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RESSALVA Atendendo solicitação do(a) autor(a), o texto completo desta Tese será disponibilizado somente a partir de 27/05/2021.
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RESSALVA · Lísias uses interesting tools such as metafiction, sarcasm, social networks and mashup, reconstructing the mirror that is autofiction, doing a kind of double performance

Aug 24, 2021

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RESSALVA

Atendendo solicitação do(a)

autor(a), o texto completo desta Tese

será disponibilizado somente a partir

de 27/05/2021.

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UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

Faculdade de Ciências e Letras

Campus de Araraquara - SP

LUÍS CLÁUDIO FERREIRA SILVA

O ATO PERFORMÁTICO-CÍNICO: RICARDO

LÍSIAS E UMA NOVA AUTOFICÇÃO

ARARAQUARA

2019

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LUÍS CLÁUDIO FERREIRA SILVA

O ATO PERFORMÁTICO-CÍNICO: RICARDO

LÍSIAS E UMA NOVA AUTOFICÇÃO

Tese de Doutorado, apresentado ao Programa de

Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade

de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, como

requisito para obtenção do título de Doutor em

Estudos Literários.

Linha de pesquisa: Teorias e Crítica da Narrativa

Orientadora: Prof.ª Drª. Juliana Santini

ARARAQUARA

2019

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Ficha catalográfica elaborada pelo sistema automatizado com os

dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Silva, Luis Cláudio Ferreira

O ato performático-cínico: Ricardo Lísias e uma nova autoficção / Luis Cláudio Ferreira Silva — 2019

158 f.

Tese (Doutorado em Estudos Literários) — Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Ciências e Letras (Campus Araraquara)

Orientador: Juliana Santini

1. Lísias, Ricardo. 2. Autoficção. 3. Literatura Contemporânea. 4. Performance. 5. Campo Literário. I. Título.

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LUÍS CLÁUDIO FEREIRA SILVA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Estudos Literários da Faculdade de

Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como

requisito para obtenção do título de Doutor em

Estudos Literários.

Linha de pesquisa: Teorias e Crítica da narrativa

Orientadora: Prof.ª Drª. Juliana Santini

Data da defesa: 27/05/2019

MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:

Presidente e Orientador: Prof.ª Drª. Juliana Santini

Universidade Estadual Paulista – UNESP- FCLAr

Membro Titular: Prof.ª Drª. Natália Corrêa Porto Fadel Barcellos

Universidade Estadual Paulista – UNESP- FCLAr

Membro Titular: Prof.ª Drª. Sylvia Helena Telarolli de Almeida Leite

Universidade Estadual Paulista – UNESP- FCLAr

Membro Titular: Prof.ª Drª. Marisa Corrêa Silva

Universidade Estadual de Maringá - UEM

Membro Titular: Prof.ª Dr. Fábio Lucas Pierini

Universidade Estadual de Maringá - UEM

Local: Universidade Estadual Paulista

Faculdade de Ciências e Letras

UNESP – Campus de Araraquara

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Àqueles que, apesar de todas as adversidades, sempre acreditaram que eu seria capaz de

atingir meus objetivos. Aos meus pais que tanto lutaram para que eu tivesse acesso à

educação e por ela pudesse, mesmo sendo pobre, contestar o sistema. Aos meus antepassados,

que me fizeram quem sou. Esses que enfrentaram odisseias: ou atravessando o mar, a bordo

de um navio sujo, para fugir da fome, ou viajando quilômetros a pé para fugir da seca, e

também da fome. Sou um pouco de todos eles!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente aos professores que participaram de minha formação, desde a

pré-escola, passando pelos ensinos fundamental e médio, chegando na universidade, tanto nos

níveis de graduação e pós-graduação. Tornei-me professor pelo exemplo desses tantos que

dedicaram a vida ao ensino. Devo tudo a eles.

Agradeço à professora Juliana Santini pela orientação e leitura exímia e atenta que fez

desse meu trabalho.

Agradeço também à banca que apontou, de maneira gentil e profissional, os problemas

e pontas soltas de minha tese, fazendo com que ela evoluísse.

Agradecimentos imensos aos amigos que compartilharam momentos importantes na

feitura desse trabalho, apurando os ouvidos para ouvir os argumentos que eu tinha para defender

essa tese e analisar se eles eram plausíveis ou não. Agradeço também aqueles que foram

companheiros ao ponto de me ouvirem e me incentivarem em momentos, que não foram

poucos, em que eu não me senti capaz de desenvolver esse trabalho, fazendo com que eu

voltasse a acreditar em minha capacidade cognitiva e psicológica de ir até o fim.

Também agradeço a todos os pesquisadores e professores que, sem mesmo saber,

colaboraram, direta ou indiretamente, para a feitura dessa presente pesquisa.

Ah, já ia me esquecendo. Agradeço à hipertensão, cólicas renais, síndrome de ansiedade,

crises de pânico, início de depressão e os mais de vinte quilos. Sem eles a minha vida acadêmica

não teria sido a mesma.

Por último e não menos importante: agradeço enormemente a todas as pessoas que

lutaram pela educação e justiça na história desse país. Também por eles é que lutamos sempre.

E sempre seremos resistência.

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“Apesar de me faltarem alguns anos para os 40, já vivi o suicídio de um

grande amigo, um divórcio cuja crueldade roubou-me a pele e um par

de cerimônias de entrega de prêmios literários. As três circunstâncias

carregam o explosivo potencial de revelar a verdade. Todas precisam

virar literatura, portanto”.

Ricardo Lísias, 2011.

“Você acredita que uma única verdade pode tornar real uma ficção

inteira? Ah, você é um homem muito ingênuo”.

José Eduardo Agualusa, 2017.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a produção autoficcional de Ricardo Lísias,

dando ênfase aos dois últimos romances, desse subgênero, produzidos pelo autor, a saber,

Delegado Tobias (2015) e Inquérito policial: família Tobias (2016), sem perder de vista os dois

anteriores: O céu dos suicidas (2012) e Divórcio (2013). A hipótese é a de que haveria uma

evolução/transformação no seu fazer autoficcional, com os dois livros mais recentes marcando

essa mudança, com elementos que não apareciam nas produções anteriores – nem na de outros

autores. A autoficção, bem como o autor em questão, é um gênero por si só polêmico e

controverso, e que muitas vezes é apontado como módo fácil de fazer literatura. Leyla Perrone-

Moisés, por exemplo, é uma das vozes que discordam dessa afirmação. Cunhado na França em

1977 por Serge Doubrovsky, o subgênero, sem nenhuma conotação depreciativa no prefixo, já

recebeu inúmeras abordagens de diversos estudiosos tanto na França como no resto do mundo,

inclusive no Brasil. Produzido em grande quantidade neste século, chegou a incomodar o

escritor Daniel Galera que disse, em 2013, esperar que o gênero fosse passageiro. Ao contrário

das perspectivas, a autoficção se firmou e se reinventou, sobretudo pelas produções de Ricardo

Lísias. Por isso, também apresentarei uma perspectiva histórica do termo para ver a mudança

na sua compreensão, trazendo autores como, além dos já citados, Philippe Lejeune e Vincent

Colonna. Como a autoficção sempre aponta para um duplo, acredito ser importante uma análise

além da intratextual: a extratextual. Por isso, trago os estudos de Bourdieu sobre o campo

literário para o debate, tentando analisar o percurso de Lísias e o reconhecimento de sua obra

no campo, passando por discussões sobre o mercado editoral e espetacularização. O escritor

também atua como um agente plural dentro do campo literário, pois também é pesquisador,

tradutor e participou de grandes prêmios literários. Sua “costura” foi extremamemente

importante para a sua consolidção nesse campo, sobretudo pela hipótese que apresento: Lísias

constrói uma postura autoficcional também em suas entrevistas. Seu ato performático, todavia,

usa de um elemento importante: o cinismo. Discutirei essas questões a partir do trabalho de

Peter Sloterdjik para falar de cinismo dentro da performance na obra lisiana. Nessa

reconfiguração da autoficção, Lísias utilisa ferramentas interessantes como a metaficção, o

sarcasmo, redes sociais e o mashup, reconstruindo esse espelho enviesado que é a autoficção,

fazendo uma espécie de dupla performance e colaborando para embaralhar ainda mais as

fronteiras entre o real e o ficcional.

Palavras-Chave: Ricardo Lísias; Campo Literário; Autoficção; Performance.

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ABSTRACT

The purpose of this study is to reflect on the autofictional production of Ricardo Lísias,

especially in the last two novels writed by him: Delegado Tobias (2015) and Inquérito policial:

família Tobias (2016), not forgetting the two previous ones: O céu dos suicídas (2012) and

Divórcio (2013). The hypothesis is: there would be an evolution / transformation in the way of

the autoficction: in two most recent books would sign this change, by using some elements

which were not used in the other productions – in those of the others authors either. Autofiction

is a genre, as well as Lísias, controversial that is sometimes understood as an easy way to make

literature. Leyla Perrone-Moisés, who occupies a theoretical place, is, for example, one of the

scientists who does not agree with negative statements about the autofiction. Created in France

in 1977 by Serge Doubrovsky, its has alredy been studied by a large number of scientists, either

in France or elsewhere – even in Brazil. Produced in large quantities in this century, the

autofiction has embarrased the writer Daniel Galera, who said, in 2013, hopes that autofiction

will disapeare soon. In contrast to these perspectives, its has stabilized and recovered, especially

for Ricardo Lísias new novels. For this, I will also present a historical perspective of the therm

to see changes in its understanding, inviting authors like, in addition to those already mentioned,

Philippe Lejeune and Vincent Colonna. As autofiction always presupposes a double, I believe

that analysis is necessary because this extra-textual one. For this, I will also discuss Bordieu’s

work on the literaty field, analyzing Lísias’ career and the recognition of his work in this field,

including discussions on spectacularization and the book and publishing market. The writer

plays the role of a plural agent in the field because he is also a researcher, translator and has

may indications for important literary awards in Brasil. His articulation was extermely

important for him to consolidate in this cultural field, especially for the hypothesis that I present:

the autoficcion made by Lísias is also present in his interviews. However, his performative role

uses an important element: cynicism. I will discuss theses questions form Peter Sloterdjik’s

book to talk about cynicism in performance. In this reconfiguration of autofiction. Lísias uses

interesting tools such as metafiction, sarcasm, social networks and mashup, reconstructing the

mirror that is autofiction, doing a kind of double performance and collaborating to further blend

the boundaries between the real and the fictional.

Keyword: Ricardo Lísias; Literary field; Autofiction; Performance.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Romances autoficcionais de Ricardo Lísias 37

Tabela 2 Entre gêneros 48

Tabela 3 Formas de Autoficção 49

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 12

2. CAMINHOS DA AUTOFICÇÃO: RICARDO LÍSIAS E SUA ASSINATURA

AUTOFICCIONAL 28

2.1. A assinatura autoficcional de Ricardo Lísias 28

2.1.1. Conexão entre os romances 29

2.1.2. Autoficção x metaficção 31

2.1.3. Incorporação de matérias, notícias e atividades em redes sociais 34

2.2. Conceitos de autoficção 38

2.2.1. O que pensam os escritores sobre autoficção 53

3. UM AGENTE PLURAL: RICARDO LÍSIAS E O CAMPO LITERÁRIO 58

3.1. A noção de campo de Pierre Bourdieu 58

3.2. Algumas considerações sobre o mercado editorial brasileiro e os agentes do campo no

Brasil ao longo da história 65

3.3. Ricardo Lísias no campo literário: um estudo de caso 80

3.4. Autoficção e espetacularização 87

4. LÍSIAS: CINISMO E PERFORMANCE 100

4.1. Cinismo: considerações teóricas 100

4.2. Considerações sobre o conceito de performance 105

4.3. Cinismo e performance em Delegado Tobias 110

4.4. Cinismo e performace em Inquérito policial: família Tobias 124

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 134

REFERÊNCIAS 137

ANEXOS 150

ANEXO A 151

ANEXO B 156

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1. INTRODUÇÃO

Ricardo Lísias é, atualmente, um dos escritores em maior evidência midiática no cenário

literário nacional. E seu sucesso não se dá apenas por sua figura e postura polêmicas,

características que já lhe renderam discussões acaloradas e alguns processos, e sim porque faz

uma literatura desafiadora. Sua figura “multifacetada” é deveras interessante, tanto para sua

inserção no campo artístico quanto para seu fazer literário que perpassa diversas plataformas.

Formado em Letras pela UNICAMP (tendo cursado também Mestrado e Doutorado em

literatura pela USP), estreou na literatura em 1999 quando ainda era acadêmico. Além de ser

escritor e ter estudado disciplinas referentes à escrita, Lísias também é tradutor. Para chegarmos

nas questões sobre autoficção e sua inserção na literatura contemporânea (para que daí falemos

sobre sua maneira de trabalhar o gênero), é necessário um panorama para entender como a obra

de Lísias se constrói em um âmbito geral.

Ao longo de sua carreira, o escritor paulistano publicou os livros de contos Cobertor de

Estrelas (1999) pela editora Rocco; Capuz (2001) e Dos nervos (2004), ambos pela Hedra;

Duas praças (2005) e Ana O. e outras histórias (2007), ambos pela Globo e Concentração e

outros contos (2015), pela Alfaguara. Publicou também os romances O livro dos Mandarins

(2009), O céu dos suicidas (2012), Divórcio (2013) e A vista particular (2016), todos pela

Alfaguara; Inquérito policial: delegado Tobias (2016) pela Lote 42 e Diário da cadeira (2017),

sob o pseudônimo de Eduardo Cunha, pela Record.

Mais recentemente, o autor se lançou a fazer obras que transitam entre o ficcional, o real

e o ensaístico. Em 2018, publicou pela editora Oficina o livro Sem título: uma performance

contra Sérgio Moro. O livro em questão discute a operação da Polícia Federal, chefiada pelo

juiz paranaense, que conduziu o ex-presidente Lula à prisão.

Ainda na temática política, Lísias vem publicando, desde novembro de 2018, várias

versões da série Diário da catástrofe, projeto que também se encaixa nas definições do anterior.

Agora, o escritor paulistano reescreve os textos a cada série de acontecimentos dentro do

governo de Jair Bolsonaro. Compreende, até o momento da escrita desta tese, os volumes

Transição e A pulsão de morte no poder.

Quanto aos prêmios literários (elemento importante dentro do contexto contemporâneo

e do qual falaremos mais no capítulo “Um agente plural: Ricardo Lísias e o campo literário”),

em 2008, foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria contos com Anna O. e outras novelas

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(2007). Em 2010, voltou a ser finalista, agora do Prêmio São Paulo com o romance O livro dos

mandarins (2009). Dois anos depois, foi eleito pela revista Granta como um dos vinte novos

escritores da literatura brasileira. No mesmo ano, venceu o Prêmio da Associação Paulista dos

Críticos de Arte com o romance O céu dos suicidas (2012).

Percebe-se, então, que o autor tem uma carreira rica com duas décadas de produção, o

que justificaria, por si só, uma tese mais detalhada sobre sua obra. Mas, quando se fala em

autoficção, percebe-se que seus textos dão um “salto”, pois envolve uma série de elementos não

tão comuns ao gênero. Contando com quatro romances autoficcionais, Lísias é o autor brasileiro

com o maior número de textos dentro desse subgênero romanesco. Todos eles, sobretudo os

dois últimos, causaram inúmeras reações da crítica e do público leitor.

O presente trabalho se justifica na medida em que se faz necessário um olhar mais

detalhado sobre esses seus romances autoficcionais, no anseio de refletir sobre a construção de

um texto que incorpora notícias de jornal, postagens de redes sociais, processos da vida real

motivados por criações literárias etc. Minha hipótese é de que Lísias constrói uma nova

autoficção no Brasil, utilizando-se de um ato performático com “pitadas” de cinismo.

Outro objetivo dessa tese é a de refletir sobre o campo literário a partir das considerações

de Pierre Bourdieu. Visto que o estudioso francês afirma que há um jogo de forças de vários

agentes nesse campo, faz-se necessário entender por quais caminhos Lísias constrói sua imagem

de escritor e consolida sua obra no campo. Na minha compreensão, a autoficção, que por si só

já aponta para um elemento externo à obra, de Lísias é estendida para “fora” da obra, sobretudo

nos dois últimos romances autoficcionais: Delegado Tobias (2015) e Inquérito policial: família

Tobias (2016).

Até porque, dentro do quadro contemporâneo que cada vez mais se afirma como plural1,

Lísias parece ter claro um projeto literário. Projeto que, segundo o próprio autor, tem como um

dos principais motes o incômodo. Em entrevista cedida ao projeto Conexões, do Itaú Cultural,

durante a oitava edição do Encontro Internacional Conexões, realizado em 2015, Lísias fala

sobre o tema.

Eu pretendo fazer uma literatura que seja algo relevante para o nosso próprio

tempo. Eu não tenho compromisso com outros tempos, com nada que vá além

de uma procura relevante de uma literatura que não seja inofensiva. Eu

pretendo produzir discursos que sejam discursos que tenham algum tipo de

lugar de intervenção no mundo contemporâneo. E é esse o meu compromisso,

1 Há vários teóricos que se dedicam a estudar a literatura contemporânea, afirmando que, nos dias atuais, há uma

pluralidade de temas sem que nenhum seja hegemônico. Para saber mais sobre esse quadro, com exemplos dos

gêneros e estilos diferentes, ver o Anexo 1 desta tese.

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não é um compromisso evidentemente com o mercado [...] Eu estou

procurando através da linguagem literária, de meios estéticos, produzir objetos

que sejam relevantes, que sejam incômodos, que sejam difíceis e que

signifiquem alguma coisa para o nosso tempo. Enfim, esse é o meu primeiro

compromisso (LÍSIAS, 2015).

De fato, suas obras geralmente causam um incômodo no leitor e de maneira alguma sua

literatura pode ser classificada como “inofensiva”. A maior parte de seus livros teve boa

repercussão na mídia por tratar de temas polêmicos ou tabus. Um dos mais recentes, A vista

particular (2016), tem sua narrativa quase toda ambientada no morro Pavão-Pavãozinho no Rio

de Janeiro.

O personagem principal, o artista visual José de Arariboia, decide fazer uma exposição

no morro, e os objetos de arte são as próprias casas e moradores locais. O sucesso é tão

estrondoso que o Museu do Amanhã (nome dado ao trabalho conjunto de exposição) vai parar

nas Olimpíadas, no instituto Inhotim e depois na Bienal de Veneza. O romance discute os

limites da arte e do espetáculo, a espetacularização da pobreza, turismo “negro”, o

distanciamento da realidade, entre outros. Em entrevista cedida a Alexandre Lucchese do jornal

Zero Hora, Lísias fala um pouco sobre de onde tirou a ideia para o romance.

A ideia para esse livro nasceu quando eu estava hospedado em um hotel e vi

um ônibus sair para levar turistas para uma favela. Há também passeios assim

na fronteira entre México e Estados Unidos, local onde muitas pessoas

morrem tentando atravessá-la. Esse tipo de turismo bizarro foi se

naturalizando com o tempo. Hoje, as coisas mais absurdas são tomadas como

naturais. Isso também gera uma crise de representação. Parece que as artes

visuais e a literatura se esgotaram diante desse contexto – comenta Lísias

(LUCCHESE, 2017).

Sua obra é tão polêmica que chegou a ir para a justiça. Em 2015, o autor lançou um

livro, que ele mesmo intitula de “e-folhetim”, chamado Delegado Tobias. É uma série de cinco

e-books publicados pela e-galaxia e que não possuem versão impressa. Trata-se da história de

um escritor chamado Ricardo Lísias que descobre haver um outro escritor também chamado

Ricardo Lísias. Um acusa o outro de roubar suas ideias literárias. Um deles é morto e o Lísias

que sobrou é julgado e condenado à prisão.

Várias figuras públicas aparecem no livro, como Pedro Meira Monteiro, professor da

Universidade de Princeton, e a criticista literária Leyla Perrone-Moysés. Ambos são chamados

a depor a favor do personagem principal. Lísias é preso e os autos do processo constam no livro.

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O delegado que conduz o caso acaba se tornando o responsável pela continuidade da narrativa

uma vez que o autor está preso (ou morto).

O problema é que a história chegou à justiça, e o Ministério Público não entendeu a

“brincadeira” autoficcional. Abriu inquérito contra o autor com a alegação de falsificação de

documentos. Em entrevista concedida a Artur Rodrigues da Folha de São Paulo, Lísias se

defendeu dizendo “Eu não falsifiquei o documento, eu inventei o documento 2[...] A literatura

foi para a página policial. Agora, virou realidade” (RODRIGUES, 2015).

Professores e especialistas foram chamados a depor e conseguiram provar ao Ministério

Público que se tratava de uma obra de ficção, especificamente uma obra autoficcional, e

explicaram o termo e suas derivações. A Polícia Federal já havia afirmado que não julga

escritores por suas obras de ficção, mas o problema é que houve um recorte da ficção, não

analisando a obra como um todo. Sequer perceberam que o juiz nomeado no documento de

condenação do personagem Lísias não existe e que seu livro era vendido pelos sites como uma

obra ficcional:

“Essa situação foi absurda e hilária. Por conta dessa confusão o e-book vendeu

três vezes mais. Gosto mesmo é de inventar coisas, prefiro contestar o conceito

de ficção. Acredito que a arte é um objeto de denúncia muito forte”, disse em

evento na Biblioteca de São Paulo. “A justiça arquivou o pedido afirmando

que não é decisão dela decidir sobre o formato de uma obra de arte”. (LÍSIAS,

2016).

No fim, o caso foi arquivado pelo Ministério Público Federal. Márcio Schusterschitz da

Silva Araújo, juiz designado para o caso, afirmou que não se deve confundir falsificação e

ficção, dizendo que a obra de Lísias “é claramente fictícia”. Segundo ele não há nada a dizer

no que tange à fé pública, “pública pela construção de documento com aproximação da

realidade, mas para fins estritamente literários e sem relevância para qualquer relação jurídica

em consideração” (ARAÚJO, 2015).

As postagens no Facebook feitas pelo autor também foram consideradas como uma

extensão da obra autoficcional e, felizmente, nada mais aconteceu. Muitas pessoas podem

mesmo confundir os limites de realidade e ficção, sobretudo em um mundo com redes sociais.

Lísias é um desses escritores que estão em evidência na internet. Possui um perfil no Facebook,

como a maioria dos escritores brasileiros do século XXI, pelo qual divulga seus livros,

2 Na verdade, o autor inventou o conteúdo do documento. Sua forma já existe e é “emprestada” da realidade

para a ficção.

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posiciona-se politicamente, comenta sobre seus projetos e outros assuntos. Além de O delegado

Tobias, Lísias possui outras obras que podem ser lidas como autoficcionais. Escreveu, por

exemplo, o romance O céu dos suicidas (2011) sobre sua recuperação após o suicídio de um

amigo muito próximo.

Mas foi Divórcio (2013) o livro que mais lhe deu repercussão. O personagem principal

passa por uma fase depressiva após o término de seu curto casamento. O pivô da separação foi

um diário mantido por sua mulher que o narrador-protagonista teria encontrado em seu quarto.

Diário cujo conteúdo apontava para uma falta de afeto de sua mulher para com seu marido, bem

como uma suposta traição: “No começo do segundo semestre de 2011, tive uma espécie de

incidente biográfico que causou o meu divórcio, que não saiu na revista Caras, mas ficou

famoso” (RASCUNHO, 2012).

O primeiro indício de que se tratava de um romance autoficcional se dá quando aparece

o primeiro excerto do diário – cujos trechos, devidamente selecionados, serão mostrados até o

final do romance – no qual descobrimos o nome do narrador-protagonista: Ricardo, mesmo

nome do autor do livro:

NY, 14 de julho de 2011 (no hotel Riverside Tower)

Apesar de andar muito, o Ricardo é legal. Ele é uma boa companhia: é

engraçado e de vez em quando inteligente. É que as vezes (sic) nos intervalos

das caminhadas que ele quer fazer o tempo inteiro ele diz coisas inteligentes.

Mas eu também não entendo: ele se recusa a ver uma peça da Broadway! Os

grandes atores do mundo passaram pela Broadway, mas não adianta dizer isso.

Ele não dá atenção. Mas a viagem está servindo para me mostrar que apesar

disso eu casei com o cara certo para mim. Só que apaixonada eu não estou

(LÍSIAS, 2013, p.10).

O fato de tanto o narrador-personagem quanto o autor do romance terem o mesmo nome

já aponta para que o livro possa ser uma obra autoficcional, mas é aconselhável olhar para

outros elementos antes de afirmar de que se trata de um exemplar do gênero. Ao passar das

páginas, vemos outras referências à vida do autor manifestadas na vida do personagem. O

protagonista reflete sobre os possíveis problemas de um romance que teria escrito – ou seja, ele

também é escritor – e as possíveis críticas em relação a esse texto. O nome do romance: O céu

dos suicidas, mesmo título de um livro publicado por Ricardo Lísias:

Um ótimo crítico apontaria como um possível problema do meu romance O

céu dos suicidas, em texto generosamente elogioso, a bruxa variação da

sensação de raiva para a de alegria. Mas é assim mesmo que acontece. Ele

nunca viveu um trauma. Outra vez, comecei a achar que estava dentro de um

livro meu. Será que escrevi essa merda toda e jamais conheci minha ex-

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mulher? Esse diário nunca existiu. No Google, porém, Lars von Trier continua

persona non grata (LÍSIAS, 2013, p. 199).

Mais à frente, o narrador fala inclusive do ato de escrita do próprio romance,

evidenciando ainda mais seu caráter autoficcional:

A primeira vez que rascunhei esse fragmento foi no fim de janeiro de 2012,

quando esquematizei com mais profundidade o romance. Estou escrevendo-o

no dia 26 de agosto, um domingo. Faz mais de um ano que saí de casa. Nos

primeiros seis meses, muitos jornalistas se aproximaram de mim. Almocei

com alguns e tomei café com outros. Vários me procuravam semanalmente.

Achei que teria novos amigos (LÍSIAS, 2013, p. 220).

Se formos à busca de fatos da vida de Ricardo Lísias, veremos que ele foi realmente

casado com uma jornalista e que seu casamento durou poucas semanas. Assim como o

protagonista de seu romance, o autor, após se divorciar por conta de uma suposta traição, acaba

encontrando na corrida um meio de se recuperar do fracasso marital. Encontra também na

literatura, força para sair da dor do fim do relacionamento:

Depois de circular dez dias na internet, “Meus três Marcelos” recebeu duas

propostas de publicação. Aceitei uma e ao mesmo tempo resolvi me fechar

para terminar o romance que estava escrevendo sobre o suicídio de um grande

amigo. Lembro-me de que estava forte (LÍSIAS, 2013, p. 213).

. Há inúmeras matérias e resenhas em vários jornais e revistas como O Globo, Folha de

São Paulo, Piauí – onde ele publicou o conto que seria a gênese do romance Divórcio (2013) –

e outros, bem como em portais especializados em literatura como o Publish News, Homo

Literatus, Rascunho, Suplemento Pernambuco etc.

Recentemente, uma matéria sobre o escritor foi publicada no site da revista Veja, e

novamente por uma polêmica. Em 2017, Lísias publicara um livro chamado Diário da cadeia:

com trechos inéditos da obra Impeachment, sob o pseudônimo de Eduardo Cunha. O problema

é que o ex-senador, o Eduardo Cunha da vida real, está preso e disse à imprensa que estava

escrevendo um livro com o nome de Impeachment, no qual ele fazia uma correlação entre os

impedimentos de Fernando Collor de Melo e Dilma Rousseff. O imbróglio aumentou ainda

mais porque ninguém sabia quem era o escritor. O editor Carlos Andreazza, do grupo editorial

Record, não revelava o nome do escritor e sempre usava o pronome feminino “ela” para se

referir à autoria da obra, fato que levou muitos a imaginarem que se tratasse de uma mulher.

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Porém, após processo do verdadeiro Eduardo Cunha, o mistério público exigiu que a

editora revelasse o nome do escritor: era Ricardo Lísias. Foi a vez de Cunha processar o escritor

paulistano, embora sem nenhum sucesso – Lísias venceu em todas as instâncias. Novamente, o

mesmo problema: entender e definir os limites da ficção. O ministério público, já “acostumado”

com a obra desafiadora de Lísias, decidiu por tirar a suspensão de venda do romance:

Em sua decisão derrubando a limitar, o desembargador disse que se trata de

“uma obra literária de ficção, a qual tem como pano de fundo a realidade

política brasileira. Em uma análise preliminar, conclui-se que não houve

anonimato, vedado pela Constituição Federal, e sim a utilização de um

pseudônimo em uma obra ficcional” (VEJA, 2017).

No programa Conversa com Bial, da Rede Globo, Lísias se defende das acusações

dizendo que a própria palavra “pseudônimo”, colocada logo após “Eduardo Cunha” na capa do

livro, já resolveria a dúvida sobre a autoria. Mesmo que não se soubesse quem escrevera a obra,

a palavra “pseudônimo” poderia remeter a todo mundo, menos a Eduardo Cunha. Segundo ele

também, tudo isso fazia parte de um projeto no qual a própria capa não seria um paratexto e

sim já pertenceria à obra de ficção em si. Se nesse caso Lísias não se serve da autoficção, seu

livro Diário da cadeia (2017) se insere também, como os outros, na discussão que envolve os

limites entre realidade e ficção.

Em entrevista concedida a Carla Castellotti e publicada no site Vice, Lísias fala de sua

obra e das polêmicas que ela costuma causar. Afirmou que, um mês depois da publicação de

Divórcio (2013), foi xingado por um corredor que cruzou com ele no Parque Ibirapuera. O

romance foi polêmico e causou várias dessas reações. Segundo o próprio autor, até o momento

da entrevista, ele recebia quatro ou cinco mensagens sobre o livro todos os dias no seu perfil do

Facebook.

Em uma parte da conversa, na qual se fala sobre literatura acomodada e literatura

incômoda, Lísias dá sua opinião em relação à sua obra e a de alguns outros escritores:

Agora parece que está claro [que eu incomodo]. Eu faço de propósito. Não

fazia de propósito antes, mas agora faço. Não imaginava que podia incomodar

tanto. Tem uma escritora chamada Elvira Vigna, que é (sic) uma escritora

muito efetiva, incômoda, uma escritora muito potente. O Nuno Ramos...

Existem pessoas de resistência. Existem lugares que resistem, não existe um

conjunto (LÍSIAS, 2015).

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Divórcio (2013) incomodou muitas estruturas. Parece que, a partir desse ponto, o autor

se dá conta de que consegue incomodar os establishments. Creio que essa obra é um divisor de

águas na sua produção literária, que passa a ser cada vez mais polêmica, desafiadora e

incômoda.

Lísias reclama ainda sobre o posicionamento do leitor em relação à ficção – que abre

também uma brecha para pensarmos sobre a autoficção. Ele não concorda que as pessoas leiam

acreditando sempre em tudo o que está escrito:

As pessoas precisam dar uma chance para a arte. É impressionante, elas

acreditam em tudo. As pessoas sempre irão ficar fazendo a conta de quanto

daquilo foi escrito é verdade. Por isso que eu continuo dizendo que é tudo

verdade. A pergunta não se coloca. Está tudo escrito, a arte tem sua própria

verdade (LÍSIAS, 2015).

As palavras de Lísias nos levam a algumas reflexões sobre a autoficção. Primeiramente,

é impossível “proibir” o leitor de fazer associações de elementos da obra com a vida pessoal do

autor. Em alguns livros, a referência pode ser mais velada, em outros, mais clara, porém a

referência ainda estará lá, porque senão provavelmente não se trataria de autoficção – veremos

um pouco mais sobre isso adiante. Entretanto, fazer essa “conta” da qual ele fala e que os

leitores fazem é uma atitude indigesta. Tentar saber exatamente o que é ficcional e o que

realmente aconteceu é perder, destarte, o poder do discurso autoficcional.

Na academia, o autor já é estudado há algum tempo, sobretudo no que tange às suas

obras autoficcionais. Entre os artigos científicos e capítulos de livro já publicados, destaque

para os textos “Ricardo Lísias: versões de autor”, escrito por Luciene Azevedo e publicado em

2013 no livro O futuro pelo retrovisor: inquietudes da literatura brasileira contemporânea,

editado pela Rocco e organizado pelas pesquisadoras Stefania Chiarelli, Giovana Dealtry e

Paloma Vidal, além de “Pacto com o diabo: Divórcio, de Ricardo Lísias, como um manual para

compreender a autoficção contemporânea”, escrito por William Vieira e publicado em 2017 na

revista Estudos de literatura brasileira contemporânea.

Destaque também para um trabalho de maior fôlego: a dissertação Reflexos do eu:

Ricardo Lísias e a publicização do sujeito autor na literatura brasileira contemporânea, escrita

por Taíssi Alessandra Cardoso da Silva e defendida em 2016 no Programa de Pós-Graduação

em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul.

Em relação ao texto de Azevedo, a autora chama a atenção para um fato interessante e

irônico em relação à pesquisadora Leyla Perrone-Moisés no que diz respeito a sua opinião sobre

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a obra de Ricardo Lísias. Perrone-Moisés, no posfácio de Ana O. e outras histórias (2007),

reconhece que o autor é um dos melhores escritores da nova geração brasileira. Porém, no

mesmo texto, um pouco mais à frente, ela afirma que a qualidade do escritor paulistano se dá

justamente na não incorporação de dados biográficos à sua obra, pois esse seria o princípio

básico de toda boa ficção.

Evidentemente que não havia como imaginar que o escritor escreveria pelo menos

quatro livros, nos anos subsequentes, em que as questões biográficas estariam tão à tona.

Contudo, a própria autora mudou seu posicionamento em relação ao que ela mesma chama de

“boa ficção”. No seu mais recente livro, Mutações da literatura no século XXI (2016), Leyla

Perrone-Moisés sai em defesa da autoficção.

Azevedo (2013) ainda chama a atenção para a mudança na construção das personagens

de Lísias. Segundo ela, desde os contos, já há detalhes autobiográficos, porém de maneira

discreta e não tão recorrente. A partir de O céu dos suicidas (2012), a centralidade que a

primeira pessoa assume é evidente e, assim, norteia praticamente toda a sua produção

subsequente.

Porém, há alguns indícios dessa mudança em textos “extraoficiais”, sobretudo em

relação ao suicido do amigo André:

Alguns desses textos já foram publicados. Sobre a rapidez (2011b) e

Fisiologia da memória (2011c) foram acolhidos pelo Diário de Pernambuco.

Em ambos, a menção do suicídio de André aparece integrando à trama:

“Quando acordei, fui chamar o André para tomar café e o flagrei cortando a

mão esquerda com um canivete... me ligaram dizendo que o André tinha se

enforcado” (Sobre a rapidez) ou “o meu amigo André iria se matar [...] a

polícia encontrou o corpo do meu amigo André, enforcado naquele lugar [...]

o André nunca mais iria aos meus lançamentos” (Fisiologia da memória).

(AZEVEDO, 2013, p. 93).

Essa mudança ficou visível também nas produções independentes, campo

eventualmente esquecido, mas que Azevedo considera importante. Lísias fez versões artesanais

de alguns textos e enviou-os por correio a alguns destinatários pré-escolhidos. Fisiologia da

solidão, que segundo Azevedo teve uma tiragem de oitenta exemplares, e Artes plásticas são

dois desses exemplos. Em ambos os projetos há uma marca biográfica que se acentuará cada

vez mais nos textos seguintes.

O artigo de William Vieira, “Pacto com o diabo: Divórcio, de Ricardo Lísias, como um

manual para compreender a autoficção contemporânea”, é importante por apontar estratégias

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comerciais e estruturais feitas por Lísias em seu romance mais famoso. Segundo ele, o projeto

assumido pelo escritor nesse livro difere dos outros publicados até então:

Chamar de “extraliterárias”, porém, manifestações que contribuem para um

projeto de escrita que condiciona um tipo específico de leitura parece

insuficiente no caso de Divórcio, em que a engenharia discursiva em torno da

obra tem outro nível. Lísias preparou o terreno de forma exemplar. Fez

circular por e-mail e via redes sociais um texto no qual expunha a intimação

extrajudicial enviada pelo advogado da ex-esposa com ameaças à publicação,

por parte dele, de informações sobre um diário que teria sido escrito por ela e

encontrado e copiado por ele, além de um libelo em favor da liberdade criativa

e da literatura em si (VIEIRA, 2017, p. 187).

Lísias não usa “apenas” o espaço tradicional da obra impressa. Utiliza também outros

elementos, como documentos, e-mail, publicações no Facebook etc. Isso pode ser lido como

uma estratégia comercial, usando outros elementos e espaços para divulgar a obra com

paratextos que ajudariam a inserir o leitor na trama. Contudo, Vieira acredita que esse projeto

do escritor vai além. Segundo ele, trata-se de uma estratégia que se utiliza de “espaços

escriturais”, pois faz parte de um complemento da própria obra, um projeto literário em

andamento. De minha parte, concordo com as afirmações de Vieira, esses elementos não são

extratextuais e sim intratextuais, pois tudo o que está fora do texto tradicional ainda é parte do

texto no projeto literário de Lísias.

Então, para o leitor, “o efeito dessa rede textual com as mesmas referências é o de uma

performance autoral inalienável, que permeará o romance e a voz atribuída a esse narrador-

protagonista” (VIEIRA, 2017, p. 188). Esse é um dos recursos que Lísias utiliza na construção

da sua assinatura autoficcional, que veremos no capítulo seguinte.

Em se tratando, então, de autoficção, Lísias tem marcadamente quatro romances que são

assim classificados: O céu dos suicidas (2012), Divórcio (2013), Delegado Tobias (2015) e

Inquérito policial: família Tobias (2016). Os dois primeiros apresentam um estilo mais

“tradicional” da autoficção. Os dois últimos apontam para um novo estilo autoficcional que,

muitas vezes, caçoa do próprio gênero.

Como já citado, o formato desses dois últimos livros é um tanto peculiar. Eles usam

plataformas e estruturas diferentes dos livros tradicionais e a maneira de construir a narrativa é

bem diferente. É sobre isso que falarei no primeiro capítulo, intitulado “Caminhos da

autoficção: Ricardo Lísias e sua assinatura autoficcional”.

É importante ressaltar que Lísias é um exemplo que corrobora o argumento da crítica

especializada de que a grande marca, da literatura produzida em nossos tempos, é a pluralidade.

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Ele próprio é, como eu mesmo já disse, multifacetado. Lísias, além de publicar contos e

romances, também publica ensaios, esses últimos encrustados em uma região entre o ficcional

e o real. Além disso, alterna entre obras ficcionais e autoficcionais, variando também as

plataformas, utilisando-se tanto de livros com formatos mais tradicionais quanto explorando

outras formas.

Sobre a pluralidade da literatura contemporânea, há alguns críticos que, ao se

debruçarem sobre a produção brasileira desta época, apontam que o ponto em comum, entre

todos eles, é o da convivência, aparentemente pacífica, entre os estilos e temáticas. Separei

quatro críticos para discutirmos, então, a produção literária nacional dos últimos anos e tentar

entender como eles veem essa produção.

Karl Erik Schøllhammer, em seu livro Ficção brasileira contemporânea (2009), ao

analisar a ficção produzida no país nas últimas décadas, aponta para um ponto de convergência

entre as obras: um novo realismo a partir de um ponto de vista periférico, completamente

diferente, por exemplo, do realismo histórico, do realismo de 1930 e da literatura dos anos 1960

contra a ditadura militar. Assim sendo, em sua opinião, o realismo histórico teria um

compromisso representativo, enquanto esse novo realismo faria uma espécie de questionamento

das próprias possibilidades de representar:

Dois argumentos se juntam aqui: uma escrita que tem urgência, que realmente

“urge”, que significa, segundo o Aurélio, que se faz sem demora, mas também

que é eminente, que insiste, obriga e impele, ou seja, uma escrita que se impõe

de alguma forma. Ao mesmo tempo, trata-se de uma escrita que age para “se

vingar”, o que também pode ser entendido, recuperando-se o sentido

etimológico da palavra “vingar”, como uma escrita que chega a, atinge ou

alcança seu alvo com eficiência. O essencial é observar que essa escrita se

guia por uma ambição de eficiência e pelo desejo de chegar a alcançar uma

determinada realidade, em vez se propor como uma mera pressa ou alvoroço

temporal (SCHØLLHAMMER, 2009, p. 11).

Para o teórico dinamarquês, essa escrita urgente é proeminente de nossos tempos, em

uma tentativa de chegar em uma realidade, não necessariamente uma realidade exata, tal como

ela é, como era no “realismo clássico”. Segundo suas afirmações, há um ponto de conexão entre

literatura e realidade social, sendo a produção artística a forma transformadora da realidade.

Não é mimético ao ponto de retratar objetivamente a realidade, mas se torna um realismo

referencial, de alguma forma engajado socialmente, embora fosse preferível não haver uma

preferência política. Schøllhammer cita Luiz Ruffato como um representante dessa tentativa de

reconciliar o experimentalismo com a realidade engajada.

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Ele diz que Ruffato faz uma espécie de imagem visual do pensamento na literatura, um

trunfo no esgotamento e ofuscamento imagético em uma sociedade imagética. Em Eles eram

muitos cavalos (2001), extingue-se o coletivo, explode-se a identidade em fragmentos de

diálogos entre pessoas que são intraduzíveis entre si. As pessoas não se reconhecem nas outras

nem usam a mesma variante linguística, embora falem o mesmo idioma.

Fazendo um panorama a partir dos anos 1970, o autor cita mais de duzentas obras

diferentes, mostrando esse novo realismo com a pluralidade de vertentes da produção brasileira

contemporânea. Ele cita, por exemplo, Marçal Aquino e Fernando Bonassi, que buscam uma

mistura de linguagem cinematográfica e publicitária. Ambos trabalham como roteiristas,

publicitários, teatrólogos etc. A literatura é só uma das atividades e suas linguagens, por vezes,

misturam-se.

Cita também André Sant’Anna como exemplo da apropriação da linguagem da cultura

de massa e expressões clichês. Sua obra está cheia de personagens emburrecidas e preguiçosas

e que estão reduzidas à superfície sem apresentação psicológica. Uma produção, segundo ele,

aparentada à pop art. Esses são apenas alguns dos escritores citados pelo crítico em questão,

que ainda aponta várias facetas da produção atual: interesse em romances memorialistas e

históricos mais tradicionais por conta do exaurimento do experimentalismo; literatura marginal

e a realidade de denúncia que se tornou fenômeno pop na televisão, cinema e artes em estilo

testemunhal (depoimento); no interesse pela realidade, desfaz-se a dicotomia entre ficção e não

ficção, aparecendo tipos como autobiografia fictícia, romance autobiográfico etc. Então,

mesmo apontando para um realismo, o teórico também acena para uma pluralidade, que parece

guiar o mapeamento da produção literária contemporânea.

Já Beatriz Resende (2008) diz que os estilos são variados: pode-se ter um reinvento de

um brutalismo à moda de Rubem Fonseca, uma narrativa do eu, a apropriação de elementos da

cultura de massa, metaficção historiográfica, literatura de deslocamento, fragmentação,

literatura memorialista, entre outros. Todos convivendo entre si, sem que haja um modelo

principal que deva ser seguido:

É nessa obliqüidade dos discursos anti-hegemônicos que aparecem recursos

que dão formas múltiplas à criação literária contemporânea: a apropriação

irônica, debochada mesmo, em alguns casos, de ícones do consumo; a

irreverência diante do politicamente correto; a violência explícita despida do

charme hollywoodiano; a dicção bastante pessoalizada, voltada para o

cotidiano privado; a memória individual traumatizada, seja por momentos

anteriores da vida nacional, seja pela vida particular (RESENDE, 2008, p. 20).

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Nesse quadro de pluralidade, a autoficção seria, então, apenas uma das vertentes da

literatura produzida atualmente. Um dos trabalhos mais importantes sobre a literatura

contemporânea produzida no Brasil é de Flávio Carneiro, em seu livro No país do presente,

ficção brasileira no início do século XXI (2005). O pensamento de Carneiro foge da estrutura

tradicional da história da literatura que procura encaixar escritores em certos períodos como

modelo mais didático para estudo. Contudo, ao contrário do que pode parecer, seu texto tem

também um perfil didático, mesmo sendo um olhar que vem de dentro do próprio nicho de

escrita – Flávio Carneiro também é escritor e fala da produção com propriedade.

Segundo ele, a produção contemporânea se encontra em um momento no qual um

inimigo não precisaria mais ser combatido – não se escreve contra os românticos ou contra uma

ditadura. A escrita é plural e está aparentemente livre da obrigação de levantar bandeiras, é o

que ele diz.

Sequer a cultura de massa assusta. Se, no discurso modernista, as mídias poderiam ser

usadas de uma maneira crítica, quase que como um medo de “contágio”, nessa produção

contemporânea esse medo se perde e a apropriação dos elementos midiáticos se dá de maneira

mais profunda. Seu próprio texto segue a linha da diminuição significativa entre alta cultura e

cultura de massa. Ao analisar a sociedade contemporânea, Carneiro, seguindo uma postura

žižekiana, cita exemplos da literatura mais popular, o romance policial:

A literatura atual age diferente (da literatura moderna). Em primeiro lugar,

existe uma nova linguagem de massa: a da televisão, com um ritmo ainda mais

veloz que o do cinema e promovendo uma mescla de estilos até então

inimaginável, tanto nos diversos formatos – jornal, programa de variedades,

de auditório, novela, talk show, esporte et. – como nos anúncios publicitários.

A diferença maior, no entanto, não está aí e, sim, numa nova forma de

aproximação, mais íntima que a dos modernistas, entre literatura em dia.

Agora, a literatura deixa de considerar como de menor valor um discurso

estético para as massas. Desaparece, ou se torna mais sutil, a crítica ideológica,

marcante nos movimentos anteriores. Cria-se uma literatura antenada com o

mercado, ou seja, uma literatura que não apenas se utiliza dos recursos

linguísticos da mídia, como também se interessa em atingir o mesmo público

almejado por ela (CARNEIRO, 2005, p. 24).

Como característica desse universo, o autor cita o deslocamento. Entende-se como

deslocamento a morte das ideologias estabelecidas entre esquerda e direita3 e o aparecimento

3 Como o livro foi escrito em 2009, pode-se sim afirmar que, naquele momento, ao menos no Brasil, não havia

tanta segmentação entre as divisões políticas clássicas de esquerda e direita. Entretanto, a partir das manifestações

políticas (protestos) de 2013, essa dualidade voltou a ficar marcada (ocasionando o impeachment da presidenta

Dilma Rousseff, eleita democraticamente), intensificando-se nas eleições de 2018, com a vitória do candidato de

extrema direita Jair Bolsonaro.

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de uma postura múltipla e multifacetada, herança da contracultura. Há, também, o deslocamento

dos grandes projetos para os projetos particulares. É o fim, ou ao menos a diminuição

considerável de força, das missões, e a focalização em projetos, como ele mesmo diz, menos

pretensiosos.

Carneiro (2005) também cita a ideia da poética do inacabamento, na qual o silêncio pode

acarretar uma maior significação estética. Como ele diz, esse silêncio não é mais imposto, mas

produzido intencionalmente, uma transgressão silenciosa brusca. Essa ideia vai ao caminho

inverso da afirmação da violência pelo impacto citada por Resende (2008). Tudo isso caminha

para uma nova trilha de produção que é pautada em um mundo de incompletude e incertezas.

Embora destoem nesse ponto, tanto a obra de Resende como a de Carneiro conduzem para um

entendimento de pluralidade no cenário atual.

Outro estudo importante sobre a produção artístico-literária atual foi desenvolvido pela

pesquisadora argentina Florencia Garramuño. Em seu livro Frutos Estranhos (2014), título

emprestado de uma instalação feita pelo artista brasileiro Nuno Ramos, obra de difícil definição

e caracterização, Garramuño aposta no inespecífico, no não pertencimento da estrutura e

linguagem artísticas a uma ideia de arte específica:

No interior da linguagem literária, vários tipos de especificidade – nacional,

pessoal, genérica, literária – são dissolvidos num número cada vez mais

importante de textos que exibem uma intensa porosidade de fronteiras. Na

literatura mais recente – sem contar aqueles textos que incorporam fotografias,

desenhos ou alguma outra linguagem artística – o que estou chamando de

“aposta no inespecífico” pode percorrer lugares heterogêneos e diversos

(GARRAMUÑO, 2014, p. 16-17).

No seu entendimento, a arte contemporânea diminui as fronteiras entre linguagens que

eram consideradas específicas de meios diferentes. Por exemplo, a relação entre literatura e

jornalismo, que já existe desde o século XIX (vide folhetins), acentuar-se-ia na literatura

contemporânea, produzindo romances com uma linguagem próxima à da reportagem; a

linguagem coloquial e de senso comum se misturaria com uma linguagem mais elaborada e

elitizada; imagens poderiam ser introduzidas em romances como uma linguagem que ajudasse

a compor o sentido da obra e haveria uma relação mais íntima entre literatura e cinema.

Desse modo, essas linguagens que pertenciam a meios diferentes acabam se

intercruzando nas artes. No mundo contemporâneo, assim sendo, o artista seria,

metaforicamente falando, uma espécie de “criança” com uma “caixa de brinquedos antigos”,

da qual ele se serviria, escolhendo seus objetos a sua vontade, para montar e fazer o seu próprio

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“brinquedo”, que adquiriria novo sentido justamente pela mescla de elementos aparentemente

distantes e/ou contradizentes.

Para corroborar o que a pesquisadora argentina afirma, podemos citar o romance

Fantasias eletivas (2014), de Carlos Henrique Schroeder, cujo protagonista, funcionário de um

hotel, tem um amigo travesti apaixonado por fotografias e a elas se dedica nas horas vagas. A

produção desse personagem é exibida em uma exposição – tanto na narrativa quanto na própria

estrutura do livro e essas fotografias não são meramente ilustrativas, mas ajudam a compor toda

a significação da obra. Eis, então, um exemplo do que Garramuño diz sobre inespecificidade.

Outro romance contemporâneo que mistura elementos de linguagens aparentemente

distintas pertence a Lourenço Mutarelli e dialoga fortemente com a sétima arte. Que o cinema

tem se interessado pela literatura não é notícia nova, acontece desde que se percebeu que ele

tinha um potencial narrativo. Sobretudo após a intervenção de George Méliès, não cessam as

adaptações das páginas para as telonas. O efeito contrário, embora menos frequente, não é

incomum. O livro de Mutarelli, Miguel e os demônios ou nas delícias da desgraça (2009),

dialoga com uma linguagem cinematográfica, trazendo para literatura uma estrutura de roteiro

que fica evidente logo no início nas passagens “Tela branca” e “A câmera se afasta, revelando

a mosca que se debate contra o para-brisa” (MUTARELLI, 2009, p. 5).

Nove Noites (2006), de Bernardo Carvalho, é outro desses romances de difícil

conceptualização, uma vez que mistura elementos provenientes de esferas diferentes. Como diz

Garramuño:

Carvalho exercitava neste texto uma escrita plural que combinava a escrita

jornalística, a indefinição autobiográfica, o diário pessoal e o informe

antropológico, e que além disso se situava, tanto pelo próprio espaço em que

se passava a narração como pelos problemas que apresentava numa espécie

de espaço transnacional em que distintos meios acadêmicos – a Columbia

University, a Universidade de São Paulo, o Lévi-Strauss estruturalista – e as

políticas internacionais e nacionais – o Estado Novo e a “good neighborhood

policy” – se mesclavam com a etnologia dos índios krahôs da Amazônia

brasileira na construção de um enredo complexo que destruía também as

identidades certas tanto de personagens como do mesmo narrador do romance (2014, p.36-37).

É nítido que o pensamento contemporâneo, ao menos por esses quatro conceituados

críticos que acabei de citar, conluie para a uma arte inespecífica. O escritor não tem modelos

estabelecidos a serem seguidos, pode mesclá-los e também trazer para a literatura discussões

provenientes de outros campos de estudo e emprestando outras linguagens. Há nisso mais um

elemento que aponta a contemporaneidade de Lísias. Diário da cadeia (2017), por exemplo,

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concebe, também como ficção, a capa do livro. O nome que ali aparece é de Eduardo Cunha

(pseudônimo), ficcionalizando também um elemento paratextual que serve para dar

informações gerais e não ficcionais.

Os livros mais recentes de Lísias, que estão sendo escritos e reescritos, aproximam-se

da linguagem da arte performática, que é efêmera. Uma apresentação geralmente não é repetida

e os livros da série Diário da catástrofe (2018-2019) recebem novas versões a cada grande

reviravolta do atual governo.

Os dois livros que escolhi para uma análise mais detalhada nesta tese também se

apropriam de elementos não ficcionais. Delegado Tobias (2015) é composto por várias imagens

de Facebook, notícias de jornal, entre outros. Inquérito policial: família Tobias (2016), por sua

vez, é todo estruturado como se fosse um processo judicial, com depoimentos e outros

documentos arquivados em uma pasta, fazendo com que forma e conteúdo se conectem.

Falarei mais sobre os dois textos no capítulo seguinte, mostrando como ambos são

concebidos e como colaboram para a construção da assinatura autoficcional de Lísias. Em

suma, a tese vem apresentada da seguinte maneira:

O capítulo intitulado “Caminhos da autoficção: Ricardo Lísias e sua assinatura

autoficcional” versa sobre os conceitos gerais de autoficção e sobre a assinatura ficcional de

Ricardo Lísias. Nesse momento, os romances em questão serão os quatro autoficcionais: O céu

dos suicidas (2012), Divórcio (2013), Delegado Tobias (2015) e Inquérito policial: delegado

Tobias (2016). A partir daí, discuto a evolução do conceito de autoficção, desde sua gênese até

os dias atuais, sobretudo Serge Doubrovsky e Vincent Colonna, “chamando” também os

escritores para o debate a respeito do termo.

O capítulo seguinte, intitulado “Um agente plural: Ricardo Lísias e o campo literário”,

versa primeiramente sobre os agentes do campo literário segundo as teorias do sociólogo

francês Pierre Bourdieu em seu livro As regras da arte (1996). Entre esses agentes, que aponto

ao longo do capítulo, aparece o próprio mercado editorial, a quem darei atenção mais destacada,

sobretudo na discussão a respeito da sociedade do espetáculo.

O último capítulo, intitulado “Lísias: cinismo e performance”, tratará, como o título já

aponta, das questões de cinismo e performance, analisando os romances Delegado Tobias

(2015) e Inquérito policial: família Tobias (2016).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fim desse trabalho, acredito ter contruibuído para mostrar que a autoficção, ao menos

a autoficção lisiana, não é ególatra, como muitos afirmaram. Entender a autoficção dessa

maneira é compreendê-la de maneira rasa, como se ela fosse um “palanque” para o mero falar

de si próprio. É curioso como se condenou a autoficção por essa característica, sendo que não

se critica as autobiografias, nem mesmo as mais escandalosas que envolvem pessoas do show

business, pelos mesmos motivos. Nessa queda de braço, a culpa, mesmo se o subgênero fosse

ególatra, parece cair apenas do lado autoficcional, “aliviando a barra” das autobiografias que,

como vimos, vendem muito mais do que os livros autoficcionais.

Tinha razão Leyla Perrone-Moysés ao dizer que a autoficção poderia fazer um caminho

contrário desse apontado pelos críticos, pois falando de si logo de se fala do outro. No caso dos

romances de Ricardo Lísias, isso acontece. O “falar do outro” aqui é o falar de toda uma

sociedade, que parece gostar, além de especular a vida do outro, de fazer boataria, como é o

caso do romance Divórcio e seus desdobramentos.

Delegado Tobias e Inquérito policial: família Tobias são sintomáticos da sociedade

atual, constituída de pessoas de comportamentos contraditórios. De um lado, não acreditam na

ficção – não “dão chance” a ela como diz o próprio autor –, deixando-se levar por uma suposta

“verdade”, culminando com a crença indubitável em notícias falsas espalhadas por WhatsApp.

Por outro lado, contestam fatos históricos estabelecidos e que possuem uma quantidade sem

fim de provas, como é o caso da Shoá e da Ditadura Militar Brasileira.

Embora, nas entrevistas que dá, Lísias diga que seus romances vendem bem, os livros

do autor nunca apareceram nas listas de mais vendidos. Se olharmos essas listas, não veremos

representantes da autoficção. Logo, além de não ser ególatra como se dizia, não disputa espaço

no mercado editorial com as autobiografias. Vai além, a partir do objeto estético questiona a

própria publicidade em torno da arte, focando sua crítica em um jornalismo irresponsável que

está disposto a tudo pela notícia.

À maneira cínica de Diógenes, Lísias dá mais um passo: critica os moldes estabelecidos

de se fazer autoficção. Sua estética difere de todos os outros livros autoficcionais que pesquisei

nesses quatro anos em que a tese foi desenvolvida. O cinismo está também na sua postura em

relação às personagens: os delegados de ambos os romances, por exemplo, não entendem a

divisão entre realidade e ficção, fazendo com que outros personagens usem um tom jocoso com

eles.

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Penso que a autoficção já era, por si só, questionadora dos limites da ficção, por todas

as razões que aqui explanei. Se nos primeiros romances da sociedade industrial as pessoas

confundiam os personagens com seres reais, a autoficção também “confunde” o leitor

apresentando uma enorme semelhança entre personagem e autor. Com Lísias, mais um passo é

dado: se o leitor “se acostumou” com a autoficção “tradicional”, é necessário que ele se

acostume à nova estética autoficcional de Lísias, que se diferencia das anteriores.

O ato performático (duplo, uma vez que a própria autoficção, no meu entender, já é

performática – ou seja, a performance da performance) contribui para essa nova configuração

da autoficção, com a inserção do terceiro elemento Lísias no jogo entre realidade e ficção.

Chegamos ao ponto de nos perguntarmos: afinal, de qual desses três Lísias é o autor do

romance?

A obra de Ricardo Lísias, em seu conjunto, é estudada nas universidades brasileiras. Em

uma busca rápida com seu nome no Google Acadêmico, é possível ver o grande número de

resultados que aparecem, bem como as citações dos artigos em que sua obra é analisada. Lísias

é convidado para entrevistas, tanto em canais do Youtube quanto para a televisão – incluindo aí

uma participação no programa de Pedro Bial da Rede Globo.

Segundo sua página no Facebook, o autor está atualmente fazendo uma pesquisa sobre

a estética da nova extrema-direita brasileira e já deu uma palestra sobre o tema, intitulada

“Desidratação e recalque: uma análise da nova extrema direita” no último dia 09 de abril na

UNICAMP. Lembrando que Lísias também tem formação na área, é pesquisador e tem pós-

doutorado, além de ser tradutor. Todos esses elementos colaboram para a formação do próprio

agente Lísias no jogo de forças do campo literário.

Como vimos, a consagração de uma obra de arte não depende exclusivamente de sua

qualidade, mas de um jogo de forças entre agentes do campo literário. No caso da autoficção,

esse jogo ter desdobramentos mais profundos, uma vez que há essa ligação entre personagem e

autor. Com exceção talvez de Jacques Fux41, Lísias parece ser o único a ter entendido esse jogo,

pois usa de sua força no campo literário para, se não na legitimação de qualidade ao menos na

publicidade da própria obra.

Regina Dalcastagnè (2012) afirma que há uma tendência, na literatura contemporânea,

no falar de si e que isso pode ter dois motivos: exercício narcisístico (que pode até existir, mas

41 Jacques Fux publicou, entre outros, os romances autoficcionais Brochadas (2015) e Nobel (2018), que parecem,

à primeira vista, utilizar de um certo sarcasmo para falar das relações sexuais e dos escritores vencedores do maior

prêmio literário. Entretanto, para afirmar que o autor mineiro “corre na mesma esteira” que Lísias, seria necessário

um outro trabalho de mesmo fôlego que esse.

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que não acredito ser a tônica) e estratégia estética (onde se encaixa, a meu ver, as obras de

Lísias, sobretudo as duas que destaquei aqui nessa tese).

Essa estratégia estética atinge níveis mais altos quando nos deparamos com a obra de

Lísias, pois ele estende sua obra para o além texto. Seu personagem autoficcional está também

presente nas entrevistas e declarações que dá, enquanto a figura que seria externa à obra entra

com mais força na diegese: o exemplo do terceiro Lísias dentro de Delegado Tobias (2015).

Estratégia que já foi percebida, também, por outros pesquisadores:

Ainda que, evidentemente, outros escritores também utilizem ou já tenham

utilizado a internet para publicizar suas obras, é difícil encontrar quem o tenha

feito de forma tão criativa quanto Lísias, confundindo as diegeses, brincando

com seus biografemas e ficcionalizando a si mesmo (MUNARI & SILVA,

2016, p. 500).

Acredito que o presente trabalho traz contribuições importantes para a discussão de

algumas perspectivas da literatura contemporânea, sem, é claro, ter uma conclusão fechada

sobre o assunto, sobretudo porque trabalhar com o contemporâneo é trabalhar com a

possibilidade de mudança rápida das formas e dos métodos, em um mundo, como diz Bauman,

líquido.

Contribui também para uma desmistificação da autoficção, mostrando primeiramente a

evolução do termo e a compreensão dos teóricos e autores sobre as definições desse subgênero

romanesco. Como o gênero se tornou muito conhecido no meio literário, houve muitas

interpretações errôneas sobre o que seria a autoficção e de como ela cederia à logorreia dos

discursos narcisísticos e voltados para o mercado.

À guisa de conclusão, pude perceber que a obra de Lísias se encaixa dentro da

pluralidade do contemporâneo. Pluralidade que não está apenas na variação de produção (entre

contos e romances), mas na própria temática autoficcional. Se “brinca” com os limites da arte

e do discurso em A vista particular (2016) e Diário da cadeia (2017), também incorpora

elementos extraliterários para compor Delegado Tobias (2015) e Inquérito policial: família

Tobias (2016).

Sobretudo quando usa a internet e as redes sociais, Lísias se mostra um homem de seu

tempo e um escritor (por que não?) vanguardista, uma vez que sua obra (inserida nessa

modernidade como diz Munari & Silva (2016) parece ser a metáfora de um hyperlink,

apontando para outros caminhos e lugares pouco ou nada explorados até o presente momento

da literatura brasileira.

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ANEXOS

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ANEXO A – LITERATURA CONTEMPORÂNEA, EXEMPLOS DA PLURALIDADE

Para ilustrar essa tendência plural da produção atual da literatura brasileira, apresento

alguns exemplos de romances, que separei em alguns grupos. É fato, como já vimos, que é

difícil colocar as produções em uma “caixinha”, pois ela está calcada majoritariamente na

inespecificidade. Entretanto, para fins didáticos, escolhi o traço mais marcante (ou um dos

traços mais marcantes) de cada um deles e os classifiquei em determinados grupos. Lá vão.

Romances históricos: Santo Reis da Luz Divina (2004), de Marco Cremasco; A máquina

de madeira (2012), de Miguel Sanches Neto; Sonata em Auschwitz (2017), de Luize Valente e

Última hora (2017), de José Almeida Jr. Esse último, vencedor do prêmio SESC de literatura,

faz uma reconstrução de um dos períodos de maior efervescência política no Brasil: o governo

Vargas. Tudo isso pelo olhar de um jornalista que trabalha no jornal que foi fundado com o fim

específico de apoiar Vargas: o “Última hora”.

Por ser um romance histórico, o livro se aproxima do leitor por meio de lugares

e marcas conhecidas, além de momentos em que o passado se relaciona com

a atualidade. Ao recontar episódios famosos, muitas vezes mudando as

versões “oficiais” para fins narrativos, o autor nos convida a revisitar o

passado ao mesmo tempo em que provoca uma reflexão sobre seus eventos,

as atitudes dos principais articuladores políticos e também das “pessoas

comuns” da época (MENEGUETTI, 2018).

Marcos, o protagonista, é militante de esquerda e jornalista. Passando por maus

momentos no trabalho por conta de um salário extremamente baixo, ele recebe um convite para

integrar a equipe do novo jornal. Embora recuse em um primeiro momento, acaba aceitando a

oferta, o que ocasiona um embate interno sobre suas crenças políticas e seu trabalho. Esse

embate acontece também dentro de casa, uma vez que relação com a sua esposa, com quem se

encontrou na militância, e o filho, que tem horror aos “comunistas”, também não vai bem.

E nesse cenário vemos figuras importantes do nosso país como Carlos Lacerna Samuel

Wainer (idealizador e editor do “Última Hora”, Nelson Rodrigues, além, é claro, do próprio

Getúlio Vargas.

. Romances regionalistas: Cinzas do norte (2004), de Milton Hatoum; Eu receberia as

piores notícias dos seus lindos lábios (2005), de Marçal Aquino; Galileia (2008), de Ronaldo

correia de Brito. Esse último trata da história de três primos, amigos na infância, que se

reencontram quando adultos para voltar à fazenda Galileia, do patriarca Raimundo Caetano que

agoniza seus dias finais na terra. A falta de jeito e a incomunicabilidade entre os primos

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Adonias, Ismael e David vão dando lugar às rememorações do passado, ao desenterro de

histórias que ora são poéticas, ora são catastróficas. Os três personagens principais saíram da

Galileia em busca de outras terras, mas nunca se desprenderam completamente da Galileia, terra

de sua família decadente.

A obra parida é um mergulho entre dois mundos: o arcaico, famélico e

primevo do sertão e o globalizado. Um universo que é percorrido por três

primos que retornam à terra, a Fazenda Galiléia - no sertão do Ceará - para a

festa de aniversário do patriarca. Mas o encontram moribundo, com as carnes

à beira do apodrecimento. Durante a viagem, os personagens vão se revelando

aos poucos, e todas as mazelas da família vão se revelando, desde o estupro

do menino David dos quais todos são suspeitos - até o avô - aos fantasmas do

passado. Permeiam ainda a obra, as mortes, a vida, o silêncio da caatinga, os

barulhos da modernidade, as mazelas da sociedade moderna, a prostituição, o

homoerotismo, a discriminação, os laços que se agregam e desagregam nas

famílias (FREITAS; CAZES, 2008).

Dentro do estilo “Policial/Thriller”, temos como exemplo os seguintes romances: Dias

perfeitos (2014), de Raphael Montes; Que fim levou Juliana Klein? (2015), de Marcos Peres;

Assim na terra como embaixo da terra (2017), de Ana Paula Maia; Tupinilândia (2018), de

Samir Machado de Machado.

Quanto a esse último, lançado recentemente, trata-se de uma narrativa ágil, que prima

pela velocidade de uma trama quase cinematográfica. É a história de João Amadeus Flynger,

multimilionário brasileiro que, em seus devaneios ufanistas, decide construir um parque

(inspirado em Walt Disney) totalmente brasileiro no coração da Selva Amazônica. A trama de

Machado inclui ainda conspirações saudosistas da ditadura e um verdadeiro show de referências

aos anos 1980, que toca nostalgicamente boa parte dos adultos em nossa década.

Tupinilândia se mostra também extremamente atual e importante para o

momento em que estamos vivendo. Por não julgarmos severamente os crimes

cometidos durante a ditadura, como alguns dos nossos países vizinhos

fizeram, uma onda de vozes intolerantes e fascistas vêm tomando corpo no

Brasil nos últimos anos. Na narrativa de Machado, o nível de ignorância e

intolerância chega a níveis insuportáveis levando personagens lunáticos a vias

de fato, a criarem narrativas (olhem aí as Fake News) inventadas por eles

mesmos e que, de tão repetidas, passam a ser verdade absoluta (RICCIARDI,

2018).

Linguagem poética: Ponciá Vicêncio (2003), de Conceição Evaristo; Lugar (2010), de

Reni Adriano; O peso do pássaro morto (2017), de Aline Bei. O livro que ajudou a dar fama à

escritora Conceição Evaristo. A narrativa é focada em Ponciá, personagem que mora em um

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vilarejo extremamente distante da cidade. Ela tem uma ligação muito forte com o avô, que

morreu louco e maneta. Apesar de ser criança de colo, Ponciá se lembra perfeitamente não só

dele mas do dia de seu velório. Vô Vicêncio é maneta, pois em um momento de loucura, matou

a mulher e decidiu se cortar todo, a começar pela mão. Só não terminou o que começara porque

foi impedido. “Vô Vicêncio queria morte. Já que não podia viver, era melhor morrer de vez”.

Ponciá também almeja uma vida menos dura. Aprende a ler com uma missão católica

que se instala temporariamente no vilarejo, aprende a fazer esculturas de barro e, quando

acredita que tem idade para seguir sua vida, pega o trem, que visita mensalmente o vilarejo,

para a cidade em busca de uma vida melhor.

A linguagem de Conceição Evaristo é poética e dramática, jamais deslizando

para o sentimentalismo. É curioso que todos os personagens sejam nomeados,

na maior parte das vezes, com seu nome completo: Ponciá Vicêncio, Luandi

José Vicêncio, Maria Vicêncio. Vicêncio é herança dos tempos de escravidão,

nome da família do coronel onde o avô vivia e que depois os negros alforriados

passaram a ocupar. Se o nome familiar faz criar vínculos, singulariza e

individualiza, é também a memória da marca da opressão (KUBOTA, 2017).

Estrutura fragmentada: Eles eram muitos cavalos (2001), de Luiz Ruffato; Mínimos,

múltiplos, comuns (2003), de João Gilberto Noll; Inquérito policial: família Tobias (2016), de

Ricardo Lísias. O livro de Noll é um dos grandes desafios de classificação. Trata-se de um total

de 338 micronarrativas que ele publicou durante mais de três anos (entre 1998 e 2011) na Folha

de São Paulo, sob o título de “Relâmpagos”, sendo que nenhum dos textos podia ter de mais de

130 palavras.

Entretanto, o livro é chamado de romance, pois haveria, segundo o próprio autor e o

editor, um “fio narrativo” que uniria todos os fragmentos, que se sustentariam tanto

independente quanto coletivamente.

Assim Noll e a sua micronarrativa se esquivam de denominações e

classificações inequívocas, evitando, talvez conscientemente, uma

aproximação conceitual à forte tradição na área hispânica vizinha do Prata.10

Ao contrário, Noll estabelece uma referência dupla para o seu projeto: a poesia

como condensação do instante e, no sentido proposto por Octavio Paz, como

“consagração” e isolamento do fluxo do tempo secular e histórico, o qual Noll

combina com a sua poética da percepção repentinamente interrompida ou

imposta da realidade (VEJMELKA, 2009, p. 128).

Outras linguagens: Miguel e os demônios (2009), de Lourenço Mutarelli; Diário de uma

escrava (2016), de Rô Mierling; Nobel (2018), de Jacques Fux. Não é de hoje que o romance

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toma “emprestado” estruturas de outros gêneros textuais (o livro citado de Rô Mierling é, por

exemplo, um diário, estrutura recorrente na literatura) para sua composição, mas o livro de Fux

é realmente uma inovação: é um discurso de aceitação do prêmio Nobel por um escritor

brasileiro chamado Jacques Fux – sim, o livro é também autoficcional.

E em seu discurso, o personagem Fux tem uma postura bem diferente dos cento e

dezessete autores que foram galardoados pelo prêmio antes dele: incomoda, alfineta, não tem

falsa modéstia e afirma que dar o prêmio a ele foi a melhor decisão da história da Academia

Sueca. Seu discurso assume o tom do ataque, falando mal da imprensa, do meio literário e

sobretudo dos escritores. Ao assumir essa postura, Fux, o personagem, acaba evidenciando

também toda sua canalhice e suas atitudes preconceituosas e politicamente incorretas.

Com Nobel, Fux revela as entranhas literárias, mostrando que escritores não

são necessariamente pessoas boas por trabalharem com arte, mas que são

também humanos e contraditórios como todos os seres humanos. Criando um

personagem complexo como esse, Fux também mostra que a literatura é muito

mais interessante quando aponta para a contradição humana e não faz dela, a

literatura, uma arte panfletária que, apesar de sua grande necessidade, às vezes

distorce e censura (RICCIARDI, 2018).

Romance memorialístico/de imigração: Dois irmãos (2000), de Milton Hatoum;

Nihonjin (2011), de Oscar Nakasato; A chave de casa (2013), de Tatiana Salem Levy. O livro

do maringaense Oscar Nakasato, conhecido por vencer o Prêmio Jabuti em meio a polêmicas42,

é um romance sobre a imigração japonesa.

Trata-se da história de Hideo Inabata, um japonês orgulhoso de sua história e da história

de seu país, mas que precisa vir ao Brasil durante a Segunda Guerra com a missão de enriquecer

e voltar para a sua triunfante nação. Entretanto, a volta tarda enquanto Hideo se vê com

dificuldades no campo, tanto no trabalho quanto na adaptação à cultura brasileira e relação com

outros imigrantes, tais como os italianos.

Neto do protagonista, o narrador costura uma narrativa repleta de imagens tão duras

quanto poéticas, em um embate cultural e de gerações.

Polêmicas à parte, Nihonjin é um romance escrito com delicadeza e cuidado,

uma história bem contada, dessas que o leitor não quer fechar o livro sem

conhecer seu final. A simplicidade e a contenção das emoções de um autor

que poderia impregnar sua narrativa pela proximidade com as questões do

42 O livro em questão venceu o prêmio Jabuti de 2012 depois de um jurado (conhecido como “jurado c” ter dado

nota zero para medalhões da literatura (tais como Ana Maria Machado) e nota dez para escritores desconhecidos.

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mundo narrado, uma vez que, como Nikkei (neto de japoneses), sua história

pessoal possui íntimas conexões com a de Hideo, o imigrante que dá origem

à saga contada (MARTHA, 2015, p. 5).

Literatura de viagem/descobrimento: Partir (2013), de Paula Parisot; Todos nós

adorávamos cowboys (2013), de Carol Bensimon; As águas vivas não sabem de si (2016), de

Aline Vale. Quanto a esse último, trata-se da história de Corina, mergulhadora experiente que

integra a equipe Auris, sob o comando de Martin, um estrangeiro que pesquisa, em águas

brasileiras, segredos do oceano. O pesquisador crê absolutamente na existência de uma vida

inteligente como a humana que estaria habitando as profundezas do oceano.

Corina é encantada pelo mar desde criança. Sua vida foi construída nas águas. Não sabe

e não gostaria de fazer outra coisa senão atender a um certo chamado que o oceano lhe faz a

explorar suas águas. Chamado, aliás, que tanto encantou exploradores e navegantes durante

séculos na história humana. Aliada a uma certa melancolia e um desencaixe no mundo, a paixão

de Corina a faz com que ela não tenha muitos limites em um espaço tão pouco explorado pelo

ser humano – conhece-se menos dos oceanos do que dos planetas do sistema-solar.

A melancolia é um dos sentimentos que mais se faz presente e não por menos,

já que existe uma finalidade. O sentimento de vagar no nada é predominante

e sufocante, assim como a de procurar respostas quase nunca satisfatórias e

seguras. A mensagem do livro é entremeada com muitas ideias que são

apresentadas ali mesmo e ideias que, na nossa capacidade humana de pensar

e sentir, nos acompanham em momentos da vida. A vulnerabilidade a que

todos nós estamos expostos e a lucidez com que essa vulnerabilidade é

desenvolvida é tocante e, de certa forma, arrebatadora. Existem passagens que

parecem reunir todas as nossas dúvidas e pensamentos, outras, que parecem

extrair toda a nossa existência enquanto seres que temem a solidão (SPIM,

2017)

Todos esses grupos de romances confirmam as afirmações teóricas de que a literatura

produzida atualmente não se encaixa em apenas um modelo. Sua estrutura é variada e plural.

Mas essas obras, contemporâneas em um sentido mais largo do termo, seriam contemporâneas

tal qual Agamben entende o termo? Seria preciso um estudo mais específico para cada obra ou

autor para afirmar que eles se posicionam com o momento atual a partir do “deslocamento”.

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ANEXO B – LISTA DE MAIS VENDIDOS E VITRINES DE LIVRARIAS

Segundo o site PublishNews, os livros mais vendidos no Brasil em 2016 foram nessa

ordem: Como eu era antes de você de Jojo Moyes com 352.330 exemplares; Ruah, de Padre

Marcelo Rossi com 228.232 exemplares; Depois de você, de Jojo Moyes, com 228. 073

exemplares; O diário de Larissa Manoela, de Larissa Manoela, com 178.936 exemplares;

Harry Potter e a criança amaldiçoada, de J. K. Rowling, com 170.130 exemplares;

AuthenticGames, de Marco Túlio, com 144.053 exemplares; O orfanato da Srta. Peregrine

para crianças peculiares, de Ramson Riggs, com 133.766 exemplares; Ansiedade: como

enfrentar do mal do século, de Augusto Cury, com 129.580 exemplares; A coroa, de Kiera

Cass, com 110. 899 exemplares e Muito mais que 5inco minutos, de Kéfera Buchmann, com

104.548 exemplares.

O único livro de ficção que fugiria aos moldes mercadológicos é Todos os contos, de

Clarice Lispector, que vendeu 27.814 exemplares e ocupa apenas a décima primeira colocação

na categoria ficção. Os únicos livros de ficção a figurar entre os mais vendidos são obras

pertencentes a sagas e trilogias e que geralmente são indicadas para um público infanto-juvenil.

Os outros são ligados a vídeo-games, auto-ajuda, religião, youtubers, show business.

Quando se fala em 2017, o panorama não muda muito. Eis a lista dos mais vendidos nos

dois primeiros meses daquele ano: O homem mais famoso da história, de Augusto Cury, com

46.192 exemplares; Por que fazemos o que fazemos?, de Mário Sergio Cortella, com 31.791

exemplares; Harry Potter e a criança amaldiçoada, de J. K. Rowling, com 31.566 exemplares;

Quatro vidas de um cachorro, de Bruce Cameron, com 30.167 exemplares; Rita Lee: uma

autobiografia, de Rita Lee, com 28.043; Ansiedade: como enfrentar o mal do século, de

Augusto Cury, com 22.845; Propósito, de Sri Prem Baba, com 22.675; Como eu era antes de

você, de Jojo Moyes, com 19.870; Depois de você, de Jojo Moyes, com 19.300; Todo mundo

tem um anjo da guarda, de Pedro Siqueira, com 18.454; O poder da ação, de Paulo Vieira, com

18.223; Não se enrola, não, de Isabela Freitas, com 17.750; O diário de Larissa Manoela, de

Larissa Manoela, com 17.225; Uma pergunta por dia, de Potter Style, com 17.063; Ansiedade

2: autocontrole, de Augusto Cury, com 15.779; O poder do hábito, de Charles Duhigg, com

15.528; Diário de um banana: vai ou racha, de Jeff Kinney, com 14.996; Novos caminhos,

novas escolhas, de Abílio Diniz, com 14.645; O poder do agora, de Eckhart Tolle, com 14.255;

e Sapiens, de Yuval Noah Harari, com 12.873.

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Em uma visita realizada a três livrarias da cidade de Londrina no dia 07 de março de

2017, constatei que o panorama não estava muito diferente. Dos livros em destaque nas

prateleiras das livrarias Saraiva, Vila e Curitiba, poucos deles não eram dos estilos presentes

nos mais vendidos.

Nas Livrarias Curitiba os destaques eram Quatro vidas de um cachorro (2010) de W.

Bruce Cameron; Como eu era antes de você (2012), de Jojo Moyes; O físico (1986), de Noah

Gordon; The kiss of deception: crônicas de amor e ódio (2015), de Mary E. Pearson; Antes que

eu vá (2012), Lauren Oliver; A menina dos olhos molhados (2016), de Marina Carvalho; Cidade

dos fantasmas (2016), de Daniele Waters; Pequenas grandes mentiras (2015), de Liane

Moriarty; Eu sou Malala (2013), de Malala Yousafzai; Cada homem é uma raça (1990), de

Mia Couto; Um amor para Lady Johanna (2016), de Julie Garwood; Fragmentados (2015), de

Neal Shusterman; Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector; A paixão segundo G. H.,

de Clarice Lispector; Dez formas de fazer o coração se derreter (2016), de Sarah Mclean; A

ilha dos mortos (2016), de Rodrigo de Oliveira; Coração de aço (2016), de Brandon Sanderson;

Uma paixão indomável (2014), de Nora Roberts; Três vezes nós (2016), de Laura Barnett;

Assassin’s Creed (2014), de Oliver Bomden; As cordas mágicas (2016), de Mitch Albom;

Neuromancer (1984), de William Gibson; Em algum lugar das estrelas (2016), de Claire

Vanderpool; O tempo das borboletas (2016), Andrea Portes; Ramsés: o templo de milhões de

anos (2009), de Christian Jacq; O coração da esfinge (2016), de Colleen Houck; Tudo e todas

as coisas (2016), de Nicola Yoon; O menino feito de blocos (2016), de Keith Stuart; Crepúsculo

(2007), de Stephanie Meyer; A travessia (2012), de William P. Young; Noite sobre as águas

(1991), de Ken Follett; Escândalos na Primavera (2017), de Lisa Kleypas; O mundo perdido

(1995), de Michael Crichton; A garota no gelo (2016), de Robert Bryndza; A garota no lago

(2016), de Charlie Donlea; e O livro dos Baltimore (2017), de Joël Dicker.

Na Saraiva os destaques eram: O alquimista (1988), Brida (199), O demônio e a Srta.

Prym (2000), O monte cinco (1996), Verônika decide morrer (1998), Aleph (2010), Nas

margens do rio Piedra eu sentei e chorei (1994), Adultério (2014), O zahir (2005), Manual do

guerreiro da luz (1997), Onze minutos (2003) e As valkírias (1992), todos de Paulo Coelho; O

teste do Marshmallow: Por que a força de vontade é a chave do sucesso (2016), de Walter

Michel; Meu Romeu (2015) e Minha Julieta (2015); de Leysa Raven; A teoria de tudo (2016),

de Jane Hawking; Depois de Auschwitz (2015), de Eva Schloss; Em um bosque muito escuro

(2015), de Ruth Ware; Novembro 9 (2016), de Colleen Hoover; Batalha espiritual: entre anjos

e demônios (2016), de Pe. Reginaldo Manzotti; Humano demais (2016), de Rodrigo Alvarez;

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Eu sou o peregrino (2016), de Terry Hayes; Escândalo de cetim (2016), de Loretta Chaise;

Realidade americana: guia de sobrevivência de quem desbravou a terra do tio Sam (2016), de

Carlinhos Troll; As cem piores ideias da história (2016), de Michael N. Smith e Eric Kasum;

O acorde secreto (2016), de Geraldine Brooks; A grana (2016), de Cynthia D’aprix Sweeney;

Inferno (2013), de Dan Brown; A menina que roubava livros (2005), de Mark Suzak; Sete

minutos depois da meia-noite (2012), de Patrick Ness; Becky Bloom ao resgate (2016), de

Sophie Kinsella; Trilogia dos Cinquenta tons de cinza (2012), de; e Ingredientes do Brasil

(2016), de Bela Gil.

Na Livraria da Vila os livros em destaque eram O homem mais inteligente da história

(2016), de Augusto Cury; A garota no trem (2015), de Paula Hawkins ; Harry Potter e a criança

amaldiçoada (2016), de J. K. Rowling; O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares

(2015), de Ramson Riggs; Outros jeitos de usar a boca (2017), de Rupi Kaur; Rebentar (2016),

de Rafael Gallo; Silêncio (2016), de Shusaku Endo; Crônicas: volume 1 (2016), de Bob Dylan;

O fazedor de velhos (2008), de Rodrigo Lacerda; Quem matou Roland Barthes? (2016), de

Laurent Binet; Homens imprudentemente poéticos (2016), de Valter Hugo Mãe; Dias de

abandono (2016), de Elena Ferrante; O livro dos Baltimore (2017), de Joël Dicker; O espírito

da ficção científica (2016), de Roberto Bolaño; O rei de Havana (1999), de Pedro Juan

Gutiérrez.