31 REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL Ano 2, No. 3, Abril/2015 – ISSN: 2357-9692 Edição eletrônica em http://psicorporal.emnuvens.com.br/rbpc Revista Latino-americana de Psicologia Corporal Diagnóstico e Tratamento da Psicose pela Psicoterapia Corporal: O Olhar Pós-Reichiano da Vegetoterapia Caracteroanalítica 1 Resumo: Pretende-se com esse trabalho investigar de que maneira é realizado o diagnóstico e o tratamento da psicose no âmbito das psicoterapias corporais. Em nível específico objetivamos desenvolver um estudo sistemático acerca das principais contribuições teóricas da abordagem somática no diagnóstico e tratamento dos pacientes psicóticos, identificar os fatores etiológicos presentes no desenvolvimento da psicose e compreender como é realizado o manejo clínico desses pacientes, bem como as técnicas psicocorporais que são utilizadas, mediante uma visão pós-reichiana. A metodologia é de cunho bibliográfico, fundamentada na revisão bibliográfica, a partir da investigação das produções teóricas de alguns autores de orientação pós-reichiana que abordam o tema estudado. O diagnóstico da psicose nas psicoterapias corporais considera a predisposição constitucional do indivíduo; o seu metabolismo energético; as suas relações objetais e seus traços caracteriais; os tipos de bloqueios e tensões presentes na sua musculatura; o seu funcionamento neurovegetativo e somático; a sua realidade atual familiar, profissional, afetiva e sexual, bem como os seus sintomas e a sua motivação. O tratamento da psicose é realizado mediante a combinação de medicação e terapia somática, por meio de técnicas que visam o desbloqueio ocular e dos acting, que se referem aos exercícios que são realizados na musculatura contraída. Além disso, o manejo clínico adequado requer a compreensão do terapeuta acerca do seu paciente e do universo particular vivido por ele, através do estabelecimento de um vínculo de confiança entre ambos e da transferência positiva. Percebe-se que na psicoterapia somática a totalidade do trabalho a ser desenvolvido com o paciente, busca integrar o seu corpo aos processos perceptivos subjacentes, no sentido de estabelecer a conexão bioenergética mente/corpo que foi interrompida precocemente. Palavras-chave: psicose, diagnóstico, tratamento, psicoterapia somática. . Diagnosis and Treatment of Psychosis by Body Psychotherapy : An Reichian Caracter-Analytic Vegetotherapy´s Overview Abstract: The aim of this study is to investigate how it is done the diagnosis and treatment of psychosis in body psychotherapy. In particular level, it aims to develop a systematic study about the main theoretical contributions of somatic approach in the diagnosis and treatment of psychotic patients, identify the etiological factors in the development of psychosis and understand how it's performed the clinical management of these patients, as well as psycho/body techniques are used, by a post-Reichian approach. The methodology is bibliographic nature, based on the literature review, based on the investigation of the theoretical production of some post-Reichian authors who address the topic studied. The diagnosis of psychosis in body psychotherapy considers the constitutional predisposition of the individual; energy metabolism; object relations and characterological traits; types of locks and tensions present in the muscles; autonomic and somatic functioning; and family, professional, emotional ___________________ 1 Esse artigo foi produzido a partir de um dos capítulos da monografia de conclusão do curso de Graduação em Psicologia, intitulada: “Diagnóstico e Tratamento da Psicose pela Psicoterapia Corporal”, defendida pela autora na Universidade Estadual do Piauí. Moara Thainan Oliveira Barbosa 1 Périsson Dantas do Nascimento 2 1 Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Estadual do Piauí. Contato: [email protected]. 2 Orientador do Trabalho. Professor Adjunto da Universidade Estadual do Piauí. Doutor em Psicologia Clínica (PUCSP). Local Trainer do Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo. Analista Bioenergético (CBT) e Supervisor em Análise Bioenergética com reconhecimento pelo IIBA. Contato: [email protected].
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31 REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL Ano 2, No. 3, Abril/2015 – ISSN: 2357-9692
Edição eletrônica em http://psicorporal.emnuvens.com.br/rbpc
Revista Latino-americana de Psicologia Corporal
Diagnóstico e Tratamento da Psicose
pela Psicoterapia Corporal: O Olhar
Pós-Reichiano da Vegetoterapia
Caracteroanalítica1
Resumo: Pretende-se com esse trabalho investigar de que maneira é realizado o diagnóstico e o
tratamento da psicose no âmbito das psicoterapias corporais. Em nível específico objetivamos
desenvolver um estudo sistemático acerca das principais contribuições teóricas da abordagem
somática no diagnóstico e tratamento dos pacientes psicóticos, identificar os fatores etiológicos
presentes no desenvolvimento da psicose e compreender como é realizado o manejo clínico
desses pacientes, bem como as técnicas psicocorporais que são utilizadas, mediante uma visão
pós-reichiana. A metodologia é de cunho bibliográfico, fundamentada na revisão bibliográfica,
a partir da investigação das produções teóricas de alguns autores de orientação pós-reichiana
que abordam o tema estudado. O diagnóstico da psicose nas psicoterapias corporais considera a
predisposição constitucional do indivíduo; o seu metabolismo energético; as suas relações
objetais e seus traços caracteriais; os tipos de bloqueios e tensões presentes na sua musculatura;
o seu funcionamento neurovegetativo e somático; a sua realidade atual familiar, profissional,
afetiva e sexual, bem como os seus sintomas e a sua motivação. O tratamento da psicose é
realizado mediante a combinação de medicação e terapia somática, por meio de técnicas que
visam o desbloqueio ocular e dos acting, que se referem aos exercícios que são realizados na
musculatura contraída. Além disso, o manejo clínico adequado requer a compreensão do
terapeuta acerca do seu paciente e do universo particular vivido por ele, através do
estabelecimento de um vínculo de confiança entre ambos e da transferência positiva. Percebe-se
que na psicoterapia somática a totalidade do trabalho a ser desenvolvido com o paciente, busca
integrar o seu corpo aos processos perceptivos subjacentes, no sentido de estabelecer a conexão
bioenergética mente/corpo que foi interrompida precocemente.
Abstract: The aim of this study is to investigate how it is done the diagnosis and treatment of
psychosis in body psychotherapy. In particular level, it aims to develop a systematic study about
the main theoretical contributions of somatic approach in the diagnosis and treatment of
psychotic patients, identify the etiological factors in the development of psychosis and
understand how it's performed the clinical management of these patients, as well as
psycho/body techniques are used, by a post-Reichian approach. The methodology is
bibliographic nature, based on the literature review, based on the investigation of the theoretical
production of some post-Reichian authors who address the topic studied. The diagnosis of
psychosis in body psychotherapy considers the constitutional predisposition of the individual;
energy metabolism; object relations and characterological traits; types of locks and tensions
present in the muscles; autonomic and somatic functioning; and family, professional, emotional
___________________ 1 Esse artigo foi produzido a partir de um dos capítulos da monografia de conclusão do curso de Graduação em Psicologia, intitulada: “Diagnóstico e Tratamento da Psicose pela Psicoterapia Corporal”, defendida pela autora na Universidade Estadual do Piauí.
2011). A baixa circulação de energia no organismo é resultante de uma resposta do bebê contra a rejeição sentida
por ele no útero materno ou no momento seguinte ao seu nascimento, o que favorece uma diminuição da
atividade pulsatória da sua bioenergia.
O estresse vivido em uma determinada etapa irá repercutir no aparecimento de uma determinada
psicopatologia, através da alteração no campo energético em volta do bebê, causando mudanças em sua estrutura
biopsíquica (Navarro, 1996; Stolkiner, 2008; Petrauskas, 1990; Ferri, 2011). Isso é possível porque o
amadurecimento na estrutura cerebral do bebê é influenciado pelo contato que é estabelecido entre o seu campo
energético e o campo energético da mãe. A ação estressante sobre o embrião em formação pode ser ocasionada
mediante:
Tentativas de aborto, gravidez indesejada, intoxicações ou emoções penosas da mãe
atingem o embrião, alterando seu desenvolvimento funcional harmonioso, e
determinando um grave estado de baixa energia vital (hiporgonia total) (...)
ocasionando um abalo cuja repercussão evidencia-se morfológica, energética e
funcionalmente na organogênese. As funções enzimáticas são alteradas e o DNA
recebe e envia mensagens distorcidas. (NAVARRO, 1996, p. 17).
Essa rejeição sentida, a nível energético, pelo feto no útero da mãe é responsável, segundo Navarro
(1995a;1995b; 1996) pela instalação do núcleo psicótico no indivíduo. A presença do núcleo psicótico “é sempre
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caracterizada por falta de lucidez e por uma grave carência do eu, que expressa ausência de identidade biológica”
(NAVARRO, 1996, p.43) e está relacionada com um bloqueio no segmento ocular (1° nível), responsável pela
interpretação das sensações. A grave contração muscular na couraça ocular impede o indivíduo de diferenciar o
seu eu da figura materna, favorecendo o surgimento de distorções na percepção e na consciência, observadas nos
diversos sintomas presentes na psicose (Navarro, 1995a; Hortelano, 2011; Ferri, 2011; Stolkiner, 2008;
Baker,1980; Petrauskas, 1990). É importante ressaltar que o núcleo psicótico também pode estar presente em
pessoas que possuem estrutura de caráter de cobertura neurótica – podendo assim, estar predispostas a
desenvolver síndromes e sintomas de esquizofrenia, dependendo do contexto de seu desenvolvimento e das
condições estressantes vivenciadas durante a vida, pois:
A presença de um núcleo psicótico em uma pessoa não significa, necessariamente,
que ela seja psicótica, mas que condições existenciais altamente estressantes podem
fazer explodir esse núcleo, determinando o advento de uma síndrome
esquizofrênica. (NAVARRO, 1996, p.42).
Navarro (1996) refere-se ao núcleo psicótico intra-uterino e ao núcleo psicótico neonatal extra-uterino.
O primeiro pode ser causado por uma situação de baixa carga energética no útero, devido a uma contração no
cordão umbilical, o que irá dificultar o contato do embrião com a mãe e com o útero materno. Já o núcleo
psicótico extra-uterino pode instalar-se no período neonatal, em detrimento de uma forte situação de estresse
vivido pelo recém-nascido quando as suas necessidades básicas não são atendidas, o que pode gerar nele o medo
do abandono, capaz de impedir a integração perceptiva do seu sistema bioenergético.
Desse modo, o autor ressalta a importância que a figura materna assume no sentido de evitar à
instalação do núcleo psicótico no período neonatal, através de uma amamentação adequada que satisfaça às
necessidades do bebê de contato e alimento sempre que precisar, condição que proporcionará o desenvolvimento
da funcionalidade ocular capaz de permitir a ele diferenciar-se da figura materna e integrar o seu sistema
perceptivo às sensações presentes no seu corpo.
Nesse sentido, Stolkiner (2008) expõe a função do segmento ocular, que está relacionada com a
corporização da energia no indivíduo, mediante a atividade perceptiva que ocorre nesse segmento. O segmento
ocular possui a função de unir a energia presente no meio externo ao corpo do indivíduo, além da função de
informação que surge através da percepção visual. Assim, a função ocular possui a função de limite, tendo em
vista que ela representa a zona de contato do indivíduo com o mundo externo (STOLKINER, 2008).
Com base nisso, é possível verificar o papel da funcionalidade ocular no sentido de fornecer ao
indivíduo as bases da existência do seu Ser, mediante a sua capacidade de perceber os estímulos presentes no
meio e de captar do meio a energia necessária ao desenvolvimento do seu Eu. Um EU não no sentido vegetativo,
mas capaz de atribuir um sentido adequado à realidade ao qual experiencia e dotado de identidade, capaz de
estruturar os seus mecanismos defensivos psíquicos e somáticos a fim de manter o seu equilíbrio homeostático.
É possível perceber, assim, o motivo do psicótico não possuir a função de limite entre o seu mundo
psíquico e extrapsíquico estabelecida, já que o bloqueio ocular altera a percepção da periferia de campo eu/outro.
O bloqueio ocular é evidenciado através do olhar difuso e sem foco que esses indivíduos apresentam, o que
impede que todo o campo visual seja percebido e integrado simultaneamente (Stolkiner, 2008; Navarro, 1996;
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Hortelano, 2011; Baker, 1980; Petrauskas, 1990; Ferri, 2011). O olhar difuso desses indivíduos reflete a
dispersão de energia existente no seu corpo.
O modo como o contato é estabelecido entre o indivíduo psicótico e o campo ao qual ele está inserido
poderá resultar no surgimento de patologias que envolvem o seu aparelho psíquico e/ou somático. Os fatores que
contribuem para o surgimento dessas patologias estão relacionados com: a) a densidade e carga de energia
existente no núcleo do indivíduo e no campo energético em uma determinada fase evolutiva; b) com o modo
como o indivíduo vivencia as impressões do campo em uma determinada fase; c) na maneira como se
desenvolvem as fixações, o temperamento, os traços de caráter e os níveis corporais; d) e no modo como são
vividas as situações de aproximação e afastamento do indivíduo com as figuras de apego significativas entre as
diversas fases maturativas (Petrauskas, 1990; Ferri, 2011; Hortelano, 1997).
Com relação aos estados psicóticos, Hortelano (2011) ressalta que os mesmos abrangem uma alteração
temporal da consciência, responsável por afetar a percepção do indivíduo. Essas alterações ocorrem mediante a
ingestão de substâncias tóxicas no organismo, pelo uso de entorpecentes ou devido a uma situação traumática de
violência ou agressão, vivenciada, que por sua vez, possui uma estrutura de personalidade marcada pela
fragilidade defensiva do ego. Desse modo, verifica-se que os estados psicóticos, assim como o núcleo psicótico,
podem estar presentes em pacientes neuróticos e não somente nos que apresentam estrutura psicótica. O autor
afirma que uma intervenção clínica que envolva psicoterapia e uso de medicação, irá ajudar o indivíduo a
recuperar o seu estado normal de consciência em apenas poucas sessões.
Petrauskas (1990) define a esquizofrenia como uma síndrome psiquiátrica global, decorrente da
distorção grave da experiência que o indivíduo tem de si e do mundo. A dificuldade de estabelecer limites claros
com o meio a sua volta possui relação com os sintomas alucinatórios e as vivências de sentir-se fora do próprio
corpo, bastante comum nesse quadro. Isso deve-se à incapacidade de conter a energia no corpo, devido ao
bloqueio do segmento ocular, de modo que as emoções frequentemente chegam a transbordar (Stolkiner, 2008;
Petrauskas, 1990; Ferri, 2011). A falta de contorno do corpo e de limites entre o mundo interno e o externo desse
indivíduo, impedem-no de armazenar a energia no seu invólucro, de modo que ele se perde e se dispersa no
ambiente8.
A esquizofrenia abrange um quadro composto por diversos sintomas, os quais estão relacionados com a
distorção na realidade que os esquizofrênicos apresentam. As alterações presentes na percepção, no pensamento,
na linguagem, na cognição e na motricidade, somadas a despersonalização, resultam no modo particular desse
indivíduo de enxergar a realidade e a si mesmo, e comunicar-se com as outras pessoas a sua volta. É importante
ressaltar que a esquizofrenia somente poderá acometer indivíduos com estrutura psicótica ou com núcleo
psicótico, os quais não apresentam uma estrutura caracteriológica defensiva capaz de integrar as funções
sensoriais e perceptivas em um processo unitário.
8Segundo Stolkiner (2008) a causa dos sintomas de dissociação presentes na esquizofrenia teria origem energética. O autor afirma que a
bioenergia pode seguir dois caminhos diferentes nessa síndrome: uma parte dela dirige-se ao corpo, na forma de sintomas catatônicos ou auto-lesivos, por exemplo e a outra parte pode condensar-se na cabeça, na forma de alucinações e delírios ou ser expulsa para fora do corpo,
como na percepção paranóica ou extensão do corpo do paciente para o ambiente. Além disso, em outros casos, o corpo pode perder energia através de todo o seu campo energético, resultando na perda dos limites corporais observada no fenômeno de dissociação.
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Com ela se transforma a capacidade de perceber e de interpretar, de comunicar e de
metacomunicar, de exercer um controle sobre os estados emocionais, de modular os
comportamentos, balanceando as próprias exigências com as convenções da
sociedade. Nela se manifesta uma intrusão de atividades mentais e perceptivas
estranhas à sintonia do Ego. (FERRI, 2011, p.189)
Os sintomas presentes na esquizofrenia abrangem transtornos nas funções sensoriais e perceptivas,
representados pelas alucinações, alterações musculares e da motricidade; transtornos do pensamento, com
bloqueio e interrupção na sequência do pensamento; transtornos da linguagem, a qual inclui o uso de
neologismos e de palavras com significados próprios; transtornos da afetividade, o qual abrange uma conduta
ambivalente diante dos outros e do mundo; transtornos cognitivos e motores, que inclui o estupor, a acinesia, o
negativismo e as estereotipias; e a despersonalização, a qual é caracterizada por um sentimento de estranheza e
ausência perceptiva do próprio eu (Navarro, 1996; Hortelano, 2011; Petrauskas, 1990; Ferri, 2011; Baker, 1980).
De acordo com Stolkiner (2008), o indivíduo com esquizofrenia possui dificuldade crônica e
generalizada para estabelecer foco, pois nunca aceitou inconscientemente ter vindo ao mundo. Dessa forma,
habita simbolicamente a sua cabeça, a qual representa o útero que gesta as suas alucinações e delírios. Esses
indivíduos negam a sua existência no mundo devido à rejeição percebida energeticamente no útero, desse modo,
mantém-se ligados em uma relação simbiótica com a sua mãe (Navarro, 1995; Stolkiner, 2008; Hortelano, 1997;
Ferri, 2011). Sentem-se perseguidos e com medo, porque esses sentimentos os fazem lembrar a atmosfera
uterina, por isso vivem como se ainda estivessem no útero frio, rejeitador. É como se o seu desenvolvimento
estivesse estacionado ali, e no fundo eles esperassem receber o contato, o acolhimento e a maternagem que
nunca possuíram.
Diagnóstico Diferencial da Psicose
Ao abordar os tipos de psicoses, Navarro (1996) diferencia as psicoses orgânicas das endógenas. As
psicoses orgânicas estão relacionadas com alterações na estrutura cerebral do indivíduo causadas devido a uma
inflamação, intoxicação ou por processos degenerativos. As endógenas, por sua vez, originam-se devido a uma
baixa circulação energética presente durante a fase intra-uterina, conforme foi citado anteriormente na descrição
da etiologia da estrutura psicótica.
Especificando no contexto da esquizofrenia, o autor distingue dois tipos de manifestação dos sintomas:
as formas agudas e crônicas. A manifestação aguda inclui os estados melancólicos, maníacos, quadros
catatônicos, delírios e alucinações, estados crepusculares, discurso desconexo, crises de raiva, estupor e
automatismos. As formas crônicas dizem respeito aos tipos de esquizofrenia e podem ser representadas pela
paranóia (delírios e alucinações), catatonia (distanciamento da realidade com imobilidade ou crises de agitação),
hebefrenia (comportamento infantil e incoerente) e esquizofrenia simples (distanciamento da realidade e da vida
afetiva).
O diagnóstico da estrutura psicótica é realizado segundo Hortelano (1997) com base nos referenciais
presentes no DIDE (Diagnóstico Inicial Diferencial-Estrutural), que leva em conta a predisposição constitucional
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do indivíduo; o seu metabolismo energético; as suas relações objetais e seus traços caracteriais; os tipos de
bloqueios e tensões presentes na sua musculatura; o seu funcionamento neurovegetativo e somático; a sua
realidade atual familiar, profissional, afetiva e sexual, bem como os seus sintomas e a sua motivação. O
diagnóstico compõe-se de instrumentos biológicos, neuromusculares e psíquicos que permitem ao
vegetoterapeuta obter uma maior compreensão acerca do funcionamento global do indivíduo (HORTELANO,
1997).
O primeiro parâmetro considerado no diagnóstico estrutural da psicose diz respeito à predisposição
constitucional, que está relacionado a mães com estrutura também psicótica, com baixa energia em seu
organismo (hipoorgonia); mães ou avós com algum tipo de doença degenerativa e situações estressoras presentes
durante a fase intra-uterina (Navarro, 1996; Ferri, 2011; Hortelano, 1997; Stolkiner, 2008). Essas condições
envolvem também a incidência radiativa sobre o organismo materno e o uso de entorpecentes, capazes de
provocar uma contração no sistema nervoso autônomo do bebê causando o medo fetal, devido à agressão sofrida
no útero materno.
O segundo parâmetro diagnóstico refere-se à circulação energética presente no indivíduo com estrutura
psicótica, o qual possui uma capacidade reduzida do mecanismo de pulsação, um baixo nível de absorção de
energia no seu organismo (hiporgonia), além de ser bastante permeável a trocas energéticas com o meio
(Hortelano, 1997; Navarro, 1995a; Ferri, 2011; Petrauskas, 1990; Stolkiner, 2008). Por exemplo, percebe-se
como sintomatologia frequente um relato dos psicóticos de ligação profunda com o cosmos, com entidades
sobrenaturais, sentindo e recebendo as suas influências. Um campo energético disperso traduz um indivíduo
fragmentado, dissociado e sem contornos, aonde o Eu mistura-se ao entorno, com referências a experiências de
misticismo e contato com energias transcendentais.
O terceiro parâmetro a ser analisado inclui as relações objetais e traços caracteriais. Como vimos, há
uma cisão intra-uterina vivida por esses indivíduos, impossibilitando-os um contato nutridor com o objeto
materno, impossibilitando a diferenciação e buscando a contínua simbiose, na qual a mãe toma o lugar do eu,
sendo porta voz de suas experiências (Hortelano, 1997; Navarro, 1995; Ferri, 2011; Stolkiner, 2008; Petrauskas,
1990). Os traços caracteriais, por sua vez, indicam uma ausência de identidade caracteriológica, compensada por
traços comportamentais diversos, por exemplo, a imitação e adoção de condutas alheias, miméticas, pois o eu
não consegue constitui-se como diferenciado do outro (Hortelano, 1997; Navarro, 1995a; Ferri, 2011).
O quarto parâmetro do DIDE refere-se aos bloqueios existentes no corpo, de modo que se verifica um
bloqueio presente na base do cérebro, o qual envolve o primeiro segmento (ocular) e um forte bloqueio