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nova Economia_Belo Horizonte_17 (2)_309-320_maio_agosto de 2007 Roman Rosdolsky (1898-1967): um intelectual em tempos de extremos João Antonio de Paula Professor do Cedeplar/FACE/UFMG Resumo O artigo apresenta a trajetória intelectual de Roman Rosdolsky, destacando suas contri- buições para a interpretação da obra de Marx e para os estudos de história. Abstract This article presents the intellectual trajectory of Roman Rosdolsky, highlighting his contributions to the interpretation of Marx’s works and to the historical studies. Palavras-chave Roman Rosdolsky (1898-1967), marxismo. Classificação JEL B24, B31. Key words Roman Rosdolsky (1898-1967), Marxism. JEL Classification B24, B31.
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Roman Rosdolsky (1898-1967) - SciELO · Palavras-chave Roman Rosdolsky (1898-1967), ... do em 2002. O quarto volume de sua te- ... tal Galícia celta no mundo eslavo foi

Dec 01, 2018

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Roman Rosdolsky (1898-1967):

um intelectual em tempos de extremos

João Antonio de PaulaProfessor do Cedeplar/FACE/UFMG

Resumo

O artigo apresenta a trajetória intelectual deRoman Rosdolsky, destacando suas contri-buições para a interpretação da obra de Marxe para os estudos de história.

Abstract

This article presents the intellectual trajectory ofRoman Rosdolsky, highlighting his contributionsto the interpretation of Marx’s works and to thehistorical studies.

Palavras-chave

Roman Rosdolsky(1898-1967), marxismo.

Classificação JEL B24, B31.

Key words

Roman Rosdolsky (1898-1967),Marxism.

JEL Classification B24, B31.

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Nosso tempo, disse Hobsbawm, tem si-do “interessante” e tem alcançado extre-mos. Tempos interessantes foi o nome queele deu a seu livro de memórias, publica-do em 2002. O quarto volume de sua te-tralogia, sobre a história do capitalismo,chama-se Era dos extremos, e aborda o queele chamou de “curto século XX”, que te-ria começado com a primeira grande guer-ra e se encerrado com o fim da URSS, em1991. Para Hobsbawm o século passadofoi marcado por demasias, por paroxis-mos de toda ordem: da tragédia à abje-ção, do sublime ao grotesco, da barbáriea esperanças fortemente auspiciosas.

É sob essa dupla clivagem – a que re-mete ao interessante e movimentado, masque também não quer eludir a barbárie, quetambém ela esteve presente – que se deveconsiderar a figura que se quer evocar aqui.

Nascido na Galícia, em 1898, re-gião então pertencente ao Império Austro-Húngaro, e morto em Detroit, nos Esta-dos Unidos, em 1967, Roman Rosdolsky,militante político, historiador, economista,escritor, professor é desses indivíduos paraos quais a vida é um permanente turbilhão,testemunha e sujeito de acontecimentos eprocessos decisivos do século XX.

Que esse verdadeiramente grandenome do pensamento social não seja devi-damente conhecido não é particularidade

brasileira. De fato, tanto as circunstânciasincisivamente dramáticas de sua vida quan-to o sentido mesmo de suas escolhas ético-políticas se salvaram-no da celebridade frí-vola, de outro lado condenaram-no, ao seunome e a sua obra, ao quase anonimato.

Estudante em Praga e Viena, no pe-ríodo terminal do Império Austro-Hún-garo, Roman Rosdolsky emigrou para osEstados Unidos, em 1947, país onde nãoocupará qualquer posição acadêmica de re-levo com exceção de um curto período, en-tre 1949 e 1951, quando lecionou Histó-ria na Wayne State University, de Detroit.Escreveu o principal de sua obra em russoe alemão. Isso tudo terá contribuído tam-bém para explicar o pouco que dele se sa-be. Uma busca na rede mundial de com-putadores sobre Roman Rosdolsky trazpequenos e insatisfatórios resultados. Foraa listagem do material constante do arqui-vo Roman Rosdolsky Papers, o texto mais in-formado sobre ele é de Ernest Mandel, tra-dução para o holandês de um artigo escrito

para a revista Quatrième Internationale, n� 33, deabril de 1968. Além do texto de Mandel, ci-te-se também o artigo de Anson Rabin-bach que traz alguns poucos dados biográ-ficos retirados da biografia de Rosdolskyescrita por sua esposa – Emily – “Ueberden Autor”, que está nos Studien über revolu-tionäre tatik, de Roman Rosdolsky, pu-

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blicado em Berlim, em 1973 (Rabinbach,1974, p. 52).

Mesmo a pequena informação quecircula sobre Roman Rosdolsky não estáisenta de imprecisão. Num dos textos dainternet, a data de seu nascimento aparececomo 18 de julho de 1898, noutro a datareportada é 19 de julho de 1898. Tambéma data de sua morte é imprecisa nesses tex-tos: 15 de outubro de 1967, 20 de outubrode 1967, enquanto Ernest Mandel, semprecisar o dia, diz que Rosdolsky morreuem novembro de 1967.

Com efeito, Roman Rosdolsky éconhecido, quando o é, sobretudo, peloseu notável livro sobre os Grundrisse deMarx, obra publicada em alemão em 1968,com o título Zur Entstehungsgeschichte desMarxschen Kapital, e que, traduzido para oportuguês, por iniciativa de César Benja-min, foi publicado no Brasil, em 2001, como título Gênese e estrutura de “O Capital” deKarl Marx (Rosdolsky, 2001).

A vida de Rosdolsky, em mais deum aspecto, reflete em sua irredutível sin-gularidade, as vicissitudes de toda umaépoca, tal como essa pode ser vivida porquem fez escolhas políticas, éticas e intelec-tuais à contrapelo da ordem.

Roman Rosdolsky, revolucionário,marxista, comunista, trotsquista, feito pri-sioneiro em campos de concentração na-zista viveu “a era dos extremos” em alguns

de seus limites: a Primeira Grande Guerra;a Revolução Russa; a decomposição dosvelhos impérios; a ascensão do nazi-fascis-mo; as hiperinflações; a luta política e a de-generação burocrática da Revolução Russa;a crise capitalista avassaladora dos anos1930; as emergências do Estado Keynesia-no de Bem-Estar Social; a barbárie nazistae a Segunda Grande Guerra; os anos deouro do capitalismo pós-1945.

Como já dito, Roman Rosdolskynasceu na Galícia, na cidade de Lemberg(hoje chamada Lvov), em 1898, cidadepertencente, então, ao Império Austro-Húngaro. Tal como a região homônima naEspanha, essa Galícia também tem sua his-tória ligada às migrações célticas. No pas-sado, tal Galícia celta no mundo eslavo foidividida, sendo sua parte ocidental incor-porada à Polônia (as regiões de Cracóviae Rzeszow), enquanto a parte orientalpassou ao controle da Ucrânia, tambémchamada de Rússia Branca ou Rússia Kie-viana (as regiões de Lvov, Ivano, Fran-kovsk, Drogobytch e Tecnopol). No sé-culo XII, a Galícia oriental tornou-se inde-pendente da Rússia Kieviana, sendo anexa-da à Polônia, em 1349, por Casimir III. Em1772, na primeira repartição da Polônia, aGalícia foi atribuída à Áustria. A domina-ção austríaca sobre a região manteve-se, noessencial, até a Primeira Guerra Mundial,quando foi palco de violentos combates.

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Anexada à Polônia em 1918, a Galícia foialvo de disputa entre rutenos ucranianos epoloneses durante as décadas seguintes.Em 1945, a Conferência de Potsdam di-vidiu, novamente, a Galícia atribuindo aparte oriental à Ucrânia e a parte ocidentalà Polônia.

Se é costumeiro, e justificado, atri-buir-se à Polônia destino infausto pelas re-correntes agressões que sofreu por parte deseus poderosos vizinhos (Rússia – Áustria –Prússia-Alemanha), esse quadro fica aindamais dramático se se considerar a situaçãoda Galícia, região ainda mais humilhada eesbulhada, porque periferia de periferia.

Recrutado pelo exército austría-co em 1915, Rosdolsky já nessa época eramilitante socialista, membro dos CírculosDrahomanov. Em 1917 edita, na Galícia,juntamente com Roman Turiansky, o jor-nal Klic. Participa, em 1918, da fundação,na Galícia Polonesa, da organização clan-destina Social Democracia Revolucionária In-ternacional . Foi membro do Comitê Cen-tral do Partido Comunista da Galícia Oriental,entre 1921 e 1924, representando os mili-tantes exilados. Inicialmente simpático às po-sições de Bukharin, Rosdolsky, em 1924, re-cusou-se a apoiar a condenação à Oposiçãode Esquerda, bloco interno ao Partido Co-munista Russo, liderado por Trotsky, nomomento em que a luta interna do partido

se intensificou, com a morte de Lênin, emjaneiro de 1924. Membro da corrente trots-quista a partir de 1924, Rosdolsky será ex-pulso do Partido Comunista da Galícia Orien-tal, no mesmo contexto em que se deu aqueda de Trotsky, sua expulsão do partidoe do país, no final dos anos 1920, momen-to do início da dominação stalinista.

Terminada a Primeira Grande Guer-ra, Rosdolsky mudou-se para Praga, ondeestudou Direito. Logo em seguida vai paraViena, cidade onde viveu seus decisivosanos de formação. Rosdolsky morou emViena até 1934, quando, com a chegada aogoverno de Dolfuss, líder do Partido Cató-lico Conservador, teve início uma dura re-pressão à esquerda socialista e revolucioná-ria, motivando a volta de Rosdolsky paraa Galícia.

Em Viena Rosdolsky estudou Di-reito, História e Ciência Política, defenden-do tese de doutorado, em 1929, com o títu-lo Marx e Engels e o problema dos povos sem his-tória (Das Problem der geschichtslosen Völker beiK. Marx und Fr. Engels), publicado em inglêsem 1964, em que ele discute as Revoluçõesde 1848-1849, na Europa, do ponto de vis-ta da afirmação das identidades dos po-vos que Hegel chamou “sem história”, istoé, que tinham construído “estados ”, ou quetinham dificuldade de fazê-lo autonoma-mente, como é o caso, entre outros, das na-

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cionalidades eslavas sob o domínio russo/prussiano/austríaco.

Como estudante da Universidade deViena, Rosdolsky foi aluno de Victor Adler,a primeira grande liderança da corrente cha-mada Austro-Marxista, que pouco influen-ciou o seu marxismo, que nada reteve doKantismo, que Victor Adler tentou insuflarno marxismo a partir do seu livro, de 1904,Causalidade e teleologia na disputa sobre a ciência.De fato, Rosdolsky defenderá, em sua prin-cipal obra, a centralidade da dialética hegeli-ana na obra de Marx.

Rosdolsky foi membro correspon-dente do Instituto Marx-Engels, de Moscou,de 1926 a 1931, experiência que foi decisi-va em sua carreira como pesquisador, namedida em que o Instituto Marx-Engels,dirigido por David Riazanov, era, então, omaior repositório de documentação sobreo marxismo e o movimento socialista. Foiali que ele tomou conhecimento da existên-cia dos vários manuscritos inéditos de Marx,entre eles de os Grundrisse, que só serão pu-blicados em 1939, e que terão decisiva in-fluência em sua vida como pesquisador.

Rosdolsky casou-se em 1927, comEmily, que teve papel decisivo tanto emsua vida profissional e política quanto noplano afetivo.

Em 1964, Rosdolsky retornou aLvov, passando a lecionar História Econô-mica na universidade local. Continuou sua

militância política, editando, entre 1934 e1938, o periódico de filiação trotsquistaZittja i slovo. É nesse período que ficou co-nhecendo o grande marxista polonês IsaacDeutscher, de quem ficará amigo e comquem manterá uma rica correspondênciapor muitos anos. De seus primeiros anosem Lvov, é a publicação, em 1936, de seuprimeiro estudo histórico sobre a realidadeagrária da Galícia – (Wspólnota Gminna w byl.Galiaji i jej zanik) – A comunidade aldeã da Ga-lícia Oriental e sua dissolução. A Segunda Gu-erra Mundial interrompeu a publicação deoutro grande trabalho de Rosdolsky sobreo campesinato da Galícia, que só foi edita-do em 1962 (Rabinbach, 1974, p. 57).

Em 1939, com o início da SegundaGuerra, a Galícia foi ocupada pelo Exérci-to Soviético em conseqüência do Tratadoentre Hitler e Stálin. Em 1942, Rosdolskyfoi preso em Cracóvia, pela Gestapo, porsuas atividades políticas antinazistas, so-bretudo por sua ajuda à população judaicada região. Preso, sobreviveu a três “camposde concentração” – Auschwitz, Ravens-brück e Oranienburg. Rosdolsky nos deurelato impressionante de sua passagem poraqueles “campos da morte”, em que eledenuncia tanto os extremos da barbáriequanto analisa os aspectos econômicos doscampos de concentração. Diz ele

Auschwitz não é apenas um ‘campo demorte’ mas, também, um enorme campo de

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trabalho forçado, com vários campos sub-sidiários espalhados por considerável ter-ritório; com uma média de 80.000 es-cravos do Reich Alemão. Ele era um suigeneris ‘estado dentro do estado’, comuma série de indústrias, minas e mesmoempresas agrícolas (Rosdolsky, 1988, p. 34).

Esse texto dá conta de uma agudasensibilidade de historiador, história que,junto com os estudos sobre a obra deMarx, foi o campo ao qual Rosdolsky maisse dedicou e o ponto alto da sua obra.

Vários são os trabalhos significati-vos de Rosdolsky no campo da históriaeconômica, destacando-se os estudos so-bre os regimes agrários da Galícia, Ucrânia,Polônia, Alemanha e Áustria. Rosdolskytambém publicou estudos importantes nocampo da história do movimento socialis-ta, como é o caso do livro Estudos sobre a tá-tica revolucionária. Dois trabalhos inéditossobre a II Internacional e a Social-Demo-cracia Austríaca, publicados na Alemanha,em 1973 (Mehrav, 1985, p. 284).

Se são notáveis seus trabalhos nocampo historiográfico, é forçoso reconhe-cer que a obra-prima de Rosdolsky é seu li-vro sobre os Grundrisse de Marx. De fato, sea esse texto se agregar o artigo “O signifi-cado de ‘O Capital’ para a pesquisa marxis-ta contemporânea”, (Rosdolsky, 1972), ter-se-á um conjunto, que, junto com as obrasde Preobrazhenski e de Rubin, são os três

momentos mais altos da crítica da econo-mia política no século XX, momentos demáxima iluminação teórica, que não se em-palidecem mesmo quando confrontadascom os textos de Marx (Preobrazhenski,1968; Rubin, 1974).

Em 1967, Ernest Mandel deu notí-cia da anunciada publicação do livro deRosdolsky sobre os Grundrisse. Disse ele:

R. Rosdolsky indica a esse propósito quea publicação dos Grundrisse constituiuma verdadeira revelação e que essaobra ‘por assim dizer’ nos introduziuno laboratório econômico de Marx, erevelou todas as finezas, todos os cami-nhos de sua metodologia.

Esse autor, que é um dos melhores co-nhecedores de Marx, anuncia a publica-ção de um livro Zur Entstehungsgeschichtedes Marxschen Kapital nas edições Eu-ropaische Verlagsanstalt, em Frankfurt(Mandel, 1968, p. 105), que de fato foieditado em 1968.

Publicado em alemão em 1939, osGrundrisse foram objeto de interpretaçõessignificativas como as de Martin Nicolaus,em 1973, que apareceu como introdução àedição inglesa de os Grundrisse; de EnriqueDussel, em 1985, La producción teórica de Marx.Un comentario a los Grundrisse (Dussell, 1985).O “Marx Desconhecido”, de Martin Nico-laus, foi, mais de uma vez, editado em por-

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tuguês, constando do volume publicado em2003, organizado por César Benjamin, Marxe o Socialismo (Benjamin, 2006).

Tanto Martin Nicolaus quanto En-rique Dussell buscaram reconhecer em osGrundrisse, em que pesem diferenças deabordagem, momento importante na ela-boração da “crítica da economia à política”de Marx. Em sentido contrário, vai a inter-pretação de Keith Tribe, que, influenciadopor Althusser, teria visto os “Grundrisse co-mo um ‘incoerente ’ e ‘transicional ’ estágio pa-ra a ‘ruptura definitiva’ de Marx, seja coma economia política ricardiana, seja com asnoções de alienação, que caracterizam seusprimeiros trabalhos” (Rabinbach, 1974,p. 59). Se Keith Tribe é, radicalmente, anti-hegeliano, Martin Nicolaus também o seráem termos, na medida em que questiona aadesão do Marx de os Grundrisse a uma dialéti-ca da identidade, “enquanto a dialética marxistade O Capital manifestaria uma dialética danão-identidade” (Rabinbach, 1974, p. 59).

Toda a questão para Nicolaus seriao “falso ponto de partida” representadopelo fato de os Grundrisse não se iniciar pelaanálise da mercadoria. Com efeito, essa équestão decisiva, mas sua efetiva apreensãopressupõe reconhecer que a obra não “nas-ceu pronta e acabada”, que é resultado deuma relativamente longa maturação. Nessesentido, quando Marx, em 1880, nas GlosasMarginais ao “Tratado de Economia Política ”,

de Adolph Wagner (Marx, 1977), insistiuem afirmar a centralidade da mercadoria,essa afirmação representa o desenlace deum itinerário teórico e conceitual, que seconstruiu aos poucos. Para quem se dispõea acompanhar o processo de elaboraçãoconceitual de Marx, é desconcertante lerem uma carta dirigida a Engels, em 29 dedezembro de 1858, que relata a redação dotexto da assim Contribuição à crítica da econo-mia política, a intenção de fazer da análise demercadoria o ponto de partida do livro.Diz Marx:

minha mulher está copiando de novo o ma-nuscrito, que não poderá sair antes do fi-nal do mês. As razões deste atraso são:grandes períodos de indisposição física, si-tuação que não terminou agora com o in-verno. Demasiados problemas domésticose econômicos. Finalmente: a primeira par-te resultou mais importante porque, dosdois primeiros capítulos, o primeiro (AMERCADORIA) não estava redigidoem absoluto no projeto inicial, e o segundo(O DINHEIRO, OU A CIRCULA-ÇÃO SIMPLES) não estava escrito se-não esquematicamente, e depois foram tra-tados com mais detalhes que eu pensava aprincípio... (Marx e Engels, 1974, p. 83).

Pela correspondência de Marx, épossível, então, identificar o momento emque a estrutura expositiva da crítica da eco-nomia política adquire seu formato defini-

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tivo. Esse momento situou-se entre 2 deabril de 1858, quando Marx, em carta aEngels, ainda continua considerando o pon-to de partida de sua obra como o Valor , e29 de novembro de 1858, quando a merca-doria aparece como categoria inicial da ex-posição. Não há nas cartas qualquer escla-recimento do que o teria levado à mu-dança. De todo modo, trata-se de aconteci-mento essencial, ponto culminante do iti-nerário de Marx na construção de sua críticada economia política.

Se é assim, então a obra de Ros-dolsky deve ser vista como roteiro inexce-dível do itinerário da construção da críticada economia política tal como ela pode serfeita numa primeira navegação. E aqui a men-ção a Platão é mais que metafórica. Trata-se, no caso de Marx, de ver sua obra depoisde os Grundrisse, a partir da assim Contribui-ção à crítica da economia política, de 1859, co-mo uma segunda e, potencialmente, maisrigorosa navegação porque guiada por mé-todo de exposição rigorosamente desenvolvi-do em suas implicações dialéticas, comonos mostrou Marcos Müller (Müller, 1982).

Já vai longe o tempo em que a cha-mada “questão do método” tomou contado debate no campo das ciências sociais edo marxismo em particular. Se houve exa-geros, se houve “fetichizações”, se houvemesmo certo abuso na petição da explicita-ção das “condições de possibilidade do co-

nhecimento”, não é o caso de se interditara discussão sobre o método porque é pre-ciso ver nela questão inescapável. MesmoHegel, aquele que mais explicitamente secolocou denunciar o criticismo kantiano,como tautológico ou aporético, teve que sehaver com a questão epistemológica, a seumodo, como se vê na Fenomenologia do Es-pírito. Veja-se o que diz Jean Hippolite:

Em suas obras filosóficas de Iena, Hegelhavia criticado toda propedêutica àfilosofia. Não é possível ficar-se, continu-amente como Reinhold, no pórtico do tem-plo. A filosofia não é nenhuma lógicacomo ‘Órganon’ que trata do instrumen-to do saber antes de saber, sem um amorà verdade que não fora a possessão mesmoda verdade. Não, a filosofia é ciência e,como defende Schelhing, ciência do Abso-luto. Em vez de permanecer na reflexão,no saber sobre o saber, há que fundir-se,direta e imediatamente, no objeto a conhe-cer-se, chame-se este Natureza, Universoou Razão Absoluta.

[...] Em sua introdução à Fenomeno-logia Hegel repete suas críticas a uma fi-losofia que não fosse mais que teoria doconhecimento. E, contudo, a Fenome-nologia, como assinalaram todos seus co-mentaristas, marca em certos aspectos umretorno ao ponto de vista de Kant e Fichte.

[...] Hegel que havia criticado anterior-mente toda propedêutica, insiste agora nanecessidade de situar-se na perspectiva da

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consciência natural e de levá-la, progressi-vamente, ao saber filosófico. Impossível co-meçar pelo saber absoluto (Hippolite, 1991,

p. 8, 9 e 10).

A Fenomenologia do Espírito, de Hegel,que completa em 2007, duzentos anos, re-presenta na obra de Hegel o momentofundante de seu sistema, que se realizará, em1812, com a publicação da Ciência da Lógica.Na Fenomenologia do Espírito, há a volta aKant e a Fichte, a volta às petições de con-dições de possibilidade do conhecimentopara dar uma resposta diferente a essas exi-gências, uma resposta, que, reconhecendoa consciência imediata como ponto de partidanecessário da caminhada do espírito, faz dacaminhada, da “odisséia da consciência”,do seu processo de aprendizado, de suapresença no mundo, o itinerário enrique-cedor da consciência, que, em seu périplopelo mundo, tanto transforma-o quantoé transformado por ele. Essa problemáti-ca foi inexcedivelmente posta por KarelKosik num texto, justamente, célebre, queaproximou a Fenomenologia do Espírito, deHegel, de Anos de aprendizagem de WilhelmMeister, de Goethe, e de O Capital, de Marx,e todos os três da Odisséia, do Homero(Kosik, 1976, p. 166).

No que interessa neste texto, bus-cou-se, sem forçar indevidas afinidades,tanto ver paralelismos na relação entre a Fe-nomenologia do Espírito e a Ciência da Lógica, de

Hegel, e os Grundrisse e O Capital de Marx,cabendo, a partir disso, reconhecer queRosdolsky, como estudioso de os Grundris-se de Marx, ocupa na história do pensa-mento marxista lugar equivalente ao queAlexander Kojève e Jean Hippolite têm norelativo à obra de Hegel.

É bem conhecida a passagem deMarx na qual ele explica as razões que o te-riam levado a não publicar a Introdução àContribuição à crítica da economia política, de1859. Diz ele no Prefácio dessa obra: “Ain-da que houvesse esboçado uma introduçãogeral, prescindo dela, pois, bem pensada acoisa, creio que é adiantar resultados quedevem ser demonstrados, o que seria umestorvo. O leitor que queira, realmente, meseguir deverá estar disposto a transitar doparticular ao geral” (Marx, 1972, p. 34).

Em outro momento, Marx foi aindamais explícito em sua afirmação sobre aimpropriedade de uma apresentação de ca-tegorias analíticas separadas da exposiçãode suas presentificações e conexões neces-sárias. Para ele o modo necessário, legítimo,de aparecimento e desenvolvimento dosconceitos, do ponto de vista do método di-alético, impõe que esses conceitos emer-jam da própria explicitação do objeto, desua efetiva apropriação-exposição. Nesse senti-do, para Marx a apreensão do conceitopressupõe que se o acompanhe em toda asua caminhada, em sua odisséia de apari-ções-metamorfoses. Diz Marcos Muller:

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O método dialético quer superar essa exte-rioridade do conhecimento em relação aoobjeto e a concepção instrumental de métodoaí presente. Este exige que o conhecimentoaprenda as determinações do conteúdo nopróprio movimento pelo qual elas se desdo-bram, estabelecendo a conexão necessária e,imanente entre elas (Müller, 1982, p. 24).

De todo modo, Marx e Hegel, críti-cos do apriorismo metodológico, sentiram-se obrigados a escrever obras equivalen-tes ao “discurso do método ” e é isso, decisiva-mente, que importa reter, configurandoassim tanto a importância da Fenomenologiado espírito, para a obra de Hegel, quanto deos Grundrisse, para a obra de Marx. É a luzdessa questão teórica de grande enverga-dura que se deve apreciar a leitura de Ros-dolsky de os Grundrisse.

Hegel retomou a problemática doconhecimento na Fenomenologia do espírito,dando-lhe um tratamento rigorosamentecompatível com a sua dialética. Marx tam-bém fará incursão no campo metodológi-co que a introdução geral aos Grundrisse derKritik der politischen Ökonomie, obra escrita,entre 1857 e 1859, e publicada apenas em1939 (Marx, 1989).

Publicado sintomaticamente em1968, o livro de Rosdolsky, Gênese e estruturado ‘Capital’ de Karl Marx, é obra singular nocampo das ciências humanas e sociais. De

fato, nenhuma grande teoria desse campodo conhecimento mereceu de seus estu-diosos uma reconstituição tão meticulosa,quanto iluminadora. Se os Grundrisse repre-senta o “laboratório teórico” de Marx, nu-ma metáfora conhecida, o livro de Ros-dolsky é o diário da vida do laboratório, oinventário dos métodos e procedimentos,do material e modos de fazer, dos protoco-los de ação e síntese de resultados.

De fato, se Marx e Hegel se senti-ram obrigados a ajustar contas com a tra-dição da teoria do conhecimento, superan-do-a, o livro de Rosdolsky diferencia-se emum sentido essencial daquelas grandesobras de Kojève e Jean Hippolite. Para es-ses autores, tratou-se de analisar uma obraacabada, redigida com rigor e forma neces-sários, como é a Fenomenologia do espírito. ParaRosdolsky o que se pôs foi buscar respostas,concatenar, esclarecer, desvelar o que o textode um rascunho só pode apresentar frag-mentariamente, cifradamente, sem os cuida-dos que a “exposição” rigorosa exige.

Não é pequeno elogio o que se fazaqui à obra de Rosdolsky ao aproximá-lade Gênese e estrutura da fenomenologia do espíritode Hegel, de Jean Hippolite, publicado em1946 (Hippolite, 1991), e à A dialética do se-nhor e do escravo em Hegel; A Antropologia e oAteísmo em Hegel; A dialética do real e a idéia damorte em Hegel, que reúnem o conteúdo dos

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cursos e conferências proferidas por Kojè-ve na Escola de Altos Estudos, em Paris, entre1933, 1939, cursos que mobilizaram todaa inteligência francesa daquele tempo, deSartre a Lacan (Kojève, 1987; 1985; 1972).

Há ainda outra razão para valorizarcom ênfase a obra de Rosdolsky. É que osGrundrisse contém, em estágio de desenvol-vimento preliminar, o essencial do projetocompleto dos seis livros que Marx plane-jou escrever: o sobre capital; o sobre a pro-priedade da terra; o sobre o trabalho assala-riado; o sobre Estado, o sobre comércioexterior; e o sobre o mercado mundial e ascrises. Dos seis livros projetados, apenas ostrês primeiros foram publicados e, aindaassim, em estágios diferenciados de acaba-mento. De fato, os Grundrisse, na obra deMarx, prefigura a totalidade da crítica da eco-nomia política, tal como essa pode aparecerem sua primeira presentificação, como totali-dade, que, incluindo todos os elementosconstitutivos do real, só pode apresentar,inicialmente, esses elementos num altíssi-mo grau de abstração, que é o modo ne-cessário de exposição do real, que só po-de se pôr, legitimamente, isto é, inteligi-velmente, como ser que se desdobra, quese desenvolve pela extrinsecação de suascontradições, pela ação inescapável do ne-gativo, “do que tudo nega, e com razão”,como Goethe o surpreendeu na figurade Mefistófeles.

Assim, os Grundrisse, sendo exposi-ção da totalidade, ainda não desdobrada,a única que Marx, efetivamente, concluiu,já que incompleto ficou O Capital, contémcertos temas, certas discussões, certas ques-tões que só foram discutidas por Marx nes-se texto, questões como a historicidade dalei do valor, sobre o sentido do socialismo,que têm atualidade e relevância decisivas pa-ra a afirmação da insuperável pertinência domarxismo para o mundo contemporâneo.

É exatamente essa circunstância queexplica a extraordinária contribuição repre-sentada pelos capítulos 28 e 29 do livro deRosdolsky que são, respectivamente: “O li-mite histórico da lei do valor. Observaçõesde Marx sobre a ordem socialista”; e “A rei-ficação das categorias econômicas e a ‘ver-dadeira concepção do processo social deprodução’ ”. Nesse sentido, o livro de Ros-dolsky é um instrumento, combativo e in-formado, tanto para a denúncia e o des-mascaramento do ignonimioso do mundocontemporâneo quanto um convite para aconstrução das melhores promessas eman-cipatórias, malgré tout, que continuam a nosmobilizar.

João Antonio de Paula 319

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Referências bibliográficas

E-mail de contato do autor:

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Artigo recebido em maio de 2007;

aprovado em junho de 2007.