Vera Lúcia de Moura Sena Filha Representações Sociais da gravidez na adolescência para profissionais de Unidades de Saúde da Família Recife, 2013 Universidade Federal de Pernambuco Programa de Pós-graduação em Psicologia Centro de Filosofia e Ciências Humanas Curso de Mestrado em Psicologia
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Representações Sociais da gravidez na adolescência para ... · transmite segurança, simpatia e zelo aos seus discentes. Sou agradecida a ... “O que motiva a adolescente a engravidar
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Vera Lúcia de Moura Sena Filha
Representações Sociais da
gravidez na adolescência para
profissionais de Unidades de
Saúde da Família
Recife, 2013
Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-graduação em Psicologia
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Mestrado em Psicologia
VERA LÚCIA DE MOURA SENA FILHA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA PARA
Esta pesquisa faz parte de um projeto maior intitulado “Gravidez na Adolescência: Percepções de diferentes atores sociais” financiada por: FACEPE (em conjunto com a Secretaria da Mulher) e CNPq. A presente dissertação teve como objetivo geral apreender as representações sociais da gravidez na adolescência para os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família. A gravidez na adolescência foi abordada através de um enfoque psicossociológico, por meio do arcabouço teórico da Psicologia Social, conduzido pela Teoria das Representações Sociais, visto que esta oferece suporte para a compreensão dos sentidos construídos coletivamente que norteiam práticas e comportamentos acerca do objeto estudado. A pesquisa foi desenvolvida em duas Mesorregiões do Estado de Pernambuco (Mesorregião Metropolitana do Recife e Mesorregião da Mata Pernambucana) e teve como participantes os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família dessas regiões. O estudo utilizou-se de uma abordagem plurimetodológica e contemplou, como instrumentos, o questionário de associação livre e as entrevistas semi-estruturadas. Os dados obtidos através do questionário de associação livre foram analisados com o suporte do software EVOC e para as entrevistas empregou-se a análise de conteúdo temática. Ao comparar-se os dados obtidos através dos dois instrumentos, apreendeu-se que as representações sociais transitaram entre as experiências de “ser adolescente” e de “ser mãe” em meio às construções histórico-sociais que estabeleceram papéis e lugares ao adolescente e à mulher na sociedade. De uma maneira geral, a maternidade, foi ancorada numa concepção de mulher colocada no lugar de responsável pela criação e cuidado com os filhos. Essa ideia é proveniente do modelo patriarcal em que a mulher tem a função de procriação e cuidadora do lar. Porém, a gravidez na adolescência é objetivada enquanto um momento complicado, marcado por dificuldades e perdas. Tal concepção parte da visão negativa atribuída ao período da adolescência. No que tange à aplicabilidade desta investigação, pensa-se que ela pode contribuir para uma compreensão acerca dos conceitos que permeiam as práticas dos profissionais de saúde perante as adolescentes grávidas. Palavras-Chave: Representações Sociais; Gravidez na Adolescência;
Profissionais de Saúde; Unidades de Saúde da Família.
ABSTRACT
This research is part of a greater project titled “Pregnancy in adolescence: Perceptions of different social actors” supported by: FACEPE (together with the Board of Women) and CNPq. The present dissertation had, as general aim, learning the Social Representations of pregnancy in adolescence to the health professionals from the Family health Units. The pregnancy in adolescence was handled through a psycho-sociological approach, by means of a theoretical framework of the Social Psychology, conducted by the Social Representations Theory, due to the fact that it offers a pillar to comprehend the meanings built collectively, which leads the practice and behavior about the studied object. The research was developed in two Mesoregions of Pernambuco State (Metropolitan Mesoregion of Recife and the Mesoregion of the Forest of Pernambuco) and it had the participation of the health professionals from the Family Health Units of those regions. The study made use of a multi-methodological approach and regarded as tools the free association questionnaire and the semi-structured interviews. The data achieved through the free association questionnaire was analyzed with the EVOC software support and for the interviews a thematic analysis of the content was employed. When the data achieved was compared through both two tools, it was learned that the Social Representations transit between the experiences of being “an adolescent” and being “a woman” in the midst of social-historical constructs which determined the roles and place of the adolescent and woman into the society. In general, the motherhood was anchored on a conception of woman as being in charge of the upbringing and care of their children. This idea arises from the patriarchal role model in which the woman has the role of the reproduction. However, pregnancy in adolescence is aimed while a tough moment, marked by difficulties and loss. Such a conception comes from the negative view attributed to the adolescence. Regarding the applicability of this investigation, it is thought that it can contribute to a comprehension about the concepts which it permeates and the health professionals’ practices before the pregnant adolescents. Keywords: Social Representations; Pregnancy in Adolescence; Health Professionals; Family Health Units.
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
FIGURA 1. Plano de análise das entrevistas ......................................... 65 FIGURA 2. Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência (categoria - maternidade), elaboradas pelos profissionais de saúde ................................................................................................. 89 FIGURA 3. Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência (Categoria – Maternidade na Adolescência), elaboradas pelos profissionais de saúde. ................................................................. 94
TABELA 1. Perfil Sócio-demográfico dos Profissionais de Saúde ......... 58 TABELA 2. Classes Temáticas, Categorias e Subcategorias Emergentes ............................................................................................ 86
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1. Distribuição dos termos evocados nos quadrantes ........... 67 QUADRO 2. “Ser Mãe adolescente é...”, em função da frequência e ordem média de evocação ..................................................................... 68 QUADRO 3. “O que motiva a adolescente a engravidar é...”, em função
da frequência e ordem média de evocação ............................................ 73 QUADRO 4. “As principais consequências da gravidez na adolescência são...”, em função da frequência e ordem média de evocação .............. 80 QUADRO 5. Maternidade de um modo geral ......................................... 87
QUADRO 6. Maternidade na adolescência ............................................ 90
QUADRO 7. Fatores associados à gravidez na adolescência ............... 95
QUADRO 8. Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência ..... 98
QUADRO 9. O parceiro e a família no contexto da gravidez na
adolescência......................................................................................... 100 QUADRO 10. Repercussão da gravidez para a adolescente .............. 102 QUADRO 11. Efeitos da gravidez na vida do pai da criança............... 106 QUADRO 12. Efeitos da gravidez na família ....................................... 108 QUADRO 13. Serviços de apoio direcionados à gestação na adolescência......................................................................................... 110
QUADRO 14. Atuação do profissional de saúde no contexto da gravidez
na adolescência .................................................................................... 111
LISTA DE SIGLAS
ACS – Agentes Comunitários de Saúde
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida
CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DST – Doença Sexualmente Transmissível
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
ESF – Estratégia de Saúde da Família
FACEPE – Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de
2. CAPÍTULO II - ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ ......................................... 22
2.1 A adolescência como construção coletiva............................................... 22 2.2 Sexualidade e Gravidez na adolescência ............................................... 26 2.3 A gravidez na adolescência enquanto “problema social” ........................ 29 2.4 Gravidez na adolescência e Cuidados em Saúde................................... 33
3. CAPÍTULO III - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ............... 42
3.1 O estudo da Teoria das Representações Sociais ................................... 42
3.2 Um breve panorama da Abordagem Estrutural ....................................... 50 3.3 Algumas considerações acerca da abordagem moscoviciana ................ 52 4. CAPÍTULO IV - MÉTODO ............................................................................ 56
4.1 Local da Pesquisa ................................................................................... 56 4.2 Participantes da Pesquisa ....................................................................... 57 4.3 Instrumentos ........................................................................................... 58
4.3.1 Questionário de associação livre de palavras ................................... 58 4.3.2 Entrevistas Semi-estruturadas .......................................................... 60
4.4 Aspectos Éticos ....................................................................................... 61 4.5 Coleta de Dados ..................................................................................... 61
4.6 Análise dos Dados .................................................................................. 62 4.6.1 Questionário de Associação Livre de Palavras ................................. 62 4.6.2 Entrevistas Semi-estruturadas .......................................................... 64
5. CAPÍTULO V - RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................... 67
5.1.1 Ser mãe adolescente é... ................................................................... 68 5.1.2 O que motiva a adolescente engravidar é... ...................................... 73 5.1.3 As principais consequências da gravidez na adolescência são... ..... 80
5.2 Entrevistas............................................................................................... 85 5.2.1 Classe temática: Gravidez na adolescência ...................................... 87
5.2.1.1 Categoria: maternidade .............................................................. 87 5.2.1.2 Categoria: maternidade na adolescência ................................... 90 5.2.1.3 Categoria: Fatores associados à gravidez na adolescência ....... 94
5.2.1.4 Categoria: Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência ...................................................................................................................... 98
5.2.1.5 Apoio social à gravidez na adolescência .................................... 99 5.2.2 Classe temática: Repercussões da Gravidez na adolescência .......... 101
5.2.2.1 Categoria: Consequências da gravidez para a adolescente ..... 102 5.2.2.2 Categoria: Consequências da gravidez para o parceiro ........... 106 5.2.2.3 Categoria: Efeitos da gravidez na família ................................. 108
5.2.3 Classe temática: Atuação dos profissionais de saúde ....................... 109 5.2.3.1 Categoria: Serviços de apoio direcionados à gestação ............ 109 5.2.3.2 Categoria: Possibilidades de atuação do profissional de saúde 111
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 114 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 118 ANEXOS..........................................................................................................133 Anexo I- Parecer do Comitê de Ética ............................................................. 134 Anexo II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................ 135 APÊNDICES....................................................................................................135
Apêndice I – Questões Sociodemográficas – Profissionais de Saúde ........... 136 Apêndice II – Roteiro do Questionário de Associação Livre ........................... 137 Apêndice III – Roteiro da Entrevista ............................................................... 138
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APRESENTAÇÃO
A presente pesquisa foi parte de um projeto maior, intitulado “Gravidez na
Adolescência: Percepções de diferentes atores sociais”, aprovado e financiado pelo
CNPq, FACEPE e Secretaria da Mulher. Nesse sentido, o projeto enfoca as
representações sociais da gravidez na adolescência dos seguintes atores sociais:
adolescentes grávidas, parentes e pessoas próximas, professores e profissionais de
saúde, ao procurar identificar o impacto da gravidez na adolescência, dentro de um
aspecto biopsicossocial, abordando as implicações físicas, sociais, afetivas,
psicológicas e financeiras.
O enfoque dado na pesquisa aqui desenvolvida, a partir do projeto maior, foi
nas representações sociais dos profissionais de Unidades de Saúde da Família
acerca da gravidez na adolescência. Assim, essa pesquisa pretendeu responder a
seguinte questão: como são construídos e compartilhados os conhecimentos que
permeiam a gravidez na adolescência para os profissionais de saúde das Unidades
de Saúde da Família de duas Mesorregiões do estado de Pernambuco?
Para tal, a matriz teórica das Representações Sociais (TRS) será utilizada no
sentido de apreender como as representações destinadas à gravidez na
adolescência acontecem e se estruturam, ao considerar as particularidades que
cada realidade possui. Nesse sentido, Moscovici (2001, p. 49), afirma que “[...] é
impossível explicar os conjuntos de crenças e de ideias a partir do pensamento
individual.” Assim, particularizar o contexto da gravidez na adolescência, não
significa entendê-lo sob uma ótica individual, mas compreendê-lo no cenário que ele
se inscreve.
Esse estudo faz-se relevante para a sociedade uma vez que permite
compreender os conceitos que cercam as práticas de saúde destinadas às
adolescentes grávidas. E do ponto de vista acadêmico, fornece uma possível
contribuição teórica no campo das representações socais e nas pesquisas
relacionadas à gravidez na adolescência com enfoques psicossociológicos.
A fim de realizar a proposta do presente estudo, será apresentado nos
próximos capítulos um breve panorama teórico sobre algumas questões que cercam
a gravidez na adolescência como objeto de representações para o grupo de
profissionais de saúde.
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Nesse sentido, o estudo desenvolveu-se em cinco capítulos, de modo que o
primeiro capítulo refere-se à Introdução e aos objetivos do estudo. Já o segundo
capítulo faz alusão às questões sócio-históricas e psicossociais que cercam o
período da adolescência, assim como abrange o cenário de interação e problemática
da gravidez na adolescência. O terceiro capítulo explora a Teoria das
Representações Sociais com suas abordagens e implicações perante o contexto do
objeto de estudo.
O quarto capítulo apresenta o Método, no qual se encontra delineado o local,
participantes, aspectos éticos e instrumentos empregados no procedimento da
pesquisa, como também menciona o processo de coleta e análise dos dados. O
quinto capítulo expõe os resultados obtidos pela coleta de dados e traz a discussão
dos achados para cada instrumento utilizado. Posteriormente, são exibidas as
considerações finais e as referências bibliográficas utilizadas no desenvolvimento da
pesquisa.
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CAPÍTULO I
CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) delimita a adolescência como
o período de vida que vai dos 12 aos 18 anos de idade (BRASIL, 1991a). A
Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, faz um recorte cronológico que
vai dos 10 aos 19 anos. No campo da Saúde, atribui-se, de modo geral, que a
adolescência é uma etapa da vida que marca a passagem da infância para a fase
adulta e engloba um conjunto de mudanças físicas e biopsicossociais (WAIDEMAN,
2003; LEAL e WALL, 2005).
No que se refere ao âmbito da Psicologia, há concepções que colocam a
adolescência como uma fase natural e inerente do desenvolvimento humano,
caracterizada por conflitos e crises próprias dessa faixa etária. Assim, essa
perspectiva deposita uma visão universalizante ao período da adolescência, o qual
contempla particularidades que assumem um caráter negativo, de modo que os
adolescentes, independentemente da sua inserção histórica e cultural, passam por
momentos de sofrimentos, tensões e turbulências considerados típicos dessa fase
(ANDRIANI et al., 2003; MESQUITA, 2008).
Entretanto, muitas peculiaridades agregadas atualmente à adolescência
fizeram parte de construções sociais constituídas ao longo da história e foram
registradas, por vários estudiosos, em documentos históricos. Desse modo, não se
pode conferir características universais à adolescência, uma vez que ela é
vivenciada de diferentes formas devido às diversidades das interações e contextos
(sociais, históricos, políticos e econômicos) que permeiam as experiências do
adolescente. Assim, faz-se necessário ultrapassar perspectivas naturalizantes e
compreender a adolescência como etapa construída, ao longo da história, nas
interações e processos sociais (AGUIAR et al., 2001; HEILBORN et al., 2002; REIS,
2004; COLE e COLE, 2004; OLIVEIRA, 2007; FERREIRA et al., 2007; PANTOJA et
al., 2007).
Nessa perspectiva, a Psicologia Social vai além das teorias psicológicas
existentes, visto que concebe a adolescência como uma construção sócio-histórica-
cultural que transcorre perspectivas psicológicas e biológicas juntamente com o
contexto social. Dessa forma, o cenário social adota grande influência no percurso
da adolescência, pois o contexto de interações dos adolescentes colabora na
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constituição dos seus comportamentos, estilos de vida, tomadas de decisão e
condutas (OZELLA, 2003).
Diante do exposto, a gravidez na adolescência aparece como assunto de
discussão social e no campo da saúde assume um caráter de problema social e de
saúde pública. As expectativas em torno da adolescência, da mulher e da família
ostentam demandas sociais e político-econômicas que reforçam o olhar negativo
sobre a maternidade adolescente para a sociedade de modo geral e para as
próprias mães. Embora diversos estudos demonstrem os sentidos positivos
conferidos à gravidez pelas adolescentes (GONTIJO e MEDEIROS, 2004;
BRANDÃO e HEILBORN, 2006; MAGALHÃES, 2007; MESQUITA, 2008; MAZZINI et
al., 2008; TORRES et al., 2010).
Vale ressaltar que a gravidez na adolescência não se limita aos aspectos
biológicos ou emocionais da gestante, pois a adolescente que engravida está imersa
em uma construção social historicamente e geograficamente contextualizada que
interfere na sua subjetividade e na forma como se apropriam dos acontecimentos da
sua vida. Desse modo, aspectos culturais e sociais interferem na constituição dos
valores, rituais, imagens e tradições que permeiam os sentidos atribuídos e
compartilhados acerca da gestação na adolescência (BARKER e CASTRO, 2002;
DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008; NOGUEIRA et al., 2009).
Ao longo do tempo, as compreensões e práticas em volta da gravidez na
adolescência não ocorreram do mesmo modo e passaram por transformações que
foram fruto das mudanças no contexto de interação social. Nesse sentido, as
construções sócio-históricas permeiam a maternidade e os rituais que cercam a
gestação, assim como guiam ideias, crenças e padrões que asseveram os papéis e
funções da mulher. Assim, a maternidade é associada às mulheres, mas as
concepções vigentes em torno da fase ideal para gerar filhos vão estar relacionadas
às construções sociais que circulam no contexto em que a mulher vive. (HEILBORN
et al.,2002; MOURA e ARAUJO, 2004; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; PANTOJA et
al., 2007; MAZZINI et al., 2008).
Nessa perspectiva, a gravidez na adolescência surge como um
acontecimento cujos significados modificam-se conforme influências do momento
histórico e contexto social vivenciado. Há um tempo, as mulheres se organizavam
para casar e procriar bem jovens, pois a faixa etária que é atualmente destinada a
cumprir-se com as incumbências apresentadas como próprias da adolescência -
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estudar e amadurecer para a vida adulta - já foi considerada um período adequado
para a procriação (MOURA e ARAUJO, 2004; MAGALHÃES, 2007; MOREIRA et al.,
2008).
Dessa forma, alguns fatores como, por exemplo, comunidade de pertença,
classe social e escolaridade, aliados ao contexto de interação e experiência
subjetiva, influenciam as construções de sentidos, constituídas por determinados
grupos populacionais, em torno da gravidez na adolescência. De tal modo, a rede de
profissionais de saúde destaca-se como um grupo de fundamental importância no
que diz respeito à promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes. A
compreensão que os profissionais de saúde possuem sobre a gravidez/maternidade
na adolescência fornece contribuições ao entendimento das práticas direcionadas ao
público adolescente (FERRARI et al., 2006; DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008;
NOGUEIRA et al., 2009).
Vale ressaltar que o olhar técnico dos profissionais de saúde a respeito da
maternidade nesse período de vida está permeado por visões presentes nas
relações estabelecidas com a conjuntura social, as quais contribuem na forma como
esses profissionais organizam teorias, encaram, agem e constituem práticas perante
a gestação adolescente (DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008; NOGUEIRA et al.,
2009).
Para conceber tal discussão, o presente estudo foi desenvolvido com a
contribuição teórica da Teoria das Representações Sociais que, segundo Santos
(2005), se volta para a compreensão da elaboração dos conhecimentos e práticas
socialmente compartilhados, por um grupo social específico, acerca de um
determinado objeto. Dessa forma, ela oferece subsídios para entender os sentidos
produzidos pelos profissionais de saúde, enquanto sujeitos sociais, acerca da
gravidez na adolescência, como objeto de relevância social, no emaranhado das
suas interações.
Conforme Moscovici (2003), as representações sociais diferem de acordo com
as peculiaridades de cada sociedade, de modo que são constituídas nos sistemas
de pensamentos preexistentes através de influências mútuas nas convenções
implícitas no percurso dos diálogos que apontam conjuntos de crenças aportados
em costumes, princípios e conceitos que perpassam o homem na sua interação com
o mundo. Diante do exposto, a presente pesquisa, ao abordar o universo de
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interações entre os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família e as
adolescentes grávidas, recorre aos objetivos apresentados a seguir.
1.1 Objetivo Geral
Apreender as representações sociais da gravidez na adolescência para os
profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família.
1.2 Objetivos Específicos
Analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais acerca da
gravidez na adolescência para os profissionais de saúde;
Compreender em que se ancoram e como são objetivadas as representações
sociais dos profissionais de saúde a respeito da gravidez na adolescência;
Conhecer os sentidos compartilhados pelos profissionais de saúde em
relação à gravidez na adolescência.
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CAPÍTULO II
ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ
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CAPÍTULO II – ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ
2.1 A adolescência como construção coletiva
A adolescência, como categoria identitária, refere-se a modos peculiares de
subjetivação que estão em constante mudança. Assim é impossível defini-la de
forma estática, o que indica a existência de adolescências, no plural, caracterizadas
pela interação do indivíduo no seu contexto histórico-cultural, marcado por
determinadas características de gênero, classe social, religião, raça, entre outras.
Nesse sentido, não se torna viável uma compreensão unívoca da adolescência, já
que ela é vivenciada de modo peculiar ao levar-se em consideração a diversidade e
pluralismo cultural do contexto social de cada sujeito que compartilha referências
identitárias, linguagens, comportamentos e formas de socialização diversas
(TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002).
Vale lembrar que ao longo da história, o período considerado como
adolescência nem sempre existiu e também não era reconhecido como uma etapa
específica do desenvolvimento humano. Havia distinção somente da puberdade
como um período em que aconteciam transformações corporais típicas da biologia
humana, de modo que as mudanças corporais da puberdade eram contempladas
independentemente de um olhar acerca da sociedade, cultura ou período histórico
(AVILA, 2005).
Martins et al. (2003) observam que é equivocada a noção de uma visão
universal a respeito da adolescência, pois ela está inserida num momento histórico,
cultural e social que constrói como também molda as diversas formas de vivenciar
determinada etapa da vida, além de ter influência sobre as crenças, o gênero, o
grupo social, a geração, entre outros fatores que perpassam a constituição do
indivíduo.
Em épocas passadas da história ocidental, a adolescência não era apreciada
como uma etapa especial do desenvolvimento e não havia uma construção cultural e
social em torno dessa fase. Durante um bom tempo, as crianças mantiveram-se
inseridas nas tarefas do trabalho desde os sete anos. Assim, elas não tinham como
meta o estudo, e o modelo educativo existente não dividia o ensino de acordo com
23
as diferenças de idade. Nesse sentido, a concepção de adolescência só começou a
ser formada no final do século XVIII e se perpetuou no século XX (ARIÈS, 1981).
Ao passar do tempo, a família também sofreu transformações sócio-históricas
em que o domínio da figura paterna que configurava o padrão hierárquico de
obrigações familiares rigidamente determinadas foi aos poucos substituído por uma
postura de padrão igualitário que preza o atendimento à individualidade e liberdade.
Nessa perspectiva, o novo modelo familiar contribui para que os adolescentes
sintam-se mais livres para vivenciar suas descobertas e experimentações, pois o
diálogo entre os membros da família tomou o espaço do peso da autoridade familiar
(PEIXOTO e CICCHELLI, 2000; SCAVONE, 2001; SARTI, 2007).
Vale ressaltar que a ideia do que atualmente é concebido como adolescência
está relacionada aos novos modelos de grupo social que começaram a surgir, no fim
do século XVIII, associados às aspirações modernas de individualidade e liberdade.
Nesse sentido, o final do século XIX culminou com mudanças notáveis na cultura
ocidental, associadas às demandas da sociedade industrializada, o que trouxe
modificações em relação ao tempo de formação escolar, que incluiu uma maior
permanência do indivíduo na escola. Assim, a maior duração do período escolar
trouxe um espaçamento na firmação da denominada idade adulta e resultou no
prolongamento do espaço entre a fase da infância e a etapa adulta. Então, formou-
se a adolescência, uma etapa de desenvolvimento com peculiaridade própria e sem
abarcar os encargos que abrangia a vida adulta, de modo que se consolidou como
um momento de conflitos e transformações do indivíduo na passagem para tornar-se
adulto (GROSSMAN, 1998; AVILA, 2005).
Somente no século XIX começou-se a distinguir a adolescência como um
período em que o indivíduo passa a ter conflitos com ele mesmo e com as
determinações sociais. Vale lembrar que esse século foi um período caracterizado
pela consolidação dos Estados Nacionais, pelas transformações dos papéis sociais
atribuídos às crianças e às mulheres e pelo progresso rápido da industrialização.
Portanto, apenas nos séculos XIX e XX, surgem episódios culturais, sociais e
demográficos que parecem ter corroborado com a compreensão da adolescência
enquanto etapa característica do desenvolvimento humano (ARIÈS, 1981; KIMMEL
e WEINER, 1998).
Desse modo, observa-se que a psicologia do adolescente é uma construção
recente que analisa o fenômeno da adolescência por meio de teorias diversas, as
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quais apresentam suas peculiaridades. As teorias psicológicas acerca da
adolescência apresentam entendimentos diferentes a respeito dessa fase. Há
abordagens universalizantes e naturalistas que colaboram com a ideia de
comportamento patológico da adolescência. Assim como, também existem
perspectivas que compreende essa etapa implicada numa visão histórica e social.
(AVILA 2005, STEINBERG e LERNER, 2004).
Nesse sentido, Sifuentes et al. (2007) referem que a adolescência, assim
como as outras fases do ciclo vital, abrange aspectos psicológicos e sociais, cujas
características entrelaçam-se ao contexto de interação ao qual se está inserido.
Essa perspectiva é de grande valor para a compreensão do desenvolvimento
humano e, particularmente, da adolescência.
Bock (2004) ressalta que a adolescência não é uma etapa típica do
desenvolvimento que marca o período entre a infância e a vida adulta, pois as
mudanças corporais do indivíduo, ao longo do seu desenvolvimento, vêm
acompanhadas de uma rede de sentidos e significações disseminadas no meio
social. Dessa forma, a adolescência é vista como uma construção social que
abrange as relações sociais e históricas que culminam com o aparecimento da
adolescência na sociedade ocidental.
Diante do exposto, as relações sociais, os meios de comunicação e as teorias
formuladas acerca da adolescência constroem modelos de juventude que interferem
na maneira como essa fase é interpretada, assim como influenciam a realidade dos
adolescentes. De tal modo, as redes de significações sociais intervêm na
constituição da identidade do adolescente através da absorção das noções e
padrões sociais (BOCK, 2004).
Vale salientar que o século XXI, devido ao crescimento da taxa de natalidade
no Brasil, foi marcado por um amplo número de pessoas que estavam na faixa etária
da adolescência. Nessa época, o panorama econômico, devido às crises sociais e
problemas urbanos que o país enfrentava, propiciou dificuldades para os
adolescentes encontrarem emprego, o que acarretou mudanças de valores sociais
em torno da adolescência. (MATHEUS, 2003).
Nesse contexto, o crescimento da expectativa de vida populacional, o
aumento do consumo material e as modificações dos papéis sociais advindos da
emancipação feminina, trouxeram artifícios que reforçaram a separação entre
sexualidade e reprodução na adolescência, juntamente com as modificações nos
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valores sociais e diminuição das influências e autoridades tradicionalmente
desempenhadas pela instituição religiosa, família e comunidade (VARGAS e
NELSON, 2001; BRANDAO e HEILBORN, 2006).
Diante disso, a adolescência, na atualidade, obteve o caráter de um momento
crucial para o desenvolvimento do indivíduo que geralmente é visto, nessa etapa,
como alguém que apresenta conflitos existenciais próprios de quem está
vivenciando uma fase de indefinição de espaço no mundo social. Ao mesmo tempo,
o adolescente torna-se um sujeito de direitos que está sob cobertura do estado, o
qual mantém e formula leis que o protejam integralmente dentro de um entendimento
que a adolescência é uma etapa crucial do desenvolvimento que apresenta
determinadas peculiaridades (ESPINDULA e SANTOS, 2004; AVILA, 2005).
O olhar voltado ao adolescente enquanto sujeito protegido pelas leis
governamentais passou a acontecer no Brasil desde 1900, porém o alcance do
poder jurídico na proteção integral do adolescente se perpetua de forma diferenciada
de acordo com a classe social e região geográfica do país. Assim, as populações
mais carentes ainda são as menos contempladas com ações de proteção do
governo. (TORRES et al., 2010; BUCHER-MALUSCHKE, 2007).
Diante do exposto, a adolescência não deve estar limitada à visão de um
conjunto de fenômenos universais implicados no crescimento e desenvolvimento
somático-mental, uma vez que as transformações pelas quais passam os
adolescentes também resultam de processos inerentes aos contextos sociais
(históricos, políticos e econômicos) nos quais esses indivíduos estão imersos
(FERREIRA et al., 2007).
Conforme AVILA (2005) e MESQUITA (2008), ao estudar as nuances que
cercam a adolescência apreende-se também o meio social e as diversas questões
que a cercam. Por outro lado, as compreensões que permeiam a adolescência, a
qual é um fenômeno construído coletivamente, sofrem variações de acordo com a
cultura e sociedade. Assim, um olhar voltado para as interações sociais faz-se
essencial para a compreensão dos fenômenos psicossociais que permeiam esse
período da vida. Ao tomar a adolescência como ligada às influências sócio-históricas
bem como aos sentidos que regem em torno da puberdade e dos processos
fisiológicos que esta manifesta, o episódio da gravidez nessa fase da vida é assunto
que ganha destaque no âmbito público.
26
2.2 Sexualidade e Gravidez na adolescência
A sexualidade é um componente da condição humana e abrange um conceito
vasto que ultrapassa a genitalidade, de modo que as diversas sociedades possuem
valores culturais sobre as questões acerca da sexualidade e estas permeiam ao
longo das diversas gerações. As ideias compartilhadas sobre a sexualidade estão
presentes nos signos culturais que circulam e são reforçados pela mídia e práticas
sociais. Nesse contexto, os meios de comunicação trazem diversas mensagens
acerca dos valores que permeiam e direcionam a sexualidade humana, o que pode
reforçar normas sobre determinados aspectos da vida sexual dos adolescentes
(HENNIGEN e GUARESCHI 2002; BOZON, 2004).
Vale salientar que desde o nascimento, as pessoas são educadas
sexualmente para aprenderem quais os comportamentos e atitudes são socialmente
adequados, porém surgem atritos decorrentes das repressões às manifestações
sexuais que fogem dos padrões sócio-históricos construídos. Na Grécia Antiga, por
exemplo, as garotas costumavam casar entre 15 e 16 anos. Elas se preparavam
fisicamente com exercícios e prática esportiva com a finalidade de obter disposição e
saúde nas futuras tarefas domésticas e da maternidade. A puberdade era
considerada uma fase de preparo para as atividades da fase adulta, que consistiam
na maternidade para o sexo feminino (MAZEL, 1988; CATONNÉ, 1994; HENNIGEN
e GUARESCHI 2002; BOZON, 2004).
Conforme Hercowitz (2002), a sexualidade traz uma importante influência
para o desenvolvimento do indivíduo e sua inclusão no arcabouço social. Nesse
sentido, alguns temas vêm se destacando quando se trata da sexualidade dos
adolescentes, dentre os quais se pode destacar o avanço da epidemia do HIV/AIDS
e o aumento da incidência de gravidez entre os mais jovens. Diante disso, a atenção
dos profissionais de saúde torna-se relevante aos adolescentes no que se refere à
vulnerabilidade e repercussões que perpassam a saúde sexual e reprodutiva desses
jovens (CASTANHA et al., 2006; SANTOS et al., 2009).
De acordo com Mesquita (2008), a gestação na adolescência torna mais
explícitas para a família as questões referentes à sexualidade do adolescente, a qual
costuma ser negligenciada e ainda é considerada tabu no âmbito familiar. Dessa
forma, quando a adolescente se torna mãe desperta repulsa por parte da sociedade,
pois a maternidade nesse período é socialmente vista como um evento negativo que
27
traz perda das oportunidades e “diversões” da vida juvenil. Nesse contexto, a
gravidez adolescente é considerada um problema para a futura geração devido às
responsabilidades que ela acarreta ao adolescente que não é considerado apto para
prover os cuidados que requer a chegada de um bebê.
Conforme o exposto, a gestação na adolescência é permeada pelo estigma
da negatividade que a coloca como empecilho para os adolescentes construírem um
projeto de vida estável quando adultos. Entretanto, algumas pesquisas realizadas
com público de camadas pobres da população constatam que a maternidade não
condiz, para as mães adolescentes, numa perda ou descontinuidade dos seus
projetos de vida. Desse modo, a gravidez muitas vezes aparece enquanto um valor
de status social que não é assumida como um fato que impeça os planos para o
futuro e o prosseguimento dos estudos para as adolescentes gestantes (PANTOJA,
2003; BRANDAO e HEILBORN, 2006).
Vale ressaltar que a sexualidade do adolescente encontra-se menos
vinculada ao matrimônio e mais destinada à autonomia, ganho de experiência e
interação com os outros. Ter uma vida sexual é uma forma de o adolescente
expressar sua autonomia perante os pais, assim é preciso cuidado ao depositar a
falta de informação como fator primordial para a ocorrência da gravidez na
adolescência, pois gerar um filho na adolescência pode ser a pretensão e escolha
de alguns adolescentes. Dessa forma, faz-se essencial conhecer os contextos
socioculturais que cercam o fenômeno da gravidez na adolescência. (CICCHELLI,
2001; BOZON, 2004; MESQUITA, 2008).
Nesse sentido, a vivência da sexualidade dos adolescentes, assim como os
aspectos ligados à reprodução, devem ser percebidos dentro do contexto das
transformações ocorridas, ao longo do tempo, na conjuntura intergeracional que
englobam o conjunto das mudanças fruto da construção social que permeia a
adolescência, a sexualidade, e a gestação na adolescência. Assim, a sexualidade do
adolescente está atrelada às práticas sociais e representações de uma dada cultura
(MESQUITA, 2008; BOZON, 2004).
Lima et al. (2004) ressaltam que para entender o fenômeno da gravidez na
adolescência é preciso compreender um pouco da realidade dos atores sociais. No
que se refere à complexa rede de inter-relações que configura a gravidez na
adolescência, ganham destaque: a impulsividade, o imediatismo, os sentimentos de
onipotência e indestrutibilidade, a idade cada vez mais precoce da menarca e da
28
iniciação sexual, a falta de informação sobre concepção e contracepção, a baixa
auto-estima das jovens, a aspiração à maturidade para concorrer em nível de
igualdade com os pais e o fato da gravidez fazer parte do projeto de vida, na
tentativa de alcançar autonomia econômica e emocional em relação à família de
origem.
Apesar dos adultos geralmente perceberem a gravidez na adolescência como
indesejada, muitas vezes a adolescente deseja, planeja e se frustra quando constata
que a gravidez não ocorreu. Há que se ter uma atitude cuidadosa ao avaliar a
gravidez na adolescência, pois um pré-julgamento pode interferir na escuta aos/às
adolescentes e na qualidade da relação que se poderia estabelecer na escola ou
outros espaços de convivência juvenil (PANTOJA, 2003; FOLLE e GEIB, 2004;
RANGEL e QUEIROZ, 2008; GONTIJO e MEDEIROS, 2008).
As condições materiais da existência e os significados e expectativas que
cercam a gravidez, torna-se para algumas adolescentes parte do projeto de vida,
constituindo-se para outras em um evento não planejado, em uma surpresa
desagradável que gera temores e conflitos ou acentua os já existentes. Desse modo,
é preciso considerar o receio de assumir a gravidez diante dos familiares, do grupo
de iguais e dos demais membros da rede de relações sociais e de enfrentar as
novas responsabilidades trazidas por essa situação, que podem provocar mudanças
profundas na vida cotidiana (RIBEIRO e UHLIG, 2003; RANGEL e QUEIROZ, 2008;
GONTIJO e MEDEIROS, 2008).
Entre as mães adolescentes são mais frequentes o abandono da escola, o
afastamento do grupo de amigos e das atividades próprias da idade e as limitações
de oportunidade de emprego. Nessas circunstâncias, adquirem relevância o
aumento na frequência de abortamentos provocados nesse grupo populacional, o
início tardio de consultas pré-natal com número menor do que o esperado (RIBEIRO
e UHLIG, 2003; FOLLE e GEIB, 2004; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; SILVA et al.,
2009; VIEIRA et al., 2010).
Vale considerar que, na gravidez, independente da idade, a mulher passa por
uma crise situacional decorrente da mudança de papel social, da necessidade de
novas adaptações, e dos reajustes interpessoais e intrapsíquicos que interferem na
sua identidade. Os diferentes padrões de relações afetivo-sexuais coexistem com a
responsabilização da mulher na esfera da contracepção e as suas dificuldades para
negociar o sexo seguro, quando não faz a opção pelo uso de métodos
29
contraceptivos femininos. Além disso, na vivência da gravidez, a adolescente
defronta-se com alterações corporais que afetam sua autoimagem e autoestima.
(FELICIANO, 2001; FOLLE e GEIB, 2004; SILVA et al., 2009).
Porém, as práticas de saúde pública não estão voltadas para incluir os
adolescentes no próprio cuidado em relação à sua saúde sexual e reprodutiva. De
modo que o público adolescente acaba por não levar, aos serviços de saúde, seus
questionamentos em relação à sexualidade com receio de não serem
compreendidos e por medo de sofrer preconceitos e discriminações (BRASIL,
2006b).
Segundo Altmann (2009), o progresso da liberdade sexual aproximou os
adolescentes das questões da sexualidade. Porém, a educação sexual ainda não
preenche o espaço adequado em relação aos cuidados referentes à contracepção e
responsabilização advinda da gravidez na adolescência, a qual é considerada nas
últimas décadas fonte de problemas sociais, mesmo não sendo um fenômeno
recente no panorama brasileiro. A gestação de adolescentes adquiriu a designação
de problema social que demanda cuidados específicos dos poderes públicos e da
sociedade de um modo geral. (HEILBORN et al., 2006).
2.3 A gravidez na adolescência enquanto “problema social”
A gravidez na adolescência é exibida como um problema no andamento do
adolescente e prende-se a um olhar de sobressalto e moralista. Porém, como já foi
discutido anteriormente, ter filhos antes dos dezenove anos não designava uma
questão de esfera e preocupação pública como ocorre na atualidade. Mas, o novo
panorama sociocultural existente, que perpassa o trajeto para a vida adulta, torna-se
“impróprio” para a maternidade da adolescente, pois ele é nutrido pelas diversas
tecnologias de informação inovadoras, pela dispersão dos vínculos sociais, pela
busca ao consumo, entre outros valores capitalistas (BRANDAO e HEILBORN,
2006; HEILBORN et al., 2006).
Dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que a quantidade de
partos em adolescentes de 10 a 19 anos caiu 22,4% de 2005 a 2009. Na primeira
metade da década passada, a redução foi de 15,6%. De 2000 a 2009, a maior taxa
de queda anual ocorreu em 2009, quando foram realizados 444.056 partos em todo
30
o País, 8,9% a menos que em 2008. E ao longo da década, a redução total foi de
34,6%. Já o Norte e o Nordeste apresentaram os índices de quedas de fecundidade
mais altos em relação às outras regiões do país. Ao realizar-se uma análise da
quantidade de partos registrados em Pernambuco, levando-se em consideração a
faixa etária de 10 a 19 anos, observa-se que também houve uma queda no número
de partos. Em 2000 foram 39.183, no ano de 2005 foram 32.981 e em 2009 foram
registrados 26.419 partos (BRASIL, 2010).
Vale destacar que mesmo havendo uma queda na fecundidade em todo o
Brasil, a gravidez de adolescentes em situação de vulnerabilidade social é
apresentada de modo alarmante. Foi a partir dos anos 80 que se adicionaram
discussões sobre as implicações geradas pela gravidez na adolescência na
conjuntura social. Discute-se que o desdobramento da família monoparental
chefiadas por mulheres provoca o adensamento da pobreza, pois contribui para a
evasão escolar das adolescentes que engravidam e gera dificuldades para ingressar
ou manter-se no mercado de trabalho, o que consequentemente contribui para a
situação de marginalização social e prejuízo econômico. Nesse sentido, a idade
socialmente considerada como ideal para uma pessoa ter filhos parece estar
vinculada aos ideais a respeito do ingresso na profissão, da formação escolar e da
vida sexual sem fins de reprodução (ALTMANN, 2007; HEILBORN et al., 2006).
De acordo com Altmann (2007) e Heilborn et al. (2006), o destaque social
atribuído à gravidez na adolescência está atrelado às demandas sociais em torno da
adolescência, da mulher e da maternidade. A adolescência é apreciada como uma
época imprópria para engravidar porque se considera que a maternidade e a
paternidade devem ocorrer no período em que os futuros pais da criança tenham
estabilidade financeira e maturidade para criá-la adequadamente sem obstáculos
para sua vida profissional e pessoal. Nessa perspectiva, utilizam-se os termos não
planejada, precoce e indesejada para aludir à gravidez na adolescência, visto que há
demandas sociais sobre como a adolescência deve ser vivida e, assim, consideram-
na incompatível com a experiência da gravidez (UNBEHAUM e CAVASIN, 2006;
FERRARI et al., 2008; SILVA e CAMARGO, 2008; CORRÊA e BURSZTYN, 2011).
Nesse contexto, o crescimento da expectativa de vida populacional, o
aumento do consumo material e as modificações dos papéis sociais advindos da
emancipação feminina, trouxeram artifícios que reforçaram a separação entre
sexualidade e reprodução na adolescência, juntamente com as modificações nos
31
valores sociais e diminuição das influências e autoridade tradicionalmente
desempenhadas pela instituição religiosa, família e comunidade (BAJOS et al., 2002;
HEILBORN et al., 2006).
Vale ressaltar que as mudanças no modelo de fecundidade do público
feminino do Brasil tiveram influências das transformações ocorridas no papel social
ocupado pelas mulheres, o que trouxe novas possibilidades para os adolescentes,
no que diz respeito à vida escolar e profissional. Assim, a preocupação social em
torno da gravidez na adolescência sofreu influência das transformações ocorridas na
compreensão do gênero que trouxe perspectivas sociais para os adolescentes da
atualidade, principalmente os do sexo feminino (BRANDAO e HEILBORN, 2006;
HELBORN et al., 2006).
A sociedade demanda que a mulher se programe e se prepare antes de ter
seus filhos, o que decorre de uma expectativa social em relação ao papel da mulher
e uma preocupação em não transformar a gravidez na adolescência num evento
problemático. Nesse sentido, a gestação na adolescência é considerada como um
empecilho social, principalmente no que concerne às classes populares. Essa
gestação, de um modo geral, é vista pela sociedade como um acidente na trajetória
do adolescente, um obstáculo para o ganho da autonomia, uma dificuldade na vida
escolar e profissional, que podem contribuir para a manutenção da pobreza e
marginalização social (ABRAMO e BRANCO, 2005; HEILBORN et al., 2006;
MESQUITA, 2008; ALTMANN, 2009).
Desse modo, a gravidez na adolescência torna-se uma preocupação política,
pois as adolescentes de comunidades pobres comumente cuidam dos seus filhos
sem auxílio do pai da criança e provavelmente precisarão do apoio de políticas
sociais para viver com dignidade. Nessa perspectiva, as adolescentes pobres
necessitarão de maternidades e postos de saúde adequados que coloquem o
planejamento familiar como prioridade. Vale ressaltar que o custo para inserir esses
serviços de saúde nas populações carentes é baixo, ao comparar-se com as
despesas geradas por gravidezes no período da adolescência (VARELLA, 2002;
ALTMANN, 2007; MESQUITA, 2008).
De maneira geral, a gravidez de adolescentes que pertencem a camadas
populares acarreta modificações no estatuto social dos pais da criança, pois eles
começam a formar outros arranjos sociais devido à chegada de um bebê, o que lhes
confere um maior destaque nas suas comunidades e uma alteração na posição que
32
mantinha com a sua família de origem. Os pais adolescentes, geralmente, almejam
independência na construção da sua própria família e o episódio da gravidez na
adolescência constitui, de forma simbólica, uma nova etapa que inclui ascensão no
local onde vivem (BRANDAO e HEILBORN, 2006).
Diante da complexa rede de construções discursivas acerca do tema da
gravidez na adolescência encontra-se o profissional de saúde que lida com o
aparecimento de gestantes adolescentes, ao mesmo tempo em que compartilham
conhecimentos e compreensões sobre essa gravidez. Assim, sobrevém sobre esses
profissionais uma responsabilidade em promover e orientar as questões da vida
reprodutiva do adolescente, mas não livre das ideias e sentidos compartilhados
acerca da temática (DIMENSTEIN, 2002; MESQUITA, 2008).
Nesse sentido, há uma necessidade de organização da saúde pública para
administrar os problemas decorrentes da gravidez na adolescência em populações
mais pobres, pois quando uma adolescente engravida não existem somente
questões individuais envolvidas, mas também demandas sociais que podem ser
abarcadas no âmbito da saúde coletiva com um olhar voltado para as configurações
dessa população (DIMENSTEIN, 2002; MESQUITA, 2008).
O crescimento da fecundidade entre o público adolescente exige uma atenção
adequada das políticas públicas, visto que pode constituir não apenas um
rejuvenescimento definido da fecundidade, mas também uma deficiência na
promoção do acesso a orientações e a métodos contraceptivos. Desse modo, os
sistemas de atenção básica à saúde dos adolescentes exigem ajustes para
acompanhar as transformações por que passam as práticas sexuais (BERQUÓ e
CAVENAGUI, 2004; MESQUITA, 2008).
No que concerne à promoção da saúde do adolescente, destacam-se os
assuntos referentes à saúde sexual e reprodutiva que vêm alcançando novas
perspectivas no âmbito da saúde coletiva, ao partir do princípio que a prevenção da
gestação na adolescência e das doenças sexualmente transmissíveis (DST) deve
ser enfocada por ações coletivas que desmistifiquem o olhar voltado para
responsabilização individual do adolescente pela sua saúde (BORGES et al., 2006;
MESQUITA, 2008).
Diante do exposto, as Unidades de Saúde da Família são locais próprios para
o desenvolvimento de orientações, intervenções e ações educativas para as
adolescentes grávidas, apesar do contexto da saúde pública não se encontrar bem
33
estruturado para lidar com as diversas demandas que advém da gravidez na
adolescência (FERRARI et al., 2006; OLIVEIRA, et al., 2008).
2.4 Gravidez na adolescência e Cuidados em Saúde
O Ministério da Saúde observa que a idade materna inferior a 15 anos é um
fator de risco gestacional (BRASIL, 2005). Na visão da saúde pública há mais riscos
materno-infantis quando a gravidez ocorre entre 10 e 14 anos (COSTA e
HEILBORN, 2006). Nesse contexto, as equipes de saúde das Unidades de Saúde
da Família funcionam como uma importante fonte de apoio social no enfrentamento
da gravidez na adolescência. Elas devem, dentre outras funções, compartilhar o
conhecimento e ações que favoreçam a autonomia das adolescentes no cuidado
com o bebê. Dessa forma, possuem um lugar de destaque na educação sexual e
reprodutiva, ao incorporar a necessidade e a possibilidade de adotar uma atitude
comunicativa que permita reforçar os vínculos de cooperação com os adolescentes
(FELICIANO, 2001; FERRARI et al., 2006, OLIVEIRA, et al., 2008).
As Unidades de Saúde da Família (USFs) compõem o primeiro nível de
assistência local, designado atenção básica, que oferece promoção e prevenção em
saúde aos adolescentes e suas famílias. As USFs precisam estar vinculadas à rede
de serviços de modo a garantir a referência e a contra-referência para os serviços de
maior complexidade, de acordo com a condição de saúde de cada pessoa atendida.
Elas configuram-se na atenção básica com equipes multiprofissionais formadas, no
mínimo, por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes
comunitários de saúde (ACS), podendo contar também com um dentista, um auxiliar
de consultório dentário e um técnico em higiene dental (BRASIL, 2006c).
Os outros profissionais de saúde, como por exemplo, os psicólogos,
fisioterapeutas e nutricionistas, podem ser agrupados a essa equipe mínima ou
serem integrados a equipes de apoio dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASFs), conforme as possibilidades de cada local. Todas as equipes de Saúde da
Família são responsáveis pelo acompanhamento de um determinado número de
famílias, a depender da concentração de famílias no território, situadas em uma
delimitada área geográfica.
34
Vale destacar que o surgimento das equipes de profissionais das Unidades de
Saúde da Família partiu do Programa Saúde da Família (PSF), conhecido
atualmente como Estratégia de Saúde da Família (ESF), que foi uma proposta do
governo federal, em 1994, para implementar a atenção primária nos municípios e
oferecer assistência universal, integral, equânime, e contínua nas comunidades com
acesso às residências da população através de visitas domiciliares (BRASIL, 2004).
Nesse sentido, a Estratégia de Saúde da Família enfoca a atenção à família a
partir de intervenções que ultrapassam as práticas curativas com o intuito de permitir
que as equipes de saúde tenham um olhar ampliado para o processo saúde-doença
através da compreensão do contexto físico e social da população (RODRIGUES et
al., 2008).
Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006c), a ESF pretende contribuir
com um novo modelo de saúde por meio de ações integrais e contínuas de
promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos, saudáveis ou doentes,
de todas as faixas etárias. Assim como visa reverter o modelo assistencial vigente,
voltado para o atendimento hospitalar, práticas curativas e especializadas. Desse
modo, a ESF propõe-se a estruturar serviços de saúde pautados num vínculo entre
os profissionais de saúde e a comunidade, a fim de desenvolver ações intersetoriais
que preconizem a qualidade de vida da população, de modo a democratizar o
acesso aos serviços de saúde.
As alianças do sistema de saúde, preconizadas pela ESF, com os setores da
educação, saneamento, transporte, entre outros implicam na quebra da dicotomia
entre as práticas de saúde pública e a prática médica centrada no atendimento
clínico, bem como reforça a aproximação entre as práticas assistenciais e
educativas. Assim, a ESF traz uma nova configuração de trabalho na saúde,
baseado na interdisciplinaridade e não só na multidisciplinaridade, de forma que a
função do profissional de saúde é vincular-se às famílias da comunidade
estabelecendo com ela uma comunicação horizontal. Essa nova organização dos
sistemas de saúde requer profissionais de saúde capacitados para realizarem novas
práticas fundamentadas na integralidade e visão holística do indivíduo, mediante um
olhar voltado para o contexto social da comunidade e subjetividade do indivíduo
(OLIVEIRA, 2006; RODRIGUES et al., 2008).
No que diz respeito aos adolescentes, o Ministério da Saúde, em 1989,
organizou o Programa de Assistência Integral à Saúde do Adolescente (PROSAD), a
35
fim de oferecer cuidados integrais à saúde do adolescente, destacando-se a atenção
às mulheres diante dos riscos da gravidez na adolescência e suas implicações
psicossociais, biológicas e econômicas. Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde
determinou estratégias, objetivos e diretrizes do PROSAD com intuito de gerar e
incentivar práticas de redução de riscos, promoção à saúde e reabilitação de
adolescentes pautadas na atenção integral, interdisciplinar e multissetorial (BRASIL,
1991b; BRASIL, 1996).
Em 1993 houve a criação das Normas de Atenção à Saúde Integral do
Adolescente, fundamentada nos princípios e diretrizes do SUS. Posteriormente, foi
construída, em 2005, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de
Adolescentes e Jovens a partir de um processo de mobilização da sociedade em
busca de uma política que abarcasse as necessidades de saúde e os anseios dos
adolescentes e jovens. O objetivo dessa política foi gerar atenção integral à saúde
de adolescentes e jovens, entre 10 a 24 anos, no campo da Política Nacional de
Saúde, a fim de promover saúde, prevenir agravos e diminuir a morbimortalidade
dessa faixa etária (RAPOSO, 2009; BRASIL, 2010).
Nesse sentido, a política exprime um novo olhar na atenção à saúde do
adolescente, principalmente por considerar as características culturais e
socioeconômicas da comunidade que os adolescentes fazem parte, assim como as
necessidades específicas do adolescente mediante as questões relacionadas à
raça, gênero, e religião (RAPOSO, 2009).
Apesar dos investimentos do Ministério da Saúde em instituir Programas de
Atenção à Saúde Integral do Adolescente, o atendimento à saúde destinado ao
público adolescente enfrenta diversos entraves, visto que as práticas cotidianas
mostram dificuldades em estabelecer estratégias e ações pautadas numa visão
holística e na abordagem sistêmica das necessidades desse grupo etário. As
práticas de saúde, muitas vezes, não se mostram voltadas a incluir os aspectos
psicossociais nos cuidados ao adolescente (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO,
2002; BRASIL, 2006b).
Traverso-Yépez e Pinheiro (2002) observam que há uma disposição em
negligenciar o contexto social nas práticas de saúde voltadas aos adolescentes,
como por exemplo, nas ações voltadas à gravidez na adolescência ou às doenças
sexualmente transmissíveis, o que resulta em implementações de programas
verticais voltados exclusivamente para a saúde reprodutiva do adolescente, sem
36
levar em consideração as diversas variáveis sociais (raça, classe social, gênero,
religião, entre outros) que influenciam no seu comportamento sexual.
Os programas de intervenção para o público adolescente mantêm atenção
destinada à saúde reprodutiva sem a preocupação em construir ações intersetoriais
e interfederativas que colaborem com estratégias de saúde integral destinadas a
explorar o caráter multifacetado da saúde humana. Essa forma de conceber a saúde
do adolescente é fruto de uma lógica que foi pautada no modelo biomédico, o qual
contraria os preceitos legais do Sistema Único de Saúde (SUS), que se colocam
como um desafio nas práticas dos profissionais de saúde, pois estas ainda
permanecem com forte influência da visão clínica respaldada apenas nos aspectos
orgânicos do adoecimento (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002).
O Sistema Único de Saúde (SUS), nos seus princípios constitucionais,
reconhece que o processo saúde-doença sofre, diretamente ou indiretamente,
influências de determinantes econômicos, sociais e políticos. Desse modo, o SUS
amplia a visão de saúde a partir da integração dos setores de saúde com os setores
sociais e políticos, o que se tornou essencial para a garantia da qualidade de vida da
população através da oferta de serviços acessíveis ao contexto de vida populacional
(BRASIL, 2010).
No entanto, há um grande desafio a ser alcançado na organização das
práticas de saúde, pois o processo de descentralização aproximou os serviços de
saúde e a realidade social, administrativa e política de cada região, trazendo um
maior diálogo entre diversos setores assistenciais, assim como, barreiras a serem
superadas devido às dificuldades em cumprir de forma satisfatória os princípios e
diretrizes do SUS (BRASIL, 2010).
Conforme Pinheiro e Luz (2003), a eficácia das práticas de saúde está
diretamente relacionada com a atuação das terapêuticas e dos terapeutas, que
permanece submetida aos limites institucionais de um determinado modelo de
saúde, o qual é seguido, mantido e disseminado por diversas instituições ou
corporações. Nesse sentido, para haver o estabelecimento de mudanças na
organização das práticas de saúde, é preciso conhecer os interesses que regem a
lógica vigente nesse contexto.
A racionalidade médica, por exemplo, surge como uma lógica dominante e
busca priorizar ações curativas provenientes de saberes especializados e focados
em intervenções farmacológicas para a resolutividade dos problemas de saúde.
37
Desse modo, a integralidade não é uma prioridade da atenção à saúde proveniente
do modelo biomédico. (PINHEIRO e LUZ, 2003).
Segundo Merhy (2007), a construção de um modelo de saúde cujo foco está
no corpo biológico que adoece, foi elaborada ao longo do tempo nas sociedades
ocidentais e reflete um campo de disputa de saberes em que se destacam modelos
de normatização das práticas de saúde.
Entretanto, Pinheiro e Luz (2003) observam que para haver um alcance da
complexidade das necessidades de saúde da população, é preciso ultrapassar os
limites da objetividade do modelo biomédico e abranger a subjetividade dos
indivíduos nas discussões acerca da organização das práticas de saúde, o que
permitirá entender as configurações que perpassam as relações entre agente social
e sociedade, visto que essa compreensão é essencial na dinâmica condutora das
ações integrais em saúde.
Diante do que foi exposto, Mattos (2001) argumenta que há dificuldade em
oferecer ações integrais em saúde também é parte de uma lógica de relações
sociais utilitaristas que não oferecem abertura para dialogar com o outro nas práticas
dos serviços de saúde, nos debates acerca da organização desses serviços e nas
discussões sobre as políticas que os regem.
Vale destacar que os adolescentes do Brasil procuram pouco os serviços de
saúde, o que é em parte explicado pelo fato das instituições de saúde refletirem
relações de poder que não aproximam o adolescente do serviço e não
correspondem às suas expectativas, como também não atraem essa faixa etária no
sentido de prevenção e promoção de saúde (BRASIL, 2006b).
Dessa forma, Campos et. al (2004) trazem a importância de conceber, na
organização das práticas de saúde, uma visão voltada para a subjetividade do
sujeito e o seu contexto social, visto que cada indivíduo possui uma singularidade, a
qual sofre influência das relações sociais estabelecidas. Assim, o profissional de
saúde deve estar atento a todos esses fatores que exercem influência na saúde do
sujeito.
Segundo Uchôa e Vidal (1994), os universos social e cultural desempenham
uma grande influência sobre a adoção de comportamentos de prevenção ou de
risco, como por exemplo, a não adesão de diversas populações a um determinado
programa. Desse modo, a efetividade de um programa de saúde está relacionada à
sua aceitação e adesão da população, o que depende da relação que o programa
38
estabelece sobre determinados grupos populacionais. Faz-se essencial conhecer
previamente as maneiras de pensar e agir da população para que esta se identifique
e vincule-se ao que está sendo proposto pelos programas de saúde (UCHÔA e
VIDAL,1994).
Um exemplo disso é que a noção de família que baseia as práticas de muitos
profissionais de saúde, não compreende famílias formadas por adolescentes, o que
reflete um problema na organização das práticas de saúde (BRASIL, 2006a). De
acordo com Brasil (2006b), os serviços de pré-natal e planejamento familiar, a porta
de entrada para atender assuntos relacionados à saúde sexual e reprodutiva, são
insuficientes para atender as diferentes necessidades e expectativas referentes à
sexualidade e reprodução dos adolescentes.
Existe um forte despreparo por parte dos profissionais de saúde para lidar
com as questões referentes à saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes
(FERRARI et al., 2006). A falta de qualificação parece transformar-se num empecilho
para o desenvolvimento de trabalhos eficazes nas comunidades. Assim, a maioria
das unidades de saúde não oferece ações direcionadas ao público adolescente,
especialmente em relação à sexualidade e reprodução (OLIVEIRA, et al., 2008
YAZLLE et al., 2009).
Os profissionais de saúde são fundamentais no apoio às adolescentes
grávidas, porém precisam adequar suas práticas de acordo com as demandas e
necessidades surgidas nos diferentes contextos sociais do adolescente. Os
profissionais, apesar de serem agentes das práticas de cuidado, ainda estão presos
às ações prescritivas, impositivas e de supervisão, o que faz menção a uma postura
de detentor do saber. Nesse sentido, muitos se encontram despreparados para
fomentar ações de saúde ao levar em consideração as necessidades e
especificidades da adolescência em um determinado contexto de interação social
(OLIVEIRA, et al., 2008; YAZLLE et al., 2009).
Segundo Traverso-Yépez e Pinheiro (2002), muitas práticas de saúde ainda
são realizadas à margem de reflexões acerca do contexto sociocultural e econômico
do adolescente, o que colabora com a manutenção de papéis tradicionais de
conformismo e submissão das camadas sociais mais desfavorecidas
economicamente. Essa forma de abordagem desconsidera os princípios do SUS e
acaba responsabilizando a própria população pela situação de vida precária,
39
tornando as ações de saúde ineficientes para proporcionar melhoria na qualidade de
vida das pessoas.
Nessa perspectiva, a saúde do adolescente é tratada separadamente da
conjuntura de interação social, de forma que as práticas de saúde não conseguem
abranger a dimensão biopsicossocial que se relacionam aos sofrimentos e mazelas
do adolescente. Dessa maneira, os adolescentes são desrespeitados na sua
condição de cidadão e tornam-se, muitas vezes, depositários de conflitos e
problemas que não conseguem lidar adequadamente, assim como acabam por não
buscar seus direitos (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002; FERRARI et al., 2006;
OLIVEIRA, et al., 2008).
Nesse contexto, as adolescentes pobres e negras são as mais atingidas por
complicações na sua saúde e riscos de aborto devido à carência na assistência
obstétrica e ao impacto de condições de vida precárias. Diante disso, a mortalidade
entre mães e bebês não é explicada somente pela faixa etária, mas relaciona-se
principalmente às condições socioeconômicas e à qualidade da assistência
obstétrica (BRASIL, 2006b).
Dessa forma, Traverso-Yépez e Pinheiro (2002) ressaltam que há uma
necessidade do desenvolvimento de práticas de saúde que ofereçam autonomia
para o adolescente e a possibilidade dele construir o seu projeto de vida, mesmo
diante de situações de vulnerabilidade extrema em que a falta de oportunidades de
trabalho, educação e lazer fazem parte do contexto social do adolescente.
Isso demanda a abertura de um diálogo democrático entre o público
adolescente e os profissionais de saúde para que suas práticas não estejam
pautadas em mitos e preconceitos. Nessa perspectiva, a oferta de atividades
coletivas que proporcione a interação no âmbito da saúde, particularmente aquelas
que reúnem adolescentes de diversos grupos sociais, tornam-se uma alternativa
para promover a inserção social, ao contribuir com práticas de saúde perpassadas
por incentivo à autonomia, ao auto-cuidado, à responsabilidade e à construção de
um projeto de vida para o adolescente (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002;
FERRARI et al., 2006; OLIVEIRA, et al., 2008).
Diante da relevância da temática da gravidez na adolescência para os
profissionais de saúde, emergem representações sociais que passam a dar sentido,
orientar e conduzir o modo como esses profissionais agem e compreendem a
gestação no período da adolescência. Vale ressaltar que as representações formam
40
um saber prático tanto por estarem inseridas na experiência, que envolve um
contexto histórico, cultural e espacial, quanto por orientarem as comunicações e
condutas dos diversos grupos sociais (JODELET, 2001).
Perante o exposto, a Teoria das Representações Sociais se apresenta como
uma proposta interdisciplinar de conhecimento, uma vez que trata das relações de
indivíduos e sociedade, com sua cultura e história (SANTOS e ALMEIDA, 2005).
Portanto, conhecer as concepções dos profissionais de saúde sobre a gravidez na
adolescência se faz necessário na compreensão de tomadas de posição e
estratégias de intervenção frente a este processo.
41
CAPÍTULO III
A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
42
CAPÍTULO III - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
3.1 O estudo da Teoria das Representações Sociais
A equipe de saúde passa por uma formação científica específica para a
realização de suas atividades. No entanto, na construção de sua prática profissional,
esta equipe se depara com uma diversidade de sujeitos que trazem consigo suas
crenças, seus valores e suas histórias de vida, que acabam sendo confrontados com
as crenças e conhecimentos científicos da própria equipe, que poderão influenciar
diretamente nas práticas de saúde desenvolvidas junto às adolescentes grávidas.
Nesse sentido, a presente pesquisa se utiliza do suporte teórico da Teoria das
Representações Sociais (TRS), para analisar como as representações influenciam
na compreensão e prática desses profissionais perante a gravidez na adolescência e
nas suas relações frente a esse processo.
De acordo com Moscovici (2003), os indivíduos estão unidos por crenças,
sentidos e imagens que são constituídos nas interações mútuas, como também
permeiam os estilos de vida e as práticas coletivas da sociedade. Nesse sentido, a
maior parte dos conhecimentos que as pessoas possuem foi adquirida através do
contato e interação com outras pessoas a partir da linguagem, das narrativas ou dos
objetos que são utilizados. Porém, não se pode negar que há percepções e
experiências subjetivas.
Vale ressaltar que uma sociedade não pode ser concebida apenas pela
presença de um coletivo que agrupa pessoas por meio de uma hierarquia de poder.
Assim, os jogos de interesse e poder existem, mas eles são distinguidos como tais
devido à existência de representações ou valores que lhes atribuem sentido e
influenciam na vinculação e agregação dos indivíduos (MOSCOVICI, 2003).
As representações sociais são fenômenos dinâmicos, de modo que o conceito
das representações sociais passou por mudanças ao longo da história e foi
construído e reformulado juntamente com as modificações da sua teoria. Nesse
sentido, as pesquisas científicas não podem captar os fenômenos de representação
social em sua totalidade, pois eles estão propensos a constante alteração, como
também se apresentam de modos diversos nos meios de comunicação, nas práticas
43
sociais, nas instituições e nas muitas facetas advindas da interação social (SÁ, 1998;
MARKOVÁ, 2006).
Os estudos sociais psicológicos de Serge Moscovici, durante os anos 50 e 60,
retomaram o conceito de representação coletiva e social explorado por Durkheim.
Nessa perspectiva, para um melhor entendimento do termo representações sociais,
faz-se necessário esclarecer o conceito sociológico de representação coletiva
explorado pelo sociólogo francês Émile Durkheim e diferenciá-lo do conceito
psicológico social de Moscovici (MARKOVÁ, 2006; ALVES-MAZZOTTI, 2008).
Moscovici, ao apresentar a noção das representações sociais, separa-se da
visão sociologizante de Durkheim, assim como se afasta do olhar psicologizante da
Psicologia Social vigente. A sua teoria sofreu influência dos estudos de Piaget
acerca do conhecimento de senso comum nas crianças, pois se voltou para
entender o conhecimento do senso comum nos adultos e propôs um conceito
modificado da representação social, fundamentado no pensamento de senso
comum, na comunicação e no conhecimento. Dessa forma, a Teoria das
Representações Sociais traz uma perspectiva psicossocial na medida em que
explora a interação entre a sociedade e o indivíduo (MARKOVÁ, 2006; ALVES-
MAZZOTTI, 2008).
Vale lembrar que Moscovici, viveu num momento histórico diverso ao de
Durkheim, assim como teve preocupações epistemológicas diferentes das dele.
Desse modo, a teoria de Durkheim acerca das representações coletivas parte de
uma época em que os fenômenos sociais e culturais eram considerados como
entrelaçados. Assim, o conceito das representações coletivas constituía uma
conexão entre sociedade e cultura com uma constituição especificamente social em
que as representações eram originadas coletivamente na vida social (XAVIER, 2002;
MARKOVÁ, 2006).
Dessa forma, Durkheim, ao explanar os fenômenos sociais, apresenta o
domínio do coletivo sobre o individual e do social sobre o psíquico. Ele percebeu o
indivíduo como fruto da realidade social, a qual compõe a consciência coletiva que
rege o comportamento e as ações dos indivíduos, assim como atribui coesão à vida
social. Vale ressaltar, que as representações coletivas apresentam uma
manifestação concreta que embasariam o comportamento dos indivíduos numa
sociedade, assim como os diversos sistemas que a compõem e as estruturas de
domínio social (XAVIER, 2002; ALVES-MAZZOTTI, 2008).
44
Porém, a sua contribuição teórica reduz-se ao olhar das relações externas,
sem abarcar o processo de influência das representações sobre os grupos e
indivíduos. Também não leva em consideração a constituição e organização das
interações sociais e da elaboração de significados. Durkheim aludia de forma bem
geral aos fenômenos sociais e psíquicos que incluíam as crenças, ciência, mitos e
ideologia sem haver menção nem esclarecimento acerca dos processos que
fundamentariam essas formas de organização do pensamento (XAVIER, 2002;
ALVES-MAZZOTTI, 2008).
Conforme Marková (2006), as representações coletivas aludiam às diversas
atividades da mente e não se referiam a um fenômeno específico. Desse modo,
todas as coisas eram capazes de ser compreendidas conforme as representações
atribuídas a elas, de forma que as representações coletivas incluíam todos os
fenômenos construídos socialmente que eram partilhados na sociedade e
internalizados pelas pessoas, como por exemplo, as crenças, os conceitos, as
religiões, a linguagem, a ciência. Assim, haviam representações variadas
(representações individuais, coletivas ou sociais, religiosas, científicas, entre outras)
com diferentes sentidos.
Nesse sentido, a teoria de Durkheim atribuiu uma existência própria às
representações coletivas, as quais se modificariam de acordo com as necessidades
do todo social e poderiam ser entendidas por si mesmas, pois comporiam uma
unidade de caráter universal e duradouro. Vale destacar que os fenômenos eram
tratados de modo estático e permanente sem acompanhar as mudanças nos
sistemas políticos, filosóficos, religiosos, entre outros (ALVES-MAZZOTTI, 2008).
Durkheim considerava que havia um dualismo entre corpo e mente, de modo
que as atividades psicológicas do corpo eram compostas por percepções e
disposições emotivas. Já as atividades da mente eram formadas de pensamento
conceitual e moralidade. Esse dualismo foi estendido para a sociedade e o indivíduo,
de forma que havia dois tipos distintos de representações, as individuais e as
sociais, que eram estudadas pela psicologia individual e social, respectivamente. As
representações individuais eram fruto da biologia e natureza física do sujeito e,
assim, seriam mutáveis e particulares. Já, as representações coletivas surgiam
diretamente das estruturas sociais e englobavam fatos sociais que formavam uma
realidade social na qual os indivíduos não colaboravam na sua formação
(MARKOVÁ, 2006).
45
Através das representações coletivas, as gerações passariam todo
conhecimento acumulado para os seus descendentes ao longo do tempo, de forma
estática e determinista. Diferentemente, na perspectiva de Serge Moscovici, as
representações sociais não reproduzem um legado coletivo dos ancestrais. Assim, o
indivíduo é constituído pela sociedade, assim como participa ativamente da sua
construção (CHARTIER, 1990; ALVES-MAZZOTTI, 2008).
Serge Moscovici se apropria do “social” de modo diferente de como Durkheim
explana o “coletivo”. Moscovici, menciona o caráter dinâmico e a bilateralidade no
processo de construção das representações sociais. Dessa forma, ele coloca as
representações como forma de conhecimento constituído, organizado e
compartilhado socialmente, assim como formadoras de uma realidade psicológica e
subjetiva instituída no próprio comportamento dos indivíduos (XAVIER, 2002).
A teoria elaborada por Serge Moscovici ressalta que as representações estão
dispostas de modos diferentes de acordo com a cultura, classe social ou grupo que o
indivíduo pertence. Nessa perspectiva, a atividade representativa compõe um
processo psíquico que torna um determinado objeto mais próximo e familiar, de
forma que o objeto transforma-se conforme os valores e crenças que permeiam as
experiências dos indivíduos em interação com si próprios, o objeto e a sociedade
(ALVES-MAZZOTTI, 2008).
As representações sociais constituem expressões de conhecimentos
desenvolvidos e compartilhados coletivamente, por determinados grupos sociais,
que norteiam as relações, os comportamentos e as ações do indivíduo no contexto
em que ele vive, assim como explicam a realidade. Nesse contexto, as
representações sociais permitem ao indivíduo, perante a interação com os outros,
interiorizar as experiências, as práticas sociais e os padrões de conduta juntamente
com a apropriação e composição de determinados objetos de relevância social
(XAVIER, 2002; ARAUJO, 2008).
Diante do exposto, o estudo das representações sociais abrange a
compreensão de como os indivíduos se percebem na sua interação com os outros,
com a realidade social e os objetos que circulam na sociedade. Vale destacar que a
consonância entre as Representações Sociais, os valores e crenças que dizem
respeito a um determinado objeto social não constituem e não implica em rigidez,
homogeneidade ou permanência das representações. Na constituição de uma teoria
do senso comum emerge também a contradição, pois mesmo as representações
46
mais influentes e predominantes podem sofrer ruptura e dar lugar ao novo
(ALMEIDA et al., 2000; ARAUJO, 2008).
De acordo com Moscovici (1978, p. 25-26),
Uma representação social é a organização de imagens e linguagem, porque ela realça e simboliza atos e situações. A bem dizer, devemos encará-la de um modo ativo, pois o seu papel consiste em modelar o que é dado do exterior, na medida em que os indivíduos e os grupos se relacionam de preferência com os objetos, os atos e as situações constituídos por (e no decurso de) miríades de interações sociais.
SÁ (1998) observa que a composição e a utilização das representações
sociais tornam-se proveitosas apenas se apreendidas através de sua constituição
enquanto objeto de pesquisa das práticas científicas. Assim, o estudo das
representações sociais visa investigar determinado fenômeno de representação
social e elaborar outra forma de conhecimento acerca desse fenômeno, de modo
que os universos comuns de pensamento elaboram os fenômenos de representação
social, os quais são transformados em objetos, nas pesquisas científicas, para
serem compreendidos. Nessa perspectiva, o entendimento das representações
sociais voltado para seus próprios termos correntes torna-se de valor escasso para a
compreensão dos fenômenos psicossociológicos das representações.
Santos (2005) ressalta que a proposta contida na teoria das representações
sociais refere-se ao estudo de um fenômeno específico e delimitado: as teorias do
senso comum. Desse modo, fica claro que nem todos os fenômenos se constituem
como representação social.
Segundo Marková (2006), o conhecimento de senso comum constitui um
recurso fundamental para a teoria das representações sociais como uma teoria do
conhecimento social, pois ele abrange os fenômenos sociais e simbólicos (práticas
sociais, linguagem, crenças, entre outros), nos quais os indivíduos ficam imersos
desde que nascem e são transmitidos de geração a geração por meio das
experiências cotidianas de comunicação, das instituições e da memória coletiva.
Tal conhecimento é elaborado a partir dos processos de objetivação e
ancoragem. Ele
segue uma lógica natural, e tem como funções orientar condutas, possibilitar a comunicação, compreender e explicar a realidade social, justificar a posteriori as tomadas de posição e as condutas do sujeito, e uma função identitária que permite definir identidades e salvaguardar as especificidades do grupo (SANTOS, 2005, p. 21).
47
Nesse sentido, os processos de objetivação e ancoragem propõem a dar
conta das questões psicossociais que estão na gênese das representações sociais.
Esses processos estão densamente ligados um ao outro, assim como são
fundamentais para compreender as representações sociais de um determinado
grupo, já que propiciam o entendimento da construção de conhecimentos formados
pelos sujeitos acerca de determinados objetos de relevância social (MOSCOVICI,
2001).
A objetivação, de acordo com Moscovici (2003), materializa um conceito,
tornando-o visível e tangível, através de uma imagem. Ela tenta estabelecer relações
entre as palavras que circulam no cotidiano, com algo que até então se desconhece,
tentando tornar concreto o objeto que é representado. Já a ancoragem é um
processo que envolve a relação cognitiva do objeto representado com um sistema
de pensamento social preexistente. A ancoragem atribui um lugar para o não familiar
e encontra um sentido para o desconhecido através dos esquemas de referência e
experiências que permitem acessar o objeto de representação (MOSCOVICI, 2003).
Conforme Jodelet (2001), as representações sociais organizam-se de acordo
com as estratégias grupais, como também retratam os comportamentos grupais, isto
é, as representações sociais abrangem uma função de justificação precipitada e/ou
retrospectiva das interações sociais.
Assim,
Falar em representações sociais é remeter-se ao conhecimento produzido no senso comum. Porém, não a todo e qualquer conhecimento, mas a uma forma de conhecimento compartilhado, articulado, que se constitui em uma teoria leiga a respeito de determinados objetos sociais. Por sua vez, falar na teoria das representações sociais é referir-se a um modelo teórico, um conhecimento científico que visa compreender e explicar a construção desse conhecimento leigo, dessas teorias do senso comum. (SANTOS, 2005, p. 21).
Vale destacar que são diversas as formas do ser humano gerar conhecimento
e o saber do senso comum é uma forma de compreender a realidade que não rejeita
nem se torna uma oposição ao conhecimento científico. Desse modo, formam-se
conjuntos de explicações na esfera do senso comum que se constituem como
conhecimentos, “teorias explicativas”, a respeito de determinados aspectos da
realidade. De forma parecida, verifica-se também que diferentes proposições
48
científicas existem simultaneamente e atribuem perspectivas distintas na explicação
de uma mesma realidade (ALMEIDA et al., 2000).
Nessa perspectiva, Santos (2005) observa que o conhecimento do senso
comum, estudado pela teoria das Representações Sociais, remete a um conjunto de
conceitos socialmente produzidos e compartilhados pelos homens como explicação
teórica a questões que eles se colocam na sua relação com determinados objetos
sociais.
Conforme Almeida et al. (2000), a Teoria das Representações Sociais
apresenta contribuições para o entendimento de feições ainda desconhecidas que
transcorrem as realidades sociais diversas, pois ela procura entender os processos
em que os indivíduos constroem e compartilham conhecimentos acerca de objetos
sociais na sua interação com o mundo e com si próprios. Assim, o estudo das
representações demanda uma articulação em meio a diferentes áreas do
conhecimento dentro e fora da esfera da Psicologia.
Nessa perspectiva, faz-se importante destacar que as representações sociais
referem-se sempre a algum objeto a respeito do qual sujeitos, grupos sociais ou
determinada população sustentam tais representações. Desse modo, o objeto de
pesquisa deve ser construído a partir do objeto de representação e dos sujeitos que
se pretende estudar, de forma que as representações que unem sujeito e objeto são
saberes difundidos nas práticas dos grupos, nos meios de comunicação e
comportamentos (SANTOS, 2005; SÁ, 1998).
De acordo com Santos (2005, p. 22), “para gerar representações sociais o
objeto deve ser polimorfo, isto é, passível de assumir formas diferentes para cada
contexto social e, ao mesmo tempo, ter relevância cultural para o grupo”. Assim, não
há representações sociais acerca de qualquer objeto, pois este precisa ter impacto
social ou cultural para um determinado grupo.
Dessa forma, para compreender as representações sociais em uma área
como a da saúde, é necessário entender os sistemas de conduta, noções, modelos
de pensamento e valores que as pessoas dedicam para se apropriarem dos objetos
de seu contexto (JODELET, 1998). Então, ao refletir-se sobre a pertinência do objeto
de estudo (gravidez na adolescência) em relação à formação de representações
sociais para o grupo de profissionais de saúde, faz-se relevante considerar que:
49
[...] estas teorias estão reabilitando o conhecimento concreto, a experiência vivida, e reconhecendo a possibilidade de diversas racionalidades, o que é adequado às características das multifacetadas sociedades e grupos sociais contemporâneos às características da forma de conhecer e lidar com o saber nessas sociedades, em que grupos diferentes têm visões diferentes de um mesmo objeto – sem que a diferença implique obrigatoriamente desigualdade. Sociedades nas quais é preciso entender a diferença como especificidade, como nos ensinam os movimentos de grupos minoritários. (ARRUDA, 2002, p.133).
Nesse sentido, a gravidez na adolescência, em meio às práticas dos
profissionais de saúde, é um objeto de impacto social que pode ser visto sob
diversas formas, e uma delas é como o profissional de saúde a concebe,
estruturando-se, conforme Abric (1998, p.5), sobre “um conjunto organizado de
opiniões, de atitudes, de crenças e de informações referentes a um objeto ou a uma
situação” e assim, forma-se representações sociais acerca desse objeto, visto que
elas são construídas simultaneamente pelo próprio sujeito a partir das suas
experiências de vida e da natureza dos vínculos que ele estabelece com o sistema
social e ideológico que está inserido.
Vale salientar que as representações sociais apresentam natureza mutável,
pois quando o sujeito entra em contato com um objeto social importante, mas que
lhe é pouco familiar, elas se ajustam para redefinir esse objeto, tornando-o mais
compreensível e acessível ao seu sistema simbólico (MOSCOVICI, 2001).
Embora, o presente trabalho procure enfatizar, de um modo geral, a
abordagem de Serge Moscovici e a perspectiva estrutural de Jean-Claude Abric, a
Teoria das Representações Sociais e suas concepções básicas, elaboradas por
Moscovici, podem ser distendidas em três correntes teórico-metodológicas
complementares representadas pelos seguintes pesquisadores: Denise Jodelet,
Jean-Claude Abric e Willem Doise (SÁ, 2001; ALMEIDA, 2001).
A primeira delas, conduzida por Denise Jodelet, em Paris, na França,
corresponde a uma abordagem culturalista que alude à compreensão das
representações sociais através do entendimento dos seus processos e dos produtos,
decorrente da articulação entre as extensões culturais e sociais que conduzem as
construções mentais coletivas. A segunda corrente teórica, comandada por Jean-
Claude Abric, em Aix-en-Provence, também na França, destaca a dimensão
cognitivo-estrutural da representação e propõe a Teoria do Núcleo Central, na qual
concebe a representação organizada em torno de um núcleo essencial para
50
determinar sua significação e organização interna. Já a terceira corrente, foi
representada por Willem Doise, em Genebra, na Suíça, e abrange uma perspectiva
que busca articular explicações de ordem individual e societal ao considerar que a
significação de uma representação relaciona-se às relações simbólicas que
compõem um determinado campo social (SÁ, 2001; ALMEIDA, 2001).
3.2 Um breve panorama da Abordagem Estrutural
As Representações Sociais são definidas como uma modalidade de
conhecimento particular que têm como função a elaboração de comportamentos e a
comunicação entre indivíduos (MOSCOVICI, 2003). Elas são um conjunto
organizado de informações, atitudes e crenças que um indivíduo ou um grupo
elabora a propósito de um objeto, de uma situação, de um conceito, de outros
indivíduos ou grupos. Apresentam-se, portanto, como uma visão conjunta e social da
realidade que norteiam ações e práticas coletivas (ABRIC, 2003).
Abric (2001) ressalta que as representações sociais são a ação e o resultado
das atividades mentais através das quais uma pessoa ou um grupo percebe a
realidade que a cerca e lhe confere determinado sentido. Desse modo, Jean-Claude
Abric apresenta a Teoria do Núcleo Central e nela expõe que as representações
possuem um conteúdo e uma estrutura, de modo que são constituídas em volta de
um núcleo, o qual é considerado elemento contundente da representação, visto que
estabelece a sua significação e disposição.
A perspectiva apresentada por Jean-Claude Abric, no sentido de
complementar a teoria das representações sociais, constituiu a abordagem teórica
denominada “teoria do núcleo central”, a qual destaca o aspecto cognitivo das
representações, ao considerá-lo como uma organização estruturada com
peculiaridades. A teoria do núcleo central traz que a representação social compõe
um sistema sócio-cognitivo peculiar constituído por dois subsistemas, um sistema
central e um sistema periférico, que se influenciam mutuamente (SÁ, 1998; ABRIC,
2003).
Abric (2001) expõe a relevância do estudo da organização dos conteúdos das
representações sociais. Vale ressaltar que conteúdos iguais podem se referir a
representações sociais distintas, assim como, duas representações com conteúdos
51
distintos são consideradas iguais se forem estruturadas em volta de um mesmo
núcleo central. Assim, para compreender uma representação, é necessário conhecer
a disposição do seu conteúdo, pois a averiguação desse conteúdo por si só não é
capaz de fornecer a compreensão de uma representação, a qual se diferencia da
outra ao levar-se em consideração o seu arranjo em torno do núcleo central, de
modo que qualquer alteração do seu núcleo ocasionará a modificação da
representação.
De acordo com Abric (1998, p. 4),
As representações sociais têm um núcleo central porque elas são uma manifestação do pensamento social e que em todo pensamento social um certo número de crenças, coletivamente engendradas e historicamente determinadas não podem ser questionadas porque elas são os fundamentos dos modos de vida e elas garantem a identidade e a perenidade de um grupo social.
A disposição do núcleo central, de acordo com a teoria formulada por Abric,
compõe a significação das representações por meio de um conjunto de elementos
que se mostram enraizados e partilhados, assim como possuem os atributos de
solidez, constância e consensualidade. Já o sistema periférico apresenta funções de
proteção e regulação do núcleo central, ou seja, ele permite que elementos novos e
contraditórios sejam incorporados sem desconsiderar a representação. Os
elementos periféricos norteiam diferenças entre subgrupos que partilham uma
mesma representação social, ao levar em consideração o aparecimento de
conteúdos individualizados das representações. Esses elementos apresentam um
caráter maleável, modificável, e particular, como também certificam a conexão com
as conjunturas e práticas que permeiam uma dada população (SÁ,1998; ABRIC,
1998, 2003).
Nesse contexto, a teoria do núcleo central possibilitou resolver teoricamente
os entraves que cercavam a questão empírica de que as representações possuíam
traços contraditórios ao revelarem-se simultaneamente sólidas e maleáveis,
constantes e modificáveis, consensuais e particulares (SÁ,1998; ABRIC, 1998,
2003).
52
3.3 Algumas considerações acerca da abordagem moscoviciana
Segundo Moscovici (2003), a dimensão psicossocial precisa ser levada em
consideração no estudo das representações, já que ela engloba os saberes
simbólicos do senso comum, elaborados na existência cotidiana através dos
diálogos e práticas. Vale destacar que a constituição sociocognitiva de uma dada
representação advém em meio à realidade prática e o pensamento socialmente
construído, evidenciando a formação de um conhecimento próprio que concebe a
representação social de um grupo de pertença.
A representação possui, em sua estrutura, duas faces bastante agregadas: a
face figurativa e a face simbólica. Elas expressam os processos abarcados na
atividade representativa, os quais distinguem uma dada figura e, simultaneamente,
conferem-lhe um sentido que a agrega a uma dada realidade. Essa atividade
representativa compõe, assim, um artifício psíquico que permite as pessoas, na sua
interação com a realidade, aproximar-se de um objeto, antes considerado distante,
tornando-o familiar e presente, de modo que as conexões que se formam em volta
do objeto exprimem posicionamentos norteados por vivências e valores do sujeito
(ALVES-MAZZOTTI, 2008).
Como foi explorado no tópico anterior, a objetivação e a ancoragem são
processos básicos para o fenômeno das representações sociais. A objetivação
ocorre através de três etapas: a redução, a esquematização estruturante e a
naturalização. A redução diz respeito a reduzir um fenômeno em partes para ser
capaz de melhor elucidá-lo, de forma que se enfatiza uma questão principal para o
grupo, com a finalidade de obter um sentido que consiga oferecer a compreensão
que o grupo deseja. Já a esquematização estruturante compõe elementos que
estabelecem relações estruturadas e padronizadas entre os conhecimentos que
constituem a representação social. Assim, a compreensão acerca de um
determinado fenômeno vai se organizando e socializando-se em meio a um grupo
específico. Na etapa da naturalização, o grupo materializa suas concepções
tornando-as parte da realidade com intuito de explicar os fenômenos que ocorrem no
mundo, através das imagens e símbolos que o próprio grupo constrói em interação
com a realidade (VALA, 1993).
53
Em relação à ancoragem, ela ocorre tanto antes quanto depois da
objetivação. Quando ocorre anteriormente à objetivação, cumpre a função de
nomear (categorizar) fenômenos. Quando advém depois, desempenha a função de
classificação, a qual é uma característica fundamental da ancoragem e se refere aos
atributos ou rótulos conferidos por determinado grupo para familiarizar um objeto,
através de uma imagem anteriormente pensada, que ainda não é completamente
notório (VALA, 1993).
A classificação inclui os processos de generalização e individualização. A
generalização envolve a aproximação da imagem de um objeto não familiar a um
modelo preestabelecido que constitua familiaridade. Já o processo de
individualização consiste quando o novo objeto a ser ancorado destoa dos moldes
reconhecidos, de modo que se constrói uma imagem de objeto divergente do
protótipo já preestabelecido. Vale lembrar que a escolha pela generalização ou
individualização não é simplesmente cognitiva, mas engloba as peculiaridades
afetivas e valorativas a respeito do objeto de representação, denotando as feições
socioafetivos que se estabelecem na interação com o novo objeto a ser explorado
(MOSCOVICI, 1981).
No que diz respeito à nomeação, esta atribui uma “identidade” ao novo objeto,
atribuindo-lhe determinadas propriedades que visam facilitar a comunicação com o
grupo através da distinção e reconhecimento atribuídos ao objeto. Diante do
exposto, a compreensão dos processos de objetivação e ancoragem faz-se
pertinente, uma vez que explora a compreensão de como os aspectos cognitivos
intervém nos atributos sociais e vice-versa (MOSCOVICI, 1981).
É por essas lentes que a presente pesquisa se propõe captar e entender as
representações que profissionais de saúde constroem sobre a gravidez na
adolescência e como essas representações norteiam suas práticas frente a esse
processo. Além disso, a partir da compreensão dessas teorias que se formam pode-
se vislumbrar algum entendimento sobre a constituição de interações e identidades
no percurso da gestação e da vivência da maternidade.
Desta forma, as representações sociais oferecem aos sujeitos uma
codificação tanto para as trocas simbólicas, como para nomear e classificar sua
realidade social, sua história, de forma unívoca. As representações atuam, ainda,
como guias de interpretação e organização da realidade, permitindo aos sujeitos que
se posicionem diante dela e definam a natureza de suas ações sobre essa
54
realidade. As representações sociais são um conjunto de conhecimentos sociais,
possuindo uma orientação prática e permitindo ao indivíduo se situar no mundo e
dominá-lo (MOSCOVICI, 2003).
Como afirmam Almeida et al. (2000), as representações sociais regulam as
práticas sociais dos sujeitos. Porém, ao mesmo tempo, elas emergem das diferentes
práticas sociais, da diversidade das práticas no cotidiano. Práticas estas que por sua
vez, originam-se dos diferentes grupos sociais. A partir do exposto percebe-se que a
TRS responde aos intentos de compreensão das teorias ou concepções que os
profissionais de saúde partilham sobre o processo da gravidez na adolescência em
meio a relações de interação com a conjuntura social.
55
CAPÍTULO IV
MÉTODO
56
CAPÍTULO IV – MÉTODO
O método adotado na presente pesquisa articulou abordagens qualitativas,
assim como técnicas diversas de coleta e análise dos dados, o que permitiu uma
triangulação metodológica para abranger os fenômenos estudados.
A triangulação metodológica é definida como a estratégia que abrange o
objeto de investigação sob, pelo menos, três ângulos distintos que se articulam a
partir da: cooperação de pesquisadores diversos na discussão e correlação das
teorias, conceitos, noções e métodos (HABERMAS, 1987); integração de diferentes
métodos ao permitir o aprofundamento teórico-metodológico em relação ao
conhecimento do objeto (MINAYO, 1992; SAMAJA, 1992); integração coerente e
criativa de distintas técnicas para a construção dos dados, seja no âmbito
quantitativo ou qualitativo.
Nesse sentido, Almeida (2001) ressalta acerca do caráter plurimetodológico
da pesquisa em representações sociais, e Abric (1998) preconiza que se deve ter o
cuidado em utilizar ao menos dois métodos de coleta de dados diferentes no estudo
das representações sociais.
Os dados apresentados nesse capítulo são resultado dos seguintes
processos: resultados quantitativos, a partir do questionário sócio demográfico, que
busca atender ao objetivo de descrever o perfil sociodemográfico dos profissionais
de saúde; E Análise das entrevistas semi-estruturadas e dos Questionários de
Associação Livre de Palavras, que busca responder aos seguintes objetivos:
Analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais acerca da gravidez na
adolescência para os profissionais de saúde; Compreender em que se ancoram e
como são objetivadas as representações sociais dos profissionais de saúde a
respeito da gravidez na adolescência; e Conhecer os sentidos compartilhados pelos
profissionais de saúde em relação à gravidez na adolescência.
4.1 Local da Pesquisa
A pesquisa foi realizada em duas Mesorregiões do Estado de Pernambuco.
A primeira foi a Mesorregião Metropolitana do Recife, composta por 14 municípios
(Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ipojuca,
57
Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista, Recife,
São Lourenço da Mata) mais Fernando de Noronha.
A segunda Mesorregião foi a da Mata Pernambucana. Essa Mesorregião
está dividida em Mata Norte e Mata Sul. A Mata Norte é composta por 19 municípios
(Aliança, Buenos Aires, Camutanga, Carpina, Chã de Alegria, Condado, Ferreiros,
Glória de Goitá, Goiana, Itaquitinga, Itambé, Lagoa do Carro, Lagoa do Itaenga,
Macaparana, Nazaré da Mata, Paudálio, Timbaúba, Tracunhaém e Vicência).
A Mata Sul, por sua vez, é formada por 24 municípios (Água preta, Amaraji,
Barreiros, Belém de Maria, Catende, Chã Grande, Cortês, Escada, Gameleira,
4.3.1 Questionário de associação livre de palavras
Faz-se necessário salientar que este instrumento na atualidade tem sido
bastante utilizado na abordagem multimétodos pelos pesquisadores das RS
(CASTANHA et al., 2006; ALBUQUERQUE, 2003; BARROS, 2004; COUTINHO,
2001; DE ROSA, 1988; LE BOUDEC, 1984), uma vez que permite acesso aos
conteúdos latentes da representação que não são apreendidos através de outros
instrumentos, como por exemplo a entrevista, devido às normas, valores e a
desejabilidade social cristalizados nos conteúdos elaborados nas falas dos
59
participantes. Daí a pertinência da triangulação dos dados obtidos entre esses
instrumentos acerca de um mesmo objeto de representação (BAUER e GASKELL,
2003).
De acordo com Nóbrega e Coutinho (2003), essa técnica projetiva possibilita
acesso aos conteúdos latentes, sem que ocorra a filtragem da censura a sua
evocação. Também é um instrumento que se apóia sobre um repertório conceitual,
com isso, permite a unificação dos universos semânticos e a saliência de universos
de palavras comuns face aos termos indutores e participantes da pesquisa. Tudo
isso através de uma técnica de fácil e rápida aplicação que traça hierarquizações e
um mapeamento da estrutura das representações para posterior análise
fundamentando-se na teoria estrutural de Abric (2000).
Nesse sentido, o questionário de associação livre de palavras permite ao
pesquisador apreender a representação social de um objeto para um grupo,
tentando reduzir ao máximo o efeito da censura no ato da evocação das palavras,
pois em muitos casos existe o que Abric (2003) chama de zona muda, ou seja, são
elementos contra-normativos que compõem a face não confessável da
representação por situar-se no campo do politicamente incorreto ou por causar “um
afastamento do sujeito com relação às normas de seu grupo de pertença” (p. 23).
O instrumento consistiu basicamente de termos indutores e a enunciação de
palavras associadas a estes termos, no caso na presente pesquisa o Questionário
de Associação Livre terá os seguintes termos indutores: 1. Ser mãe adolescente
é... 2. O que motiva a adolescente engravidar é... 3. As principais
conseqüências da gravidez na adolescência são....
Os termos indutores foram previamente definidos tendo como pressuposto o
objetivo da presente pesquisa, bem como os atores sociais que farão parte da
amostra, a saber: os profissionais de saúde.
É válido mencionar que no presente estudo convencionou-se o tempo máximo
de 01 (um) minuto para evocação das palavras associadas a cada estímulo indutor,
perfilando 04 minutos por cada participante para responder o questionário de
associação livre de palavras.
60
4.3.2 Entrevistas Semi-estruturadas
A entrevista é definida por Haguette (1987, p. 75) “como um processo de
interação entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a
obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”. Minayo (1999, p. 109)
justifica a utilização da entrevista na pesquisa da seguinte forma:
[...] O que torna a entrevista instrumento privilegiado de coleta de informações para as ciências sociais é a possibilidade de a fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas.
Adotando-se como suporte a Teoria das Representações Sociais, que se
preocupa basicamente com o saber do senso comum construído coletivamente
através das interações grupais, com a utilização da entrevista, pode-se obter,
através do discurso dos indivíduos, suas representações sociais sobre o impacto
Biopsicossocial da gravidez na adolescência. Ainda nesse sentido, Minayo (1999)
afirma que a mediação privilegiada para a compreensão das representações sociais
é a linguagem.
Diante da adequação dos instrumentos para este estudo, foram utilizadas
entrevistas semi-estruturadas, permitindo ao entrevistado falar sobre o tema
proposto pelo entrevistador, sem que este tenha estabelecido uma resposta à priori
para a questão abordada. As entrevistas foram divididas em duas partes. A primeira,
com questões sociodemográficas, para uma melhor caracterização da amostra
(Apêndice IV), e a segunda, com questões norteadoras, em que foi utilizado um
roteiro semi-estruturado para investigar aspectos relacionados ao impacto da
gravidez na adolescência. O roteiro de entrevista abordou os seguintes blocos
temáticos:
Motivações para engravidar;
Efeitos da gravidez na vida da adolescente mãe;
Efeitos da gravidez na vida do adolescente pai;
Efeitos da gravidez na vida dos parentes e de pessoas próximas da adolescente
mãe;
61
O roteiro de entrevista utilizado contemplou algumas questões (Apêndice IV),
tendo como paradigma uma representação social da gravidez na adolescência com
prismas em aspectos biopsicossociais e culturais.
4.4 Aspectos Éticos
A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade
Federal de Pernambuco (protocolo do CEP/CCS de número 181/10).
Durante a realização da pesquisa, foi solicitado o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) para os participantes, cujo modelo foi elaborado de
acordo com a Resolução no 196/96, “Sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos”,
seguindo o seguinte critério:
- Quando as participantes tiverem a partir de 18 anos completos a
Resolução 196/96 exige que as próprias participantes assinem
(APÊNDICE - XI).
4.5 Coleta de Dados
Após aprovação do Comitê de Ética da Universidade Federal de
Pernambuco, foram contatadas algumas Unidades de Saúde da Família (USFs) dos
Municípios, e foi exposta uma carta de apresentação, contendo a relevância social e
acadêmica da pesquisa.
Em seguida, foi iniciada a fase de coleta de dados, em que os participantes
da pesquisa foram informados, previamente, a respeito dos objetivos e
procedimentos da pesquisa, bem como, da confiabilidade dos dados e do anonimato
da sua colaboração. Posteriormente, foi solicitado ao participante que assinasse um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cujo modelo foi elaborado de acordo
com a Resolução n 196/96 Sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos.
O documento explicita a solicitação aos participantes para participação no
estudo e gravação da entrevista, por via escrita (assinada), informando, ainda, que o
consentimento garante ao entrevistado o direito de interromper sua colaboração na
pesquisa a qualquer momento, caso julgue necessário, sem que isso implique em
constrangimento de qualquer ordem. Os instrumentos foram utilizados, respeitando a
62
seguinte ordem: 1) Questionário de Associação Livre de Palavras, 2) Entrevistas. Os
dados foram coletados nas Unidades de Saúde da Família (USFs).
4.5.1 Questionário de Associação Livre
O questionário de Associação Livre (TALP) foi aplicado individualmente aos
os profissionais de saúde. Nessa etapa, solicitou-se que os participantes falem as
cinco primeiras palavras ou expressões que vem à mente quando questionados: na
sua opinião, ser mãe adolescente é... Em seguida, pediu-se que as respostas
fossem colocadas em ordem de importância.
O mesmo procedimento foi realizado com os demais termos indutores: O que
motiva a adolescente engravidar é... As principais consequências da gravidez
na adolescência são.... As respostas emitidas pelos participantes foram anotadas
no questionário, na íntegra, pela pesquisadora.
4.5.2 Entrevistas Semi-estruturadas
As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas individualmente com os
profissionais de saúde e gravadas em áudio para, posteriormente, serem transcritas.
4.6 Análise dos Dados
4.6.1 Questionário de Associação Livre de Palavras
As palavras e expressões pronunciadas pelos participantes da pesquisa
durante a aplicação do questionário de associação livre foram analisadas com o
apoio do software EVOC que, conforme Ribeiro (2000), possibilita a análise das
palavras captadas na associação livre de palavras e oferece suporte para a
apreensão da estrutura das representações sociais com seus elementos centrais e
periféricos.
A construção do banco de dados se deu a partir da digitação de todas as
respostas enunciadas por cada entrevistado, por ordem de importância, em planilhas
do Excel. As planilhas foram divididas de acordo com os seguintes aspectos: frase-
estímulo e Mesorregião pesquisada. Assim, cada arquivo de planilha deveria ser
63
referente a um termo indutor. A reunião de todos os arquivos da primeira etapa
(Mesorregião Metropolitana do Recife) foram incluídos numa mesma pasta. O
mesmo foi feito para os dados das Associações Livres da segunda etapa
(Mesorregião da Mata Pernambucana). Em seguida foram tratados pelo software
Evoc.
Contudo, antes da inclusão das respostas cada participante foi caracterizado
de acordo com as variáveis de análise. Assim, cada participante correspondia a uma
linha da planilha e as variáveis deveriam ser preenchidas por colunas, a partir de
uma ordem pré-estabelecida seguidas das palavras enunciadas de acordo com a
ordem de importância dada por cada entrevistado. Além da ordenação dos
participantes e frase-estímulo, as variáveis utilizadas para o preenchimento das
planilhas, e posterior análise do Evoc, foram:
Para o tratamento e análise da estrutura representacional, foi utilizado o
software EVOC 2000 (VERGÉS, 2000) e a técnica de distribuição dos termos
produzidos um quadrante de quatro casas, considerando os critérios de saliência e
de importância, observados através da frequência e da ordem de importância das
evocações emitidas (VERGÉS, 1992; GUIMELLI e JACOBI, 1990).
Efetivado o cruzamento desses critérios, o software determina o valor dos
elementos que se agregam ao termo indutor por meio dos critérios a seguir:
1. Núcleo Central: exibe as palavras ou expressões de maior importância e
frequência de evocações conforme os participantes distinguiram;
2. Primeira periferia: exibe as palavras ou expressões com altos índices de
evocação, mas classificadas nos últimos lugares de importância no critério dos
participantes;
Local;
Escolaridade;
Área de atuação:
o Enfermagem = 1;
o Auxiliar de enfermagem = 2;
o Agente Comunitário de saúde (ACS) = 3;
o Medicina = 4;
o Psicologia = 5;
o Outros = 6
64
3. Zona de contraste: exibe as palavras ou expressões pouco enunciadas e
classificadas como as primeiras mais importantes pelos sujeitos;
4. Segunda Periferia: exibe as palavras ou expressões menos evocadas e
classificadas nos últimos lugares no critério de importância para os sujeitos.
Os resultados apreendidos com suporte do software serão expostos em
quadrantes organizados em dois eixos: o eixo vertical que se refere à frequência de
evocação das palavras; e o eixo horizontal que diz respeito à ordem de importância.
4.6.2 Entrevistas Semi-estruturadas
Para a análise das entrevistas, inicialmente, realizou-se a transcrição literal
das mesmas, para, então, dar início à análise dos dados. A análise das entrevistas
ocorreu de acordo com o método de caracterização e análise de conteúdo temática
proposto por Bardin (2002).
O objetivo da análise de conteúdo é compreender, criticamente, o sentido das
comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou
ocultas. Em relação à análise temática, enfatiza-se a análise de ocorrências,
objetivando revelar a atenção dada às falas pelos sujeitos entrevistados e
conferindo-lhes diferentes conteúdos inventariados. Observa-se que esse tipo de
análise permite inferências sobre a organização do sistema de pensamento dos
sujeitos, produtores do discurso (COUTINHO, 2001).
Vale explicitar que na análise categorial temática constroem-se categorias
segundo os temas que surgem no texto e classificam-se os elementos em uma
determinada categoria ao identificar o que eles apresentam em comum, permitindo
seu agrupamento. Nesse sentido, a análise por categorias temáticas busca localizar
uma cadeia de significações codificadas através de indicadores que lhe estão
vinculados. Assim, codifica-se ou caracteriza-se um segmento agrupando-o em
classes que se equivalem de acordo com as significações apreendidas na análise do
codificador, o qual necessita ter domínio da técnica, mas também empregar
sensatez, sensibilidade e ponderação para perceber o que o conteúdo a ser
analisado sugere ou alude (PÊCHEUX, 1993).
Baseando-se neste contexto teórico-metodológico, foi utilizada a análise de
conteúdo temática, considerando os objetivos propostos neste estudo - ancorados
na teoria das Representações Sociais - e seguindo as seguintes etapas operacionais
65
apresentadas por Coutinho (2001): constituição do corpus, leitura flutuante,
codificação, categorização e inferências. A figura 1 representa as etapas descritas.
Figura 1. Plano de análise das entrevistas
Constituição do Corpus – O corpus é definido como sendo o conjunto de
documentos apresentados em conta para serem submetidos aos procedimentos.
Neste estudo, corresponde à reunião dos dados coletados através das entrevistas
semi-estruturadas.
Leitura Flutuante – Corresponde a uma primeira leitura de todo material de forma
livre e geral, sem preocupações com maiores controles, para uma maior
familiarização do pesquisador com os dados obtidos, deixando-se invadir por
impressões e orientações.
Codificação – Após a leitura flutuante do corpus, os dados brutos são
transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma
descrição exata das características pertinentes do conteúdo.
Categorização – Após a decomposição do corpus faz-se necessário agrupar o
material classificando-o em categorias e subcategorias simbólicas emergentes.
Inferências – São designadas para realizar a indução a partir das categorias,
permitindo, dessa maneira, inferir conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção das mensagens.
LEITURA FLUTUANTE
REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS
CORPUS
CATEGORIAS E
SUBCATEGORIAS
CODIFICAÇÕES
INFERÊNCIAS
CAPÍTULO V
RESULTADOS E DISCUSSÃO
67
CAPÍTULO V – RESULTADOS E DISCUSSÃO
A exposição e análise dos resultados serão ilustradas em duas etapas. Na
primeira etapa, serão exibidos os resultados e discussões referentes ao questionário
de associação livre. No segundo momento, logo em seguida, serão apresentadas as
análises das entrevistas com os profissionais de saúde.
5.1 Associações livres
A análise através do software EVOC revelou a estrutura dos dados de
evocação hierarquizada, mostrando o conteúdo que compõe o núcleo central das
representações sociais, bem como os seus elementos periféricos. As estruturas das
representações estudadas foram apresentadas através de quadros, nos quais foram
mostrados os elementos centrais e periféricos. O quadro abaixo mostra como essas
informações foram organizadas.
QUADRO 1. Distribuição dos termos evocados nos quadrantes
ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO
>=10
Inferior a 2,5 Superior ou igual a 2,5
Zona do núcleo central
Primeira periferia
<10
Zona de elementos contrastados
Segunda periferia
Dessa maneira, partiu-se da premissa de que os termos que atendessem, ao
mesmo tempo, aos critérios de evocação com maior frequência e nos primeiros
lugares, supostamente teriam uma maior importância no esquema cognitivo do
sujeito, ou seja, configurariam hipóteses de núcleos centrais da representação social
do objeto pesquisado (SÁ, 1996).
Os resultados do questionário de associação livre geraram as discussões que
serão apresentadas a seguir através dos termos indutores (ser mãe adolescente é...;
o que motiva a adolescente a engravidar é...; as principais consequências da
F
R
E
Q
U
Ê
N
C
I
A
68
gravidez na adolescência são...) que instigaram os profissionais de saúde a
evocarem as suas representações sobre a gravidez na adolescência.
5.1.1 Ser mãe adolescente é...
QUADRO 2. “Ser Mãe adolescente é...”, em função da frequência e ordem média de evocação
8 - Pular etapas 6 - Falta de orientação 5 - Complicado
2,375 1,667 2,200
8 - Falta de instrução 7- Evasão escolar 6 - Abdicação 6 - Aprendizagem
3,000 2,857 2,667 2,667
Diante do questionamento para os profissionais de saúde sobre “o que é ser
mãe adolescente” emergiram alguns termos que compõem o conjunto da
representação deste grupo. Como mostra o quadro 2, a palavra irresponsabilidade
(f = 14, ome = 2, 357) é a única presente no núcleo central dessa representação.
Desse modo, a ideia central compartilhada pelos profissionais de saúde, em seu
núcleo, gira em torno de uma mãe adolescente vista como irresponsável.
Assim, a palavra mais enunciada, localizada no quadrante superior
esquerdo, e que apresentou maior importância de acordo com a enumeração, que
compõem a zona do núcleo central desta representação, foi a palavra
irresponsabilidade. Pois, como explica Abric (2003):
Uma representação social [...] é organizada em torno de e por um núcleo central – constituído de um número muito limitado de elementos – o que lhe dá sua significação (função geradora) e determina as relações entre seus elementos constitutivos (função organizadora).
F
R
E
Q
U
Ê
N
C
I
A
69
Essa visão da gravidez na adolescência como irresponsabilidade, nesse
período de vida, advém dos profissionais acreditarem que as adolescentes não
estariam preparadas para conceber um filho. Tal compreensão envolve questões
relacionadas à imaturidade do corpo da jovem, o qual não estaria biologicamente
pronto para a gestação, como também envolve um olhar de que as gestantes não
possuem maturidade emocional e estabilidade financeira adequada para
enfrentarem os desafios da maternidade (PONTE JUNIOR e XIMENES NETO, 2004;
FERRARI et al., 2008).
Além disso, a irresponsabilidade, os conflitos e a instabilidade emocional
são marcas atribuídas ao próprio período da adolescência. Desse modo, a gestação
nessa fase da vida seria um ato irresponsável que geraria “problemas” para a
adolescente, a qual estaria ainda imatura para assumir as novas responsabilidades
decorrentes do papel social de mãe. Nesse sentido, a gravidez na adolescência é
considerada, principalmente pelo discurso médico, uma situação precoce que ocorre
no “período errado”, pois acarretaria prejuízos para o futuro das adolescentes
(PONTE JUNIOR e XIMENES NETO, 2004; FERRARI et al., 2008).
No segundo quadrante observam-se as palavras mais importantes do sistema
periférico, pois são os elementos periféricos que mantém a representação e
integram novas informações a estas. Os primeiros elementos periféricos abarcaram
A primeira classe temática “Gravidez na adolescência” subdividiu-se em
cinco (5) categorias: 1-Maternidade; 2-Maternidade na adolescência; 3- Fatores
associados à gravidez na adolescência; 4- Sentimentos relacionados à
gravidez na adolescência; 5- Apoio social à gravidez na adolescência.
5.2.1.1 Categoria: maternidade
As Representações Sociais apreendidas pelos atores sociais, referentes
à Categoria Maternidade, mostram que a maternidade é percebida pelos
entrevistados, como algo positivo na vida da mulher, estando, também,
associada a uma série de responsabilidades referentes ao cuidado com a
criança. Assim, a análise dessa categoria foi realizada a partir de duas
subcategorias emergentes: Aspectos positivos e Responsabilidades,
apresentadas nos quadros a seguir com suas respectivas unidades de análise.
QUADRO 5. Maternidade de um modo geral
Subcategorias Unidades de análise
Aspectos positivos
“É uma virtude”; “(...) Um momento glorioso, um momento sublime (...)”; “Uma dádiva de Deus. Maravilhoso. É gratificante”; “(...) É muito divino é (...) é complementar, eu acho, completa o sentido de ser mulher”; “(...) é o momento em que a mulher realmente tem noção do que é ser mulher (...)”.
Responsabilidades
“É ter responsabilidade”; “(...) amar cuidar, se preocupar com essa criança, formar essa criança, conduzir essa criança, até vir a ser um adulto (...)”; “É uma grande responsabilidade”. “É você renunciar muita coisa, muitas
coisas no seu caminho para se dedicar aquela nova pessoa que vai ser totalmente dependente de você.”
A partir da análise desta categoria foi possível verificar que a
maternidade foi objetivada pelos profissionais de saúde como algo positivo e
gratificante para a vida da mulher, como também está associada a uma série
de responsabilidades referentes ao cuidado com a criança.
88
Nesse sentido, a maternidade foi representada como “uma dádiva de
Deus”, algo que “completa o sentido de ser mulher”, o que favorece uma
posição privilegiada da figura materna diante da sociedade, de modo que a
maternidade enquanto privilégio da natureza feminina coloca a mulher no lugar
de responsável pelo cuidado e desenvolvimento das crianças e da família. Por
outro lado, o não cumprimento dessas funções é motivo de julgamentos ligados
a condenações que colocam a mulher numa condição de “anormal”, uma vez
que, o “natural”, seria tornar-se mãe e cumprir as exigências que a sociedade
impõe a esse papel (BOZON, 2004; MOURA e ARAÚJO, 2004; OLIVEIRA,
2010).
Os relatos coletados na entrevista apontam para uma posição
privilegiada da figura materna diante da sociedade, sendo relacionada não só a
sentimentos positivos, como também a algo que completa o sentido de “ser
mulher”. Assim, a representação da maternidade está ancorada na concepção
de mulher enquanto figura circunscrita ao âmbito familiar cabendo-lhe a função
essencial da procriação, na qual está implícita a concepção de abnegação e
amor materno incondicional à prole (BADINTER, 1985). Tal concepção, que
parece permear as representações relacionadas ao feminino e a maternidade
na contemporaneidade, foi e ainda é difundida pelos discursos religioso,
médico e filosófico que exaltam a maternidade como algo natural e favorável à
espécie e à sociedade (MOURA e ARAÚJO, 2004).
Diversos trechos da entrevista demonstram que ser mãe “é ter
responsabilidade”, “é ser cuidadosa”. Esses dados se apresentam de forma
consonante com as respostas obtidas através do questionário de associação
livre, em que a palavra “responsabilidade” é associada à maternidade, assim
como as expressões “aumento das responsabilidades” e “ter mais obrigações”
giram em torno do que a maternidade acarreta na vida da mulher.
Desse modo, a representação de maternidade parece estar associada à
imagem da mãe cuidadora. Nessa perspectiva, Moura e Araújo (2004) afirmam
que principalmente depois do século XIX, “ser mãe” passou a ter como valores
essenciais a devoção e presença vigilante, indispensáveis para o cuidado da
criança. Coutinho e Menandro (2009) colocam ainda que “ser mãe e mulher” na
sociedade brasileira significa estar imbricada numa teia de relações sociais,
historicamente constituídas, nas quais as questões de gênero, identidade,
89
classe e raça estabelecem um pano de fundo a partir do qual emergem as
vivências do cotidiano com seus discursos e práticas.
Vale ressaltar que as representações sociais vão se constituindo por
meio dos discursos e práticas que são produzidos e compartilhados a partir das
interações no cotidiano das pessoas. Assim, constroem-se conceitos, juízos e
compreensões acerca da maternidade, que compõem um conjunto organizado
de significados, conhecimentos e afetos que permeiam este objeto mediante as
comunicações nas relações entre os indivíduos e os grupos (JODELET, 2001).
Conforme o quadro-resumo exposto na Figura 2, pode-se constatar que
o elemento figurativo das representações sociais da maternidade, de uma
forma geral, apreendidas no discurso dos profissionais de saúde, está situada
nos aspectos relacionados à “natureza feminina” e aos papéis de gênero,
sendo objetivados em elementos tais como: o sentido de ser mulher,
completude e realização, responsabilidade e cuidado com a criança, além de
dificuldades.
Categoria Objetivações Ancoragens
Figura 2 - Resumo das representações sociais da gravidez na
adolescência (Categoria - Maternidade), elaboradas pelos profissionais de saúde
90 5.2.1.2 Categoria: maternidade na adolescência
Esta categoria foi dividida em duas subcategorias emergentes:
Dificuldades e Inadequações, apresentadas no quadro abaixo com suas
respectivas unidades de análise.
QUADRO 6. Maternidade na adolescência
Subcategorias Unidades de análise
Dificuldades
“Uma situação muito difícil (...) assim, não é nada agradável para essa jovem.”; “É um problema”; “É um suplicio”; “É bronca, né?”; “ (...) É uma sobrecarga.” “É
uma responsabilidade muito grande, pois, vamos dizer assim, é uma criança tomando conta de outra criança”.
Inadequação
“É queimar etapas, é sofrer (...)”; “É você entrar em uma fase da vida atropelando outras.”; “(...) É você realmente, atropelar o processo natural (...)”; “Aí nesse
caso já complica, porque você passa a ter uma responsabilidade que você deveria ter lá na frente (...)”; “(...) Vai privá-la de muitas coisas, de outras fases na vida dela que ainda não passou (...)”; “(...) É precipitar assim uma fase que poderia ser mais na frente (...)”.
Ao tratar das Representações Sociais dos profissionais de saúde em
relação à maternidade na adolescência foi possível apreender a existência de
um contraste significativo entre as concepções de maternidade e maternidade
na adolescência. Ser mãe, de acordo com estes profissionais, é algo
maravilhoso e divino desde que não seja durante a adolescência. Se por um
lado, a maternidade é tida como um evento positivo com doações e sacrifícios
em prol da família, a adolescência é exaltada pela ausência de
responsabilidades, um momento em que não se está apto para gerar ou cuidar
de um filho.
Nesse contexto, a maternidade na adolescência, diferentemente da
ideia apresentada a respeito da maternidade de um modo geral, foi
representada como um episódio negativo e problemático na vida da
adolescente, sendo objetivada enquanto um momento complicado, marcado
por dificuldades, perdas e conflitos. Assim, a maternidade torna-se um período
91
crítico na vida da adolescente. Vale destacar que conteúdo semelhante
também foi encontrado nas análises da associação livre a respeito do que é
“ser mãe adolescente”.
As respostas obtidas através do questionário de associação livre
demonstraram que os participantes apresentam uma representação social
acerca de “ser mãe adolescente” pautada em torno de expressões de cunho
negativo relacionadas à representação de adolescência, como o termo
“irresponsabilidade” presente no núcleo central da representação. Além disso,
os demais quadrantes da periferia também se referem a características
negativas da maternidade na adolescência: “dificuldades”, “pular etapas”,
“complicado”, “abdicação”, “evasão escolar”.
Diante das falas dos sujeitos na entrevista foi possível constatar que a
maternidade na adolescência “é queimar etapas, é sofrer (...)”; “É você entrar
em uma fase da vida atropelando outras”. Dessa forma, a gravidez da
adolescente é percebida como algo que foge a uma lógica natural, pois a
adolescência corresponde a um tempo de espera e de adiamento da entrada
no mundo público, relativo à passagem da infância para a vida adulta
(COUTINHO, 2005). Nesse sentido, não caberia aos adolescentes assumirem
a responsabilidade por uma criança, visto que, sequer são considerados
responsáveis por si mesmos. Assim, as adolescentes, ao tornarem-se mães,
estariam perdendo etapas de suas vidas na medida em que precisariam adotar
certas posturas e encargos considerados próprios do mundo adulto.
Esses dados coadunam com os achados na literatura referente à
temática da maternidade na adolescência, em que há uma prevalência de
aspectos negativos associados a esse evento. Nessa perspectiva, há um
destaque para as transformações intensas na vida cotidiana da adolescente,
decorrente da mudança de papel social ao tornar-se mãe. Assim, a gravidez na
adolescência acarreta compromissos e responsabilidades que ocasionariam
abdicações e dificuldades para a mãe adolescente, de forma que a
maternidade aumentaria a possibilidade de evasão escolar, desemprego e
limitações para as adolescentes realizarem suas atividades de lazer (LIMA et
al., 2004; MONTEIRO et al., 2007; HOGA et al., 2010).
Os atores sociais abordaram a temática da gravidez na adolescência
acompanhada de uma dimensão atitudinal ou uma avaliação negativa deste
fenômeno, com o uso de expressões “Ser mãe adolescente é uma experiência
92
precipitada”; “Ser mãe adolescente é uma situação muito difícil”. A dimensão
atitudinal é um dos aspectos identificados numa representação social, uma vez
que, segundo Jodelet (2001), o senso comum construído socialmente abarca a
totalidade de expressões, imagens, ideias e valores presentes nos discursos
sobre o objeto. Neste sentido, as representações sociais da gravidez na
adolescência apontaram para o componente atitudinal frente ao objeto
representado, a partir de um conjunto estruturado de afetos, significações,
saberes e informações.
O sentido da perda de etapas da vida está intimamente ligado às
representações que os atores sociais possuem acerca da adolescência e, por
conseguinte acerca do próprio adolescente, e, dessa maneira, essas jovens
estariam perdendo etapas de suas vidas na medida em que precisam assumir
certas posturas e responsabilidades, além de terem que abandonar
comportamentos e projetos de vida considerados característicos da
adolescência.
Esses resultados mostram que no processo de organização desses
diferentes grupos sociais que apresentam, de forma geral, a referência de
pertenças distintas, pois, como afirma Carvalho (2001), os sujeitos estão em
relação e em movimento na comunicação, circunscritos num ambiente
específico em que compartilham “concepções, percepções, intuições,
sensações, história e estórias” (CARVALHO, 2001, p. 441). Esses sujeitos
inseridos numa cultura, espaço e tempo determinados também simbolizam,
buscam seus sentidos e significados, assumindo, desse modo, “as
características da pertença social do sujeito, dos grupos com os quais interage,
do modo pelo qual, na prática, experiências são vivenciadas, filtradas também,
nos sonhos, crenças, emoções” (op. cit., p.441). Todo esse processo faz parte
da construção das representações sociais, que auxiliam os sujeitos a
orientarem suas condutas, compreenderem e explicarem sua realidade social,
justificarem as tomadas de posição e definirem suas identidades ainda
resguardando as particularidades dos grupos diante do objeto social (SANTOS,
2009).
Esses dados coadunam com a literatura referente à temática da
maternidade na adolescência, na qual há uma prevalência de aspectos
negativos associados a esse evento. Observa-se que a gravidez “precoce”
desencadeia mudanças intensas na vida cotidiana da adolescente, decorrente
93
da mudança de papel social. Entre às mães adolescentes é comum o
abandono da escola, a diminuição das atividades próprias da idade e a
limitação das oportunidades de emprego.
De forma geral os profissionais de saúde ancoram suas
representações acerca da gravidez na adolescência, na própria representação
acerca da adolescência, trazendo aqui destaque para o elemento da
irresponsabilidade, visto por estes grupos, e de uma forma geral em nossa
sociedade, como característico desta etapa de vida. Se por um lado as
adolescentes são vistas como irresponsáveis, a responsabilidade é tida como
fator essencial e indispensável para que se possa ser uma boa mãe. Dessa
maneira, a jovem mãe pode ser percebida como não sendo capaz de vivenciar
a maternidade nem os devidos cuidados com seu bebê.
Um ponto importante a ser destacado nas representações é que
emergiram bastantes elementos negativos acerca da gravidez na adolescência.
As representações estão ancoradas na figura do “ser adolescente” e, dessa
maneira, objetivada nos seguintes elementos: imaturidade, irresponsabilidade,
falta de experiência e inconsequência. A gravidez é vista como complicada,
como um ato de irresponsabilidade. É uma vivência que acaba sendo difícil
devido à falta de experiência e é prejudicial podendo acarretar diversos
problemas. É um ato inconsequente e que poderá levar a adolescente a
diversas abdicações durante sua vida.
Conforme o quadro-resumo exposto na Figura 3, pode-se constatar que
o elemento figurativo das representações sociais da gravidez na adolescência,
apreendidas no discurso dos profissionais de saúde, está situada nos aspectos
próprios da adolescência, tais como: irresponsabilidade, crises, conflitos,
imaturidade e inconsequência; assim como nos aspectos relacionados a
“natureza feminina” e aos papéis de gênero, além de uma dimensão atitudinal,
apresentando elementos predominantemente negativos referentes ao
fenômeno da gravidez na adolescência.
94
5.2.1.3 Categoria: Fatores associados à gravidez na adolescência
Esta categoria foi dividida em cinco subcategorias emergentes: Desejo
de ser mãe, conflitos familiares, desejo de manter o relacionamento, falta de
prevenção e de orientação, irresponsabilidade. Elas estão apresentadas no
quadro abaixo com suas respectivas unidades de análise.
Categoria Objetivações Ancoragens
Figura 3 - Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência
(Categoria – Maternidade na Adolescência), elaboradas pelos profissionais de saúde.
95
QUADRO 7. Fatores associados à gravidez na adolescência
Subcategorias Unidades de análise
Desejo de ser mãe
“(...) A maioria diz que pela vontade mesmo de engravidar, pelo fato de querer ser mãe, certo”; “O desejo de ser mãe (...)”; “A vontade de constituir uma família e ter a sua própria casa (...)”; “Muitas desejam a gravidez como forma de sair de casa para serem independentes e cuidarem da sua própria vida (...)”.
Conflitos familiares
“Muitas vezes elas têm algum conflito com a família, quer se livrar (...), sair de casa.”; “Muitas fazem por revolta (...) às vezes o pai briga com a mãe, o pai bebe (...)”; “Várias meninas se sentem presas em casa, brigam com os pais e engravidam para ter seu próprio espaço (...)”.
Desejo de manter o relacionamento
“(...) Prender o namorado, às vezes tem essa ilusão de que se engravidar vai prender o namorado (...)”; “Por que eu noto muito isso, esse medo de perder, de agradar, aí termina as coisas acontecendo”; “(...) Querer que o parceiro leve para morar com ele (...)”; “(...) Quer casar”; “(...) Muitas vezes por alguma briga, ou por algum desgaste ela já vai perder esse namorado, então uma forma de prender ela acha que é engravidando (...)”.
Falta de prevenção e de orientação
“É falta de informação principalmente doméstica e elas não buscam o serviço de saúde, as adolescentes têm uma resistência a buscar os serviços de saúde (...)”; “As escolas não orientam os jovens, não preparam eles para a vida e acabam fazendo besteira e a menina engravida (...)”; “É a falta de orientação”; “(...) É que elas não usam o preservativo nem tomam o anticoncepcional”; “Não usam o preservativo porque os namorados não gostam (...)”; “Acham que não vai acontecer com elas (...)”.
Irresponsabilidade
“Eu acho que é falta de responsabilidade mesmo.”; “É irresponsabilidade, imaturidade”. “(...) Elas ainda não estão maduras, são irresponsáveis e acabam engravidando por descuido”; “(...) Os adolescentes não medem as consequências das coisas e agem por impulso, namoram, mas não têm responsabilidade (...)”.
A análise dos dados dessa categoria, de acordo com as falas dos
sujeitos entrevistados, aponta para o desejo consciente dessas adolescentes
96
ficarem grávidas. O que não implica, exclusivamente, no desejo da
maternidade em si, pois, além do desejo de ser mãe, surgem também outros
desejos, como o de afastar-se da família, conseguir emancipação e autonomia,
e proporcionar maior estabilidade ao relacionamento.
Percebe-se que o conteúdo das entrevistas mostrou o caráter
valorativo da maternidade, ao associá-la ao desejo de mudança de status
social, autonomia e emancipação no sentido de obter um lugar socialmente
reconhecido através da maternidade. Nesse sentido, corrobora com as
expressões evocadas na associação livre: “desejo de ser mãe” e “busca por
emancipação”. Assim, as adolescentes mães obteriam independência a partir
da gravidez, pois ingressariam no “mundo adulto” e ficariam mais livres para
constituir um lar com seu parceiro (PANTOJA, 2003; BRANDÃO e HEILBORN,
2006; DIAS e TEIXEIRA, 2010).
Segundo Dadoorian (2003), o desejo da adolescente em ter um filho
pode estar atrelado a influências do contexto social, no qual a função social
feminina está relacionada à maternidade. A autora constata que entre outros
fatores relacionados à gravidez na adolescência pode-se destacar: a
naturalização desse acontecimento e a falta de planos para o futuro, uma vez
que as perspectivas dessas adolescentes se referem a um futuro imediato.
Vale ressaltar, que a gravidez entre as adolescentes de classe social mais
baixa possui um índice mais elevado ao comparar-se com as classes sociais
mais elevadas (SILVA e SALOMÃO, 2003).
Também foram citados, nas entrevistas, como fatores associados à
gravidez na adolescência a falta de prevenção e de orientação, os conflitos
com a família e a irresponsabilidade, sendo este último citado como uma
característica própria da adolescência compartilhada no senso comum acerca
desse período. Essas informações apresentaram a mesma ideia elaborada a
partir dos dados obtidos no questionário de associação livre em que os termos
“irresponsabilidade” e “falta de informação” presentes no núcleo central, assim
como outras expressões da periferia, como “falta de prevenção”, “família
desestruturada”, e “falta de diálogo com a família”, associaram-se a
compreensão que cerca as motivações para a gravidez na adolescência.
Os seguintes trechos da entrevista mostram a postura dos profissionais
de saúde mediante as causas da gravidez na adolescência, pois eles atribuem
que “É falta de informação, principalmente doméstica. E elas não buscam o
97
serviço de saúde, as adolescentes têm uma resistência a buscar os serviços de
saúde (...); “As escolas não orientam os jovens, não preparam eles para a vida
e acabam fazendo besteira e a menina engravida (...)”. Nesse sentido, a falta
de informação, referida nas análises das entrevistas, foi relacionada à ausência
de diálogo e orientação sobre a temática da sexualidade, tanto no âmbito
familiar e educacional quanto na esfera da saúde, uma vez que, foi apontado
que as adolescentes não procuram o serviço de saúde.
O conteúdo das entrevistas apresentou a falta de prevenção associada à
irresponsabilidade, ao imediatismo, à inconsequência e a imaturidade da
adolescente, que são características atribuídas pelo senso comum aos
adolescentes. Assim, as adolescentes deixam de realizar a prevenção, pela
limitação da capacidade de pensar nas consequências dos seus atos e “acham
que não vai acontecer com elas”. Dentro desse contexto, a literatura indica que
mesmo conhecendo os métodos anticoncepcionais, algumas adolescentes não
fazem uso destes por acharem que a gravidez é algo distante das suas vidas e
não acontecerá com elas (TEIXEIRA et al., 2006; MESQUITA, 2008; SANTOS
e NOGUEIRA, 2009).
Outro fator, citado entre os agravantes para da falta de prevenção foi o
parceiro não gostar de usar preservativo. As dificuldades de adoção do sexo
seguro entre as mulheres foram relacionadas com a dificuldade de negociação
do uso do preservativo com seus parceiros. Essa questão inclui posturas
atribuídas às relações de gêneros que determinam as posições sociais a serem
ocupadas por homens e mulheres. Desse modo, atribuí-se às mulheres a
responsabilidade por prevenir-se da gravidez, assim como ainda concebe-se a
ideia patriarcal de que os desejos das mulheres estão submetidos aos desejos
dos homens e que ser homem implica em ser viril acima de tudo.
Portanto, a gravidez e as práticas preventivas são compreendidas como
uma responsabilidade feminina (ORLANDI e TONELI, 2008). Segundo a
pesquisa de Santos (2002), para as mulheres casadas ou parceria estável é
ainda mais difícil a negociação do uso do preservativo em comparação às
mulheres que possuem parceiros ocasionais. Os dados assemelham-se aos
encontrados por Vieira et al. (2004), que entre as razões para o não uso do
preservativo foram citados: a “confiança no parceiro”, o “parceiro não gosta”,
“diminui o prazer” e “quebra o clima da transa”. De acordo com o estudo de
Albuquerque et al. (2009), menos de 50% dos adolescentes pesquisados
98
(sexualmente ativos) utilizam camisinhas em todas as relações sexuais. E
apenas 55% têm conhecimentos sobre métodos anticoncepcionais. Existe
também, tanto na literatura como no senso comum, uma correlação entre
escolaridade e contracepção (CABRAL, 2003).
É interessante destacar a centralidade do papel do parceiro na decisão
referente ao uso de preservativos, tanto no presente estudo, quanto nos dados
apontados na literatura, o que indica o quanto a mulher ainda ocupa um lugar
de submissão neste contexto. Os atributos de gênero neste cenário
desempenham um papel decisivo, pois, a sexualidade masculina ainda é
culturalmente caracterizada pela falta de controle dos impulsos sexuais,
enquanto das mulheres espera-se o controle destes impulsos, ao mesmo
tempo, também se espera que elas atendam as expectativas masculinas na
atividade sexual, o que torna a decisão pelo o uso do preservativo do
preservativo uma questão bastante delicada.
5.2.1.4 Categoria: Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência
Esta categoria foi dividida em duas subcategorias emergentes:
Sentimentos negativos e sentimentos positivos. Elas estão apresentadas no
quadro abaixo com suas respectivas unidades de análise.
QUADRO 8. Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência
Subcategorias Unidades de análise
Sentimentos positivos
“Quando são acolhidas pelo parceiro, pela família, o sentimento é de muita felicidade”; “Quando quer ter é sempre agradável (...)”; “A maioria delas se sentem felizes (...)”; “Só é bom quando ela deseja realmente ter o filho (...)”.
Sentimentos negativos
“(...) Aí então vem a mistura de sentimentos, a vontade de não querer...”, “Elas chegam angustiadas(...)”; “(...) Inicialmente elas ficam meio que assustadas.”; “O sentimento é de culpa... é de desespero.”; “Medo, tristeza, né?”; “Revolta, tristeza”; “Elas ficam inseguras com a gravidez, com medo de enfrentar as responsabilidades (...)”; “(...) O medo do novo, de ter que enfrentar coisas novas”.
99
A análise desta categoria aponta para a relevância dada pelos
profissionais de saúde aos sentimentos negativos associados à gravidez na
adolescência, tais como: tristeza, revolta, angústia e medo. Enquanto, os
sentimentos positivos apareceram de maneira pouco expressiva, associados à
felicidade de ser mãe e a um evento agradável quando parte do desejo da
mulher pela gravidez.
Os dados apontam para uma ambivalência de sentimentos resultante da
ambivalência surgida entre “ser mãe” e “ser adolescente”, o que resulta num
jogo em que as posições não são bem definidas, pois a vivência da
maternidade oscila entre aspectos positivos e negativos. Enquanto espera-se
que ser mãe seja motivo de felicidade, assumir essa responsabilidade
interrompe o cotidiano das adolescentes e agrega uma série de dificuldades a
suas vidas, o que torna essa maternidade motivo de tristeza e angústia. Nesse
sentido, Moscovici (2003) chama a atenção para o aspecto contraditório que
está presente nas representações sociais, que pode englobar ambivalências na
constituição de relações positivas ou negativas com o objeto de representação.
De acordo com Moreira et al. (2008) a gravidez e a adolescência são
momentos que quando se juntam formam um leque de transformações que
levam a um conjunto de emoções e acontecimentos. Durante a gravidez o
corpo da mulher se modifica, e surgem dúvidas, sentimentos de fragilidade,
insegurança e ansiedade. Assim, também, a adolescente grávida vive este
momento de ambiguidades, aspiração e contestações somado a mudança de
identidade.
5.2.1.5 Apoio social à gravidez na adolescência
Nesta categoria emergiram questões acerca do apoio social do parceiro
e da família no contexto da gravidez na adolescência. Assim, surgiram as
subcategorias o parceiro e a família, apresentadas no quadro abaixo.
100
QUADRO 9. O parceiro e a família no contexto da gravidez na adolescência
Subcategorias Unidades de análise
O parceiro
“(...) Eles não querem nem saber das responsabilidades com o filho”; “(...) Como eu falei a grande maioria não tem responsabilidade, não tão nem aí, ou então trabalham”; “(...) Pelo que eu vejo muitos rejeitam.”; “(...) Alguns apoiam outros não querem nem saber, fazem de conta que não é dele (...)”; “(...) O pai raramente a gente vê um pai aqui no posto (...)”; “Dá pra perceber que depois que a gravidez acontece muitos se afastam”; “A adolescente chega sozinha no pré-natal, o pai da criança não costuma aparecer e algumas são mães solteiras (...)”; “O pai da criança sai com os amigos e a adolescente tem que se virar sozinha (...)”.
A família
“(...) Aí as mães e os pais sempre são os responsáveis de tomar conta”; “(...) A família da mãe fica muito decepcionada”; “Olha, de imediato vira um tumulto, né, porque os pais não aceitam, diz que confiavam (...); Os pais de imediato não aceitam, mas depois compartilham com elas”; “Eu percebo que são bem acolhidas”; “Os pais se assustam no começo, mas depois ajudam a cuidar do bebê (...)”; “A mãe da adolescente é que acaba tomando conta da criança que vai nascer (...)”; “A família é contra, mas acaba assumindo as despesas, comprando as coisas do bebê (...)”.
Diante das respostas coletadas, pode-se observar que os profissionais
de saúde consideram raro ou inexistentes o apoio oferecido pelo pai da
criança. Segundo esses, o parceiro mesmo quando assume o filho, não
acompanham o desenvolvimento da gravidez, não costumam participar das
consultas, nem da realização do pré-natal.
Frente a essa temática, Costa et al. (2005) colocam que o
acompanhamento da gestação faz parte do comportamento atual dos homens
diante da paternidade. No entanto, em seu estudo sobre gravidez na
adolescência e coparticipação paterna, a participação masculina no pré-natal
foi de apenas 35,0%, o que foi associado a fatores como o envolvimento no
trabalho, assim como decorrente da repetição do “modelo masculino” vigente,
em que os cuidados com a gravidez e o bebê são percebidos como
responsabilidade materna.
Nesse sentido, OKAZAKI et al. (2005) destacam que, na maioria dos
casos a gestante não tem nem vínculo com o parceiro, nem o apoio deste. A
falta de apoio durante a gravidez ou abandono por parte do parceiro constituem
101
um aspecto negativo, pois o apoio social oferecido à adolescente grávida é um
fator fundamental, uma vez que o suporte emocional e a divisão de
responsabilidades permitem que a futura mãe se sinta amparada nesse
período de mudanças (DIAS e DESLANDES, 2006).
Já em relação ao apoio oferecido pela família, os profissionais de
saúde apontaram para uma rejeição inicial, provocada pela decepção diante da
notícia da gravidez da adolescente. Porém, ao longo da gestação, os futuros
avós vão se “acostumando” com o fato e, geralmente, oferecem apoio à
adolescente. Dessen e Braz (2000) consideram que os suportes sociais,
quando percebidos e reconhecidos pela pessoa que passa por uma situação
difícil, são fundamentais para a manutenção da saúde mental e para o
enfrentamento de situações estressantes, constituindo fatores importantes para
a adequação dos comportamentos maternos em relação aos filhos.
Percebe-se, através das unidades de análises das subcategorias “o
parceiro” e “a família”, que esses elementos estão caracterizados pela
contradição, de forma geral. Neste aspecto, pontuam-se as ideias de Moscovici
(2001), de que no grupo não há apenas consensos e homogeneidade de
pensamentos, mesmo que estes sejam socialmente compartilhados, pois “as
representações sociais incluem convergências que fazem a familiaridade e as
divergências de pensamento, os conflitos que provocam a mudança”
(SANTOS, 2005, p. 30).
5.2.2 Classe temática: Repercussões da Gravidez na adolescência
A presente classe temática procurou avaliar a maneira como os
participantes da pesquisa percebem a repercussão da gravidez na
adolescência na vida dos atores sociais que compartilham esse evento. A partir
dos dados coletados, esta classe temática foi dividida nas seguintes categorias:
“consequências da gravidez para a adolescente”, “consequências da gravidez
para o parceiro” e “efeitos da gravidez na família”.
102 5.2.2.1 Categoria: Consequências da gravidez para a adolescente
Os dados obtidos, com relação aos efeitos da gravidez na vida da
adolescente indicam mudanças predominantemente negativas nos diferentes
âmbitos da vida dessas adolescentes, como pode ser observado no quadro
abaixo.
QUADRO 10. Repercussão da gravidez para a adolescente
Subcategorias Unidades de análise
Mudanças corporais
“Muitas vão deformar o corpo (...)”; “(...) aí relaxam, deixam o corpinho todo gordo”; “Mudança no corpo porque elas se tornam mulheres precocemente”; “Elas ganham peso”; “(...) Vai ter a barriga crescendo, ela engordando, enlarguecendo, os seios crescendo e acho que também vai passar por isso de uma forma muito sofrida ”.
Evasão escolar
“(...) Elas ou não estudam ou quando engravidam deixam de estudar”; “Não se matriculam porque tem que ficar com a criança (...)”; “Deixam a escola de lado por causa da gravidez e depois que o filho nasce não têm mais tempo pra estudar (...)”; “Muitas vezes a escola é de difícil acesso, aí elas se afastam da escola e perdem o ano muitas vezes (...)”; “Fica difícil pra estudar (...)”; “(...) Pensam mais na criança do que nelas, e elas acabam neste meio tempo deixando mão dos estudos (...)”; “(...) Tem que faltar a escola, tudo e depois que nasce é parece que elas dobram né aquelas tarefas a fazer e elas acabam perdendo um pouco do ritmo escolar (...)”.
Dificuldades no mercado de trabalho
“(...) Trabalho nem se fala, as chances vão ficar cada vez menores”; “(...) Elas precisam de alguma pessoa pra ficar com aquela criança e muitas vezes é melhor ficar com o filho a trabalhar”; “Em questão de trabalho fica muito mais complicado, porque primeiro já não tem o estudo, já não tem uma profissão”; “Muitas vezes não tem quem fique com essa criança (...)”; “Elas não tem tempo pra trabalhar por causa do filho (...)”; “Elas acabam se prejudicando porque não dá para trabalhar e cuidar do filho ao mesmo tempo (...)”; “(...) É difícil grávida chegar até a terminar aquele segundo grau, principalmente numa comunidade carente como essa daqui e você visar um trabalho, uma profissão (...)”.
103
Subcategorias Unidades de análise
Amadurecimento precoce
“Elas vão ter que ser responsável de todo jeito, porque ali tem uma vida, tem uma criança que vai ter pelo resto da vida (...)”; “Ela vai ter que provocar um amadurecimento precoce (...)”; “Elas acabam crescendo mais rápido, amadurecem quando começam a cuidar do filho (...)”; “A menina quando engravida vê que precisa ter mais responsabilidade e toma mais juízo, amadurece (....)”; “Ela acaba amadurecendo pela responsabilidade, a vontade de ter como suprir aquela criança de alguma forma (...)”.
Perdas de lazer
“A respeito do lazer vai ter que levar a criança (...)”; “Elas vão aprender a ter limites no lazer (...)”; “Ela vai ficar dentro de casa, ela não vai poder ir pra uma festa, não vai poder ir para um show (...)”; “(...) Elas vão ver as amigas saindo, mas vão ter que ficar em casa cuidando da criança.”; “(...) Vão perder a liberdade, não vão poder mais sair como antes”; “(...) Têm que ficar em casa cuidando da criança e deixam de aproveitar com os outros da idade dela (...)”.
Riscos à saúde
“Elas assumem uma gravidez de risco e tem que estar se cuidando mais, podem ficar com a pressão alterada (...)”; “(...) Elas sempre tem alguma recorrência e procuram a gente (...)”; “Algumas ficam perturbadas, depressivas com o estresse da gravidez (...)”; “No caso das adolescentes, a gravidez é de risco (...)”; “É uma gravidez de risco e ela pode ter complicações na saúde, o bebê pode nascer com problemas (...)”; “Têm risco de pré-eclampsia, complicações no parto (...)”; “(...) é gravidez de risco e o feto pode ter má formação (...)”.
Dificuldades financeiras
“(...) Tudo piora porque tem que comprar coisas para o bebê; “(...) é complicado porque pra maioria dessas adolescentes as condições financeiras é precária, né”; “Na maioria das vezes elas nem tem vida financeira e vai depender dos pais (...)”; “A situação complica (...) influencia e muito, porque normalmente as adolescentes elas não trabalham (...)”; “É difícil (...) os adolescentes não trabalham, não tem uma estabilidade (...)”; “(...) Algumas tem a vida financeira não muito boa, aí piora (...) aí já chega com toda a parte da criança, tem o enxoval da criança, tem que preparar o quarto da criança. A alimentação da criança (...) e gasta um bocado”; “(...) Porque leite tem um valor bem alto para uma população que não tem um certo poder aquisitivo vai sentir sim a diferença aí (...)”.
104
O conteúdo das entrevistas enfatizou mudanças corporais da
adolescente com ênfase na perda de formas físicas socialmente valorizadas;
prejuízos no desenvolvimento intelectual em decorrência do abandono ou
interrupção dos estudos; perdas na vida social, uma vez que, o lazer tende a
ser substituído pelos cuidados com a criança; amadurecimento precoce diante
da responsabilidade de cuidar de outro ser que dela depende para sobreviver;
e dificuldades para ingressar no mercado de trabalho em decorrência da falta
de tempo disponível para investimento em capacitações e estudos devido à
gravidez e ocupação com os cuidados do filho.
Os dados apresentados nessa categoria convergem com as respostas
obtidas no questionário de associação livre. Entre as expressões mencionadas
no questionário acerca das consequências da gravidez na adolescência,
aparece no núcleo central da representação os termos “perder os estudos” e
“gravidez de risco”. Também se encontram elementos periféricos que
corroboram com a ideia apresentada na entrevista, tais como “pular etapas da
vida”, “desemprego”, “perder a liberdade”, “amadurecimento precoce” e
“aumento das responsabilidades”.
Nesse sentido, as concepções dos profissionais atreladas à gravidez na
adolescência estão permeadas por uma ideia de gravidez associada a perdas
na vida da adolescente e a riscos à sua saúde. Estas concepções partem da
representação de adolescência como fase “imprópria” para a procriação, assim
como envolve a representação de maternidade como um evento que acarreta
responsabilidades devido às atribuições assumidas pela mulher na dedicação
aos filhos e ao lar.
Os achados das entrevistas coadunam com dados referidos na literatura,
que indicam que as adolescentes grávidas frequentemente abandonam a
escola, não se capacitam e consequentemente apresentam dificuldades para
ingressar no mercado de trabalho ou ocupam cargos mal remunerados (KÖNIG
et al., 2008 e SILVA et al., 2009). Assim, evidencia-se que a maternidade afeta
a escolarização das mães, pois estas passam a assumir papéis que
demandam obrigações e responsabilidades que, muitas vezes, são
incompatíveis com os estudos e com a qualificação profissional (SILVA e
CAMARGO, 2008; BRANDÃO e HEILBORN, 2006).
105
Oliveira (2005) observa que de maneira geral, após a procriação, a
adolescente, principalmente nas periferias sociais urbanas, não é mais tratada
como filha a ser educada, mas sim como mãe, a qual deve cuidar de seus
filhos. Esse cuidado dedicado ao filho, em geral, limita a disponibilidade para
diversões.
Em relação às transformações corporais das adolescentes grávidas,
Moreira et al. (2008) ressalta que durante a gravidez o corpo da mulher se
modifica, e diante disso as jovens sentem-se inseguras, frágeis e ansiosas.
Folle e Geib (2004) trazem que durante a vivência da gravidez, a adolescente
defronta-se com as alterações corporais que afetam sua autoimagem e
autoestima. E que após o nascimento do filho passa por um amadurecimento
diante do compromisso da maternidade.
Vale destacar que na entrevista há referência que a gravidez na
adolescência proporciona uma série de riscos à saúde da mãe e do bebê.
Nesse sentido, corrobora com as concepções ainda permeadas no discurso
dos profissionais de saúde que se ancoram no modelo biomédico para
entender a gravidez na adolescência, a qual é considerada uma gravidez
precoce e de risco. Desse modo, a gestação das adolescentes é associada a
uma maior morbidade e mortalidade materna, além de prematuridade e baixo
peso da criança ao nascer (HEILBORN et al., 2002; BRANDÃO e HEILBORN,
2006; CERQUEIRA-SANTOS, 2010).
Diante do exposto, pode-se constatar que os princípios organizadores
das representações sociais elaboradas pelos profissionais, com enfoque nos
efeitos da gravidez para a adolescente, apontaram para ancoragens que
remetem às demandas e expectativas acerca da maternidade e da
adolescência. Assim como, as representações foram objetivadas em: emprego,
estudo, status social, conflitos familiares, responsabilidade, medo, insegurança,
felicidade, realização de um desejo, mudança da identidade. Além desses
fatores, observa-se também ancoragens relacionadas ao discurso médico e
objetivações tais como: risco a saúde da criança e da adolescente, cuidados
médicos, gravidez de risco, mudanças orgânicas e corporais.
106 5.2.2.2 Categoria: Consequências da gravidez para o parceiro
Esta categoria, com relação aos efeitos da gravidez na vida do parceiro,
foi dividida em duas subcategorias: “limitações no desenvolvimento intelectual
e econômico” e “efeitos na vida social e afetiva” como pode ser verificado no
quadro abaixo.
QUADRO 11. Efeitos da gravidez na vida do pai da criança
Subcategorias Unidades de análise
Limitações no desenvolvimento intelectual e econômico
“Muitos tem que deixar de estudar para trabalhar (...)”; “Eles deixam de estudar pra poder dá renda (...)”; “(...) Se ele não trabalhava vai ter que trabalhar (...) por que vem o filho pra ele assumir”; “(...) Já que é homem tem a questão do trabalho, ele vai ter que trabalhar pra sustentar o filho.”; “Vai ter que mexer no bolso, porque ai ele vai precisar dar assistência a adolescente, a mulher”; “(...) Ele não tem renda e vai ter que trabalhar para ajudar nas despesas”.
Ausência de impacto na vida social e vida afetiva
“(...) A maioria deles, dos daqui não muda em nada, continua a mesma vida (...) ficando com outras, engravidando outras (...)”; “Eu acho bem menos, eu acho que a vida do homem, do adolescente não muda muito não (...)”; “(...) Ele se firma como homem ‘eu sou pai’, então há mudança nesse sentido (...)”; “(...) Assim com o ego lá em cima porque engravidou, mas não ajudam em nada”; “(...) Ficam com a vida normal e sobra pra menina cuidar”; “Influência nenhuma, eles não estão nem ai (...)”; “Eles continuam saindo, se divertindo com os amigos e sobra para a mãe cuidar da criança (...)”.
A apreensão dos conteúdos da entrevista mostrou uma ênfase nas
despesas financeiras decorrentes da gravidez de sua parceira. Assim, diante
do nascimento do filho, ele terá que arcar com o sustento dessa criança, o que
é garantido por lei. Dessa forma, a fim de arcar com os custos financeiros do
filho, os adolescentes tendem a abandonar a escola e entram precocemente no
mercado de trabalho.
Nesse sentido, o tema trabalho aparece significativamente como condição
de importante aspecto no delineamento da paternidade (ORLANDI e
TORNELLE, 2008). Diante desse fato, a antecipação da entrada do mercado
107
de trabalho desencadeia prejuízos intelectuais para estes adolescentes, pois, a
maioria interrompe os estudos em função do trabalho. A evasão escolar
impossibilita uma melhor qualificação profissional, fazendo com que
permaneçam em profissões “menos valorizadas” socialmente.
Com relação à vida social dos pais adolescentes, os entrevistados não
consideram haver grandes modificações, permanecendo a concepção de
homem pouco implicado no processo da gravidez. Ao se referirem à vida
afetiva dos parceiros foi evidenciada indiferença relacionada à gravidez da
parceira, no entanto, também foi mencionado que, em alguns casos, observa-
se felicidade por parte do pai, associada à legitimação do papel de homem
frente à sociedade.
Os dados apreendidos permitiram inferir que na concepção dos
entrevistados, a gravidez na adolescência tem um impacto pouco
representativo na vida dos parceiros, pois, estes, geralmente, se apropriam
apenas dos encargos financeiros deixando o cuidado da gravidez e
posteriormente da criança sob responsabilidade da parceira. O que coaduna
com a literatura, que se refere à concepção de paternidade relacionada à
obrigação e à responsabilidade relacionada à manutenção dos filhos e da
família (OLIVEIRA, 2010).
Desse modo, o pai assume o papel de provedor e a mulher assume as
responsabilidades com o bebê e os cuidados do lar. Portanto, os profissionais
representam a paternidade acorando-se na figura do pai provedor, aquele que
historicamente assume como única responsabilidade a manutenção financeira
da família, porém quando objetivam o pai como essa figura ausente, pouco ou
nada envolvida afetivamente, faz-se uma referência a uma “nova paternidade”
a uma demanda por um “novo” posicionamento masculino frente à gravidez e
ao próprio relacionamento.
Pode-se constatar que os princípios organizadores das representações
sociais elaboradas pelos profissionais, com enfoque nos efeitos da gravidez
para o parceiro, apontaram para ancoragens que remetem a demandas e
expectativas acerca da paternidade e da adolescência. Assim como, as
representações foram objetivadas em: trabalho, estudo, amadurecimento,
responsabilidade, vida social, indiferença. Além desses fatores, podem-se
observar ancoragens relacionadas aos papéis de gênero, e objetivações tais
como: provedor, papel de homem.
108 5.2.2.3 Categoria: Efeitos da gravidez na família
De acordo com os conteúdos da entrevista, a presente categoria foi
dividida em duas subcategorias emergentes: “Efeitos na vida financeira” e
“Efeitos na vida social e afetiva”. O quadro 12 demonstra as subcategorias.
QUADRO 12. Efeitos da gravidez na família
Subcategorias Unidades de análise
Efeitos na vida financeira
“(...) A renda vai ser dividida com as despesas do bebê.”; “A família passa a ter mais despesas”; “(...) Quem ajuda é a própria família”; “Os pais reclamam muitos com as despesas que terão com a criança e também com a adolescente que precisa de cuidados especiais, roupas e uma melhor alimentação (...)”. “Vai pesar mais nas despesas (...) porque se os adolescentes não trabalham, não tem uma estabilidade, quem vai arcar com tudo são os pais (...)”; “(...) Os pais vão ter que arcar, até porque ela não vai poder trabalhar a princípio”; “(...) Então vai influenciar, por que é um gasto a mais”.
Efeitos na vida social e afetiva
“Algumas mães (avós) ficam, né! Deixam de trabalhar porque vão cuidar do filho (neto), pra (sua) filha poder estudar (...)”; “Às vezes sobrecarrega um pouquinho, né (...) a mãe (avó), às vezes uma tia (...)”; “(...) Tem alguns que ficam felizes pela chegada do bebê e tem uns que ficam decepcionados (...)”; “Muitas vezes ficam invadidos (...) eles se sentem assim: ninguém perguntou a mim se eu queria essa situação (...)”; “Impotentes. Eles se sentem impotentes (...)”; “Inicialmente ficam meio revoltados, mas depois aceitam apoiam (...)”; “Eles vão estar de olho, e tão com
cuidado, porque, como já diz, ela é uma adolescente (...) ela não tem aquela experiência com o bebê e eles acabam ajudando a cuidar (...)”; “(...) Vai entrar um novo integrante na família, né (...), é mais responsabilidade pra eles, então assim já muda socialmente o convívio com as outras pessoas lá fora (...)”.
O conteúdo expresso nas entrevistas indica efeitos na vida dos
familiares das adolescentes grávidas, com destaque para a mudança na rotina
da família, tais como, sobrecarga de trabalho, principalmente, para a avó
materna da criança, que aparece como a principal figura de apoio da jovem
mãe com relação aos cuidados com a criança; aumento da dificuldade
financeira, considerando que estas famílias vão arcar com as despesas da
gravidez e do bebê. Também, foi evidenciada ambivalência de sentimentos
109
entre a decepção diante da descoberta da gravidez e felicidade da chegada de
um neto.
A avó materna é citada como principal figura de suporte no período da
gravidez e após o nascimento da criança, o que coaduna com os dados
encontrados na literatura que indicam que diante da notícia da gravidez surgem
na família sentimentos culpa, medo, indignação, choro e desespero, porém,
muitas vezes, as avós assumem a função de cuidar e apoiar. Em muitos casos
os adolescentes passam a morar próximo ou residem junto à família de um
deles, recebendo ajuda dos familiares. (SILVA e SALOMÃO, 2003; BRANDÃO
e HEILBORN, 2006).
Diante do exposto, pode-se constatar que os princípios organizadores
das representações sociais elaboradas pelos profissionais, com enfoque nos
efeitos da gravidez para a família, apontaram para ancoragens referentes a
demandas e expectativas que cercam a família, a maternidade e a
adolescência. Dessa forma, as representações sociais foram objetivadas em:
impacto financeiro, mudanças na rotina, conflitos, decepção, vida social e
felicidade.
5.2.3 Classe temática: Atuação dos profissionais de saúde
Nesta classe temática procurou-se identificar as ações realizadas pelas
equipes de saúde diante da gravidez na adolescência. Assim, esta classe
temática foi dividia em duas categorias: “Serviços de apoio direcionados à
gestação” e “Possibilidades de atuação do profissional de saúde”.
5.2.3.1 Categoria: Serviços de apoio direcionados à gestação
Esta categoria, de acordo com os achados da entrevista, foi dividida em
duas subcategorias emergentes: “Ausência de serviços exclusivos” e “Serviços
disponíveis”.
110 QUADRO 13. Serviços de apoio direcionados à gestação na adolescência
Subcategorias Unidades de análise
Ausência de serviços exclusivos
“Assim, a gente não desenvolve nenhuma atividade específica pra elas.”; “Não, não a gente encaminha quando apresenta algum problema.”; “Não. Só acompanhamento gestacional.”; “(...) Aqui não existe diferença, nessa unidade, não existe diferença da adolescente e da adulta grávida” .
Serviços disponíveis “Planejamento familiar, acompanhamento de gestante, palestra, busca ativa, fazer o pré-natal (...)”; “Acompanhamento da gravidez...”; “(...) O programa de planejamento familiar pra pegar camisinha”.
A partir da análise desta categoria pode-se constatar a ausência de
serviços direcionados exclusivamente às gestantes adolescentes, nas
Unidades de Saúde da Família (USFs) investigadas neste estudo. Os
entrevistados declararam que o acompanhamento das adolescentes é
realizado juntamente com as demais grávidas da comunidade, através do pré-
natal e do planejamento familiar, no qual é discutido procriação e o uso de
métodos contraceptivos.
Os dados coletados assemelham-se aos encontrados no estudo de
Ferrari et al. (2008), no qual se observa que cerca de 97% dos médicos e
enfermeiros das equipes da Saúde da Família do município de Londrina,
referem que no serviço de atenção básica de saúde não existe um programa
específico para os adolescentes.
Com relação ao planejamento familiar Farias Júnior et al. (2009) afirmam
que trata-se de uma importante atividade de saúde, que tem como objetivo
informar sobre os meios necessários para que se possa decidir de forma livre e
consciente acerca dos métodos para prevenir a gravidez, bem como as DSTs e
AIDS.
Também se constatou que os profissionais entrevistados, mesmo
informando que reconhecem que a gravidez na adolescência possui demandas
específicas, elaboram sua prática de modo indistinto entre atendimento ás
mulheres adultas e às adolescentes. O serviço oferecido à gestante
adolescente é permeado por expectativas que cercam as gestantes
adolescentes. Assim, espera-se que a mulher se programe antes de ter seus
111
filhos. E há demandas para que o adolescente estude, amadureça e trace um
projeto de vida para a fase adulta que não se enquadra com o evento da
gravidez.
Nesse sentido, Daltoso et al. (2005) destaca que para uma boa qualidade
do serviço de pré-natal, a equipe de saúde deve levar em conta aspectos
específicos da adolescência, as situações de risco e as dificuldades próprias
desse grupo, implicando num acompanhamento periódico.
5.2.3.2 Categoria: Possibilidades de atuação do profissional de saúde
A partir do conteúdo das entrevistas em relação a esta categoria,
emergiram três subcategorias de unidades de análise: “Atividades
informativas”, “Acompanhamento” e “Aspectos dificultadores”.
QUADRO 14. Atuação do profissional de saúde no contexto da gravidez na adolescência
Subcategorias Unidades de análise
Atividades informativas
“Formando grupos (...) pra falar de como cuidar do bebê que
vai vir, a questão da alimentação, a questão de mexer um
pouquinho com o psicológico delas, ver a questão social.”;
“Conscientizando já do estado da gravidez, conscientizando
da importância que ela deve dar a essa criança”; “Fazendo
reuniões educativas...”
Acompanhamento
“Fazendo pré- natal”; “fazer o cadastro, fazer a carteira de
gestante e acompanhar ela até os nove meses.”;
“Aconselhamento, sabendo se elas estão tomando a vacina
em dia, sabendo se estão fazendo o pré-natal. Se elas estão
fazendo os exames”.
Aspectos dificultadores
“São mais resistente e falta interesse”; “(...) Adolescente não escuta muito”; “Às vezes não vem pra unidade porque alguns agentes de saúde conhece a família, com medo que a informação vaze.”; “A gente faz palestras com eles, mas é uma dificuldade tão grande porque eles fazem o que eles querem.”; “Que adolescente não escuta muito. Adolescente, ele é o dono da razão. Ele faz o que quer e pronto”.
Diante das falas dos entrevistados percebe-se a importância atribuída,
por estes, a prática de atividades informativas e do acompanhamento da
112
gestação. Estas aparecem como ferramentas fundamentais para o
enfrentamento da problemática da gravidez na adolescência. No entanto, é
observável no discurso desses profissionais que essas atividades são
pensadas num sentido unilateral, no qual, a equipe de saúde expõe para o
adolescente o que é importante para a manutenção da sua saúde. Assim,
prevalece à ideia de que o profissional de saúde é o detentor do saber, o que
limita as possibilidades de trocas de saberes essenciais para um maior
conhecimento da problemática vivida pelas adolescentes.
No discurso dos sujeitos entrevistados também emergiram uma série de
dificuldades relativas ao trabalho com grupos de adolescentes. Estas, ligadas a
um conceito engessado sobre a adolescência, no qual o adolescente é
percebido como: irresponsável, resistente, desinteressado e impulsivo. A falta
de entrosamento entre os profissionais da saúde e os adolescentes pode ser
percebida como uma limitação da assistência à saúde do adolescente.
Nota-se que as práticas dos profissionais estão permeadas por
expectativas sociais em torno da adolescência, da mulher e da família. A visão
desse profissional em torno da gravidez na adolescência engloba ideias
compartilhadas acerca de um modelo de maternidade e adolescência que
remete a demandas sobre a maternidade e sobre a adolescência.
Queiroz et al.(2010) e Guimarães et al. (2003), ao tratar do trabalho com
adolescentes, afirmam que esse é sempre um desafio para as equipes de
saúde, pois é necessário que sejam criadas estratégias para levar aos
adolescentes até o serviço. Portanto, faz-se necessário que seja criado um elo
de confiança entre a equipe e os adolescentes, para que se possam obter
resultados positivos e atraí-los ao serviço de saúde.
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
114
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados alcançados com a elaboração dessa dissertação
permitiram apreender a dimensão psicossocial dos conceitos elaborados pelos
profissionais de saúde acerca da gravidez na adolescência. Para tal, adotou-se
um percurso metodológico que possibilitou o entendimento dos conteúdos das
representações sociais dos participantes. A apreensão desses conteúdos
despertou para ratificar a importância do desdobramento da Teoria das
Representações Sociais a partir da corrente teórico-metodológica oriunda da
perspectiva de Jean-Claude Abric, além da própria abordagem de Serge
Moscovici.
No que diz respeito aos objetivos, conclui-se que todos eles foram
contemplados. Em relação aos procedimentos do método, o presente trabalho
possibilitou uma maior abertura para a compreensão das representações
sociais investigadas ao combinar diferentes procedimentos de coleta e análise
dos dados, o que permitiu a não supressão da multidimensionalidade do
fenômeno abordado. Vale destacar que os instrumentos utilizados no presente
estudo comportaram elementos que se complementam e, assim,
proporcionaram uma melhor compreensão do fenômeno estudado, além de
assegurarem uma maior confiabilidade quanto aos resultados obtidos.
Os dados conseguidos através da técnica de associação livre permitiram
o alcance ao campo semântico da representação, ao suscitar um conhecimento
a respeito dos arranjos entre os principais significantes associados à gravidez
na adolescência, assim como trouxeram uma compreensão acerca da imagem
da adolescente grávida. Já em relação às entrevistas, elas possibilitaram uma
maior elucidação acerca dos conteúdos da representação e um acesso aos
processos simbólicos da construção dessa representação.
Ao unir o material coletado dos questionários de associação livre e das
entrevistas, juntamente com a literatura empregada na construção desse
estudo, percebe-se que a gravidez acarreta diversas mudanças na vida da
adolescente, as quais aparecem atreladas principalmente a aspectos
negativos. A gravidez na adolescência é compreendida, pelos profissionais de
saúde aqui estudados, como um evento “problemático” e os seus discursos
estão caracterizados por aspectos predominantemente alarmistas,
115
vitimizadores, homogeneizadores que reforçam um olhar negativo acerca da
maternidade da adolescente, a qual é vista enquanto prejuízo para o percurso
da vida das adolescentes.
Nesse sentido, as implicações da maternidade na adolescência
aparecem vinculadas à experiência de “ser adolescente” construída ao longo
dos séculos em meio às interações do contexto histórico-social, como também
se vinculam à vivência de “ser mãe” em meio às construções sociais que a
estabeleceram, com o passar do tempo, papéis e lugares atribuídos à mulher
na sociedade.
Vale ressaltar que a compreensão de adolescência mostra-se atrelada a
uma fase de transição com características próprias que envolvem a preparação
física, psíquica e social do indivíduo para tornar-se adulto, de modo a assumir
as competências, atributos e responsabilidades da vida adulta (RANGEL e
QUEIROZ, 2008; MESQUITA, 2008). Assim, a adolescente não estaria apta
para gerar e cuidar de um filho, o que atribui à gestação na adolescência um
sentido de evento precoce, impróprio e inadequado, que acarreta dificuldades
na vida da adolescente, como também oferece riscos a sua saúde e a do bebê.
Já no que se refere aos conceitos vinculados acerca da experiência da
maternidade, esta remete a questões relacionadas às atribuições sobre o
gênero feminino, que se relacionam à construção sobre o que é ser mulher ao
longo do processo sócio-histórico. Portanto, atribuiu-se que a mulher é a
responsável pelos cuidados e educação dos filhos, baseada em uma
concepção patriarcal (BOZON, 2004; MOURA e ARAÚJO, 2004; OLIVEIRA,
2010).
Diante do exposto, de uma maneira geral, a representação da
maternidade na adolescência, no presente estudo, foi ancorada na natureza
feminina em que é atribuição da mulher a responsabilidade e os cuidados pela
prole. Vale ressaltar, diante das ideias compartilhadas pelos profissionais de
saúde nessa pesquisa, que o fato de ser mãe não coloca fim à adolescência,
apesar de trazer novas implicações provenientes do mundo adulto. No que diz
respeito à gravidez na adolescência, especificamente, os dados apreendidos
nas entrevistam e questionários de associação livre apontam para uma
representação de gravidez ancorada num estigma negativo acerca da ideia do
que é “ser adolescente”, a qual se mostra imbuída no senso comum, nos
discursos científicos e práticas profissionais. Essa noção compreende as
116
adolescentes como despreparados biologicamente, emocionalmente e
socialmente para conceber filhos.
Porém, pôde ser constatado que mesmo sendo compreendida como um
evento que proporciona dificuldades e abdicações, a gravidez na adolescência
não necessariamente foi percebida como algo negativo pelos profissionais de
saúde, pois também foram considerados aspectos positivos que evidenciam a
gestação como um evento gratificante e proveniente do próprio desejo das
adolescentes.
Nesse sentido, Pantoja (2003) ressalta que apesar das pessoas
geralmente perceberem a gravidez na adolescência como indesejada, muitas
vezes a adolescente a almeja, a planeja e se frustra ao conferir que a gravidez
não aconteceu. A gestação entre as adolescentes, principalmente nas
camadas pobres da população não condiz, necessariamente, numa perda ou
descontinuidade dos seus projetos de vida. A gravidez muitas vezes aparece
enquanto um valor de ônus social que não é assumida como um fato que
impeça os planos futuros das adolescentes gestantes.
Diante do exposto, as representações sociais da gravidez na
adolescência, apreendidas por ambos os instrumentos, propiciaram o acesso
às opiniões, crenças, estereótipos e imagens acerca da temática estudada.
Percebe-se que nessas representações estão intrínsecos conhecimentos
científicos e do senso comum, bem como valores sociais que circulam entre
eles. Dessa forma, foi possível identificar as concepções que influenciam e
orientam as práticas dos profissionais de saúde, de modo que as
Representações Sociais que circulam entre esses profissionais aparecem
como um conhecimento que não se caracteriza por uma contraposição ao
saber científico, mas há uma dialética entre o conhecimento consensual (senso
comum) e o saber reificado, considerado como científico (MOSCOVICI, 2003).
Portanto, percebe-se a necessidade de um olhar mais ampliado com
relação à gravidez na adolescência perante o contexto de interação dos
profissionais de saúde. A partir do estudo realizado, percebe-se a existência de
um discurso que trata a gestação da adolescente como uma situação de risco
que ocasiona problemas, tanto no âmbito biológico quanto psicológico, para a
mãe e o bebê. Essa perspectiva se ancora no modelo biomédico de saúde que
tende a suprimir as questões e experiências do contexto social em que a
adolescente vive. Assim, as concepções compartilhadas pelo grupo de
117
palavras que expressam o discurso biomédico são transmitidas, reforçadas e
perpetuadas, segundo Merhy (2007), nas visões psicológicas, pedagógicas,
religiosas e jurídicas que circulam nos espaços sociais.
No que tange à aplicabilidade desta investigação, pensa-se que seus
resultados possam contribuir tanto para o conhecimento em torno da gravidez
da adolescência, quanto para uma compreensão acerca dos conceitos que
permeiam e interferem nas práticas dos profissionais de saúde perante as
adolescentes grávidas. Nesse sentido, há uma abertura para reflexões acerca
de medidas de intervenção direcionadas à saúde sexual e reprodutiva do
adolescente e à melhoria da qualidade de vida das jovens, além de verificar-se
a importância da formulação de estratégias na implementação de políticas
públicas de promoção e educação em saúde, com o intuito de minimizar o
impacto biopsicossocial da gravidez na adolescência.
Dessa forma, o acompanhamento da gravidez na adolescência, no
setor da Saúde, deve ser pensado diferentemente do acompanhamento de
uma gestação na vida adulta, devendo-se, dessa maneira, levar em
consideração um conjunto de aspectos biopsicossociais envolvidos no
processo dessa gravidez, assim como o cenário de interação que perpassa a
relação dos profissionais de saúde com as adolescentes, principalmente se
essas fizerem parte de um contexto de vulnerabilidade social.
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ANEXOS
Anexo 1- Parecer do Comitê de Ética
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Anexo II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (A partir de 18 anos completos)
UFPE-Programa de Pós-Graduação em Psicologia Mestranda Vera Lúcia de Moura Sena Filha - Tel. 34293747/96328849 Endereço: Departamento de Psicologia, 9º andar do CFCH, UFPE E-mail: [email protected] Comitê de Ética em Pesquisa (Avenida da Engenharia s/n, 1º andar - Cidade Universitária, Recife-PE, CEP: 50740-600, Tel.: 2126 8588)
Eu, Vera Lúcia de Moura Sena Filha, mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, venho através deste documento solicitar sua participação na pesquisa intitulada “Representações Sociais da gravidez na adolescência para profissionais de Unidades de Saúde da Família”.
Para autorizar a participação do menor você deve estar ciente de que:
Este projeto tem como objetivo avaliar as Representações Sociais das práticas de saúde destinadas à gravidez na adolescência para profissionais de Unidades de Saúde da Família.
Caso aceite, o menor será solicitado a participar, em um espaço reservado, de uma entrevista individual que, mediante sua permissão, será gravada e posteriormente transcrita para análise. As gravações serão armazenadas em local seguro, na sala da pesquisadora responsável, localizada no sétimo andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e ficará sob responsabilidade da mesma. No momento da transcrição nomes e dados dos participantes serão trocados por códigos; em seguida, as gravações originais serão destruídas.
Muito embora esta participação não ofereça risco à integridade física, psíquica e moral nem à dignidade dos participantes, é possível que algumas pessoas se sintam constrangidas ao tratar de temas como a sexualidade, por exemplo. De qualquer modo, há plena liberdade para que a entrevista seja interrompida no momento que o/a participante desejar.
No que diz respeito aos benefícios, essa pesquisa pretende contribuir tanto para o conhecimento da vivência da gravidez na adolescência e suas conseqüências, quanto para a avaliação das práticas de saúde destinadas à gravidez na adolescência por profissionais de Unidades de Saúde da Família. Com relação aos benefícios diretos, após o término desta pesquisa serão oferecidas algumas palestras para os participantes da pesquisa, assim como serão divulgados os resultados da mesma através de um relatório escrito. Para isto sua contribuição e participação são essenciais.
A pesquisa será feita em um único encontro através de uma entrevista e não acarretará em nenhuma despesa ou eventual dano para o participante. Dessa maneira não haverá nenhuma forma de ressarcimento de despesas ou de indenização. Qualquer despesa com transporte que você eventualmente tiver para participar desta pesquisa será paga pela pesquisadora.
Sua participação é voluntária e uma recusa não implicará em qualquer tipo de prejuízo.
As informações que você fornecer poderão ser utilizadas em trabalhos científicos, mas sua identidade será sempre preservada, seu nome não aparecerá em nenhum momento e não haverá qualquer sinal ou palavra que possa identificar sua pessoa.
Você é livre para desistir da participação no trabalho em qualquer momento.
Agradecemos desde já a sua participação e nos colocamos à disposição para outros esclarecimentos que se façam necessários nos endereços acima. Sim. Aceito ser entrevistado(a) para este estudo e que esta entrevista seja gravada. Sim. Aceito que trechos desta entrevista (sem identificação) sirvam de ilustração para trabalhos de pesquisa e formação de educadores e profissionais de saúde. Estando assim de acordo, assinam o presente termo de consentimento em duas vias. ____________________________________ _________________________________________ Nome do Participante Responsável pelo projeto ____________________________________ Primeira testemunha ____________________________________ Recife, _____ de _____________ de _________. Segunda testemunha
Apêndice I – Questões Sociodemográficas – Profissionais de Saúde
QUESTÕES SOCIODEMOGRÁFICAS – Profissionais de Saúde Dados Gerais – Profissional de saúde Cidade ______________________________ USF _________________________ Data ____/____/______ Nome _________________________________________________________________________________ Idade______________ Profissional de saúde (formação)__________________________________________________________ Profissional da adolescente ______________________________________________________________ Tel. _____________________ Escolaridade ( ) Analfabeto ( ) I Grau Incompleto ( ) I Grau Completo ( ) II Grau Incompleto ( ) II Grau Completo ( ) III Grau Incompleto ( ) III Grau Completo
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Apêndice II – Roteiro do Questionário de Associação Livre
Agora coloque as respostas em ordem de importância.
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Apêndice III – Roteiro da Entrevista
Motivações para engravidar;
Como é ser mãe? Como é ser mãe adolescente? Qual são os motivos para não evitar a gravidez? Você acha que as adolescentes desejavam a gravidez atual? Quais são os sentimentos frente à gravidez? Quais os motivos que levam uma adolescente a ficar grávida? Qual seria a idade ideal? Qual a idade que geralmente as garotas da comunidade
ficam grávidas?
Efeitos da gravidez na vida da adolescente grávida;
Qual a influência da gestação sobre as atividades (estudo, trabalho, lazer)? Quais as mudanças que a gravidez vai trazer para a vida dela? Você percebe alguma mudança no corpo dela? Você percebe alguma mudança na vida social e afetiva? Você percebe alguma mudança emocional? Você percebe alguma mudança no desempenho escolar? Você percebe alguma mudança financeira? A quem elas recorrem quando ficam grávidas? Como você percebeu o apoio recebido da família? E do parceiro? Quem você acha que vai ajudar a criar o filho dela? Por quê? Qual o modo de agir dos parentes frente à gravidez? Você acha que a gravidez reduz as chances de entrar ou manter-se no mercado de
trabalho?
Efeitos da gravidez na vida do parceiro;
Qual a influência da gestação sobre as atividades dele (estudo, trabalho, lazer)? Quais as mudanças que a gravidez vai trazer para a vida dele? Você percebe alguma mudança na vida social e afetiva dele? Você percebe alguma mudança emocional? Você percebe alguma mudança no desempenho escolar? Você percebe alguma mudança financeira? Dê um exemplo? A quem eles recorrem quando elas ficam grávidas? Você acha que a gravidez reduz as chances dele de entrar ou manter-se no mercado
de trabalho?
Efeitos da gravidez na vida dos parentes e de pessoas próximas da adolescente mãe;
Qual a influência da gestação sobre as atividades dos parentes? Quais as mudanças que a gravidez vai trazer para a vida deles? Você percebe alguma mudança na vida social e afetiva? Você percebe alguma mudança emocional? Você percebe alguma mudança financeira?
Profissionais de Saúde X Gravidez na adolescência;
Vocês possuem algum serviço voltado para adolescentes grávidas? Como funciona? Desde quando?
Como o profissional de saúde pode trabalhar com adolescentes grávidas? Quais os aspectos facilitadores e dificultadores de se trabalhar com adolescentes?