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EDEUS FEZ O HOMEM SUA IMAGEM
Assim est nas escrituras.
Mas acho que a frmula foi sabotada e, quando Ele se deu conta, j era tarde demais.
Na certa, aqueles Anjos mais tarde expulsos do paraso, adicionaram alguns ingredientes frmula,
valendo-se da confiana que desfrutavam DEle.
A ganncia, a cobia, a crueldade, a deslealdade, o desamor, a hipocrisia, a egocentricidade e outros
malefcios mais, no faziam parte do plano original.
Quando os sintomas foram por Ele notados, j era tarde, pois, as sementes j haviam de espalhado e
se multiplicado.
S restava uma soluo: destruir sua prpria criao.
Mas Ele no teve coragem, pois j os amava muito, apesar de tudo.
E resolveu lhes dar novas chances, .......por diversas vezes.
E o que ele recebeu em troca ?
Este mundo de hoje, repleto de guerras, inclusive em seu nome, genocdios, desamor, apego total
pela matria.
Os homens que se propuseram a propagar seu nome, seu amor, aos poucos foram se transformando
em verdadeiros hipcritas, fundando e administrando casas chamadas de Casa de Deus, para
tambm em Seu nome, formar e administrar verdadeiras organizaes comerciais com a finalidade de
extorquir os fiis de suas poucas posses e amealhar incomensurveis fortunas com fins particulares.
Quando Cristo expulsou os mercadores de seu Templo, deixou bem claro que a sua casa foi fundada
com o nico e exclusivo propsito de servir aos necessitados e que dentro dela no seria permitido
comrcio nem acmulo de bens materiais.
E o que temos hoje ? Templos suntuosos, ricos, abastecidos de poderio sobre empreendimentos
lucrativos. Verdadeiras mquinas de fazer dinheiro e, em contra partida, a misria, a fome, a
desigualdade esto cada vez mais difundidas.
Acredito que um dia, os poucos que representam e seguem as pregaes originais ainda tero xito,
nem que seja atravs de milagre, mas obtero xito, pois a f em Deus no morre jamais. O que me
fez acreditar nesta possvel recuperao, foi os papados de Joo Paulo I, Joo Paulo II e recentemente,
o de Francisco.
Guerras, desde os primrdios, sempre foram e ainda so deflagradas em nome de Deus e em nome
da paz (quanta hipocrisia), mas na verdade, o escuso propsito sempre o mesmo: ganncia, fins
econmicos.
Antigamente, devido a ento no existirem a Internet, a comunicao instantnea e os satlites, os
vencedores escreviam a histria a seu bel prazer e, atravs de um verdadeiro servio de marketing
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pessoal, se transformavam em heris, bons moos. Suas verdadeiras e malficas intenes se
transformavam em maravilhosas justificativas e, de dspotas, passavam verdadeiros santos.
Assim, tivemos inmeros personagens, como Atila, os Csares, Lenin, etc e, pouco recentemente, o
responsvel direto desta histria que ser narrada, Hitler, que subjugou e assassinou judeus, negros
e outras raas por ele consideradas inferiores, como por exemplo, os ciganos.
Mas estes povos sofridos, no devem esquecer que tambm tiveram seus dspotas, seus genocidas.
O povo judaico, por exemplo, no deve esquecer que seu maior Rei, Davi, no chegou ao poder apenas
derrubando um gigante filisteu, mas sim traindo a confiana de seu melhor amigo, a quem dizimou a
famlia para se apoderar da coroa e depois, em nome de uma suposta precauo, dizimou etnias
inteiras que habitavam as cercanias de Jerusalm. Assassinou milhares de centenas de homens,
mulheres, velhos e crianas que nada lhe haviam feito, sequer ameaado.
O povo afro descendente, tambm no deve ignorar que grande parte do sofrimento experimentado
atravs da escravido, foi patrocinado pelos seus prprios irmos, que para se livrarem de seus
inimigos tribais, caavam-nos e lucravam com a sua venda para os capites de navios negreiros que
aportavam na frica. Quem no conhece os fatos, assista ao filme Amistad para se teruma pequena
ideia.
E, para no se esquecer de outras vtimas, relembrem o que os exploradores do velho continente, em
nome de polticas expansionistas de seus reis, juntamente com fins religiosos de propagao da
palavra de Deus, fizeram para dizimarem naes indgenas e povos nativos inteiros.
Tudo o acima descrito, foi para sintetizar uma citao que certa vez ouvi e, acho que ela atribuda a
Hitler:
O HOMEM O SEU PRPRIO LOBO
Nada mais verdadeiro.
E ele prprio vestiu sua verdadeira pele de lobo para causar o ltimo genocdio ocorrido, j nestes
tempos: A segunda Guerra mundial.
72.882.108 MORTES CONTABILIZADAS : SETENTA E DOIS MILHES E OITOCENTAS MIL. QUASE
SETENTA E TRES MILHES.!
26.000.000 soldados;
47.000.000 de civis, entre eles, 5.700.000 judeus.
(Fonte : Wikipdia).
Maiores baixas:
Japo : 2.680.000
Indonsia : 4.000.000
Polnia : 5.600.000
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Alemanha : 7.503.000
China : 20.000.000
Unio Sovitica : 23.100.000
Impressionante!.
Tudo isto, em nome da ganncia (aumento de territrios) e em nome de interesses econmicos.
Antes de tomar a deciso de contas a histria sobre a experincia vivida pelo meu pai na 2 guerra,
procurei ler e assistir a vdeos sobre a matria.
As fontes estudadas foram uma coletnea de vdeos intitulada A Caminho de Roma e o livro
intitulado A Segunda GuerraHistria e Estratgias, matrias nas quais me atualizei sobre dvidas
que tinha e me inteirei sobre alguns fatos at ento para mim desconhecidos.
Ento, as concluses a que cheguei sobre os fatos que iniciaram, desenvolveram e finalizaram a
Segunda Guerra, foram os seguintes (sntese pessoal):
ALEMANHA, ITLIA E JAPO.
Pura ganncia expansionista.
A Alemanha, inicialmente, tentou se aliar Rssia de Stalin, para ocupar e dividir os pases do leste
europeu e do Bltico. Acho que um tentou passar a perna no outro e a aliana foi desfeita (e o impasse
passou a ser mais uma frente de batalha para Hitler) e Hitler convidou Mussolini para coadjuvante.
O Japo, cujo sonho era dominar a sia, principalmente a China Manchuriana, no excitou em invadir
e assassinar cidados chineses indefesos para limpar a rea. A matana foi pior que a dos judeus, que
s foi retratada e historiada por estar em continente europeu. Como a China, na poca, era distante
e os meios de comunicao parcos, e at sua importncia no cenrio internacional era insignificante,
a histria ficou no ostracismo.
Para mim, a histria do ataque a Pearl Harbor foi uma armao dos americanos, para que tivessem
uma desculpa inquestionvel para intervir no conflito europeu. Nada que um bom suborno a uma
figura japonesa de importncia no resolvesse.
Os japoneses foram induzidos a acreditar que os americanos reagiriam aos seus planos de conquistar
a Oceania, principal porto de entrada para os territrios chineses. E foi o que realmente aconteceu.
Os americanos, ou melhor, Roosevelt, s entrou na guerra porque o expansionismo japons em
territrio chins estava atrapalhando os negcios de sua famlia naquela parte do planeta (quem
desejar saber quais eram os negcios, que leia o livro acima citado, pgina 34).
Assim, quem pensa as razes que motivaram a deciso de Roosevelt de intervir no conflito foram os
laos de amizade com a Coroa Britnica (Rei e Rainha foram aos USA pedirem, quase de joelhos, que
lhes prestassem ajuda) , esto redondamente enganados.
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E, ao final da Guerra, o trato de diviso geogrfica se concretizou para Stalin: ele ficou com o Leste
Europeu, comprou os pases blticos (Letnia, Estnia e Litunia), agregou as pequenas republicas
asiticas notadamente os quistes , estendeu a fronteira russa sobre alguns pases ( Ucrnia,
Gergia, etc) e, assim, consolidou a Unio Sovitica.
No confundir com a Cortina de Ferro, que , ou melhor, foi outra situao.
Registre-se tambm que grande parte das mortes de civis da Unio Sovitica, foi limpeza tnica,
patrocinada por Lenin e Stalin.
Hitler, frente Lenin e Stalin, em termos de genocdio, ( ou foi) caf pequeno.
E, depois de 1945, sucederam-se outras guerras, estas j motivadas pelo moderno mundo
industrializado, isto , a queima de estoque de armas militares, as quais, no podiam ser,
simplesmente, jogadas fora. E assim se patrocinavam guerras para a venda do material, que eram
fabricados pelas grandes naes (USA, Rssia, Inglaterra e Frana). E os pequenos pases pagavam a
conta.
Na guerra da Coria, foram vendidas as sucatas que sobraram da segunda grande guerra, na guerra
do Vietnam, foram vendidas as sucatas da era do jato, e assim, sucessivamente, a indstria blica
internacional, continua a ser o melhor negcio do mundo, superando at a indstria do petrleo e o
trfico de drogas.
Hoje em dia, a maioria das guerras so por conquistas de jazidas minerais e petrleo. Essas estrias
de motivao religiosa, puro papel de parede.
Amanh, certamente haver guerras por mananciais hdricos (no estamos longe).
Mas, enfim, vamos histria de seu Salvatore.
SALVATORE GARDIHISTRIA N0 CONTADA - BASTIDORES DE UMA GUERRA.
N D I C E.
P A R T E ITRAIDOS E ABANDONADOS NA RSSIA.
I ROSTOV
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IIA TRAIO
IIIMACHIANUCE
IVMUSSOLINI
V - O EXRCITO.
VIMUSSOLINI SE ALIA A HITLER
VIIMARCHA PARA A RUSSIA
VIIICONSTATAO DA REALIDADE
P A R T E IIA LONGA MARCHA DE VOLTA.
IXDIREO ITLIA
XA PROCURA POR ABRIGO E COMIDA
XIVASSALTO AO TREM
XIARMADULHA PARA O INIMIGO
XIIA PRIMEIRA BATALHA
XIIICARNE! CARNE!
XIVASSALTO AO TREM
XVOUTRA PONTE NO CAMINHO
XVIAMIGOS FICAM PARA TRAS
XVIICO SALVADOR
XVIIIO INIMIGO ATACA
XIXA RENDIO
XXA VOLTA PARA A ITLIA
SALVATORE GARDI
Esta histria relata a experincia vivida pelo meu pai na Segunda
Guerra Mundial, conflito em que esteve na frente de batalha.
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Assim, quatro anos depois ele conseguiu novamente estar com os seus
e l vivemos, por 2 anos em So Cristvo, onde nasceu o meu irmo
Jorge.
Quando ele conseguiu juntar o dinheiro para dar de sinal na compra
de uma casa, no bairro de Ramos, nos mudamos. L ele viveu at 22
de dezembro de 2002, de onde saiu doente para no mais voltar,
vindo a falecer em um hospital no dia 01 de janeiro de 2003, depois
de ficar internado por 9 dias.
Este relato se origina de fatos por ele narrados e por mim ouvidos
durante os habituais bate papos aps o jantar, j na nova moradia.
Nos reunamos no quintal dos fundos, sob uma goiabeira e
deitvamos sobre esteiras de junco. ramos sempre eu, meu pai, meu
av materno e o tio Bernardo. Ambos moravam conosco. Fins dos
anos 50.
Na poca, como televiso era artigo de luxo, no dispnhamos de
dinheiro sequer para comprar uma geladeira, quanto mais uma TV,nossa nica opo era o rdio. Ouvamos o reprter s 8 da noite e,
depois, amos para o quintal, deitvamos nas esteiras e batamos
papo.
Invariavelmente, em determinado momento, o papo recaia no
assunto Segunda Guerra, na qual meu pai e meu tio combateram e
viveram experincias como soldados nas frentes de batalha. S que aexperincia de meu pai foi traumtica e revoltante, e ele, quase todo
dia, contava os fatos que resultaram na edio deste livro.
Durante anos, na minha infncia, ouvi aquelas histrias e me lembro
que, toda vez, durante a narrativa, os olhos de meu pai ficavam
marejados de lgrimas. As lembranas o faziam sofrer muito, mas, de
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certa forma, ele se aliviava em contar. Eram fatos ocorridos h cerca
de 14 anos.
Foram experincias vividas quando ele foi enviado para a frente de
batalha, no sul da Rssia e, logo ao chegar, ele e seus companheiros
foram trados por um inescrupuloso General e, para sobreviver e
chegar de volta Itlia, ele e seus companheiros (os que restaram)
passaram por experincias dolorosas, tanto fsica quanto psicolgicas,
que os marcaram pelo resto de suas vidas. Foi uma viagem de regresso
cheia de sofrimentos e perda de centenas de companheiros.
Durante a poca de fins dos anos 50 a incio dos anos 60, eu ouvia as
suas histrias, mas no me dava conta de sua importncia, do
riqussimo valor histrico, pois era muito jovem. Depois, em 1963,
comecei a trabalhar de dia e passei a estudar noite, e no mais
participei daqueles papos, ainda mais que em 1962 j havamos
comprado a nossa primeira televiso e esta veio, aos poucos,
substituir o hbito de a famlia se reunir para conversar aps o jantar.A partir da, s voltava a ter contatos com aquelas histrias na poca
de ano novo. Meu pai no suportava o momento dos fogos, pois estes,
o faziam lembrar dos bombardeios e tiroteios que experimentou na
poca da guerra. Ele ficava muito nervoso, chorava e era inevitvel
voltar a se falar sobre o assunto.
O tempo foi passando, e era raro ouvir novamente aquelas histrias.Apenas nos lembrvamos delas quando, em momentos de
aborrecimento, ele sempre amaldioava o Papa Pio XII, cujo motivo
citado mais adiante neste relato.
Poucos dias antes de seu falecimento, em uma das visitas no hospital,
fui at a baia em que ele estava internado. Ele estava deitado,
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totalmente entubado, impvido. No se vislumbrava nele o menor
sinal de vida.
Ao ver aquela expresso cadavrica, senti ali que ele nunca mais
estaria de volta.
Foi neste momento, olhando para ele, que suas histrias comearam
a passar pela minha mente. Era difcil de acreditar que aquele homem,
que passou por tantas provaes em sua juventude, estivesse, enfim,
entregando sua vida inevitvel velhice. Agradeo aos cus por ele
no ter sofrido, tambm, neste momento de partida.
Imediatamente, aps seu falecimento, cumpri a obrigao de
comunicar ao Consulado Italiano o seu bito, para fins de
cancelamento da penso alimentcia e, aguardei por alguns meses um
comunicado por parte do Ministrio da Guerra italiano, se
manifestando e enviando famlia uma carta de reconhecimento do
herosmo do patrono, mas, como isto no aconteceu, fiquei muito
indignado. O silncio das autoridades italianas meu deu a certeza deque ele havia sido esquecido por completo.
Ento, me veio a ideia de escrever suas memrias, para que seus
filhos, netos e bisnetos soubessem que ele fora um heri e fiel ao
juramento que fizera ao exrcito italiano.
A indignao no foi s pelo fato do silncio do governo italiano, mas
tambm, pela ridcula penso a ele concedida como ex combatente,
de mseros US$180,00 mensais. Que atitudes vergonhosas.
S sinto o fato de ter perdido mais da metade do tesouro histrico que
foi o relato de seu retorno, sofrido porm bravo, ptria amada e
sua famlia.
Na minha narrativa, h momentos em que alguns trechos soproseados, pois no me lembro de todos os detalhes e fatos por ele
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narrados. Descrevo apenas o que restou em minha memria, mas
acredito que, por terem resistido ao tempo, so os momentos e fatos
mais importantes da viagem heroica que se iniciou no sul da Rssia e
terminou em territrio romeno, quando foram resgatados.
O importante, que o incio o meio e o fim esto rigorosamente
corretos e os dramas descritos foram reais.
O bombardeio em Rostov, os calados improvisados, a luta na ponte,
o assalto ao trem, a travessia do rio, o constante controle e
racionamento de alimentos, o ataque sofrido no acampamento, as
histrias do cavalo e do cachorro, so os fatos que ficaram totalmente
gravados na memria. As demais narrativas, so trechos parcialmente
lembrados e preenchimento de lacunas, alternativa utilizada para
poder se ligar um fato a outro.
Os nomes de seus companheiros (que foram personagens reais,
conforme fotos) , bem como do general traidor, que ele citava com
certeza absoluta, no me lembro mais. Aqui na narrativa, os nomesso todos fictcios.
No sou escritor, no domino a arte da narrativa e muito menos sou
um expert em portugus.
Apenas desejei tornar pblica esta histria que durante dezenas de
anos ficou engasgada por decreto na garganta de meu pai, e que,
como prmio, lhe foi concedida a ridcula penso acima mencionada.
Desta forma, embora tardiamente e sem causar nenhum efeito, os
que lerem esta histria vo tomar conhecimento de algo que
aconteceu h 70 anos e ela no se evaporar com o tempo.
So os bastidores do palco de uma guerra, que poucos tem a chance
de conhecer.
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HOSPITAL SO LUCAS, RIO DE JANEIRO, BRASIL
16:00 horas do dia 1 de janeiro de 2003.
Toca o telefone na minha casa e, do outro lado da linha, meu irmo,
Jorge, me d a notcia : U (como eu era chamado pelos familiares), o
papai faleceu.
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Encerrara-se h poucos minutos atrs, aos 83 anos, a vida de um
heri annimo.
Salvatore Gardi, primognito de uma prole de 14 filhos,
nascido em 11 de setembro de 1920, na Comuna de Luzzi,
Cosenza, regio da Calbria, sul da Itlia.
Cresceu em meio ao trabalho rduo de campons em uma
fazenda arrendada pelos seus pais, na qual trabalhava de
domingo a domingo, do nascer ao pr do sol. No havia
descanso.
Segundo os comentrios dele e de seus conterrneos, at fins
dos anos 30, este era o estilo de vida da regio. Aps o
trmino da guerra, os costumes sofreram grandes
transformaes.
Nesta poca, trabalhava-se praticamente para a subsistncia.
Eram raras as horas de folga que se conseguiam em um
domingo, quando alguns patres liberavam os trabalhadores
para comparecerem missa, o que era praticamente uma
obrigao.
Seus patres eram seus pais e, nem por isto, tinha tratamentodiferenciado. No s ele, como seus irmos, pois, todos
nasciam, cresciam e tinham que trabalhar a terra.
Assim cresceu e, na esperana de melhorar seu estilo de vida,
alistou-se no exrcito e anos depois, foi enviado para a frente
de batalha, onde experimentou amargas lembranas, sendo
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abandonado em territrio russo e ter de voltar sua terra
natal marchando por cerca de 180 dias.
Foram os piores dias de sua vida. Neste perodo, teve odissabor de ver seus amigos e companheiros morrendo aos
poucos pelo caminho de volta. Passou frio, fome, tortura
psicolgica, angstia.
Em busca de uma vida melhor, aps os percalos da guerra,
conseguiu emigrar para o Brasil, onde se estabeleceu e criou
seus filhos.
PARTE I
TRAIDOS E ABANDONADOS NA RSSIA.
IR O S T O V.
O Frio era de quase -10.
Os soldados se preparavam para a distribuio da rao matinal,
quando o Tenente Giuliano adentra no galpo onde se encontrava a
tropa italiana e bradou: Todos de p e prontos para a revista!.
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O General Collossi veio at ns para nos comunicar sobre a
importante misso para a qual fomos designados aqui no sudeste da
Rssia.
O galpo imenso era uma construo rudimentar, com colunas de
troncos de madeira, as paredes no passavam de uma cobertura de
folhas de zinco e o telhado tranado de uma espcie de sap
brasileiro. Havia cerca de 500 soldados reunidos em seu interior.
Havia apenas uma abertura na parte norte e outra na parte sul do
galpo, alm do grande porto de entrada que se localizava no centro
da parede. No haviam janelas, e sim buracos deixados por folhas de
zinco que se soltaram. O porto, de to esqulido, mal conseguia
manter suas abas em p.
Era uma construo usada pelos moradores de uma vila de
camponeses, localizada a cerca de 1 hora de caminho da cidade mais
prxima, Rostov. Pelo visto, o galpo servira de silo para a estocagem
da produo agrcola da vila, j que se notavam vrios grosespalhados pelo seu piso.
O peloto italiano, sob as ordens do Tenente Giuliano, chegara
localidade na noite anterior e nem precisou disparar uma s bala para
se apossar da vila. H muito seus moradores, sabedores da
aproximao das foras alems e italianas, haviam se refugiado em
Rostov, cidade que era guarnecida pelas tropas russas.
Salvatore e sua tropa chegaram vila em vrios caminhes . A estrada
terminava em um pequeno riacho, onde uma tosca ponte fazia a
ligao com a vila.
Um grupo de reconhecimento fez a verificao do permetro da vila e
informou que a mesma possua condies para alojar a tropa. Sendo
assim, os oficiais ordenaram o desembarque.
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Os caminhes foram deixados na entrada da ponte e os soldados
caminharam cerca de dez minutos at o galpo que lhes serviria de
abrigo e alojamento.
A localidade era passagem obrigatria para se chegar a Rostov, vindo
de Novorossyst, cidades localizadas no sudoeste da Rssia, perto da
divisa com a Ucrnia.
A estrada era precria, quase que uma picada aberta em meio sflorestas e estepes, e, com o incio do
inverno russo e devido precipitao
de neve j nos primeiros dias, a
viagem em caminhes militares de
Novorossyst at a vila perto de
Rostov durara quatro dias e quatro
noites.
A tropa italiana chegara extenuada
quela vila numa noite do incio do
ms de outubro de 1944 e l se instalou. Naquela mesma noite os
caminhes foram reabastecidos pelos carros tanques que os haviam
acompanhado.
As casas das vilas eram miserveis e o tenente Giuliano achou por bem
reunir a tropa em um s local, a fim de se aproveitar o calor dos
prprios corpos dos soldados agrupados, para se ajudarem a suportar
a noite que se anunciava bastante fria.
Assim, embora a precariedade do galpo tivesse sido levada em conta,
a tropa se alojou em meio aos vrios montes de palha que estavamespalhados pelo cho.
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Salvatore e seus amigos cosentinos, Paolo e Tlio, que com ele
partiram do sul da Itlia, se instalaram em um dos cantos no fundo do
galpo, puxaram para si um monte de palha e improvisaram os leitos
sobre os quais iriam passar aquela noite glida. Por sorte, no ventava.
Duas horas aps a chegada, foi servida a rao daquela noite. Aps se
alimentarem, todos tentaram, na medida do possvel, se ajeitar e
dormir.
Os que tiveram o infortnio de se localizar perto do porto da entrada
do galpo, foram os que mais sofreram com o intenso frio.
Assim, a noite se passou e s seis da manh foram acordados pela voz
alta do tenente Giuliano que dera aquele aviso.
O auxiliar de ordens do tenente Giuliano completou o comunicado,
informando que somente aps a visita do general Colossi a rao
matinal seria servida.
Neste momento, Salvatore , Paolo e Tlio e outro grupo de cerca devinte soldados foram convocados a render a patrulha que fazia a
vigilncia do permetro da vila e saram do galpo.
O grupo se perfilou e, capitaneados por um sub oficial, marchou em
direo aos locais de patrulha. Sorte deles.
Dentro do galpo a tropa se recomps do jeito que lhe foi possvel e
se perfilou aguardando a entrada do general Colossi.
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II
A TRAIO.
Cerca de vinte minutos aps estarem perfilados, adentra no galpo o
Generali Colossi.
Uma figura minscula, esqulida, peito estufado, exibindo uma
imensa coleo de medalhas e insgnias em seu magro peito.
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Um pequeno tablado foi improvisado s pressas, com caixotes e
algumas tbuas recolhidas ao redor do galpo.
Ele sobe no tablado e, para a surpresa de todos, sua voz era o oposto
de seu fsico.
Voz forte, um pouco rouca, boa impostao. Quem no tivesse
olhando para sua figura e apenas ouvindo sua voz, imaginaria tratar-
se de um homem de complexo alta e forte.
Ele se dirigiu aos oficiais e soldados desejando um bom dia e disse ter
boas notcias para lhes dar.Informou que as tropas aliadas da Itlia e da Alemanha j estavam
quase que totalmente agrupadas e preparadas para marchar contra
Rostov e que a nica preocupao do comando era o frio intenso que
se previa chegar, juntamente com as nevascas, que eram
caractersticas daquela regio.
Para tanto, o comando das tropas que iria coordenar a marcha sobreRostov encomendara equipamento especial para os soldados: botas e
casaces especiais para fazer frente ao frio e neve que seriam
inevitveis durante a batalha que se aproximava.
Informou ainda que dois caminhes de sua comitiva estavam
carregados com estes equipamentos e que iriam substituir os que a
tropa estava usando.
Pediu ento a todos que entregassem seus casacos e botas, mas que
antes tivessem o cuidado de retirar seus objetos pessoais, pois, o
equipamento que estavam devolvendo seguiria imediatamente para
ser utilizado por tropas que combatiam na Frana, em regies menos
castigadas pelas intempries daquela poca.
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Um grupo de soldados adentrou no galpo, puxando duas pequenas
carretas de madeira e recolheram o material dos soldados que haviam
obedecido s ordens.
Aps todos terem entregues suas peas, os soldados que puxavam as
carretas, j auxiliados por outros que ajudavam empurrando, levaram
o material para fora do galpo e o general continuou seu discurso.
Disse que os novos casacos e botas j estavam sendo descarregados e
que dentro de minutos eles estariam sendo distribudos.
Desejou boa sorte a todos, que aproveitassem e cuidassem bem domoderno equipamento que estavam recebendo e transmitiu para eles
saudaes do Dulce Mussolini. Informou ainda que estava de partida
para entregar outra leva de equipamentos para uma unidade alem
que se encontrava a 100km dali, fez a saudao nazista, desceu do
pequeno tablado, e deixou o galpo.
To logo se retirou, alguns soldados deram risadas fazendo graa com
a esqulida figura do general.
O tenente Giuliano ordenou que todos permanecessem onde
estavam, o que facilitaria a distribuio do novo equipamento.
Atravs das aberturas laterais e do porto do galpo, os soldados
puderam ver que a neve comeara a se precipitar e a sensao de frio
comeava a aumentar, j que se encontravam sem casaco e com osps sobre o frio piso de terra do galpo, protegidos apenas pela palha
que cada um conseguiu reunir sob os seus ps.
Passados vinte minutos e como o novo equipamento ainda no
chegara, o tenente Giuliano pediu a seu ajudante de ordens que fosse
l fora verificar o motivo da demora.
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O ajudante de ordens ento disse: Mas tenente, o Sr. esqueceu que
est nevando e eu estou descalo e sem casaco ? Daqui at onde os
caminhes esto parados so uns cinco minutos a p. Como irei ?.
O tenente se deu conta de que ele no havia entregue seu
equipamento, j que quando o general se dirigia tropa, ele se
encontrava ao seu lado prestando ateno tropa e, por distrao,
no retirara seu casaco nem as botas.
Ento, ele mesmo se dirigiu ao estacionamento dos caminhes para
verificar o que estava motivando aquele atraso e apressar a entrega
do equipamento.
Apanhou no cho do galpo um pedao de lato que havia se
desprendido do porto e, usando o mesmo para se proteger da neve
que caa , saiu em meio nevasca.
Os soldados que estavam prximos ao porto perderam-no logo de
vista. Seu vulto em instantes desapareceu envolto pela bruma da neve
que caia.
O tenente Giuliano chegou ponte e no viu os caminhes, nem
movimentao de soldados. Pensou ser por causa da nevasca.
Atravessou com dificuldades a pequena ponte, pois seu piso de
madeira j se encontrava com uma camada de uns 5 cm de neve.
Chegando ao outro lado, se assustou, pois, j deveria estar vendo oscaminhes que trouxeram as tropas e a comitiva do General Colossi.
No viu nada. Ao olhar em direo estrada que os trouxera de
Novorossysk, avistou um vulto escuro. Ao chegar at ele, verificou que
se tratava de um dos caminhes de transporte de tropas. A porta
esquerda estava aberta e ele entrou na cabine do caminho. A chave
estava na ignio.
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Achou estranho aquele caminho estar sozinho ali. Postou-se ao
volante e tentou dar a partida, mas, o motor rateava e no pegava.
Desceu do caminho e se ps a procurar mais adiante, na esperana
de encontrar os outros veculos. Em vo. Nada viu.
Voltou para a cabine do caminho, tentou novamente dar a partida e
desistiu.
S ento se dera conta do que estava acontecendo e vociferou:
Fomos trados. Abandonados em meio s florestas russas, sem
casacos e sem botas, sem alimentos e sem equipamento decomunicao. O general Colossi os havia trado e os condenara
morte pelo frio e fome. Aquele caminho que restara tinha sido
abandonado por no funcionar.
Ficou ali sentado uns instantes pensando em como iria dar a notcia
aos soldados. Eram mais de quinhentos homens largados prpria
sorte, sem nenhuma chance de sobreviver naquelas condies.
Estava ele pensando, quando comeou a ouvir ao longe o barulho de
motores de avies.
De repente se deu conta do que estava por acontecer: saiu correndo
do caminho e, apesar da camada de neve, conseguiu se deslocar com
certa rapidez. Levou um tombo quando atravessava a ponte,
levantou-se e continuou sua corrida at o galpo. Quando avistou ovulto do galpo, se ps a gritar: saiam todos do galpo!. Vamos ser
bombardeados!. E foi repetindo isto at chegar entrada do galpo.
Os soldados que ouviram seus gritos no estavam entendendo o que
estava acontecendo e ficaram inertes, j que no queriam se expor ao
tempo frio e nevasca.
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Ento ele chegou entrada e gritou novamente: Ateno: saiam
todos, rpido ! Vamos ser bombardeados, corram, rpido, espalhem-
se !.
L de fora, j se faziam ouvir os motores dos avies que se
aproximavam. Os soldados, ento, se deram conta da situao e
comearam a correr na neve, descalos e sem casacos.
Fujam para longe na vila. A vila vai ser bombardeada, gritava o
tenente.
Os soldados que estavam nos fundos do galpo ficaram apavorados,j que seriam os ltimos a sair e procurar um lugar para se abrigar.
Viram ento que o lato que formava a frgil parede do galpo estava
quase solto e puseram-se a chutar as placas. Num instante uma
abertura se ofereceu e muitos deles escaparam por aquela passagem.
Neste momento, o barulho dos motores dos avies j era assustador,
de to prximos que estavam, e a previso do tenente Giuliano seconcretizou : as primeiras bombas comearam a cair e a explodir.
Muitos gritos comearam a se ouvir em meio aos barulhos dos avies
e das exploses.
Salvatore e seus companheiros que estavam do lado de fora, na
vigilncia, bem afastados do galpo, no entenderam o que estava se
passado, at que, devido s bombas que explodiam prximas a eles,se deram conta da situao e procuraram abrigo. Salvatore, Paolo e
Tulio, que haviam ficado juntos naquele posto, se esconderam
debaixo de uma enorme rvore, a uns duzentos metros do galpo,
pois no havia outro lugar para se abrigar. De l, avistaram os outros
soldados correndo para fora do galpo, tambm procura de abrigo.
As bombas foram quase que totalmente direcionadas para o galpo e
sua volta.
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Passados dez minutos, o bombardeio cessou.
Salvatore e os demais aos poucos foram se dando conta da tragdia
ocorrida diante de seus olhos.
Ao seu redor, a paisagem era de terror. Pedaos de corpos mutilados
por todos os lados.
Gritaria e correria por todos os lados.
IIIMACHIANUCE
Em 10 de setembro de 1920, no tosco casaro que servia de sede da
pequena fazenda em que vivia a famlia Gardi, nascia Salvatore,
primeiro de uma prole de catorze filhos.
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Pode parecer exagerado, mas naquela poca, principalmente no
campo, as famlias tinham muitos filhos visando a mo-de-obra
barata.
Quantos mais componentes da famlia a trabalhar em suas terras,
mais em conta era a produo.
A Salvatore, seguiram-se os irmos Rafael, Francisco, Mario, Geraldo,
as irms Concheta, rsula, Teresina, Anina, Maria (faltam 4 que no
me lembro).
Salvatore e Concheta eram os mais velhos e Geraldo e Anina os maisnovos.
Os genitores, Umile e Carmela, eram tpicos camponeses nascidos e
criados naquela fazenda que ficava nos arredores da Comuna de
Luzzi, na provncia de Cosenza, capital da Calbria.
A p, da fazenda, levava-se cerca de uma hora para se chegar a Luzzi.
A fazenda ficava no vale e Luzzi, na montanha, a caminho da Sila, hojeuma estao de inverno, localizada no alto do macio da cadeia de
montanhas conhecida como Apeninos, que domina a regio.
A pequena fazenda se chamava Machianuce, que em dialeto
luzzitano significa A Mancha da Noz. O nome era proveniente de
uma imensa nogueira localizada ao lado do casaro. Sua ramagem era
imensa e sua idade centenria. Em homenagem to portentosarvore frutfera, deu-se ao local o seu nome.
O casaro, que na verdade era uma construo tpica da idade mdia,
com suas paredes erguidas em pedras aparentes, tinha apenas trs
cmodos: a cozinha, a pequena sala, e o restante servia de dormitrio
para todos, sendo o ambiente dividido por cortinas.
Em cima, situava-se o sto, que servia de despensa.
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Ao redor do casaro, encontravam -se o forno, tipicamente construdo
com pedras, o galinheiro, um abrigo para as vacas leiteiras e um
pequeno celeiro onde se guardavam as ferramentas da lida e
produo de gros.
A propriedade em si constitua-se de uma extenso de terra de pouco
mais de cinquenta acres, arrendada a um Baro de terras, que
permitia a explorao de suas terras a um custo muito alto: da
produo, trs quartos eram a ele destinados, e a famlia que
trabalhava a terra ficava apenas com a quarta parte.
Na propriedade, passava um pequeno riacho de guas cristalinas, que
era o desdobramento do volume de gua que descia das montanhas
da Sila e que passavam por Luzzi. O riacho abastecia a propriedade,
tanto no consumo quanto na irrigao.
Na pequena fazenda, plantava-se de tudo, pois, a subsistncia vinha
dela. O principal produto era o trigo. Apenas dois produtos no eram
l produzidos: acar (no havia espao para se plantar a matriaprima, que era a beterraba) e azeite. Produzia-se a oliva, mas a
moagem s era possvel em uma comuna vizinha, que possua o
moinho de pedra.
Os animais ali criados eram poucos, pois no se podia dar ao luxo de
ter terras destinadas a pasto, j que estas eram escassas. Criava-se
apenas o estritamente necessrio.
A famlia tinha duas vacas leiteiras - cujo leite era suficiente para o
consumo e produo de queijos -, seis cabras e uma gua, que servia
de montaria para o patriarca Umile.
Foi neste ambiente que Salvatore cresceu.
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O casaro ainda est de p. Na foto, modificado, pois, originalmente,
no existia a parte superior.
IVMUSSOLINI
Transcorria o ano de 1938 e, Salvatore, no auge de sua adolescncia,
ento com 18 anos, comeara a se alfabetizar com uma senhora
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vizinha. Em troca das aulas, ele a recompensava com algumas espigas
de milho e outros produtos da fazenda.
O pouco que aprendera lhe foi suficiente para um dia ler um folheto
em que se anunciava a presena, para um discurso em Cosenza, de
Benito Mussolini, general que chegara ao poder na Itlia e de quem
j se falava maravilhas. Apesar de as notcias naquela poca e,
principalmente naquela regio, serem bem escassas, seus feitos j
eram admirados, tais como a reverso dos direitos dos proprietrios
de terra (a partilha dos donos das terras de para ), fato que,
praticamente, o libertara de uma espcie de escravido.
Mussolini tambm agia no campo das aes sociais e, poucos tm
conhecimento disso, foi o pai da Previdncia Social.
Falava de novas conquistas, como a concesso de novas terras para
plantio, mais especificamente a explorao agrcola na Etipia e na
Somlia.
Ele conseguira os direitos de explorao das terras at ento
improdutivas e, em pagamento, destinava parte da produo para o
governo local.
Isto permitiu a Itlia resolver de vez suas carncias de produtos
agrcolas e permitiu aos camponeses italianos trabalharem a terra em
novos produtos at ento raros, como a produo de uvas, olivas e
frutas.
Com isto, a Itlia se tornou uma produtora de vinhos, azeites e frutas,
distribuindo sua produo para toda a Europa.
Tambm permitiu a emigrao do homem do campo para as cidades
industriais, incrementando a indstria nacional que sofria com a
carncia de mo de obra.
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Assim, os feitos de Mussolini se espalharam por toda a Itlia e,
principalmente, no sul, onde seus feitos atingiram o povo aflito por
mudanas, j que o norte do pas, industrializado e rico, pouco ligava
para a miserabilidade em que viviam os sulistas.
Ento, ao ler o panfleto, Salvatore disps-se a ir at Cosenza, conhecer
de perto to afamado homem. Ele e alguns amigos, que tambm
admiravam Mussolini, pegaram uma carroa puxada a cavalo e
enfrentaram uma viagem de quase vinte horas para chegaram a
Cosenza.
L, se informaram do local do comcio e acamparam bem perto de
onde se localizava o palanque.
Acomodados, abriram sua sacola de lanche, comeram e beberam o
vinho que haviam levado.
No dia seguinte, acordaram em meio algazarra que muitos outros
jovens faziam ao chegar ao local. Era extraordinrio como Mussolini
atraa os jovens. Talvez, pelo fato de, pela primeira vez, os jovens do
sul da Itlia realmente deslumbrarem um futuro promissor, de
poderem, realmente, se livrar daquela vida de subsistncia, de se
livrarem do analfabetismo, da falta de notcias, de saberem que, alm
da Calbria, existia um mundo.
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Ento chegou o momento esperado. Mussolini subiu ao palanque e
maravilhou os presentes com um discurso totalmente voltado para o
social, para a educao e para o progresso.
Salvatore e seus amigos voltaram para Luzzi com um dolo em seus
coraes. Passaram a sonhar com as conquistas anunciadas por
Mussolini. Salvatore se empenhou mais ainda para se alfabetizar.
VO EXRCITO.
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Passados dois anos, j ento com vinte de idade, Salvatore recebeu
notificao das foras armadas para se alistar.
A Segunda Guerra Mundial j estava em curso e Mussolini se viu
obrigado a fortalecer seus exrcitos, temendo uma invaso alem,
apesar do bom relacionamento que ele mantinha com Hitler. Sabia
que este relacionamento duraria apenas enquanto fosse do interesse
dos alemes, cuja fora militar j era tida e temida como a mais
poderosa do continente.
Salvatore ficou feliz no s por poder servir a seu dolo, mas tambm
por poder se livrar daquela vida sacrificada e sem esperanas. Sabia
que no exrcito obteria novos conhecimentos, conheceria novos
lugares e teria a oportunidade de aprender algo diferente que lhe
proporcionasse uma nova vida, em um outro lugar.
Trs dias depois se ser notificado, l estava ele em Cosenza se
apresentando no improvisado campo militar que recebia os soldados
convocados.
A desordem era geral. Primeiro, devido improvisao. Salvatore
levou mais de trs horas para ser atendido e apresentar seus
documentos. Segundo, por que praticamente todos os convocados
estavam se apresentando ao mesmo tempo. No era s Salvatore que
desejava fugir daquele lugar, daquela vida.
Logo aps ele, Paolo e Tulio tambm se apresentaram e os trs foram
juntos para o grupo que, j alistado, aguardava instrues. Os trs se
apresentaram e descobriram ser vizinhos de cidades. Salvatore era de
Luzzi e Paolo e Tulio residiam em Acre.
Passaram-se dois anos e, em meados de 1942, Salvatore foi
convocado para se apresentar em Catanzaro, que ficava a uma hora
de trem ao sul de Cosenza.
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L chegando, ficou feliz em encontrar seus amigos Paolo e Tulio, que
tambm haviam sido convocados.
Um oficial organizou os jovens e lhes informou que deveriam aguardar
uma chamada, por grupos, e que seriam encaminhados para suas
acomodaes.
O grupo de vinte e cinco jovens, do qual fazia parte Salvatore, foi
levado para um galpo nos fundos do quartel, onde receberam
uniformes e equipamentos, exceto armas. De l, seguiram para o
alojamento.
Salvatore procurou saber para onde seguiram seus amigos, mas j
estava escurecendo e deixou isso para o dia seguinte.
Assim que acordou, s 06:00 da manh, perfilou com os demais e
foram levados para uma imensa cantina, onde tomaram o caf da
manh. Tiveram apenas dez minutos para isto, j que havia
necessidade de revezamento com os demais grupos.
Quando fazia o caminho de volta, avistou o grupo que vinha em
direo cantina e nele viu Paolo e Tlio. Fez um aceno que depois se
falariam e seguiu com seu grupo.
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E assim, durante oito meses, os recrutas receberam treinamento
apenas fsico e disciplinar, at que lhe foi informado que, em breve,
seguiriam para Bologna, para os exerccios militares.
(Salvatore ao centro e seus amigos Paolo e Tulio)
Tambm lhes foi dito que teriam uma folga de uma semana antes da
viagem, para visitarem e se despedirem de suas famlias.
No dia seguinte, logo aps o caf, todos foram dispensados com a
recomendao de, no oitavo dia, se apresentarem de volta.
Salvatore, Paolo e Tulio foram juntos para a estao de trens e duas
horas depois estavam embarcando para Cosenza.
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L chegando, desceram, se despediram e procuraram um meio de
transporte que os levasse a Luzzi e Acre.
Salvatore chegou fazenda somente no dia seguinte, pela manh.
Contou as novidades a seus familiares e mostrou que estava muito
feliz em poder viajar para Bologna, cidade da qual havia escutado
maravilhas. Finalmente, seus horizontes estavam se abrindo.
Com medo de perder a hora da reapresentao, Salvatore, no
domingo, sexto dia, resolveu voltar para Cosenza logo cedo, pois o
transporte at l era complicado. Havia trens para Catanzaro apenas
a cada 12 horas.
Chegou a Cosenza no domingo noite, aps uma carona em uma
carroa de um fazendeiro vizinho.
Como faltavam ainda dois dias para a reapresentao, procurou o
quartel dos carabineiri(polcia local) para pernoitar.
L chegando, um policial informou que na manh seguinte ele jpoderia ir para Catanzaro, pois poderia se reapresentar antes do
prazo. Esta era a preocupao de todos os demais e o quartel o
receberia normalmente.
Como no havia mais trens naquele horrio, se acomodou em uma
das celas do quartel da polcia, dormiu por algumas horas e, logo que
amanheceu, j estava a caminho da estao de trens.
O primeiro trem saiu s 10 horas,
e uma hora e meia depois, j
estava descendo em Catanzaro.
Constatou que o que o policial lhe
informara era verdade. Dezenas
de jovens desceram do mesmo
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trem e tomaram o mesmo rumo de Salvatore, em direo ao
quartel.
L chegando, Salvatore se dirigiu a seu alojamento. Muitocansado e mal dormido, por conta da pssima viagem de
carroa de Luzzi a Cosenza, deitou-se em sua cama e dormiu
at s oito da noite.
Assim que levantou, perguntou onde poderia comer alguma
coisa e um colega informou que, na cantina, havia um lanchedisponvel e para l se dirigiu.
Lanchou e, ao sair, viu seus amigos Paolo e Tulio chegando.
Eles tambm haviam tido a mesma ideia.
Esperou os amigos fazerem seu lanche e ficaram conversando
at tarde. No dia seguinte, que ainda era de folga, foram
passear em Catanzaro e s voltaram noite.
Foram dormir cedo, pois no sabiam o que ocorreria no dia
seguinte, a data marcada para a reapresentao.
s seis da manh foram acordados pela sirene do quartel e
receberam ordens de se dirigir cantina para o caf da manh.
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L foram avisados que o horrio de reapresentao seria ao
meio dia e notava-se que quase todos j haviam voltado.
Aps o meio dia, no ptio de formao, havia perto de milrecrutas perfilados. Foi-lhes comunicado
que receberiam uniformes leves e que,
noite, embarcariam de trem para
Bologna.
Assim aconteceu. Por volta das oito da
noite, todos marcharam para a estao
de trens, e, medida que chegavam,
eram distribudos pelos 15 vages
existentes, alm da locomotiva.
Por volta da meia-noite, partiram. A
primeira cidade que cruzaram foi Cosenza, na sequncia,Paola, depois vieram Fuscaldo e outras dezenas que Salvatore
no conhecia. Durante dois dias o trem cruzou a Itlia de sul a
norte e, na madrugada do terceiro dia, chegou enfim a
Bologna. A viagem foi exaustiva, pois no houve paradas, a
no ser quatro vezes, com durao mxima de trinta minutos,
para que os soldados pudessem descer e fazer suasnecessidades fisiolgicas. Perto de Roma, o trem ficou parado
cerca de dez horas, aguardando sinal para prosseguir. As
paradas no foram em estaes, e sim em descampados.
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Quando o trem chegou a Bologna, os soldados desceram.
Embarcaram novamente em um outro trem, que em meia
hora, os levou para um imenso quartel que se localizava entre
as cidades de Bologna e Ferrara.
L, diferentemente de Cosenza e Catanzaro, no havia
desordem. Do trem, foram embarcados em caminhes
militares, e foram imediatamente levados a enormes edifcios
destinados acomodao das tropas.
Desceram dos caminhes, foram perfilados e, meia hora
depois, um oficial se apresentou, falando em um megafone:
Ateno ! Todos possuem um nmero de identificao. Vocs
sero separados em pequenos grupos de trinta homens e,
cada qual seguir comandado por um suboficial, que os levar
aos alojamentos a que esto destinados. Cada grupo
conhecer suas acomodaes e receber instrues sobre os
procedimentos a serem tomados a partir de amanh. Em no
nome do Dulce, o exrcito italiano sada a todos.
Como haviam se apresentado
juntos em Cosenza, Salvatore, Paolo
e Tulio ficaram no mesmo grupo, oterceiro a ser chamado na ordem da
numerao recebida. To logo foi
anunciada a numerao, um
suboficial se apresentou e o grupo
de trinta homes se postou sua frente. Formaram duas filas
indianas e seguiram com destino s suas acomodaes.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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No dia seguinte, bem cedo, comearam a receber treinamento
militar. Assim se repetiu durante seis meses. Praticaram
atividades fsicas, tiveram ensinamentos militares,
aprenderam a utilizar armas, e enfim, ao final do treinamento
bsico, estavam prontos para seguir para os campos de
batalha.
(Salvatore
direita
e seus amigos Paolo e Tulio)
7/21/2019 Salvatore Gardi
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J transcorria a primavera de 1943, quando Salvatore e seu
peloto foram enviados para guarnecer a fronteira com a
Frana e ficaram aquartelados em um agrupamento de foras
prximo cidade de Aosta, no noroeste italiano.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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VIMUSSOLINI SE ALIA A HITLER.
A Itlia era provida de alimentos produzidos em suas
possesses estabelecidas na Etipia e na Somlia.Mussolini havia feito acordos com aquelas duas naes para
explorar suas terras at ento improdutivas, visando
produo de gros para abastecer as necessidades
alimentares de seu pas.
Arrendou terras na Etipia localizadas perto das cidades deDire Dawa e Jiiga e, na Somlia, entre Berdar e Djibouti.
Executou projetos de irrigao, abriu estradas interligando as
regies dos dois pases, executou projetos habitacionais para
alojar os trabalhadores - todos nativos - e construiu um porto
para escoamento da produo em Djibouti, capital da Somlia.
Dire Dawa
Dijibouti
7/21/2019 Salvatore Gardi
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L, foram produzidos gros e
leguminosos, que via Mar Vermelho,
chegavam Itlia atravs do Canal de
Suez.
Tudo transcorria bem, at que a Inglaterra, a quem os direitos
de explorao do Canal de Suez pertenciam, passou aaumentar de forma progressiva as taxas de pedgio que eram
cobradas pela sua utilizao.
A Inglaterra, pressionada pelos altos custos que estava tendo
com o combate contra a Alemanha, pois h trs anos j
duravam os conflitos da Segunda Guerra, resolveu buscar
fundos a todo custo e, como o Canal era uma tima fonte derenda, resolveu aos poucos cobrar taxas extorsivas, chegando
ao ponto de exigir 50% do valor da carga que os navios
italianos transportavam.
Indignado, Mussolini avisou que no pagaria mais que 20% do
valor da carga e que, se houvesse retaliaes, a armadaitaliana - na poca a mais poderosa da Europa - entraria em
ao.
Pouco menos de um ms aps este episdio, a armada italiana
foi totalmente posta a pique em um ataque surpresa da
Inglaterra.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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Logo aps, descobriu-se que a traio
que a Itlia sofrera partira do Vaticano,
atravs do ento Papa Pio XII, o qual
passara informaes secretas aos
ingleses, fornecendo-lhes a localizao
da armada italiana.
O que motivou o Papa Pio XII a trair a
Itlia foi o fato de que o ento regime fascista imposto por
Mussolini ia de encontro aos interesses do Vaticano.
O regime tambm no agradava aos ricos, principalmente aos
bares donos de terras, os quais tiveram suas fortunas
consideravelmente diminudas com as recentes mudanas
ocorridas nos direitos de explorao da terra.Ento, os ricos e o Vaticano tramaram juntos a derrocada de
Mussolini, e isto culminou com a traio havida com a armada
italiana.
Mussolini, ento, teve de abandonar
as possesses africanas e, antevendoque iria ter problemas com o
abastecimento de alimentos, tomou
uma deciso que iria mudar o destino
da Itlia perante os conflitos da
Segunda Guerra Mundial: aliou-se a
Hitler.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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Isto tambm mudou o destino de Salvatore e seus amigos
Paolo e Tulio.
VIIMARCHA PARA A RSSIA.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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Com o fechamento do canal de Suez aos seus navios, a Itlia
de Mussolini se viu entre a cruz e a espada.
Sabia que cedo ou tarde, Hilter viraria suas tropas em direo Itlia.
Por outro lado, as presses internas para derrubada de seu
regime eram cada vez maiores.
No podia se unir aos outros pases europeus que lutavam
contra Hilter, pois, assim, estaria se colocando indiretamenteao lado da Inglaterra, causadora dos conflitos que a Itlia
passava, e por isto, considerada inimiga.
Ento, em uma atitude desesperada, temendo ser invadido
pela Alemanha ou ser morto atravs de uma conspirao
liderada pelo Vaticano e pelos bares de terra, Mussolini se
aliou a Hitler, e isto mudaria completamente a histria da Itliana 2 Guerra Mundial.
Ao se aliar a Hilter, Mussolini submeteu seu exrcito ao
comando dos nazistas.
Algum tempo depois, o exrcito italiano comeou a enviar
seus soldados para as frentes de batalhas na Rssia. Ento, emmeados do primeiro semestre de 1944, Salvatore e seus
amigos foram enviados para o sul daquele pas.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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As tropas foram
transportadas de trem,
em uma viagem que
durou oito dias,
atravessando os
territrios da ustria, da
Romnia, da Moldvia e
da Ucrnia, para
finalmente chegar ao sul da Rssia, nas imediaes de Rostov.
VIII
A CONSTATAO DA REALIDADE.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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Passado o bombardeio, Salvatore e seus amigos foram
recuperando o senso de realidade. Estavam atordoados pelo
barulho dos avies em seus voos rasantes, pelas exploses das
bombas e petrificados de medo diante do quadro que agora
viam sua frente.
Centenas de corpos mutilados espalhados pelo cho.
O galpo no mais era visvel. Fora totalmente destrudo pelas
bombas. Apenas alguns casebres permaneciam teimosamente
em p na vila.
Aos poucos, foram aparecendo outros soldados que haviam
sobrevivido ao bombardeio. Alguns totalmente ilesos, como
Salvatore e seus amigos. Outros, com ferimentos leves e
outros com ferimentos graves. Ouviam-se gemidos por todo
lado.Alguns oficiais sobreviventes apareceram e comearam a
ordenar o que sobrou da tropa.
A primeira coisa de que se deram conta que estavam
praticamente todos descalos. O calor proporcionado pelo
fogo das bombas no lhes permitia sentir o frio a sua volta.A primeira ordem ouvida dos oficiais era de abandonarem
imediatamente o local, pois, certamente aps o bombardeio,
viriam as tropas terrestres provenientes de Rostov para
terminar o servio.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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Porm, a neve glida j fazia sentir seus efeitos nos ps
descalos dos soldados.
Ento, quase que instantaneamente, todos tiverem a mesmaideia: retirar o que sobrou das roupas dos mortos e improvisar
um abrigo para os ps, alm de roupa para aquecer o corpo,
j que seus casacos haviam sido levados tambm.
Para piorar a situao, a pequena ponte, que ligava a vila
estrada por onde haviam chegado estava quase que
intransponvel, j que fragmentos de bombas a haviam
atingido.
Os soldados tiveram que improvisar uma passagem com os
restos do madeirame do galpo e assim conseguiram alcanar
a outra margem.
Correram at onde estava o caminho e em torno dele seagruparam.
O Tenente Giovanni, o mais alto oficial ali presente, deu uma
rpida explicao do que estava acontecendo e tentou aos
poucos reordenar o que sobrou das tropas e traar planos para
a fuga, que se mostrava bastante difcil, visto que a grandemaioria estava descala e sem casaco. Apenas ele, outro
tenente, que estava com um grande ferimento na coxa direita,
e cerca de dez soldados, entre eles Salvatore, Paolo e Tlio,
estavam ainda com as botas e os casacos.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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Alguns soldados que estavam de vigia e foram atingidos e
mortos no bombardeio tiveram suas botas e casacos
recolhidos, apesar de semi destrudos.
Primeiro, contou-se quantos soldados estavam ali: um total de
cento e vinte, incluindo os oficiais e suboficiais que tambm
haviam sobrevivido (um tenente, um sub tenente e quatro
sargentos).
As ordens foram as seguintes: retirar a lona do caminho,
retirar a gasolina dos tanques transferindo-a para os tanques
portteis que estavam nas laterais do veculo, arrancar as
tbuas do piso que serviriam de sola para calados
improvisados e tudo o mais que pudesse vir a ser til durante
a fuga. Mas para isso precisariam de ferramentas,
principalmente de um serrote.
Um soldado, ao se esconder durante o bombardeio, entrara
em dos casebres e disse ter visto algumas ferramentas que l
haviam sido deixadas pelos moradores.
Ento, um grupo de doze soldados que estavam de botas e
casacos, entre eles Salvatore, foi designado a voltar para a vila
e pegar tudo o que fosse possvel.
O grupo voltou com seis ps, um ancinho, oito foices, oito
enxadas, dois serrotes grandes e um pequeno, dois machados
e uma marreta de tamanho mdio, alm de uma alavanca de
cerca de um metro e meio, com uma das pontas achatadas.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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A alavanca veio a calhar para arrancar as tbuas do assoalho
do caminho. Em poucos minutos, as tbuas foram
cuidadosamente serradas em pedaos que permitiram
fabricar 80 pares de solas. O restante das solas foi
obtido serrando-se outras partes das laterais do caminho.
As ferragens da carroceria bem como de outras partes foram
tambm guardadas.
Ento, com os trapos das roupas tiradas dos colegas mortos,
cintos, meias, lenos, etc, todos improvisaram seus calados.
Pernas de calas serviram para cobrir os braos e outras partes
foram usadas para abrigar as costas e os peitos.
No desmonte das calas, muitos isqueiros e maos de cigarros
foram encontrados. Em algumas, havias tambm barras de
chocolate que haviam sido compradas na ltima cidade emque pararam quando saam da Ucrnia em direo Rssia.
J anoitecia, quando os soldados foram agrupados para
iniciarem a marcha de fuga. No tinham ideia dos horrores que
seriam provados naqueles prximos cinco ou seis meses.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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PARTE IIA LONGA MARCHA DA VOLTA
IXDIREO ITLIA
O grupo iniciou sua caminhada pela estrada de terra, j com anoite se fazendo presente. De certa forma, isto agradou a
todos, pois, se fosse de dia, certamente avies de
reconhecimento estariam procurando por sobreviventes.
O grupo de oficiais se reuniu e, mesmo caminhando, trocou
ideias de qual seria a distncia da ltima e nica vila quepassaram quando estavam indo em direo Rostov.
Era tambm uma vila abandonada, porm em melhor estado
que a que eles haviam desembarcado a tropa. Calcularam que
seriam necessrios uns dois dias de caminhada para alcan-
la, seguindo a estrada de terra pela qual haviam chegado.
Felizmente, no nevava mais, e a neve do dia anterior queestava no cho no passava de uma leve camada de pouco
mais de 2 centmetros, o que facilitava a marcha e no
umedecia tanto os calados improvisados.
A claridade do novo dia j se fazia presente e a fome j se fazia
sentir, pois a ltima refeio feita fora na noite anterior, umpouco antes da chegada do traidor general Colossi.
Os soldados no tinham relgio, somente o Tenente Giovanni,
que viu que marcava oito horas da manh, horrio de Bologna.
Calculou que o fuso horrio de onde estavam era de duas
horas e, portanto, deveriam ser dez horas naquele momento
local.
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A tropa j mostrava sinais de cansao, que, aliado ao estresse
experimentado, fez com que o Tenente Giovani permitisse o
repouso, para tambm se avaliar a situao e comear a
pensar como resolver o problema da falta de alimentao.
O estado do ferimento de um dos oficiais feridos preocupava
a todos que marchavam a seu lado. O ferimento no parava
de sangrar e ele estava muito debilitado. Outros soldados
tambm estavam na mesma situao. Era um grupo de
aproximadamente trinta homens, que alm de ter a batalhada fuga pela frente, no tinham como tratar de seus
ferimentos e estes pioravam medida que o tempo passava,
devido marcha forada. Alguns soldados, j durante a noite,
estavam ajudando seus companheiros feridos.
Os soldados ento comeram o chocolate que tinham em seus
bolsos. Todos possuam pelo menos uma barra.
Com algumas placas de zinco que haviam levado,
improvisaram bacias para derreter a neve e com isto saciarem
sua sede.
Estavam descansando h quase uma hora, quando ouviram
barulho de motores de avio. A margem da estrada na qual
estavam refugiados tinha uma espessa mata, com rvores
baixas e que ainda possuam folhagem, j que o inverno estava
no incio. Portanto, seria difcil para os pilotos localizarem o
grupo.
Felizmente, no foram avistados.
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Como a estrada era estreita e muitas rvores estendiam seus
ramos sobre ela, a tropa se sentiu segura em seu refgio.
Durante uma hora os avies vasculharam a rea, passandovrias vezes por cima de suas cabeas. Eram trs avies de
reconhecimento.
O tenente j havia ajustado seu relgio ao horrio local e, j
passava de uma hora da tarde quando resolveram retomar a
marcha.
Com medo de novos avies, resolveram marchar em fila de
dois, bem prximos margem, com espao de cinco metros
entre cada dupla, sendo uma coluna em cada margem.
Com isto, caso os avies de reconhecimento surgissem, teriam
tempo bastante de se refugiar debaixo das copas e o rastro
seria difcil de ser visto pelos pilotos, j que caminham junto mata.
Caminharam por trs horas, quando ouviram novamente o
barulho dos motores. Imediatamente, todos seguiram as
ordens pr-estabelecidas e se refugiaram.
Passaram-se cinquenta minutos at que o barulho dos aviesdeixou de ser ouvido.
Novamente, retomaram a marcha e cerca de duas horas
depois um contratempo surgiu: uma clareira de mais ou
menos dois quilmetros se apresentou frente. J estava
perto de anoitecer e os oficiais decidiram descansar at que
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anoitecesse novamente, e a sim retomariam a marcha de vez
por toda a noite, o que lhes garantiria cobrir um bom trecho
sem os percalos dos avies.
Ento, descansaram por duas horas at que a noite casse para
voltar marcha. Os soldados feridos tiveram muitas
dificuldades para se levantar e algumas macas tiveram de ser
improvisadas usando-se galhos e cortes feitos com a lona do
caminho.
Embora j fosse de noite, um grupo de soldados ficou
encarregado de apagar os rastros dos sulcos deixados pelas
padiolas, que eram arrastadas.
A muito custo, o grupo caminhou por toda a noite. Pelos
clculos dos oficiais, ainda restavam umas vinte horas de
caminhada para se chegar vila. Alm disso, torciam para queesta ainda estivesse abandonada.
Uma hora depois do amanhecer, o grupo parou novamente
para descansar. Como era de hbito, as necessidades
fisiolgicas deviam ser feitas a pelo menos cinquenta metros
de onde estavam acampados.
Ao entrar na mata, dois soldados se depararam com uma
pequena plantao de girassis. Chamaram ento um dos
oficiais e foram explorar a rea.
Descobriram ser um pequeno stio abandonado, cujo acesso
se dava por um caminho que terminava duzentos metros
adiante da estrada em que estavam.
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Ao lado dos girassis, havia tambm uma plantao rasteira,
que ao ser retirada, trouxe com as ramas uma espcie de
batata. Ao fundo da plantao, havia um pequeno casebre,
feito de galhos de rvores, ainda com seu teto de ramagem
em bom estado. Da entrada do casebre, avistava-se todo seu
interior que se compunha de um nico espao de pouco mais
de oito metros quadrados. Estava completamente vazio, a no
ser por uma grande tesoura, toda enferrujada, que se
encontrava enfiada entre os galhos que compunham a parede
do casebre.
Um grupo de soldados foi chamado e colheram toda a
plantao daquela espcie de batata e todos os girassis que,
com todos ajudando, tiveram suas sementes arrancadas e
servidas aos soldados.
Tambm, usando as bacias improvisadas, acenderam
pequenas fogueiras dentro do casebre, nas quais cozinharam
as batatas.
A comida foi distribuda em pores iguais para todos os
soldados e estes a engoliram rapidamente, apesar de seu
gosto no muito bom - talvez por terem sido colhidasprecocemente.
As batatas, por serem em pequena quantidade, foram
totalmente comidas, com casca e tudo. Quanto s sementes
de girassol, sobrou o suficiente para uma nova refeio.
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J eram mais de dez horas da manh quando se reiniciou a
marcha. O esquema foi o mesmo. Duplas espaadas de cinco
em cinco metros, em duas colunas, cada qual em uma margem
da estrada, com um grupo na retaguarda desfazendo as pistas.
Eram quatro da tarde, quando resolveram parar novamente
at o anoitecer. Logo aps se estabelecerem, uma pequena
nevasca comeou a se precipitar. Rapidamente, todos se
dirigiram para uma encosta com muitas rvores. A lona foi
estendida por cima dos galhos mais baixos, amarrada comcordas feitas de trapos e cintos retirados dos soldados mortos
no bombardeio. Como no couberam todos naquele abrigo, os
demais improvisaram um teto com a ramagem retirada das
rvores e um grosso capim que crescia naquele local.
A neve caiu por mais de cinco horas, o que atrasou a retomada
da marcha. Quando a neve parou de cair, os soldados sabiam
que a retomada da caminhada seria mais dura, pois, calculava-
se uma camada de neve de mais de dez centmetros. Alm
disso, os soldados trocaram e reforaram a camada de suas
botas, pois, certamente, a neve iria umedecer ainda mais o
tecido utilizado como couro. Alm disso, muitos j
apresentavam feridas e sangramentos nos ps, devido ao
esforo de caminhar sobre as plataformas de madeira. As
articulaes dos ps estavam muito doloridas, pois no se
conseguia dobrar os ps nas passadas. Alguns apresentavam
hematomas nas solas e nos dorsos dos ps.
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noite, as primeiras baixas ocorreram. Dois dos soldados
carregados nas padiolas faleceram. No suportaram os
ferimentos e o sangue perdido.
Os oficiais ordenaram que os soldados cavassem uma cova,
onde os corpos foram enterrados.
O grupo comeara a se reduzir. J eram 118. A marcha foi
retomada pela noite adentro.
XA PROCURA POR ABRIGO E COMIDA.
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J amanhecia quando a tropa avistou os primeiros sinais que
indicavam que estavam prximos vila que buscavam.
Alguns utenslios, como carroas manuais, arreios demontaria, objetos pessoais, etc, eram vistos pelo caminho.
Eram sinais visveis de que a vila fora abandonada s pressas.
Isto soava bem, pois indicava que no haveria problemas em
se entrar nela.
Um grupo de cinco soldados, capitaneados por um dos oficiais,
foi encarregado da aproximao e estudo do terreno para se
certificarem de que a rea estava inteiramente livre para ser
ocupada.
Sorrateiramente, esgueirando-se por entre a densa mata,
aproximaram-se da vila e aguardaram por um tempo para se
certificar de que no havia nenhum morador aindaperambulando por ali. Nenhum som era ouvido, nem de
pessoas, nem de animais.
Aps uma hora, um dos soldados voltou para onde a tropa se
encontrava e comunicou aos oficiais de que a vila estava
realmente abandonada.
Ento, um grupo maior se dirigiu para a vila, onde, juntando-
se aos outros que tinham ido efetuar a verificao, nela
entraram e constataram que as construes eram melhores
do que aquela que havia sido bombardeada. As casas, feitas
de pedra e barro, com telhado de uma espcie de sap,
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vegetao tpica das estepes locais, estavam em boas
condies e serviriam de abrigo para a tropa.
Aos poucos, todos foram adentrando na vila. Os soldadosforam ocupando as casas e os oficiais se reuniram em uma
delas, construda perto de uma espcie de praa da vila.
Todas as casas, sem exceo, eram de um s cmodo, com
uma rea de aproximadamente 20m2 e em seu interior,
possuam algo parecido com uma lareira, s quem sem
chamin. Era uma espcie de sobrepiso feito de pedras, com
uns 20cm de altura, encostado a uma das paredes e, em cima
dele, via-se claramente restos de lenha queimada. Acima
delas, havia uma pequena abertura na parede, que deveria
servir para aliviar a sada da fumaa que se acumulava dentro
das casas. Acima desta abertura havia uma placa de lato que
servia para aparar e colher a fumaa para ser expelida pela
abertura.
Os oficiais ordenaram aos soldados que vasculhassem as
outras casas e as imediaes para ver se colhiam alguns
materiais que pudessem servir para se acenderem fogueiras e
outros objetos que pudessem ser teis tropa.
Em algumas casas, foram deixados mveis como cadeiras,
mesas, armaes de camas, cmodas e panelas de ferro.
Tudo indicava que umas das atividades desenvolvidas naquela
vila era a produo de utenslios em vime, j que haviam sido
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abandonados, alm do vime nos tanques, alguns cestos
prontos e outros em fase de tecitura.
O material para servir de fogueira foi agrupado no centrodaquela pequena praa, em frente ao alojamento onde se
encontravam instalados os oficiais. Inclusive, o galpo do vime
havia sido desmontado, j que no servia de abrigo por serem
suas paredes totalmente vazadas.
Os soldados foram divididos em grupos de vinte e cada grupo
se instalou em uma casa, carregando consigo uma boa
quantidade de lenha para acenderem suas fogueiras. Porm,
um dos oficiais alertou que elas somente poderiam ser acesas
aps anoitecer, pois a fumaa poderia ser vista.
Apesar do frio intenso, todos resolveram aguardar a chegada
da noite para acender o fogo e o tenente ordenou que ossoldados descansassem nas casas, secassem suas protees
dos ps e tentassem melhorar as condies de seus agasalhos
improvisados.
Neste momento, um soldado se aproximou e disse que o vime
poderia ser utilizado para substituir as solas de madeira, j
que era malevel e proporcionava maior aderncia ao se
caminhar sobre a neve. Disse saber trabalhar com o material
e que se disporia a fazer um par para ser experimentado.
Outros cinco soldados tambm informaram saber trabalhar
com o vime e se propuseram a ajudar.
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Meia hora depois, o primeiro par de solas havia sido tecido
e tiras de roupas foram usadas para dar um formato de botas
mesma.
Um dos oficiais se disps a experimentar o calado e o
aprovou. Era bem melhor que o piso duro das tbuas.
Ento foi dada a ordem de se produzir os demais pares de
solas para o restante do grupo e que os demais iriam
providenciando as tiras de pano.
Nisso, ouve-se um tiro proveniente da casa utilizada pelos
oficiais e v-se um soldado sair correndo de l, apavorado e
gritando que o tenente ferido havia atirado em sua prpria
cabea.
Um dos trs oficiais restantes, de nome Mrio, entrou
rapidamente na casa e constatou o que o soldado havia dito.Em um dos cantos da casa, jazia o corpo do tenente com uma
mancha de sangue na fronte esquerda e a pistola cada no
cho, prximo sua mo.
No foi preciso mais que um minuto para se descobrir o
porqu daquele gesto: o cheiro de carne podre se fez sentirenquanto os demais que ali se encontravam presenciavam a
cena: o ferimento na cocha do tenente havia gangrenado e
este sabia que no teria salvao, j que no dispunham de
remdios para a cura e nem de material para uma possvel
amputao do membro.
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Todos ficaram consternados com o ocorrido, cuja notcia se
espalhou rapidamente.
Porm, como nada mais poderia ser feito, o sub tenenteMrio, primeiro na escala militar ali presente, ordenou que se
enterrasse rapidamente o corpo do tenente e que suas roupas
fossem enterradas com ele, visto que a cala estava toda
manchada de sangue gangrenado. Seu par de botas e seu
casaco militar deveriam ser aproveitados aps bem lavados.
Ele informou que ficaria com o casaco e que as botas,pequenas demais para ele, seriam oferecidas aos outros
oficiais.
Aps o enterro do tenente, ocorrido por volta do meio-dia ,
constatou-se que mais cinco soldados que se encontravam
em uma das casas destinada aos feridos apresentaram sinais
de gangrena. O pnico se espalhou entre eles .
Os oficiais decidiram que pernoitariam naquela vila, para que
os soldados se recompusessem, descansassem os ps e
fizessem as adaptaes com o novo tipo de sola que seria
experimentado.
Ao anoitecer, depois de escalados os soldados que fariam a
vigilncia e seus turnos, todas as casas acenderam suas
fogueiras e rapidamente os ambientes se encheram de calor.
Era uma sensao de conforto que no tinham desde que
deixaram os trem na Ucrnia.
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Como jantar, as sementes de girassol foram distribudas e
aquela foi a nica refeio do dia.
No fosse pelo desconforto de acordar no meio da noite paraa ronda de vigilncia, esta teria sido uma noite perfeita, dentro
de suas limitaes e circunstncias.
Ao amanhecer, vrios soldados se espalharam pelas
imediaes para ver se encontravam algo que pudesse ser
utilizado, bem como alimentos.
Alm de alguns objetos de uso pessoal que de nada serviam,
nenhum alimento foi encontrado.
Assim, aps todos terem calados suas novas botas, os
soldados foram perfilados para reiniciarem a marcha. Porm,
uma notcia entristeceu a todos: os soldados feridos seriam
deixados para trs.
J havia vrios feridos com gangrena e, o restante dos feridos
graves, em poucas horas, estariam com o mesmo mal. Seria
como transportar cadveres.
Ento, s os 113 que tinham condies de continuar a marcha
seguiram em frente. Os oficiais foram dar palavras de nimoaos que ficariam, dizendo-lhes que a nica chance de vida que
tinham era a de serem capturados e enviados a um hospital
para serem tratados. Alm disso, mentiram dizendo que
retomariam a marcha em direo ao Este, a fim de pegar uma
pequena estrada pela qual haviam passado h 24 horas.
Tratava-se de uma mentira para que, caso fossem capturados
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com vida e torturados, no passassem, ao inimigo as
verdadeiras intenes do grupo.
Quando iam deixando o recinto, um dos feridos disse:Senhor, por favor, deixe-nos armas para que ns possamos
decidir o que fazer. Sabemos perfeitamente que se formos
capturados, vamos ser executados, pois, se algum chegar
vivo Itlia, ir denunciar a traio. Portanto, j estamos
destinados a morrer. Queremos decidir se vamos morrer por
vontade prpria, abreviando o sofrimento, ou se nas mos dosinimigos.
O subtenente Simone deu-se conta de que o temor discutido
entre os oficiais j era compartilhado por todos. Este assunto
j havia sido falado em uma reunio que o pequeno grupo de
oficiais teve naquela parada no campo de girassis. O mesmo
pressentimento j havia tomado conta de todos.
Ento o sargento Simone decidiu deixar com os feridos um
fuzil e cinco balas. E saram consternados, sem dizer mais uma
s palavra.
A tropa foi novamente comunicada da deciso de se deixar os
feridos sua prpria sorte e, temendo o que j havia sido
constatado, parecia que todos sabiam de sua real situao. Era
escapar ou morrer nas mos do inimigo, pois este, com toda a
certeza, no iria fazer prisioneiros. Todos ficaram mudos e
empreenderam a caminhada. Nada se poderia fazer pelos
amigos que ficariam para trs.
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XIARMADILHA PARA INIMIGO.
Sem outra opo, a tropa seguiu para o oeste, na esperana
de encontrar um caminho melhor e, principalmente,alimentos. A fome j dava sinais de presena entre os
soldados. A pequena poro de sementes de girassol foi
insignificante.
Passaram-se trs dias e os soldados no encontraram
alimentos. No caminho, pernoitavam mata adentro para no
serem surpreendidos. O frio era intenso e, como alimentao,
serviam-se de sopas feitas com razes de plantas locais. De
alguma forma, essas razes forneciam energia.
O novo calado base de vime e panos serviu melhor que as
solas de madeira. Os ps j no doam tanto, mas a umidade
neles era mais frequente. noite, sempre tinham que secar ovime e as tiras de lona.
No quarto dia, os soldados que formavam o grupo de
batedores voltaram com uma notcia: frente, cerca de uns
trs quilmetros, avistaram uma grande ponte, sendo que a
cabeceira do outro lado era guarnecida por um grupo de
soldados.
Este era o grande problema. Como chegar ao outro lado da
ponte sem serem percebidos pelos soldados inimigos?
Um dos oficiais ento, falou: No caminho, notamos o rastro
de veculos que se dirigiam ou voltavam da direo da ponte.
Portanto, vamos recuar alguns quilmetros e ficar na espreita
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para avistarmos qualquer veculo que passe pela estrada, em
direo ponte. Nossa esperana que possamos nos apossar
de um deles e, a sim, poderemos nos aproximar
despercebidos da cabeceira da ponte.
E assim fizeram. A tropa recuou uns 15km at o ponto da
estrada onde havia um pequeno monte, de cerca de 50 metros
de altura e que, de l, se tinha uma tima viso para ambos os
sentidos da estrada, j que esta fazia uma curva aberta
justamente para contornar este monte.
Esperaram cerca de seis horas, at que do lado Leste, em
direo ponte, viram aproximar-se dois caminhes militares.
Um deles tratava-se de um veculo de carga e o outro,
certamente, por ter uma cobertura de lona, deveria trazer
soldados para a escolta. Devido s condies da estrada,
muito lamacenta por conta da neve sobre o solo de terra, sua
velocidade no era superior a 20 km por hora. Calcularam que
atingiriam o ponto da curva onde a tropa se encontrava em
cerca de trinta minutos.
Rapidamente, utilizando-se dos quatro machados que haviam
recolhido na vila perto de Rostov, derrubaram uma pequenarvore na estrada, mas de tamanho suficiente para que
provocasse a parada dos veculos.
Trs grupos de soldados se esconderam na mata da margem,
prepararam seus fuzis e receberam ordens de atirar no
caminho com a lona assim que os veculos comeassem a
parar. Ordens foram dadas para no se atirar na cabine, pois,
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poderia danificar os controles e os motores. Caso os soldados
das cabines reagissem, haveria um grupo especial para atirar
somente neles, com pistolas.
Os grupos se postaram justamente no lado da estrada que
encostava no monte, visando dificultar a viso dos soldados
inimigos quando percebessem a cilada.
Eis que, alguns minutos depois, o primeiro caminho surgiu na
curva. Cerca de 50 metros adiante, o motorista deste
percebeu a rvore cada na estrada e diminuiu a velocidade. O
caminho com a escolta, que vinha logo atrs, tambm teve
de diminuir a marcha. Neste momento, o oficial deu a ordem
de abrir fogo e, 30 segundos depois, os dois veculos pararam
e os ocupantes das cabines saram atirando com pistolas,
enquanto um pequeno grupo de soldados que havia sado
ileso do tiroteio dirigido ao segundo veculo tambm pulava
da carroceria e preparava-se para atirar.
Ento, o grupo que estava aguardando a reao dos soldados
das cabines abriu fogo e fuzilou os quatros soldados, enquanto
que os demais dizimavam o pequeno grupo de inimigos que
saltara da carroceria do caminho da escolta.
Aps se certificarem que no havia mais sobreviventes, os
soldados italianos se aproximaram dos caminhes e dos
inimigos mortos e contaram vinte e oito corpos.
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Imediatamente, mesmo sem receberem ordens para tal, os
primeiros soldados se aproximarem e subiram nos caminhes
para verificar se estes transportavam algum tipo de alimento.
Para decepo geral, o primeiro veculo transportava munio
para canhes e o segundo, o da escolta, transportava pequena
quantidade de rao individual dos soldados que, pelo visto,
estavam prximos de seu destino, j que havia o suficiente
para mais duas refeies.
A muito custo, os oficiais contiveram o desespero dos
soldados, e ordenaram que o alimento fosse primeiro
inventariado, para que, depois, fosse distribudo em partes
iguais.
Antes disto, precisariam despir os inimigos mortos, esconder
seus corpos na mata e retirar os veculos da estrada.Em uma vala de pouco mais de um metro de altura, a cerca de
20 metros da estrada, os corpos foram atirados e, sobre eles,
jogaram uma camada de neve de aproximadamente 20
centmetros.
Somente no prximo vero aqueles corpos seriamdescobertos.
A neve com sangue na estrada foi atirada na mata, os vestgios
do tiroteio foram apagados e os caminhes direcionados por
uma brecha que havia entre as pequenas rvores. Rezaram
para que no passasse nenhum outro veculo inimigo at que
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nova camada de neve cobrisse a estrada. E assim, aguardaram
at o anoitecer.
Antes que a noite casse, os alimentos (pes pretos, queijos eum tipo de pasta parecida com creme de amendoim) foram
distribudos entre os soldados. Tambm haviam recolhido
duas garrafas de vodka. Toda a rao foi consumida. Com a
fome que estavam, no havia condies de deixarem parte
para uma outra refeio.
Ento, os oficiais traaram os planos para o ataque ponte na
manh seguinte.
O plano era vestir vinte e oito soldados com os uniformes
russos, arm-los com os fuzis capturados e tentar se aproximar
da guarnio de soldados inimigos do outro lado da ponte.
Calculou-se que havia cerca de vinte e cinco deles. Teria de seruma ao rpida e sem chance de reao para o inimigo, j
que eles deviam contar com um rdio de comunicao e um
alerta poderia ser passado durante o combate.
Duas granadas que haviam sido encontradas na boleia de um
dos caminhes seriam utilizadas no ataque cabine na
cabeceira da ponte, cabine esta que deveria ser utilizada pelos
oficiais e pelo operador de rdio, juntamente com o
equipamento.
Um grupo de quinze soldados que j possua experincia de
combate foi inteiramente indicado para a misso. Seriam os
primeiros a atirar. O grupo foi completado com mais treze,
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entre eles Salvatore e seu amigo Paulo. Salvatore, Paulo e mais
cinco soldados formaram um grupo que ficou encarregado de
invadir a cabine, capitaneados por um dos oficiais e outro
soldado experiente, os quais atirariam as granadas na cabine
antes que os soldados adentrassem nela. Salvatore tremeu:
seria sua primeira experincia de combate. At ento, sua
nica experincia havia sido a de escapar do bombardeio em
Rostov e fugir pelas estradas russas.
Antes de dormirem, descarregaram parte da carga demunio, deixando um vo entre as pilhas laterais. Neste vo
ficariam escondidos os soldados do primeiro caminho a
cruzar a ponte. No outro, iriam o restante, acobertados pela
lona, que, apesar de ter muitos furos provocados pelo tiroteio,
ainda se encontrava em condies de uso.
Os soldados que participariam da ao dormiram nos
caminhes, juntamente com outros que coubessem, e o
restante dormiria debaixo da lona e dos abrigos feitos com
ramagem. As caixas de munio retiradas do caminho, depois
de esvaziadas, serviram de estrado para os soldados.
Na manh seguinte, um grupo se dirigiu ao alto do monte paraver se algum veculo se aproximava. Deram o sinal de que
estava tudo bem e o grupo de soldados que no participaria
da ao saiu em marcha, em direo ponte. Estes
aguardariam os caminhes chegarem e dariam apoio aps
iniciado o tiroteio.
7/21/2019 Salvatore Gardi
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Uma hora depois, os soldados que estavam no monte se
juntaram ao grupo dos caminhes e estes partiram em direo
ponte.
Passaram-se uns trinta minutos at que os caminhes
alcanaram o grupo que sara p e este passou as
informaes que precisavam: a situao era a mesma de
ontem. O grupo de soldados era o mesmo e a recontagem dos
inimigos ficou em vinte homens visveis, fora os que estavam
na cabine que, pelo tamanho, no comportava mais de cincosoldados. Ao lado da cabeceira da ponte, havia 2 caminhes,
que certamente serviam de abrigo para os soldados. Durante
o tempo que o grupo ficou espionando os russos, ningum
sara ou entrara nos caminhes.
Pelo visto, todos se encontravam em servio. As instrues
foram repassadas e os dois caminhes comearam a marcha
em direo ponte. O campo de viso entre onde se
encontravam os soldados que iriam apoiar a ao e a
cabeceira da ponte era de cerca de 500 metros. Se a ao no
fosse rpida e precisa, o grupo de apoio pouco poderia fazer
para ajudar. A distncia era longa.
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XII - A PRIMEIRA BATALHA.
Quando os caminhes foram avistados pelos russos, estes se
perfilaram para receber o comboio. Tudo estava igual atchegarem na cabeceira Leste da ponte. Ao entrarem nela,
viram um oficial sair da cabine e se juntar aos soldados: havia
dois russos perto de um cavalete que ficava exatamente no
fim da ponte e duas fileiras de homens, uma de cada lado, a
uns 10 metros da ponte. O oficial russo juntou-se aos dois
soldados do cavalete e os caminhes seguiram ponte adentro,mantendo a mesma velocidade, para no causar suspeitas.
Tudo seguia normalmente at atingirem a metade da ponte,
quando os