-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
1/8
Vocviveemumapriso?
Condomniosfechados,centrosdelazerprivativos,murosgigantescomaramefarpado,cmerasdevigilnciaeatbunkerssoosexemplosmaisevidentesdeumnovoconceitourbanstico:aarquiteturadomedosentimentoquemoldaafeiodasnossascidades.Masatquepontoa
paraniadaseguranatornousemaiorqueaprpriaviolncia?
REVISTATRIP,n168,27/07/08,pgs68a79.PorMarceloRezendeFotosdeMarcosVilasBoas
muitorarovocterachancedecaminharemmeioaumaidia.Masseusolhosapercebemenquantovocobservaaalturadosmuros,omaterialdasgradesounomesqueaparecemsobreoconcreto,impressosemchapasdealumniocomcoresneutrasouemtonsesmaecidos,quasedesaparecendo:PABXIntelbras,4utech,Detronix,Simtrack,Multitel,Acloman,Novacell,Osastec,
-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
2/8
Projemax. Nomes que soam como ttulos de videogames, mas so
empresas no ramo dasegurana, integrantes de um negcio que envolve
tecnologia, dados estatsticos,
parania,oportunidade,homens(so600milvigilantesprivadosnoBrasil,entreoficiaiseclandestinos)emuito
dinheiro: no ano passado, os lucros foram de R$ 15 bilhes. Mas essa
no a
maisinteressantepeadaidia.apenasosintoma,noadoena.Aidiaestinteressadaemoutraquesto.
O que significa viver, morar e se proteger sob essas circunstncias
de
medopermanente?E,talvezaperguntamaisnecessria,medodequemoudoqu?
AidiadoarquitetoetericoalemoNikolausHirsch:aarquiteturasetornouocontrol
freakdo campo da arte, preocupandose de modo obsessivo apenas com
controle, segurana ouautoridade. Um dos grandes pensadores do papel
da arquitetura hoje, Hirsch acredita que
osarquitetosdevemvoltaraterambiodeartistaseparardesededicarconstruosemfimdefronteiras.
Quando se fala sobre fronteira, ela deve ser entendida como algo
fsico. Cadaconstruo cria fronteiras especficas. Parede, cho e teto
agem como limites materiaisseparandoosistema internodo
teatrodoambiente.Soresponsveispelocontroleambientalisto,protegereguardar.Umacasaimpossveldeservistanarua,umedifciocercadodefiosde
alta tenso, a altura de uma grade, a presena de uma cmera, essa a
paisagem
dosgrandescentrosbrasileiros,masnos.apersonificaodaidiadeHirsch.Ousuaperverso.Eocenriodequalquerlocaldomundoemqueascoisastiveramquepiorarmuitoatcomearamelhorarouqueaindaesperamumamelhoranotvel.
MEDIEVALIZAODASCIDADES
Osconceitosprotegereguardarestonabasedaidiademorar,deseabrigarsobumteto.Essaspalavrassetornaramumaespciede
lema,ummandamentoquasemilitarsobredequemodoocupareseorganizaremumagrandecidadenastrsltimasdcadas.Paraarquitetoseurbanistas,aarquiteturadomedoumcampodeestudo:tratasedepesquisardequemaneirauma
comunidade se comporta, que solues encontra diante de situaes
extremadas
deviolncia,taiscomoocupaesmilitareseguerrascivis.Masaexpressoarquiteturadomedotem
tambm sido usada para explicar certos movimentos nas cidades de
alta
densidadepopulacional.SoPauloeRiodeJaneiro,paraosbrasileiros,soosgrandesexemplos.
Aarquiteturadomedoaparecetantonaszonasmaisricasquantonasmaispobres,estpresenteem
moradias ou em imveis comerciais. Vigilncia constante e separao da
rua so
osmandamentos.Hmuitodetecnologiaeorganizao(asgradesnasjanelascomumfloreio,umenfeite,separecemcomobjetosdedecorao),mastambmamais
assumida gambiarra. Voc pode comprar uma cmera de segurana vazia,
sem
nadadentro,apenasacasca,einstalaremsuacasa.maisbarato,eosladresjamaissaberoquese
trata de umamaquete. Ou, se tudo isso estiver mesmo preocupando voc
e a inteno investir, possvel construir um bunker em seu lar. Ele
pode ser feito embaixo de casas e
equipadocomcomidaeremdios,mantmumafamliadequatropessoaspor30dias,deixandoas
independentes do contato externo. No Brasil, 110 famlias j
construram bunkers em
seuslares.SoPauloconcentraamaioriadoscasos.OpreovaideR$100milaR$2milhes.
Estamos em um contexto social deformado, diz Snia Ferraz,
arquiteta e professora naUniversidade Federal Fluminense, noRio de
Janeiro. Mas no se trata de um acontecimentonacional, e sim
internacional. interessante. No interior brasileiro, os muros
altos, cmeras earames farpados so smbolos de uma cidade grande, so
smbolos de crescimento, diz
ela.Sniatemfeitodaarquiteturadaviolnciaumtemadepesquisadesdeoano2000.Elaesuaequipe
fotografaram cerca demil residncias e edifcios em Ipanema, Lagoa,
JardimBotnico,LebloneBarradaTijuca,noRiodeJaneiro,eemMoema,Jardins,MorumbieAltodaBoaVista,em
So Paulo. Encontrou nessas imagens uma srie de casos e um intenso
processo demedievalizao. A palavra se refere ao retorno de sistemas
de proteo originados na IdadeMdia.Umperodo da histria no qual o
combate fsico era uma experincia cotidiana.
Sniadescobriu,disfaradasouevidentes,muralhas,torresdevigia,fossos,portesduplos,trincheiraseguaritas.
Quandocomeaaseexpandiressaarquiteturadomedo?Elatemumahistria?
Ela comea a ser percebida a partir da dcada de 90. Estudamos
folhetos de propaganda
delanamentosimobilirios,eantesdissoossistemasdesegurananoestavamincorporadosaos
-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
3/8
projetos. Depois, tudo mudou. Assim surgem vrias arquiteturas.
Arquitetura de
proteo,arquiteturadaviolnciaearquiteturademendigoquevocplanejarosobstculosparaqueosmendigosnoencontremlugaresparaficarnasestruturasdasmoradiasoupertodelas.
Arquiteturadomedonosignificaapenasessesmecanismosevidentesdeproteocitados
porSnia. Faz parte dele tambm o aumento de espaos fechados, centros
comerciais isolados,climatizados e afastados do som, do aroma, do
teatro do ambiente. O mexicano RicardoLegorreta, um nome histrico
para a arquitetura, ao visitar So Paulo e Rio no ano
passado,vendotantosshoppingcenters,perguntouseosbrasileirostinhammedodocontatodosoledachuva,docaloredovento,doselementosdanatureza.Legorretaacertoupelomenos50%daquesto.Osbrasileirostmmedo,issoinegvel.
PAVORDOSNMEROS
Seexisteoladotovisveldaarquiteturadomedo,noextremoopostohumoutroeigualmentedeterminante
elemento, mas sua particularidade est no fato de ser invisvel,
incontrolvel
eextremamenteresistente,topotentequantoaviolncia:omedodaviolncia.SegundodadosdoMinistrio
da Justia, os homicdios por arma de fogo tm diminudo no Brasil
desde
2004.Naqueleano,foram48.374vtimas.Em2006,46.660.Essareduoparecemnima,osnmerossoaltosainda.Mas,seolhadosdentrodocontexto,ganhamumsignificadomaior.De1996a2003,osassassinatosforamde38.888para51.043.AdatadoinciodesseprocessoamesmadadapelaprofessoraSniaFerraz,quandocomeaaserpercebidooaparecimentodesistemasdeseguranacomoparteobrigatriadoscondomniosemconstruo.Osfossoseasgradesemformadegarfos
gigantes no demorarammuito a chegar. Foram sete anos (como uma
pragabblica)emquebrasileirosseacostumaramaver
todososdiassituaesdedescontrole, a
TVsendoajaneladessaatmosfera.SoPauloeRioganharamotomeoritmodecidadessadasdegraphicnovels,massempodercontarcomumhericapazderestabeleceraordem.Agora,comosnmerosrecuando,possvelesperarporumdesmontedasfortalezasparaqueomurobaixoe
o porto demadeira pintado de verde ou azul possam ocupar o centro
da vida
urbana,certo?Completamenteerrado.Esseumsculotodonovo,afinal,echeiodesurpresas.
-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
4/8
Hoteto,ecomeleexisteaseparao,olimite,afronteira.E,seacoisafuncionaassimemumamoradia
sobre um terreno, pode operar domesmomodo na paisagemmental do
proprietriodessamesma casa. Os dados podem indicar que o Brasil
caminha para uma vida urbana nomnimo menos apocalptica, mas a
percepo dessa situao se mostra lenta, em algunsmomentos parece ser
mesmo uma inveno incapaz de convencer o pblico. Seria
possvelafirmarsermaisseguroandarnasruashojedoquehquatroanos?Tecnicamente,sim,masoproblemaqueissonofazalgumsesentirmaisprotegido.Nessecaso,apercepomuitomaiordoqueofato.Voc
no reduz omedo da violncia apenas com retrao dos nmeros, o quadro
no
tosimplesassimdeserlido,dizTheoDias.AdvogadocriminalistaeprofessordaEscoladeDireitodaFundaoGetlioVargas,emSoPaulo,Diasestudaquestesligadasseguranapblica.Tivemos
uma degradao do espao pblico, e esse medo da violncia termina sendo
ocatalisador de outros medos. O medo do crime pode ser o indicativo
de outras situaes
deinsegurana,comootemordemudanassociaiseeconmicas.Porissoomedodocrimedevesertocombatidoquantooprpriocrime.Umcasoexemplardesseprocessodecatalisaodosmedos
a situao dos pases europeus, emque a sociedade reage contra a
imigrao e
osimigrantes,poucoimportaseoscensosdemonstremnoseremelesresponsveispeloaumentododesemprego.Paraosbrasileiros,ofantasmaoutro.Naarquiteturadaviolncia,aequaosetornaaindamaiscomplicadaporqueelanobaseadaemumafantasia,masemnmerosqueevidenciamnoserasociedadebrasileiraumadasmaiscalmas
sobre a Terra. Seus problemas sociais cobram um preo, todos os elos
da cadeiaterminam pagando um. E isso gera um sentimento difuso, um
pnico capaz de produzir
umarespostadesproporcionalaoataque.TheoDiasacreditaquesedebruarsobreosefeitos
toimportantequantosevoltarparaascausas.
Dequemaneirapossvelcombateromedodocrimetantoquantooprpriocrime?
precisoreconstruiroimaginriodacidade,procurardescobriroqueessesentimentopodeestarquerendodizer,oqueestrepresentando.Sevocsairnasruaseperguntarparaaspessoasseelas
se sentem mais inseguras agora, elas diro que sim, mesmo que os
nmeros
dacriminalidadetenhamdiminudo.Omedodocrimenomenosgravedoqueocrime.
Soosfenmenosdecatalisaoemplenofuncionamento,certo?
Sim,porissoomedodocrimedeveserassumido,eessaumatendnciaquevemcrescendoentre
aqueles que estudam o problema. Se as pessoas sentem essemedo,
porque
algumaagressoestacontecendo,sejaelapoltica,econmica,urbansticaeassimessasensaodeameaapermanece.
Andar pelas ruas pode representar um extenso passeio por idias,
dados, teorias,
prticasselvagensemao.Masaindaachancedeencontraralgunssinaisdeotimismo,mostrandoserpossvelmanteracabeaparaforadeummardeprevisescatastrficasparaavidabrasileira.Issopodenofazerasociedademaissegura(ouminimamentemaisjusta),masdeixaperceber
-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
5/8
uma pequena fresta, fazendo passar o ar e a luz onde antes havia
um muro fechado, semnenhumaabertura,ecomvigilncia24horas.
*MarceloRezendeautordoromanceArnoSchmidt(Planeta,2005)edoensaioCinciadosonhoAimaginaosemfimdodiretorMichelGondry(Alameda,2005).CuradordaexposioEstadodeexceo(PaodasArtes,2008)ecocuradordoprojeto
Comunismo da forma (Galeria Vermelho, So Paulo, 2007) e da mostra
la
Chinoise(MicrowaveInternationalNewMediaArtsFestival,HongKong,2007).
Orelacionamentoentrearquiteturaeartecontemporneatemseintensificadonaltimadcada.Diferentesartistas
vm fazendodahistria e dopensamentoarquitetnicouma
ferramentaemseustrabalhos,enquantoarquitetosdevolvemagentilezaexibindoobrasemmuseusoubienais.Nessa
atmosfera, alguns criadores se voltaram exatamente para o medo que
um ambiente capaz de provocar naquele que o visita, enquanto outros
fazem pesquisas sobre de
quemodoaimaginaosecomportadiantedanecessidadedeseguranaevigilncia.NoprimeirocasoestoalemoGregorSchneider,queconstriquartos,salasoucorredoresquenoparecemternadadeabsolutamenteanormal.Massocapazesdeprovocarumasensaode
que algo muito errado aconteceu ou acontecer l. Um de seus
conhecidos trabalhos
foiemBondiBeach,naAustrlia,noanopassado.Elecolocousobreaareiadeumapraia21celas,medindo
4 x 4m, construdas como uma tpica cerca australiana e contendo
todos os objetosobrigatrios da cultura das praias. Outro caso o do
espanhol Santiago Sierra. Uma de
suasaesfoioprojetoOsadultos,umainstalaobaseadanosserviosdaempresadeseguranainglesaCompoundSecurity,que
instalouemshoppingsequipamentosparagerarum
incmodorudoquepodeserouvidoapenasporpessoasabaixodos25anos.umamaneiradeafastargangues
de jovens dos locais de consumo. Sierra usou equipamentos
semelhantes em
umaexposionoChile,em2007,querendoprovocaropblicocomotalbarulho.NoBrasil,opaulistanoRodrigoMatheuscriouumaempresadeseguranafictcia,aCenturium.Para
ela, desenvolveu uma linguagem visual (propagandas nas fotos acima)
e realizou umainstalaonaqualoespaodomuseu
(nocaso,oMuseudaPampulha,emMinasGerais,em2004)seconvertiaemumlugardeplenocontrole,comcmeraseoutrosobjetosdemanutenodaordem.Comoemumacasapertodevoc.Ouseuprpriolar.(MR)
-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
6/8
TripvisitouosextremosgeogrficosdeSoPauloparaverseaarquiteturadomedochegouaumaregioquejteveardeinterior
PORCAIOFERRETTI|FOTOSJOOWAINER
Logo nos primeirosminutos circulando pelas ruas do Graja, na
periferia da zona sul de
SoPaulo,ficouclaroqueumconceitoantigoestavasealterando.Espremidosladoalado,portesejanelas
gradeados, aliados a lanas e arames farpados, redesenhavam o espao
urbano daregio, colocando em xeque a teoria de que na periferia
ainda existem pessoas vivendo comhbitosinterioranos, desprotegidas
de fortificaes.As impresses de reprter e fotgrafo
eramumas:asgradesdominaramtodasasconstrues.MasapaisagemmetlicadoGraja,bairrocommaior
concentrao de pessoas vivendo em favelas na capital paulista,
segundo o censoIBGE de 2000, simplesmente o exemplo da nova
organizao da periferia deSoPaulo.
Asportasestofechadas.Achoquevirouumaquestodehbito,umcostume,palpitaa
ldercomunitriaMaria
InsdeOliveiraSantiago(fotonapg.aolado),45,moradoradoGrajadesdeoinciodadcadade80.Sevocforaumalojadematerialdeconstruo,vaiverqueasjanelasjsofabricadascomgrade.Jpercebeuisso?UmaculturaquenoagradaemnadaMariaIns.Apesardeviverdealuguelemumacasaintensamentefechada,pordiversasvezeseladizquesonhamoraremumacasaigualsdoCanad,semportesdeferro,assimcomoasquevnoslivros.Masachaqueisso
no mais possvel na periferia. No tem mais isso de tranqilidade
interiorana,
diz.Antigamente,entreumvizinhoeoutro,osmuroserambaixos.Agentetinhaacessoumaooutroparabaterumpapo.Hoje,issonoexiste,opessoalsefechou.H
quem lucre com essa situao e no so apenas as serralherias. H 18
anos o caseiroAntnio Pinheiro de Souza faz bicos como pintor de
casas na regio do Graja. Mas o
querealmentetemconsumidoseutempoumanovamodalidadedebico:ademanutenoepinturadas
grades de ferro que fechamas casas. umbico criado pela violncia,
porque antes notinha tanta grade. Aumentou o servio e aumentou
tambm o meu ganho, diz ele
enquantoterminadelixarumenormeporto,apressadoparairfazeromesmoservioemoutraresidncia.H
uns 15 anos dava a impresso de que a gente vivia no interior. Mas a
criminalidadeaumentou demais, e o povo se fechou em grades, como d
para o senhor notar,
completaAntnio,apontandoparaasoutrascasasdarua,entreelasadeMaria
Ins.Umasituaoquefazocaseiropensarnaaberturadeumafirmaenacontrataodeajudantesparadarcontadonmerodepedidos.
SEGURANAINTERNA
A verdade que apenas os barracos erguidos com tbuas de madeira,
cada vez
maissubstitudospelascasasdealvenaria,parecemescapardomodelogradeadodasconstruesnaperiferia.Aindaassim,nodifcilencontrarbarracosfechadoscomcorrentesecadeados.Uma
-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
7/8
imagem que nos faz questionar a tese de que o trfico garante a
segurana dentro
dacomunidade.Masissoaindapodeocorreremcantosmaisisoladosdacidade,comdifcilacessoparacarros,ondeosbraosdopoderpblicomalconseguemalcanar.Acomunidadeprocuraviverdebemcomtodos.Noacontecemmaisassaltosporaqui,dizZaildeSantos,moradoradoJardimMonteVerde,
tambmnoGraja. Seacontecer, jsabequedepoisvai terqueprestarcontas,
vai ter que devolver, sentencia. Nas ruas sem asfalto do bairro,
que fica beira darepresa Billings e mal aparece no guia da cidade,
Zailde (foto na pg. ao lado) acredita
serpossvelviversemsefecharemgrades.Quantosegurana,deentraremnasuacasa,notemproblema.Amenosquevoctenhaalgumproblemacomeles,conclui.QuandoquestionadossemaissegurovivernaperiferiaounosbairrosnobresdeSoPaulo,osmoradores
escondidos entre grades ou no so unnimes em escolher suas casas.
Fazsentido. No ano passado foram contabilizados pela Secretaria de
Segurana Pblica de
SoPaulocercade4,3milroubosefurtosnoGraja.NosJardins,bairronobre,foramcercade14,4mil.
No tem por que roubar aqui. No tem carro de marca, no tem jia, no
tem
nada,dizZailde.Umamatemticaquefazsentido,masquenascontasdaldercomunitriaMariaInsnemsempre
temum resultadoexato. Algumaspessoasno se fechamporqueno
tmnadaparaserroubado.Sopessoasquemaltmumfogo.Emesmoassimalgunssetrancamcommedodequelevemobotijodegs.Elestmumanicacoisadevalor.Masjosuficiente.
Jsabemosdecor as liesbsicasparapassarmosdeumacidadedo
temorparaumadoprazer.OunsascolocamosemprticaoucontinuaremosviajandoparaverabelacidadequeosoutrosfizeramPORCIROPIRONDI*
Setudohumano,entotudoperigosoE.Viveiros
Naarquiteturaoselementosdepassagemsofundamentais.Ajanelaapassagemdoolhareda
imaginao. A porta a passagem fsica, corporal. Uma contempla as
possibilidades
daimaginao,dohorizonte,aoutraseletivapelasuanatureza.Vivemosemespaodepassagem:umavia,umacaladasocaminhoshorizontais,umelevadore
uma escada verticalizam nosso caminhar, espaos dinmicos que nos
incitam o percurso,
aidiadetempoeliberdade.Quandoaarquiteturaperdeessessentidos,ficacarentedeseumaioratributo.Ascidadescontemporneas,
instaladassobosignodomedo,so imensasmassasconstrudascom quase
nenhuma arquitetura. Gradeamos praas, nos isolamos em muros
altssimos
emnossascasasetrancamosnossoolharemjanelasquenoseabremparaovento.Qualquer
possibilidadede espaos vazios prontamentenegada, quandodeveria ser
omaisdesejado.Amputamosassimqualquerpossibilidadedeencontroeconvivncialivre.Nossos
espaos so vigiados eletrnica e fisicamente. Pblico e privado
confundemse, e acidade,noentanto,considerasemoderna.A cidade um
artefato das civilizaes. Foi construda pela vontade humana de
vivercoletivamente.Suaorigemremontaoinstintoprimriodeunio,convvioetroca.Isolla
emaeroportos vigiados, carrosblindados, condomnios fechadosasfixiar
seumito de
-
31/03/2015 RepercussoArqViol
http://www.uff.br/arqviol/textos_repercussoes/210708_Trip_Voce%20vive%20numa%20prisao.html
8/8
origem.SeuDNAcompostodosgenesdaliberdadedoencontro.
MUROSINTEIS
A violncia urbana tem sua origem namisria. No seromuros,
represso ou grades que asolucionaro. Isso apenas acirrar a excluso.
necessria uma ao educativa
transversal,capazdeolharcomgenerosidadenossascaladaseruaseperceberoqueestacontecendo.Iniciase
a construo de um pensamento ecolgicoambiental sobre as cidades.
Percebemosque estamos em uma rota de coliso, uma certa guerrilha
urbana capaz de inviabilizar suaexistncia.Novos desgnios so
necessrios. Governantes no so gerentes das cidades,
governantesdevemgovernardemocraticamente,estaumadimensomuitomaiorqueasimplesgerncia.Precisamsercadavezmaisincitadosatomarcontadesuasaesedeseusprojetos.No
h motivo para desacreditarmos das cidades e, idilicamente,
pensarmos numa volta
aocampo.possveledesejadorecuperaroserroscometidos,deixarosrioslimposelivresparaoseucursonatural,usloscomoviasde
transportee
lazer.Construirmaisreasverdesparaoencontroeacontemplao.Ampliarotransportecoletivo.Aliobsicanecessriaparapassarmosdeumacidadedomedoparaumacidadedeprazerebelezanssabemosdecor:bastafazlaoucontinuaremosviajandoparaverabelacidadequeosoutrosfizeram.
*CiroPirondi,arquiteto,diretordaEscoladaCidadeFaculdadedeArquiteturaeUrbanismo,emSoPaulo