SABRINA -1638
PASSANDO DOS LIMITES- DONNA KAUFFMAN
ROMANCE POR ACASO - FERN MICHAELS
ROMANCE POR ACASOTudo o que o esquiador olmpico Max Jorgenson
desejava era ficar sozinho em sua cabana nas montanhas. Contudo, ao
abrigar ali a assistente social Grace Landry, durante uma
tempestade de neve, Max no imaginava como aquela jovem encantadora
iria mudar sua vida, seu corao e seus sonhos para o futuro...
PASSANDO DOS LIMITES
A autora de best-sellers Bree Sullivan foi para a Esccia na
esperana de fugir dos paparazzi e isolar-se do mundo. Quando um
inesperado temporal a fez perder a direo do carro e cair num
riacho, ela foi resgatada por um pastor de ovelhas, e nada mais
nada menos que o homem mais lindo e sexy que ela j viu. E, de
repente, ficar sozinha passou a ser a ltima coisa.TTULO ORIGINAL:
NIGHT WATCH (BAD BOYS IN KILTS / SNOW ANGELS
Disponibilizao: Mccayres Digitalizao e reviso: Marina
ROMANCE POR ACASO
Captulo I
Sexta-feira, 19 de dezembro de 2008 Eagle Colorado.Grace Landry
olhou pelo retrovisor para verificar se Ashley e Amanda, suas
companheiras daquela noite, estavam bem. Ficara satisfeita quando
Stephanie, a me das meninas, permitira que as levasse ao teatro
pela primeira vez. As duas garotas dormiam a sono solto no banco de
trs da van.
Precisavam de algum divertimento e de certa normalidade em suas
vidas j to tristes e vazias. Percebeu os olhos marejados ao
lembrar-se das duas carinhas assustadas, quando o carro de polcia
chegara com elas e a me na Hope House, havia apenas quatro
dias.
Como psicloga, Grace fora testemunha de inmeros casos de abuso
de mulheres, desde que se formara nove anos atrs.
Quando recebera uma propriedade de herana da av, fundara a Hope
House, um abrigo para mulheres vtimas de qualquer tipo de violncia
e seus filhos, colocando a instituio disposio das autoridades de
Denver e dos arredores.
Sua esperana era de que a casa fosse lembrada como sendo um
lugar onde essas mulheres pudessem se recuperar e voltar a pensar
no futuro. Porm, o mais importante, que fosse um refgio onde
houvesse plena segurana.
Gypsum era uma cidade pequena e isolada, o lugar perfeito para
esse tipo de abrigo. Grace fora bem-sucedida no empreendimento e
jamais lamentara sua deciso. Sua me se preocupava, pois a casa
ficava em uma rea quase deserta, mas esta estava exatamente na rea
de maior carncia.
Uma neve fina comeou a cair. Grace ligou o limpador de
para-brisa, dizendo a si mesma que deveria mandar instalar
correntes em seus pneus.
A uma pequena distncia de onde estava, notou luzes azuis e
vermelhas piscando. Rezando para que no fosse um acidente, ligou o
rdio, localizando uma estao que fornecesse informaes sobre o
trnsito. As notcias davam conta de uma nevasca, mas nada incomum
naquele trecho da estrada. Talvez fosse apenas algum carro
quebrado.
Teve de diminuir a velocidade de novo. Quanto mais se aproximava
das luzes, mais lenta tornava-se a fila de carros. Depois de alguns
minutos, o trfego parou totalmente. Ela olhou para o relgio digital
no painel do automvel. Eram mais de dez da noite. Prometera a
Stephanie que chegaria com as crianas por volta das onze horas.
Porm, naquele ritmo, teria sorte se chegasse antes de
meia-noite.
Quando viu os policiais bater no vidro, achou que fosse uma
fiscalizao de rotina, por isso apanhou na bolsa a carteira de
motorista. Ao abaixar o vidro, sentiu o ar gelado e alguns flocos
de neve atingiram seu rosto.
Obrigado, senhora, mas no se trata de fiscalizao. Estabelecemos
diversos bloqueios nesta rea e estamos desviando o trfego.
Oh, meu Deus! Um desvio na estrada quela hora da noite, era
bastante estranho. Espero que no haja nenhum maluco aterrorizando
as pessoas por a.
No precisa se preocupar. Estamos cuidando de tudo. Se a senhora
pegar a prxima sada para Eby Creek Road, encontrar outro oficial
que lhe dar mais informaes. Estamos tentando isolar esta rea o mais
rpido possvel.
Claro, oficial, obrigada.
Grace fechou os vidros e seguiu a longa fila de veculos sua
frente. Olhou para o banco de trs e sorriu ao ver que as duas
meninas ainda dormiam.
A neve voltou a cair ainda mais forte e foi preciso ajustar o
limpador de para-brisa. Pisou levemente nos freios quando comeou a
descer a colina e quase parou ao ver outro grupo de carros de
polcia com suas luzes piscando.
Pela segunda vez, abaixou os vidros quando um policial
aproximou-se de sua van.
Para onde a senhora vai? perguntou ele. Estamos tentando
orientar as pessoas e causar o menor dano possvel.
Para Gypsum respondeu ela, bastante desconfiada.
Siga nesta estrada pelos prximos dez quilmetros, mais ou menos.
Depois, entre esquerda na estrada de acesso a Trail Gulch Road.
Isso a levar de volta estrada para Gypsum.
Depois de dizer ao policial que conhecia razoavelmente a regio,
repetiu as instrues e acelerou. Quando notou que nenhum dos outros
veculos seguia na mesma direo, sentiu um pouco de medo de estar
sozinha numa parte to remota da estrada. Bem, mas a Hope House
tambm ficava em um lugar remoto, o que explicava porque todos os
outros veculos estavam viajando na direo contrria.
Amanda mexeu-se no banco e Grace olhou pelo retrovisor. Pssima
hora para as meninas acordarem. Stephanie havia comentado sobre o
pavor que elas tinham da escurido. E, com exceo de alguns anncios
de lanchonetes, motis e da luz dos faris, a estrada era
completamente escura.
Depois de dirigir bem devagar por cerca de dez minutos,
verificou o marcador. Havia percorrido menos de cinco quilmetros.
Com medo de perder a entrada esquerda, diminuiu ainda mais a
velocidade.
Algum tempo depois, verificou novamente a quilometragem e checou
que j viajara outros cinco quilmetros. Respirou fundo, tentando
concentrar-se na estrada, mas com a neve caindo mais forte, era
quase impossvel ver alguma coisa poucos metros sua frente.
Na esperana de acalmar os nervos, mudou a emissora de notcias
por uma que tocava alegres msicas. Comeou a cantarolar junto, mas
parou com receio de acordar as crianas.
Percebendo que, de alguma forma havia perdido a tal sada, depois
de andar mais alguns quilmetros, parou no meio da estrada, tentando
se convencer de que no tinha a menor perigo parar ali. Afinal era a
nica pessoa, maluca o suficiente para perder-se em uma via
secundria, com a nevasca piorando a cada minuto. Lembrando-se das
instrues dadas pelo policial, tomou um retorno e voltou pelo mesmo
caminho.
Mesmo prestando bastante ateno e olhando de ambos os lados, no
conseguiu ver, nem esquerda, nem direita, uma sada para as rodovias
vicinais.
Agarrada ao volante e olhando para trs ocasionalmente para ver
as meninas, dirigiu por mais quinze minutos, at concluir que no
havia sada alguma. Os policiais, provavelmente, tinham se
enganado.
Lamentando no ter um carro equipado com GPS, lembrou-se de que
seu celular tinha uma verso rudimentar do sistema. Ao retir-lo da
bolsa, em vez da luz verde de boas-vindas, deparou-se com uma tela
to negra quanto a noite l fora. A bateria havia acabado.
No era esta uma das primeiras regras que ensinava s mulheres
abrigadas na Hope House, quando distribua os celulares
pr-programados? Nunca deixe seu aparelho sem bateria, pois nunca se
sabe quando vai precisar digitar os nmeros que podero salvar sua
vida.
Entretanto, ali estava ela, noite, no meio de lugar algum, com
duas garotinhas sob seus cuidados, sem nenhum meio de entrar em
contato com algum.
Decidindo que o policial poderia ter calculado mal a distncia,
continuou dirigindo procura de um posto de combustvel, ou qualquer
lugar onde pudesse telefonar e avisar a me das meninas, que estavam
bem. J haviam passado por muita coisa ruim em suas vidas e no
precisavam de mais uma. E algo lhe dizia que as estava colocando em
risco outra vez.
Depois de dirigir por um tempo que pareceu uma eternidade, s
depois de meia-noite foi que saiu da estrada e estacionou o carro.
Temendo o que estava a ponto de fazer, mas ciente de que era a nica
sada, voltou-se para o banco de trs e, com delicadeza, acordou as
duas pequenas.
Tia Grace, onde est a mame? perguntou Ashley, sonolenta.
Amanda, ao ouvir a pergunta da irm, pulou do banco.
A mame est bem?
Grace pde sentir o medo na voz da menina.
Ela est na Hope House, lembram-se? Tentava ganhar tempo para
elaborar um plano que no tivesse nem um efeito danoso sobre as
crianas, agora bem acordadas.
Mas a gente j devia estar em casa, no ? questionou a menina mais
velha, de oito anos.
Sim, querida, mas peguei a estrada errada e estou perdida. No
queria assustar vocs, sinto muito. S preciso ligar para sua me ou
para o abrigo e avisar que est tudo bem.
Aquilo pareceu acalm-las. Grace apanhou sua jaqueta, satisfeita
por ter escolhido uma bem pesada, pois estava a ponto de
aventurar-se na noite, nas baixas temperaturas do Colorado para
procurar ajuda.
Ento por que no est ligando? perguntou Amanda, com um trao de
ansiedade.
Grace teve de admitir que no era, naquele momento, a imagem de
confiabilidade que apresentava s garotas, quando as convenceu de
que uma noite longe da me seria divertida.
Relutante, confessou que o celular no estava funcionando. L de
trs, dois pares de olhos castanhos a fitavam, com ansiedade.
Voc no pode deixar a gente aqui sem a companhia de um adulto.
Mame diz que ns nunca devemos ficar sozinhas, no Amanda?
A mais nova, de apenas cinco anos, concordou com um sinal de
cabea.
Abalada pelo olhar desconfiado das meninas, Grace inclinou-se e
afagou-as nas cabeas.
Meninas, eu jamais as deixaria sozinhas! O que eu quis dizer foi
que vocs tero de vir comigo. Podemos fazer de conta que isso ...
uma caa ao tesouro. Quem encontrar um telefone primeiro poder
enfeitar a rvore de Natal do jeito que quiser. Feito?
Feito! responderam as duas em unssono, com os olhos brilhando e
a esperana renovada.
Ento, vistam todos os agasalhos que tiverem, pois est mais frio
do que hoje cedo.
Grace ajudou-as a colocar gorros e luvas, apanhou uma lanterna e
uma garrafa de gua, que colocou na bolsa e tomou as duas meninas
pelas mos. A neve estava to espessa, que mal conseguiu distinguir a
van depois de ter se afastado alguns metros.
Olhando para o cu, tentou determinar que direo seguir, mas ao
contrrio do que via em filmes, no havia estrelas para gui-la.
Nada.
Decidindo caminhar na mesma direo em que estivera dirigindo,
apertou as mos das meninas e enfrentou a noite fria e escura. De
tempos em tempos paravam para recuperar o flego. A altitude e o
esforo da caminhada seriam um desafio at para atletas bem
treinados.
Depois de andar estrada acima por quase uma hora, Ashley soltou
sua mo e apontou uma luz frente.
Olhe!
O corao de Grace deu um salto de alegria. Graas a Deus! No topo
da colina viu janelas com luzes acesas, refletindo os quadrados
amarelos sobre a neve.
Creio que Ashley poder escolher a rvore e os enfeites. Vamos,
garotas, vamos correr antes que nossa sorte acabe. Na verdade, no
sabia por quanto tempo mais aguentariam aquele frio e o vento, pois
j eram quase duas da manh. Pensou em Stephanie, e em como ela
deveria estar preocupada com as filhas. Com certeza, jamais
voltaria a confiar nela. Com raiva de si mesma, bateu com fora na
porta de uma casa pr-fabricada de madeira.
Max Jorgenson acordou de um sono profundo quando Cliff e Ice-D,
os dois huskies siberianos, colocaram as pesadas patas sobre seu
peito. Quando os ces perceberam que os olhos do dono estavam
abertos, comearam a latir e a correr em crculos, em volta do sof de
couro, onde ele repousava.
Olhando ao redor, passou as mos pelos cabelos. Cara no sono
outra vez com as luzes acesas e a televiso ligada. Cliff esfregava
o focinho em sua mo quando ouviu uma batida na porta da frente.
Mas que diabos isso? perguntou ainda meio tonto, dirigindo-se
para a frente do chal, como costumava dizer. Se fosse alguma
emergncia na estao de esqui, o administrador estava bem avisado
para no incomod-lo. Olhou para o relgio sobre a lareira. Faltava
pouco para amanhecer.
As batidas continuaram.
Eddie, se for voc, considere-se despedido! Abriu a pesada porta,
esperando ver o gerente da Maximum Glide, a estao de esqui que
possua em Telluride.
Entretanto, o que viu, deixou-o sem voz. Levou alguns segundos
para recuperar-se da surpresa e, como de hbito, passou as mos pelos
cabelos castanhos despenteados.
Vocs devem estar na casa errada. Foram as nicas palavras que
conseguiu pronunciar, ao deparar-se com duas garotas com casacos
cor-de-rosa e gorros combinando, ambas com enormes olhos cor de
chocolate e a me delas, com lindos olhos verdes, olhando para
ele.
Por favor, poderamos usar seu telefone? disse Grace e, ento,
afastou-se quando os dois ces se aproximaram.
Sim, porque nosso pai...
Agora no, querida interrompeu Grace. Percebendo que as trs
estavan congelando naquele frio,
Max abriu espao para que elas entrassem.
Quietos, rapazes disse aos animais. Depois dirigiu-se s visitas
inesperadas. Venham, est muito frio a fora.
Grace tomou as duas crianas pelas mos e entraram. Os rostos
estavam avermelhados quando se mostraram luz da sala.
H quanto tempo esto fora de casa com esta temperatura?
H vrios bloqueios e desvios na Eagle. Os policiais me mandaram
vir nesta direo, mas acho que perdi a sada. Grace tocou na bolsa
que trazia no ombro. E a bateria de meu celular acabou. s
E aposto que seu carro quebrou ou ficou sem combustvel adivinhou
ele.
No, no foi isso disse ela, com um meio sorriso.
Ento, j sei. Decidiu levar suas filhas para um passeio no meio
da noite, numa tempestade de neve. Com uma ponta de sarcasmo, Max
continuou a provoc-la.
Pela expresso dela, viu que ficara furiosa. No pretendia que o
comentrio fosse ofensivo, mas no se importava em ser gentil com
estranhos que batiam sua porta. S desejava saber que tipo de me
arrastaria as filhas pelas ruas numa noite como aquela.
Na verdade, quando no encontrei a sada... Oua, s preciso usar
seu telefone e ento iremos embora. Assim que...
Por aqui interrompeu-a com um gesto de impacincia
Tia Grace, podemos brincar com os cachorros? perguntou Amanda,
quando os animais puseram-se no caminho.
Grace olhou para os ces e depois para o dono deles. Gostava de
animais, mas sabia que alguns poderiam ser agressivos. No parecia
ser o caso, porm j havia arriscado demais aquelas crianas por uma
noite.
Podem brincar com eles disse Max a Amanda. Eles so mansos.
Ambas olharam para Grace, pedindo permisso. Se o Sr... Ela
parou, pois no sabia o nome dele. Sim, podem brincar com os
cachorros, enquanto fao o telefonema para casa.
Meu nome Max Jorgenson.
Grace olhou longamente para ele, antes de oferecer-lhe a mo
gelada. Aquele homem no era estranho, mas no conseguia situ-lo em
sua memria.
Grace Landry.
O anfitrio, se que podia consider-lo assim, era muito mais que
simptico, embora um pouco seco. Com cabelos castanhos dourados e
olhos azuis, adornados por clios espessos, e o corpo perfeito, a
palavra "sexy" no faria justia quela figura masculina. Grace no pde
deixar de admirar os ombros largos e o peito musculoso, que
terminavam numa cintura estreita. Percebeu tambm o jeans surrado,
que delineava o traseiro perfeito.
Max ofereceu-lhe a mo, mas deteve-se. Prometera a si mesmo que
depois da morte de Kayla, no tocaria em outra mulher.
Naquele momento, no entanto, a promessa pareceu estpida e
irracional. Afinal, tinha trinta e seis anos de idade. Conseguiria
viver o resto da vida sem tocar em outra mulher? Sem companhia, sem
amor, sem sexo? Desde a morte de Kayla havia dois anos, nunca mais
pensara sobre o sexo oposto. No at que aquele... anjo da neve
aparecesse em sua porta.
O telefone fica na cozinha, por aqui.
Sem se importar em virar-se para ver se estava sendo seguido,
ele prosseguiu at a cozinha. No trajeto, aproveitou para apreciar a
bela casa. Grossos troncos de pinheiro formavam a maioria das
paredes do chal. A luz do sol infiltrava-se pelas janelas enormes,
do teto at o cho, que davam para as montanhas, revelando o cu azul,
cheio de nuvens e os picos cobertos pela neve eterna.
O projetista que contratara havia usado tons de verde profundo,
contrastando com o alegre vermelho-ma. Toda a decorao brincava com
essas duas cores, nos armrios da cozinha, nas louas, nos quadros...
Enfim, havia tudo para dar casa um ar jovial. Entretanto, faltavam
alguns toques pessoais, como uma lista de compras pendurada na
geladeira, loua suja, ou um pano de pratos largado sobre a pia. Em
vez disso, a cozinha parecia pronta para ser fotografada para uma
revista de decorao. Max no se lembrava de j ter feito uma refeio
completa ali.
Aqui est o telefone. Ele apontou para um pequeno balco onde
havia um laptop. O monitor de luz azulada era to impessoal quanto o
restante do ambiente. Ao lado deste, um telefone sem fio.
Obrigada Grace disse, esperando que ele sasse da cozinha e lhe
proporcionasse um mnimo de privacidade, porm quando ele no se
moveu, discou rapidamente seu nmero particular na Hope House.
Como nada aconteceu, discou novamente, esperando ouvir o bip
caracterstico depois de cada nmero. Levou o fone ao ouvido e no
ouviu nada. Tentou pela terceira vez e ainda assim, nada.
A linha costuma cair quando h tempestades de neve Max
avisou.
O senhor tem um celular que eu possa usar? Preciso muito fazer
esta ligao. As meninas precisam... Apontou para as duas que agora
divertiam-se com os ces S preciso dar esse telefonema e iremos
embora.
Estava a ponto de contar a ele que a me das crianas precisava
saber que elas estavam a salvo, mas achou melhor no comentar
nada.
Recostando-se de maneira displicente em uma das paredes de
troncos, Max alegou que jamais tivera vontade de possuir um
celular.
Desesperada, Grace tentou mais uma vez, ainda sem sucesso.
Compreendendo, afinal, que era intil continuar tentando fazer uma
ligao em um telefone que no funcionava, colocou o aparelho de volta
base.
Sem saber o que dizer, passou por Max em direo sala,
aproximando-se de onde estavam as garotas. Esfregou as mos para
aquec-las, temendo a deciso que teria de tomar, porm no tinha
escolha.
Meninas, agradeam ao sr. Jorgeson pela hospitalidade. Temos de
ir embora. Agora acrescentou com firmeza.
Posso perguntar para onde pretende ir?
Surpresa pela audcia do questionamento, Grace virou-se e olhou-o
bem nos olhos.
Na verdade, Sr. Jorgeson, acho que no de sua conta. Obrigada por
me deixar usar seu telefone. Virou-se e falou com as meninas, com
voz mais doce: Amanda, Ashley, est na hora de irmos.
Mas...
Vamos, meninas, est na hora. Pegou as duas pelas mos. Vistam
seus casacos. Ainda est muito frio l fora.
Ouviu passos pesados atrs de si.
Oua, no sei qual o seu problema, mas no pode sair daqui com
estas meninas agora. A nevasca est cada vez pior.
Max apontou para a janela com vista para a montanha. Grace sabia
que ele estava certo, mas que opo tinha ela?
Vamos voltar para o carro. Tenho certeza de que alguma patrulha
vai nos encontrar. De sbito percebeu que estava sendo teimosa.
Expor as garotas outra vez a temperaturas to baixas no era uma idia
das mais inteligentes, mas quando chegassem at a van, ligaria o
aquecedor. Claro que no era um grande plano, contudo era o melhor
que poderia imaginar naquelas circunstncias.
Frustrado, Max passou as mos outra vez pelos cabelos
desalinhados.
Por que no passam a noite aqui? H muitos quartos vazios. De
manh, eu mesmo as levarei at a van.
Por favor, tia Grace. Vamos passar a noite aqui. Podemos brincar
um pouco mais com os cachorros, por favor insistiu Amanda.
Seria a melhor opo. Na verdade, a nica opo. Pelo bem das
meninas, ela engoliu seu orgulho.
Est bem, sr. Jorgeson. Aceitaremos sua hospitalidade, mas s para
passar esta noite. Voltou-se para ele e viu que o havia
surpreendido por ter aceitado a oferta.
Sua vontade era dizer a ele para esquecer tudo c sair dali o
mais rpido possvel, mas tinha duas crianas para cuidar.
Se me mostrar onde poderemos ficar, eu arrumarei tudo ofereceu,
sabendo o quanto aquilo estava sendo difcil para ele tambm.
Que tal um chocolate quente para todo mundo? Max perguntou,
olhando para as garotas.
No ser necessrio, porm agradeo pela boa vontade.
Estou com fome Ashley choramingou. E com sede tambm. E preciso
ir ao banheiro.
Eu tambm Estou morrendo de fome Amanda fez eco, porm com maior
nfase.
Bem, acho que falei cedo demais. Grace ergueu uma
sobrancelha.
Max no saberia dizer de onde veio aquela sbita vontade de ser
hospitaleiro, mas quando viu a excitao das crianas, seu corao se
derreteu. Que tipo de homem deixaria uma mulher e duas crianas se
aventurar ao relento, naquele horrio?
Sem' dvida, ele mesmo. Se no estivesse escuro e to frio, era
exatamente o que faria. Ao voltar a ser mais racional, desejou
retirar o convite, achar outra garrafa de usque e voltar a
dormir.
Entretanto, a expectativa nos olhos das meninas, nocauteou lhe a
razo de uma vez. Afinal aquela era a deciso mais adequada. Era o
que Kayla teria feito, se ainda estivesse presente.
O banheiro por ali. Ele apontou para uma porta embaixo da
escada.
Obrigada. Grace conduziu as meninas at a pia. Em seguida,
ajudou-as a usar o toalete e a lavarem as mos.
Voc no conseguiu avisar a mame, no ? perguntou Amanda.
Grace sabia que no poderia evitar aquela pergunta e resolveu
dizer a verdade.
No, mas ser a primeira coisa que farei quando o sr. Jorgeson nos
levar at daqui amanh. explicou.
Aposto que a mame deve estar muito assustada. Ela sempre quer
saber exatamente onde ns estamos comentou Amanda.
Grace sentiu um n na garganta.
Sei que ela deve estar preocupada, mas agora no h nada que
possamos fazer.
As garotas a encararam com o medo estampado nos olhos.
Mas e se o papai...
Ele no sabe que estamos aqui, querida. E o que acham de no
falarmos dele o resto da noite? Grace no queria que seu anfitrio
soubesse mais que o necessrio. As duas concordaram. Ento, vamos
comer alguma coisa e descansar.
Com as garotas perto de si, conseguiu relaxar um pouco. Elas
estavam seguras, por enquanto e aceitaram e deciso sem
reclamar.
Se ao menos conseguisse lembrar-se de onde conhecia Max
Jorgeson...
Quando chegaram cozinha, o dono da casa estava despejando gua
quente em quatro canecas vermelhas.
S tenho chocolate instantneo desculpou-se, apontando para os
envelopes que acabara de despejar nas canecas.
Obrigada, sr. Jorgeson. Apreciamos muito sua hospitalidade e
isto tudo o que as crianas precisam para se aquecerem um pouco.
Grace misturou a bebida e pediu s duas que se sentassem mesa.
Podemos dar um pouco para os cachorros? perguntou Amanda,
enquanto se acomodava na cadeira.
Ei! Nunca, mas nunca mesmo d chocolate para os cachorros! Max
foi logo dizendo em tom seco.
Imediatamente, as duas meninas comearam a choramingar, os rostos
transformados em duas mscaras de medo. Grace correu para elas.
Calma, meus amores. O sr. Jorgeson no quis assust-las e ele no
pretendia gritar, no mesmo? - Ela lanou um olhar mortal a ele.
Desculpem, claro que no. Achei que todo mundo soubesse que no se
deve dar chocolate a cachorros.
Pode at ser, mas esse universo no inclui garotinhas de cinco e
de oito anos, Sr. Jorgeson. Se no fosse pelo tempo, que piorava a
cada minuto, Grace teria partido naquele minuto. A ltima coisa de
que aquelas crianas precisavam era de um homem gritando com
elas.
Sinto muito Max resmungou.
Tenho certeza de que sente. Garotas, terminem essa bebida logo.
Grace tinha vontade de gritar com ele e contar o que aquelas duas
criaturas inocentes j haviam passado em suas vidas to curtas, mas
ele no tinha nada a ver com isso. Alm do mais, nunca discutia
assuntos ntimos com estranhos.
Ela usou a manga de seu suter para secar as lgrimas das
crianas.
Est tudo bem. Vamos para o quarto e eu conto a vocs uma bela
histria. Dirigiu outro olhar acusador a Max, pretendendo que ele se
envergonhasse da m-criao que havia feito.
E a rvore? Ainda vou poder escolher a decorao? Os olhos de
Amanda, j sem trao das lgrimas, brilharam animados.
Claro. Agora venham, vamos dormir. Antes que percebam, j ser de
manh e vocs vo precisar de muita energia para escolhermos uma rvore
e enfeit-la.
A idia pareceu agrad-las e, como Max no havia dito onde poderiam
dormir, Grace tomou a iniciativa.
Poderia nos mostrar o quarto, por favor?
Passando a mo pelos cabelos e, depois de pensar um pouco, ele
convidou:
Venham por aqui.
Sem largar as mos das meninas, Grace acompanhou o anfitrio,
tentando olhar para qualquer coisa, menos para o traseiro dele.
Subiram at um mezanino onde havia vrias prateleiras cheias de
trofus. Nas paredes, capas de revistas emolduradas e, em um lugar
de destaque, uma medalha de ouro olmpica. Foi ento que Grace
lembrou-se de onde o conhecia.
O senhor o campeo olmpico de esqui! exclamou, de repente.
Sim, sou eu mesmo confirmou ele, com mais sarcasmo do que seria
necessrio. Parou no fim do corredor, abriu uma porta e acendeu as
luzes. Esta uma cama king-size. Deve acomodar vocs trs. Ali fica o
banheiro, se quiserem tomar um banho.
Apontou para uma porta entreaberta, e o que Grace viu, a fez
prender a respirao. S aquela sute era do tamanho de todo o andar
trreo da Hope House. A moblia de pinho combinava com as paredes de
madeira e cada pea parecia ter sido feita sob medida, para
ajustar-se exatamente em seu lugar. Quadros com cenas de inverno
estavam dispostos elegantemente nas paredes. Sobre a enorme cama no
centro do quarto, um pesado cobertor convidava para seu calor e
maciez. O banheiro era to exuberante quanto o restante da casa. Uma
banheira profunda, capaz de acomodar pelo menos seis pessoas,
ficava sob um piso de vidro, de onde se podia ver o azul-escuro da
noite. Grace ficou imaginando como seria a vista durante o dia. Com
certeza, no houvera economia na construo daquela casa. Para no
demonstrar que estava impressionada, ela apenas agradeceu.
Est muito bom, obrigada. Desejando colocar logo as meninas na
cama, comeou a ajud-las a tirar os vestidos, quando ouviu a voz de
Max.
Tenho algumas camisas de flanela bem quentinhas que elas podem
usar. Sem dizer mais nada, ele saiu e voltou depois de alguns
minutos com trs camisas, verde, vermelha e branca, as cores do
Natal. Grace tinha certeza de que no era intencional, j que no
havia qualquer tipo de decorao natalina na casa. Kicou tocada com a
gentileza.
muita bondade sua, sr. Jorgeson.
Max, apenas. Sr. Jorgeson o meu pai disse ele, j da porta.
Surpresa com a mudana de comportamento, Grace ficou imaginando o
que a teria motivado. Talvez tivesse tomado conscincia de que elas
ficariam apenas por poucas horas e tivesse decidido fazer o melhor
possvel para sair daquela situao desagradvel. Querendo que as
meninas descansassem, ela achou melhor no argumentar.
Est bem, ento, obrigada.
Max, porm, continuou parado porta. Grace desejava que ele fosse
embora, mas algo lhe dizia que a noite ainda no havia acabado.
Continuou a olhar para ele, enquanto as garotas apanhavam as
camisas.
Podem se trocar no banheiro, meninas.
Por que elas a chamam de tia Grace? Max quis saber. Por que ele
estaria fazendo aquela pergunta?
Elas comearam a me chamar assim e eu gosto. No vejo nada de mal
nisso.
E qual o problema em ser chamada de me? Max cruzou os braos
sobre o peito, assumindo uma postura arrogante.
Grace sorriu, no desejando entregar logo a resposta.
Mal algum. Nem passaria por minha cabea chamar minha me de outra
maneira.
Ele deu duas grandes passadas e, de repente, estavam frente a
frente.
E mesmo assim, no permite que suas filhas a chamem de me!
Grace respirou fundo, sorriu e finalmente explicou:
Elas no so minhas filhas.
,Ah, no? Desculpe, pensei que fossem. E elas so o qu, ento?
No sou casada respondeu ela, divertindo-se com aquele rpido
duelo verbal.
Escute aqui, eu estou cansado. Ou voc me conta o que quero
saber, ou logo de manh cedo vou entrar em contato com as
autoridades. Max balanou a cabea. Uma mulher sozinha nas ruas, numa
noite como esta, com duas crianas que no pertencem a ela. Diga-me,
o que faria numa situao semelhante?
Grace percebeu que ele tinha razo. Apreciara brincar com ele,
mas fazer aquilo custa das meninas, no era de seu carter. Max havia
permitido a entrada de trs estranhas em sua casa. Tinha todo o
direito de saber quem ela era de verdade.
Sinto muito. Eu no deveria t-lo levado a acreditar que elas eram
minhas filhas. Elas vieram at mim, ou melhor, a me delas veio me
procurar. Elas pediram ajuda e ofereci-lhes um lugar para ficar.
Esta noite, resolvi lev-las ao teatro, achando que uma pea natalina
as faria entrar no clima das festas. E ento, deparei-me com aquele
bloqueio na estrada. O restante da histria, o senhor j sabe.
Satisfeita com a resposta, por no ter trado a confiana de
Stephanie, esperou que Max dissesse alguma coisa. Qualquer coisa...
Quando vrios segundos se passaram e ele no disse nada, ela no
esperou mais.
O senhor est olhando para mim como se eu fosse uma criminosa, ou
algo assim. O que h? exigiu saber.
Estou decidindo se acredito nessa histria, ou no. Olhavam um
para o outro com intensidade. Grace, furiosa,
sustentou o olhar, igualmente profundo de Max. Tudo indicava que
haviam iniciado um novo duelo.
Ele foi o primeiro a desviar os olhos, e Grace aproveitou para
examin-lo com olhos de terapeuta. Havia certa tristeza naquele
olhar frio e constatou que Max devia ter sofrido uma grande perda.
Uma perda pessoal, profunda e irreparvel. Como no percebera antes?
Talvez pelo fato de seu descuido em ter colocado aquelas garotas em
risco. Ou por pura e simples estupidez. No havia outra razo para no
ter conseguido entender o motivo da raiva dele. Resolvendo que
aquela no era a melhor hora para ater-se em devaneios, bateu na
porta do banheiro.
Meninas, esto prontas? Quando no houve resposta, voltou a bater.
Amanda, Ashley?
Tenho uma chave extra em algum lugar. Atrs dela, Max mostrou-se
preocupado. No creio que esteja trancado. Tentou a maaneta, que
abriu com facilidade. Entrou com medo de que algo pudesse ter
acontecido com as duas. Quando no viu nenhuma delas, as batidas de
seu corao ficaram em suspenso.
Elas no esto aqui, Grace gritou, desesperada. Existe outra
porta?
No, esta a nica.
Ashley, Amanda, isto no tem graa nenhuma.
Um barulho, algo parecido com um pedido de silncio, veio de
dentro da banheira. Grace olhou para Max e colocou o dedo nos
lbios, pedindo para que ele ficasse quieto. Andou at a enorme
banheira, onde as duas estavam agarradas uma outra.
Ficamos assustadas, tia Grace explicou Ashley.
Est tudo bem, queridas. No precisam ficar com medo.
Ficamos com medo dele. Amanda apontou um dedinho para Max, de p,
atrs de Grace.
Sem poder articular uma palavra sequer, ele ficou sem saber o
que dizer, mesmo porque no via motivo para tanta apreenso. Por sua
vez, Grace sabia que aquelas crianas haviam passado por muitos maus
momentos e Max no se mostrara muito amigvel. No era de se admirar
que elas estivessem receosas.
Exasperado, Max rompeu o silncio.
Ora, eu prometi no morder, no foi?
Grace achou que ele poderia ter escolhido melhor as palavras, ou
usado um tom mais suave, mas pelo menos j era um comeo, uma pequena
demonstrao de bom humor.
Viram? O sr. Jorgeson no est bravo contemporizou, quando as
meninas comearam a sair da banheira.
Inocente como todas as crianas, Amanda disse exatamente o que
estava pensando:
Ento, por que ele no tem uma rvore de Natal? Voc disse que todas
as famlias felizes tm rvores de Natal. Ento o si. Jorgeson no
feliz? Ele no tem famlia?
Boa pergunta, pensou Grace, olhando nos olhos do anfitrio.
Querida, no devemos fazer perguntas sobre a vida das pessoas.
Este o tipo de questo que sua me no gostaria que voc fizesse.
Voc acha Ashley? Amanda olhou para a irm, querendo
confirmao.
Acho que sim.
Bem, no vamos mais nos preocupar com o sr. Jorgeson. J muito
tarde e, nesse ritmo, no vamos ter tempo para descansar nem um
pouco. Agora pulem para aquela maravilhosa cama e eu vou contar a
histria que prometi.
Imediatamente, as duas obedeceram e ficaram esperando, com os
olhos bem abertos, o incio da narrativa.
Max saiu do quarto, antes que a garota pudesse fazer mais alguma
pergunta. Percebera o olhar questionador de Grace. Preferia morrer
a comentar sua vida privada com uma estranha. Uma coisa era dar
abrigo a elas por uma noite, outra seria a necessidade de ser
gentil. Se bem que tinha achado as garotas adorveis e
bem-comportadas. Mas tambm no lhe dizia respeito.
No andar de baixo, em seu canto predileto, tentou ligar a enorme
televiso de plasma, mas nada aconteceu. No era nenhuma novidade,
especialmente durante uma tempestade de neve.
Quando comprara aquele terreno, no auge de sua carreira, havia
alguns anos, acreditara que, ao trmino da construo de sua casa de
frias, no teria que se preocupar com tev a cabo, nem com servios de
internet. Claro que terminara a construo antes do tempo previsto,
mas Blow Out Hill ainda estava do mesmo jeito quando se mudara para
aquele chal enorme.
Aquele deveria ter sido seu lar, de Kayla e dos filhos que
porventura viessem a ter, quando quisessem deixar a manso em
Denver. Comprara as terras pensando em ensinar os filhos a esquiar
em Powder Rise, uma montanha mais baixa, a oeste dali. Estes haviam
sido seus sonhos e agora, no passavam de doces lembranas.
Todos os seus planos para o futuro ruram quando Kayla, uma
agente policial, fora baleada e morta em servio, fazia dois anos,
na vspera do Natal. Por isso, as celebraes eram to dolorosas,
evitadas a todo custo. As recordaes doam como se uma adaga afiada
fosse enterrada cada vez mais fundo em seu peito. Os amigos diziam
que, com o tempo, a dor diminuiria, mas estavam todos errados. No
havia um nico dia em que no pensasse na vida que ele e Kayla
poderiam ter tido juntos. Suspirando fundo, deixou de lado as
recordaes e foi at a cozinha.
Procurou pelo rdio de pilha, que sempre usava em ocasies como
aquela, e o encontrou dentro de uma gaveta, perto do fogo.
A cozinha, equipada com o melhor que o dinheiro poderia comprar,
fora palco das manhs que ele e Kayla haviam compartilhado dos cafs
da manh e de tudo o mais que ela decidisse preparar. Agora, era
apenas uma testemunha silenciosa de tudo o que ele tinha
perdido.
Colocou pilhas novas no aparelho e sintonizou uma estao para
ouvir a previso do tempo. Os reprteres comentavam os bloqueios das
estradas. Sem dvida, a tempestade de neve no dava mostras de que
iria diminuir.
Parece que, afinal, os moradores de Eagle, Colorado, vo ter um
Natal branco. Espera-se um acmulo de mais de um metro de neve antes
do amanhecer. Alerta mximo em vigor at...
Max colocou as canecas vazias na mquina de lavar loua,
detestando o rumo dos acontecimentos. Se a previso do tempo
estivesse certa, e no tinha motivos para duvidar, suas convidadas
teriam de ficar no chal por mais tempo.
Droga! praguejou em voz alta. No estava preparado para situaes
inusitadas. Teria sorte se houvesse suficiente comida para uma
pessoa, por alguns dias, que dir para duas crianas e mais um
adulto. Sentiu raiva de si mesmo por no ter antecipado possveis
imprevistos. Acostumara-se a cuidar apenas de si, sem se importar
com qualquer outro ser humano. Lembrou-se do freezer no sto. Quem
sabe haveria alguma coisa estocada l.
Passos suaves o arrancaram de seus pensamentos. No estava
acostumado a ter outras pessoas na casa e chegou a assustar-se.
S queria agradecer mais uma vez por ter nos acolhido. Fui
realmente muito irresponsvel por tirar as crianas de casa com este
tempo admitiu Grace.
Max quis concordar, mas no o fez. Se ela estivesse dizendo a
verdade e, em seu ntimo achava que sim, no havia nada de errado em
querer distrair duas crianas. A m sorte a pusera no lugar errado na
hora errada.
Observou a mulher sua frente. Ela era um pouco mais alta que a
maioria, esguia, a pele clara, os cabelos escuros, longos e lisos,
que caam at o meio das costas. Os olhos tinham um tom raro de
verde, que o remeteu grama selvagem que crescia ao longo da
montanha, no vero. Imaginou se seriam lentes de contato, mas algo
lhe disse que tudo naquela moa era autntico, apesar de ela ter sido
bastante evasiva ao falar de si mesma. Mas no podia culp-la.
Afinal, no se conheciam. Eram apenas dois estranhos, sem mencionar
as duas crianas sob a responsabilidade dela.
No h problema algum.
Na verdade havia, mas achava que j fora bastante rude e preferiu
ficar calado. Resignado perda de sua privacidade, decidiu contar a
ela como estava despreparado.
A previso do tempo no est nada boa. Acenou na direo do rdio
sobre o balco. Dizem que vai haver mais de um metro de neve.
Meu Deus! Preciso sair daqui de manh bem cedo. Stephanie vai
morrer de preocupao! Grace olhou para o telefone. Ainda no est
funcionando?
Max apanhou o aparelho e apertou um boto.
Nada. O telefone sempre o primeiro a ir e o ltimo a ser
consertado. As pessoas esto mais preocupadas com as estradas.
Se eles as limpassem primeiro, eu poderia voltar a van sem
problema. A ideia de passar mais de uma noite sob o mesmo teto com
aquele homem a apavorava.
As estradas s sero desobstrudas quando for seguro. Eagle County
est bem preparada para essas emergncias, mas a prioridade a estrada
principal. Blow Out Hill est no fim da lista.
Quer dizer que no h outra maneira de sair daqui?
Alguns pilotos mantm seus avies nos hangares no aeroporto local,
mas s atendem situaes de emergncia. Vida ou morte. Principalmente
com este tempo. Ento, respondendo sua pergunta, no h outro modo de
sair desta montanha, a no ser a p. E mesmo que isto fosse uma
emergncia, eu no conseguiria entrar em contato com o aeroporto.
Contemplando suas opes, Grace respirou fundo. Por mais que
odiasse a idia de estar presa ali, com um homem que no lhe
agradava, percebeu que teria de ficar. Com sorte, algum policial
poderia encontrar seu carro e lembrar-se de t-la parado no
comando.
Agradeceu a Deus por sua me ter decidido passar as festas com
ela, em vez de permanecer em Denver. Tinha certeza de que ela
consolaria Stephanie.
Bryce, seu irmo mais jovem, deveria chegar na vspera do Natal.
Essa seria a primeira vez que a famlia se reuniria para passar as
festas de fim de ano na Hope House. Desde a abertura da instituio,
Grace sempre ficara para as festas, quando havia hspedes. Sentia
falta da me e do irmo, mas eles compreendiam a necessidade que ela
tinha de proporcionar o melhor para aquelas pessoas. S esperava que
Stephanie tivesse pacincia at receber notcias dela e das meninas, e
que no estivesse em perigo por causa do homem de quem estava
fugindo.
Chegava a arrepiar-se ao pensar em tudo o que aquelas mulheres
haviam passado antes de chegar ao abrigo. Estava determinada a
fazer todo o possvel para ajud-las a mudar de vida. Ficar presa
numa montanha por causa da neve no era nada em comparao ao que me e
filhas tinham vivenciado... Mas atrapalhava bastante.
Perdida em seus pensamentos, Grace olhou rapidamente para seu
anfitrio, quando, de repente, as luzes se apagaram.
Eu j esperava por isso ele comentou, na escurido. J tenho velas
e lanternas sempre preparadas. Abriu algumas gavetas e logo
encontrou o que procurava. Um raio de luz iluminou o pequeno espao
entre eles. H um gerador l nos fundos.
Ajuda muito nestes casos Grace murmurou, tateando o caminho at a
mesa.
Nunca foi usado. Nunca achei necessrio.
Estava a ponto de perguntar o que ele costumava fazer quando
ficava sem energia eltrica, quando ouviu passos no andar de cima.
Esquecendo-se da presena dele, correu a mo pelo balco at encontrar
uma caixa de fsforos, ao lado de um mao de velas. Acendeu uma
delas, depois outra, colocando-as no balco enquanto procurava algo
para servir de castial. Em uma das gavetas encontrou copos baixos
que serviriam a seu propsito. Ajeitou as velas e foi em direo das
escadas para verificar como estavam as meninas. Uma lufada de ar
gelado entrou por uma porta aberta e apagou as velas.
Max?
No obteve resposta e chamou de novo, sem conseguir disfarar a
apreenso.
Max, voc? Eu... No importa. Lamentando no ter trazido os
fsforos, Grace procurou o caminho de volta cozinha. Talvez ele no a
tivesse ouvido, pensou ao apalpar a superfcie do balco, procura dos
fsforos. Quando os dedos tocaram na caixinha, agarrou-a, ansiosa.
Reacendeu as velas, aliviada ao ver a luz brilhante. Colocou a
caixa de fsforos no bolso e voltou-se na direo dos quartos. Quando
j estava prxima s escadas, ouviu outro barulho, algo que se
assemelhava ao ranger de uma dobradia enferrujada.
Max, no estou achando graa nenhuma.
Parou no centro da sala, esperando pelo riso sarcstico. Mesmo
assim, no houve resposta. Ento, gritou pelo nome dele; com certeza
acordara as meninas. Com o corao acelerado, o suor comeou a
escore-lhe das tmporas, apesar da rajada de ar frio que invadira a
sala.
Cada vez mais apreensiva, tentou outra estratgia. Usando um tom
de voz que geralmente reservava para as mulheres que atendia,
chamou mais uma vez.
Sr. Jorgeson?... Max?... Se isto for um tipo de brincadeira,
saiba que no estou achando graa alguma!
Imvel, ouviu as tbuas do assoalho do piso do andar de cima
ranger. Sem dvida, seus gritos haviam acordado as meninas.
Ignorando o medo que a consumia, comeou a subir as escadas. Ao
chegar ao topo, correu para a sute onde deixara as duas
garotas.
Lembrou-se de ter deixado a porta aberta, ao sair do quarto, mas
agora ela estava fechada. Talvez tivesse sido o vento, tentou se
convencer. Girou a maaneta com cuidado para no fazer mais barulho,
caso as meninas ainda estivessem dormindo.
Segurando as velas frente do corpo, andou nas pontas dos ps at a
enorme cama e a apalpou, para certificar-se de que as crianas
estavam cobertas. Suas mos, porm, continuaram a sentir apenas os
lenis frios e vazios. Grace, ento, soube que algo terrvel havia
acontecido.
As garotas no estavam mais ali.
Captulo II
Amanda? Ashley? ela chamou em desespero. Lembrando-se do pavor
que as duas tinham do escuro, tentou outra ttica, que pudesse
acalm-las. A energia eltrica acabou e Max est tentando consertar.
Como no obteve resposta, tentou outra vez.
Meninas, se a me de vocs estivesse aqui, iria ficar muito brava
com essa brincadeira de esconde-esconde. No precisam ter medo.
Devagar para no assust-las, entrou no banheiro. Conforme
esperava, l estavam elas, abraadas uma outra dentro da banheira, de
novo. Com um suspiro de alvio, abaixou as velas para que elas
pudessem v-la. O medo que a crueldade do pai infligira quelas
pequenas criaturas estava visvel nos olhinhos assustados.
Ficamos com medo quando a luz apagou. A ouvimos passos na
escada. Mame sempre diz que para a gente se esconder quando papai
fica bravo defendeu-se Ashley.
Oh, querida, papai no est aqui. O barulho que vocs ouviram era o
de Max apanhando um casaco pesado para ir l fora. No h do que ter
medo. Estendeu a mo para ajud-las a sair de dentro da banheira.
Tia Grace, pode nos contar outra histria? - pediu Amanda.
Claro, minha querida.
Depois de coloc-las de volta na cama. Acomodou-se ao lado
delas.
Dez minutos e duas curtas histrias depois, ambas estavam em sono
profundo. Grace deslizou da cama e desceu as escadas. Com certeza,
Max tivera tempo suficiente para encontrar o gerador.
Guiada pela luz das velas, percorreu cmodo aps cmodo, procurando
por ele.
Max? chamou agora no to alto. Procurou por todo o andar trreo e
j estava a ponto de desistir, quando um vento frio e cortante
invadiu a sala. Max, voc?
Sim. No consegui encontrar a droga do gerador. Tinha certeza de
que Eddie o havia colocado ali nos fundos.
Eu j estava ficando preocupada. Ao ouvir a voz dele, admitiu o
quanto ficara aliviada. Talvez a lutada de ar que sentira havia
pouco tempo fora causada por uma fresta maior entre as madeiras, ou
mesmo uma janela mal fechada.
Por qu? perguntou ele, largando um pesado fardo no cho.
Grace teve vontade de retirar o que havia dito, mas j era tarde
demais.
E que voc tinha saido h tanto tempo alegou, aproximando-se
dele.
Max tirou o pesado casaco de couro e o atirou sobre o sof, onde
os dois ces descansavam.
H um freezer l fora e creio que no ser afetado pela falta de
energia, se as temperaturas continuarem assim to baixas. Achei
melhor examinar o contedo dele, j que teremos de ficar aqui por
mais algum tempo. Ali tem tudo o que vamos precisar, mas no tenho
idia de quem se preocupou em abastec-lo. Provavelmente foi Eddie,
pensou. Ele sempre pensa em tudo. Merece um aumento de salrio e uma
viagem de frias tambm.
Se voc o trouxer at a cozinha, coloco tudo no lugar ela
ofereceu, olhando para o enorme saco no cho.
Claro concordou ele, j erguendo o fardo nos ombros. Grace comeou
a rir.
Est achando engraado?
Desculpe. E que voc me fez lembrar do Papai Noel. Como que
atingido por um raio, Max parou, deixou cair o fardo e voltou-se
para ela. Apesar da pouca luz, Grace pde ver muita raiva nos olhos
dele.
Nunca mais diga isso!
O repentino ataque de raiva a deixou desconcertada. Ela no fazia
idia do que podia ter acontecido quele homem para transform-lo num
rabugento. Na verdade, nem queria saber.
Oua, Max, no sou culpada pelos seus problemas. E se no tolera
uma simples brincadeira, eles devem ser muito graves. Talvez
precise de ajuda profissional completou, arrastando ela mesma o
fardo at a cozinha.
Espere! Voc no pode falar comigo desse jeito! Quem pensa que ?
Esta minha casa e voc minha hspede ele resmungou enquanto a
seguia.
E verdade, mas voc o anfitrio mais grosseiro que j tive o
desprazer de encontrar. Se isso servir de consolo, saiba que tambm
no gosto nem um pouco de estar aqui. Mas sou adulta e sei lidar com
situaes difceis. E voc no, teve vontade de acrescentar, mas estaria
fazendo o jogo dele.
Max passou a mo pelos cabelos. Em outro homem, este seria um
gesto banal, mas nele era simplesmente... muito sexy.
Est bem, me desculpe mais uma vez. E que no gosto da poca das
festas. Podemos parar de falar nisso, por favor? Ele apanhou o
fardo do cho e o colocou sobre o balco.
Grace tinha certeza. Estava diante de um ermito rabugento.
Mordendo o lbio inferior para no rir, disparou:
O que voc gosta ou no gosta no de minha conta. Quando amanhecer,
quero ir at meu carro. Essa minha nica preocupao. Claro que no
diria a ele que o Natal era sua festa favorita e que odiava aqueles
que tentavam estrag-la com mau humor ou alguma coisa do gnero.
Nem iria contar que j passara dias na cozinha preparando bolos,
tortas e biscoitos para diversas casas de caridade de Denver. No
mencionaria quanto dinheiro j havia gastado em presentes para
Stephanie e as meninas.
Oras, que tipo de pessoa no gostava de Natal?
Na certa, ele havia tido uma infncia difcil. Alguns episdios
eram capazes de assombrar a vida inteira de uma pessoa.
Como profissional, sabia disso. Como mulher, no podia
imaginar-se ao lado de um homem que no gostasse de celebrar o Natal
tanto quanto ela.
Acho que voc no vai a lugar algum pela manh. Venha ver Max
informou, chamando-a para olhar pela janela.
Relutante, Grace aproximou-se e ficou bem perto dele. Sentiu o
perfume de pinho que emanava do corpo msculo. Respirou fundo,
fechando os olhos por um momento, imaginando...
Depois, voltou a abri-los e sentiu muito frio. Ao olhar para
fora, reparou que flocos de neve continuavam a cair e a neve
acumulada j chegava a pelo menos um metro.
Em outras circunstncias, acharia a cena divertida, mas como
estava, com duas crianas cuja me deveria estar morrendo de
preocupao, no tinha graa nenhuma.
Conforme eu havia dito, no estou preparado para isso. S vim aqui
para... Max fez uma pausa. Grace esperou que continuasse, mas ele
no o fez.
Qualquer que seja o motivo por que veio, fico feliz de t-lo
encontrado. Ela achou que um elogio poderia amenizar o mal-estar
que se impusera entre ambos.
Max retirou o contedo do saco, colocando tudo sobre o balco.
No costumo preparar nada alm de ovos com bacon. Veja se encontra
algo que voc e as meninas gostem.
Grace estava pronta para dizer que ovos com bacon estava timo,
quando se deu conta de que, sem eletricidade, no poderiam cozinhar
nada.
Vou acender as lareiras. H mais madeira l fora anunciou Max
antes de sair. Pelo menos cuidara do estoque de lenha.
Grace ficou pensando se aquele homem era incapaz de cuidar de si
mesmo. Conhecia a reputao dele nas pistas de esqui. Lembrou-se dos
comentrios de Bryce sobre o desempenho dele nas Olimpadas de
inverno, havia alguns anos.
Resolveu que cozinharia no fogo a lenha. Encontrou vrios pacotes
de carne, bacon, galinha e um pacote de salsichas, que seriam muito
bem recebidos pelas crianas. Alm disso, havia legumes congelados,
po francs, po integral e manteiga de amendoim.
No armrio, viu dzias de latas de sopa, algumas latas de
biscoitos, garrafas de suco de morango e gelatina de uva. Max
estava preparado para uma nevasca, mesmo que no soubesse disso.
Rapidamente, guardou o que podia nos armrios e colocou os pacotes
de carne fora da casa para manter a temperatura. Esperava que no
houvesse coiotes ou ursos procurando pelo jantar, caso contrrio,
estariam em maus lenis.
Voltou depressa para dentro e ficou observando Max, que
abastecia a lareira com mais lenha. As chamas amarelas crepita-vam,
enviando fagulhas avermelhadas para o ar.
O cheiro de madeira queimada a fez lembrar-se do pai. Ele
costumava manter a lareira acesa no inverno para fazer pipoca e
comida no papel de alumnio. A receita simples consistia em
embrulhar carne moda e todo o tipo de legumes em papel de alumnio e
colocar na brasa. Um cozido cairia muito bem naquele momento,
pensou, olhando o homem sua frente, imaginando que outros talentos
ele teria.
Seu irmo no se cansava de elogi-lo at mesmo em outras reas que
no apenas o esporte. De repente, surpreendeu-se imaginando que
talentos ele traria para a cama.
Qual o problema comigo? No faz tanto tempo assim que tive um
encontro.
Gosta do que v? perguntou Max, sentindo-se observado.
Sim, est perfeito. Grace tinha certeza de que ele se referia ao
fogo. Acho que j passou da hora de irmos para a cama. Estou exausta
e duvido de que as meninas iro dormir at tarde. Crianas nessa idade
sempre acordam cedo.
Voc parece ter muita experincia para algum que nunca teve filhos
observou ele.
Grace ficou sem saber se aquilo era um convite para revelar mais
sobre si mesma, ou apenas uma conversa civilizada. Algo lhe dizia
que podia confiar nele. Apesar de ter sido rude e de ter assustado
as meninas. Lembrou-se da mscara de dor que vira em seu rosto. A
reao fora tpica de algum que havia sofrido muito na vida. E no se
tratava de algo fsico, nem das contuses inerentes profisso. Max,
por certo, conhecera o fogo dos infernos, e ela no sabia seja havia
retornado completamente.
Por que est me olhando dessa maneira?
Desculpe. Hbito profissional, eu acho.
Ento sua profisso olhar para as pessoas? Voc uma artista ou o
qu? ele perguntou com um trao de humor.
Ela respirou fundo, sem saber o quanto deveria revelar. Enquanto
sua intuio o favorecia, parte dela dizia que devia considerar as
meninas e a me delas, antes de contar alguns detalhes. Optou por
uma verso simplificada da verdade.
Sou uma conselheira.
Entendo... Ele continuou a remexer a lenha na lareira. E na sua
opinio profissional, o que viu exatamente quando estava olhando
para mim? Arrependeu-se da pergunta logo em seguida, fazendo um
gesto com a mo. No importa. No precisa responder. Tenho certeza de
que v exatamente o que os outros veem. Um sujeito que estragou a
prpria vida e no est nem um pouco preocupado com isso.
As palavras no podiam t-la chocado mais.
Na verdade, no vi nada disso. Podia dizer a verdade, mas que bem
isso faria? Vejo algum que foi ferido por... uma tragdia. Fez uma
pausa para verificar a reao dele. Voc sofreu uma perda pessoal...
to avassaladora, que no se sente mais a mesma pessoa. Esperou por
um comentrio, uma resposta, alguma coisa. Ento, depois de alguns
segundos, ele balanou a cabea.
. Est enganada. Sou o homem que sempre fui e nada vai mudar
isso. Acredite. Gosto de beber e de dormir, nada alm disso. Sou um
bom sujeito, no acha?
Acho que voc j foi muito bacana, Max Jorgeson, h alguns anos. O
que quer que tenha acontecido com voc, acabou com sua autoconfiana.
Voc tem de querer recuper-la.
Um silncio tenso tomou conta do ambiente.
Bem, pois saiba que est errada. Jamais vou querer voltar a ser o
que era antes. Olhou para as tbuas de pinho do assoalho. Nunca
acrescentou com voz rouca.
Deixando de lado a preocupao com o estado emocional de seu
anfitrio, Grace desejou-lhe boa-noite e subiu. E to logo encostou a
cabea no travesseiro, caiu num sono profundo e sem sonhos.
A luz do sol invadiu o quarto, refletindo seu brilho na moblia
de pinho. Grace sentou-se rpido na cama, ao perceber que no estava
em casa. Ento, as cenas da noite anterior voltaram-lhe mente, os
bloqueios na estrada e a perda de comunicao com o mundo.
Olhou para as meninas ao lado, que dormiam como bebs. Com
cuidado para no acord-las, deslizou da cama. Foi ao banheiro,
penteou os cabelos, prendeu-os com um elstico e, depois de
certificar-se de que elas ainda dormiam, desceu para o andar de
baixo.
Parou no p da escada, surpresa ao ver Max na cozinha. Sentiu um
arrepio na espinha ao deparar-se com aquela figura, vestida em um
jeans surrado e uma camisa preta e justa. Os msculos do peito
pareciam romper o tecido. Rindo de si mesma, ela pensou na sorte
daquela camiseta. Respirou fundo. Ali estava um homem que merecia
ser contemplado, assim como a maioria dos esquiadores. Lembrou-se
de que na sua adolescncia costumava ir para as pistas a fim de
admir-los. Porm, nunca tinha namorado nenhum deles, conclura que a
maioria eram to convencidos que chegavam a ser patticos, ou no
conseguiam raciocinar direito. Max certamente era uma combinao das
duas categorias, pois que tipo de homem viveria daquela maneira,
isolado em uma montanha, sem nenhum plano para o futuro?
O aroma divino do caf a atraiu at a cozinha. Max despejava gua
fervendo na cafeteira.
O cheiro est delicioso ela elogiou ao entrar.
Est quase pronto anunciou ele, com um sorriso de satisfao.
Retirou uma pequena xcara do armrio, encheu-a e colocou sobre o
balco. Tenho acar e... Espere... Isto creme em p. No sei se bom, na
verdade nem sabia que tinha isto aqui.
Obrigada, mas prefiro puro. Este caf parece muito bom disse
Grace, j se servindo.
E est mesmo. Por acaso pensou que eu no seria capaz de fazer um
caf decente? ele perguntou, divertido.
Os dois ces entraram, latindo.
Calma, rapazes Max pediu enquanto os animais se metiam embaixo
da mesa, esperando pelo caf da manh.
Na verdade, nem pensei nisso. Grace olhou para o aparelho de
telefone sobre o balco. Ainda no est funcionando?
No. Acabei de verificar. Ouvi barulho dos caminhes que limpam a
neve h cerca de uma hora. Isto um bom sinal.
Como assim? ela perguntou, cheia de esperana.
Geralmente isso significa que esto vindo para c. Estou pensando
em pegar um desses carrinhos e descer a montanha para verificar. E
aproveito para procurar seu carro.
Pela ateno demonstrada, Grace foi invadida por um desejo
impensvel de atirar-se nos braos dele, mas conteve-se a tempo.
Fico feliz em saber. Tenho certeza de que a me das meninas deve
estar louca de preocupao. Por favor, se no conseguir chegar at meu
carro, pode pelo menos, tente ligar para ela apenas para dizer que
as meninas esto seguras e que logo estaremos em casa.
Verei o que posso fazer. Max balanou os cabelos que chegavam at
um pouco abaixo do colarinho.
Posso preparar alguma coisa para comer, antes de voc sair Grace
ofereceu entre um gole e outro de caf. Tenho certeza de que as
garotas vo querer comer, quando acordarem. Mal posso acreditar que
ainda estejam dormindo. Pobrezinhas. Sem dvida, a noite de ontem
acabou com a energia delas.
Eu adoraria comer alguma coisa tambm. No como uma refeio
preparada na hora desde que... Ele parou de falar como se tivesse
perdido o fio do pensamento. Parece uma boa idia, obrigado.
Ora, as coisas estavam mesmo melhorando! O homem das cavernas
dissera "obrigado"!
Melhor esperar para me agradecer. Faz muito tempo que no cozinho
em fogo a lenha. Quando era criana, eu adorava. Meu pai preparava o
que ele chamava de comida de acampamento. O que significava que
mame teria uma folga da cozinha. A lembrana trouxe um sorriso
triste ao rosto de Grace.
Max sorriu e, pela primeira vez, Grace notou que era um sorriso
verdadeiro. Os dentes eram to brancos como a neve que cobria
aquelas montanhas.
Comida de acampamento? Nunca ouvi falar sobre isso. Ela, ento,
explicou como o pai preparava os saquinhos de papel de alumnio,
recheados de carne moda e legumes e os colocava na brasa. Depois,
havia pipoca doce para sobremesa.
Acabou tornando-se uma tradio de famlia. Posso preparar alguns
para o almoo... Se ainda estivermos aqui. Mas primeiro vamos pensar
no caf da manh.
Max olhava para ela como se contemplasse uma recordao
particular. De repente, seu semblante foi tomado pela dor, como se
tivesse se lembrado de algum momento triste.
Acho melhor ir andando antes que o pessoal dos caminhes decida
ir embora. Mas apreciei muito a oferta do caf da manh. Vamos,
rapazes, para fora!
Ambos os ces correram para a porta, pulando na perna do
dono.
Mas eu pensei...
Sinto muito. Cuide das meninas. Voltarei assim que verificar as
condies das estradas. Preciso do nmero do telefone para onde quer
que eu ligue.
Por um segundo, Grace chegou a esquecer que estava presa numa
montanha com um estranho, mais duas garotas, cuja me deveria estar
enlouquecida. Balanou a cabea, como se tentasse ordenar os
pensamentos.
Voc tem lpis e papel?
Max pegou um bloco de papel e caneta de dentro da gaveta do
armrio e os estendeu a ela. Grace escreveu o nmero da Hope House,
com o nome de Stephanie. Depois decidiu acrescentar o celular de
sua me. Quem sabe?... Talvez estivessem fora, procurando por ela
quela altura. No pretendia desperdiar a chance de dizer a Stephanie
que as meninas no estavam em perigo. Porm, no podia dizer o mesmo
de si, se no parasse de pensar na vida de Max Jorgeson e em como
ele poderia interferir na sua.
Tia Grace! Tia Grace! gritaram as duas meninas, enquanto desciam
as escadas. Podemos fazer um boneco de neve? Veja, tem muita neve l
fora!
No sei. No temos roupas adequadas e lembrem-se de que ainda est
muito frio. Estou comeando a preparar o caf da manh e acho que vou
precisar de ajuda. Aposto que poderemos ouvir algumas msicas
natalinas no rdio. O que acham?
Est bem concordou Amanda. Mas ainda prefiro fazer um boneco de
neve em vez de cozinhar.
Grace riu e ficou surpresa ao ouvir o riso de Max tambm. No
sabia que ele era capaz de rir daquela maneira. Mais um erro de
julgamento.
Vou tentar me lembrar, querida. Agora, por que no sobem e trocam
de roupa? Vou precisar de ajuda aqui.
As duas subiram as escadas rindo e correndo, o que deu a Grace a
certeza de que elas ficariam bem, apesar da vida domstica infernal
de que haviam escapado. Crianas recuperam-se melhor das tragdias.
Pena no poderem compartilhar a experincia com Max.
Com o canto do olho, viu que ele apanhava as chaves do carro e
foi em direo porta, permitindo que os ces sassem primeiro.
Tome cuidado... recomendou ele. A silhueta mscula estava
iluminada pela luz do sol, acrescentando a esta uma beleza
extra.
Max Jorgeson era um homem ferido e solitrio que, obviamente no
desejava nada alm de continuar morando naquela montanha, no meio do
nada, sem ser incomodado. Mesmo ciente disso, Grace no achou
nenhuma explicao lgica para come-' ar a contar os minutos at ele
retornar. Por que sentia arrepios quando olhava para ele? Tentando
convencer-se de que no era nada alm de um desejo passageiro, voltou
a ateno para o que estava fazendo.
Jamais poderia ter previsto as ltimas doze horas de sua vida e
tudo o que acontecera. Bem resolvida e segura de si, sempre
estivera no controle de qualquer situao. Agora, sua mente
recusava-se a obedecer e estava tendo problemas de concentrao.
Sintonizou uma estao de rdio e procurou nos armrios os utenslios
que iria usar. Encontrou uma velha frigideira, perfeita para
preparar os ovos com bacon.
Dentro de poucos minutos, o cheiro do toucinho tomou conta da
cozinha. S, ento, ela percebeu o quanto estava faminta.
Meninas, venham! Preciso de ajuda!
As duas desceram as escadas, trazendo a alegria de sempre.
Depois que acabarmos de tomar caf, veremos as condies do tempo.
Precisamos voltar para casa.
No! No podemos ir para casa, tia Grace! Mame disse que seria
muito perigoso e que papai poderia machucar a gente de verdade,
dessa vez explicou Ashley, os olhos cheios de lgrimas.
Oh, querida, eu quis dizer a Hope House. Grace largou o que
estava fazendo para abra-las. Escutem, enquanto estiverem comigo,
prometo que estaro seguras. Max vai tentar telefonar para a me de
vocs e dizer que estamos bem. Assim que conseguirmos chegar at o
carro, vamos embora, est bem?
E depois vamos poder enfeitar a rvore? Ashley disse que s faltam
cinco dias para o Natal. verdade?
A mudana de assunto foi to repentina, que Grace teve de contar
mentalmente os dias que faltavam para a grande festa.
Sim, verdade. Mais cinco dias e Papai Noel estar aqui. Ainda
tinha presentes a comprar e uma rvore para decorar. S esperava sair
daquela montanha a tempo de ter tudo preparado antes da chegada de
Bryce, na vspera do Natal.
Amanda comeou a chorar. Grossas lgrimas caindo em sua roupa.
Mas... no estaremos... em casa. Como... Papai Noel vai saber...
onde nos achar?
Ele sempre sabe onde estamos, no sabe, tia Grace? perguntou
Ashley.
Ela mesma acreditara nas lendas natalinas at os doze anos de
idade e ainda se lembrava do desapontamento quando soubera da
verdade. Mas, como seus pais sempre diziam, Papai Noel est vivo e
passa bem. Ele apenas se muda para o corao das pessoas quando elas
ficam mais velhas.
Claro que sim. Ele vai achar vocs duas, com certeza. E agora
vamos comer. Tirou a frigideira do fogo e sentou-se mesa com as
meninas, servindo-as de fatias de bacon bem torradinhas e po branco
com geleia de morango. No conseguiu se lembrar da ltima vez em que
apreciara tanto uma refeio.
Max desceu a montanha como um rastilho de dinamite. Crostas de
gelo cobriram sua cabea quando ele passou por um banco de neve.
Estava irritado por no ter conseguido afastar Grace de sua casa o
mais rpido possvel. Queria que as visitas indesejadas fossem embora
o quanto antes.
Emoes congeladas havia muito tempo, estavam ameaando vir tona
como gua. Sabia o que aquilo significava, mas no queria admitir,
dizendo a si mesmo que era cedo demais. Sentiu-se culpado no
momento em que colocara os olhos nela. Todas as promessas de solido
e de celibato seriam quebradas, se Grace permanecesse ali por mais
tempo. Graas a Deus, ela estava apenas de passagem.
J estava na metade da Blow Out Hill quando avistou a caminhonete
preta de Eddie estacionada. Pensando que poderia tratar-se de um
acidente na Maximum Glide, manobrou com destreza e freou,
arremessando uma chuva de gelo para todos os lados. Desligou o
veculo e deixou as chaves na ignio. Eddie estava em uma roda de
amigos, ao lado da caminhonete. Acenou quando o viu.
O que fez Maom descer da montanha com um tempo desses?
Voc no iria acreditar se eu dissesse. Est tudo bem em Maximum
Glide? Max riu. O carro de uma mulher quebrou por aqui, em algum
lugar e ela veio at minha casa pedir ajuda. Estava acompanhada por
duas crianas. Preciso avisar a famlia de que esto bem. Por acaso,
vocs viram uma van cinza por a?
Engraado voc perguntar. Estvamos falando sobre ela agora mesmo,
pois a estrada j est desobstruda e ningum tinha vindo reclam-la
comentou Eddie.
Pois eu vim busc-la. Acham que ela conseguir subir a
montanha?
Tem trao dianteira, deve aguentar. Quer que o siga com meu carro
para o caso de alguma emergncia?
No, no ser necessrio. Seu celular est a? Preciso fazer uma
ligao.
Nunca saio de casa sem ele. Eddie apresentou o aparelho.
Max tirou o pedao de papel do bolso, observando a caligrafia e
os nmeros minsculos. Juraria que havia cheiro de jasmim saindo da
folha de papel. Balanando a cabea para voltar do devaneio, digitou
os nmeros no teclado. O telefone tocou duas vezes antes que algum
atendesse.
Hope House, Juanita falando.
Estou ligando em nome de Grace comeou ele.
O senhor deseja falar com ela?
No, no isso. Ela me pediu para ligar e avisar de que ela e as
meninas esto bem. Ela se perdeu ontem noite e, com a tempestade de
neve, no conseguiu voltar.
Oh, graas a Deus! Onde elas esto agora? Vou mandar Bryce atrs
delas agora mesmo. Ele chegou hoje de manh. Estava to ansioso para
ver Grace que no quis esperar at a vspera do Natal.
Max ouvia Juanita falar com outras pessoas, provavelmente com a
me das garotas.
Al, quem est falando? Onde esto minhas filhas?
Eu... Bem... Grace me pediu para avisar de que est tudo bem...
Claro que tenho certeza. No diria se no soubesse que elas esto em
segurana. Estou indo apanhar o carro dela agora mesmo. Acredite,
estavam preparando o caf da manh quando sa.
Nem sei como lhe agradecer! Tinha certeza de que Glenn
conseguiria escapar de alguma maneira. Quando o senhor vai traz-las
de volta a Hope House? perguntava a mulher que ele agora sabia ser
Stephanie.
Elas viajaro assim que o tempo permitir. As linhas telefnicas no
esto funcionando e o celular dela est descarregado. Max ouviu uma
respirao profunda.
Grace jamais deixaria seu celular descarregar! Esta uma de suas
principais recomendaes. Tem certeza de que ela est bem? Qual mesmo
seu nome?
Meu nome Max e eu lhe asseguro de que a Srta. Grace estava bem
quando a deixei. Assim que ela puder viajar, voltar para casa. Diga
a Bryce que no precisa se apressar tanto da prxima vez. Desligou e
jogou o aparelho para Eddie.
Calma esses aparelhos custam caro. O que o deixou to aborrecido?
Parece que engoliu uma colher de vinagre! O que houve?
Bryce. Que tipo de nome era aquele?
Nada. S me diga em que direo est a van para que aquela mulher v
embora o mais rpido possvel. Antes que Bryce tenha um ataque, ou
venha at aqui para busc-la.
Bem, bem, j estava mesmo na hora. Acho que nosso amigo aqui est
com cimes. Eddie riu.
Ei, Eddie, pare com isso! Aquela mulher est instalada em minha
casa com duas crianas. Quero todas elas fora de l imediatamente.
Diga-me onde est o carro dela, por favor.
No fique bravo comigo, no minha culpa. Vamos, eu j estava mesmo
de sada. Temos um grupo de crianas de dez anos na Black Diamonds e
quero estar por perto.
Obrigado, Eddie. E desde quando crianas podem esquiar na Black
Diamonds? Ele mesmo s experimentara o desafio daquela pista aos
treze anos. E depois disso no parou mais. Trs anos depois j estava
na equipe norte-americana preparando-se para as Olimpadas. No
conseguira classificar-se da primeira vez, mas quatro anos depois,
fizera histria em Albertville, vencendo em todas as categorias.
Ganhara seis medalhas olmpicas pelo brilhante desempenho nas
pistas. Mesmo depois dos jogos olmpicos, tinha ganhado muito
dinheiro. Soube investir e, quando decidiu aposentar-se, no tinha
problemas financeiros.
Conhecera Kayla no elevador da Maximum Glide. Ela estava ali com
um grupo de policiais femininas de todo o pas. Ela era diferente de
todas as outras mulheres que ele tinha conhecido at ento. Mulheres
que apenas queriam ser vistas com ele, na esperana de que suas
fotografias aparecessem na capa de alguma revista, cuja manchete
seria algo do tipo: "O mais cobiado solteiro da atualidade flagrado
fazendo algo que no devia".
O tempo daquelas manchetes havia acabado. Quando conhecera
Kayla, j estava mais maduro e pronto para se estabilizar. O
casamento aconteceu pouco tempo depois. Max chegara a implorar para
que ela deixasse o emprego, mas ela sempre se recusara, alegando
que seu pai e seu av haviam sido policiais e que aquilo estava em
seu sangue. Como sentia o mesmo em relao prpria carreira, ele no
insistira. Se tivesse sido um pouco mais assertivo, Kayla ainda
poderia estar viva. E eles teriam tido um filho ou uma filha, pois
ela estava no terceiro ms de gravidez, quando foi morta.
Ali est anunciou Eddie, apontando para a van cinza. Quer que eu
fique por perto para ver se pega?
E uma boa ideia comentou Max e entrou no automvel. Ligou o
motor, que funcionou de imediato. Pegou! gritou para o amigo.
Obrigado, fico devendo mais uma.
Eddie ergueu a mo e acenou, antes de voltar para a estrada.
Graas trao dianteira, Max subiu a montanha em tempo recorde. As
ruas j estavam limpas, mas havia previso de mais neve no fim da
tarde. Se tivesse sorte, suas convidadas j estariam bem longe antes
disso.
Parte da conversa com a me das meninas o deixara intrigado. Quem
seria Glenn e de onde teria escapado? Possivelmente da priso.
Quanto mais pensava no assunto, mais se convencia de que estava
certo. Vivera naquela regio a maior parte de sua vida e, a nica vez
em que acontecera um bloqueio havia sido por causa de uma
avalanche.
Ele pisou fundo no acelerador, determinado a chegar ao chal o
mais rpido possvel. Se estivesse certo e o tal Glenn tivesse mesmo
escapado da priso, as trs poderiam estar em perigo.
Como ou porque pressentia aquilo, no saberia explicar. Tudo o
que sabia era que faria todo o possvel para evitar a morte de
outras pessoas.
Ao estacionar desceu rapidamente do carro e a passos largos,
chegou at o chal e abriu a porta, despreparado para o que ia
encontrar.
Grace e as duas meninas no sof, com Ice-D e Cliff segurando um
homem baixinho e barbudo, vestindo o inconfundvel uniforme laranja
das prises. Os ces estavam em posio de ataque, esperando apenas o
comando final do dono.
Voc est bem? Max perguntou a Grace, depois de examinar a
sala.
Ela assentiu e s ento percebeu que as mos dela estavam amarradas
s costas. As meninas estavam soltas, mas os rostos assustados
estavam banhados de lgrimas. O corao, apesar de forte, fraquejou
diante da cena.
Sem esperar mais nada, pulou para cima do homem, que presumia
ser Glenn e estalou os dedos. No mesmo instante, os ces se
afastaram, mas ficaram alertas, emitindo grunhidos ameaadores.
No se mexa! ordenou, agarrando o homem pelo pescoo, atirando-o
contra a parede, na direo da porta. Sabendo que estava sendo
observado pelas meninas, conteve o desejo de esmurr-lo ali mesmo.
Ento, optou pela melhor coisa a fazer. Arrastou-o at o carro e
encostou-o na porta do lado do passageiro.
Mova um msculo e prometo que no serei to bonzinho como fui l
dentro. Glenn, um homem quase calvo, braos cobertos de tatuagens e
alguns dentes faltando na boca, colocou o brao na frente do rosto
para defender-se dos socos que recebia. O sangue comeou a escorrer
dos lbios rachados.
Maldito bastardo! esbravejou o sujeito. Aquelas meninas ali
dentro so minhas e eu vim busc-las! Nenhuma mulher vai me impedir
de levar o que me pertence por direito. Ouviu bem?
Ouvi sim, seu intil. Max usou o prprio cinto para amarrar as mos
do homem para trs, que, enfurecido, tentava desvencilhar-se. Porm
ele era muito mais forte. Colocou-o no banco do passageiro e o
prendeu com o cinto de segurana.
Saia da e prometo que to cedo no voltar a andar. Para garantir,
acertou mais um soco no nariz do sujeito. A cabea de Glenn pendeu
para o peito e ele gemeu de dor. Antes que o homem se recuperasse,
Max correu para o chal, ciente de que dispunha apenas de alguns
minutos, at que o invasor se desvencilhasse do cinto de
segurana.
Fique aqui e no faa nada at eu voltar pediu a Grace assim que a
desamarrou.
Ela assentiu, esfregando os pulsos. Abraou as meninas, que
continuavam a tremer e a chorar.
A ltima coisa que Max ouviu antes de sair do chal foi Grace
prometendo a elas que tudo ia ficar bem.
Captulo III
Trs horas depois, Max voltou ao chal trazendo boas notcias.
Encontrou Grace, as garotas e os dois ces no sof, adormecidos.
Chegara a pensar que todos estariam aflitos, esperando seu
retorno.
Ice-D e Cliff pularam do sof assim que o viram. Afagou as
orelhas dos dois e permitiu as costumeiras lambidas de
boas-vindas.
Est bem, est bem, j chega. Foi para a cozinha e viu que as
vasilhas de gua dos ces estavam cheias, mas que as de comida
estavam vazias. Estava a ponto de ench-las de rao, quando Grace
apareceu.
Eles j comeram trs salsichas cada um e uma poro de rao. No creio
que estejam com fome.
No sei por que ainda fico com vocs. Devia faz-los trabalhar por
sua edmida. Max afagou o espao entre as orelhas dos animais. Fora
daqui, os dois, vamos. Os ces obedeceram e voltaram a ocupar seus
lugares no sof, um de cada lado das meninas.
Eles esto convencidos de que so os donos da casa hoje comentou
Grace ao v-los acomodar-se outra vez no sof.
Como esto elas? ele quis saber, apontando para as crianas
adormecidas.
O melhor possvel, nas atuais circunstncias. Grace olhou para as
duas a fim de certificar-se de que ainda dormiam.
O que aconteceu? Tinha certeza de que Glenn estava preso. Max
fez sinal para que o seguisse escada acima.
No podemos conversar aqui sem acord-las. Eu soube pelo rdio, que
Glenn estava sendo transferido para Denver. Os policiais que o
escoltavam fizeram uma parada para comer na Grand Junction.
Acreditando que o homem fosse inofensivo como alegava, deixaram que
ele tambm entrasse na lanchonete para se alimentar. Permitiram que
fosse at o banheiro e nunca mais o viram.
Mas isso no faz sentido. Como ele sabia onde nos encontrar?
Ningum poderia prever tudo o que aconteceu. Perplexa, Grace
deixou-se cair numa cadeira.
Os bloqueios na noite passada eram para procur-lo. E ele no
fazia idia de que iria encontrar as garotas. Por sorte, ou por
azar, como queira chamar, minha casa a nica das redondezas. Ele
deve ter caminhado a noite toda e chegado at aqui, exatamente como
voc. Uma terrvel coincidncia, no acha?
Grace no sabia o que pensar e no conseguiu dizer nada.
Liguei para o nmero que voc me deu e falei com Juanita. Disse
que vocs estavam bem e que voltariam assim que possvel.
Muito obrigada, mesmo. Juanita minha me. Tenho certeza de que
ela e Stephanie estavam muito preocupadas. Teve vontade de
perguntar se elas haviam dito mais alguma coisa, mas nem houve
tempo.
Sua me disse que Bryce estava l. Que ele no pde esperar at a
vspera do Natal para v-la.
Os olhos dela iluminaram-se como uma rvore de Natal.
Mas isto maravilhoso! Mal posso esperar para v-lo. Ficou difcil
combinar nossos horrios, agora que vivemos em cidades diferentes. J
faz quase um ano que no nos vemos. No acredito que deixei passar
tanto tempo sem...
melhor voc ir antes que volte a nevar. A previso de mais alguns
metros para esta noite. Prometi sua famlia que voc chegaria em casa
ainda hoje.
Grace sentiu uma dor no corao quando pensou em partir e deix-lo.
Mal o conhecia e nem sabia se gostava do pouco que conhecera, mas
ainda assim, relutava em ir embora.
Tem razo. Sei que as meninas esto ansiosas para chegar em casa,
rever a me e enfeitar a rvore que prometi.
Antes que pudesse deter-se, ou pensasse melhor, Max tomou-a nos
braos e beijou-a na boca. A inspirao pesada, de choque ou de
desejo, o surpreendeu, pois em vez de afast-lo, Grace correspondeu
ao carinho.
Grace... pronunciar o nome dela foi como liberar uma srie de
emoes intensas, algo que ele acreditava adormecidas para
sempre.
Da mesma maneira inesperada que a beijou, ele se afastou.
Ficaram se entreolhando por longos momentos. Quando o silncio
tornou-se insuportvel, ele a olhou de um modo diferente, com um
interesse que a constrangeu em um primeiro momento. Quando voltou a
encar-lo, percebeu atravs daqueles olhos lmpidos, que havia algo
mais do que apenas o homem que lhe oferecera abrigo.
Se eu dissesse que sinto muito, estaria mentindo. Hesitante, Max
afastou os cabelos do rosto dela.
Tudo bem... Ela sorriu.
E melhor voc ir. Sc demorar, a neve a impedir de sair de
novo.
Nenhum deles desviou o olhar, ambos surpresos com a repentina e
intensa atrao que os unia.
E quanto a Bryce? Foi Max quem quebrou o silncio.
O que tem o ele? Grace o encarou, sem entender.
No importa...
Espere. Por que a pergunta? Voc o conhece?
No conheo e nem quero conhecer. Escute Grace, foi s um beijo,
est bem? Um impulso de momento. No vejo uma mulher h muito tempo e
voc muito atraente. Perdi o controle, sinto muito? Imagens de Kayla
danavam sua frente, enquanto o corao batia num s ritmo: culpado,
culpado, culpado!
Onde esto minhas chaves? Ela falou a primeira coisa que lhe veio
mente. De repente, achou-se a mais tola das mulheres por ter cedido
a um impulso. No posso acreditar que beijei voc! Como fui tola!
assim dizendo, desceu os degraus o mais rpido que conseguiu.
Amanda, Ashley! Hora de ir chamou as duas, agora j bem
acordadas.
Em menos de dois minutos, as garotas vestiram casacos, gorros,
luvas e os sapatos.
Podemos dar um beijinho de adeus nos cachorros, tia Grace?
perguntou Amanda.
Grace olhou para Max.
Claro que sim. Eles adoram meninas bonitas. Como o dono deles,
murmurou Grace s para si.
Por favor, pode me dizer uma coisa antes de partir? Respirando
fundo e prometendo no dar mais nenhum sinal
de carncia, ela revirou os olhos, mostrando-se impaciente, antes
de perguntar:
O que ?
Por que chama sua casa de Hope House? Onde fica esse...
lugar?
Achando que no tinha necessidade de mentir, nem de arrastar
aquela conversa por mais tempo, ela decidiu explicar:
Lembra-se de quando eu disse que era uma conselheira? Na
verdade, sou psicloga. A Hope House acolhe mulheres que foram
vtimas de abusos e de violncia. A Justia as encaminha para mim,
quando precisam de um lugar para ficar. L estaro seguras at que
seus agressores sejam julgados, ou at que se divorciem ou, em
alguns casos, at que voltem para os homens que as agrediram. Este
ano, Stephanie e as garotas passaro o Natal comigo e com minha
famlia na Hope House. A julgar pela expresso dele, Grace teve
vontade de convid-lo tambm, apesar da recente humilhao que sofrer.
Jamais havia encontrado algum to solitrio. Pensar em deix-lo passar
as festas sozinho, a deixava deprimida. E a localizao secreta
concluiu.
Observou as numerosas expresses no rosto bonito enquanto falava.
Curiosidade, compaixo, raiva... Mas por que isto lhe provocaria
raiva? Claro que no o conhecia muito bem, mas ser que ele se
importava com outras pessoas que no ele prprio?
Na verdade, no teria tempo para descobrir. Havia uma festa de
Natal esperando por elas.
Vamos, meninas. Temos uma poro de enfeites para colocar na
rvore.
Excitadas, as duas comearam a gritar e a rir, j com seus
pertences nas mos.
Antes de sair, ela voltou-se para Max.
Obrigada pela hospitalidade.
As garotas abraaram os cachorros, que retriburam com gostosas
lambidas.
Tome cuidado ele aconselhou, antes de fechar a porta. E, de
repente, o chal pareceu grande demais para ele e os
cachorros.
Vamos dar um passeio, rapazes. No me lembro da ltima vez cm que
se exercitaram. Vamos at Povvder Rise esquiar.
Rapidamente, preparou os ces e juntou todo o equipamento de que
iria precisar. Os esquis estavam no sto. Colocar as roupas nos ces
no foi tarefa fcil, mas necessria. Os dois costumavam correr ao
lado dele enquanto esquiava e as patas tambm precisavam ser
protegidas.
Trinta minutos depois, ele subia com o carrinho de neve at o
topo da Powder Rise, sua montanha favorita. Com os ces a seu lado,
comeou a descer montanha. A neve fazia o som caracterstico ao ser
cortada pelos esquis. A trilha ficava cada vez mais estreita. Ele
procurava descer a uma velocidade moderada, para que os ces
pudessem acompanh-lo sem ficarem exaustos. Pela primeira vez em
muitos meses, percebeu o quanto estava sozinho.
Claro que tinha amigos, mas eles haviam parado de visit-lo fazia
muito tempo. E a razo era simples, tornara-se outra pessoa depois
da morte da esposa. Criara um casulo de luto. Lembrou-se da culpa
que sentia apenas por estar vivo. Dia aps dia maldizia a escolha
profissional da esposa. E, dia aps dia, o luto foi tomando conta de
sua vida, transformando-o na pessoa dura e amarga que era hoje. E,
pela primeira vez, teve vontade de deixar de ser esse homem
intratvel. Desejava voltar a ser o que era antes da morte de Kayla,
apesar do que dissera a Grace.
Relembrou todos os minutos que culminaram no momento em que seu
mundo fora virado de cabea para baixo. No gostava daquelas
introspeces, mas sentiu que no poderia mais sobreviver daquele
jeito. No adiaria mais nem um minuto para colocar o passado em seu
devido lugar.
Max parou, sentou-se perto de uma rvore e comeou a relembrar
minuto a minuto daquela fatdica vspera de Natal...
Naquele final de tarde, ele estava ansioso para ir para casa e
passar a semana seguinte mimando a esposa. No sabia definir o que
sentira ao saber que ela estava grvida. Um filho! Por ter sido
filho nico, pretendia ter dois ou trs, ou at mais. Mas Kayla
argumentara que dois era o seu limite. Mal podia esperar para dar a
ela o presente de Natal que comprara: um jipe vermelho novinho em
folha.
Desde que a conhecera, ela dirigia o mesmo carro antigo que
ganhara do pai. Queria que ela possusse um carro mais confivel. Ela
ficaria muito brava por ele ter gastado tanto dinheiro. Afinal,
tinham o suficiente para viver com conforto pelo resto de suas
vidas.
Consultando o relgio, viu que j passava de meia-noite. Kayla
estava no turno das quinze s vinte e trs horas. Por isso, era
esperada a qualquer momento. E, pelo restante da semana,
pertenceria a ele e a mais ningum. Nada de trabalho, nem de
telefonemas no meio da noite. Nada. Planejavam uma curta viagem a
Denver para procurar um bero e outras coisas para o enxoval do beb.
Como adorava pensar naquele beb.
Tinha terminado as compras de Natal e havia dezenas de pacotes
sob a rvore, que no estavam ali quando ela sara para trabalhar.
Sim, com certeza, Kayla teria muitas surpresas.
Quando olhou outra vez no relgio, viu que faltavam quinze para a
uma da madrugada. Deu um salto quando o telefone tocou.
Provavelmente era Kayla para dizer que se atrasara.
Atendeu ao terceiro toque.
Max Jorgeson? disse uma voz masculina.
Sim, sou eu.
Estamos enviando uma viatura para peg-lo. A oficial Jorgeson
envolveu-se em um tiroteio...
Ela e o beb j estavam mortos quando chegaram ao hospital.
Grace enfeitou o ltimo pacote com fita vermelha brilhante e
acrescentou um enorme lao combinando. Observou a pilha de presentes
que passara a manh inteira embrulhando. Este ia ser, realmente, o
melhor Natal da vida de Stephanie e das meninas.
Alm de bonecas e dos livros de histrias, Grace ia presente-las
com roupas e sapatos novos. Para Stephanie comprara um traje
completo para esquiar e uma jaqueta, pois ela tinha dito que nunca
tivera roupas novas, tendo de contentar-se com as usadas que
recebia por caridade.
Stephanie adorava esquiar antes de se casar com Glenn. Talvez
agora conseguisse recomear a vida. Por um momento, Grace lembrou-se
de Max, que poderia ser um timo instrutor para ela.
Mal o conhecia e, entretanto, parecia impossvel tir-lo da cabea.
Passara no mais de vinte e quatro horas ao lado dele e agora
sentia-se apaixonada como uma adolescente. Apaixonada e cheia de
desejo. Havia tempos que no tinha um relacionamento que a
satisfizesse. Na verdade, no tivera nenhum desde que Matt, seu
namorado na universidade, a deixara para fazer carreira fora do
pas.
Desde ento, tivera apenas encontros sem compromissos. Sempre
havia algum, cujo primo estava na cidade e que precisava de
companhia, ou algum recm-divorciado que precisava de uma
acompanhante para a festa anual da empresa. Gostava desses
encontros, mas nunca pensara em se casar, apesar de j ter
completado trinta e cinco anos. Sentia-se feliz com sua carreira e
com a vida que escolhera. Abrir a Hope House fora a realizao de seu
maior sonho. O que viesse depois disso seria considerado um bnus
extra.
J terminou? perguntou Juanita. Tenho algumas coisas que gostaria
de embrulhar.
Grace voltou-se e viu a me porta. A Hope House tinha seis
quartos disponveis. Como s estavam Stepanie e as garotas, Grace
transformara o menor dos dormitrios numa espcie de estao de
trabalho, onde poderia fazer os pacotes sem ser vista. Adorava
surpresas e mal podia esperar para ver a felicidade das meninas na
manh do Natal.
Fique vontade, mame. S prometa que no vai olhar os presentes.
Alguns desses pacotes dourados so seus.
Por que no os coloca embaixo da rvore? sugeriu a me.
Vou colocar. S estou esperando que Amanda e Ashley saiam do
banho para me ajudar.
Boa idia, querida. Voc sabe mesmo como lidar com crianas. Pena
que no tenha seus prprios filhos.
Oh, no! Aquela conversa sobre casamento outra vez, pensou
Grace.
Mame, j falamos sobre isso antes. Se casamento e filhos no
estiverem no meu destino, deixe-me pelo menos mimar as crianas que
eu puder.
Juanita olhou para a filha com lgrimas nos olhos.
No sei como consegui criar uma filha to maravilhosa! Venha c,
querida. Quando Grace levantou-se, compartilharam de um longo
abrao.
Apenas segui seu exemplo, mame.
No verdade, querida. No acho que teria tido coragem suficiente
para fazer as coisas que voc faz. Ser que j lhe disse como me
orgulho de voc? Todas as mulheres e crianas que voc j ajudou!...
Seu pai tambm ficaria orgulhoso.
Pare com isso, mame, ou vou comear a chorar e estragar minha
maquiagem. Sabe como sou desajeitada com essas coisas.
Est bem, v em frente, ento. Quero acabar de embrulhar estes
pacotes antes que Bryce descubra o que estou fazendo. Sabe como ele
bisbilhoteiro.
Fique tranquila. Vou mant-lo ocupado l embaixo. Esconda tudo
embaixo da cama quando terminar.
Boa idia.
No trreo, Grace encontrou o irmo examinando o refrigerador.
Isso tudo o que sabe fazer?
O qu? Bryce se assustou, mas depois abriu aquele sorriso bonito,
to parecido com o do pai. At os cabelos negros como carvo e os
olhos escuros eram iguais aos dele. Acabara de doutorar-se cm
Histria, a mesma matria que o pai lecionara na Universidade do
Colorado. Seria um orgulho para ele, que morrera de um ataque
cardaco fulminante quando Bryce tinha dezesseis anos.
Toda vez que olho para voc, est comendo!
Ora, estou em fase de crescimento ele brincou. E no como comida
de verdade h muito tempo. Seria bom se eu soubesse cozinhar.
Ento, acho que vou providenciar um livro de receitas como
presente de Natal para voc.
Obrigado, irmzinha. Bom saber que sempre posso contar com algum
to prtico comentou ele, entre mordidas no po de banana.
Melhor deixar um pouco para as crianas. Mas o que significa esse
elogio?
Bryce virou um enorme copo de leite, antes de seguir a
conversa.
Apenas que voc uma pessoa sem muitos rodeios. Mas isso no
ruim.
De repente, Grace sentiu vontade de chorar.
Voc acha que por isso que ningum... bem, digo, que nenhum homem
jamais se apaixonou por mim de verdade? Sabia que podia fazer
qualquer pergunta ao irmo e que ele sempre diria a verdade.
Talvez. Ou quem sabe ainda no encontrou a pessoa certa.
Voc um bom irmo, sabia? Envolveu-o num abrao. Embora ela fosse
seis anos mais velha, Bryce tinha o do