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REPENSANDO O MEDIEVO: PROBLEMATIZANDO O CONCEITO DE IDADE MDIA
NA EDUCAO BSICA
Andrielly Karolina Duarte Braz 1 [email protected]
Graduanda em Histria/UFRN
Joo Fernando Barreto de Brito1
[email protected] Graduando em Histria/UFRN
Orientadora: Ftima Martins Lopes2
RESUMO: O perodo medieval, to distante cronologicamente e
espacialmente, parece no fazer
muito sentido para os alunos da educao bsica, ainda mais quando
ensinado de forma
descontextualizada de sua realidade. Pensando nisso que o
subprojeto de Histria- PIBID-CAPES
desenvolveu a ao que consistiu em estimular os alunos a
perceberem como o medievo est
presente mesmo nos dias atuais, como tambm nos seus espaos de
convvio. Tal preocupao
surgiu no momento em que, analisando a maneira como a Idade Mdia
pejorativamente chamada
de Idade das trevas- retratada nos livros didticos e na prpria
sala de aula, percebemos a
necessidade de mostr-la sob outra perspectiva, que no
privilegiasse e/ou estimulasse a construo
e legitimao de uma viso pautada sempre nos mesmos pontos: atraso
cultural, peste, guerra,
fome. Assim, nossa ao buscou repensar o estudo da Idade Mdia
fazendo os alunos pensarem
criticamente sobre como determinada viso foi construda, mas
principalmente desconstru-la a partir
das contribuies daquela sociedade, sendo estas reapropriadas a
partir de cada realidade, mas
tendo sua origem ou disseminao legadas ao medievo.
Palavras-chave: Sala de aula; Idade Mdia; PIBID.
Por acreditar que o professor um mediador do conhecimento, e no
o nico
a det-lo, e que ele deva atuar como agente dinamizador no
desenvolvimento das
habilidades e competncias dos discentes, utilizando estratgias
didticas que
favoream o processo de ensino-aprendizagem de todos estes ou do
maior nmero
possvel deles, que devemos pensar aes capazes de promover a
participao
do estudante. A construo deste conhecimento deve ser dialogada
entre professor
e aluno, de maneira que os dois se tornem sujeitos do processo
de ensino-
aprendizagem. Para isso, preciso que saibamos que ensinar no
transferir
1 Bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciao
Docncia - PIBID/CAPES.
2 Coordenadora do subprojeto de Histria do PIBID/CAPES UFRN.
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conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produo ou a
sua
construo. (FREIRE, 1996, P.12).
Mesmo sendo a teoria da pedagogia libertadora3 h muito
discutida, v-se
que alguns docentes acabam negligenciando a prtica de
desenvolver estratgias
didticas necessrias para que o aluno consiga desenvolver
competncias vitais ao
pensamento autnomo. O tradicionalismo empregado por certos
professores faz
com que o estudante se torne um grande depsito de contedos, mas
no o faz
capaz de problematiz-los. Para a disciplina de Histria, o acmulo
de contedos
no significa que o processo de ensino-aprendizagem foi bem
sucedido, mas
contribui para a naturalizao dos eventos histricos, fixando-os
de maneira
irrefutvel.
Partindo desse pressuposto de que a Histria uma cincia que deve
ser
investigada, interpretada e, acima de tudo, problematizada, no
podemos deixar de
lado a sua rica multiplicidade de vises, e principalmente, a
importncia da
construo e desconstruo dos conceitos para o ensino da mesma.
Diante desta
tica que pensamos o conceito de Idade Mdia a partir da temtica
da Reforma
Protestante como uma chance de discutir/problematizar com os
alunos da 1 Srie
B do ensino mdio da Escola Estadual Professor Jos Fernandes
Machado (Natal-
RN), as mltiplas interpretaes da histria, de maneira a
investigar os vrios
olhares lanados sobre ela, e que no caso, diz respeito tambm ao
olhar das
diferentes vertentes religiosas e a prpria construo do conceito
e periodizao em
questo. Encontramos nessa forma de abordagem uma oportunidade
de
dimensionar para os estudantes como relevante questionar a
construo das
verdades histricas, ao tempo em que afirmamos que no existe uma
nica
verdade, mas verdades.
Esta experincia s foi possvel atravs das intervenes e aes
pensadas e
realizadas pelo subprojeto de Histria do PIBID/ UFRN, que tem a
referida escola
como campo de atuao e pesquisa. Tal subprojeto financiado pela
CAPES e tem
como foco principal a formao de professores. Nossa atuao se d em
grande
medida intervindo durante as aulas programadas a partir do
planejamento do
professor supervisor da escola. Tais aulas so direcionadas por
meio de temticas
3 Pedagogia idealizada por Paulo Freire que cr numa educao
crtica a favor da transformao
social.
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escolhidas por ns, as quais so desenvolvidas juntamente com os
alunos por meio
de estratgias diferenciadas.
Escolhemos como temas para a primeira interveno tal experincia
foi
realizada em dois momentos distintos a multiplicidade histrica e
a intolerncia
religiosa a partir da abordagem do contedo (j realizada pelo
professor supervisor)
da Reforma Protestante. Sabendo que iramos tratar de um perodo
histrico que
naturalmente se mostra to distante temporalmente dos discentes,
entendemos que
o contedo poderia se tornar relevante se suscitssemos a
problematizao de uma
questo presente no cotidiano destes. Assim, em vez de tratarmos
e reafirmarmos
as causas e consequncias desse fato histrico, mostrando-o de
maneira aleatria e
isolada, tentamos faz-los perceber de que maneira a proliferao
de igrejas e
doutrinas religiosas protestantes, to comuns atualmente, tem
relao com o
assunto. E mais ainda, tivemos o interesse de demonstrar como a
prpria Reforma,
e essa proliferao, so movidas por diferentes vises e
interpretaes sobre a
histria, contribuindo assim para a percepo da Histria enquanto
processo, pois,
segundo Jos Rivair Macedo, o professor deve proporcionar um
ncleo gerador da conscincia histrica a respeito da Idade Mdia,
pois assim o ensino de Histria cumpriria melhor o seu papel de
revelar aos estudantes aspectos de nosso passado que continuam a
interagir com o presente.i
Quando tivemos de intervir a partir do contedo da Reforma
Protestante,
atentamos e discutimos sobre o quanto os discentes estavam
desestimulados ao
estudar o perodo medieval, uma vez que a maioria da classe no
sabia por certo
para qu estava estudando aquilo, no viam relao em estudar algo
que no lhes
serviria, j que tudo lhes parecia velho. Este posicionamento da
turma nos levou a
crer que precisvamos adotar uma metodologia na qual os alunos
pudessem pensar
e perceber de que maneira elementos de tal perodo estavam
ligados s suas vidas,
ao cotidiano de cada um deles.
O grande nmero de contedos nos livros didticos e a obrigao,
muitas
vezes imposta pelas escolas aos professores, de ter que
trabalhar tais contedos
durante os dias letivos, os quais oferecem uma carga horria
inadequada para o
cumprimento destes, acaba pautando o estudo de uma Histria
meramente
contedista, privilegiando relaes de causas e consequncias. Logo,
o professor
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no tem a misso de depositar todo contedo dessas gavetas nas
cabeas dos
discentes, mas fazer com que o educando possa refletir sobre
estes contedos,
sendo o educador o elemento que facilita e estimula o pensamento
problematizador.
Tal perspectiva transpe a ideia de que os alunos so meros
coadjuvantes do
processo de ensino aprendizagem, e possibilita ao professor
pensar sua prtica
docente de maneira que suas aes estimulem a capacidade de seus
alunos
organizarem, interpretarem e problematizarem o estudo da
Histria. Nesse sentido
Paulo Freire afirma que
A narrao, de que o educador o sujeito, conduz os educandos
memorizao mecnica do contedo narrado. Mais ainda, a narrao os
transforma em vasilhas, em recipientes a serem enchidos pelo
educador. Quanto mais v enchendo os recipientes com seus depsitos,
tanto melhor educador ser. Quanto mais se deixem docilmente encher,
tanto melhores educandos sero.ii
Esta experincia teve dois momentos distintos. O primeiro, cujas
razes j
foram explicitadas acima, foi de grande proveito, j que pudemos
discutir o assunto
de uma maneira mais dinmica e relacionada ao dia a dia dos
estudantes. Mas tal
interveno serviu tambm como base para mapearmos algumas questes
sobre o
perodo medieval, como a forte caracterizao e estereotipizao da
Idade Mdia
como a idade das trevas. Verificamos ento, a necessidade de
desconstruir tal
conceito e assim, mais uma vez, fazer os educandos pensarem a
Histria. Para esse
segundo momento, decidimos romper com o contedo programtico de
tal srie e
fomos ao Iluminismo buscar as explicaes para tal nomeao. A forma
como
direcionamos cada uma das atividades, a fim de alcanar nossos
objetivos, ser
explicitada mais a frente.
A ao pedaggica foi executada em um encontro de 4 horas/aula em
que
utilizamos como recursos didticos uma encenao teatral, alm de
uma charge
exposta atravs do uso do datashow, mas tambm recortes de
cartolina.
Tivemos como objetivo central da primeira ao o desenvolvimento
da
capacidade reflexiva do aluno no que diz respeito problematizao
do pensamento
histrico. Mas para isso, fez-se necessrio incentiv-los a
pensarem a Reforma
Protestante como manifestao de uma nova viso de mundo, alm de
promover o
dilogo com os mesmos a respeito das interpretaes que se
disseminam atravs
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da traduo/interpretao da Bblia. Com isso, pretendamos mostrar o
quanto
importante para a construo do conhecimento histrico levar em
considerao os
lugares de fala de cada sujeito, que se manifesta por meio da
comunicao, seja ela
por vias oficiais ou no, seja feita por um historiador, poltico,
estudante ou de
qualquer outro sujeito. Alm disso, tambm foi objetivo estimular
os alunos a
perceberem as verdades histricas como (re) construes.
Para que pudssemos discutir com eles sobre a Reforma, escolhemos
como
questo norteadora as implicaes decorrentes da traduo da Bblia do
latim para
as lnguas vernculas, tornando-a acessvel s pessoas
alfabetizadas, que no
necessitavam obrigatoriamente fazer parte de alguma instituio ou
da Igreja
Catlica.
Adotamos assim uma metodologia diferenciada, uma forma ldica de
trazer
os estudantes para um contexto e faz-los pensar sobre ele. A
partir de uma
encenao teatral, escolhemos representar as situaes que ocorriam
num ritual
catlico, ou seja, tentar numa aula explorar prticas em que se
configuravam
aspectos da Igreja catlica por volta do sculo XVI, como a
reproduo das vestes
de um padre, interpretado por um bolsista (Figura 1); a prpria
organizao espacial,
na qual o padre ficava de costas para os fiis; e o discurso
supostamente proferido
em latim, lngua oficial das celebraes catlicas, mas que na
encenao no
passou de sons sem significados que lembravam a sonorizao do
latim. As frases
em latim eram entrecortadas com pausas para a palavra Amm, nico
termo
conhecido pelos espectadores, em razo da permanncia deste nas
oraes
religiosas atuais.
F
Figura 1: Bolsista encenando
Figura 1bolsista encenando
Figura 2: bolsista encenando
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Em seguida, colhemos comentrios dos alunos a respeito da
estranheza daquela
celebrao, na qual os fiis no entendiam o que ouviam e ainda
respondiam ao
orador nos momentos em que eram incentivados, como nas ocasies
do Amm,
questionando tambm o motivo do padre ficar de costas para os
fiis.
Assim, a situao se tornou propcia para discutirmos com os mesmos
sobre
o que havia acontecido, e foi quando chegamos concluso, a partir
das suas falas,
que mesmo sem entender o que o orador dizia aqueles fiis
acreditavam naquilo que
era proferido pelo lder religioso. Explicamos, ento, que aps a
traduo da Bblia, a
interpretao do Livro Sagrado no dependia exclusivamente do
religioso, o que
facilitava as interpretaes autnomas dos indivduos,
possibilitando um contato
direto com a prpria religio e seu Deus.
Posteriormente, requisitamos aos alunos a realizao de uma
atividade por
meio da interpretao de uma charge (Figura 2) que retratava
Martinho Lutero, um
dos principais precursores da Reforma Protestante, numa situao
de conflito
causada pela manifestao de pessoas de diferentes orientaes
religiosas em que
cada uma delas reclama autenticidade para viso em que creem.
Nesta atividade os
alunos teriam que produzir um texto voltado para a interpretao
da charge
atentando para elementos como a intolerncia e o respeito, tendo
como objetivo o
reconhecimento da existncia das mltiplas verdades histricas, as
quais so
construdas e reconstrudas conforme as inquietaes e interesses
dos homens no
presente, pois conforme as ideias do historiador Marc Bloch
(2002), os homens se
voltam para o passado partindo de suas preocupaes presentes, e
dessa forma, as
verdades histricas so fruto de preocupaes inerentes condio
humana.
Figura 2: Lutero e a Reforma Religiosa. Disponvel
em:http://giulianofilosofo.blogspot.com.br/2010/06/lut
ero-e-reforma-religiosa.html. Acessada em:
16/04/2012
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Como resultado desta experincia verificamos a necessidade de
aprofundar o
conceito de Idade Mdia com estes alunos, de maneira a ser
pensado
conjuntamente a outro conceito, o de Iluminismo. Logo, adotamos
como estratgia
didtica uma atividade que os fizesse interagir tanto com eles
prprios quanto com
ns professores, pois a turma apresentava grande dificuldade de
participar durante
as aulas e no respondiam bem aula expositiva. Assim, conduzimos
a aula de uma
forma que os discentes pudessem expor seus conhecimentos prvios
de maneira
autnoma, criando possibilidades de debate e reflexo sobre o
assunto em sala de
aula.
Esta segunda interveno teve como objetivo principal estimular os
alunos a
percepo de elementos que podem influenciar na construo da
Histria, na
caracterizao (e s vezes nomeao de determinados eventos) e diviso
de
perodos. Para isso foi utilizada uma dinmica que consistiu em
estimular a
participao dos alunos em sala de aula, instigando os mesmos a
quebrarem
esteretipos relacionados Idade Mdia ao tempo que traavam
caractersticas
deste perodo relacionando certas vezes contrapondo - com
elementos do
Iluminismo. O objetivo desta dinmica no foi fazer com que os
alunos
conseguissem colar todos os elementos fichas - em seu devido
lugar, mas que
pudessem se justificar pela escolha feita de modo a estimular a
argumentao e
reflexo acerca do Medievo e do Iluminismo, construindo,
consequentemente, aps
a participao junto aos outros alunos e professores, o seu
conhecimento.
Alm desse objetivo central, tivemos como objetivos especficos
possibilitar
aos alunos o entendimento acerca da construo dos conceitos
Iluminismo e Idade
Mdia, como sendo motivados por problemas inerentes aos homens do
movimento
Iluminista; proporcionar a reflexo sobre a existncia de produo
intelectual e
cultural da Idade Mdia, como forma de quebrar esteretipos
construdos pelos
iluministas, e que ainda mantido em certos livros didticos; e
incentivar a
participao dos alunos em atividades em sala de aula, haja vista
a dificuldade de
envolvimento de alguns destes quanto participao nas atividades
realizadas
dentro ou fora da citada sala.
Na segunda interveno tomamos como processo avaliativo a
participao
dos alunos, os quais deveriam participar da dinmica em sala de
aula, de modo que
cada um escolhesse as fichas que eles acreditassem que
corresponderiam Idade
Mdia ou ao Iluminismo. Estes dois itens foram divididos por
espaos no quadro
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negro, no qual os alunos tiveram que escolher o lado que iriam
colar as fichas
correspondentes a um ou outro conceito, explicando o motivo que
os levaram a
entender tais elementos como correspondentes ao conceito
escolhido. Escolhemos
como elementos para colocar nas fichas variadas manifestaes e
acontecimentos
de cada perodo. Para a Idade Mdia elencamos caractersticas como
a existncia
das universidades, monges copistas, escolstica, monoplio da
produo cultural,
Igreja catlica, teocentrismo, as artes liberais, Santo
Agostinho, entre outros. Para o
Iluminismo escolhemos trabalhar com elementos como o
antropocentrismo,
empirismo, liberalismo econmico, racionalidade, humanismo.
Colocamos ainda
fichas com elementos que reafirmavam o esteretipo de cada
perodo, como a luz e
a escurido. A inteno disso foi justamente a de criar
possibilidades para trabalhar
a construo de cada termo.
Sendo assim, num primeiro momento explicamos como iria funcionar
a
dinmica dentro de sala, dividindo o quadro negro em dois espaos
destinados aos
conceitos de Idade Mdia e Iluminismo, nos quais os estudantes
tiveram de afixar
fichas contendo elementos comuns a cada um destes conceitos.
Depois de
explicado o funcionamento da dinmica os discentes comearam a
afixar as fichas,
baseados em seus conhecimentos prvios sobre os assuntos.
(Figuras 3 e 4.)
Durante a dinmica percebemos que muitos dos elementos foram
colocados
no lado ao qual correspondiam. Porm, a ficha universidades foi
colocada no lado
que correspondia ao Iluminismo. A explicao do estudante para tal
escolha foi a
assimilao que este fazia por ter sido o Iluminismo um movimento
de estmulo
racionalidade e produo do conhecimento e, portanto, a
universidade estaria ligada
a esse contexto. O restante da turma concordou com os argumentos
do colega e
para no afetar o momento de interao nem prejudicar os outros
alunos que
pudessem se sentir envergonhados ou temerosos de errar no
momento de se
justificar pela escolha, deixamos para discutir e corrigir
eventuais equvocos aps a
participao de todos.
Propositalmente, colocamos as fichas denominadas luz e escurido,
pois
sabamos que naturalmente os discentes iriam associar ao
Iluminismo e Idade
Mdia, respectivamente. A inteno foi a de utilizar tais
assimilaes para mostrar
como elas foram construdas e de certa forma relacionar com as
outras fichas. Por
exemplo, fichas correspondentes ao perodo medieval como os
monges copistas,
escolstica, Santo Agostinho, se configuraram como exemplos
importantes da
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produo intelectual e cultural desse perodo, e dessa forma foram
essenciais no
sentido de desmistificar a ideia do medievo como poca de atraso
cultural e
intelectual, criada pelo Iluminismo.
O terceiro momento foi destinado para a correo do quadro, ou
seja,
reposicionar as fichas que se encontravam no quadrante que no
era de seu
destino. Cada mudana feita por ns professores foi devidamente
explicada, bem
como as fichas que tiveram destino correto. Logo aps, foi feita
uma breve
concluso e contextualizao acerca da construo do termo Idade Mdia
oriundo
dos pensamentos iluministas, os quais buscavam por meio da
humanidade, cincia
e racionalidade se contrapor aos dogmas da Igreja instituio
religiosa naquele
contexto, muito influente no mbito poltico, econmico e
cultural.
O momento da correo foi de suma importncia para consolidarmos
o
objetivo central da nossa interveno, pois a partir das
desconstrues daquilo que
chegava como verdade e algo naturalizado para eles, o
conhecimento histrico foi
sendo construdo. preciso entender tambm que ao ressaltarmos as
produes
intelectuais e culturais do medievo no estaramos negligenciando
as do movimento
iluminista. A ideia foi contrapor tais elementos no sentido de
entender que cada
poca tem sua forma de pensar e entender o mundo e que esto
interligadas, e que
na verdade tudo isso faz parte de algo maior, que o processo
histrico. Assim,
Figura 3: Estudante explicando o
motivo da sua escolha.
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finalizamos nossas aes na certeza de que contribumos de alguma
forma para que
nossa turma possa ver a Histria com um olhar mais reflexivo.
Acreditamos que os resultados obtidos a partir desta atividade
possibilitaram
aos alunos no s a construo de um dado conhecimento, mas
tambm
incentivaram a reflexo destes quanto a produo de um saber
problematizado e
discutido, alm da participao destes, algo que no estava sendo
satisfatrio nas
aulas anteriores e que nesta oportunidade se mostrou essencial
para o desenrolar
da atividade. Partindo destas ideias, podemos refletir tambm
sobre nossa prtica
docente que deve sempre partir da realidade da turma, tanto das
dificuldades como
das qualidades e sab-las utilizar a favor dos professores em
prol da aprendizagem
conjunta aos alunos.
Durante as aulas percebemos a participao dos alunos nas
discusses,
contribuindo com exemplos do seu dia a dia, citando muitas vezes
a presena das
vrias igrejas que encontravam do caminho de sua casa at a
escola. Mas, o maior
retorno veio quando os mesmos conseguiram desenvolver os textos
unindo as
discusses realizadas em sala com a anlise da charge. Ao analisar
as produes
textuais dos alunos, identificamos que os mesmos conseguiam
refletir que as
diferenas doutrinrias, nas quais muitos deles estavam inseridos,
eram resultantes
de mltiplas interpretaes, que por sua vez estavam condicionadas
aos interesses
Figura 4: Estudantes participando da interveno.
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particulares de cada um deles. Essa percepo reafirmou nossas
intenes quanto
ao papel do professor como aquele que possibilita a construo do
saber histrico
de maneira reflexiva, segundo a considerao de Maria Auxiliadora
Schmidt acerca
da atuao do profissional de Histria que
pode ensinar o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho
necessrias; o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lanar os germes do
saber histrico. Ele o responsvel por ensinar o aluno a captar e a
valorizar a diversidade dos pontos de vista. Ao professor cabe
ensinar o aluno a levantar problemas e a reintegr-los num conjunto
mais vasto de outros problemas em problemticas.iii
Assim, entendemos que os exerccios foram importantes no sentido
de
despertar nos alunos a conscincia de que eles podem ser sujeitos
histricos ativos,
capazes de dar interpretaes e sentidos para a realidade da qual
fazem parte.
Neste sentido, o aluno passa a valorizar as diferentes vises de
mundo,
problematizando-as.
A segunda interveno, em especial, teve como resultado a melhoria
da
participao dos estudantes durante a aula. A forma como a
atividade foi organizada
nos deu a possibilidade de explorar os conhecimentos prvios e
aprimor-los no
decorrer da mesma. Estas experincias foram importantes tambm
para a nossa
prtica docente, de maneira que muitas vezes acabamos ficando
presos a
determinados recursos tecnolgicos e acreditamos estar inovando
somente a partir
da utilizao destes. Escolher outros recursos dinamizadores foi
para ns um
exerccio de criatividade e atingiu plenamente um dos objetivos
do PIBID, que o de
criar metodologias e materiais didticos diferenciados para o
ensino de Histria.
Alm disso, acreditamos que a experincia docente nos possibilita
refletir no
s sobre os resultados pedaggicos, sucessos e/ou insucessos
quanto s
estratgias didticas utilizadas, mas tambm acerca do compromisso
tico que o
profissional da educao deve carregar consigo. O esforo da
reflexo a respeito
das prticas sim uma demonstrao desse compromisso e que deve
fazer parte do
cotidiano do professor.
Por fim, entendemos que nossas aes so ainda muito pequenas
diante
das naturalizaes e estereotipizaes da Histria feitas pela mdia e
outro meios de
comunicao aos quais os estudantes constantemente tm acesso. O
perodo
medieval, em especial, sofre com essas determinaes e
caracterizado fortemente
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por elementos que tendem a constru-lo de maneira equivocada.
Dessa maneira,
sabemos que a tarefa de cuidar para que nossos alunos no recebam
essas
informaes como verdade pronta deve partir da prpria sala de
aula, e inclusive,
utilizar tais veiculaes, sejam na forma de filmes, documentrios,
reportagens, no
sentido de refletir sobre estes, utilizando-os mesmo como
recursos didticos. Dessa
forma, acreditamos estar contribuindo no nosso campo de atuao
para uma efetiva
construo do conhecimento histrico e capacitao de cidados
autnomos.
i MACEDO, Jos Rivair. Repensando a Idade Mdia no Ensino de
Histria. In:KARNAL, Leandro (org.) Histria na sala de aula:
conceitos, prticas e propostas. So Paulo:Contexto, 2005,
p.109-125.
ii FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessria
prtica educativa. So Paulo: Paz e Terra, 1996.p 116. ___________.
Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005
iii SCHMIDT, Maria Auxiliadora, A formao do professor de histria
e o cotidiano da sala de aula In:
Circe Bittencourt. O saber histrico na sala de aula, 9 ed., So
Paulo, Contexto, 2004, p. 54.