Rompendo a Iluso da Individualidade Yogavacara Rahula Bhikkhu
Reviso e Traduo por Pedro Fabrini Introduo Este presente do Dhamma
foi organizado para dar ao leitor, ao estudioso de budismo ou
queles que j praticam a meditao vipassan, uma compreenso mais
profunda sobre os elementos fundamentais dos ensinamentos do Buda,
o Dhamma. A idia incorreta, ou o entendimento distorcido de que
existe uma alma ou um eu, um ser eterno a ignorncia, que a origem
de todo sofrimento e insatisfatoriedade individual e coletiva. Esse
o cerne dos ensinamentos do Buda, da o ttulo deste livro. Para que
se desenvolva um insight profundo acerca desta realidade, ou
verdade: de que todas as coisas que existem, que foram fabricadas,
que surgiram desprovida de uma essncia individual, que se mantm por
si mesma, essa individualidade em qualquer profundidade que possa
existir no eterna, uma boa compreenso desses princpios bsicos
fundamental. O livro se divide em duas partes. A primeira consiste
principalmente de citaes e selees dos discursos do Buda encontrados
no Cnone Pli, expondo os cinco agregados do apego (pancaupadana),
que so o principal foco da meditao de insight. A segunda parte uma
coleo no-cannica de diferentes ensaios sobre a mente e a meditao,
de vrias fontes e diversos professores do Dhamma. O exerccio de
ateno plena ao final do livro ser um guia til para quem desejar
fazer progressos em superar a iluso da individualidade. Este
pequeno livro, no entanto, no cobre completamente os ensinamentos
do Buda. Eu incentivo o leitor a conhecer melhor o Nobre Caminho
ctuplo, a Origem Dependente e os Quatro Fundamentos da Plena Ateno.
Que este livreto possa ajudar aqueles que estiverem prontos a pr
fim ao sofrimento e realizar Nibbna. Eu gostaria de salientar desde
j, que essa gravao deve ser tomada como um livro muito poderoso e
meticuloso que com certeza precisa ser estudado, refletido,
ponderado inmeras vezes para dar frutos, ou seja, para ir
construindo um Entendimento cada vez mais correto na mente do
ouvinte. atravz do profundo entendimento e compreenso de cada
palavra, cada frase que ir Retificar o Entendimento Incorreto em
Correto. Convido-os a estuda-lo com calma e ouvi-lo quantas vezes
forem necessrias. PARTE I O que o Buda descobriu Buddhi, em
snscrito, significa a mente pura, a mente que est livre das
impurezas, de forma que nela no surjam percepes, nem concepes
tendenciosas ou condicionadas. A mente da maioria das pessoas
funciona com todo tipo de distoro, de forma que todas as suas
percepes, entendimento e pensamentos esto maculados e so
condicionados a seguir padres pre-estabelecidos. Desse modo, as
pessoas nunca percebem as coisas na sua verdadeira natureza, como
na realidade. O poder e alcance da mente permanecem limitados,
confusos e confinados. O Buda, o Desperto, foi algum que
desenvolveu todo o poder da sua mente, e dissipou todas as
distores, contaminaes, levando-a ao maior grau de clareza possvel.
A partir disso ele conseguiu desenvolver uma ateno aguada e um
insight penetrante sobre como o corpo e a mente funcionam juntos.
Conforme seu
insight se tornava mais profundo, ele ia compreendendo a razo
pela qual existem mente, corpo e todos os fenmenos relacionados a
eles. Atravs desse insight perfeito, o Buda comnpreendeu o ciclo
completo de causa e efeito, a lei do kamma (em snscrito, karma) em
relao aos elementos da mente e da matria e teve a experincia direta
de como essa lei funciona. O Iluminado viu que a infelicidade e o
sofrimento experimentados pelos seres tm suas razes na prpria
mente. Cultivando o corao e obtendo controle sobre os processos
mentais, a pessoa pode destruir essas causas que provocam o
sofrimento, a tristeza e a frustrao, cultivando e desenvolvendo
outras causas, tornando-as firmemente estabelecidas na mente, o que
lhe permite experimentar o fim gradual de toda tristeza e confuso.
Ela vive ento num estado de calma e felicidade, livre de toda
dvida, pesar, ansiedade e outros estados que perturbam o bem-estar.
O Buda disse nas primeiras duas estrofes do Dhammapada: Todos
fenmenos so precedidos pela mente, Governados pela mente,
fabricados pela mente. Se algum age ou fala com a mente impura, O
sofrimento o segue, como a roda da carroa Segue a pata do boi que a
puxa. Se algum age ou fala com a mente pura, A felicidade o segue,
Como sua sombra que nunca o abandona. Quais so esses fatores
mentais, essas causas de onde surgem o sofrimento? O Buda descobriu
que o Apego e Desejo, a busca por objetos de gratificao sensual e a
tentativa de encontrar a felicidade nas coisas do mundo. Mas essas
coisas so impermanentes, esto sujeitas, uma vez que tenham surgido,
ao desaparecimento e cessao. Num nvel mais profundo, isso tudo se
deve idia e percepo incorreta de que existe um eu ou alma
permanente e individual, que experiencia os objetos do mundo como
sendo separados e distintos dele. Na verdade, essa noo de eu apenas
uma percepo ilusria, equivocada, que devido ignorncia, se fixa na
conscincia como um parasita. Essa idia equivocada de eu a razo de
continuarmos desejando e ansiando viver e experimentar os objetos
do mundo. Quando, atravs do insight profundo, percebe-se a causa da
noo de um eu e se compreende plenamente que essa noo ilusria,
gradualmente se reduz o desejo pelas coisas, o apego a elas, a sede
de uma existncia egosta, a ambio de se impor e reduzem-se as aes
que resultam desses fatores, at que eles sejam definitivamente
eliminados da mente. Como expe outro verso do Dhammapada: Pouco a
pouco, uma por uma, de momento a momento, um sbio remove as suas
impurezas como o ferreiro remove as impurezas da prata.
Quando a mente est livre dessas condies das quais brotam a
misria, dor e inquietao, o que sobra um estado puro de paz, calma e
felicidade sustentado pela sabedoria e pela compaixo. Tal mente no
se abala ou perturba minimamente, nem se agita ou inquieta com as
vicissitudes passageiras da vida. Aquele que se voltou para a
renncia, Se voltou para a mente desapegada, Enche-se do amor que
tudo abarca E se liberta da nsia pela vida. Com a viso mental
desobstruda, Conhecendo a origem dos sentidos, Sua mente est
plenamente libertada. Quem encontrou a calma no corao No mais
acumula as aes que praticou, E nada resta para ele fazer. Como uma
rocha slida e forte No se agita com o vento, No mais podem formas
visuais, sons, Aromas, sabores, toques, Coisas belas e feias Abalar
o iluminado. Firme sua mente, sua mente est liberta Vendo que tudo
surge apenas para desaparecer. Meditao O desenvolvimento da mente,
no sistema de meditao budista, destina-se a destruir as condies que
produzem dukkha. A meditao Vipassan cultivada, no incio, por meio
da ateno plena e da investigao das idas e vindas da mente e do
corpo durante os processos de percepo sensorial, formao do
pensamento e subseqentes aes externas do corpo. Contato, proliferao
e volio. Isso tudo observado sem que se fique envolvido, apegado ou
identificado o que possvel. Todo o processo, nas suas vrias
manifestaes, visto como uma srie de fenmenos condicionados,
impermanentes, fugazes, que no podem ser controlados por ningum,
que no pertencem a ningum. Quando a mente no mais influenciada pelo
contato sensorial, a idia e a percepo de um eu gradualmente vai
diminuindo e a mente pra de reagir aos estmulos dos sentidos; a
percepo de um eu separado desaparece e experimenta-se um estado de
conscincia que discrimina, que abarca tudo, que no tem eu. Essa
experincia direta, ntima, da natureza no-influenciada da mente uma
prova intuitiva de que o que consideramos um eu individual, que
experiencia o mundo apenas uma noo automtica e ilusria. O que
existe apenas atividade mental e fsica condicionada, que surge e
desaparece de acordo com a lei de causa e efeito, sem alma
verdadeira ou entidade governante. O Fazedor No-Eu e a Consciencia
No-Eu. Essa atividade a fonte de algo complexo e misterioso chamado
vida, com todos os problemas e dificuldades que ela implica.
Pode-se perguntar agora qual o benefcio de atingir essa viso. Ela
ser o impulso, para que comecemos de fato o processo de nos
desembaraar dessa questo toda, e iniciemos a eliminao de muitas
preocupaes, ansiedade, medo, impurezas e desconforto que
experimentamos.
O meditador pra de se identificar com aes desnecessrias que s
aumentam o envolvimento, o agrilhoamento com o corpo e mente e a
escravido a eles. Isso acontece porque o meditador ento compreende
que as aes no-saudveis praticadas no presente perpetuam esse
processo. As aes atuais se baseiam naquelas realizadas
anteriormente, e as aes futuras sero condicionadas pelos hbitos
praticados no presente. Assim, se eliminarmos da vida as aes
no-saudveis, egostas, gananciosas e desnecessrias, estaremos
preparando o terreno para uma vida mais calma, menos atribulada, no
futuro. Isso se consegue com a prtica do Nobre Caminho ctuplo,
ensinado pelo Abenoado para esse fim. Essa tarefa s pode ser
cumprida pela pessoa, individualmente. Ningum pode purificar a
mente alheia, como mostra outro verso do Dhammapada: Sozinho se faz
o mal, sozinho se corrompido. Sozinho o mal deixa de ser feito,
Sozinho se purificado. Pureza e impureza dependem de cada um, O
outro no pode nos purificar. Depende de cada pessoa comear o
processo de se desembaraar e de libertar a mente da escravido s aes
passadas. E o processo s pode ser iniciado e completado com sucesso
se tivermos uma atitude adequada e desapegada em relao mente, ao
corpo e ao mundo objetivo sensorial. A Busca Nobre O Buda era filho
de um rei e de uma rainha, e cresceu cercado de todos os prazeres e
luxos de uma corte real. No entanto, ele abandonou tudo isso pela
Busca Nobre, que descreveu no Sutta Ariyapariesana MN 26: Estas so,
bhikkhus, as duas buscas: a busca nobre e a busca ignbil. E qual a
busca ignbil? Nesse caso, monges, algum que esteja, ele mesmo
sujeito ao nascimento, envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza
e impurezas, busca aquilo que tambm est sujeito a essas condies. E
o que, bhikkhus, est sujeito a essas condies? Filhos e esposas esto
sujeitos a essas condies. Escravas, escravos, bodes, ovelhas,
galos, porcos, vacas, elefantes, cavalos, ouro e prata esto
sujeitos a essas condies; ainda assim esse homem, estando
escravizado, apaixonado, viciado, ele mesmo sujeito ao nascimento,
ao envelhecimento, s impurezas, ele mesmo procura a felicidade
naquilo que tambm est sujeito a essas condies. E qual, bhikkhus, a
busca nobre? Nesse caso, algum que esteja ele mesmo sujeito ao
nascimento, envelhecimento e impurezas, mas tendo compreendido o
perigo, a desvantagem daquilo que tambm est sujeito a essas coisas,
busca o que no nasce, o que no morre, a suprema segurana contra o
cativeiro Nibbna. Eu tambm, monges, antes do meu Despertar, quando
ainda no estava iluminado, estando sujeito ao nascimento,
envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e impurezas, tambm
procurei a felicidade naquilo que estava igualmente sujeito a essas
condies. Ento considerei o seguinte: Por que eu, estando sujeito ao
nascimento, envelhecimento e impurezas,
procuro aquilo que tambm est sujeito a essas condies? E se eu,
tendo visto o perigo, e as desvantagens naquilo que tambm est
sujeito ao nascimento, procurasse o que no nasce, o que no morre, a
mxima segurana contra a escravido Nibbna? Ento eu, bhikkhus,
estando em busca daquilo que benfico, buscando o insupervel estado
de paz sublime, viajando a p por Magadha, cheguei ao municpio de
Uruvela. L eu encontrei um pedao de terreno adequado, com um bosque
prazeroso e um rio lmpido com as margens planas e agradveis e um
vilarejo prximo para esmolar comida. Eu pensei: Este um pedao de
terreno adequado, com um bosque prazeroso e um rio lmpido com as
margens planas e agradveis e um vilarejo prximo para esmolar
comida. Isso adequado para um membro de um cl que possui a inteno
de se esforar. E eu me sentei ali pensando: Isso adequado para o
esforo. Ento eu, bhikkhus, estando sujeito ao nascimento,
envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e impurezas, tendo
visto o perigo daquilo que tambm est sujeito s mesmas condies,
procurando o que no nasce, o que no morre, a mxima segurana contra
o cativeiro - Nibbna -, eu alcancei o que no nasce, o que no morre,
a mxima segurana contra o cativeiro, Nibbna. Surgiram em mim a viso
e o conhecimento: Inabalvel a libertao da minha mente. Este o ltimo
nascimento. No h mais vir-a-ser a nenhum estado. As Quatro Nobres
Verdades Em seus ensinamentos, cujo conjunto se chama Dhamma (em
snscrito, Dharma), o Buda exps aquilo que observou e constatou, de
maneira direta, ser verdadeiro e comum a todos os seres vivos. Ele
explicou suas descobertas e as ensinou no que chamou de Quatro
Nobres Verdades. Elas so chamadas de Nobres porque, se plenamente
praticadas e compreendidas, levam o praticante a viver num estado
mental claro e purificado, um estado de paz e felicidade
incomparvel e puro, que nenhuma vicissitude da vida pode perturbar.
Abaixo esto alguns dos discursos do Desperto que desenvolvem o
tema: Bhikkhus, h estas Quatro Nobres Verdades: a Nobre Verdade do
Sofrimento; a Nobre Verdade da origem do sofrimento; a Nobre
Verdade da cessao do sofrimento; e a Nobre Verdade do caminho que
leva cessao do sofrimento. E o que , a Nobre Verdade do Sofrimento?
Nascimento, envelhecimento, doena, dor, tristeza, lamentao, pesar,
desespero e morte so sofrimento. No obter o que se deseja e ter
contato com o que no se deseja sofrimento. Em resumo, os cinco
agregados (khandha) do apego so sofrimento. Quais so os cinco? Todo
tipo de forma material (rpa), seja ela passada, presente ou futura,
interna ou externa, grosseira ou sutil, inferior ou superior,
distante ou prxima - isso se chama agregado da forma. Toda sensao
(vedana), seja ela passada, presente ou futura, interna ou externa,
grosseira ou sutil - isso se chama agregado da sensao. Toda percepo
(saa), seja ela passada, presente ou futura - isso se chama
agregado da percepo. Toda formao mental (sankhra), seja ela
passada, presente ou futura - isso se chama agregado das formaes
mentais. Todo momento de conscincia (vina), seja ele passado,
presente ou futuro isso se chama agregado da conscincia. Esses
cinco fatores, Bhikkhus, so chamados de cinco agregados do apego. E
qual , bhikkhus, a Nobre Verdade da origem do sofrimento? esse
desejo (pelos cinco agregados), que leva a renascimentos
incessantes e ao sofrimento contnuo, alm do apego ao prazer
sensorial, o desejo de existir para sempre e o desejo pelo fim da
vida. Essa a Nobre Verdade sobre a origem (e continuidade) do
sofrimento.
E o que , bhikkhus, a Nobre Verdade da cessao do sofrimento? a
cessao e destruio desse mesmo desejo, a renncia, a extino,
libertar-se, abandonar o desejo e apego Esa a Nobre Verdade da
cessao do sofrimento. E qual , monges, a Nobre Verdade do caminho
que leva cessao do sofrimento? o Nobre Caminho ctuplo, a saber:
Entendimento Correto, Pensamento Correto, Linguagem Correta, Ao
Correta, Meio de Vida Correto, Esforo Correto, Plena Ateno Correta
e Concentrao Correta. Essa a Nobre Verdade do caminho que leva
Cessao do sofrimento. Conforme exposto acima, a Nobre Verdade de
Dukkha, ou sofrimento, bastante evidente no que diz respeito aos
sintomas fsicos do nascimento, envelhecimento, doena, enfermidade e
morte. Mas como os cinco agregados do apego, mencionados pelo Buda,
se relacionam com dukkha, o sofrimento? Os cinco agregados do apego
so os elementos que compem o corpo e a mente dos seres sencientes,
e desses cinco fatores da existncia surgem todos os diversos
fenmenos materiais e mentais que existem no mundo. Apartir do
contato em qualquer meio dos sentidos surgem os 5 Agregados. So
exatamente esses cinco elementos da mente e da matria que, como o
Buda cuidadosamente explicou, so vinculados ao sofrimento,
inflamados por ele e passam por nascimento, envelhecimento, doena,
desaparecimento, tristeza e confuso. Com insight penetrante, o Buda
percebeu que esses cinco elementos do ser so aquilo a que os seres
vivos se apegam e com que se identificam, considerando-os meu, eu
ou minha alma. a partir do apego e da identificao desses fenmenos
como sendo nosso eu ou nossa alma, ou da noo que esse eu ou essa
alma est contida ou representada em algum lugar em ns, que surge a
noo delusria e ilusria de que h uma entidade ou alma individual
qual esses elementos pertencem, ou por trs desses elementos. Os
cinco agregados do apego, que constituem um ser vivo e que esto
envolvidos em cada momento de percepo sensorial, sero mais
detalhados a seguir. O primeiro, o agregado da Forma Material
(rpa), consiste em todas as manifestaes materiais que so objeto de
cognio sensorial. Elas incluem o corpo fsico e todos os objetos
materiais do mundo objetos visveis, sons, cheiros, sabores todo e
qualquer estmulo sensorial de natureza material. Todas as formas se
compem e derivam de quatro caractersticas ou modos primrios que a
matria pode assumir. So eles o elemento terra, que experimentado
como sendo duro ou mole, como tendo uma extenso e ocupando espao; o
elemento gua, que experimentado como tendo uma natureza lquida ou
fluida e propriedades coesivas; o elemento fogo, que experimentado
como diferentes gamas de temperatura e que opera no processo de
amadurecimento; o elemento ar, que experimentado como movimento ou
presso, e permite a movimentao das partes do corpo. Esses quatro
elementos primrios constituem o corpo humano e animal, e suas vrias
combinaes produzem as diferentes partes do corpo com suas
caractersticas e funes peculiares de manuteno da vida corprea. Os
quatro so inerentes a toda manifestao da matria, mas um deles
geralmente predominante e se sobressai em relao aos outros. Diz-se
ento que o objeto exibe essa caracterstica. A seguir temos o
fragmento de um discurso do Buda ao seu nico filho, Rahula, com a
descrio dos elementos que compem a matria. Elemento terra: Qualquer
coisa, Rahula, que pertena pessoa e seja slida, de natureza slida,
pela qual exista apego, a saber: cabelos, plos, unhas, dentes,
pele, carne, nervos, ossos, rins, diafragma, fgado, bao, pulmes,
estmago, intestinos, excrementos, crebro ou qualquer outra coisa
interna que pertena pessoa e que seja dura (ou mole), de natureza
slida, pela qual exista apego chamada de elemento terra interno.
Mas mesmo esse elemento terra interno, assim como o elemento terra
externo, apenas o elemento terra.
Elemento gua: Qualquer coisa, Rahula, que pertena pessoa e seja
lquida, de natureza fluida, pela qual exista apego, a saber: bile,
fleuma, pus, sangue, suor, lgrimas, saliva, muco nasal, urina ou
qualquer outra coisa interna que pertena pessoa e que seja lquida,
de natureza fluida, pela qual exista apego chamada de elemento gua
interno. Mas mesmo esse elemento gua interno, assim como o elemento
gua externo, apenas o elemento gua. Elemento fogo: Qualquer coisa,
Rahula, que pertena pessoa e seja quente (ou frio), de natureza
gnea, pela qual exista apego, a saber: aquilo por meio do qual haja
deteriorao, ardor intenso, febre, digesto, qualquer outra coisa
interna que pertena pessoa e que seja quente chamada de elemento
fogo interno. Mas mesmo esse elemento fogo interno, assim como o
elemento fogo externo, apenas o elemento fogo. Elemento ar:
Qualquer coisa, Rahula, que pertena pessoa e seja gasosa, de
natureza area, pela qual exista apego, a saber: ares que sobem ou
descem, gases no estmago, presso nos intestinos, inspirao e
expirao, movimento dos membros, ou qualquer outra coisa interna que
pertena pessoa e que seja gasosa chamada de elemento ar interno.
Mas mesmo esse elemento ar interno, assim como o elemento ar
externo, apenas o elemento ar. Elemento espao: Qualquer coisa,
Rahula, que pertena pessoa e seja vazia, de natureza vazia ou oca,
pela qual exista apego, a saber: as cavidades da boca, nariz e
ouvido, o interior do estmago, intestinos e vsceras, ou tudo que
seja vazio no corpo chamado de elemento espao interno. Mas mesmo
esse elemento espao interno, assim como o elemento espao externo,
apenas o elemento espao. Esses cinco elementos, Rahula, devem ser
vistos como na verdade so, com a correta sabedoria, assim: Isso no
meu, isso no sou eu, isso no o meu eu. Em outras palavras, sempre
que algum sente esses elementos de solidez, lquido, calor,
movimento e espao no prprio corpo, a imagem ou idia de um corpo
surge na mente, e a pessoa imediatamente pensa nessa imagem como
algo que pertence a ela e que a afeta. Por considerar essa idia do
corpo como sendo o eu, as sensaes de desconforto e dor perturbam a
mente. No entanto, essas cognies deveriam ser vistas apenas como
sendo essas formas e nada mais. No deveramos conceb-las como algo
que se relaciona conosco. Se insistirmos em nos apegar a essas
caractersticas da matria e as entendermos como um eu que pertence a
este corpo, teremos que sofrer todas as conseqncias que elas
trazem. Sabendo disso, vendo com insight perfeito que assim, uma
pessoa sbia no se identifica com esses elementos e separa sua mente
deles. Ela se torna livre da sua influncia dominadora. O Segundo
Agregado de fenmenos que buscamos e ao qual nos apegamos
vedana-khandha, o grupo ou fator de sentimentos ou sensaes que
surgem e desaparecem continuamente no corpo e na mente sempre que h
influncia sensorial. Bhikkhus, h esses seis tipos de sensao: sensao
(agradvel, dolorosa ou neutra) que nasce do contato nos olhos;
sensao que nasce do contato no ouvido; sensao que nasce do contato
no nariz, na lngua; sensao que nasce do contato no corpo e sensao
que nasce do contato na mente (memrias, sonhos, alucinaes, idias,
pensamentos etc). A isso se denomina sensao. Com o surgimento do
contato, surge a sensao. Cessando o contato, cessa a sensao. Essas
sensaes so apenas reaes mentais condicionadas, automaticas, que
surgem do contato sensorial como condio. So esses sentimentos e
sensaes, que constantemente surgem e desaparecem no corpo e na
mente, que causam ou condicionam o desejo/apego a certos objetos, a
averso/dio por outros, e reaes apenas indiferentes ou neutras a
outros ainda. A maioria das pessoas no sabe disso e
acha que o que desejam o prprio objeto. No entanto, quando
examinamos de perto, na verdade o que se deseja o elemento de
sensao, condicionado e reflexo, que o objeto estimulou a mente a
recriar. Portanto, a essa atividade mental de sensao que se reage,
no ao objeto em si. Devemos compreender esses sentimentos e sensaes
que continuamente surgem e desaparecem no corpo e na mente, e ver
que na verdade eles so o principal fator que mantm a mente se
agitando em sua busca insacivel por gratificaes sensuais. como um
macaco balanando nas rvores de uma floresta, segurando um galho
depois outro conforme se move rapidamente. Assim os seres vivos
continuamente agarram sensaes e sentimentos que surgem devido
deluso e ao apego. O corpo como uma vaca esfolada: aonde quer que
ela v, estar sujeita a ataques constantes de insetos e outras
criaturas que vivam nas redondezas, assim como o homem est exposto,
indefeso, constante excitao e irritao da influncia sensorial
invadindo-o por todos os lados, por todos os sentidos. Devemos
desenvolver uma atitude de desapego e equanimidade em relao a essas
sensaes, sabendo que elas so impermanentes, mudam constantemente,
tm origem condicionada e no tm uma essncia substancial fundamental.
Elas no nos pertencem e so a fonte de quase toda frustrao, confuso
e tristeza. No podemos ter sensaes agradveis de acordo com nossa
vontade e estamos sujeitos a sensaes desagradveis que tambm escapam
ao nosso controle. Se treinarmos a mente para se manter equnime
quando as sensaes surgirem, sem desej-las ou evit-las, poderemos
ento nos libertar da sua influncia escravizadora. O terceiro
agregado do apego saa-khandha e consiste na percepo ou
reconhecimento de objetos visveis, sons, cheiros, sabores,
impresses corpreas e objetos mentais. A percepo a marca ou
caracterstica peculiar de algo ou a memria de um objeto como
normalmente representado ou identificado. Essas percepes tambm so
reaes condicionadas e automatizadas, que surgem graas ao contato
sensorial, da mesma forma que surgem os sentimentos e sensaes.
Portanto, o que se sente o que se percebe. Mas tambm nos apegamos a
essas percepes como se fossem absolutamente reais,
identificando-nos com elas e formando em relao a elas gosto e
averso, amor e dio. O quarto agregado do apego sankhra-khandha e
consiste nas formaes mentais e tendncias latentes que a mente cria
e com as quais se envolve em relao a objetos com que entrou em
contato. Novamente, essas atividades mentais so reaes condicionadas
e automatizadas que a mente produz espontaneamente e incluem as
volies recm-formadas, bem como outras atividades da mente. Esses
sankhras so o resultado das aes (kamma) passadas com o corpo,
linguiagem e pensamento, e nelas esto baseados nossos pensamentos e
aes futuras. Eles so na verdade o material da mente a que esto
condicionadas todas as atividades mentais e aes corpreas
correspondentes, que se tornam hbitos. Alguns desses fatores
mentais so inteno, ateno unifocada da mente, conscincia, contato,
pensamento inicial e pensamento sustentado, interesse, desejo de
agir, energia, deciso, gentileza, compaixo, raiva, ganncia,
ignorncia, animosidade, inveja, egotismo, preocupao, dvida, tdio e
preguia, vergonha, medo, escrupulosidade e assim por diante. Alguns
surgem o tempo todo, em toda experincia sensorial, e outros s s
vezes, quando as condies propcias esto presentes, de acordo com sua
funo e uso habitual. Com o uso e a repetio eles ganham fora e
afetam nossa forma de pensar e nossas aes. So esses sankhras que
devemos entender, reconhecer pela experincia direta e aprender a
controlar, pois a partir deles que surge nosso bem-estar ou
mal-estar.
O quinto agregado vina-khandha, ou a prpria conscincia. Existem
seis tipos de conscincia que surgem, nomeadas de acordo com qual
dos seis rgos dos sentidos foi contatado e estimulado. A conscincia
s pode surgir quando as condies apropriadas estiverem presentes. A
conscincia gerada por condies; sem as condies no h manifestao da
conscincia. Denominamos a conscincia de acordo com a condio em que
surge. Quando a conscincia surge a partir do contato do olho com um
objeto visvel, ela se chama conscincia nos olhos (viso); quando a
conscincia surge a partir do ouvido e de sons, ela se chama
conscincia no ouvido (audio); quando ela surge a partir do nariz e
de odores, ela se chama conscincia do nariz (olfato); quando surge
a partir da lngua e de sabores, ela se chama conscincia da lngua
(paladar); quando surge a partir do corpo e de objetos tteis,
chamada de conscincia do corpo (toque); se a conscincia surge a
partir da cognio e de objetos mentais, ento ela chamada de
conscincia da mente. Monges, se o fogo surge a partir de uma condio
ou combustvel determinado, por esse nome chamado. Se o fogo surge a
partir de gravetos, chama-se fogo de graveto; se surge na grama,
fogo de grama; se surge em esterco, chama-se fogo de esterco; se
surge no lixo, ento chamado de fogo de lixo. Da mesma forma,
monges, quando a conscincia surge a partir de uma condio
particular, ela tem um ou outro nome - conscincia dos olhos, do
ouvido, do nariz, da lngua, do corpo ou da mente. No devemos
entender que existem seis conscincias separadas, cada uma ligada ao
respectivo rgo do sentido. Trata-se apenas do papel que a atividade
sensorial da conscincia desempenha no mbito das seis esferas dos
sentidos. Essa conscincia no propriedade de uma entidade permanente
como um ego ou alma, nem est sob o controle ou a direo de tal
entidade. A conscincia do objeto apenas o fenmeno da mente, similar
a um reflexo condicionado, que ocorre pelo estmulo de um objeto
sensorial no rgo do sentido correspondente. O mesmo vale para a
sensao, a percepo e o sankhra. Se no houver estmulo nem contato, ou
se o rgo do sentido estiver comprometido, essa conscincia do objeto
no tem como surgir. Isso ocorre devido sua natureza vazia e sua
dependncia de outros fatores. esse fenmeno de conscincia que a
maioria das pessoas toma como sua alma ou algo parecido. A noo
ilusria de um eu individual, separado, que surge com a conscincia,
se desenvolveu devido ignorncia e ao apego e se ligou fortemente,
como um parasita, a cada momento da experincia sensorial. Um
discurso de nanda, discpulo prximo do Buda, para um homem que lhe
fez uma pergunta, descreve a natureza sem essncia da conscincia.
possvel, amigo nanda, assim como o Abenoado j definiu, explicou,
detalhou, esclareceu de diversas formas que este corpo no tem eu
nem alma, possvel da mesma maneira descrever a conscincia, mostrar,
deixar claro, expor que ela tambm no o eu nem a alma? possvel,
amigo Udyin. A conscincia surge a partir do contato dos olhos,
ouvido, nariz, lngua, corpo ou mente, com seus respectivos objetos,
e no de outra maneira. No assim, amigo? Sim, amigo nanda. Bem,
amigo Udyin, foi por esse mtodo que o Abenoado explicou,
esclareceu, analisou, exps e proclamou que o que se denomina
conscincia surge de maneira condicionada, Assim considerando a
conscincia, um discpulo no se apega a nada deste mundo, nem anseia
por outros mundos. calmo e no deseja nada, e est totalmente
libertado, e percebe: O nascimento foi destrudo, a vida santa foi
vivida, o que deveria ser feito foi feito, no h mais vir-a-ser
a
nenhum estado. Em seguida vm duas questes de Perguntas do Rei
Milinda. Rei Milinda inquiriu o Arahat Ngasena sobre a Alma. Rei:
Nagasena, h uma alma? Ela o principio vivo interior que v formas
atravs do olho, ouve com o ouvido, sente odores com o nariz,
sabores com a lngua, sente objetos com o corpo e percebe objetos
mentais com a mente, assim como ns aqui sentados olhamos atravs de
qualquer janela? Ngasena: Rei, graas aos olhos e s formas que surge
a viso e surgem contato, sensao, percepo, pensamento, abstrao,
senso de vitalidade, ateno e assim por diante. Cada um surge no
momento em que o anterior se esvai. Uma sucesso similar surge
quando os outros rgos dos sentidos so estimulados. Esses fenmenos
no se combinam indiscriminadamente, mas sim estao relacionados ao
rgo do sentido correspondente. Ento, no h alma interior. Rei: Estes
trs, Ngasena, percepo, razo e a Alma que existem em um ser so
totalmente diferentes ou so a mesma coisa em essncia, diferindo
apenas na sua manifestao? Ngasena: , Rei, o reconhecimento a marca
da percepo, e a discriminao a marca da razo, e no existe Alma em um
ser. Rei: Mas se no h Alma em um ser, ento como , ou o que , aquilo
que v formas com os olhos, ouve sons com o ouvido etc? Ngasena: Se
houvesse uma alma (distinta do corpo) que fizesse todas essas
coisas, ento se a porta dos olhos for fechada ou os olhos
arrancados da rbita, ela poderia ento esticar sua cabea para fora,
digamos, atravs de uma abertura maior e, com maior alcance, ver
formas com mais clareza que antes? Uma pessoa poderia ouvir melhor
os sons se suas orelhas fossem arrancadas ou sentir melhor os
cheiros se o nariz fosse cortado, ou com a lngua arrancada ela
poderia sentir melhor os sabores, ou sentir melhor o toque se o
corpo fosse destrudo? Rei: Certamente no, Senhor! Ngasena: Ento,
Rei, no pode haver Alma dentro do corpo. A seguir vm numerosos
discursos do Buda aos seus seguidores, que dizem respeito aos cinco
agregados do apego. Se, bhikkhus, internamente, os olhos ou o
ouvido, o nariz, a lngua, o corpo ou a mente estiverem ntegros e o
objeto externo correspondente estimular um deles, e se existirem na
mente tendncias (sankhra) que reagem ao estimulo, ento surgir a
conscincia correspondente nos olhos, ouvido, nariz etc. Tudo aquilo
que for forma material naquilo que vier a existir estar includo no
agregado das formas materiais. A forma material que surgir dessa
maneira ser parte do agregado da forma material. A sensao que
surgir dessa maneira ser parte do agregado da sensao. A percepo que
surgir dessa maneira ser parte do agregado da percepo. As formaes
mentais que surgirem dessa maneira sero parte do agregado das
formaes mentais. A conscincia que surgir dessa maneira ser parte do
agregado da conscincia.
Assim, h a incluso e a reunio desses cinco grupos do apego.
Esses so gerados por condies. Desejo, prazer sensual, afeio, paixo
e apego so a origem do sofrimento (dukkha). A remoo do desejo e
cobia, o abandono do desejo e cobia por esses cinco agregados do
apego a cessao do sofrimento. Certo Bhikkhu se dirigiu assim ao
Abenoado: No so estes, Senhor, os cinco agregados do apego: o
agregado da forma material, o agregado da sensao, o agregado das
percepes, o agregado das formaes mentais e o agregado da
conscincia? Assim , amigo, esses so, como voc diz, os cinco
agregados do apego. Mas, Senhor, esses cinco agregados do apego
esto enraizados em qu? Esses cinco agregados do apego esto
enraizados no desejo. Ento o monge perguntou novamente: Senhor,
esse apego o mesmo que os cinco agregados do apego, ou esse apego
algo separado dos cinco agregados do apego? Amigo, esse apego no
nem os cinco agregados do apego, nem esse apego algo separado dos
cinco agregados do apego. Mas, quando h desejo h apego. Mas,
Senhor, pode haver variedade no desejo e cobia em relao aos cinco
agregados do apego? Pode haver, amigo. Nesse caso, algum pensa o
seguinte: Que o meu corpo seja assim no futuro; que a minha percepo
seja assim no futuro; que as minhas formaes sejam assim no futuro;
que a minha conscincia seja assim no futuro. Dessa forma, amigo,
existe variedade no desejo e cobia em relao aos cinco agregados do
apego. Qual a causa e condio, Senhor, para a manifestao do agregado
da forma material, do agregado da sensao, do agregado da percepo,
do agregado das formaes, do agregado da conscincia? Os quatro
grandes elementos so a causa e a condio para a manifestao do
agregado da forma material. Contato a causa e a condio para a
manifestao do agregado da sensao. Contato a causa e a condio para a
manifestao do agregado da percepo. Contato a causa e a condio para
a manifestao do agregado das formaes. Mentalidade-materialidade a
causa e a condio para a manifestao do agregado da conscincia.
Senhor, como surge a idia da identidade? (Em outras palavras, como
surge a noo de um eu individual, de uma pessoa?) Nesse caso, amigo,
uma pesso a comum, sem instruo, que no proficiente nem disciplinada
no Dhamma, considera o corpo como sendo o eu, ou o eu como possudo
de corpo, ou o corpo como estando no eu, ou o eu como estando no
corpo. Ela considera as sensaes, percepes, formaes mentais e
conscincia como sendo o seu eu. Assim como surge a idia da
identidade. Mas, Senhor, como no surge a idia da identidade?
Neste caso, amigo, um nobre discpulo bem instrudo, que
proficiente e disciplinado no Dhamma, no considera o corpo como
sendo o seu eu. Ela no considera as sensaes percepes,formaes
mentais e conscincia como sendo o seu eu. Ela as considera
assim:Isso no meu, isso no sou eu, isso no o meu eu. Assim como no
surge a idia da identidade Seguem-se mais suttas do Buda sobre os
cinco agregados. Qualquer contemplativo ou brmane que se recorde
das suas muitas vidas passadas se recorda dos cinco agregados do
apego, ou de um deles. Ento essa a viso, e ele pensa: Eu sou.
Agora, quando algum pensa: Eu sou, surgem as cinco sensaes de ver,
ouvir, cheirar, sentir o gosto e tocar. A conscincia o resultado,
estados mentais so o resultado, deluso o resultado. Tocada pela
sensao que nasceu do contato, maculada pela deluso, assim a pessoa
destreinada considera Eu sou.
Devido a uma causa, monges, vem o conceito Eu sou, e no de outra
maneira. E qual a causa? Imaginem que um homem ou uma mulher que
goste de se enfeitar fitasse a imagem do seu rosto em um espelho
impecavelmente limpo, ou em uma tigela de gua, veria a sua imagem
graas a uma causa, e no de outra maneira. Ainda assim, por causa do
corpo, sensaes, percepes, formaes mentais e conscincia surge o
conceito Eu sou, e no de outra maneira.
Como um cachorro, monges, preso por uma coleira a um poste ou
estaca: se ele caminhar, vai caminhar em volta do poste ou da
estaca; se ficar parado, ficar parado ao lado do poste ou da
estaca; se sentar, ficar sentado ao lado do poste ou da estaca; se
deitar, ficar deitado ao lado do poste ou da estaca. Do mesmo modo,
uma pessoa comum, sem instruo, considera o corpo deste modo: Isso
meu, isso sou eu, isso o meu eu. Ela considera sensaes, percepes,
formaes mentais e conscincia como: Isso meu, isso sou eu, isso o
meu eu. Se ela caminhar, caminhar em torno desses cinco agregados
do apego. Se ficar parada, sentar, deitar, o far ao lado desses
cinco agregados do apego. Suponham, monges, que um tintureiro ou
pintor criasse a figura de uma mulher ou homem completo com todos
os detalhes sobre um painel, uma parede bem polida ou uma tela. Da
mesma forma, uma pessoa comum, sem instruo, ao criar, no cria nada
alm de corpo (e objetos sensoriais), sensao, percepo, formaes
mentais e conscincia (apegando-se a eles).
O Venervel Radha disse ao Abenoado: Senhor, dizem,um ser, um
ser. De que modo, Senhor, algum chamado de ser? Algum est grudado,
Radha, grudado com firmeza, ao desejo, cobia, deleite e paixo pelo
corpo (e objetos sensoriais), pelas sensaes, pelas percepes, pelas
formaes mentais e pela conscincia; assim algum chamado de ser.
Suponha, Radha, que alguns meninos ou meninas estejam brincando com
castelos de areia. Enquanto eles tiverem paixo, desejo, afeio,
sede, cobia e ambio por esses castelos de areia, eles vo am-los,
brincar com eles, apreci-los e trat-los de modo possessivo. Mas
quando aqueles meninos ou meninas perderem a paixo, desejo, afeio,
sede, cobia e ambio por aqueles castelos de areia, ento eles vo
esparram-los com as mos e os ps, demoli-los, destru-los e deixaro
de brincar com eles. Do mesmo modo, Radha, esparrame, destrua os
cinco agregados e deixe de brincar com eles; pratique a destruio do
desejo. Pois o fim do desejo, Radha, Nibbna
Monges, qualquer contemplativo ou brmane que se recorde das suas
muitas vidas passadas se recorda dos cinco agregados do apego, ou
de um deles, dizendo: No passado eu tinha tal tipo de corpo. Ao se
recordar disso, ele se recorda apenas do corpo. Ao se recordar: No
passado eu tinha tal sensao, tal percepo, tais formaes mentais, tal
conscincia., estar se recordando apenas de sensao, percepo, formaes
mentais e conscincia. E por que o chamam de corpo? Sofre, por isso
chamado de corpo. Sofre com qu? Sofre com o frio e o calor, sofre
com a fome e a sede, sofre com o contato com moscas, mosquitos,
vento, sol e cobras. Sofre, por isso chamado de corpo. E por que a
chamam de sensao? Sente, e por isso chamada de sensao. Sente o qu?
Sente prazer, dor, sensaes neutras. Sente, por isso chamada de
sensao. E por que a chamam de percepo? Percebe, por isso chamada de
percepo. Percebe o qu? Percebe o azul, o amarelo, o vermelho,
percebe o branco. Percebe, por isso chamada de percepo. E por que
as chamam de formaes mentais? Determinam ou ativam aquilo que
formado (sankhra), por isso so chamadas de formaes mentais. E qual
o condicionado que elas ativam ou determinam? Ativam o corpo, em
sua natureza corprea, ativam a sensao em sua natureza de sensao,
ativam a percepo em sua natureza perceptiva, ativam as formaes
mentais em sua natureza determinadora e ativam a conscincia em sua
natureza cognitiva. Ativam ou determinam aquilo que formado e
condicionado, por isso so chamadas de formaes mentais. E por que as
chamam de conscincia? Conhece, por isso chamada de conscincia.
Conhece o qu? Conhece as vrias impresses sensoriais, por isso
chamada de conscincia. Assim, monges, um nobre discpulo bem
instrudo reflete desta maneira: Eu agora estou sendo uma presa dos
cinco agregados do apego. E, no passado, eu tambm fui presa deles.
E se, no futuro, eu continuar atrado e seduzido por eles e a eles
me apegar, eu tambm continuarei sendo presa deles, da mesma maneira
como estou sendo agora, devido minha paixo por eles e apego a eles
no passado. Refletindo dessa maneira, o Nobre discpulo se liberta
do desejo e da seduo por eles e consegue ter imparcialidade e
no-apego em relao ao corpo (e objetos sensoriais) presentes, em
relao s sensaes, percepes, formaes mentais e conscincia presentes.
Ele consegue abandon-los, consegue abandonar o apego a eles. Ele
consegue a sua cessao. Portanto, monges, qualquer corpo (ou objeto
sensorial), qualquer sensao, qualquer percepo, qualquer formao
mental, qualquer momento de conscincia, seja interna ou externa,
grosseira ou sutil, inferior ou superior, passada, presente ou
futura, eu digo que todas devem ser vistas como na verdade so, com
correta sabedoria, assim: Isso no meu, isso no sou eu, isso no o
meu eu., com insight perfeito. Vendo dessa maneira correta, tendo
conscincia deste corpo e de todas as condies externas, no surge a
tendncia ao conceito eu e meu em relao a esses cinco elementos da
existncia.
Os cinco agregados do apego no podem ser separados fsica ou
mentalmente e existir de maneira independente. Eles surgem mais ou
menos simultaneamente em cada experincia sensorial e se misturam
formando uma massa, por assim dizer, de modo que difcil distinguir
cada fator separadamente, mas at certo ponto eles podem ser vistos
com ateno pura e conscincia aguada. Como essa experincia sensorial
em massa, com seus cinco aspectos, aparentemente surge como uma
unidade, e no percebida momento a momento como realmente , em sua
natureza fugaz, a
maioria das pessoas considera a cognio sensorial uma atividade
estvel, algo que possumos. Elas a confundem com seu eu ou alma.
Elas no conseguem v-la na sua verdadeira natureza, como algo
completamente destitudo de natureza prpria individual e
substancial. Para facilitar a apreenso e a compreenso, o Buda
ensinou e explicou os cinco agregados na ordem seguinte: A
materialidade, que grosseira, o campo objetivo dos olhos, ouvido,
nariz, lngua, corpo e mente; ento surge a sensao, que sente a
materialidade como desejvel ou indesejvel; surge ento a percepo,
que apreende os aspectos do campo objetivo das sensaes (o objeto),
pois Aquilo que se sente, percebe-se; ento surgem as formaes
mentais e os conceitos criados pela mente, que se formam de acordo
com a volio, por meio da percepo; finalmente h a conscincia, que
sustenta esses fenmenos, a comear pela sensao, e os domina. Os dois
smiles seguintes descrevem individualmente os cinco agregados e
suas funes: A materialidade como um objeto do apego como uma
enfermaria, pois a morada fsica, a porta e o objeto do enfermo (a
conscincia). A sensao como objeto do apego como a doena, porque
aflige. A percepo como objeto do apego como a causa da doena, pois
d origem sensao associada cobia, averso etc. devido percepo dos
objetos sensoriais e assim por diante. O agregado das formaes
mentais como objeto do apego recorrer a um remdio inadequado, pois
ele a fonte da sensao, que a doena. Por isso diz-se que a sensao
como tal a forma que eles (os sankhra) construram e, da mesma
maneira, por ter-se realizado mau carma, o corpo...conscincia
resultantes surgiram, acompanhados de dor. A conscincia como objeto
do apego como o doente, porque nunca est livre da sensao (tem que
experiment-la), que a doena. Eles so tambm, respectivamente, como a
priso, a pena, o delito, o punidor e o infrator. A matria do corpo
como a priso porque o local da pena, que a sensao. A percepo como o
delito porque uma das causas da pena, a sensao. O agregado das
formaes como o punidor porque uma das causas da sensao. A
conscincia como o infrator porque afligida pela punio, a sensao
(por estar consciente dela).
O Buda comparou as formas materiais a uma grande massa de espuma
flutuando na gua, que quando examinada de perto por um homem de
viso clara parece ser vazia, sem substncia nem essncia. Ele
comparou sentimentos e sensaes, que surgem e desaparecem, a bolhas
em uma piscina, que sobem superfcie e estouram no nada. Se um homem
de viso clara fosse observ-los de perto e examin-los, eles lhe
pareceriam vazios, sem substncia ou essncia. A percepo comparada a
uma miragem que aparece ao meio-dia em um dia quente de vero, que,
se observada e examinada de perto parecer vazia sem essncia. Que
essncia poderia haver em uma miragem, que como um fantasma? O Buda
comparou as formaes mentais ao tronco oco de uma rvore de banana,
pois quando derrubado e despojado de suas camadas externas, a
casca, no h cerne nem madeira. Um homem de viso clara que olhasse,
observasse e examinasse de perto iria descobrir que elas (as
formaes do hbito) so vazias, sem substncia ou essncia. A conscincia
comparada ao truque ilusionista de um mgico habilidoso. Se visto e
observado de maneira aguada por um homem sagaz, de viso clara, o
truque que engana quase todos se mostrar vazio na realidade, sem
substncia ou essncia. Que essncia poderia haver no truque de um
mgico e, igualmente, na conscincia? Forma como uma massa de
espuma;
sensao uma bolha de gua; percepo uma miragem; formaes uma
bananeira; conscincia, um truque de mgica, assim explica o
Desperto. No importa como algum os observe, e investigue com
cuidado, eles parecem vazios e ocos Quando algum os v com cuidado.
Com relao a este corpo Aquele com a profunda sabedoria ensinou que
com o abandono de trs coisas a forma descartada. Quando a
vitalidade, calor e conscincia Partem deste corpo fsico, Este ali
permanece descartado: Alimento para outros, desprovido de volio.
Assim esse contnuo, Essa iluso, sedutor de tolos. ensinado ser um
assassino; Nenhuma essncia aqui encontrada. Um bhikkhu com a
energia desperta Deve assim encarar os agregados, Quer seja durante
o dia ou noite, Compreendendo, sempre com ateno plena. Ele deve
descartar todos os grilhes E fazer um refgio para si mesmo; Deve
viver como se sua cabea estivesse em chamas, Ansiando pelo imortal
(Nibbna).
Essa massa de fenmenos de cinco aspectos, o corpo e a mente,
deveria ser vista da seguinte maneira: Isso no meu. Eu no sou isso,
isso no o meu eu. por se estar apegado a eles e por os identificar
erroneamente a meus que surgem as formas mais grosseiras de dukkha,
ou sofrimento, insatisfatoriedade. Essas formas grosseiras so
experimentadas como dor fsica, doena, idade, morte e sofrimento
mental, pesar, lamentao, frustrao, ansiedade, confuso e sofrimento
que atacam a pessoa que esteja descontrolada e descuidada em relao
a esse conjunto que forma a pessoa. Estas so mais selees de suttas
do Buda acerca dos cinco agregados: Monges, suponham que existisse
um rio, correndo montanha abaixo, indo longe, com uma rpida
correnteza. Se em ambas as margens houvesse vrios tipos de capim,
arbustos e rvores crescendo, eles se projetariam sobre o rio. Se um
homem, arrastado pela correnteza, se agarrasse ao capim, o capim se
partiria. Se ele se agarrasse aos arbustos ou s arvores, eles tambm
se partiriam. Por causa dessa instabilidade, por eles se quebrarem,
esse homem daria de encontro com a sua destruio, com a sua runa.
Assim tambm, monges, uma pessoa comum, sem instruo, que no
proficiente nem disciplinada no Dhamma, supe que os cinco grupos do
apego sejam o eu. Ento o corpo (e objetos sensoriais) se desintegra
sem que ela possa controlar, assim como as sensaes, percepes,
formaes
mentais e conscincia se desintegram sem que ela possa controlar,
no duram, mudam constantemente, alteram-se Devido instabilidade e
insegurana dos cinco grupos do apego, a pessoa comum, sem instruo,
passa por sofrimento, pesar, aflio, lamentao e desespero.
______________ Monges, eu lhes mostrarei o apego e a preocupao e o
no-apego e a no-preocupao. Ouam e prestem muita ateno quilo que eu
vou dizer. Por que existe o apego e a preocupao? Uma pessoa comum,
sem instruo, que no proficiente nem disciplinada no Dhamma,
considera o corpo (e estmulos sensoriais), as sensaes, as percepes,
as formaes mentais e a conscincia como sendo o eu e estando no eu,
o eu como o possuidor deles. Esse corpo, as sensaes, percepes,
formaes mentais e conscincia mudam e se alteram. Com o
corpo...conscincia mudando e se alterando, a sua mente se ocupa com
essas condies que mudam e se alteram constantemente. Estando assim
ocupada a mente, nela surge e permanece a preocupao, que toma conta
do seu corao. Por ela tomar conta do seu corao, ela fica agitado e,
devido inquietao e o apego, ela se torna preocupada. Assim aparecem
o apego e a preocupao. E por que, monges, no aparecem o apego e a
preocupao? Tal pessoa bem instruda no Dhamma e no considera o
corpo...conscincia como sendo o eu. Ele no os considera como tendo
um eu, nem como pertencendo a um eu. Ele considera os cinco
agregados assim: Isso no meu, isso no sou eu, isso no o meu eu.
Esses agregados mudam e se alteram, mas apesar desta constante
mudana, no surgem nele a lamentao, o pesar, a frustrao etc. Assim,
no h apego nem preocupao.
O chefe de famlia Nakulapita foi at o Abenoado e depois de
cumpriment-lo sentou a um lado e disse:Senhor, eu sou um homem
velho e fraco, idoso, com idade avanada, que chegou ao ltimo estgio
da vida. Eu sou atormentado pelo corpo e sofro com cada momento.
Possa o Abenoado ensinar-me, possa o Abenoado instruir-me, para o
meu bem-estar e a felicidade por muito tempo. verdade, chefe de
famlia que o corpo sofrimento, fraco e sobrecarregado. Se qualquer
um que suporte esse corpo declarasse, por um momento que seja, ter
verdadeira sade, a que outra razo deveramos atribuir isso, seno
tolice? Portanto, chefe de famlia, assim voc deve praticar: Mesmo
que eu sofra no meu corpo, minha mente no sofrer. Assim como voc
deve praticar. E de que forma, Mestre, o corpo e a mente esto
doentes? E de que forma algum est doente no corpo, mas no na mente?
"Ento, chefe de famlia, oua e preste bem ateno quilo que eu vou
dizer. Como algum est doente no corpo e na mente? o caso em que uma
pessoa comum, sem instruo, que no proficiente nem disciplinada no
Dhamma, que no distingue os homens verdadeiros essa pessoa
ignorante supe que o corpo o eu etc. Ela diz: Eu sou o corpo, o
corpo meu, e fica obcecada por essas idias. Assim, quando seu corpo
muda e se altera para pior, devido sua natureza instvel e mutvel,
surgem em sua mente a tristeza, pesar e desespero. Ela supe que a
sensao, percepo, formaes mentais e conscincia so o eu etc. Ela diz:
Eu sou a mente, a mente minhae assim, quando a sensao muda e se
altera sem que se possa controlar, devido sua natureza instvel e
sem eu, surgem na sua mente a tristeza e o pesar. Assim, chefe de
famlia, que algum est doente no corpo e na mente.
E como que algum est doente no corpo, mas no na mente? o caso em
que um discpulo bem instrudo, que proficiente e disciplinado no
Dhamma, no supe que o corpo o eu. Ele no diz :Eu sou o corpo ou o
corpo meu, nem est obcecado com essa idia. Com a mudana e a alterao
do corpo para o pior, no surgem nele a tristeza, lamentao, dor,
angstia e desespero. Da mesma forma, ele no supe que as sensaes,
percepes, formaes mentais e conscincia sejam o eu. Ele no est
obcecado com a idia de que 'Eu sou a mente' ou 'A mente minha.' Com
a mudana e a alterao de sensaes, percepes, formaes mentais e
conscincia, no surgem nele a tristeza, lamentao, dor, angstia e
desespero. Assim , chefe de famlia, que algum est doente no corpo,
mas no na mente. Isso foi o que disse o Abenoado. O chefe de famlia
Nakulapita ficou satisfeito e contente com as palavras do
Mestre.
Monges, corpo, sensaes, percepes, formaes mentais e conscincia
no so o eu. Se eles fossem o eu, no estariam envolvidas em doena,
envelhecimento, morte etc e poder-se-ia dizer, do corpo e do resto:
Que meu corpo seja assim, que meu corpo no seja assim (doente
etc.); que minhas sensaes, percepes, formaes mentais e conscincia
sejam assim (apenas agradveis etc), que minhas sensaes, percepes,
formaes mentais e conscincia no sejam assim (dolorosas etc). Mas
por que o corpo (e todos os objetos materiais), sensaes, percepes,
formaes mentais e conscincia so no so o eu, esto envolvidos em
doena, dor, tristeza e morte. E no se pode dizer: Que meu corpo e
mente sejam assim, que no sejam assim.
O corpo, monges, impermanente. A causa e condio para o
surgimento do corpo (e de qualquer objeto material) tambm so
impermanentes. Como ento poderia o corpo, sendo produzido por
aquilo que impermanente, ser permanente? Sensaes so impermanentes,
percepes, formaes mentais e conscincia so impermanentes. A causa e
condio para o surgimento das sensaes, percepes, formaes mentais e
conscincia tambm so impermanentes. Como poderiam as sensaes etc.,
sendo produzidas por aquilo que tambm impermanente e sem natureza
individual, ser permanentes e ter natureza individual?
Monges, a pessoa comum, sem instruo poder experimentar repulsa
por este corpo, filho dos quatro elementos. Ela pode parar de
gostar dele, parar de consider-lo como seu eu e desejar se libertar
dele (da dor que ele traz), pois seu envelhecimento e morte so
inevitveis. Ainda assim, isso a que chamamos mente, por isto a
pessoa comum, sem instruo, incapaz de experimentar repulsa. Ela no
consegue deixar de gostar da mente e desejar libertar-se dela. Ela
v a mente como seu eu. Ela se agarra mente e pensa,
equivocadamente: Isso meu, isso sou eu, isso o meu eu. Portanto,
ela incapaz de deixar de ansiar pela mente, incapaz de se libertar
do sofrimento, da confuso e da frustrao que ela traz. Seria melhor,
monges, que uma pessoa comum, sem instruo, considerasse o corpo, e
no a mente, o seu eu. Por que razo? Porque v-se que este corpo,
composto pelos quatro grandes elementos, dura um ano, dois anos,
trs, quatro, cinco ou dez anos, vinte, trinta, quarenta, cinqenta
ou sessenta anos, cem anos ou at mais. Mas aquilo que chamado mente
surge como uma coisa e cessa como outra, mudando e se alterando
constantemente, de dia e de noite, mesmo durante o sono. Como um
macaco que, vagando pela floresta, agarra um galho, solta este e
agarra outro, solta este e
agarra um outro ainda, da mesma forma aquilo que chamado mente
surge como uma coisa e cessa como outra, de dia e de noite, mesmo
durante o sono.
Monges, eu ensinarei para vocs sobre o fardo, sobre segurar o
fardo, sobre levantar o fardo e sobre depor o fardo. Ouam aquilo
que eu vou dizer. E o eu o fardo? Os cinco agregados do apego, ou
seja, formas materiais, sensaes, percepes, formaes mentais e
conscincia. Isso se chama fardo. E o que segurar o fardo? a viso de
cada pessoa, aquela venervel de tal nome e tal famlia (que v os
cinco agregados como o ego). Isso se chama segurar o fardo. E o que
levantar o fardo? o apego que leva ao acmulo de kamma, ao vir-a-ser
e ao renascimento, acompanhado pelo desejo e pela atrao, que sente
prazer ora em uma coisa, ora em outra, a saber, o desejo e apego
por formas materiais, sensaes, percepes, formaes mentais e
conscincia. Isso se chama levantar o fardo. E o que a depor o
fardo? a cessao do mesmo desejo ou apego, o abandono e a renncia, a
libertao e ausncia de desejo e apego aos cinco agregados do apego.
Isso depor o fardo. Um fardo de fato so os cinco agregados, e o
carregador do fardo a pessoa. Levantar o fardo o sofrimento no
mundo. Depor o fardo a felicidade. Tendo deposto o pesado fardo e
no tomando outro, arrancando o desejo, junto com a sua raiz, ele
est livre da fome, totalmente saciado. ______________ Monges, tudo
aquilo que no seu, abandonem-o. Abandon-lo ir conduzir ao seu
bem-estar e felicidade por muito tempo. E o que no seu? O corpo no
seu, sensaes, percepes, formaes mentais e conscincia no so suas.
Abandone-os. Abandon-los ir conduzir ao seu bem-estar e felicidade.
Se algum levasse embora grama, gravetos, galhos e folhas deste
bosque de Jeta, ou se os queimassem, ou fizessem com eles o que
desejassem, vocs pensariam: As pessoas esto nos levando embora,
esto nos queimando, esto fazendo conosco o que desejam? Certamente
no, Senhor. Por que no, monges? Porque, Senhor, isso no nosso eu,
nem pertence a ns. Da mesma forma, monges, o corpo no seu, as
sensaes e percepes no so suas, as formaes mentais e a conscincia no
so suas: abandonem-os. Abandon-los ir conduzir ao seu bem-estar,
paz e felicidade por muito tempo.
Monges, antes da minha Iluminao, quando eu ainda no estava
completamente desperto, me ocorreu: Qual a satisfao e qual o
sofrimento em relao ao corpo (e objetos sensoriais), em relao s
sensaes, percepes, formaes e conscincia, e qual a libertao
deles?
Ento me ocorreu: Todo prazer e toda alegria que surgem
dependentes do corpo (ou de outros estmulos sensoriais),
dependentes das sensaes... conscincia, essa a satisfao em relao a
eles. Toda impermanncia, mutabilidade, dor e confuso devidos a eles
so o sofrimento e a insatisfatoriedade inerentes ao corpo e mente.
Toda libertao do desejo, deluso e apego, todo abandono e renncia ao
apego em relao aos cinco agregados a libertao da escravido e do
sofrimento e frustrao que ela implica. Enquanto, monges, eu no
conheci a satisfao como satisfao, o sofrimento como sofrimento e a
libertao como libertao, em relao aos cinco agregados do apego, de
acordo com a verdade, como realmente , eu no reivindiquei estar
plenamente Iluminado com a perfeita e inigualvel Iluminao. Porm,
monges, quando eu vi a satisfao apenas como satisfao, o sofrimento
apenas como sofrimento, e vi a libertao apenas como libertao, em
relao aos cinco elementos da existncia, de acordo com a verdade,
reconheci que eu estava, neste mundo, plenamente Iluminado, com
perfeita e insupervel Iluminao O conhecimento e a viso surgiram em
mim: Inabalvel a libertao desta mente; este a ltima existncia
condicionada, agora no h mais vir-a-ser.
Monges, se no houvesse satisfao no corpo, na sensao, na percepo,
nas formaes mentais e na conscincia, os seres os desejariam nem
ansiariam por eles. No entanto, como h satisfao e prazer
(temporrios) neles, os seres os desejam e anseiam por eles. Se
nunca houvesse sofrimento nos cinco agregados, os seres teriam
averso nem repulsa a eles. No entanto, como h sofrimento nos cinco
agregados, os seres tm averso e repulsa a eles. Se no houvesse
escapatria da tristeza e da dor inerentes aos cinco grupos do
apego, os seres no escapariam deles. Como h escapatria deles, os
seres podem se libertar da tristeza e da mgoa que eles causam.
Enquanto os seres no compreenderem e apreederem como na verdade so
a satisfao, o sofrimento e a libertao em relao aos cinco grupos
apego de fenmenos materiais e mentais, eles eles no ficaro
desinteressados, desapegados e satisfeitos, com a mente livre
limitaes. Mas assim que os seres compreendem profundamente e
apreendem, com insight correto e de acordo com a verdade, a
satisfao como tal, o sofrimento como tal e a libertao como tal,
ento os seres ficaro desinteressados, desapegados e satisfeitos,
com a mente livre de limitaes.
O apego, monges, escravido; o desinteresse liberdade.
Apegando-se aos cinco grupos do apego, a conscincia se mantm (adere
a um objeto) e pode pedurar. Tendo como objeto os cinco grupos do
apego, tendo-os como suporte, procurando formas de divertir-se, ela
pode passar por crescimento, incremento e expanso. Se algum
declarasse: Separado da forma, separado da sensao, separado da
percepo, separado das formaes, eu declararei a vinda e ida da
conscincia, o seu incremento ou o seu renascimento., fazer isso
seria impossvel. Se algum abandona o desejo e o apego pelos cinco
agregados do apego, ento devido a esse abandono, o suporte
eliminado e no existe base para o estabelecimento da conscincia.
Quando esta conscincia no se estabelece, no cresce, no gera nenhuma
ao, ela no acumula nada e se liberta. Estando libertada, ela fica
estvel; estando estvel, ela fica satisfeita; estando satisfeita,
ela no se agita. Sem agitao consigo mesma, ela fica em completo
bem-estar, e a pessoa compreende: O nascimento foi destrudo, a vida
santa foi vivida, o que deveria ser feito foi feito, no h mais
vir-a-ser a nenhum
estado. Ento o venervel Rdha foi at o Abenoado e depois de
cumpriment-lo sentou ao seu lado. Assim sentado, o venervel Rdha
disse ao Abenoado: Senhor, dizem: Mra! Mra! Por favor, Senhor, o
que Mra? Onde houver forma, Rdha, haver Mra (tentao e iluso), ou
coisas com a natureza de Mra, ou o que quer que surja e desaparea.
Portanto, Rdha, veja o corpo (qualquer atrao sensorial) como Mra,
como algo que tem a natureza de Mra ou, de qualquer forma, como
algo perecvel. Veja-o como um impostor, um dardo, como uma possvel
fonte de dor. Quem assim o vir, o ver de forma correta. E o mesmo
pode ser dito de sensaes, percepes, formaes mentais e conscincia.
Mas, Senhor, para que ver de maneira correta? Ver de maneira
correta, Rdha, para no ter apego. Mas, Senhor, para que no ter
apego? No ter paixo, Rdha, para a liberao. Mas, Senhor, para que a
liberao? Liberao, Rdha, Nibbna. Mas Senhor, qual o objetivo do
Nibbna? Essa, Rdha, a pergunta de longo alcance. Voc no pode obter
um limite para a pergunta: o Nibbna a raiz da vida Santa, pois se
vive a destruio completa do sofrimento; Nibbna sua meta, Nibbna seu
fim.
Sensaes, percepes, formaes mentais e conscincia s podem surgir
pelo contato em um dos seis rgos dos sentidos. Isso s pode
acontecer em um corpo com rgos dos sentidos intactos. O corpo
inerte e imvel sem a mente para lhe dar vida e faz-lo funcionar. O
corpo apenas um veculo atravs do qual a mente funciona. A
interdependncia de mente e corpo ilustrada pela analogia seguinte:
Assim como quando dois feixes de junco se apiam um no outro, cada
um dando firmeza ao outro, se um cair, o outro cai tambm, da mesma
forma, nos cinco componentes de um ser, mentalidadematerialidade
ocorrem de maneira interdependente. Cada um dos seus fatores se
apia mutuamente, e se um deles cair, por morte ou por mau
funcionamento, o outro tambm cai. Por isso os sbios antigos diziam:
O mental e o material so gmeos e um apia o outro. Quando um cessa,
ambos cessam Pela intercondicionalidade.
Alm disso, a mentalidade no tem uma capacidade eficaz. Ela no
pode existir sozinha. A mentalidade no come (fisicamente), no bebe,
no fala e no assume posturas. E a materialidade no tem um poder
eficaz, no pode funcionar com sua prpria capacidade ou motivao. Ela
no tem desejo de comer, beber, falar, andar, sentar ou deitar. Mas,
quando apoiada pela mentalidade (como motivao), essa materialidade
ocorre
(movimentos do corpo, fala etc). Quando a mentalidade deseja
comer, beber ou andar, a materialidade que na verdade come, bebe ou
anda. Isso est ilustrado no smile seguinte: Um homem cego e um
homem sem pernas queriam ir a um lugar. O cego disse ao homem sem
pernas: Olha, eu posso usar minhas pernas, mas no tenho olhos para
distinguir o claro do escuro. O homem sem pernas disse: Olha, eu
posso usar os olhos, mas no tenho pernas para ir e vir. O homem
cego ficou muito contente e pediu ao homem sem pernas que montasse
nos seus ombros. Assim sentado, o homem sem pernas disse: Vire
direita, depois esquerda, depois direita e assim por diante, e
desse modo eles puderam circular. ______________ Nesse caso, nem o
cego nem o homem sem pernas tem um poder eficaz prprio para se
movimentar livremente. Eles so impotentes, no podem viajar com suas
prprias foras. No h nada, no entanto, que os impea de se apoiar
mutuamente. Da mesma forma, a mentalidade e a materialidade no tm,
sozinhas, poder eficaz para funcionar. Mas no h nada que impea que
elas funcionem como uma unidade quando se apiam. Por isso, os
antigos diziam: Eles no podem surgir por suas prprias foras, ou se
manter sozinhos Contando com o apoio de outros fatores Em si mesmos
fracos, e formados, Surgem tendo os outros como condio, Despertam
tendo os outros como objetos Existem graas a objetos e condies Cada
um graas a um outro E assim como os homens dependem do barco Para
atravessar o mar, Matria-corpo precisa da mente para acontecer Um
dependendo do outro, O barco e os homens vo ao mar Assim como mente
e corpo Dependem um do outro.
Portanto, assim como um marionete vazio, sem alma nem
curiosidade, mas quando anda e fica em p apenas pela combinao de
cordas e de madeira, parece ter curiosidade e interesse, da mesma
forma essa mentalidade-materialidade (organismo mente-corpo) vazia,
sem alma nem curiosidade, mas quando anda, fica em p etc. parece
ter curiosidade e interesse. Ela deve ser vista dessa maneira. Por
isso os antigos diziam: O mental e o material existem realmente Mas
no h neles uma Alma slida Pois vazia e apenas moldada como um
boneco Apenas sofrimento empilhado como grama e gravetos. Assim, de
muitas formas, apenas mentalidade-materialidade (nma-rpa)
ilustrada. De maneira similar, surge o termo carruagem quando se
agrupam de determinada maneira partes como eixos, rodas, armao,
varas. No entanto, quando se examina cada parte, no h carruagem. Da
mesma forma, quando se dispem, de determinada maneira, tijolos,
madeira, barro, telhas etc., surge o mero termo casa. E quando os
dedos e a palma se apertam surge o termo punho; com homens,
cavalos, armas,
exrcito; com tronco, galhos e folhas, rvore e assim por diante.
Similarmente, quando h os cinco agregados como objeto do apego,
surge o termo pessoa, animal etc.; mas, em ltima anlise, quando se
examina cada parte constituinte, no h nenhuma base para supor algo
como eu sou, ou isso o meu eu, h apenas mentalidade-materialidade.
A compreenso e viso de quem v dessa forma se chama viso correta
que, depois de definir mentalidade-materialidade por esses vrios
mtodos, situa a pessoa no plano da no-confuso e nodvida, superando
a deluso de um eu ou pessoa.
O Alade Imaginem, monges, que um Rei nunca tenha ouvido o som de
um alade. Esse Rei ento ouve o som de um alade e diz: Bom homem,
por favor, que som esse, to extasiante, to encantador e agradvel ao
ouvido, to inebriante, to arrebatador, to cativante? Ento seu
atendente diz ao Rei: Esse, Rei, o som de um alade. O Rei diz: Bom
homem, v pegar esse alade para mim. Ento pegam o alade e dizem ao
Rei: Aqui est o alade, cujo som era to extasiante, to encantador,
to cativante. Ento o Rei diz: Chega desse alade, meu homem, traga
para mim aquele som. Ento explicam ao Rei: Este alade, Rei,
consiste em diversas partes, um grande nmero de partes, a saber: o
corpo, o pergaminho, o cabo, a armao, as cordas, o cavalete. E
graas ao esforo adequado de um msico, ele produz som. Assim, Rei,
esse alade, assim chamado, consiste em vrias partes diferentes. O
Rei quebra o alade em vrios pedaos e os queima numa fogueira. Ele
ento pega um punhado das cinzas e as atira a um vento forte, e elas
se dissipam e desaparecem. Em seguida o Rei diz: Isso que vocs
chamam de alade uma coisa infeliz, o que quer que seja um alade,
pelo qual o mundo foi completamente enganado. Ainda assim, monges,
uma pessoa sbia, com discernimento, investigando o corpo at onde
vai o corpo, investigando as sensaes, investigando as percepes,
investigando as formaes mentais, investigando a conscincia, at onde
vo esses fenmenos - em todas essas investigaes no h nada de eu ou
meu ou alma que possa ser encontrado neles.
O Fantoche Humano Uma vez, na poca do Buda, uma monja chamada
Sla terminou sua refeio do meio-dia e sentou sob uma rvore para
fazer sua meditao da tarde, uma meditao sobre as realidades da
vida. Enquanto ela estava sentada observando objetivamente seu
corpo e sua mente, Mra, (as tendncias subconscientes negativas e
prejudiciais) veio sua ateno, e seguiu-se este dilogo: Mra: Por
quem foi criado esse fantoche? Onde est o criador desse fantoche?
Onde surgiu esse fantoche? Onde cessa esse fantoche? Sila, a monja,
diz: Esse fantoche no feito por si mesmo, Nem essa misria criada
por outrem. Ele surgiu na dependncia de condies, Com a dissoluo das
condies, ele cessar. Como quando uma semente plantada no solo
Ela cresce na dependncia de alguns fatores: Ela requer tanto os
nutrientes do solo Como um fornecimento contnuo de umidade. Da
mesma forma, os agregados e os elementos, E as seis bases do
contato sensual, Surgem na dependncia de condies; Com a dissoluo
das condies, eles cessam. O mesmo ocorreu com uma monja chamada
Vajira em outra ocasio: Mra: Por quem foi criado esse ser? Onde est
o criador desse ser? Onde surgiu esse ser? Onde termina esse ser?
Vajira: Por que voc pressupe um ser? Mara, essa idia sua
conjectura? Este um amontoado de puras fabricaes: Aqui nenhum ser
ser encontrado. Tal qual uma montagem de partes, A palavra
carruagem empregada, Assim, quando os agregados esto presentes,
Existe a conveno um ser. s sofrimento que surge, O sofrimento que
permanece e cessa. Nada alm do sofrimento surge, Nada alm do
sofrimento cessa.
Quando algum rejeita essa atitude e essa viso correta do corpo e
da mente, e supe que existe uma alma separada e individual,
obrigado a concluir que essa alma ou destruda por ocasio da morte
ou perdura para sempre. Se concluir que essa alma de fato se
extingue com a morte, ele cai na teoria niilista. (A teoria
niilista, a viso sustentada pelos materialistas, diz que a vida
atual do corpo constitui o eu, ou alma. Eles acreditam que o
conjunto mente-corpo completamente destrudo com a morte do corpo e
que esse o fim de tudo. Dessa forma eles dizem: Coma, beba, fique
alegre e esquea tudo e todos, pois no h no futuro cu ou inferno com
que se preocupar.) Se a pessoa concluir que essa alma vai existir
para sempre, ela cai na viso eternalista. (A teoria eternalista diz
que h uma alma individual eterna e permanente que existe
independentemente do corpo e da mente, e que continua a existir,
depois da morte do corpo, ou em vida eterna, em um paraso, ou em
danao eterna, no inferno.) Com esses dois tipos de crenas sobre a
alma, a pessoa ou se detm, supondo que a alma eterna, ou exagera,
concluindo que a alma eliminada para sempre. Por isso, o Abenoado
disse: H dois tipos de viso, monges. Quando deuses e seres humanos
esto obcecados consigo mesmos, alguns se detm e outros exageram;
apenas os que tm olhos enxergam. E como alguns se detm? Deuses e
seres humanos amam o desejo e o vir-a-ser, eles se deleitam no
vir-a-ser, regozijam-se nele. Quando o Dhamma lhes ensinado, para a
cessao do desejo e do vir-a-ser, suas mentes no entram nele, no o
aceitam, no se determinam nele. Assim alguns se detm.
E como alguns exageram? Alguns se sentem envergonhados,
humilhados e enojados pelo mesmo vir-aser; eles esto preocupados em
no vir-a-ser (no existir novamente no futuro), dizendo assim:
Senhores, quando o corpo morre, a alma aniquilada, no mais existe,
e isso sereno e sublime, isso verdadeiro. Assim alguns exageram. E
como os que tm olhos enxergam? Nesse caso, um homem inteligente,
sbio, capaz de discernimento, v o vir-a-ser como vir-a-ser. Devido
ignorncia, surgem as atividades mentais; devido s atividades
mentais, surge a conscincia; devido conscincia, surgem os
organismos de mente e corpo; assim se completam as esferas dos
sentidos e surgem contanto, sensao, desejo, apego, vir-a-ser,
renascimento, e, como conseqncia, velhice, sofrimento, dor, pesar,
envelhecimento e morte. assim que surge toda essa massa de
sofrimento. Mas quando se eliminam, pela sabedoria, a ignorncia e o
desejo, cessa todo vir-a-ser. assim que quem tem olhos enxerga, e
entra no caminho de desapego, de esmorecimento do desejo, apego e
cobia. Ele entra no caminho da cessao do vir-a-ser.
Assim o Desperto descreveu e ilustrou os cinco agregados do
apego aos fenmenos de mente e matria. A Nobre Verdade de dukkha, ou
do sofrimento, como muitas vezes chamada, se baseia nas
caractersticas universais da existncia condicionada, a impermanncia
e a ausncia de essncia. Essa verdade de dukkha uma experincia comum
e direta de todos os seres. fcil de ver e perceber, se apenas
desacelerarmos e olharmos para as coisas acontecendo dentro de ns e
nossa volta. Perceberemos ento o motivo das vrias experincias por
que uma pessoa passa, agradveis ou dolorosas. Essa verdade
universal de dukkha est se manifestando a toda hora, em todo lugar.
Deveramos contemplar os fenmenos que formam a existncia
condicionada e refletir sobre eles. Devemos cultivar uma atitude
desapegada em relao a esses elementos da existncia. Dessa forma,
poderemos compreender, minar e eliminar, com o poder da sabedoria,
a noo errada de um eu, ou ego, que surge com os cinco agregados e
os permeia. Vive-se ento com a conscincia livre da escravido da
mente e da matria e experimenta-se a liberao mxima e a felicidade
sublime do Nibbna. Enquanto, monges, no compreendi completamente
esses cinco grupos do apego, o surgimento desses grupos, sua cessao
e o caminho para sua cessao, no reivindiquei ter despertado para a
insupervel perfeita iluminao neste mundo com os seus devas, seus
Mras, seus Brahmas, seus homens e animais. Mas quando compreendi
completamente os cinco grupos do apego como realmente so, seu
surgimento, sua cessao e o caminho para sua cessao, reivindiquei
ter despertado para a insupervel perfeita Iluminao neste mundo.
PARTE II Cognio Sensorial Nesta parte ser explicado mais
detalhadamente como os cinco agregados do apego atuam, momento a
momento, em cada experincia sensorial, e dessa forma afetam a
mente. Quando uma vibrao de estmulo sensorial entra em contato com
um dos rgos dos sentidos e o afeta, dizemos que surge rpa ou matria
(forma, formato, materialidade). No instante seguinte, surgem tambm
sensao, percepo, formaes mentais (conceitos, pensamentos, emoes) e
conscincia correspondentes vibrao sensorial. Isso chamado de
surgimento de nma ou mente (nome, mentalidade). Rpa e nma surgem
mais ou menos simultaneamente, e esse processo tem o nome adequado
de nma-rpa, ou mente e matria, nome e forma. Nma
(sensao, percepo, formaes e conscincia) nomeia ou identifica o
objeto que afetou um rgo do sentido. Sensao, percepo, formaes
mentais e conscincia surgem do fluxo vital subconsciente, de acordo
com a maneira como cada pessoa est condicionada a reagir a cada
estmulo. A reao se baseia na lei de causa e efeito (kamma). A forma
como agimos e reagimos a cada estmulo relembrada e registrada em um
banco de memria similar a um banco eletromagntico, por assim dizer:
a mente subconsciente. Essas reaes se cristalizam ali muito
rapidamente. Assim, o continuum vital subconsciente tem um padro de
resposta estereotipado, um conceito, que ser criado novamente e
utilizado cada vez que houver contato com uma vibrao ou estmulo de
mesma variedade ou intensidade. Perceba que no se reage ao objeto
em si; a mente reage s sensaes e percepes condicionadas. No
compreendam mal, o objeto realmente existe (como vibrao material),
pois percebido pela conscincia/sujeito. Ainda assim, algo
particular, pois a forma como apreendido pela nossa mente no
compartilhada com outras pessoas. construda pelo individuo e s
existe para ele. No entanto, o mesmo tipo de processo ocorre na
mente de todos, ento parece que todos vem a mesma coisa. A maneira
como a mente transforma a vibrao condicionada por experincias
passadas e condicionamentos. Assim, no plano dos seres humanos, a
mente est condicionada a apreender mais ou menos a mesma coisa. Os
conceitos e reaes que construmos continuamente na constituio da
nossa mente so os obstculos mais potentes percepo das coisas na sua
verdadeira natureza impermanente, condicionada e sem essncia. Na
verdade, quando se forma um conceito, o pensamento parece parar de
caminhar naquela direo. Os conceitos levam o pensador ainda mais
longe da realidade, pois ele considera foras e fatos entidades
permanentes e concretas. Esses depsitos conceituais no nosso fluxo
de vida subconsciente continuam a influenciar (se no forem detidos)
todo o nosso comportamento, julgamentos e sentimentos relativos a
todas as experincias subseqentes, acrescentando-lhes ou
retirando-lhes qualidades. O conhecimento nada mais do que
conceitos acumulados e, no pensamento conceitual, a lgica, a razo,
a imaginao e a experincia de vida desempenham papis diferentes. A
compreenso desse processo, envolvido em todo ato de percepo
sensorial, muito importante para ajudar a ver e a constatar a
extenso do enredamento da mente com as coisas do mundo, tudo isso
na verdade ocorrendo dentro da prpria mente. Enquanto sentamos
silenciosamente em meditao, com a conscincia calma e clara, todas
essas vibraes, sensaes, percepes, pensamentos, idias etc.
relampejam pelos sentidos, despertando a conscincia. Parecem surgir
do vazio e no ter nada a ver conosco. So apenas um redemoinho de
sensaes e imagens mentais sem substancialidade, mas ainda assim nos
baseamos nelas para construir todos os nossos pensamentos e aes.
Todo nosso mundo de experincia objetificado surge em conseqncia
disso. Tudo depende do contato entre os seis rgos do sentido e seus
objetos correspondentes, que incluem pensamentos, idias, imaginao
etc. As sensaes ou vibraes que recebemos atravs dos sentidos vm e
vo em um momento mental. Se no reagirmos nem agirmos depois (nos
apegando), elas desaparecero imediatamente no vazio mental de onde
surgiram. Se nos apegarmos, ponderarmos, refletirmos e reagirmos
automaticamente aos objetos que elas representam, ento os objetos,
sensaes, percepes, conceitos e pensamentos em relao a elas parecero
reais e permanentes, algo com substncia, importante para ns. Se
persistirem, podem causar agitao, inquietao mental, pensamentos
negativos e fazer com que passemos ao ou que pensemos em outra
coisa. Isso desperta uma longa cadeia de reaes, permitindo que se
manifestem as atividades do eu (sankhra khandha) ou
condicionamentos passados, o que provoca um redirecionamento
completo dos nossos padres de pensamento, ou daquilo que acontece
aqui e agora.
Sensaes corporais como dores, por exemplo, parecem durar, sem se
modificar, um, cinco, dez, trinta segundos ou mais. Na verdade,
elas esto surgindo e desaparecendo a cada instante, continuamente,
condicionando o surgimento de outra, depois outra,
instantaneamente, em rpida sucesso. Para a conscincia com apreenso
normal, parece uma sensao longa, duradoura. Em um passo ou em um
movimento do brao, cada instante um comando diferente que a mente
envia parte do corpo correspondente, fazendo que se movimente. Cada
pequeno movimento produz uma sensao ou sentimento diferente,
apreendido pela conscincia corporal. Esta, por sua vez, condiciona
o surgimento do prximo pensamento ou comando para manter o
movimento da perna ou do brao, conforme o caso. uma srie de
movimentos e sensaes consecutivas que se sucedem to rapidamente que
parecem ser um movimento longo e contnuo. como o movimento de um
filme, que composto de muitos quadros separados, cada um
representando uma nica fase da ao. Quando essas imagens passam
rapidamente pelo projetor, temos a impresso de ver na tela uma cena
contnua, ininterrupta. Assim como a chama de agora no a mesma chama
do instante anterior nem algo separado da chama, mas o resultado do
crescimento da chama, o mesmo ocorre com os cinco agregados do
apego. Assim como a chama queima utilizando mais combustvel
repetidamente, o processo da vida surge constantemente, repetidas
vezes, utilizando objetos graas natureza das tendncias habituais
que residem no processo do apego. A meditao vipassan o processo de
se tornar atento aos processos mentais envolvidos na percepo
sensorial, os quais normalmente so atividades subconscientes, e
observlos. A meditao vipassan o processo de trazer essa atividade
subconsciente sutil para o nvel da conscincia. Dessa forma,
removem-se todas as iluses em relao natureza da mente e a verdade
percebida e apreendida. Na prtica da meditao, deve-se ter tempo
suficiente para perceber essa seqncia de momentos mentais que se
sucedem, surgindo e desaparecendo. Isso necessrio at que essa
percepo esteja clara e confirmada na mente do meditador. A
impermanncia, a insatisfatoriedade e a ausncia de essncia de todas
as sensaes, percepes, tendncias mentais e conscincia estaro muito
evidentes. algo difcil de entender apenas com leitura e teoria, mas
que pode ser visto com bastante clareza com um pouco de orientao,
de prtica regular e com a mente tranqila e atenta. Desenvolvam a
concentrao, bhikkhus. Aquele que est concentrado compreende de
acordo com a realidade. E o que ele compreende de acordo com a
realidade? A origem e extino da forma, a origem e extino das
sensaes, percepes, tendncias mentais e conscincia. A sensao ou idia
ilusria de que h um eu ou ego individual se liga como um parasita
conscincia que surge. esse aroma de eu que devemos nos empenhar
para entender e remover da conscincia, para purificar a mente da
idia de posse, centrada no ego, pois esse eu que estima a si mesmo
impede que se experimentem estados mais elevados de conscincia.
Essa idia condicionada do eu como sujeito no deixa a mente se
soltar de si mesma para experimentar a unicidade transcendente, ou
no-dualidade. O eu mantm a mente presa a relaes duais. A percepo da
impermanncia e da ausncia de essncia dos cinco grupos do apego, se
praticada e ampliada, desgasta todas as paixes sensuais, desgasta
toda a paixo pela existncia material e pelo renascimento, desgasta
e elimina toda a idia de eu sou. Assim como no outono o fazendeiro,
arando com a enxada, corta todas as razes espalhadas conforme ele
ara, da mesma forma, monges, a percepo da impermanncia e da ausncia
de essncia nos cinco grupos do apego, se desenvolvida e praticada
freqentemente, destri todas as paixes sensuais, destri e elimina
todo conceito de eu sou. O objetivo da meditao budista abandonar
esse eu como sujeito, deixar que se esvaia, para que se
possa transcender realmente toda relao sujeito-objeto, inclusive
a si mesmo como sendo o sujeito. Dessa forma podemos perceber de
verdade que os cinco agregados dos fenmenos no so na realidade o
nosso eu, e que no h uma alma permanente, individual, ou uma
entidade concreta por trs da experincia. O que existem so apenas
fenmenos condicionados, reflexos, que se sucedem repetidamente.
Pode-se assim libertar a conscincia da escravido ao corpo e mente e
experimentar a libertao e a felicidade supremas do Nibbna. O Ego e
o Desejo Desejo por Ser/Existir e pela Sensualidade A sensao de um
eu separado, que chamamos de conscincia do ego, diretamente
proporcional intensidade da ignorncia, cobia e desejo. O sentido
mais profundo da ignorncia acreditar no ego, identificar-se e
apegar-se a ele que, como vimos, nada mais do que um fenmeno mental
ilusrio. No entanto, por causa desse apego intenso conscincia do
ego, apego/desejo e raiva/dio ganham fora repetidas vezes. O ego
precisa de atividade para existir. Gostar e no gostar, apego,
averso, cobia e dio so as principais atividades manifestas do ego.
Quanto mais desejo e averso temos, mais vivos nos sentimos e mais o
ego parece concreto e real. Na verdade, o ego depende do desejo,
sua fora vital o desejo. O ego e o desejo so como dois lados da
mesma moeda um no existe sem o outro. O ego o desejo projetado, e o
desejo o ego projetado. como pedalar uma bicicleta: se continuarmos
pedalando, a bicicleta continua se movimentando. Mas se pararmos de
pedalar, ela perde velocidade e acaba caindo. Se continuarmos
gerando desejo, o ego parecer muito real. Quando cessa o desejo, o
ego parece uma iluso. por isso que no se pode satisfazer o desejo.
Se detivermos o desejo (e isso inclui a averso), nossa idia de eu
vai se tornando mais fraca, comea a se dissolver. Na verdade, os
objetos que desejamos, de que gostamos ou no, no so to importantes.
Eles so apenas bodes expiatrios ou desculpas para a atividade do
ego, para impedir a morte do ego. Qualquer objeto serve. No
entanto, para no parecer tolo, superficial ou insensato, o ego
encontra todo tipo de motivo e justificativa, aparentemente
razoveis, para sua necessidade de obter uma coisa ou se afastar de
outra. por essa razo que, no Ocidente, principalmente nos Estados
Unidos, as pessoas fazem yard sales (bazares, no quintal ou garagem
da casa, em que se vendem objetos de segunda mo). Elas tm stos,
armrios e garagem cheios de coisas que no usam mais, no porque
estejam necessariamente gastas ou quebradas. Alguns desses objetos
- roupas, brinquedos, aparelhos, ferramentas etc.- provavelmente
foram muito pouco ou nada usados. As pessoas precisam esvaziar seus
armrios e stos para dar espao para mais coisas. Muitas dessas
atividades, inclusive as compras, so apenas mais atividades, mais
ardis do ego para continuar vivo. Ficar aborrecido, irritado e com
raiva de outras pessoas por motivos aparentemente banais tambm s
mais energia que se agita para o ego parecer mais vivo. No entanto,
isso ao mesmo tempo acarreta muito sofrimento. Podemos assim ver a
relao direta entre ignorncia, desejo e o ego. Por isso to difcil,
para uma pessoa que no medita, aquietar a mente e experimentar a
tranqilidade total. Somos chamados de seres humanos, mas fazedores
humanos seria uma expresso melhor. Mesmo durante o sono, o corpo
vira de um lado para o outro e a mente fica sonhando. A coisa mais
difcil para a maioria das pessoas permanecer sentada, sem mexer o
corpo, fechar os olhos e no pegar no sono nem se perder em
devaneios. Em poucos minutos as pessoas comeam a ficar mais e mais
agitadas, com vontade de fazer alguma coisa. Elas no conseguem
aproveitar o fato de apenas ser. Isso acontece porque o ego se
sente desconfortvel, estranho, intil e ento ou adormece ou comea a
se dissolver. Na verdade o que ocorre em meditaes com concentrao
profunda: o ego comea a se
dissipar. por essa razo que muitas pessoas se esquivam, no
querem meditar. Muitos dos que meditam no conseguem ficar por um
longo tempo em meditao profunda. O ego foge do silncio profundo
(ainda que subconscientemente), pois este parece a morte a morte do
ego. A conscincia do ego, ou do eu, surge como uma resistncia ao
fluxo de impermanncia que chega atravs dos sentidos. A resistncia
se manifesta como atrao ou averso aos estmulos sensoriais,
incluindo nossos pensamentos, memrias, emoes etc. Quando a atrao e
a averso cedem, tambm cede a resistncia, e com ela a conscincia do
ego. Isto pode se observado diretamente durante a meditao. O desejo
tambm se relaciona diretamente ao passado e ao futuro. Quando
vemos, ouvimos, cheiramos, sentimos gosto, tocamos e pensamos, a
mente subconscientemente traz nossas memrias passadas de atrao e
averso e reaes ao estimulo sensorial presente, e ento as projeta
para o futuro com os subseqentes pensamentos, emoes e reaes nos
momentos (ou microssegundos) seguintes. Assim, a mente condicionada
est sempre se movendo entre o passado e o futuro, e essa atividade
de movimentao cria a iluso de tempo. Cria tambm a iluso da
conscincia do eu. O tempo e o ego so criados simultaneamente pela
atividade mais profunda da mente, gerada pela ignorncia e pelo
desejo. A prtica da meditao de plena ateno, ou vipassana,
essencialmente uma prtica de manter a ateno no momento presente, de
estar atento ao que quer que o corpo e a mente estejam fazendo no
momento presente. Tentamos no deixar que a mente seja levada pela
atrao ou averso, nem que se perca em pensamentos. Focamos a ateno
no fluxo de impermanncia conforme este surge e desaparece pelos
seis rgos dos sentidos. Tentamos observar e abandonar a resistncia
ao desconforto e dor, tentamos nos abrir e ficar cada vez mais no
momento presente, sem tenso. Quanto mais mantivermos a mente
(conscincia) no presente, mais o passado, o futuro, o ego e o
desejo se dissiparo. Com isso, o sofrimento tambm desaparecer. Essa
a experincia direta do Dhamma, das Quatro Nobres Verdades. Palestra
do Dhamma Segue-se parte de uma palestra sobre o Dhamma feita pelo
professor de meditao tailands Acariya Maha Boowa Nanasampanno,
sobre os cinco agregados do apego: Os Khandhas (os cinco agregados
do apego aos fenmenos) esto mudando o tempo todo, pois eles surgem,
duram um certo tempo, desaparecem e cessam. Por serem anicca
(impermanentes), so tambm dukkha (fonte de dor e frustrao) e anatta
(sem natureza prpria). Essa a forma como eles mostram e proclamam
sua verdadeira natureza, mas nunca tm tempo de parar e olhar para
isso. Eles nunca tm tempo para se acalmar, nem mesmo por um
momento. Internamente e externamente, em toda parte eles proclamam
ser anicca, dukkha e anatta. Rejeitam as nsias e desejos dos seres
(as ditas pessoas a quem pertencem). Agem por conta prpria,
mostrando que nenhum deles tem dono. Proclamam ser sempre
independentes e livres para perambular como quiserem. Aquele que se
apega a eles apenas encontra sofrimento, depresso e tristeza, que
enchem seus pensamentos e seu corao at que, no final, suas lgrimas
de tristeza so como um rio sempre transbordante. Isso ser assim
enquanto os seres continuarem iludidos e enredados em seu kamma.
fcil ver que os cinco khandhas so o prprio poo de lgrimas dos que
esto imersos em deluso. Investigar os cinco khandhas com sabedoria
correta, de forma a conhec-los claramente, serve para diminuir as
lgrimas e o processo de vir-a-ser e renascer, para cort-los do
corao (mente), que o dono de dukkha, para que se receba a
felicidade perfeita.
Os khandhas so venenosos para quem ainda estiver afundado em
deluso, mas aqueles que os conhecem como realmente so (na sua
verdadeira natureza) no podem ser prejudicados por eles, e podem
ainda obter beneficiar-se deles de maneira adequada. como um lugar
com arbustos espinhosos: eles so perigosos para todos os que no
souberem onde eles esto e ficarem emaranhados neles. Mas algum que
sabe tudo sobre eles pode us-los para fazer uma cerca ao redor de
uma construo, tirando assim vantagem deles. Dessa forma, quem
pratica meditao deve agir habilmente em relao aos khandhas. Todas
essas coisas (essa massa quntupla) surgem e desaparecem tendo citta
(as tendncias da mente) como base o tempo todo, e deve-se segui-las
e saber o que est acontecendo com elas com uma sabedoria que tudo
abarca, que saber imediatamente o que elas esto tramando. Devemos
considerar isso como uma tarefa importante a ser realizada nas
quatro posturas (sentados,