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82 Ano XI Nº 19 Janeiro de 2009 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 1. Conjuntura internacional Nos últimos decênios do século XVIII, refizera-se a Bahia da crise que, com raras interrupções, perdu- rava desde a primeira metade do sé- culo XVII. É verdade que, no fim dêste, o desenvolvimento do merca- do europeu para o fumo, atenuou a dependência do açúcar. Mas a expor- tação do fumo não poderia substi- tuir a da principal lavoura e indús- tria, fixadora por excelência de civi- lização. E o açúcar teve a sua crise agravada com a febre de mineração no século XVIII, a qual arrebatou para a aventura os seus trabalhado- e não cuidavam de melhorar os mé- todos de trabalho. Certo, houve imprevidência por parte de muitos, não fazendo reservas nos anos bons. Falava-se também na “ganância” dos intermediários e financiadores. E ainda os impostos eram pesados, não considerando o estado de depressão da lavoura, e sendo lançados e coletados de surprêsa e em épocas muita vez impróprias. Mas todos êsses fatores foram realmente secun- dários face àqueles dois que aponta- mos. Também não era a baixa quali- dade dos produtos a responsável pela decadência das exportações. A partir deste número a Revista de Desenvolvimento Econômico passa a oferecer aos seus leitores textos clássicos da literatura econômica que versam sobre a Bahia e o Brasil. Além de colaborar para a preservação da memória de contribuições intelectuais que foram muito importantes para os estudiosos da economia regional a RDE pretende, com esta iniciativa, tornar accessíveis às novas gerações trabalhos preciosos de difícil acesso nos dias atuais. Inaugurando a série é divulgada uma análise da economia estadual nos séculos XVIII e XIX realizada por Rômulo Barreto de Almeida, considerado por muitos o maior economista baiano do século XX. A matéria selecionada foi apresentada na primeira conferência de um Curso de Economia promovido pelo Instituto de Economia e Finanças da Bahia (IEFB), em 7 de novembro de 1949 e posteriormente publicada pela Revista de Economia e Finanças (IV (4), p. 70-78. Salvador, 1952) daquele Instituto. Vinte e cinco anos depois foi reeditada pela CPE na revista Planejamento (Salvador, 5(4): 19-54, out/dez 1977) da qual se extraiu o texto seguinte. O Editor T RAÇOS DA HISTÓRIA ECONÔMICA DA B AHIA NO ÚLTIMO SÉCULO E MEIO 1 Rômulo Barreto de Almeida res livres e até mestres, leiloou os escravos que já escasseavam e enca- receu o preço de tôdas as utilidades, ao mesmo tempo em que, com os embargos ao comércio com as Minas Gerais, era a Bahia impedida de com- pensar os seus prejuízos com o lu- cro dos fornecimentos para os ser- tões do ouro. Enquanto a competi- ção das colônias de outras potências européias crescia, os custos de pro- dução também se elevaram assim inevitavelmente. Costumava-se imputar a deca- dência da indústria açucareira à cul- pa dos produtores, que esbanjavam
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Rômulo Barreto de Almeida - Traços Da História Econômica Da Bahia No Último Século e Meio

Jan 15, 2016

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Rômulo Barreto de Almeida - Traços Da História Econômica Da Bahia No Último Século e Meio
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Page 1: Rômulo Barreto de Almeida - Traços Da História Econômica Da Bahia No Último Século e Meio

82 Ano XI � Nº 19 � Janeiro de 2009 � Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

1. Conjuntura internacionalNos últimos decênios do século

XVIII, refizera-se a Bahia da criseque, com raras interrupções, perdu-rava desde a primeira metade do sé-culo XVII. É verdade que, no fimdêste, o desenvolvimento do merca-do europeu para o fumo, atenuou adependência do açúcar. Mas a expor-tação do fumo não poderia substi-tuir a da principal lavoura e indús-tria, fixadora por excelência de civi-lização. E o açúcar teve a sua criseagravada com a febre de mineraçãono século XVIII, a qual arrebatoupara a aventura os seus trabalhado-

e não cuidavam de melhorar os mé-todos de trabalho. Certo, houveimprevidência por parte de muitos,não fazendo reservas nos anos bons.Falava-se também na “ganância” dosintermediários e financiadores. Eainda os impostos eram pesados, nãoconsiderando o estado de depressãoda lavoura, e sendo lançados ecoletados de surprêsa e em épocasmuita vez impróprias. Mas todosêsses fatores foram realmente secun-dários face àqueles dois que aponta-mos. Também não era a baixa quali-dade dos produtos a responsávelpela decadência das exportações.

A partir deste número a Revista de Desenvolvimento Econômico passa a ofereceraos seus leitores textos clássicos da literatura econômica que versam sobre a Bahia e o

Brasil. Além de colaborar para a preservação da memória de contribuições intelectuais queforam muito importantes para os estudiosos da economia regional a RDE pretende, comesta iniciativa, tornar accessíveis às novas gerações trabalhos preciosos de difícil acesso

nos dias atuais.Inaugurando a série é divulgada uma análise da economia estadual nos séculos XVIII e

XIX realizada por Rômulo Barreto de Almeida, considerado por muitos o maioreconomista baiano do século XX. A matéria selecionada foi apresentada na primeira

conferência de um Curso de Economia promovido pelo Instituto de Economia e Finançasda Bahia (IEFB), em 7 de novembro de 1949 e posteriormente publicada pela Revista de

Economia e Finanças (IV (4), p. 70-78. Salvador, 1952) daquele Instituto. Vinte e cinco anosdepois foi reeditada pela CPE na revista Planejamento (Salvador, 5(4): 19-54, out/dez

1977) da qual se extraiu o texto seguinte.O Editor

TRAÇOS DA HISTÓRIA ECONÔMICA DA BAHIANO ÚLTIMO SÉCULO E MEIO1

Rômulo Barreto de Almeida

res livres e até mestres, leiloou osescravos que já escasseavam e enca-receu o preço de tôdas as utilidades,ao mesmo tempo em que, com osembargos ao comércio com as MinasGerais, era a Bahia impedida de com-pensar os seus prejuízos com o lu-cro dos fornecimentos para os ser-tões do ouro. Enquanto a competi-ção das colônias de outras potênciaseuropéias crescia, os custos de pro-dução também se elevaram assiminevitavelmente.

Costumava-se imputar a deca-dência da indústria açucareira à cul-pa dos produtores, que esbanjavam

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Mestres dos engenhos brasileirosforam contratados para engenhosdas Caraibas, o que indica sua repu-tação. Em 1687, um arguto Viegasescrevia num relatório para o rei:“As causas da diminuição e total ruí-na em que se acha o comércio dosfrutos do Brasil não procede de seobrar mal, se não de ser muito o quedele das Barbadas e da Índia vai àEuropa”. O Rei não “acharia remé-dio para que sejam mais finos” (osaçúcares). Os holandêses nos 24 anosde Pernambuco não acharam meiosde mais perfeitamente fabricá-lo ecom menor custo.2

Nesse final do século XVIII, po-rém, certas condições internacionaisextremamente favoráveis permitiamuma nova vida ao comércio de ex-portação e um desafogo para os se-nhores de engenho tradicionalmen-te endividados. A guerra da inde-pendência americana e a “revoluçãoindustrial” abriram uma larga opor-tunidade para o algodão. A primei-ra remessa do Brasil foi em 1767, e já“a começar de 1786 as exportaçõesvariam de 150 a 200 mil libras porano.3 Passou a ser o algodão um fa-tor de equilíbrio do balanço comer-cial da Colônia. Além do algodão,todos os demais produtos tiveram aprocura aumentada, em consequên-cia dos dois fatores históricos queindicamos, e das guerras napoleô-nicas, que iniciavam um grande ci-clo de perturbações internacionais,dos quais advieram, até a indepen-dência, condições favoráveis ao nos-so comércio.

A Bahia, principal centro comer-cial e produtor, só em anos excepcio-

nais ultrapassada nas exportaçõespor Pernambuco ou pelo Rio, serianaturalmente a primeira beneficiáriadessa conjuntura favorável, salvo, notocante ao algodão, a maior vanta-gem do Maranhão e de Pernambuco,apesar de na Bahia, já desde o I sé-culo, segundo um exagêro quinhen-tista, “os moradores preferiam àcana o algodão, cuja cultura se dámelhor na terra” 4· .

A “grande guerra” inglêsa con-tra Napoleão reclamou maiores con-sumos, sendo êste fator talvez maisimportante do que o efeito restritivosobre a navegação, já que nessa épo-ca a Inglaterra desenvolvia estupen-damente sua frota. As Índias Ociden-tais Francêsas tiveram sua produçãoe seu comércio perturbados. O co-mércio do Oriente também sofreu(caso do algodão e da sêda). Logo ascolônias espanholas entraram empolvorosa.

Para se medir a importância dasituação internacional sôbre o nossocomércio, vamos acrescentar algunsdados, sôbre o açúcar, o café e ofumo. O Brasil havia sido reduzidono final do século XVIII a pouco maisde 10% do comércio internacional doaçúcar.5 Quando menos, a metadedas áreas fornecedoras esteve con-flagrada, ou perturbada por dificul-dades de navegação, bloqueio, etc.Quanto ao café, um dos fatores doseu desenvolvimento no Brasil foi adestruição dos cafesais de Haiti pe-los negros sublevados na guerra deindependência dessa ilha francêsa,os quais também destruíram os en-genhos de açúcar. Haiti foi por mui-to tempo a maior produtora mundi-al de café e de açúcar, enquantoJamaica e outras colônias inglêsasexperimentavam uma temporáriadecadência açucareira.

Cuba, única colônia espanholaexportadora de açúcar, encontrou apartir de 1763 até 1779 condiçõesmuito favoráveis, pois passou a su-prir as necessidades totais da Espa-nha, cêrca de 500.000 arrobas, desdeque esta levantou direitos proibiti-vos para o açúcar estrangeiro Entre79 a 85 a produção cubana de açú-car e de fumo foi prejudicada pormedidas internas e pela guerra

hispano-inglêsa. Cuba sucedeu de-pois ao Haiti como primeiro produ-tor de açúcar, mas já a partir de 99se instalou uma crise que se foi agra-vando em consequência do conflitoeuropeu, para só vir a ser superadaa partir de 1818.6

Dessa forma a situação interna-cional permitiu durante um bomperíodo a recuperação da nossa de-cadente economia colonial. Foi elaainda que possibilitou o Alvará daAbertura dos Portos, em 1808, que,bem conhecido, dispensa maior ex-tensão. Êste ato de fundamental im-portância, todavia, precisa ser balan-ceado sem o entusiasmo irrestrito deoutrora, pois há, por exemplo, indi-cações de efeitos negativos sôbre anavegação nacionaI.7 ÊIe veio entre-tanto eliminar intermediários e as-sim possibilitar maior preço ao ven-dedor nacional e menor preço aoimportador. ÊIe animou o comércio,introduziu novas idéias, confortos einstrumentos de trabalho, emborativesse também fomentado as im-portações de novidades e bugigan-gas, em parte no comércio a crédito,que viriam imperceptivelmente gra-var o nosso balanço de pagamentos.O seu saldo positivo deve ter sidogrande, como fator de enriqueci-mento e progresso.

Esta quadra entre a guerra da in-dependência dos Estados Unidos ea nossa independência, foi, assim,para a Bahia, uma época de prospe-ridade e capitalização, mas não, to-davia, isenta de problemas.

A guerra da

independência americana

e a “revolução industrial”

abriram uma larga

oportunidade para o

algodão. A primeira

remessa do Brasil

foi em 1767...

Esta quadra

entre a guerra da

independência

dos Estados Unidos

e a nossa independência,

foi, assim, para

a Bahia, uma época de

prosperidade e

capitalização...

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2. Condiçoes internasEnquanto isto, as regulamenta-

ções, exigências, “taxas, almotaçariase condenações”, que caracterizavamo “regime exclusivo” (referência aomercantilismo, agravado na explo-ração colonial) do Século XVIII, e que“atravessavam” e oprimiam a pro-dução, foram consideràvelmente re-duzidas com o Alvará que visava“extingui-las” e dar “liberdade dopreço” o qual era mandado execu-tar em 1799. Um dos consultores doSenado da Câmara da Bahia, em1807, atribuiu a êsse ato “progressi-vo aumento da lavoura, principal-mente das farinhas, que são o pão daterra, e dos legumes” 8, Mas as com-plicações e abusos não haviam aca-bado, como de resto até hoje não seextinguiram dos nossos hábitos fis-cais e burocráticos, ainda de acentua-da feição “patrimonialista9. Narra oprincipal dêsses consultores as fre-qüentes medidas contra a exporta-ção, os vexames da obrigatória pas-sagem dos gêneros pelo “Celeiro” daCidade e os sofrimentos dos lavra-dores e barqueiros: “Fora do celeiroêles têem de mais a mais de susten-tar os assaltos dos Meirinhos, e ren-deiros que Ihes saem ao cais a pedirconta das licenças, finanças, entra-das, guias, regimentos, carlotações,visitas, e mil outras formalidades,que o sistema regulamentário teminventado exames, aferições ilegais,selos de pipas, lotações, para surpre-ender coisas à singeleza dos barquei-ros, e lavradores rústicos, que emconclusão de seus sofrimentos, e per-das, perdem até a vontade de voltarcom outra carregação, e vão espalharpor tôda parte o descoroçoamento”.

Outros alvarás haviam concedi-do liberdade de navegação e outras.“Posto que não tenham nunca tidointeira observância, contudo servi-ram para adoçar as violências dosexecutores fiscais e municipais”, se-gundo êsse lúcido DesembargadorJoão Rodrigues de Brito.10

A Mesa de Inspeção d’Agricul-tura e Comércio era uma instituiçãoorganizada segundo lei do meiadodo Século XVIII para “exames e qua-lificações”, segundo as quais os gê-neros pagavam impostos e erammarcados contra fraudes, bem comopara decidir outras questões do co-mércio. Havia queixas. Ferreira daCâmara disse que “se não estivesseorganizada ... não aprovaria sua cria-ção”, provavelmente em respeito àsidéias da época, mas atestou “a con-fiança que a Mesa tem merecido dopúblico, que é o melhor Juiz do con-ceito dos empregados”: negociantese lavradores “distantes, guiados poraquela qualificação, concluem maisfacilmente os seus ajustes”. O De-sembargador Brito e Gomes FerrãoCastelo Branco coordenava a Mesa.Mas Sequeira Bulcão considerava aMesa uma defesa do lavrador, “decomum sujeito ao negociante” 11,observação esta última também deJosé da Silva Lisboa, em carta citadapor W. Pinho12.

Homens adiantados encontra-vam nesse período o clima favorá-vel para idéias novas que traziam daEuropa. Felixberto Caldeira BrandtPontes, depois Marquês de Barbace-na, trouxe a primeira máquina a va-por instalada num engenho de açú-car no Brasil, tomou a si a emprêsade naveqação a vapor, inaugurandoem outubro de 1819 o vapor de Ca-choeira, uma das maravilhas no fol-clore do sertão, e cuja máquina, vin-da da Inglaterra, foi montada numbarco construido no estaleiro da Pre-guiça. Caldeira Brandt ainda fez par-te do grupo que estabeleceu o pri-meiro Banco (1817), filial ao primei-ro Banco do Brasil, promoveu o le-vantamento de uma planta do Re-côncavo e iniciou a abertura de umcaminho entre São Jorge dos Ilhéuse o Arraial da Conquista!”. Tivemosnessa época um outro Senhor de en-

genho pioneiro, Pedro Antônio Car-doso. Manoel Ferreira da CamaraBittencourt Sá, proprietário do En-genho da Ponta, no Iguape, refor-mou fornalhas, economizando doistêrços da lenha, e introduziu váriasoutras inovações da técnica indus-trial e agrícola. Agostinho Gomestrouxe também melhoramentos nalavoura e na pecuária, e lançou gran-des projetos, um dêles o de uma fun-dição de cobre e ferro. Todos eramversados na ciência da época, inclu-sive na economia política, ou seja, na“ nova doutrina”, do “profundoSmith”. Ao lado deles, homens letra-dos de oficio, como José da Silva Lis-boa, depois o Visconde de Cayrú, se-cretário da Mesa de Inspeção d’Agricultura e Comércio, e o Desem-bargador João Rodrigues de Brito,cuja resposta ao inquérito da Câma-ra do Salvador, tenho a impressãoque é um documento definitivo nãosó da história econômica da Bahia,mas da história das idéias econômi-cas no Brasil, pela clareza com queexpõe a administradores as idéias deAdam Smith, de Sismondi, e de Say,e as aplica no exame de uma situa-ção regional. Êsses homens represen-tavam um ambiente, na época per-feitamente atual no mundo, comoaliás acontecia com Azeredo Couti-nho, Arruda Câmara e outros na re-gião de Pernambuco. Nesse tempo,a Bahia teve grandes governadores:D. Fernando José de Portugal, depoisMarquês de Aguiar, o Conde daPonte, o duro e lúcido Conde dosArcos e o Conde da Palma, homensenérgicos e influenciados pelas idéi-as novas. Havia um clima de inicia-tivas.

Uma Praça de Comércio, origemda atual Associação Comercial, foifundada pelo Conde dos Arcos, nabase de sugestões do Desembarga-dor Brito e outros, como uma bolsade mercadorias, para facilitar as ope-rações mercantis e moralizar o co-mércio.

Até 1815, a mão de obra vinhafacilmente da Costa da Mina. Mas aInglaterra havia extinto em 1807 oseu tráfico, com bons motivos de or-dem econômica, e não mais lhe con-vinha permitir essa vantagem a con-

... as complicações

e abusos não haviam

acabado, como de resto

até hoje não se

extinguiram dos nossos

hábitos fiscais e

burocráticos...

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correntes. Era natural que as razõessentimentais fossem exaltadas, eque, mais uma vez, a Inglaterra pro-curasse escudar os seus interesses nointerêsse geral da civilização. Em1815 consegue de Portugal um tra-tado abolindo o tráfico ao Norte doEquador. O tráfico, depois, cai.13

Apesar da abundância de escravos,ou por isto mesmo, o rendimento doseu trabalho não parecia satisfatório.Já se falava na superioridade do tra-balho livre. A idéia de obter colonoseuropéus se reforçava, e já em 1818se estabelecia a Colônia de Leopol-dina. A colonização se tornou umapreocupação de Miguel Calmon14.Os negros já se organizavam, faziamreivindicações, e as suas sedições earruaças se repetiam. Não era tran-quilizador. A pressão, já depois darevolta dos Malês, em 1835, se ate-nuou, com a redução do tráfico e aexportação de braços para os cafesaisdo Vale do Paraíba, fluminense epaulista.

Comparava-se a produção dostrabalhadores livres que, no fumo, jáeram cêrca de um têrço. Mas, o esta-do da instrução era dos mais atraza-dos. Deve-se nessa quadra, ao Con-de dos Arcos, um número relativa-mente grande de novas escolas. Asituação, não obstante, deveria sersuperior à do resto do país, confor-me indicações, além de outras, dosRevs. Kidder & Fletcher, já temposdepois15.

O preconceito contra o trabalhoprático era rígido e tanto impedia aaplicação na produção de pessoas depadrão social, e naturalmente enge-nho mais alto, como a aprendizagemtécnica. Impressionou muito a al-guns viajantes, como Agassiz, essepreconceito no Brasil.

Os problemas na Bahia nessaquadra encontram uma exposiçãoexcelente nas quatro cartas que res-ponderam aos quesitos do Senadoda Câmara. Já nos referimos às com-plicações criadas pela administraçãopública e aparêlho fiscal coloniais, asquais se bem amenizadas, ainda con-tinuariam (até hoje), talvez comouma consequência do próprio siste-ma econômico. Os transportes, seainda hoje (1949) representam a

maior desvantagem da Bahia, pode-mos imaginar o que eram naqueletempo! A navegação na Bahia deTodos os Santos era o grande recur-so. Ao longo da costa também. OArsenal de Marinha fôra reformado,as construções navais de desenvol-veram, ao menos até o Acôrdo coma Inglaterra!16. Veio a navegação avapor no Recôncavo e na Costa. OConde da Palma tratou da navega-ção no Jequitinhonha. Mas o desem-baraço dos navios, a atracação e o de-sembarque eram lentos e desanima-dores. As embarcações, saveiros esumacas, eram muito maltratadas. Otransporte terrestre então longe fica-va das “facilidades” de naveqação,Na zona dos canaviais, o massapèatolava meses seguidos. A marchado Exército Libertador foi penosa-mente retardada por essa circunstan-cia. Os rios e riachos, sem pontes,criavam obstáculos sempre prenhesde imprevistos. Clamava-se por pon-tes. O sertão era servido por limita-das estradas coloniais. As principaissaiam da Cachoeira, para o Norte,via Jacobina, onde o ouro continua-va a ser uma das pequenas, mas va-

riadas fontes de proventos da Bahia,e para Maracás, Caetité e Rio dasVelhas - o velho caminho das Minas,que Martius descreveu17. O algodão,que dava com gôsto nas terras altas,reclamava caminhos. C. Brandt co-meça o Ilhéus-Conquista. De Cama-mú para o interior outro havia sidoiniciado por D. Fernando José dePortugal.

Um dos grandes, senão o maiorproblema do açúcar, era a lenha paraas fornalhas e a madeira para as cai-xas. Sequeira Bulcão, que, da Vila deSão Francisco, respondeu à Câmaracom muito bom senso, porém menorbrilho de linguagem e nenhuma eru-dição (razão talvez do menor desta-que que se tem dado à sua carta),nota que o preço do açúcar “animouavultar as safras”, mas “não tendomatos suficientes, não podiam moermais”. Previa que muitos engenhos“virão a não existir em breve tem-po”. “As caixas são um artigo, quetendo chegado ao auge da carestia eque jamais deixarão de subir de pre-ços pela dificuldade, e distância dasmadeiras”.... Ferreira da Câmara, nasua esplêndida Carta, quando se re-

Figura 1 – Processo do fabrico açúcar em Hispaniola, século XVI. GirolamoBenzoni, Americae pars quinta nobilis & admiratione . .. (Frankfort, 1595)Fonte: http://people.ufpr.br/~lgeraldo/imagensengenhos.html. Acesso em 5/11/2009.

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fere à inexequibilidade das leis inter-vencionistas, mesmo as “exceções”,favoráveis aos interêsses gerais,como a de 1609, sôbre a conservaçãodos bosques e matas, ressaltava: “orase há 198 anos, quando apenas êstepaís tinha saído da barbaridade, ha-via já falta de lenha, e madeiras;...que diremos do estado presente?” 18

Passado o meio século, o geólogoCharles Fred Hartt se impressiona-va profundamente com a devastaçãodas matas por meio das queimadas,através do litoral bahiano, e diziacoisas que têm sido confirmadas porgeólogos e geógrafos modernos:“mas há um agente que tem estadoem atividade no Brasil, cujos efeitospodemos dificilmente sobrestimar, eque é a queima das regiões e matase campos pelo homem”. E conclui,adiante, de uma análise do proble-ma: “A destruição total e descuida-da das florestas nas costas brasilei-ras, a menos que acabe, acabará porproduzir uma ruína certa para opaís. O Brasil deve o seu clima e asua capacidade de produção agríco-la às suas florestas, e é absolutamentenecessário que essas sejam preserva-das em grande parte do país, espe-cialmente na costa. O Clima da Bahiajá tem sofrido muito após a destrui-ção das florestas do Recôncavo, e aqueima das planícies. Mas receio queo Brasil venha compreender isto so-mente quando já for demasiadotarde” 19.

Relacionado com o problema dasmatas, Sequeira Bulcão mostra cons-ciência, sem traço de eruditismo, da

tendência qeral que seria denomina-da de “lei dos rendimentos decres-centes” 20. “A lavoura do açúcar, bemcomo tôdas as mais, se tem aumen-tado”, mas sem grande vantagem.“Outros muitos engenhos, que des-graçadamente com o excesso dospreços se edificaram em maus terre-nos, têm causado a ruina dos seusproprietários, e a infelicidade dosque já existiam, bem como daquelesque se erigiam em bons terrenos”(aludia à concorrencia na compradas caixas e, ao que se depreendetambém, da mão de obra). E adiante:“Os mesmos engenhos abundantes àproporção que se trabalham seus ter-renos diminuem na sua produção, fi-cam mais distantes os matos e porisso cresce a despêsa, fazendo-se ne-cessário maior número de braços, ede fábricas, não podendo ter interêssevantajoso os seus proprietários, e la-vradores, sem que haja maioria nopreço do açúcar ... “21.

Um outro problema era o do ca-pital de movimento. A lavoura vivianas mãos dos grandes comerciantes,e indiretamente dos importadoresestrangeiros – situação que conti-nuou constante, sobretudo pela ins-tabilidade natural dos preços dosprodutos agrícolas de exportacão22,apesar de ter melhorado muitissimo

na quadra inicial que focalizamos.“A irregularidade dos preços é oflagelo da lavoura”, dizia o Des.Brito. Este fato sempre foi agravadopela ausência do crédito, a não seros próprios adiantamentos dos co-merciantes.

Naquela época, então, faltava aprópria base para o crédito real: umRegistro de Hipotecas. O Desembar-gador Brito lamentava que em lugarde remediar a falta de capitais, se ti-vesse adotado “o expediente de con-ceder aos lavradores o privilégio denão poderem rematar-se as fábricasde seus engenhos por execução doscredores”, remédio que “veio agra-var o mal” 23. Em 1836, MiguelCalmon (futuro Marquês de Abran-tes) numa espécie de Relatório daSociedade de Agricultura, Indústriae Comércio considera também o re-gistro Hipotecário um dos proble-mas fundamentais da lavoura.24

Problemas de organização. judi-ciária, política e administrativa eramapontados entre os que requeriammedidas tranquilizadoras para aprodução e o espírito de iniciativa.25

3. AbastecimentoUma situação nada lisonjeira era

a do abastecimento. Vimos que ospequenos produtores, quase sempre

O Clima da Bahia

já tem sofrido muito após

a destruição das florestas

do Recôncavo, e a

queima das planícies.

Mas receio que o Brasil

venha compreender

isto somente quando já for

demasiado tarde...

Figura 2 – Paisagem com plantação (O Engenho), por Frans Post (1689)Fonte: http://people.ufpr.br/~lgeraldo/imagensengenhos.html. Acesso em 5/11/2009.

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os mesmos transportadores, encon-travam entraves descoroçoadores,no desembarque, no fisco, na com-pulsória entrega ao Celeiro Público,na distribuição dos talhos de açou-gue, na incerteza e especulação dospreços, que entretanto estavam su-jeitos a provisões quanto a máximos,apesar da citada medida liberadorados preços. Os lavradores eram tra-tados como uma classe tributária dagrande lavoura de exportação e daspopulações urbanas, que tinham aseu serviço as autoridades. Ferreirada Câmara, liberal esclarecido, seopunha a isto: “É muito ordinárioouvir aos que nada produzem e ain-da àqueles que se dão ao gênero decultura mais lucrativo, que é o dacana, queixarem-se da carestia dafarinha, que talvez é o que menosconvém a cultivar, e fabricar nestaCapitania, de quem lhes faz o gran-de bem de comprar aqui onde ela seacha em abundância,para venderonde ela é rara, e necessária; comose os Lavradores de pão devessemser considerados como pessoas deinferior qual idade à sua, a quem

fôsse lícito de tirar partido do seusuor, e indústria”.26

O fornecimento de carne à Bahia,era dificultado pela falta de mangasperto da Capital ou no caminho dasboiadas. O Desembargador Britoatribuia êste mal à antiga proibiçãode se criar gado nas dez leguas debeira-mar (para não disputar terrasà lavoura da cana; essa proibição teráprejudicado a do fumo, carente deadubo animal).

A velha Lei que obrigava os la-vradores do Recôncavo a plantar 500covas de mandioca por escravo jánão se obedecia, se é que não estavaincluida nas referidas revogações.Era um dos exemplos do Desembar-gador Brito de leis que prejudicam atodos, por contrárias “aos princípi-os da divisão do trabalho desenvol-vidos por Smith”. F. da Câmara, que“sustentava 250 pessoas”, timbrouem declarar que não plantava “umsó pé de mandioca, para não cair noabsurdo de renunciar a melhor cul-tura do país pela pior que nela há”.27

Tal o prestígio dos princípios teóri-cos vigorantes na época.

Apesar de ter aumentado a la-voura, a situação dos pequenos la-vradores era má.”Fui testemunha háano e meio, estando na povoação deNazaré, da desgraçada sorte do culti-vador de mandioca” (ainda F. Câma-ra, para quem a solução era a liber-dade de preço e do mais).

A tragédia, porém, era que, alémda diferença de poder econômico epolítico contra o cultivador da man-dioca, outros fatores estruturaiseram também desfavoráveis a umapróspera economia de abastecimen-to. Enquanto os preços de exporta-ção estavam altos, todos os recursosse voltavam para êsses produtosnobres: açúcar, algodão, fumo. Dimi-nuiam, ao menos relativamente, aslavouras de subsistência: menor pro-dução, enquanto havia mais dinhei-ro procurando farinhas, grãos, car-nes etc.: preços altos. Êstes preços,fora as arbitrariedades desanima-doras, provocariam naturalmentemaior produção pelos agricultoresisolados. Consequência: os preçostinham que cair. O equilíbrio não seestabelecia, entretanto, mesmo no

caso de poderem os pequenos lavra-dores de abastecimentos disputar aomáximo as vantagens do mercado,dando como consequência um supri-mento mais ou menos regular, emvista de instabilidade dos preços emercados dos artigos de exportação.Se êstes caiam, nos próprios enge-nhos se cultivava mais a mandioca eo milho, reduzindo ainda mais ascompras aos pequenos agricultores,quando os preços já em si seriammenores. Acrescentem-se, como fa-tores de desequilíbrio, a instabilida-de natural das safras, tanto dos arti-gos de exportação, como dos gêne-ros de abastecimento, agravada coma falta ou impossibilidade de arma-zenagem e de crédito. Em suma:êsses lavradores em regra suporta-vam o pior das crises de depressão eeram impedidos de aproveitar o me-lhor das crises de alta.

A situação do abastecimento nãopodia se regularizar, e será talvezpor isto que, voltando atrás das exal-tadas idéias liberais de 30 ou 20 anosantes, a Câmara da Cachoeira reins-taurava, numa postura, a obriga-toriedade das 500 covas.28

Durante o período considerado,houve um grande impulso na acli-matação e cultura de plantas exóti-cas, inclusive árvores frutíferas. Aoque parece, a fruta pão e a jaqueirativeram nessa ocasião maior difusãono Recôncavo. Os quintais, as chá-caras e os jardins se terão enriqueci-do, e isto não terá pequena impor-tância sôbre a alimentação regional.

4. Mudanças de perspectivasA situação favorável, apesar dos

pesares, da economia bahiana nocomêço do século, se altera depoisprofundamente, em razão principal-mente de dois fatores: os prejuízosmateriais da guerra da independên-cia, e a mudança da conjuntura in-ternacional.

A contribuição em bens, além dasvidas, para a independência, “foi umgolpe terrível para a vida econômi-ca-financeira. Esta desconjuntou-se,e, desde então, começa a série infin-dável das desgraças que nos perse-guiram durante todo o século XIX”,diz Gois Calmon.29

É muito ordinário

ouvir aos que nada

produzem e ainda àqueles

que se dão ao gênero de

cultura mais lucrativo, que

é o da cana, queixarem-se

da carestia da farinha, que

talvez é o que menos

convém a cultivar, e

fabricar nesta Capitania,

de quem lhes faz o grande

bem de comprar aqui

onde ela se acha em

abundância,para vender

onde ela é rara, e

necessária...

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Realmente a queda de produçãofoi sensível, “inúmeras casas, ricasde haveres antes da guerra”, cairamna miséria, como parece ter sido ocaso da Torre. A lavoura da cana e ado fumo foram mais sacrificadas, eem anos de preços maus.

Entrementes, a situação interna-cional já não era mais tão favorávelaos nossos produtos. O algodão e ofumo haviam sido favorecidos pelanova guerra da Inglaterra com osEstados Unidos, mas isto também jáhavia passado. Restava o consumocrescente de algodão pela indústriainglêsa, o qual nos deixava algumaoportunidade. O açúcar de beterra-ba se desenvolvera na Europa sob obloqueio britânico, e os concorren-tes coloniais do açúcar de cana já serestabeleciam.

Nas circunstâncias em que vimosse declarar novamente a crise inter-mitente de nossos “produtos coloni-ais”, os governos e os particularescontinuavam a tomar medidas pro-gressistas. A Sociedade d’Agricultu-ra, Comércio e Indústria, criada em1832, sob a Presidência de F. da Câ-mara, substituido depois por MiguelCalmon, distribuia sementes, publi-cava memórias sôbre as principaisculturas e um “jornal”, ajudava apreparação e a vinda de técnicos, eaté procurou acumular capital paraajudar emprêsas produtivas: umadelas, a Companhia de Colonização

para a qual “deliberou entrar com 20ações”. “Se mais não tem ela feito,seja essa falta arguida à nossa habi-tual indiferença, à nossa apatia, e nãoa defeito intrínseco da instituição”.30

Queixa-se Calmon, revelando porémque havia iniciativa e cooperação.

Em tôda a parte os pioneiros sãominoria. Se o espírito de emprêsa ede associação era fraco, devemosbuscar a razão numa economia ale-atória, vagando nas incertezas daprodução natural e sobretudo docomércio estrangeiro.

Focalizemos a nova situação dosprincipais produtos:

4.1. AçúcarA indústria do açúcar foi aperfei-

çoando, mas os mercados continua-vam muito inseguros: havia uma es-perança - que parece ter sido vã -(1836) numa lei francesa abrindo aimportação do açúcar bruto. A crisese tornaria secular, apenas com hia-tos de melhores safras ou de melho-res preços. Mas a tendência geral dospreços era a queda (em 1837, em li-bras esterlinas, um terço do preço de1821, cujo nível só se estabeleceu,passageiramente, exatamente umséculo depois). Depois de C. Brandt,ou Pêdro Antônio Cardoso, muitosoutros instalaram máquinas a vapor,melhoraram as variedades da cana.Certamente o esfôrço técnico pode-ria ter sido maior, além de continua-do como foi: pouco cooperativo, mastanto privado como público. Real-mente, se era difícil se reunirem emassociação, vemos que os bahianosnão desanimavam: os Calmons, osGonçalves Martins, os Cotegipes serepetiriam. Não faltou iniciativa earrojo. As últimas invenções era ex-perimentadas com avidez. Muitasforam feitas lá mesmo no Recôncavo.O engenho de Manoel Jacinto deSampaio e Meio, de tão inovador,passou a ser reputado fantasista econhecido como o “engenho da Fi-losofia”. Melhorou-se extraordina-riamente o rendimento da lavoura,com a “caiana” (de 1 para 4), econo-mizou-se lenha com novos proces-sos, as novas máquinas reduziram asnecessidades de animais e de braços,que já não vinham da África, e ain-

da eram vendidos para o Sul. E por-que os pioneiros não eram imitados?porque o novo engenho importadopelo govêrno do Presidente Gonçal-ves Martins (antes de 1852) para ven-da, não encontrou comprador? É quecertas condições internas desanima-vam, como a dos transportes nomassapê, e aquela apontada porSequeira Bulcão (o número de enge-nhos crescera numa média de 3 anu-almente entre 1728 e 1827). Com alei dêste ano, liberando completa-mente, a média subiu a 23, até 1834,segundo Gois Calmon. Ainda há aacrescentar a ostentação de muitossenhores. Mas sobretudo as condi-ções desfavoráveis do comércio in-ternacional vinham se acentuando.O sucesso desses senhores mais adi-antados era relativo e não raro du-vidoso. Os preços do açúcar e a com-petição favorecida de outras fontesnão permitiam, de um lado, a capi-talização essencial aos novos empre-endimentos privados e públicos, epor outro não abriam perspectivasclaras de amortização dos investi-mentos novos. O conselho do Mar-quês de Abrantes (Miguel Calmon)a Cotegipe, quando êste tomou pos-se dos engenhos, ilustra a situação:“apenas ocorre-me um cuja eficáciaabono. Nada compre fiado. Aindaoutro - vá lentamente (quero dizersem comprar máquinas e aparelhos

... a situação

internacional já não era

mais tão favorável aos

nossos produtos. O

algodão

e o fumo haviam sido

favorecidos pela nova

guerra da Inglaterra com

os Estados Unidos, mas

isto também já havia

passado...

Os preços do

açúcar e a competição

favorecida de outras

fontes não permitiam, de

um lado, a capitalização

essencial aos novos

empreendimentos

privados e públicos, e por

outro não abriam

perspectivas claras de

amortização dos

investimentos novos...

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89Ano XI � Nº 19 � Janeiro de 2009 � Salvador, BARDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

dispendiosos) empregando os meios,já mais ou menos conhecidos de pou-par o excesso braçal...”

A insegurança era o signo do açú-car. Honra a Cotegipe que, desejan-do como tantos outros empreende-dores, mais o gôsto da experiência edo exemplo do que a segurança dopatrimônio, se lança em instalaçõesmodernas e dispendiosas; um servi-ço para a indústria do açúcar de todoo Brasil, pois dessa experiência,“comêço da decadência da fortunaparticular do seu fundador”, o Ins-tituto Fluminense de Agriculturapublicou um folheto de utilidadegeral.31

O principal fator de tudo era ocomércio internacional. O pequenoPortugal já não nos comprava compreferência, a não ser talvez o das li-gações tradicionais ou de sangue en-tre as casas de negócio daqui e de lá.

A Espanha tinha suas colônias,que também (Cuba e Filipinas) reco-meçavam a fornecer aos EstadosUnidos e agora com progresso cres-cente. A Inglaterra tinha as IndiasOcidentais e a própria lndia. A Fran-ça tinha as suas Antilhas. A Holandaacabava de desenvolver o parqueaçucareiro de suas lndias Orientais.É claro que êsses parques, tendomercados assegurados pelas tarifasaduaneiras, pela navegação, peloaparelhamento comercial e financei-ro das grandes potências, podiamainda imobilizar capitais em grandesconjuntos de produção e realizá-Ianuma escala tal, que seria de todo

impossível vencermos nós a concor-rência. (A exceção foi o café, favore-cido pelo desastre de Haití, mais exi-gente de terreno, porque não se en-contraram áreas coloniais tão propí-cias como as do Vale do Paraíba eterra roxa de São Paulo). Na EuropaContinental, o açúcar de beterraba,terrivelmente protegido, elevava asua produção, de 4% da produçãomundial de açúcar no meado do sé-culo, a 68% na safra 1900-1, caindoembora depois, mas continuandosempre acima dos 30%, nos períodosnormais”.

Nossa posição apenas se alivia-va em anos de excepcional procura,de safras ruins ou perturbações nasáreas concorrentes, como parece tersido o período de lutas em Cuba pelaindependência. A fôrça da produçãocubana avultou depois com a “pre-ferência cubano-americana”, a par-tir da última década de século – maisoutro fator de consolidação da criseaçucareira no Brasil. O Recôncavonão podia se salvar no mercado in-terno, dada a limitação dêste e a lo-calização mais favorável dos cana-viais de Pernambuco e de Campos eBaixada Fluminense, além de outrascircunstâncias.

Entre 1873 e 1890, a crise noRecôncavo açucareiro, que já vinhade antes, se tornou aguda. Ela inspi-rou em 1888 a isenção total de im-postos para o açúcar. Em meio dacrise, 1879, o Presidente da Provín-cia contratou 6 “centrais”.

Outros empreendimentos se su-cederam, sobretudo de1892 em dian-te, com a relativa reanimação nospreços internacionais, e quiçá tam-bém a expansão monetária interna,com o seu efeito de capitalização for-çada.

Assistimos nesse período a umesfôrço maior de reequipamento,com a instalação de várias “centrais”.Foi a época encabeçada por um gran-de empreendedor prematuramentefalecido Jayme Vilas Bôas.

Fora anos excepcionais, a lavou-ra da cana pôde se manter um pou-co mais pela queda do câmbio, masnem isto a salvou. Sua nova oportu-nidade foi a guerra de 1914-1918.

4.2. FumoQuanto ao fumo, “elemento cer-

to, constante, e de todos os tempos,desde os coloniais,32 cultura que era“uma das mais valiosas desta Pro-víncia,33 apesar de ter sido sempreantes do pobre que do rico, sofreucom a redução do tráfico uma que-da vertical: de 767 mil arrobas em1815, para 64 em 1934 (tendo excep-cionalmente no período atingido 800mil em 1821). Cêrca de metade dasafra, em fumo negro, rôlo, era opagamento na África dos escravos,que em si mesmo era um grande ne-gócio.

O fumo se. desenvolvera a prin-cípio nos “campos areuscos de Ca-choeira”, mas especialmente SãoGonçalo, Inhambupe, que parece tersofrido o maior golpe, e Brejões.

Perdemos além disso o comérciocontinental europeu, com a Indepen-dência e o péssimo tratado com Por-tugal. O fumo em folha tinha garan-tido o mercado português, atravésdo qual ia à Espanha a alhures. Nãosoubemos conservá-lo. Depois daIndependência, tanto que, em 1835,Miguel Calmon reclamara ainda,como oportuna, a renegociação doTratado, fazendo o confronto nossocom o comércio florescente entre osEstados Unidos e a Grã Bretanha.Todos os gêneros coloniais ficaramsem o apoio da preferência lusa, im-portante, na escala da época, en-quanto eram excluídos ou desfavo-recidos no comércio de outros paí-ses, particularmente da Inglaterra,que, apesar do tratado de 1810, “nãoconsome produto algum nosso, afo-ra o algodão”, segundo o testemu-nho de Miguel Calmon34.

Os esforços que vinham de Pom-bal35 para enfrentar a concorrênciado tabaco havanês prosseguiram. A

Na Europa

Continental, o açúcar de

beterraba, terrivelmente

protegido, elevava a sua

produção, de 4% da

produção mundial de

açúcar no meado do

século, a 68% na

safra 1900-1...

O fumo em folha

tinha garantido o mercado

português, através

do qual ia à Espanha a

alhures. Não soubemos

conservá-lo...

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90 Ano XI � Nº 19 � Janeiro de 2009 � Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Inglaterra preferia os fumos da Vir-gínia, a França o das Antilhas. Nósestávamos com a nossa principalrota de comércio para o “fumo bran-co”, cortada. Sofria ainda o comér-cio fumageiro das especulações emGilbraltar, e ainda os reflexos daepisootia entre 1829 e 1832, que de-vastou os rebanhos próximos e sa-crificou o exterco necessário às ma-lhadas. Acrescentava ainda MiguelCalmon como um dos fatores secun-dários da crise o “doce prurido doganho”, e mostrava que a importân-cia vulgarmente atribuida aos im-postos não era considerável.

A situação do fumo só veio amelhorar e estabilizar mais tarde,com o desenvolvimento das fábricasde rapé, de charutos e de cigar-ros,36que aliás importavam fumos: afábrica de Areia Preta “preferia com-prar aqui as 300 a de Virginia”, dizMiguel Calmon, que apresentavaum programa de aperfeiçoamentoda lavoura fumícola.

As malhadas foram melhorandoo produto e fornecendo mais às in-dústrias crescentes. Ao lado disso, aguerra de Secessão favoreceu nossaexportação. A expansão do consumomundial no final do século foi outrofator favorável, dando margem paratodos, apesar da superioridade deVirgínia, de Cuba, e das Índias Ori-entais Holandêsas, e do próprio de-senvolvimento da’ produção euro-peia na faixa mediterrânea. Umaoutra guerra nos favoreceu: a da in-dependência de Cuba. Com o desen-volvimento do comércio alemão,desprovido ao menos relativamentede colônias, chegamos a consolidar

o mercado da Europa Central. O con-sumo mundial se ampliou. E as pe-culiaridades dos fumos bahianoscontribuiram para manter a prefe-rência de muitos fumantes. E assim,ampliado o consumo interno, e res-taurado o mercado mundial, depoisde longo processo e várias peripéci-as, chegou o fumo no final do séculoa ser o nosso principal produto deexportação, atingindo em 1902 a suamaior exportação.

Mas, tal como outros produtostropicais - a exceção única no nossocaso foi a do café - encontraram-senas colônias terrenos favoráveis. Atécnica e o capital dos grandes paí-ses mercantis haviam certamente devoltar-se para elas e não para os“Campos de Cachoeira”. Assim, nasÍndias Orientais Holândesas as cul-turas do fumo se desenvolveram lar-gamente. Em Sumatra, de 50 fardosem 1864, já em 1903 produziam255.000. Java passava de 182 em 1890para mais de 400.000 em 1910.37

4.3 AlgodãoO algodão, em 1835, estava esta-

cionário, se não regredindo, segun-do Miguel Calmon, e prosseguiuaproveitando algumas oportunida-des ocasionais, nenhuma porémcomo a da Guerra de Secessão dosEstados Unidos, quando o algodãoatraiu tudo, e foi um mal depois.38 Aindústria terá favorecido, depois domeado do século, e já antes a indús-tria mineira, desenvolvida sob a pro-teção da distância dos portos, a pro-dução do algodão no sertão bahiano.O Sertão de Caiteté fornecia mais aMinas que à Bahia, para cujas fábri-cas o algodão importado era maisacessível.

Pequeno o mercado interno, con-tinuava o produto na dependênciado externo, incerto, em geral adver-so, pelas mesmas razões apontadasao tratarmos do fumo e do açúcar,apesar do aumento do consumomundial.

No comêço dêste século, o algo-dão bahiano havia declinado a pon-to de não chegar a suprir as própri-as fábricas no Estado. O transportepara o sertão devia ter sido o grandefator negativo.

4.4. Café e cacauHartt observa, na fase de prospe-

ridade do café no sul pais, que naregião costeira e Recôncavo, a irre-gularidade das estações não o favo-recia.39 O café que em quantidaderelativamente pequena foi sendo ex-portado vinha a princípio quase ex-clusivamente da extremo sul do Es-tado, da Colônia alemã para cima deCaravelas, a qual teria fracassadocom a abolição da escravatura.40 De-pois ganhou o café os municípios daorla do Recôncavo e algumas roçasisoladas aqui e acolá, como as quecriaram esplêndida variedade do“café da Chapada” (Diamantina).Mas só excepcionalmente se obser-vou o regime de maiores plantaçõescomo as do Vale do Paraiba.

A produção foi pequena, mas dasque contrlbulram pela variedade,para reduzir o desequilíbrio na eco-nomia exportadora do Estado. Essaprodução, porém, chegou a avultarnas quadras dos preços altos, pre-ponderando em parte entre 1893 e1903, sendo a maior safra em 1898.Sua importância comercial foi sus-tentada pelos esquemas de valoriza-ção posteriores ao Convênio deTaubaté, mas isto não impediu a de-cadência das lavouras.

O cacáu surgiu aos poucos, to-mando vulto depois de 1890. E foiprovidencial. Abriu uma nova faseem nossa economia. As exportaçõessofriam uma crise cada vez maior.A exportação do cacáu só em 1838-39 superou 1.000 sacas (1.322). Noperíodo inicial parecem ter tido in-fluência considerável os alemães dafracassada colônia estabelecida noRio Almada, por ocasião da indepen-dência, bem como espanhois fixadosno rio Cachoeira, ao lado do elemen-to nacional. Garimpeiros das “la-vras” precisavam de emprêgo. Apopulação crescente do Recôncavoe municípios vizinhos encontrouuma esperança. A zona cacaueira,sobretudo Ilhéus e Itabuna, mas tam-bém desde a Barra do Rio de Contasaté Belmonte, atrai os mais enérgi-cos aventureiros disponíveis, inclu-sive de Sergipe.

Em 1893 se registrou uma expor-tação superior a 100.000 sacos. Em

A situação

do fumo só veio a

melhorar e estabilizar

mais tarde, com o

desenvolvimento das

fábricas de rapé,

de charutos e de

cigarros...

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1911 superou a 500.000 sacas. ABahia sucedeu ao Equador em 1905como maior produtor mundial. com-petindo com S. Tomé. Para o fim doséculo em diante, as tradicionaisplantações do Pará se haviam desor-ganizado até o quase aniquilamentopelas cheias e pela atração da borra-cha. Mas, as plantações coloniaisafricanas concorrentes começaram ase preparar. Não obstante exportarcêrca de 1.000.000 de sacas em 1920,a participação no comércio mundialdiminuía.

Na região que se abria, depois detrês séculos de inospitalidade da flo-resta e do indigena, as condições eco-lógicas eram excelentemente propi-cias ao cacaueiro, mas o custo e adificuldade dos transportes, dificeispelo terreno, salvo o aproveitamen-to de alguns trechos fluviais, comoo Jequitinhonha, e descuidados pelocaráter sinecurista dos orçamentospúblicos, retiravam grande parte doque a terra oferecia aos pioneiros, eestimulavam os intermediários.

Não faltaram tentativas de raci-onalização da cultura e do tratamen-to da amêndoa do cacau, muitos fa-zendeiros procuraram inovar, adap-tar processos usados em outras cir-cunstâncias, inventar melhores sis-temas de barcaças, taboleiros e até

estufas.41 Muito precária, ou ao me-nos lenta, é a experimentação indi-vidual e isolada, que frequentemen-te leva ao desânimo e ao descrédito,pela perda de dinheiro.

Êste fato deve explicar, ao menosem parte, a resistência do nosso la-vrador comum ás inovações. É quefaltou a experimentação pelas esta-ções oficiais e um trabalho de infor-mação e de assistência técnica, alémdo crédito e estímulos para essas ins-talações.

O transporte, as condições geraisde negócio e a ignorância de grandeparte dos plantadores, o númerodêstes, impediam um melhor trata-mento do cacau. A qualidade sem-pre foi baixa na grande massa dasexportações. Cêrca de 3/4 não atin-giam o tipo “superior”. A padroni-zação era dificil, quase inexistente,apesar da manipulação dos depósi-tos de exportação. Não parece, po-rém, que a fraude tenha sido um fa-tor importante, como em outros pro-dutos.

Entrementes, a procura mundialcrescia. A Bahia foi vencida pelaCosta do Ouro, depois de 1910. Êstefato, porém, e a própria instabilida-de dos preços, não anularam a van-tagem do cacau relativamente a ou-tras culturas, e a produção bahianafoi também crescendo. Em 1935 es-tava duplicada a cifra de 1920. Masnessa época a Costa do Ouro já atin-gia mais do duplo da produção bra-sileira.

Destaquemos como traços carac-terísticos dessa história atual, que éoutro episódio admirável de desbra-vamento, em que o comércio e o ho-mem do povo não foram assistidosde orientação e facilidades: as flutua-ções de preços e mercados que, as-sociados à falta de transportes, decomunicações, de crédito e à impos-sibilidade de armazenamento, per-mitiam o fácil contrôle pelos impor-tadores estrangeiros e o melhor pro-veito dos grandes intermediários eúnicos financiadores e informantes;a imprevidência e megalomania degrande parte dos lavradores nas épo-cas boas: o completo abandono dasproduções de abastecimento em ra-zão do próprio sistema, o que pode-

ria ter sido suprido em parte poruma política corretiva; e afinal o fatode que, numa zona despreparada,em vez de promover o Estado as in-versões públicas necessárias a utili-zar tôda a produtividade potencialda zona, êle lançou mão avidamen-te das receitas do cacáu para cobriras aperturas crônicas de um orça-mento sobrecarregado com umgrande território carente de peque-nos e estéreis auxílios, e sobretudocom a necessidade de dar emprêgospúblicos a desempregados de tôdasas categorias. Foi o Estado um fatorde descapitalização e até hoje a zonado Sul, que é o novo núcleo econô-mico do Estado, não superou certasprecariedades iniciais, nem mesmoa melhor integração com o Sudoestee o Recôncavo.

4.5. MineraisNa exportação, um fato novo foi

de grande importância: a redesco-berta do diamante. Diamantes havi-am sido achados na Bahia, no perío-do colonial. Há referência, por exem-plo, às minas de Jacobina, em 1755,mas foram tôdas interditadas. “De-las se perdera a memória, até que em1822, Spix e Martins tornaram aachar as jazidas de Sincorá. Em cur-to prazo, tôda a Chapada Diamanti-na revelou suas prodigiosas rique-zas em gemas; novos “placers” fo-ram encontrados.42

Foi em 1842, que a Lavras Dia-mantinas se revelaram. E a explora-ção ali foi mais importante do queas cifras revelariam, porque grandeparte se exportava de contrabando.43

A lei de 6-9-1852, facilitando oregime de exploração mineira, e a de26-9-1867, revogando a proibição aosestrangeiros, parecem ter estimula-do a mineração.

A prosperidade das lavras e êssegrande esteio para a Bahia, só foramabalados, mas então seriamente, coma descoberta das grandes minas daÁfrica do Sul, a partir de 1867. De-pois dêste fato, ainda continuou,porém mais modesto, e muito incer-to, o comércio de diamantes, aliás atéhoje. Os carbonados vieram aliviara situação. Encontravam-se com osdiamantes, mas não tinham valor. A

... as condições

ecológicas eram

excelentemente propicias

ao cacaueiro, mas o custo

e a dificuldade dos

transportes, [...] e

descuidados pelo caráter

sinecurista dos

orçamentos públicos,

retiravam grande parte do

que a terra oferecia aos

pioneiros, e estimulavam

os intermediários...

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partir de 1870, começaram a ser com-prados por preço modesto para cor-te de diamantes, polimentos, etc.Depois, sua aplicação industrialavultou, sobretudo a partir da per-furação do Túnel de São Gotardo, epor ocasião da abertura dos canaisde Suez e do Panamá. Tornou-seentão um negócio altamente lucrati-vo, de que a Bahia era praticamenteo único detentor, pois a contribuiçãode Bornéo foi muito pequena. Oscarbonados começaram a rarear, e aqueda de produção por volta de 1900era sensível, enquanto a procuramundial crescia. O preço entre 1895e 1908, embora variando desde 25dólares, chegou a altura de 85 dóla-res o quilate. Êsses preços de mono-pólio perduraram com a primeiraguerra, mas pouco se encontravapara exportar, e logo depois oscarbonados quase desapareciam dascotações, substituído no seu emprê-go por produtos industriais.

Seu grande acontecimento foi oachado em Brejo da Lama, em 1895,vendido nas lavras por 114 contos,na Bahia por 121 contos e nos Esta-dos Unidos por 32.000 dólares.44

Calculavam-se os embarquesanuais de carbonados da Bahia naentrada dêste século, entre 4 e 5miIhões de dólares, enquanto tôdaa exportação de diamantes do Brasilem 1906 teria sido de 5 miIhões.

Fora dos diamantes, a contribui-ção das demais minas foi muito se-cundária; o ouro sempre pingou al-guma coisa. Outras muitas e varia-das jazidas, distantes e mal conheci-das (ainda hoje) eram riquezas empotencial. Os depósitos de turfa deMaraú, “que têm atraído tanta aten-

ção”, determinaram a organizaçãode uma companhia inglêsa, depoisde animadoras análises nos EstadosUnidos e Europa, e de cuja consti-tuição, Hartt já dá a notícia.45 Vemosdepois que essa Companhia Interna-cional de Maraú produzia no fim doséculo, ao lado de velas em larga es-cala, o “petróleo” (querozene) demarca “Brazolino”. Sua história, seestá feita, não conheço, e seria quiçáuma das mais interessantes mono-grafias para a história econômica daBahia. Em que medida fatores inter-nacionais resolveram a sua sorte?

A tradição local, segundo doisdepoimentos autorizados que ouvi,é de que o fracasso da refinaria sedeveu a um desentendimento dogerente inglês John Grant, denomi-nado no local João Branco, com osoperários, do que resultou um am-biente de terror e o abandono daemprêsa tropical, apesar de ser elaremunerativa.

Antes, porém, teriam os inglêsesverificado que as retortas instaladassegundo um modêlo desenvolvidopara as tufas duras e pobres da Es-cócia, eram inadequadas para amarauita, pois só retiravam cêrca de5% de um minério com teor acimade 30%. A companhia distilou então,longo tempo, óleo crú importado.Foi assim, de qualquer maneira, aprimeira distilaria de óleo no país.

Liquidada a Companhia Interna-cional, depois do incidente, ficou oseu acervo com a Companhia Extra-tiva Mineral Brasileira, fundada em1891, e que passou ao contrôle doCom. Augusto Ferreira, um grandeempreendedor bahiano que tevegrande influência de Mauá.

Anos depois, o Com. Ferreira pro-curou associar novos capitais na Eu-ropa, tendo seu intento frustrado coma I Guerra. Retomou-o logo depois doArmistício, trazendo um especialistaamericano e tentando voltar a produ-zir, mas o rendimento das máquinasnão o permitiu. Encarregou a uma fir-ma de Hamburgo o estudo de novasinstalações. A morte porém o levou edesde então sucessivas dificuldadesimpediram aos herdeiros e ao próprioGovêrno do Estado de reviver o em-preendimento.46

Ainda hoje, porém, avultam, nocenário devolvido à condição primi-tiva, ruínas impressionantes dêsseempreendimento.

No começo do século atual, sur-giu uma fase, das areias monazíticas,das quais já antes da guerra de 1914exportavam das praias do sul do Es-tado uma quantidade pequena regis-trada nas estatísticas, mas a tradiçãooral referia longas quantidades carre-gadas como lastro pelos navios, so-bretudo alemães, nas praias desertas.

Já perto, na guerra de 1914, hou-ve um surto de manganês (SantoAntônio e Jacobina), para não entrarnos mais recentes acontecimentos nosetor da mineração.

Certo é que não faltaram idéias einiciativas, desde a de AgostinhoGomes nos primeiros anos do século.

No meiado, Antônio de Lacerda,figura que ainda não conquistou orelêvo a que faz jús em nossa histó-ria, é uma expressão de ciência e deempreendimento, voltada para osrecursos da Bahia. EIe é o homem aquem os cientistas estrangeiros sedirigem, e que a êles fornece umasérie de revelações sôbre a geologiabahiana. É o homem também dosmaiores empreendimentos industri-ais da época. Não visando fruir, masproduzir, suas sucessivas emprêsasnão serviram a êle nem aos seus.

4.6. Outras catasCoincidiu com o surto do cacáu

um outro, menos considerável embo-ra, e que favoreceu outras zonas nosúltimos anos do século passado e pri-meiros dêste: o da borracha. O sertãopossuia maniçobeiras e mangabeiras,das quais também se extraia precio-so leite que, embora inferior ao daseringueira da Amazônia, ainda ob-tinha preços fabulosos.

A principal espécie explorada naBahia era a chamada maniçoba deJiquié, existente no Sul do Estado,cujo produto era o primeiro cotadoem Londres depois da borracha deseringueira. O quilo do produto sêcorendia para o produtor cêrca de cin-co cruzeiros em 1909. Um homemcortava por dia até 300 árvores, comrendimento médio de 100 a 200 gra-mas por árvore, o que dava um pou-

Fora dos

diamantes,

a contribuição das

demais minas foi muito

secundária; o ouro

sempre pingou

alguma coisa...

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co menos da quarta parte em produ-to seco.47 A produção diária de umtrabalhador chegava a 10 K, paramais, ou sejam superior a 50 cruzei-ros daquela época no ano melhor.Desde 1890, porém, os preços forammuito favoráveis, declinando depoisde 1910.

As condições do trabalho nosmaniçobais bahianos eram mais fa-voráveis do que as da Amazônia. Onúmero de árvores cortadas, quan-do havia densidade, o terreno, a co-agulação ao ar livre e o custo da vidaeram mais baixos. Apesar do preçomenor (8 s. para a maniçoba, 9 paraa hévea no final de 1908), sua extra-ção era talvez mais rendosa que a daseringueira. Mas sua frequência erapequena.

Apesar de certo esfôrço de culti-vo,48 a Bahia não podia contribuircom muito para o mercado. A frau-de imperou nesse comércío49, comoaconteceu também na Amazônia.Mas não foi êste o fator do fracasso,e sim a competição da hévea do Ori-ente. Os preços caíram e com a abun-dância do produto melhor, a crisepara a maniçoba veio antes do quepara a seringueira.

Muitos outros produtos extrati-vos, como o sal, a araroba, o azeitede baleia, as peles de cabra (além dasde boi), a carnaúba, ipeca, tucum,piassava, figuravam sempre numagrande variedade e numa frequênciairregular nas exportações bahianas.

4.7. AbastecimentoRetomando o quadro que bos-

quejamos para o perlodo inicial, asituação do abastecimento terá me-lhorado no final do século. Mas, con-tinuava sujeita às irregularidadescrônicas.

Os rebanhos se desenvolveramna Bahia desde o I século. As regi-ões pecuárias continuaram a expan-dir-se, apesar das sêcas, pragas, sal-vo talvez a do São Francisco, duran-te o período considerado.

A Bahia se autoabastecia e expor-tava gado, pelas divisas Norte, em-bora o importasse para engorda doNorte de Minas. É provável que seubalanço de carne fosse favorável,apesar de continuar durante todo o

período a importação de xarque doRio Grande.

Para alimentação, se desenvolve-ra também um rebanho ovino nume-roso (o segundo do Brasil), conquan-to de pequeno porte. Era o gado dopobre, como a cabra. Esta chegou aproliferar, como uma providência,nos sertões agrestes, constituindo oprimeiro rebanho do Brasil. Sua in-fluência na alimentação popular foie é sensivel, não obstante os reba-nhos caprinos serem de baixoscaracterlsticos para carne e para lei-te. Ofereceram êles, ainda, um pro-duto reputado de exportação, graçasà secura do ar do Nordeste - as suaspeles, notadamente a variedade de-nominada “Uauá”.

A exportação de couros e peles,um esteio da economia regional,constituiu um sub-produto regulardos rebanhos.

A pesca foi outro grande recur-so. Para a rala população da costa eda bôca dos rios, ela foi abundante.No Rio São Francisco também nãofaltava pescado.

A pesca da baleia foi uma impor-tante indústria, e ela não forneciaapenas óleo. Pescava-se ainda nocomêço dêste século de 350 a 450baleias por ano. A pesca da garopachegou a ser florescente em PôrtoSeguro. Na costa, a impressão dosviajantes era de vida fácil. Ainda hojeo é em lugares mais saudáveis e compouca gente.

Mas é fora de dúvida que eramempregados tradicionalmente méto-dos distribuidores. E não se desenvol-via, se não muito limitadamente (casosurubim, no S. Francisco, e o cama-rão sêco, no Recôncavo), a prática daconserva. lmportavam-se então gran-des quantidades de bacalhau portu-guês, que também atendiam a hábi-tos culinários tradicionais.

A crise dos produtos de exporta-ção e o aumento das populações teri-am levado ao desenvolvimento daseconomias fechadas de auto-abaste-cimento, fomentada pela cultura dequintais e chácaras. Há também umarazão ecológica. Culturas que se ade-quavam fàcilmente à região costeira,úmida e florestal, não encontravamescoamento no comércio: jaqueira,

fruta-pão, e outras fruteiras, inclusi-ve a laranja e a banana que hoje sãocomerciáveis. O café, com a irregula-ridade das estações, não progrediamuito. O cacau veio depois. O resul-tado é que as condições locais, favo-recidas ainda pela pesca, fomenta-vam a pequena economia fechada.

Quase tôda a alimentação consu-mida não passava pelo mercado, equando aparecia,nas feiras munici-pais, se cotava a preços muitos maisbaixos do que os vigorantes nos cen-tros maiores.

As matas são um fator de sufici-ência local, salvo em algumas zonas.O comércio das madeiras, florescen-te e outras épocas, sobretudo do“brasil” se reduzira. Mas as matasforneciam lenha, carvão, materialpara casa e todos os utensllios, e paraas construções navais.

Essa variedade de produção tor-nava relativamente fácil a vida noRecôncavo e litoral e no sertão me-nos assolado pelas sêcas.

A variedade de recursos de abas-tecimento, num sistema de economi-as fechadas e de serviços domésticos,perturba até hoje as comparações depadrões de vida, particularmente dealimentação, bem como falseia acomparação da renda social.

Entretanto, continuava o abaste-cimento a sofrer a precariedade e ir-regularidade de certos fatores, prin-cipalmente dos seguintes: - os gran-des preços dos produtos de expor-tação, que desviavam trabalhadores

Culturas que se

adequavam fàcilmente à

região costeira, úmida e

florestal, não encontravam

escoamento no comércio:

jaqueira, fruta-pão,

e outras fruteiras,

inclusive a laranja e a

banana que hoje são

comerciáveis...

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e fazendeiros das culturas de abas-tecimento; - as sêcas nos Estados doNordeste, que provocavam intensaprocura de farinha e outros gênerosna Bahia, e resultavam em carestia; -as sêcas e as epidemias no próprioEstado (a febre amarela, a variola, eo cólera, que devastou no meiado doséculo, além do paludismo), diminu-indo a produção; - as deficiências detransportes de armazenagem e decrédito, impossibilitando estoques efomentando a especulação dos in-termediários; - o baixo padrão sociale político da agricultura de abaste-cimento, subordinada ao prestígiodos senhores de engenho e das po-pulações consumidoras urbanas,que forçavam medidas arbitrárias ouimediatistas em prejuizo dos peque-nos agricultores. Talvez dos únicosatos que revelem uma reação seja umque, apoiado ou inspirado na cam-panha abolicionista, dá preferênciaà produção de trabalhadores livres,na segunda metade do Século.50

O normal, porém, é a sucessão degritas dos consumidores e de gritasdos produtores, enquanto nas zonasmais prósperas, como se tornou ocaso típico da cacaueira, os trabalha-dores ganham mais, mas passam re-lativamente pior, embora sejam maiscapazes de importar confortos con-vencionais e superfluidades.

Do lado do interior que forneciafarinha e outros gêneros, o menosprotegido e que pagava mais caro asimportações, a queixa era permanen-te e nunca poupava o govêrno:

Governo novotá na Bahia.

Matando o povona mercadoria51

No final do século, o dramáticoepisódio de Canudos desorganizoua produção do Nordeste, agravandoquiçá o seu empobrecimento. Mas astropas e os fornecimentos militaresespalharam muito dinheiro, em pro-veito ao que parece do comércio dacapital e outras cidades. Resultou acarestia e mais uma vez a farinha fi-cou pela “hora da morte”. Foi assimtambém um dos fatores ocasionaisde crise de abastecimentos.

5. Obras públicasAs grandes obras ou serviços

públicos requeridos para o desenvol-vimento da Bahia encontravam fre-quentes iniciativas, mas arrojadas etemerárias, face ao vulto dos capitaislocais, Também as tendências econô-micas, e quiçá as más administrações(pois melhores deviam ser em facedaquelas condições gerais menosanimadoras), sem embargo de figu-ras excepcionais como GonçalvesMartins e J. M. Wanderlei, não atrai-am o capital forasteiro, como o Sul,lá pelo fim do século. É enorme eadmirável, porém, a lista de proje-tos e de realizações, em que avulta-ram as obras do pôrto na quadra de1830-40, a Estrada de Ferro visandoo São Francisco (1858 em diante),novo atêrro em 1867, companhia decarris, 1869, a estrada de ferro (Cen-tral da Bahia) que deveria alcançarSanta Isabel do Paraguassú, e pontesôbre o Rio Paraguassú (1884), Estra-da de Ferro Nazaré, concedida em1870, o novo projeto de docas, obje-to de uma companhia fundada emLondres por Mauá, a qual se dissol-veu em face de “moras e complica-ções da administração” (1870), ascompanhias sucessivas de navega-ção no Recôncavo e litoral ao longodo século, o Serviço de Navegaçãodo São Francisco, a Cia, de Gás, au-torizada em 1861, os planos inclina-dos e os elevadores, a estrada de fer-ro de Santo Amaro, mais tarde a deIlhéus-Conquista, e afinal as vulto-sas obras do pôrto da Bahia, a partirde 1911. Os faróis da Bahia, Morrode São Paulo e Abrolhos, ao lado de

melhoramentos nos portos, cami-nhos no Interior e linhas telegráficas,foram trabalhos do século passado,não continuados quiçá, na mesmaprogressão, nêste século. Muitas des-sas obras pioneiras se fizeram con-cluindo a redução dos indígenas nossertões da Ressaca e da Conquista,onde ainda no comêço dêste séculose subjugavam e extinguiam aldeia-mentos selvagens. Essas realizaçõesmateriais contribuiram considerà-velmente para dominar a paisagemdifícil do Estado, abrindo caminhopara realizações presentes, e se maisnão puderam alcançar, não se devetanto às más administrações, massobretudo às condições econômicasgerais da Província e Estado, que nãoasseguravam a amortização dos ca-pitais requeridos.

6. Indústria52

Além da do açúcar, vemos oflorescimento das de produtos dofumo, estas urbanas (Capital e Ca-choeira a principio). Em 1835, fala-va-se na “indústria nascente de fa-zer charutos”, antes importados daHavana, Nova York e Gibraltar. Masa de rapé já era ampla, e a Bahia ti-nha monopólio. Contava a Bahia trêsfábricas, e já no ano seguinte referiao mesmo informante mais uma.

Um suiço teria aperfeiçoado atécnica indígena. 53A fábrica de cigar-ros Leite & Alves, filial do Rio, foiestabelecida em 1856, e a de charu-tos Danemann, em 1873, mas anteshavia pequenos fabricos.54

Na indústria de tecer, Calmon(1836) se refere a uma, “a braço”, noCabeça. A importação, só de tecidosde algodão, em 1835, era de 3.984contos: 47% da importação bahiana,em que todos os tecidos participa-vam com 65% Pernambuco já tinhauma fábrica “em grande escala”.

Depois se foram instalando ou-tras na Bahia, para panos grossos asquais cresceram em número e certa-mente em qualidade de artigos, de-pois da revogação do Tratado Inglêsem 1810, pela clarividente ação doMinistro Alves Branco, que era umbahiano, em 1844. Uma dessas fá-bricas, a de Valença, ficou conheci-da no meiado do século, como “a

Do lado

do interior

que fornecia farinha e

outros gêneros, o menos

protegido e que pagava

mais caro as

importações, a queixa

era permanente...

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melhor em todo o Império e talvez SulAmérica”55. Terá sido sucedida, naimportância do empreendimento,pela Fábrica Luís Tarquinio, na BoaViagem, de que trataremos adiante.

Até 1890, há noticia de mais novefábricas instaladas na Bahia. Mas ascondições locais não poderiam, porum lado, ser muito favoráveis, dadaa crise na maior parte da década de70 e quasi tôda a de 80.

Em 1890 e 1891, criam-se cincocompanhias do ramo textil: a UniãoFabril, consórcio de cinco fábricasexistentes, uma de capitais bahianos,estabelecida em Sergipe, Estância;outra - a poderosa Companhia Pro-gresso Industrial da Bahia, com10.000 contos de capital, é a maisnotável de tôdas, a emprêsa de LuísTarquinio: a Companhia EmpórioIndustrial do Norte. Esta emprêsaconstruiu o conjunto fabril que terásido o mais moderno naquele mo-mento, e a experiência social maisavançada da época. Luís Tarquínio,tendo o apoio de um outro homemesclarecido, Leopoldo José da Silva,ambos enriquecidos no comércio,começou realizando uma larga obrade saneamento, planejou sua fábri-ca, rejeitando as comuns ofertas defábricas completas e escolhendo amelhor em cada centro ou de cadaexperiência, e, ao mesmo tempo,projetou a vila operária, que já teriasido inaugurada (naturalmente aprimeira parte) em 1892, na qual,utilizando as sugestões de idéias eexperiência socialistas do Seco XIX,institui realmente um sistema origi-nal de valorização do trabalhador ede estímulo à eficiência. É uma ex-periência realmente admirável, es-pantosa. (O livro de Péricles Madu-reira de Pinho deve ter maior divul-gação, inclusive em versões para ainfância e a juventude).56

Em outros ramos, encontramosem Miguel CaImon (1836) referênciaa fabricos de cerveja, de vinagre e delivros em branco, além de ferrarias,cujos produtos, mais caros natural-mente que os inglêses, eram porém,como o portuguêses, preferidos aêles.57 As telhas e louças de Nazaré eAratuipe já tinham fabrico regular ereputado de há longo tempo.

Kidder fala numa boa serraria deValença, que faria materiais mais ela-borados.58

Em 1841, uma “Companhia paraintrodução e fundação de fábricasúteis”, não vingou, pois “faltava oindispensável aparelhamento bancá-rio”.59 No mesmo ano, com um pri-vilégio provincial, em 1843, houveuma iniciativa de fábrica de papel.Teve que vender os maquinismospouco depois.

Em 1869, Aristides Novis & Cia.obtém um outro privilégio para umafábrica de papel.

Em 1860 inaugurou-se a fábricade chapéus Bastos & Cla., com 250operários.60

Em 1891 cria-se outra emprêsa dechapéus com 1.500 contos. Em 1872,havia quatro fundições destacáveis.Em 1877, privilégio da CompanhiaSalinas de Margarida. Em 1861 hou-ve uma Exposição em que os produ-tos industriais bahianos figuravam.Entre 1890 e 1891, fundam-se paraoutros ramos afora os referidos, umaserie enorme de emprêsas, para ser-raria e mobiliário, biscoitos, álcool,carruagens, etc. Nessa fase chama-da do “encilhamento”, ainda malestudada no Brasil, as empresasestabelecidas na Bahia apresentaramum coeficiente de solidez relativa-mente elevado. Foi uma época cons-trutiva, em suma. Depois, contavam-se no Estado 123 fábricas. Certo é quea expansão monetária foi a excessosdesastrosos, mas atendia inicialmen-te a necessidades do país que, porum lado saía do trabalho escravopara o regime das “fôlhas de paga-mentos”, e que requeria mais nume-rário em circulação; e, por outro, pre-cisava abrir novos meios de vidapara substituir a crise das lavourase das exportações. Ruy Barbosa teveo mérito de bem compreendê-Io, su-perando os preconceitos de raiz co-lonial: sua política monetária e adu-aneira partia dessa consciência. Penaé que, na sua curta e agitada gestão,não tivesse levado a cabo sua expe-riência, e que a inflação tivesse sidodeixada a excessos que êle procura-va prevenir.61

Em 1912, os estabelecimentos in-dustriais reputados “grandes” (uni-

camente, ao que parece, os sujeitosao imposto de consumo), eram 83 naBahia (12° no Brasil), mas com umcapital de cêrca de 28.000 contos (7°lugar), e uma produção de 25.000contos (8° lugar), e com 10.009 ope-rários (8° lugar).62

A indústria bahiana também seaproveitou da 1ª. guerra mundial,mas numa escala menor, pelo esta-do de desânimo em que estava ante-riormente. A porcentagem da Bahiano total da indústria nacional, apu-rada no Censo de 1920, em capitalaplicado (3,5%), fôrça motriz (4,0%),operários (5,7%) e produção (2,8%)caiu no Censo de 1940 para respecti-vamente 1,9%; 2,3%; 3%; e 1,3%.

O desenvolvimento da indústriano Sul não encontrava paralelo naBahia. As razões principais parece-nos terem sido: ritmo fraco de capi-talização, a decadência política daBahia na República, efeito e nova-mente causa, as dificuldades detransportes, e a carência de energia,que, para vencê-las, não encontra-vam recursos na economia colonialbahiana, as quais terão sido tambémcausa de outra carência, a quase nuIaimigração. Tôdas estas causas estãointimamente relacionadas entre si eainda com outro fator, que é frequen-

O desenvolvimento

da indústria no Sul não

encontrava paralelo na

Bahia. As razões

principais parece-nos

terem sido:

ritmo fraco de

capitalização, a

decadência política da

Bahia na República,

efeito e novamente causa,

as dificuldades de

transportes, e a carência

de energia...

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temente personalizado nas figurasde Pedroso de Albuquerque e Perei-ra Marinho, e de outros ricos comer-ciantes, salvo talvez Aristides Novis,antes e depois dêles: os quais, sendoos financiadores, e acumulando ca-pital em sólidos estoques e em segu-ras operações, acostumados aos aza-res dos negócios na Bahia, eram osarrematantes de lavradores e indus-triais nas crises intermitentes, osgrandes compradores por “10 réis demel cuado “, nos frequentes momen-tos de apertura. Dêles recebiam ter-ras, os engenhos e as ações das fá-bricas.63 O interesse dêles nos empre-endimentos de produção era secun-dário, quando não fosse nulo. Nãotinham tirocínio industrial. O espí-rito de iniciativa e indústria, tão vivoe tenaz na história ainda recente daBahia, havia de desencorajar-se eevadir-se em grande parte. E comisto, a natural perda da experiênciaindustrial; enquanto a indústriaevoluia noutras partes.

A história industrial da Bahia emesmo do Brasil, porém, está porfazer-se.

Infelizmente não encontramosmais amplas fontes de documenta-ção sôbre as pequenas indústrias,naturalmente variadas, que deveri-am existir na Bahia no comêço doséculo XIX, e como elas foram afeta-das pelas alterações econômicas donovo século, particularmente o Tra-tado de 1810 com a Inglaterra (tarifaaduaneira básica de 15%, que vigo-rou até 1844). As observações refe-rentes a outras partes do Brasil nãodeixarão de ser válidas para a Bahia.

Mas a influência é evidente. E a re-ferência de M. Calmon à concorrên-cia das enxadas britânicas às bahia-nas, que eram preferidas, emboramais caras, como não podia deixarde ser, esclarece o problema. Nessaquadra e até recentemente, a tarifaaduaneira dos Estados Unidos impe-dia a concorrência de similaresinglêses muito mais baratos.

Parece-nos claro que não podedeixar de ter desencorajado, quan-do não impossibilitado, o desenvol-vimento do artezanato e da indús-tria na Bahia, a política livre--cam-bista imposta pela Inglaterra e favo-recida pelas idéias acadêmicas, epela falta de informação sôbre os fa-tos, na época. Miguel Calmon, se-nhor de engenho de visão geral, po-rém, reclama : “Alguma proteção demais às fábricas, que a despeito detantos inconvenientes, estão sendofundadas, entra igualmente na clas-se dos meios favoráveis ao nosso in-tento. A indústria nascente carecedessa proteção: os povos mais cul-tos deram antigamente, e ainda hojeoferecem exemplos do que vos digo.Não apliquemos os principios da li-berdade do Comércio, até o pontoextremo de estorvar, que se avigorea nova Indústria Nacional”.64 Era u’amanifestação de quem contrariavafortes preconceitos da época.

Só revolucionários, como osfederalistas’ do Forte do Mar, (1833),depois de condenar a permissão deestrangeiros no comércio a retalho,avançavam: “e também devem so-frer grandes direitos tôdas as obrasfeitas importadas para esta Provín-cia, a fim de em nada prejudicar asfábricas e oficinas de marcineiros,alfaiates, sapateiros e a todos que ti-verem estabelecido qualquer ramode indústria na Província, mesmosendo estrangeiro”.65

Embora a tarifa de 1810, cobradasôbre pautas de valores, tivesse sidoàs vezes de incidência realmente mai-or, quando ocorreu baixa de preços, aregra parece ter sido o inverso, segun-do Palmela, citado por Oliveira Lima:dos direitos não se percebia senão“metade ou menos” em consequênciada fraude nas avaliações; o pior da ta-rifa, segundo um documento francês,

era o sistema “odioso, vexatório”, oqual obviamente dificultava tambémas importações essenciais, como deresto ainda hoje, e assim não tinha efei-to protetor.

Oliveira Lima aponta o efeito ru-inoso do Tratado sôbre as incipientesmanufaturas nacionais, citando olúcido Hipólito da Costa e seu “Cor-reio Brasiliense”. Deve-se aindaprestar atenção ao efeito dêsse atosôbre a imigração: suas possibilida-des seriam limitadas face à concor-rência dos produtos importados. Omesmo O. Lima, conquanto não apropósito do Tratado, cita Tollenaresôbre as poucas profissões (serviçoslocais por sua natureza), únicas paraas quais havia oportunidade para es-trangeiros.

No final do século, Oliveira Mar-tins, estudando a experiência brasilei-ra, acentua o “caráter colonial” de nos-sa economia fazendo paralelo com osEstados Unidos. Diz êle: “Abandonan-do pelo plantio d’êsse arbusto enri-quecedor (o café) a cultura e o fabricodos gêneros essenciais à vida internade uma nação, prostrai a sua vida co-lonial, adia para mais tarde a suadefinitiva constituição econômica. Asteorias da livre-troca, olhando apenaspara o lucro imediato, esquecem as ne-cessidades futuras.66

7. Comércio, finanças e condi-ções gerais

O comércio da Bahia avultoucom o desenvolvimento da navega-ção a vapor e a abertura dos portos.Já em 1824 contavam-se 19 trapiches,situação talvez só igualada pelo Rio,então pôrto do café. Os negociantesestrangeiros aflulram em grandenúmero frequentemente como agen-te-s de grandes casas, sobretudoinglêsas, mas também francêsas ealemãs, e trazendo crédito. De suainfluência, sem falar nos portuguê-ses (não creio que da falta de comer-ciantes brasileiros), parece ser umaexpressão os 4 nomes anglo-saxõesnuma comissão de 6, nomeada pelogovêrno da Sabinada para gerir osarmazéns tomados aos “marôtos”.

Já vimos a posição do comérciono crédito e no contrôle da lavourae de indústria.

O espírito de

iniciativa e indústria,

tão vivo e tenaz na

história ainda recente

da Bahia, havia

de desencorajar-se

e evadir-se em

grande parte...

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Não se pode, entretanto, despre-zar o papel que êle teve com os lon-gos adiantamentos que fazia ao In-terior até há bem pouco tempo. Êleera o batedor dos caminhos e o cor-reio das noticias e das ldéias’”: (Ahistória do caixeiro-viajante aindaestá por ser escrita, e não tem poucode romântica, ao lado de sua grandeimportância econômica e cultural).Pela falta de crédito, e pelas outrascondições internas e externas de nos-sa economia, o comércio, se em par-te financiava fregueses, mesmo nacrise, e os aliviava do pior, em partese locupletava dos paradeiros e dasaperturas. É certo também que mui-tas das queixas sôbre êle vinham dosdevedores imprevidentes e pródi-gos. Todavia, as fortunas foram fei-tas pelo comércio.

E contudo, apesar de terem estasatingido em alguns casos um vultoconsiderável, o comércio bahiano,acompanhando as condições da eco-nomia geral da Província e depois doEstado, foi decaíndo de sua impor-tância relativa, sem embargo de seuscapitais ainda serem consideráveisno comêço dêste século. Supomosque as grandes aplicações bahianasem apólices, que ficaram famosas,provinham de reservas do comércio.

Uma estimativa oficial da circu-lação monetária em 1907 atribui àBahia 96 mil contos, num total bra-sileiro de 743 mil, tendo apenas na

frente Minas e São Paulo (103 mil).É provável que a velocidade de cir-culação em São Paulo já fosse bemmaior, exigindo relativamente me-nor massa de moeda, mas a cifra daBahia é expressiva do capital existen-te em reservas de gavetas e pés demeia (Pernambuco 53mil)67

Gois Calmon apresenta uma lis-ta dos bancos, dos quais, pela sobre-vivência, destacamos o Banco Eco-nômico e o Banco da Bahia. Mas hou-ve numerosos outros de grande pro-jeção em suas épocas. A vida bancá-ria na Bahia teria que sofrer dos ex-cessos e desorientações, nos dois sen-tidos, da política financeira do po-der central, sob a pressão de umaeconomia débil e flutuante, sofren-do as crises internas de crescimentoe ainda mais, pela sua situação re-flexa, as crises oriundas de fora; po-lítica crescentemente formulada sematenção aos interêsses da Provínciae do Estado, que ia cedendo terrenona economia e na fôrça política.

Também é de destacar, entre asgrandes casas estabelecidas na Bahia,e que existem hoje, (1949) a Cia. Ali-ança, Morais & Cia., e, depois de1890, Magalhães & Cia. As casas decomércio em 1912 eram 16.094 sextolugar no Brasil, sendo as casasatacadistas 257, quinto lugar, no to-tal brasileiro de, respectivamente,251.221 e 2.91066. Ainda nessa épo-ca, e por algum tempo mais, numatendência decrescente, o comérciobahiano alcançava todo o norte deMinas, Goiás e o sertão de Pernam-buco e Piauí, além de Sergipe.

Na falta de dados sôbre a rendasocial ou produção total liquida doEstado, e ainda sôbre entrada e saí-da de capital e outros pagamentos,que nos permitissem um balançogeral das contas, a melhor aferiçãonumérica da situação de uma regiãoeconômica, mormente tão sujeita aointercâmbio com o Exterior, e depoiscom outros Estados do Brasil, é obalanço de comércio (também cha-mado balança comercial. Mesmo osdados sôbre êste são falhos. G.Calmon e outros logo ressaltam queo valor das exportações e das impor-tações era diminuido para escapardos impostos. É provável que as de-

duções se equivalessem, salvo, po-rém, nas épocas de exportação depedras preciosas, mais fáceis de sub-trair da fiscalização.

Miguel Calmon “não tem escrú-pulos”, segundo diz, de estimar aexportação de 1835 (quando aindanão havia diamantes) em 10.000 con-tos, quando, segundo os dízimos,teria sido de 5.800. Mas convém no-tar que uma das razões porque as-sim estimava (além da rebaixa dospreços, do contrabando, das “guiasde outros portos”) era a idéia deequilíbrio que supunha deveria ha-ver com a importação de 9.000, emcifras oficiais. (A propósito da ori-gem das importações, de um total de8.813 provenientes do estrangeiro,5.657 eram inglêsas).

Com aquela reserva, podemosressaltar, pela sua fundamental im-portância, o constante deficit no co-mércio durante o século passado.Raros exercícios eram favoráveis.

Só na última década se registrousaldo, mas pequeno. Além do deficit,é importante acentuar a estruturadas. importações. Ainda em 1816, osescravos constituiam mais de 25% dototal. Considerados na importação,são êles bens de produção. Antes dos“liberais princípios”, as atividadesinternas exigiriam relativamentemais bens de produção; ferramentas,matérias primas, etc. Depois, entra-riam preponderantemente artigos deconsumo. Assim, na importação doexterior, em 1835, êstes representa-vam quando menos 88%, assim mes-mo se computarmos entre os bens deprodução os 6% de artigos não es-pecificados.

Tenho a impressão de que sedeve estudar a influência que terátido no futuro o”crédito em merca-dorias” que o comércio importador,sobretudo inglês, proporcionou aBahia, já desde antes da abertura dosportos, segundo o testemunho doDes. Brito, e talvez muito mais de-pois: influência benéfica na medidaem que representou bens de produ-ção, e quiçá maléfica na extensão emque fomentou o padrão de consumosuntuário de u’a minoria de senho-res e de doutores, o qual estava aci-ma das possibilidades normais, gra-

Pela falta

de crédito, e pelas outras

condições internas e

externas de nossa

economia, o comércio, se

em parte financiava

fregueses, mesmo na

crise, e os aliviava do pior,

em parte se locupletava

dos paradeiros e

das aperturas...

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vando a futura balança de pagamen-tos e concorrendo para as quedas decâmbio. Êsses hábitos suntuárioscontribuíram (e ainda hoje) paraagravar as crises, impedindo a for-mação de melhores reservas nosanos bons. Constituem, em suma,um fator de maior descapitalização,além de desequilíbrio no balanço depagamentos, Êle era aliás encoraja-do a princípio pelo liberalismo adu-aneiro, e depois pela tarifa anti-eco-nômica e de inspiração aristocrática,como bem observou Luis TarquínioO que aliás também acontecia com orestante sistema fiscal.

O deficit no comércio com o ex-terior sanou-se, passando a Bahia,com o cacau e a variedade de peque-nas exportações, a contribuir para areceita líquida de cambiais do país.

O saldo no comércio exterior re-sultou da melhoria das condiçõesinternacionais para os nossos produ-tos (fim do século), mas sobretudoda transferência do deficit para ocomércio interno; e coincidiu com aqueda do prestígio político da Bahiano país e o surto do café e das ativi-dades criadas com os seus lucros e aimigração, chamando para São Pau-lo tôdas as energias. A não ser aepisódica sedução do “ouro negro”,era inevitável que a produtividadesem paralelo de São Paulo nessa qua-dra atraísse os capitais e a mão-de-obra, sobretudo num país tão afeitoà mobilidade e particularmente dezonas onde as atividades fixadorasjá estabelecidas eram reduzidas (in-dústrias e agricultura com elevadoscapitais fixos e empregos estáveis).

Assim, a Bahia, produtora quepassou a ser de moedas estrangeiras,era indiretamente uma das financia-doras das importações essenciais àindustrialização de outras áreas, àsquais pagava ainda preços mais ca-ros do que os dos artigos importa-dos, e isso enquanto continuava su-jeita às instabilidades dos mercadosexteriores para sua produção. Nemas suas vendas ao resto do país nemo orçamento federal tinham o papelde compensar a desvantagem.

O comércio interno passou a for-necer não só o xarque, ou quase so-mente êle, como na primeira metadedo século XIX, mas uma variedade equantidade maior de produtos ma-nufaturados e primários. Não tendodesenvolvido a indústria do açúcarantes da limitação, nem as manufa-turas, como Pernambuco ao menos,a Bahia passou a grande freguês daindústria e da agricultura do Sul emesmo de Pernambuco. Essa produ-ção nacional protegida se levantousob o guante do desequilíbrio crôni-co nos pagamentos internacionais doBrasil, o qual determinou as quedasde câmbio sucessivas, e criou umanecessidade de menor dependênciado exterior. A 1ª. guerra mundial veiotrazer-Ihes um grande impulso.

Embora as quedas de câmbio ti-vessem “estimulado nossa amorte-cida capacidade de trabalho”, comoobservou G. Calmon, referindo-se àsexportações bahianas, elas não fo-ram suficientemente utilizadas, aolado das tarifas de intenção ou efei-to protecionistas que se iam ocasio-nalmente adotando, para a criaçãona Bahia de atividades produtivasvisando o seu próprio mercado e osmercados nacionais. As outras con-dições da nossa economia explicarãoo fato.

Enquanto isso, as indicações sãono sentido de que a evasão de capi-tais foi muito maior que as entradas,mesmo sob a forma ilusória de gran-des empréstimos públicos de duvi-dosa aplicação. Além disso, a Bahiasempre foi altamente tributária aoorçamento federal.

O principal característico das fi-nanças da Província, depois do Es-tado, é uma constante em economias

similares em todo o mundo: basear-se em impostos indiretos, particular-mente sôbre as exportações.

Houve reduções de direitos deexportação para facilitar ao açúcarenfrentar a crítica competição mun-dial. Mas no caso do cacau, isento até1860, daí em diante subiu de 6% atéatingir 18% no comêço do século,quando só o imposto de exportaçãosôbre o cacau, explorando as condi-ções excepcionais da Bahia no mer-cado mundial, e estimulando certa-mente os concorrentes, já represen-tava cêrca de 28% da receita tributá-ria do Estado. O imposto de expor-tação foi crescendo a partir do fimdo século, para só declinar ultima-mente.

A flutuação nas receitas, se bemque ligeiramente atenuada na Bahiapor uma certa variedade das expor-tações (o que sempre tornou menosaguda a crise estrutural), refletia sen-sivelmente a sorte dos grandes pro-dutos’ (ainda hoje e do cacau). Dai aincerteza e os deficits, agravadospela imprevidência.

O que sempre agravou o defeitoestrutural do sistema tributário, re-tardando a sua superação, que devevir de uma economia mais intensivae diversificada, é a baixa produtivi-dade das despêsas públicas. Êste fa-tor transforma a receita pública emprocesso de descapitalização e em-pobrecimento, como é patente nazona cacaueira. É de interrogar, po-rém, se, face à carência de recursospara obras e serviços, nas condiçõesdo Estado, e diante da pressão porempregos públicos, decorrente dafalta de absorção em atividades lu-crativas e atraentes (entra aqui tam-bém o preconceito contra as ativida-des comerciais e industriais, particu-larmente artezanais), poderiam asadministrações públicas refreiar essatendência.

Não se tem estudado ainda a na-tureza e a experiência do nosso apa-relhamento fiscal. Mas é de supor,por exemplo, que êle venha tendo nahistória o efeito de acelerar as altas ede agravar as baixas, ora aplicandosôfregamente receitas não previstasnaquelas ocasiões, ora retraindo-sede aplicações, pelo fracasso das

O deficit no

comércio com o exterior

sanou-se, passando

a Bahia, com o cacau e a

variedade de pequenas

exportações, a contribuir

para a receita líquida de

cambiais do país.

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previsões orçamentárias, quando asdespêsas públicas deveriam ter umpapel regulador. Êsses desequilíbriosforam acentuados pelos empréstimospara “tapar buracos”, para obras des-tinadas a “inglês ver”, isto é, a mos-trar “melhoramentos” ou “progres-sos” figurativos, em que encontravaderivação um complexo de nobrezasem dinheiro ... ou quiçá um certo tra-ço litúrgico da nossa cultura.

Condições mais favoráveis deaplicações no Sul do pais determi-naram um fluxo de transferências delucros auferidos nos anos bons, Ca-rências elementares de transportes ede energia (elementares, porque ain-da abaixo dos sofriveis padrões nasmelhores zonas do pais) terão sido,e continuam sendo, as principais ra-zões desta evasão.

8. ConclusãoConcluindo o panorama esboça-

do, relembremos, embora sem insis-tir neles, alguns fatos relevantes.Depois da Guerra da Independênciae de um recesso nos negócios inter-nacionais, recrudesceram as desor-dens e rebeliões, ora de escravos enegros forros, ora de nativistas(mata-marotos) e de “federalistas”.

Na década de 1840, registrou-secerta reanimação. Na de 1850, sem-pre em altos e baixos, houve maio-res iniciativas, mas veio o cólera de1855, a sêca entre 57 e 61, e o descon-trôle de crédito, que deu em falênci-as, Entre 60 e 65 a Guerra de Seces-são veio salvar, mas logo a Guerrado Paraguái exigiu muito da Bahia.O desgaste foi grande, “Negros parao café” e soldados para a guerra. ABahia não pôde aproveitar os lucrosdo período, anterior, embora se re-gistrassem vários empreendimentos.Logo a seguir, vem a moléstia dacana em 1873, a concorrência dosdiamantes do Cabo, a escassez degêneros, o êxodo de escravos para oSul. Esta crise, segundo Gois Cal-mon, se prolonga até 1890. Em 1880,há muitas falências, seguidas de“contínuo abatimento e desânimo”,Reanima-se a economia no começodos anos 90, com melhores preços, ecacáu que aparece, a borracha ecarbonado, o crédito, até demasiado,

a “febre” de iniciativas, Logo vem asêca de 1893, Em 1900 o cacau avul-ta, e num crescendo, mas sofre tam-bém frequentes flutuações e sobres-saltos. O fumo se havia restabeleci-do, O açúcar veio a ter uma novaoportunidade com a Guerra de 14,O café ganhou preços bons, Enquan-to isso, sempre continuaram as cri-ses de origem climatérica e as espe-culações nos preços internacionais,A Bahia não conseguia capitalizar. Aúnica “fronteira” era o cacáu. O ser-tão manda excesso de braços paraSão Paulo: 50% da população de al-guns municípios entre 1920 e1940.

Numa curva de longa tendência(médias móveis em longos períodos)poder íamos figurar êsse período dahistória da Bahia por uma alta nocomêço do século, uma baixa nasdécadas 20 e 30, uma recuperação nomeiado (décadas 40 e 50), logo inter-rompida, uma ligeira reanimação nocomêço dos 60, para cair em segui-da com a guerra do Paraguái até1890, quando se registra nova alta.

Nessa sucessão de crises, que nãocorespondiam às crises do sul dopais, e cuja história precisa ser feitacom mais vagar e melhor análise, aBahia se foi recolhendo no tempo.

A variedade de exportação lheassegurou, apesar de tudo, um gráumenor de instabilidade que outrasregiões e estados do país, A varie-dade de produções de consumo in-terno, apesar das crises de abasteci-mentos se terem sucedido intermi-tentemente, lhe manteve um padrãode vida não-monetário que, emborabaixo, ainda se compararia favora-velmente com o de outras regiõesbrasileiras aparentemente em me-lhor situação. Mas, face à fraquezadas exportações, reduzia-se sua ca-pacidade de importar os confortosque se iam impondo nos hábitosmodernos, enquanto as condiçõeseconômicas gerais não favoreciam acriação e manutenção de atividadesindustriais no Estado. Eis aqui o re-cuo no tempo.

Os obstáculos naturais aos trans-portes, a carência de energia, numaépoca em que a eficiência passou aser medida pelo fator H. P. de quedispõe o homem, deficiências que

refletem a descapitalização, mas que,se vencidas, criam as condições parasuperar outras dificuldades, viriamretardar a recuperação da Bahia, con-vidando os capitais e muitos homensde iniciativa a buscar emprêgo fora.

Por condições históricas, teve aBahia que pagar tributo ao Sul. Du-plo tributo de comprar mais caro asmercadorias (tecidos e artefatos deSão Paulo, queijos e manteigas deMinas), e de fornecer braços e capi-tais. Só condições muito melhores detransportes e energia aliados à rea-nimação do fim do século, teriampodido resistir à absorvente atraçãode São Paulo.

A decadência relativa da educa-ção não é mais do que uma decor-rência da situação geral, refletida nasfinanças do Estado, embora possa serum motor do desenvolvimento eco-nômico, na medida em que se ante-cipe a êste (como é o caso ainda dosdispendiosos programas de saúdepública). Sem outras condições dedesenvolvimento, e assim de emprê-go, os recursos tradicionais de boaeducação acadêmica na Bahia con-tribuíram mais para fornecer pesso-al às zonas mais progressistas dopaís do que para levantar a Bahia; eforam sem dúvida minados por umacerta sonolência, a do alheiamentodo sistema produtivo atual e da vidamoderna.

O apanhado histórico mais rea-lista, porém, não autoriza o ceticis-mo quanto à energia do homem.Nunca lhe faltou bravura para en-frentar as situações, embora lhe ti-vesse falecido frequentemente o “sa-ber fazer”. Os fracassos trouxeramnas zonas mais velhas o espírito dapoupança e o temor, aliado à faltade experiência para iniciativas arro-jadas, mas as zonas novas continua-ram a despertar o espírito do empre-endimento e do risco, talvez levadoaté ao exagêro do puro aventureiris-mo e do jôgo, estimulados pelas ins-tabilidades da economia colonial deexportação.

Leia todos os números da RDEacessando o site:www.ppdru.unifacs.brArquivos prontospara download.

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NOTAS1

Mantida na íntegra a redação ori-ginal.

2Wanderley Pinho - História de UmEngenho do Recôncavo - Rio 1946- pg. 197 - (Este livro é um dosacontecimentos mais relevantesda bibliografia nacional nos últimosanos).

3Segundo uma fonte cito J. Lucio deAzevedo, Épocas de Portugal Eco-nômico, Lisboa 1929, pq, 456.

4P. M. Gondavo, cit. Oliv. Martins -O Brasil e as Colônias Portuguêsas- 5a ed., Lisboa 1920 - pg. 33.

5Estimativa das Exportações deAçúcar no final do Seco XVIII, se-gundo fontes americanas; em to-neladas: Colônias Francêsas -95.000; Colônias Inglêsas - 80.000;Extremo Oriente - 50.000; Brasil -35.000; Antilhas Dinamarquesas -28.000; Cuba em 1802 - 40.000)15.000; diversos - 3.000. (M. H. el- gamal - Le Problàrne Internationaldu Sucre - L.G.D.J. Paris, 1941 -pg. 7.O dado sôbre o Brasil supe-ra as indicações nacionais). (R.Simonsen - H. Econômica,2~ ed.quadro à pago 172 e W. Pinho - H.de um Engenho. pg. 254).

6Ramiro Guerra y Sanchez - Azucary Poblacion en Ias Antillas - 3a ed.- La Habana 1944. Ver tambémFernando Ortiz - Contrapuento Cu-bano dei Tabaco y dei AzucarHabana, 1940, sobre os aspectoscapitalistas da indústria açucareirae popular da do fumo, semelhan-tes ao que aconteceu no Brasil. Elerefere também o contrato de mes-tres nas colonias portuguesas

7Alvará de 21-2-1765, mandandoobservar na Bahia pelo Ofício de11 de 6 de 1799 (34 anos de dife-rença - ap. Carta J. Diogo G. F.Castelo Branco aos Vereadores, in“Cartas Econômico-Políticas”, doDes. J. R. Brito e outros (Quanto àdata do ofício, o Des. Brito dá 11-7-1798, v. pg. 86).

8Referência ao regime de adminis-tração estatal, pré-democrática,bem estudada por Max Weber, queos sociólogos Guerreiro Ramos eEmílio Williams expuseram no Bra-

sil, e que consiste em utilizar a má-quina exatorial e administrativacomo um adendo do patrimônio dacorôa e do seu domínio privadosôbre a coisa pública. Temos so-brevivência dêsse regime nas par-ticipações em multa e nas atitudes“patronais” frequentes dos funcio-nários, diante dos contribuintes,que são ainda meros tributários

9Des. João Rodrigues de Brito, inCartas Econômico-Políticas (comprefácio magnifico de Gois Calmon)ed. Gov. Estado da Bahia,1823, pg.34 e 86.

10“Cartas Econômicas - Políticas” cit:

11W. Pinho (História...) pg. 215.

12J. P. Calógeras - O Marquês deBarbacena, 2ª ed. 1936, e GoisCalmon, prefácio às Cartas Eco-nômico-Políticas.

13Luiz Viana Filho - O Negro naBahia.

14Pedro Calmon - O Marquês deAbrantes.

15Kidder & Fletcher - Brazil and theBrazilians, 1857, pg. 483 e 490.

16O. Lima - D. João VI no Brasil -

sôbre os efeitos da Abertura dos

Portos e do Tratado 1810. Sebas-

tião Ferreira Soares, “Esboço ...

Crise Comercial da Cidade do ‘Rio

de Janeiro em 19-9-1864" apud

João Carneiro da Fontoura, “Do-

cumentação para o histórico das

tarifas aduaneiras no Brasil, 1808-

1889” pg. 17.

17Martius - Através da Bahia.

18“Cartas Econômico-Políticas”.

pags. 115 e 96.

19Ch. Fr. Hartt. Geologia e Geogra-

fia Fisica do Brasil - Brasiliana. pg.

351 Hartt fez duas viagens ao Bra-

sil a partir de 1865. Quanto a tra-

balhos modernos de grande inte-

rêsse para a ecologia bahiana. ver

P. Gouroit - Les Pays Tropicaux

20Cartas. pgs. 115 e 116

21Gois Calmon. “Ensaio de Retros-

pecto sôbre o Comércio e a Vida

Económica na Bahia entre 1823 e

1900” – D. Oficial do Estado. ed

comemorativa do Centenário da

Bahia, (outro trabalho fundamental).Também W Pinho - “História ...”.

22Cartas. pg. 66.

23M. Calmon du Pin e Almeida - Dis-curso na Sociedade d’AgriculturaInd. e Comércio daBahia - 31-1-1836. Os trabalhos de M Calmonmerecem uma reedição

24Ver especialmente a carta do Des.Brito.

25Cartas. pg 99.

26Cartas. pg 100.

27Gois Calmon – Retrospecto. Tam-bém B. Amaral - História da Bahiada Independência à República -Bahla. 1923. repositório preciosode informes e documentos.

28Gois Calmon - Prefácio às Cartas... ci t.

29Miguel Calmon - Discurso cit. 1836.

30Wanderley Pinho - “Cotegipe e seutempo” pgs. 687 e 697, onde háum quadro da situação do Recôn-cavo Açucareiro do meiado do sé-culo passado. A “Hist. de um en-genho do Recôncavo” dá um ex-celente registro dos esforçostécnicos da indústria açucareirabahiana.

31Pratt International Trade in StapleCommodities. Mc. Graw - 1928. pg.277.

32G. Calmon - Retrospecto.

33Miguel Calmon (memórias sôbre oTabaco – 1835).

34Idem - Segundo a cláusula XXdêsse Tratado baseado na “reci-procidade” e “mútua conveniên-cia”. a Inglaterra ressalva sua proi-bição de importar açúcar, café eoutros produtos permitindo poréma Portugal (cl. XXII) impor direitosproibitivos sôbre tais produtos dasColônias britânicas.

35Roberto Simonsen - Hist. Econô-mica do Brasil. p.203 e 216.

36Miguel Calmon - Mem. sôbre o Ta-baco. 1835.

37Miguel Calmon - Fatos Econômi-cos - Rio 1913.

38Gois Calmon - Retrospecto

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39Har t t, op. cit. 273 - Zehntner. ci-tando J. R. Souza. refere colonosespanhois que abandonaram ocafé pelo cacau. pg.35.

40Informação que o A. ouviu de Brazdo Amaral. A colônia efetivamenteadquirira a feição de uma “plan-tation” tropical com escravatura(ver Handelmann - História do Bra-sil. 475 e 646).

41L. Zehntner - Le cacaoyer dansI’Etat de Bahia - Berlln, 1914.

42R. Simonsen - H. Econômica doBrasil - II pg. 83 Ver tambémCalógeras – Formação Histórica doBrasil.

43Fato acentuado por G Calmon ana-lisando o balanço comercial daBahia in “Retrospecto”, bem comoHartt , 337 Diz êste”Tanto quantoposso asseverar a produção anu-al de diamantes da Província nãopode ter sido inferior a três milhõesde dólares” (6.000.000$) A expor-tação segundo os dados oficiais,foi, no exercício 62-63 de 1.647contos e no 64-65 de 1.381 con-tos.

44Artigo da Revista Internacional dasRepúblicas Americanas. tr . e ou-tros informes “Boletim da Agricul-tura”, Bahia jan -março 1909 - pg.123.

45Hartt. op. cit. 292. em nota poste-rior ao texto.

46Agradeço ao Prof Manoel J Ferrei-ra. Ilustre sanitarista e filho doCom. Ferreira o acesso que mepermitiu a uma interessante docu-mentação a respeito.

47G Dutra - Maniçobeiras de Jiquié -in “Boletim de Agricultura” Bahia -Vol XIV out-dez. 1909 pg 170.

48L. Zehntner - op. ci t.

49B. Amaral - Hist. da Bahia

50Miguel Calmon. “Memória sôbre oTabaco” 1835 e “Discurso” 1836

51Uma das trovas cantadas tradicio-nalmente na roda das casas de fa-rinha do Recôncavo colhida peloAutor.

52Estas as informações a seguirsôbre indústrias são retiradas deGois Calmon, “retrospecto”. Péri-cles Madureira de Pinho “LuizTarquínio”, Bahia, 1944. Além deM. Calmon. “Discurso”... 1836.

53Kidder. op. ci t . pg 497.

54Op. cit. - A fábrica era do mesmoDr. Bernardino. fundador da de te-cidos.

55Gois Calmon - “Retrospecto” deque são geralmente os informes aseguir.

56Madureira de Pinho “Luiz Tarquí-nio” - pg. 36.

57Quanto aos números, G Calmon -“Retrospectos”; deve-se, porémadvertir sôbre a variação do con-ceito Fábrica. A política do Minis-tro Ruy Barbosa. que sempre en-controu mais o desfavor que oaplauso. mesmo entre ruistas, pre-cisa ser melhor examinada. Raroshistoriadores. como Caio Prado Jr.e Roberto Simonsen. reconhece-ram o seu alcance. Recentemen-te. o sr. Humberto Bastos. “A Eco-nomia Brasileira e o Mundo Moder-no”, pg. 167. teve o mérito de pó-Ia em foco. Em uma monografiaespecial que já anuncia estar emprovas promete desenvolver a tesede que “Ruy Barbosa foi o Ministroda Indepencência econômica doBrasil”.

58Dados do Ministério da Fazenda,apud “Annuaire du Brésil Écono-mique” 1913 p.234. O total brasi-leiro desses grandes era de 3.664enquanto o total geral dos estabe-lecimentos industriais que paga-vam o imposto de consumo era de11.335. O inquérito promovido peloCentro Industrial do Brasil em 1907parece ter falhado inteiramente nacoleta. A. cifras desse inquérito sóaparecem melhores quanto ao D.Federal.

59Ver Góis Calmon e Madureira dePinho.

60Roberto Simonsen, “Evolução In-dustrial do Brasil’: abre o caminho,mas não chegou a fazer o 3° vo-lume de su.!’ “História”.

61Miguel Calmon: “Discursos” –1836. Desconhece-se geralmenteno Brasil a tarifa cobrada pela In-glaterra para a maioria dos nossosprodutos, as limitações de navega-ção e a proteção inglêsa para osseus produtos. Os tecidos porexemplo. Ricardo, consolidador daeconomia política clássica, foi noParlamento um “oportuno” prote-cionista.

62Gois Calmon “Retrospecto”. Na in-tegra Braz do Amaral - Hist. daBahia.

63O Brasil e as colônias portuguesas.5ª. edição, p.174.

64Boletim Estatístico – Exposição.1908, p.167.

65Dados do Ministério da Fazenda1913.

66P. Madureira de Pinho, - LuizTarquínio, pg. 23.

67G. Calmon - Retrospecto, pg. 394,do D. Of. do Centenário.

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