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ENTREVISTAS
LEONARDO PEREIRA, presidente da CVMJULIO ESTEVAM DE BRITTO
JUNIOR, presidente da Quality software
AGRONEGCIO
O BRASIL TESTA A fORA DO SETOR
CONTRAPONTO
NAS IGREJAS DO CENTRO, AS ORIGENS DE SO PAULO
n 20/2014www.bmfbovespa.com.br/
ENTREVISTAS
LEONARDO PEREIRA, presidente da CVMJULIO ESTEVAM DE BRITTO
JUNIOR, presidente da Quality software
AGRONEGCIO
O BRAsIl tEstA A fORA dO sEtOR
Contraponto
nas igrejas do Centro, as origens de so paulo
GOVERNO ESTIMULA OACESSO dE pEqUENAS E MdIAS
EMpRESAS AO MERCAdO
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CARTA AO LEITOR
ENTREVISTAS
LEONARDO PEREIRA, presidente da CVMJULIO ESTEVAM DE BRITTO
JUNIOR, presidente da Quality software
AGRONEGCIO
O BRASIL TESTA A fORA DO SETOR
CONTRAPONTO
NAS IGREJAS DO CENTRO, AS ORIGENS DE SO PAULO
n 20/2014www.bmfbovespa.com.br/
ENTREVISTAS
LEONARDO PEREIRA, PRESIDENTE DA CVMJULIO ESTEVAM DE BRITTO
JUNIOR, PRESIDENTE DA QUALITY SOFTWARE
AGRONEGCIO
O BRASIL TESTA A FORA DO SETOR
CONTRAPONTO
NAS IGREJAS DO CENTRO, AS ORIGENS DE SO PAULO
GOVERNO ESTIMULA OACESSO dE pEqUENAS E MdIAS
EMpRESAS AO MERCAdO
2014 N20
Ciente do papel de fomentar o conhecimento e difundir as
melhores prticas na gesto de risco e trading, a BM&fBoVespa
busca sempre contribuir efetivamente com o desenvolvimento dos
mercados financeiro e de capitais.
por essa razo, optou por relanar a Resenha da Bolsa publicao de
contedo es-pecfico com artigos tcnicos produzidos por profissionais
de mercado e acadmicos, alm de entrevistas, notcias e agenda de
eventos.
sendo assim, esta a ltima edio da Revista da Nova Bolsa, que
traz como tema predominante a importncia do mercado de
capitais.
destacam-se a entrevista do presidente da Quality software, que
fala do ingresso da empresa no segmento Bovespa Mais; e o ensaio de
fabio Gallo sobre os mercados de bolsa como instrumentos de
liquidez e de prosperidade. a educao financeira apresentada de
vrios aspectos, da matria sobre a enef entrevista com o presidente
da CVM, leonardo pereira.
o agronegcio tratado por sua importncia nica: um setor que tem
peso decisi-vo para o equilbrio da balana comercial, como
demonstrou o seminrio perspectivas para o agribusiness
2014-2015.
J a seo Contraponto trata das igrejas do Centro, desde os
primeiros tempos da cidade de so paulo, com a presena dominante dos
jesutas.
agradecemos a todos os leitores e esperamos que, com a nova
publicao, tambm possamos continuar contribuindo para a disseminao
do conhecimento tcnico de qualidade, que marca todas as atividades
da Bolsa.
Boa leitura!
Coordenao editorial: fbio pahim Jr.Editores: patrcia Brighenti e
theo CarnierEdio final: rose JordoEdio de arte e diagramao: rogerio
Guerra Reviso: rosangela KirstColaboraram nesta edio: Carlos
antonio rocca, fabio Gallo Garcia, Jos roberto nassar, Maria Jos
pahim, patrcia franco e silvia penteado
foto da Capa: aGnCia luZ a Revista da Nova Bolsa uma publicao
trimestral da BM&fBoVespa. o contedo desta publicao no
representa a opinio da Bolsa, nem deve ser interpretado como
recomendao de compra ou venda de ativos. os artigos assinados
expressam a opinio de seus autores. proibida a reproduo parcial ou
integral de textos contidos nesta publicao.
Diretor Presidente: edemir pintoDiretoria Executiva: Ccero
Vieira neto, daniel sonder, eduardo r. Guardia e luis furtado
Conselho de Administrao: pedro pullen parente presidente,
Marcelo fernandez trindade Vice-presidente, alfredo antnio lima de
Menezes, andr santos esteves, Charles peter Carey, Claudio luiz da
silva Haddad, daniel luiz Gleizer, Jos roberto Mendona de Barros,
Jos de
Menezes Berenguer neto, luiz fernando figueiredo e luiz nelson
Guedes de Carvalho
issn 1983-8182BM&fBoVespa
rua XV de novembro, 275 5 andar, so paulo/sp Cep 01013-001
RESENHA UMA PUBLICAO TCNICA DA BM&FBOVESPA
DA BOLSA
-
entreVistas CapaGoverno estimula o acesso de pequenas e
mdias empresas ao mercado Mercados de capitais so fundamentais
para o desenvolvimento econmico. a publicao da Mp 651 busca
demonstrar o compromisso do governo com o desenvolvimento do
mercado de capitais. as medidas anunciadas destinam-se a empresas,
investidores e intermedirios financeiros. pretendem viabilizar a
capitalizao das companhias de porte mdio, atrair investidores
pessoas fsicas para o mercado de capitais, favorecer a formao de
poupana, ampliar o volume de emisses de debntures de infraestrutura
e simplificar as transaes na Bolsa. Fabio Pahim Jr.
As bolsas de valores como centros de liquidez Milhares de
investidores, pessoas fsicas e institucionais, operando por
centenas de corretoras e outros agentes, exercem a lei da oferta e
da procura e realizam a transferncia de milhes e milhes de recursos
monetrios para o desenvolvimento das empresas, do prprio mercado e
da economia. esse exerccio s pode ocorrer num mercado transparente
e com informaes instantneas. Fabio Gallo Garcia
6
12
18 2918
ensaio25
leonardo pereira, presidente da CVM
O mercado brasileiro de capitais pode dobrar de tamanho em dez
anos, prev o presidente do rgo regulador, esse mercado poder dobrar
de tamanho. por ora, ele ainda pouco ativo na economia, representa
1% de todos os investimentos privados do pas: r$8 bilhes. um dos
caminhos para seu fortalecimento a educao financeira.Silvia
Penteado
Julio esteVaM de Britto Junior, presidente da Quality
software
O Bovespa Mais traz visibilidade empresa a Quality software a
nona empresa a entrar no seg-mento Bovespa Mais, porta de entrada
de pequenas e mdias empresas no mercado acionrio. e a segunda do
setor de ti integrante da carteira de aes da Bn-despar a ter aes
listadas no Bovespa Mais. Silvia Penteado
NDICE
4 REVISTA DA NOVA BOLSA
-
Alternativas para o desenvolvimento do mercado brasileiro uma
das mais completas anlises sobre as empresas abertas do pas e sobre
o mercado de capitais foi desenvolvida pelo Cemec. o trabalho
mostra que h enorme espao para o crescimento, mas so necessrias
reduo das taxas de juros e diminuio da dependncia dos instrumentos
de dvida pblica.Carlos Antonio Rocca
O Brasil testa a fora do setor a BM&fBoVespa promoveu o
seminrio perspectivas para o agribusiness 2014-2015, atraindo
importantes autoridades e especialistas de um setor que tem peso
decisivo na economia brasileira, favorecendo at a poltica
anti-inflacionria e permitindo o desenvolvimento de um expressivo
mercado de ttulos negociados em bolsa.Theo Carnier
Com a Enef, ganha corpo a educao financeira Cresce o
envolvimento pblico e privado com a educao financeira, de que
participam instituies federais, companhias privadas, associaes de
classe e a associao de educao financeira do Brasil (aef-Brasil),
criada por anbima, febraban, CnseG e BM&fBoVespa. Silvia
Penteado
Relato Integrado: gerao de valor evento promovido pela
BM&fBoVespa e outras entidades do mercado financeiro e de
capitais lana diretrizes para a produo de relato integrado em lngua
portuguesa, visando estimular empresas a publicarem relatrios
explicando como uma organizao gera valor ao longo do tempo.Patrcia
Franco e Rose Jordo
Nas igrejas do Centro, as origens de So Pauloa histria das
igrejas paulistanas ganha atualidade com a canonizao, em abril, do
padre anchieta, que era apenas um novio no momento da fundao da
cidade pelos jesutas. nos templos catlicos mais antigos so vistos
traos da histria da cidade, numa poca de grande poder eclesistico,
ajudando a definir o carter paulistano.Maria Jos Pahim e Patrcia
Franco
34 68
aGroneGCio
eduCao
sustentaBilidadeMerCado de Capitais
on-line
liVros
Contraponto
29
6034
52
42
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REVISTA DA NOVA BOLSA 5
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ENTREVISTA
6 REVISTA DA NOVA BOLSA
LEONARDO PEREIRAPresidente da CVM
O MERCADO DE CAPITAIS DO PAS PODE DOBRAR DE TAMANHO
por SILVIA PENTEADO*
O mercado de capitais pode dobrar de tamanho nos prximos dez
anos, acredita o presidente da Comisso de Valores Mobilirios (CVM),
Leonardo Pereira. O mercado ainda pouco ativo na economia,
representa 1% de todos os investimentos privados do Pas: R$8
bilhes.
E a educao financeira um pilar fundamental tanto para o
desenvolvimento do Pas quanto para a eficincia e a solidez do
Sistema Financeiro Nacional. No d para desenvolver o mercado se as
pessoas no entendem o bsico, no compreendem a importncia de poupar,
afirma Pereira, que, alm de dirigir a CVM, presidiu, no primeiro
semestre de 2014, o Comit Nacional de Educao Financeira (Conef ).
Quando eu estava me preparando para assumir a CVM, listei os temas
mais importantes e desafiadores e a resposta sempre passava pela
educao financeira, disse ele nesta entrevista Revista da Nova
Bolsa.
A CVM vem cumprindo, nesse campo, um conjunto de aes prprias e
de apoio a vrias iniciativas do mercado e da sociedade. Uma dessas
aes foi o 1 Concurso Nacional de Redao e Vdeo, que premiou trs
redaes e trs vdeos de jovens estudantes e cuja segunda edio est em
curso. Temos que fazer nossa parte como reguladores, mas isso no
basta, pois, apesar de toda a regulao e fiscalizao, a deciso est
nas mos de cada um. No podemos tirar o poder de deciso do
investidor, mas temos que dar o conhecimento para ele poder tom-la
de forma consciente.
Alm do engajamento na questo educacional, a CVM vem
desenvolvendo uma srie de programas e projetos visando tornar o
mercado cada vez mais eficiente e mais profissional. Isso inclui o
aperfeioamento da governana e da transparncia, o financiamento de
longo prazo, a normatizao, a agilidade dos processos, a capacitao
interna, a reflexo estratgica para os
prximos dez anos. preciso pensar em medidas, segundo Pereira,
que levem para o futuro. O mercado de capitais deve participar mais
ativamente do desenvolvimento sustentvel de nossas empresas. A
necessidade de investimentos significativos nos prximos anos cria
uma oportunidade para a construo de um mercado de capitais mais
forte e traz uma responsabilidade nova para seus agentes, incluindo
o regulador.
Mas, se h muito a ser feito, tambm h avanos, enfatizou. Temos
mania de achar que o Brasil est atrasado em tudo. Mas no assim. H
setores em que estamos no mesmo nvel e em alguns at frente dos
demais pases. A nossa indstria de fundos, por exemplo, vem
crescendo e ganhando destaque mundial. Hoje usada como referncia
por vrios mercados. Os derivativos so outro bom exemplo. Eles
geraram a crise de 2008 porque eram muito pouco regulados l fora,
ao contrrio daqui. Sempre tivemos regras bastante sadias. Os ttulos
so registrados, negociados e compensados em bolsa. Resultado:
viramos referncia, somos usados como benchmark.
Leonardo Pereira comemora tambm a escolha da CVM, no incio do
ano, como membro permanente do Conselho de Superviso (Monitoring
Board) da Fundao IFRS (International Financial Reporting
Standards), formado por autoridades do mercado de capitais
responsveis por definir a forma e o contedo da informao financeira
no mbito de suas jurisdies. Um grande passo para a CVM, tanto pelo
reconhecimento internacional do trabalho que vem sendo feito pelo
Brasil em termos de divulgao de informaes financeiras, quanto pela
possibilidade de intensificar o intercmbio e a troca de experincias
para o desenvolvimento do mercado de capitais nacional.
A seguir, os principais tpicos da entrevista de Leonardo
Pereira.
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REVISTA DA NOVA BOLSA 7
Revista da Nova Bolsa Como ava-liaa importncia da educao e, em
especial, da educao financeira para o Pas, o mercado financeiro e a
sociedade?Leonardo Pereira A educao e a educao financeira so um
pilar funda-mental para o desenvolvimento do Pas e para aumentar a
eficincia e a solidez do sistema financeiro nacional. No d para
desenvolver o mercado se as pessoas no entendem o bsico, no
entendem a im-portncia de poupar. A educao finan-ceira que deve
chegar a todos os nveis de idade, de conhecimento, de renda deve
estimular a formao de poupana e um maior investimento no mercado de
capitais, melhorando a compreenso por parte da populao dos produtos
e servios financeiros e tambm a consci-ncia das oportunidades e
riscos envol-vidos. Com isso, as pessoas so levadas a fazer
escolhas conscientes em relao administrao de seus recursos. Temos
que fazer nossa parte como regu-ladores, mas isso no basta, pois
apesar de toda a regulao e fiscalizao, a deciso est nas mos de cada
um. No podemos tirar o poder de deciso do investidor, mas podemos
dar o conhecimento para ele poder tom-la de forma consciente.
R.N.B. O Conef props que as aes de educao financeira fossem
voltadas tambm para aposentados e mulheres beneficirias do
progra-ma Bolsa Famlia. Esse processoj comeou? L.P. O Conef um frum
amplo, que inclui representantes dos mais va-riados setores
(Febraban, Bolsa, ministrios, regulador), unidos em aes de
abrangncia multiplicadora. Essas aes devem atingir todos os
pblicos: de alunos da escola primria at a populao da terceira
idade. Quando eu estava me preparando para assumir a CVM, listei os
temas mais importantes e a resposta sempre passava pela educao
financeira. Temos uma jornada longa e desafiadora pela frente, mas
temos que seguir passo a passo. As aes com outros pblicos, como
aposentados e mulheres beneficirias do Bolsa Famlia, ainda no foram
iniciadas, mas devero acontecer. R.N.B. J houve algum avano
importante nesse sentido? L.P. Sim. De acordo com levantamento
feito em 2013 pelo Mapa da Edu-cao Financeira no Brasil, existem
hoje 803 de iniciativas voltadas a orientar a populao brasileira em
relao s boas prticas da gesto financeira. Isso representa quase
oito vezes mais do que o levantamento anterior, de 2010, o que d
bem a dimenso que o tema vem ganhando no Pas. Costumamos falar
sobre tudo o que ainda preciso fazer, mas acho importante tambm
aG
nC
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uZ
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ENTREVISTA
8 REVISTA DA NOVA BOLSA
destacar o que j est sendo feito. O Conef realizou em maio a
primeira edi-o da Semana Nacional de Educao Financeira em que se
discutiu o tema e se apresentaram vrias experincias bem-sucedidas.
O 1 Concurso de Re-dao e Vdeo, que teve sua premiao divulgada
durante a Semana, atraiu um bom nmero de inscritos. E no estamos
falando apenas de So Paulo e Rio. Mas de todo o Brasil. O interesse
que o concurso despertou nas escolas e entre os alunos e a
quantidade de aes em andamento por todo o Pas me deixaram muito
otimista. Essas experincias tm de ser aprofundadas e real-adas.
Todas elas so uma lio de perseverana, de persistncia.
R.N.B. As concluses que constam do relatrio do Banco Mundial
so-bre a educao financeira ficaram dentro do esperado ou entende
que houve alguma surpresa? L.P. As concluses do relatrio do Banco
Mundial no trouxeram grandes surpresas, mas foram auspiciosas e so
importantssimas porque fazem pen-sar, ajudam a refletir sobre erros
e acertos, o que certamente nos auxiliar a aperfeioar o que j est
sendo feito. Os resultados nos deixam atentos ao que falta fazer e
felizes com o que j foi feito. R.N.B. Alm da educao financeira,
quais as aes em curso naCVM?L.P. O objetivo final da CVM tornar o
mercado cada vez mais eficiente e mais profissional. Por isso, alm
da educao financeira fundamental, nos preocupamos em avanar tambm
na capacitao dos agentes do mercado financeiro brasileiro. Todo
mundo quer que o mercado cresa e, para isso, gesto de risco
importante, mas tambm preciso investir em capacitao de todos os
agentes, nos rgos reguladores e nas empresas. Tambm no nos
descuidamos da misso de proteger o investidor. Acompanhamos com
cuidado todos os movimentos que existem no mercado. A SOI,
Superin-tendncia de Proteo e Orientao aos Investidores, rea
responsvel pela orientao do investidor, tem tido uma agenda pesada
de palestras e semin-rios por todo o Pas. Andando junto est a
atividade de normatizao, com novas normas sendo editadas e a reviso
das mais antigas, para uma adapta-o s novas necessidades do
mercado. Algumas, como a autorizao para publicar ofertas pblicas
via internet, j saram do papel; outras esto em andamento, como a
alterao da Instruo 409/04, que regula a indstria de fundos de
investimento brasileira. Tambm este em foco o financiamento de
longo prazo das pequenas e mdias empresas, com mais agilidade nas
decises, menos papel. R.N.B. Existe uma estratgia para alcanar
esses objetivos? L.P. Sim. Num trabalho conjunto com comits que
reuniram cerca de 200 pessoas, elaboramos nosso Planejamento
Estratgico que contempla todas essas prioridades, todas essas aes.
importante termos fundaes estra-tgicas firmes, baseadas numa
reflexo sobre o que queremos para os prxi-mos dez anos. preciso
pensar em medidas que levem para o futuro. Nosso Planejamento
Estratgico estabelece objetivos para que a entidade possa
as-segurar o funcionamento eficiente, a integridade e o
desenvolvimento desse mercado no curto, mdio e longo prazos,
aprimorando sua atuao regu-ladora e fiscalizadora do mercado de
capitais brasileiro. Para implantar os
O mercado de capitais brasileiro est entre os 12
maiores do mundo e a economia
brasileira a stima, logo h um espao muito grande para
crescer. Hoje, o mercado brasileiro ainda tem poucas
centenas de companhias abertas,
enquanto outros pases tm mais de
4 mil
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REVISTA DA NOVA BOLSA 9
projetos e aes nos prximos dez anos, foi criado o Comit de
Governana Estratgica, que apoiar a Superintendncia de Planejamento.
Para a reali-zao desse trabalho, avaliamos tendncias mundiais, mas,
principalmente, conversamos e ouvimos um nmero significativo de
interlocutores tanto no Brasil como no Exterior. O Brasil um dos
poucos pases da Amrica Latina que tem uma estratgia, uma direo para
essa jornada sem fim.
R.N.B. Toda essa discusso de objetivos estratgicos est sendo
feita somente pela CVM?L.P. No, temos tido a preocupao de ouvir o
mercado, de garantir sua participao nas decises. At dezembro de
2013, foram realizadas 13 au-dincias pblicas, das quais 10 foram
encerradas; 14 normas foram edita-das. Acreditamos que a coordenao
entre os diversos agentes do mercado deve ser forte. Tanto as
discusses sobre os temas como as propostas de solues tm de ser
feitas de forma conjunta, assim as solues para temas complexos e
sensveis podero vir mais rapidamente e mais firmes. As alte-raes
Instruo 409, por exemplo, refletem as propostas elaboradas pelo
Comit Tcnico de Ofertas Menores, do qual participam representantes
da Abvcap, BM&FBOVESPA, IBGC, Finep. At o fim do ano deve estar
pronto um conjunto completo de regras e diretrizes para reduzir a
burocracia e os custos de operao e com transparncia para que as
pequenas e mdias em-presas acessem o mercado de capitais.
R.N.B. Qual sua avaliao do mercado de capitais brasileiro? H
mo-tivao para a abertura de capital? L.P. O mercado de capitais
brasileiro est entre os 12 maiores do mundo e a economia brasileira
a stima, logo h um espao muito grande para crescer. Hoje, o mercado
brasileiro ainda tem poucas centenas de compa-nhias abertas,
enquanto outros pases tm mais de 4 mil. Para mudar esse quadro,
mais pessoas precisam se sentir confortveis para investir e para
isso precisamos de duas coisas importantes e simples: confiana e
transparncia, que so consequncias de melhor governana. O mercado de
capitais deve participar mais ativamente para o desenvolvimento
sustentvel de nossas empresas. A necessidade de investimentos
significativos nos prximos anos cria uma oportunidade para a
construo de um mercado de capitais mais forte e traz uma
responsabilidade nova para os seus vrios agentes, incluin-do o
regulador. Um mercado de capitais que cresa em bases consistentes e
slidas deve exercer plenamente seu papel de alavanca do crescimento
eco-nmico, exercendo um papel importante, complementar, ao lado dos
bancos e dos bancos de desenvolvimento. No longo prazo, preciso que
trabalhem de forma articulada.
R.N.B. Como o senhor avalia as empresas brasileiras?L.P. As
empresas esto bem. Temos companhias em vrios estgios de
de-senvolvimento. H grandes empresas extremamente saudveis e outras
em processo de crescimento. Acredito que o mercado de capitais uma
alter-nativa para ambas. O Brasil est muito inserido no mercado
global. Temos bons exemplos de conduta, mas tambm de coisas que no
se devem fazer. Cabe ao regulador manter normas atualizadas e sanes
eficazes e rpidas de
Temos a mania de achar que o Brasil est atrasado em tudo. Mas no
assim, h setores em que estamos
no mesmo nvel e, em alguns, at
frente dos demais pases. Alm dos
derivativos, citaria a nossa indstria de fundos que
vem crescendo e ganhando destaque
mundial. Hoje usada como
referncia por vrios mercados
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ENTREVISTA
10 REVISTA DA NOVA BOLSA
forma a oferecer um mercado de capitais equilibrado, que exera
um papel claro no desenvolvimento sustentvel das empresas e do Pas.
R.N.B. Como o senhor v o futuro dos mercado de capitais e
financei-ro no Brasil?L.P. Quase todos os cenrios feitos para a
elaborao do nosso Planeja-mento Estratgico apontam que o mercado de
capitais brasileiro pode mais do que dobrar de tamanho nos prximos
dez anos. Ele ainda pouco ativo na economia. Representa 1% de todos
os investimentos privados do Pais: R$8 bilhes, em um montante de
R$719 bilhes. O mercado deve criar al-ternativas para canalizar
poupanas e financiar o crescimento do Brasil. As oportunidades de
investimento no Brasil so enormes, mas, se no houver regulao clara,
adequada e rigorosa, o mercado corre o risco de perder a
oportunidade de crescer. E foi justamente para que a CVM continue
atuan-do de forma eficiente nesse mercado em expanso, garantindo
que o merca-do de capitais cresa em bases consistentes e slidas,
que elaboramos no ano passado nosso Planejamento Estratgico.
R.N.B. Os estragos causados no mercado de capitais pela crise de
2008 j foram revertidos?L.P. No Brasil, a crise de 2008 teve
impacto muito diferente de outros pases. Aqui, por exemplo, no
houve problemas com os derivativos, que geraram a crise l fora.
Isso porque l fora eles eram muito pouco regulados, enquanto aqui
sempre tivemos regras bastante sadias. Os ttulos so registrados,
nego-ciados e compensados em bolsa. Resultado: viramos benchmark.
Temos a mania de achar que o Brasil est atrasado em tudo. Mas no
assim, h setores em que estamos no mesmo nvel e em alguns at frente
dos demais pases. Alm dos derivativos, citaria a nossa indstria de
fundos que vem crescendo e ganhando destaque mundial. Hoje usada
como referncia por vrios mer-cados. Mas, claro, a crise global
afetou nosso mercado. Fez com que o ciclo de mudanas tecnolgicas
ficasse ainda mais curto, fortaleceu as redes sociais, alterou
drasticamente o processo de lidar e usar informaes, ampliou a
ino-vao dos produtos financeiros, criando novas oportunidades e fez
crescer a atuao de investidores globais. Mas acredito que o
redesenho do mercado financeiro internacional j aconteceu. A grande
questo como fazer melhor para ficarmos menos vulnerveis a novas
crises.
R.N.B. Como o senhor v o desenvolvimento do mercado secundrio de
renda fixa?L.P. Ningum discute a importncia e a necessidade de se
desenvolver o mercado de capitais de renda fixa no Brasil e, nessa
tarefa, o papel do regu-lador estimular iniciativas que
possibilitem o crescimento do mercado e o desenvolvimento de novos
produtos de forma segura. Por isso, a CVM est trabalhando em
alteraes regulatrias que possam colaborar com o desen-volvimento
desse mercado, atualizando as normas, mas sempre tendo a pro-teo ao
investidor como um dos focos principais. Dois exemplos de como est
se dando esta atuao so as revises das Instrues 476, que possibilita
emisses com esforos restritos de ativos, e da 480, que criou a
categoria de emissor exclusivo de dvida.
A educao financeira que
deve chegar a todos os nveis de idade, de conhecimento, de renda
deve
estimular a formao de
poupana e maior investimento no
mercado de capitais, melhorando a
compreenso por parte da populao
dos produtos e servios financeiros
e tambm a conscincia das oportunidades e riscos envolvidos
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REVISTA DA NOVA BOLSA 11
R.N.B. Qual sua avaliao da governana corporativa no Pas?L.P. A
governana corporativa nada mais do que um conjunto de regras
utilizadas em qualquer grupo que tenha pessoas interagindo, que as
deixe confortveis. Elas sempre existiram nas companhias, sem que as
pessoas se dessem muito conta. Tambm na CVM, que tem como uma das
prioridades trabalhar para assegurar que se construam estruturas de
governana mais fortes, o tema sempre esteve na agenda. As diversas
crises, grandes ou no, sistmicas ou no, que afetaram de alguma
forma o nvel de confiana no mercado nos ltimos tempos, comearam
devido a questes de governana. Por isso, melhorar um desafio,
fundamental para que o Brasil tenha um mercado de capitais forte e
que continue crescendo em bases slidas. R.N.B. Mas j houve um
grande avano, no? L.P. Claro, nos ltimos 15 anos, houve um avano
muito grande. Podemos dizer que hoje h uma crescente conscientizao
dos investidores sobre suas responsabilidades. Ningum mais fala em
ir para a Bolsa e no ir para o Novo Mercado. Mas, apesar disso,
ainda temos muito para evoluir. Os avanos nas questes de governana
corporativa so imperativos. A inovao e a com-plexidade de produtos
no vo parar e as mudanas que podem impactar os mercados precisam
ser bem entendidas e gerenciadas. o aperfeioamento da governana que
permite que isso acontea. A CVM tem compromisso de ser observadora
atenta nesse processo. O investidor brasileiro precisa ficar
confortvel em aplicar, pois sabe que h uma infraestrutura
regulatria sli-da, regras claras. Mas importante destacar que h na
governana corpora-tiva discusses difceis, sem respostas claras.
Nossa preocupao que essa discusso no penda para nenhum lado, no
proteja s um grupo. Todos tm de ceder em algumas coisas, mas no nas
fundamentais.
R.N.B. Como avalia os aspectos relativos sustentabilidade das
com-panhias? L.P. Este um assunto da moda. Mas importante
considerar que h um espectro muito amplo de discusso em relao
sustentabilidade. O Brasil enorme. H empresas de todos os tipos e
nveis. preciso ajustar as exign-cias ao tamanho da empresa, pois
cada empresa tem um caminho. preciso ter uma viso global,
abrangente. No se deve, por exemplo, visar apenas os aspectos
financeiros, mas sim o sucesso da companhia como um todo. Nos
ltimos 15 anos, o avano foi incrvel em relao a outros pases. Temos
em-presas de ponta tanto no nvel gerencial, quanto de governana
corporativa e tambm no esforo de sustentabilidade. Temos exemplos
importantes em cada um desses aspectos. Mas deve-se estar atento ao
fato de que quando se abre uma empresa espera-se que ela dure para
sempre, que tenha con-tinuidade, que seu desenvolvimento se d de
forma sustentvel. Para isso, toda companhia tem suas prprias regras
de atuao interna e externa, que sustentam esse desenvolvimento para
sempre. Por isso, preciso ter muito cuidado para no amarrar muito,
pois, na questo da sustentabilidade, o que bom para uma empresa
pode no ser bom para outras.
* slVia penteado Jornalista.
O investidor precisa ficar confortvel em aplicar, pois
sabe que h uma infraestrutura
regulatria slida, regras claras. Mas
h, na governana corporativa,
discusses difceis, sem respostas claras. Nossa preocupao que
essa discusso
no penda para nenhum lado,
no proteja s um grupo. Todos tm de ceder em algumas coisas, mas
no nas
fundamentais
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ENTREVISTA
12 REVISTA DA NOVA BOLSA
O BOVESPA MAIS TRAZ VISIBILIDADE EMPRESA
por SILVIA PENTEADO*
JLIO ESTEVAM DE BRITTO JUNIORPresidente da Quality Software
A Quality Software est listada, desde janeiro, no Bovespa Mais,
o segmento de negociao da BM&FBOVESPA que facilita o acesso das
pequenas e mdias empresas ao mercado de aes. Especializada na
terceirizao de processos de negcio (BPO), a companhia produz
software e solues integradas sob medida. As regras do Bovespa Mais
permitem que a empresa se prepare de forma adequada e ao mesmo
tempo se coloque na vitrine do mercado, aumentando sua visibilidade
para os investidores, afirmou Revista da Nova Bolsa o presidente
executivo, Jlio Estevam de Britto Junior, filho do vice-presidente
do Conselho de Administrao, Jlio Estevam de Britto, que fundou a
companhia, em 1989, com David Estevam de Britto, atual presidente
do Conselho. A Quality Software a nona empresa listada no Bovespa
Mais.
Nos ltimos anos, o setor de TI conseguiu passar ao largo das
crises econmicas, apresentando taxas de crescimento anual de dois
dgitos, muito acima do ritmo da economia brasileira. Em 2013, por
exemplo, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) crescia 2,3%, o
setor avanou 9,2%, faturando US$175 bilhes, calcula a empresa de
inteligncia de mercado IDC. Confirmados os nmeros, o Brasil se
consolidar como o quarto maior mercado mundial, atrs somente de
Estados Unidos, China e Japo. Em 18 anos, segundo a 24 Pesquisa
Anual de Tecnologia da Informao da FGV, triplicou a parcela dos
investimentos que as empresas destinam Tecnologia da Informao
(TI).
Fundamental para o aumento de competitividade e de produtividade
das empresas, a utilizao de TI nas pequenas e mdias empresas pode
permitir um aumento significativo da competitividade. Atualmente,
essas empresas geram 20% do PIB e respondem por 60% dos 94 milhes
de empregos no Pas, nos clculos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE).
E h espao para que o setor de TI continue a crescer,
considerando que responde por US$1,6 bilho anual de consumo interno
e US$2,2 bilhes s nos softwares desenvolvidos nas instituies
financeiras que devem migrar para as empresas de solues de TI. Se
em termos de tecnologia, em alguns setores o Brasil est at mais
avanado que outros pases mais adiantados, ainda h
muito a ser feito junto s empresas pequenas, mdias e
mdias-grandes, diz Britto. Essas empresas comeam a se conscientizar
de que a TI pea-chave para a competitividade. Um universo que,
pelos seus clculos, pode atingir 16 mil companhias que so atendidas
na parte de TI por equipes internas. Elas so hoje nossos principais
concorrentes e nossa maior perspectiva de crescimento.
A Quality Software cresce, historicamente, 25% ao ano em mdia,
superando as prprias previses. Em 2013, tivemos um crescimento
fantstico faturamos cerca de R$30 milhes , bem acima do que
estvamos prevendo, graas entrada de clientes como CEG, Embratel,
Wilson Sons, BR Malls, Infoglobo. Acreditamos que nos prximos
quatro anos teremos capacidade orgnica de crescimento em torno de
17%, afirma Britto.
O crescimento resulta da reestruturao da companhia, que de
familiar passou a profissional, e ao planejamento de longo prazo
feito a quatro mos com a BNDESPar, subsidiria do Banco Nacional do
Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). Em 2008, a BNDESPar
comprou 27% da empresa. Foram definidas, ento, trs etapas de
desenvolvimento da companhia, tendo o mercado de capitais como meta
final. A primeira teve como foco a profissionalizao; a segunda, a
automao, processos e governana; e a terceira, crescimento
acelerado, orgnico e por aquisies.
A entrada no Bovespa Mais inclui-se na terceira etapa.
Acreditamos que em trs ou quatro anos a empresa ter o tamanho ideal
para fazermos o IPO, destaca o executivo, da segunda gerao da
famlia, que entrou na empresa com a misso de reestrutur-la,
preparando-a para um crescimento acelerado e sustentvel. Para a
Quality, o objetivo da listagem no Bovespa Mais captar recursos,
trazendo investidores que acreditam no negcio da empresa j que o
segmento de TI exige grandes investimentos em pesquisa e
desenvolvimento tecnolgico e est em processo de consolidao. A
Quality quer se destacar como consolidadora, comprando outras
empresas, por isso a necessidade de abrir canais de captao como o
mercado de capitais.
A seguir, os trechos principais da entrevista de Jlio Estevam de
Britto Junior.
-
REVISTA DA NOVA BOLSA 13
Revista da Nova Bolsa Por que o Bovespa Mais?Jlio Estevam de
Britto Junior Opta-mos pelo Bovespa Mais pelo tamanho da nossa
companhia. As suas condies se adequavam mais ao atual momento da
Quality. Embora os requisitos de listagem e as regras de negociao
se-jam bastante semelhantes aos do Novo Mercado, eles so mais
apropriados para empresas que desejam ingressar no mercado de
capitais de forma gra-dativa, permitindo que a companhia se prepare
de forma apropriada e, ao mesmo tempo, se coloque na vitrine do
mercado, aumentando sua visibilidade para os investidores. Aps a
entrada da BNDESPar na companhia, o fatura-mento mais que dobrou.
Hoje, a empre-sa geradora de caixa e consegue fazer aquisies. Mas
queremos crescer mais do que isso. Nosso objetivo com a lista-gem
no Bovespa Mais captar recursos, trazendo investidores que
acreditam no negcio da empresa j que o segmento de TI exige grandes
investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnol-gico e est em
processo de consolidao. A Quality quer se destacar como
consolidadora, comprando outras empresas, por isso a necessidade de
abrir canais de captao como o mercado de capitais.
R.N.B. Como foi o processo para a Quality chegar at o Bovespa
Mais?J.E.B.Jr. Desenhamos um planejamento de longussimo prazo com a
BNDES Participaes, antes mesmo de sua entrada no capital da empresa
em 2008. Definimos trs etapas, tendo o mercado de capitais como
meta final. A primeira onda focou na profissionalizao; a segunda,
na automa-o, processo e governana; e a terceira, no crescimento
acelerado, orgnico e por aquisies, que ser a base da nossa oferta
pblica de aes. A entrada no Bovespa Mais inclui-se na terceira
etapa. Acreditamos que em trs ou quatro anos a empresa ter a situao
ideal para o lanamento de aes. Nes-te ponto a Quality Software ter
atingido o seu objetivo de capturar o capital necessrio para as
aquisies que complementem seu portflio, seguindo o conceito de one
stop shop, ou seja, tudo que a uma empresa precisa em TI em um nico
lugar.
R.N.B Como essas trs etapas foram implantadas?J.E.B.Jr. A
primeira onda foi a reestruturao da companhia, que deixou de ser
uma empresa familiar para se profissionalizar. Modernizamos o
proces-so decisrio, a poltica da companhia, constitumos um
Conselho, uma nova diretoria. Dividimos a empresa em quatro
unidades de negcio com compe-tncias bem definidas: BPO, Mentoring,
fbrica de projetos e treinamento. E, finalmente, para que o
processo flusse de maneira harmnica, tambm
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ENTREVISTA
14 REVISTA DA NOVA BOLSA
Embora os requisitos de
listagem e as regras de negociao
do Bovespa Mais sejam bastante
semelhantes aos do Novo Mercado,
eles so mais apropriados para
empresas que desejam ingressar
no mercado de capitais de
forma gradativa, permitindo que a companhia se
prepare de forma adequada e, ao mesmo tempo, se coloque na
vitrine do mercado, aumentando sua
visibilidade para os investidores
investimos na qualificao de pessoal. No segundo passo, ou
segunda onda, investimos em automao, na governana corporativa, nos
processos. Cria-mos procedimentos gerenciais que suportassem as
tomadas de deciso, de forma que a empresa pudesse ter, na terceira
fase, um crescimento ainda mais acelerado, num primeiro momento de
forma orgnica e, num segundo momento, por aquisies. Nessa segunda
onda, tambm criamos uma rea de relaes com investidor, j seguindo
modelo semelhante ao exigido pela CVM e pela BM&FBOVESPA.
R.N.B. E, at agora, essa estratgia deu os resultados
esperados?J.E.B.Jr. Sim. Os trabalhos de reorganizao da empresa,
corte de custos e de despesas operacionais resultaram em aumento de
produtividade e de rentabilidade. Nos ltimos quatro anos crescemos
muito organicamente. De 2010 a 2012, a receita bruta da Quality
cresceu cerca de 30%. No terceiro tri-mestre de 2013, essa mesma
receita ficou 33,04% acima daquela de mesmo perodo de 2012. Em
2011, fomos a PME que mais cresceu no Brasil, segun-do a Revista
Exame, e devemos aparecer na lista novamente neste ano. Em 2013,
faturamos cerca de R$30 milhes, com a entrada de 29 novos clientes,
entre os quais CEG, Embratel, BM&FBOVESPA, Wilson Sons e BR
Malls, sendo que este ltimo desdobra-se em 37 shoppings, o que abre
a perspec-tiva de 66 novos clientes.
R.N.B. Qual o prximo passo?J.E.B.Jr. A terceira etapa comea
agora. Chegou a hora de passar para o passo seguinte, com definio
de target, construo de cases de sucesso que mantenham o crescimento
em dois dgitos. Para isso, vamos partir para a captao de recursos
que nos permita dar um salto ainda maior, com aqui-sies que
complementem o portflio, algumas delas a serem fechadas no perodo
pr-IPO, de forma a deixar a companhia mais estruturada para o
momento em que decidirmos realizar a oferta de aes. J estamos em
con-versa com algumas empresas. Nossa expectativa que conseguiremos
con-cluir essas negociaes no final do ano ou comeo de 2015. Para
financiar essas compras usaremos prioritariamente a gerao de caixa,
mas tambm poderemos utilizar uma linha de financiamento do BNDES e,
caso essas duas modalidades de financiamento no sejam suficientes,
poderemos pen-sar em uma operao estruturada por um banco ou vender
uma participao a um fundo de private equity. Muitas vezes o caminho
buscar parceiros maiores para fazer o processo de fuso ou aquisio
de forma que essa tra-jetria seja mais acelerada. Com isso,
esperamos que daqui a trs ou quatro anos a companhia esteja no
tamanho ideal, atraente, para lanarmos aes.
R.N.B. Qual o foco da Quality?J.E.B.Jr. O mercado de TI
fragmentado, dominado por gigantes pres-tadores de servio, que no
possuem um servio adequado para empresas de mdio e mdio-grande
portes. nesse nicho de mercado que a Quality viu a oportunidade de
atuar e tem concentrado seu foco. Como esse nicho responsvel por
grande parte do crescimento econmico brasileiro e est em clara
expanso, possvel notar a enorme possibilidade de crescimento da
Quality. Outro foco buscar aquisies de empresas que possam ampliar
nossa carteira de produtos e servios.
-
REVISTA DA NOVA BOLSA 15
Em 2013, o setor cresceu um pouco menos, 9,5%, mas
assim mesmo bem acima dos 2,3% do PIB. A expectativa que esse
ritmo de crescimento
se mantenha nos prximos anos,
chegando a 6,5% do PIB brasileiro
em 2022, nmeros que podero tornar
o Brasil o terceiro maior mercado
mundial do setor de TI, atrs apenas dos Estados Unidos e da
China
R .N.B. O custo para preparar uma empresa para o Novo Mercado
ainda muito alto? J.E.B.Jr. No nosso caso, os custos no foram to
altos porque desde a entrada da BNDESPar como acionista, em 2008,
estamos nos ade-quando para cumprir a extensa lista de obrigaes das
boas prticas de governana corporativa.
Issosignificadesenvolvertransparncia das informaes, balanos
adequados e Conselho ativo para ter um processo decisrio bem
estruturado. No de hoje que convivemos com audito-res, reunies de
Conselho peridicas, transparncia, que consideramos como um
pr-exerccio para esse passo do Bovespa Mais.
R .N.B. Quais os planos da Qualitypara o futuro?J.E.B.Jr. Nossos
planos so consolidar o segmento de servios de TI de forma que a
Quality seja uma prestadora de servio nacional, focada nos
segmentos de empresas mdia, mdia-grande e grande. Nesse senti-do,
trabalhamos continuamente para criar novos produtos que permitam
que o portflio de servios seja cada vez mais completo. Para
agilizarmos ainda mais esse rumo, pretendemos iniciar um perodo de
aquisies que nos torne cada vez mais competitivos e possibilite
aumentarmos nossa participao nesses mercados que elegemos como
estratgicos.
R .N.B. Vocs tm a BNDESpar como scia e recentemente voc disse
que estariam dispostos a vender uma participao a um fundo de
private equity se isso for necessrio para crescer. Vocs no tm
receio de perder o controle da empresa, de perder poder de deciso?
J.E.B.Jr. No. Na nossa empresa j trabalhamos desde 2008 com um scio
externo a quem devemos prestar conta. Nenhum dos nossos atuais
acionistas tem o controle, no h um scio controlador que tenha 50%
mais 1%. Eu tenho 32,85%, meu scio 32,85% e a BNDESPar, 27%. As
decises dependem de pelo menos dois dos trs scios estarem de
acor-do. Alm disso, antes mesmo de entrarmos no Bovespa Mais a
empresa j vinha adotando todos os critrios da boa governana
corporativa, de transparncia. Desde a reestruturao e da criao do
Conselho, o presi-dente cobrado pelos demais acionistas, tem metas
a cumprir.
R .N.B. Qual seria o principal diferencial da Quality Software
em relao concorrncia? J.E.B.Jr. A vantagem competitiva da Quality
em relao concorrn-cia est na adoo do conceito de one stop shop em
solues de tecno-logias, ou seja, nosso objetivo poder oferecer tudo
o que uma empre-sa necessita em tecnologia da informao num mesmo
local. Isso vale tanto na oferta de pacotes de servios especficos
por verticalizao de negcios quanto na utilizao de metodologias e
processos de trabalho consagrados e certificados. Outro diferencial
importante da Quality a forte aliana comercial e tcnica que tem com
os principais fabricantes de tecnologia mundiais. Ns nos
preocupamos tambm em nos manter atualizados em relao s tendncias
mundiais de solues no setor de TI. Alm de pessoal treinado,
mantemos um laboratrio de testes e si-mulaes em hardware e
software.
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ENTREVISTA
16 REVISTA DA NOVA BOLSA
Trabalhamos desde 2008 com um scio
externo a quem devemos prestar
conta. Nenhum dos atuais acionistas tem o controle,
no h um scio controlador que tenha 50% mais
uma ao. Eu tenho 32,85%, meu scio tem 32,85% e a BNDESPar tem
27%. As decises
dependem de pelo menos dois dos trs scios estarem de
acordo
R.N.B. Em 2011, a Quality apareceu entre as 250 empresas que
mais crescem no Brasil da Revista Exame. O ritmo de crescimento
continua forte? Como vem ocorrendo o crescimento da empresa?
J.E.B.Jr. Em 2013, tivemos um crescimento fantstico faturamos cerca
de R$30 milhes , bem acima do que estvamos prevendo, baseados no
cresci-mento orgnico. Temos crescido 25% ao ano, em mdia.
Acreditamos que nos prximos quatro anos manteremos esse ritmo,
sempre superando o planejado. Apenas pelo crescimento orgnico temos
capacidade de crescer 17% ao ano, nos prximos cinco anos. Para
garantirmos esse desempenho, estamos inves-tindo cada vez mais em
tecnologia, o que no nosso segmento fundamental.
R.N.B. Como voc est vendo a economia brasileira para
2014?J.E.B.Jr. Sou muito otimista em relao ao futuro. Acredito que
a empresa e o setor continuaro a crescer independentemente do
desempenho da econo-mia brasileira, como vem acontecendo h vrios
anos. A mdia de crescimento do setor e da nossa companhia , nos
ltimos cinco anos, tem sido de dois dgitos. Em 2013, o setor
cresceu um pouco menos, 9,5%, mas assim mesmo bem acima dos 2,3% do
PIB. A expectativa da Brasscom que esse ritmo de crescimento se
mantenha nos prximos anos, chegando a 6,5% do PIB brasi-leiro em
2022, nmeros que podero tornar o Brasil o terceiro maior mercado
mundial do setor de TI, atrs apenas dos Estados Unidos e da China.
J o cres-cimento da companhia registrou aumento fantstico em 2013.
Isso acontece porque ultimamente tem havido uma forte adeso de
pequenas e mdias em-presas tecnologia, em busca de produtividade.
Antes, os principais clientes eram as grandes companhias. O mercado
continua muito aquecido.
R.N.B. Na sua avaliao, o setor de software no Brasil est avanado
ou atrasado em relao aos pases mais desenvolvidos nesse
setor?J.E.B.Jr. Em termos de tecnologia, o Brasil est muito bem
posicionado e em alguns setores est at melhor que mercados mais
desenvolvidos. Onde ainda h muito a ser desenvolvido na adoo da TI
pelas empresas. H muitas que ainda no se conscientizaram de que TI
traz mais valor para a empresa, que pea-chave para a
competitividade. Mesmo assim, o Brasil j considerado o quarto maior
mercado de tecnologia da informao e comunicao (TIC) e o 7 no
mercado de TI no mundo, segundo estudo realizado pela IDC
Brasil.
R.N.B. O mercado brasileiro de software e servios altamente
pulve-rizado. Isso bom ou ruim para os negcios? J.E.B.Jr. Pelos
nossos clculos, existem no mais de 30 empresas bem es-truturadas
para a prestao de servios, com especialidade em Outsourcing de TI e
que faturam acima de R$25 milhes por ano. Por outro lado, existem
nesse mesmo segmento centenas de empresas com faturamento de at
R$10 milhes ao ano, buscando ganhar escala e mercado. Ns
consideramos essa pulverizao positiva. No consigo considerar como
concorrentes as peque-nas empresas que no tm prticas empresariais,
nem tecnologia. Ao mes-mo tempo, algumas delas, que oferecem
servios complementares aos nos-sos, tm clientes interessantes, o
que amplia nosso horizonte de aquisies. Mas, no mdio e longo prazo,
acho que a tendncia de consolidao, como aconteceu em vrios outros
setores.
*silVia penteado Jornalista.
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GOVERNO ESTIMULA OACESSO dE pEqUENAS E MdIAS
EMpRESAS AO MERCAdOMercados de capitais so fundamentais para
o
desenvolvimento econmico. facilitam a capitalizao das empresas,
propiciam liquidez aos papis emitidos e
asseguram a participao de investidores de pequeno, mdio e grande
portes nos resultados das companhias.
POR FABIO PAHIM JR.*
CAPA
18 REVISTA DA NOVA BOLSA
CAPA
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REVISTA DA NOVA BOLSA 19
-
CAPA
20 REVISTA DA NOVA BOLSA
Mesmo em tempos di-fceis para o mercado de capitais brasileiro,
em que a capitalizao de merca-do caiu de US$1,159 trilho, em 2008,
para US$1,030 trilho, em 2013 (com pico de quase US$1,5 trilho, no
incio de 2012), em-presas como Helbor, Le Lis Blanc, Nutriplant,
Senior Solutions, Ge-neral Shopping e Locamerica abri-ram o
capital, fortaleceram tanto a governana como a imagem corporativa e
reduziram os custos de capital, seja mediante ofertas iniciais de
aes (IPOs), seja se qualificando para lanar debntu-res, fazer
operaes de securitiza-o ou mesmo tomar emprstimos bancrios, em
condies melhores do que as anteriores abertura.
Essas empresas, alm de ou-tras cinco registradas no segmen-to
Bovespa Mais o mercado de
acesso da BM&FBOVESPA , j constatam os efeitos positivos da
abertura de capital, e nem tinham, no momento em que decidiram
abrir o capital, porte semelhante ao que tm hoje. O IPO da Helbor,
atualmente uma das mais fortes e lucrativas empresas do segmento da
construo civil, permitiu captar R$276 milhes, enquanto o da Le Lis
Blanc propiciou captao ainda menor, de R$150 milhes valores
modestos quando comparados aos das necessidades usuais de capital
de grandes corporaes.
Mas foi justamente para essa faixa de empresas com fatura-mento
de at R$500 milhes, em 2013, e cujo valor de mercado no supere
R$700 milhes, se j nego-ciadas em bolsa , que as condi-es sero mais
favorveis aber-tura do capital, a partir da Medida Provisria
651.
Em 16/6, em solenidade re-alizada na BM&FBOVESPA, o ministro
da Fazenda, Guido Man-tega, tratou sobre a concesso de estmulos
fiscais para os investido-res em papis das pequenas e m-dias
empresas (MPEs). Da edio da MP 651 at 2023, pessoas fsi-cas que
adquirirem aes dessas empresas listadas em segmento especial da
Bolsa, diretamente ou por meio de fundos, no precisa-ro pagar
Imposto de Renda sobre os ganhos de capital. Aqueles que j haviam
aplicado nesses papis tambm tero benefcios (veja box sobre a MP
651).
Ampliou-se, assim, o escopo do anncio feito pelo ministro na
presena de executivos de cente-nas de empresas e de investidores,
dos presidentes do Banco Nacio-nal do Desenvolvimento Econ-mico e
Social (BNDES), Luciano
Editada no incio de julho, a Medida Provis-ria 651 cria condies
fa-vorveis para o mercado de acesso e, em especial, para o segmento
Bovespa Mais, do qual j partici-pam nove empresas in-cludas entre
as pequenas e mdias (PMEs). A MP 651 foi alm do previsto,
concedendo condies fa-vorveis no apenas s novas aplicaes em aes das
MPEs, mas a aplicaes anteriores, permitindo o ajuste do custo de
aquisio, enfatizou a diretora de Desen-volvimento de Empresas da
BM&FBOVESPA, Cristiana
Pereira. Trata-se de um bene-fcio concreto aos investidores,
afirmou.
Em resumo, a MP 651 con-cede iseno de Imposto de Renda sobre
ganho de capital para investidores que adquiri-rem aes de Empresas
Eleg-veis, diretamente ou por meio dos fundos voltados ao
investi-
mento nessas empresas. Para se beneficiar da iseno, a empresa
deve ser listada em segmento especial da Bolsa e ter o capital
social composto apenas por aes ordinrias ON (Bovespa Mais ou Novo
Mercado); ter realizado emisso primria de, no mnimo, 67% do to-
A MP 651 FORTALECE O BOVESPA MAIS
-
REVISTA DA NOVA BOLSA 21
tal da oferta; ter valor de mercado inferior a R$700 mi-lhes e
receita bruta de at R$500 milhes.
A norma estabelece uma diferenciao entre em-presas j listadas na
data de publicao da MP, ou seja, 10/7/2014, e as no listadas. Para
as listadas, a regra referente ao valor de mercado (at R$700
milhes) tem por base o valor mdio ponderado dos ltimos 30 preges.
Para as no listadas na data do IPO, a regra de valor de mercado
aplica-se ao valor apurado no IPO.
Para as aes j listadas em bolsa, o benefcio do IR aplicvel s aes
ordinrias adquiridas a par-tir de 2014, destacando-se, no entanto,
que para o investidor que j tenha adquirido aes das compa-nhias
incentivadas, ser permitido ajustar o custo de aquisio para fins de
apurao da base de clculo do IR. O ajuste ter como base o maior
valor entre o custo de aquisio efetivamente pago e a mdia
do preo de fechamento, ponderada pelo volume negociado, nos 30
preges anteriores data da pu-blicao da MP 651.
Alm do benefcio direto s pessoas fsicas, fica-ro isentos do IR
os rendimentos auferidos por pesso-as fsicas no resgate de cotas de
fundos abertos que: possuam no mnimo 67% do patrimnio aplicado em
aes cujos ganhos sejam isentos; tenham prazo m-nimo de resgate de
180 dias; e tenham como designa-o FIA Mercado de Acesso.
A MP tambm extinguiu a exigncia de publica-o de demonstraes
financeiras anuais, atas de AGO e AGE em Dirio Oficial e em jornal
de grande circu-lao para empresas que se enquadram no incentivo
fiscal, substituindo a obrigao por publicao das de-monstraes em
sistema especfico da CVM, da Bolsa e no site da prpria empresa.
Coutinho, da Comisso de Valores Mobilirios, Leonardo Pereira, da
BM&FBOVESPA, Edemir Pinto, e de representantes do Grupo de
Trabalho de Ofertas Menores, que vem estudando o desenvolvimen-to
do mercado de acesso no Brasil.
A MP 651 busca demonstrar o compromisso do governo com o
desenvolvimento do mercado de capitais. As medidas anunciadas
destinam-se a empresas, investi-dores e intermedirios financeiros.
Pretendem viabilizar a capitali-zao das companhias de porte mdio,
atrair investidores pessoas fsicas para o mercado de capitais,
favorecer a formao de poupan-a, ampliar o volume de emisses de
debntures de infraestrutura e simplificar as transaes na Bolsa.
Contribuiro, portanto, para fortalecer a economia brasileira, no
mdio e longo prazos. O Bra-
sil, nos ltimos anos, atrasou-se na formao bruta de poupana, de
apenas 12,8% do PIB, no pri-meiro trimestre, segundo os dados do
IBGE. As medidas anunciadas representam o resultado de um es-foro
concentrado de vrios agen-tes, em que foi essencial a mobili-zao
dos empresrios e dos inves-tidores, afirma Cristiana Pereira,
diretora de Desenvolvimento de Empresas da BM&FBOVESPA.
A EXPERINCIA EXTERNAO anncio formal dos in-
centivos s MPEs foi precedido de longo trabalho, desenvolvido
nos ltimos anos pelos principais agentes do mercado de capitais. Em
2012, a BM&FBOVESPA li-derou a criao do Grupo de Tra-balho de
Ofertas Menores, de que participam Agncia Brasileira para o
Desenvolvimento Industrial
(ABDI), BNDES, a CVM e Agn-cia Brasileira de Inovao (Finep). A
primeira iniciativa foi conhecer, in loco, mercados de acesso
inter-nacionais com elevada represen-tatividade e bem-sucedidos na
atrao de centenas ou milhares de empresas de porte pequeno ou mdio.
O objetivo foi entender em que a experincia externa poderia servir
para aprimorar o mercado brasileiro.
Os nmeros dos mercados vi-sitados so expressivos. Conforme dados
relativos a maio e junho de 2012, na Gr-Bretanha, 1.114 com-panhias
estavam listadas na Alter-native Investment Market (AIM); no Canad,
eram 2.277 listadas na Toronto Stock Exchange Venture (TSXV); na
Espanha, 21 listadas no Mercado Alternativo Burs-til (MAB); na
Polnia, havia 397 empresas no New Connect (NC);
-
CAPA
22 REVISTA DA NOVA BOLSA
Alterao da legislao para viabilizar a cria-o de fundo de
investimento em aes fechado dedicado ao investimento em Empresas
Elegveis. Status: CVM encerrou audincia pblica em 10/2/2014 e h
expectativa de editar Instruo no primeiro semestre de 2014.
Permitir que fundos de investimento em participaes possam
investir em Empre-sas Elegveis.Status: CVM editou a Instruo 540,
que permite que o gestor tenha at 35% do patrimnio do Fundo em
empresas eleg-veis ou em fase de investimento sem ne-cessidade de
participao na gesto.
Aumento do limite de investimento em aes de PGBL e VGBL.Status:
proposta encaminhada ao Minist-rio da Fazenda.
Iseno de Imposto de Renda sobre ga-nho de capital para
investidores que ad-quirirem aes de Empresas Elegveis, dire-tamente
ou por meio dos fundos voltados ao investimento nessas
empresas.Status: a MP 651 definiu que o parme-tro de receita para
determinar empresas elegveis ao incentivo fiscal ser a receita
bruta de at R$500 milhes e valor de mercado de at R$700 milhes.
AS MEDIDAS PROPOSTAS PELO COMIT DE OFERTAS MENORES
Simplificao do processo e reduo de custo da oferta. Status:
editada a Instruo CVM 548 para a dispensa de publicao de avisos
obri-gatrios relativos oferta pblica de aes em jornal.
Reduo de custo de manuteno da con-dio de companhia aberta.
Status: editada Instruo CVM 547, que trata da dispensa da publicao
de Ato ou Fato Relevante em jornal. A MP 651 determinou a retirada
da exigncia de publicao de demonstraes financeiras anuais e atos
societrios em Dirio Oficial
ou rgo de imprensa de grande circula-o para Empresas Elegveis,
substituindo a obrigao por publicao em sistema especfico da CVM, da
Bolsa e no site do prprio emissor.
Desenvolvimento e aplicao de progra-ma de capacitao para
empresrios. Status: concluda e divulgada, em abril, a pesquisa da
Fundao Dom Cabral junto a executivos de empresas no listadas na
Bolsa. Com base nesse resultado, est sen-do elaborado contedo do
Programa de Capacitao para Empresrios que dever ser aplicado
brevemente.
Regulamentao de procedimento de ofertas restritas para aes.
Status: CVM encerrou audincia pblica em 24/2/2014 da ICVM 476.
Expectativa de editar Instruo no segundo semestre deste ano.
Iniciativas de apoio e incentivo a canais de distribuio. Status:
atuao dos intermedirios em ofertas menores vem sendo discutida no
GT do Setor de Intermediao, formado
por BM&FBOVESPA, Anbima, Ancord e Cetip.
segunda faseAnlise de modelo alternativo de merca-do de acesso
com descontos adicionais em governana e restrito a investidores
superqualificados, nos moldes do que acontece fora do Brasil. Um
grupo de tra-balho interno ser formado para avaliar a implantao de
um mercado alternativo para o mercado de balco da Bolsa.
Para osinvestidores
Para as empresas
Para intermedirios
-
REVISTA DA NOVA BOLSA 23
na Coreia do Sul, 785 listadas no Kosdaq; na China, havia 332
com-panhias na Chinext; e na Austrlia, 2.211 estavam listadas na
Austra-lian Securities Exchange (ASX).
Os mercados de acesso pes-quisados pelo Grupo de Ofertas Menores
so diferentes uns dos outros. Variam conforme a cultura acionria do
Pas, as tradies dos mercados locais, a demanda de em-presas e
investidores, as regras fis-cais e o grau de liberdade dos agen-tes
reguladores. A capitalizao de mercado definida para o
enquadra-mento da empresa no mercado de acesso tambm oscila. No
Chinext, por exemplo, 51% das empresas lis-tadas tem valor de
mercado supe-rior a US$300 milhes.
A negociao no AIM ingls, no MAB espanhol e no NC polo-ns no
supervisionada pelo re-gulador, devido a prerrogativas das
Diretivas Europeias. Bastou, nesses casos, um arranjo privado em
que a superviso feita por assessores qualificados, cujo atributo
comum a elevada reputao. Em outros, exige a fiscalizao do
regulador.
Concluda a avaliao dos mercados internacionais, foi cria-do o
Comit Tcnico de Ofertas Menores, com participao mais ampla dos
setores pblico e pri-vado estruturadores de ofertas, investidores,
empresrios e forma-dores de opinio. Um diagnstico foi fechado e
enviado s autorida-des, a partir de um consenso acerca das
propostas mais exequveis para tornar o mercado acessvel s
em-presas, oferecendo auxlio prepa-rao da oferta e reduo de custo s
PMEs. Doze propostas foram
encaminhadas, pelo comit, s au-toridades, notadamente, Ministrio
da Fazenda, CVM e BNDES (veja box sobre oferta menores).
O MERCADO BRASILEIROCriado em 2005, o primeiro
teste do Bovespa Mais foi superar um perodo delicado do mercado
acionrio. Segmentos novos cos-tumam levar alguns anos para se
afirmar. E a crise global de 2008 afetou no s os segmentos
tradi-cionais de negociao, mas os mer-cados de acesso. Olhando mais
para trs, o mercado de IPOs s se fortaleceu, no Brasil, a partir de
2004, como reflexo do Novo Mer-cado, lembra Cristiana Pereira. O
Novo Mercado foi o elemento divisor entre um mercado fraco e pouco
demandado e um mercado forte, capaz de atender aos novos requisitos
de elevada governana corporativa.
Desde 2004, muitas empresas de mdio porte gostariam de abrir o
capital, mas raramente eram estimu-ladas por seus consultores
financei-ros ou pelos bancos onde tomavam emprstimos. Alm do mais,
os investidores estrangeiros preferiam comprar aes de grandes
empresas e, sem esses investidores, no have-ria mercado.
Ademais, destaca Cristiana, o mercado de acesso depende da
demanda local esta foi uma das lies colhidas nos mercados
pes-quisados. Era mais um problema a superar, porque as PMEs
interes-sadas em abrir o capital, no Brasil, no tm tradio em
mercado de capitais. O subsdio proposto pelo Comit de Ofertas
Menores
destina-se a compensar o investi-dor, tanto o que aplica
diretamente como por intermdio de fundos, pela menor liquidez dos
papis.
A ABERTURA EM PERSPECTIVA
Atualmente, na avaliao da Diretoria de Desenvolvimento de
Empresas da Bolsa, 230 empresas tm condies de abrir o capital nos
prximos trs anos. Destas, 60 tm o perfil do Bovespa Mais, avalia
Cristiana.
Com nove empresas listadas no Bovespa Mais, comeamos a ter o
efeito-demonstrao, afirma. No Novo Mercado, habitual que haja
oferta pblica porque pou-cas empresas tm free-float (n-mero de aes
negociadas no livre mercado) de 25%. No mercado de acesso, o
desafio mais complexo. Demanda tempo, envolvimento dos
administradores. Trabalha-mos para que as empresas se listem e s
depois faam o IPO. Como empresas abertas, j comeam a colher
benefcios. Tome-se o caso da Locamerica esta empresa in-forma, em
seu site, o quanto caiu o spread pago nos emprstimos aps se tornar
empresa aberta.
Como afirma a diretora de Desenvolvimento de Empresas: H uma
demanda no atendida perfeitamente identificada pela Bolsa. Mas era
preciso fazer mais. Afinal, ter acesso a recursos de bai-xo custo
um problema nacional, mais do que um problema do mer-cado de
capitais.
*faBio paHiM Jr. Coordenador editorial da reVista da noVa
Bolsa.
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AS BOLSAS DE VALORES COMO CENTROS DE LIQUIDEZ
Muito se discute sobre o desempenho da economia brasileira e da
sua capacidade de crescimento. o fato que aps o brilhante
crescimento do piB que tivemos ao atingir 7,5% em 2010, o
desempenho nos anos seguintes foi pfio, deixando a sensao de que
vivemos apenas o voo
da galinha. intenso enquanto dura, mas curto por no ter
estrutura que permita voar mais alto e mais distante.
POR FABIO GALLO GARCIA*
ENSAIO
REVISTA DA NOVA BOLSA 25
-
As solues propostas so amplas e de vrios es-pectros. Sabemos que
a reao positiva de nos-sa economia depende de reformas estruturais
que permitam o desenvolvimento dos setores produti-vos. Mas a
impresso que vivemos um momento em que conhecemos as diversas
solues, mas no sabemos como implant-las. A sensao que estamos
tentando andar numa selva muito densa, que nos prende a cada passo.
As ditas reformas esto na boca de todos (princi-palmente dos
polticos), mas nenhuma ocorre e o voo da galinha est tornando-se
corrida de cgados.
No receiturio clssico sobre o desenvolvimento econmico se indica
que seus elementos essenciais so a formao de capital, o progresso
tecnolgico e a melhoria do nvel de educao e sade da populao. Sendo
que nas primeiras etapas do crescimento econmico o motor o
desenvolvimento da intermediao financeira, que ocorre por meio da
gerao de ativos, intermedirios e mercados. Esse processo permite
que os ativos financei-ros sejam transformados em ativos reais e
assim se retroa-limente o prprio processo de desenvolvimento.
De maneira sinttica, podemos entender que o sistema financeiro
como um todo leva ao aumento da formao de capital que, por sua vez,
colabora no de-senvolvimento econmico de uma nao justamente
contribuindo para a expanso do volume de poupana e a maior
eficincia na alocao dos recursos disponveis.
Por outro lado, muito claro para muitos aquilo que qualquer
pesquisa bsica aponta, ou seja, que as vir-tudes de um mercado de
capitais bem estruturado como um todo, e da bolsa de valores, em
particular, um dos elementos fundamentais de sustentao do
crescimento de uma nao e, por consequncia, de seu desenvolvi-mento
econmico. Isto ocorre por uma premissa inicial e bastante slida que
o fato de que todos os pases ne-cessitam manter uma estrutura
adequada que permita a migrao dos recursos ociosos para o setor
produtivo para assim obter a contnua expanso de sua capacidade
produtiva.
A bolsa de valores justamente a ponte que une o mercado primrio
ao secundrio exercendo a sua finali-dade bsica que prover liquidez.
Quase que desneces-srio mencionar a essencialidade dessa misso.
Afinal, no existe mercado primrio sem que exista um merca-do
secundrio que d liquidez ao sistema.
Numa economia livre, a alocao de capital ocorre por um sistema
de preos e quanto mais lquido e es-
truturado for o mercado mais eficientemente ocorrer essa alocao
de recursos que devero ser direcionados para as oportunidades que
tragam maiores ganhos em termos de retorno e produo.
As bolsas de valores justamente permitem a estru-turao e trazem
a liquidez necessria ao mercado de capitais, algo que todos
sabemos, mas nem sempre per-cebemos a importncia e a magnitude.
simples pensar que um investidor opera por meio de uma corretora e
realiza as suas ordens de compra e venda. isto! Mas deixamos de
perceber, por vezes, que nessa operao ocorre algo muito
interessante: o fato de que milhares de investidores pessoas
fsicas, institucionais ou espe-culadores entram no mercado,
operando por centenas de corretoras e outros agentes, assim
exercendo a lei da oferta e procura, realizando a transferncia de
milhes e milhes de recursos monetrios para o desenvolvimen-to das
empresas, do prprio mercado e da economia como um todo. Sendo que
esse exerccio somente pode ocorrer em um mercado transparente e com
informa-es instantneas.
Na busca por gerar a liquidez necessria para o mercado, a bolsa
de valores exerce importantes ativida-des, tais como: levanta
capital de longo prazo para as empresas
para que estas possam crescer; fomenta o fluxo agregado de
poupana e investi-
mento de longo prazo, permitindo que os investi-dores possam
aplicar recursos em setores da eco-nomia de alta rentabilidade;
contribui para o crescimento e a expanso das empresas, tanto
pelo fornecimento de capital para investimentos, como por meio de
fuses e aquisies;
permite a socializao de riscos e retornos dos negcios;
leva as empresas a maior grau de governana cor-porativa, por
meio da imposio de regras para as companhias listadas;
colabora para que o governo, nos processos de pri-vatizao,
obtenha recursos e permita mais dina-mismo de setores
especficos;
possibilita a participao de pequenos investi-dores que
participam do crescimento de grandes empresas;
serve de barmetro da economia ao indicar como anda a sade da
economia.
ENSAIO
26 REVISTA DA NOVA BOLSA
-
Nesse ambiente, a BM&FBOVESPA desponta como um dos
principais centros de liquidez do Pas, atuando em diversos mercados
como aes, mercado-rias e futuros, cmbio, ttulos pblicos federais,
debn-tures, notas promissrias, ttulos imobilirios, FIDCs, fundos de
investimentos de vrios tipos, ETFs, BDRs e Cepacs. Atendendo dessa
maneira a agentes de diver-sas naturezas, de corretoras a bancos,
asset managers, distribuidoras, armazns gerais, clearings e at
fundi-doras de ouro.
A fora e importncia do mercado de capitais para a economia so
verificadas em todo o mundo. Sendo
que um dos parmetros mais observados para essa ve-rificao
trata-se do valor referente capitalizao de mercado das aes
comparado ao PIB do pas.
O quadro a seguir apresenta essa relao para a BM&FBOVESPA
comparando os dados com a mdia mundial dos afiliados da WFE (World
Federation of Ex-changes) e tambm Estados Unidos, Alemanha, Japo e
a mdia da Amrica Latina.
Como se pode verificar, a capitalizao de mercado no Brasil,
embora tenha evoludo muito ao longo dessas ltimas dcadas, ainda
inferior mdia mundial, o que indica espao para crescimento do nosso
mercado.
BM&fBoVespa Mundo eua alemanha Japoamrica
latina
1990 3,6 47,3 53,2 20,7 94,1 7,7
2000 35,1 101,3 152,6 67,3 66,7 31,8
2007 100,3 118,5 142,9 63,4 102,2 69,7
2008 35,6 58,6 82,6 30,6 66,4 31,0
2009 72,1 83,5 108,5 39,3 67,1 51,9
2010 72,1 87,4 118,9 43,5 74,6 56,8
2011 49,6 67,7 104,3 32,9 60,0 41,9
2012 54,6 76,8 119,0 43,7 61,8 46,7
CAPITALIZAO DE MERCADO X PIB EM (%)
REVISTA DA NOVA BOLSA 27
-
Por outro lado, podemos verificar, no grfico acima, que o
comportamento de nosso mercado similar ao desempenho do mundial e
dos mercados aqui conside-rados, destacando-se o perodo entre 2000
e 2007 que houve crescimento bem mais agudo do que os merca-dos
comparados.
As causas que impedem nosso mercado de ser mais forte so
conhecidas e constam de diversos textos de emisso da prpria
BM&FBOVESPA. Podemos des-tacar, entre esses fatores:
taxas baixas de crescimento geram, e so oriundos, de baixos
ndices de investimentos;
em perodos de investimento de nossa histria houve formas de
financiamento mais fceis e bara-tas, particularmente originrias do
BNDES;
estrutura tributria que prejudica os negcios e acaba por
incentivar a sonegao;
grande oferta de ttulos pblicos devido ao alto d-ficit
pblico;
na ltima dcada, houve muitas aes na tentativa de reduzir as
ineficincias, com avanos significati-vos, particularmente na busca
de fortalecimento da transparncia do mercado. A Bolsa agiu
fortemente,
inclusive com campanhas institucionais e outras me-didas, de
forma a promover o mercado de capitais.
No entanto, o nosso mercado ainda no tem re-solvidas questes
mais amplas, como a equalizao tri-butria e outras reformas muito
necessrias, como, por exemplo, a trabalhista.
Enfim, o setor produtivo da economia busca solu-es, mas as
mudanas estruturais dependem do poder pblico, que no se mostra
eficaz na soluo ampla e permanente dos problemas. Houve avanos, mas
eles so modestos face aos desafios.
Entre as frases de Warren Buffett, uma muita re-petida: Voc deve
investir seu dinheiro numa empresa que at um idiota consiga
administrar, porque um dia um idiota o far.
Buffett pensava no bolso do investidor e num am-biente mais
favorvel s empresas. Os desafios brasilei-ros transcendem as
preocupaes de Buffett. Talvez seja melhor ter em mente a frase de
James Freeman Clarke: Um poltico pensa na prxima eleio. Um
estadista, na prxima gerao.
*faBio Gallo GarCia professor de finanas da puC-sp e
fGV/eaesp.
180%
1990 2000 2007 2008 2009 2010 2011 2012
160%
140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0
EUA JAPO ALEMANHABM&FBOVESPA MUNDO AMRICA LATINA
ENSAIO
28 REVISTA DA NOVA BOLSA
-
tem constitudo tema de crescente ateno e debate as razes pelas
quais o mercado brasileiro de capitais ainda ocupa posio
relativamente modesta no financiamento da economia brasileira.
Viabilizar a participao predominante desse mercado no financiamento
dos investimentos, inclusive na rea de infraestrutura, adquire hoje
importncia estratgica, at porque no ser possvel sustentar a
continuidade de transferncias bilionrias do tesouro para o Bndes,
com aumento da dvida pblica. da ser da maior relevncia a
identificao dos fatores que tm inibido o seu desenvolvimento e
delinear as aes necessrias para promover seu desenvolvimento.
POR Carlos a. roCCa*
ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO MERCADO BRASILEIRO
MERCADO DE CAPITAIS
REVISTA DA NOVA BOLSA 29
-
Recente trabalho de pesqui-sa1 realizado no Centro de Estudos do
Instituto Ib-mec (Cemec), utilizou um grande conjunto de dados e
anlises esta-tsticas para examinar esse assunto. De incio,
verifica-se que os instru-mentos e veculos2 do mercado de capitais
mobilizam 70% da pou-pana financeira no Brasil, desem-penho que
potencialmente pode-ria sustentar sua posio dominan-te no
financiamento da economia. Entretanto, embora seu papel no
financiamento das empresas tenha aumentado nos ltimos anos, sua
participao muito menor, da ordem de 20% do exigvel financei-ro
consolidado das empresas no financeiras. Por sua vez, estima-se que
as emisses primrias de aes e de dvida corporativa respondam por
apenas 13% do financiamento do investimento privado, partici-pao
equivalente a 2/3 daquela fornecida pelo BNDES, que se aproxima dos
20%.
Desde a estabilizao, em 1994, o principal fator de inibio do
desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro tem sido a
manuteno de altas taxas de juros reais dos ttulos da dvida pblica,
necessrias para sustentar a colo-cao e a rolagem desses papeis.
Esses ttulos tm atrado a prefe-rncia dos investidores individuais e
institucionais, oferecendo uma alternativa de investimento com
elevada rentabilidade real, alta li-quidez e risco de crdito
virtual-mente nulo.
Alm de outras implicaes, a preferncia pelos ttulos pblicos tem
produzido o distanciamen-to dos investidores em relao aos ttulos
privados, na forma de
aes ou instrumentos de dvida. As evidncias so convincentes. A
carteira dos fundos de investimen-to brasileiros, principal veculo
de captao da poupana financeira, tem apenas 14% de seus recursos
alocados em aes, porcentagem que se compara com a mdia de 40% dessa
indstria no mundo. Evidentemente, esse desempenho reflete a marcada
preferncia dos investidores por instrumentos de renda fixa e
especialmente ttulos pblicos, refletida na constatao de que a base
de investidores pes-soas fsicas que investem em aes no Brasil
diminuta, da ordem de apenas 0,3% da populao3. Res-ta registrar
que, aps a crise de 2008, verifica-se um considervel afastamento
das pessoas fsicas do mercado acionrio4, seja como re-sultado dos
prejuzos gerados pela crise, seja pela evidncia de srios problemas
de governana. Como o caso da Petrobras e do Grupo X, ou ainda por
aes de polticas pblicas, como o caso de empre-sas do setor eltrico.
Por sua vez, os investidores institucionais, ai includos
especialmente os fundos de investimento e os fundos de penso, tm
limitaes para inves-tir em aes de empresas de menor porte. Seu
interesse em realizar es-foros e custos na anlise e gesto de uma
aplicao de pequeno valor muito baixo, face aos riscos para investir
apenas uma pequena fra-o de sua carteira em emisses de pequeno
valor e que tipicamente oferecem baixa liquidez.
Para competir com os ttulos pblicos, empresas emissoras de
ttulos privados precisam oferecer aos investidores taxas de retorno
ainda mais elevadas para compen-
sar as diferenas de risco e liqui-dez, determinando a gerao de
custos financeiros frequentemen-te superiores taxa de retorno de
seus ativos. Nesse contexto, no surpresa que apenas 6% das gran-des
empresas no financeiras5 tm alguma participao no mercado de
capitais, seja por serem com-panhias abertas, seja por terem
emitido debntures nos ltimos anos. A atuao do BNDES foi re-levante
para moderar os efeitos da crise em 2008 e 2009, mas a partir de
2010 representou uma alter-nativa de captao de baixo custo para
muitas empresas grandes em condies de realizar emisses no mercado
de capitais.
O impacto das taxas reais de juros de ttulos pblicos sobre o
comportamento de investidores e empresas est entre os principais
fatores pelos quais o mercado de capitais pequeno, mas
caracteri-zado por grandes empresas, gran-des bancos e grandes
emisses di-rigidas a grandes investidores.
Do lado dos investidores, consolidou-se uma cultura de
pre-ferncia pela renda fixa e especial-mente em favor de ttulos
pblicos com consequente afastamento do mercado de aes. Do lado da
grande maioria das empresas, o mercado de capitais no tem
repre-sentado uma opo considerada vivel para suprir sua necessidade
de recursos, mesmo levando em conta, por exemplo, que o custo de
colocao de ttulos de dvida tem sido muito inferior ao custo mdio do
crdito bancrio.
Acresce notar que pesquisas realizadas recentemente revelam
outras limitaes. Alm do des-conhecimento dos instrumentos
MERCADO DE CAPITAIS
30 REVISTA DA NOVA BOLSA
-
do mercado de capitais, essas pes-quisas mostram a existncia de
barreiras culturais relevantes. A resistncia ao compartilhamento do
controle surge como o primei-ro obstculo para a abertura de
capital, ocupando posio ainda mais importante que as dificulda-des
e custos para a empresa criar as condies de transparncia e
go-vernana requeridas para ser uma companhia aberta.
Duas constataes agregam algumas informaes interessan-tes para
identificar alguns fatores adicionais para esclarecer a bai-xa
participao das empresas no mercado de aes, especialmente as de
menor porte. Por um lado, verifica-se que em geral, nos pa-ses que
apresentam um grande nmero empresas listadas em bol-sa, inclusive
as de menor porte, existe ampla base de investidores individuais6,
muito maior que a existente no Brasil. De outro, o exame do mais
importante ciclo de emisses primrias e IPOs desde a estabilizao,
ocorrido em 2006 e 2007, num total de 87 operaes, permite extrair
pelo menos quatro observaes importantes. A pri-meira a de que as
empresas que abriram seu capital nesse perodo eram ainda maiores
que as compa-nhias abertas existentes, reforan-do, portanto, a
predominncia de grandes empresas no mercado. A segunda que a reduo
do custo de capital prprio ocorrida nesse perodo certamente foi um
fator determinante para sua ocorrncia, evidenciando tambm a
existn-cia de um estoque de empresas que j apresentavam condies de
abertura de capital e aproveitaram essa janela de oportunidade7.
A
terceira que mais de 70% dessas emisses foram colocadas junto a
investidores estrangeiros, mostran-do a baixa capacidade de absoro
dos investidores domsticos, fator que limita sua viabilidade apenas
a grandes operaes, face aos ele-vados custos de distribuio no
Exterior. A quarta que 36 IPOs, ou seja, 43% dos 84 realizados em
2006/2007 eram de empresas investidas por Fundos de Investi-mentos
em Participaes (FIPs).
No mercado de renda fixa, a edio da ICVM 476/09, ao regu-lar o
acesso das sociedades anni-mas ao mercado de dvida corpo-rativa em
colocao restrita, pro-duziu forte impacto positivo nas emisses, com
destaque para as debntures, principal instrumen-to desse mercado.
No obstante a metade das emisses no ter ido ao mercado,
assemelhando-se mais a operaes de crdito bancrio, importante
registrar que 2/3 das emisses tm sido feitas por empresas de
capital fechado, com alguma queda no tamanho mdio das operaes e
forte crescimento no valor total emitido. Entre outros fatores
limitantes, o maior desafio do mercado de dvida corporativa reside
na baixa liquidez do merca-do secundrio, que compromete a correta
formao de preos e difi-culta a colocao de papis de pra-zo mais
longo. Alm disso, existem indicaes de que baixa liquidez tem sido
um dos maiores obstcu-los para a entrada de investidores
estrangeiros nesse mercado, mes-mo aps a criao das debntures
incentivadas8.
Embora existam vrios outros fatores relevantes no considera-dos
neste artigo, admite-se que al-
guns dos elementos mencionados podem lanar alguma luz sobre
po-lticas dirigidas ao fortalecimento do papel do mercado de
capitais. O fator cujo impacto o mais impor-tante para todos os
instrumentos e segmentos do mercado a queda sustentvel das taxas
reais de juros para nveis mais prximos dos pa-dres internacionais.
Trata-se da adoo de poltica fiscal consisten-te com a reduo da
carga da dvi-da pblica, abrindo espao para o financiamento do setor
privado, mediante a colocao de aes e instrumentos de dvida.
As evidncias mostram que o nmero de emisses primrias de aes e
inclusive de IPOs tem alta correlao com o custo de capital prprio.
As empresas aproveitam os ciclos de custos mais baixos para abrir
seu capital, recompor sua es-trutura de capital ou financiar seus
investimentos. A experincia do ciclo de 2006/2007 sugere que
havendo condies favorveis de custo de capital prprio, existe um
grande potencial desde j para aber-tura de capital e emisso de aes
no segmento de empresas grandes.
Nesse perodo, ficou eviden-ciada tambm a grande importn-cia dos
FIPs, cuja atuao focada tambm em empresas de menor porte importante
por agregar me-lhores padres de governana e de gesto. Muito embora
o aumento de participao dos investidores em renda varivel seja
importante para o mercado acionrio como um todo, a experincia
internacional sugere que o aumento do nmero de empresas de menor
porte lista-das em bolsa tenha relao com o tamanho da base de
investidores pessoas fsicas nesse mercado.
REVISTA DA NOVA BOLSA 31
-
No obstante polticas volta-das para incentivar esse segmento
tenham importncia estratgica, incluindo educao financeira de
investidores e empresrios, redu-o de custos de abertura de capi-tal
e de manuteno de empresas abertas, reforo do sistema de dis-tribuio
e at incentivos fiscais9, deve-se reconhecer que a obten-o de
resultados nesse segmento ocorrer no mdio e longo prazos.
Nesse contexto, acredita-se que o mercado de dvida corporativa
oferea desde j amplo potencial de crescimento em prazos mais
curtos,
com efeitos favorveis importantes tambm para o mercado acionrio.
Inclusive para empresas de menor porte, pelo menos por duas razes.
Os requisitos necessrios para aces-sar esse mercado so menos
exigen-tes e principalmente no demandam compartilhamento de
controle. O acesso ao mercado de dvida pas-so importante, ao criar
nas empresas e no seu mercado de investidores parte das condies
necessrias para abertura de capital.
Desse modo, a criao de con-dies favorveis ao desenvolvi-mento do
mercado de dvida cor-
porativa especialmente no que diz respeito liquidez do mercado
se-cundrio (vrias aes nesse sen-tido so propostas no Novo Mer-cado
de Renda Fixa da Anbima) ao eficaz para trazer empresas e
investidores para o mercado de capitais em curto prazo.
Desne-cessrio salientar que sua ativao hoje da maior importncia
tam-bm para o financiamento de in-vestimento em infraestrutura, em
sinergia com o BNDES.
*Carlos antonio roCCa diretor do Centro de estudos do instituto
iBMeC.
1 roCCa, Carlos a. e santos Jr. lauro M. elementos para uma
estratgia nacional de acesso ao Mercado de Capitais diagnstico e
propostas estudo ibmec 78 ed. publit, rio de Janeiro, 2013.
2 os instrumentos so as aes e ttulos de dvida enquanto que os
veculos mais importantes so os investidores institucionais, como
fundos de penso e de investimento, previdncia aberta e companhias
de seguros.
3 essa estimativa tem por base o nmero de pessoas fsicas
cadastradas. fontes do mercado sugerem que investidores ativos
seriam no mximo apenas 1/3 desse nmero, o que reduziria esse
porcentual para apenas 0,1%.
4 a participao de investidores pessoas fsicas na BM&fBoVespa
caiu a menos da metade do padro mdio dos ltimos anos, cerca de 1/3
das transaes para 13%.
5 empresas no financeiras com faturamento bruto superior a r$400
milhes. Mesmo admitindo que metade dessas empresas no estejam no
mercado de capitais por outras razes (por exemplo, filiais de
multinacionais, estatais), ainda assim essa porcentagem atingiria
apenas 12% das empresas que, pelo seu porte, teriam condies de
participar ativamente desse mercado.
6 essa observao registrada tambm no relatrio
do Grupo de pequenas ofertas, que visitou vrios pases, nos quais
o mercado de acesso pujante e a participao de pessoas fsicas em
geral significativa. por exemplo, esse porcentual atinge 32% no
Japo, 29% em Hong Kong, 15% na inglaterra, 13% nos estados unidos,
11% na frana, 5% na China, 4% na alemanha, 0,7% na ndia. fonte:
issatuGo, renato. BM&fBoVespa strategic treasury summit Maio
2013 .
7 a correlao entre o custo de capital prprio estimado e o nmero
de emisses primrias trimestrais entre 2005 e 2012 da ordem de 0,7;
chama a ateno o fato de que essa correlao ocorre sem qualquer
defasagem entre a queda do custo de capital e o aumento das
emisses. Cerca de 40% dos 90 desinvestimentos realizados por fips
em 2006/2007 usaram ipos. em 2008/2009, com o aumento dos custos de
capital prprio, os 98 desinvestimentos realizados pelos fips
geraram apenas 5 ipos.
8 tudo indica que a predominncia da emisso de debntures
indexadas ao Cdi (mais de 80%) est em desacordo com a preferncia
revelada pelos investidores estrangeiros nas suas aplicaes em
ttulos de dvida pblica (cerda de 85% em papeis prefixados) e
representa mais um fator de afastamento desses investidores desse
mercado.
9 recentes medidas oficiais como a concesso de iseno do imposto
de renda sobre ganhos em aes de empresas mdias podem ajudar.
MERCADO DE CAPITAIS
32 REVISTA DA NOVA BOLSA
-
o agronegcio , h muitos anos, o carro-chefe da economia
brasileira, como demonstrou o seminrio perspectivas para o
agribusiness em 2014 e 2015, promovido pela BM&fBoVespa em
parceria com o Ministrio da
agricultura, pecuria e abastecimento, com o qual a Bolsa mantm
dilogo constante para o fortalecimento desse setor e das cadeias
produtivas. Considerado o maior evento do agronegcio o seminrio
configura-se
como essencial para o entendimento da dinmica do segmento. os
debates e as sugestes resultantes de suas plenrias sero
fundamentais para a
formulao de polticas pblicas.
por THEO CARNIER*
O BRASIL TESTA A fORA DO AGRONEGCIO
AGRONEGCIO
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OO seminrio Perspecti-vas para o Agribusiness mostra o peso do
agro-negcio, mas deixa evidente que o setor ter de continuar a
receber vultosos investimentos e trata-mento prioritrio da poltica
eco-nmica para que o Brasil confirme sua condio de liderana
global.
Para a safra 2015-2016, j se prev novo recorde histrico:
co-lheita de 200 milhes de tonela-das de gros, bem acima (5%) das
190,3 milhes de 2014 e das 188,2 milhes de 2013. Esto previstos
recursos de R$156,1 bilhes para custeio e investimento na safra
2014-2015, 14% mais do que na safra anterior. O agronegcio a tbua
de salvao do comrcio exterior, que mostrou dficit, no primeiro
semestre. Mas depende de investimentos em infraestrutu-ra
ferrovias, rodovias, hidrovias e portos eficientes, para competir
em condies ainda mais favor-veis no mundo.
Cada vez mais, os participan-tes do agronegcio se convencem
de que a fila anda e se o Brasil no continuar investindo em
tecnologia e no se mantiver atento aos mo-dernos instrumentos de
negocia-o, pode perder a posio nica de que desfruta no cenrio
mundial. A falta de investimento ameaa a percepo de que, ao menos
nesse setor, o Pas ostentar, em breve, a liderana global. Esse
temor per-meou as apresentaes e debates
realizados na 13 edio do semi-nrio Perspectivas para o
Agribu-siness em 2014 e 2015, realizado pela BM&FBOVESPA em
parceria com o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
(Mapa).
A Bolsa tem os olhos postos no setor, reafirmou, no seminrio, o
firme compromisso com o agri-business, nas palavras do diretor
presidente da BM&FBOVESPA, Edemir Pinto. O estoque de ttu-los
do agronegcio j de R$210 bilhes, disse ele, enfatizando o peso do
setor nos mercados bra-sileiros. Em linha com esse porte e ante a
necessidade de cont-nuo aperfeioamento, lanamos um novo contrato de
caf, tendo como base um produto de quali-dade mais prxima
encontrada nessa cultura no Pas. Outros des-taques no segmento,
neste ano, so os contratos referenciados em milho e soja.
O que muda o entendimen-to da dinmica do agronegcio. Como notou
Edemir Pinto, 2014
2014 ser um divisor de guas
na histria da Bolsa, que passa
a colher frutos do maior plano de
investimento de sua histria
Edemir Pinto, diretor presidente da BM&FBOVESPA
Ivan Wedekin, diretor geral da Bolsa Brasileira de Mercadorias,
participou do
evento conduzindo as apresentaes dos palestrantes do
seminrio.
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ser um divisor de guas na histria da Bolsa, que passa a colher
frutos do maior plano de investimento de sua histria, com inovaes
em vrias frentes: Temos, por exem-plo, o PUMA Trading System
BM&FBOVESPA, que a maior parte do mercado ainda no perce-beu
que est funcionando o que bom, porque esses mecanismos s costumam
ser lembrados quan-do acontece uma pane. Este ano vamos ter tambm a
integrao das atuais quatro clearings numa clearing unificada, uma
inovao espetacular que dar ganhos ex-pressivos de eficincia e
economia de custos para todos os segmen-tos, incluindo os ligad