portugal,

passando a fixar residência na ilha de Lanzarote,

Ilhas Canárias.

Page 78: Saramago (1)

E é em seu escritório em Lanzarote que Saramago

escreve um de seus romances mais conhecidos – “Ensaio sobre a

Cegueira”.

Page 79: Saramago (1)

Escrito em 1995, próximo à virada do milênio, o romance aborda uma epidemia de cegueira repentina que acomete a inteira população de

uma cidade.

Page 80: Saramago (1)

A cegueira como uma alegoria para o estado

de crise por que passa a atual sociedade,

onde, frequentemente, os limites entre civilização e barbárie

são rompidos. 

Page 81: Saramago (1)

A cegueira como uma alegoria para o estado

de crise por que passa a atual sociedade,

...

A cegueira descrita no livro é uma “cegueira branca”, pastosa, como se alguém tivesse

mergulhado de olhos

abertos num “mar de leite”.

Page 82: Saramago (1)

“Trevas brancas” a anuviar o

olhar daqueles

que, tendo olhos,

não conseguem

(ou se recusam a) enxergar.

Page 83: Saramago (1)

Uma cegueira por vezes

associada ao avanço

irrefreado do consumismo e

do materialismo,que faz com

que os homens

percam a consciência

de si, se deformem,

se massifiquem

e se barbarizem.

Page 84: Saramago (1)

Uma cegueira

que promove a

ruptura com a nossa

própria essência –

a compaixão, o cuidado,

a solidarieda

de...

Page 85: Saramago (1)

“Penso que estamos cegos,

José Saramago

Cegos que vêem,

Cegos que, vendo, não

vêem.”

Page 86: Saramago (1)

“Se podes

olhar, vê.

Se podes

ver, repara”.

(epígrafe do livro “Ensaio sobre a

Cegueira”)

Page 87: Saramago (1)

“Somos a memória

que temos e a

responsabilidade que

assumimos. Sem memória

não existimos,

sem responsabilidade talvez não mereçamos

existir.”José Saramago

Page 88: Saramago (1)

1995 – Saramago recebe o Prêmio

Camões, o mais

importante da literatura da

língua portuguesa.

Page 89: Saramago (1)

1998 – Recebe o Prêmio Nobel de

Literatura, tornando-se o primeiro autor

da língua portuguesa a

receber a homenagem.

Page 90: Saramago (1)

1998 – Recebe o Prêmio Nobel de

Literatura, tornando-se o primeiro autor

da língua portuguesa a

receber a homenagem.

Page 91: Saramago (1)

Saramago, aos 76 anos de idade, recebe o Prêmio

Nobel das mãos do rei da Suécia.

Estocolmo, 1998

Page 92: Saramago (1)

Ao receber o prêmio, Saramago inicia seu discurso com uma homenagem

ao avô, o camponês Jerónimo Melrinho, o que também pode ser visto

como uma crítica à pompa das instituições literárias:...

Page 93: Saramago (1)

“O homem mais sábio que conheci em

toda minha vida não sabia ler nem

escrever...”

Page 94: Saramago (1)

E passa a discorrer sobre memórias de sua infância, suas fontes de inspiração e formação, e sobre

alguns de seus principais livros e personagens.

Page 95: Saramago (1)

Com a conquista do prêmio Nobel, inicia-se

uma nova fase na vida de Saramago e Pilar.

Page 96: Saramago (1)

Com a conquista do prêmio Nobel, inicia-se

uma nova fase na vida de Saramago e Pilar.

O público leitor de Saramago multiplica-se.Os livros são traduzidos em 42

línguas, publicados em 53 países, e vendem milhões

de exemplares mundo afora.

Page 97: Saramago (1)

Com a conquista do prêmio Nobel, inicia-se uma nova fase na vida de

Saramago e Pilar.

O público leitor de Saramago multiplica-se.Os livros são traduzidos em 42

línguas, publicados em 53 países, e vendem milhões

de exemplares mundo afora.

Page 98: Saramago (1)

Plateias numerosas, por vezes superiores

a mil pessoas, ouvem avidamente suas palavras.

Page 99: Saramago (1)

“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia...”

Page 100: Saramago (1)

“Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar,

e parece-me que, sem idéias, não vamos a parte

nenhuma.”

Page 101: Saramago (1)

“Falamos muito ao longo destes últimos anos dos direitos humanos; simplesmente deixamos de falar de

uma coisa muito simples,...”

Page 102: Saramago (1)

“...que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro,...”

Page 103: Saramago (1)

“...que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional.”

Page 104: Saramago (1)

“...que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional.”

“O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas

cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa

perniciosa forma de

cegueira mental...”

Page 105: Saramago (1)

“...que consiste em estar no

mundo e não ver o mundo ou só ver

dele o que, em cada

momento, for susceptível de

servir os nossos interesses.”

Page 106: Saramago (1)

“Temos que acreditar nalguma coisa e, sobretudo, temos de ter

um sentimento de responsabilidade

colectiva, segundo o qual cada um de

nós será responsável por todos os outros.”

Page 107: Saramago (1)

“A prioridade absoluta tem de

ser o ser humano.Acima dessa não

reconheço nenhuma outra

prioridade.”José Saramago

Page 108: Saramago (1)

E fazendo uso do espaço, da

atenção e notoriedade

conferidos pelo prêmio Nobel,

Saramago denuncia as

injustiças sociais, e

defende com coração e alma as causas que

abraça:...

Page 109: Saramago (1)

Os cuidados com a infância;

A educação de qualidade;

Os direitos dos povos nativos da América

Latina;O combate à

violência doméstica;

A luta pelo fim dos maus-tratos contra

animais;A questão dos

refugiados;O sofrimento do povo

palestino;dentre tantas outras.

Page 110: Saramago (1)

Aos oitenta anos de idade,

guarda o vigor juvenil de se

revoltar contra toda injustiça, e não permite que

se morra nele o desejo de mudar o mundo.

O engajamento sempre em prol do

humanismo.

Page 111: Saramago (1)

“Estou convencido de que é preciso continuar

a dizer não, mesmo que se

trate de uma voz pregando no deserto.”José

Saramago

Page 112: Saramago (1)

“Estou convencido de que é preciso continuar

a dizer não, mesmo que se

trate de uma voz pregando no deserto.”José

Saramago

Em 2007, aos 85 anos, Saramago é agraciado com

o prêmio “Amigo das Crianças”, concedido pela fundação

‘Save the Children’.

Page 113: Saramago (1)

Segundo a fundação, o prêmio é um reconhecimento ao grande

empenho na procura de “um mundo melhor em que todas as crianças

tenham esperança e oportunidades”,...

Page 114: Saramago (1)

...salientando, ainda, o “compromisso ativo pela paz” e o

“apoio continuado às campanhas e projectos relacionados com a

infância e com os mais desfavorecidos”.

Page 115: Saramago (1)

Dentre os livros de Saramago encontra-se

um dedicado ao público infantil – “A Maior Flor do Mundo”.

Page 116: Saramago (1)

Foto tirada em novembro de 2005.

Page 117: Saramago (1)

Pilar é uma companhia constante nos

intermináveis compromissos e viagens.

Page 118: Saramago (1)

Igualmente defensora de inúmeras causas humanitárias, atua como

confidente, conselheira, tradutora e é quem organiza a agenda do marido.

Page 119: Saramago (1)

Estão sempre juntos – em Lisboa e Lanzarote

ou pelo mundo – e de mãos dadas.

Page 120: Saramago (1)

Estão sempre juntos – em Lisboa e Lanzarote

ou pelo mundo – e de mãos dadas.Um amor e uma admiração

singulares – a aura envolvente que raros casais

emitem...

Page 121: Saramago (1)

“Pilar, se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, morreria

muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora.”José Saramago

Page 122: Saramago (1)

“Pilar, se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, morreria

muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora.”José Saramago

Em meio às constantes viagens, é na residência

em Lanzarote, com vista para o mar, que

Saramago recompõe as energias e se restabelece.

Page 123: Saramago (1)

E mesmo com a agenda corrida, ele reserva tempo para escrever ao menos duas páginas diárias – que totalizará um

livro ao fim de um ano, conforme observa.

Page 124: Saramago (1)

Por diversas vezes,

Saramago e Pilar visitam o Brasil, onde

cultivam muitas

amizades.

Page 125: Saramago (1)

Jorge Amado, Chico Buarque,

Leonardo Boff, Sebastião

Salgado, Lygia Fagundes Telles

Paulo Freire, Betinho, Frei Betto, entre

tantos outros.

Page 126: Saramago (1)

A calorosa acolhida dos intelectuais brasileiros também se reflete na

relação de Saramago com o seu público leitor no país.

Page 127: Saramago (1)

Certa vez, diante da cativa platéia e da efusão de beijos e abraços que se

seguiram, exclama:...

Page 128: Saramago (1)

Certa vez, diante da cativa platéia e da efusão de beijos e abraços que se

seguiram, exclama:...

“Esta gente quer me matar de amor!”

Page 129: Saramago (1)

Saramago também manifesta um carinho especial pelos

jovens e adolescentes.

Page 130: Saramago (1)

Frequentemente aceita convites para visitar

escolas, proferir palestras e participar de debates.

Page 131: Saramago (1)

“Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice

pode o que sabe.”José Saramago

Page 132: Saramago (1)

Saramago, rodeado pela família – foto tirada em 1993, na varanda da casa de

Lanzarote.

Page 133: Saramago (1)

A filha, Violante,

e o genro, Danilo;

os netos, Ana

e Tiago. Pilar e Juan Jose –

filho do primeiro casamento, (que segura o

cãozinho Camões).

Page 134: Saramago (1)

Ao mesmo tempo

em que cultiva a conhecida

seriedade,

Saramago também nutre uma notória leveza e um bom-humor constante.

Page 135: Saramago (1)

Certa vez, declara gostar da seção de quadrinhos dos jornais.“Confesso que

gosto muito do Calvin e do

Hobbes, do Snoopy,

do Garfield,...”

Page 136: Saramago (1)

“...daquela Mafalda sábia e subversiva, de quem continuo a ser discípulo

fiel.”

Page 137: Saramago (1)
Page 138: Saramago (1)

José Saramago

mas cabe nela muito

mais do que somos

capazes de viver.”

“A vida é breve,

Page 139: Saramago (1)

José Saramago

“Fugir da morte pode tornar-se

num modo de fugir da

vida.”

Page 140: Saramago (1)

“O homem é o único

animal capaz de chorar.É diante do mar que o

riso e a lágrima

assumem uma

importância absoluta.”

E de sorrir.

Page 141: Saramago (1)

“Dir-se-á que mais

profundamente a

assumiriam diante do universo,

mas esse, digo eu, está demasiado longe, fora do alcance

duma compreensão comum.”

Page 142: Saramago (1)

“O mar é o universo

perto de nós.”José Saramago

Page 143: Saramago (1)

Em 2007, Saramago é hospitalizado durante longos meses, devido a uma

grave doença respiratória.

Page 144: Saramago (1)

Tão logo se recupera, conclui o livro “A Viagem do Elefante”,...

Page 145: Saramago (1)

...e faz questão de viajar para o Brasil, aos 85 anos de idade, para o lançamento mundial da obra.

Page 146: Saramago (1)

...e faz questão de viajar para o Brasil, aos 85 anos de idade, para o lançamento mundial da obra.

A escolha do Brasil para o lançamento

mundial é um presente ao carinho e

amizade dos brasileiros.

Page 147: Saramago (1)

16 de novembro, 2008, aniversário

de 86 anos.

Page 148: Saramago (1)

A notória lucidez e a

acuidade da sua reflexão

filosófica permanecem inabaláveis,

contrastando cada dia mais com a saúde

física debilitada.

Page 149: Saramago (1)

“A vida é como uma vela

que vai ardendo,

quando chega ao fim lança uma chama mais forte

antes de se extinguir.”

Page 150: Saramago (1)

“Creio que estou

no período da última

chama...”,afirma Saramago diante das crescentes limitações

impostas pela saúde frágil .

Page 151: Saramago (1)

Janeiro de 2010 – Haiti é sacudido

por um forte tremor, que deixa

milhares de mortos, feridos e desabrigados.

Page 152: Saramago (1)

Saramago, aos 87 anos de idade,

já não tem a força nem a saúde para

empreender viagem, de modo a levar a sua

solidariedade àqueles que sofrem.

Page 153: Saramago (1)

Apesar da distância, desde a

ilha de Lanzarote, encontra

um meio de contribuir, e de lançar o seu

incansável apelo para a humanidade.

Page 154: Saramago (1)

Ele convence sua editora a

publicar uma edição especial do livro “Jangada

de Pedra”, que terá a renda revertida

integralmente em prol do povo haitiano.

Page 155: Saramago (1)

Mais que um gesto de ajuda,

um sopro de alento, nestes

dias de fria indiferença,nestes tempos tão

desprovidos de compaixão social e

caridade.

Page 156: Saramago (1)

– Uma ‘Jangada de Pedra’a caminho do Haiti –

“Porque todos temos

uma obrigação.”José Saramago

Page 157: Saramago (1)

Abril de 2010, a saúde física de Saramago

a tal ponto está debilitada que o seu médico

lhe impõe repouso absoluto.

Page 158: Saramago (1)

O repouso absoluto, observa o médico,

abrange também a escrita, ou seja, Saramago deverá parar de escrever.

Page 159: Saramago (1)

Diante da renúncia derradeira à escrita

que acaba de ser imposta ao esposo, Pilar sente que a recuperação será

um milagre.

Page 160: Saramago (1)

“...enganadora é sim a luz do

dia, faz da vida uma

sobra apenas recortada,só a noite é

lúcida,porém o sono a vence,...”

Page 161: Saramago (1)

“...talvez para nosso sossego e

descanso, paz à alma dos vivos.”

(em ‘O Ano da Morte

de Ricardo Reis’)

José Saramago

Page 162: Saramago (1)

Mês de maio, 2010

Page 163: Saramago (1)

Durante as últimas semanas, Saramago quase não fala, mas ri, e

segue rindo.

Page 164: Saramago (1)

Embora participe dos jantares e cafés da manhã

que Pilar carinhosamente lhe prepara,...

Page 165: Saramago (1)

...parece nutrir outras fomes e outras necessidades,

anseios que a este mundo já não mais pertencem.

Page 166: Saramago (1)

Ele está aqui e não está, mas sorri.

Page 167: Saramago (1)

Ele está aqui e não está, mas sorri.

“...o espírito não vai a lado nenhum sem as pernas do

corpo,

José Saramago(em ‘Todos os Nomes’)

e o corpo não seria capaz de

mover-se se lhe faltassem as

asas do espírito.”

Page 168: Saramago (1)

No dia 18 de junho,

depois de uma noite serena

e tranquila,Saramago falece na sua residência

em Lanzarote, acompanhado de

Pilar e de sua família, “despedindo-se de

forma serena e plácida.”

Page 169: Saramago (1)

Em se havendo outros mundos,

e havendo lá também

oprimidos e necessitados, estes ganharam

uma voz a defendê-los e

quem se importe com eles...

Page 170: Saramago (1)

estes ganharam uma voz a

defendê-los e quem se importe

com eles...

E em se havendo outros mundos

ainda, talvez lá tenham se reencontrado o pequeno José

e os avós tão amados, Josefa e

Jerónimo.

Page 171: Saramago (1)

“Dentro de nós há uma coisa que

não tem nome,essa coisa é

o que somos.” José Saramago

Page 172: Saramago (1)

Segundo o amigo e teólogo

Leonardo Boff,Saramago cultivava

“a espiritualidade como sentimento

do mistério do mundo, ,

da profundidade humana

e do amor aos oprimidos.”

Page 173: Saramago (1)

Leonardo Boff descreve a tarde

que ele e a esposa, Márcia,

passaram na companhia de Saramago e

Pilar como “um festim

de espiritualidade”.

Page 174: Saramago (1)

“Ganhamos um amigo

e a fé me diz que ele agora

mergulhou naquele Mistério

de amor que sempre buscou.”

Leonardo Boff

Page 175: Saramago (1)
Page 176: Saramago (1)
Page 177: Saramago (1)

“Quando me for deste mundo, partirão duas

pessoas.José Saramago

Sairei, de mão dada, com essa criança que fui”.

Page 178: Saramago (1)
Page 179: Saramago (1)

Formatação: [email protected]

Tema musical:Primeira Parte: ‘Illumination’, White StonesSegunda Parte: ‘Moment musical n.3’, Schubert

Page 180: Saramago (1)

Obrigado, Saramago.

Page 181: Saramago (1)
Page 182: Saramago (1)