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"O Caminho dos Fortes" Um roteiro de: Samuel Queles Copyright@2012 Samuel de Freitas Queles Todos os direitos reservados Rua Professor Alves Horta, 240 CEP 32041680 (031)99724369
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Nov 06, 2018

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"O Caminho dos Fortes"

Um roteiro de:

Samuel Queles

Copyright@2012

Samuel de Freitas Queles

Todos os direitos reservados

Rua Professor Alves Horta, 240

CEP 32041680

(031)99724369

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"O CAMINHO DOS FORTES"

FADE IN

INT. QUARTO DE JEREMIAS - DIA - MANHÃ

JEREMIAS, rapaz magro, branco, 23 anos, amarra o cadarço do

TÊNIS; usa moleton e está se preparando para a corrida

matinal.

Mesa e cadeira aparecem num canto com LIVROS de concursos

metodicamente arrumados e cartazes com frases motivacionais

afixados na parede. Jeremias SAI e se dirige à COZINHA.

INT.COZINHA DA CASA DE JEREMIAS - DIA - MANHÃ

Jeremias dirige-se ao filtro de barro e enche um copo com

água. o Ambiente é simples, pobre mas arrumado. O PAI, uma

figura grisalha com barba rala, rosto encovado,sentado à

mesa, beberica uma xícara de café.

A mãe, rechonchuda e baixa, prepara marmita do marido.

ELIANE,21, irmã de Jeremias,figura esbelta de uma beleza

comum; organiza numa bolsa seu KIT DE MANICURE. A atmosfera

é tensa e silenciosa.

MÃE DE JEREMIAS

Não vai com seu pai, Jeremias?

JEREMIAS engole a água rapidamente, pensa um momento como se

fosse soltar um palavrão; Eliane encara-o com certa

reprovação. JEREMIAS coloca o copo com energia sobre a pia.

O PAI se levanta e pega a marmita já preparada. Passa

próximo a JEREMIAS enquanto assobia baixinho uma canção; há

uma tensão visível. O pai SAI. JEREMIAS SAI a tempo de ouvir

ELIANE em tom provocador.

ELIANE

Doutorzinho.

Reação incômoda de JEREMIAS que encara ELIANE rapidamente

com reprovação.

CORTA PARA

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2.

EXT. RUA - DIA - MANHÃ

JEREMIAS faz alongamento diante de casa enquanto vê o PAI se

distanciando, assobiando, empurrando um carrinho de mão com

ferramentas.

CORTA PARA

EXT. ESTRADA - DIA - MANHÃ

JEREMIAS corre. Ângulo revela seu TÊNIS em passadas

vigorosas.

JEREMIAS (V.O.)

Todo dia, milhões de malucos

levantam pensando em ser alguma

coisa na vida. Jogador de futebol,

cantor, qualquer glamour vale. O

problema meu amigo é que Pelé

mesmo, só existiu um. E que Elvis,

infelizmente, não morreu.

TÊNIS aumenta as passadas. Respiração ofegante.

JEREMIAS (V.O.CONT.)

Mas o cara ainda quer se dar bem.

Aí, atendendo a pedidos,

inventaram uma coisa chamada

governo e com ele a burocracia; e

com a burocracia, o concurso. E com

o concurso,a chance de uma vida

mansa. É aí que começa a história

de muita gente.

CORTA PARA

INT. CASA DE MARINA - SALA - DIA

Ambiente limpo e arrumado. Na estante, uma FOTO de MARINA -

típica de formatura - com beca e canudo.

CORTA PARA

INT. CASA DE MARINA - QUARTO DE MARINA - DIA

MARINA, jovem bonita, fala alegremente ao celular enquanto

arruma sua mala. A mãe, esguia, espreita-a da porta,

esfregando as mãos. Tem um ar triste e ansioso.

MARINA

Já falou com a RENATA?

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 3.

Pausa. MARINA joga os cabelos para trás enquanto firma o

celular entre a orelha e os ombros e usa as duas mãos para

fechar o zíper da mala.

MARINA

Ah, sim. Tudo bem, o lugar é bom.

Papai olhou tudo... A gente se vê.

MARINA termina a ligação; pega a mala e SAI.

CORTA PARA

EXT. RUA DA CASA DE MARINA - DIA

O pai de MARINA, senhor baixo, um pouco gordo; tem um ar

alegre e decidido; Ele coloca a bagagem dela no porta malas

do carro popular.

MARINA abraça o pai e depois a mãe demoradamente. MARINA

ENTRA no carro. Um rapaz magro, FRED, um pouco mais baixo

que MARINA, tem o semblante triste. É o namorado de MARINA.

FRED também ENTRA no veículo no banco do passageiro. Está

calado. O PAI de MARINA chega à janela da porta de MARINA e

dança meio quadrado enquanto entoa Felling Groovy. MARINA

tenta ajudá-lo com a letra.

PAI DE MARINA

Slow down, you move...

MARINA começa a cantar também enquanto sorri. Ao seu lado,

FRED força um sorriso tentando se mostrar amável.

PAI DE MARINA

... to fast/... morning

last/Just... the couble

stones/looking for fun and

felling groovy.

MARINA

... to fast/You get make

the morning last/Just

kickin down the couble

stones/looking for fun and

felling groovy.

CORTA PARA

INT. CARRO DE MARINA - DIA

Enquanto a música Felling Groovy soa (na voz de Symon and

Garfunkel), MARINA acaba de encostar o veículo próximo a uma

fábrica - típica metalúrgica - Funcionários chegam.

Ângulo revela que FRED veste o mesmo uniforme dos

funcionários. FRED e MARINA se encaram em silêncio.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 4.

FRED

Acho que não precisava cancelar o

noivado.

MARINA

Fred, nós apenas adiamos. É o meu

futuro, você sabe. Eu

preciso concentrar nisso agora.

FRED

Não faz sentido, Marina.

MARINA

Não quero mais discutir isso.

Pausa. MARINA suspira e olha o relógio. FRED abre a porta do

carro.

FRED

Esse é o problema. Eu nunca estou

nos seus planos.

MARINA

Eu... Eu acho que você está

exagerando um pouco. Você...

FRED SAI do carro abruptamente, um tanto contrariado e bate

a porta.

FRED

Boa sorte. Preciso me concentrar

(tom) no trabalho.

FRED caminha em direção ao portão da empresa sem olhar para

trás. Passos duros. MARINA angustiada o vê se afastar.

CORTA PARA

EXT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - DIA

ALEXANDRE,jovem,27 anos, atarracado e gordinho, calça

sapatos e usa camisa social escapando na cintura entre a

calça e a barriga.

Segura livros e tem uma mochila a tiracolo. Aguarda seu pai

abrir a porta do apartamento. O pai,figura sisuda, procura a

chave certa.

PAI DE ALEXANDRE

A prefeitura vai desapropriar essa

área. Vou vender aqui... fim do

ano.

Encontra a chave e a introduz na fechadura.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 5.

PAI DE ALEXANDRE (CONT.)

Não posso perder dinheiro.

Abre a porta.

ALEXANDRE

Absque argento omnia vana.

PAI DE ALEXANDRE

O quê?

CORTA PARA

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA

ENTRAM. O ambiente é simples. A sala, praticamente vazia,

tem um sofá grande e uma escrivaninha com TV em cima.

ALEXANDRE

É latim.

PAI DE ALEXANDRE confere o ambiente enquanto caminha para

abrir a janela da sala. ALEXANDRE joga-se no sofá.

PAI DE ALEXANDRE

Latim é?

A janela já aberta, ele observa a vista ao longe por uns

instantes. ALEXANDRE se espreguiça.

ALEXANDRE

É.

O PAI DE ALEXANDRE se afasta da janela enquanto joga a

chave no colo do filho e vai para a cozinha.

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - COZINHA - DIA

PAI DE ALEXANDRE (O.S.)

Espero que sua faculdade de Direito

tenha servido pra algo mais do que

rezar missa.

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA

ALEXANDRE continua jogado no sofá olhando para o teto.

Escuta-se o SOM DAS PORTAS dos armários da despensa se

abrindo e fechando.

PAI DE ALEXANDRE (O.S.)

Você tem um ano prá isso. Está na

hora de compensar o investimento.

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6.

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA

ALEXANDRE ainda sentado no sofá, olha para o teto por uns

instantes e seu celular TOCA dentro da mochila. Ele atende.

ALEXANDRE

Alô? Adriana, Adriana? Cheguei

sim... Agora.

CORTA PARA

INT. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA - DIA

ADRIANA, 25, namorada de ALEXANDRE, é estagiária em um

escritório de advocacia. É uma jovem bonita,usa aparelho nos

dentes; um pouco gordinha, usa óculos. Está em sua mesa de

trabalho. Ambiente típico de escritório.

INTERCUT - CONVERSA TELEFÔNICA

ADRIANA

Oi amor! Quer que eu leve alguma

coisa? Quando sair daqui posso

passar aí.

ALEXANDRE tenta falar baixo para que o PAI não o escute.

ALEXANDRE

Por enquanto não. Vou descansar um

pouco. Tá tudo bem aqui...

ADRIANA percebe o tom de voz diferente de ALEXANDRE.

ADRIANA

(sussura)

Seu pai ainda está aí?

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - COZINHA - DIA

O PAI DE ALEXANDRE se encosta na parede da cozinha, próximo

à porta sem que ALEXANDRE o veja e tenta ouvir a conversa.

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA

ALEXANDRE leva a mão à boca como se abafasse o som de sua

voz.

ALEXANDRE

Não fosse a paranóia dele, você

sabe. Juiz, promotor... Falou a

viagem toda. Estou de saco cheio.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 7.

ADRIANA

(sorri)

Ele se preocupa com você.

ALEXANDRE

(irônico)

E agora eu tenho prazo de validade.

ADRIANA

(conciliadora)

Ahh! Alexandre, não exagere.

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA

PAI DE ALEXANDRE irrompe na sala e ataca.

PAI DE ALEXANDRE

Cuidado com o que você fala. Eu não

tive nada disso que você tem.

PAI DE ALEXANDRE caminha em direção à porta sisudo, pára e

volta-se para ALEXANDRE apontando-lhe o dedo ameaçador.

ALEXANDRE tenta tapar o telefone enquanto encara o PAI como

se o quisesse longe dali.

PAI DE ALEXANDRE (CONT.)

Escuta aqui. Eu não tive essa

moleza toda. Você devia estar me

agradecendo. Eu não tive essa

moleza sua rapaz.

PAI DE ALEXANDRE pára à porta.

PAI DE ALEXANDRE

Seu tempo está acabando.

PAI DE ALEXANDRE SAI pela porta batendo-a. ALEXANDRE

comemora com uma careta engraçada e volta sua atenção ao

telefone.

ALEXANDRE

Ei! Adriana?

ADRIANA (V.O)

Estou aqui.

ALEXANDRE

(imitando o pai com

empostação)

"Está na hora de compensar o

investimento" "Eu não tive essa

moleza toda". (continua com a voz

normal). As vezes acho graça disso.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 8.

ADRIANA

Vou assumir uma diretoria assim que

terminar o estágio. Gostaram de mim

aqui. Não quero nem pensar em

concurso. Essa pressão toda não é

prá mim. O salário aqui é bom.

Tenho boas chances de crescer.

ALEXANDRE

Queria ter essa certeza agora. Não

sei o que quero, exatamente.

ADRIANA

Estou aqui para o que precisar.

ALEXANDRE

Alea jacta est.

ADRIANA sorri.

ADRIANA

Nos vemos à noite.

CORTA PARA

INT. BALADA - NOITE

MARCO RICONNI,24 anos, um jovem forte, alto e bonito, está

rodeado de amigos enquanto se abraça a uma bela GAROTA numa

boate. Luzes estroboscópicas piscam.

O som eletrônico agita a galera enquanto jovens bonitos, de

classe media alta, dançam e riem. MARCO RICONNI faz uma

CARREIRA DE COCAÍNA no tampo do balcão e cheira avidamente.

A garota o puxa pelo braço. Ele resiste um pouco mas logo

cede; Ambos SAEM.

CORTA PARA

EXT. INTERIOR DO VEÍCULO DE MARCO - NOITE

MARCO RICONI dirige seu possante veículo. a GAROTA reclina o

banco e põe os pés no painel do carro. Seu vestido curto

revela as belas coxas. MARCO RICONNI se excita; liga o

rádio.

Um música sertaneja melosa enche o carro. A GAROTA toma o

controle da mão de MARCO RICONNI e muda a estação para um

funk. A GAROTA respira sensualidade e se mexe provocante.

CORTA PARA

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9.

INT. CASA DE MARCO RICONNI - SALA - NOITE

MARCO RICONNI e a GAROTA. Acabaram de chegar. Ela agora

segura as sandálias de salto e anda pé ante pé. Evitam fazer

barulho. É uma bela casa e sua decoração denota riqueza e

bom gosto. Caminham pela sala em direção ao corredor.

CORREDOR

quando MARCO RICONNI esbarra acidentalmente numa ESCULTURA

tombando-a ao chão. O barulho enche o silêncio. A GAROTA se

assusta e o repreende amistosamente. Paralisam-se por um

momento, assustados.

CORTA PARA

INT. CASA DE MARCO RICONNI - QUARTO DOS PAIS - NOITE

Os pais de MARCO RICONNI, - ALBERTO e ANA - já estão

deitados. Na penumbra, sua mãe se assusta com o BARULHO.

ANA

É o Marco de novo, ALBERTO.

ALBERTO resmunga algo ininteligível e se revira na cama.

ANA

(suspirosa)

Onde foi que eu errei meu Deus!

ALBERTO

Eu sempre disse que ele tem que

arranjar alguma coisa com o

GUSTAVO, Ana.

ANA

Você sabe bem que os dois não se

entendem, Alberto.

CORTA PARA

INT. CASA DE MARCO RICONNI - CORREDOR - NOITE

MARCO RICONNI reposiciona a ESCULTURA e junto com a GAROTA

correm em direção ao quarto dele entre risos mal contidos,

como duas crianças.

ENTRAM e a CÂMERA encontra PORTA que se fecha com estrondo.

Ouvem-se risadas e GRITINHOS de prazer.

CORTA PARA

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10.

INT. ACADEMIA - DIA

MARCO RICONNI está malhando supino. Ao lado, COSTA, um

senhor com meia calva,48, com uma barriguinha proeminente,

corre na esteira.

MARCO RICONI interrompe o exercício, pega o celular ao lado

e deitado na prancha, liga para seu irmão, GUSTAVO. COSTA o

observa.

MARCO RICONNI

Queria falar comigo?

GUSTAVO (O.S.)

Oi? Marco? Tem uma coisa sua

aqui. Depois passa aqui no

escritório. Preciso falar com

você.

MARCO RICONNI

Irmão, você me levanta uma grana?

GUSTAVO

Preciso falar com você. Passa aqui.

MARCO RICONNI desliga o telefone, indignado e o joga no

chão.

MARCO RICONNI

Saco!

Costa, bufando, continua sua corrida como alguém que vai

morrer a qualquer hora. Marco Riconni SAI.

CORTA PARA

INT. ACADEMIA - VESTIÁRIO - DIA

MARCO RICONNI acaba de sair do banho. Enquanto se veste,

observa os objetos de COSTA sobre a bancada. CARTEIRA,

CELULAR, RELÓGIO. COSTA está se banhando.

Sua cabeça calva aparece acima da divisória do box. MARCO

RICONNI olha repetidas vezes para a cabeça de COSTA e para

os OBJETOS na bancada como que avaliando.

Por fim decide: abre a CARTEIRA cautelosamente e tira

algumas notas; sempre atento à COSTA que cantarola debaixo

do chuveiro. MARCO RICONNI deixa a CARTEIRA na bancada e

SAI.

CORTA PARA

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11.

INT. ACADEMIA - CORREDOR - DIA

MARCO RICONNI está saindo quando escuta atrás de sí,

PALMAS. Continua andando.

CLOSE SHOT - MARCO RICONNI

que está tenso mas, continua em frente.

COSTA (O.S.)

(batendo palmas)

Parabéns!

COSTA, enrolado numa toalha, ainda molhado,caminha em

direção a MARCO RICONNI. Está sorrindo.

COSTA (CONT.)

Você passou.

MARCO RICONNI se detém e encara COSTA em atitude de defesa.

MARCO RICONNI

(desafiador)

Que que foi irmão?

COSTA vai se aproximando. Tem uma aparência calma. MARCO

recua e evita a aproximação.

MARCO RICONNI

Que que foi zé?

MARCO RICONNI se vira e ignora COSTA. está SAINDO

apressadamente. COSTA pára e não o segue.

COSTA

(em voz suficientemente alta)

Isso é pouco para o que você pode

conseguir, garoto!

CORTA PARA

EXT. ESTRADA - DIA - MANHÃ

JEREMIAS corre como de costume. Um carro que vem em sentido

contrário passa sobre uma poça d’água - e lhe atira lama.

JEREMIAS interrompe a corrida e olha indignado o carro se

afastar.

POV DE JEREMIAS:

Vê o carro sumir rapidamente na CURVA. A vegetação costeira

encobre sua visão.

VOLTA À CENA

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 12.

JEREMIAS olha sua roupa. Descansa com as pernas afastadas,

as duas mãos apoiadas sobre os joelhos. Ainda curvado, olha

o horizonte. Avalia seu estado. Resolve voltar.

Inicia o percurso com uma corrida leve e quando faz a curva

encoberta pela vegetação, percebe à distância, que o veículo

que lhe acabara de sujar está parado.

Fora dele, três garotas, como se buscassem uma solução.

JEREMIAS acelera ao encontro delas. As garotas notam

JEREMIAS se aproximando e imediatamente ENTRAM no veículo e

fecham as portas.

CORTA PARA

EXT. ESTRADA - INTERIOR DO VEÍCULO - DIA

Ao volante está MARINA. Ao seu lado, JOYCE, gordinha de cara

angelical. Atrás está RENATA, esguia, cabelos longos em rabo

de cavalo. Estão visivelmente nervosas.

RENATA

Ele está vindo, ele está vindo!

JEREMIAS se aproxima. Caminha até a porta de MARINA e bate

TOC TOC no vidro. Está suado e ofegante.

As meninas entram em pânico. RENATA,24, uma bela jovem,

quebra o silêncio.

RENATA

Chama a polícia, eu sabia!

JOYCE, loirinha rechonchuda, está vermelha e procura o

celular na bolsa. Encontra-o.

JOYCE

Sem sinal! Maldito!

RENATA

A polícia, a polícia!

POV: DAS GAROTAS

JEREMIAS vai para a traseira do carro.

VOLTA À CENA

RENATA

As malas!

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 13.

MARINA

Meu Deus! A chave!

RENATA

Que droga MARINA, você deixou a

chave lá fora!

MARINA

Como eu ia saber?!

RENATA

Droga!

JEREMIAS vê o porta malas semi aberto. A chave da ignição

balança na fechadura da tampa. Levanta a tampa e dentro do

porta malas está toda a bagagem das garotas e livros de

concursos.

POV: DAS GAROTAS

Do interior do veículo as meninas escutam o RUÍDO de

ferramenta. JEREMIAS, encurvado, some sob a tampa.

VOLTA À CENA

CLOSE UP: MÃO DE MARINA

tateia em busca do CELULAR debaixo do banco. Está num

silêncio controlado, mas tensa. JOYCE começa a chorar.

JOYCE

Oh meu Deus!

POV: DAS GAROTAS

Um pedaço de ferro aparece das mãos de JEREMIAS. Ele

finalmente se ergue e caminha até à frente do veículo. Vem

com o estepe e chave de roda na mão.

CLOSE UP: MÃO DE MARINA

que pega o CELULAR. Do retrovisor MARINA observa JEREMIAS e

vê que se trata de uma chave de rodas, na sua mão.

MARINA

Espera um pouco.

RENATA

(desafiadora)

Não, não! liga logo Joyce!

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 14.

MARINA

(enérgica)

Espera, Renata!

O carro começa a subir impulsionado pelo macaco. As meninas

se encaram em silêncio.

JEREMIAS troca o pneu. Caminha até ao porta malas, coloca o

pneu furado e as ferramentas e fecha-o. Espalma a poeira das

mãos, chega o rosto próximo ao vidro de MARINA, dá um um

sinal de "jóia" com o polegar e retoma sua corrida.

VOLTA À CENA

As meninas respiram aliviadas, mas ainda assustadas.

CORTA PARA

EXT. INTERIOR DO VEÍCULO DE COSTA - DIA

COSTA dirige seu veículo enquanto fala ao celular. Usa

gravata amarela e paletó.

COSTA

MARÇAL? Aqui é o Costa. A prova da

federal já tá na mão. To passando

aí daqui a pouco.

Pausa. Escuta alguém do outro lado da linha.

COSTA (CONT.)

E esse contato é seguro?

Pausa.

COSTA (CONT.)

Ok, então. Te vejo lá.

CORTA PARA

EXT. CASA DA MÃE DE COSTA - DIA

COSTA encosta o carro e desce. É um barracão simples e

pobre. Paredes descascadas, capim crescendo no quintal, um

visível abandono. COSTA segura uma MALETA. COSTA ENTRA.

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - DIA

O interior é uma penumbra. COSTA caminha até a cozinha.

COZINHA onde está a empregada MARIA; é jovem de uns 15 anos,

é negra. COSTA entrega a MARIA o remédio da mãe.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 15.

COSTA

Aqui, o remédio dela. Ela tá

tomando direitinho?

MARIA, tímida, faz sinal positivo com a cabeça.

MARIA

Ela tem...

COSTA, elétrico, arrasta uma cadeira e sobe nela. COSTA

coloca a MALETA sobre o vão do armário da cozinha que é

fixado alto, quase tocando o teto. COSTA não presta atenção

à empregada. Vira-se de costas para MARIA e saca uma PISTOLA

da cintura.

COSTA

Não tenho tempo agora, MARIA.

Ainda de costas tenta encobrir a PISTOLA enquanto a esconde

junto à MALETA, sobre o armário, no espaço sob o teto.

MARIA

Ela tem consulta... tem que levar

ela.

COSTA pula da cadeira e vai em direção ao quarto da mãe.

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - QUARTO - DIA

O ambiente está escuro. COSTA tateia a parede até acender a

luz. A claridade revela sua MÃE, pálida e magra;

Usa lenço na cabeça. deitada, vira o rosto e fecha os olhos

recusando a luz. Ela tosse. COSTA apaga. Aproxima-se da cama

inclina-se próximo à cabeceira.

COSTA

Mãe?

MÃE DE COSTA

(entre tosses)

Ô meu filho. Eu tô

aqui...pelejando. Graças a Deus.

COSTA senta na cama e segura a mão da mãe. MARIA fica parada

à porta. COSTA fica assim por um momento enquanto sua mãe

tosse.

COSTA

Cê tá bem, mãe?

A MÃE de COSTA tosse. COSTA vira-se para MARIA.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 16.

COSTA

Não esquece o remédio dela.

MÃE DE COSTA

Come meu filho.

MARIA

Ela tem consulta. Eu...

COSTA

(irritado)

Eu sei, eu sei.

COSTA se levanta.

COSTA (CONT.)

É a décima vez que fala isso. Mãe,

vou indo. Tô trabalhando muito

hoje.

MÃE DE COSTA

(em meio a tosse)

Come meu filho.

COSTA caminha para a porta de saída.

MÃE DE COSTA

Deus põe a benção.

MARIA o segue a uma distância respeitosa. Escuta-se ao fundo

os gemidos e tosse lamentosos da MÃE.

COSTA (CONT.)

Tá, viu... Já comi. Depois vejo

isso aí, da consulta, Maria.

COSTA SAI para a rua.

RUA

onde ENTRA no seu veículo e SAI.

CORTA PARA

INT. CURSINHO DESAFIO - RECEPÇÃO - DIA

JEREMIAS conversa com uma atendente. Típica recepção de

cursinho com cartazes e folders sobre concuros. Um CARTAZ de

concurso para agente penitenciário se destaca.

JEREMIAS quer saber informações sobre concursos. Enquanto

conversa, coloca seu LIVRO no balcão. Atrás dele, sentado em

um sofá, está COSTA, de paletó e gravata amarela.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 17.

Pernas cruzadas, confortavel; tem uma atitude tranquila

enquanto observa a movimentação dos candidatos. Logo passa a

observar JEREMIAS.

JEREMIAS

Prá que horário vocês tem?

ATENDENTE

Oh...

Com uma caneta marca num papel sublinhando a informação.

ATENDENTE (CONT.)

Essa turma é a última. Prá soldado

é a última que temos. Sete às Dez

da noite. Vai abrir uma de agente.

JEREMIAS pensa por um momento hesitante. A ATENDENTE o

encara, esperando a resposta.

JEREMIAS

Mas já começa agora?

ATENDENTE

(um pouco impaciente)

É como eu falei senhor. Na próxima

segunda, dia doze.

JEREMIAS ainda pensa. Atrás de sí, ALUNOS aguardam a vez de

serem atendidos.

ATENDENTE (CONT.)

O senhor quer reservar?

Atrás, alguns se impacientam. JEREMIAS ainda está lento e

pensativo.

JEREMIAS

(abafando a voz)

É... Você não pode segurar pra mim,

uma vaga?

ATENDENTE

Cheque ou cartão, senhor?

Jeremias está encurralado. Tem que decidir rápido. Sua

outra mão treme (Detalhar) sobre o LIVRO. A ATENDENTE nota a

mão trêmula de JEREMIAS que logo a põe no bolso rapidamente.

COSTA se levanta e coloca um CARTÃO furtivamente no LIVRO de

JEREMIAS sem que ele perceba; enquanto isso, fala com a

ATENDENTE, apontando a direção que vai tomar. Aparenta

intimidade com o lugar.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 18.

COSTA

Estou subindo tá? MARÇAL... vou ver

o MARÇAL.

A ATENDENTE concorda com a cabeça e um breve sorriso.

Volta-se impassível para JEREMIAS e o encara interrogativa.

JEREMIAS

Não, nem cartão, nem cheque. Nada.

Um jovem impaciente na fila ataca.

JOVEM IMPACIENTE

Ei! Vai ficar aí o dia todo?

JEREMIAS encara a ATENDENTE como que numa prece mas logo se

resigna. Pega o LIVRO e SAI.

CORTA PARA

INT. CURSINHO DESAFIO - DIRETORIA - DIA

Ambiente bem mobiliado. Mesa arrumada. Sentado na cadeira de

chefe está MARÇAL. Acima dele, um grande RELÓGIO de pêndulo,

de parede.

COSTA sentado à mesa, à frente de MARÇAL, organiza na mesa,

habilmente, papéis que tira de um envelope. MARÇAL brilha os

olhos.

MARÇAL

(sacarsticamente)

Desde quando você é especialista em

consultoria?

Ambos dão risadas. COSTA continua organizando a papelada.

MARÇAL põe os cotovelos na mesa e observa.

MARÇAL (CONT.)

Quando quiser ser presidente do

senado, vou te contratar.

COSTA

Não me envolvo com política,

Marçal. Meu trabalho é coisa séria.

COSTA sorri sério. MARÇAL, porém, abre sonora gargalhada e

chega a abaixar o rosto próximo ao tampo da mesa enquanto dá

tapas na mesa. A piada foi boa.

COSTA termina de arrumar os pápeis. Fica sério. Sinaliza com

a palma da mão aberta os três blocos de papel que ele

separou.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 19.

COSTA (CONT.)

Delegado, Auditor e Abin. Só peixe

grande. Espero que seus pupilos

sejam confiáveis.

MARÇAL muda a posição na cadeira. Agora sério.

MARÇAL

O cursinho está perdendo alunos

para o concorrente. Preciso de uma

galera top aqui que mostre que

somos os melhores. Você sabe; essa

coisa de concurso. Não podemos

marcar bobeira.

MARÇAL se levanta enquanto coloca as provas no envelope.

COSTA tamborila a mesa com os dedos.

MARÇAL (CONT.)

Meus professores farão a correção.

COSTA

Espero que sejam confiáveis.

MARÇAL

Seu senso de humor me impressiona.

Você acha que a essa altura eu

estragaria tudo? Você devia é se

preocupar mais com suas gravatas.

MARÇAL acaba de colocar as provas no envelope. Esfrega o

polegar e o indicador ( sinal típico de grana ).

MARÇAL (CONT.)

Aqui tem uma galera super dotada.

Gente de boa família. Não é difícil

conseguir primeiros lugares. Sempre

fomos os primeiros. E isso não

mudará.

CORTA PARA

EXT. CURSINHO DESAFIO - PLANO GERAL DA FACHADA - DIA

Alunos ENTRAM e SAEM. Burburinho típico de jovens em

ambiente de cursinho. RENATA, JOYCE e MARINA chegam.

MARCO RICONNI passa próximo às meninas e rola um flerte

rápido de olhos entre ele e MARINA. RENATA nota e

estranhamente se enciuma.

CORTA PARA

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20.

INT. CURSINHO DESAFIO - AUDITÓRIO - DIA

Local amplo e repleto de alunos. Ângulo foca MARINA próxima

à JOYCE. RENATA está em outra ponta da sala. Jovens

conscientes de seu objetivo participam de uma aula

inaugural.

Estão atentos ao homem que projeta data show no telão.

Trata-se de WILLIAM ROCHA. O projetor mostra: COMO PASSAR EM

CONCURSOS: JUIZ FEDERAL WILLIAM ROCHA. Ele Aparenta ter uns

38 anos, loiro e usa óculos. Veste-se e articula bem.

WILLIAM ROCHA

É muito comum ver nos clubes, nos

bairros, nas escolas... Três tipos

de pessoas. Os famosos, os neutros

e os mal-afamados. Para ser famoso,

basta uma boa qualidade: habilidade

nos esportes, riqueza, beleza,

inteligência...

Ângulo revela rostos atentos.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

(em tom gozador)

... desde que não seja um nerd,

claro.

Auditório ri.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

Ter uma boa compleição física,

força ou então, bons

relacionamentos: "filho de alguém",

"amigo de alguém"... Do outro lado,

na outra ponta (ênfase), estão os

muito feios, pobres, limitados;

digamos que intelectualmente, mal

relacionados...

WILLIAM ROCHA se movimenta à frente da turma.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

(gozador)

É o mesmo "filho de alguém, "amigo

de alguém", Só que num outro

contexto.( Faz sinal com os

indicadores e polegar - típica

posição revólver, sacudindo-os).

Auditório ri.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 21.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

(divertido)

É, vocês podem até achar engraçado,

mas isso aqui é para os fortes, só

prá quem é forte o bastante. Não é

para todos.

Retoma o tom.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

Bom... para os azarados existe

ainda o consolo de ganhar na

loteria.

Auditório ri ainda mais.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

(abre os braços, palmas prá

cima.)

Mas aí, ele não seria um azarado.

Ângulo mostra auditório em gargalhadas. WILLIAM ROCHA retoma

o tom original da palestra.

WILLIAM ROCHA

Ok. Aqueles que não têm a sorte de

estar no primeiro grupo, nem o azar

de estar no último são os neutros.

Aqueles que têm...

WILLIAM ROCHA é interrompido pela porta que se abre

abruptamente por ALEXANDRRE que pára por um momento -

desengonçado à porta.

Logo decide e entra pela sala ADENTRO; busca o fundo da

sala. Um silêncio sepulcral. Cabeças o acompanham, alguns,

num meio sorriso, misto de estranhamento e gozação.

ALEXANDRE senta-se. WILLIAM ROCHA retoma a fala.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

São aqueles que têm a vida mais

tranquila; livres da

responsabilidade dos eleitos pela

fama e das discriminações e

perseguições dos mal-afamados.

Ângulo mostra ALEXANDRE olhando ao redor como se estranhasse

o ambiente.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

Pois bem, as classes não são

fechadas e as pessoas se movimentam

entre os polos. Os famosos andam

(MAIS...)

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 22.

WILLIAM ROCHA (CONT.) (...cont.)juntos por questão de elitização.

Os pobres se juntam por falta de

opção. E os neutros?

ALEXANDRE está inquieto e recorre ao COLEGA ao lado.

ALEXANDRE

Essa turma aqui não é a de juiz?

COLEGA

(em tom baixo)

É aula inaugural, amigo. Aula

inaugural.

WILLIAM ROCHA (CONT.)

Os neutros? É aí que entra o

concurso. A aprovação coloca a

pessoa no grupo dos bem resolvidos,

dos que tiveram sucesso, dos que

têm algum poder... A aprovação é o

estrelato. Num momento ele é o cara

desempregado que estuda, estuda, e

só leva bomba. De repente,

transforma-se num vencedor...

ALEXANDRE se levanta abruptamente causando barulho com a

cadeira e caminha para a saída. WILLIAM ROCHA, sério,

interrompe a fala. A sala silenciosa acompanha ALEXANDRE

novamente com a cabeça e olhar intrigado. ALEXANDRE SAI.

COLEGA

(gozador, em bom som)

É... é só para os fortes amigão, só

para os fortes.

A sala inteira, solta o riso. WILLIAN ROCHA fica sério e um

pouco desconcertado. Um meio sorriso cúmplice.

CORTA PARA

EXT. CURSINHO DESAFIO HALL DE SAÍDA - DIA

Burburinho de conversas paralelas. Alunos saem; entre eles

MARINA, JOYCE e RENATA, agora juntas.

CORTA PARA

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23.

EXT. REPÚBLICA DA AMIGAS - FACHADA - DIA

É um pequeno prédio de quatro andares. O apartamento das

garotas dá para a rua com duas janelas amplas de onde é

possível ver a rua embaixo. MARINA, JOYCE E RENATA ENTRAM.

CORTA PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - QUARTO DE MARINA - TARDE

MARINA estuda, concentrada. O ambiente é limpo e bem

arrumado. Vê-se cama, escrivaninha com cadeira confortável

e um guarda roupa.

Há livros sobre a escrivaninha e material de estudo. Na

porta um adesivo. "Não perturbe". A porta se abre e vê-se a

cabeça de RENATA. Um silêncio bom.

RENATA

Estamos saindo... quer alguma

coisa?

MARINA

(força um sorriso)

Ah... não. Tenho que terminar isso

aqui ainda hoje.

MARINA volta aos estudos após RENATA fechar a porta. Começa

a se concentrar quando a porta é aberta novamente; agora é

JOYCE.

JOYCE

Não vem com a gente?

MARINA

(um pouco entediada mas

cordial)

Vou estudar mais um pouco JOYCE,

Hoje não... Divirtam-se bastante.

JOYCE fecha a porta e SAI.

MARINA se volta para o estudo quando o telefone toca.

Visivelmente irritada atende. É seu namorado.

MARINA

Fred? Podemos conversar depois? Te

ligo mais tarde. Estou bastante

ocupada agora.

Vozes do outra lado da linha que não ouvimos. MARINA tenta

explicar algo.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 24.

MARINA

Ah não... Eu, aqui...

FRED continua interpelando algo que não ouvimos. MARINA se

revolta.

MARINA

Você quer me ouvir?

Som da ligação é cortado abruptamente.

MARINA

Fred? Fred?

CORTA PARA

INT. CAIXA ELETRÔNICO DE BANCO - DIA

MARCO RICONNI tenta sacar dinheiro. Não tem. Bate na máquina

irritado. Circula meio que sem direção.

MARCO RICONNI

Saco!

Funga tipicamente na sua abstinência da droga. Apóia-se no

caixa eletrônico com as duas mãos. Pensa por uns instantes

quando parece se lembrar de algo e SAI.

EXT. RUA - CARRO DE MARCO RICONNI - DIA

MARCO RICONNI dirige velozmente. Está nervoso. Numa longa

avenida acelera enquanto cruza as esquinas. Os semáforos

estão numa onda verde. MARCO RICONNI corre louco. Adiante um

semáforo muda para amarelo. Vai fechar. MARCO RICONNI

acelera mais.

EXT. RUA - ESQUINA ADJACENTE - CARRO DA SENHORA - DIA

Na esquina adjacente um carro se prepara para arrancar. Vai

cruzar a avenida de MARCO RICONNI assim que o sinal se

abrir.

EXT. RUA - CARRO DE MARCO RICONNI - DIA

Na avenida o sinal fica vermelho para MARCO RICONNI. Ele não

quer parar e acelera para cruzar no momento em que o carro

da esquina arranca. Vai bater.

Por Pouco!! Numa guinada violenta ele se desvia do carro,

mas logo retoma a direção e continua louco pela avenida.

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25.

EXT. RUA - ESQUINA ADJACENTE - CARRO DA SENHORA - DIA

No carro uma SENHORA ASSUSTADA põe a mão no peito

aterrorizada. O carro dela parado no meio da avenida

interrompe o trânsito. BUZINAS soam implacáveis.

EXT. RUA - SAÍDA DE SUPERMERCADO - DIA

BUZINAS de um MOTORISTA IMPACIENTE acuam o PAI DE MARINA que

está parado no meio da rua, mão no peito. Acaba de sentir um

mal súbito. Está suando e respira mal.

No chão, sua sacola caiu e esparramou laranjas. Abaixa a

cabeça. Respira. Está suando frio. Uma MULHER com CRIANÇA

nota a situação e corre para ajudá-lo e leva-o para a

calçada.

Ele logo volta ao normal. A CRIANÇA apanha algumas laranjas

e o ajuda com a sacola.

INT. CASA DE MARCO RICONNI - COZINHA - DIA

MARCO RICONNI, sem camisa, o dorso musculoso e ameaçador,

anda de um lado para o outro nervoso. Enquanto abre gavetas

e armários sem nexo.

Sua mãe, ANA o observa, impassível, de braços cruzados,

apoiada na grande mesa.

MARCO RICONNI

Cadê minha proteína? Droga! Por que

não acho nada nessa droga de casa?

ANA se move e vai até uma gaveta e tira um pote de Proteína

usada por praticantes de musculação e o coloca na mesa.

Encosta-se no armário e permanece em silêncio, impassível

observando MARCO.

MARCO RICONNI (CONT.)

Por quê não tenho nada nessa droga

de casa! Já cortaram a porra do meu

dinheiro!

MARCO RICONNI circula maluco.

ANA

Você precisa se tratar MARCO. Nós

vamos...

MARCO RICONNI

Tratar? Tratar? Ficou louca?

Aproxima-se de ANA e com rosto próximo ao dela, beira à

loucura.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 26.

MARCO RICONNI (CONT.)

A senhora ficou louca? Quer me

internar agora, é?!

ANA resiste firme à aproximação. Olhos nos olhos. Braços

cruzados. Finaliza categórica.

ANA

Vá conversar com seu irmão. Dessa

casa, ou você sai, ou eu saio.

Deixa MARCO RICONNI sozinho enquanto SAI com a elegância de

seus 50 anos ainda altiva e atraente.

CORTA PARA

EXT. FACHADA DE ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA - DIA

MARCO RICONNI pára o veículo. Acaba de chegar.

INT. RECEPÇÃO DO ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA - DIA

MARCO RICONNI, vestido com roupas de malhação, tem uma

mochila nas costas; está impaciente na recepção. Sua

aparência destoa completamente do local.

É uma sala de espera de escritório de advogados. MARCO

RICONNI espera alguém enquanto circula elétrico. Logo seu

irmão, GUSTAVO,30 anos, aparece de um corredor.

Forte,assemelha-se com o irmão MARCO RICONNI.

Chama MARCO RICONNI com um sinal de mão. GUSTAVO caminha de

volta seguido por MARCO RICONNI.

CORTA PARA

INT. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA - SALA DE GUSTAVO - DIA

Ambiente ricamente decorado. Vê-se uma mesa grande com

processos empilhados, mas organizados. Uma estante atrás da

cadeira de GUSTAVO repleta de livros jurídicos, filosóficos

e afins.

A sala é ampla. Na mesa, uma placa com o nome de GUSTAVO

RICONNI. Num canto um sofá confortável; a frente da mesa de

GUSTAVO, duas cadeiras giratórias estofadas. GUSTAVO se

senta em sua cadeira e aponta uma cadeira indicando-a a

MARCO RICONNI. Tem um ar sério.

GUSTAVO

Sente-se.

MARCO RICONNI permanece de pé; as mãos segurando o encosto

da cadeira, gira-a de um lado para o outro. Está inquieto.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 27.

GUSTAVO

(enérgico)

Sente-se.

MARCO RICONNI senta-se, inquieto fica girando a cadeira de

um lado para outro enquanto lança a piada.

MARCO RICONNI

Tá me oferecendo emprego

irmãozinho? Você sabe que não é

minha praia, isso aqui. Essa coisa

de enganar os outros...

GUSTAVO coloca sobre a mesa um envelope timbrado. Um CLOSE

mostra uma inscrição de nome de uma FACULDADE. Interrompe

MARCO RICONNI.

GUSTAVO

O que é isso MARCO?

MARCO RICONNI aperta os olhos tentando visualizar os dizeres

do envelope. Continua balançando. Faz-se de desentendido.

GUSTAVO

Eu sei bem porque você quer

dinheiro, MARCO! Olha bem o que

você está fazendo... Peguei com a

mamãe os boletos atrasados.( pega o

envelope e despeja o conteúdo na

mesa ) O que você fez com o

dinheiro Marco?

MARCO RICONNI ainda gira na cadeira e fixa os olhos em

GUSTAVO. Agora não balança a cadeira. Pausa.

MARCO RICONNI

Me chamou aqui prá isso?

GUSTAVO

Você estraga tudo.

MARCO RICONNI

Anh... Sei. Me chamou aqui prá

isso?!?

GUSTAVO

Olha MARCO, vou resolver isso aqui.

Mas você está se acabando. Olhe

para você... Você sabe onde isso

vai dar...

MARCO RICONNI se levanta abruptamente e com trejeitos

afetados ironiza GUSTAVO.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 28.

MARCO RICONNI

Ok. O filhinho bonzinho da mamãe

agora quer cuidar de mim.

GUSTAVO (CONT.)

(eleva o tom e põe-se de pé)

... Você está se acabando MARCO!

MARCO RICONNI

Não tem mais a grana, droga? É isso

então?

GUSTAVO caminha e toca o ombro de MARCO.

GUSTAVO

(cordial)

Olha, posso te colocar numa

clínica.

MARCO RICONNI o empurra violentamente de volta à mesa. Os

olhos esbugalhados.

MARCO RICONNI

(grita)

Chega! Tire essas mãos sujas de

mim!

MARCO RICONNI SAI. Uma SECRETÁRIA de óculos e coque no

cabelo que chega à porta - motivada pela gritaria - se

espreme amedrontada na parede enquanto MARCO RICONNI SAI e

deixa o local como um furacão.

GUSTAVO fica atônito, derrotado, escorado na mesa, com o

envelope na mão.

CORTA PARA

EXT. ACADEMIA - FACHADA - DIA

MARCO RICONNI frea o carro estrondosamente. Desce do veículo

e ENTRA descontrolado na academia.

CORTA PARA

INT. ACADEMIA - DIA

Procura por alguém. Circula impaciente até visualizar COSTA.

Caminha em direção a COSTA.

CORTA PARA

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29.

INT. ACADEMIA - VESTIÁRIO - DIA

COSTA sentado, enxuga o rosto suado com uma toalha. Tem um

leve sorriso no rosto. Em pé, encostado à bancada, está

MARCO RICONNI, impaciente e desconfiado.

COSTA

Então... você tem que ser bom no

que faz. E tem que ter algum

proveito nisso. Você quer uma

carreira certo?

Pausa. MARCO RICONNI fita-o com estranheza.

COSTA (CONT.)

(funga, gozador)

Não, não é essa carreira que você

está pensando.

MARCO RICONNI

Tá me tirando, irmão?

COSTA

Ei, ei! Não me leve a mal,

irmão.(tom)

MARCO RICONNI funga. Não tem outra saída.

COSTA

(sério)

Quarenta pratas. Bumm! E você tá la

dentro.

MARCO RICONNI

(sem saída)

Não tenho essa grana, irmão.

Quarenta mil não é esmola. Pra quê

tudo isso num papel atôa?

COSTA

Bom, o que você não pode comprar,

você pode vender. Experimenta e

terá as duas coisas.

MARCO RICONNI

Não sei não.

COSTA se levanta e dá tapinhas nas costa de MARCO RICONNI

enquanto fala ao seu ouvido.

COSTA

Tranquilize-se amigo. Use seu

talento. Você consegue. É um

conquistador certo?

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 30.

COSTA caminha para a ducha. MARCO RICONNI fica pensativo.

COSTA (CONT.)

Você sabe convencer as pessoas. Não

precisa sempre ser a ovelha negra.

Abre a ducha. Cantarola. Tira a cabeça molhada para fora da

portinhola.

COSTA (CONT.)

Ah, e dessa vez, deixe minha

carteira em paz.

CORTA PARA

INT. CURSINHO DESAFIO - SALA DE AULA - DIA

Alguns alunos conversam no intervalo das aulas. Burburinho

típico. Num canto, uma turma conversa animadamente.

ALEXANDRE caminha em direção ao grupo.

ALUNA B (O.S)

...é uma ADIN questionando o

direito de o promotor sentar ao

lado do juiz.

ALEXANDRE se aproxima do grupo.

ALUNO A

Eu também acho estranho. Dá

impressão de que o juiz e o

promotor estão do mesmo lado.

ALUNO C

(gozador)

Pois eu vou enfiar o Ministério

Público no seu devido lugar. Nem à

direita nem à esquerda. Vai ficar

de frente prá mim.

ALEXANDRE já integrado ao grupo; ALUNO A olha-o com desdém.

ALEXANDRE

Por mim, a promotora pode até

sentar no meu colo.

A ALUNA B cora-se. O grupo olha-o com estranheza. Alguns

acham graça. ALUNO A ignora a piada. ALEXANDRE nota a

reação.

ALEXANDRE

(um pouco sem graça, mas

rindo)

(MAIS...)

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 31.

ALEXANDRE (...cont.)

Desde que não interfira no

julgamento, claro.

ALUNO C

Bom, eu analizo pela teoria de

Walch Bulow; a relação triangular

do processo. (Desenha um triângulo

no ar, com os dedos). Aí fica

fácil...

ALUNO A observa ALEXANDRE com desdém da cabeça aos pés e lhe

dirige a fala.

ALUNO A

Você, amiguinho, vai prestar pra

juiz? promotor? (Pausa). Ou polícia

militar...

O grupo solta gargalhada. ALUNA B não aprova atitude de

ALUNO A e faz cara feia.

ALEXANDRE

(desconcertado)

Bem...

ALUNO A

Mas, voltando ao assunto. Não sei

se compensa perder o foco...

ALEXANDRE interrompe-o, encarando ALUNO A, em transe.

ALEXANDRE

Dois indivíduos, um alcança o seu

objetivo, o outro não. Mas os dois

podem ser felizes, de maneiras

diferentes.

ALUNO A, se assusta mas logo retoma o ar zombeteiro, faz

cara de quem não entendeu; procurando com o olhar o apoio do

grupo. ALEXANDRE SAI. ALUNA B zomba de ALUNO A.

ALUNA B

(imita o tom de ALUNO A)

Maquiavel, amiguinho.

CORTA PARA

SÉRIE DE PLANOS:

(A) ALEXANDRE imprime boleto. Vê-se que se trata de concurso

mas não é possível detalhar qual a carreira.

(B) ALEXANDRE fazendo prova em sala apinhada de candidatos.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 32.

(C) ALEXANDRE vibrando com a aprovação ao conferir o

resultado.

(D) ALEXANDRE, perfilado junto a outros aspirantes, canta o

hino da corporação.

PLANO ABRE:

(E) ALEXANDRE está na academia de polícia civil. O uniforme

e o local revela: É um detetive.

CORTA PARA

INT. QUARTO DE JEREMIAS - DIA - MANHÃ

JEREMIAS estuda concentrado. A porta do quarto abre; é

ELIANE. Ela fica por um instante com o rosto enfiado para

dentro quarto.

JEREMIAS continua concentrado. Então ELIANE entra com pano

de chão, balde e rodo. JEREMIAS se incomoda mas não se mexe.

ELIANE esfrega o chão até se aproximar de JEREMIAS. O rodo

toca, por baixo da cadeira, o pé de JEREMIAS num vaivém.

JEREMIAS, numa explosão, salta da cadeira e empurra ELIANE

para fora do quarto.

JEREMIAS

Desgraça!!!

JEREMIAS bate a porta; pega um dos livros sobre a mesa e o

lança violentamente na porta. O livro cai e revela o CARTÃO

que fora colocado por COSTA.

JEREMIAS se detém por um instante e pega o CARTÃO. Sua

expressão muda como se lembrasse de algo. Joga o CARTÃO na

mesa.

FUSÃO

INT. BIBLIOTECA PÚBLICA - DIA

ÂNGULO abre a partir do CARTÃO na mesa até revelar

JEREMIAS de um lado e COSTA do outro, ambos sentados à

mesa. Alunos estudam.

Ao longe DOIS JOVENS estudam. Um jovem negro, LUIZ; tem um

estilo calmo; e o outro jovem é branco: FERNANDO, também

jovem. São amigos.

COSTA

(sarcástico)

Então... Você quer ser um cara que

joga, digamos... do lado certo?

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 33.

JEREMIAS

Preciso trabalhar. Sabe como é,

seguir uma carreira.

Pausa. COSTA o fita atentamente batucando os dedos na mesa

como que avaliando-o. JEREMIAS pega o cartão e batuca a mesa

levemente.

COSTA

Você sabe bem, as coisas boas

custam algum sacrifício certo?

JEREMIAS o observa, concordando com a cabeça, atento.

COSTA (CONT.)

Você trabalha comigo e eu pago seu

curso.

O rosto de JEREMIAS se ilumina, interessado. COSTA sorri

largamente.

COSTA (CONT.)

Mas antes precisa provar que

merece. Combinado?

JEREMIAS assente com a cabeça. COSTA aperta-lhe a mão como

se fosse uma manopla gigante e fica sacudindo-a

vigorosamente enquanto fala.

COSTA (CONT.)

Ok, Ok. Vamos ver do que você é

capaz.

COSTA se levanta, pega o cartão da mão de JEREMIAS e o

lança de volta à mesa como se fosse uma carta de baralho.

COSTA (CONT.)

(irônico)

Soldado.

CORTA PARA

EXT. GRÁFICA - AMBIENTAÇÃO - DIA

Movimentação de trabalhadores e carros.

JEREMIAS (V.O.)

Eu nunca imaginei que tivesse

primeiro de transgredir a lei para

ter o direito de protegê-la depois.

Mas eu queria ser alguém... e

soldado, meu amigo, cumpre ordens.

CORTA PARA

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34.

INT. GRÁFICA - LINHA DE IMPRESSÃO - DIA

JEREMIAS está de uniforme entre outros trabalhadores. As

máquinas rodam as bobinas. Agitação típica de um dia de

trabalho normal.

JEREMIAS (V.O.)

A tarefa, como dizia o COSTA, era

bem simples. Um teste de segurança.

Era só tirar um caderno de

provas...

CLOSE UP: DE CADERNOS DE PROVAS NA ESTEIRA

sendo cortados e montados.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

enquanto ninguém estivesse olhando.

ÂNGULO abre e revela sistemas de vigilância

eletrônica espalhados pelo teto e paredes, além de guardas

em postura atenta, impávidos.

JEREMIAS pega sacos grandes cheios de restos de papel

enquanto analisa o ambiente.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

O problema...

CLOSE UP: ROSTO ATENTO

de um guarda posicionado a um canto.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

... é encontrar alguém que não

estivesse olhando.

JEREMIAS carrega os sacos um de cada vez e os deposita num

canto vazio. Imediatamente, outros CARREGADORES já pegam os

sacos SAEM por uma porta. JEREMIAS observa todo o processo

tentando encontrar um meio de quebrar a segurança.

JEREMIAS sai com mais um saco; passa próximo a esteira e

propositalmente - faz parecer que é acidente - deixa o saco

cair, esparramando todo conteúdo; enquanto puxa um caderno

na esteira.

JEREMIAS se abaixa para refazer a carga, Um SEGURANÇA se

aproxima, atento.

SEGURANÇA

Algum problema?

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 35.

JEREMIAS

Não, ok... tudo bem. Já to

juntando.

Força um sorriso inocente enquanto olha o SEGURANÇA nos

olhos.

JEREMIAS (CONT.)

Tranquilo.

SEGURANÇA o fita interpelativo por uns instantes e volta

para seu lugar. JEREMIAS, agora parcialmente encoberto pelo

volume do saco, no chão ao seu lado, pega um caderno e dobra

varias vezes.

Desamarra o cadarço do TÊNIS, ergue parcialmente o pé e

enfia rapidamente o caderno dobrado na sola do pé, dentro do

TÊNIS.

O SEGURANÇA volta no momento em que JEREMIAS está

terminando de catar os papéis do chão. Levanta-se

rapidamente e pega o saco; Retira-se.

SEGURANÇA

Ei! Aí!

CLOSE SHOT: JEREMIAS

que está suando e assustado

SEGURANÇA (CONT.)

Seu cadarço!

Só então Jeremias nota seu cadarço desamarrado. Amarra-o.

JEREMIAS

Oh! Deve ser por isso... tropecei.

SEGURANÇA concorda, mas com ar incrédulo. JEREMIAS caminha

para depositar o saco no canto como de costume.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Enquanto eu quase me ferrava, o

viado do COSTA devia tá tomando uma

cerveja gelada...

CORTA PARA

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36.

INT. SALÃO DE BELEZA - DIA

Salão de beleza pequeno. Cabeleireiras trabalhando em

clientes. ÂNGULO ABRE e revela ELIANE fazendo as unhas de

COSTA. Ela tem as pernas cruzadas deixando entrever parte da

coxa. Está concentrada no trabalho mas COSTA dá uma olhada

nas coxas, malicioso.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Ou tentando fuder mais um.

CORTA PARA

EXT. CURSINHO DESAFIO - AMBIENTAÇÃO - DIA

Movimentação habitual de alunos.

CORTA PARA

EXT. CURSINHO DESAFIO - HALL DE SAÍDA - DIA

MARCO RICONNI conversa com colegas. Não se ouve o que falam,

mas é possível perceber sua atitude confiante. Gesticula e

sorri. Ao longe MARINA aparece.

POV: DE MARCO

MARINA vem bela e confiante. Ela carrega alguns livros.

Reduz a passada e parece procurar algo na mochila. Retoma a

caminhada. Aproxima-se e um dos seus livros cai.

MARCO RICONNI prestativo apanha o livro e o devolve; seus

olhos e os de MARINA se cruzam. Há um visível interesse

entre eles.

MARINA

Oh! obrigada.

MARCO RICONNI

Você vem sempre aqui?

MARINA acha graça mas já vai saindo.

MARCO RICONNI (CONT.)

Hmm... vi sua nota em Penal, muito

boa. Parece que você leva jeito.

Acho que poderíamos trocar umas

idéias, sei lá...Preciso de alguém

interessado.

MARINA um pouco hesitante. Quer sair dalí.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 37.

MARINA

Não vejo problemas. É que estou com

um pouco de pressa agora.

MARCO RICONNI

Não se preocupe. Não quero

incomodá-la. Podemos ver isso

depois?

MARINA concorda sem querer enquanto SAI.

MARINA

Ok, espero que não seja um calouro.

MARCO RICONNI sorri polidamente.

INT. SALÃO DE BELEZA - DIA

COSTA agora está sentado na cadeira de cabeleireiro enquanto

uma PROFISSIONAL tenta aparar o pouco cabelo que lhe resta.

COSTA tem o telefone celular ao ouvido enquanto olhas as

unhas recém feitas da outra mão. Ora aproxima, ora estica o

braço contemplando.

COSTA

Negócios? Nós não temos mais

negócios, amigo.

TOM (V.O.)

Só quero o que é justo.

COSTA

Não quero sócios Tom. Não sou

agência de emprego.

TOM (V.O.)

Você complica as coisas. Você...

COSTA corta a ligação. Põe o celular na bancada e estica as

duas mãos admirando as unhas. O celular TOCA e VIBRA

doidamente em cima do balcão.

COSTA olha - pelo espelho- a PROFISSIONAL que lhe corta o

cabelo, como que procurando aprovação e volta a admirar as

unhas.

COSTA

Perfeito.

CORTA PARA

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38.

EXT. REPÚBLICA DA AMIGAS - FACHADA - DIA - MAIS TARDE

MARCO RICONNI encosta o carro Acaba de chegar com MARINA. Na

janela ao alto, vê-se que RENATA está observando a rua.

POV: DE RENATA

RENATA vê MARCO RICONNI encostar o carro. A porta se abre e

desce MARINA. MARCO RICONNI também desce. Conversam

rapidamente algo que não ouvimos.

VOLTA À CENA

JOYCE também se aproxima da janela.

POV: DE RENATA E JOYCE

MARINA E MARCO RICONNI se despedem. MARINA sobe e ENTRA.

CORTA PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - SALA - TARDE

MARINA fecha a porta atrás de sí. Afixado na porta, vê-se

uma adesivo estilo "Meninas Superpoderoas" com os dizeres:

"BOYS NOT". RENATA apresenta um leve sacarsmo na voz em um

misto de inveja.

RENATA

Uhumm! Prá uma menina do interior

até que você está indo bem.

MARINA

(desconversa, risonha)

Bobagem.

JOYCE

(sorridente)

Bom... aposto que ele não é nem um

pouco neutro...

MARINA faz uma cara de quem não entendeu a piada.

JOYCE (CONT.)

e nem mal afamado.

MARINA acha graça, mas se contém. Caminha para a cozinha.

JOYCE e RENATA a seguem.

COZINHA.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 39.

JOYCE

Ele é bom em química?

CORTA PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - COZINHA - TARDE

As garotas riem da piada. MARINA abre a geladeira enquanto

procura algo de comer.

MARINA

Aí que fome! Vocês não comeram

nada?

JOYCE

(zombeteira)

Hmm.. faz tempo que eu não tenho

uma fome dessas.

Ambas riem. RENATA senta-se à pequena mesa e fica girando

com o dedo uma colher sobre a mesa. Será ciúmes?

CORTA PARA

EXT. RUA - DIA - MANHÃ

JEREMIAS caminha apressado. Veste jaqueta. Tem um ar

desconfiado. Uma viatura passa devagar. DOIS POLICIAIS

observam-no. JEREMIAS continua no passo apressado. A viatura

se vai.

JEREMIAS vira uma esquina; quando, escuta uma freada

violenta atrás de sí. Volta-se perplexo. Não é a

viatura. TRÊS HOMENS estão no veículo.

Do carro desce um brutamontes. É SANDOVAL, grandalhão e

forte. Ruivo e aparenta ter 39 anos. JEREMIAS ameaça correr

quando escuta o CLICK de uma arma. O SANDOVAL aponta para

ele.

SANDOVAL

Ãh ãh... Vem cá "meninin". Entra no

carro.

JEREMIAS hesita. É bom na corrida. Compensa fugir? Sai outro

homem do veículo, é TOM, baixinho, usa bigode, tem pouco

mais de 50 anos,de paletó e gravata. Nervosinho.

Tom empurra JEREMIAS violentamente para dentro do veículo

enquanto observa atento ao redor. Ao volante está REIS, uma

cara comum, sempre calmo. Assim que ENTRAM no veículo, REIS

arranca vagarosamente.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 40.

TOM

Vamos logo rapaz!

REIS acelera.

CORTA PARA

EXT. RUA - VEÍCULO DOS TRÊS HOMENS - DIA

O veículo continua a correr. Na frente ao lado do REIS, vai

TOM; SANDOVAL vai atrás ao lado de JEREMIAS. SANDOVAL,

curvado, quase que encostando no teto do veículo, quase não

cabe no carro.

SANDOVAL encara JEREMIAS de forma ameaçadora, mas cômica.

TOM se vira para o banco de trás e se dirige a JEREMIAS.

TOM

Então rapaz. Você é cria do COSTA

certo?

Pausa. TOM se volta para o MOTORISTA.

TOM (CONT.)

Você entende o que eu falo REIS?

REIS só escuta. TOM se volta novamente para JEREMIAS.

TOM (CONT.)

(em tom afirmativo)

Mais uma vez... Bem devagar. Você

trabalha pro COSTA.

JEREMIAS

Vocês são da polícia?

Pausa. TOM se volta para frente e recosta-se no banco e

então, volta-se para trás com veemência e desfere um tapa no

rosto de JEREMIAS que se assusta.

Lágrimas silenciosas começam a descer. JEREMIAS vencido,

confirma com a cabeça. SANDOVAL, comicamente tenta olhar nos

olhos de JEREMIAS. TOM se acomoda no banco, satisfeito.

TOM (CONT.)

Ele tem um coisa que é

minha. Então... deixa um recado

pra ele. O desgraçado está se

escondendo de mim.

SANDOVAL faz mímica e põe o dedo indicador em forma de

revólver na cabeça de JEREMIAS e gira como se fosse um

parafuso.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 41.

TOM (CONT.)

Poderia mandar sua cabeça pra ele,

na caixa.

SANDOVAL faz gesto de cortar o pescoço. O carro reduz a

velocidade. Pára num local ermo com espesso matagal. TOM se

vira para JEREMIAS.

TOM (CONT.)

(resoluto)

Mas eu sou um homem bom.

Ri para JEREMIAS.

TOM (CONT.)

(agora tremendamente sério)

Ele tem três dias. Faça ele saber

isso, por favor.

Faz um sinal de cabeça indicando a porta.

TOM(CONT.)

Pode ir.

JEREMIAS está saindo quando um ENVELOPE se sobressai do

bolso da jaqueta. TOM percebe.

TOM

Ei! Ei, ei!

JEREMIAS é imediatamente puxado para o banco do carro - por

SANDOVAL que lhe toma o ENVELOPE.

SANDOVAL

Me dá isso aqui "meninin".

TOM, recebe o ENVELOPE da mão de SANDOVAL que com a outra,

como garras, segura JEREMIAS pela jaqueta. TOM abrindo o

ENVELOPE.

TOM

O que temos aqui...

Analisa o conteúdo. São as PROVAS que JEREMIAS retirou da

gráfica. Reconhece que tem um trunfo nas mãos. Sorri

triunfante. Faz sinal para JEREMIAS sair. SANDOVAL o empurra

para fora. O carro arranca.

TOM (CONT.)

A caça vem ao caçador.

CORTA PARA

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42.

EXT. LUGAR ERMO - ESTRADA - DIA

JEREMIAS caminha de volta. Devagar, derrotado. Um ponto no

meio da poeira.

CORTA PARA

EXT. RUA - DIA - MAIS TARDE

JEREMIAS cansado e sujo, cruza com a mesma viatura fazendo

ronda. Dessa vez, os DOIS POLICIAIS, descem e o abordam.

JEREMIAS é posto na parede; mãos abertas e pés afastados

Toma uma "geral".

O guarda enfia a mão nos bolsos da jaqueta e não acha nada.

Confere o documento de identidade de JEREMIAS.

POLICIAL

(falando para o companheiro)

Tá limpo.

Eles o deixam ir. JEREMIAS, chora silenciosamente. Por fim,

senta na calçada; apóia os cotovelos nos joelhos; as mãos

seguram a cabeça que olha para o chão.

FORMIGUINHAS vêem sua trilha interrompida pelo TÊNIS de

JEREMIAS. Hesitam um instante, ameaçam voltar mas logo

decidem e passam por sobre o TÊNIS dele e saem do outro

lado.

Lágrimas descem atacando as formigas. A tristeza o domina. É

um fracassado total.

FUSÃO PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - QUARTO DE MARINA - DIA

MARINA à mesa, estuda. O olhar meio perdido. O telefone

celular toca na mesa e interrompe o silêncio. MARINA dá um

pulo e alegre atende.

O VISOR mostra que é FRED, o namorado. MARINA suspira

cansada e corta chamada. O telefone chama novamente. MARINA

deixa chamar até parar. TOCA pela terceira vez. MARINA,

visivelmente irritada, pega o aparelho e atende nervosa.

MARINA

Oi!

Seu semblante se muda rapidamente quando reconhece a voz da

MÃE.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 43.

MÃE DE MARINA

(chorosa)

Filha..? Você precisa vir rápido.

Seu pai não está bem... Estou no

hospital.

MARINA

(surpresa)

Quê???

CORTA PARA

INT. HOSPITAL - QUARTO - DIA

MARINA e a MÃE estão ao lado do leito do PAI DE MARINA. Ele

está sedado e respira por aparelhos.

MÃE DE MARINA

Já marcaram a cirurgia... Vão

levá-lo daqui a pouco. Eu não sei o

que aconteceu. Ele nunca reclama,

você sabe. Oh! Meu Deus!

MARINA se aproxima do leito do PAI e o observa num misto de

preocupação e medo.

MÃE DE MARINA (CONT.)

O plano dele não cobre essas

emergências. Vamos precisar de

dinheiro, filha... tudo que tiver.

Você entende...

MARINA deixa cair lágrimas pela face. Abraça a mãe.

MÃE DE MARINA (CONT.)

Não podemos mais pagar seu curso. E

o seu tio JOÃO vai ficar com o

carro. Precisamos de dinheiro

agora. Seu pai precisa de nós

agora.

MARINA, abraçada à mãe, chora silenciosamente.

CORTA PARA

EXT. PLANO GERAL - FACHADA DA CASA DE COSTA - DIA

Trata-se de uma bela casa. Grande, alto padrão.

CORTA PARA

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44.

INT. GARAGEM DA CASA DE COSTA - DIA

COSTA prepara-se para sair. A garagem está fechada. O portão

é fechado e o muro é alto; não se vê a rua. COSTA Destrava o

alarme do carro. Aperta o controle do portão automático

basculante que lentamente começa a se abrir.

COSTA entra no carro. Prepara-se para ligar a chave quando é

surpreendido pelo CANO (Detalhar) de uma pistola na nuca.

SANDOVAL (V.O.)

Ãh, âh... Desce "meninin".

SANDOVAL toma o controle do portão da mão de COSTA e fecha o

portão. Do outro lado do carro TOM chega com dois galões

cheios de gasolina e os coloca no chão.

COSTA percebe a situação e desce do carro. SANDOVAL o

subjuga sobre o capô e imobiliza suas mãos sobre as costas

com fita adesiva.

SANDOVAL(CONT.)

Não recebeu o recado "meninin"?

COSTA ainda no capô dirige o olhar para TOM.

COSTA

Não precisa disso, TOM. Não

preci...

TOM dá um tapa no capô do veículo, irritado.

TOM

Você esquece rápido dos amigos,

COSTA. Qando precisou de mim, eu

estava lá.

SANDOVAL começa a empurrrar COSTA resistente para a

traseira do carro, em direção ao porta malas.

TOM (CONT.)

Agora... está bem. Muito

bem(ênfase). E me deve. E não paga.

Eu...? (abre os braços enfáticos)

na bosta.

SANDOVAL abre o porta mala. Empurra COSTA para dentro. COSTA

ameaça resistir.

COSTA

TOM, você sabe que podemos

conversar.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 45.

SANDOVAL o empurra com violência. COSTA cai dentro do porta

malas. Logo em seguida passa fita adesiva prendendo-lhe os

pés. TOM coloca os dois galões no porta malas e SANDOVAL o

fecha.

CORTA PARA

EXT. PLANO GERAL - FACHADA DA CASA DE COSTA - DIA

Frente ao portão fechado ficou REIS; Dentro do carro. Uma

viatura aponta na esquina. REIS se incomoda e tenta discar

pelo CELULAR. Não dá tempo. A viatura se aproxima lentamente

e pára.

Os policiais avaliam REIS que dá um meio sorriso forçado e

cumprimenta com a cabeça.

POLICIAL I

(avaliando)

Algum problema aí?

REIS

Não, não, não... Só to esperando

aqui... o COSTA.

Policiais ainda aguardam, insistentes.

REIS

A gente trabalha junto.

Policiais ficam por instantes em indecisão mas arrancam e

saem devagar. REIS consegue ligar e é categórico.

REIS

Pára tudo aí! Sujou aqui fora.

Policiais que estavam já a meia distância, voltam de ré.

REIS (CONT.)

Sujou!

Recompõe-se no banco, dá um "oi" com um movimento de cabeça

e sorri amarelo para os policiais. A casa caiu.

CORTA PARA

INT. GARAGEM DA CASA DE COSTA - DIA

TOM é decisivo. ordena a SANDOVAL.

TOM

Tira tudo! Sujou lá fora. Tira

tudo!

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 46.

SANDOVAL eficientemente abre o capô e corta as fitas que

amarram COSTA. Ouve-se BATIDAS no portão. COSTA pula pra

fora do porta malas.

POLÍCIAL (O.S.)

Abre! É a polícia!

TOM se lembra de algo. Puxa o ENVELOPE e sacode, na cara de

COSTA, a PROVA tomada de JEREMIAS. COSTA se surpreende ao

ver o material.

TOM

(rosnando)

Seja bonzinho amigo. Ou cai a casa

de todo mundo.

CORTA PARA

EXT. PLANO GERAL - FACHADA DA CASA DE COSTA - DIA

O portão basculante, sobe lentamente e revela os três

homens. Os policiais em posição de ataque, aquietam-se ao

verem os três homens sorridentes e despedindo-se.

REIS dá um suspiro discreto de alívio. TOM cumprimenta os

policiais amistosamente.

POLICIAL I

(aparenta intimidade)

E aí "seu" COSTA? tudo normal aí?

COSTA

(sorrindo)

Tranquilo, BORGES... tranquilo. Eu

estava saindo...Por quê? Algum

problema aí?

POLICIAL I

Não, nada. Só rotina mesmo.

TOM aperta a mão de COSTA e faz menção de sair. Olha-o

duramente nos olhos.

TOM

Precisamos conversar mais. Não

gostei da proposta.

COSTA

(num sorriso provocador)

Você precisa reconsiderar, TOM.

Os policiais permanecem no local. Parecem querer puxar papo

com COSTA. REIS, SANDOVAL e TOM entram no carro e SAEM.

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47.

CORTA PARA

INT. CASA DE COSTA - SALA - CONTINUANDO - DIA -

O ambiente é ricamente mobiliado. COSTA acabou de entrar,

após despachar os policiais e liga para MARCO RICONNI.

COSTA

Marco? Marco? Ainda sonha com um

contracheque federal? Acabei de

achar sua vaga.

CORTA PARA

EXT. FAVELA - DIA

ALEXANDRE e outros policiais fazem uma incursão no morro.

Cumprem mandado de prisão. A operação está a pleno vapor.

Ouvem-se disparos e os policiais avançam e se protegem numa

progressão típica militar.

POLICIAL OPERAÇÃO I

É isso aí parceiro. É cabaço no

morro?

ALEXANDRE mostra-se nervoso e assustado. Ele porta uma

metralhadora.

ALEXANDRE

Não é como encarar um júri.

POLICIAL OPERAÇÃO I

Fica na cobertura, fica na

cobertura.

POLICIAL OPERAÇÃO II

(em tom gozador)

Hêêi... Quando é que vai sair

fumaça nesse cano?

Os tiros pipocam. ALEXANDRE se protege. POLICIAL I atravessa

a rua correndo em meio as balas e se protege ante um muro.

POLICIAL OPERAÇÃO II

Sua vez, parceiro. Dou cobertura.

ALEXANDRE concorda enquanto espera a hora certa de passar

sob fogo cruzado. Temeroso, prepara-se para arrancar quando

uma ADOLESCENTE correndo, cruza a rua segurando uma CRIANÇA

no colo.

A ADOLESCENTE tropeça e deixa a CRIANÇA cair no chão. As

balas traçam o ar. A ADOLESCENTE desesperada termina de

atravessar e se protege num beco.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 48.

A CRIANÇA fica caída no chão, de gatinhas, segurando uma

BONEQUINHA, chorando. A ADOLESCENTE projeta a cabeça para

fora do beco; grita e chora desesperada.

POLICIAL OPERAÇÃO II

Droga!

ALEXANDRE tira a bandana com a metralhadora e a entrega ao

POLICIAL II. Saca a pistola e se prepara para sair.

POLICIAL OPERAÇÃO II

Ei, ei, ei! O que você vai fazer?

ALEXANDRE resoluto se lança no fogo cruzado. A criança chora

agarrada à BONEQUINHA.

POLICIAL OPERAÇÃO II

(gritando)

É armação, porra!

ALEXANDRE corre abaixado, pega a CRIANÇA e segue na mesma

direção do beco no qual entrou a ADOLESCENTE. De súbito é

atingido e cai, já no beco, amparando a CRIANÇA nos braços.

POLICIAL II se desespera e dispara rajadas em toda direção

como se buscasse o agressor. A ADOLESCENTE tenta pegar a

CRIANÇA dos braços de ALEXANDRE mas a CRIANÇA se aninha nos

braços dele sem querer sair. Sua perna atingida sangra.

A Adolescente toma a CRIANÇA que deixa cair a BONEQUINHA no

chão. A ADOLESCENTE se afasta beco adentro. Enquanto isso a

CRIANÇA estende as mãos em direção a ALEXANDRE, olhando-o e

chorando. ALEXANDRE aperta a perna numa careta de dor.

CORTA PARA

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - COZINHA - DIA - ENTARDECER

PAI DE ALEXANDRE enche a geladeira de frutas, verduras e

alimentos. Lava um prato que está na pia e caminha para a

SALA onde senta-se confortavelmente no sofá. Instantes

depois, ouve as PASSADAS de ALEXANDRE subindo a escada.

ALEXANDRE canta baixinho.

EXT. ESCADA DO APARTAMENTO DE ALEXANDRE - DIA - ENTARDECER

ALEXANDRE (O.S.)

Dori me/ Interimo Adapare/ Dori me

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49.

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA - ENTARDECER

O PAI DE ALEXANDRE ouve o GIRO DA CHAVE na porta e volta sua

atenção para a porta. Um sorriso raro começa a se abrir em

seu rosto.

EXT. PORTA DO APARTAMENTO DE ALEXANDRE - DIA - ENTARDECER

ALEXANDRE (O.S.)

Ameno, Ameno Lantire/ Lantire mo

Dori me.

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA - ENTARDECER

O PAI DE ALEXANDRE abre mais o sorriso, ainda contido,

Continua olhando para a porta. A MAÇANETA gira. A porta se

abre lentamente.

EXT. PORTA DO APARTAMENTO DE ALEXANDRE - DIA - ENTARDECER

Expectativa.

ALEXANDRE (O.S.)

Ameno, Omenare imperavi/ Amen...

INT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - SALA - DIA - ENTARDECER

A porta se abre totalmente e revela ALEXANDRE fardado de

polícial civil. Uma das pernas da calça arregaçada revelando

a perna enfaixada. Na mão segura a BONEQUINHA.

O PAI DE ALEXANDRE, estupefato. ALEXANDRE estático à

porta. Por uma fração de instantes esse é o quadro. O

PAI levanta-se abruptamente. Caminha a passos firmes em

direção a ALEXANDRE. Esbarra nele e pára.

PAI DE ALEXANDRE

(ríspido)

Não era isso... Não foi prá isso.

Você... não... Você é uma decepção

prá mim, prá família.

Encaram-se.

PAI DE ALEXANDRE (CONT.)

Tira suas coisas daqui! Você sempre

foi um fracasso!

SAI sem olhar para trás. ALEXANDRE, palisado. Os olhos se

enchem d’água. A BONEQUINHA cai ao chão.

CORTA PARA

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50.

INT. SEXSHOP - NOITE

COSTA escolhe peças na seção de lingeries enquanto fala com

MARCO RICONNI. Escolhe uma lingerie e a pendura no

antebraço.

COSTA

...Ainda quer sua vaga?

MARCO RICONNI

Você faz muito mistério.

COSTA agora ajeita ao peito uma lingerie como se medisse em

si mesmo.

COSTA

Sexo é como um bom vinho. Não há

porquê saboreá-lo sem uma atmosfera

ideal.

MARCO RICONNI o olha estranhamente com a lingerie sobre o

peito. COSTA entende o olhar e ri. Recoloca a peça na arara.

COSTA (CONT.)

Calma. Ainda não cheguei a esse

ponto.

COSTA caminha entre araras seguido por MARCO RICONNI.

COSTA (CONT.)

Já leu Conwell? Conwell diz que não

é preciso procurar muito longe a

sua oportunidade.

COSTA lhe passa um envelope que tirou de dentro do paletó.

COSTA (CONT.)

Que ela está justamente no lugar em

que estamos.

MARCO RICONNI começa a abrir o envelope. COSTA toca-lhe a

mão impedindo-o enquanto aponta discretamente uma CÂMERA DE

VIGILÂNCIA.

COSTA (CONT.)

Proteção meu caro, proteção.

COSTA caminha até uma prateleira de preservativos e pega um

e o agita na direção de MARCO RICONNI.

COSTA (CONT.)

Proteção é essencial.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 51.

MARCO RICONNI

Você podia começar a ser mais claro

ou eu rasgo essa porra de envelope.

COSTA caminha em direção ao caixa. MARCO RICONNI o segue.

COSTA

Viu só? com sua inteligência animal

você não passaria numa prova de

gari.

MARCO RICONNI está impaciente e irritado.

MARCO RICONNI

Você me chamou para vender provas.

Não quero bronca. Por que mudou de

idéia?

COSTA

Eu não mudei de idéia. Apenas

descobri sua verdadeira vocação.

COSTA efetua pagamento da compra. A ATENDENTE olha

ressabiada para MARCO RICONNI mas logo sorri para COSTA.

COSTA retribui com largo sorriso. Ambos SAEM.

EXT. SEXSHOP - CALÇADA - NOITE.

COSTA (CONT.)

Entende agora o que chamo de

oportunidade? Seu passaporte para a

Federal está na mão. Não faça

besteira, "capo"

CORTA PARA

EXT. INTERIOR DO VEÍCULO DE MARCO RICONNI - DIA

MARCO RICONNI retira do ENVELOPE uma FOTOGRAFIA. Olha a

foto, trata-se de TOM. Olha o verso da FOTOGRAFIA e lá tem

alguns dizeres: é o endereço de TOM.

Observa novamente a FOTOGRAFIA, joga-a no banco e arranca o

veículo.

EXT. RUA DA CASA DE TOM - DIA

MARCO RICONNI encosta o veículo um pouco afastado da casa de

TOM. Desce e se aproxima. confere o mapa e o local. É uma

casa simples e com muros baixos. MARCO RICONNI espia pela

fresta do portão.A casa está fechada.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 52.

Silêncio. O muro tem cacos de vidros.. Volta ao carro e pega

um tapete do veículo, além de um bastão de beisebol. Um

jovem aponta de bicicleta na esquina. MARCO RICONNI encobre

o bastão e espera-o passar.

Caminha até o muro. Olha para os lados. Joga o bastão no

quintal, coloca o tapete sobre o muro e, num salto atlético,

pula para dentro do quintal.

CORTA PARA

EXT. QUINTAL DA CASA DE TOM - DIA

Silêncio. MARCO RICONNI caminha rente à parede em direção

aos fundos da casa. Caminha devagar, chega na quina da

parede e vira; um cão nervoso pula em sua direção, num

LATIDO assustador.

MARCO RICONNI

Filho da puta!!

Caramba!!! Por pouco! MARCO RICONNI se assusta e cai. O

bastão solta-se de sua mão. O cão, preso a uma corrente não

alcança. MARCO RICONNI pega o bastão e vai para o outro lado

da casa.

MARCO RICONNI usa o bastão para quebrar uma janela lateral.

Vidros estilhaçados vôam. MARCO RICONNI ENTRA.O cão continua

com seu LATIDO infernal.

CORTA PARA

INT. CASA DE TOM - QUARTO - DIA

MARCO RICONNI fuça rapidamente as gavetas. O quarto está um

pouco escuro. Tudo desalinhadoa. Tênis e meias espalhados.

Portas do guarda roupas abertas. MARCO RICONNI vai para a

SALA

Uma pequena mesa de centro; Sofás rasgados. Um rack com TV.

Alí está mais claro. Uma luz entra pelo vidro da janela.

MARCO RICONNI vê um PAPEL na mesinha, aproxima-se e pega-o.

No PAPEL, uma lista de nomes, telefones escritos a caneta

com uma letra horrível: cada nome relacionado a uma quantia

em dinheiro como numa lista de contabilidade. O nome de

COSTA (Detalhar) aparece riscado com um traço vermelho.

Outros nomes também estão marcados de vermelho. MARCO

RICONNI corre o dedo e resolve escolher um deles. Dobra o

papel, guarda-o no bolso e SAI apressadamente.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 53.

MARCO RICONNI

É você meu caro.

CORTA PARA

EXT. BAIRRO POBRE - DIA

MARCO RICONNI adentra pelas ruas enquanto olhares

desconfiados de moradores o espreitam. Um estranho no

ninho. Estaciona o carro frente a um barracão simples e

pobre. Está com medo.

MARCO RICONNI desce do veículo, temeroso; Coloca óculos

escuros para esconder a insegurança. O barracão é cercado

por cercas de arame e paus retorcidos. No terreiro, quatro

crianças brincam na terra.

São irmãos. São eles: DUAS MENINAS de idades próximas,6 e 8;

e dois meninos, MICHAEL 9 anos e PHILLIP, 11. Eles notam a

presença de MARCO RICONNI à cerca, param a brincadeira e um

catarrento, MICHAEL, lança um sorriso desdentado.

MARCO RICONNI

Ei! nenem!

MICHAEL se aproxima da cerca decidido; veste camisa curta

rasgada e calçãozinho. Os outros meio que intrigados

observam.

MICHAEL

"Cê" é o moço da "teevisão"?

MARCO RICONNI

(num lampejo)

É. o moço da TV. "cê" chama o

papai? pro moço?

O moleque sai em disparada e some porta ADENTRO. Logo

depois surge na porta do barraco um homem magro; nordestino,

rosto encovado. Barba rala não feita. É ZÉ GOMES. Olhos

apertados pelo sol que ofusca.

Fuma um cigarro. O peito magro, desnudo; veste apenas um

calçao e chinelos de dedo. O garoto surge à porta e ensaia

uma corrida em direção à MARCO RICONI. Zé Gomes, um misto de

curiosidade e temor. Seu grito interrompe a carreira do

moleque.

ZÉ GOMES

(áspero)

MICHAEL!! Prá dentro!!

O moleque corre de volta para DENTRO.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 54.

MICHAEL

Home da teevisão! home da teevisão!

MARCO RICONNI esboçando um sorriso tenta a aproximação.

MARCO RICONNI

Tudo bem? Seo Zé Gomes??

ZÉ GOMES para a uma distância segura da cerca, ameaçador.

Tem um cacoete de apertar um olho. O sol na cara ajuda.

MARCO RICONNI

(força um sorriso)

Bão seu zé?

ZÉ GOMES avalia.

MARCO RICONNI

Eu... É que...Eu queria falar com o

senhor.

ZÉ GOMES tira o cigarro da boca.

ZÉ GOMES

(áspero, cospe no chão)

Pois fale.

MARCO RICONNI

É...eu, tinha que ser num lugar

mais, assim, tranquilo, seguro.

ZÉ GOMES pisca no seu cacoete. Põe o cigarro na boca.

ZÉ GOMES

Num carece.

MARCO RICONNI se aproxima mais e tenta falar baixo enquanto

exibe o papel.

MARCO RICONNI

Isso é para o senhor.

ZÉ GOMES se aproxima desconfiado. Não pega o papel.

ZÉ GOMES

(grita)

Phillip!

PHILLIP, um garoto de uns 11 anos, comprido, centrado e

calmo, deixa o grupo de irmãos, se aproxima devagar.Olha

para o pai, orgulhoso.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 55.

ZÉ GOMES aponta com a cabeça o papel na mão de MARCO

RICONNI. PHILLIP se aproxima e pega o papel. Analisa-o por

um instante. Olha para o pai.

ZÉ GOMES

Lê.

PHILLIP

(soletrando)

Ge-orge dos San-tos. 500 reais.

Pausa. MARCO RICONNI puxa os óculos escuros para a testa.

PHILLIP

De-sid - funga e continua -

Desidé-ri-o do açou, açou-gue. Mil

reais.

Analisa novamente o próximo nome. Olha apreensivo para o

pai. MARCO RICONNI está gostando disso.

ZÉ GOMES

Vamo!

PHILLIP

José Go-mes, Oitoss...

ZÉ GOMES avança e arranca o papel das mãos de PHILLIP. MARCO

RICONNI se assusta.

ZÉ GOMES

Já chega! Pode ir.

PHILLIP funga vitorioso se retira calmamente. ZÉ GOMES

encara ferozmente a MARCO RICONNI.

ZÉ GOMES

Ô moço, se veio aqui fazer

desfeita...

MARCO RICONNI aponta o papel com aflição.

MARCO RICONNI

Não, não...Não é isso. não sei se

entendeu. Ele tá atrás de mim

também.

ZÉ GOMES, aproxima o rosto do papel. Avalia aqueles

hieroglifos; não entende nada. O cigarro travado na boca.

Sua dívida é de oitocentos reais e está no papel com data e

um traço vermelho sobre o nome.

Olha para MARCO RICONNI com estranhamento. MARCO RICONNI faz

típico sinal de cortar a própria garganta com mão.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 56.

MARCO RICONNI

(conclusivo)

O TOM. O agiota.

ZÉ GOMES muda a expressão. Está disposto a negociar.

ZÉ GOMES

Desembucha.

MARCO RICONNI

Está atrás de nós.

Pausa. Hesitação de ZÉ GOMES. O cigarro já apagado na boca.

MARCO RICONNI

Então?

ZÉ GOMES dá de ombros enquanto devolve o papel

ZÉ GOMES

Ôxe! Deixa vim, diacho!

MARCOS RICONNI tira rapidamente do bolso, um maço de notas.

MARCO RICONNI

Eu pago sua dívida. E dou mais um

tanto...

Estende a mão com o maço de notas volumoso, tentador; ZÉ

GOMES fraqueja, observando a bolada.

MARCO RICONNI

...depois do serviço feito. Coisa

de homem, seu ZÉ.

ZÉ GOMES, vencido, pega o dinheiro. Começa a contá-lo,

cigarro travado no canto da boca.

MARCO RICONNI

Como é que vou saber do serviço

feito?

ZÉ GOMES, olhar grave, acabou a contagem, enfia o dinheiro

no calção.

ZÉ GOMES

Num sô de batê fofo não, moço.

CORTA PARA

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57.

INT. BIBLIOTECA PÚBLICA - DIA

COSTA ocupa uma mesinha de canto. Nota-se ao longe aquela

mesma dupla de estudantes. LUIZ e FERNANDO. JEREMIAS vai ao

encontro de COSTA; acaba de chegar. COSTA está impaciente.

JEREMIAS se aproxima e permanece em pé em silêncio. COSTA

aponta-lhe a cadeira. JEREMIAS não se mexe. Estranhamente

senhor de si.

COSTA

Tudo bem. Já sei a burrada que você

fez. O espertinho me pega a prova e

dá de bandeja para um desgraçado

insignificante, estou errado

Soldado?

Pausa. JEREMIAS quer sair dali.

COSTA levanta-se, parece uma cobra que vai dar o bote.

COSTA (CONT.)

O quê? Quer sair fora agora? Depois

da merda feita?

COSTA acusa-o.

COSTA (CONT.)

Você ainda me deve. Vou dizer o que

vai fazer. Você vai voltar à

gráfica e vai terminar o serv...

JEREMIAS tira da jaqueta um envelope e joga-o na mesa como

se fosse uma carta de baralho.

JEREMIAS

Eu tirei uma cópia.

COSTA olha com surpresa o envelope. Senta-se enquanto olha

para os lados desconfiadamente; pega-o e confere o conteúdo

(as PROVAS da gráfica).

COSTA

(sorrindo)

Você passou no teste. Agora...

JEREMIAS

Agora acabou.

JEREMIAS vira-se e vai SAINDO.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 58.

COSTA

Ei, ei! Vai desistir agora soldado?

JEREMIAS hesita. COSTA raciocina tentando achar as palavras

certas enquanto olha o ambiente; Ele vê os dois estudantes:

LUIZ e FERNANDO no cantinho habitual. Estão concentrados.

Está ali a inspiração de COSTA. Aponta-os.

COSTA

Vê aqueles dois, soldado? Pois bem.

Eu estou nesse ramo há mais de sete

anos. Há três anos eles estã ali.

JEREMIAS observa os rapazes, agora com um pouco mais de

interesse.

COSTA (CONT.)

...como dois patetas. Com a cara

nos livros; (vai enumerando nos

dedos da mão), apostilas baratas,

tempo perdido, ilusão... contra os

outros, eles não têm nenhuma

chance. São pobres. Você é pobre

Jeremias. É isso que você quer

soldado?

COSTA aponta o envelope na mesa.

COSTA (CONT.)

Posso te colocar onde quiser. Pense

bem, não jogue fora essa chance.

Não se iluda soldado. Esse é o

sistema. Você não terá outra

oportunidade. Não jogue fora essa

chance.

JEREMIAS já ouviu demais.

JEREMIAS

Não, não vou mesmo perder essa

chance. A chance de começar de

novo, da maneira certa.

JEREMIAS olha os dois ESTUDANTES.

JEREMIAS (CONT.)

Como os bobos fazem.

JEREMIAS se afasta e SAI. Costa perdeu.

CORTA PARA

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59.

INT. CURSINHO DESAFIO - RECEPÇÃO - DIA

MARINA afixa no mural um cartaz com o número de seu telefone

onde se lê: "AULAS DE ESTATÍSTICA E CONTABILIDADE" -

Marina". Os alunos circulam.

CORTA PARA

INT. CURSINHO DESAFIO - SALA DE ESTUDOS - DIA

MARINA está sozinha. O local apresenta poucas cadeiras em

volta três mesas pequenas, configurando uma típica sala de

estudos. No mural vê-se também o cartaz de Marina oferecendo

aulas particulares.

Uma ALUNA chega. Conversam algo que não ouvimos. A ALUNA

SAI. MARINA volta aos estudos. O tempo passa. O RELÓGIO na

parede marca DEZOITO horas. A penumbra toma conta. Na sala

vazia, MARINA é apenas uma figura curvada sobre os livros.

INT. CURSINHO DESAFIO - SALA DE ESTUDOS - NOITE

Anoitece. A sala vai se escurecendo até se apagar. MARINA é

solidão.

CORTA PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - QUARTO DE MARINA - NOITE

MARINA deitada olha o teto, angustiada. Ao longe escuta-se

um LATIDO aflito de um cão. A porta se abre e aparece o

rosto gordo e vermelho de JOYCE.

POV: DE MARINA

JOYCE

Não vem?

VOLTA À CENA.

MARINA apenas olha JOYCE. Está triste. JOYCE entende. JOYCE

ENTRA. Afaga os cabelos de MARINA.

JOYCE (CONT.)

Sinto muito pelo seu pai.

Pausa. JOYCE continua acariciando MARINA que chora.

JOYCE

E você vai mesmo embora?

Pausa. MARINA continua com lágrimas nos olhos.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 60.

JOYCE (CONT.)

Tenta mais um pouco. Vai que dá

certo. Você não pode abandonar tudo

agora.

JOYCE abraça a amiga. MARINA sorri timidamente em meio às

lágrimas. RENATA aparece à porta, observa, apática.

MARINA

Obrigada.

JOYCE e RENATA SAEM. O silêncio só é quebrado pelo LATIDO

distante de um cão aflito. O vento ASSOBIA e balança alguma

janela. Marina se levanta.

A campainha TOCA. MARINA não espera ninguém a essa hora. A

campainha toca outra vez. MARINA vai até a sala.

CORTA PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - SALA - NOITE

MARINA confere no olho mágico. Volta-se assustada. Hesita um

pouco quer abrir a porta.

MARINA

(grita)

Espera!

Corre ao banheiro

BANHEIRO, onde lava o rosto. Ajeita ligeiramente o cabelo.

Passa rapidamente um batom e volta à sala.

SALA, abre a porta: É MARCO RICONNI. MARINA permanece na

porta; Ela veste camiseta de algodão leve e jeans. Os

cabelos em desalinho. Está singelamente bela.

MARCO RICONNI traz um buquê de flores. MARINA sorri

timidamente.

MARINA

Você não pode ficar aqui Marco, me

desculpe. As meninas saíram.

MARCO RICONNI

É claro. Eu não entraria mesmo.

MARCO RICONNI entrega as flores com um sorriso largo.

MARCO RICONNI

Prá você. Vim dar o meu apoio.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 61.

MARINA

Oh, desculpe. Obrigada.

MARCO RICONNI MARINA

Bom, espero que tudo fique bem. Uhum..

Ficam meio desajeitados. MARINA à porta, com as flores ainda

nas mãos.

MARCO RICONNI

Bom... você fica bonita, mesmo

triste.

MARINA sorri.

MARINA

Marco, você não pode entrar. As

meninas saíram... Agradeço pelas

flores. Eu...

MARCO RICONNI

Não sei nada de estatística mas

algo me diz que minhas chances

aumentariam em cem por cento se

pudesse aprender com você.

MARINA quer ceder.

MARCO RICONNI (CONT.)

Você precisa de aluno, eu sei.

MARINA se surpreende, acha graça, mas tenta manter o

domínio da situação.

MARINA

Essa não é uma boa hora para um

aluno meu estar longe de casa.

MARCO RICONNI se aproxima mais. Quer entrar.

MARCO RICONNI

Não vai atender seu melhor aluno?

CORTA PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - SALA - NOITE

MARCO RICONNI e MARINA agora estão sentados no sofá. MARINA

um pouco sem graça, tímida, mantém distância. MARCO RICONNI

se sente confortável. Olha a decoração simples da sala,

porém harmoniosa.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 62.

MARCO RICONNI

Vejo que tem bom gosto.

MARINA

É. Faço o possível. Sei algo mais

que estatística e economia. Estudei

decoração quando ainda sonhava em

ser alguma coisa.

MARCO RICONNI

Já lhe ocorreu que muitas vezes

sacrificamos um talento nato em

nome de uma falsa estabilidade? Em

nome de uma sala apertada com ar

condicionado e um monte de papel na

mesa?...

MARINA não conhecia esse lado poético dele. Estuda MARCO

RICONNI com uma curiosidade nova.

MARCO RICONNI (CONT.)

Eu me pego pensando nisso, sempre.

Embora eu ache que não tenho nenhum

talento assim, específico, claro.

MARINA se solta um pouco. Mas mantém distância.

MARINA

Não seja assim... pessimista. Acho

que não é assim, tão impossível,

conciliar as coisas.

MARCO RICONNI

Bem, algo como, talento e

utilidade? Essas coisas podem andar

juntas?

MARINA

Nunca acreditei em certas teorias,

mas cada vez mais me convenço que

você é obrigado a suprir antes uma

necessidade básica para depois

pensar nos desejos. Bom, talvez

eu...

MARCO RICONNI, sempre despojado, nota o controle do som no

sofá ao seu lado e pega-o e liga o aparelho numa estação de

rádio.

MARCO RICONNI

Posso?

Fica zapeando até encontrar uma estação de música,

confortável.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 63.

MARINA

...talvez eu esteja errada.

Ambos ficam em silêncio enquanto uma música embala o

momento. MARCO RICONNI, olhar distante, confidencia:

MARCO RICONNI

Sabe, eu não sou um cara muito bom

nessas coisas. Mas eu tenho paixão.

MARCO RICONNI volta a olhar para MARINA.

MARCO RICONNI (CONT.)

E é isso que eu vejo em você:

paixão. Mas você acredita naquilo

que quer... Eu queria ser assim.

MARCO RICONNI parece mesmo triste.

MARINA

Todas as manhãs eu acordo e vejo

que estou respirando. O que faço é

continuar a viver.

Uma pequena pausa de silêncio. O rádio começa a tocar a

música Felling Groove.

APARELHO DE SOM

Slow down/You move to fast...

MARINA se enrubesce. Não é possível. Tenta articular.

Falta-lhe palavras. MARCO RICONNI ainda não percebeu a

situação.

MARCO RICONNI (CONT.)

Eu começo a pensar como as pessoas

corretas pensam.

MARINA

MARCO, você deve ir embora; me

desculpe, eu...

MARINA começa a chorar. Só então MARCO RICONNI vê MARINA

chorando. Ele não entende nada. MARCO RICONNI se aproxima

dela. Aconchega-lhe no seu peito. MARINA cede. MARCO RICONNI

acaricia-lhe o rosto.

MARCO RICONNI

Você está respirando agora.

A música enche os corações. MARINA se deixa levar, fecha os

olhos enquanto MARCO RICONNI a abraça.

CORTA PARA

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64.

INT. CURSINHO DESAFIO - SALA DE ESTUDOS - DIA

MARINA está novamente sozinha.

SÉRIE DE PLANOS:

A)MARINA estuda enquanto espera alunos.

B)A aluna que apareceu no primeiro dia retorna com uma

amiga.

C)Segundo dia, MARINA já aparece com quatro alunos.

D) As cadeiras vão sendo ocupadas. Alunos ENTRAM e SAEM. O

relógio gira na parede.

E) MARINA, sozinha, conta o dinheiro sorridente.

CORTA PARA

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - COZINHA - DIA

COSTA acaba de chegar. Elétrico, pega a MALETA em cima do

armário. Abre-a em cima da pia e começa a contar as notas.

Percebe que falta dinheiro.

Levanta-se furioso e procura pela empregada MARIA. Leva a

MALETA na mão.

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - CORREDOR - DIA

COSTA

Maria?! Maria?!

Abre portas furioso e quando retorna pelo corredor, se

depara com MARIA assustada.

COSTA exibindo a maleta aberta.

COSTA

Tá faltando dinheiro aqui! O que

você fez? Quem pegou?!!

MARIA encolhe-se miúda. Olhos baixos. COSTA eleva o tom

agressivo enquanto sacode a MALETA.

COSTA

Você pegou? Hein? Me roubou???

MARIA

Foi prá remédio. Sua mãe...

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 65.

COSTA

(ameaçador)

Pegou? Quanto você pegou?! Não era

prá meter a mão aqui. E o que mais?

Hein? Hein?

MARIA

(cabisbaixa, olhos marejados)

sandálias...

MARIA adianta ligeiramente o pé direito. Um sandália

simples(Detalhar) com detalhe de florzinhas.

COSTA

E o que mais hein?! Não tente me

enganar. Não tente me enganar!

MARIA

(chorando)

Foi só.

COSTA joga a maleta no chão. As notas se espalham. Ele se

abaixa e arranca as sandálias dos pés de MARIA. Levanta-se e

arranca as correias com brutalidade e as lança longe.

Aproxima as sandálias ao rosto de MARIA enquanto sacode-as

com ira.

COSTA

Eu não te pago o suficiente? Hein?

Não te pago?

Joga violentamente os chinelos arrebentados aos pés

descalços de MARIA que chora copiosamente. Do quarto,

escuta-se os apelos fracos da MÃE, entre tosses.

MÃE DE COSTA (O.S.)

Filho? Filho? Maria?

COSTA (CONT.)

Você não trabalha mais aqui! Não

trabalho com ladrão.

COSTA volta frenético à cozinha.

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - COZINHA - DIA

COSTA sobe na cadeira novamente e pega a PISTOLA em cima do

armário e volta ao corredor onde MARIA está em prantos.

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66.

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - CORREDOR - DIA

COSTA (CONT.)

(sacudindo a arma)

Se você meter a mão aqui de novo eu

te mato.

Escuta-se ao fundo os brados da MÃE DE COSTA.

MÃE DE COSTA (O.S.)

(em meio à tosse)

Filho? Ôh meu filho.

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - CORREDOR - DIA

COSTA se agacha, joga a arma ao lado e começa a catar as

notas do chão e jogá tudo na mala. MARIA em pé, paralisada,

chora.

COSTA (CONT.)

Desgraça!

Encara MARIA com fogo nos olhos.

COSTA (CONT.)

(histérico)

Saí prá lá!

MARIA se assusta com o grito e sai da letargia. Corre para

o QUARTO da MÃE DE COSTA.

CORTA PARA

EXT. CANTEIRO DE OBRAS - DIA

JEREMIAS trabalha como servente de pedreiro na mesma obra

que seu pai. Seu PAI está a uma certa distância, assobiando

como de costume.

JEREMIAS com uma pá, coloca massa num carrinho de mão. Seu

COMPANHEIRO de trabalho - um adolescente, aguarda próximo ao

carrinho enquanto fuma um cigarro de maconha.

COMPANHEIRO

Sol desgraçado.

JEREMIAS, suado, permanece dando pazadas vigorosas.

COMPANHEIRO

O lance é trabalhar na "boca". Lá a

grana corre solta. Tá ligado?

JEREMIAS continua enchendo o carrinho.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 67.

COMPANHEIRO

"Muié" no baile, e os manos te

consideram, tá ligado?

JEREMIAS não está gostando do papo. Acabou de encher o

carrinho.

COMPANHEIRO

Hann... Que foi truta?

JEREMIAS descansa os cotovelos no cabo da pá enquanto põe um

pé sobre a pá em típica posição de descanso. Ignora o

COMPANHEIRO. O COMPANHEIRO por sua vez, o encara furioso mas

logo sai empurrando o carinho.

COMPANHEIRO

Mané.

JEREMIAS (V.O.)

Eu não queria vida fácil. Eu só

queria ser alguém.

CORTA PARA

INT. QUARTO DE JEREMIAS - NOITE

JEREMIAS curvado sobre os livros estuda. Enquanto o RELÓGIO

na parede vai avançando as horas.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Eu não queria imaginar que minha

vida fosse passar em branco; Eu não

queria que meu suor não valesse

nada. Eu queria ser alguém.

JEREMIAS agora vencido pelo sono, a cabeça sobre os livros,

dorme. Na parede o RELÓGIO marca a madrugada.

INT. QUARTO DE JEREMIAS - NOITE - MADRUGADA

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Eu queria ser chamado pelo nome. Eu

só queria a minha vez.

CORTA PARA

INT. QUARTEL DA POLICIA MILITAR - SALA DE AULA - DIA

O local está cheio de recrutas recém aprovados para o cargo

de agente penitenciário. A polícia militar é a responsável

pela formação desses agentes.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 68.

Os rapazes ocupam suas mesas. Há um burburinho típico de

jovens recém alistados. Um jovem OFICIAL, grita-os pelo

nome. Cada um se levanta a sua vez e retorna logo após com o

fardamento em mãos, ( coletes, distintivos e coturnos).

OFICIAL

José Amável Pinto!

Um jovem magro e cabeçudo se levanta e sai desengonçado.

Enquanto isso, num canto, alguns recrutas acham graça da

situação cômica. No meio dos recrutas estão os dois

jovens, da biblioteca. LUIZ e FERNANDO.

FERNANDO

(rindo)

Eu não ia querer ter um pinto

amável como companheiro de guerra.

Os jovens riem contidamente enquanto tentam se esconder do

olhar atento do OFICIAL.

LUIZ

Amável Pinto. Engraçado esse

sujeito.

Jovens dão risadas.

CORTA PARA

INT. BAR - NOITE

O ambiente está na penumbra. Uma música italiana triste, ao

fundo, quebra o silêncio. Edith Piaf? ALEXANDRE está

embriagado; adormecido à mesa.

Garrafas de bebidas se acumulam na sua mesa. Num canto, um

CASAL ocupa uma mesa. Um SENHOR CALMO de meia idade se

dirige ao CASAL.

SENHOR CALMO

(cordial)

Vou fechar o bar.

O CASAL parece concordar. Estão bastante bêbados. O HOMEM DO

CASAL ergue o copo como se fosse brindar com alguém

invisível. Aparentam que não vão sair dali tão cedo.

HOMEM DO CASAL

(voz embolada.)

A saideira.

O SENHOR se dirige à mesa de ALEXANDRE. O SENHOR o cutuca

tentando acordá-lo.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 69.

SENHOR CALMO

Já vai fechar amigo.

ALEXANDRE se assusta e num salto saca a arma derrubando as

garrafas que EXPLODEM no chão. Atordoado olha em volta. O

casal dos fundos se assusta e SAI correndo tropeçando em

cadeiras.

O SENHOR CALMO, como se já o conhecesse de longa data não se

sobressalta. Tranquilo um monge o ajuda guardar a arma.

ALEXANDRE cambaleia. O SENHOR CALMO apóia-o até a saída.

ALEXANDRE, solenemente, desfia seu sermão como numa igreja.

ALEXANDRE

Abyssus, invocat!

SENHOR CALMO o vai conduzindo, arrastando-o.

ALEXANDRE

(explicativo)

Um absimo chama o outro, amigo.

SENHOR CALMO

(típica calma de dono de bar)

Sei, sei. Vamos.

ALEXANDRE

(solene, grave.)

Abyssus abyssum invocat!

CORTA PARA

EXT. FACHADA DO APARTAMENTO DE ADRIANA - NOITE

ALEXANDRE aperta insistentemente o interfone. Cambaleia e

vomita.

ALEXANDRE

(grita)

Adriana!? Adriana!

CORTA PARA

INT. APARTAMENTO DE ADRIANA - SALA - NOITE

O ambiente é típico classe média. WALTER,33, um rapaz magro,

usa óculos, com cara de nerd, amigo de ADRIANA está no

sofá; lê revista nas mãos.

Olha para ADRIANA esperando dela uma decisão. ADRIANA segura

o interfone confusa. Tem que resolver a parada.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 70.

ADRIANA

Já vou descer.

Caminha para a porta. Walter se levanta decidido.

WALTER

Vou com você.

ADRIANA

Não. Fique aqui. Eu cuido dele.

CORTA PARA

INT. ESCADARIA DO APARTAMENTO DE ADRIANA - NOITE

Começa a descer as escadas. Seu corpo é delineado pelo

vestido. Pára um instante para tirar as sandálias de salto

que a dificultam andar.

Tira um pé e quando vai descalçar o outro, escorrega e rasga

o vestido revelando parte da coxa.

ADRIANA

Ai meu vestido!

Desce as escadas.

CORTA PARA

EXT. PÁTIO DE ENTRADA DO APARTAMENTO DE ADRIANA - NOITE

ADRIANA caminha segura em direção ao portão.

ADRIANA

Não é hora para estar aqui. Onde

você estava? Liguei todos esses

dias. Você não me atendeu. Onde

você estava?

ALEXANDRE

Minha preciosa...

Já próxima, vê que ALEXANDRE está muito embriagado.

ADRIANA

O que aconteceu? Você está péssimo.

ALEXANDRE, segurando a grade do portão, se apóia. Cantarola.

ALEXANDRE

Minha preciosa... Oh! minha

preciosa.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 71.

ADRIANA

Oh meu Deus! Você está horrível.

ADRIANA aproxima-se mais do portão, os olhos prescrutando a

noite; Não acredita no que vê. Abruptamente é agarrada por

ALEXANDRE através das grades. ALEXANDRE tenta beijá-la

enquanto ADRIANA tenta se desvencilhar dele.

ADRIANA

Alex! Me larga! Meu Deus, Você

enlouqueceu. (grita)Walter! Walter!

ALEXANDRE agarra-lhe a coxa descoberta com a outra mão.

ADRIANA continua gritando.

ADRIANA

Me solta Alex! Walter!!!

Acima, janelas se abrem e luzes acendem; vizinhos espreitam

curiosos. Alexandre, um ébrio louco.

ALEXANDRE

Eu quero entrar no paraíso-ô!

WALTER aparece correndo e se aproxima de ADRIANA. Tenta

puxá-la e procura acalmar ALEXANDRE.

WALTER

Calma amigão. Vamos conversar.

ALEXANDRE percebe a presença de WALTER e se transfigura. O

vestido rasgado... Um homem estranho... Aquilo não combina.

ALEXANDRE saca a arma. A outra mão mantém ADRIANA segura.

Grita como louco enquanto dispara a arma a esmo. As janelas

vizinhas se fecham rapidamente, batendo como numa sinfonia

combinada. Luzes se apagam.

ALEXANDRE

Conversar é? Você quer conversar?!

WALTER sai tropeçando e correndo loucamente para o interior

de onde viera. ADRIANA prensada na grade pela força de

ALEXANDRE, está com medo.

ALEXANDRE

Vem conversar amigão!

ALEXANDRE encara Adriana. É a última vez que vê aqueles

olhos. Alguma coisa vai acontecer. Solta-a lentamente

afrouxando a mão. Ela cai desamparada.

ALEXANDRE se afasta lentamente, arma em punho. Some no

escuro da noite.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 72.

CORTA PARA

EXT. RUA - CARRO DE COSTA - DIA

MARCO RICONI entrega um jornal a COSTA, recebe um ENVELOPE e

sai apressadamente. COSTA está dentro do carro. Abre o

jornal e vê uma pequena nota de reportagem - marcada com

marca texto. "Corpo Encontrado Crivado de Balas".

Ao lado da reportagem, uma fotografia de TOM. COSTA sorri e

vai dar partida no carro quando alguém bate no vidro do

carro.

POV: DE COSTA

Um policial o encara ameaçador.

VOLTA À CENA

É a polícia. COSTA percebe que está cercado.

CORTA PARA

INT. CORREDOR DO HOSPITAL - DIA

MARINA aguarda ao lado de sua MÃE. À frente, a porta da sala

de cirurgia se abre. Um MÉDICO caminha até elas que estão

apreensivas.

MÉDICO

Houve uma complicação; o que é

natural. Ele não vai ser operado

ainda. Temos que estabilizá-lo.

MÃE DE MARINA

(começa a chorar)

Meu Senhor!

MÉDICO

O quadro dele é delicado. Talvez,

amanhã passe por cirurgia, mas

temos que observá-lo.

MARINA

(sobressalta-se)

Amanhã?

MÉDICO

Sim. Estarei aqui se precisarem

O MÉDICO se afasta. MARINA se joga no sofá de espera. Chora.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 73.

MARINA

Minha prova, mãe. Tudo dá errado...

MÃE DE MARINA

Você chegou até aqui. Você vai até

o fim.

MARINA

Eu, eu...não quero deixá-lo

sozinho.

MÃE DE MARINA

(acaricia-a)

Eu estou aqui. Vai minha filha, vai

com Deus.

CORTA PARA

INT. CADEIA DISTRITAL - SALINHA - DIA

Numa sala pequena a portas fechadas, COSTA é interrogado por

dois agentes penitenciários. COSTA está sentado em uma

cadeira, algemado. Um dos agentes, RUY o interroga. O outro

agente, WLADIMIR, observa. COSTA está surrado. Bateram nele.

RUY

Tem um mundo me esperando lá fora.

Não posso ficar aqui o dia todo,

parceiro.

COSTA, sofrido encara WLADIMIR.

COSTA

Eu não sei de nada, senhor.

Imediatamente, WLADIMIR avança e puxa a cadeira de COSTA

fazendo-a ir ao chão. Costa cai algemado à cadeira.

WLADIMIR

Não sabe? Não sabe é? É o seguinte:

tem uma porta alí. Atrás dela tem

outra, e depois, a rua. Lá fora

você é um sacana. Aqui virou um

santo?

RUY apenas observa; acostumado com a cena.

WLADIMIR (CONT)

Eu sei qual é sua. Não esculacha.

Eu quero o dinheiro! Cadê o

dinheiro?!

Uma pausa.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 74.

WLADIMIR (CONT)

Cadê o dinheiro porra!

Silêncio. WLADIMIR volta-se para RUY.

WLADIMIR (CONT)

Cadê a cocota?

RUY se levanta da mesa e caminha até à parede onde está

pendurada a um prego, uma tira de borracha de pneu com uma

argola de cordinha na ponta. RUY passa a COCOTA para

WLADIMIR.

WLADIMIR encara COSTA com avidez. Um estalo de tira de

borracha soa. WLADIMIR golpeia a planta dos pés de COSTA.

Ele urra de dor enquanto sangue espirra na parede.

EXT. ENGARRAFAMENTO - INTERIOR DO COLETIVO - DIA

MARINA está ansiosa. Carros buzinam adoidados. Seu ônibus

engarrafado. Candidatos correm. É dia de prova. Marina olha

o relógio insistentemente. O coletivo parece que não sai do

lugar.

A chuva começa a cair em pingos grossos. Vai aumentando e

logo se torna forte. O coletivo pára completamente. Um

passageiro grita.

PASSAGEIRO

Oh motô abre aí!

O motorista abre a porta do coletivo. Alguns descem com

pressa. MARINA salta para a rua alagada em meio a chuva

torrencial. Corre ofegante.

EXT. RUA - DIA

MARINA corre. A chuva cai impiedosa. Uma candidata que

corria meio atrapalhada, pára e tiras as sandálias de salto

alto e continua a correr.

JEREMIAS (V.O.)

É quase irracional o quanto de suor

e sangue é derramado pelo preço de

uma vida confortável...

CORTA PARA

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75.

INT. SALAS DE PROVA 1 - DIA

Candidatos concentrados aguardam as provas em diferentes

lugares. Ansiedade e silêncio dão o tom da atmosfera.

MONTAGEM:

A)JOYCE morde a caneta.

B) CANDIDATOS se sucedem em diferentes planos na mesma

ansiedade.

C) RENATA rói as unhas.

D) MARINA corre na chuva aflita, resoluta.

INT. SALAS DE PROVA 2 - DIA

E) MARCO RICONNI tranquilo porém desconfiado, está sentado

folgadamente na cadeira, quase deitado.

EXT. PORTÃO DO LOCAL DE PROVAS - DIA

F)MARINA chega ao portão que está fechado. O porteiro dá uma

olhada rápida ao redor como se certicasse de que não estava

sendo vigiado e abre rapidamente o portão. MARINA passa como

foguete.

JEREMIAS (V.O.)

Não se pode medir derrotas ou

vitórias. Simplesmente, elas

existem. Ou você vence, ou morre.

Nessa hora, meu amigo, você não

sabe muito bem de que lado está.

Mas é preciso seguir. É a única

saída que lhe resta. Ou vence, ou

morre.

INT. SALAS DE PROVA 3 - DIA

MARINA irrompe à porta, ensopada, olhos arregalados,

suplicantes; peito explodindo de cansaço. A sirene toca.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

É preciso seguir. Chegar aonde está

a luz. Achar uma saida.

EFEITO DE TRANSIÇÃO

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76.

INT. CORREDOR DO HOSPITAL - NOITE

MARINA agora corre pelo corredor; ainda com a mesma roupa

com que fez as provas; Um MAQUEIRO passa empurrando a maca

com um paciente coberto por lençol.

MARINA se sobressalta e continua apressada pelo corredor

afora. Avista sua mãe ao fundo e corre ao encontro dela.

Apreensiva abraça sua MÃE. O MÉDICO passa e faz um sinal

positivo.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

E quando acha a saída, percebe o

quão perto ela estava de você.

MARINA olha pela porta da enfermaria e vê seu pai entubado;

aproxima-se e ENTRA no quarto seguida de sua mãe que

espreita a uma certa distância. O monitor pisca, com vida.

INT. QUARTO DA ENFERMARIA - NOITE

Seu PAI respira levemente e parece dormir. MARINA beija-lhe

a testa.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

E nessa busca, descobre que a luz

era você mesmo, o tempo todo.

INT. DELEGACIA DE POLÍCIA - RECEPÇÃO - NOITE

WLADIMIR agora recepciona dois novatos que vão pegar o

plantão. São LUIZ e FERNANDO, os recrutas da academia de

agentes penitenciários.

WLADIMIR

(grita para o corredor)

Ô RUY! Tem calouro hoje no plantão!

RUY se aproxima e observa os garotos com curiosidade.

Aparentam um certo nervosismo e estranhamento típico de

calouro.

RUY porta uma metralhadora e fica na recepção enquanto

WLADIMIR os conduz à mesma salinha de COSTA. Os novatos,

LUIZ e FERNANDO, o seguem em silêncio.

WLADIMIR

"Cês" vão perder o cabaço é hoje!

Não tem segredo não. A cadeia tá na

paz. Só tem um bosta aqui que ficou

mudo e acho que sofre de Alzheimer.

CORTA PARA

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77.

INT. CADEIA DISTRITAL - SALINHA - NOITE

COSTA agora, está sentado no chão algemado numa barra de

ferro afixada à parede. Quando WLADIMIR e os novatos entram,

ele se levanta rapidamente.

LUIZ e FERNANDO entreolham-se um pouco assustados.

Reconhecem COSTA dos tempos da biblioteca. COSTA fica

confuso e envergonhado.

WLADIMIR

Estamos trabalhando nele.

Aproxima-se de COSTA e fala-lhe ao pé do ouvido de modo

sacárstico.

WLADIMIR (CONT)

Você vai ficar bonzinho não vai?

Vira-se para os novatos enquanto caminha em direção à porta

de saída.

WLADIMIR (CONT)

Não vai dar chapéu nos meninos,

vai? (volta-se para os novatos) Ele

é um cara legal. Mas está

aprendendo a falar ainda.

WLADIMIR é interrompido por RUY que aparece à porta e lhe

faz um sinal chamando com o dedo indicador.

RUY cochicha algo ao ouvido de WLADIMIR enquanto olham para

COSTA. WLADIMIR olha para os novatos.

WLADIMIR

Segura a onda aí que eu já volto.

CORTA PARA

INT. CADEIA DISTRITAL - RECEPÇÃO - NOITE

WLADIMIR e RUY escutam MARIA, a ex-empregada de COSTA. Não

ouvimos o que é falado mas MARIA gesticula aflitamente.

Voltam para a salinha.

CORTA PARA

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78.

INT. CADEIA DISTRITAL - SALINHA - NOITE

WLADIMIR posiciona-se frente a COSTA como se tivesse ganhado

um prêmio. Põe as mãos na cintura. Sorri maliciosamente.

Vira-se para RUY.

WLADIMIR

Agora ele fala.

RUY, sempre à porta, agora parece um pouco incomodado com a

situação. Os novatos se entreolham curiosos e um pouco

temerosos. WLADIMIR vira-se para os novatos.

WLADIMIR (CONT)

É... parece que hoje é meu dia de

sorte.

COSTA desconfia que o assunto é ele. Com os olhos

suplicantes procura uma resposta. WLADIMIR faz um sinal pra

RUY, olha para o corredor ( que não vemos) e chama MARIA que

aparece à porta, olha COSTA fixamente. A notícia é ruim.

COSTA

Oh não!

COSTA se desespera. A mão presa a algema parece que vai se

dilacerar. Por fim, tomba-se no chão e chora copiosamente.

WLADIMIR

(impassível)

Então, vamos negociar ou não?

Os novatos abaixam as cabeças respeitosamente. MARIA parece

não entender muito a situação.

CORTA PARA

EXT. REPÚBLICA DA AMIGAS - FACHADA - NOITE

MARINA radiante acaba de chegar. Sobe as escadas saltitante.

Procura as chaves na bolsa. Sorri sozinha. Coloca a chave na

fechadura, gira e abre a porta.

CORTA PARA

INT. REPÚBLICA DAS AMIGAS - SALA - NOITE

MARINA pisa na sala e depara com MARCOS RICONNI e RENATA

sentados no sofá. RENATA está recostada no peito de MARCOS

RICONNI. Ambos se assustam.

RENATA afasta-se de MARCOS abruptamente. Envergonha-se.

MARINA está paralisada. MARCOS se levanta em direção à

MARINA; balbucia uma tentativa de explicação.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 79.

MARCO RICONNI

Você... Eu...

MARINA recua e fecha a porta atrás de si, batendo-a, com

raiva. A CÂMERA mostra a porta fechada. A chave (interna) na

porta com um chaveiro de ursinho alegre, balança como um

pêndulo em festa.

FUSÃO PARA

INT. CURSINHO DESAFIO - DIRETORIA - DIA

O ÂNGULO focaliza um RELÓGIO DE PÊNDULO(CLOSE) na parede. O

ponteiro caminha para marcar dezoito horas.

FUSÃO PARA

EXT. CURSINHO DESAFIO HALL DE SAÍDA - DIA

MONTAGEM:

A) Um aluno confere o RELÓGIO que está para marcar dezoito

horas. Tem um notebook no colo aberto na página de resultado

do concurso ( detalhar).

B) MARINA caminha em SLOW. Não há som real a sua volta. As

pessoas em volta são como espectros psicodélicos.

C) Duas alunas sentadas diante do computador em um

apartamento esperam ansiosas, olhos grudados na tela.

D)MARINA continua caminhando. Agora o silêncio sofre

entrecortadas bruscas de som do ambiente (algazarra do hall

do cursinho). O som e a imagem das pessoas vão e voltam como

lampejos.

D)RENATA e JOYCE, aflitas, aguardam diante do computador no

quarto de JOYCE, na república. RENATA rói as unhas.

CORTA PARA

INT. CURSINHO DESAFIO - DIRETORIA - DIA - MAIS TARDE

O RELÓGIO na parede marca dezoito horas em ponto. O pêndulo

para.

CORTA PARA

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80.

EXT. CURSINHO DESAFIO HALL DE SAÍDA - DIA - MAIS TARDE

O mundo está parado. Pessoas imóveis. A folhagem das

árvores balançam timidamente num farfalhar sombrio.

POW!! Um ESTOURO de fogos. Surge no céu uma chuva de luzes

coloridas de fogos de artifício. O SOM volta como grito de

multidão em estádio de futebol. Candidatos vibram.

MARINA, no meio da multidão; procura seu nome na lista de

APROVADOS ( detalhar ) afixada na parede. Os nomes se

embaralham como numa visão míope. Até que encontra seu nome

na lista.

Ela pula. Todos saltam. O grito irrompe. A ESCURIDÃO rouba a

cena.

CORTA PARA

INT. QUARTEL DA POLICIA MILITAR - SALA DE AULA - DIA

O local está cheio de recrutas agentes ocupando suas

carteiras. Há um burburinho típico de jovens recém

alistados. A CÂMERA começa a percorrer a sala quando seu

movimento é interrompido pelo grito.

OFICIAL (V.O.)

José Amável Pinto!

A CÂMERA ENCONTRA exatamente um jovem magro cabeçudo que se

levanta e sai desengonçado. Enquanto isso, num canto alguns

recrutas acham graça da situação cômica.

No meio dos recrutas percebemos os dois jovens LUIZ e

FERNANDO, amigos da biblioteca.

FERNANDO

(rindo)

Eu não ia querer um pinto amável

como companheiro de guerra.

Os jovens riem contidamente enquanto tentam se esconder do

olhar atento do OFICIAL.

LUIZ

Amável Pinto. Engraçado esse

sujeito.

Jovens dão risadas. A voz do OFICIAL soa novamente.

OFICIAL (V.O.)

Jeremias de Jesus Santos!

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 81.

A CÂMERA faz seu movimento e busca JEREMIAS que estava num

canto da sala até então não visto. Ele se levanta e caminha

em direção à CÂMERA.

CORTA PARA

INT. QUARTEL DA POLICIA MILITAR - SALA DE UNIFORMES - DIA

JEREMIAS ENTRA na sala no momento em que o tenente, GARCIA,

uns vinte e dois anos, está SAINDO. Seus OLHARES se cruzam.

JEREMIAS aguarda em pé enquanto um SARGENTO GORDO confere os

uniformes e coloca uma etiqueta com os dizeres( AGT. SANTOS)

no uniforme. entrega-os a Jeremias. JEREMIAS, consegue ver

pela porta entreaberta, uma outra sala onde há um TV ligada

no noticiário.

JEREMIAS

Só isso senhor?

O tenente GARCIA entrou na sala de TV. Pela fresta da porta

vemos que ele se sentou e apenas sua bota aparece na fresta

da porta.Parece que ele vê o noticiário.

SARGENTO GORDO

Assina aqui.

O SARGENTO GORDO acaba de entregar os pertences e lhe

apresenta uma prancheta. O SOM da TV chega à sala.

JORNALISTA (V.O.)

A Polícia Federal deflagrou nesta

quarta-feira a Operação Tormenta

com o objetivo de prender um grupo

envolvido em fraudes em concursos

públicos em todo país...

JEREMIAS sobressalta-se. Tenta dar atenção à reportagem e

assinar a lista ao mesmo tempo. O SARGENTO GORDO está

falando com ele algo que não ouvimos.

JORNALISTA (V.O.)

Foram expedidos trinta e quatro

mandados de busca e apreensão sendo

vinte e um, só na grande São Paulo.

De acordo com a assessoria da

Polícia Federal, foram expedidos

ainda, 12 mandados de prisão

temporária...

A imagem de COSTA aparece sendo preso (na ocasião em que

estava em seu veículo e foi cercado pela polícia). MARÇAL

aparece sendo conduzido algemado.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 82.

JEREMIAS agora está om o uniforme nas mãos e fixa os olhos

na TV. Ele sua frio.O SARGENTO GORDO se afastou para pegar

os coturnos de JEREMIAS, num canto da sala.

JORNALISTA (V.O.)

De acordo com a PF, o grupo atuava

por meio de aliciamento de pessoas

que tinham acesso ao caderno de

questões, repasse de ponto

eletrônico...

A imagem de um circuito interno da gráfica onde JEREMIAS

trabalhou mostra o exato momento em que ele pega um CADERNO

na esteira. A TV repete em ZOOM o movimento e por fim

congela a imagem recuperada no rosto de JEREMIAS.

JORNALISTA (V.O.)

...e até furtando cadernos de

provas em gráficas credenciadas. A

quadrilha fazia ainda falsificações

de documentos e...

O SARGENTO GORDO vem voltando com os coturnos. A bota do

tenente GARCIA recua e some da vista de JEREMIAS e logo

volta como se o tenente estivesse incomodado. A porta se

mexe.

JORNALISTA (V.O.)

...diplomas exigidos nos concursos.

A Polícia vai continuar as buscas

até prender toda quadrilha...

JEREMIAS acorda. Joga o uniforme nos braços do SARGENTO

GORDO, que sem entender nada, ainda segura os coturnos.

JEREMIAS SAI apressado no exato instante em que aparece à

porta da sala de uniformes, a cara nervosa do tenente

GARCIA. Ávido como uma raposa.

GARCIA

Cadê ele? Onde foi ele? Eu vi ele.

O Sargento Gordo se atrapalha na continência, ainda

abarrotado de uniforme e coturnos

SARGENTO GORDO

O quê? Quem? Sim senhor?!

O tenente GARCIA SAI apressado.

CORTA PARA

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83.

INT. QUARTEL DA POLICIA MILITAR - CORREDOR - DIA

O tenente GARCIA ágil prescruta o ambiente como uma ave de

rapina e segue no corredor, quase correndo. À frente, a

distância estão dois oficiais alta patente, RAMIRES e DERON.

Tenente GARCIA vai ter que passar por eles para sair do

corredor e ganhar o pátio. GARCIA se aproxima e sem parar

esboça uma desconcertada continência e segue seu caminho

quando escuta atrás de si.

RAMIRES (V.O.)

Ei, ei sub!

GARCIA estaca-se, revoltado. Vira-se para os dois oficias,

já recomposto; um rosto solene.

RAMIRES

Vem aqui sub.

Ambos, RAMIRES e DERON estampam um meio sorriso de sacarsmo,

prontos para humilhar alguém. GARCIA caminha ao encontro

deles, respeitoso, tenta explicar a situação gesticulando

apavorado.

GARCIA

Um recruta senhor... ali...

fugiu...

DERON

(zombeteiro, mas sério)

Não se faz disciplina como

antigamente RAMIRES?

GARCIA se aproxima e agora faz continência corretamente e

com vigor. Permanece perfilado. RAMIRES o encara.

RAMIRES

Ele está aprendendo, DERON.

RAMIRES volta-se para DERON e sorri. Ambos ostentam uma

cumplicidade superior. RAMIRES encara GARCIA novamente.

RAMIRES

O que o sub dizia?

GARCIA,nervos à flor da pele, tenta ser conciso e breve ao

mesmo tempo. Ele ainda está perfilado, pés juntos.

GARCIA

Senhor, um recruta acabou de sair

por aquela porta. Eu o vi na TV...

Uma quadrilha que frauda

concursos... senhor...

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 84.

RAMIRES

(num tom irritantemente calmo)

E o que você está fazendo aqui sub?

RAMIRES reforça a pergunta com o olhar como se dissesse: Já

saiu? GARCIA entende a mensagem, faz continência, batendo os

pés com raiva e SAI desajeitadamente pelo corredor em

direção ao pátio.

CORTA PARA

EXT. QUARTEL DA POLÍCIA MILITAR - PÁTIO - DIA

O pátio é grande. GARCIA alcança o pátio a ponto de ver

JEREMIAS chegando ao portão. GARCIA inicia uma corrida em

direção ao portão.

Gesticula tentando ser visto pelo GUARDA PORTEIRO. Ao longe

vemos JEREMIAS, na guarita falando com o GUARDA PORTEIRO

algo que não ouvimos.

CORTA PARA

EXT. QUARTEL DA POLÍCIA MILITAR - GUARITA - DIA

JEREMIAS olha e vê GARCIA se aproximando. GARCIA está

telefonando para alguém. No mesmo instante o telefone da

guarita TOCA. O GUARDA PORTEIRO atende ao telefone.

JEREMIAS nota que o portão não está totalmente fechado. O

GUARDA PORTEIRO, com o telefone na orelha, já o está olhando

de modo estranho. JEREMIAS avança com ímpeto, abre o portão

e ganha a liberdade numa desabalada corrida.

CORTA PARA

EXT. RUA - DIA

Ouvimos suas passadas e sua respiração ofegante. A CÂMERA

mostra seus TÊNIS numa corrida acelerada.

JEREMIAS (V.O.)

Por todos generais do mundo! Eu

nunca pensei que uma coisa chamada

disciplina poderia garantir a minha

liberdade. Mas naquele momento, meu

caro, não havia muito o que pensar.

Eu só queria correr.

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85.

EXT. RUA DESERTA - CARRO DE MARCO RICONNI - TARDE

MARCO RICONNI está no carro enquanto uma garota brinca em

seu colo. Ela sorri enquanto coloca uma MÁSCARA de fantasia

no rosto de MARCO. Eles sorriem.

Ela empurra MARCO que se deita no banco bastante inclinado.

A GAROTA ri e lança para trás a cabeça e quando se ergue

depara com o rosto de ZÉ GOMES colado ao vidro do carro.

POV: DA GAROTA

O rosto de ZÉ GOMES no seu cacoete característico,

silencioso.

VOLTA À CENA

A GAROTA grita e rapidamente sai do colo de MARCO. MARCO

RICONNI se levanta bruscamente com a MÁSCARA na cara e vê ZÉ

GOMES. Baixa o vidro do veículo. Tira a MÁSCARA.

ZÉ GOMES

Vim buscar minha parte no trato.

MARCO RICONNI

Droga cara! Agora?

ZÉ GOMES permance impassível. A GAROTA abre a porta do

passageiro. Está irritada e com medo.

GAROTA

Vou embora.

MARCO RICONNI

Espera, droga! Vou resolver isso.

GAROTA

(já descendo)

Vou embora.

MARCO RICONNI a puxa violentamente de volta. Ela se debate

com ímpeto, tentando se livrar dele. ZÉ GOMES observa.

MARCO RICONNI

Espera porra!

A GAROTA se debate mais e cai no chão fora do carro. MARCO

RICONNI sai do carro, cego, ignora ZÉ GOMES, dá a volta e

joga a garota no banco do carro com violência.

Bate a porta com força. Volta para o banco do condutor e

bate a porta. Vira-se para ZÉ GOMES.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 86.

MARCO RICONNI (CONT.)

Olha o que você fez, desgraça!

Arranca o veículo cantando pneu. Logo adiante dá uma freada

brusca. Volta de ré desastradamente fazendo ZÉ GOMES pular

para não ser atropelado. Pára o veículo ao lado de ZÉ GOMES.

MARCO RICONNI

Quer receber é? Quer receber?

MARCO RICONNI procura algo no console do carro que não

vemos. MARCO se ergue e lança uma MOEDA no peito de ZÉ

GOMES. A MOEDA rola ao chão.

MARCO RICONNI (CONT.)

Toma aí sua esmola. Paraíba de

merda!

MARCO RICONNI arranca velozmente e some na estrada.

CORTA PARA

INT. BALADA - NOITE

O som pancadão enche o ar. MARCO RICONNI festeja. Os jovens

dançam com MÁSCARAS de fantasia. Alguns usam camisetas

apertadas com dizeres: "EU SOU UM FEDERAL".

Comemoram aprovação em concurso. A festa rola solta. Num

canto, MARCO RICONNI cheira coca como de costume. Ele dança.

Também usa camisa com os dizeres.

INT. CADEIA DISTRITAL - SALINHA - NOITE

COSTA, derrotado ainda está sentado no chão, algemado à

parede. LUIZ e FERNANDO agora são os responsáveis pelo

plantão. FERNANDO lhe traz uma cadeira e o ajuda a se

sentar.

COSTA

Obrigado.

LUIZ se aproxima e o observa silencioso.

LUIZ

Ela partiu mesmo, cara.

Balança a cabeça negativamente.

LUIZ (CONT.)

É... não deu.

FERNANDO tira-lhe a algema. Costa está triste.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 87.

COSTA

Eu preciso ver minha mãe.

Os novatos ficam em silêncio.

COSTA (CONT.)

Eu faço qualquer coisa, eu só quero

ver minha mãe. Pela última vez.

FERNANDO

Você sabe que não podemos fazer

isso. E não há tempo para liberação

judicial. Tá complicado, seu caso.

COSTA se ajeita o melhor que pode junto à parede. Parece um

orador que vai anunciar uma verdade universal.

COSTA (CONT.)

Eu tenho uma dívida.

Pausa.

COSTA (CONT.)

Que nunca pagarei.

FERNANDO o observa com mais atenção. LUIZ SAI da sala.

COSTA (CONT.)

Mamãe tinha câncer.

Os novatos estão atentos. LUIZ ENTRA com um copo d’água.

COSTA pega e bebe.

COSTA (CONT.)

Eu sempre a levava para suas

consultas.

Costa parece buscar algo no passado. Voz embargada pelo

choro.

COSTA (CONT.)

Um dia...

EXT. RUA - INTERIOR DO VEÍCULO DE COSTA - DIA

Costa dirige com a mãe ao lado. Tenta localizar certo

endereço. Parece meio perdido.

COSTA (CONT.)

A senhora tem certeza?

A mãe tosse. Parece indecisa.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 88.

MÃE DE COSTA

Eu perdi o papel do hospital. Mas é

por aqui, acho.

COSTA encosta próximo a uma clínica. Está visivelmente

irritado. Seu telefone TOCA.

COSTA (CONT.)

É essa mãe?

Sua mãe, definitivamente, não sabe. Costa arranca o veículo

com raiva. O telefone continua TOCANDO.

COSTA (CONT.)

A senhora tem que saber essas

coisas, mãe. Não é possível!

Costa acelera. Circula algumas ruas e pára próximo a outra

clínica. O telefone irrita, CHAMANDO.

COSTA (CONT.)

Desce aí mãe. Acho que é aqui.

MÃE DE COSTA

Mas é aqui meu filho?

O SOM do telefone irrita ainda mais. Costa explode:

COSTA (CONT.)

Eu não sei mãe... Você não sabe e é

eu que vou saber?

A mãe desce com dificuldade.

MÃE DE COSTA

Vai com Deus meu filho.

COSTA (CONT.)

Tá bom mãe, tá bom.

Arranca o veículo com pressa enquanto atende ao telefone.

EXT. CLINICA - CREPÚSCULO - MAIS TARDE

Costa encosta o veículo em frente a mesma clínica onde

deixou sua mãe. Tudo fechado. Sua mãe não está lá. Ele DESCE

do veículo circula procurando-a. Nada.

Retorna ao veículo. Circula por uns quarteirões e vê alguém

sentado na calçada junto a um muro. Diminui a marcha. É sua

mãe. Com frio, com fome e sozinha. Costa corre ao encontro

dela.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 89.

MÃE DE COSTA

(como se desculpasse a sua

velhice)

Não era a clínica filho, não era a

clínica.

INT. CADEIA DISTRITAL - SALINHA - NOITE

COSTA irrompe o choro em soluços.

COSTA (CONT.)

Não era a clínica.

Os novatos olham entre si por um momento e SAEM da sala.

COSTA chora num choro convulsivo. Fala sozinho.

COSTA (CONT.)

Eu devo isso a ela, eu devo isso.

Os novatos ENTRAM novamente. LUIZ retira as algemas presas

ao cano na parede. COSTA se surpreende, atônito. As lágrimas

ainda escorrem pela face. FERNANDO o encara, sério.

FERNANDO

Vamos correr o risco.

CORTA PARA

INT. BALADA - NOITE

Altas horas. Os Jovens dançam. Bebem e se divertem. MARCO

RICONNI, trôpego, SAI.

EXT. RUA EM FRENTE A BALADA - NOITE

A rua está deserta. MARCO RICONNI atravessa-a em direção ao

seu veículo. Está meio cambaleante. ENTRA no carro.

CORTA PARA

EXT. RUA - CARRO DE MARCO RICONNI - NOITE

MARCO RICONNI liga o veículo. Começa a arrancar quando sente

o carro pesado.

(INSERT) O pneu traseiro está murcho. .

VOLTA À CENA

MARCO RICONNI SAI do carro. Na noite, ouve-se o PIO soturno

de uma coruja solitária . Ele caminha em direção à traseira

do veículo.

CORTA PARA

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90.

EXT. RUA FRENTE A BALADA - NOITE

MARCO RICONNI, cambaleante, rodeia o carro olhando os pneus.

Vê o PNEU MURCHO e abaixa-se. A noite está escura. O vento

sibilia.

MARCO RICONNI se assusta quando, ainda abaixado, ouve o

tilintar de uma MOEDA que rola e pára no chão à sua frente;

A MOEDA brilha no escuro. MARCO RICONNI ergue a cabeça

surpreso.

Seu rosto brilha num flash e um ESTOURO de arma de fogo se

ouve. Um clarão - seu rosto assustado, e tudo se apaga.

CORTA PARA

EXT. INTERIOR DA VIATURA - DIA - TARDE

Os novatos, temerosos, circulam com COSTA. LUIZ, sempre

calmo, dirige a viatura. FERNANDO vai ao lado de COSTA no

banco de trás.

COSTA está algemado nas mãos e pés (Detalhar). A viatura

atravessa a cidade. Todos em silêncio. A viatura estaciona

próximo a um pequeno cemitério de subúrbio.

CORTA PARA

EXT. CEMITÉRIO - DIA - TARDE

Os novatos escoltam COSTA por entre as lápides a uma

distância respeitosa. COSTA anda com dificuldade por causa

da corrente nos pés.

O local está praticamente vazio. Ao longe se vê uma pequena

família próxima a um túmulo. Eles cantam hino 202 da Harpa

Cristã.

FAMÍLIA

Junto ao trono de Deus preparado/

Há cristão um lugar para ti...

Os novatos e COSTA se aproximam. COSTA olha, mas

percebe alí não se tratava do enterro de sua mãe. Continuam

andando e vêem ao longe uma figura feminina próximo a um

túmulo.

Começam a andar rápido mas as correntes nos pés de COSTA o

atrapalham. LUIZ lhe solta os pés. COSTA corre

desesperadamente. As mãos algemadas frente ao corpo faz com

que seus movimentos sejam desengoçados.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 91.

Os novatos o seguem, correndo, à meia distância.

COSTA, chega próximo ao túmulo. Percebe que a ex-empregada,

MARIA, está no local e ainda chora silenciosamente enquanto

um COVEIRO acaba de cobrir com terra a tumba.

COSTA

(desesperado)

Oh não!!

COSTA cai de joelhos.

COSTA (CONT.)

Eu quero minha mãe! Pelo amor de

Deus! Só um minuto.

O COVEIRO implacável joga terra. FERNANDO se aproxima e

agacha junto ao COVEIRO. Olha-o numa expressão de

solidariedade e compaixão como se tentasse convencê-lo pela

alma. COVEIRO para por um momento.

COVEIRO

Num posso não senhor. Num posso

não.

COVEIRO retoma as pazadas. COSTA chora histérico, sem

controle.

COSTA

Pelo amor de Deus, pelo amor de

Deus... minha maezinha. Faça alguma

coisa Maria.

MARIA se solta em choro compulsivo. OS NOVATOS se olham. Os

olhos marejados. COSTA ainda de joelhos, cai com o rosto em

terra em prantos.

O COVEIRO, encurvado, como se fosse a própria morte,

continua cobrindo o túmulo. O som da cantoria triste da

família ao longe, sobe no ar e enche o vazio da tarde.

FAMÍLIA

Se quiseres gozar das venturas/Que

no belo país haverá/É somente pedir

de alma pura/Que de graça Jesus lhe

dará...

CORTA PARA

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92.

EXT. INTERIROR DA VIATURA - DIA - TARDE

Os novatos, COSTA E MARIA retornam. Um silêncio fúnebre. Uma

viatura passa veloz com sirene a ligada.

COSTA

(abruptamente)

Vamos prá casa da minha mãe.

LUIZ frea de repente e retoma a velocidade.

LUIZ

O quê?

LUIZ e FERNANDO se entreolham rapidamente.

LUIZ (CONT.)

Ficou maluco?

FERNANDO

Cara, Já quebramos teu galho. Na

boa, já deu.

COSTA

(convicto)

Eu quero ver a casa de minha mãe.

Levanta as mãos algemadas.

COSTA (CONT.)

É a última coisa que peço.

LUIZ e FERNANDO vacilam. MARIA, silenciosa, sacoleja ao

movimento do veículo; a cabeça encostada no vidro e olhos

perdidos no horizonte. A viatura muda de direção.

CORTA PARA

EXT. APARTAMENTO DE ALEXANDRE - DIA

O PAI DE ALEXANDRE gira a chave na porta. Abre-a e sua face

transfigura-se. Na penumbra, ALEXANDRE está de bruços sobre

a mesa, sentado na cadeira. Na sua mão direita,

pendida, uma ARMA.

Há uma CARTA, ainda presa entre os dedos rígidos. Está

morto. O pai, trêmulo, pega a carta e a lê. GOTAS DE

LÁGRIMAS pingam no papel e se misturam ao vermelho do

sangue.

ALEXANDRE (V.O.)

Pai, como é que as pessoas aprendem

tanta coisa errada sobre a vida?

(MAIS...)

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 93.

ALEXANDRE (V.O.) (...cont.)

Elas são programadas, pai. Nascemos

para falhar. E eu falhei com você,

pai. Eu falhei. O senhor me perdôa,

pai?

MATCH CUT

EXT. RUA - DIA - TARDE

GOTAS de chuva pingam nos TÊNIS de JEREMIAS e se misturam à

lama. Ele ainda corre. Ao longe, bem distante, ouve-se uma

sirene de viatura.

ALEXANDRE (V.O.)

Eu sei que não é tão grave errar às

vezes. Mas eu tinha que acertar o

próximo lance. Eu tive medo de

perder outra vez. Eu estava num

jogo e não respeitei as regras. Eu

tentei quebrar as normas que são

passadas de geração em geração; As

regras sobre carreira, negócios...

FUSÃO PARA

INT. CASA DE MARINA - SALA - DIA

PASSADAS de JEREMIAS se misturam ao som de PALMAS. São os

familiares e amigos de MARINA que a recebem. Seu pai já

recuperado lhe entrega um buquê de flores. Ela sorri

vitoriosa.

JEREMIAS (V.O.)

As regras sobre o sucesso. Noções

que são consideradas sagradas pelos

professores, pela TV, por nossos

pais bem intencionados, nas

poltronas confortáveis de suas

casas. E nós nos seguramos tão

fortemente a essas idéias pequenas,

que morremos cedo...

CORTA PARA

EXT. CEMITÉRIO CLASSE A - DIA - TARDE

Familiares de MARCO RICONNI acompanham seu enterro. Há muita

tristeza. Um silêncio negro. Sua MÃE chora abraçada ao filho

GUSTAVO.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 94.

JEREMIAS (V.O.)

Morremos cedo no espírito, na alma

e no corpo. E nessa corrida, é

difícil perceber que a solução está

dentro de nós mesmos. Quanto mais

tarde percebemos isso, mais rápido

caminhamos em direção à morte. E

nesse jogo meu caro, ninguém erra

duas vezes.

CORTA PARA

EXT. INTERIOR DA VIATURA - DIA - TARDE

Os novatos, COSTA e MARIA ainda circulam na viatura.

Contornam umas duas esquinas e chegam à casa da MÃE DE

COSTA. Param frente à residência.

CORTA PARA

EXT. FACHADA DA CASA DA MÂE DE COSTA - DIA - TARDE

Descem da viatura. COSTA continua algemado. FERNANDO observa

ao redor atentamente. LUIZ segura COSTA pelas algemas. MARIA

abre a porta. Todos ENTRAM.

CORTA PARA

INT. CASA DA MÃE DE COSTA - COZINHA - DIA - TARDE

COSTA sinaliza para LUIZ, esticando os braços.

COSTA

Preciso tirar isso.

Os novatos se entreolham. FERNANDO faz sinal afirmativo com

a cabeça e LUIZ, um pouco cauteloso, tira as algemas de

COSTA.

COSTA caminha em direção à estante, sobe numa cadeira como

de costume e tateia por cima do móvel. Sua mão toca a

PISTOLA.

INSERT - MÃO DE COSTA TOCA A PISTOLA.

VOLTA À CENA

Por um instante, COSTA olha para os agentes; a mão suspensa,

oculta sobre o móvel. MARIA olha apelativa para FERNANDO que

instintivamente toca sua arma na cintura.

Costa e puxa a mão de repente mas o que se vê é a

MALETA. COSTA abre a MALETA no chão. Há muito dinheiro ali.

Fernando relaxa um pouco. COSTA se levanta.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 95.

Empurra a MALA com o pé na direção de MARIA e dos novatos.

Enquanto caminha com as mãos estendidas e juntas em direção

a LUIZ, pronto para ser algemado.

COSTA

Não quero mais precisar disso...

Não dessa forma. É de vocês. Se

quiserem. Pode me algemar.

LUIZ e FERNANDO se olham estranhamente. LUIZ começa a

colocar as algemas em COSTA. Encara-o.

LUIZ

Parece que não aceitamos suborno.

COSTA

Parece que você não entendeu.

Vira-se para MARIA enquanto está sendo algemado.

COSTA (CONT.)

Então pegue, Maria. É seu se

quiser. Eu lhe devo mais que isso.

Fala para FERNANDO e LUIZ.

COSTA (CONT.)

Eu estava perdido e fui achado.

Hoje tudo morreu prá mim. Preciso

começar de novo, da maneira certa.

Eu tenho uma dívida.

CORTA PARA

EXT. ESTRADA - DIA - MANHÃ

ÂNGULO revela estrada ao longe. A imagem treme ao ritmo de

passadas cansadas. Ouvimos o som de passadas arrastadas.

Respiração ofegante.

ÂNGULO sobe e mostra corpo sujo e maltrapilho. agora, uma

espessa barba grisalha. Não vemos o rosto. ÂNGULO desce.

JEREMIAS (V.O.)

(voz cavernosa, mais velho)

Todos os dias...

ÂNGULO finaliza descida e foca os TÊNIS de JEREMIAS em

passadas cansadas. Ele anda devagar. Os TÊNIS estão rotos e

sujos, quase irreconhecíveis. O sol bate a pino.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 96.

JEREMIAS (V.O.)

...milhões de pessoas acordam

pensando em ser grande. Milhões de

pessoas crescem pensando em ser

grande. E milhões de pessoas morrem

pensando.

CÂMERA se afasta e abre plano e revela JEREMIAS; Ele é agora

um andarilho. Carrega um pesado saco nas costas. Está sujo e

derrotado.

JEREMIAS (V.O.)

Talvez elas se acham inseguras, com

medo, despreparadas. Não importa

qual é a razão, o fato é que elas

falharam em agir. Falharam com o

sucesso. As vezes eu me pergunto o

que é pior: tentar e falhar...

JEREMIAS pára e põe o pesado fardo no asfalto quente. Uma

latinha de refrigerante( usada para crack), deixa ver o

metal que brilha num dos rasgos do saco.

O sol bate nela e cria um facho de luz. JEREMIAS , coloca as

mãos sobre os joelhos, as pernas afastadas. Parece descansar

na sua posição típica. Olhos voltados para o chão,

cabisbaixo.

JEREMIAS (V.O.)

...ou falhar em tentar.

JEREMIAS fita o horizonte. Olha atrás. Olha para o fardo e

se perde no horizonte.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Eu não sei a resposta.

CORTA PARA

MONTAGEM:

A)JOYCE numa mesa apinhada de livros estuda e morde o lápis

nervosamente.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Às vezes, as pessoas tentam a vida

inteira.

B)MARINA dirige feliz seu carrão pela estrada e passa por

JEREMIAS.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 97.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Outras, parece que acertam logo no

primeiro lance do jogo.

C) COSTA ajoelhado na cela, ora com mãos cruzadas, num

fervor silencioso.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Há ainda aqueles que só aprendem

com as lições mais difíceis.

D) PAI DE ALEXANDRE está sozinho, triste,no sofá do

apartamento. Olha para perdidamente para o teto.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Das piores maneiras.

E) MÃE de MARCO RICONNI deposita flores em seu túmulo.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

Alguns abandonam o jogo antes mesmo

"dele" começar.

F) RENATA, fotógrafa bem sucedida, clica modelos num

estúdio. Uma placa estampa os dizeres: STÚDIO RENATA DURAN.

JEREMIAS (V.O.)CONT.

E o jogo às vezes, reserva supresas

agradáveis.

EXT. ESTRADA - DIA - MANHÃ

JEREMIAS ergue-se ereto e dá uns passos para trás,

afastando-se do saco.

JEREMIAS (V.O.)

Eu não saberia a resposta.

Pára, vira-se e começa a correr devagar no sentido contrário

de onde vinha. A CÂMERA pega-o de costas.

JEREMIAS (V.O.)

Mas eu não quero a resposta. Eu

prefiro a mudança. Eu prefiro o

Caminho. Eu preciso aprender o

Caminho.

JEREMIAS vai ficando pequeno enquanto se afasta correndo. No

saco, o metal quente e reluzente, espelha contra o sol e

começa a queimá-lo.

A princípio, uma tímida fumaça que cresce e crepita. E logo

uma combustão faz surgir o fogo que lambe impetuosamente o

fardo de lixo.

(CONTINUA...)

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...CONTINUANDO: 98.

Ao longe, a figura de JEREMIAS corre, saltitante; Abre os

braços. Vai sumindo no horizonte.

JEREMIAS (V.O.)

E dessa vez, não farei como os

fracos: que entram para lutar.

Dessa vez, eu serei como os fortes:

que saem para vencer. Eu serei como

os fortes.

Música "Felling Groove" toca enquanto os créditos sobem

enquanto Jeremias corre e depois a tela escurece.

FADE OUT.

FIM

NOME: SAMUEL DE FREITAS QUELES

ENDEREÇO: RUA PROFESSOR ALVES HORTA, 240, BAIRRO LINDA

VISTA. APTO. 301 BLOCO C / CONTAGEM/MG CEP: 32041680

RG: MG7.556.475

TELEFONE: (031)99724369 - (031) 3915-7161