DEDICADO À MULHER 2 (poemas de exaltação à Mulher) Miguel Carqueija Prefaciadora: Elaine Márcia Co-autoras: Irá Rodrigues
DEDICADO À MULHER 2
(poemas de exaltação à Mulher)
Miguel Carqueija
Prefaciadora:
Elaine Márcia
Co-autoras:
Irá Rodrigues
Elisabete Gouvea
Norma Aparecida Silveira de Moraes
PREFÁCIO
Elaine Márcia
Desde os primórdios dos tempos a mulher tem sido tema de vários artistas.
Pintores, escultores, escritores e poetas cantam e nos encantam se inspirando na mulher.
Com o poeta Miguel Carqueija não foi diferente, ele sempre nos encanta com seus
poemas, onde o tema central é a mulher.
E fazer poesia é pintar com palavras e esculpir com sentimentos! Isto faz
de Miguel Carqueija um artista completo que tem um diferencial em relação a tantos
outros artistas que já vi e li. Ele consegue transmitir através de seus poemas a singeleza,
a pureza de espírito, a delicadeza e a devoção da mulher!
“... Neste mundo tão imenso terei o que sempre quis: um dia, assim eu penso,
vamos fazer um país!”, são com estes versos esperançosos e apaixonados que o poeta
encerra o poema: “A Mulher Pré-Histórica”, apenas um dos tantos mimos com os quais
ele presenteia a alma feminina nesta belíssima coletânea de poemas reunidas em
“DEDICADO A MULHER – Volume 2” que tem a participação das poetisas Irá
Rodrigues, Elisabete Gouvea e Norma Aparecida Silveira de Moraes nos poemas “A
Geógrafa”, “A Psicóloga” e “A Moçla da Selva”.
A mim, só resta agradecer a grande honra de, mais uma vez, ser agraciada
como prefaciadora desta obra maravilhosa!
Obrigada Miguel! Sinto-me duplamente homenageada!
A você, leitor(a), prepare-se para viajar conosco no mundo de sonhos, cantos,
encantos e emoções da alma feminina através dos poemas de Miguel Carqueija!
Boa Leitura!
Elaine Márcia Souza Rosa Pedagoga, especialista em Orientação, Supervisão e Gestão Escolar
Mulher, mãe e poetisa apaixonada pela vida
A FLORISTA
Estou no meu posto bem firme
com alegria e amor;
e já encontrei quem afirme
que eu também sou uma flor.
Rosa, dália, cravo, narciso;
sintam o belo perfume.
Trabalho porque preciso
e aqui, por favor, não fume!
Tem muita gente na praça,
multidão o dia inteiro;
é tanta gente que passa
sem sentir da flor o cheiro.
Porém a quem se aproxima
pra olhar no meu balcão
acaba vendo por cima
o charme do meu olhão.
Sim, tenho olhos bem grandes,
que parecem de mangá;
quem diz isso é o Fernandes,
e eu digo: -É mesmo? Então tá!
E assim olho exagerada,
forçando alguém a comprar:
e sou muito admirada,
porque também sei cantar.
Violeta e margarida,
quandos aromas tão bons;
mas que profissão querida,
eu falo com meus botões!
Trabalho tão perfumada
com o pé descalço escondido,
me sinto recompensada
com o almoço garantido!
Porque eu sou galanteada
nesse meu bosque de flores;
já podia estar casada
com algum desses amores!
Mas ainda sou novinha,
tem tempo pra resolver:
por ora, solteirazinha
eu quero permanecer!
Vou lanchando uma torrada
com leite e uma bolachinha
pra não ficar esfaimada,
e ainda dou pra pombinha!
Às vezes é forte o sol
e é duro ficar na praça;
eu armo o meu guarda-sol
e sigo com muita raça.
Trabalho em meio à flagrância,
mas que bênção tudo isso!
Dizem que eu tenho elegância
mas eu me sinto um caniço!
Tenho uma cintura fina
e tornozelos também;
mas ser magra não é sina,
ter pressão baixa é um bem.
Venham comprar na florista
flores para a namorada;
examinem minha lista,
pois não custam quase nada!
Tem gente que vem comprar
só porque eu sou bonita;
mamãe soube fabricar
uma garota catita!
Tenho cabelos escuros
que enfeito com uma rosa;
me olham de cima dos muros
e eu me sinto toda prosa!
Mas sou uma garota honesta
e gosto de trabalhar:
saio de casa bem lesta
pra na barraca chegar!
A Virgem que me proteja,
me recomende a Jesus;
não vivo de ora veja
e peço a Deus muita luz!
Brincando com a meninada
que me tem muito carinho
eu sigo com a florada
ganhando o meu dinheirinho.
A ESTUDANTE
É aqui neste balanço,
no meio da natureza,
que eu da vida descanso
cercada por singeleza.
E balanço a minha vida,
que é centrada no estudo:
penso em minha mãe querida
porque pra ela eu sou tudo.
Por que é que eu amo estudar
das entranhas de minh’alma,
o que me fez optar,
por que tudo isso me acalma?
Aprendi com os meus pais
que o estudo é a base da vida:
o estudo me satisfaz,
me prepara para a lida.
O livro é um grande amigo
e posso te aconselhar:
ter sempre um livro consigo
é um hábito salutar.
Levo livro na mochila
também sou auto-didata:
fico lendo até na fila,
me chamam até de chata.
Ser CDF afinal
dizem, não é pra uma gata;
mas ler pra mim não faz mal:
e eu acho que sou sensata.
Gosto de Geografia
e de Álgebra também;
decidi por esta via,
é como me sinto bem.
A Deus eu peço me ajude
pois quero de ano passar:
que o meu empenho não mude,
e como é bom estudar!
Balanço, meu balancinho
quanto amigo que tu és!
Quando sobes no impulsinho
vejo os dedos dos meus pés!
Quando desces me seguro
com a força das minhas mãos;
e mais tarde, com apuro
estudo com os meus irmãos!
Papai é meu grande esteio
e me deixa balançar;
sou tão feliz neste meio
com tanta gente pra amar!
E o Rufus, meu cachorrinho
às vezes vem balançar:
sobe no assento, bonzinho,
súbito põe-se a ladrar!
Caderno, meu caderninho
tu tens que me ajudar
e junto com meu livrinho
pra prova me preparar!
Porque eu balanço pensando
no que eu tenho pra estudar:
fico até imaginando
que eu passo por balançar!
Você, que queima a pestana,
vou te contar meu segredo:
pode até contar pra Ana,
e pro Rodrigo, sem medo:
quando me sinto aturdida
com a cabeça fumegando
e até pareço perdida
eu relaxo balançando!
Isto nunca me falhou:
sempre passo facilmente:
o nervosismo voou,
clareei a minha mente!
E assim vou fazer a prova
tão leve quanto um anjinho!
A professora me aprova
e até me dá um beijinho!
E agora já aprovada
vou pro querido balanço:
já de todo aliviada,
eu bem mereço um descanso!
A ESPOSA
Eu te espero no meu leito
com roupa bem sensual:
hoje será do meu jeito,
hoje será tão legal!
Com as minhas unhas pintadas
e a camisola rosinha
melenas esparramadas
tua vontade será minha!
Não penses que fugirás,
tens que me vencer primeiro;
hoje não escaparás,
serás o meu prisioneiro!
Preliminares usamos
pra que os desejos se formem,
depois nós dois nos amamos
enquanto as crianças dormem.
Mas viver não é só isso,
tenho o corpo pra cuidar,
não quero virar caniço
e nem tampouco engordar.
Administro o meu lar,
sou uma terna ditadora:
com meus filhos pra criar
não posso ser sonhadora.
A eles nós damos base
para um futuro forjar:
a infância é uma fase
e é a alegria do lar.
Eu amo o meu maridinho,
presente que Deus me deu;
eu lhe dou todo o carinho,
e ele é todinho meu!
Não sou mulher alienada,
vejo bons filmes e leio;
não fico sem fazer nada,
e não faço nada feio.
Minha Fé é o meu sustento,
tenho gosto em ajudar;
e com meu querido eu tento
este mundo melhorar.
Trabalho, fé e carinho,
cachorro em casa e lazer;
assim é o nosso ninho,
reduto de bem-querer.
Quando vamos passear
o parque é boa opção:
ver passarinho voar,
bater fotos de montão.
Vamos sempre na igreja,
de mãos dadas, como é bom;
e gostamos de cereja,
de sorvete e de bombom.
Gosto de casa asseada
e assoalho limpinho,
podendo andar descalçada,
relaxando o meu pezinho.
O lar é o nosso castelo
com filhos bem barulhentos;
o amor é meu grande anelo
e amamos nossos rebentos.
Meu cuquinho da parede,
que sempre lembra da hora,
é tão bonitinho, vede!
Pintadinho cor de amora.
Os quadros da natureza:
por-do-sol, praia, andorinha,
ornam com sua beleza
da varanda até a cozinha.
Que o mundo ao redor se agite,
porque eu vivo para amar:
e sou feliz, acredite,
no meu Céu particular.
A JOGADORA DE BOLICHE
Eu amo jogar boliche,
passo horas nesse mister;
e trago o meu sanduíche,
eu jogo com quem quiser.
E jogo como mulher...
Me sinto uma Flintstone
pois é descalça que eu jogo;
tomo um sorvete de cone
e no boliche eu me logo!
De Fred Flintstone um clone...
Aqui na pista o que eu busco
é um “strike” bem bolado;
só saio no lusco-fusco
com meu jogo bem ganhado.
O espírito aliviado...
Tenho problemas na vida
que com a bola eu sublimo;
Deus me ajude nesta lida;
mais que a tudo Vos estimo.
Abençoa esta partida...
Que os amigos bolicheiros
me dêem força também;
os meus lances são certeiros
e na vida eu faço o bem
com Jesus, Maria, Amém!
“Mens sana in corpore sano”
diz velha sabedoria;
também sei tocar piano
e escrever poesia;
evito qualquer engano.
Mamãe diz —Vê se te esmera!
meu grande fã é o meu tio;
— Vamos bolichar, galera!
Puxa, hoje o chão está frio!
Temperatura de rio...
Bola, bolinha, vai fundo,
me derruba as garrafinhas;
que uma bola é este mundo,
te lanço com as minhas mãozinhas.
Mostra a força das mocinhas...
É um jogo familiar
e muito bom para a mente!
Eu me sinto flutuar
e pratico alegremente!
Sempre jogo bem contente...
Eu gosto bem desta bola
amarela, com furinho;
joga, rapaz, não enrola!
Quero ver o seu joguinho...
Ou você só faz marola?
Venha ver meu arremesso
que eu sou craque nesse esporte;
e isto é só o começo,
vai me enfrentar? Boa sorte!
Pode crer, eu sou de morte...
Não ficará nenhum pino
para contar a história;
eu sou manera, menino,
e vou ficar na memória!
Por boliche me fascino...
Comfesso que é com amor
que vou pra competição:
isto também é um louvor
que faço de coração!
E quem compete é irmão...
E faço “hook” com graça
aquela bola de efeito;
a Júlia até faz pirraça,
irritada com o meu feito!
Não ligo e faço chalaça...
Esta é a minha natureza,
ser do jogo campeã;
o boliche é uma beleza
e até tenho muito fã.
Pra premiar este afã...
Quando eu volto pra rotina,
pra casa mamãe beijar,
nada mais me desanima,
sinto Deus me abençoar
pois quero viver para amar!
A ROQUEIRA
Eu gosto da multidão
que me aplaude entusiasmada;
os meus fãs são legião
e eu me sinto muito amada.
Eu viajo pelo mundo
e canto a minha mensagem;
e sinto um amor profundo
que segue a minha passagem.
É tão mística a impressão
desse clamor popular:
cada fã é um irmão
que eu tenho para amar.
A música é um caminho
para promover a paz:
é uma troca de carinho
que a minha canção faz.
Por isso a Deus eu suplico
me dê forças pra seguir
pois enquanto eu aqui fico
não quero no mal cair.
Este é um meio terrível
que destroça muita gente;
e eu vou fazendo o possível
pra manter sã minha mente.
Eu gosto tanto de rock
que passa tanta energia;
e com roupa rosa-chock
eu viajo noite e dia
pra passar minha mensagem
de amor, paz, fé e paixão;
preciso muita coragem
mas às drogas digo não.
Sem Deus eu nada seria
nesta midia tão cruel;
vivo numa correria
mas meu público é fiel.
Eu gosto de ser mimada,
do calor humano enfim,
ser por crianças beijada,
eu sou carinhosa assim;
essa energia em cena
esconde a minha doçura,
e a galera se antena
quando vê minha figura!
Eletrizar a platéia
não é pra qualquer pessoa,
procure fazer idéia,
não é um público à toa!
Eu canto para milhares,
me movimento, até danço,
eu solto a voz pelos ares,
cativo com o meu balanço.
Até me assusto com isso,
meu poder sobre milhões,
e magra como um caniço
eu domino as multidões.
Peço a Deus que me ilumine,
tirai-me orgulho e vaidade;
que a humildade me anime,
fortificai-me a bondade.
Não quero escandalizar,
só quero ser responsável:
minha arte propagar
de forma pura e amável.
Com a banda, com todo mundo
que me ajuda nessa lida
eu levo um amor profundo
dos fãs em cada partida.
Fazer tudo com respeito,
com Jesus no coração,
é o que eu levo bem a peito
porque o fã é meu irmão!
Pois tudo o que eu faço e canto
sai fundo do coração;
sei que este mundo é encanto
e a glória uma ilusão.
A Deus eu peço guarida
no mundo que há de vir:
sou feliz por ser querida,
serena aguardo o porvir.
A FOTÓGRAFA
Esta minha profissão
me deixa bem radiosa:
me faz bem ao coração
ser fotógrafa charmosa.
Pode crer que é uma arte,
pois eu garimpo a beleza;
e como tema, destarte,
eu prefiro a natureza.
O passarinho voando,
colibri tão rapidinho,
borboleta esvoaçando,
tudo eu flagro com carinho.
Uma pétala no ar,
as galhadas oscilando,
os peixinhos a nadar,
os esquilos namorando;
a garça tão majestosa,
as libélulas em bando,
a árvore tão frondosa,
urubus no ar planando.
Mas é claro que a revista
faz a sua encomenda,
é aí que eu viro artista,
quero ter cheia a agenda!
Eu fotografo eventos,
e cobro sem explorar;
vou onde levam bons ventos,
eu amo fotografar.
Trabalhar no que se ama
é uma bênção do Céu;
quem faz isso não reclama
e a vida sabe a mel.
Tenho página na net
e divulgo o meu serviço;
fotografe com a Beth,
eu orço sem compromisso!
E eu flagro também crianças,
esses amores-perfeitos;
tantas meninas de tranças,
seus charmes já nascem feitos.
O meu port-fólio é rico
em experiências mil;
e ao folheá-lo eu fico
nas nuvens como um tiziu.
É tão amável, tão belo,
viver com a fotografia;
é um ofício tão singelo
que até parece magia!
Sou discreta e educada
e levo a sério o que eu faço;
assim sou apreciada
e recebo muito abraço,
me beijam, me abençoam,
pois eu amo a freguesia;
no céu andorinhas voam
e eu cá sigo a minha via.
Deus me deu esse presente,
um trabalho-poesia,
que areja a minha mente
e me dá tanta alegria.
É grande felicidade
trabalhar no que se quer;
e esta é a minha verdade:
sou fotógrafa e mulher!
A PIANISTA
Eu entrego a minha alma
quando o meu piano eu toco:
isto me traz muita calma,
por outro “hobby” eu não troco.
Gosto de ser aplaudida
mas isto não é o principal;
pois eu gosto desta vida
entre o teclado e o pedal.
É a música que eu amo,
mais que a fama e o dinheiro:
é a inspiração que eu chamo,
este é o meu dom verdadeiro.
Ao público tenho amor,
um carinho fraternal;
ponho todo o meu calor
tocando o meu vertical.
Chopin, Beethoven e Bach
e Liszt e o grande Rossini:
eu gosto de interpretar
e também Mozart e Puccini.
E Villa-Lobos eu amo,
me sinto como no céu
se sua música eu chamo,
pra ele eu tiro o chapéu.
Acompanhar a cantora
tão charmosa em seu encanto,
eu me sinto uma caloura
acompanhando o seu canto.
Então o tenor famoso
que sigo no meu piano,
puxa, ele é tão primoroso
brilhando ano após ano.
É com muita humildade
que eu emano a melodia:
a música é minha verdade
que em criança eu já seguia.
Cada tecla é minha amiga
e o palco um pequeno Céu:
aqui não penetra intriga,
a vida é um favo de mel.
E se é um coral de crianças
com suas vozes de anjo
renovam-me as esperanças
e no piano eu me esbanjo.
A música é um oceano
de paz e amor, uma mina;
e eu viajo no piano
de Ravel a Palestrina!
Executo sem engano
a música que tu gostas;
faço tudo no piano,
só não carrego nas costas.
E esse meu dedilhado
ilumina o meu viver:
é a magia do teclado
que é todo o meu bem-querer!
Uma valsa, uma polquinha,
ou suíte ou sinfonia,
toda bela musiquinha
nos traz paz e harmonia!
Deus faz música no Céu:
é o que lá vou encontrar!
Conhecer o Amor sem véu,
e melodia sem par!
A MULHER PRÉ-HISTÓRICA
Eu sou quem lhe acompanhou
por este mundo sem fim;
quem nunca te abandonou
amando-te sempre assim.
Juntos fugimos da ursa
e nadamos pelo rio,
nós caçamos a camurça
e enfrentamos fome e frio.
Na caverna junto a ti
sentia-me em segurança,
nosso ninho era ali,
e no meu ventre a criança.
Aprendi contigo a luta,
a defender-me com faca,
fiz nossas roupas de juta,
carreguei frutas na saca.
Sempre gostei de olhar
o majestoso mamute:
meu bem, é de estasiar:
com ele você nunca lute!
Na campina verdejante
caminhamos sem destino:
seguimos vida errante,
com a menina e o menino.
Pés desnudos no chão duro
sou a tua companheira,
amando-te com apuro,
seguindo-te a vida inteira!
De nossa tribo saímos,
em nômades nos tornamos;
por este mundo partimos,
e assim melhor nos amamos.
E hoje, cabelos ao vento,
conduzimos Su e Alisa;
e dormimos ao relento
quando suave é a brisa.
Com nosso cão Dente Branco
vamos seguindo pro Norte:
— Meu bem, você está meio manco,
aquele tombo foi forte!
Meu marido é carinhoso
e me carrega no colo
sempre muito cuidadoso,
quando o meu pé eu esfolo!
As terras são perigosas,
têm feras que põem medo.
Por montanhas angulosas
seguimos nosso degredo.
Pelos filhos e marido
eu daria a minha vida;
com perigos sempre lido
com meu jeito de atrevida.
O peixe nunca nos falta,
se o urso não aparece;
Alisa dança, peralta,
mas Su com sono adormece!
Que filhos maravilhosos
nós conseguimos ganhar:
às vezes são tão dengosos
são coisinhas pra se amar!
O cachorro é tão fiel
que morreria por nós:
ataca até cascavel
e o réptil mais atroz.
Que o Grande Espírito conduza
a nós para o que vier;
serei sempre a tua musa,
confia nesta mulher.
Neste mundo tão imenso
terei o que sempre quis:
um dia, assim eu penso,
vamos fazer um país!
A PRINCESINHA
Eu sou a Princesa Encantada,
do castelo enevoado,
daquele conto de fada,
naquele tempo passado.
Sou tão bela como a aurora
de voz doce como o mel
lábios rubros como amora
e os olhos da cor do céu.
Não me importo com riqueza,
com todo o brilho do ouro:
mesmo com toda a nobreza
a bondade é o meu tesouro.
Aos pobres eu dou a mão,
ajudo a quem precisar:
o mendigo é meu irmão,
nada quero entesourar.
Visito todo o meu reino
pro meu povo conhecer:
isso pra mim é um treino,
tenho muito que aprender.
O Rei e a Rainha, meus pais,
acham que eu sou sem juízo;
mas quero fazer muito mais,
estar onde for preciso.
Nosso Primeiro-Ministro
eu sei que é meu inimigo:
afastar esse Calistro
vamos ver se eu consigo.
Pois ele só faz o mal
explorando a minha gente;
e dele eu sou a rival,
com ele eu bato de frente!
Derrotar uma princesa
não será assim tão fácil;
eu não tenho só beleza,
sou forte além de ser grácil.
E bajulando os meus pais
comigo tem surda guerra,
que se processa por trás:
este é o drama desta terra!
“Exercer a caridade
não é coisa de princesa!”
Tenho de ouvir, sem vontade,
mesmo quando estou na mesa!
Papai, mamãe, tenham dó!
É assim que Deus me quer:
vocês não me deixem só,
porque esse é o meu mister.
Pois se depender de mim
meu povo terá proteção:
sou uma paladina enfim,
e esta é a minha missão.
De que vale ter riqueza
e ter poder, fama e glória
se morrer é a natureza
e o fim da nossa história?
Plantarmos pra outra vida
é o que devemos fazer:
a princesinha querida
meu povo vai defender.
Eu não quero ser lembrada
como alguém que fez o mal;
nem ser amaldiçoada,
eu quero o Céu afinal.
Por isso até a prisão
eu visito com frequência:
a muitos eu dou perdão,
julgo com a consciência.
Libertei um operário
preso por roubar um pão;
— Sempre vivi do trabalho,
Princesa, tem compaixão!
Porque fui mandado embora,
com cinco filhos em casa,
a minha esposa que chora,
a fome é coisa que arrasa!
Meu bom homem, podes ir
com a ajuda que eu vou te dar:
pois quero, quando eu dormir,
não ter nada a me acusar!
Ó Deus, ó Virgem me amparem
pra que eu faça sempre o Bem:
meu povo não desamparem,
que eu vos dou graças. Amém!
A GOLEIRA
Levo meu trabalho a sério
pra não levar uma surra;
não decorei o Aurélio
mas não sou nenhuma burra!
No futebol feminino
sou uma peça importante:
tenho de ter muito tino
e reagir num instante!
Com o uniforme do time,
o short, a blusa, a chuteira,
que a torcida me anime
pois sou a sua goleira!
Esta função não é fácil,
tenho que saber pular
mas sem deixar de ser grácil
para o meu time ganhar!
Pra jogar tem que ter fé
e amor no coração:
todas jogam com o pé
mas a goleira é na mão!
Com muito amor e carinho
eu penetro no gramado:
sempre dou o meu jeitinho
pro meu gol ficar fechado!
O meu cabelo esvoaça
e dizem, sou bem faceira;
mas com toda a minha graça
eu sei ser boa goleira!
Não esqueço o meu dever
e jogo com elegãncia;
para o clube não perder
eu sou a última instãncia!
Até pênalty eu defendo
pois sou ágil pra valer;
se puder eu não me rendo,
não vim aqui pra perder.
Chego a machucar o dedo
ao segurar um bolão;
porém meu grande segredo
é que ao medo eu digo não.
Na vida particular
sou bem simples, ora veja!
Domingo vai me flagrar
com o namorado na igreja!
Compro com pouco dinheiro,
procuro ajudar meus pais;
este é meu eu verdadeiro,
sou uma pessoa da paz!
Não se briga por esporte,
todos precisam se amar:
esporte é vida e não morte,
corpo e alma cultivar.
Eu respeito a oponente
e vejo nela uma irmã:
ter o amor sempre em mente,
ser da adversária fã.
Como esportista não devo
levar vida na gandaia;
o máximo a que eu me atrevo
é curtir a minha praia!
A minha vida é austera,
não quero me desgraçar;
não corro atrás de quimera,
pra saúde conservar.
Eu amo cada colega
e a guardo no coração:
futebol é uma entrega,
a todas dou minha mão.
Bolinha, tu és minha amiga
e eu vivo a te agarrar:
pra ti canto esta cantiga,
por ti eu vivo a pular!
A vitória nos anima
e me leva a poetar:
poeto sempre com rima,
gosto da vida cantar!
A torcida entusiasmada
nos cercou com brincadeiras:
fui a mais cumprimentada,
me levaram as chuteiras!
A GOVERNANTA
Eu sou no lar agregada,
faço parte da família;
me esforço por ser amada,
cuido da mãe e da filha,
do marido, do menino,
do gato e do cachorrinho;
tenho que ter muito tino,
a todos eu dou carinho.
É responsabilidade
esta minha profissão;
tem que ter sinceridade,
trabalhar com o coração.
A santidade do lar
é uma coisa intocável:
jamais irei macular
fazendo ação reprovável.
Ao lidar com as crianças
viro criança também;
brincar com a menina de tranças,
como isto me faz bem!
Os meninos jogam bola
e trepam pela mangueira;
eu me sinto uma carola,
a alegria é verdadeira.
Aqui também tem gatinho,
tem bicho de estimação;
e ele tem um amiguinho
que é um bem-humorado cão.
Mas nem tudo é brincadeira,
que há muita coisa a fazer;
e chego a ser tesoureira,
e cuido de abastecer
a despensa e a geladeira,
o depósito enfim;
e na função de caseira
todos confiam em mim.
Dentro ou fora desta casa
peço que Deus me proteja;
meu Anjo cubra com su’asa
meu dia-a-dia, assim seja.
Pois sempre vou ao mercado
e acompanho a patroa;
de gênio bem-humorado,
eu não me aborreço à toa.
Dou graças a Deus por ter
emprego bom e amável;
minha gente, é bom viver
com família tão notável.
Eu amo toda esta gente
e dedico a minha vida;
e assim vivo sorridente
e me chamam de querida.
Se aqui chega uma visita
eu sou recepcionista:
— Vem por aqui, Dona Anita;
que bom receber uma artista!
Eu organizo a festa
do “niver” do meu patrão;
vai ter música, seresta,
até dança de salão!
— Eu não sei o que faria
sem você pra me ajudar!
A patroa assim dizia
me fazendo até corar!
Eu possuo autoridade
sobre os demais empregados;
mas exerço com bondade,
não os quero melindrados!
Pois foi a graça celeste
que me confiou tal lar;
ó Deus, que tudo me deste,
a Ti eu quero louvar!
A FÃ
Ah meu amado, meu rei,
queria te sequestrar;
é uma loucura, eu bem sei,
loucura por tanto amar.
Eu peço a Deus que te guie
pelos caminhos do mundo;
que a minha paixão esfrie
e se amares, vais fundo!
Tenho todos os teus discos,
estou sempre a te escutar;
e corro todos os riscos
pra teus shows prestigiar.
Eu luto contra o ciúme
vendo outra te beijar;
quero sentir teu perfume,
quero em teu colo sentar.
Por que tu és tão bonito,
charmoso a mais não poder?
Não quis namorar o Tito
com medo de te esquecer!
Acompanho a tua agenda
e vou aonde tu vais;
e até levo uma merenda
pra fome passar pra trás!
O meu quarto eu forrei
com notícias de jornal
e posters que eu comprei,
tudo de ti afinal.
Quase embarco clandestina
pra seguir-te no avião:
esta enfim é minha sina,
amar-te assim de paixão!
Se algum dia por milagre
vieres me visitar
a minha porta se abre
contente, tu vais entrar!
E terás no meu cantinho
mil coisas pra desfrutar:
comida boa, carinho,
cordinhas pra te amarrar!
Mas não te assustes, meu anjo,
vou só retê-lo um pouquinho
pra ouvir-me cantar no banjo
e te tratar no beijinho!
Que fantasia maluca,
de tanto escrever-te carta
devo estar lelé da cuca,
porque eu nunca fico farta
de mandar-te pela net
mensagens com meu amor;
penso até em te dar um pet
atestando o meu calor!
Quem mais vibra na platéia
sou eu, e posso apostar;
me gratifica a idéia
de teu canto acompanhar!
A tua voz é vibrante
e ressoa no auditório:
a emoção vem num instante,
é o contrário de um velório.
Eu sei que nem adianta
te pedir em casamento;
me sinto até uma anta
nutrindo este pensamento!
Mas milagres acontecem:
quem sabe eu posso tentar?
As rivais não te merecem,
vou na rede anunciar!
Meu coração bate forte
por querer tanto te amar!
Eu te quero até a morte,
meu amor vou proclamar!
Afinal já nos falamos,
assinaste em minha mão,
sabes bem que eu sou mulher;
se quer tentar, então vamos!
Te amarei com devoção
e seja o que Deus quiser!
A ENFERMEIRA
Eu não vejo a Medicina
como um grande negócio:
o que de fato me anima
é ter nela um sacerdócio!
Tratar sempre com amor
todo e qualquer paciente,
ter compaixão, ter calor,
ser um anjo complacente,
esta é a missão da enfermeira
no seu serviço sem fim;
quero que em minha maneira
ninguém tenha queixa de mim.
Nós não podemos ter nojo
de quem devemos cuidar;
levamos amor no estojo,
nosso trabalho é amar.
Temos de ter competência,
com saúde não brincamos;
buscamos experiência,
com fervor nós estudamos.
Me chamam anjo-da-guarda,
isto me deixa feliz;
quero honrar a minha farda,
esta é a vida que eu quis.
Se atendo uma gestante
sinto-me no próprio Céu;
mas que bebê elegante,
com olhos da cor do mel!
Querida, digo à vovó,
suas visitas chegaram;
ela me diz, tenha dó,
ontem mesmo se casaram!
Pois é, vovó, é o amor,
não iriam te esquecer!
sua filha com o doutor
vieram aqui te ver!
Seja freira ou seja leiga
como é bom ser enfermeira!
Ter coração de manteiga,
ser anjo à sua maneira!
Pois não importa quem seja,
a todos tratamos bem:
e é um prêmio, ora veja!
Porque nos amam também.
O médico nos confia
as vidas que lá estão;
ele sabe em quem se fia,
deixa tudo em nossa mão!
Estamos aqui pra tudo
e para em tudo ajudar:
pra isso temos estudo,
lutamos pra nos formar!
Ajustamos bem o soro,
ajeitamos o lençol,
queremos riso e não choro,
faça chuva ou faça sol;
Que Deus nos dê força e garra
que aqui faço a minha parte;
trabalho e não vou pra farra,
pois pra mim é uma arte
dar alívio aos sofredores
insuflar-lhes esperança;
que apesar das suas dores,
jovem, idoso e criança
sintam em nosso hospital
um toque de amizade,
de paz e amor afinal;
nos recordem com saudade!
Mas se a morte triunfar
o possível nós fizemos,
não deixamos de tentar:
não fique assim Doutor Lemos;
o senhor foi bem um anjo,
fez tudo para salvar;
se esta vez não teve arranjo
temos mais gente a tratar!
E se até mesmo o doutor
eu trato de animar
Jesus, oculta minha dor,
só Vós pra me consolar!
A LEITORA
Minha paixão pelos livros
pode crer que não é pouca;
ler pra mim é uma aventura,
até dizem que eu sou louca!
Levo livro na mochila
no ônibus, no metrô;
lendo assim não se cochila,
me chamam até de retrô:
Pois não uso “smartphone”,
não faço “selfie” nem nada;
pois tudo isso consome
tempo, me faz alienada!
A leitura é alimento
e eu seleciono bem:
sem leitura é um tormento,
vejo bons filmes também!
Livros bons tem de montão:
História, Geografia,
Ciência, Religião,
Romance, Biografia!
Não gosto de palavrão,
de romance fescenino,
mas curto da ficção
até o manual canino!
E eu costumo ler deitada
e uso cartão pra marcar
o ponto onde dei parada,
onde vou recomeçar!
Ah, sou fã da Bienal
e rata de livraria,
gasto um pouco, não faz mal,
pois esta é minha mania!
Agatha Christie eu já li
em muitas noites de insônia;
em Gastão Crulz eu curti
as riquezas da Amazônia!
Paulo Setúbal eu amo
e São Tomás, e Asimov;
Edgar Poe eu proclamo
o mestre que me comove!
Você já leu Pollyanna
e a Cabana de Tomás?
Eu leio toda semana
porque livro é bom demais!
Arrume bem seu acervo,
não dispense a boa estante;
leitura faz bem pro nervo,
é um alimento constante.
Você aprende de tudo
e cresce um pouco por dia;
o livro é um professor mudo,
parte da vida sadia.
Lendo eu fico recostada
no melhor sofá da sala
sem sapatos, relaxada,
e a leitura me embala.
E tanta coisa eu conheço
graças a este costume,
tudo isso não tem preço
o livro é o vagalume
que orienta o meu caminho
me acompanha em toda parte,
por ler com tanto carinho
nem o Pedro Malasarte
é mais esperto que eu,
ler portanto é gostosura,
é o fio de Teseu,
e viva a boa leitura!
A JUDOCA
Pra me dar bem no tatame
sigo uma boa dieta:
parei de comer salame
e minha trilha é bem reta:
ter vida morigerada
é exigência do ofício;
e sou entusiasmada
apesar do sacrifício.
Eu amo este meu esporte
que me dá dignidade;
e acredito tenho sorte
porque com tão pouca idade
encontrei o meu caminho,
que me dá tanta alegria:
me empenho com carinho
e o apoio da titia,
da vovó, vovô, papai,
da mamãe, da irmãzinha,
— Muito longe você vai,
— diz minha professorinha!
Utilizo perna e braço,
luto no agarramento,
pego a rival no abraço,
me esforço com sentimento!
Finto, miro, firmo o pé,
procuro o golpe ideal;
na vitória faço fé,
mas amo cada rival!
O importante é competir
com zelo e dedicação;
e vou pra luta a sorrir
e luto com o coração!
Posso perder ou ganhar,
mas beijo a minha oponente;
o esporte é pra alegrar
e purificar a mente!
Yuko, wazari, ippon:
faço tudo com destreza;
e como esse esporte é bom,
vai com a minha natureza!
Tem rapaz que se apaixona
por mim à primeira vista!
Mas igual a uma amazona,
não sou fácil de conquista!
Atleta olímpíca, espero
ser um dia com amor:
honrar meu país eu quero,
esforçar-me com fervor!
Ganhar uma medalhinha
pra marcar minha passagem,
sou só uma garotinha
mas vou lutar com coragem!
Pode crer, sou feminina
e meu sorriso é aberto;
tenho charme de menina
e um olhar bem esperto!
Mas faço questão cerrada
de saber me defender:
se um dia for atacada
vocês vão ver para crer!
E no entanto eu sou meiga,
cortês e muito educada;
derreto como manteiga
se sinto que sou amada.
E é com toda a minha Fé
que eu peço a bênção divina:
Jesus, Maria, José,
sois a luz que me ilumina!
A GEÓGRAFA
Com o globo terrestre em mãos
me sinto dona do mundo;
vejo todos como irmãos
com um afeto profundo.
No meu ofício eu viajo
e vejo as coisas de perto;
com roupa de mato eu trajo
e o meu olhar é esperto.
O mundo todo é meu lar
e onde minha mente habita;
e eu adoro viajar,
sou a Geógrafa Rita.
Eu sempre vejo “in loco”
o povo do interior;
faço do humano meu foco
com um olhar que é de amor.
Sentir a terra no pé,
sentir a água na mão;
ver de longe o jacaré,
cheirar a flor em botão.
E os indiozinhos, que lindos
na vidinha natural;
vivendo sonhos infindos
sem nunca fazer o mal.
O povo do interior
merece ter da cidade
todo carinho e amor,
por sua dignidade.
Mapear a grande terra
com cada vale e montanha
e toda água que encerra
pode crer que é uma façanha!
Mas amo esta profissão
com a qual abraço o mundo;
dou todo o meu coração
e no que faço eu vou fundo!
Nas aulas busco mostrar
que a Terra é acolhedora,
que a devemos estimar
com ternura duradoura!
Meu assunto é na “ia”:
conheço Geografia,
estudo a Geologia,
sou craque em Cartografia!
Você tem que estar no mapa!
Nunca se descuide disso!
Ando na gruta e na lapa,
por expedições me atiço!
Tenho livro publicado,
amo flores e animais;
não é nada complicado
e sempre quero ver mais!
O ambiente, a humanidade,
a floresta, o paredão,
a aldeia e a cidade,
tudo tem interação!
Integrar tanto detalhe
é o meu grande desafio:
que meu talento não falhe,
rogo diante do rio!
Mas eu confio em Deus
que nunca me abandonou;
caminho nos campos seus,
sei que me abençoou.
A NATUREZA SE ENTRELAÇA
Irá Rodrigues
E nos compassos da geografia se encontram
Em muitas curvas se perdem ou se entrelaçam
São montes serras e montanhas
São espaços se aranham....
E o tempo muda tudo como diz o Milton Santos
Sempre há um bom geografo por esses cantos
Num riacho num lago num regaço
Nessa imensidão que encanta o espaço...
E são tantos encantos geográficos nada formais
Com ações criminosas trazendo os desiguais
Povoando desmatando tanto impacto desumano
Não só as florestasmas também o oceano...
O clamor isolado do valee da rocha
Que triste relembra seu verde e chora
E no côncavo e o convexo
Tudo volta ao reverso...
E assim descrevo a geografia
Em simples versos e poesia
Entrelaçando a natureza
Nessa disciplina de riqueza...
Autoria- Irá Rodrigues
Poetisa, geógrafa, autora de contos e livros infantis
A MÉDICA
Das amarguras da vida
a doença é a mais comum;
por isso estou nessa lida,
não quero perder nenhum
paciente que o destino
coloca nas minhas mãos;
tenho de ter muito tino
e ver todos como irmãos.
Eu me sinto sacerdote
cumprindo missão sagrada;
salvar a todos, meu mote,
e me sinto abençoada
se Deus me dá o poder
de debelar a doença
o que mais posso querer?
Esta é a minha recompensa!
Pela noite me desvelo
perco o sono, ganho a vida;
fazer o bem é o anelo,
incumbência tão querida!
Remédio só não resolve,
precisa também carinho:
isso aqui você dissolve
na língua, vai com jeitinho!
Deixa eu tirar a pressão,
ver seu peso, sua altura;
auscultar seu coração,
te examinar com brandura.
Como é frágil a velhinha
que chega aqui amparada;
mais um dia foi mocinha,
como sua neta alourada
que a traz com tanta afeição
e como eu gosto de ver
amor e dedicação,
lealdade pra valer!
Mas nem todos são assim
e me corta o coração
ver tanto abandono enfim,
é uma triste sensação!
Diagnostico o problema,
como posso eu oriento;
Jesus! Mas é tanto dilema
que me falta até o alento!
Até do meu bolso às vezes
eu pago um remédio caro;
ver os pobres como reses
num destino tão amaro
hospitais no abandono
faltando o essencial,
chego a perder o meu sono
chorando o pobre mortal
que depende do sistema
pra poder seguir na luta;
porém comigo não tema,
comigo é mais doce a fruta!
O paciente precisa
ser com zelo bem tratado,
mas um bom médico visa
fazê-lo também amado!
Receito com a consciência,
cada caso é diferente:
se uso a minha Ciência
uso escrupulosamente!
Pois quando chego em meu lar
e vou de noite dormir
quero estar leve e sonhar
e nos meus sonos sorrir!
Eu não quero ter pesada
minha consciência enfim;
quero estar aliviada
por cumprir até o fim
meu dever profissional,
e jamais fazer o mal!
A CAÇULINHA
Sempre que existem irmãos
tem sempre alguém de caçula;
pequena de pés e mãos
me chamam até de gandula!
A maninha e o maninho
não fazem pouco de mim:
e tampouco o meu paizinho,
sou muito amada enfim!
Posso ser muito novinha
mas a minha força espanta:
levo no colo a priminha
que pesa como uma anta!
A mamãe é muito doce,
e me vê como criança;
se criança eu ainda fosse
não estaria na dança!
Pois já faço faculdade
e tenho o meu ganha-pão;
mãezinha, já tenho idade,
já me bate o coração!
A vida inda é muito bela
e descalça na varanda
pareço até Cinderela
perfumada com lavanda!
E o meu Príncipe Encantado
quando virá finalmente?
De há muito é esperado
e há de chegar brevemente!
Sabem, amo a Natureza,
viver cercada de mato,
no verde há tanta beleza
e poesia de fato!
Um canto de passarinho
me transporta para o Céu:
penso até em fazer ninho,
bancar que sou uma xexéu!
Quero ser levada a sério
mesmo sendo a caçulinha;
faço tudo com critério,
sou uma cedêefezinha!
Sempre fui estudiosa
e os colegas me respeitam;
posso até não ser formosa
porém todos me aceitam!
É que Deus é o meu farol
por quem dou a minha vida;
faça chuva ou faça sol
é uma existência querida!
Na igreja, na escola,
no trabalho, no lazer,
ou dando ao pobre uma esmola,
tudo eu faço com prazer!
Levo à rua o cachorrinho,
ajudo a mãe no fogão;
leio um livro com carinho,
com o mano faço a lição!
Não diga que eu sou fedelha
de todo inexperiente,
não faço o que dá na telha
mas o que a razão consente!
Mas aquilo que me move
no frio, chuva ou calor,
também é o que me comove:
no peito carrego amor!
A BOTÂNICA
O que eu amo é a floresta,
botânica como sou;
o verde pra mim é festa,
e é pra lá que eu sempre vou!
Ir na mata é minha vida,
passo horas deslumbrada;
Artur, sem outra saída,
me prende em casa amarrada!
Mas amo o meu maridinho
que faz tudo pro meu bem:
se lhe peço com jeitinho
me acompanha também!
Meu jequitibá gigante,
como é bom te abraçar!
Querido, não se espante,
nem queira se enciumar!
Uso lupa, fotografo,
olho insetos a granel,
você aqui tem que ser safo,
a mata é um aranzel.
E tem cada flor bonita,
cada nome complicado;
olha a camélia catita,
o cipó tão enfezado!
E arrasto o meu Arturzinho
pra cachoeira gelada:
fica comigo juntinho
e eu fico arrepiada!
Mas tudo isso é estudo,
pois faço anotações mil;
de fato reparo em tudo,
naquela flor cor de anil,
e até na bromeliácea,
que nome mais complicado,
na pitangueira, na acácia,
e no tronco avermelhado.
Em árvore eu sei subir
e Artur morre de aflição:
— Cuidado, não vá cair!
— Ora, suba e dê uma mão!
E eu filmo se possível,
que eu faço tudo completo,
acho tudo tão incrível
que o meu coração, repleto
de tanta alegria e paz
bate forte no meu peito,
esta alegria é demais
e eu a levo pro meu leito.
Como botânica estimo
da palmeira até a grama;
cada flor que é um mimo,
e mesmo pisando a lama
este é o meu ambiente,
de folha, raiz e flor,
de caule, fruta e semente,
por plantas eu tenho amor!
Eu peço a Deus que este mundo
em cada adulto e criança
cultive o amor mais profundo
por toda essa pujança!
Que o verde da Natureza
penetre nos corações:
almas verdes, que beleza
florindo em nossos rincões!
A PASTORINHA DE CABRAS
Com a minha calça de brim
levo comigo Avelã
que está sempre junto a mim,
a cabrinha é minha fã!
Solto o canto na montanha
na campina verdejante,
contemplo a teia da aranha
que o raio de sol faz brilhante!
Muito alegre eu pastoreio
com amor no coração;
o trabalho é meu esteio
e eu vivo de pé no chão.
Cabras, toquem seus sininhos
vamos voltando pra casa:
avezinhas vão pros ninhos
hora de recolher a asa.
Cabra é um bichinho amoroso
prova disso é a Avelã;
meu xerimbabo dengoso,
meu tão fiel talismã.
Com meu cabelo curtinho,
olhos negros de alcatrão,
vou seguindo meu caminho
ao longo do ribeirão.
E sob um sol radioso
contemplo a minha cabrinha
comendo um capim gostoso,
como Avelã é fofinha!
Do outro lado do vale
segue a mana com as galinhas
e enquanto o pé não resvale
eu corro com as cabritinhas!
Fazem “mééé” com tanto gosto
fique a mana com as galinhas;
vou ficando no meu posto
e assim as cabras são minhas!
Com blusa quadriculada
caminho a mais não poder
sorrindo, bem-humorada,
com alegria de viver!
A montanha é poesia
num resplandecer vital;
graças meu Deus por tal via,
e aqui não existe o mal!
Como Heidi sou livre e pura,
filha alegre do vergel;
carrego oculta a bravura
tal qual um Guilherme Tel
de quem eu sou descendente
então amo a liberdade,
e quero ser a semente
do amor e da verdade!
Avelã é uma irmãzinha
que me segue aonde eu vou;
tão amiga, pobrezinha,
e jamais me abandonou!
No fundo o meu coração
tem um desejo guardado:
a identificação
do meu Príncipe Encantado!
Mas mesmo se eu me casar
direi firme pro meu bem:
com as cabras tens que ficar,
pois vão comigo também!
A CAIXA DE MERCADO
Minha profissão é dura
e bastante cansativa;
mas a vida é uma aventura
e é sempre bom ser ativa.
É com coragem que eu sigo
lutando para vencer;
ganho pouco, meu amigo,
porém vou sobreviver!
Por enquanto com meus pais
estou no primeiro lar:
olhando a vida pra trás
eu não posso reclamar.
Pois Deus me deu boas pernas
e braços pra trabalhar:
aos soldados nas casernas
eu posso me comparar.
Atender a freguesia
pode crer que é um privilégio,
não fiquei parada um dia
ao terminar o colégio;
ajudo a empacotar
e atendo sempre sorrindo;
pois aprendi a amar
e a achar que o mundo é lindo.
Sei que a freguesa reclama,
tudo é por hora da morte!
Queria muito ir pra cama
mas não me queixo da sorte!
Pois mesmo sentindo sono
e ouvindo reclamação
meu sacrifício eu abono,
trabalho com o coração!
Se não posso melhorar
o mercado, o alimento,
trato de aprimorar
este meu atendimento!
Fico de olho em concurso,
um dia vou progredir,
a vida segue seu curso
e sei que vou conseguir
garantir vida mais leve
pra mamãe e pro papai;
Deus nosso destino escreve
e eu sigo sem dar um ai!
Hoje a fila está bem grande,
cada carrinho tão cheio!
Mas meu coração se expande
vendo criança no meio!
É cada anjinho ajudando
papai, mamãe na labuta;
Gonçalves Dias lembrando:
esta vida é dura luta!
Eu não posso me enganar,
é responsabilidade
com esmero trabalhar
em meu lugar na cidade!
E fico economizando
vivendo sem vaidade,
com outra vida sonhando,
pensando na faculdade!
Ser casada, ter meu lar,
eis o meu sonho dourado;
sem deixar de trabalhar
mas viver com meu amado!
E quero criança em casa,
chega de ver só na fila;
só de pensar crio asa,
e a primeira é a Camila!
Carne, peixe, macarrão;
arroz, manteiga, tomate;
azeite, espinafre, pão;
melão, batata, abacate!
Detergente, mel, sabão;
queijo, sardinha, lasanha;
beterraba, sal, feijão;
cenoura, açúcar e banha!
Tudo isso tem seu preço
mas o que me faz contente
e que eu tenho muito apreço,
é viver honestamente!
A PSICÓLOGA
Na minha vida escolhi esse caminho
e nele sigo sem desanimar:
a todos trato com amor e carinho
e me empenho demais pra não falhar.
Quem recorre a mim não vou abandonar...
No meu consultório os segredos morrem
e todo mundo pode em mim confiar;
a quem sofre e chora os meus braços acolhem
e eu porfio a todos poder ajudar.
Quero a consciência leve quando à noite deitar...
Sou como uma mãe acolhedora
e não é fácil ajudar levando a cruz!
Solidarizar-me com a alma sofredora
tendo sempre em meu coração a Jesus!
Ser para cada irmão que me busca um farol, uma luz...
O mundo se contorce em ódio, intriga, droga, morte;
famílias que se desfazem, uniões que se esvaziam...
difícil encontrar quem não lamente a sua sorte
um caminho sem dor e pranto as multidões porfiam...
que fazer se nos seres mais íntimos já não se fiam?
Esta a nossa missão mais sublime:
estender nossa mão, obter a confiança,
obter que o paciente não desanime,
fazer reviver nele a esperança!
Como se ainda fosse uma criança...
Se pudesse usaria minhas técnica para reformar
este mundo tão confuso e cheio de contradição;
que trabalho de Hércules, é o que eu penso ao chegar
no trabalho, mas chego com amor no coração;
porque afinal cada um que me procura é um irmão...
A moça abandonada pelo esposo crispa a mão
e retorce o corpo na poltrona em nervosismo:
ofereço-lhe uma água, e até um café com pão;
mostro-lhe que há mais na vida que um simples abismo.
Uma palavra amiga às vezes pode mais que um sismo...
E também se uma criança atingida por “bullyng” cruel
sem que pai e mãe saibam claramente o que há
cabe a mim como outra mãe descobrir, desmascarar este aranzel
pois quem me procura uma irmã, mãe e amiga sempre terá:
e com Deus me ajudando tudo logo se esclarecerá.
Que Deus me dê força e alento para seguir em frente
que em sacerdócio se transforme minha missão,
e em meio a pedras e espinhos eu siga alegremente
mesmo ferindo os pés no áspero chão;
pois que tudo o que se faz é bom se for com o coração.
Se eu um dia após longo trajeto olhar pra trás
e saber que deixei pelo caminho risos e flores,
que não levei nenhum cliente a me odiar jamais,
que em vez de ódio enfim semeei amores,
louvarei meu Deus, e amarei todas as minhas dores.
UM CARINHO EM ALMAS
(texto de Elisabete Gouvêa)
Ser Psicóloga é sentir uma necessidade de ajudar ao próximo. Principalmente hoje em dia, onde as pessoas precisam de ajuda, mas ainda carregam um certo preconceito. É ser humana, e ao mesmo tempo ser imparcial. É não envolver-se amigavelmente com o paciente. É tentar desvendar o mistério através das técnicas aprendidas e também através da alma . Sem críticas, preconceito, piedade e lágrimas. É acordar todas as manhãs com uma vontade renovada de ajudar, de fazer o bem, de salvar uma vida, é carregar um misto de valentia, euforia, paciência e autoconfiança. É entender que nem sempre tudo dará certo, mas fazermos a nossa parte com maestria é de grande valia.
Poeta Miguel... É tão doce e tão amargo, tão quente e tão frio... Cruel em algumas vezes, alegre em muitas outras....É o resgatar de esperanças, quando as mesmas estavam quase mortas.É o sorriso no canto dos lábios, É a confiança no olhar...É o arrepio em ter a certeza de que deu tudo certo....Poeta!!
É a lágrima sentida e contida...É a vontade de acarinhar, colocar no colo e proteger...
É o carinho, cuidado, cautela, o zelo, o tato em lidar com a alma humana.
É isso Miguel...É uma alegria infinita, uma esperança que nunca acaba... é uma certeza que brota do nada.... E torna-se o grande pilar em acomodar com maestria tão bela construção.
Deixando um pouquinho de mim...Por um impulso natural da vida, tornei-me Professora;Por uma imensurável necessidade de afagos n'alma,
tornarei-me Psicóloga. (Ainda em formação );E por constatar a minha essência em existir, tornei-me
Poeta.São três paixões que adornam e aromatizam o meu
caminhar.Perfume de Flores - Elisabete Gouvea.
Rio de Janeiro, 2016.
A MOÇA DA SELVA
Eu sou a moça da selva,
e vivo entre os animais:
gosto de pisar na relva,
passear pelas jangais.
O macaco é meu amigo
e os índios me têm respeito.
Como é que eu consigo?
Faço tudo do meu jeito.
Aprendi desde cedinho
a me entender com os bichos,
eu os trato com carinho
e aceito seus caprichos.
Não quero que o caçador
caminhe no meu domínio,
espalhando o seu terror
e trazendo o extermínio.
Deixem meus irmãos em paz,
levem as armas embora:
sou bela mas sou capaz
de expulsá-los agora.
A onça me obedece
e o jacaré me apoia;
e vejam, se me apetece
atiço até a jibóia.
Vocês só querem as peles
e os chifres dos veadinhos;
como podem ser tão reles
andando nesses caminhos?
Não enxergam a beleza
que explode na floresta?
Não vêem que a Natureza
é um esplendor sempre em festa?
Trocam a vida por morte
deixando um rastro fatal;
mas que triste sina ou sorte,
viver pra fazer o mal!
Sou a virgem dos rochedos
que de cabelos ao vento
escala pelos penedos
e se opõe ao seu intento!
Com muita força no braço
e minha faca à cintura
eu jamais me embaraço
e enfrento qualquer agrura!
Os passarinhos me avisam
qualquer perigo mortal:
a vocês que aqui pisam
eu posso lhes ser fatal.
Deus me dê força e alento
e amigos pela cidade:
pois tudo que eu faço e tento
é derrotar a maldade!
Não silenciem os trinados
de milhares de avezinhas:
de filhotinhos de alados
esperando suas mãezinhas!
E não venha a moto-serra
derrubar o ipê roxo,
tornar deserta esta terra,
destruir o lar do mocho!
Que tanto vale o dinheiro
que vocês vendem a alma
e nem percebem o cheiro
das flores, que nos acalma?
Acabar com o paraiso
desta vida tão pujante?
É sinal de pouco ciso
ofício tão infamante.
Enquanto a vida sorrir
pra mim, a filha do mato,
isto aqui vai existir,
com a selva fiz este trato.
MEU AMOR À NATUREZA(Norma Aparecida Silveira de Moraes)
A natureza é um presente de Deus
Para que possamos viver bem
Ele a protege para os filhos Seu
Mas devemos cuidar dela também
A natureza é com toda certeza
O nosso lar, o nosso habitar
É de grande e profunda beleza
Cuidar é o dever conscientizar
O cenário natural é só magia
Que encanta qualquer vivente
Nele concentra toda harmonia
Da perfeição tão transparente
Seja então no belo verdejante
Que seja no universo colorido
Seja em suas nuances variantes
Tudo é perfeito, e tão florido
Nesta natureza tão radiante
De tantos mistérios e olores
De fauna, flora tão abundantes
De águas transparentes incolores
Na terra é o meu rico ninho
No céu vejo a iluminação
Seja de dia, noite no caminho
Junto tanto amor ao meu sertão
Sou a Poetisa Norma Aparecida Silveira de Moraes.
Uma adoradora da natureza, pois tudo me encanta e
Emociona, deste ver o nascer de uma pequena, flor,
animal, flor, até de uma nascente.
A natureza merece sim ser venerada e prestigiada,
Deve ser muito cuidada, as nascentes, fauna e flora preservados
para que os moradores futuros possam usufruir de todas
as maravilhas presente.
Sou também escritora, psicóloga, espiritualista, católica e estudante de misticismo.
Me preocupo muito com o futuro do planeta e estou sempre escrevendo
e dando dicas para a preservação da natureza. E como nasci na zona rural em Minas Gerais,
entendo bem o que é preservar ou destruir a natureza.
Saudações á natureza, enfim aos quatro, ÁGUA, TERRA, SOL E AR, e ao quinto elemento que dão origem a vida e o existir.
A ARQUIVISTA
No meu mundo emparedado
me sinto como rainha;
meu trabalho é caprichado
pois sou muito esforçadinha.
E lido em computador
e sei fazer um fichário:
só trabalho com amor
neste meu labor diário.
Subo a escada de mão
e atendo toda demanda;
cada colega é irmão,
sem mim a coisa não anda.
Mas atendo com sorriso
a quem recorre a mim;
qualquer coisa errada aviso:
— Aqui está dando cupim!
Se precisar eu xeroco
e ordeno todo papel;
mantenho tudo em foco,
aqui nada fica ao léu.
Posso não ganhar fortuna
mas tenho dignidade;
cabelos cor da graúna,
olhar que lembra a saudade,
sou uma garota bonita
mas gosto de trabalhar;
uma arquivista catita
e aqui também é meu lar.
Faço planilha com gosto,
nada fica extraviado;
enquanto eu estiver no posto
o serviço é caprichado.
Arquivo é morto ou é vivo,
importa bem definir;
pra isso estudei arquivo,
pra nada errado sair.
Pois formei-me em faculdade
chamada Arquivologia;
que tem por finalidade
a guarda de cada via
de todo e qualquer documento
até a hora do expurgo;
cuidar disso é meu alento
entrincheirada em meu burgo!
Preciso daquela pasta,
minha chefe me avisa;
e numa estante tão vasta
eu logo encontro a precisa.
Por isso sou importante
no esquema da empresa:
e assim a todo instante
requisitam minha presteza.
Recibos de pagamentos
fichas de cadastramento;
processos e documentos
chegando a todo momento:
tem que ser desinibida
e é trabalho de mulher:
da entrada até a saída
é tudo aqui com a Ester!
Sei que eu sou uma gracinha,
um cabelo que é um amor,
unha em lilás pintadinha
e meu olhar sedutor.
Minhas mãos são tão sedosas
e o nariz arrebitado,
minhas pernas graciosas
sou bonita até de lado!
Mas não se engane comigo
pois na vida eu naveguei
e não sou fácil, amigo:
gente à beça eu arquivei!
A CAIXA DE LOJA
Meu trabalho é envolvente
e muito movimentado:
vejo tudo quanto é gente,
tenho colegas ao lado!
E pego a mercadoria,
passo o código de barra;
o pente, o livro, a bacia,
o devedê ou a jarra,
tudo tem que ter seu preço
e forneço a sacolinha;
me recompensa o apreço
que demonstram por euzinha!
Sabem, onde tem comida
é um prazer trabalhar:
se tem bala colorida
isso até eu vou comprar!
Trabalho com devoção
comendo um “Sonho de Valsa”,
pernas por trás do balcão,
ninguém vê que estou descalça!
“Cream-cracker” é gostoso
e aqui tem muita saída;
e o cereal saboroso
leva a freguesa sabida!
Bem, não posso ser gulosa,
pois tenho que trabalhar:
quero ser magra e charmosa
e meu sorriso mostrar!
Livro eu gosto de vender,
isso é bom incentivar:
todo mundo tem que ler
pra se informar e formar!
Mas é uma vida apertada
pro meu salário chegar:
ganhar pouco é uma maçada;
não posso mesmo esbanjar!
E pra casa eu vou a pé,
mesmo sendo um estirão:
mas tenho otimismo e fé,
isso é bom pro coração!
Aqui passa todo dia
verdadeira procissão:
e eu atendo, “mama mia!”
toda essa multidão!
Mas eu trabalho sorrindo,
com todos eu sou gentil:
— Oi Susy, com vai indo,
você é caixa nota mil!
E como é gratificante
ser cortês com os fregueses:
sentir-me bem cada instante
e assim ir passando os meses.
Tenho Deus por grande amigo,
Ele me dá proteção:
e livra-me do perigo
e do caminho malsão!
E assim com o Céu me ajudando
eu sigo esta minha via,
e vivo alegre, cantando,
dando amor à freguesia!
Sou pobre e sei muito bem
que não vou enriquecer;
mas tenho Jesus, Amém!
Mais não preciso querer.