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Revista Fusão Cultural

Mar 18, 2016

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Fusão Cultural

Edição n°1
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Page 1: Revista Fusão Cultural
Page 2: Revista Fusão Cultural

2 MARÇO 2010

Page 3: Revista Fusão Cultural

3MARÇO 2010

Page 4: Revista Fusão Cultural

editorial

A arte de divulgar a cultura

“Portanto, se me perguntam para que serve a arte, respondo: para tornar o mundo mais belo, mais comovente e mais humano”. (Ferreira Gullar – Para que serve a arte?)

A arte em si, pode não fazer sentido para muitos. Mas além de tornar o mundo mais belo, ela possibilita a

renovação e a revisão de significados que alimentam a cultura e dão mais sentido à vida. Talvez essa seja a maior razão para investir-se em arte.  Esse foi justamente o motivo pelo qual a Matéria de Capa da primeira edição da Fusão Cultural trata da renovação da lei federal de incentivo à cultura (Lei Rouanet). Muitos produtos culturais são somente viabilizados a partir das leis de incentivo, sejam elas leis municipal, estadual ou federal. O foco, nesta matéria, é exclusivamente apontar as mudanças propostas pelo projeto de lei Procultura. Em futura edição, abordaremos às demais formas de captação de recursos, e como elaborar projetos culturais.  A intenção ao estampar as imagens de ambos os ministros que propuseram as leis de incentivo na área (Pronac - lei nº 8.313/1991 e Procultura - projeto de lei nº 6.722/2010) na capa desta publicação não foi para contrapô-los, mas sim contrapor os diferentes projetos.

Mesmo porque, um projeto de lei é idealizado não somente por duas, mas por várias cabeças!  Em relação à arte, no entanto, além de investir na sua produção, é essencial incentivos quanto ao acesso. E não apenas a facilitação ao espaço físico, mas primeiramente o acesso informacional. Um povo bem informado tem mais argumentos para cobrar ações e tomar decisões. Por conta disso, a Fusão Cultural tem como principal objetivo democratizar o acesso à informação sobre cultura.  Publicar uma revista impressa de cultura não é fácil, ainda mais quando o objetivo é fazê-la chegar gratuitamente ao leitor (só existem duas no mesmo segmento no Brasil, contudo, cobram a venda: a Bravo, da editora Abril e a Cult, da editora Bregantini). Assim agradeço muito aos que acreditam nessa publicação e na sua idoneidade. Agradeço também aos profissionais da Fusão Cultural. Segue ao lado nossa equipe.

Culture-se!

Diretora executiva

Page 5: Revista Fusão Cultural

www.fusaocultural.com.br

Diretora executiva e jornalista responsável: Rafaela Silva – MTb: 48.363/SPDiretor comercial e financeiro: Gilberto Pessato Jr.Projeto gráfico e diagramação: Bruno Mateus da SilvaIlustração: Valdir Felipe Garcia de BritoRedação: Larissa Helena da Rocha MartinsRevisão: Priscila SalvaiaRepresentante comercial: Roberto Luis da SilvaColaboraram nesta edição: Daniel Costa, Denilson Oliveira, Guilherme Varella, Jacob Pires de Toledo, Raul Rozados, Tiago Gutierrez e Manuel Federl.Impressão: Gráfica Mundo – www.graficamundo.com.br

A Fusão Cultural é uma publicação mensal, local e gratuita da Bennu Editora Ltda ME (CNPJ: 11.476.103/0001-49), sediada na Av. Prof. Alberto Vollet Sachs, 3815 – Vl. Independência – Piracicaba/SP. Telefone: (19) 3375-1512 - www.fusaocultural.com.br

Os textos e imagens publicados na Fusão Cultural só poderão ser citados ou reproduzidos com a devida autorização da direção.

Diretor comercial e financeiro

Revisora

Designer diagramador Designer ilustrador

Redatora

Representante comercial

Page 6: Revista Fusão Cultural

sumário

20 capaPRONAC x PROCULTURAAlterações deixam dúvida quanto a eficácia do novo projeto de lei de incentivo à cultura.

08 rapidinhas

09 up

09 ph0da

10 arte é...

11 fique ligado...

artes plásticasObras de arte invadem os muros

cultura piracicabana21 anos de Paixão

31

18estilo

A moda que vem de Tocantins

30

março | edição 01 | ano 01tiragem: 4.000 exemplares

Page 7: Revista Fusão Cultural

Envie suas sugestões, críticas, elogios e opiniões para - Av. Prof. Alberto Vollet Sachs, 3815 – Vl. Independência – Piracicaba/SP. E-mail: [email protected]

Participe: Para enviar o seu artigo, fotografias, poesias/poemas/versos, fotografias e caricaturas, os e-mail para contato são: [email protected]@[email protected]@fusaocultural.com.br

Fusão Cultural na Internet: Você tem várias opções para acompanhar as novidades desta publicação pela Internet ou falar conosco on-line: Site: www.fusaocultural.com.br. A partir do dia 10 de cada mês, acesse a nova edição. Orkut: Revista Fusão CulturalTwitter: @fusaoculturalMSN: [email protected]

Anúncio: Para anunciar na Fusão Cultural entre em contato conosco. Telefones: (19) 3375-1512/3042-0915E-mail: [email protected]

Exemplares: Quer receber a Fusão Cultural em casa, entre em contato conosco. Endereço: Av. Prof. Alberto Vollet Sachs, 3815 - Vl. Independência - Piracicaba/SP. Telefone: (19) 3375-1512. E-mail: euquero@fusãocultural.com.br.

Pontos de distribuição cadastrados: • Casa do Salgot - sabores e saberes. Rua Floriano Peixoto, 2088 - Bairro Alto - Piracicaba/SP. • Marcato Cursos Jurídicos. Av. Independência, 3305 - Bairro São Judas - Piracicaba/SP. • Arte Imaginação. Rua Santa Cruz, 727 - Bairro Alto - Piracicaba/SP.

• Banca São Judas. Av. Independência. Próxima à Esalq/USP.

16_cultura piracicabanaDelícias do diferenciado “falar caipira”

28_body artSurface piercing

29_só ria

32_nota musicalNovo sertanejo

33_simplesmente danceO break na cultura hip hop

34_cena teatralA máscara que esconde revela

36_ensaio fotográficoTiago Gutierrez

40_cine fusãoA reinvenção do curta metragem

41_sarau literárioCordel

42_articulandoUma lei que é mais que um dedo na ferida

43_ânguloUm breve encontro com Mestre Ambrósio

Page 8: Revista Fusão Cultural

Bonecos do Elias passam por reforma

O artista plástico e restaurador

Éverson Bonazzi, iniciou no fim de

fevereiro, em Piracicaba, o trabalho

de restauração de 17 bonecos

confeccionados por Elias Rocha,

figura histórica da cidade, conhecido

como Elias dos bonecos. A projeção

é de que o trabalho será finalizado

no mês de maio, mesmo período no

qual às peças serão expostas.

Gibi é vendido por mais de US$ 1 milhãoUm exemplar do número 27 da revista em quadrinhos “Detective Comics”, de 1939, foi arrematado no dia 25 de fevereiro em um leilão nos Estados Unidos por US$ 1.075.500. O gibi traz a primeira aparição do personagem Batman, o homem morcego, nas histórias em quadrinhos. No dia 22 de fevereiro, uma cópia da história em quadrinhos “Action Comics”, com a primeira aparição do Superman, foi arrematada por US$ 1 milhão.

Começa construção do teatro no EngenhoDevem começar em março as obras de

construção de um teatro no Engenho

Central de Piracicaba. A empresa Proeng

Construtura, que realiza a obra, deve

finalizar o projeto em 12 meses. O teatro

terá capacidade para 442 pessoas e dois

pavimentos. O espaço também contará

com restaurante e galerias.

B.B. King no BrasilO rei do blues, B.B. King, de 84 anos, se

apresentará em março nas cidades do Rio

de Janeiro (dia 16), São Paulo (dias 19 e 20)

e Brasília (dia 23). O cantor e guitarrista,

que já lançou mais de 35 álbuns em 60

anos de carreira, traz ao Brasil sua turnê

One More Time. A excursão também deve

passar por Santiago, no Chile, e Buenos

Aires, na Argentina. Sua última visita ao

País foi em 2006, com a turnê The Farewell

Tour, que seria a sua despedida dos

palcos. Mais informações pelos telefones

(21) 2272-2940 – Rio de Janeiro, (11) 3089-

6999 – São Paulo e (61) 3429-7600 – Brasília.

8 MARÇO 2010

Do lixo ao luxo

O documentário brasileiro Lixo

Extraordinário (Wast Land) ganhou

o prêmio de melhor documentário

internacional no Festival de Sundance,

nos Estados Unidos da América, no dia 31

de janeiro. A temática do documentário

é a transformação do lixo dispensado no

Jardim Gramacho (maior aterro sanitário

da América Latina localizado na periferia

de Duque de Caxias-RJ) em obras de arte

pelas mãos do artista plástico Vik Muniz.

A direção é assinada pelos brasileiros João

Jardim (Janela da alma) e Karen Harley e a

inglesa Lucy Walker.

Page 9: Revista Fusão Cultural

9MARÇO 2010

Um homem para no sinalei-ro e recebe uma propagan-da qualquer. Não estava interessado no produto

anunciado, então amassa o papel e o arremessa janela a fora. Quase acer-ta a cabeça da moça que o entregava. No dia seguinte, no mesmo horário, o homem passa pelo sinaleiro e o papel não está lá. Incrível! Qual a conclusão do nobre senhor: o lixo evaporou.  Não caro senhor, lixo não evapora (desa-parece rapidamente sem deixar vestígios), ele decompõe-se (transforma-se em frag-mento menores, após um período). Mas muitas pessoas devem acreditar na evapo-ração do lixo, pois não é rara a cena do lixo arremessado, protagonizada por adultos, homens e mulheres; e até mesmo por crian-ças. Toda sorte de material é arremessada: latas amassadas, chicletes mastigados, pa-péis de todas as cores, texturas e tamanhos.

 Além de não evaporar, esses li-xos acumulam-se nas ruas, entopem bueiros e, aliados a outros fatores, causam tragédias, como as enchentes registradas neste início de 2010. Lixo é para ser jogado na lixeira, e as ruas não são lixeiras. Simples assim. ■

entendendo a cabeça de um arremessador de lixo

por Rafaela Silva

Caixas de papel 03 anosCigarro 01 a 02 anosChicletes 05 anosCopos de plástico 50 anosGarrafa de vidro IndeterminadoJornal 06 mesesLata de alumínio 200 a 500 anosLatas de conserva 100 anosMadeira pintada 13 anosNylon 650 anosPapel 03 a 06 mesesPapel plastificado 01 a 05 anosPlástico 450 anosPneu IndetermindoCorda 03 a 04 meses

O que é pH0da? Envie sua opinião para [email protected] sobre o que é pH0da (irritante). Sua sugestão pode ser abordada na próxima edição da Fusão Cultural.

Fontes: Composição a partir de informações dos sites www.lixo.com.br, www.ambientebrasil.com.br.

Tempo de decomposição dos materiais na naturezaO Brasil produz

cerca de 250 mil toneladas de lixo

por dia, segundo o Instituto Aqualung.

Segue abaixo a lista dos três vídeos (com alguma relação à arte) mais acessados no You Tube em fevereiro (até o dia 26).

Acessos totais: 1.178.552Avaliações: 6.575Link: http://www.youtube.com/watch?v=NZ_fBiJn9LA

3º Lugar:We Are The World - 2010 Remake For Haiti [Sneak Peek]!Acessos totais: 755.213Avaliações: 561Link: http://www.youtube.com/watch?v=bnkdQpDhcs42º Lugar: iFlipAcessos totais: 1.141.532Avaliações: 23.254Link: http://www.youtube.com/watch?v=LtuZvmKZ0w4

Lugar: Avril Lavigne - Alice [NEW Single HQ with Lyrics]Em primeiro lugar, no topo de acessos, ficou o clipe de Avril Lavigne, da música Alice. Essa música faz parte da trilha sonora da refilma-gem de “Alice no país das maravilhas”.

Page 10: Revista Fusão Cultural

10 MARÇO 2010

“A maior arte que a gente já teve está se perdendo; é a arte de sobreviver na mata; conseguir sobreviver do que é produzido na tribo; ter tempo para preparar o alimento. O índio não precisa de nada. Ele produz até o seu próprio remédio. Quando ele morre, ele não leva nada, só leva o seu conhecimento; que ele passa de pai para filho. Eu tenho descendência indígena; minha avó era indígena. Ela passou o conhecimento para a minha mãe, mas minha mãe quis viver a vida civilizada. Eu é que tenho esse interesse em resgatar o passado. Admiro muito os povos indígenas. Arte mesmo é a vida na selva, por isso, estou tentando resgatar a história dos povos indígenas que viviam nas margens do rio Piracicaba.”

Jacob Pires de ToledoMarceneiro e artesão

Jacob e a “Feiticeira”, sua moto.

Page 11: Revista Fusão Cultural

11MARÇO 2010

... na Mostra "Desenhos de J. Adamoli" (JOÃO EGYDIO ADAMOLI (1911 – 1980), que ocorre até o dia 13 de março no espaço Art Collection, em Piracicaba, na rua Dr. Alvim, 818 – São Dimas - de terça a sexta das 14 às 19h e aos sábados das 9 às 13h. Entrada franca. Mais informações pelo site www.aartcollection.com.br.

... na 36ª edição da Festa do Milho Verde de Tanquinho, que neste ano será realizada nos dias 6,7,13,14,20 e 21 de março, no Centro Rural do distrito de Piracicaba.

... na III Verdurada Piracicaba no dia 21 de março, a partir das 16h. Essa é a edição piracicabana do maior evento de hardcore/vegan/straight edge da América Latina! Local: Casa do Hip Hop, na Rua Jaçanã Altair Guerrini – Paulicéia. Valor: R$ 7,00 (com direito ao jantar vegano no final do evento). Mais informações: www.verduradapiracicaba.blogspot.com

...na exposição "Feito em Pira I – Mulheres – Olhares Múltiplos – Técnicas Diversas”, de Luisa Libardi e Alunas, na Casa do Povoador de Piracicaba. A exposição, com abertura no dia 6 de março, poderá ser vista até o dia 28 de março. O horário de visitação é de segunda a sexta, das 8h às 11h e das 13h às 17h, aos sábados, domingos e feriados, das 9 às 18h. Mais informações: www.luisalibardi.com.br

... na apresentação da Paixão de Cristo de Piracicaba, que será realizada entre 27 de março e 04 de abril no Engenho Central. Mais informações e reserva de ingressos pelo telefone (19) 3413-7888 ou pelo e-mail [email protected]. O site da Associação é www.guaranta.org.br

... pois entre os dias 17 e 31 de março, o Sesc Piracicaba recebe trabalhos inéditos de arte postal enviados pelo correio, com técnica livre abordando o tema “Sobras & Sombras: uma conversa silenciosa”. Baseados na obra de Geraldo de Barros, os trabalhos devem obedecer ao tamanho de 10 cm x 15 cm e ser remetidos para: Sesc Piracicaba, Rua Ipiranga, 155, centro, Piracicaba/SP, Cep.: 13.400-480 ou para o endereço eletrônico: [email protected].

Piracicaba

... na Exposição Geraldo de Barros, que ocorre entre os dias 17 de março e 02 de maio no Sesc Piracicaba. As obras podem ser vistas de terças a sextas, das 13h30 às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. A exposição contempla obras das séries “Fotoformas” e “Sobras”, que integram o acervo de arte do Sesc São Paulo. O Sesc Piracicaba fica na rua Ipiranga, 155. O telefone de contato é 3437-9292.

... na exposição “Pequenas Obras. Mostra de Rocco Caputo com trabalhos em óleo sobre tela. Local: Casa do Salgot Sabores & Saberes - Rua Floriano Peixoto, 2.088 - Bairro Alto - Tel. 3432-8647. Visitas: segunda a sexta das 10h às 19h30 - sábado das 10h às 13h30. Período: De 06 de março até 9 de abril.

... no período de inscrição de trabalhos para a Bienal Naifs do Brasil 2010. As inscrições, gratuitas, já estão abertas e serão encerradas no dia 23 de abril. Mais informações no site www.sescsp.org.br/inscricaonaifs2010, ou diretamente no Sesc Piracicaba, na rua Ipiranga, 155. O telefone de contato é 3437-9292.

Page 12: Revista Fusão Cultural

12 MARÇO 2010

Biblioteca Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto: Rua do Rosário, 833. Telefones: (19) 3433-3674 / (19) 3434-9032 / (19) 3432-9099

Campus Luiz de Queiroz: Entradas pela Av. Pádua Dias, 11 e pela Estrada do Monte Alegre, bairro Agronomia. Telefone: (19) 3429-4305

Casa do Artesão: Av. Alidor Pecorari, s/n, parque da Rua do Porto. A casa está aberta a visitação de terça a sexta-feira das 13h às 17h, e de sábado, domingo e feriados, das 10h às 17h

Casa do Povoador: Av. Doutor Paulo de Moraes, s/n. Telefone: (19) 3124-1989.

Casarão do Turismo: Av. Beira Rio, 1433, calçadão da Rua do Porto. Telefone: (19) 3432-1122

Centro Cultural Estação Paulista Antonio Pacheco Ferraz: Av. Doutor Paulo de Moraes, s/n. Telefone: (19) 3124-1989

Centro Cultural Martha Watts: Rua Boa Morte, 1.257. Telefone: (19) 3124-1889

Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação do Humor Gráfico: Av. Maurice Allain, 454, Engenho Central. Telefones: (19) 3403-2621 / (19) 3403-2623

Engenho Central: Av. Maurice Allain, 454. Telefone: (19) 3403-2600

Museu da Água Francisco Salgot Castillon: Av. Beira Rio, 448. Telefone: (19) 3432-8063

Museu e Centro de Ciências, Educação e Artes Luiz de Queiroz: Av. Pádua Dias, 11, Agronomia. Telefone: (19) 3429-4305

Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes: Rua Santo Antônio, 641. Telefone: (19) 3422-3069

Museu Professor Jair de Araújo Lopes: Rua Boa Morte, 1.257. Telefone: (19) 3124-1889

Parque do Mirante: Rua Maurice Allain, s/nº

Parque da Rua do Porto: Av. Alidor Pecorari, s/nº. Telefone: (19) 3403-1254

... NO ROTEIRO CULTURAL DE PIRACICABA

Informações fornecidas pelo Teatro Municipal. Mais informações pelo telefone: 3433-4952 ou pelo site: www.semac.piracicaba.sp.gov.br

...NA PROGRAMAÇÃO DO TEATRO MUNICIPAL DR. LOSSO NETTO

Sala 113 e 14 de março: 21h (sáb) 19h (dom) – Teatro – “Minhas Criadas” Com Cia São Genésio Ingressos: inteira 10; Antecipado (Até 12/03) /estudante/idoso/prof. Estado R$ 5,00. Classificação: 14 anos

17 de março: 20h – Teatro e Música – “Lanciano” Comunidade Corpus Christi e Ministério de Música e Artes Diocese de Piracicaba. Ingressos: inteira 10; Antecipado (Até16/03) /estudante/idoso/prof. Estado R$ 5,00. Classificação: Livre

19 de março: 21h00 – Dança – “Quando se desprendem as partes – Ação espetáculo” Coletivo o12. Ingressos: trocar antecipadamente por 1 litro de leite Longa Vida na bilheteria do Teatro. Classificação: 14 anos

21 de março: 10h30 e 16h – Teatro – “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo” – Com Luciana Felipe e Romualdo Sarcedo. Ingressos: inteira R$ 16,00; Antecipado (até 20/03) estudante/idoso/prof. Estado/ bônus/JP/Unimed R$ 8,00. Classificação Livre

Sala 216 de março: 19h30 – Sarau Literário – Tema: “Carmem Miranda”. Entrada gratuita – limite 100 lugares.20 de março: 20h – Música e Teatro – “Jesus Cristo – Rei da Eternidade”. Ingressos: inteira 10; estudante/idoso/prof. Estado/ bônus/JP/Unimed 5,00. Classificação: Livre

Page 13: Revista Fusão Cultural

13MARÇO 2010

... no 1o Fórum Cultural de Mulheres no Hip Hop do Estado de São Paulo – Aldeia de Carapicuiba, na cidade de Carapicuíba (SP) nos dias 13 e 14 de março. Mais informações pelo site www.mulheresnohiphop.com.br, ou pelos telefones (11) 8250-7820 ou (11) 3439-137 3.

... no 21o Curta Kinoforum - Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que acontecerá de 19 a 27 de agosto de 2010. As inscrições para os curtas brasileiros serão abertas no final de março e vão até o dia 10 de junho. As inscrições serão online e através do site www.shortfilmdepot.com. Poderão participar produções finalizadas em 2009 e 2010, com duração até 35 minutos (finalizados em 35mm) e de 3 a 20 minutos (finalizados em vídeo).

... na Exposição “Pulseira Ver a Árvore”. Grandes anéis coloridos de látex foram colocados em sete árvores do parque Ibirapuera, atrás do Museu de Arte Moderna (MAM), pela artista ambiental Renata Mellão. Em cada pulseira, há uma lente de aumento para que o visitante possa ver detalhes do tronco. O parque fica na Av. Pedro Álvares Cabral, s/ nº (atrás do MAM) - Parque Ibirapuera - Sul. Telefone: (11) 5543-5144.

... no Espaço Catavento, no Museu de Ciência. Também conhecido como museu da criança, o lugar segue os moldes de instituições que se dedicam à introduzir as crianças ao mundo do conhecimento, como o museu Papalote, no México; e ocupa o Palácio das Indústrias, antiga sede da prefeitura paulistana (região central da cidade de São Paulo). Pq. Dom Pedro 2º, s/ nº - Centro. Telefone: (11) 3315-0051. Ingresso: R$ 3 (crianças de quatro a 12 anos e maiores de 60 anos) e R$ 6. Grátis p/ menores de três anos.

... no Museu da Língua Portuguesa. O museu exibe uma nova projeção multimídia de poesias no terceiro andar. Com curadoria de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski, o programa inclui trechos de textos de Nelson Rodrigues, Euclides da Cunha e Graciliano Ramos, entre outros nomes da literatura brasileira. Pça. da Luz, s/ nº - Bom Retiro - Centro. Telefone: 3326-0775. Ingresso: R$ 6 (grátis p/ menores de dez, maiores de 60 anos e sáb.).

samPas

Por ai a Fora

... pois a Pulsar Artes e Produção está dando início à produção da 17ª edição do Cinesul - Festival Ibero-Americano de Cinema e Vídeo. As inscrições vão até o dia 20 de março. Para se inscrever acesse www.cinesul.com.br.

... pois as inscrições para o Anima Mundi 2010 - 18º Festival Internacional de Animação do Brasil, finalizam no dia 23 de março. Mais informações e inscrições no site www.animamundi.com.br. Já as inscrições para o Anima Mundi Web e Cel (animação para web e celular) serão abertas no dia 02 de Abril de, e vão até o dia 29 de maio. As informações sobre o Anima Mundi Web e Cel também são encontradas no site do Festival.

... no Festival do Minuto: faça um Minuto com tema livre e concorra a um prêmio de R$ 500,00. Inscrições até 31 de março.

... as inscrições para a 3ª edição do Festival Internacional de Filmes Curtíssimos estão abertas até o dia 04 de abril. Mais informações no site www.filmescurtissimos.com.br

As datas e horários foram obtidos juntos aos organizadores ou diretamente no site dos mesmos. Assim, confirme as informações antes de comparecer aos eventos.

Envie também a sua programaçãoEventos gratuitos, ou com custo popular, são divulgados na publicação impressa sem nenhum custo ao anunciante. São publicados eventos a serem realizados ou iniciados entre o dia 10 do mês da publicação e o dia 10 do mês seguinte à publicação. A programação deve ser encaminhada para [email protected], assunto Fique Ligado.

Page 14: Revista Fusão Cultural

14 MARÇO 2010

... nos livros mais vendidosaté o dia 24 de fevereiro - Fonte: Nobel, Saraiva e Fnac.

O símbolo perdido, de Dan BrownEm 'O Símbolo Perdido', o professor de Harvard, Robert Langdon, é convidado às pressas por seu amigo e mentor Peter Solomon - eminente maçom e filantropo - a ministrar uma palestra no Capitólio dos Estados Unidos. Ao chegar lá, descobre que caiu numa armadilha.

A cabana, de William P. YoungA filha mais nova de Mackenzie Allen Philip foi raptada durante as férias em família e há evidências de que ela foi brutalmente assassinada e abandonada numa cabana. Quatro anos mais tarde, Mack recebe uma nota suspeita, aparentemente vinda de Deus, convidando-o para voltar àquela cabana e passar o fim de semana. Ignorando alertas de que poderia ser uma cilada, ele segue numa tarde de inverno e volta ao cenário de seu pior pesadelo.

O ladrão de raios, de Rick Riordan O autor conjuga lendas da mitologia grega com aventuras no século 21. Nelas, os deuses do Olimpo continuam vivos, ainda se apaixonam por mortais e geram filhos metade deuses, metade humanos, como os heróis da Grécia antiga. Marcados pelo destino, eles dificilmente passam da adolescência. Poucos conseguem descobrir sua identidade. O garoto-problema Percy Jackson é um deles.

NÃO FICÇÃOComer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert Em torno dos 30 anos, Elizabeth Gilbert enfrentou uma crise de meia-idade precoce. Tinha tudo que uma americana instruída e ambiciosa teoricamente poderia querer. Mas em vez de sentir-se feliz e realizada, foi tomada pelo pânico, pela tristeza e pela confusão. Enfrentou um divórcio, uma depressão debilitante e outro amor fracassado, até que se viu tomada por um sentimento de liberdade que ainda não conhecia.

Se abrindo pra vida, de Zibia Gasparetto (Espírito Lucius) Aos trinta e oito anos, Jacira acredita estar prisioneira de uma situação irreversível e sem saída. Assim, ela prefere entrar na depressão, culpar os outros, e acreditar que não tem como mudar o destino. Mas, ao contrário do que ela pensa, a vida trabalha em favor do seu progresso, enviando desafios, apertando o cerco e fazendo com que, cansada de sofrer, ela acorde para a realidade, descobrindo potenciais, buscando caminhos e se abrindo para vida.

Guia politicamente incorreto da história do Brasil, de Leandro Narloch Existe um esquema repetido para contar a história do Brasil, que basta misturar chavões, mudar datas ou nomes. Nesse livro, o jornalista Leandro Narloch prefere adotar uma postura diferente que vai além dos mocinhos e bandidos conhecidos.

FICÇÃO

Page 15: Revista Fusão Cultural

15MARÇO 2010

... nos Próximos Filmes em cartaz em Piracicaba Fonte: Site www.cinearaujo.com.br

O amor aconteceEstréia 05/03

Como Treinar o Seu DragãoEstréia 26/03

Chico XavierEstréia 02/04

Alice no País das Maravilhas 3D

Estréia 23/04

Homem de Ferro 2Estréia 30/04

Ilha Do Medo Estréia 12/03

Remember MeA Vida é Feita de

MomentosEstréia 12/03

Um Sonho PossívelEstréia 19/03

Page 16: Revista Fusão Cultural

16 MARÇO 2010

Não existe mais o caipi-ra verdadeiro, tal qual o “Jeca Tatu”, descrito por Monteiro Lobato, ou mes-

mo o “Joaquim Bentinho”, de Cornélio Pires. No entanto, os paulistas insis-tem em afirmar haver, no interior de São Paulo, uma cultura caipira que se traduz por algumas características, en-tre as quais a maneira de falar, a viola e alguns aspectos da culinária.  O jeito de falar caipira foi de tal for-ma marcante na história paulista que, quando no século XVIII, discutiu-se a instalação dos cursos jurídicos no Brasil, houve reações contrárias a São Paulo ter uma das faculdades. E a ob-jeção se fazia por causa do sotaque, do dialeto caipira dos paulistas, tidos como “linguajar inconveniente” que contaminaria os futuros bacharéis, oriundos de outras partes do país. Na realidade, dizia-se que os paulistas “corrompiam o vernáculo”.

mudançasA influência dos negros e dos índios na linguagem caipira foi marcante. Essa mudança começou a ocorrer quando se substituiu o braço escravo pelo imi-grando, afastando, aos poucos, a con-vivência dos brancos com os negros. Os caipiras genuínos, geralmente sem educação formal, ficaram na zona rural ou na periferia das cidades, mesclando-se a outros elementos, incluindo o imi-grante. Mas muito dessa linguagem ainda permaneceu, especialmente em

algumas áreas do interior de São Paulo, às margens dos rios Paraíba, Tietê e Pi-racicaba, entre outros.  As migrações de italianos, árabes, ale-mães, japoneses e outros contribuíram para muitas dessas mudanças. Mas par-te desse sotaque ficou. E o escritor Ama-deu Amaral, um caipira de Capivari, ainda na década de 1920, fez um estudo sobre o sotaque e o dialeto caipira, co-lhendo dados que permanecem atuais. Muitas cidades, mas a região de Piracicaba em especial, mantêm res-quícios dessa “cultura caipira” que é muito forte, do “português” arcaico. A própria palavra caipira significa essa “cultura antiga” que ficou à margem dos rios percorridos pelo colonizador e onde se alojava a nação tupi-guarani e os payaguás. “Cá i pira”, em tupi, tem esse significado: “a mata que acompanha o rio” e para os payaguás, designa que o rio segue a vegetação. É a linguagem com que os indígenas corromperam o “português arcaico”.  Em estudo apresentado à USP, a pro-fessora Ada Natal Rodrigues concluiu que houve o encontro de duas etnias - o português arcaico e o silvícula (tupi-guarani e payaguá) - formando essa lin-guagem e essa cultura caipiras, o “falar feio e bonito” . Quando o sertanista se tornou sedentário e os filhos passaram a freqüentar colégios, o “falar” passou a ser chique, mas o “sotaque” piraci-cabano, que Piracicaba assumiu como “caipiracicabano” permaneceu. Onde os sertanistas chegaram, o

dialeto ficou: o abrandamento dos “er-res” e o arredondamento dos “eles”, o chamado “erre retroflexo” que é pro-nunciado com a língua retraída para o fundo. O “perarta” no lugar de pe-ralta, o “sarto” no lugar de salto são parte dessa linguagem. Na região de Piracicaba, ao contrário do que mui-tos julgam, foram os italianos que se influenciaram com a nossa maneira de falar e não o contrário. A noção de que “caipira é feio” vem do “Jeca Tatu” de Monteiro Lobato, muito di-ferentemente do personagem arguto e brilhante de Cornélio Pires, também caipira, o “Joaquim Bentinho”.

as vogais Uma das principais características des-se dialeto caipira está quando a vogal é seguida de S ou Z, portanto ciciante. Ex: rapaz, mês, nós. Quando ocorre, usa-se a vogal I, criando o ditongo AI. Diz-se, então: rapaiz, meis, nóis.  Por outro lado, a troca do E pelo I, ao final das palavras, como ocorreu em outras regiões do país, não ocorre. Ex: aquele, aquêli, este, êsti. O caipira acentua ainda mais: aquelê, estê. O mesmo ocorrendo em relação ao O e U. Ex: povo, povu; novo, novu, que o caipira enfatiza, povô, novô.  No entanto, a vogal O, usada entre as palavras, é substituída pelo U. Ex: cozinha passa a ser cuzinha, de cozi-nha; taboleta torna-se tabuleta; tos-sirpassa a ser tussir.  Nos grupos vocálicos – ai, ei, ou,

Não há como falar em cultura piracicabana sem lembrar-se do jornalista e escritor Cecílio Elias Netto. Por conta disso, a Fusão Cultural reproduz um texto de sua autoria, cedido gentilmente pelo escritor. Este texto foi publicado, primeiramente, no jornal on-line A Província, do qual Cecílio é diretor.

por Cecílio Elias Netto

Page 17: Revista Fusão Cultural

oi – há diversas alterações na maneira de falar caipira. O grupo Ai pode ser reduzido, quando diante do X, como na palavra caixa, igual a caxa. Ou fai-xa, que se torna faxa. Paixão passa a ser paxão. Ou o Ai é transformado em Ei, como na palavra raiva, que passa a ser réiva.  O grupo ei reduz a Ê se for seguido de R, X ou J. Ex: isqueiro= isquêro; chei-ro= chêro; peixe= pêxe; queijo= quêjo.  Nos vocábulos esdrúxulos – música, ridículo, cócega, por exemplo – o caipira sempre suprime a vogal da última síla-ba. Dessa forma, música é pronunciada “musca” ou “musga”; cócega, pronun-cia-se “cosca”; ridículo, “ridico”.

eles e erres Uma das tipicidades mais flagrantes dessa linguagem caipira está, no en-tanto, no uso dos ELES e ERRES. O ELE, no final das sílabas e no meio das sílabas, quase sempre muda para R. Assim, papel passa a ser papér; mel é mér; alma é arma; Brasil é Bra-sir. Há casos em que um dos ELES permanece, como na expressão tal e qual, que é pronunciada “talequar” ou “talequá”. E, também, mal e mal, que, quase sempre, se diz “malemá”.  Há que se observar , no entanto, que, nas palavras terminadas em Al, EL, a consoante “L” pode desaparecer: jor-nal é jorná; papel é papé. O R praticamente desaparece no final das palavras. Ex: andar, andá; mulher, muié; esquecer, esquecê; amor, amô.

nomes indígenas Grande número de palavras, comu-mente usadas pelo caipira, tem ori-gem indígena, tanto que quase todos os topônimos são de origem tupi-guarani, Piracicaba incluindo. Basta observar nomes de distritos - como Tupi, Caiubi, Anhumas e outros - e de bairros (Jupiá, Bongue e outros), além de cidades próximas como Capivari, Mombuca, Tietê, Itu, para se atentar para a influência indígena.  Dos vegetais, um sem número deles tem essa origem: abacate, abacaxi, cipó, jabuticaba, jacarandá, pitanga, samam-baia, capim, pipoca, imbuia, mandioca.  Nomes de fenômenos e acidentes da natureza, doenças, etc., são tam-bém muitos: catapora, piracema, po-roroca, catinga, cupim, bereba. E de utensílios domésticos, aparelhos, objetos de uso, alimentos, costumes : ara-puca, muqueca, pamonha, paçoca, pa-tuá, peteca, sapicuá, jacá, cateretê, caruru, catira, saci, caiçara, caipira, caipora.  Quanto à influência dos vocábulos africanos na linguagem caipira, essa é praticamente a mesma que existe no Brasil inteiro, palavras como qui-lombo, samba, malungo, cachaça, mandinga, missanga, etc. Trata-se, pois, de um especialíssimo jeito de falar que tem explicações na própria dinâmica da língua, na morfologia e, também, na história. ■

Mais textos de Cecílio Elias Netto no site www.aprovincia.com

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18 MARÇO 2010

Paixão, esta é a primeira palavra a vir à mente de grande parte do elenco da encenação Paixão de Cristo de Piracicaba quando pensa no espetácu-lo. Também foi a paixão que fez Jesus dar a sua

vida pela humanidade. A paixão também impulsionou Silvio Kazza, 32 anos, a lutar para interpretar Jesus, papel que conseguiu nesta edição do espetáculo. Kazza come-çou a participar do espetáculo em 2007, e desde aquele ano tenta conseguir esse papel. Foi também nos ensaios para a Paixão de Cristo que Kazza apaixonou-se por Aline Soave, com quem namora há quase três anos.  Passada a euforia pela conquista do personagem (os papéis para personagens com fala foram distribuídos em dezembro), Kazza começou trabalhar para fazer bem o seu papel. O ator foi a fundo nos laboratórios para constru-ção do personagem. Nos dois meses de preparação para a gravação das falas, Kazza fez vários jejuns (apenas ingeria água), estes jejuns se prolongavam por 4, 5 e até por 8 dias consecutivos. Também caminhou por horas em espaços de mata, a fim de buscar, segundo Kazza, um encontro maior com Jesus. Encontro que ele garante ter existido.  Jesus, promessa, oportunidade, felicidade, fé, amizade, alegria, animação... Essas são algumas das palavras a vi-rem à mente do elenco da Paixão de Cristo. São realmente necessárias muita felicidade, alegria e animação, pois os ensaios ocorrem aos domingos, das 09 às 12h. Nas últi-mas semanas que antecedem as apresentações, os ensaios são realizados durante o domingo todo. Muitos reclamam, mas no final, todos concordam sobre a necessidade da ex-pansão do horário de ensaio, e buscam nas amizades a for-ça para seguir o dia todo no Engenho.

 Sempre tive vontade de participar desse espetáculo, mas só tomei coragem em 2007. Quatro anos fazendo parte dessa história pode parecer pouco, mas é o suficiente para entender o sucesso e a importância da Paixão de Cristo, não apenas para o elenco, mas para Piracicaba. Pessoas de todo o Brasil, e mesmo de fora do país, vêm assistir as apresentações.  Participar dessa história é importante, especificamente para mim, por diversos motivos: ganho de experiência teatral, socialização (fiz muitos amigos) e conhecimento. Apesar de a história da vida de Cristo ser conhecida, ela pode ser contada de diferentes maneiras, possibilitando um aprendizado constante. Para os interessados em fazer parte dessa história, as inscrições para integrar o elenco encerram-se no dia 14 de março.

o início de tudoNeste ano, a encenação da Paixão de Cristo em Piracicaba com-pleta 21 anos. Dos idealizadores, apenas dois ainda participam do espetáculo; Carlos Alberto Aguiar e Silva (o Charlão), além de Raul Rozados. Segundo Charlão (como prefere ser chama-do), tudo começou com um grupo de alunos de uma oficina de teatro do Serviço Social do Comércio (Sesc). O intuito do grupo, de acordo com Charlão, era fazer um espetáculo que dialogasse e tocasse um grande número de pessoas.  A apresentação, que ocorre durante a Semana Santa, é realizada no Engenho Central da cidade desde 1992. Aliás, não há cenário melhor para a apresentação. Em 1990, pri-meiro ano do espetáculo, a Paixão de Cristo foi apresenta-da no Campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP). No ano seguinte, a apresentação ocorreu no Parque da Rua do Porto. ■

PAIXÃO CRISTODE

DE PIRACICABA

por Rafaela Silva

Eu também faço parte desta história

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19MARÇO 2010

Diretores do espetáculo1990 – Elie Marios Deftereos 1991 – Isabel Ortega1992 a 2004 – João Prata2005 – Dagoberto Feliz2006 a 2008 – Carlos ABC2009 – Rosana Baptistella2010 – João ScarpaFonte: www.guaranta.org.br

Imagens de Gilberto Pessato Jr., tiradas durante o ensaio do dia 28 de fevereiro.

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20 MARÇO 2010

Ano eleitoral. Isso já seria motivo suficiente para colocar em dúvida o novo projeto de lei federal de

incentivo à cultura, que está em trâ-mite na Câmara dos Deputados (pelo menos estava até o fechamento desta edição). A necessidade de alterar a lei atual é discutida há tempos, mas só agora o texto final será votado. As mo-dificações, apesar de poucas, também causam dúvidas nos artistas, produ-tores culturais e empresas quanto à eficácia do projeto. Não basta criar ou mudar leis, é necessário cumpri-las. A grande quantidade de leis, federais, estaduais e municipais gera é muitas confusões. Se a Declaração Univer-sal dos Diretos Humanos e a Decla-ração Universal sobre a Diversidade Cultural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (leia abaixo trechos das declarações) fossem levadas a sé-rio, já seria um grande avanço.  Críticas à parte, as leis de incentivo

estão ai. Por isso, a Fusão Cultural não servirá como tribunal, para julgar a ne-cessidade ou validade dos programas de incentivo à cultura, mas apontará para o leitor as alterações propostas.

por Rafaela Silva

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo XXII - Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXVII• Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.• Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (Unesco )

“...afirma que a ampla difusão da cultura e da educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis para a dignidade do homem e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com um espírito de responsabilidade e de ajuda mútua”.

Page 21: Revista Fusão Cultural

renÚncia Fiscal Utilizar a renúncia fiscal como cha-mariz para as empresas investirem em cultura não é algo novo no Brasil. Essa forma de incentivo cultural sur-giu na década de 80, com a Lei Sar-ney (lei nº 7.505/1986). O Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) – mais conhecido como Lei Rouanet (Lei nº 8.313/1991), em referência ao ministro da cultura da época, Sérgio Paulo Rouanet – foi aprovado duran-te o primeiro governo eleito a partir das eleições diretas para presidente da República do Brasil em 1989. A Lei Rouanet representou um grande avanço para o setor, ao articular os in-teresses de empresas e artistas. Con-tudo, é justamente a renúncia fiscal um dos pontos mais criticados pelo Ministério da Cultura (MinC).

eis Que surge o ProculturaInicialmente chamado Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (Profic), o novo projeto de lei federal chegou à Câmara dos Deputados em janeiro deste ano com o nome de Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura – projeto de lei nº 6.722/2010). A expectativa é que a lei comece a vigorar ainda no fim do se-gundo semestre deste ano, pois o texto chegou ao congresso com pedido de tramitação urgente/urgentíssima, que asseguraria a aprovação em 90 dias. Se aprovado, o texto seguirá para o sena-do, onde deverá ser votado em 30 dias.  Especificamente em relação ao Pro-nac, as principais críticas que balizaram a criação do novo projeto de lei foram: a grande burocracia enfrentada por artis-tas e produtores culturais para conse-guir investimentos; a baixa atuação do Estado e, com isso, a dependência de patrocinadores que, em muitos casos, utilizam a isenção fiscal apenas como forma de publicidade barata; a con-centração dos recursos em uma única região; e a concentração dos investi-mentos em setores específicos.

Fonte: Nova Lei da Cultura - Material

informativo sobre o projeto de lei de fomento e incentivo,

disponibilizado pelo Ministério da Cultura (MinC), 15 a 28 de

janeiro de 2010.

Procutura chega ao congresso com

poucas alteraçãoes em relação ao

Pronac.segunda aprovação junto às possíveis empresas patrocinadoras. Com o novo fundo, foi eliminada esta última etapa. Ao ter o projeto aprovado pelo MinC, o recurso deve ir direto aos realizados. ►

 Apesar das críticas, as alterações nos mecanismos de implementação do Procultura em relação aos do Pro-nac foram poucas. O Fundo Nacio-nal da Cultura (FNC), que já existia desde a Lei Sarney com o nome de Fundo de Promoção Cultural, passa a ter mais sete fundos setoriais, além do Fundo Setorial do Audiovisual. São eles: o Fundo Setorial das Artes Visuais; o Fundo Setorial das Artes Cênicas; o Fundo Setorial da Música; o Fundo Setorial do Acesso e Diversi-dade; o Fundo Setorial do Patrimônio e Memória; o Fundo Setorial do Livro, Leitura, Literatura e Humanidades; o Fundo Setorial de Ações Transversais e Equalização; e o Fundo Setorial de Incentivo a Inovação do Audiovisu-al. O objetivo do Ministério da Cultura (MinC), com a criação dos fundos setoriais, é arrecadar mais verba para o FNC e distribuí-la melhor entre os setores, visto que, pela nova lei, nenhum se-tor pode ganhar me-nos de 10% ou mais de 30% do FNC.  Também há a garantia de sim-plificação no uso da lei, por conta da redução de uma etapa do processo. Na Lei Rouanet, o pro-jeto enviado, após passar por uma aná-lise, seria ou não aprovado. Sendo aprovado, o pro-jeto recebia um c e r t i f i c a d o   d e captação. Com esse certif ica-do em mãos , o   a r t i s t a   o u produtor cul-tural deveria buscar uma

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Sudeste recebeu quase 80% do valorPorcentagem do valor recebido por região do

dinheiro da renúncia fiscal em 2009.

Fonte: Nova Lei da Cultura - Material informativo sobre o projeto de lei de fomento e incentivo, disponibilizado pelo Ministério da Cultura (MinC), 15 a 28 de janeiro de 2010.

Mecanismos de implementação dos programas

Fundo Nacional da Cultura (FNC)

Incentivo a Projetos Culturais

Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart)

Fundo Nacional da Cultura (FNC)

Incentivo Fiscal a Projetos Cultu-rais

Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart)

Vale-CulturaFonte: Textos disponíveis no site do Ministério da Cultura (MinC).

 As empresas ainda podem benefi-ciar-se da isenção fiscal, o que mudou foram as faixas de renúncia. Com a nova lei, 20%, no mínimo, do valor de um projeto devem ser custeados com os recursos da empresa. Outra mu-dança foi a criação de renúncia fiscal para os endowments, inspirada no Na-tional Endowment for the Arts, dos Esta-dos Unidos da América. O endowment é um fundo formado pela doação de empresas e pessoas físicas. Os investi-dores também podem utilizar o antigo Fundo Privado (Ficart), que passou por reformulação. No novo Ficart, a renúncia fiscal passa a ser de 100%, nesse primeiro momento. A intenção é reduzir o percentual conforme as ações de empreendedorismo aumentarem, possibilitando a sobrevivência desse fundo. Ao optar pelo Ficart, é como se a empresa ficasse “sócia” da renda do projeto cultural. Será um investimento com expectativa de retorno. Todos os projetos enviados ao MinC serão avaliados pela Comis-são Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), formada por parceristas es-

pecializados em cada área cultural. Os projetos poderão ser apresentados por pessoas físicas ou jurídicas, com ou sem fins lucrativos, pois a nature-za cultural do projeto deve estar no próprio projeto e não no proponente. Outra promessa é agilizar a avaliação dos projetos, que não deve passar de 30 dias. Caso o projeto seja recusado, o proponente tem o direito de recor-rer da primeira decisão.  De certa forma, o único mecanis-mo criado foi o Vale-Cultura. Trata-se de um cartão, com saldo de até R$ 50,00 por mês, por trabalhador, a ser utilizado no consumo de bens culturais. As empresas que declaram Imposto de Renda com base no lucro real poderão aderir ao Vale-Cultura e posteriormente deduzir até 1% do imposto devido. O valor do vale leva em consideração o orçamento fami-liar do trabalhador e possibilitará o consumo de bens culturais sem one-

rar o beneficiado. No caso do traba-lhador, o desconto será de 10% se ele ganhar até cinco salários mínimos. Os funcionários com salários maiores só receberão o benefício quando atendi-da a totalidade dos empregados que recebem até cinco salários. No caso de salários superiores, os descontos de-vem variar entre 20% e 90%. ►

O Vale-Cultura foi o único mecanismo

novo criado pelo Procultura.

Page 25: Revista Fusão Cultural

Renúncia

Vale-Cultura

Ficart

Direitos do Autor

Repassse do fundo para estados e municípios

Fundo Nacional de Cultura (FNC)

2 faixas (30% e 100%)

Baixo investimeno privado

Ausência de critério

Arbítrio: música popular e outras áreas com apenas 30% da renúncia.

Não existia

Não saiu do papel porque não tinha incentivo fiscal

O governo financia projetos com 100% de renúncia e depois recompra o mesmo produto para uso educacional, não comercial

Não era feito

Sem divisão setorial e com baixa variedade de mecanismos

3 faixas (40%, 60% e 80%)

Os maiores investidores sinalizam investimento próprio de no mínimo 20%

Adoção de critérios públicos de uso dos recursos

Todas as áres da cultura podem obter a faixa máxima da renúncia

A expectativa é de até R$ 7 bilhões arrecadados em investimentos ao ano

100% de renúncia para projetos culturais com potencial de retorno comercial. O índice vai baixar com o tempo

O direito autoral será preservado e o projeto ganha fim educacional após terminar a vida comercial do produto

Repasse automático de 30% dos recursos do Fundo Nacional de Cultura (FNC)

• Criação de sete novos fundos setoriais• Repasse para estados e municípios• Associação a resultados – coprodução de projetos com potencial retorno comercial• Crédito e microcrédito. Empréstimo a empreendimentos culturais, por meio de instituições de crédito.

Principais diferenças entre a forma de implementação dos dois programas

Fonte: Nova Lei da Cultura - Material informativo sobre o projeto de lei de fomento e incentivo, disponibilizado pelo Ministério da Cultura (MinC), 15 a 28 de janeiro de 2010.

Page 26: Revista Fusão Cultural

26 MARÇO 2010

 A pesquisa da Fundação João Pi-nheiro, “A Economia da Cultura”, que trás informações sobre o setor, data de 1998, mas o grande objetivo da maio-ria das empresas que investem em cultura não mudou. A necessidade de uma política cultural forte é justamen-te para que o controle cultural não fi-que nas mãos de grandes marcas. Pois nesse setor a estrela é a produção cul-tural e não a marca da empresa. De acordo com o defensor do projeto de lei 6722/10 do executivo, que revisa a Lei Rouanet (8.313/91), o deputado Odair Cunha (PT-MG), em entrevista realizada pela Agência Câmara, e pu-blicada no dia 11 de fevereiro no site da Câmara, “atualmente, o volume total de recursos é de R$ 2 bilhões, e o go-verno quer chegar a R$ 4 bilhões com os mecanismos da nova Lei Rouanet. É um avanço, um acréscimo de 100% para o setor cultural. As empresas não poderão patrocinar apenas grandes projetos culturais, e projetos menores também serão viabilizados”.  Com o Procultura, no entanto, cres-cem os investimentos em produções culturais com fins comerciais e redu-zem os benefícios para as empresas via renúncia fiscal. Esses dois pontos estão preocupando artistas, quanto à possibilidade de os projetos culturais brigarem com o show business pelos recursos do Procultura.  Nos Estados Unidos da América, o setor cultural é dividido em dois seg-mentos, o do entretenimento (fazem parte produtos culturais realizados com fins comerciais) e o da arte com objetivos sociais. O entretenimento, no país norte-americano, é tido como um dos mais importantes mercados eco-nômicos, e as artes tidas como ativi-dade social incentivada por benefícios fiscais, existentes desde 1917. As insti-tuições beneficiadas são de interesse público, sem fins lucrativos. Já filmes de Hollywood, por exemplo, não po-dem receber dinheiro do contribuinte. Apesar de o MinC afirmar não ha-ver risco de as empresas deixarem de

investir em cultura por conta do fim da faixa de 100% de renúncia fiscal, visto que os 20 maiores anunciadores do País, de acordo com o MinC, as-sinaram um documento apoiando a modificação da lei; há empresas em dúvida quanto utilizar o Procultu-ra, por não poderem mais escolher o projeto a ser financiado. Além disso, quem decide em qual faixa de isenção a empresa ficará será a Comissão Na-cional de Incentivo à Cultura (Cnic). Além das formas de investimento utilizando os meios públicos, as em-presas podem optar por formas de in-centivo privado em cultura. São elas: patrocínio de projetos propostos por terceiros; criação e gestão de sua pró-pria marca cultural, elaborando e exe-cutando seus próprios projetos; ou a união das duas formas.

cultura Para todosDe acordo com a Declaração Univer-sal Sobre a Diversidade Cultural, da Unesco, “cultura deve ser entendida

como o conjunto dos traços distinti-vos espirituais e materiais, intelectu-ais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de vi-ver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”.  Levando em consideração esse con-ceito de cultura é possível ter noção da dificuldade em optar por um projeto ou por outro. Mais do que mudanças na lei, ou criação de fundos setoriais, o essencial é transparência nos pro-cessos e maior isenção da comissão avaliadora dos projetos. Sem isso, as concentrações de investimentos por região ou setor cultural não devem ser reduzidas. Também é importan-te um maior acompanhamento e en-volvimento dos artistas e produtores culturais, a fim de que os mesmos nutram-se de informação para utili-zarem em seus projetos. Além da Lei Rouanet, que é uma lei federal, o artis-ta pode beneficiar-se de leis estaduais e municipais (A Fusão Cultural abor-dará o tema em outra edição). Tam-bém não basta criar o Vale-Cultura. É imprescindível melhorar a educação cultural da população brasileira.  Lavar as mãos e colocar a culpa no governo pela má execução dos programas de incentivo à cultura também não é o ponto. Para uma po-lítica cultural forte, que beneficie a população geral, artistas, produtores e empresas, é importante um esforço conjunto. Durante o primeiro semes-tre de 2010, muita água ainda deve rolar sob a ponte do Procultura. Cabe aos interessados no debate cultural acompanharem efetivamente.

Porque as empresas investem em cultura?

consideram que o investimento representa ganho de imagem institucional

acham que o investimento agrega valor à marca da empresa

outras opções

Fonte: Pesquisa “A Economia da Cultura”. Fundação João Pinheiro, 1998.

Maior investimento em produções

culturais com fins comerciais também gera preocupação.

Page 27: Revista Fusão Cultural

27MARÇO 2010

“Tenho acompanhado alguns pontos da discussão da reforma da Lei Rouanet. Acredito que a reforma tende a contribuir muito para que a divisão dos inves-timentos ocorra por segmentos artísticos e populares e também por diversas regiões brasileiras. Acho um importante passo que é dado para a interiorização da produção cultural. As cidades do interior necessitam de um aparato legal que beneficie aos produtores culturais representantes dos segmentos diversos da arte. Pontuo também a necessidade de haver parceristas, examinadores e bancas de projetos aptos a questionarem e validarem propostas de relevância artístico-cultural. A cultura de massa está imposta e disseminada gratuitamen-te. É hora de inverter a ordem. Vamos popularizar e propagar as artes sem limites de estética e território geográfico-cultural.” (Daniel Costa)

Daniel Costa é artista da dança, professor e pesquisador da cultura popular brasileira. É membro do LABORARTE (Laboratório de Estudos sobre o Corpo da Faculdade de Educação da UNICAMP) e da VISARTE Produtora Junior do Instituto de Artes da Unicamp.

“Eu penso que as mudanças não vão aumentar os investimentos em cultura. Porque afinal, já temos mecanismos para isso. Não sei dizer, mas acho que uma olhada na realidade de outros países pode ser interessante. No Brasil, acho que o quê pode au-mentar o investimento em cultura é a melhor formação do profissional que já é desta-que no mercado: o Produtor Cultural. O produtor é o responsável pela sensibilização das empresas para os benefícios da utilização das leis. Ninguém capta recursos sem a figura do produtor. Se nós tivéssemos produtores com disposição para trabalhar com as companhias do interior poderíamos utilizar os mecanismos que já existem, da ma-neira que estão. É claro que os produtores vão se interessar muito mais pelos grandes projetos das grandes companhias das capitais. Para corrigir essa distorção, penso que o ideal seria que as cidades tivessem as suas próprias leis de incentivo, através do aba-timento de impostos municipais. Assim surgiriam produtores locais dispostos a traba-lharem nas suas próprias cidades, atendendo aos grupos locais. Agora, quando se fala em distribuição de recursos, sempre me preocupa a questão dos critérios. Quem esta-belece os critérios? Quem julga esses critérios? Como pesar ou valorar projetos diante da diversidade que temos? Como não cair nas tendências ou modismos de uma ou outra corrente de pensamento?” (Raul Rozados) ■

oPiniões sobre a alteração na lei rouanet

Raul Rozados é licenciado em Filosofia pela Universidade Metodista de Piracicaba em 1996; ator formado pelo Conservatório Carlos Gomes de Campinas (SP) (D.R.T.: 23447/SP); fotógrafo pela Escola Paulista de Fotografia – 1996; e músico amador. É um dos fundadores e por muitos anos foi um dos principais coordenadores da “Paixão de Cristo de Piracicaba”, tendo atuado em todas as suas edições.

Page 28: Revista Fusão Cultural

Qual Parte do corPo PerFurar?

“Inequivocamente, os estranhos são fornecedores de prazeres. Sua presença é uma interrupção do tédio. Deve-se agradecer a Deus que eles estejam aqui.” (Zygmunt Bauman – O mal-estar da pós-modernidade)

Para muitos, a pergunta não é mais qual roupa vestir, mas qual parte do corpo furar. Orelha? Umbigo? Nariz? So-

brancelha? Que nada. Atualmente, há outras opções. Os piercings passaram a adornar outras partes do corpo, como a nuca e o peito. Essa perfuração é cha-mada surface piercing (piercing de su-perfície). Amor à dor, amor à arte ou à moda, não importa o motivo; o surface veio para ficar. Mais do que coragem, no entanto, é necessário um bom pro-fissional para realizar essa perfuração, que difere da tradicional, além da jóia certa. Antes, furar partes diferentes do corpo era desaconselhável por body piercers devido às jóias existentes não serem adequadas à anatomia dessas partes do corpo, geralmente mais pla-nas. Com o desenvolvimento de novas peças, essa perfuração começou a po-pularizar-se entre os amantes da body art, visto que as novas jóias diminuem a rejeição e facilitam a cicatrização.

a jóiaA jóia utilizada no surface difere das demais para facilitar a adaptação à superfície do corpo. Outro fator para a escolha da jóia é a anatomia da par-te do corpo escolhida. Os principais materiais de confecção da jóia são os

PerFuraçãoNo surface, a perfuração é feita sem pinças. Mais comumente são feitas com cateter intravenoso ou com agulha americana. Com essa técnica, o furo não fica com a mesma angulação da jóia. Outra técnica é a punch-and-taper ou scalp-and-taper, que consiste em abrir um orifício em ambas as extremida-des da perfuração, e deslocar a região por onde passará a jóia com o auxílio de um pino, para só então introduzir a jóia. Desta maneira, a perfuração fica com a mesma angulação da jóia.

cicatrizaçãoA cicatrização do furo varia de pes-soa para pessoa. No caso do surface, que difere do piercing tradicional, a cicatrização é um pouco mais compli-cada, e depende de diversos fatores, como o material da jóia, o local da aplicação e a aplicação em si. Contu-do, se não houver problemas, a cica-trização completa-se entre 6 meses e 1 ano. A higienização do furo é um fator importantíssimo para a boa cicatriza-ção e a redução do risco de infecções. Há produtos anticépticos indicados. Mas grande parte dos body piercers indica apenas a limpeza do local com sabonete antibacteriano e compressa de salmoura (solução feita com água morna e sal marinho). ■

por Rafaela Silva

aços cirúrgicos, como o titânio G23 e o PoliTetraFluorEtileno (PTFE) – um teflon um pouco flexível, o que facili-ta a acomodação da jóia.

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28 MARÇO 2010

Page 29: Revista Fusão Cultural

caricatura

Sérgio Paulo Rouanet Nasceu no Rio de Janeiro em 23 de fevereiro de 1934. É um diplomata, filósofo, antropólogo,tradutor, ensaísta brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras desde 1992.

caricatura

Piada de bebadoUm bêbado entrou em um ônibus, sentou ao lado de uma moça e disse: - Mas como tu é feia, tu é a coisa mais horrível que eu já vi! A moça olha para ele e responde: - E tu seu bêbado nojento! E o bêbado imediatamente responde: - É, mas amanhã eu estou curado!

Piada de caiPiraUm caipira foi visitar o compadre e tendo intimidade, entrou na casa sem bater. O compadre estava sentado num sofá ass is t indo t e l e v i s ã o .   O   c a i p i r a e n t ã o   c u m p r i m e n t a : Oi cumpadre, firme? O compadre responde: Nada sô, futebor...

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por Valdir Brito

por Rafaela e Gilberto

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O Brasi l é reconhecido mundialmente por seu vasto mosaico colorido formado por diversifica-

ções culturais. Cada estado, região e cidade, possuem suas especificidades de acordo com a localização, varian-tes desde alimentações e costumes, até aos modos de vestir. A moda enquanto elemento cultural refere-se à adaptação do vestuário de acordo com as tendências propostas pelo mercado “fashion” contextualiza-do de acordo com a dinamicidade so-cial e política. No entanto, o universo da moda não se limita às roupas, afi-nal qualquer pessoa mais informada no mundo fashion, sabe que nenhuma roupa é a mesma se utilizada sem aces-sórios. Brincos, anéis, colares, bolsas, sapatos e até cores de esmalte e batom (entre outros acessórios), são elementos determinantes para transformar um visual de acordo com a situação, assim como também representar bom senso quanto às tendências e revelar traços da personalidade e composição de estilo. No caso de Tocantins, estado brasi-leiro marcado por chuvas no verão e secas no inverno, e por diversas áreas de preservação ambiental; quando o assunto é moda, há a predominância da produção artesanal local, sendo as matérias-primas mais comuns o bu-riti e o babaçu, o capim dourado, a cerâmica, o cristal, o ouro, o jatobá, a madeira e o artesanato indígena.  Segundo a designer de moda, Lari-ça Tirçá da Silva, a moda em Tocan-tins representa muito bem a união entre sustentabilidade e moda, pois

esta acaba incluindo matéria-prima natural e responsabilidade sócio-ambiental às tendências, além de ali-cerçar parcerias entre artesãs locais e estilistas renomados.  Lariça ainda destaca a realização do evento Palmas Fashion Week (que neste ano ocorrerá entre 14 e 17 de abril), o qual contará com duas cole-ções fortes: a Coleção Babaçu Brasil e a Coleção Jalapa. Comentando um pouco sobre as duas coleções, a designer de moda explica que a Coleção Babaçu Brasil traz às peças desenvolvidas pelo fa-moso estilista Renato Loureiro. As peças vão de bolsas, pulseiras, colares e brincos, até batas e saídas de banho produzidas com aplicações de babaçu ou estampas do mesmo. Já a Coleção Jalapa remete à região do Jalapão, conhecida pelo capim dourado nati-vo em seu cerrado. Com a planta são produzidas diversas peças, como co-lares, braceletes, pulseiras, mandalas e objetos de decoração, sob uma óp-tica inovadora e futurista desenvolvi-da pelos designers nacionais Heloísa Crocco e Marcelo Rosenbaum.  Essas coleções são um exemplo do potencial brasileiro. Lariça salienta que “os brasileiros deveriam entender que os padrões europeus não têm nada a ver com o nossos, pois somos um país tropical, com coisas maravilhosas para serem utilizadas e sem agredir o meio ambiente”. A estilista também deixa o seu recado: “a moda é algo muito pes-soal, não suscetível a padronizações, cada tribo o que sentir bem”. ■(Foto: Beto Monteiro).

por Larissa Martins

Page 31: Revista Fusão Cultural

31MARÇO 2010

A princípio, os muros sem-pre estiveram relacionados às demarcações territo-riais, proteção e até mes-

mo isolamento. O muro já adquiriu uma grande iconicidade na história da humanidade, como na separação entre leste e oeste da população de Berlim devido a questões políticas e ideológi-cas; o histórico Muro de Berlim.  Por entre muros das cidades, desde as metrópoles às interioranas, o que se inova é o fato dos muros passarem a ter outra apropriação na contempo-raneidade: uma tela em branco para artistas plásticos. Finalmente, os mu-ros não se limitaram mais a propa-gandas partidárias e comerciais, visto que aderiram à valorização de artistas locais para esteticamente contribuí-rem para a revitalização das cidades. Há locais no mundo inteiro nos quais a pintura extrapola as ruas, por apre-sentar traços em 3D. Esses trabalhos geram curiosidade e incredulidade de

alguns, quanto à veracidade da ima-gem, por seu extremo realismo visual.  Os muros, como um novo espaço de arte, também favorecem a valorização de uma cultura local. Apesar de os ar-tistas terem livre arbítrio das técnicas que irão utilizar, as temáticas aborda-das em suas pinceladas são orientadas por uma comissão municipal, para comporem suas “telas urbanas” rela-cionadas à historicidade da cidade.  Em Piracicaba (SP), essa manifesta-ção está presente nos painéis pintados nos muros exteriores do Cemitério da Saudade, os quais estão relacionados às temáticas do Rio de Piracicaba e fi-guras religiosas.  A exposição a céu aberto possibilita a contemplação de uma diversidade de interpretações e significações, atri-buídas pelos 13 artistas plásticos que realizaram o trabalho. Anteriormente, as pinturas nos muros estavam relacionadas às pi-chações e vandalismo que na verdade

em muito contribuíam à poluição vi-sual das cidades. Com a populariza-ção do grafite nos anos 80 (arte que custou muito a ser aceita socialmente e se desfazer de associações à margi-nalidade), os muros da cidade de São Paulo tornaram-se cenários que re-metem à ilustrações quase animadas.Atualmente, os muros são espaços nos quais o artista tem a oportunida-de de expor suas idéias e sentimentos, interpretações de mundo, até mesmo críticas. Como nos quadros, os artistas podem compor suas obras da mesma forma detalhada, porém ampliada e atribuindo melhor visibilidade. Assim como na citação de Hilda Hilst, no início desta seção, a signifi-cação dos muros pode ser adjetivada às mais diversas formas de exterio-rizar uma visão de mundo, além de proporcionar democratização cultu-ral, tanto de criação quanto de acesso, concretizada nesses espaços através de suas formas, cores e ilustrações. ■

“Muros agudosIguais à fome de certos pássarosDescendo das alturas Muros loucos, desabados: Poetas da utopia e da quimera.Muro máscara disfarçado de heras.Muros acetinados iguais a frutos.Muros devassos vomitando palavras.Muros taciturnos. Severos. Como os lúcidos pensadoresDe um sonhado mundo.”(...)(Trecho de Hilda Hilst na obra Rútilo Nada. A obscena senhora D.Qádos, 1993.)

por Larissa Martins

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32 MARÇO 2010

Meus ouvidos, por algum motivo inexpli-cável, aguçaram-se ao ouvir as músicas da programação sertaneja de uma rádio. Como não sou ligada ao estilo, só agora

me dei conta. Nada de Pense em mim, chore por mim, liga pra mim, não, não liga pra ele (Pense em mim – Le-andro e Leonardo). As lágrimas continuam escorrendo, mas o protagonista do “chororô” mudou.

Chora, me liga implora o meu beijo de novo. Me pede socorro. Quem sabe eu vou te salvar. Chora, me liga implora pelo meu amor. Pede por favor. Quem sabe um dia eu volto a te procurar (Chora, me liga - João Bosco e Vinícius).   A música sertaneja, conhecida pelas vertentes caipira ou de raiz, o sertanejo tradicional e o sertanejo moder-no, conta também com o estilo universitário. Música sertaneja é música sertaneja, e ponto, mas não há como não notar as diferenças entre os estilos anteriores e o cantado atualmente. As mudanças não estão apenas nas letras e melodias, mas também nas roupas e cabe-los dos cantores. Mais contemporâneos, muitos nem lembram aqueles da antiga, com seus inseparáveis cha-péu, bota e cinturão. Ok, esses itens ainda fazem parte do figurino, mas que o sertanejo aderiu à moda metros-sexual, não se pode negar.

Para de chorar que eu tô voltando pra vocêPara de chorar não consegui te esquecerPara de chorar você é tudo que eu precisoPara de chorar o nosso amor é o Paraíso.(Para de Chorar – César Menotti e Fabiano)

 Sigo ouvindo a programação. As letras estão bem despojadas e a melodia com uma levada acelerada. Além disso, percebe-se nitidamente a incorporação de outros ritmos. Esse novo estilo teria começado com a dupla João Bosco e Vinícius, no período em que ambos eram universitários no Mato Grosso do Sul. Mas há quem diga que foram César Me-notti e Fabiano os precursores.  Essa mistura de ritmos deu à música sertaneja um novo fô-lego, além de possibilitar a sua incursão em outros guetos. Os shows desses novos sertanejos estão sempre lotados, e as casas que oferecem esse estilo de música também. Muitos aderiram à moda? Pode até ser, mas há os que frequentam esses ambientes mais para paquerar as universitárias e uni-versitários do que pela música. ■

Não vou mais chorarComo choreiNem me lembrarQue um dia te ameiBye-bye tristezaAdeus solidãoVou fazer pirraça pro seu coração(Vou fazer pirraça - Edu E Maraial).

por Rafaela Silva

Page 33: Revista Fusão Cultural

O rap nas caixas de som, a frente avista-se uma roda de pessoas. Os b.boys e as b.girls já anunciam, o hip

hop está na área. A cultura hip hop, composta pelo rap (ritmo e poesia), break (dança), grafite, DJ (Disc Jockey) e MC (Mestre de Cerimônia), originou-se historicamente na década de 70 nos guetos de Nova York. Em meados dos anos 80, chegou ao Brasil. Essa cultura destaca-se pelos questionamentos e re-flexões, expressos pelas diversidades sonora e temática. O termo hip hop, tra-duzido como “mexer o quadril”, teria sido criado em 1968 por Afrika Bam-baataa, pseudônimo de Kevin Dono-van, fundador da maior organização mundial de hip hop, a Zulu Nation.

a dança no hiP hoP O break (a tradução literal da palavra é quebra), exclusivamente, teve sutis manifestações no final dos anos 60, com o cantor James Brown, e é mais recordado no famoso passo de Micha-el Jackson de deslizar os pés para trás. Sua origem teria se dado logo após o fim da Guerra do Vietnã, assim, seus passos remeteriam a uma forma de re-sistência através da arte e até mesmo

um posicionamento político às reali-dades das periferias. Os passos robó-ticos podem ser interpretados como uma crítica à postura dos soldados da época, assim como os giros remeterem às hélices dos helicópteros em guerra e os truncamentos, ao indivíduo, que na época fora equiparado às máquinas.  Além disso, o break é rico por agregar influências de danças africanas e movi-mentos de artes marciais. Esse estilo de dança é dividido em três partes essen-ciais: o top rock (movimentos realizados em pé), o footwork (passos feitos com os pés) e os freezes, (momentos nos quais os dançarinos “congelam” em um determi-nado passo para dar ênfase ao mesmo). Muitos, erroneamente, associam o break à violência. No entanto, este tem justamente a intenção contrária; fora utilizado como um elemento pacifica-dor em tempos de grande violência nos Estados Unidos da América, propondo a composição dos crews (grupos inte-grantes à cultura hip hop) e uma com-petição através da dança (o racha). O break e a cultura hip hop, em si, se desta-cam por utilizar a arte para demonstrar a importância da conscientização do individuo quanto às preocupações so-ciais e comunitárias. ■

o break na cultura hip hoppor Larissa MartinsFo

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a máscara no rosto do ator

por Denilson de Oliveira

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35MARÇO 2010

A máscara é um elemento sim-bólico que pode adquirir as mais diversas significações, e representar as mais diver-

sas figuras; sem sombra de dúvidas um signo enigmático. Podendo ao cobrir o rosto e às vezes, também o corpo, disfar-çar, ocultar ou revelar a identidade de quem a usa. Extremamente difícil, arris-caria dizer impossível, precisar período e local de seu surgimento. Inúmeras culturas de diferentes períodos históricos e localização ge-ográfica portaram máscaras com di-ferentes objetivos; de manifestações religiosas ou pagãs a bailes e desfiles de carnaval. Porém a máscara que nos interessa enfatizar aqui é aque-la ostentada pelo ator, o signo que transforma o sujeito em personagem e possibilita a representação.

a máscara no teatroNo antigo teatro grego, a máscara servia para figurar aos espectadores os tipos tradicionais da tragédia e da comédia, para aumentar a estatura dos atores e ampliar-lhes a voz. Eram confeccionadas de acordo com os personagens aos quais serviriam. No gênero trágico deuses e deusas, heróis, sacerdotes... E no gêne-ro cômico velhos, rapazes, cortesãos, escravos... E se por um lado a rigidez expressiva proposta pela máscara era limitante, por outro, permitia que um mesmo ator pudesse interpretar inú-meros papéis em uma mesma peça, inclusive personagens femininos, a saber, na cultura grega antiga não era permitido mulheres atuarem.  Outra tradição teatral marcada pelo uso da máscara foi a comedia Dell’arte, constituída por companhias de teatro in-dependentes que começaram a surgir no século XVI na Itália. Essas trupes teatrais circulavam por vilas, mercados e cortes de inúmeras regiões da Europa, as quais falavam os mais distintos dialetos. Desse modo, os comediantes precisavam investir em encenações que valorizassem a comu-nicação corporal. Expressavam diferentes sentimentos, e estados de espírito através

do ritmo e da linguagem gestual. A más-cara era, sobretudo, fundamental na me-dida em que proporcionava identificação imediata ao público do personagem que entrava em cena, os espetáculos de comé-dia dell’arte eram constituídos por perso-nagens fixos, já bastante conhecidos dos espectadores. Os “tipos” apresentados nesses trabalhos eram caracterizados não apenas pelo uso da máscara, mas também pela movimentação característica de cada personagem e as situações cômicas cria-das, práticas essas que estendiam a perso-na a todo o corpo.  Nas manifestações teatrais contem-porâneas, o uso da máscara persiste, não mais preservando o caráter sagra-do das origens do teatro, nem com o mesmo fim dos cômicos dell’arte, po-rém, ao revestir-se de elementos não habituais (a máscara, a maquiagem, etc.), o homem esconde o seu aspecto externo conhecido e nos mostra outros aspectos ocultos de seu interior (uma presença sobre-humana, universal).  Podemos entender como máscara não apenas aquilo que cobre e estiliza o rosto, mas tudo aquilo que transforma o intérprete em personagem, desde um olhar característico, um movimento de braços contínuo que o ator confere a sua criação, até elementos mais sub-jetivos como temperamento, humor, e tudo que possa libertar a identidade do sujeito que interpreta e identificar o personagem construído. ■

Denilson Oliveira é membro do Grupo de Estudos Teatrais Forfé desde 2005; possui graduação em Filosofia; e atualmente cursa Dramaturgia na SP Escola de Teatro.

Podemos entender como máscara

não apenas aquilo que cobre e estiliza o rosto, mas tudo aquilo que transforma o intérprete em

personagem

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O ensaio aqui mostrado faz parte da cobertura fotográfica realizada por Tiago Gutierrez (graduado em Publicidade e Propaganda, fotógrafo profissional e praticante de Artes Marciais) da Peça “Imperador Amarelo”, realizada anualmente no Teatro Unimep, produzida e

ensaiada no Espaço Áquila – Dojo (academia) também de propriedade de Tiago Gutierrez. Gutierrez não utiliza nenhum tipo de manipulação digital, photoshop ou afins em suas fotos, tendo como princípio de que a fotografia tal como é (escrita da luz) é aquilo que é captado no momento do click e qualquer manipulação altera o caráter de realidade da imagem, transformando o real em ilusório, transformando a fotografia em ilustração, e o papel do fotógrafo acaba não sendo mais o do profissional com capacidade e sensibilidade de captar e registrar de forma poética e bela, a realidade através da luz, mas de um ilustrador que cria “realidades” ilusórias e fictícias.

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Câmera, ação... Essas pala-vras tornam-se comuns no vocabulário de muitos amantes do cinema com

o desenvolvimento dos meios de co-municação. Além de o preço das fil-madoras terem barateado, as câmeras fotográficas e celulares podem fazer pequenas gravações de vídeo. Com isso, a produção de curtas-metragem só aumentou, e ganhou espaço.  A animação foi o gênero que mais adotou o curta-metragem, mas atu-almente os curtas-metragens são uti-lizados por diversos gêneros e para diferentes fins, que vão além da expe-rimentação e da manifestação.  Logo após a invenção do cinema, as películas duravam entre 40 e 50 segundos. Com o tempo, passaram a ter entre 13 e 15 minutos. Depois, só aumentaram, criando a necessida-de de classificá-las. De acordo com a Instrução Normativa 22, anexo I, da Agência Nacional de Cinema (Anci-ne), curta-metragem é a película com até 15 minutos, média-metragem são os filmes com tempo entre 15 e 70 minutos e longa-metragem os filmes com tempo superior a 70 minutos.  Outro fator que contribuiu para a atu-al popularização do curta é a existência de sites de exibição desses filmes, como o Youtube. Muitas pessoas produzem o seu material e o disponibilizam nesses sites, para outras pessoas apreciarem. Um dos sites mais conhecidos do gêne-

ro é o do Festival do Minuto. Os interes-sados produzem filmes de até 1 minuto e enviam para o site www.festivaldomi-nuto.com.br . Mensalmente, um prêmio é dado ao melhor vídeo. Há também o Porta Curtas www.portacurtas.com.br .  Também aumentou a existência de concursos e festivais, como o Curta Kinoforum - Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, cuja 21ª edição ocorrerá em agosto deste ano; e a 3ª edição do Festival Internacio-nal de Filmes Curtíssimos (veja prazo para envio do material para esses fes-tivais na seção Fique Ligado). Também há espaço para os curtas no Oscar.  E você, já produziu o seu curta? Logo, logo o site da Fusão Cultural estará totalmente pronto, e terá um espaço para os curtas dos leitores. Prepare o seu material e aguarde o lançamento do espaço no site.

“a verdade é que o curta não é mais espaço de experimentação, ou restrito a gêneros específicos, ou apenas um ensaio para a produção de longas. Curta-metragem é hoje nem mais nem menos que um formato de cinema” (Giba Assis Brasil) por Rafaela Silva

Lista dos curtas indicados para o Oscar 2010

Melhor Curta-Metragem (animação)• French Rost• Granny O'Grimm's Sleeping

Beauty• The Lady and the Reaper• Logorama• A Matter of Loaf and the Death

Melhor Curta-Metragem• The Door• Istället för Abrakadabra • Kavi• Miracle Fish• The New Tenants

Melhor Curta-Metragem (documentário)• China's Unnatural Disaster: The

Tears of Sichuan Province• The Last Campaign of Governor

Booth Gardner• The Last Truck: Closing of a GM

Plant• Music by Prudence• Rabbit à la Berlin

Fonte: www.oscar.go.comObs.: Até o fechamento desta edição, o Oscar não havia sido realizado.

The Door (2008), dirigido por Juanita Wilson e produzido por James Flynn (Octagon Films Ltd.).

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O sol escaldante, a terra seca e a brisa quente. Por entre folhas secas a voar e a poeira a se elevar, sur-

ge a melodia do vento com uma sutil cantoria vinda de nortes distantes, misturada ao canto dos cabeças-de-fita nos galhos secos dos arbustos. Lá estava Severino, envolto por seus sete filhos, esperando sua mulher lhe trazer a comida e um copo de água para retornar à roça. Descansando seus magros, porém fortes, braços, sua pele suada brilha pelo esforço das difíceis enxadadas no solo maciço e seus pés aliviados, semi calçados por um velho par de sapatos desgastados.Em seus raros momentos de repouso, começa a assobiar uma antiga melo-dia ensinada por seu pai, passada de geração a geração para todos os fi-lhos. Após assobiá-la, recorda-se dos antigos versos e rimas que cantavam em muitos momentos da infância para afastar as noites de fome.  Severino tem descendência portu-guesa por parte de pai, fruto da coloni-zação evidenciada na primeira área do Brasil a ser explorada, o Nordeste. Os versos, as rimas e as melodias que sem-pre canta para aliviar suas dores e tris-tezas, remetem-se a cultura cordelista.

 O cordel tem sua origem em Por-tugal, na Idade Média, no período do Renascimento. O mais curioso é que o nome “cordel” foi dado justamen-te por estes folhetos produzidos por entre xilogravuras (processo no qual imagens eram entalhadas na madeira e depois umedecidas por uma tinta que possibilitasse a reprodução da imagem a um papel ou tecido, como se fosse um carimbo) e posteriormen-te acrescidos de rimas e repentes, se-rem pendurados com cordões, como uma espécie de varal.  No Brasil, este tipo de literatura repercutiu-se mais fortemente na re-gião Nordeste, na qual a cultura por-tuguesa fora mais enfatizada, por ser a primeira parte do País a ser explora-da pelos europeus. O cordel teve sua origem na oralidade, devido aos altos índices de analfabetismo, portanto, o gênero originalmente denominado como uma poesia oral.  Os cordelistas memorizavam os versos através das rimas e suas sig-nificações que remetiam sempre a uma realidade vívida no dia-a-dia, até que alguém com domínio da es-crita as transcrevesse e até mesmo as publicasse. Graças à interligação entre a musicalidade e a poesia, não

se perdera esta cultura tão rica em preciosidades folclóricas, literárias e históricas, que muitas vezes reto-mam temáticas relacionadas à cultura nordestina. Atualmente também pro-porciona um espaço para manifestar conteúdos críticos, ora somados ao humor, ora somados à ironia. Severino almoça, levanta, pega seu chapéu, despede-se de seus sete filhos e de sua esposa, passa a mão na testa para aliviar os respingos de suor. Res-pira fundo, retoma sua enxada e aos batuques ritmados dos dedos, canta os herdados versos de cordel. ■

(...) Se aí você teve estudo, Aqui, Deus me ensinou tudo, Sem de livro precisá Por favô, não mêxa aqui, Que eu também não mexo aí, Cante lá, que eu canto cá. (...) (Cante lá que eu canto cá, Patativa do Assaré)

por Larissa Martins

Page 42: Revista Fusão Cultural

42 MARÇO 2010

Finalmente o projeto que substi-tui a Lei Roaunet (Lei 8.313/91), a lei federal de incentivo à cul-tura, chegou ao Congresso.

Pelas mãos do Ministério da Cultura, o Projeto de Lei (PL) 6.722/2010, que ins-titui o Procultura, está na Casa desde o dia 19 de janeiro, depois de passar por consulta pública e por um quente deba-te, que teve faíscas, ranger de dentes e um muito dedo na ferida.  Acompanhei de perto muitas das discussões públicas e do debate na mídia, que vem ocorrendo há mais de um ano. Nesse processo, ficou evidente o baile de posições, a core-ografia dos atores, o desfile de argu-mentos alinhados.  Muitos dos que dele participaram eram contra colocar o dedo na ferida da Rouanet, ferida aberta durante 18 anos. Outros elucubravam e soltavam fogos e tocavam as trombetas da defe-sa do mercado. E a outros, poucos, res-tava o ranger de dentes, por saberem que o mecanismo que mais os benefi-ciava iria dar lugar a outro, de caráter mais democratizante, transparente e consoante com o interesse público.  Sou pelo dedo na ferida. Princi-palmente por acreditar que a atual Lei Roaunet não alcança todas as dimensões da cultura necessárias à abrangência que um instrumento de política pública, como esse, deve ter. Como lei de incentivo fiscal, voltada ao aquecimento do mercado e sob a ótica privada do que deve ser finan-ciado com dinheiro público, a lei cumpre uma função importante na esfera econômica: movimenta dinhei-ro, profissionaliza o setor, gera divi-dendos e fomenta produções – apesar de concentrá-las em algumas poucas capitais de privilegiados estados.  O que não faz a Lei Roaunet é o que agora propõe o Procultura: co-

locar em primeiro plano o interesse público. E, para isso, coloca-se como um instrumento compatível com ou-tros mecanismos criados para o al-cance das outras dimensões culturais nas políticas públicas - a dimensão simbólica e a cidadã -, como o Plano Nacional de Cultura, proposto pelo PL 6.835/06. Além disso, pensa na distribuição territorial dos recursos e em manifestações e segmentos artís-ticos secundarizados pela indústria cultural, devido à sua natureza pouco voltada ao grande público ou ao re-torno financeiro – as manifestações populares, tradicionais, as artes de vanguarda, os saberes transmitidos pela cultura oral, etc.  Para tanto, o Procultura privilegia a dinâmica de fundos. Propõe o forta-lecimento do Fundo Nacional de Cul-tura, negligenciado por opção política e por falta de regulação em favor do Mecenato. Cria oito fundos setoriais, que podem distribuir de forma mais equânime os recursos públicos de acor-do com as demandas específicas de cada área (música, dança, artes cênicas, circo, artes visuais, diversidade, etc). E já se coloca como instrumento jurí-dico compatível com a dinâmica mais saudável de transferência de recursos públicos, que é a dinâmica de sistema, alinhando-se com a proposta de um Sistema Nacional de Cultura (SNC). A exemplo do Sistema Único de Saúde (SUS), o SNC proporciona a articulação de políticas culturais nas três instâncias governamentais (federal, estadual e municipal), com execução orçamentá-ria criteriosa e controlada pela socieda-de, através dos conselhos.  Houve muito ranger de dentes nes-sa história. Mas por poucos maxilares: apenas 3% dos que ficam com 50% dos recursos do Mecenato. E muito choro sudestino, por correr o risco de

Guilherme Varella é advogado, consultor cultural e músico. Formado em Direito e mestrando em políticas públicas de cultura pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

por Guilherme Varella

ver os 80% dos recursos concentrados na região distribuídos Brasil afora. Além dos naturais brados pela autor-regulação do mercado cultural que, por si só, via departamentos de ma-rketing e fundações culturais bancá-rias, teria o discernimento para saber em que segmento cultural “investir” – as aspas são apenas para lembrar do famigerado dinheiro público.  Fico com o fortalecimento do Estado, que, como ocorre em toda área essen-cial para o desenvolvimento do país, deve atuar positivamente, de manei-ra “prestacional”, através de políticas públicas e de legislações efetivas para embasá-las. Uma atuação baseada na cultura como direito fundamental e na garantia constitucional do pleno acesso à cultura por todos os cida-dãos. Garantia que a Lei Rouanet não conseguiu prover. E em que, agora, o Procultura pode significar um avanço, sendo mais que um dedo na ferida, mas contribuindo para curar as maze-las deixadas no campo cultural. ■

Uma lei que é mais que um dedo na ferida

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Domingo de sol e de carnaval. A razão pede para eu des-cansar, já o coração diz para eu despertar. Estava super

cansada, afinal, mal acabara de chegar a Piracicaba, vinda do sambódromo em São Paulo. (Observação; assisti em pé todas as escolas de samba passarem pela avenida naqueles 13 e um pedaço do 14 de fevereiro). Mas foliã que é foliã não pode perder o pique. Após tomar banho e descansar um pouco, senti-me revigorada, e resolvi seguir o meu cora-ção. Arrumei-me e fui curtir o Cordão Carnavalesco do Mestre Ambrósio.  O nome não me era estranho, afinal era o segundo ano em que o cordão saia do Sesc de Piracicaba rumo ao Lar-go dos Pescadores, na Rua do Porto. Mas nunca havia cruzado com o mestre Ambrósio, até aquele dia. Foi encanto à primeira vista. E como não encantar-me com aquele folião de 80 anos, que seguiu todo o percurso com alegria e vitalidade estampadas no rosto!  Foi justamente a alegria do mestre Am-brósio a motivar o músico e pesquisador Juca Ferreira, juntamente com Pablo Del-vage, a fundarem esse Cordão, que tam-bém contribui para o resgate das antigas tradições carnavalescas na cidade.

 Seu Ambrósio nasceu em Potiren-daba (SP), em 13 de outubro de 1930. E sua relação com os cordões carnava-lescos data de antes dos desfiles das es-colas de samba nos sambódromos. Em 1951, teria descido a Av. Getúlio Vargas com os cordões carnavalescos cariocas. Sua profissão, cartorário, exerceu até aposentar-se. Viúvo, mas não solitário. O mestre vive em Piracicaba rodeado de amigos, e é assíduo frequentador de bares tradicionais da cidade.  Simpático, o senhor Ambrósio per-mitiu-me tirar uma fotografia com ele. Estava super interessada na vida daquele folião. Mas não me senti no direito de tirá-lo de sua diversão na-quele dia, apenas para saciar minha sede jornalística. Após o carnaval, en-trei em contato com Juca Ferreira (que me atendeu prontamente), para pedir o telefone do mestre. Por desmandos do destino, todas minhas tentativas deram na caixa postal.  Mas isso não me desanima, em outra oportunidade o entrevistarei. Além do que, o encontro com mestre Ambrósio , apesar de breve, foi enri-quecedor o suficiente para encher-me de energia para os carnavais e cor-dões vindouros. ■

por Rafaela Silva

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