Revista BrasileiradeEstudos EstratgicosEsta Edio reproduz os
artigos publicados naRevista Brasileira de Estudos Estratgicos
RESTEdio n 5 - Vol.I jan-jun 2013/jul-dez 2013/jan-jun 2014ISSN
1984-5642Publicao online do Ncleo de Estudos Estratgicos
daUniversidade Federal FluminenseEdio Impressa - 2015Revista
BrasileiradeEstudos EstratgicosUNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOSEditora LUZESComunicao,
Arte & CulturaRio de Janeiro2015Projeto Editorial Edio
Impressa: Prof. Marcio RochaFicha Catalogrfica
INEST/UFF2015Impresso no BrasilPrinted in BrazilRevista Brasileira
de Estudos Estratgicos: Instituto de Estudos
EstratgicodaUniversidade Federal Fluminense - INEST/UFF.Ed. n 5 -
Vol. IRio de Janeiro, Luzes Comunicao, Arte & Cultura, 2015320
p.ISSN 1984-56421. Cincia Poltica. 2. Estudos Estratgicos. 3.
RelaesInternacionais. I. Ncleo de Estudos Estratgicos UFF.CDD
320REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOS (REST)Publicao do
Instituto de Estudos Estratgicos daUniversidade Federal
FluminenseCONSELHOEDITORIALEditor-Chefe: Eurico de Lima
FigueiredoEditor-Executivo: Marcio RochaIntegrantes do Conselho:
Alex Jobim Farias (INEST-UFF), Fernando Roberto deFreitas Almeida
(INEST-UFF), Frederico Carlos de S Costa (INEST-UFF),Gabriel
Passetti (INEST-UFF), Jos Miguel Arias Neto (UEL), Luiz Pedone
(INEST-UFF),Renato Petrocchi (INEST-UFF), Vagner Camilo
(INEST-UFF),Victor Gomes (INEST-UFF), William de Sousa Moreira
(EGN).CONSELHO CONSULTIVOGen Aureliano Pinto de Moura (IGHMB)Prof.
Celso Castro (FGV-RJ)Prof. Claude Serfati (Universidade
Versailles-Saint-Quentin (Frana)Prof. Clvis Brigago
(CEAs/IH-UCAM)Prof. Daniel G. Zirker (University of Waikato - Nova
Zelndia)Prof. Elizer Rizzo Oliveira (UNICAMP)Alte. Fernando Diegues
(Escola de Guerra Naval)Prof. Francisco Carlos Teixeira (UFRJ)Prof.
Hctor Saint-Pierre (UNESP-Franca)Prof. Jom Evans
Pim(IGESIP-Galcia)Prof. Joo Roberto Martins Filho (UFSCar)Prof.
Letcia Pinheiro (PUC / RJ)Prof. Luis Tibeleti (Ministrio da Defesa
da Argentina)Prof. Marcos Costa Lima (UFPE)Prof. Maria Regina
Soares de Lima (IESP-UERJ)Prof. Pablo Celi de la Torre
(CEED/UNASUL)Prof. Paulo Calmon (UNB)Prof. Samuel Alves Soares
(UNESP-Franca)SUMRIO -215171113711REST No 5(Vol.I jan-jun
2013/jul-dez 2013/jan-jun 2014)REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS
ESTRATGICOSEDITORIALEurico de Lima FigueiredoUNASUR: UNA ESTRATEGIA
REGIONAL PARA LA GESTIN SOBERANA DE LOSRECURSOS NATURALESMonica
BruckmannASPECTOS CONCEITUAIS DA RELAO GUERRA, POLTICA E GUERREIROS
E O SEU IMPACTOPARA O EMPREGO DO PODER MILITAR NA
ATUALIDADEAlexandre Cursino de OliveiraA REPBLICA POPULAR DA CHINA
E A ORDEM GLOBAL: NOTAS SOBRE A POLTICAEXTERNA CHINESA CONTEMPORNEA
EM FACE DA HEGEMONIA NORTE-AMERICANAAndr Peanha Murat de SousaA
REVOLUO CONSTITUCIONALISTA DE 1932Manoel Candido de Andrade
NettoPROTEO DE CIVIS: A VISO DO DEPARTAMENTO DE OPERAES DE
MANUTENODA PAZ DAS NAES UNIDAS (DPKO/ONU)Jos Ricardo Vendramin
Nunes93O PAPEL DO PRESIDENTE FIGUEIREDO (1979-1985) NAS RELAES
BRASIL-ARGENTINAZimmer de Souza Bom Gomes139O CASO SNOWDEN: ASILO
ESTRATGICO?Monique Mendes Vicente e Thiago Pacheco
RamosUNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS6159183221239273157DOSSI O BRASIL E A GRANDE GUERRA: 100
ANOSAPRESENTAO: Gabriel PassettiA BELIGERNCIA DE PORTUGAL NA GRANDE
GUERRA - ENTRE A GUERRA CIVILLARVAR E A GUERRA INTERNACIONAL: UMA
LEITURA HISTORIOGRFICAAntnio Paulo DuarteA AURORA DE UMA ERA DE
CATSTROFE: OS SIGNIFICADOS HISTRICOS DO DEPOIMENTODE ARNOLD TOYBEE
SOBRE AS ATROCIDADES TURCAS NA ARMNIARodrigo Medina ZagniO IMPRIO
OTOMANO E A GRANDE GUERRAMonique SochaczewskiO BRASIL E A GRANDE
GUERRA NAS PGINAS DO JORNALO ESTADO DE S. PAULO.Ismara Izepe de
SouzaSTEFAN ZWEIG: MEMRIAS DA GRANDE GUERRAChristiane Vieira
LaidlerA ESTRATGIA MILITAR BRASILEIRA NA PRIMEIRA GUERRA
MUNDIALValterian Braga Mendona 291255TRADIES LITERRIAS, HEROSMO E
BARBRIE: AUTOBIOGRAFIAS DOSPILOTOS DE CAA DA GRANDE GUERRA
(1914-18)Delmo de Oliveira ArguelhesREVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS
ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
20147REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOS - REST
EDITORIALVoltamosaotemaquefazdetodofrumacadmicoummanancial de
referncia e de credibilidade: sua produo cientfica.Naturalmente, o
acumulo de conhecimento, fundamentado
epesquisado,suporteparainmerasgeraesquesedefrontamcom as angstias
de seu tempo e precisa caminhar em bases slidaspara enfrentamento
de seus desafios.Essa a funo da Revista Brasileira de Estudos
Estratgicos(REST),lanadaem2009,comafinalidadedecontribuirparaodesenvolvimento
do Pensamento Estratgico Brasileiro.Seus artigos abordam ideias,
amplas e diversificadas, que permeiamas reas de Defesa e a de
Segurana Internacional;
Incursionam,ainda,pelasatividadesquealimentamtaisreas,entreelas,nocontexto
da Defesa, as questes ligadas s Foras Armadas, revisandoantigos
conceitos em favor de um novo olhar sobre seus recursos,emprego,
capacidade de pronta resposta, de ataque e de
defesa,numacomposiodeforasque,porvezes,evocamvariveiscomparativas
entre as diversas Foras Armadas estruturadas na facedo Planeta;
segue, ainda, nessa rea, os aspectos que se ligam
sCinciasMilitares.Adiante,numaabrangnciaaindamaior,explorando
contextos culturais diversos, a REST explora o que
vaipelomundodaCincia,daTecnologiaeInovaoemDefesa;osdiversos
segmentos da cultura, analisando desde o conceito evolutivode
Estado, Economia e Sociedade, seus pesquisadores oferecem
osdiversosprotagonistasqueafloramnoscamposdaIndstriadaDefesa, da
Inteligncia Militar, da Histria Militar, das relaes
queseinterpenetramnosmaisdiversossegmentosdasociedadenasmais
variadas culturas que se espalham pelo Planeta.Os temas se vo
enriquecendo quando os artigos evoluem
paraareadeSeguranaInternacional,intricadoscomasquestesdeDefesa, ao
estudar-se, por exemplo, teoria dos Estudos Estratgicosno vis
Defesa, alm das polticas pblicas de defesa adotadas pelosmais
variados Estados que se entrelaam pelos interesses
globais.UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS8Alguns assuntos na rea da Segurana Internacional
buscamconsubstanciar-se em cultura estratgica, economica,
geopoltica,alm de um variado espectro de guerras que vai desde os
conflitosregulares aos que se interpolam na viso macro da guerra,
evoluindopara a guerra assimtrica, a civil a interestatal, a
irregular, a nuclear,a revolucionria a submarina, a terrestre e a
aeroespacial.Enfim, a REST acolhe as mais diversificadas propostas,
sob aforma de artigos cientficos, pesquisados pelos mais
conceituadosnomesdomeioacadmico,voltadosparaumtemaquenosentrelaados
problemas da modernidade, exige profunda
reflexo,senoumaprofundamentodopensarhumanoparaquesepossareuniroconhecimentonecessrioaoenfrentamentodenovasquestesnessasduasreasdesuacompetncia:odeEstudosEstratgicos
com suas variadas dinamizaes.Conforme registrei em editoriais
anteriores, segundo a
linhapropostapelaRevista,cabeaindapriorizarartigoscientficos,publicando,
tambm, dossis, resenhas de livros, bem como textosextrados de
teses, dissertaes e monografias em geral.Obedecendo aos padres
consagrados no mundo
acadmico,pontocomumqueuniversalizaacinciaeasuaconsequenteproduo, a
REST segue as normas de publicaes da ABNT para
aspublicaesacadmicas.Notoriamente,adecisoquantopublicao dos artigos
tem como base os pareceres de trs
rbitrospertencentesaoConselhoCientficoeaoConselhoEditorial,noformato
blind peer
rewiew.Justificadamente,comacriaodoInstitutodeEstudosEstratgicos
(INEST), em 23 de agosto de 2012, e tendo em vista operodo de
transio necessrio implantao e operacionalizaoda nova unidade, que
goza de status de faculdade no mbito daUFF, a REST retoma, a partir
do presente volume impresso, assimcomo o da prxima publicao,
alcanando, portanto, as
publicaescincoeseis,ocompromissoadvindodanecessriasequnciadeseus
lanamentos.Voltoaafirmar,naconvicodequeestamosprocessando,pormeiodasintelignciasmobilizadaspelaRESTquedevemospersistir
na inteno de, cada vez mais, servir como escoadouro daproduo
cientifica da comunidade de estudiosos e pesquisadoresna rea dos
Estudos Estratgicos.REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N
5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 20149Considerando o
estgio prematuro de tais estudos, ainda emetapa de formao no
Brasil, tais contribuies, pelo aprofundamentode seus autores, se
fazem, alm de necessrias, importantes visodo futuro no s no tocante
matria em causa Estratgia mas,sobretudo no tocante ao
desenvolvimento do pensamento cientficoque se aprimora em nossa
sociedade. Portanto, esta rea de estudosnecessita contar com
peridicos que, em nvel de excelncia, possamcontribuir para o
contnuo avano e aprimoramento do seu estadoda arte.Niteri, Abril de
2015.Eurico de Lima FigueiredoEditor-Chefe da RESTUNASUR: UNA
ESTRATEGIA REGIONAL PARA LA GESTINSOBERANA DE LOS RECURSOS
NATURALESMonica
Bruckmann1AmricaLatina,yparticularmenteAmricadelSur,viveimportantes
procesos de integracin regional que buscan promoveruna integracin y
unidad de largo plazo y de carcter multidimensional:econmico,
poltico, cultural, educacional, de infraestructura, etc. Eneste
contexto, se retoma el debate sobre el desarrollo como
proyectoregional.Temas claves como soberana, recursos naturales e
hidro-energticos,preservacindelabiodiversidadylosrecursosbio-genticos,
la Amazona como rea de preservacin y de disputa, secolocan en el
centro del debate
poltico.Laluchaporlasoberanadelosrecursosnaturalesyelsurgimiento de
una nueva conciencia ecolgica se han convertido
enelementosprofundamentemovilizadoresydinamizadoresdelosprocesos
sociales y polticos en nuestro continente. El surgimientodenuevas
visiones tericas y nuevas prcticas polticas
producentambinunanuevaconcepcindeintegracinlaregional,encarndolacomounprocesomsprofundo,quecolocacomoelemento
central el principio de la soberana como el derecho de losEstados y
los pueblos a la gestin de sus territorios y de los
recursosnaturales que estos
abrigan.Enelmbitoeconmicosebuscairmsalldelavisincomercial como eje
central de la integracin para proponer
polticascomunesdedesarrolloregionalydeintervencineconmicainternacional.El
caso dela Organizacin de Pases Exportadores dePetrleo -OPEP, que
inici un proceso de rearticulacin y
recuperacindesuinfluenciaennivelglobalapartirdelliderazgopolticovenezolano,
es un buen ejemplo en esta direccin.De esta manerase configurauna
agenda que exige cambios tericos muy profundosy la elaboracin de
una visin estratgica regional para viabilizarse.1 Doctora en
ciencia poltica, profesora del Departamento de Ciencia Poltica de
laUniversidad Federal de Ro de Janeiro (UFRJ-Brasil), investigadora
de la Ctedra yRed Unesco/Universidad de las Naciones Unidas sobre
Economa Global y DesarrolloSustentable REGGEN y asesora de la
Secretara General de UNASUR.UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS12Una estrategia
sudamericana para la gestin soberanade sus recursos naturalesEl 30
de noviembre pasado, la VI Cumbre de Jefas y Jefes deEstado de
UNASUR aprob lo que puede ser una de las medidas mstrascendentes de
los ltimos timpos en nuestra regin: la elaboracinde una estrategia
regional orientada al pleno aprovechamiento delos recursos
naturales para el desarrollo integral de Amrica del Sur.Los datos
muestran que Amrica del Sur posee importantesreservas de recursos
naturales considerados estratgicos:
mineralesfsiles(representalasegundamayorreservadepetrleoanivelmundial);
minerales no fsiles (posee 96% de las reservas mundialesde litio,
98% de niobio, 44% de cobre, etc.);importantes fuentesde agua dulce
(aproximadamente 30% de las reservas mundiales);gran concentracin
de diversidad biolgica, escosistemas y bosques,as como todas las
fuentes primarias de energa. Una estrategia parael aprovechaviento
de los recursos naturales para el desarrollo
plenodelareginsiginificalaapropiacindelagestineconmica,cientfica,
social y ambiental de los mismos.a.La gestin econmica: la creciente
demanda de la economamundial en relacin a recursos naturales cuyas
principales reservasestn en Amrica del Sur indica que la regin
posee condiciones demejorar enormemente los trminos de intercambio
y negociacin
delasmateriasprimasqueproduceyalmismotiempodesarrollarpolticasdeindustrializacindelasmismas.Laregintienelaoportunidad
histrica de dejar de ser exportadora de materias primasde bajo o
ningn valor agregado y avanzar hacia el desarrollo depolticas
regionales de industrializacin que busquen aprovechar
lascomplementariedadeseconmicasexistentesparaatenderlasdemandas del
mercado interno,promover el comercio intraregionaly agregar valor a
las exportaciones extraregionales.Esto significadesarrollar
matrices industriales de gran envergadura que necesitarnde
instrumentos capaces de viabilizarlas, como el Banco del Sur
quegarantice la base financiera; la elaboracin de una tabla
regional
deinsumo-productocomoinstrumentodeplanificacinygestin;lacreacin de
una infraestructura vial y de comunicaciones para integrarlos
centros de extraccin, produccin, industrializacin y
consumo;eldesarrollodeproyectosenergticosarticuladosalosproyectosindustriales;
etc.La gestin econmica soberana de los recursosREVISTA BRASILEIRA
DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ
2013/JAN-JUN
201413naturalessignificacolocarcomoprioridadeldesarrolloregional,aprovechando
las reservas y exedentes financieros para agregar valora las
materias primas que la regin produce y atender la
expansindelmercadointernosudamericano.Significatambinidentificarmatrices
industriales a partir de la posicin estratgica que la regintiene en
relacin a reservas importantes de un conjunto de recursosnaturales
fundamentales para la economa mundial y sus ciclos deinnovacin
tecnolgica;b. La gestin cientfica: Como consecuencia de lo anterior
ycomo sustento de cualquier poltica industrial es indispensable
quelareginavancehaciaunapolticadeapropiacindelagestincientfica de
sus recursos naturales, que significa no solo la
capacidaddeestableceralianzasestratgicasquepermitantransferenciatecnolgica
sino tambin desarrollar investigacin cientfica de puntae innovacin
tecnolgica en sectores considerados
estratgicos.Almismotiempo,esnecesaraioelaborarinstrumentosterico-metodolgicos
capaces de estudiar los ciclos de innovacin
tecnolgicadelaeconomamundialapartirdelusointensivoderecursosminerales
fsiles y no fsiles, que permitan un anlisis
prospectivo,indispensablecomoinstrumentodeplanificacinydegestindeestosrecursos,conelobjetivodeestablecerpolticasytasasdeextraccin
y explotacin de los mismos, disear polticas regionalesde
industrializacin, etc.;c. La gestin social:Gran parte de los
conflictos sociales y medioambientales enla regin estn relacionados
a la actividad extractiva y la
minera.SegndatosdelaCEPAL2,el35%delosconflictosenAmricaLatina y El
Caribe durante los ltimos cinco aos estn relacionadosa la minera de
oro, 23% a la minera de cobre y 15% a la de
plata.Sehaceindispensableunapolticaregionalparadisminuirdrsticamente
las tensiones sociales generadas por una
actividadextractivairracionalque,ademsdelimpactodevastadoralmedioambiente,
tiene la capacidad de expulsar poblaciones
localesdelosterritoriosdondeestasviven,quesonlosmismosquedetentan
reservas importantes de recursos naturales
estratgicos.Estaspoblaciones,ensumayoraindgenasycampesinasson,adem,privadasdelosmediosdesubsistenciaeconmica.Es
necesario crear, poner en prctica y perfeccionar mecanismosde
consulta a las poblaciones locales en relacin a la gestin de
losrecursos naturales localizados en sus territorios;2 BARCENA,
Alicia. Gobernanza de los recursos naturales en Amrica Latina y El
Caribe. 2012.UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS14d. La gestin ambiental: Es necesario disminuir, al
nivel mnimoposible, el impacto ambiental causado por la minera y la
actividadextractiva,ascomocrearmecanismosdecompensacinyrecuperacindelimpactoambientalacumulado.Sibienesciertotodaintervencinenlanaturalezaproduce,inevitablemente,unimpacto
ambiental, est claro que una gestin adecuada, basada
enunavisindepreservacindelmedioambiente,respetoalaspoblaciones
locales y en el desarrollode nuevas tecnologas, permitedisminuir
considerablemente el impacto mediambiental y socialdela actividad
minera.Eldocumentoquesustentalanecesidaddeunaestrategiaregional
para el aprovechamiento de los recursos naturales, elaboradapor la
Secretara General de UNASUR y presentada a la VI
CumbredejefasyJefesdeEstadodelaUnincolocalanecesidaddedesarrollarunavisincomndelasfortalezasyobjetivos,unaestrategia
y un plan coherente para materializarlos, que permitan ala
reginaprovechar las potencialidades que representan las
enormesreservas de recursos naturales y humanos alojados en Amrica
delSur. El documento hace un llamado a identificar puntos
comunes,independientemente de regmenes y polticas nacionales de los
pasesde la UNASUR, para desarrollar una estratgia regional que
tengaen cuenta los siguientes
elementos:1.Laregintienecondicionesrealesdeobtenerenormesbeneficios
a travs de una poltica comn basada en el
cumplimientodelprincipioyaestablecidoporlasNacionesUnidasen1962(Resolucin
1803) sobre la propiedad soberana y permanente de losEstados sobre
sus recursos
naturales.2.Esindispensabledesarrollarpolticasregionalesdeindustrializacin
de los recursos naturales, mediante la creacin deempresas
regionales orientadas a agregar valor a las materias primasy
superar llamado extractivismo.Esto permitir la creacin de fuentesde
trabajo estable y de calidad, como medio eficaz para combatir
lamiseria y la pobreza y promover el desarrollo social de toda la
regin.3. Emprender polticas comunes para el desarrollo de ciencia
einnovacin tecnolgica como medio eficaz para minimizar el
impactoambiental de la actividad extractiva as como para elevar la
productividaden las distintas actividades de transformacin e
industrializacin de
losrecursosnaturales.Promoverlacreacindegrandescentrosinvestigacin
e innovacin cientfica y tecnolgica que den respuesta alos desafos
planteados por un proyecto de esta magnitud.REVISTA BRASILEIRA DE
ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
2014154.Disearunconjuntodemediosyaccionesquepermitanminimizar el
impacto ambiental y social de las actividades
extractivas,detransformacinytransporteascomogarantizarelmejoraprovechamiento
econmico y social, para superar la pobreza y lamiseria, garantizar
la estabilidad poltica y mantener la paz existenteen la
regin.5.Disearunanuevaarquitecturafinancieraregionalparaatender las
demandas de los proyectos extractivos, industriales ytecnolgicos,
priorizando la materializacin del Banco del Sur comoinstrumento
fundamental6.Formarrecursoshumanosparalamaterializacindeestrategiapropuesta.7.
Aprovechar laspotencialidades del mercado interno
regionalapartirdecuatroprincipioselementales:complementacineconmica,
cooperacin, solidaridad y respeto a la soberana de losEstados
miembros. Desarrollar el comercio compensado como unode los medios
para superar las asimetras existentes entre los pasesde la
regin.SiAmricadelSurconsigueavanzarenlaelaboracinymaterializacin de
una estrategia conjunta para la gestin soberanade sus recursos
naturales orientada al pleno desarrollo de sus
pueblossindudaestaremosfrenteaunodeloshechoshistricosmsimportantes
de la regin a lo largo de los ltimos siglos.Recursos naturales y
desarrollo
cientficoElsistemamundialbasadoenladivisininternacionaldeltrabajo
entre las zonas industriales y manufactureras y los
pasesproductores de materias primas, minerales estratgicos y
productosagrcolas, consolid el poder hegemnico de los pases
centrales ysu dominio en relacin a las zonas perifricas o
dependientes y losespacios econmicos que ocuparon una posicin de
semi-periferia.As, la elaboracin industrial de las materias primas
que exportabanlos pases perifricos tendi a ser la menor posible,
consolidando yampliando la dependencia econmica, pero tambin la
dependenciacientfica y tecnolgica de estas
regiones3.3SANTOS,Theotoniodos.Apolitizaodanaturezaeoimperativotecnolgico.GREMIMT,
Serie 1, N 7, 2002, 7 p.UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE
ESTUDOS ESTRATGICOS16El proceso de destruccin creadora al que se
refera JosephSchumpeter4, entendido como la capacidad intrnseca del
capitalismopara crear nuevas estructuras tecnolgicas y econmicas
destruyendolasantiguas,almismotiempoqueprodujoavancescientficosytecnolgicos
sin precedentes en la historia de la humanidad, produjotambin
amenazas sin precedentes de destruir el propio planeta y
lacivilizacinhumana.Lagrancapacidadcreadoradelcapitalismo,encuentra
sus lmites en la amenaza de su propia destruccin.Esto lleva a una
necesidad vital de redefinicin de la relacinhombre-naturaleza, que
se expresa en una nueva visin del mundoy del uso y gestin de sus
recursos naturales, al mismo tiempo querecupera de una visin
humanista que coloca como principal objetivoeconmico y social el
pleno desarrollo del ser humano.El movimiento indgena
latinoamericano se ha constituido enuna de las fuerzas sociales ms
activas y movilizadoras en la luchapor la preservacin del medio
ambiente,el uso sustentable de losrecursos naturales y la defensa
de la madre tierra o pacha mama5.Desde la cosmovisin y la praxis
indgena, la preservacin del medioambiente corresponde a una postura
civilizatoria, que se expresa enuna visin del mundo y una forma
particular de vivir en
l.Estacosmovisincoloca,comoprincipiofundamental,elcuidadoylaconservacindelatierra,delespaciodonde,comoellosdicen,nuestros
hijos crecen y pueden ser felices.Desde esta perspectiva,defender
la preservacin del medio ambientey la naturaleza significadefender
el derecho a la felicidad y a la propia vida.4 SCHUMPETER.
Joseph.Socialismo, capitalismo ye democracia (traducido
porRuyJungmann).Ro de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961, 488
p.5 Significa en quechua madre
tierra.LasconstitucionesplurinacionalesenAmricadelSurrepresentan
los casos ms avanzados de redefinicin del papel de
lanaturalezaydelosrecursosnaturaleseneldesarrollosocialyeconmico de
los pases que asumieron este modelo constitucionaly que se expresan
en una refundacin del Estado. Estas plantean unnuevo marco legal
que coloca a la naturaleza como sujeto de derechosy crea
condiciones para construir mecanismos de gestin social
delosrecursosnaturales,loqueseguramentepermitirtambindisminuirenormementelatensincreadaporlasprcticasdeviolenciayexpulsindelaspoblacioneslocales,generalmenteindgenas,delosterritoriosproductoresderecursosnaturales.REVISTA
BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013
/JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 201417Estos conflictos adquieren una dimensin
cada vez ms violenta,
enunprocesodondeladisputaporlosrecursosnaturalesseapoyacada vez ms
en una poltica de militarizacin de los territorios.El significado
del buen vivir trasciende la visin econmica
delatierracomomediodeproduccin,paracolocarlaenellugardelespacio
territorial donde la vida ocurre, donde se entrelazan la
memoriacolectiva de los pueblos y la historia de las civilizaciones
originariascuyo largo proceso todava continan marcando la vida
cotidiana delas comunidades indgenas y campesinas de Amrica
Latina.Un anlisis terico de los ciclos de innovacin tecnolgica
enrelacinaloscicloseconmicos,orientadoadesarrollarunacomprensin ms
profunda de la dinmica cientfico-tecnolgica enel capitalismo
contemporneo, nos ofrece claves importantes paraentender la real
dimensin de los recursos naturales y la gestin dela naturaleza en
este proceso.De esta manera, los recursos naturalesdejan de
presentarse bajo la forma nica de commodities en el
anlisiseconmico, para asumir un papel mucho ms
amplio.Laexpansindelasmultinacionales,transnacionalesyempresasglobalesconducenadesequilibrioscrecientesquedesarticulan
la economa mundial. El mismo capitalismo que es
capazdeproducirfuerzascolosalesdecreacineinnovacin,necesitadestruir
dramticamente aquello que produce y la propia base
naturalenqueproduceparagarantizarelprocesodeacumulacin.Estacuestin
nos coloca frente a otro dilema, la necesidad de pensar
losciclosdeinnovacincientfico-tecnolgicayloscicloseconmicosenrelacinaluso,transformacin,apropiacinyconsumodelosrecursosnaturales.Laformaenqueestarelacinseencamine,representaunacuestinestratgicaparalacivilizacinhumanaplanetaria
y para las naciones que la conforman.
Ciertamente,setratadeunaconfrontacinentredosmodelosdedesarrollo,unobasado
en la planificacin y uso sustentable de los recursos
naturalesorientadoaatenderlasnecesidadesdelamayoradelosactoressociales
y el otro basado en la explotacin y expropiacin violenta
ymilitarizada de estos recursos y de las fuerzas sociales y los
pueblosque los detentan.UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE
ESTUDOS ESTRATGICOS18La financierizacin de los recursos naturalesEl
anlisis econmico y poltico de los recursos naturales
nosconduce,inevitablemente,aunacuestincentraldelcapitalismocontemporneo:lasustentabilidaddelmedioambiente,delanaturaleza
y, a fin de cuentas, la viabilidad del planeta. La ecologaeconmica
crtica viene llamando la atencin enfticamente sobre elcarcter
insostenible del modo de produccin y de consumo
actual.Lacapitalizacindelanaturalezanosloexpresasumercantilizacin,
sino que crea un nuevo campo de acumulacin
ydevalorizacinquesenutredeladestruccinaceleradadelosrecursos
naturales que, a travs de un cierto derecho a contaminar,provocan
daos irreversibles a la bisfera.Ya la teora neoclsicasustentaba la
transformacin de la naturaleza en capital natural, atravs de la
creacin de derechos de propiedad privada que ofrece asus tenedores
garanta de una renta combinada con una plusvalaen capital6.Durante
las ltimas dcadas, las materias primas y recursosalimenticios
llamados commodities se han convertido en un tipode activos
financieros.Este proceso de conversin est compuestode tres
elementos: 1. Los mercados de las commodities se convirtieronen una
esfera de inversin para el sector financiero en bsqueda delucros
elevados despus de la desaparicin de la burbuja de internet,atrados
por la promesa de lucros elevados y rpidos as como por
ladiversificacin de las carteras. Para las instituciones
financieras nobancarias, las commodities cumplieron un rol similar
al del sectorinmobiliario para los bancos;2. La integracin de los
mercados
decommodities,comocomponentedelosmercadosfinancieros,facilitada por
la creacin de vehculos de inversin destinados a laespeculacin, como
los llamados mercados futuros.stos
reforzaronelpasajeentrelosmercadosdecommoditiesylosmercadosburstiles;3.Lafuerteatraccinejercidaporlosmercadosdecommodities
sobre los inversores financieros estuvo estimulada porla
desregulacin de este sector.6 SERFATI, Claude. La mundializacin
bajo la dominacin de la finanza: una
trayectoriainsostenible.En:CORREA,EugeniaetAli.Capitalismo:Recuparacin?,descomposicin?.Porra:
Mxico, 2010, p.25 -58.REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED.
N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 201419En relacin a la
gestin econmica de los commodities,
Serfatidefinetrescategorasdeactoreseconmicos:losarbitrageursyhedgers,directamenteinteresadosenlaadquisicinolaventadeproductos
fsicos; los especuladorestradicionales que toman, porlo general,
una posicin de riesgo que los arbitrageurs rechazan; ylos
especuladores de ndice (fondos de pensin, fondos
especulativos,compaas de seguros, bancos, etc.) que no tienen ningn
inters porel producto fsico, sino exclusivamente por los beneficios
potenciales.Razn por la cual stos ltimos adoptan, generalmente,
posicin decomprador y especulan sobre un alza en curso, alimentando
de estamanera un alza permanente.La participacin de estos
especuladoresde ndice en el mercado de futuros no ha dejado de
crecer: pas de7% en 1998 a40% en 2008.Mientras que en el mismo
periodo, losarbitrageurs pasaron de 79% a 34% y los especuladores
tradicionalespasaron de 14% para 26%.Es decir, 66% del mercado de
futuros
decommoditiesestenmanosdeespeculadorestradicionalesyfinancieros.El
autor sostiene que la lgica especulativa que se impusoen el mercado
de commodities fue responsable del aumento de losprecios de los
bienes de alimentos y de materias primas que se produjoentre 2005 y
julio de 2008.Pensamiento estratgico e integracin
regionalLadisputaglobalporlosrecursosnaturalesysugestineconmica y
cientfica, abre un amplio campo de intereses en conflictoen la
regin evidenciando, por lo menos, dos proyectos en choque:la
afirmacin de la soberana como base para el desarrollo
nacionaleintegracinregionalylareorganizacindelosintereseshegemnicos
de Estados Unidos en el continente que encuentra
enlostratadosbilateralesdelibrecomerciounodesusprincipalesinstrumentos
para debilitar el primero.Este proceso no puede ser entendido fuera
de un contexto deredefinicin delas estructuras de poder hegemnico
mundial. Laemergencia de nuevas potencias indican la constitucin de
un
mundomultipolar,quecolocanuevosdesafos,haciendoevidentelanecesidad
de superar la visin eurocntrica y su modelo de civilizacinpara
avanzar hacia la constitucin de una civilizacin
planetaria.UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS20El proyectodereorgani zaci ndel ahegemon
aestadounidense en Amrica Latinaes parte de un proceso
complejodedominacinqueasumemltiplesdimensionesyquebuscagarantizar
sus intereses vitales colocando el acceso, la apropiaciny la gestin
de los recursos naturales como cuestiones de
seguridadnacional.Esteproyectodereorganizacinhegemnicaestsustentado
en un pensamiento estratgico que se manifiesta en losdiferentes
niveles de gobierno y del Estado y que orienta la polticaexterna de
Estados Unidos y las acciones de sus agencias
nacionalesentodoslosniveles.Setrata,porlotanto,deunaestrategiadedominacin
multidimensional que tiene desdoblamientos econmicos,polticos y
militares.Sin el desarrollo de un pensamiento estratgico que se
afirmeen el principio de la soberana y en una visin de futuro de
largoplazo, los pases latinoamericanos y tienen menos condiciones
dehacer frente a las enormes presiones generadas por esta
situacinde disputa, donde est en juego, en ltima instancia, la
capacidadde re-organizacin de proyectos hegemnicos y la emergencia
deproyectoscontra-hegemnicos.Esclaroqueesteconflictodeintereses
tiene como teln de fondo visiones societarias y
proyectoscivilizatorios en choque.LAS REFERENCIASBARCENA, Alicia.
Gobernanza de los recursos naturales en Amrica Latina y El Caribe.
2012.CORREA, Eugenia et Ali. Capitalismo: Recuparacin?,
descomposicin?.Porra:Mxico, 2010, p.25 -58.GREMIMT, Serie 1, N 7,
2002, 7 p.SANTOS, Theotonio dos.A politizao da natureza e o
imperativo tecnolgico.SCHUMPETER. Joseph.Socialismo, capitalismo ye
democracia (traducido porRuyJungmann).Ro de Janeiro: Editora Fundo
de Cultura, 1961, 488 p.SERFATI, Claude.La mundializacin bajo la
dominacin de la finanza: una trayectoria insostenible.REVISTA
BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013
/JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 201421ASPECTOS CONCEITUAIS DA RELAO GUERRA,
POLTICA EGUERREIROS E O SEU IMPACTO PARA O EMPREGO DO PODERMILITAR
NA ATUALIDADEAlexandre Cursino de Oliveira*RESUMOAs guerras
acompanham o homem h muito tempo e
tiveramdiversossignificados,referenciaistericosevriashistoricidadesparaoshomensqueaviviameostericosqueprocuravamcompreend-la
como um fenmeno. O Brasil ingressa no sculo XXIcom a publicao da
Estratgia Nacional de Defesa (END) e da PolticaNacional de Defesa
(PND) permitindo uma reflexo, de forma mpar,sobre a perspectiva do
Estado brasileiro a respeito do assunto.
Esteartigotemcomopropsitorefletirsobreainteraoeastransformaesdosaspectosconceituaisreferentesguerra,apoltica
e os guerreiros e identificar as perspectivas presentes
nosatuaisdocumentosnorteadoresdareadeDefesanoBrasil.Questionar-nos-emossehentreelesumaspectocausalourelacional,avaliandodesdeosprimrdiosdaformaodoEstadoNao
at a nossa contemporaneidade, e utilizaremos as concepesde guerra
presentes nas obras de Carl Von Clausewitz, John
Keegan,MichelFoucaultePhilipBobbittparaaanlisedeumapesquisabibliogrficaedocumentalarespeitodotema.Nohaverianecessariamente
uma primazia de uma gnese de falncia da aopoltica do Estado contra
outro Estado como causadora do fenmenoda guerra. Observaremos que,
na atualidade, a poltica, a guerra eos guerreiros possuem uma
perspectiva simultnea e relacional nasua concepo conceitual, e suas
transformaes constituem-se defundamental importncia para a reflexo
dos formuladores de polticassobre novos paradigmas e a atualidade
dos preceitos contidos emsuas estratgias de emprego do poder
militar.Palavras-chave: Guerra. Poltica. Guerreiros. Poder.
*CursodeAltosEstudosdePolticaeEstratgiaAeroespaciais,UniversidadedaForaArea(UNIFA).GraduaoemHistria(UNB).MBAemGestoEmpresarial(COPEAD).
Curso de Gesto Poltica e Defesa (IBMEC).UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS22ABSTRACTThewarfollowsthemanalongtimeagoandhadmanymeanings,
various theoretical frameworks and several historicitiesto the men
who lived it and the theorists seeking to understand it
asaphenomenon.Brazilentersthetwenty-firstcenturywiththepublication
of the National Defense Strategy and National DefensePolicy
allowing the reflection, in a unique way, about the perspectiveof
the Brazilian State in this matter. This article aims to think
overthe interaction and transformations of the conceptual aspects
relatedto war, politics and the warriors and identify prospects
presented inthe current guiding documents of the Brazilian Defense.
Shall questionus if there is among them a causal or relational
aspect, evaluatingsince the beginning of the formation of
nation-state to our
times,andwewillusetheconceptsofwarintheworksofCarlVonClausewitz,
John Keegan, Michel Foucault and Philip Bobbitt for theanalysis of
a bibliographical and documentary research on the subject.Not
necessarily would be a primacy of a genesis of bankruptcy ofpolicy
action by the state against another state as a cause of
thephenomenon of war. We note that, currently, politics, war and
warriorshaveasimultaneousandrelationalperspectiveinitsconceptualdesign,
and their transformations are to be of fundamental importancefor
the reflection of policy makers about new paradigms and
updateprecepts contained for strategies to be used in military
power.Keywords: War. Politic. Warriors. Power.REVISTA BRASILEIRA DE
ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201423INTRODUOA guerra a essncia humana, um ato criativo dohomem
civilizado. Animais no entram em guerra.Philip BobbittAs
transformaes nos aspectos conceituais referentes
guerraconstituem-sedefundamentalrelevnciaeimportnciaparaapercepo
dos formuladores de polticas de defesa no que concerneaos
paradigmas presentes nas suas prprias contemporaneidades
econtribuem para a reflexo sobre a atualidade dos preceitos
contidosemsuasestratgiasdeempregodopodermilitar.Asguerrasacompanham
o homem h muito tempo e, assim como ser Helenaem Tria para os
homens, Afrodite foi o motivo da rivalidade entredois deuses
gregos. Era pelas mulheres que, ento, se acreditavalutar ou ir
guerra.Na sua clssica obra pstuma Da Guerra, Clausewitz
estabeleceumaxiomaquepermearasmentesdevriasgeraesdepensadores sobre
a ocorrncia de um fenmeno humano: a guerra a continuao da poltica
por outros meios. Mas, com o final, do
quealgunshistoriadoresdenominamagrandeguerra(1914a1945),alguns
pensadores como John Keegan, Michel Foucault e BenedictAnderson,
comearam uma reflexo sobre a natureza da guerra, aadequabilidade da
manuteno de uma perspectiva do protagonismodos Estados na arena dos
conflitos internacionais e a construo donacionalismo, fenmeno
poltico cerne para a compreenso da nossamodernidade.J ao final do
sculo XX, Phillip Bobbitt apresenta assomos deque o modelo de ordem
constitucional consagrado no mbito dasrelaes internacionais, o
Estado-Nao, comea a dar indcios deum possvel esgotamento e uma
importante alterao do vis causalpara explicar o fenmeno da guerra
como falncia da ao poltica-diplomtica do Estado para outra viso,
extremamente inquietadora,de procurar compreender relaes para a
ocorrncia das guerras,
asmudanasnasordenspolticas-constitucionaiseosparadigmasestratgicos.UNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS24O Brasil inicia
o sculo XXI com uma nova abordagem para adefesa do pas com a
publicao de importantes doutrinas para
oempregodoseupodermilitar:aPolticaNacionaldeDefesaeaEstratgiaNacionaldeDefesa.Essesdocumentospermitemumareflexo,
de forma mpar, sobre a perspectiva do Estado brasileiropara a
interconexo entre a poltica e a guerra e a participao dosguerreiros
neste fenmeno
humano.Esteartigoobjetivaavaliarosaspectosconceituaissobreofenmenodaguerra,apartirdasmudanasestruturaisadvindascom
a Revoluo Francesa, e refletir sobre o seu impacto para oemprego do
poder militar na atualidade, em especial como eles seapresentariam
no contexto
brasileiro.REFLETINDOSOBREOSASPECTOSCONCEITUAISRELACIONADOS
GUERRAEntendemosquerefletirsobreaguerranatemporalidadeescolhida,
ps-Revoluo Francesa, sem considerar os conceitos
eaforismosdeDaGuerra,deCarlVonClausewitz,umarefernciainconteste
para todos os que estudam o tema, seria se afastar dabusca de
uma(sabedoria) sobre o assunto.O oficial prussiano, que lutou ao
lado dos russos contra aquelesque ao mesmo tempo desdenhava e
admirava, os franceses, percebeua
evoluodosacontecimentosqueocorriamnasesferas social epoltica para a
conduo de fenmeno da guerra. Rapoport afirmaque Clausewitz
conseguiu apreender todo o significado das liesde Napoleo, dado o
seu esprito militar. Por esprito militar entenda-se o que aceita a
guerra como um componente essencial, produtivoe inspirador da
existncia humana (...) (CLAUSEWITZ, 1979: 15).Percebemos sua total
imerso com a conjuntura europeia deconstruo da nao-Estado: um
Estado que mobiliza uma nao um grupo nacional tnico-cultural para
agir em benefcio do Estado(BOBBITT, 2003: 135 e 136), pois, no
prefcio redigido pelo
prprioprussianoemsuaobra,eledizque(...)nuncaseesquivousconclusesfilosficas;masquandoviuofioadelgaar-seexageradamente,preferiuquebr-loeuni-loaosfenmenosquecorrespondem
experincia (CLAUSEWITZ, 1979: 15).REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS
ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201425Conceitualmente,todoessecontextopodeserresumidonofamoso
aforismo clausewitziano para compreender a temporalidadediacrnica e
o propsito de um fenmeno que o terico prussianodefinia como um ato
de fora para obrigar o nosso inimigo a fazer anossa vontade: A
Guerra a continuao da poltica por outrosmeios. (CLAUSEWITZ, 1984:
91)A experincia obtida na prtica e na reflexo sobre as lutascontra
a Grande Arme iria balizar todo o seu pensamento e
seriarepresentativa das transformaes por quais passariam exrcitos
esistemas polticos por vrios anos. Clausewitz era um pensador deseu
tempo, sua vivncia estava inserida em uma poca na qual surgiauma
nova composio de foras, que iria alm dos prncipes e suabusca por
territrios, empregadas em maneiras que imprimiam maisvelocidade
sequncia das aes no campo de batalha.Na carta redigida a sua
esposa, Maria Von Clausewitz, em 1816,ele expressa sua opinio que
sua obra era a essncia (...) daquilo
aquesechamaestratgia(CLAUSEWITZ,1979:63).Suaobrajno se restringia
ao conceito de(estratgia) dos gregose as polis. Suas expectativas
eram oriundas da reflexo sobre umnovo horizonte surgido das faanhas
de um general que colocava osseus concidados em prol da defesa de
um Estado e da expansodas ideias que os tinha unido em prol desse,
bem como estabeleciaa guerra como norteadora de suas relaes com os
demais atoreseuropeus. Nesse novo horizonte, as estratgias moveriam
os estadose suas naes. Para Clausewitz, eram sobre eles que os
exrcitos ea motivao para a guerra estariam, a partir de ento,
sedimentados.Porsuavez,aarenadebatalhavivenciadaporClausewitzincorporava
inovaes estratgicas que manifestavam as mudanasno cenrio poltico
interno francs e que, mesmo depois da derrotade Napoleo, foram
absorvidas pelas estruturas estatais dos seusinimigos. Prussianos,
austracos, russos e britnicos, os dois ltimosmais tardiamente,
incorporaram a Leve en masse
(recrutamentomilitar,transformaopolticaesocialquepropiciouexrcitosmaiores),adivisodosexrcitosemunidadesautnomaseautossuficientes
para uma manobra de penetrao convergente paraum ponto nico e a
substituio da linha, cuja nfase era no fogodefensivo, pela coluna
ofensiva, com prioridade no choque. Esse erao espao de experincia
de Clausewitz. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS26Seria justamente na unificao alem que verificaramos o
picedesse processo que ocorria no ocidente durante o sculo XIX.
Medidascomo a universalizao do recrutamento, com nobres e plebeus
emum mesmo processo; a ligao entre os objetivos da guerra e
suarealizao estratgica um elo sintetizado no conceito do
elementomoral da guerra; o emprego das tticas abertas pela
tecnologia daRevoluo Industrial (telgrafo, ferrovias e armamento de
maioresalcances);eamanobraporforadosflancosemumasequnciaestratgico-operacional
contnua, dentro de uma iniciativa que envolveo exrcito inimigo e o
destri em uma batalha decisiva, so exemplosdas revolues estratgicas
e tticas ocorridas oriundas da formaodos Estados Nacionais, na
segunda metade oitocentista. Nesse sentido,quanto maior o senso de
participao nas questesdoEstado,mai sesteeravi stocomoumaencarnao
dos sistemas de valores nicos e
maiselevadosqueoengendravamemaioreraocompromissocomasuaproteoeservio.(HOWARD
apud BOBBITT, 2003: 177)Ao comentar sobre a influncia de
Clausewitz, Michael Howardnos alerta que:SeoScul oXIXhavi
adadonfaseaosensinamentosdeClausewitzsobreasforasmorais, os
leitores na metade do Sculo XX viriama se concentrar - talvez
igualmente em excesso -em sua nfase na supremacia do propsito
poltico.(...)nodeveseresquecidoqueClausewitzeraumsoldadoescrevendoprincipalmenteparasoldados,
que ele via a continuao da guerra
comosendoalgonaturaleinevitvelequeosseusensinamentoseramdestinadosasucessivasgeraes
de patriticos alemes lutando por suaterra natal - no a polticos
mundiais conduzindoa poltica internacional numa era de fartura
nuclear.NodevemoslercoisasdemaisemClausewitz,nem devemos esperar
dele mais do que pretendeudar. (CLAUSEWITZ, 1984: 45 e 47)REVISTA
BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013
/JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201427EntendemosqueHoward,semtiraraimportnciadosensinamentos de uma
das mais conhecidas obras sobre a guerra,
apontaanecessidadedequereflitamosseadequadaumaaplicabilidadepura e
direta de seus conceitos, modelos e paradigmas em
historicidadesecontextosquejnosoosmesmosdonobreoficialprussiano.Poderamos
permanecer discutindo os mtodos de abastecimentode uma forma como a
de Clausewitz, que no os considerava comopossvel de surgir de um
verdadeiro conceito de guerra?
Haveriaaindaumacaracterizaometafsicadesuprarealidadeaoprotagonismo
das aes polticas do Estado como origem de umfenmeno humano? Seria
adequado na era do conhecimento aindaafirmar que a prpria guerra
qualquer coisa, menos
humana?(CLAUSEWITZ,1984:393)Issoseriaplenamentecompreensvelno seu
contexto histrico de pice das mudanas com o novo tipode Estado e de
maneiras de pensar e fazer a guerra gerada
pelarevoluofrancesa.Entretanto,entendemosquenanossacontemporaneidade,
a manuteno de uma perspectiva estritamenteestatocntrica, como
designado por Thiago Rodrigues, inibe umapercepo mais holstica e
plural para a formulao de estratgiasque permitam a preparao do
prprio Estado e de seus guerreirosfrente aos seus antagonistas de
hoje.Odi stanci amentodessemodel odeestri taanl i seestatocntrica
tambm buscado por Michel Foucault ao analisar ofenmeno da guerra:Je
crois en effet et jessaierai de le dmontrer
queleprincipeselonlequellapolitique,cestlaguerrecontinuepardautresmoyenstaitunprincipebienantrieurClausewitz,quiasimplement
retourn une sorte de thse la foisdiffuse et prcise qui circulait
depuis le XVIIe et
leXVIIIesicle.Donc:lapolitiquecestlaguerrecontinue par dautres
moyens. (FOUCAULT, 2002:35)Percebemos que Foucault aponta para um
esquecimento
daperspectivadeumdiscursofilosfico-jurdicoparacomprenderaguerra em
prol de um discurso histrico-poltico, fundado a partir
dosculoXVIIparaexplicarumarealidadequeseriamarcadapelaUNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS28le triple
pralable de la loi, de lunit et du sujet qui fait de lasouverainet
la source du pouvoir et le fondement des institutions(FOUCAULT,
2002: 35). Entretanto, para o filsofo francs o
magocognitivodofenmenoanteriorestatizaodaguerraeestligado a
questionamentos epistemolgicos do seu valor para a anlisedas relaes
de poder e como matriz de tcnicas de dominao.J dentro de um
contexto ps-2 Guerra Mundial e ao procurarresponder o que a guerra,
John Keegan tambm argumenta que elano apenas a continuao da poltica
por meios. Para ele, os habitantesda ilha de Pscoa e os ianommis j
praticavam a guerra para
propsitosderelaodepodermaisbsicosenecessriossuaprpriasobrevivncia.
Segundo esse autor, para o pensamento de
Clausewitz(...)aguerraeraacontinuaodasrelaespolticas(despolitischenVerkehrs)comaentremistura
de outros meios (mit Einmischunganderer Mittel). O original alemo
expressa umaideia mais complexa e sutil que a traduo
maisfrequentementecitada.Nasduasformas,noentanto,opensamentodeClausewitzestincompleto.EleimplicaaexistnciadeEstados,deinteressesdeEstadoedeclculosracionaissobre
como eles podem ser atingidos. Contudo,
aguerraprecedeoEstado,adiplomaciaeaestratgia por vrios milnios. A
guerra to antigaquanto o prprio homem e atinge os lugares
maissecretosdocoraohumano,lugaresemqueoego dissolve os propsitos
racionais, onde reina oorgulho, onde a emoo suprema, onde o
instinto rei.(KEEGAN, 1995: 19)Ao analisarem a natureza da guerra,
Souza et al
identificamumaoposioentreumavisosobreelacomoumfenmenoeminentemente
poltico, cujo principal pensador foi Clausewitz nosculo XIX, e a de
um fenmeno cultural, com sua principal defesapor Keegan no sculo
XX. Para os autores, Keegan se afasta da visoclssica da subordinao
pela fora de outro ator estatal na
arenadasrelaesinternacionaiseutilizapincisqueiluminamoutroselementos,
tais como o antropolgico, o sociolgico e o psicolgicopara a
fenomenologia do processo dos conflitos. Entendemos que
seacrescentarmos a perspectiva filosfica de Foucault de uma
existnciaanterior estatizao da guerra, cujo cerne as disputas pelo
poderREVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN
2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 201429em diversos nveis de interao
humana, poderemos verificar que, nanossa contemporaneidade, no
seria necessrio ter uma viso
antagnicaouexclusivista,mascomplementaretransdisciplinar,afimdepossibilitar
mecanismos que permitam compreender mais integrada eintegralmente,
politica e culturalmente a ocorrncia do fenmeno da
guerra.Ignorarqueaguerrapossuiumcomponentefilosficoouantropolgicocomoumasdesuasmotivaesseriadescartaraparticipaodoguerreironasuaprpriaconduoouexecuo.Acreditamos
que para ns, e tambm para Clausewitz, essa no erauma problematizao
a ser formulada. Destacando que os homenslutam desde a idade da
pedra, Keegan ressalta que: Os historiadoresmilitares seriam
melhores historiadores se dedicassem a refletir sobreque faz um
homem matar o outro (KEEGAN, 1995: 95).Nesse sentido, observemos o
aspecto apontado por BenedictAnderson para compreendermos o
nascedouro do fenmeno
polticonacionalismo:Umamericanonuncavaiconhecer,enemsequersaberonome,daimensamaioriadeseus240milhesdecompatriotas.
(...) Mas tem plena confiana na atividade constante,annima e
simultnea deles. (ANDERSON, 2008: 57)Considerando que a condio
nacional [nation-ness] o valorde maior legitimidade universal na
vida poltica dos nossos tempos,(...) no mundo moderno, todos podem,
devem e ho de ter umanacionalidade (...) (ANDERSON, 2008: 28),
verificamos que a relaode experincia de Clausewitz com as guerras
com Napoleo e
suaexpectativaparaaconsecuodosobjetivospolticosdasnaesperpetuou-se
e concretizou-se por todo o sculo XIX e culminou,
jdentrodeumcontextodosEstadosNao1,comasguerrasdaprimeira metade do
sculo XX. Na sua obra, Anderson, guardandoum esprito antropolgico,
define a nao
como(...)umacomunidadepolticaimaginadaeimaginadacomosendointrinsecamentelimitadae,aomesmotempo,soberana.Elaimaginadaporque
mesmo os membros das mais
minsculasdasnaesjamaisconhecero,encontraroounemsequerouvirofalardamaioriadeseuscompanheiros,
embora todos tenham em mente aimagem viva da comunho entre eles.
(ANDERSON,2008:
32)1Anovaestruturainstitucionalconstruda,apartirdasegundametadedosculoXIX,baseadanainter-relaoentrelegitimidade,nacionalismopopulareautodeterminao
(BOBBITT, 2003: 180)UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE
ESTUDOS ESTRATGICOS30Anderson identifica nos monumentos aos
soldados desconhecidoso smbolo mais impressionante da cultura
moderna do nacionalismo.Os tmulos, segundo ele, sem almas imortais
nem restos
mortaisidentificveisdentrodelesestocarregadosdeimagensnacionaisespectrais.
(...) A maneira de um homem morrer geralmente parecearbitrria, mas
a sua mortalidade inevitvel. (ANDERSON, 2008:35 e 36). Observamos,
assim, a relao fsica e subjetiva da figura doguerreiro com os
desgnios do oferecimento da prpria vida, o
valorocidentalmaissignificativo,duranteumaguerraparaadefesadogrupo
a qual pertence, mas que ele no o conhece em sua totalidade,assim
como todos os seus interesses polticos e culturais.Monumentos como
o Cemitrio Nacional de Arlington ou o
ArcodoTriunfo,comassuastumbasdossoldadosdesconhecidos,permanecem
sendo cultuados como representativos desses
homensquecolocaramsuasvidasemproldadefesadosvaloresqueosligam aos
demais membros de seu grupo nacional. No stio oficial docemitrio,
sua misso o claro significado da relao dos soldadosamericanos para
com seus compatriotas:On behalf of the American people, lay to rest
thosewho have served our nation with dignity and honor,treating
their families with respect and compassion,and connecting guests to
the rich tapestry of thecemeterys living history, while maintaining
thesehallowed grounds befitting the sacrifice of all thosewho rest
here in quiet repose.2Na histria da segunda metade do sculo XX, que
ainda pode serpensada ainda como de um tempo presente, a Guerra
Fria foi para aURSS, primordialmente uma guerra contra seus
satlites, e, para osEUA, uma guerra contra o Terceiro Mundo.
(CHOMSKY, 2003: 45 e 46).Segundo o autor, a desintegrao do regime
comunista tomou(...)aformadeconflitostnicoseguerrascivispolticas
nas repblicas (como no caso da Gergia)ou entre elas (por exemplo, o
Azerbaijo contra aArmnia).Onacionalismonofoiapenasaexpresso da
identidade tnica coletiva. Foi a formapredomi nanteassumi dapel
omovi mentodemocrtico em toda a Unio Sovitica e sobretudona Rssia.
(CASTELLS, 1999: 77).2 Disponvel em:
http://www.arlingtoncemetery.mil Acesso em: 17 Jul 2014.REVISTA
BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013
/JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 201431Por sua vez, ao refletir no prlogo de
sua obra sobre a relaoentre inovao militar e mudana na ordem
constitucional para
umaanlisesobreodeclniodoEstado-Naoeaascensodoquedenominou como
Estado-Mercado, Philip Bobbitt parte do princpioque cada uma das
importantes revolues da organizao militarpossibilitou uma revoluo
poltica na ordem fundamental do Estado(BOBBITT, 2003). Assim como
na inverso apontada por Foucault,entendemos que h nessa perspectiva
uma importante alterao deum vis causal para explicar o fenmeno da
guerra como falncia daao poltica-diplomtica do Estado para outra
viso,
extremamenteinquietadora,deprocurarcompreenderrelaesqueenvolvemomesmoacontecimentoeestabelecerqueapsasguerrasmomentosas,
como designado por Bobbitt, h mudanas nas ordensconstitucionais e
paradigmas estratgicos. Para
Bobbit:Omodelocausalqueessesacadmicostmemmente, segundo o qual
inovao estratgica impea mudana constitucional ou s vezes o oposto
tende a obscurecer o fato de que o elo entre osdois fatores no o de
ordem apenas causal, masrelacional. (BOBBITT, 2003: 162)Seja pelo
fato da Organizao das Naes Unidas (ONU)
tersidoignoradanaguerradeKosovo,oupelahesitaodealgunsEstados em
utilizar seus soldados e instituies, como a Organizaodo Tratado do
Atlntico Norte (OTAN) no conflito da Bsnia em faceda fragilidade da
relao desse emprego com o prprio princpio
deautodeterminaoesoberania,ouainda,naincapacidadepararespostas
perenes s crises econmicas, como a europeia em 2008,indicaria,
segundo aquele autor, no uma morte do Estado, mas umcontexto de
mudana na sua finalidade de defesa, em um bojo daexpanso de um
regime econmico mundial que ignora as fronteirasna movimentao de
investimentos de capital impede os Estados deadministrar
nacionalmente seus problemas econmicos.
(BOBBITT,2011).Alie-seaisso,oapontadoporMartinWolfparaqueaglobalizaosolapouosvalorescoletivistasrepresentadospeloEstado-Nao
e concentrou as atenes no benefcio dos indivduos(BOBBITT, 2003:
445).UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS32Bobbitt representa de maneira grfica o seu
entendimento sobrea relao entres as guerras, as inovaes histricas
estratgicas econstitucionais:As Guerras
MomentosasAorefletiremsobreumaGuerraalmdoslimites,LiangeXiangsui
prope que:As guerras futuras tero, com mais frequncia, certos tipos
dehostilidadescomo,porexemplo,aguerrafinanceiraemqueumanaopodersersubjugada,semqueocorraderramamento
de sangue. Pense um pouco sobre isso! Quaisteriam sido as
consequncias desastrosas para as economiasde Hong Kong e ate mesmo
da China se a batalha de agosto
de1998paraprotegerasfinanasdeHongKong,tivessesidoperdida?Taissituaessopossveisdeocorreresenotivssemos
o colapso do mercado financeiro da Rssia que
acolocousobataqueportodososladosdeespeculadoresfinanceiros. E
difcil prever quais teriam sido as consequncias.(LIANG e XIANGSUI,
1999: 249)- revoluo daplvora- cercos prolongados-
exrcitosregularesGuerras deLus XIVGuerras entre osHabsburgos e
osValoisGuerras dosTrinta AnosGuerras
daRevoluoFrancesaLongaGuerraEstadoPrincipesco- finanasconsistentes-
governopermanenteEstadoRgio- absolutismo-
secularismoEstadoTerritorial- controle docomrcio-
lideranaaristocrticaNao-Estado- nacionalismo-
imperialismoEstado-Nao- nacionalismo- ideologia- uso de
condottiere- artilharia mvel- trace italienne-
exrcitosprofissionais- guerras degabinete- recrutamento emmassa-
batalhasdecisivas- armas nucleares- computaorpida-
comunicaesinternacionaisInovaes Histricas, Estratgicas e
ContitucionaisEstado Principesco Estado RgioEstado Territorial
Nao-EstadoEstado-Nao- revoluo daplvora- cercosprolongados-
exrcitosregularesREVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N
5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 201433Se tivermos em
mente a Guerra Fria histrica, e no o constructoideolgico, sabemos
que no verdade que ela tenha
terminado.Antes,talvezestejasemiencerrada;Washingtoncontinuaajogarcomo
antes. (CHOMSKY, 2003: 46). Nesse contexto, ainda podemospensar na
mesma relao entre a guerra, a poltica e os
guerreirosemconflitoscomoosdoBlcs,daChechniaoudoIraque,porexemplo,
ou ainda no que acompanhamos em territrio srio? J nomais em uma
guerra total do sculo XX, mas em uma comunidadeplanetria no sculo
XXI, essa relao poderia ser refletida,
utilizandoKeegan,comsoldadoslutandocontrafanticosticos,dspotasregionais,intransigentesideolgicos,saqueadorescomunsecriminosos
organizados internacionais em um estilo que no podemais derivar
apenas do modelo ocidental de guerrear? Como refletirsobre a atuao
e legitimidade do Estado no sistema de
seguranacoletivaps-2GM?Estaramosaindadentrodeumcontextodedeclaraes
formais de guerra, com soldados lutando apenas contraoutros
nacionais? Os soldados permaneceram sempre lutando emarenas
decorrentes de conflitos entre Estados que projetavam
suascapacidadesindustriaisemproldeinteressespolticosnacionais?Bobbit
e Keegan identificam o advento das armas nucleares como asuperao do
estilo de guerra total que caracterizava o
Estado-Nao.Assim,noespaodequinhentosanos,ele[omundoindustrial]
avanara da prtica de uma forma dehostilidade internacional em que o
dano possvelestavalimitadoaoprovocadopelopoderdomsculo humano e
animal, via um interldio emque a energia qumica suplantou e
intensificou essepoder, mas no o transcendeu psicologicamente,para
um estado de coisas involuntrio no qual
aprticadahostilidade,comosobjetivos,queateoriamilitardominanteestabeleceucomoadequados
e corretos, destruiria a Terra. (KEEGAN,1995: 393)Observemos ainda
o que disse o General Van Uhm, Chefe doEstado-Maior de Defesa dos
Pases Baixos:Por que escolhi a arma como meu instrumento?
(...)fuifisgadopelashistriasdossoldadosAliados-soldados que
deixaram a segurana de seus lares
earriscaramsuasvidasparalibertarumpaseumUNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS34povo que no conheciam.
(...) a participao emmissesparaapazquetemlevadosoluodemuitas
guerras civis. Meus soldados usam a
armacomouminstrumentodepaz.()Elescolocamsuasvidasemrisco,porns,porvocs,enopodemosdesampar-l
os.(...)Esperoquerespeitem meus soldados, este soldado com
estaarma. Porque ele quer um mundo melhor.
Porqueelefazumacontribuioativaparaummundomelhor, como todos ns aqui
hoje.3Em um dos mais renomados centros de pesquisa sobre o
assunto,oProgramadeDadosSobreConflitosdaUniversidadedeUppsala(Uppsala
Conflict Data Program UCDP) coleta dados sobre violnciaarmada desde
19464. Na lista de definies no stio desse
programadepesquisa,humaclassificaoparatiposdeconflitosarmadosbaseados
na figura do Estado (interestatais, intraestatais,
intraestataisinternacionalizadoseextrassistmicos),assimcomotambmosconflitos
no-estatais, que abrangeriam a utilizao de fora armadaentre dois
grupos armados organizados, nenhum dos quais
governoouestado.Nocasodosconflitosarmadossobaperspectivadosestados,haindaumaclassificaoparaasuaintensidadecomominore
war,dependendoseonmerodefatalidadesmenoroumaior que
1000/ano-calendrio, respectivamente.3 WhyIchoseagun.Di spon vel
em:http://www.ted.com/tal ks/peter_van_uhm_why_i_chose_a_gun.html
Acesso em: 17 Jul 2014.4 Conflict Data Program. Disponvel em:
http://www.ucdp.uu.se/ Acesso em: 17 Jul 2014REVISTA BRASILEIRA DE
ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201435Depreendemos das tabelas acima que, considerando os
critriosutilizados pela UCDP, h uma tendncia histrica de
prepondernciade conflitos intraestatais e de baixa intensidade no
nmero de
baixas.Seguindoaindaatipologiautilizadapeloprogramadepesquisa,observemos
o incremento do nmero de conflitos internacionalizadosem relao ao
interestatais, no havendo, at mesmo, a ocorrnciadesses em 2013.
Entretanto, Rodrigues compreende que pensadorescomo Nam ou Kaldor
nomeiam os conflituosos transnacionais comoguerra, mesmo que no
estejam inseridos em uma concepo clssicados antagonismos
interestatais.Assim como a meno do termo war somente ser
observadaapenas uma vez no stio da UCDP para caracterizar uma
tipologiaquantointensidadedoconflito,nonossoentendimentohumasutil,
mas significante tendncia de afastamento do arcabouo
jurdicointernacional por parte dos governos. O Congresso dos
Estados Unidosda Amrica declarou guerra por onze vezes em sua
histria.
Duasdelasforamnasarquiteturasda1GuerraMundial(AlemanhaeImprioAustro-hngaro)eseisna2(Japo,Alemanha,Itlia,Bulgria,HungriaeRomnia)5.Observemosque,aps1945,ospronunciamentos
dos presidentes estadunidenses ao congresso
norte-americanomencionamotermowar,masemcontextosdistintosdaquele
clssico clausewitiziano.5 Disponvel em http://www.senate.gov .
Acesso em: 17 Jul 2014Fonte: www.pcr.uu.seUNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS36O Presidente Richard
Nixon, em plena participao de foras norte-americanas no conflito do
Vietn nos anos 70, enviou uma mensagemao congresso norte-americano,
na qual identificou o abuso de drogascomo o inimigo n 1 dos Estados
Unidos. Em seu pronunciamento de17 de junho de 1971, o presidente,
que conduziu a retirada das tropasestadunidenses em sua derrota
contra os vietcongs, em uma guerrano declarada nos moldes do
direito internacional, utilizou a expressowar para referir-se s aes
contra esse inimigoTo wage an effective war against heroin
addiction,we must have international cooperation. ()We havefought
together in war, we have worked together inhard times, and we have
reached out to each other indivision to close the gaps between our
people and keepAmerica whole (Richard Nixon, 1974)6 (grifos
nossos)Porsuavez,oPresidenteGeorgeW.Bushemseupronunciamento para a
nao americana aps os eventos de 11
desetembrode2001,apresentouumaindagaoque,segundoele,permeavaamentedetodososamericanos:Whoattackedourcountry?
O presidente norte-americano identificou que as evidnciasindicavam
uma organizao terrorista denominada Al Qaeda e que
osinimigosdosamericanoseramosradicalnetworkterroristsAoconcluir sua
fala ao congresso americano, Bush declarou que Ourwar on terror
comeava com a organizao terrorista, mas tambmseria contra todo
governo que os apoiasse. Observamos atores
difusos,assimcomoreconhecidoseperfeitamenteidentificados,noeventoque
iniciou o sculo XXI em uma dinmica internacional de
conflitos:Americans are asking: How will we fight and
winthiswar?Wewilldirecteveryresourceatourcommand - every means of
diplomacy, every toolof intelligence, every instrument of law
enforcement,everyfinancialinfluence,andeverynecessaryweapon of war
- to the disruption and to the defeatof the global terror network.
() This war willnot be like the war against Iraq a decade ago,
with6 Disponvel em http://www.senate.gov . Acesso em: 17 Jul
2014REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN
2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201437adecisiveliberationofterritoryandaswiftconclusion. It will
not look like the air war
aboveKosovotwoyearsago,wherenogroundtroopswere used and not a
single American was lost incombat. (George W. Bush, 2001)7 (grifos
nossos)Visando dotar a China com atitude e procedimentos para
secontrapor aos Estados Unidos em conflitos inseridos em
contextosdeinferioridademilitarequeenvolvessemeioscomaltosnveistecnolgicos,LiangeXiangsuipropemquesejamempregadastticas,
que fugiriam dos aspectos tradicionais de combate, tais comoa
violao de stios da internet e o ataque instituies
financeiras(LIANGeXIANGSUI,1999:2).Noquetangetecnologia,essesautores
veem uma interdinmica constante entre a sociedade e
elapossibilitando,dessaforma,umcampodebatalhaqueseronipresente e
onidirecional.Entendemos que o cerne das relaes de poder no est
maisapenas mantido no carter fsico da inteno de forar um
oponenteafazeranossavontade.Percebemostambmqueaquestodosentimento
de pertencimento e identidade das pessoas, em um sculoto densamente
marcado pelas novas tecnologias de informao, mais fluido e menos
limitado s fronteiras fsicas. Ao refletirem sobreuma micropoltica
na rede tecnolgica operada entre guerreiros esoldados high tech,
Fonseca e Amador analisam
que:(...)mesmoalertandoparaosperigosdetaisfrontei rastransgredi
das,destacasuaspotencialidadesparafazerumapolticapelasfi ssurasi
ndeni tri aseporabal osnosfundamentalismos. Refletindo sobre o que
definecomoInformti cadaDomi naoaquel ainstaurada com a mudana da
sociedade industrialeorgni caparaumsi stemapol i
morfo,informacionalemqueasvelhasdominaeshierrquicassosubstitudasporaparatostecnolgicos,falaemumacidadaniadotipociborgue
em contraposio s noes de pblico e7 Disponvel em
http://www.senate.gov . Acesso em: 17 Jul 2014UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS38privado. (...) Haraway
chega a afirmar que as
NovasTecnologiasdeInformaoeComunicaosofundamentaisparaaerradicaodavidapblicafacilitando
o florescimento de uma instituio militarhigh-tech permanente
(...).os soldados, pertencemaoaparel hodeEstado.Suami
ssoinstitucionalizar, regrar, codificar, distribuir-se
numespaofechado,noespaoestriadodoEstado.Enquanto na mquina de
guerra, trava-se uma lutasem linha de combate, pura estratgia;
distribuir-senumespaoaberto,preservarapossibilidadede surgir em
qualquer ponto. (...) Os guerreiros,em vez de afrontar o Estado,
percorrem o Nomos;fazendo do Fora um territrio no espao.
Nmades,nosepreocupamdeterritriosesimcomdesterritorializaoatravsdarupturainternadeseu
territrio, renunciando a si prprio. (FONSECAe AMADOR, 2009: p.104 e
107)Neste ponto da nossa reflexo, podemos, ento, ultrapassar
oparadigma causativo e um ponto de vista sequencial e diacrnico
navinculaoentreaguerra,apolticaeosguerreiros,fundadapoliticamentenasconsequnciasdaRevoluoFrancesa,paraidentificarmos,nacontemporaneidadedanossamodernidadeoci
dental i zada,umaspectorel aci onal eumaperspecti vaconcomitante
para eles. Observemos que o contexto em que surgiramos aforismas
clausewitizianos, ainda o final do sculo XVIII, tiveramseu pice na
primeira metade do sculo XX com o apogeu da
expansotecnolgicadasegundarevoluoindustrial,aculminnciadasideologias
nacionalistas e a formulao de concepes estratgicasde grandes
recrutamentos para batalhas por recursos territoriais esegurana dos
Estados-Nao.Ao nos aproximarmos do final da centria passada,
percebemosquevriospensadoressobreaguerraquestionaram-sesobreaprimazia
do vis estatocntrico para a sua conduo ou fontes deantagonismo, bem
como inovaes, tipologias e intensidades
relativasaela.OEstadoaindaatorprimordialnocenrioedireitointernacionais,
mas no detm, como verificamos mais intensamentea partir da segunda
metade da centria passada, a prerrogativa deREVISTA BRASILEIRA DE
ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201439exclusividade das aes polticas, assim como de origem,
motivaoou propsito de um fenmeno humano, como o caso da guerra.
Elepode ser atacado em vrias expresses do seu poder. Por sua
vez,osguerreirosjnoseidentificamsomentecomumabandeira,combatemexclusivamentecontraameaasexternaseemarenasfsicas,
ou to pouco lutam apenas por seus nacionais.ASPECTOS SOBRE A
POLTICA NACIONAL DE DEFESA (PND) EA ESTRATGIA NACIONAL DE DEFESA
(END)Em2004,aconvi tedonossoMi ni stri odaDefesa,representantes de
vrios segmentos da sociedade se reuniram pararefletirem sobre os
desafios a serem enfrentados pelo Brasil na reade defesa e
segurana. Eles tinham como propsito fornecer subsdiospara a atuao
do governo e estimular o estudo pela sociedade deassuntos
referentes essas reas. Da leitura do primeiro volume
dacoletneaPensamentoBrasileirosobreDefesaeSegurana,verificamos que
os debatedores, peculiarmente, no utilizaram
nemmesmoovocbuloconflitoparaidentificarasameaasdefesanacional,
preferindo utilizar dimenses relevantes.
Categorizaram-nascomomilitar,econmico-tecnolgicosededesestabilizaoprovocadaporagentesexternos,sendoessasduasltimasasdimensesmaisimportantesnofuturo.Nonossoentendimento,haveria,
nessa perspectiva, um afastamento para um contexto
emquefossepossvelconstruirumaestratgiadedefesasemapossibilidade de
existir algo concreto como o combate, seja qual fora arena
escolhida. Como ressaltado por Raymond Aron: A estratgiano nada sem
o combate, pois o combate matria que ela
serve,omeioqueelaaplica[ARON,79:1986].Nanossapercepo,pensadores e o
prprio Estado brasileiro temeriam em se
referenciarquiloquefazpartetantodavertentefilosfico-jurdicaoudahistrico-poltica,
segundo a anlise foucaultiana sobre a guerra
edosdiscursosarespeitodela,vistadoobservadonosviesesempregados por
outras naes.De acordo com o mencionado na coletnea,UNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS40No que se
refere defesa, houve consenso
quantoaumimportanteaspectodoncleodurodoconceito: a defesa, para os
debatedores, abarcasempreaesvoltadasparaameaasdecarter externo. A
opinio majoritria a de queoconceitoserestringeaaescontraameaasdessa
natureza. (PINTO et al, 2004: 231)Observemos isso traduzido na PND,
que centraliza a delimitaode seus objetivos ao ambiente de atuao do
pas a uma perspectivaprecipuamente ao conflito entre Estados
Nacionais, provavelmenteem decorrncia da propalada insero e
intensificao do papel
doBrasilnoambienteinternacional.Dessaforma,apuramosquehuma
acentuada vertente clausewitiziana embutida no atendimentode
orientaes de governo, em particular poltica externa
brasileira(BRASIL, 2013: 1), vis que retratado na definio
doutrinaria deque guerra :Conflito no seu grau mximo de violncia.
Em funoda magnitude do conflito, pode implicar a
mobilizaodetodooPoderNacional,compredominnciadaexpresso militar,
para impor a vontade de um ator aooutro. 2. No sentido clssico,
caracteriza um conflito,normalmente entre Estados, envolvendo o
empregode suas foras armadas. Desencadeia-se de
formadeclaradaedeacordocomoDireitoInternacional. (BRASIL, 2007:
122) (grifos nossos)No verificamos uma percepo objetiva e
abrangente para ocrescimento das ameaas constitudas por organismos
e
instituiesintraestataisoudifusasedeconflitoscombaixaintensidade,afastando-se,nonossoentendimento,datendnciahistricaobservada
a partir da segunda metade do sculo XX, como
apontadopelosdadoscoletadospeloUCDPoudasnovasperspectivasapontadas
por Liang e Xiangsui.Percebemos que isso reforaria uma leitura de
que, por
faltadefuncionalidadedasoluodiplomticaparaosnovostiposdeameaa, no
teramos a necessidade de questionamentos claros queREVISTA
BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013
/JUL-DEZ 2013/JAN-JUN 201441nos permitissem uma preparao atualizada
para a defesa do
pasanteosantigosounovosantagonistasnasdiversasreasdoPoder Nacional.
Acreditamos que devemos ter sempre em mente omilenar provrbio
vegetiano: Si vis pacem, para bellum. Esse bellum,como apontaram
Keegan e Foucault, antecederam a formao
dosEstadosNacionaiseasaesdiplomticasnaarenaemqueelespassaram a
atuar a partir do marco westfaliano, ou, como indicadopor Bobbitt,
podero ter novos uniformes, a partir de
inovaesestratgicasejurdicasoualteraesnoprpriopropsitodosEstados. E
ademais, como imprudente imaginar que um pas como potencial do
Brasil no enfrente antagonismos ao perseguir seuslegtimos
interesses (BRASIL, 2013: 1), igualmente seria temerriominimizar
que eles tm novas roupagens e que, assim sendo, nopodem permanecer
sem a previsibilidade de aes de defesa
queestejamalmdaperspectivaformuladapelopensadorprussianopara um
contexto de formao de Estados Nacionais, de auge dadiplomacia e
duma guerra
total.Entendemosqueissonoindicariaumapossibilidadedeingerncias em
assuntos internos, mas a previsibilidade de eventosque necessitam
ser considerados prospectivamente. Urge consideraruma faceta alm
dos paradigmas tradicionais de anlise e causalidadepara uma de
transversalidade em relao s questes
ambientais,mudanasclimticasedomniodetecnologiasqueatinjamacapacidadeestatalouaautonomianacional.verticalidadedaperspectivacausalediacrnicadefalnciadasaespolticasdoestadocomognesedaguerra,basedeleiturascomumavisoclausewitiziana,insere-seumprismahorizontalqueapontaumaspecto
relacional e simultneo para campos e atores que
permeiamasaesconflituosasqueenvolvemouatingemosinteressesdoEstado
no sculo XXI ou para o alcance dos efeitos desejados por
ele.Dessaforma,nosetratadeignorarqueapreparaodasForasArmadas,primordialmente,paraocumprimentodesuamisso
constitucional de defesa da ptria ante antagonistas estataise de
garantia da lei e da ordem, esta quando requisitada pelos
poderesconstitudos, to pouco de propor um emprego precpuo em
aessubsidirias, a fim de substituir outras instituies internas do
Estado.Mas nos caberia refletir sobre os efeitos desejados para a
defesa
esesuadestinaoprecpuaapontadanaPNDenvolverianovosUNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS42paradigmas
cognitivos e estratgicos, assim como conflitos contraguerreiros,
que no mais vestem somente uniformes identificadoscom sua origem
nacional ou esto cobertos pela atual ordem
jurdicaconstrudapelahumanidade.Elestambmatuaroemfronteirasque j
esto alm do espao fsico e em arenas que esto alm dapresencialidade
de militares e do arcabouo jurdico dos diplomatas,demandando aes
perenes de defesa para os interesses dos
Estados,atmesmoosrelativosaosmaiscotidianosparaosindivduoseinstituies
que os compem. O Estado sofre ameaas sua soberaniaem suas mais
bsicas atribuies constitucionais ou legais advindasde atores que no
so caracterizados somente por terem territrio,povo, leis e governo
prprios e independncia nas relaes externas(BRASIL, 2013: 1).
Entendemos que seria mister delinear, sob
penadeformular-seestratgiassubstancialmentediscursivasouindustriais,
as ameaas e arenas referentes aos objetivos da
PND,comumolharquepermitisseapreparaoparaosaspectosrelacionaisesimultneosqueanossacontemporaneidadeinserenelas,assimcomoaprevisodeaesdedefesaparatodasasexpresses
do poder nacional que incorporem o vis prospectivo nasua concepo.No
que tange aos guerreiros, na PND, o marinheiro ou
soldadoconscritoreferenciadocomoalgumque,identificadocomoumintegrante
das Foras Armadas, contribui para a integrao nacional.Entendemos
que, nesse aspecto, haveria uma intensa relao com apersonificao de
cidadania para a construo de uma nacionalidadee no de uma formao
profissional. No haveria uma
concepoparaomilitar,sejadequepostooupatentefor,comoprincipalprofissional
do Estado para a consecuo das aes de sua
defesa,bemquecapacitaesdeveriapossuirparaagirnasdimensesidentificadas
ou, no nosso entendimento, na oposio s
ameaasaosinteressesdessemesmoEstadonocontextoanrquicoeconflituoso,que,cadavezmais,aarenainternacionaloutransnacional.Por
sua vez, a publicao da END trouxe um indito debate emmbito mais
abrangente da sociedade sobre os assuntos relativos defesa do pas.
Nesse sentido, o documento acabou por tangenciarentre um papel de
poltica e de estratgia. Seu foco so as aesestratgicas para a
modernizao da estrutura nacional para a reaREVISTA BRASILEIRA DE
ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201443com atuao em trs eixos: a reorganizao das Foras Armadas,
apolticadecomposiodosefetivosdasForasArmadaseareorganizao da
industrial de material de defesa.Na END, a poltica de composio dos
efetivos militares
estcalcadanadiscussodoServioMilitarObrigatrioeseufuturo,funcionando
este como espao republicano, no qual possa a Naoencontrar-se acima
das classes sociais (BRASIL, 2008: 10). No foiobservada a meno
sobre um direcionamento estratgico para
autilizaoderecursoshumanosqueestejamenvolvidosnostrssetores
decisivos para a defesa nacional: o ciberntico, o espacial
eonuclear.Restringe-seodocumentoaversarsobreopapeldeformadordecidadosenodascapacitaesparaenfrentarasameaas
nos setores priorizados.Considerando que o pas est afastado de
guerras por conflitosterritoriais desde o sculo XIX e resolveu
questes fronteirias, pelavia diplomtica, no incio do sculo passado,
percebemos uma forteeexplicitarelaodaENDcomaestratgi anaci onal
dedesenvolvimento,sendoqueaquelaforneceescudoparaesta(BRASIL, 2008:
8). Entendemos que isto indicaria uma construocontempornea de
sentimento de nacionalidade baseada em
aspectoseconmico-desenvolvimentistaseque,portanto,asaesparaadefesa
so concebidas no intuito de salvaguardar os interesses e
aindependncia nessas
reas.NasdiretrizesparaaENDobservar-se-iaaausnciadaperspectiva de
uma utilizao dos recursos humanos envolvidas nostrs setores
estratgicos. O dimensionamento visa a otimizao dosrecursos humanos
para atendimento de propsitos em nvel ttico(Garantia da Lei e da
Ordem e Operaes de Paz) e a requisitos
demonitoramento/controle,mobilidadeepresena.Naestruturaodepotenciaisestratgicosemtornodecapacidades,observamosqueoplanejamentodirecionadoparaosmeiosmateriaisedeconceitos
doutrinrios, mas que no esto alicerados no
contnuoaprimoramentodosrecursoshumanosparaumaperspectivadasfuturas
arenas envolvidas nos trs setores estratgicos, como a donomos de
Fonseca e Amador. Em relao doutrina, no se trata deocultar que
permanecemos inseridos na perspectiva apontada porFoucault de um
discurso histrico-poltico para as relaes de
podercentradasnafiguradoEstado-NaoindefectvelesolitrianasUNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS44relaes
internacionais, mas de perceber as nuances presentes
nonossocontexto.ComoabordadoporBobbitt,verificamosque,nanossacontemporaneidade,adefesadasoberanianacionalestalargadaparaalmdaspossibilidadesfsicasdoterritrio.Entendemos
que isso demandaria um Servio Militar Obrigatrio queatendesse a
essa realidade e a futuras necessidades, assim
comocontribusseparaoatingimentoemgrauadequadodorequisitoestratgicodaelasticidadeedeespectrosdecapacitaomaisamplos,comooindustrialemilitar,paraossetoresaeroespacial,ciberntico
e nuclear, previstos na prpria
END.Oincentivoaformaoderecursoshumanosparaostrssetores estratgicos
pelo financiamento de programas de pesquisae ps-graduao, previsto
na END, necessitaria, a nosso ver, de
umaperspectivaprospectivaecoordenadaparaaspossibilidadesdeemprego
tecnolgico na rea de defesa, assim como uma abordagemque no seja
extempornea presena de novos atores e ameaasao Estado.A orientao
para a diminuio de soldados profissionais emrelao proporo de
recrutas e o estabelecimento de um
interesseestratgicodoEstadoparaaformaodeespecialistascivisemassuntos
de defesa poderia ser complementada com a possibilidadede utilizao
de recursos humanos que possibilitassem a sua captaode forma
qualificada, direcionada e seletiva para o atingimento dosprojetos
relativos aos setores estratgicos. No se trata de
discutirnestetrabalhoaadequabilidadedocarterobrigatrioounodoServio
Militar, a criao de um Servio Civil ou a necessidade defora de
trabalho administrativa. Percebemos que aquela
possibilidadecontribuiria qualitativamente para um esforo
otimizado, atualizadoe complementar entre os vrios setores
disponveis do poder nacional,a fim de assegurar o alcance do que a
END explicita como base dadefesa nacional: a recproca identificao
entre a Nao e suas
ForasArmadasnossetoresselecionadoscomoestratgicos.Almdasinergia na
conduo da estratgia para defesa presente e futura
desuasinstituieseinteresses,entendemosqueessaperspectivatambm
convergiria para diminuir as vulnerabilidades apontadas naEND
quanto ao pouco envolvimento da sociedade brasileira com
osassuntosdedefesa;oslimitadosrecursos,aquiressaltadososrelativosaocapitalhumano,aplicadosempesquisacientficaeREVISTA
BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013
/JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201445tecnolgica;eainexistnciadeplanejamentonacionalparadesenvolvimentodeprodutosdeelevadocontedotecnolgico.Estaramos,
dessa forma, delineando o como fazer.Considerando ainda a
perspectiva de Bobbitt sobre os novosatores, h apenas uma
oportunidade vislumbrada para ser exploradavisando minimizar as
vulnerabilidades da atual estrutura de
defesadopasquecitaaexistnciadeatoresno-governamentais,emespecial na
regio amaznica. Entendemos que, nessa
perspectiva,permaneceramosrestritosaoespectroterritorialparaaanlisecognitiva
sobre as ameaas ao Estado. Considerando a doutrina daEscola
Superior de Guerra, no h nem mesmo previso de ameaase planejamento
para a defesa de expresses do poder nacional taiscomo a econmica e
a de cincia e tecnologia, dentro de um contextocontemporneo de
possibilidades de neutralizar ou negar ao Estadoasaespara o
exercciodesuasoberaniaemdiversosgraus deletalidade. necessrio
tambm, que reflitamos sobre a problematizaorealizada por Bobbit
sobre que sem uma ideia clara dos perigos queenfrentaremos
[BOBBITT, 2003: 283] no h como perseguir umaRevoluo de Assuntos
Militares (RAM), apresentar uma
estruturadeforas,nemestabelecercritriosparaumainterveno.SetomarmosemconsideraoaproblemticaABC8desseautor,podemosentenderque,paraalmdopontodevistadodiscursodiplomtico,fundamentalquevislumbremosconcretamenteedefinidamenteasameaasconstitudasporforasantagnicasestatais
ou no, assim como definamos pragmtica e objetivamenteos efeitos
desejados, os graus, a composio e para que
misses,reasecenriosasForasArmadasdevemserdistribudasepreparadas, a
fim de respaldar o poder do Estado brasileiro.8A problemtica ABC
enunciada por Bobbitt : os Estados Unidos deveriam
concentraremsobrepujarospotenciaisconcorrentesdoseunvel,demodoaestenderindefinidamenteaposiodequeoradesfrutadenoterrivaismilitaressuaaltura?
Ou dever enfocar os Estados e conflitos capazes de ameaar seus
interessesvitais em teatros de tradicional importncia, tais como a
Europa, Leste Asitico
eGolfoPrsico?Seriapossvelreorganizaressamaneiradepensar,nosentidodeconferirmenosimportnciaaconflitoscomoaGuerradoGolfoemaisaoutroscomo
o da Iugoslvia, bem como ameaas econmicas, ao desenvolvimento e
decunhono-tradicional,comooterrorismoeasenfermidades?Enfim,queperigosdevem
guiar as polticas americanas: A, B ou C?UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS46Aprticadosltimoseventosinternacionaisnopastemdemonstrado
que, de fato, as foras de defesa tm sido
empregadasefetivamentepeloEstadonasaesnessasreas.Almdisso,oemprego
em aes de carter humanitrio e de busca da paz,
basefilosficadosistemacoletivodeseguranainternacional,marcaacentuadamenteaprojeodosEstadoseamotivaodeseusguerreiros,
assim como mencionado pelo Van Uhm em seu
discurso.IniciativascomooSistemadeSeguranaeAjudaHumanitriaInteramericano,
para as Marinhas do continente, o Centro Conjuntode Operaes de Paz
do Brasil (CCOPAB) e o Sistema de
CooperaodasForasAreasAmericanas(SICOFAA)poderiammigrardeiniciativas
isoladas para aes de defesa mais abrangentes e perenesem tempos de
paz, bem como convergindoobjetivamentepara oentorno estratgico
planejado na END.Assim sendo, ressaltando-se o ineditismo da
publicao da
ENDesuaaberturaparaaparticipaodasociedadeemassuntosdedefesa, seria
necessrio avanar nas suas formulaes metodolgicaspara alcanar as
respostas de como atingir efeitos desejados paraos objetivos
previstos na PND. Nesse avano sine qua non
planejarpragmaticamenteoempregodetodasasexpressesdopodernacional do
Estado, bem como prospectar as ameaas a elas, externasou internas,
em contextos atualizados e com doutrinas que
ensejemasnovasarenasdeguerraoudeconflito,assimcomoasoportunidades
de atuao em segurana coletiva para a sua projeopoltica no cenrio
internacional. As estruturas em ambientes queesto alm do carter de
um combate fsico entre os guerreiros
nadisputadeumterritriodemandamumaelaboraorefinadaeobjetivaparaaformaoderecursoshumanosrelacionadosaossetores
estratgicos elegidos, assim como j est em curso para osetor
industrial de material de defesa.CONSIDERAES
FINAISDesdeaformaodosEstadosNacionais,observa-seumaevoluo histrica
da interconexo entre a poltica e a guerra, assimcomo reflexes se
esta seria um fenmeno poltico ou cultural.
Comofimdoperododasguerrasmundiaisdacentriapassada,aperspectivaestatocntrica,fundamentadacognitivamentenoREVISTA
BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013
/JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201447arcabouotericoformuladoporClausewitz,comeouasercomplementadaporreflexesqueincluramoutrosreferenciaistericosenovostiposdeconflitosenvolvendoosEstadosnocenriointernacional.NohnecessariamenteumaprimaziadafalnciadaaopolticadoEstadocontraoutroEstadocomocausadora
do fenmeno da guerra e, na atualidade, a poltica,
aguerraeosguerreirospossuem,maisdoqueumadinmicasequencial e
diacrnica, uma perspectiva simultnea e
relacionalparaassuasinterconexes.AsameaasaoEstadoestaroemcampos de
batalha onidirecionais e esto onipresentes em todosos seus campos
de atuao.O nacionalismo levou ao envolvimento de todas as
estruturasdisponveisdeumEstado,masfezcomqueosconflitossegeneralizassemetomassemproporescadavezmaiores.Ossoldadosnocontinuamslutandoporseupasemorrendoporseus
amigos. As motivaes que os levam a se sacrificarem variamconforme o
contexto histrico em que esto inseridos e so
difceisdeseremprecisadas.Nossomundoderedesvirtuaisepresenatecnolgica
cada vez mais intensa trazem diferentes
necessidadescognitivasparaqueoguerreiropossaatuaremnovasarenasdecombate,
de modo a aniquilar seus inimigos, presenciais ou no, emconflitos
que no possuem necessariamente as mesmas intensidadese tipologias
dos que ocorreram at a primeira metade do sculo
XX.OBrasilingressounosculoXXIcomoineditismodapublicao da Estratgia
Nacional de Defesa (END). Contudo, tantoa END como a Poltica
Nacional de Defesa (PND) demandam umavano nas suas formulaes
metodolgicas e arcabouos tericosque expressem objetivos precisos
com efeitos desejados claros
epermitamumplanejamentopragmticosobrecomoempregar,articulada e
objetivamente, todas as expresses do poder nacional,frente s ameaas
contemporneas defesa do Estado e em arenasque sobrepem o paradigma
territorial. necessria uma
formulaorefinadaeobjetivaparaaformaodosguerreirosbrasileiros,mormente
a relacionada aos setores estratgicos elegidos, de
modoaprepar-losparacombatesqueestoalmdocarterfsicoecontrainimigosquenonecessariamentevestemuniformesouempunham
bandeiras.UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS
ESTRATGICOS48Dessa forma, de fundamental importncia continuar
refletindosobre a atualidade dos preceitos contidos nas estratgias
de
empregodopodermilitareastransformaeshistricasnosaspectosconceituais
sobre a interao entre a poltica, a guerra e os guerreiros,a fim de
possuir documentos doutrinrios contextualizados com anossa
contemporaneidade.REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS ESTRATGICOSED. N
5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201449BIBLIOGRAFIAANDERSON,B.Comunidadesimaginadas:reflexessobreaorigemeadifuso
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ESTUDOS ESTRATGICOSED. N 5VOL. I JAN-JUN 2013 /JUL-DEZ 2013/JAN-JUN
201451A REPBLICA POPULAR DA CHINA E A ORDEM GLOBAL:NOTAS SOBRE A
POLTICA EXTERNA CHINESA CONTEMPORNEAEM FACE DA HEGEMONIA
NORTE-AMERICANAAndr Peanha Murat de
Sousa1RESUMOOartigovisa,emlinhasgerais,aexplicarasprincipaisestratgiasqueestruturamapolticaexternacontemporneadaRepblicaPopulardaChina.Maisespecificamente,buscacompreenderocomportamentodosldereschinesesemfacedahegemonia
dos Estados Unidos da Amrica (EUA), indagando o porquda China no se
utilizar de mecanismos de balanceamento2,
apesardesuaexplcitainsatisfaoacercadadisparidadedeforasemdiversos
espaos institucionais internacionais. Atravs da anlise dediversas
fontes bibliogrficas, chegamos concluso de que a Chinamantm suas
diretrizes de poltica externa diretamente relacionadasquilo que ela
considera como a base de seu atual recurso de poder,qual seja: a
preservao do desenvolvimento de uma fora nacionalabrangente ou
sociedade integralmente em ascenso, enquanto basede sua
legitimidade soberana e recurso de poder
externo.PalavrasChaves:China,EstadosUnidos,Balanceamento,Ordem
Internacional, Hegemonia.1 Graduado em Comunicao Social, com
habilitao para Jornalismo. e em
CinciasSociais,peloCentrodePesquisaeDocumentaodeHistriaContemporneadoBrasil,CPDOC/FGV,comnfaseemHistriaPoltica.EspecialistaemHistriadasRelaes
Internacionais, pela UERJ, e coordenador editorial e diagramador do
JornalInformativo do Ncleo de Estudos Internacionais
Brasil-Argentina (infoNEIBA).UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSEINSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATGICOS52Introduo: Perspectivas
tericasMuito tem sido dito e especulado sobre a (re)emergncia
daRepblica Popular da China (RPC) e suas respectivas implicaes
nadistribuio de poder mundial. A partir de consideraes
neorrealistas,as quais observam o sistema interestatal atravs da
distribuio depoder e das restries derivadas que se apresentam a
cada pas, aascenso de novos atores implica reajuste de atitudes
para os
demaisintegrantesdeumsistemadeEstados,anrquicoemultipolar,conquanto
altamente
hierarquizado.Emumaordeminternacionalliberal,institucionalmentedominada
pelos Estados Unidos da Amrica3 (HURREL, 2008; FRANK,2005; WALTZ,
1979), no causa surpresa que o comportamento depases de segunda
grandeza seja objeto de diversas anlises,
que,porsuavez,atinjamvariadasconcluses.Forassistmicassocruciais;porm,hmuitomaisfatoreseestratgiasdepolticasexternaseinternas,nasrelaesinternacionais,doqueateorianeorrealista
pode prever. Deste modo, faz-se necessrio, no
somenteumaanliseprecisa,mastambmodesenvolvimentodenovasabordagens,quereflitamsobreosacontecimentosdemaiorexpresso
nos Estados
analisados.2Resistnciaativaoucontraposio,pormeiodeengajamentodiretooudeumajuno
de foras.3 Hurrel (2008) sustenta que o papel norte-americano de
ordenador da hierarquiafoi formalizado atravs dos direitos e
deveres especiais que o referido pas possuicomo membro do Conselho
de Segurana das Naes Unidas e, principalmente,
nasestruturasprivilegiadasdevotaodoFundoMonetrioInternacionaledoBancoMundial.HURREL,Andrews,LIMA,MariaReginaSoaresde,HIRST,Monica,MACFARLANE,
Neil, NARLIKAR, Amrita, FOOT, Rosemary. Os Brics e a Ordem
Global.Rio de Janeiro, FGV, 2009. p.25Paralelamente ao
neorrealismo, outra linha terica enxerga
oressurgimentodeumanovarazodesistema,queestariasendopratica