Mar 12, 2016
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editorial
Olá, Leitor!
A revista Nós é um espaço para o exercício autônomo e criativo das diversas juventudes capixabas e, se você observar bem, perceberá que a presente edição trata, essencialmente, de espaços:
Do graffiti nos muros e nas paredes da cidade à tatua-gem na pele, do merecido reconhecimento para os jovens músicos instrumentistas à circulação de produtos edito-riais jovens, da presença feminina no funk ao audiovisual feito por jovens no Estado, da percepção do valor histórico à ausência poética dos espaços cotidianos, das paisagens às possibilidades de encontro da cidade.
Na maior parte dos conteúdos da Nós nº 2 você entrará em contato com as tensões e com as potencialidades da ação jovem sobre os mais diversos espaços, sobre os dife-rentes jeitos de experimentar a espacialidade.
Aqui é o lugar – impresso, colorido, imagético, textual e gráfico – para a expressão dos criadores jovens capixabas.
A Nós é o seu espaço!
Prestes a completar um ano de existência, o Programa Rede Cultura Jovem lança o segundo número da revista Nós, embasado pela repercussão positiva e no consequen-te aprimoramento de sua primeira versão.
A ideia de rede, de teia, uma das grandes metáforas de nosso tempo, vem sendo desenvolvida por meio de varia-das ações do Programa, visando a conectar os jovens de nosso estado a partir da valorização e do incentivo à prá-tica da arte e da cultura. Trata-se, como sabemos, de uma forma de organização coletiva que estimula as relações humanas, a conquista de novos espaços de manifestação cultural e a comunicação apoiadas na colaboração e na cooperação entre os grupos, os indivíduos e as comunida-des envolvidas.
O Portal YAH, sua principal ferramenta tecnológi-ca, foi reformulado e adequado às novas exigências de usuários sempre antenados com os avanços dos processos de transmissão de informação e de compartilhamento de experiências pelas redes sociais. Pretendemos oferecer assim condições cada vez mais atualizadas para a troca de experiências e de saberes e para o exercício da consciên-cia crítica.
A revista Nós cumpre o papel fundamental de criar um espaço privilegiado de produção de textos críticos, de jornalismo colaborativo e cultural e de dar visibilidade ao trabalho de inúmeros jovens autores, escritores e criado-res do nosso estado.
Boa leitura a todos!
Dayse Maria Oslegher LemosSecretária de Estado da Cultura do Espírito Santo
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sumárioconheça o perfil dos colaboradoresda Nós nº 2 na página 48 desta edição.
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circuito
Nas férias de verão a galera jovem da Grande Vitória tem o Centro
de Referência da Juventude de Vitória (CRJ) como lugar garantido
para se encontrar. Durante o mês de janeiro, acontecerão ofi cinas
gratuitas para jovens com idade entre 15 e 29 anos. O CRJ conta
com laboratório multimídia, estúdio, equipamentos de som e vídeo,
além de área própria para atividades culturais e esportivas. Mais
informações pelo telefone: (27) 3132-4042.
oficinas de férias
O Portal Espírito Rock nasceu para ser o espaço do rock capixaba. O
site funciona como uma rede social, onde os usuários podem postar
seus trabalhos musicais ou apenas conferir o que está rolando. Lá,
você encontra informações sobre a história do rock capixaba, agenda
de shows e vídeos. Os idealizadores do Portal pretendem lançar uma
coletânea, Espírito Rock vol. 1, com músicas de bandas selecionadas
por meio da rede social. Acesse: www.espiritorock.com.
Lançado em outubro deste ano, o DVD Palavra Ilustrada traz poemas
recitados por jovens participantes da Ofi cina de Teatro do Centro
Cultural Araçá, de São Mateus. A produção também conta com
entrevistas de artistas mateenses envolvidos com a literatura local.
Um retrato da diversifi cada cena musical jovem do Espírito Santo, a
quarta edição do Festival Prato da Casa recebeu inscrições de mais de
100 bandas e acontece no próximo dia 11 de dezembro, em Vitória.
Participam do evento as bandas James, Já Elvis, The Singles, L-20,
Shotgun Corporation, Anti-Milk, Redento, Manfredines, Fernando
Balarini, Hypnotzion, Subversivos, Lis E A Era Briluz e Utruru. O
Festival lança um CD com gravações das bandas selecionadas e é
organizado pelo programa Bandejão 104.7, da Rádio Universitária FM.
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Um projeto ousado e o trabalho de uma galera amadora deram ori-
gem ao longa-metragem La Serena. A ideia foi a seguinte: produzir
um filme de ficção no interior do Estado, sem recurso público e com
a equipe formada exclusivamente por pessoas da região do Caparaó
capixaba. Cerca de 150 moradores de Muniz Freire participaram
da produção. O roteiro gira em torno da história de uma excêntri-
ca senhora que conta sua vida para um novo amigo após a morte
de seu cão. Lançado em outubro, La Serena está disponível para
download no endereço: www.munizfreiretv.com.br/cineinterativo/
laserena.wmv
Alex Reblim (Afonso Cláudio), Eduardo Ojú (São Mateus) e Nata-
nael de Souza (Vitória) foram os três jovens capixabas seleciona-
dos para participarem das Oficinas de Realização Audiovisual da
Galpão. Além deles, outros 13 jovens de diferentes regiões do País
passaram por uma intensiva formação sobre audiovisual, voltaram
para as suas cidades e fizeram as suas produções acontecerem.
Saiba mais: www.oficinasgalpao.org.
produção audiovisual jovemjogo capixaba
A difusão da música erudita esquentou o XVII Festival de Inverno de
Domingos Martins, realizado de 22 de julho a 1º de agosto de 2010.
A cidade contou com uma extensa programação de apresentações
culturais e oficinas musicais. Os cursos contaram com a participação
de jovens músicos de diversos Estados. O Festival teve inspiração no
bicentenário do nascimento do pianista polonês Frédéric Chopin e no
centenário de nascimento do compositor brasileiro Noel Rosa.
mÚsica nas montanhas
O jogo CPI Brasileira ou Corrida Presidencial Infinita Brasileira,
elaborado por estudantes do curso de Tecnologia em Jogos Digitais
da Faesa, foi selecionado para o Festival de Jogos Independentes
que aconteceu este mês durante o IX Simpósio Brasileiros de Jogos e
Entretenimento Digital – o SBGames 2010, em Florianópolis-SC. O
CPI Brasileira funciona como uma sátira ao recente processo eleitoral
e o jogador escolhe ser um “canditato” que competirá com outros
rivais para ser o presidente do Brasil. A versão integral do jogo pode
ser baixada no site oficial www.freiyagames.com.
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É possível ouvir o som das sirenes, dos sorrisos, dos gritos e das
batidas nos muros frios da madrugada urbana, mas os auto-falantes
não estão fora e sim aqui dentro. Fácil encontrar-se com o carrossel
de insinuações multiformes, multicoloridas, multiplicadoras nas vias
principais da cidade. Cada imagem grafi tada é um item (e um mar)
na coleção impossível de sensações e proposições que é a cidade
(amontoado de seres humanos no embate entre individualismo e
carência). Estaria, ali, a superestimada urbanidade do tempo de mortes
prematuras da imagem e da palavra? A resposta são inumeráveis
cliques fotográfi cos, tentativas de retratar um ato sintético, direto e
específi co. Talvez ainda haja um traço de Ficore, interrompido pelo
fl agrante, no alto do antigo Pouso Real, no Centro de vitória. É exata-
mente na correria pelas escadas, nos patamares saltados e tornozelos
torcidos que encontramos a característica básica da geração nascida de
contradições do convívio: audácia.
O graffi ti, detentor da audácia, é também hábil na diplomacia. Por
isso, tem recebido o caloroso abraço das instituições não só do museu,
mas da galeria e do especialista, da ARTE. Abraço repudiado por mui-
tos e astuciosamente retribuído por outros. Na retribuição do abraço,
uma proposta é sussurrada num sorriso: podemos trabalhar ideias
que estão muito além da imagem. Proposta que não é unilateral, pois
ocorre somente quando o sistema de arte repensa seus papéis desem-
penhados até então e decide apontar para fora de seus domínios. O
graffi ti nasce todos os dias sem o compromisso de ser arte. Os museus
aparentemente gostam disso. Tal despretensão faz sorrir também o
mercado. Todo o estereótipo e toda a técnica são vendáveis. Uma boa
técnica que faça um estilo ser reconhecível é moeda de grande valor.
O projeto O sonho de um grafi teiro, de André Martins, pelas indica-
ções de Alecs Power, demonstra a vibração de incontáveis variantes de
se fazer graffi ti.
Procurar uma visão unifi cadora para algo que jamais demonstrou
dissolução – mas pelo contrário, constrói-se sempre com mais solidez
– talvez seja agarrar-se ao olhar simplista ou impróprio da atualidade.
É brincar de recortar manchetes do jornal de ontem para construir
as manchetes de hoje. Teríamos de usar de arbitrariedade e ignorar
práticas necessitadas de novos termos.
No protesto impaciente a chamar pela ousadia, na expressão da
territorialidade e no grito delinquente, na marca efêmera repleta de
referências e na assinatura da arte, em todos e em cada um dos casos,
o graffi ti mantém uma propriedade reconhecível e indefi nida. Não
fosse assim, chegaríamos até tal discussão?
Há galerias de arte exclusivas para o graffi ti, que ainda está no
início da sua caminhada pelas paredes do museu. Apesar de já o
termos visto dentro de museus, ele ainda é um convidado excêntrico
nessa mesa elitista, pois, para fi rmar-se como conteúdo na instituição,
exige-se melhor defi nição dessa expressão artística. A 1º Bienal Inter-
nacional de Graffi ti de Belo Horizonte (2008) pôs o graffi ti na esteira
rolante do sistema de arte e o pacote passou direto por nós, pois não
o reconhecemos como nosso. O olhar turvo é ferramenta para a 1ª
Bienal Internacional Graffi ti Fine Art, encerrada mês passado, no
MuBE (SP), onde debates buscaram evidenciar relações entre graffi ti e
artes plásticas nas particularidades da arte urbana.
No Espírito Santo, a Semana do Graffi ti, evento realizado em mar-
ço deste ano, trouxe uma estrutura formada pelos próprios grafi teiros
para mostrar os valores de suas práticas. Como nas ideias do grafi teiro
Fredone FONE, a cidade tornou-se Galeria, desamarrada de pesos
históricos estranhos a essa geração. Opiniões e desejos confl itantes
unem os ensinamentos do Prof. Fagundes, no Centro de Referência da
Juventude, às intervenções feitas dentro do Museu de Arte do Espírito
Santo pelos grafi teiros do Instituto Tamo Junto, à luta diária de André
Martins, que vive o graffi ti como seu trabalho e identidade, e ainda
a cada marca deixada pela cidade, como as linhas desesperadoras
de Marc1 e Japão nos tapumes da Fábrica 747. Em todos os casos, a
compreensão é o inesperado. A parede do museu dura menos que a
banca de revista transformada em caixa mágica de formas imbatíveis
na Av. Jerônimo Monteiro.
O melhor é que não temos controle sobre o que os olhos alheios
querem ou podem enxergar. Cada graffi ti é imagem e também é lugar.
Ele nos faz enxergar que estamos dentro da cidade dentro de nós.
Surgem como suportes: a cidade visível, tocável; a cidade invisível, o
espírito da urbanidade, o ar da cidade; e o fato de respirarmos esse
ar, experimentarmos ser urbanos. Por esse espírito é que trabalham
Fredone FONE, Alecs, REN, Japão, Somall, Iran, Limão, GRD, AQI,
Fagundes, Giu, Kito, Canela, Ed Brown, Smoke, Cain, James, Moska e
Arme (Cachoeiro do Itapemirim), Dione (Anchieta), Liam (Guarapari),
Ficore e muitos outros.
Aquilo que a cabeça “grafi ta” é a vida que existe no momento em
que o olho insiste em piscar.
as tensões do efêmero no concreto provocadas pela imagem-lugar graffiti
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rodrigo hipólito
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Horas de treino e estudo diários para encontrar um teatro vazio. A
plateia – quando há – se levanta durante o espetáculo, conversa e fala
ao celular. Esta é a realidade de muitos instrumentistas capixabas que
sofrem com o não reconhecimento da música erudita.
Muitos jovens que sonham em fazer parte de uma orquestra po-
dem acabar, na melhor das hipóteses, em uma sala de aula. O melhor
cargo entre as ofertas para esses profi ssionais no Estado pode ser o
de professor, o que frustra a parcela ansiosa pelos palcos. Talentos
com urgência por crescimento não encontram território amigável no
cenário musical do Espírito Santo.
Talvez o problema seja aquela velha mania do brasileiro de preferir
a grama do vizinho. O capixaba também parece seguir essa lógica ao
lidar com a sua música popular e, por isso, trata os músicos de outros
estados como superiores aos seus próprios conterrâneos. Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque: gênios da música. Mas quem é
Sérgio Sampaio mesmo?
o nosso gramado é bonito!O violonista e compositor Lucius Kalic (24 anos, foto no alto da
página 11) tenta responder. Ele tem um projeto que consiste em lançar
um songbook do músico capixaba Sérgio Sampaio. Songbook é um
livro que contém as cifras das canções e as melodias da voz e da letra.
É um registro que possibilita a reprodução das canções atendendo às
gravações originais, além de uma referência segura de análise teórica.
Lucius não quer o projeto funcionando apenas como material
científi co. Por trás da ideia existe um desejo de fã: “O songbook é uma
forma de ajudar a perpetuar a memória do artista e de disseminar seu
trabalho. Já existem songbooks de grandes artistas, mas não do Sérgio
Sampaio. Ele não tem a mesma projeção dos grandes músicos, mas está
no mesmo nível de Chico Buarque e de Gilberto Gil”, afi rma Lucius.
Voltando à música erudita, um jovem violonista prova que o
reconhecimento reivindicado para os instrumentistas capixabas não é
mera “patriotada”. Renan Simões (22, primeiro da esquerda para a
direita no canto inferior da página 11) esbanja talento no violão e já
ganhou 14 prêmios, 13 nacionais e um latino-americano, além de ter
participado de um concurso na Tv Cultura.
“Comecei a tocar bem cedo, nem sei precisar quando. Nunca me
prendi a nenhum estilo, sempre tentei tirar o melhor de cada um”,
diz o jovem enquanto abre uma gaveta e retira o livro 1001 discos
para se ouvir antes de morrer (de Michael Lydon e Robert Dimery. Ed.
Sextante, 2008). Renan conta que já ouviu todos os discos recomen-
dados. “As pessoas dizem, por exemplo: ‘Eu ouço só reggae!’. Mas se
você ouve só um estilo, você ouve do ruim ao bom. Eu prefi ro ouvir
de tudo e pegar o melhor de cada banda”, completa o músico.
Quando perguntado sobre a qualifi cação necessária para exercer
a profi ssão, Renan responde com uma experiência de fazer inveja a mui-
andreW laureth e leandro reis
entre rosas e espinhos. jovens instrumentistas no cultivo da mÚsica capixaba
NOvELO
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tos veteranos: “Não é preciso estudar muitas horas por dia depois de
certo tempo. O corpo não aguenta. Uma carreira musical não depende
só de você tocar muito bem, mas também de saber administrar a coisa”.
Os caminhos do músico erudito brasileiro não são fáceis. Além
de toda a preparação e a disciplina, necessárias para interpretar peças
complicadas, o artista ainda enfrenta problemas no mercado de traba-
lho. “A preparação na música erudita não é muito valorizada. Além de
o músico clássico se dedicar a tocar a sua música, que não dá retorno,
ele tem que parar para dar aula e resolver uma série de problemas do
trabalho, enquanto o músico popular pode se dedicar totalmente à sua
música e é extremamente valorizado”, diz Renan.
O músico também já tocou fora do Brasil e, como a grama do
vizinho sempre é mais verde, a gente já acha que o povo europeu tem
a cabeça diferente do brasileiro. A imagem de superioridade estrangei-
ra que criamos em nossa cabeça, parece não se confi rmar a partir dos
relatos de Renan, que se apresentou em Portugal: “A gente pensa que
Europa é outro mundo. Aconteceu que lá, no meio do concerto, tocou
um celular. O cara pegou o celular e atendeu, gritando: ‘Alô! Eu não
posso atender agora porque estou no meio de um concerto!’”.
é preciso cultivar nosso jardimPara o professor do Departamento de Música da Universidade Fe-
deral do Espírito Santo, Ernesto Hartmann (40), o não reconhecimento
da música erudita não acontece só no Estado, mas no País inteiro. Se-
gundo ele, nós, brasileiros, achamos legal quando são os europeus que
fazem, mas quando nós fazemos é inferior. “Aqui no Brasil, a gente
não tem um sentido de patrimônio cultural”, completa Hartmann.
Saindo da negatividade – embora real – da projeção que é dada
ao artista erudito, Lucius Kalic fala da importância da qualidade do re-
conhecimento: “Nos locais que eu passei como instrumentista, eu tive
um reconhecimento. Reconhecimento é quando as pessoas que têm
oportunidade de te ver reconhecem o valor do seu trabalho naquele
momento. Acho que a única forma de se avaliar o reconhecimento,
para quem não é famoso, é dizer que isso não tem ligação direta com
a quantidade de pessoas que conhecem o seu trabalho, mas com a
qualidade que elas veem nele.”
A música erudita, embora não tenha raízes fortes no Brasil, faz parte
da expressão cultural de algumas cidades do Espírito Santo. Domingos
Martins, na região serrana do Estado, é um exemplo disso. O jovem
Aloísio Endlich (20, segundo da esquerda para a direita no canto inferior
desta página) faz o resgate da cultura alemã trazida pelos imigrantes
para o seu município por meio do trompete. Além de aprimorar-se
enquanto instrumentista, Aloísio tem feito uma série de apresentações
com um grupo da própria cidade para recuperar o uso dos instrumentos
de sopro típicos da música germânica. Aloísio chama atenção para um
problema que afeta diretamente a cultura musical capixaba: “Acredito
que seja um problema de divulgação. Muita gente de Domingos Mar-
tins não conhecia a música erudita, mas depois que comecei a desenvol-
ver esse projeto as pessoas começaram a dar mais atenção”.
Muitas opiniões, mas todas parecem convergir ao velho problema
da grama. Com tantos jovens talentos ansiosos por lapidação, fi ca
uma impressão que, apesar de velha, ainda é atual: é preciso cuidar
mais do nosso jardim.
tos veteranos: “Não é preciso estudar muitas horas por dia depois de
certo tempo. O corpo não aguenta. Uma carreira musical não depende
só de você tocar muito bem, mas também de saber administrar a coisa”.
uma impressão que, apesar de velha, ainda é atual: é preciso cuidar
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Há quatro anos, nasceu a revista Prego sob o slogan “Quadri-
nhos, Arte Punk & Psicodelia”. A publicação reúne tudo isso, além de
entrevistas, literatura e humor. De acordo com um dos seus idealizado-
res, o estudante de Artes Visuais Alex Vieira (23 anos), “prego” foi o
nome escolhido devido aos seus vários sentidos. “Prego é um objeto,
um macaco, um adjetivo e em italiano signifi ca ‘de nada’. O nome foi
escolhido entre outros pescados aleatoriamente no dicionário, depois
disso fui agregando sentidos à palavra”, conta.
Alex explica que a revista surgiu para dar espaço à produção au-
toral de jovens artistas e é construída de maneira colaborativa: “Cada
artista produz seu trabalho, digitaliza e envia. A partir daí, vamos dan-
do forma às páginas”. Na sua última edição, a revista contou com o
trabalho de 29 colaboradores e foi lançada na Feira do Livro de Cano-
as, no Rio Grande do Sul, em junho deste ano. Em 2008, foi formado
o projeto coletivo Prego Publicações. Em seguida, o grupo também
lançou outros títulos como Ataque Fotocópia, de Alex Vieira, Gente
Feia na T.V., de Chico Félix, e Vulgar Manual, de Guido Imbrosi.
De maneira geral, entende-se revista como uma publicação
impressa. No entanto, cada vez mais a internet abre espaço para esse
tipo de veículo. A prova disso são os sites de publicações já existentes
no mercado – que muitas vezes reproduzem todo o material que sai na
versão impressa – e também as revistas que são idealizadas especial-
mente para a web. É o caso da Strombolli e da Urbano, revistas cria-
das visando a abrir novos espaços para a divulgação de arte e cultura.
A Strombolli, assinada pela designer gráfi ca Sthefany Frassi (22),
tem como foco as artes visuais e é feita “nos moldes” de uma revista
impressa, ou seja, os seus leitores podem folhear virtualmente as pági-
nas da publicação. O nome escolhido faz menção a uma pequena ilha
da região da Sicília, na Itália, onde existe um vulcão de mesmo nome
que tem erupções a cada hora. A proposta é comparar o fenômeno à
efervescência e à expressividade da arte pelo mundo.
A publicação reúne várias formas de expressões artísticas, como fo-
tografi a, artes plásticas, design, moda, entre outros. Sthefany conta que
a ideia de criar a revista veio da internet: “Sempre gostei de fi car na inter-
net vendo desenhos, ilustrações, quadros e tal. Daí, comecei a ver aquilo
com outros olhos, apreciar e anotar nomes de artistas que eu gostava”.
A primeira edição da Strombolli saiu no começo de 2009 enquanto
que a segunda em julho deste ano e a terceira foi lançada neste mês. A
perspectiva é que a revista tenha periodicidade trimestral e que ganhe
uma versão impressa. A Strombolli recebe trabalhos de colaboradores de
vários lugares, como o Reino Unido, a Argentina, Califórnia, a Alema-
nha, o México e, é lógico, o Brasil.
Enquanto a Strombolli optou por estar na internet utilizando o for-
mato de revista impressa, a revista Urbano usa o formato de blog para
veicular seus conteúdos. A publicação começou seus “posts” no início
deste ano e tem como pauta principal a arte e a cultura urbana. De acor-
do com o editor de vídeos Thiago Rocha (22), que compõe a equipe da
Urbano junto com outras cinco pessoas, o foco da publicação é mostrar
as várias manifestações urbanas, principalmente o graffi ti e o skate: “Em
todas as edições da revista, haverá um espaço reservado para esses dois
gêneros”, explica.
Thiago conta que a escolha dos assuntos que virarão matéria vai
de acordo com as demandas do dia a dia: as ideias são repassadas por
e-mail para a equipe e o redator é o responsável por escrevê-las. “Um
edita os vídeos, outro fotografa, outro cobre os shows e por aí vai”,
explica. A revista tem aumentado o número de visualizações e hoje as
visitas ao site estão por volta de mil acessos a cada 15 dias”, completa.
1 o ato de revistar. 2 exame minucioso. 3 publicação periódica
na forma de uma brochura mais ou menos extensa, com escritos
variados e geralmente ilustrada. 4 produtos editoriais de jovens capixabas sobre quadrinhos, artes visuais, cultura urbana e humor
NOvELO
aline alves
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[email protected] | @ALvESALINE
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para além das letrinhasEm 2002, cinco universitários se reuniram para produzir,
de maneira experimental, uma revista. Nascia a Quase #0.
A publicação lançou personagens, como o Homem Galinha
(capaz de derrotar qualquer oponente no ringue) e propagou
um debochado anti-capixabismo em suas páginas.
A partir da segunda edição, chamada de #1, o impresso
começou a tomar forma e trouxe consigo algumas característi-
cas que permaneceriam sempre agregadas à Quase: festas me-
moráveis, camisetas com chacotas e histórias em quadrinhos
envolvendo os costumes e os artistas locais. Os quadrinhos são
o foco principal da revista, mas há também matérias e outras
seções divertidas, como a destinada às cartas.
A última edição foi lançada em 2009 e, atualmente, a
atenção dessa trupe está voltada para o audiovisual. “O
mercado editorial é complicado, depois da internet o hábito de
comprar revistas foi se perdendo, principalmente no humor,
que é bastante perecível. Aí a gente fez essa transição”, diz
Juliano Enrico (26), que integra a equipe da Quase.
A publicação tem um blog, mas existe o projeto de criar
um site dentro do Portal MTv para veicular quadrinhos, maté-
rias e vídeos de humor. A Quase tem aparecido no programa
Fiz na MTv e todo esse conteúdo pode ser visualizado no
canal TV Quase, do YouTube.
Em breve, também deverá ser lançada uma espécie de
almanaque contando a engraçada e bem sucedida trajetória da
Quase nesses oito anos de sua existência.
URBANOrevistaurbano.com.br
QUASErevistaquase.blogspot.com
youtube.com/tvquase
STROMBOLLIstrombolli.com.br
PREGOrevistaprego.blogspot.com
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Há oito anos, quando Vitor Graize (27 anos) e Rodrigo de Oli-
veira (25) se conheceram na universidade, os dois amigos já tinham
em comum a paixão pela sétima arte. Agora, eles dividem o desafi o
de dirigir o longa-metragem As Horas Vulgares. O fi lme é o primeiro
projeto desse porte a receber incentivos da Secretaria de Cultura do
Espírito Santo, selecionado via edital em 2009.
O roteiro é uma adaptação feita pelos próprios diretores da obra
literária Reino dos Medas, publicada em 1971, por Reinaldo Santos
Neves. Embalada por muito jazz, a história do fi lme acontece em vi-
tória no início dos anos 2000 e gira em torno das angústias, paixões,
amizades e novas experiências de um grupo de jovens artistas.
A história de jovens envolvidos com arte se repete atrás das câme-
ras. Quase todos da equipe estão na faixa dos 20 e estão dando um
salto grandioso nas suas carreiras. São jovens talentosos e profi ssionais
promissores que já experimentaram parcerias em projetos acadêmicos,
ofi cinas, curtas-metragens ou já estiveram juntos nas aulas de teatro.
“Ao montar a equipe buscamos muito essa afi nidade de pessoas que
pensavam o fi lme no mesmo sentido que a gente. As pessoas trazem
coisas novas e as surpresas são sempre positivas. Acho que é a parte
mais bonita é ver como eles têm se dedicado do mesmo modo que a
gente e se apaixonando pelo projeto como a gente tá apaixonado”,
conta vitor. “Trabalhar com equipe e orçamento reduzidos para um
longa faz com que, naturalmente, todo mundo seja levado a defender
o fi lme com muito mais garra. O fi lme é tanto deles quanto da gen-
te”, enfatiza Rodrigo.
A estudante de Comunicação Social Joyce Castello (21) e a de
Desenho Industrial Camila Torres (23) não perdem o entusiasmo,
mesmo com toda a correria das suas funções de produtora de arte
e assistente de arte e de fi gurino, respectivamente. “É a primeira vez
que faço um trabalho não amador com uma equipe grande onde exis-
tem funções bem defi nidas”, conta Joyce. Para elas, agora é chegado
o momento de se projetarem no mercado profi ssional podendo fazer
o que gostam.
A criatividade também toma conta do set, como nos conta o fi -
a estreia de uma equipe jovem na produção de um longa-metragem representa um momento de renovação e boas expectativas para o cinema capixaba
kamilla custódio e katler dettmann
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gurinista Harrison Medeiros (23), ao expli-
car a ideia da metáfora visual usada como
referência para a concepção da cenografi a
e do fi gurino: “vimos uma cena corriqueira
de uma plantinha que nascia no meio de um
prédio e ligamos isso à personagem Clara,
que tentou resistir a Vitória até não conse-
guir mais e se retirou para o campo a fi m
de respirar”. A trajetória dos personagens
da fi cção é muito próxima da realidade da
equipe. A trama é marcada por despedidas
e mudanças na vida de jovens que buscam
encontrar a si mesmos no momento em que
a cidade parece ser pequena demais. E quem
vive da produção cultural no Espírito Santo
sabe que atuar no meio não é fácil e, por
isso, muitos jovens saem daqui em busca de
horizontes mais amplos.
Os atores capixabas Thaís Simonassi (28)
e Higor Campagnaro (26) foram para o Rio
de Janeiro em busca de novos espaços de
trabalho e agora voltam pelo mesmo motivo
que saíram. Clara, a personagem de Thaís, no
fi lme, parte de vitória para o lugar bucólico
e afastado da cidade chamado “lá mesmo”.
Sobre essa identifi cação ela diz: “Tem a ver
com minha trajetória de vida, de sair, porque
as coisas precisam mudar. É um orgulho voltar
para participar do projeto que é meu primeiro
longa também”. Foi essa realidade que insti-
gou os diretores a adaptarem o romance para
o fi lme, como conta Rodrigo: “Me parece que
a ideia de ser jovem em Vitória, desde a época
de Reinaldo, não mudou muito”.
DIÁRIO DE PRODUÇÃO
O relógio marca cinco horas da manhã de
uma sexta-feira. Chegam ao cais da Ilha das
Caieiras diversas vans trazendo a equipe de As
Horas Vulgares. A mesa de café da manhã é
montada ali mesmo, junto ao arsenal de ma-
quiagem, às muitas bolsas e aos equipamen-
tos de captação.
São cerca de 25 pessoas no set de fi l-
magem, todos empenhados para que tudo
aconteça como o planejado. Para garantir a
continuidade, Manuela Curtis (28), diretora
de arte, fotografa os atores de corpo inteiro,
rosto e detalhes antes que eles entrem em
cena. Enquanto isso, Joyce Castello tenta re-
solver o problema do orelhão. “Dez anos atrás
não existia essa empresa de telefonia. Vamos
ter que trocar o orelhão. Temos que ser fi éis a
esses detalhes”, explica.
Uma delicada voz pede: “Atenção, gale-
ra! Silêncio absoluto, tudo bem? Agora va-
mos gravar”. É a produtora de set Cláudia
Vilarinho (24) falando com os pescadores que
acompanham as gravações desde cedo. Entre
os pescadores, alguns cochicham sobre um
dos atores que corre e pula pelos arredores
enquanto se aquece para entrar em cena.
- Vamos rodar? Silêncio, gente. Prepara.
Som? / Rodando. / Cena 5, Plano 2, Take 1
/ AÇÃO!
Porém, um latido atrapalha os planos da
equipe. Cláudia corre para dar um jeito no
cachorro, que parece querer ser um dos per-
sonagens do fi lme. Resolvido o problema, é
pedido silêncio absoluto e o plano é rodado
novamente. Ficou bom. viva! A equipe vibra
ao assistir à imagem captada no pequeno mo-
nitor de vídeo. Mais alguns takes gravados e
pausa para o almoço.
A equipe ainda tem um longo caminho
pela frente: depois do almoço, mais cenas se-
rão gravadas e, no dia seguinte, outras e mais
outras... Tudo se repetirá até novembro, quan-
do a película será revelada. A partir daí, come-
çam a edição e a fi nalização do fi lme. Agora,
fi ca a expectativa para ver o resultado na telo-
na. A estreia de As Horas Vulgares está prevista
para junho de 2011. Paciência! Já-Já chega!
@ashorasvulgares | ashorasvulgares.com
www.facebook.com/ashoras
[email protected] | @[email protected] | @KATLERDETTMANN
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17
Em um baile funk é comum o uso de ter-
mos não muito amistosos para se relacionar
com as pessoas. Quem costuma “quebrar
tudo” é alguém que está arrasando no baile.
Uma “potranca” pode signifi car uma mulher
sensual. E “esculachar” o amigo é só uma for-
ma bem humorada de interação. Essas expres-
sões podem até soar ofensivas, principalmen-
te, se você for mulher, mas o que nem sempre
está claro é que existem muitas maneiras de
fazer e cantar o funk. Apesar de todos os ma-
neirismos e preconceitos que circundam essa
manifestação cultural, o que impera nos bailes
é a brincadeira e a curtição.
“Fazer funk é, acima de tudo, divertir-se”,
defendem Patrícia Alves (22 anos) e Poliana
Barreto (24). As duas, mocinhas de família e
trabalhadoras, escolheram seguir o complicado
ofício de cantar em baile funk. Elas são a MC
Malvada e a MC Poli Bolada e costumam “que-
brar tudo” com a galera, mostrando uma pro-
posta diferente de funk que adora “esculachar”
com os garotos que acham que as “potrancas”
só servem para rebolar em cima do palco.
As duas garotas são moradoras do muni-
cípio da Serra e fazem parte de uma nova leva
de MC’s que quer levar o funk capixaba a outro
patamar, sem necessariamente envolver vio-
lência, drogas e, principalmente, sem precisar
mostrar o corpo da mulher. “Às vezes a gente
até canta putaria, porque o povo gosta. Mas
é uma ou outra música só porque tá na boca
do povo, mas a nossa proposta é outra”, diz
Poli Bolada. Desconstruir o imaginário negativo
sobre funk não é fácil, mas as jovens funkeiras
tentam ao máximo trazer uma mensagem dife-
rente, principalmente, sobre a mulher.
Cansadas do preconceito contra quem faz
ou curte funk, elas sabem do valor social que
a música pode trazer às comunidades. Poli ex-
plica que diversas vezes as pessoas a olharam
torto quando souberam que ela cantava funk.
“Acham sempre que é coisa de bandido. Mas
isso acontece em qualquer lugar: no pagode,
no forró etc. Se você parar pra pensar tem
muita música aí que faz apologia às drogas e
ao sexo”, termina.
Para se contrapor ao estigma, as garo-
tas decidiram que o funk do bem era o que
queriam fazer da vida. Suas músicas falam de
amizade, futebol, namoros e do cotidiano do
povo. Reconhecimento ainda é difícil, princi-
palmente, porque as rádios capixabas prefe-
rem insistir no funk carioca, que já faz sucesso,
ao invés de oportunizar a produção local. “A
gente tem que crescer aqui, mas se o pesso-
al daqui não investe na gente eu vou ter que
mandar minha música pra fora, pra Minas Ge-
rais, pro interior do estado”, explica Malvada.
Quanto ao público, porém, elas garantem
que a resposta é imediata. “Na minha comu-
nidade, o pessoal sabe quem eu sou e valoriza
o meu trabalho”, diz Poli Bolada. Ela sente
orgulho por ter se tornado referência para
os jovens ao seu redor. “Quando você chega
num baile e a galera reconhece seu trabalho,
é muito gratifi cante. O pessoal vê o que eu
faço e pensa ‘a Poli defende as mulheres, os
gays, os negros’, e com isso olham pra mim
com admiração. Isso te motiva a fazer coisas
diferentes”, explica.
funk da paZO projeto Funk da Paz é uma iniciativa
que tem proporcionado a inserção e o reco-
nhecimento de meninas no funk capixaba. É
o caso de Jéssica da Silva Nunes (18) que diz
categórica: “Sou uma MC que não gosta das
putarias não! Falta espaço para a mulher no
funk ser representada com dignidade, porque
a mídia só investe em ‘proibidão’”.
Isso talvez explique o preconceito que
impede uma maior participação feminina na
cena funk. Para os pais de Jenifer da Vitória, a
MC Jenifer (16), não foi muito fácil aceitar a
vontade da garota de integrar o Projeto. “Até
hoje eles não gostam. Eu também achava que
não era coisa de menina, mas depois fui vendo
que tanto homens quanto mulheres podem
fazer esse trabalho”, explica Jenifer.
Atualmente, de um total de 17 jovens, o
Funk da Paz conta com seis meninas que já
fazem shows nos quais apresentam suas pró-
prias letras e passam uma mensagem de cons-
ciência social a outros meninos e meninas. A
iniciativa consiste na realização de ofi cinas de
canto e rima nas comunidades de periferia
de Vitória, onde os jovens são estimulados a
comporem sobre sua realidade e a se apresen-
tarem em público. Para a produção desta matéria, contamos com a colaboração do MC Tim e do MC Popay.
elas também dão o seu catuque.a participação feminina no funk capixaba
17
1818
bruna andrade
NOvELO
Pele e tinta. Pintura e vida. No corpo e na alma. Arte viva! Em vá-
rios locais do mundo e por diferentes motivos surgiu a tatuagem que,
até hoje, expressa signifi cados individuais e coletivos. Especialmente
entre as juventudes a tatuagem tem, cada vez mais, se consolidado
enquanto um produto de consumo e um campo de atuação profi ssio-
nal. Frente a isso, aventuramo-nos a conhecer um pouco sobre esse
mercado em ascensão no Espírito Santo. Nessa empreitada, contamos
com a contribuição de tatuadores de alguns municípios da região
metropolitana da Grande Vitória.
A entrada dessa galera no ramo da tatuagem tem relação com as
suas habilidades para o desenho e, para a maioria deles, o interesse
pela arte surge após se tatuarem pela primeira vez. E a caminhada
nessa profi ssão não foi fácil. Para muitos, o primeiro desafi o estava
quando o cliente é a vitrineum panorama de como atuam os jovens tatuadores capixabas
dentro de casa: poucos receberam apoio da família para investirem na
atividade. Porém, o acesso ao material de trabalho foi apontado como
a principal difi culdade no início da carreira, pois, há alguns anos, além
do alto custo, não havia fornecedores especializados no Estado. Os
novatos também tinham que enfrentar a resistência dos tatuadores já
estabelecidos no mercado.
Até conquistarem seu próprio espaço, alguns deles vivenciaram
situações pouco convencionais, como usar máquina caseira com agulha
feita de corda de violão, pegar material emprestado e até tatuar em tro-
ca de objetos como bicicleta ou relógio. A chamada tatuagem de verão
traçada com canetas nanquim e a prática em pele de porco fi zeram par-
te das estratégias de aperfeiçoamento usadas no início da carreira, sem
falar nos amigos que serviram de “cobaias” para os primeiros desenhos.18
1919
empreender a arteA maioria dos tatuadores consultados vive exclusivamente da
body art, seja apenas tatuando, seja também com a colocação de
piercing e maquiagem defi nitiva. Graças à habilidade para desenhar,
alguns desenvolvem outros trabalhos como graffi ti, aerografi a, pintura
de telas, ilustração, criação de estampa para camisas e de logotipos.
Outra possibilidade de atuação é na produção e na venda de séries de
desenhos.
Para todos eles, a paixão pela arte de tatuar, a paciência, a
humildade e a dedicação são as principais características para ser um
bom tatuador e permanecer no ramo. E ainda reforçam que, além
de ser uma arte, tatuar é um empreendimento. Por isso, é necessária
uma boa administração para manter o estúdio funcionando. É preciso
ser diligente com os pagamentos, horários e outros compromissos.
Os clientes devem receber um bom atendimento, terem a escolha do
desenho respeitada e sentirem-se seguros quanto ao uso dos materiais
e ao cumprimento das normas de biossegurança. O tatuador também
deve saber executar uma boa pigmentação, conhecer técnicas de
desenho e manter-se atualizado sobre as novidades do setor.
A internet foi indicada como a maior fonte de atualização, seguida
de outros meios como as revistas da área e do contato com outros
tatuadores para observar suas técnicas. Da mesma maneira, as con-
venções de tatuagem são espaços que proporcionam o intercâmbio
entre artistas e estilos diferentes, a divulgação de trabalhos e o acesso
a novas tecnologias em equipamentos e materiais.
Aqui no Estado, dois eventos desse tipo merecem destaque: a 1ª
Expo Tattoo ES, realizada em 2007, e o Vitória INK, que em 2009 che-
gou à sua 3° edição. O idealizador da 1° Expo Tattoo, Márcio Villar,
disse que percorreu vários estúdios de tatuagem do estado, ouvindo
a opinião dos tatuadores, a fi m de montar o evento. A Expo Tattoo
aconteceu na antiga área de eventos do Shopping Praia da Costa e
contou com 35 estandes, 50 tatuadores inscritos e um público de
três mil pessoas por dia, chegando a reunir quase seis mil pessoas no
terceiro e último dia. Incrementando o encontro teve graffi ti ao vivo,
exposição de fotografi as e esculturas, além de uma palestra sobre a
importância da biossegurança para o exercício da atividade.
Menguelle, organizador do Vitória INK, conta que a partir da 1ª
Expo Tattoo percebeu o potencial que o Espírito Santo tinha para esse
tipo de evento. Ele pulou de cabeça na ideia de fazer uma convenção
de tatuagem e no ano seguinte organizou os 1° e 2° Vitória INK.
A terceira edição rolou no fi nal de 2009 e os números falam por si
mesmos: 180 tatuadores inscritos, 11 categorias premiadas e um total
de seis mil pessoas durante três dias de convenção. A programação
contou ainda com a apresentação de bandas locais, exposição de
moda alternativa e graffi ti, além do sorteio de tattoos e piercings.
Comparando com tempos atrás, está mais fácil o acesso aos ma-
teriais e aos equipamentos necessários à body art, porém a profi ssão
ainda precisa ser regulamentada. A formalização legal da atividade de
tatuador tem sido debatida por todo o Brasil. No entanto, a questão
carece de mais participação por pessoas da própria categoria. São
também necessárias a organização e a mobilização dos tatuadores
para defenderem direitos profi ssionais e reivindicarem capacitação
técnica e investimentos públicos que promovam o desenvolvimento do
setor. Para essa galera hábil com agulhas e pigmentos, esse trabalho
criativo exige grande responsabilidade e profi ssionalismo, pois não se
esgota com o fi m da sessão de tatuagem; permanece vivo e impresso
no corpo do tatuado.
Contribuíram para esta matéria: Aline Girl (ArtPele Tattoo Studio),
Barraco, Bill Baumgarten (Bill Tattoo), Chinelo (Carlos Tattoo Studio),
Deivid Tattoo, Fábio Midgard, Felipe Tchulipa, Fuskão Tattoo, Gill
Tattoo, Iran Tattoo, Japão Tattoo, Lindomar Reinholds, Marcelo Ven-
turini, Márcio Villar (Tattoo Art Studio), Mazinho Tattoo, Menguele,
MC Popay, Patrick (Studio Defi nitiva Art´s), Robinho (Tattoo Art
Studio), Sandro Boca (ArtPele Tattoo Studio) e Wand Tattoo (Arte na
Barra Tattoo Studio). 19
fotos Thalita Covre
20
Em novembro, o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ) comemora o seu primeiro ano de
existência e, ao longo desse período, buscou promover e tornar acessível a produção artístico-
-cultural das diversas juventudes capixabas. Foi um ano cheio de experiências criativas e poten-
tes que continuam a motivar e a justifi car as atividades do Programa enquanto um catalisador
para a constituição da REDE CULTURA JOvEM.
As propostas selecionadas pelos Editais Cultura Jovem são um panorama representativo de
como o público do PRCJ vivencia a arte e a cultura. Foram escolhidas 45 iniciativas protagoni-
zadas por jovens artistas e produtores culturais do Estado. A diversidade e a qualidade dos pro-
jetos demonstram o quanto as juventudes capixabas estão antenadas com as novas tecnologias
e com a produção artístico-cultural contemporânea.
Para o Subsecretário de Estado da Cultura do Espírito Santo, Erlon José Paschoal, as ações
desenvolvidas pelo PRCJ potencializam o trabalho dos jovens artistas locais. “A cultura é um
campo propício para promover o contato com a diversidade, a valorização da realidade local e a
formação de cidadãos críticos. Por isso, a partir da experimentação artístico-cultural, investimos
na atuação autônoma dos diversos grupos juvenis do Estado”, completa.
Os objetivos do Programa vão além do incentivo aos criadores e produtores culturais. É
preciso fazer circular essa produção; conectar as diversas juventudes; aproximar experiências e
linguagens; e possibilitar a interação entre as diversas juventudes capixabas.
Seguindo a lógica da produção colaborativa em rede, o PRCJ estimulou conexões entre as
iniciativas a ele diretamente vinculadas e também junto a outros parceiros que fazem parte da
Rede Cultura Jovem. Isso foi feito por meio de ações virtuais e presenciais, como a veiculação
de conteúdos midiáticos, a realização de encontros e a participação em eventos. Saiba mais
sobre algumas dessas ações:
PRCJ
20
21
A conexão e a interação foram as marcas dos Encontrões
Rede Cultura Jovem. As duas edições do evento foram sediadas
no Centro de Treinamento Dom João Batista, na Praia do Canto,
em vitória, e aconteceram nos meses de maio e agosto. Esses mo-
mentos serviram para promover uma considerável aproximação
entre a equipe do PRCJ, os Núcleos de Criação, os Bolsistas e os
Agentes Cultura Jovem.
Um notebook, um tripé, uma webcam e acesso à internet.
Pronto! Essa é a estrutura que o PRCJ usou para fazer transmis-
sões ao vivo de som e imagem para o Portal YAH!. Ao longo desse
ano, foi feita a cobertura e a divulgação de diversos acontecimen-
tos como mostras audiovisuais, apresentações musicais, debates
e palestras. A maior parte dessas transmissões estão disponíveis no
Portal YAH!. Acesse www.portalyah.com.br e assista aos vídeos.
A valorização da realidade local das juventudes capixabas por
meio do audiovisual. Isso é que o acontece nas Mostras Capixabas
de Audiovisual (MCA) que, em 2010, exibiram as produções feitas
por jovens de 40 municípios capixabas.
Por meio das Mostras, muitos estudantes têm o seu primeiro
contato com todas as etapas do fazer audiovisual. Além de con-
correm em uma mostra competitiva, os jovens realizadores parti-
cipam de ofi cinas, discutem as suas criações e trocam experiências
com outros jovens.
Em 2010, as MCAs seguiram as temáticas Etnográfi ca, Ambien-
tal e Rural. Cada versão englobou uma região do Estado e aconte-
ceram, respectivamente, nas cidades de Pancas, Guaçuí e Castelo.
Durante as Mostras, as cidades sedes recebem jovens de di-
versos municípios vizinhos e se transformam em um espaço de
intensa movimentação artística. Dessa forma, esses eventos con-
tribuem para a valorização da cultura local e, ao mesmo tempo,
promovem a formação de polos de difusão da produção audiovi-
sual dentro de cada região.
Apostando na criação coletiva possibilitada pelo espaço es-
colar, foram lançados os Núcleos Yah! Escola. A ação consiste na
realização de propostas artístico-culturais protagonizadas por es-
tudantes da rede estadual de educação. Música, dança, desenho,
audiovisual, fotografi a e grafi tti são algumas linguagens experi-
mentadas nesses espaços.
Os Núcleos são iniciados com a realização das Mostras YAH!
Escola nas quais acontecem apresentações das atividades artístico-
-culturais já vivenciadas pela escola. A partir daí, os estudantes, de
modo autônomo, propõem e desenvolvem projetos culturais no
espaço escolar.
A Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo é par-
ceira do PRCJ na realização dessa ação. As escolas estaduais de
ensino fundamental e médio Dom João Batista, na Serra, e Irmã
Maria Horta, em Vitória, foram as primeiras a constituírem seus
Núcleos YAH! Escola.
foto Wanderlan Oliveira foto Gustavo Basílio
foto Maira Rocha
foto Ariny Bianchi
21
2222
Redes sociais, coletivos artísticos, tribos, turmas... A necessidade
de se criarem espaços de convivência para além das instituições tradi-
cionais, como a escola, a família e a religião, move os jovens na dire-
ção de formar coletividades. Os diferentes interesses e afi nidades, bem
como a necessidade de afi rmar o seu lugar e papel no mundo, dão
origem às múltiplas juventudes que marcam o nosso tempo. Muitas
vezes, esse comportamento é associado ao sectarismo, à formação de
guetos e à geração de incompreensões e de confl itos. Contudo, essa
afi rmação não refl ete toda a potencialidade de articulação e realização
do público juvenil.
Essa disposição para estar junto deve ser considerada por todas as
ações que buscam estabelecer interlocuções com as juventudes. Por
isso, para o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ), ninguém melhor do
que os próprios jovens para identifi car, pensar e acompanhar as ações
de sua geração. Afi nal, eles compartilham das mesmas inquietudes, da
criatividade afl orada e da vontade de fazer acontecer. A ideia de cons-
tituir uma turma de Agentes Cultura Jovem segue essa perspectiva de
dar espaço ao protagonismo e à capacidade de articulação juvenil. Ao
todo, 34 jovens de diferentes municípios do Espírito Santo passaram
pela experiência de ser um Agente.
a primeira experiência O encontro inaugural da ação aconteceu em novembro de 2009,
antes mesmo do lançamento ofi cial do PRCJ. As expectativas eram
gigantes: 14 jovens de diferentes municípios foram identifi cados por
meio de lideranças juvenis e de gestores municipais para comporem 22
PRCJ [email protected]/AGENTES
Ilu
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ção
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AGENTE SOMOS,A GENTE É
os jovens por eles mesmos. os agentes cultura jovem vivenciaram e conectaram as mais diversas experiências artístico-culturais capixabas
* Trecho da letra de funk criado pela Agente Cultura Jovem Laíssa Gamaro.
A GALERA TEM FOMEE TAMBÉM TEM SEDE!OS AGENTES TE CONVOCAMCAI COM TUDO NESSA REDE!VOCÊ JÁ ESTÁ NELANÃO DEIXE DE PERCEBER!A GENTE SOMOSA GENTE É CULTURA JOVEM!
ELE PROVOCA, VIABILIZA ELE É TRANSFORMADORAGENTE CULTURA JOVEMPOTENCIALIZADOR!
A GALERA TEM FOMEE TAMBÉM TEM SEDE!OS AGENTES TE CONVOCAMCAI COM TUDO NESSA REDE!VOCÊ JÁ ESTÁ NELANÃO DEIXE DE PERCEBER!A GENTE SOMOSA GENTE É CULTURA JOVEM!
ELE PROVOCA, VIABILIZA ELE É TRANSFORMADORAGENTE CULTURA JOVEMPOTENCIALIZADOR!
fernanda de castro
2323
a primeira turma. As atribuições dos Agentes já nasceram audaciosas:
mapear os talentos juvenis e mobilizar e dinamizar a cena cultural
da região. Durante três meses, foram discutidos vários temas que
serviram de ponto de partida para a realização de atividades orienta-
das. Ao fi nal da ação, os jovens envolvidos contribuíram com refl exões
sobre as suas próprias atuações e o desenvolvimento dos conteúdos e
das metodologias. As críticas, sugestões e elogios foram devidamente
acolhidos e incorporados à nossa pauta.
A experiência da primeira turma de Agentes foi fundamental para
subsidiar os passos seguintes e apontou o desafi o pela frente: elaborar
um projeto mais consistente e, principalmente, articulado às outras
ações do Programa que estavam em pleno processo de execução.
Foram alguns meses de pesquisas, debates e reuniões até chegarmos a
um novo formato da ação.
Todo o esforço valeu a pena! A Formação Agente Cultura Jovem
foi reorientada para a promoção de uma rede de liderança juvenil, cuja
atuação é voltada, prioritariamente, para o fortalecimento e o acom-
panhamento dos projetos contemplados pelos editais Bolsa Cultura
Jovem e Núcleos de Criação. Uma proposta inovadora e – por que
não dizer – inédita, uma vez que não se trata dos tradicionais cursos
de gestão ou produção cultural, mas sim de uma ação que privilegia
a ampliação do repertório cultural e estimula criticidade, criatividade
e novos olhares a partir da combinação de informações teóricas e
técnicas com experimentações e vivências.
A edição 2010 da ação é cheia de vida, sensações, interações,
trocas e sabores... É a síntese do espírito do Programa!
diversidade, limites, potencialidades e expectativasA segunda turma dos Agentes foi composta por 20 jovens – esco-
lhidos por meio de um processo seletivo – que residem nos municípios
nos quais estão localizadas as iniciativas vinculadas diretamente ao
Programa. Eles representam múltiplas realidades e linguagens artísticas
– reúnem cidade e periferia, urbanidade e ruralidade, contemporanei-
dade e tradição, academia e rua. Em comum, possuem uma expressiva
experiência na articulação e na mobilização da cena cultural local,
ideias em profusão e muita sede de transformação.
No novo formato da ação, os encontros presenciais mensais pas-
saram a ter a duração de um fi nal de semana, ao contrário da primeira
edição que durava apenas um dia. Outro diferencial foi a cessão de
máquinas digitais a todos, ferramenta indispensável para registrar os
processos criativos das iniciativas acompanhadas pelos Agentes.
Para a primeira reunião dessa galera foi proposto um formato de
imersão no qual os Agentes, ao compartilharem um mesmo espaço,
durante dois dias, pudessem estreitar os laços e estabelecer uma 23
2424
PRCJ [email protected]@HOTMAIL.COM
2525
relação mais próxima, solidária e colaborativa. A cumplicidade entre os
Agentes marcou todos os encontros e garantiu a motivação necessária
para a realização dos debates sobre o universo da cultura, comuni-
cação e tecnologia; das discussões sobre estratégias de visibilidade e
conexão e, principalmente, da proposição e do incentivo de vivências
artístico-culturais. Esses momentos fortaleceram a ideia de grupo e
ampliaram a capacidade de intervenção dos ACJ, tornando-os mais
aptos para atuarem junto aos Núcleos e aos Bolsistas.
Por sinal, o acompanhamento das iniciativas se constituiu em um
rico e divertido laboratório de aprendizagem e de experimentações,
ao permitir que os Agentes conhecessem mais de perto a execução
de um projeto e entrassem em contato com o processo criativo de
jovens artistas. Ao se relacionarem com o diferente, os Agentes foram
tencionados a entenderem o outro, a reavaliarem princípios e valores,
a lidarem com o inusitado e com o imprevisto. Mais: registrar os bas-
tidores e propor estratégias de conexão exigiu dos ACJ mudarem de
lugar e reverem pontos de vista. É nesse movimento que reside toda a
complexidade e sabor dessa ação do PRCJ.
Além dos encontros presenciais e do acompanhamento das
iniciativas, os Agentes foram convidados a participarem de atividades
complementares, como mostras audiovisuais, intervenções artísticas
e outros eventos culturais em que puderam exercitar vários papéis.
Atuaram como jornalistas, fotógrafos, cinegrafi stas, ofi cineiros,
apresentadores e até grafi teiros. O dia a dia e suas impressões foram
expressos, em textos e/ou registros audiovisuais, nos Diários de Bordo
– ferramenta virtual que substitui os relatórios e permite apreender
dimensões e sutilezas que muitas vezes são subestimados pelos gesto-
res das políticas voltadas para as juventudes. Os Diários têm o formato
de blogs e permitem que as informações sejam atualizadas constante-
mente, o que confere frescor aos registros postados. Esse dinamismo e
essa liberdade de expressar os momentos vivenciados produzem diver-
sas interpretações e olhares que trazem à tona sensações e percepções
que muitas vezes se perdem (ou desbotam) nos relatórios comuns.
Com o tempo, os espaços de encontro promovidos pelo Programa
se tornaram insufi cientes. Os Agentes, principalmente da região me-
tropolitana da Grande Vitória, passaram a se reunir semanalmente com
o intuito de constituir um coletivo artístico. Essas interações não foram
reduzidas à região metropolitana. Pelo contrário, elas desafi aram e
superaram as distâncias! A ACJ Kamila Lübe (24 anos), de Domingos
Martins, por exemplo, foi convidada pelo ACJ Julio Dettmann (23),
morador do município de Pancas, a repassar os seus conhecimentos
sobre danças alemãs ao Núcleo de Criação Edelstein. O resultado do
trabalho ela conferiu na Wurst Fest (ou Festa da Linguiça), em Afonso
Cláudio, quando todos estiveram juntos novamente. Kamila também
se apresentou no município de Rio Novo do Sul por meio da indicação
da ACJ Ariny Bianchi (19), de Vitória.
O que falar então de wanderlan Xavier (26)? Desde a sua entrada
na ação, o agente tem dinamizado a cena cultural de Pinheiros e, a
partir do contato com a produção e a discussão sobre audiovisual,
proporcionada pelo PRCJ, habilitou um projeto para a realização de
um documentário sobre a Folia de Feis do seu município. Há ainda
casos curiosos, como o do ACJ e bailarino Allan Moscon (20), que se
tornou aluno da bolsista Alana Moreira de Aguiar (17), cujo projeto ele
acompanhava, e da ACJ Drielly Rodrigues (23) que, ao representar o
PRCJ nas Ofi cinas Galpão de Qualifi cação e Intercâmbio Audiovisual
promovidas pela produtora Galpão, foi convidada para ser diretora de
arte de um vídeo produzido em Goiás.
Nesses breves e intensos cinco meses, os Agentes promoveram vá-
rias conexões cujos resultados ainda não podem ser mensurados. Claro
que nem tudo foi fácil. Pelo caminho, além das descobertas, surgiram
obstáculos e questionamentos. Além disso, os Agentes experimenta-
ram e vivenciaram a trajetória percorrida em diferentes intensidades.
Como qualquer outra atividade, a ação Agente Cultura Jovem
não é um produto acabado e está sujeita a avanços e recuos, a novas
reformulações, a erros e a acertos. Seu atual formato foi concebido num
contexto em que a Rede ainda era um embrião em fase de construção e
de fortalecimento. Após um ano de Programa, temos outro cenário que
impõe novas demandas e infl uencia diretamente os rumos da Forma-
ção. Hoje, se a Rede Cultura Jovem é uma realidade, isso se deve, em
boa parte, à adesão, ao entusiasmo e à energia dos Agentes. De manei-
ra criativa, desde a primeira turma, essa galera contribuiu para atar nós
entre as diferentes juventudes capixabas que fazem parte da Rede. 25
26
CROCHÊ LITERÁRIO
Talvez seja isto: uma literatura embalada num formato cilíndrico
em que a cada momento sejam retirados da embalagem textos de
forma exata, mas de sabores distintos. Isso é o que eu entendo por
Mainá e pelos seus poemas, todos muito breves e, em contraparti-
da, leitura longa. Explico: é tudo milimetricamente posto, colocado,
aposto, de forma que cada leitura permite uma nova forma de
compreensão, uma nova possibilidade.
Sobretudo, aos finais. A própria autora, em conversas aqui e
ali, define esses desfechos com uma onomatopeia ideal: blá. E é
exatamente isso. São finais de conversa na ponta da mesa para a
discussão que são abertos, indecisos, mas nunca indiferentes e que
pontuam sua escrita e a tornam própria para o consumo imediato e
compulsivo.
Tão doce quanto essas pequenas doses de guloseima literária
são os textos da Barata, ou melhor, Fernanda Barata. Precisos e
irrepreensíveis, eles trazem à tona encontros impensáveis de uma es-
crita madura, adulta, com uma gama de sensações e de sentimentos
tão velozes quanto os de quem passa pela vida aos cinco anos.
Intenso, mas não fugaz. O que Fernanda constrói é um convite
a passear por itinerário próprio, repleto das grandes paixões pela
arte e pelo próprio homem, até os pequenos momentos de um
cotidiano pleno, do gosto do arroz misturado ao feijão, do barulho
das garfadas e do atrito do sapato.
Creio que, aqui, não caiba um convite à escrita das meninas.
Não precisam de apresentações. Ao contrário, elas estão preparadas
para estamparem os muros de papel, concreto ou carne e osso.
Irrepreensíveis, ou quase.
daniel fernandes
cronópio apresenta mainá loureiro ferreira & fernanda barata
A mão desliga o despertador e os olhos abrem com má vontade.
As olheiras e a boca se rabiscam antes de sair
E os braços se preparam pra colidir, com quem quer que seja.
Os dedos conhecem todos os caminhos que levam a Roma.
Os pés não pensam,
Se carregam tortos e esquizofrênicos por lugar nenhum.
Os ouvidos, escondidos, espiam conversas mesquinhas.
As papilas não têm consideração pelo estômago,
E o sangue sofre as consequências calado.
Os ombros se dão às perguntas, nunca respondem.
O coração só quer quem não pode estar aqui
E o cérebro esquece as promessas que a língua fez.
mainá loureiro
o cronópio é um projeto de extensão do departamento de comunicação da ufes que edita mensalmente a revista online graciano voltada para a literatura produzida no espírito santo. uma das seções da revista é a valise, que veicula textos inéditos produzidos pelos cronópios. aqui, apresentamos dois desses autores: mainá loureiro ferreira (21 anos) e fernanda barata (20), ambas estudantes de publicidade. a resenha sobre as duas autoras é de daniel fernandes vilela (20), outro de nossos integrantes.
27
a crise do sujeitoNum belo dia de colorido céu, pince-
lado nervosamente com nuvens esfuma-
çadas, Joãozinho largou da casa determi-
nado a dar sua contribuição diária àquele
alvoroço de azul com branco misturado no
cinza. Ajuntou amarelo-limão com laranja
de cádmio, mais azul-cerúleo com verde-
-inglês nº 05. Um tiquinho de lilás e tratou
de explorar aquele mundaréu infinito des-
provido do receio de, por acaso, borrar um
pedacinho ou exagerar um tom. Rabiscava
tão abestalhado que mal percebeu ter se
deixado até aquela amarelice toda.
Terminado o serviço, enquanto reunia
os trequinhos, percebeu estar sendo ob-
servado e comentado, pelo visto há algum
tempo. O grupo de observadores achegou-
-se e admitiu impressionado com a agili-
dade e talento do moleque. Propuseram,
então, a Joãozinho, que voasse mais baixo,
bem discreto, em troca de cores especiais
e ingressos para o cinema.
Imaginou se não estava muito novo
para o risco da arte. Mas que mal fariam
algumas pipas?
o mundo em redeEra dia de comemoração, pois João
dispunha de novas peripécias, que fez
questão de expor aos convidados. Com-
pareceu gente de todo o tipo interessada
em seu trabalho: amigos, desconhecidos
de alguns conhecidos e até estrangei-
ros de passagem pelo país. O anfitrião
fazia questão de cumprimentar a todos e
oferecia peças raras a preços inicialmente
modestos. Estava orgulhoso de si mesmo,
mas preferia falar pouco sobre as dificul-
dades do ofício.
Propôs um brinde inusitado; entretan-
to, a surpresa ainda estava por vir – coisas
de gente famosa...
Decola, João! Passa sebo nessas cane-
las e pinta ligeiro! Se manda, rapaz, en-
quanto o negro ainda não secou! Acelera,
senão! ... te pintam permanente escuro.
Coberto mofo.
Quadriculado.
O Sentir em Detrimento do Entender
Houve uma proposta de intervenção
coletiva em agradecimento ao artista.
Muita gente que já admirava os traços
estava disposta a contribuir de alguma
forma. E partiram para a ação.
A tela crua foi desvirginada sem prepa-
ro algum: sem banho químico, sem conver-
sa – ao que o burburinho coletivo deu lugar
ao murmúrio ordenado: um de cada vez.
Logo de início sobressaiu o avermelhado, a
que, aos poucos, se juntou o laca gerânio –
mais para o final consolidado em carmim.
Tons de roxo espalharam-se com rapidez:
a obra parecia pulsar. O vinho tinha até
gosto quente e o pretume soava frio.
Não houve fio descoberto. Nem houve
poro inexplorado.
Satisfeitos, deixaram a tela secar na
sombra, para, somente depois, dar os
retoques finais.
o sujeito fragmentadoAo final de três dias, tudo havia
ocorrido como o combinado. A encomen-
da foi executada com maestria, esvaindo
colorido. Van Gogh não ousaria tão vivo.
Nem Picasso deformaria tanto.
O artista estava sem condições de se
manifestar.
CROCHÊ LITERÁRIO
27
fernanda barata
2828
O brasileiro nunca pôde ler tanto. Com
cerca de 70 milhões de usuários no país,
a internet tem alterado signifi cativamente
a forma como consumimos e produzimos
informação, seja por meio da leitura online de
jornais e revistas, seja por meio de redes sociais
como o Orkut e o Facebook ou blogs (o Brasil
é o quarto do mundo em número de leitores
de blogs), alimentados por novos produtores
de conhecimentos e devorados por leitores
vorazes.
Não poderia ser diferente quando fala-
mos em Literatura. Há onze anos os blogs
contribuem com a produção literária brasileira
lançando novos nomes. A internet nos tem fei-
to acreditar em espaços de leitura que estavam
deixando de existir, como os círculos do livro,
e tem gerado ambientes que democratizam o
pensamento crítico sobre literatura.
Enquanto os veículos jornalísticos conven-
cionais têm diminuído o espaço reservado à
cobertura especializada de artes, o meio virtual
tem se tornado referência para leitores que
buscam análises mais profundas e guias para
leitura e também para aquelas que fazem da
literatura uma profi ssão e não se inquietam
com as mudanças possibilitadas pelas novas
ferramentas digitais.
Como se não bastasse, hoje, qualquer um
pode lançar seus escritos, seja por meio de
um blog, seja por meio de livros digitais que já
circulam com facilidade pela rede.
Conheça alguns desses espaços:
portal literalCriado em 2002, o Portal Literal conta
com espaços para colunistas fi xos, especiali-
zados em Literatura e para qualquer um que
queira postar críticas, entrevistas ou textos
literários. Conforme o grau de relevância e
a qualidade do material postado, os leitores
da página pontuam o texto fazendo com
que os conteúdos mais relevantes fi quem em
destaque.
A quantidade de textos publicados, a
multiplicidade de opiniões e a segurança das
informações postadas que passam por avalia-
ção e que podem ser corrigidas, possibilitam
que o site reúna vasto material para pesquisa.
www.portalliteral.terra.com.br
blogs das editoras cia das letras e cosac naifY
As grandes editoras têm possibilitado
o debate entre os seus leitores e postado
informações em blogs sitiados em seus portais.
Exemplos disso são os da Cosac Naify e da Cia
das Letras. Esses sites apresentam um ponto
de vista mais pessoal e ganchos mais factuais
sobre Literatura. Nesses espaços, os leitores
não se cansam de discutir as novidades sobre a
produção literária que não aparece na cobertu-
ra dos jornais.
www.blogdacompanhia.com.brwww.editora.cosaicnaify.com.br/blog/
germina literatura e escritoras suicidas
Um contraponto à escassez de material
na mídia impressa, as revistas literárias há
tempos têm feito bonito na rede. A Germina,
além de trazer textos inéditos de autores, é
referência em jornalismo cultural de qualida-
de. Com uma proposta semelhante, a Escrito-
ras Suicidas veicula textos que tratam, quase
sempre, do universo feminino – um projeto
vitorioso que deu origem ao livro Dedo
de Moça, compilação dos melhores textos
publicados na página. O mais importante:
as duas não estão sozinhas – são diversas as
experiências como estas.
www.germinaliteratura.com.brwww.escritorassuicidas.com.br
skoob – o que você está lendo?
O Skoob é uma rede social totalmente
dedicada à Literatura. Nela, os usuários com-
partilham experiências sobre suas leituras,
postam críticas, sugerem livros aos amigos
relacionados, montam sua estante e avaliam
os títulos lidos. O mais: interessante é que
o site é um ótimo espaço para fazer amigos
com gostos afi ns e conhecer novos títulos em
circulação.
www.skoob.com.br
buscam análises mais profundas e guias para
leitura e também para aquelas que fazem da
literatura uma profi ssão e não se inquietam
com as mudanças possibilitadas pelas novas
Como se não bastasse, hoje, qualquer um
pode lançar seus escritos, seja por meio de
, seja por meio de livros digitais que já
conta
com espaços para colunistas fi xos, especiali-
zados em Literatura e para qualquer um que
queira postar críticas, entrevistas ou textos
literários. Conforme o grau de relevância e
a qualidade do material postado, os leitores
não se cansam de discutir as novidades sobre a
produção literária que não aparece na cobertu-
ra dos jornais.
www.blogdacompanhia.com.brwww.editora.cosaicnaify.com.br/blog/
germina literatura e escritoras suicidas
Um contraponto à escassez de material
na mídia impressa, as revistas literárias há
tempos têm feito bonito na rede. A Germina,
com gostos afi ns e conhecer novos títulos em
circulação.
www.skoob.com.br
OBSERvATÓRIO [email protected] | @HAROLDOLIA
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haroldo lima
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CRÍTICA EMARANHADA [email protected] | @BUBOUS_IDEIAS
Lembro-me bem, por volta de 2004 e 2005, como a Praia de Itaparica, em vila velha – mais precisamente
no point conhecido como 1º Quiosque –, era movimentada nos fi nais de semana à noite. No entanto, não
me refi ro aos frequentadores noturnos da praia; pessoas que aproveitam o calçadão para caminhar, correr
ou curtir a brisa. Refi ro-me ao Bar Entre Amigos 2.
O Bar foi um dos mais badalados da cena underground da Grande vitória. Eram shows todos os fi nais
de semana com bandas dos mais variados estilos como punk rock, hard core, trash metal, heaven metal
e por aí vai. Sendo espaço de toda essa movimentação, o Entre Amigos (como era mais conhecido) foi
desativado devido à construção de condomínios residenciais em seus arredores e, desde 2008, passou a
funcionar um restaurante no mesmo lugar.
O início dos anos 2000 foi uma época em que a cena musical capixaba estava em ascensão e,
consequentemente, bandas underground também começaram a ganhar representatividade e público.
Em meio a essa efervescência de som pesado em que Stage dive, ReadWalk e Morsh eram ingredientes
fundamentais de uma boa noite de rock, começaram a despontar também bandas cristãs underground.
Claro que esse ambiente não era nada habitual para evangélicos transitarem. Os jovens que
frequentavam esse tipo de show tinham um posicionamento muito crítico em relação a valores sociais mais
conservadores. Eram donos de um estilo de roupa pouco convencional, com muitas tatuagens e piercings, e
de uma postura radical que ia além do consumo deliberado de drogas. Era óbvio que ia haver discriminação
com os “crentes” e entre os próprios “crentes”.
Se levarmos em consideração os estereótipos, perceberemos esses universos como antagônicos. Há um
imaginário sobre o jovem evangélico que o defi ne como alguém que não curte rock, veste-se de maneira
muito recatada, não possui um senso crítico sobre a sociedade, é careta e canta apenas “hinos” da Harpa
Cristã. Obviamente tal percepção confl ita com a imagem da galera metaleira que cultiva um visual mais
“agressivo” e que, por vezes, defende o slogan “o diabo é pai do rock”, como cantou Raul Seixas.
Para a galera cristã que fazia parte da cena underground, a escolha religiosa não interferia em suas
preferências musicais. O negócio era fazer barulho, fazer som, tocar rock n’ roll, mas eles não abriam mão
de expressar os seus valores religiosos nas letras. Dessa forma, a produção musical, além de abordar os temas
de crítica social, tornou-se instrumento de evangelização, postura essa que demorou a ser reconhecida pelas
igrejas mais tradicionais. No entanto, em 2000 surgiu em Vitória a Comunidade Milícia, igreja que, quando
comparada às denominações mais convencionais, permite ao jovem se expressar mais livremente, visual ou
musicalmente.
O White Sheep foi uma das bandas que surgiram no período áureo do Entre Amigos 2. Todos os seus
integrantes são membros da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e passaram por difi culdade de aceitação
dentro e fora do meio cristão. Foram necessários alguns anos de labuta para conseguirem respeito e valorização
de seu trabalho. Hoje, eles fi nalizam o segundo álbum da banda, previsto para ser lançado em 2011.
Nessa trajetória as bandas cristãs ascenderam qualitativamente, ganharam espaço e começaram a
dividir o palco com bandas não-cristãs. No início, foram recebidas com receio, mas hoje sua presença no
meio underground é encarada com naturalidade e respeito. Alguns produtores de shows undergrounds
enxergam nessa relação uma possibilidade de diálogo em que o que importa mesmo é o som.
Independente da dicotomia suscitada, o fechamento do Bar Entre Amigos 2 contribuiu para um
esfriamento da cena underground capixaba, mas como pra Deus nada é impossível, foi inaugurada uma
nova casa de shows que pretende suprir essa carência: o bar Águia Marcante situado na Praia de Itapuã,
também em vila velha. Estamos ansiosos por esse milagre!
ADRIANO MONTEIRO
Contribuíram com esse texto Paulo Carvalho e Raphael Pegoretti.
30
CRÍTICA EMARANHADA
O grupo Teatro Empório mais uma vez nos brinda com um belo espetáculo. Liderado por Leandro
Bacellar, o grupo trouxe a lume ao palco do Teatro Galpão a peça Rosa Negra – do próprio diretor, cujo
enredo se estabelece no caos apocalíptico, no fi m do mundo pensado pelo cristianismo. Até agora, apenas
a cidade de vitória contou com a montagem do texto: nos meses de Julho e Agosto, no Teatro Galpão, e
em Outubro no Teatro José Carlos de Oliveira, no Centro Cultural Carmélia, durante o vI Festival Nacional
de Teatro Cidade de vitória.
Na trama, Céu e Inferno se juntam para tentar salvar o ser humano, que aqui faz parte de uma
sociedade regida por um governo mundial e dividida entre os que seguem as normas do Estado e os que
não concordam, mas que também não suscitam alternativas para se sair do caos. Nura (Luana Eva) e
Pecamino (Leandro Barcellar), representantes de Deus e o Diabo, respectivamente, materializam esta cena
no acordo que fazem logo no início do espetáculo.
Não há dúvidas que se percebem alguns problemas de estrutura. E isso, acredito, faz parte de todo
um desencontro que insiste em ocorrer entre a arte e a cultura, a arte e o poder público, que não brinda a
cidade de Vitória com um teatro autêntico, com um núcleo de produção cênica que possibilite os elementos
necessários para se fazer um espetáculo. Não temos isso no Espírito Santo: o incentivo é pouco, o aluguel
dos espaços teatrais não costuma ser barato, não há um volume representativo de peças sendo encenadas
na capital e, com efeito, não temos um público representativo e constante nos teatros da cidade. A
consequência disso é a não possibilidade de se desenvolver espetáculos de conforto – tanto para a produção
quanto para o público – com frequência por aqui.
Rosa Negra possui méritos no espaço cênico, sobretudo, pela paixão pelo teatro visível em cada
componente do grupo. O elenco se mostra apaixonado pela arte dramática ao debruçar-se sobre o
texto com devoção e clareza, demonstrando fi delidade ao enredo pensado por Bacellar. Os personagens
Pecamino, Nura, Morte (Camila Bautz) e Nogo (welersson Grassi) mostram não só o domínio do texto, mas
uma completa sintonia com a ribalta, seja na interpretação forte, marcada pelo toque pessoal de cada ator,
seja nos diversos diálogos com o público disseminados ao longo da encenação.
A peça faz parte do teatro contemporâneo principalmente pela escritura não convencional, que inova
a partir de temas já bastante encenados e, por vezes, batidos – como “Deus e Diabo”, “céu e inferno”,
“bem e mal”. O texto mostra um autor empenhado em um exercício constante de trazer o novo. Ainda
que por vezes a escrita pareça movediça, em raras desestabilidades, ela nos apresenta um exercício estético
interessante, que pode nos apresentar a um grande dramaturgo num futuro bem próximo.
Merece destaque o tratamento musical dado à peça. Com uma trilha sonora bastante contemporânea,
marcada também pela sensação apocalíptica, a peça ainda traz a intercalação com tambores afros. Um
músico toca congas em momentos pontuais – alguns cômicos –, criando uma atmosfera cênica bastante
peculiar e própria. Iluminação e fi gurino não fi cam para trás, distinguidos pela sintonia e ousadia, que dão
ao espetáculo a sensação de se estar no fi m do mundo – mas não aquele convencional, marcado somente
pelo medo, a agonia, a dor. Por aqui, essas formas de recepção até são sentidas, mas numa busca incessante
pelo não clichê.
MOISÉS NASCIMENTO
31
Casé Lontra Marques é autor de quatro livros exaustivamente elogiados pela crítica: Mares Inacabados
(Editora Flor&Cultura, 2008), Campo de Ampliação (Lumme Editor, 2009), A densidade do céu sobre a
demolição (Confraria do Vento, 2009) e Saber o sol do esquecimento (Aves de Água, 2010). Em sua obra
publicada, como em toda grande obra, a profusão de linhas mestras evita um delineamento muito pontual,
uma definição que se encerra em um núcleo temático. O estilhaço existencial que se dilui na língua impede
a fixação de um único pilar que sustente a potência dessa poesia.
Supomos, entretanto, que a escrita de Casé Lontra Marques tenha como movimento maior o de
intensificar uma desorientação (ou uma “reorientação dos atos de distração”); o passo que rompe o silêncio
do sujeito (ora expressão minimalista da contenção da fala, ora uma repetição imoderada e tautológica) e
conduz ao desconforto da proposição de novas estruturas de fala: uma possibilidade de alargamento da
intensidade, a imposição dos ilimitados mares inacabados ou de um campo de ampliação.
Encontramos na obra do poeta uma contundente proposição de fala; o poeta persegue “tanto ritmos
quanto cores” e compõe – em movimento de procura por sintaxes, repetições, ressignificaçõe –, uma ácida
e sofisticada crítica política da subjetividade: a poesia propõe uma extensão da experiência, a possibilidade
de “conhecer com mais braços para criar”, como afirma em A densidade do céu sobre a demolição; e o
leitor é com-vocado (convidado a tomar a palavra e romper a fala ausente).
Nos livros de Casé Lontra Marques chama atenção uma subjetividade que, longe de toda assepsia
impessoal, encena e é encenada, como garante Maria Esther Maciel, “ora através de um ‘nós’ cauteloso, ora
através de um jogo de aparecimento/desaparecimento”, a consciência de uma “outridade” que se revela a)
no edifício temático (violência, cidade, corpo, desconforto, apatia); b) na ressignificação e no diálogo com
a tradição literária (há densos diálogos e discussões, principalmente, com a poesia de Fiama Hasse Brandão,
Herberto Helder, Camões, João Cabral de Melo Neto); e c) numa arqueologia do sujeito – o “eu” na poesia
de Casé Lontra Marques suscita demasiado interesse, pois se revela e se oculta com exatidão, ao mesmo
tempo que se configura ciente da crise de uma subjetividade privatizada, é pós-cabralino, porque não nega
um sujeito. Ao contrário, assume, pontualmente, uma subjetividade demarcada, como podemos observar
nos versos de seu primeiro livro: “Aluguei um quarto, falta / agora a solidão. Serei / todo paredes / para o
incêndio / prestes / a respirar”. Ou ainda, “Agora / que encontrei para onde / voltar, pretendo / apenas ter
passos de prosseguir”. E em diversos outros momentos.
Não é difícil perceber que, pelo menos em seu primeiro momento, a poesia de Casé Lontra Marques
oferece elementos que apontam para uma íntima relação com o sujeito que se estabelece na escrita cabralina
e essa pode ser uma interessante chave de leitura. O que significa, no verso, “o sol do sarcasmo”, “o sol
(...) simulado na dispensa da distração”, “o sol (...) estritamente calcário”, “o sol inchado na palma do
paladar”, “o sol do sexo”, “o sol do suor”? Qual sua relação com “o sol do deserto”, o sol que seca a flauta
de Anfion, o sol que “não intumesce a vida / como a um pão”, o sol lúcido de João Cabral de Melo Neto?
Enquanto o sujeito em Cabral silencia na assepsia da coisa, no texto de Casé a cidade se corporifica e
goza de um rosto, de vários rostos: “Através da vidraça trincada, dá pra ver a cara calma \ da calçada” ou
“Mas a língua vibra \ com o sol inchado na palma do paladar”. Entretanto, procurar na perseguição da
metáfora uma chave comum de decodificação é neste último declinar em consumo – “O poema ensina
a cair \ sobre os vários solos”, nos diz Luiza Neto Jorge. Não é outra coisa senão a própria escrita poética
que indica o método, ou seja, o caminho de uma apreensão nunca exata, sempre uma “arquitetura da
instabilidade”: Como sugere o próprio poeta: “Será preciso aceitar o movimento para talvez espetar a ponta
da língua na fibra efêmera que dilata a potência do paladar”.
Tatear o longo poema ora se aproximando do sarcasmo ora da atenção é como devemos aceitar esse
movimento.
MARCOS RAMOS
32
[email protected]ÍTICA EMARANHADA
O nosso diálogo com a realidade é, em boa medida, intermediado pelo patrimônio cultural que ajudamos
a construir e a manter. Isso nos incita a, cada vez mais, tomarmos consciência de que a preservação e a
valoração da nossa cultura implicam, em última análise, a preservação e valoração de nós próprios.
Atualmente, temos muitos espaços de cultura cujo acesso é um direito de todos. Entretanto, nem
sempre foi assim. Da década de 1920 (quando foram apresentados os primeiros projetos de lei que visavam
à preservação do patrimônio cultural no Brasil) à Constituição de 1988 (que forneceu um conceito bem
abrangente do patrimônio cultural) um grande esforço foi feito para garantir a preservação e nosso contato
com o patrimônio cultural.
Vejamos como tem sido a promoção desse tipo de contato com os bens culturais em Vitória. Um
bom exemplo é o Instituto Goia que, há alguns anos, prepara jovens para trabalharem na restauração
de monumentos arquitetônicos. Igrejas coloniais e a Catedral Metropolitana são alguns dos imóveis
contemplados pelas ações do Instituto. Outra faceta do Goia, desenvolvida em parceria com a Prefeitura
Municipal de Vitória, revela-se nos roteiros do Projeto Visitar que, ao mostrar uma releitura da história da
cidade a partir de construções de datações variadas, tem resgatado a relevância histórico-cultural do Centro
da Capital. Muitas escolas têm utilizado o roteiro do Projeto como uma ação de educação patrimonial para
os seus alunos.
Em se tratando de escolas, os estudantes têm sido o público mais visado pelos programas ligados ao
patrimônio cultural. Tal fato pode ser constatado pelas ações promovidas no/pelo Palácio Anchieta que
desde o começo de 2009 tem recebido grandes exposições. Durante toda a semana, centenas e centenas de
estudantes visitam o prédio para conhecerem o acervo do próprio Palácio, além das exposições itinerantes.
Grande parte dos grupos escolares vem do interior do estado. Esse tipo de contato possibilita intercâmbios
culturais entre o conteúdo das exposições e a bagagem cultural dos estudantes. Por vezes, essas visitas
constituem a única oportunidade que alguns estudantes têm de conhecer o patrimônio cultural. Muitos
sequer conhecem os espaços e patrimônios de suas próprias cidades.
Percebemos que existe um fl uxo grande de visitantes vindo do interior e dos outros municípios da
Grande Vitória em direção à Capital, porém a recíproca não é verdadeira. É justamente isso que falta
atualmente. A divulgação e o acesso a espaços culturais localizados fora de vitória ainda são defi cientes.
Naturalmente que há esforços para equilibrarem essa relação, que podem ser vistos em sites e blogs, mas
esse tipo de mobilização ainda é, por demais, limitado e pontual.
A preservação de elementos de nosso patrimônio cultural está diretamente ligada à divulgação e ao
número de visitantes. Basta lembrar que o Palácio Anchieta, espaço cultural que mais recebe visitantes na
capital, foi restaurado entre 2004 e 2009. O excelente estado do prédio após as obras, somado ao trabalho
de divulgação e às exposições itinerantes, atrai muitos visitantes. A mesma lógica se aplicaria ao patrimônio
cultural contido no interior do estado: melhor divulgação e acessibilidade atrairiam visitantes, o fl uxo de
visitação seria muito benéfi co para o patrimônio e para grandes contingentes de visitantes que seriam cada
vez mais atraídos pelo desejo e pelas oportunidades de conhecerem nossa cultura.
E se, atualmente, constatamos que a maior parte do público que frequenta os espaços culturais da Capital
são jovens estudantes, torna-se latente a necessidade de ampliarmos o contato com o patrimônio cultural
contido fora de Vitória para que os horizontes desse grupo de visitantes sejam cada vez mais ampliados.
LELLISON SOUZA
33
COSTURA A DOIS
34
Certa manhã acordou sozinha, com uma mancha verde entre
os dedos do pé. Ficou olhando. Levou o indicador até a mancha,
sentiu a textura aveludada de musgo. Acolheu com inusitada ter-
nura aquele verde bolorento, o corpo estranho que depois de dias
tornou-se conhecido, familiar. A mancha alastrou-se pelo peito
do pé com a candura e a vagareza de oceano que engole beiras de
continentes cada ano uns centímetros mais. Deixou-a ser, passava
as horas deitada de lado com os olhos fixos sobre o pé esquerdo,
tentando divisar o preciso momento em que a coisa se alastraria
mais um pouco rumo a tomar-lhe a perna inteira. Decidiu livrar-
-se das roupas, os cabelos cresciam, pelos, cutículas. Ficou assim,
estática. Desabitou-se. Respirava silenciosa, casa abandonada de
janelas abertas. Desaprendeu a falar como se voltasse ao estado
primeiro dos seres todos, silêncio de matéria bruta. A ausência co-
meçou a descascá-la em vários pontos. A espinha dorsal vergalhão
escuro à mostra, e os joelhos, semi-dobrados, deixavam ver os ti-
jolos sob a pele que se fora, como acontece com as quinas das pa-
redes quando o tempo passa demais. Na virilha brotaram liquens
acinzentados, alguma lembrança de umidade, mar. Passaram-se
séculos. Por dentro todo o reboco havia desabado, tacos de madei-
ra nunca mais pisados haviam perdido a função de chão e guar-
davam, quietos, seu potencial para afundamentos. A vida se reor-
ganizava em novas disposições, explodia por entre vãos, brotava,
impossível folha verde, dos interiores de canos empoeirados. Os
buracos penetraram mais fundo nos tijolos, cavados por mãos invi-
síveis, até comunicar todos os cômodos com um profundo desdém
ao segredo imposto pelas antigas paredes. A ausência não quer
nenhum segredo pra competir com aqueles engendrados por si
mesma: a resposta misteriosa do eco, os bichos rastejantes que se
escondem bem, sua função mesma no mundo – disfarçada de falta,
casualidade. A ausência invisível e desencadeadora. Presença.
Outro dos mistérios era aquele bater na porta, alguma porta
oculta, ou seria uma janela? Um bater insistente, de urgências. Em
primeira pessoa observam-se os cômodos, não se encontra a causa.
O barulho cada vez mais alto, menos espaçado. Continua a busca
daqueles olhos suspensos – olhos da própria ausência? Todos os cô-
modos giram ao redor deles, mais rápido, ainda mais. Foco no teto.
Acordou sozinha, sobressaltada. E com uma mancha verde en-
tre os dedos. Passou os olhos do teto ao pé esquerdo. Ficou olhan-
do, levou o indicador até a mancha e esfregou bem até que tudo
saísse. Foi atender à porta.
COSTURA A DOIS [email protected]@HOTMAIL.COM
Texto Milena PaixãoFotografia Yury Aires
35
Manhã de domingo, a luz lembrava o
outono, mas já era o início da primavera,
quando Yury Aires (23 anos) e Milena Pai-
xão (26) se encontraram. Ela, uma jovem
poetisa de Cachoeiro do Itapemirim, via-
jou a Vitória para conhecer mais de perto
o trabalho dele, um fotógrafo e estudante
de Artes Visuais que busca a poesia, não
nas palavras, mas em imagens de lugares
que deixaram de ser.
O local do encontro foi no Terminal
Aquaviário de Vitória. No imóvel, situado
à Avenida Beira Mar, não acontece mais
a atividade para a qual foi construído.
Desde julho de 2010, Yury tem feito
imagens de espaços abandonados, vazios,
sem uso ou esquecidos da Grande Vitória
como parte do seu projeto ] Ensaio sobre
ausência [. Parte desse trabalho mutimidi-
ático já foi disponibilizada sob a forma de
quatro vídeos em stop-motion que resul-
taram da produção fotográfica de algumas
dessas visitas.
Depois de produzir as fotos no Termi-
nal Aquaviário, o destino foi o terreno de
uma casa demolida na Av. Vitória. Ali é
também outro lugar que deixou de ser, é
um não-lugar – conceito perseguido por
Yury na sua criação.
Na páginas 33 e 34 estão algumas das
imagens feitas por Yury para seu projeto
e na página 34 se encontra o texto de Mi-
lena Paixão criado a partir do contato da
escritora com a obra do fotógrafo.
Yury conta que o conceito de ausência
é trabalhado e definido, paradoxalmen-
te, de maneira muito ampla e particular
pelos autores e artistas os quais acessou
para subsidiar sua produção. “Isso torna o
projeto potente para dialogar com outras
artes. Eu assumi isso na forma de mostrar
o trabalho: as fotografias dão origem
a vídeos em stop-motion, que, por usa
vez, trazem uma música instrumental
orientando a edição. O ensaio também
conta com ações de performance. Uma
vídeo-instalação será ainda outra forma
de apresentar essa produção”, diz.
Segundo Yury, o desdobramento no
campo da literatura já era uma potencia-
lidade almejada e percebida durante a
concepção e o desenvolvimento inicial do
projeto e, de acordo com Milena, a temáti-
ca do trabalho de Yury lhe instigou ainda
mais a conceber tal produção literária. “É
desafiador escrever sobre algo que já es-
tabelecido, pois o meu processo de escrita
é sempre muito espontâneo, é sempre
quando sinto a necessidade de escrever.
Confesso que o tema me atraiu bastante”,
conta a escritora.
Conhecer mais intimamente a propos-
ta artística de Yury Aires naquela manhã
de domingo foi uma forma de se “impreg-
nar desse sentimento”, diz Milena. Assim,
também paradoxalmente, trazemos im-
pressa nas páginas anteriores a presentifi-
cação de toda essa ausência.
do contato com as imagens à criação literária. a ausência é o tema do projeto multimidiático do fotógrafo que inspira a escritora
COSTURA A DOIS
35
foto
Ari
ny
Bia
nch
i
3636
onde um encontra o outro
fabrício noronha
[email protected] @FABRICIONORONHAARTIGO
O novo. A descoberta do novo. A arte como experiência
transcendental. O contato com a produção artística como
determinante nos movimentos e nos pensamentos: cada
qual. Relativo. Incrível. O prazer do gole do vinho ruim na praia
da Barra do Jucu: tudo isso tem a ver com o mergulho na liberdade
– do corpo, agora suspenso, móvel na cidade e no planeta. Tem a
ver com meus 16 anos.
É indo e vindo que esse nosso rastro vai aos poucos nos
redesenhando. Os espaços – os encontros. Estávamos em quatro
ou cinco na porta da casa de shows de rock Gueto, em 1999,
conversando sobre o que seríamos. Somos onde vamos hoje. Somos
a nossa mobilidade (fora das férias). Tem a ver com meus 26 anos.
N’hoje estou atento às grandes e pequenas aglomerações de
gente querendo felicidade. Online e offline. Espaços espontâneos,
como atrás do Shopping Vitória, no Final Feliz, nas mesinhas do
Restaurante Universitário da Ufes, na rua do Bar Bwana. Espaços-
espaços, como o Teacher´s Pub, Antimofo, Baile de Cobilândia,
CEMUNI II, Cine Metrópolis. Lugares abertos ao trabalho autoral.
Tão raros num Espírito Santo adolescente, vento e poupa –
minguado de palcos livres.
Precisa-se de produtor cultural atento à internet e honesto com
o novo século. Inserir de vez os nossos assuntos culturais locais
no momento propenso do país. Isso é se mostrar, colocar a cara a
tapa, circular com a sua produção para além. A rede é inteligente e
precisa ser alimentada com produção consistente; com qualidade,
risco e ousadia. Expor seu trabalho e suas ideias - ter ideias.
O legado da gestão Gilberto Gil no Ministério da Cultura
recoloca esse papo dez patamares acima: caminho que deve
ser seguido no governo da presidenta Dilma. Democratizar e
desburocratizar o acesso aos recursos públicos, estimulando ações
no calor de suas inspirações e seguir expandindo os conceitos de
cultura (games, rede social, cultura livre). Os editais da Secretaria
de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult) amadurecem a
cena local nesse sentido.
Com relação ao processo de avaliação de propostas, os
editais da Secult se mostram mais aperfeiçoados e são menos
burocratizados, o que facilita a elaboração de projetos. Também
envolvem, na comissão de seleção, profissionais com isenção
necessária para medirem a capacidade de plena realização e da
pertinência das propostas concorrentes. Por vezes, chegou a
realocar recursos de categorias onde nenhum inscrito atingiu o
mínimo esperado.
Modelo de mecenato caduco, a Lei Rubem Braga ensaia uma
reformulação ao passo que temos ainda quem defenda a criação
de uma lei estadual baseada na velha troca de bônus – onde é
legado ao interesse da empresa o uso de dinheiro público nesse
ou naquele projeto. Retrocesso: nivela por baixo o trato artístico
e a capacidade de um possível mercado autossustentável. Outro
retrocesso: “distensiona” a rigidez do júri.
(Os critérios de avaliação de projetos da Lei Rubem Braga são 36
3737
ARTIGO
falhos e, por muitos, questionados, desde a composição do júri até
a seleção de repetidos agentes culturais. Consequência: aprova-se
muito projeto ruim.)
Outras duas ações que vão dar o que falar: a chegada do
primeiro Sesc Cultural no Espírito Santo e a implementação dos
20 novos Pontos de Cultura. De um lado, o primor do padrão Sesc,
oferecendo aos artistas, aos produtores e, principalmente, ao
público uma programação criteriosa com bom trato profissional
e artístico. Do outro, os Pontos de Cultura que tocam e estimulam
a espontaneidade do poder de transformação da cultura,
instrumentalizando grupos e projetos potentes que vão reverberar
ainda mais em suas regiões.
O caminho está na rapaziada. As políticas públicas são um
braço que deve estimular essa produção, quiçá sustentável e
acessível à maioria da população.
O que não pode é truculência: a reitoria da Ufes, há mais de
cinco anos, proíbe shows no interior dos campi, uma afronta à
importância histórica da Universidade na cena musical local, um
desrespeito aos estudantes que são “obrigados” a organizarem
suas festas na surdina.
Os lugares/encontros não são para sempre. Com a rapaziada
sem caretices e com uma queda para a pluralidade. Organizações
coletivas, horizontais, troca de ideias, contato direto. O corpo-
muitos transbordando pela infinita arte. Sozinho até os mais-
do-mesmo já sacaram que não se vai muito longe. Os lugares/
encontros são para sempre.37
38
[email protected] | _@PAULOGOIS
Na infância, Rafael Schultz (21 anos)
passava muitas horas desenhando ou
construindo casinhas. Ele dedicou-se a
essa prática ao ponto de copiar as plantas
baixas e croquis de imóveis veiculados em
revistas. E o que era um capricho de crian-
ça se transformou em uma ocupação pro-
fissional e também em um instrumento
para a valorização histórica da emigração
pomerana no município de Vila Pavão,
onde o rapaz nasceu e mora.
Descendente de pomeranos, Rafael
tem feito um trabalho de levantamento
dos imóveis construídos pelos seus ante-
passados, vindos do sul do Espírito Santo
para o município na década de 1940. Ele
usa sua habilidade com o desenho técnico
e arquitetônico para promover o resgate
e a preservação da sua cultura e impedir
a perda do patrimônio arquitetônico pre-
sente nas casas dos colonos.
Quando chegaram, os colonos tiveram
que construir as suas próprias habitações
utilizando, principalmente, a madeira de
lei existente em abundância nas matas da
região. A qualidade da madeira empregada
nessas construções faz desses imóveis uma
excelente fonte de material para a pro-
dução de móveis artesanais rústicos. Em
virtude desse uso, desde a década de 1980,
muitas casas já foram demolidas na região.
“Quando era criança, eu via o
PAULO GOIS BASTOS
jovem usa habilidade com o desenho para promover a preservação das edificações dos emigrantes pomeranos no norte capixaba
ENTREvISTA
38
39
desenhar aquela planta de casa. Quando
chegou o boletim, vi minha primeira
nota vermelha e, por incrível que pareça,
era bem na matéria de Artes. Nem me
preocupei, pois, para mim, aquela planta
era mais que uma arte, era o início de um
sonho”.
Aos 16 anos, enquanto estudava à
noite, o jovem trabalhou como caixa em
uma sorveteria e lanchonete. No trabalho,
aproveitava o tempo ocioso para dese-
nhar. Essa insistência fez com que ele
fosse descoberto por uma dupla de servi-
dores da Prefeitura na área de Engenha-
ria, que frequentavam a sorveteria. Um
deles viu os desenhos e resolveu investir
no talento do adolescente. Após isso, foi
convidado a atuar em um escritório de
arquitetura recentemente instalado na
cidade. “Nunca tinha feito um desenho de
casa no computador, nem conhecia o pro-
grama específico para isto. Mas comecei a
mexer no programa até aprender”. Graças
a essa experiência, aos 18 anos, Rafael foi
contratado para trabalhar como desenhis-
ta de projetos pela Prefeitura Municipal
de Vila Pavão, função que exerce até hoje.
a descoberta da arquitetura pomerana
Rafael conta que, ao ver as casas
modernas e futuristas em revistas de ar-
quitetura, sentia-se incomodado por não
encontrar aquele tipo de edificação onde
morava, mas “com o tempo, percebi que
nasci em lugar com uma arquitetura rica,
porém pouco valorizada localmente”.
Desde o início deste ano, o jovem tem
feito o registro em desenho das habitações
dos colonos pomeranos. Ele visita os imó-
veis e conversa com os proprietários sobre
a importância de se preservar esse tipo de
construção para a valorização da forma-
ção cultural e histórica do município.
município sofrendo essa degradação.
Frequentemente, a gente via caminhões
passando com material retirado a partir
da demolição dessas casas. Hoje, eu busco
pesquisar quantas casas existem, qual
a situação delas a fim de preservá-las”.
Estima-se que o município tenha cerca
de 100 imóveis construídos por colonos
pomeranos. “Muitas e muitas casas foram
vendidas a empresas, principalmente, de
Minas Gerais, e transformadas em móveis.
Uma peça dessas chega a valer muito mais
do que aquilo que se paga pelas próprias
casas”. É para impedir o processo de de-
molição e conscientizar os seus proprietá-
rios a respeito do valor histórico e cultural
dessas habitações que Rafael tem feito o
desenho desses imóveis.
o envolvimento com o desenho“Na minha infância, o que mais
gostava de fazer era desenhar e brincar de
construir casinhas de barro. Como meu
pai era pedreiro, gostava de acompanhá-
-lo em algumas obras, para brincar, e com
isso aprender vendo ele trabalhando”,
conta-nos Rafael. Por volta dos 11 anos,
o rapaz participava de um grupo que
fazia apresentações de danças folclóri-
cas pomerana, italiana e africana – as
três expressões étnico-culturais mais
presentes em Vila Pavão. Nessa idade, ele
também já trabalhava como vendedor de
picolé e de jornal e, ainda, como lavador
de carros.
Aos 15 anos, após assistir um comer-
cial publicitário sobre apartamentos na
TV, Rafael se aventurou a desenhar, pela
primeira vez, uma planta de casa. “Me
deu uma vontade de inventar como pu-
desse ser uma casa para mim se eu fosse
construir. Fiz simples rabiscos. Nem ima-
ginava ser arquiteto ou engenheiro, mas
queria melhorar cada vez mais aquele
desenho. Assim, comprei várias revistas
sobre plantas de casas para aprender
sobre técnicas de desenho de uma planta
arquitetônica”.
Rafael chegava a desenhar uma mes-
ma planta baixa por diversas vezes. “Em
uma aula de Artes, tinha um trabalho para
fazer, mas nem me preocupei, só queria
39
40
Alguns desses desenhos são emoldurados
e entregues aos moradores dos imóveis.
Como trabalha durante a semana, Rafael
faz essa atividade durante os sábados e os
domingos de maneira voluntária.
Parte da nossa entrevista aconteceu
em uma dessas casas que foi descoberta
enquanto Rafael fazia um trabalho para
a Prefeitura naquela área. “Eu terminei
meu trabalho e vim correndo pra cá. Eu
tava doido para ver essa casa. É quase
um tesouro, né, que estava perdido?
Gostei muito e, nesse estilo, ela é a única
na cidade”, revela-nos entusiasmado. A
edificação possui dois pavimentos, o que a
torna diferente da maioria das habitações
já levantadas pelo desenhista. Estamos na
sede do sítio do Seu Moacir Bening e Dona
Irla Volz Bening, cuja propriedade é atra-
vessada pelo Córrego Grande, que já deu
nome ao distrito antes de se emancipar de
Nova Venécia, em 1990, e passar a ser Vila
Pavão. O riacho já não faz jus adjetivo.
A aridez do noroeste capixaba certa-
mente é bem distinta do clima da Pomerâ-
nia europeia. Por isso, os colonos fizeram
adequações arquitetônicas para terem ca-
sas bem arejadas. A edificação suspensa e
as frestas nos telhados são algumas dessas
tecnologias. “Eles não estavam acostu-
mados com esse calor. Então, acabaram
fazendo uma arquitetura própria. As casas
ENTREvISTA
“comecei a visitar essas casas e a pesquisar
sobre elas para orientar aos moradores
sobre a importÂncia de preservá-las”
41
são suspensas do chão, o que possibilita
a entrada de ventilação pelo assoalho. Os
forros da casa também contam com siste-
ma de ventilação”, aponta-nos Rafael. “As
janelas são grandes e a maioria das casas
pomeranas tem varanda na frente”.
Rafael tem consciência de que o
caminho até o reconhecimento oficial do
valor histórico-cultural dessas casas ainda
é longo. “Por enquanto, a gente quer saber
quantas casas existem, qual a situação de-
las. As famílias devem saber que acabam
ganhando ao preservar o patrimônio e que
não irão perder a casa com esse processo”.
A perspectiva é que esse levantamento
seja o ponto de partida para o processo de
tombamento dessas edificações.
Essa ação de resgate do patrimônio
pomerano ganhou repercussão na mídia
e a comunidade local tem recebido positi-
vamente a iniciativa. Alguns proprietários
passaram a procurar Rafael para terem
suas casas desenhadas, pois já conseguem
perceber a importância que esses imóveis
têm, tanto para a comunidade, quanto
para eles próprios. “Quando eu chego na
casa, os proprietários já sabem o que eu
vou fazer. Pois já se comenta isso entre
eles. Quem tem uma casa pomerana já
fala um com o outro. A primeira coisa que
eles comentam é sobre a recuperação dela
mesmo. Por isso, a gente não chega falan-
do do tombamento, mas eles já entendem
que um dia pode ser tombado. Algumas
famílias também estão reformando a suas
casas por conta própria”.
os usos futuros do patrimônioRafael defende que a preservação
patrimonial deve respeitar o uso atual
dos imóveis, ou seja, as famílias devem
continuar residindo em suas casas. Para
ele, o resgate cultural pode ser aliado a
outras atividades, como o agroturismo,
que possibilitem aos pequenos proprie-
tários, a maior parte deles agricultores, a
comercializarem a sua produção.
Outro aspecto a ser promovido com
a preservação é o conhecimento desse
patrimônio pela própria comunidade de
Vila Pavão, pois “tem muita gente aqui na
cidade que nem conhece o que é uma casa
típica de pomerano. Outros até conhecem,
mas não dão a devida a atenção”.
Talvez uma das maiores dificuldades
das culturas tradicionais seja a de desper-
tar o interesse pela preservação de suas
tradições e pela valorização da história da
sua comunidade nas gerações mais novas.
Assim como Rafael, o que se percebe é um
engajamento cada vez maior dos jovens de
Vila Pavão nesse processo. O município
tem se destacado pelos usos das mídias,
como o rádio e o audiovisual, para a pro-
moção de aspectos histórico-culturais da
emigração pomerana numa clara demons-
tração de que a cultura tradicional pode
ENTREvISTA
estabelecer diálogos com possibilidades
tecnológicas da nossa época.
É nesse sentido que Rafael pensa o
impacto da sua ação para futuro: “Espero
que a gente possa conseguir recuperar es-
sas casas e que os jovens também possam
fazer construções pensando na cultura.
Possam colocar traços da arquitetura
típica em novas construções deixando a
casa moderna”.
Contribuíram com a concepção e produção desta entrevista a historiadora e integrante da equipe do PRCJ, Fernanda de Castro, a cientista social Gabriela Lacerda, e o Agente Cultura Jovem Julio Carlos Dettmann Sandro Silva.
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NOSSA GALERIA
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IGNEz CAPOvILLA
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RAPHAEL ARAúJO
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vITOR SANTOS
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LUCAS ABOUDIB
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Aline AlvesManauara e estudante de Jornalismo. Já desenvolveu atividades de rádio, internet, fotografia e TV. Trabalha no projeto Entre Jovens, do Instituto Unibanco.@alvesaline | [email protected]
AdrIAno MonTEIroCapixaba roots e jornalista. Graduando em Ciências Sociais pela Ufes. de vez quando, poeta e cronista. É compositor e guitarrista da banda [email protected]
Ariny BiAnchiGraduanda em Artes Visuais pela Ufes, cursa Crítica Teatral pela Faculdade de Teatro e dança. Trabalha como fotógrafa e faz parte da segunda turma de Agente cultura [email protected]/arinybianchi
AndressA reisGraduanda em Artes Visuais pela Ufes. Fotógrafa e arte-educadora. desenvolve um trabalho Fotodocumen-tal e um Projeto de Fotografia para Crianç[email protected]
AndrEw LAUrEThCantor e compositor. Cursa Música na Ufes. Participou da produção dos Cds das bandas Sexto Comando, Altitude e Talentos do Interior. Foi vocalista da banda holandesa narrow e trabalha em um projeto solo.www.myspace.com/[email protected]
BrunA AndrAdeBacharel em Serviço Social. É diretora administrativa do Instituto TamoJunto, associação criada por jovens para desenvolver intervenções urbanas por meio da arte, cultura, esporte e lazer.institutotamojunto.blogspot.combrunaandrademartins@yahoo.com.br
cArolinA ruAsJornalista, pesquisa Cinema e gosta de revistas engra-çadinhas sobre música e literatura. Integra o coletivo FoiaFeira e o Grupo de Estudos Audiovisuais - [email protected]
dAnIEL FErnAndES VILELAJornalista, ilustrador e estudante de Comunicação da Ufes. Faz parte do Cronópio, tendo criado o projeto gráfico da revista Graciano. no momento, rouba memórias alheias para escrever um [email protected]/blog
FABríCIo noronhAArtista, escritor e realizador audiovisual. É vocalista da banda Sol na Garganta do Futuro e um dos fundadores do Cine Falcatrua e do Coletivo Multi. Autor do livro de poemas Sangue Som Fogo (2007).garganta.blog.br | [email protected]
FErnAndA dE CASTroGraduada em história pela Ufes. desenvolve trabalhos sobre cultura afro-brasileira. Pesquisa a trajetória do Museu Capixaba do negro (Muncane) e é coordenado-ra da Formação Agente Cultura [email protected]@redeculturajovem.com.br
hAroldo liMAJornalista e membro do Coletivo Foi à Feira. Integra o Grav – Grupo de Estudos Audiovisuais da Ufes. [email protected] | @haroldolia
irAn soAresdesenhista, graffiteiro e tatuador. É idealizador do núcleo de Criação Graffiteria e rabiscou vários muros e corpos dessa Grande Vitória.www.flickr.com/[email protected]
JuliAnA lisBoADesigner e ilustradora. Mantém uma incubadora de design gráfico. Faz parte do Coletivo Foi à Feira. desen-volve um projeto de fanzines com o público infantil. Foi selecionada para a 3ª Bienal Brasileira de design (2010).www.juuz.com.br | infantozines.wordpress.com
JULIAnA CoLLI TonInIBolotas, designer e malabarista. Pesquisa a memória gráfica capixaba, participa do coletivo Foi à Feira e investe sua criatividade em uma incubadora de design.www.juuz.com.br | @bolotas
KATLEr dETTMAnnGraduanda em Comunicação Social pela Ufes. Assesso-ra de imprensa do núcleo Afro odomodê da Prefeitura Municipal de Vitória. desenvolve um projeto de televi-são sobre juventude e cultura da periferia.@katlerdw | [email protected]
KAMILLA CUSTódIoEstudante do 3º ano do Ensino Médio. Twitteira assí-dua. Apaixonada por cultura japonesa e games. Geek em tempo integral e desenhista nas horas [email protected]
leAndro reisCursa Jornalismo na Ufes e escreve na revista Graciano. Mantém um blog pessoal onde tenta fugir das amarras do jornalismo [email protected]
lellison souzACursa história na Ufes. Aprecia cinema. Ex-corneteiro de banda marcial, ama música. ouvinte paciente e bom competidor em discussõ[email protected]
LUArA MonTEIroFotógrafa e artista plástica formada pela Ufes. Parti-cipou das exposições Incomunni (2009) e Um outro olhar (2008). Em 2010, teve o seu projeto rota 101
contemplado pela Bolsa Cultura [email protected]/luaramonteiro
MArCELo hILArIno (Voodoo)Aluno do curso de Artes Visuais na Ufes. Faz beatbox e participa dos coletivos Bolor e a Expurgação. Faz pate da segunda turma de Agentes Cultura Jovem. Teve criações selecionadas pelo site da revista zupi.flavors.me/vuduzimbolorarts.blogspot.com/
MArcos rAMosÉ pesquisador, poeta e editor da Água da Palavra – revista de Literatura e Teorias. Tem textos publicados em diversas revistas literárias e perió[email protected]
MAriAnA de MorAesArtista, pesquisadora, professora. Trabalha a partir do conceito de [hnA] molécula multiplicadora de arte. Com-partilha encantamentos sobre arte, fotografia e [email protected]
MilenA PAixãoProfessora de Língua Inglesa e graduada em Letras. dedica-se à leitura por vocação e à escrita por neces-sidade. Autora do livro de poesias Catar-se (2009). É uma das organizadoras do Sarau Verbo Intransitivo e colabora com a revista Cachoeiro [email protected]
MoISÉS nASCIMEnToGraduado em Letras-Português e mestrando em Letras pela Ufes. Professor de Literatura, compositor e músico. É um dos fundadores da banda Zamba’Bem e faz parte da segunda turma de Agentes cultura Jovem.redeculturajovem.com.br/agentes/diario-bordo-moises/ @moinascimento
rodrIGo hIPóLIToArtista, crítico e poeta. É autor do blog Seleta Envelhe-cida e atua no Coletivo Monográ[email protected]
ThALITA CoVrEFotógrafa, poeta, pintora, professora, musicista. Tudo pela metade. Uma curiosa em expansão. Possui um blog onde guarda palavras e silêncios e uma máquina fotográfica que tem nome de melhor amiga: Esmeralda.www.flickr.com/thalita_covre | [email protected]
yury AiresÉ técnico em Comunicação Visual pela Contec e estu-dante de Artes visuais pela ufes. no audiovisual, atua como assistente de câmera e direção de arte. Também faz trabalhos como desenhista gráfico.www.youtube.com/user/[email protected]
colaboradores
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Governo do Estado do Espírito SantoPaulo César Hartung Gomes – Governador
Ricardo Rezende Ferraço – Vice-Governador
Secretaria de Estado da Cultura do Espírito SantoDayse Maria Oslegher Lemos – Secretária
Erlon José Paschoal – Subsecretário
Anna Luzia Lemos Saiter – Subsecretária de Patrimônio Cultural
Instituto SincadesIdalberto Luiz Moro – Presidente
Dorval Uliana – Gerente Executivo
ONG Universidade Para TodosRicardo Trazzi – Presidente
Programa Rede Cultura JovemErlon José Paschoal – Coordenador
Vânia Tardin de Castro – Coordenadora da Plataforma de Projetos
Marcelo Maia – Coordenador da Plataforma Digital
Roberto Alves Santos - Coordenador Administrativo-Financeiro
Equipe Técnica
Fernanda de Castro Barbosa
Filipe Alves Borba
Gustavo Rocha Pereira de Souza
Ivo Godoy
Kênia Lyra
Maira Rocha Moreira
Paulo Gois Bastos
Revista NósJornalista Responsável e Editor– Paulo Gois Bastos (MTB/ES 2530)
Projeto Editorial – Orlando Lopes e Paulo Gois Bastos
Projeto Gráfico Original – Alex Vieira e Vinícius Guimarães
Revista Nós – edição nº 2Direção de Arte, Diagramação e Capa - JUUZ
Ilustração – Iran Soares, Juliana Colli Tonini, Juliana Lisboa e
Marcelo Voodoo
Textos – Adriano Monteiro, Aline Alves, Andrew Laureth, Bruna
Andrade, Carolina Ruas, Daniel Fernandes Vilela, Fabrício Noro-
nha, Fernanda Barata, Fernanda de Castro, Haroldo Lima, Katler
Dettmann, Kamilla Custódio, Laíssa Gamaro, Leandro Reis, Lellison
Souza, Mainá Loureiro Ferreira, Mariana de Moraes, Marcos Ramos,
Milena Paixão, Moisés Nascimento, Paulo Gois Bastos e Rodrigo
Hipólito.
Revisão – Luiz Cláudio Kleaim
Direção de fotografia – Luara Monteiro
Fotos – Andressa Reis, Ariny Bianchi, Bianca Pimenta, Drielly
Rodrigues, Gustavo Basílio, Ignez Capovilla, Luara Monteiro, Lucas
Aboudib, Maira Rocha, Paulo Gois, Raphael Araújo, Thalita Covre,
Victorhugo Amorim, Vitor Santos, Yury Aires e Wanderlan Oliveira
Conselho Editorial da Revista NósCarolina Ruas Palomares, Ítalo Galiza, Max Dias, Milena Paixão e
Vítor Lopes
Especificações gráficasTipografia - Emona, Sintax e Existence
Papéis - Offset e Pólen
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Tiragem – 5 mil exemplares
A revista Nós é uma publicação do Programa Rede Cultura Jovem.
Rua José Alexandre Buaiz, nº 160 – sala 703/705 – Ed. London Office Tower – Enseada do Suá – Vitória-ES
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Vitória-ES
Novembro de 2010
Estagiárias
Maíra Tristão e Samara Amorim
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ANIME FEST GO!Estas fotos foram feitas nos dias 18 e 19 de setembro deste ano, durante o 5º Anime Fest. O evento foi realizado no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em vitória, e contou com o público de 3.500 pessoas. Quem esteve lá conferiu a paixão dessa galera pela cultura japonesa e uma variada programação de apresentações, concursos e oficinas.
ARREMATE
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