Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Serviço Social Programa de Pós-Graduação em Serviço Social - Doutorado Tecnologia da Informação: contribuição importante para o exercício profissional? Autor: Renato dos Santos Veloso O RIENTADORA : P ROF A D R A S UELY S OUZA DE A LMEIDA Rio de Janeiro 2006
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Serviço Social Programa de Pós-Graduação em Serviço Social - Doutorado
Tecnologia da Informação: contribuição importante para o exercício profission al?
Autor: Renato dos Santos Veloso
O R I E N T A D O R A : P R O F A D R A S U E L Y S O U Z A D E A L M E I D A
Rio de Janeiro 2006
2
RENATO DOS SANTOS VELOSO
Tecnologia da Informação: contribuição importante para o exercício profission al?
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação da Professora Doutora Suely Souza de Almeida, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Serviço Social.
Rio de Janeiro Novembro/2006
3
BANCA EXAMINADORA
Profa Dra Suely Souza de Almeida (orientadora)
Profa Dra Marilda Vilela Iamamoto
Profa Dra Raquel Goulart Barreto
Profa Dra Maria Lídia Souza da Silveira
Prof. Dr. José Augusto Vaz Sampaio Bisneto
4
RESUMO VELOSO, Renato dos Santos. Tecnologia da Informação: contribuição importante para o exercício profissional? Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. Este trabalho consiste numa reflexão sobre a potencialidade da tecnologia da
informação para o trabalho do assistente social e para o fortalecimento do
projeto ético-político profissional. Trabalha-se com dados coletados junto a
1440 participantes, por meio da aplicação de questionário eletrônico. Verificou-
se uma valorização do uso da tecnologia da informação pelos participantes,
com o predomínio, ainda, de alguns obstáculos a sua efetiva incorporação, tais
como as inadequadas condições de trabalho nas instituições e as lacunas
existentes no tratamento do tema na formação profissional. Busca-se oferecer
uma base inicial para a reflexão sobre a importância da TI para o exercício
profissional, um ponto de partida que recolha e sistematize questões que se
fazem presentes na forma de incorporação da TI que vem sendo realizada
pelos(as) assistentes sociais. Se por um lado o uso deste recurso, embora de
maneira tímida, já se faz presente entre os(as) assistentes sociais, por outro a
reflexão e a problematização de suas características principais ainda são
aspectos ausentes do debate profissional.
5
ABSTRACT VELOSO, Renato dos Santos. Tecnologia da Informação: contribuição importante para o exercício profissional? Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. This work is a study about the information technology potential for the work of
social workers and for the improvement of the Professional Ethical-Political
Project. The work considers data from 1440 participants, collected through the
application of an electronic questionnaire. The information technology is
considered by the participants an important instrument to be used at work.
Some obstacles for its effective usage in the work were indicated, such as bad
institutional work conditions and insufficient discussion about this question in
the professional formation. This works intends to offer an initial basis for the
reflection about the information technology´s importance for the professional
exercise, by the systematization of questions which are present in the
incorporation process conduced by the social workers. It is possible to verify,
initially, that the usage of this technology is present among the social workers.
In the other hand, the reflection about its main aspects are still absent of the
professional debate.
6
RÉSUMÉ VELOSO, Renato dos Santos. Tecnologia da Informação: contribuição importante para o exercício profissional? Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. C’étude est une réflexion sur la potencialité de la technologie d’information (TI)
pour le travail d l’assistante sociale et pour le raffermissement du projet
professionnel. C’étude analyse information après 1440 participants, à travers de
l’application de questionaire électronique. C’étude a verifique une valorisation
d’utilisation de la technologie d’information par les participants, avec le
prédominance d’obstacles à sa intégration effectif, comme les conditions de
travail inadéquats et les lacunes dans la formation professionnel. L’intention est
offrir une base initial pour la réflexion sur l’importance de la technologie
d’information pour l’exercise professionnel, à partir de la systématisation de
questions concernants à l’appropriation de la technologie d’information par le
Service Sociale. Il est possible vérifier, quoique de moule embryonnaire, que ce
ressource est utilisé pour les assistantes sociales. D’autre part, la réflexion de
ses caractéristiques basiques encore est un aspect absent du débat
professionnel.
7
Dedico este trabalho a minha esposa e
companheira Vanessa. Se não fosse por seu
amor, carinho, incentivo e apoio este trabalho não
teria sido concluído. Obrigado por todo o amor
que sentimos e nutrimos um pelo outro ao longo
de todos estes anos. Que esta conquista continue
sendo apenas mais uma entre as muitas que
ainda estão por vir.
8
AGRADECIMENTOS A minha esposa e companheira Vanessa, pelo seu amor e apoio constantes. A minha filha Valentina, que vem preenchendo de alegria nossas vidas. A meus pais Paulo e Dalva, minhas irmãs Andréa, Patrícia e Danieli, e meus sobrinhos Rodrigo, Joilson e Tassilis, por todo seu carinho. A meu cunhado Cláudio, que com certeza continuará sempre entre nós. A meus sogros Sr. Geraldo e D. Cilene, por todo o apoio oferecido nos últimos anos. A minha avó Zenita e minha tia Carla. A meus tios, tias, primos e primas de Campo Grande, por todo seu carinho e afeto. Aos amigos e parentes de Nilópolis, Carlinhos, Marilene, Willian, Júnior, Joelma, Eliana e Paulo. Aos amigos e colegas da Faculdade de Serviço Social da UERJ, do Hospital da Polícia Civil – José da Costa Moreira e do Curso de Serviço Social da UVA. Aos amigos e colegas do Conselho Regional de Serviço Social – RJ. Aos professores do Doutorado em Serviço Social da UFRJ. Aos membros de minha Banca Examinadora, em especial à minha orientadora, Profa Dra Suely Souza de Almeida. Aos assistentes sociais e estudantes que participaram da pesquisa, e tornaram possível a realização deste trabalho.
9
Mundo Virtual
Entro apressado e com muita fome na lanchonete. Escolho uma mesa bem afastada do movimento, pois quero aproveitar a folga para comer e passar um e-mail urgente para meu editor. Peço uma porção de fritas, um sanduíche de rosbife e meia cerveja. Abro o notebook. Levo um susto com aquela voz baixinha atrás de mim. - Tio, dá um trocado? - Não tenho menino. - Só uma moedinha para comprar um pão. - Está bem, compro um para você. Minha caixa de entrada está lotada de e-mails. Fico distraído vendo as mensagens. - Tio, pede para colocar margarina e queijo também. Percebo que o menino tinha ficado ali. - Certo. Vou pedir, mas depois me deixa trabalhar, estou muito ocupado. Chega minha refeição e junto com ela meu constrangimento. Faço o pedido do guri, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir embora. Minha consciência me impede de dizer sim. Digo que está tudo bem. - Deixe-o ficar. Traga o pedido do menino. - Tio, você tem Internet? - Tenho sim, é essencial ao mundo de hoje. - O que é Internet? - É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar. Tem de tudo no "mundo virtual". - E o que é virtual? Resolvo dar uma explicação simplificada, na certeza que ele pouco iria entender. - Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar e nem tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer, criamos nossas fantasias, transformamos o mundo do jeito que gostaríamos que fosse. - Legal isso. Adoro! - Menino, você entendeu que é virtual? - Sim, também vivo neste mundo virtual. - Nossa! Você tem computador? - Não, mas meu mundo também é desse jeito. Virtual! Minha mãe trabalha, fica o dia todo fora, só chega muito tarde, quase não a vejo, eu fico cuidando do meu irmão pequeno que chora de fome e eu dou água para ele imaginar que é sopa, minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, pois ela sempre volta com o corpo, meu pai está na cadeia há muito tempo, mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos, ceia de natal e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isso é virtual não é tio?
10
Sumário Introdução .................................................................................................................................. 11 Capítulo 1 – Tecnologia e Relações Sociais .......................................................................... 29 1.1. Notas sobre o Conceito de Tecnologia ................................................................................ 30 1.2. O Uso da Tecnologia pelo Capital: automação e exploração do trabalho........................... 49 1.3. A “Revolução” da Tecnologia ............................................................................................... 56 1.4. As Expressões Atuais da Tecnologia................................................................................... 74 Capitulo 2 - Serviço Social e TI: algumas conexões ............................................................. 93 2.1. Procedimentos Metodológicos Utilizados ............................................................................ 94 2.2. Observações preliminares.................................................................................................. 102 2.3. Breve perfil dos(as) participantes....................................................................................... 107 2.4. Gênero, TI e Serviço Social ............................................................................................... 115 2.5. O acesso à TI ..................................................................................................................... 125 2.6. O Serviço Social e a “exclusão digital”............................................................................... 144 2.7. O Potencial Estratégico da TI para o Serviço Social ......................................................... 154 Capítulo 3 - A Presença da TI no Serviço Social .................................................................. 186 3.1. A Aproximação do Serviço Social à TI............................................................................... 187 3.2. Considerações dos(as) profissionais sobre a Incorporação da TI..................................... 210
3.2.1. A Informatização do Serviço Social ............................................................................ 216 3.2.2. A Participação do Serviço Social nos Processos de Incorporação da TI................... 226 3.2.3. As Mudanças Propiciadas pela TI .............................................................................. 230 3.2.4. Os Condicionantes da Incorporação da TI ................................................................. 243 3.2.5. O Papel da Formação Profissional ............................................................................. 250 3.2.6. A Resistência à TI....................................................................................................... 260 3.2.7. O Sigilo Profissional .................................................................................................... 266 3.2.8. As Condições de Trabalho.......................................................................................... 270 3.2.9. A TI como Potencializador do Trabalho...................................................................... 291
Pretende-se apresentar uma reflexão sobre a importância da
tecnologia da informação (TI) para o exercício profissional dos(as) assistentes
sociais, tentando apreender em que medida sua incidência no trabalho
cotidiano pode promover alterações qualitativas no processamento das
atividades profissionais e na melhoria do acesso aos direitos sociais por parte
dos usuários e usuárias. Parte-se do pressuposto que a TI (tomada ao longo
deste trabalho a partir de suas expressões concretizadas mais especificamente
no uso da informática e da Internet) pode ter um papel importante para o
Serviço Social, desde que sua incorporação ao trabalho dos(as) profissionais
se dê de forma subordinada aos princípios e valores fundamentais ao exercício
profissional presentes no que a categoria de assistentes sociais vem
denominando como Projeto ético-político profissional.
Entende-se o Projeto Ético-Político Profissional como uma forma
determinada de pensar e exercer a profissão, construída a partir da década de
oitenta e marcada pela superação do tradicionalismo e conservadorismo
profissionais. Constitui-se como uma “auto-imagem” da profissão, na qual estão
presentes seus valores, seus objetivos, suas funções e os requisitos, normas e
balizas para o seu exercício. Nas palavras de Netto, este projeto “tem em seu
núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central – a liberdade
concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre alternativas
12
concretas, daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena
expansão dos indivíduos sociais. Conseqüentemente, o projeto profissional
vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem
social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero” (Netto, 1999,
p.104-5). As linhas principais deste Projeto podem ser encontradas na Lei
8662/93, que regulamenta a profissão de Assistente Social no Brasil; no atual
Código de Ética Profissional; e nas Diretrizes Curriculares da formação
profissional em Serviço Social.
Não se compreende o projeto ético-político como algo dado. Antes,
tal projeto constitui-se como uma conquista da categoria profissional que se
encontra em processo permanente de construção e consolidação. Fruto de
uma trajetória de duas décadas que vem direcionando a profissão de Serviço
Social, este projeto encontra-se articulado às lutas da sociedade. Sua origem
remonta ao contexto de crise da ditadura militar, no âmbito do processo de
redemocratização, onde o Serviço Social se renova a partir do processo de
“socialização da política” no Brasil. Tem como um de seus principais desafios a
sua materialização no cotidiano do exercício profissional, o que supõe pensá-lo
em articulação com as condições reais de trabalho dos(as) assistentes sociais.
Como aponta Iamamoto (2002):
“O projeto ético-político profissional expressa a perspectiva
hegemônica impressa ao Serviço Social brasileiro. Tem suas
raízes nas forças sociais progressistas e está fundado nas
reais condições sociais em que se materializa a profissão. Em
outros termos, a operacionalização do projeto profissional
supõe o reconhecimento das condições sócio-históricas que
13
circunscrevem o trabalho do assistente social na atualidade,
estabelecendo limites e possibilidades à plena realização
daquele projeto” (Iamamoto, 2002, p.23).
A possibilidade de uma apropriação crítica da TI é levantada tendo
em vista o caráter contraditório das relações sociais, em que se vislumbra a
possibilidade de utilização desta tecnologia no sentido de atender aos
interesses dos trabalhadores e usuários(as) do Serviço Social, que embora não
sejam homogêneos possuem como traço comum a demanda, cada vez mais
crescente, por melhores condições de vida, o que pode ser propiciado, embora
não exclusivamente, pelo acesso aos serviços e políticas sociais com os quais
trabalham os(as) assistentes sociais.
Trata-se de um tema de importância reconhecida pela categoria
profissional, mas que não vem sendo suficientemente tratado pela mesma. Em
termos gerais, vislumbra-se uma tendência de valorização da TI por parte
dos(as) assistentes sociais, manifestada pela postura favorável ao uso do
computador e dos recursos oferecidos pelas inovações tecnológicas no
cotidiano profissional. No entanto, constata-se que muitas vezes os(as)
profissionais não têm tido acesso às condições objetivas e subjetivas que lhes
permitam uma apropriação da TI com vistas à captação de suas
potencialidades para o exercício profissional e para a consolidação do projeto
ético-político profissional.
Embora seja possível perceber posturas que tendem a questionar a
hegemonia deste projeto, ora mais explícitas, ora menos explícitas, considera-
se, como atestam os principais eventos e encontros profissionais, que sua
14
hegemonia vem se mantendo, o que não significa que a busca pela sua
consolidação tenha se encerrado. É neste sentido, que o tema da TI pode ser
incorporado à agenda de debates profissionais, como um dos elementos a
serem utilizados na busca constante pela atualização e consolidação deste
projeto, destacando-se que o uso que se fizer deste recurso e os resultados
dele advindos não podem perder de vista os valores e princípios que têm
norteado esta construção coletiva da categoria.
Buscou-se, assim, abordar o potencial da TI para o trabalho
profissional, que pode ser apropriado pela profissão na medida em que se
disponha de alguns requisitos, dentre os quais se destaca, além da vontade e
da iniciativa do(a) próprio(a) profissional, condições de trabalho adequadas
(principalmente, mas não exclusivamente, no que se refere à existência de
recursos materiais seja para uso direto no atendimento, seja para
encaminhamento dos usuários e usuárias) e um processo de formação
profissional que trate do tema em suas diversas dimensões. A intenção foi
construir uma base inicial de discussão para refletir sobre as possibilidades de
articulação entre a TI e o Serviço Social, recolhendo alguns elementos
presentes no debate sobre o tema e sobre a profissão, tentando articulá-los a
partir de alguns dados coletados junto à categoria profissional.
Trata-se de um esforço que se identifica e dá concretude a um dos
pressupostos básicos para se pensar o Serviço Social na contemporaneidade
apontados por Iamamoto (1998), qual seja: “decifrar a realidade e construir
propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a
15
partir de demandas emergentes no cotidiano” (p.20). Embora o reforço da
pesquisa como dimensão inexorável do trabalho do(a) assistente social e a
construção de novas propostas de intervenção não possam ser pensadas
como conseqüência exclusiva da apropriação da TI pelo Serviço Social,
considera-se que tal recurso, utilizado de forma crítica e consistente, pode
constituir-se como uma importante contribuição. Como observou a autora, a
reflexão contemporânea sobre o trabalho profissional supõe que a profissão
tome “um banho de realidade brasileira” (Iamamoto, 1998, p.38), e que os(as)
profissionais possam munir-se de dados, informações e indicadores que
possibilitem identificar as expressões particulares da questão social. Em outros
termos, faz parte, também, do exercício profissional produzir um acúmulo de
materiais e informações sistemáticas sobre a realidade social com vistas a
elaborar propostas relativas às políticas sociais para o trato da questão social,
e, neste sentido, o uso da TI mostra-se relevante.
Por estar presente no processo contraditório de reprodução das
relações sociais capitalistas, a TI, embora seja usada hegemonicamente para
satisfazer interesses do capital, contém a possibilidade de satisfazer interesses
diversos, podendo ser colocada em sintonia com experiências de luta e
resistência social. Ao tomá-lo com base em sua natureza contraditória pode-se
sugerir que este recurso pode tanto conservar e reproduzir aspectos do modo
de organização capitalista quanto buscar negá-los e superá-los. Compreendida
numa perspectiva de totalidade, a TI pode atender interesses contraditórios do
capital e do trabalho, constituindo-se, portanto, como um campo de disputas
em que projetos societários se confrontam. A inserção neste campo de
16
disputas e a construção de uma contribuição voltada para os interesses não
hegemônicos requerem dos(as) profissionais de Serviço Social um consistente
acúmulo teórico-metodológico, ético-político e técnico-instrumental, de forma
que possam deter tanto o domínio operacional do recurso tecnológico, quanto a
postura crítica que lhe permita apropriar-se deste recurso e colocá-lo a favor de
valores e princípios profissionais.
É neste sentido que a TI pode ser utilizada para atender interesses
contraditórios. Seu uso social constitui-se como objeto de disputa, o que coloca
a possibilidade histórica de incorporá-la numa perspectiva de reforço dos
valores ético-políticos presentes no projeto profissional. Por ser produto de um
processo social contraditório, em que a riqueza socialmente produzida aumenta
em proporção semelhante à produção de miséria e desigualdade, a TI pode ser
apropriada por sujeitos sociais que buscam a construção de processos sociais
mais democráticos e participativos. Desta forma, a TI pode assumir um papel
estratégico, no sentido de contribuir para a consolidação da direção social
estratégica assumida e conduzida pela categoria profissional ao longo das
últimas décadas.
Escolheu-se um problema para investigação partindo-se do cotidiano
profissional e dos dilemas presentes no exercício profissional. A preocupação
com a potencialidade da TI para o trabalho profissional tem origem na
observação de experiências de intervenção profissional nas quais não se
dispunha dos meios necessários para tornar mais ágeis e eficazes as ações
realizadas, como, por exemplo, o registro adequado e a recuperação de dados
17
e informações referentes ao trabalho, a geração de indicadores de avaliação,
perfis de usuários, estatísticas de atendimento e realização de
encaminhamentos mais bem fundamentados, dentre outros. Neste contexto, a
TI passou a ser pensada como um fator capaz de proporcionar aos(às)
profissionais meios para a superação de dificuldades encontradas no trabalho
cotidiano, principalmente, mas não exclusivamente, aquelas relacionadas com
os aspectos técnico-operativos.
O conhecimento e o uso da TI colocam a possibilidade de lidar com
uma grande quantidade de dados, extraindo deles informações preciosas para
o trabalho, que, por sua vez, possibilitam a avaliação do trabalho desenvolvido
e a construção de novas propostas de intervenção. Considera-se a capacidade
de gerir, controlar e distribuir a informação um aspecto de grande importância
para o trabalho, já que, além de subsidiar a tomada de decisões e otimizar a
condução dos processos de gestão, pode potencializar o exercício profissional,
principalmente no que se refere à sistematização da prática e ao
desenvolvimento da postura investigativa inerente ao exercício profissional,
sobretudo no que se refere ao conhecimento das formas contemporâneas de
configuração e expressão do objeto da atuação profissional.
Uma das inúmeras discussões estabelecidas no debate profissional
do Serviço Social refere-se à chamada questão social. Em termos gerais, a
intervenção sobre a questão social se realiza, de acordo com Netto (1996),
fragmentando-a e parcializando-a. Suas refrações e múltiplas expressões
podem ser identificadas em diversas áreas da vida social, constituindo um
18
amplo rol de temáticas (geralmente abordadas de forma desarticulada) em que
se pode destacar: desemprego, violência, pobreza, população de rua,
concentração de renda, dentre outras. Na sociedade capitalista, a apreensão
da questão social de forma fragmentada leva a um recorte e a uma
categorização de problemáticas, configurando questões particulares cuja
vinculação a uma matriz comum é ocultada. Essa fragmentação mostra-se útil
para o capitalismo na medida em que permite ocultar a raiz dessas “questões”:
uma modalidade de relação capital/trabalho em que predominam a intensa
exploração do trabalho e a busca frenética pelo aumento do excedente
econômico, constituindo uma sociedade cada vez mais marcada por
desigualdades de classe, de gênero e de raça/etnia.
De forma geral, caracteriza-se as “expressões da questão social”
como o objeto de trabalho do(a) assistente social. A efetiva intervenção sobre
as diversas “problemáticas” acima referidas demanda a presença e a atuação
de assistentes sociais, profissionais com formação generalista,
capacitados(as), qualificados(as) e habilitados(as) a contribuir para a
proposição, a formulação e a execução de políticas, programas e projetos
sociais. Ao participar do processo de intervenção sobre as expressões da
questão social, os(as) profissionais de Serviço Social contribuem para a
construção de condições que possam amenizar o impacto que tais expressões
têm no cotidiano de sua população usuária. Assim, cada vez mais os(as)
assistentes sociais vêm se afirmando no campo da gestão das políticas sociais,
não apenas na esfera da execução propriamente dita, mas também nas
dimensões de sistematização, pesquisa, planejamento, elaboração e avaliação.
19
Isso tem demandado dos(as) profissionais a capacidade de realizar
análises sólidas e consistentes, coordenadas com as ações de outros sujeitos
profissionais. Acrescente-se, ainda, o fato de que, em seu exercício, o(a)
assistente social possui como uma de suas mais importantes atribuições a
“socialização das informações”, atividade de grande relevância para o efetivo
acesso ao conjunto de direitos, sobretudo os direitos sociais. Assim, é neste
contexto que reside a importância de sistemas de registro de dados e geração
de informações, que podem ser proporcionados tendo em vista uma
apropriação consistente e crítica da TI.
Considera-se que uma das principais potencialidades da TI para o
trabalho profissional encontra-se exatamente neste ponto: no registro e
recuperação de dados e informações referentes ao trabalho e aos elementos
aos quais ele se encontra articulado. Trata-se de um recurso que ajuda a
descrever a realidade, oferece um panorama, um "retrato", uma aproximação,
sem confundi-la, no entanto, com a própria realidade. Os processos sociais que
se encontram subjacentes a esse "retrato", que permanecem ocultos sob a
aparência em que se apresentam precisam ser identificados e decifrados, e tal
tarefa não é realizada apenas com a utilização da tecnologia, demandando
outras competências profissionais, tais como a teórico-metodológica e a ético-
política.
Propõe-se um entendimento do termo “competência” diverso
daquele que possa situá-lo em contextos de fragmentação e redução do
trabalho profissional, onde, em vez de valorizar-se o domínio dos conteúdos
20
necessários à atuação profissional, valoriza-se o domínio das competências
para tal atuação. O termo competência é utilizado como sinônimo de
“dimensão”, denotando a compreensão de que a atuação profissional crítica
supõe as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-instrumental.
Expressa-se, desta forma, uma contraposição em relação a abordagens
“gerenciais”, em que se constata a reprodução de um “discurso empresarial”
existente, por exemplo, no que Barreto et alli. (2004) apresentam como
“estratégia de formação baseada em competências” (p.1671), em que o ensino
pode ser decomposto em “habilidades e competências básicas”, cuja soma
constituirá o desempenho “desejável” a ser alcançado pelo profissional. Não se
pretende, portanto, que o recurso ao termo competência, empregado com certa
freqüência neste trabalho, sugira a possibilidade de obliteração de conteúdos
ou ainda de esvaziamento ou redução da formação profissional a treinamento
de habilidades e competências. Antes, indica, tal como assinalado por
Iamamoto (1998), uma competência que não seja a autorizada e permitida, “ a
competência da organização”, mas, inversamente:
“... uma competência crítica, capaz de decifrar a gênese dos
processos, suas desigualdades e as estratégias de ação para
enfrentá-las. Supõe competência teórica e fidelidade ao
movimento da realidade; competência técnica e ético-política
que subordine o ‘como fazer’ ao ‘o que fazer’ e, este, ao ‘dever
ser’, sem perder de vista seu enraizamento no processo social”
(Iamamoto, 1998, p.80, grifos da autora).
Para subsidiar esta reflexão, foram coletados dados junto à
categoria profissional por meio da aplicação de dois questionários eletrônicos,
21
no âmbito da pesquisa “Serviço Social e tecnologia da informação” (SSTI),
realizada na Faculdade de Serviço Social da UERJ. O primeiro questionário
(anexo 1), composto por questões fechadas e voltadas ao reconhecimento
inicial do uso da TI pela categoria, foi respondido por 1.440 participantes
(profissionais e estudantes) de vários estados do Brasil, oferecendo um ponto
de partida para a reflexão sobre as conexões do Serviço Social com a TI. O
segundo questionário (anexo 2), com questões mais específicas sobre o uso
desta tecnologia no cotidiano profissional, foi enviado apenas aos(às)
profissionais que responderam ao primeiro. Buscou-se, neste segundo
momento, conhecer as características presentes no uso que os(as) assistentes
sociais vêm fazendo da TI, evidenciando a contribuição que este recurso pode
oferecer para a construção de uma alteração qualitativa na forma de condução
do trabalho profissional e na melhoria do acesso aos direitos sociais por parte
dos usuários e usuárias.
Busca-se, desta forma, oferecer uma base inicial para a reflexão
sobre a importância da TI para o exercício profissional, um ponto de partida
que recolha e sistematize questões que se fazem presentes na forma de
incorporação da TI que vem sendo realizada pelos assistentes sociais. Como
se verá, se por um lado o uso deste recurso, embora de maneira tímida, já se
faz presente entre os(as) assistentes sociais, por outro a reflexão e a
problematização de suas características principais ainda são aspectos
ausentes do debate profissional. O objetivo deste trabalho é oferecer uma
aproximação a tais aspectos, buscando estabelecer algumas bases para uma
apropriação deste recurso pelo Serviço Social. Com isso, pretende-se contribuir
22
para evitar um processo de incorporação imposto de forma autoritária e
desconectada das reais demandas profissionais, como pode ilustrar a
observação realizada por Iamamoto (2002) acerca das modificações efetuadas
pelo MEC nas diretrizes curriculares1.
“É de suma importância registrar e denunciar que a forma final
assumida pelas diretrizes curriculares no texto legal, ao serem
homologadas em 04/07/2001 pelo Ministério da Educação e do
Desporto (MEC), sofreu uma forte descaracterização tanto na
sua direção social, quanto na base dos conhecimentos e
habilidades considerados essenciais ao desempenho
profissional do assistente social. Esses elementos
exaustivamente debatidos pelo conjunto das unidades de
ensino, pelas entidades representativas da categoria, e
referendados pela Comissão de Especialistas do MEC – da
qual a autora foi membro -, sofreram cortes que comprometem
o projeto original proposto ao Conselho Nacional de Educação
(CNE). Assim, por exemplo, no perfil do bacharel em Serviço
Social constava ‘profissional comprometido com os valores e
princípios norteadores do Código de Ética do Assistente
Social’, o que foi retirado e substituído por ‘utilização dos
recursos da informática’” (Iamamoto, 2002, p.22, grifos da
autora).
Embora a utilização dos recursos da TI possa ser considerada
importante e, contraditoriamente, geradora de possibilidades de atuação
profissional, isso não significa, de forma alguma, que seu uso tenha que se dar
1 As diretrizes curriculares para a área de Serviço Social foram construídas pelas unidades de ensino por meio da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). De acordo com Iamamoto (2002), “as diretrizes propostas pela categoria materializam um projeto de formação profissional que vem sendo construído coletivamente no bojo do processo de renovação do Serviço Social brasileiro, como um dos pilares do projeto ético-político da profissão. (...) As diretrizes propostas articulam a análise dos fundamentos do Serviço Social em suas dimensões históricas, teórico-metodológicas e éticas com as reais condições e relações de trabalho em que se realiza o exercício profissional” (Iamamoto, 2002, pp.22-3).
23
substituindo aspectos fundamentais do exercício profissional, configurando um
quadro em que, como observa Barreto (2006), “tecnologia não significa soma,
mas subtração” (p.5), na medida em que pode ser utilizada para retirar da
formação profissional a dimensão crítica necessária ao exercício profissional.
Trata-se de uma demonstração da forma como a “utilização dos
recursos da informática” pode ser imposta à profissão, buscando a satisfação
de valores não só diferenciados, mas contrapostos ao projeto profissional. Da
forma como aparece na citação acima, a informática foi usada para substituir
os valores éticos, postura frontalmente contrária ao que se pretende defender
neste trabalho, ou seja, a noção de que a importância da incorporação da TI
para o trabalho profissional reside na sua subordinação aos valores e princípios
presentes no projeto ético-político profissional, e não num tipo de utilização que
possa suplantá-lo. Trata-se de um episódio que pode servir para lembrar as
nefastas possibilidades de utilização deste recurso no trabalho do Serviço
Social: tomada como substituto de dimensões fundamentais da profissão.
O trabalho visa, portanto, apresentar uma reflexão sobre a
relevância deste recurso para o exercício profissional, dividindo-se em três
capítulos. No primeiro, busca-se efetuar uma discussão sobre tecnologia e
sociedade, demonstrando que a técnica e/ou a tecnologia são produtos do
próprio desenvolvimento histórico e social, com ênfase no trabalho humano, e
não algo separado dele, como pretendem sustentar algumas posturas
simplistas e mistificadoras. Pretende-se neste capítulo apresentar referências
teóricas mais gerais para refletir sobre o significado do recurso tecnológico
24
para as relações sociais, abordando alguns dos poucos autores que, tentando
manter-se numa perspectiva crítica, tomam o tema da tecnologia de forma
articulada ao movimento histórico da sociedade. São discutidas, ainda, noções
necessárias para o tratamento que se fará das possibilidades de uso do
recurso tecnológico no trabalho do Serviço Social, sem, no entanto, realizar
uma análise de maior fôlego dos diversos aspectos teóricos presentes no
debate sobre o tema. Trata-se, evidentemente, de uma das diversas lacunas
presentes neste trabalho, já, de imediato, apontada por este pesquisador. Não
se considera, no entanto, que tais lacunas, sobretudo as que se referem à
apresentação da abordagem teórica do tema, minimizem ou ofusquem, embora
tenham o seu impacto, o ineditismo e a importância da contribuição deste
trabalho para a problematização de um aspecto ao mesmo tempo tão
importante e tão desconhecido pela categoria profissional.
No capítulo 2, apresentam-se considerações sobre os dados
coletados junto à categoria profissional, apreciando as respostas oferecidas
pelos(as) participantes da pesquisa, tendo por base as contribuições teóricas
disponíveis sobre os aspectos abordados. Busca-se oferecer, a partir dos
dados coletados, uma apreciação dos elementos presentes nas possibilidades
de apropriação da TI por parte do Serviço Social, entendendo tal apropriação
como um fator estratégico para o exercício profissional. Não se trata, no
entanto, de compreender o uso deste recurso como “mais” ou “menos”
estratégico do que outros aspectos presentes no trabalho profissional. Como se
verá, compreende-se que a incorporação da TI pode contribuir para o
fortalecimento do exercício profissional condizente com o projeto ético-político
25
da categoria. No entanto, há que se verificar em que medida tal incorporação
pode, de fato, fortalecer esse projeto profissional. Parte-se do pressuposto de
que tal fortalecimento só é possível se a TI for utilizada como um meio para se
efetivar os princípios profissionais. O uso deste recurso sem um compromisso
concomitante com os valores profissionais expressos neste projeto pode gerar
um tipo de fortalecimento do exercício profissional marcado por outras
características, em que posturas como o tecnicismo e o metodologismo,
produtos da ausência de uma perspectiva crítica, podem ser difundidas e
valorizadas.
No capítulo 3, busca-se apreciar questões presentes na
incorporação da TI ao trabalho cotidiano. Com base em depoimentos
oferecidos por assistentes sociais que vêm tentando incorporar a TI ao seu
trabalho, apresentam-se as características da utilização que vem sendo
realizada deste recurso no cotidiano profissional. Aspectos como condições de
trabalho, presença do tema na formação profissional, importância e
possibilidades de uso da TI são abordados com a intenção de conhecer os
obstáculos e as possibilidades presentes na apropriação deste recurso ao
exercício profissional. Pretende-se oferecer, com base nestes depoimentos, um
conjunto de considerações acerca das condições concretas em que os(as)
assistentes sociais vêm buscando incorporar ao trabalho cotidiano o potencial
deste recurso. Trata-se, como se verá, de um processo de incorporação muitas
vezes imposto ou direcionado por sujeitos estranhos ao próprio Serviço Social,
o que pode ser tomado como preocupante por conta da tendência de se
priorizar valores e princípios que podem ser divergentes ou contrários aos
26
defendidos pela categoria profissional. Por outro lado, vislumbra-se, também,
alguns relatos que demonstram o esforço de profissionais que vêm tentando
criar, com a utilização do recurso tecnológico, possibilidades de alteração
qualitativa no exercício profissional.
Como será possível perceber, os capítulos seguem uma estrutura
em que se tenta partir de elementos teóricos mais gerais para, em seguida,
tratar-se da presença do tema no Serviço Social, e, mais especificamente, da
apropriação da TI pelos(as) profissionais inseridos(as) no mercado de trabalho.
São capítulos que, embora não realizem um diálogo intenso entre si, permitem
identificar aspectos mais relevantes em cada um destes contextos, contribuindo
para a construção de uma aproximação ao tema. Trata-se, portanto, de um
esforço de investigação que pretende oferecer um ponto de partida para o
tratamento da importância da TI para o exercício profissional. Acredita-se que
sua originalidade encontra-se na tentativa de compreender a importância deste
recurso não para o trabalho do Serviço Social tomado de forma abstrata, mas
para o exercício profissional que pretende se manter fiel aos princípios
presentes em nosso projeto ético-político profissional. Assim, não se trata de
apresentar a TI, como já observado, como um recurso mais estratégico ou mais
importante do que outros aspectos da profissão. Pretende-se, sim,
compreendê-lo como um recurso cuja importância só é evidenciada a partir de
sua conexão com os demais fatores que integram o exercício profissional.
Em suma, trata-se de uma tese sobre um tema original, que traz
uma contribuição importante para o debate profissional, articulando os dados
27
coletados com algumas contribuições teóricas, com a perspectiva de
demonstrar um quadro da incorporação e apropriação da TI pelo Serviço
Social, seus limites e possibilidades, sem perder de vista a hipótese do seu
caráter contraditório. Vale destacar que a existência de algumas experiências
de incorporação da TI não significa a sua efetiva apropriação pelos(as)
profissionais. Por esta última entende-se a incorporação do recurso tecnológico
em sintonia com os valores e princípios que orientam o exercício profissional
no âmbito do projeto profissional, uma incorporação de fato, voltada ao reforço
de tais princípios, e não como expressão de estratégias de substituição
tecnológica, ou, ainda, situada em uma perspectiva meramente instrumental,
em que a tecnologia é vista como ferramenta ou instrumento para atingir
quaisquer finalidades, no âmbito da “racionalidade instrumental” (Barreto,
2002). A TI não é concebida como um fim em si mesma, mas nos termos de
sua inscrição em um determinado projeto profissional. É neste sentido que a
tese ora apresentada constitui-se como uma importante contribuição,
necessária ao debate profissional, que busca estabelecer conexões entre TI,
formação profissional e condições de trabalho profissional, no âmbito dos
dilemas profissionais, sem cair na postura tecnicista, e afirmando a tecnologia
como mediação, como um recurso para o reforço do projeto ético-político
profissional.
Encerrando estas considerações introdutórias, cabe destacar e
manifestar o profundo agradecimento ao apoio dado pelo Conselho Regional
de Serviço Social – 7a Região que, em sintonia com as preocupações
presentes neste trabalho, percebeu a importância do tratamento e
28
problematização deste tema para a categoria profissional, oferecendo algumas
contribuições para a materialização da pesquisa realizada. Dentre o suporte
disponibilizado, pode-se destacar o envio do questionário, no formato de carta-
resposta, por correio, dentro do Jornal Práxis, aos(às) assistentes sociais
ativos(as) do estado do Rio de Janeiro. Além disso, em uma edição do referido
Jornal anterior ao envio do questionário, foi veiculada uma matéria sobre o
tema da pesquisa, já alertando os(as) profissionais para a relevância do tema e
sinalizando a existência e importância da pesquisa.
29
C A P Í T U L O 1 – T E C N O L O G I A E R E L A Ç Õ E S S O C I A I S
30
1 . 1 . N O T A S S O B R E O C O N C E I T O D E T E C N O L O G I A
A tecnologia tem estado presente em cada vez mais espaços da
vida social. Percebe-se que os microcomputadores, um dos principais sinais
das atuais inovações tecnológicas, são absorvidos nas diversas atividades e
práticas realizadas pelos diversos sujeitos sociais. O uso cada vez mais
disseminado do computador tem sido apontado como uma das principais
conseqüências do desenvolvimento tecnológico realizado nas últimas décadas,
embora, hegemonicamente, tal uso esteja direcionado à manutenção ou
aprofundamento das contradições existentes na estrutura da organização
social capitalista, a qual, nunca é demais lembrar, encontra-se fortemente
marcada por desigualdades de classe social, gênero e raça/etnia.
Se de um lado a tecnologia vem avançando e produzindo inovações
cada vez mais notáveis, de outro elas não estão plenamente disponíveis ao
conjunto da população, que se vê, em sua maioria, cerceada do acesso aos
frutos das inovações tecnológicas. Na maior parte das vezes, sua utilização
encontra-se vinculada à satisfação dos interesses de grupos e elites
dominantes, contribuindo, em grande medida, para intensificar processos
relativos ao aumento da acumulação. Desta forma, considera-se que o
desenvolvimento acelerado da tecnologia e as suas possibilidades de uso
social expressam a dimensão contraditória presente nas relações sociais
capitalistas. Tal consideração supõe o entendimento de que, apesar de ser
31
largamente utilizada para viabilizar e dinamizar interesses da classe capitalista,
pode ser apropriada e colocada em sintonia com os interesses da classe
trabalhadora.
Diversas são as conceituações de tecnologia. Numa perspectiva
mais superficial, Silva et alli (2004), apontam que o conceito de tecnologia pode
ser aplicado a tudo aquilo que, não existindo na natureza, o ser humano
inventa para expandir seus poderes, superar suas limitações físicas, tornar seu
trabalho mais fácil e a sua vida mais agradável. Tecnologia, para os autores,
não é apenas instrumento, ferramenta ou equipamento tangível. Tecnologia é,
também, coisa intangível, como procedimentos, métodos, técnicas etc. Assim,
ao falarmos em tecnologia, isso não significa, necessariamente, que estamos
falando sobre informática ou sobre TI, embora a tendência, nos dias atuais,
seja a de confundir tais termos, ou ainda, tomá-los como sinônimos.
Numa abordagem mais aprofundada da tecnologia, Vieira Pinto
(2005) afirma que sua adequada conceituação tem como ponto de partida a
compreensão do avanço tecnológico como expressão do processo de
desenvolvimento das forças produtivas da sociedade (sendo a principal delas o
trabalho), destacando que, em termos gerais, a tecnologia pode ser entendida
como o estado de desenvolvimento do trabalho social, explicada pelo conjunto
da sociedade.
A contribuição de Vieira Pinto é entendida neste trabalho como de
grande importância para a compreensão do caráter histórico e social da
tecnologia. O debate realizado por outros autores que vêm tratando do tema
32
(dentre os quais se poderia destacar Lévy, 1993, 1999; Castells, 1999; Schaff,
Em meio ao debate, uma contribuição que se apresenta é a de
Lojkine (1995), que, ao buscar compreender o fenômeno tecnológico, utiliza-se
do conceito de "revolução informacional", sinalizando que esta "não se reduz à
revolução do instrumento de trabalho, ainda que esta seja essencial" (p.15),
mas envolve, principalmente, “a criação, o acesso e a intervenção sobre
67
informações estratégicas, de síntese, sejam elas de natureza econômica,
política, científica ou ética” (p.109). Trata-se, portanto, de uma “revolução
informacional” que não se refere apenas ao desenvolvimento/aperfeiçoamento
dos instrumentos e das técnicas de trabalho, o que poderia ser esperado de
uma postura tecnicista. Para o autor, a dimensão efetivamente inovadora das
novas tecnologias reside no seu entendimento como “potencialidade
contraditória”, o que significa que a “revolução informacional” teria a
potencialidade de auxiliar na construção de um novo tipo de sociedade, um
modelo que existe potencialmente, e que, a depender do movimento histórico,
poderia efetivar-se.
Tentando desenvolver seus argumentos, observa o autor que a
noção de “potencialidades contraditórias” só é adequadamente compreendida
se o conceito de forças produtivas também o for. Por força produtiva material,
pode-se entender, segundo Marx (1971), a força (física) que os homens e
mulheres põem em movimento para modificar a natureza, incorporando
matérias e criando um valor de uso. De acordo com o autor, no trabalho, o ser
humano:
“defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em
movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas,
cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da
natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando
assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo
tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as
potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o
jogo das forças naturais” (Marx, 1971, p.202).
68
O trabalho, atividade por meio da qual o ser humano se objetiva e
alcança finalidades, e que supõe capacidade teleológica, demanda a mediação
de um instrumento de trabalho. Como observou Marx, os indivíduos usam as
propriedades presentes nos meios de produção, fazendo-as atuar sobre os
objetos de trabalho. Em suas palavras:
“O meio de trabalho é uma coisa ou complexo de coisas, que o
trabalhador insere entre si mesmo e o objeto de trabalho e lhe
serve para dirigir sua atividade sobre esse objeto. Ele utiliza as
propriedades mecânicas, físicas, químicas das coisas, para
fazê-las atuarem como forças sobre outras coisas, de acordo
com o fim que tem em mira” (Marx, 1971, p.203).
Percebe-se, a partir da citação acima, que a utilização do
instrumento de trabalho encontra-se subordinada à finalidade que o trabalhador
elaborou, ao “fim que tem em mira”, denotando a sobreposição do sujeito que
trabalha, o homem ou a mulher, sobre o meio, o instrumento. Lojkine (1995)
trabalha com uma definição de “potencialidade contraditória”, a partir de uma
concepção de forças produtivas que tende a aumentar o papel do instrumento
no processo de trabalho. Ao referir-se à “dinâmica própria das forças
produtivas” (p.53), observa o autor que este conceito:
“(...) se opõe, de fato e radicalmente, a uma concepção
‘imparcial’ que faz das tecnologias o instrumento passivo,
neutro, de uma sociedade ou de uma força social dominante –
concepção que, precisamente funda as abordagens ‘societais’,
e também, ‘organizacionais’ das ‘novas tecnologias’ “(Lojkine,
1995, p.53).
69
Como o próprio autor exemplifica, tecnologias idênticas podem
comportar diferentes tipos de uso social, sinalizando a dinâmica própria das
tecnologias e evidenciando uma concepção que exacerba o caráter ativo das
forças produtivas, como demonstra o seguinte trecho: “há ação dos homens
que concebem e fabricam os instrumentos de trabalho, mas também há em
troca a ação dos instrumentos de trabalho sobre os homens” (Lojkine, 1995,
p.54).
Para Lojkine, há uma forte interpenetração da força de trabalho
humano e das forças naturais utilizadas em seu trabalho. No entanto, como
observou, se tais forças dependem, de alguma forma, da vontade e da
intencionalidade dos indivíduos, elas, por outro lado, “também dispõem de uma
ação própria, na medida em que o homem fá-las atuar como ‘forças’”. Em suas
palavras:
"Pense-se, em primeiro lugar, nas forças naturais propriamente
ditas: a força hidráulica, eólica, a da energia térmica, a da
energia nuclear; mas há que se considerar ainda a ação
própria de processos ecológicos que, deflagrados pela ação
humana, manifestam na seqüência a sua autonomia,
desenvolvendo ‘efeitos perversos’ naturais não previstos pelo
homem - aqui, a referência imediata são as catástrofes
ecológicas (acidentes nucleares, rompimento da camada de
ozônio, poluição etc.); contudo, as manipulações genéticas nos
recordam que a espécie humana não está submetida apenas a
leis ‘sociais’ e a tecnologias ‘intelectuais’: prova-o a
modificação, possibilitada pelas biotecnologias, dos suportes
físicos dos nossos ‘mapas de identidade’ biológicos (ADN)"
(Lojkine, 1995, p.56).
70
Dando a entender que ele tenta minimizar o impacto de sua
definição de “potencialidade contraditória”, o autor observa que o
desenvolvimento das forças produtivas, tal como ele compreende, não significa
que a ação e intenção humanas sejam anuladas. Destaca, ainda, que a
concepção que possui de meio de trabalho não anula o potencial do trabalho
humano, contrapondo sua postura a duas concepções antinômicas que
abordam os meios de trabalho: as deterministas e as indeterministas.
Explicando essas noções, o autor aponta que:
"A corrente determinista vê simplesmente no meio de trabalho
a condição de um trabalho presente, mas esquece que este,
por seu turno, modifica o trabalho passado que ‘ressuscita’.
Muitas das inovações tecnológicas devem-se a descobertas de
usuários que conseguiram otimizar e aperfeiçoar seus meios de
trabalho ou, mais amplamente, à colaboração entre usuários e
criadores de meios de trabalho (este é um dos segredos do
êxito da indústria japonesa). Inversamente, a corrente
indeterminista, na linha de Adam Smith, vê no instrumento de
trabalho tão somente o ‘produto’ de uma relação social, mais
exatamente de um sistema organizacional de que ele é apenas
uma espécie de ‘forma cristalizada’, puramente passiva”
(Lojkine, 1995, p.57).
São concepções que, de acordo com Lojkine, remetem a segundo
plano a ação transformadora do trabalho vivo combinado com o trabalho morto
dos meios de produção, mostrando-se incapazes de apreender a dinamicidade
do processo social. Neste sentido, sustenta que as atuais mutações
sociotécnicas, decorrentes das mudanças operadas pela ação humana sobre
as forças produtivas, podem ser tomadas como "potencialidades
71
contraditórias", e não como conseqüências automáticas de uma evolução linear
(tecnológica ou socioeconômica), o que significa dizer que a “revolução
informacional” não se reduz às potencialidades sociais da microeletrônica.
Além de manifestar-se no conjunto de formas novas da informação que ela
mobiliza, manifesta-se, também, como afirma o autor, na possibilidade de,
dialeticamente, desencadear um tipo de ação histórica deflagrada pela própria
dinâmica das forças produtivas.
Lojkine apresenta uma abordagem sofisticada da incidência das
inovações tecnológicas e tenta reafirmar a importância que o trabalho continua
a ter na vida social. Ao analisar sua obra, no entanto, Lima (2005) considera
que este autor realiza indicações que podem demonstrar um deslize para a
mesma tendência, encontrada em outras referências, de fetichização da
tecnologia. Ao tomar autores como Lojkine, Schaff e Castells, a autora aponta
as “armadilhas do fetiche tecnológico”, que desconsidera os seguintes fatores:
a) a mercantilização da vida social é um elemento constitutivo do
sistema capitalista, significando que a informação também se transforma em
mercadoria;
b) o aumento do uso das informações não significa a constituição de
uma sociedade pós-industrial;
c) a substituição de formas violentas de exploração do trabalho por
inovações tecnológicas não significa que a exploração tenha sido extinta;
72
d) as inovações tecnológicas não têm implicado a redução da
jornada de trabalho e o aumento do tempo livre do trabalhador;
e) as concepções sobre o “fim do proletariado”, o qual seria
substituído por uma “nova camada de técnicos” capacitados para operar as
novas tecnologias; têm-se um desemprego em escala constante, justificado
pela incapacidade individualizada do trabalhador desqualificado, e não pela
lógica de acumulação que expulsa trabalho vivo.
Apesar da crítica apresentada pela autora, considera-se que o
recurso a Lojkine possui certo mérito, na medida em que sua contribuição
constitui-se como uma das poucas tentativas de afirmar, no debate sobre as
conseqüências sociais das inovações tecnológicas, a discussão do valor no
campo da tradição marxista, e reafirmar a centralidade do trabalho na
sociedade capitalista. O autor parece buscar a realização de uma abordagem
crítica do papel desempenhado pelas inovações tecnológicas na sua
articulação com as formas adotadas pelo capital para enfrentar a sua crise
contemporânea. Sua contribuição, apesar dos problemas apontados, é uma
das poucas que tenta combater a ofensiva “pós-moderna”, a qual toma as
alterações provocadas pelas inovações tecnológicas como universais,
estendendo-as para o conjunto das relações sociais de produção e dando
origem a abordagens e compreensões que reforçam os interesses do capital.
Muitas dessas abordagens negam a materialidade e a centralidade do trabalho
na produção e reprodução das relações sociais capitalistas, contribuindo para
73
tirar de cena a classe trabalhadora, sujeito que vem historicamente se opondo
a esta forma de organização da sociedade.
Apesar da polêmica envolvendo a noção de “potencialidade
contraditória” apresentada pelo autor, isto não significa que o caráter
contraditório da própria sociedade capitalista não deva ser evocado para
compreender o potencial da tecnologia para o processo social. Assim,
compreende-se que a tecnologia é marcada pela contradição, evidenciada não
pelo desenvolvimento do recurso tecnológico em si, mas pelo próprio padrão
de relações sociais capitalistas, que é contraditório. A potencialidade
contraditória da tecnologia não está na “revolução da informação”, está no
próprio caráter contraditório das relações sociais que presidem a sociedade
capitalista, por isto a compreensão do potencial contraditório desta tecnologia
se dá no quadro das próprias relações sociais capitalistas. Como observou
Iamamoto (1993), dentre as tensões inerentes e específicas às relações sociais
que peculizarizam a sociedade do capital, encontra-se a “articulação
indissolúvel e contraditória entre a essência dessas relações sociais e sua
manifestação através das formas sociais, por meio das quais se expressam,
ambas engendradas e recriadas no processo da vida social” (p.69). É nesse
contexto que reside a base tanto para a compreensão do papel das inovações
tecnológicas na atualidade quanto para a formulação de modos alternativos de
apropriação crítica de tais inovações.
74
1 . 4 . A S E X P R E S S Õ E S A T U A I S D A T E C N O L O G I A
Como se viu nas seções anteriores, a tecnologia é um produto
histórico, resultado do trabalho acumulado pela sociedade. Trata-se, ao mesmo
tempo, de indicador da riqueza socialmente produzida e de um meio para a sua
reprodução. Na atualidade, é possível constatar a existência de uma ampla
diversidade de inovações tecnológicas, aplicadas em diversos espaços e
instâncias da vida social. Toma-se, a partir deste momento, as inovações
tecnológicas conhecidas como “tecnologia da informação” (TI), sobre a qual se
pretende tecer rápidas considerações.
Pretende-se iniciar por uma breve caracterização da TI, apontando
alguns aspectos relacionados a sua definição. Apesar de sua larga aplicação
em inúmeros espaços da vida social, é possível constatar uma certa dificuldade
em delimitar e definir o que seja TI. Sua conceituação, em geral, oscila entre
limitá-la às atividades desenvolvidas pelos recursos da informática (priorizando
a automatização de tarefas) ou, ainda, compreendê-la como a aplicação de
seus diferentes ramos na geração, processamento e difusão de informações
(enfatizando a manipulação e organização de dados para posterior utilização).
No debate sobre o tema, pode-se vislumbrar tendências que
reforçam posições diferenciadas: por um lado, a aplicação da TI é vista em
termos de operacionalização em sentido genérico, priorizando a habilidade de
utilizar e interagir com a máquina; por outro, valoriza-se, também, a atividade
de reapropriação e reelaboração da linguagem informacional voltada para
75
novos usos e finalidades. Percebe-se, portanto, a coexistência de uma lógica
instrumental e uma atividade de criação que mobiliza os diversos recursos com
vistas ao estabelecimento de diferentes modalidades de trabalho e
conhecimento, denotando que a prioridade não é para o domínio operacional,
mas se estende a uma apropriação mais efetiva, mais crítica do recurso
tecnológico.
De forma geral, a definição de TI remete ao conjunto de dispositivos,
serviços e conhecimentos relacionados a uma determinada infra-estrutura,
composta por computadores, softwares, sistemas de redes etc. (que teriam a
capacidade de processar e distribuir informações para as organizações e os
sujeitos sociais que compõem a sociedade). Essas novas tecnologias podem
mediar tanto o fortalecimento da acumulação quanto a criação e
desenvolvimento de posturas alternativas aos valores capitalistas, a depender
do movimento das forças sociais em disputa. Em outros termos, a influência
que a TI pode exercer no campo econômico, político e social depende da sua
concretização como instrumento que pode vir a reforçar ou não a lógica da
acumulação capitalista. Pretende-se, desta forma, apresentar algumas
considerações que expressam o caráter contraditório da TI, tentando
demonstrar a possibilidade de sua apropriação num sentido democratizante e
participativo, diverso da forma pela qual hegemonicamente vem sendo
incorporada aos processos sociais.
A informática, de acordo com Wainer (2003), tem por volta de 40
anos. Enquanto nos anos 60 e 70 ela resumia-se aos grandes computadores e
76
a programas de caráter mais empresarial (como sistemas de controle de
estoque, de recursos humanos, de contas a pagar etc.), é nos anos 80 que
aparecem os microcomputadores e a informática pessoal, com o surgimento de
equipamentos e programas de uso individual, tais como planilhas, editores de
texto etc. A década de noventa assiste ao desenvolvimento de redes locais que
interligam vários computadores e, ainda, o surgimento da Internet. Cabe, no
entanto, perguntar como se efetiva o acesso da população aos recursos
oferecidos pela TI.
Os dados de que se dispõe, coletados na bibliografia trabalhada,
permitem verificar uma distribuição bastante desigual dos recursos
tecnológicos, reproduzindo os principais traços de nossa organização social.
Carneiro (2002), ao questionar a quem se dirige e a quem está disponível todo
o avanço tecnológico produzido nos últimos tempos, destaca que, se por um
lado os números oficiais de um relatório do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento mostram um aumento da quantidade de usuários e
usuárias da Internet (que passou de 150 milhões para 700 milhões em um
ano), por outro, cerca de 91% desses(as) usuários(as) equivalem a apenas
19% da população mundial e estão concentrados(as), em sua maioria, nos
países que fazem parte da OCDE - Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento e Econômico (p.37). Para Silveira (2001), os dados referentes
às condições necessárias ao acesso à Internet ilustram uma organização social
ainda marcada por extremos. Como ele apontou, os países que integram a
OCDE, mesmo com apenas 15% da população da Terra, concentram 71% de
todas as linhas telefônicas existentes no mundo. Em 1998, os países altamente
77
industrializados concentravam mais de 88% dos usuários e usuárias da Internet
mundial, enquanto representavam apenas 15% da população global. Em 2001,
41% de todo o acesso mundial concentrava-se nos Estados Unidos e no
Canadá. A Ásia, região mais populosa do planeta, detinha apenas 20% dos
acessos, enquanto a América Latina, apenas 4%.
Mattelart (2002) também apresenta observações sobre o acesso à
TI, como se constata no trecho a seguir.
“Em seu relatório, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento confirmava, em 1999, a marginalização
informacional crescente de uma maioria de países, e no interior
de cada país, e isso nos quatro pontos cardeais, a existência
da linha divisória entre os info-ricos e os infopobres, a fratura
digital ou digital divide (PNUD, 1999). ‘O internauta típico,
podia-se ler, é homem, com menos de 35 anos, nível superior,
classe alta, habitante urbano, falante de inglês”. De 13 mil
aldeias da área rural do Senegal, só 300 dispõe de linhas
telefônicas, e o analfabetismo ainda atinge 65% da população.
A África do Sul, entretanto, está bem dotada, em relação ao
resto do continente, de numerosos hospitais, e três quartos dos
estabelecimentos escolares não dispõem de linhas telefônicas.
De modo mais simples, pode-se acrescentar o fato de que no
momento em que cintilam as promessas de infovias, uma
multidão de países ou regiões do planeta não têm sequer uma
rede rodoviária nacional digna desse nome e de que mais de
600 mil cidades não têm eletricidade! Com 19% da população
mundial, os países da OCDE tinham 91% dos usuários da
Internet. Mais da metade deles estavam nos Estados Unidos,
que representam apenas 5% da população do planeta”
(Mattelart, 2002, p.159).
78
Tratando da situação brasileira, Silveira (2001), com base em dados
do IBGE de 1996, observa que a cidade de São Paulo possuía 26,5 telefones
fixos por 100 habitantes, representando 41% de todo o tráfego telefônico do
país. Já o censo de 2000 mostra a existência de apenas entre 10 e 20 usuários
de informática por 100 mil habitantes, um número que, de acordo com o autor,
é considerado bem abaixo dos atuais padrões mundiais. Em relação ao acesso
à Internet, a região sudeste concentra 58% dos provedores de acesso
brasileiros, sendo que somente a capital paulista detém 12% dos provedores,
seguida pelo Rio de Janeiro, com 8%. Afonso (2000) ilustra bem a situação
brasileira:
“Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, menos de 300
(ou menos de 6%) contam com infra-estrutura mínima
necessária para que possam ser instalados serviços locais de
acesso à Internet. Os cerca de cinco milhões de usuários da
Internet no Brasil são menos de 3% da população. O Brasil é
de longe o pior colocado em números per capita de usuários,
computadores pessoais, linhas telefônicas e servidores Internet
(hosts) entre as nove maiores economias do mundo. Os
circuitos que conectam os provedores de serviços à Internet
estão entre os mais caros do mundo, inviabilizando o pequeno
provedor de serviços em áreas menos ricas” (Afonso, 2000,
p.19).
Uma questão, abordada por Carneiro (2002), refere-se ao preço dos
computadores, que ainda é alto, se comparado com a média de salário de
diversos países do planeta. Os custos de manutenção dos microcomputadores
são tão altos que chegam a ser sugeridos como explicação para o fenômeno
conhecido como “paradoxo da produtividade”, que, de acordo com Wainer
79
(2003), pode ser caracterizado como “uma aparente inabilidade de
investimentos em informática se traduzirem em aumento de produtividade”
(p.14). Ao tratar da relação entre aumento de produtividade e uso da TI,
observa o autor que não há evidência de que a informática trouxe qualquer
aumento de produtividade no setor terciário nas últimas décadas. Ao contrário,
a evidência empírica demonstra baixos benefícios da informática no aumento
da produtividade, que, como sugere, poderiam ser explicados pelos custos
reais e necessários para manter os computadores funcionando, os quais
estariam roubando os ganhos de produtividade que os computadores poderiam
trazer para o trabalho de escritório.
Apesar de dados mais recentes destacarem um crescimento no
acesso à TI (a PNAD de 2002, por exemplo, informa que o número de
residências com microcomputador cresceu 15,1%, de 2001 para 2002, e o de
domicílios com computador ligado à Internet teve um crescimento mais
acentuado, de 23,5%), de uma forma geral, concorda-se com Moraes (2001),
para quem, no Brasil, a tradição da concentração das riquezas se repete nas
tecnologias digitais, havendo, ainda, muito a fazer para aumentar as conexões
e os usos sociais de tais tecnologias. A maior parte das pessoas que se
conectam à Internet pertence às classes A e B e se aglomera nas regiões
Sudeste e Sul. Apesar de o Brasil estar entre os 15 países com maior parque
de computadores instalados, mantém cerca de 94% das cidades fora da Rede.
Dispor da maior infra-estrutura de telecomunicações da América Latina não fez
com que o país deixasse de situar-se em penúltimo lugar, em número de
usuários individuais, computadores pessoais, linhas telefônicas e servidores da
80
Internet, entre as dez maiores economias do mundo (p.141). Há, portanto,
como sinalizou Mallini (2003), um elemento profundamente contraditório neste
quadro, que se refere à necessidade de socializar conhecimentos formais e
tecnológicos a amplas camadas populacionais que ainda se encontram
completamente marginais ao circuito informacional das tecnologias de
comunicação, tais como a imprensa, o livro, a Internet, softwares etc. (p.153).
Como resumiu Gleiser (2002):
“O alto custo e a constante renovação das tecnologias promove
a existência de uma ‘subclasse tecnológica’, os deixados às
margens do turbilhão digital. E, como o motor fundamental da
sociedade moderna são a geração e a troca de informação,
esses novos marginalizados digitais sofrem uma grande
desvantagem no mercado de trabalho. Essa estratificação
social é ainda maior em países onde a distribuição da renda é
muito polarizada, como é o caso brasileiro” (Gleiser, 2002,
p.23).
Além de expressar a dificuldade de acesso ao recurso tecnológico,
esta realidade demonstra também os obstáculos cada vez maiores que se
colocam às possibilidades de incorporação e apropriação das tecnologias por
parte de uma parcela crescente da população. Trata-se de um fenômeno que
pode ser tomado como uma das expressões da questão social, já que se refere
à impossibilidade de acesso por parte desses segmentos da população à
riqueza socialmente produzida, na qual se encontram os recursos tecnológicos.
É a compreensão deste aspecto que permite superar a idéia de que o problema
principal, no que se refere ao acesso à TI, encontra-se na chamada “exclusão
digital”, quando na realidade a base desta questão encontra-se no padrão
81
especificamente capitalista de geração de desigualdades sociais, cuja raiz
comum, como apontou Iamamoto (1998), reside no fato de que “a produção
social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social,
enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por
uma parte da sociedade” (p.27).
Autores que tentam ofuscar esse aspecto fundamental das relações
sociais capitalistas acabam por limitar a análise à existência de treinamento,
vontade, ou ainda, a um uso mais ou menos adequado do recurso tecnológico.
É o caso, por exemplo, de Pinkett (2006) que, ao trabalhar com a noção de
“digital divide”, aponta que tal “divisão” entre os que possuem e os que não
possuem acesso à TI só pode ser superada com a existência de elementos
como acesso ao computador e à Internet, treinamento e suporte individual e/ou
coletivo, conteúdo e informação, e motivação para superar obstáculos. Trata-se
de uma postura que ignora a existência de uma “divisão” fundamental entre os
indivíduos, que antecede a “divisão digital”: a divisão entre os que efetivamente
se apropriam e os que não se apropriam dos frutos da produção social. Desta
forma, a preocupação com o acesso aos recursos da TI, embora possa ser
considerada condição necessária para resolução da chamada “divisão digital”,
não é, de modo algum, suficiente para a superação deste problema, tendo em
vista que o aspecto fundamental reside no padrão vigente de distribuição da
riqueza socialmente produzida. Serão tecidas considerações sobre este
problema no próximo capítulo, quando, ao tratar-se da chamada “exclusão
digital”, a partir dos dados coletados junto à categoria profissional, tenta-se
demonstrar que, na verdade, esta “exclusão”, apontada como uma questão
82
“nova”, constitui-se como uma das expressões da radicalização da questão
social.
Apesar das dificuldades encontradas em relação ao aspecto mais
básico da possibilidade de uso da TI, que se refere ao acesso aos recursos,
considera-se que esta pode ter uma importante contribuição para as práticas
de alguns sujeitos sociais, desde que apropriada de forma crítica e livre de
fetichismos e mistificações. Abordando suas possíveis conseqüências
negativas, considera-se que, além da já comentada contribuição das inovações
tecnológicas para a redução do trabalho vivo e para a desqualificação do
trabalhador, dando origem a um agravamento da questão social expresso pelo
aumento da pobreza, da violência e da exploração, sua utilização pode
contribuir, também, para o enfraquecimento e a erosão de vínculos sociais
solidários e igualitários. Santos (1999), por exemplo, aborda uma questão que
denomina de “perda do humano”, decorrente de um determinado tipo de uso
social da tecnologia. Para o autor, o desenvolvimento da “racionalidade
econômica” peculiar à sociedade capitalista confundiu-se com o
desenvolvimento da “racionalidade tecnocientífica”, como se a evolução e o
sentido dessas duas racionalidades fossem um único movimento que recusaria
qualquer limite, seja ao capital, seja ao progresso tecnocientífico.
O autor observa que a relação entre os indivíduos e natureza vem
sendo cada vez mais mediada pela ciência e pela tecnologia, e os seres
humanos, apesar de aumentarem seu controle sobre a natureza, vêm,
contraditoriamente, sendo cada vez mais controlados. Assim, o autor identifica
83
uma tendência à “intensificação da mecanização do indivíduo” e ao
aprofundamento de uma relação perversa entre este e a natureza, conduzindo
ao que chamou de “perda do humano”. A tendência, sugere, é de que o
humano se manifeste num comportamento selvagem, num comportamento em
que o sujeito, de forma egoísta e individualista, persegue apenas a satisfação
de seus desejos e de suas vontades.
Prossegue, afirmando que, da forma como vem sendo utilizado, o
progresso da ciência e da tecnologia não segue o mesmo caminho do
progresso da moralidade da conduta humana e que, ironicamente, a satisfação
do desejo daquele sujeito que tenta escapar das conseqüências da
“mecanização” se faz, de acordo com o autor, cada vez mais “intensificando o
próprio processo de mecanização”. Para ilustrar esta situação, o autor utiliza
como exemplo o campo da reprodução humana, marcado pela existência de
diversos recursos derivados dos avanços científicos e tecnológicos. Vejamos a
seguir um longo trecho que torna compreensível a complexidade apontada pelo
autor:
“O desejo de ter um filho por parte de indivíduos que não
podem ou não querem tê-lo pelas vias biológicas ‘normais’
pode ser satisfeito atualmente graças aos avanços
tecnocientíficos da chamada reprodução assistida. O leque de
opções para a satisfação desse desejo amplia-se
ininterruptamente: das inseminações artificiais à possibilidade
de clonagem humana, passando pelos bebês de proveta, os
bancos de esperma, as barrigas de aluguel, a comercialização
de óvulos e embriões e as promessas da engenharia genética
para a geração da ‘criança perfeita’. Ora, a abertura desse
campo está criando situações inéditas. Na Inglaterra, uma
84
jovem deseja conhecer a experiência da imaculada concepção
porque identifica-se com a Virgem Maria, enquanto um casal de
gays e um casal de lésbicas desejam constituir um novo tipo de
família. Na Itália, senhoras de idade desejam ser mães.
Clientes japoneses viajam para contratar barrigas de aluguel no
exterior porque a atividade é ilegal em seu país. Nos Estados
Unidos, diversos bebês gerados por mães substitutas vêm
sendo abandonados porque nasceram com o sexo errado; ao
mesmo tempo, disputas judiciais colocam aos juízes a
responsabilidade de ter de decidir quem é a mãe: a mulher que
forneceu o óvulo ou aquela que portou e pariu a criança? Em
todo o mundo as concepções tradicionais de vida, de morte, de
procriação, de filiação, de parentesco estão sendo implodidas e
é grande a controvérsia em torno do momento em que o
material humano passa a ser pessoa” (Santos, 1999, pp.300-1).
Destaca ainda o autor que os efeitos da combinação perversa entre
a “mecanização do humano” e a constituição de um “sujeito não racional”
perseguindo seus desejos irão incidir diretamente no campo do Direito, que,
como observa, “vem sendo atropelado pelo desenvolvimento tecnocientífico”, já
que este cria situações novas para as quais parâmetros de análise e
interpretação ainda não foram produzidos. Em termos gerais, Santos afirma
que o profundo desenvolvimento de inovações tecnológicas e científicas faz
com que o reconhecimento jurídico do direito das pessoas seja posto em
xeque.
Se por um lado situações como as levantadas por Santos justificam
a preocupação com as inovações tecnológicas, por outro, há autores que
tentam realçar efeitos mais positivos dessas inovações. Carneiro (2002), por
exemplo, sinaliza que o tema informática, associado à educação, envolve, além
85
da discussão sobre sua utilização como ferramenta auxiliar no processo de
ensino-aprendizagem, uma análise consistente dos avanços tecnológicos. A
autora destaca a importância de um questionamento dos objetivos e aplicações
da informática, chamando a atenção para as oportunidades positivas
decorrentes de novas possibilidades de práticas educativas suscitadas pelo
seu uso.
Kachar (2003) segue por um caminho parecido, ao relatar um
trabalho realizado com idosos em uma experiência de aprendizagem sobre e
pelo computador. Afirma a autora que este recurso potencializou algumas
capacidades do indivíduo, atendendo necessidades oriundas do contexto etário
e cultural, e possibilitando maior autonomia e uma reapropriação da linguagem
tecnológica e dos recursos computacionais básicos. A intenção, diz a autora,
não foi apenas desenvolver a habilidade de operar os recursos tecnológicos,
mas tornar o computador um “instrumento para a construção de outros
conhecimentos pelo aluno, descobrir-se e desvelar-se com uma nova
possibilidade de ser” (Kachar, 2003, p.18).
Outras considerações são feitas a partir da experiência de
implementação de programas sociais pela prefeitura de São Paulo, a partir de
2001, no âmbito da “estratégia paulistana de inclusão social” (Pochmann, 2002,
p.19). Guerra et alli. (2002) demonstraram que a TI foi importante fator na
criação de um sistema de informações que auxiliou o gerenciamento de dados
e informações referentes aos projetos sociais implantados junto a 110 mil
famílias. Dentre os pontos positivos, os autores destacam que foi possível lidar
86
com um complexo processo de cadastramento, evitando problemas como baixo
aproveitamento das informações levantadas e alta tendência a erros no
preenchimento de informações cruciais para a incorporação dos indivíduos e
famílias nos programas sociais. Os autores afirmam que a TI foi uma
ferramenta fundamental para o gerenciamento das informações necessárias ao
planejamento, à implementação e ao acompanhamento desta política pública,
oferecendo: maior agilidade, flexibilidade e mobilidade no uso da informação;
maior economia e segurança no seu gerenciamento; melhor aproveitamento da
informação coletada; e maior visibilidade e integração na utilização das
informações. Trata-se de fatores de grande importância para a instituição de
políticas públicas democráticas, que têm na TI um importante potencializador,
já que esta permite, com um uso adequado, a abertura de novas perspectivas.
No âmbito das lutas sociais, Moraes (2001) destaca a importância da
Internet, que com seu ambiente tendencialmente interativo, cooperativo e
descentralizado, pode ser útil para o fortalecimento da sociedade civil,
difundindo valores e fomentando o acesso a direitos. Tal recurso pode facilitar
a intercomunicação de indivíduos e agrupamentos heterogêneos, permitindo,
em tese, a defesa de identidades culturais, a promoção de valores éticos e a
democratização da esfera pública. Trata-se de uma abordagem que toma a
Internet como um possível potencializador de práticas democráticas,
propiciando, dentre outras possibilidades, “a organização de grupos de
conversação, plebiscitos indicativos e consultas sobre distintos temas,
disseminando informações na sociedade” (Moraes, 2001, p.140), realçando-a e
fortalecendo-a como espaço político.
87
No entanto, lembra o autor, não se trata de transformar a Internet em
apanágio de todas as virtudes. De acordo com suas idéias, não seria adequado
subestimar o predomínio dos megagrupos no atual cenário de
transnacionalização e oligopolização das indústrias de informação e
entretenimento. Como observou Mallini (2003), alguns grupos e movimentos
que vêm operando na Internet, vêm sofrendo tentativas de contenção ou
esvaziamento de seus fluxos, capazes de organizar a luta contra as
desigualdades. Uma estratégia desse tipo, segundo o autor, é a compra, pelo
capital, de tais ambientes que, ao acelerar a socialização das novas
tecnologias, podem tornar-se, também, fatores de valorização do capital. Isso
comprometeria o caráter contestatório desses ambientes, afetando,
conseqüentemente, sua capacidade de produzir “contra-informação”.
Para Silva (2002), o computador é um recurso pedagógico que
favorece a aprendizagem dos estudantes, e ao ser conectado à Internet abre
maiores perspectivas, incrementando e enriquecendo o processo de ensino e
aprendizagem, ao colocar diante das crianças um imenso universo de
informações e um repertório ilimitado de textos e de fontes de informação a
serem trabalhados na produção do conhecimento. No entanto, alguns cuidados
devem ser tomados em relação a essa “disponibilidade ilimitada” destacada
pelo autor, pois, como observou Almeida (2002), constata-se hoje a existência
de uma “sobrecarga de informação”, uma condição em que a informação é
recebida em taxas extremamente altas, que impedem a sua adequada
assimilação.
88
Problematizando um pouco essa questão, Wainer (2003) destaca a
existência de idéias e opiniões de que com a Internet os alunos podem coletar
mais dados, desenvolver melhor suas opiniões sobre um determinado assunto,
formar uma opinião mais “correta” e, por fim, elaborar trabalhos melhores.
Essas idéias, de acordo com o autor, partem de pressuposições questionáveis.
Em primeiro lugar, porque uma maior quantidade de informação não leva
necessariamente a um trabalho melhor. Segundo, porque a Internet
provavelmente apresentaria muito mais dados que o necessário para o aluno,
sendo necessário filtrar e selecionar as informações, uma habilidade cada vez
mais importante nos dias de hoje, em que há o que autor tratou como
Information overload (p.52), que tem na Internet uma das suas principais
causas.
As possibilidades de uso da TI são numerosas e diferenciadas,
encontrando-se marcadas pelo caráter contraditório que preside o processo
social. Acredita-se que se uma sociedade é fortemente caracterizada pela
incidência de desigualdades sociais, a tendência é que os efeitos sociais
decorrentes do uso social da TI caminhem para a mesma direção, embora haja
espaço para novas alternativas historicamente construídas e conduzidas pelos
agentes sociais presentes nesta sociedade. Trata-se de um processo de luta
composto por diversas modalidades, sobretudo democráticas, novas e
diferenciadas, que tem em vista um uso social da tecnologia mais adequado
aos interesses da população. Como observou Santos (1998):
“um dos paradoxos da sociedade da informação é que, quanto
mais vasta é a informação potencialmente disponível, mais
89
seletiva é a informação efetivamente posta à disposição dos
cidadãos. E, como nesse tipo de sociedade o exercício ativo da
cidadania depende mais do que nunca da informação que o
sustenta, a luta democrática mais importante é a luta pela
democratização dos critérios da seleção da informação”
(Santos, 1998, p.8)
Se por um lado, as novas tecnologias vêm sendo largamente
utilizadas pelo grande capital como poupadoras de mão-de-obra, ocasionando,
por conta do tipo de uso social posto em prática, fortes impactos para os
trabalhadores, por outro, tais tecnologias, ao trazerem consigo a
contraditoriedade do processo social, podem ser apropriadas e utilizadas para
atender ou reforçar interesses mais próximos desses mesmos trabalhadores.
Evidencia-se, assim, uma luta pela apropriação e uso da tecnologia,
entendendo-a como importante questão política e social. Cabe aos sujeitos
comprometidos com práticas democratizantes e emancipadoras buscar
caminhos que possam engendrar sua apreensão e aplicação em favor dos
interesses da classe trabalhadora. Assim, o que se levanta é justamente a
possibilidade do recurso tecnológico mediar o fortalecimento de princípios
favoráveis aos trabalhadores.
A influência que a TI pode exercer no campo econômico, político e
social depende da sua concretização como instrumento que pode vir a reforçar
ou não a lógica da acumulação capitalista. Não se trata de bradar contra o
avanço tecnológico. No entanto, não se pode deixar de constatar que sua
utilização se dá, mais detidamente, para atender os interesses hegemônicos.
90
Caracterizar as inovações tecnológicas como espaço de disputa
social não significa desconsiderar suas conexões com as finalidades e projetos
dos segmentos hegemônicos que as elaboram e constroem. Como observou
Martin-Barbero (1997), “as tecnologias não são meras ferramentas
transparentes; elas não se deixam usar de qualquer modo: são, em última
análise a materialização da racionalidade de uma certa cultura e de um ‘modelo
global de organização do poder’” (p.256). Desta forma, chama-se a atenção
para a tensão existente entre as finalidades inerentes às inovações
tecnológicas e os valores e pressupostos que constituem os projetos
alternativos àquelas finalidades.
De forma geral, essas inovações têm sido reduzidas a ferramentas
cada vez mais rigorosas de racionalização e controle do trabalho. Considera-se
que a partir da análise concreta das relações e processos sociais, é possível
perceber a tecnologia como expressão do desenvolvimento das forças
produtivas, marcada pelo caráter contraditório constituinte do padrão específico
de relações sociais capitalistas. Se ela vem sendo usada pelo capital para
potencializar a produtividade e o lucro, isso não significa que não possam ser
engendradas possibilidades históricas de apropriação do recurso numa
perspectiva voltada ao fortalecimento das lutas sociais. Trata-se, no entanto, de
uma apropriação que continua a demandar a análise concreta do processo
social e das efetivas possibilidades de incorporação da tecnologia, numa
perspectiva contrária aos valores capitalistas e favorável aos projetos
sintonizados com sua superação. Constitui-se, assim, uma possibilidade
histórica de apropriação crítica da tecnologia, cuja efetivação depende da
91
capacidade que os atores envolvidos demonstrarem de superar as posturas
mistificadoras, simplificadoras e reducionistas largamente presentes no debate
sobre este tema.
A tarefa que se coloca, então, é a de analisar as possibilidades de
construção de usos sociais das inovações tecnológicas de modo articulado a
posturas que possam fortalecer o enfrentamento das expressões do processo
de acumulação capitalista. Trata-se de engendrar uma apropriação crítica dos
recursos tecnológicos, adicionando-os às experiências de resistência e luta
social como forma de ampliar o potencial já existente em tais experiências.
A questão que cabe agora problematizar é a possibilidade de
participação do Serviço Social neste desafio. De que forma a TI pode ser
apropriada pelo Serviço Social no sentido de satisfazer as demandas postas
pelos usuários e usuárias de nossos serviços? Quais os usos possíveis que
esse produto do trabalho coletivo pode ter no âmbito do Serviço Social, seja
para promover alterações qualitativas na condução do trabalho profissional e
no acesso aos direitos sociais por parte dos cidadãos, seja para a melhoria do
desempenho de suas competências e atribuições no campo do seu exercício
profissional?
Parte-se do pressuposto que a TI pode potencializar o exercício
profissional, quando articulada aos processos desenvolvidos pela própria
profissão os quais se encontram vinculados a uma determinada direção social
estratégica. Considera-se, portanto, que seu potencial estratégico reside
92
exatamente na possibilidade de somar-se a esta direção social assumida por
esta categoria profissional, como se pretende discutir nos capítulos a seguir.
93
C A P I T U L O 2 - S E R V I Ç O S O C I A L E T I : A L G U M A S C O N E X Õ E S
94
2 . 1 . P R O C E D I M E N T O S M E T O D O L Ó G I C O S U T I L I Z A D O S
Apresentam-se, neste momento, alguns dados coletados a partir da
pesquisa realizada, a qual teve por foco a interrogação direta aos integrantes
da categoria profissional2 por meio da aplicação de questionário com perguntas
voltadas à apreensão de algumas características acerca da presença da TI no
Serviço Social. Busca-se estabelecer uma aproximação inicial ao tema, que,
por sinal, tem estado pouco presente no debate profissional3.
Não foi possível, a partir dos dados coletados, oferecer respostas ou
afirmações conclusivas a respeito da relação entre o Serviço Social e a TI; no
entanto, é possível evidenciar pontos que podem indicar expressões de suas
principais tendências. Tenta-se, assim, oferecer, neste trabalho, um conjunto
2 Para efeito dessa pesquisa, foram considerados integrantes da categoria profissional, os(as) profissionais de campo (empregados, desempregados e aposentados), os(as) assistentes sociais que têm por área de atuação a docência e os(as) alunos(as) de cursos de Serviço Social. Apesar de os(as) alunos não serem efetivamente integrantes da categoria profissional, pela óbvia razão de não serem, ainda, Assistentes Sociais, foi considerada importante sua participação na pesquisa, já que sua condição de profissional em formação permite expressar algumas considerações tanto em relação ao cotidiano da atuação profissional (sobretudo para quem já realiza ou realizou atividades de estágio) quanto em relação ao processo de formação profissional. Em relação ao tratamento das questões referentes ao cotidiano profissional e à presença da TI nesse cotidiano, foram considerados apenas os(as) profissionais efetivamente inseridos(as) no exercício profissional de campo, o que será discutido no próximo capítulo. 3 As poucas contribuições disponíveis podem ser encontradas em Rosa, 1995; Albuquerque, 1995; Tapajós, s/d; Colmán, 1998, 2004, 2004a; Martins, 2001; Colmán e Toscan, 2003, 2004; Souza, 2000, 2002; Jonas, 2002; Silva, 2003; Coelho, 2004; Freitas, 2004; Veloso, 2004. Trata-se de breves artigos publicados em títulos impressos ou eletrônicos, e comunicações apresentadas em congressos e encontros profissionais (CBAS e ENPESS), que vêm tentando promover a inserção do tema no debate profissional. Tal produção demarca a importância da TI para o Serviço Social, oferecendo algumas reflexões acerca da sua incorporação como instrumento de trabalho, a partir, principalmente, de algumas experiências de uso no trabalho cotidiano.
95
sistematizado de questões e pontos de reflexão que demonstram que o Serviço
Social vem estabelecendo uma articulação com a TI, embora as condições
concretas para a sua efetiva apropriação pela profissão não se façam, ainda,
presentes.
O instrumento escolhido para a coleta de dados junto aos
integrantes da categoria profissional foi o questionário. O motivo de tal escolha
reside no fato de o mesmo ser considerado um instrumento que permite a
obtenção de uma quantidade razoável de dados, com baixo custo e reduzido
tempo de aplicação. As dificuldades existentes em termos de financiamento de
pesquisas acadêmicas (principalmente as da área social) são conhecidas, e
nosso critério de escolha levou em conta (ainda que não exclusivamente) as
condições objetivas que determinariam o alcance e o fôlego da fase empírica
de nossa proposta de investigação.
A opção pelo questionário deu-se, também, pela pressuposta
ausência de experiências efetivas de incorporação da TI pelo Serviço Social, o
que, de certa forma, dificultava a opção por um estudo de caso. Ainda que se
possa apontar a existência de experiências em que a atuação profissional
conte com a presença da TI dentre seus recursos, isto não significa a
incidência da sua efetiva incorporação ao trabalho profissional. Neste sentido,
considerou-se que o esforço pela descoberta e investigação de casos
específicos em que se vislumbrasse a apropriação da TI com vistas à
potencialização do trabalho deveria ser substituído por uma abordagem mais
96
genérica do objeto, com dados mais abrangentes acerca da existência de tal
incorporação, os quais foram oferecidos pelo questionário.
Por outro lado, sabe-se que o instrumento escolhido contém
problemas que lhe são inerentes e que poderiam gerar questionamentos
acerca de sua capacidade de possibilitar a obtenção de um “pedaço”
consistente da realidade que se tenta compreender. Lembre-se, por exemplo,
que o questionário é respondido pelo próprio depoente sem a intermediação do
pesquisador, e que aquele tem total liberdade para lidar como quiser com o
instrumento, inclusive para devolvê-lo ou não. Além disso, sua própria natureza
traz problemas que lhe são inerentes. Geralmente, trata-se de um instrumento
fechado, com poucas possibilidades de incorporação imediata de questões ou
problemas não previstos pelo pesquisador, o que, além de limitar o alcance da
própria pesquisa empírica, dificulta o aprofundamento de certos aspectos e
dimensões que podem ser importantes para a compreensão do tema.
Tendo definido a opção por este instrumento, passou-se à
elaboração de uma versão preliminar, a qual foi aplicada, inicialmente, a um
conjunto de assistentes sociais, participantes de dois encontros profissionais: o
Encontro CFESS/CRESS Descentralizado da Região Sudeste, realizado em
julho de 2004, em Vitória, e o Encontro Preparatório ao 11o CBAS, realizado
em agosto de 2004, no Rio de Janeiro. Esses eventos foram escolhidos por se
tratarem de espaços em que se reúne uma boa quantidade de profissionais, de
áreas de atuação, faixa etária, tempo de formação e grau de especialização
técnica bastante diversificados.
97
Esta aplicação inicial possibilitou uma avaliação preliminar do
questionário elaborado. Cerca de quarenta pessoas responderam à pesquisa e
os resultados iniciais possibilitaram perceber a inadequação do instrumento em
alguns aspectos, levando a uma alteração parcial a partir dos problemas
detectados. Foi verificado, por exemplo, que boa parte das questões não foi
respondida como esperado, demonstrando certa dificuldade de entendimento
das perguntas. A partir dessa avaliação, percebeu-se que havia perguntas que
não estavam formuladas de maneira clara e concisa, dando margem a diversas
interpretações. Algumas perguntas foram reformuladas e outras eliminadas ou
substituídas, aprimorando o questionário e tornando-o mais atrativo, leve,
objetivo e eficiente, características fundamentais, principalmente em relação ao
estímulo ao seu preenchimento e devolução.
Um dos pressupostos que direcionaram esta etapa era o de que se o
questionário não fosse atraente, os(as) profissionais dificilmente captariam e se
envolveriam com a proposta, e a conseqüência seria não responder, ignorar,
desprezar e desconsiderar a pesquisa e sua importância. Nesse sentido, era
importante que os(as) profissionais se sentissem atraídos(as) pelo questionário
e pudessem efetivamente respondê-lo. Ao mesmo tempo, foi feito um esforço
para que todas as questões fossem fechadas e formuladas de maneira precisa
e coerente. Foram, ainda, tomados cuidados especiais em relação à sua
apresentação gráfica, de modo a facilitar seu preenchimento e digitação, além
da preocupação em elaborar um pequeno texto introdutório apresentando os
objetivos da pesquisa e a importância das respostas dos(as) participantes.
98
Após realizar os ajustes necessários no questionário, foram
confeccionadas duas versões: uma impressa e outra digital. A versão digital foi
disponibilizada on line em página eletrônica especificamente criada para este
trabalho e divulgada, por correio eletrônico e outros meios impressos (tais
como jornal da categoria de assistentes sociais e panfletos informativos) para
estudantes e profissionais de Serviço Social em todo o Brasil. Acredita-se tratar
de uma das poucas experiências no âmbito do Serviço Social de coleta de
dados com o suporte direto da TI, o qual, por sinal, apresentou-se como um
recurso de grande relevância, o qual precisa ser mais bem avaliado e
incorporado, quando pertinente, a pesquisas conduzidas em nossa área de
atuação profissional.
O uso do questionário eletrônico permitiu a incidência de alguns
aspectos positivos, dentre os quais destacam-se dois: o alcance que o
questionário teve em termos nacionais e, inclusive, internacional (assistentes
sociais de praticamente todos os estados brasileiros e de outros países
responderam à pesquisa, embora com expressões quantitativas bem
diferenciadas); a partilha do trabalho de digitação das respostas aos
questionários com os(as) próprios(as) participantes, o que gerou uma boa
economia de tempo e trabalho para o pesquisador. Assim, se por um lado,
houve uma redução da demanda por trabalho manual, com economia de
tempo, isso não significa que o pesquisador tenha trabalhado menos. Esta é,
inclusive, uma das principais reflexões apontadas por Vieira Pinto (2005),
abordada no capítulo anterior. Apesar de ser bastante utilizada para
desqualificar o trabalhador e reduzir a importância de sua presença no
99
processo de trabalho, o uso da tecnologia não reduz a demanda por trabalho.
Sua utilização, tendo em vista as finalidades a que se faz instrumento para
alcançar, pode promover uma alteração na qualidade do trabalho que é
realizado: demanda menor por trabalho mecânico e maior por trabalho
intelectual, o que pode ocasionar, dentre outras possibilidades, um aumento da
capacidade de abstração e reflexão por parte do(a) profissional.
Além disso, em relação, especificamente, ao estado do Rio de
Janeiro, foi elaborada e distribuída uma versão impressa do questionário.
Trabalhou-se com o pressuposto de que nem todos os(as) profissionais
possuíam acesso a computadores e à Internet; por isso, para se alcançar o
objetivo da pesquisa de obter informações do maior número possível de
profissionais, inclusive dos que não dispunham de tal acesso, foi elaborada
esta versão impressa do questionário. Tal versão tinha apenas uma página e
possuía uma formatação leve e atrativa, sendo enviada a todos(as) os(as)
assistentes sociais ativos(as) do estado do Rio de Janeiro (cerca de oito mil),
sob a forma de carta-resposta4. Embora o retorno destes questionários
impressos tenha sido baixo (178 questionários), isso permitiu que os(as)
profissionais que não dispunham de acesso à Internet pudessem participar da
pesquisa. Além disso, tal mecanismo possibilitou medir a opção de envio do
questionário (o eletrônico ou o impresso), o que, apesar de não ser conclusivo,
4 Foi fundamental nesta etapa o apoio e parceria do CRESS – 7a Região que, em sintonia com as preocupações deste trabalho, percebeu a importância deste tema para a nossa categoria, enviando o questionário, no formato de carta-resposta, por correio, dentro do Jornal Práxis, aos assistentes sociais ativos do estado do Rio de Janeiro. Além disso, em uma edição do referido Jornal anterior ao envio do questionário, foi veiculada uma matéria sobre o tema da pesquisa, já alertando os(as) profissionais para a relevância do tema e sinalizando a existência e importância da pesquisa.
100
pode ser um dado interessante, que ilustra a relação dos(as) profissionais com
o uso das atuais tecnologias.
Como todos(as) os(as) profissionais do estado do Rio de Janeiro
receberam o questionário impresso, tiveram a oportunidade de escolher entre o
envio eletrônico ou o envio pelo correio tradicional, mais demorado e mais
trabalhoso para alguns, porém mais seguro e mais confiável para outros.
Percebeu-se que o índice de retorno foi maior para os(as) assistentes sociais
que responderam o questionário pela versão eletrônica. Isso não é indicador,
no entanto, de uma ampla apropriação e utilização da TI no cotidiano
profissional. Indica, antes, que a parcela de assistentes sociais que teve maior
envolvimento com a proposta da pesquisa e seus objetivos optou por expressar
seu envolvimento e seu reconhecimento da importância do tema pela versão
eletrônica. Assim, não parece ser pertinente considerar que a opção pelo envio
eletrônico demonstre um maior uso da tecnologia pelos(as) assistentes sociais.
Esta compreensão pode ser equivocada, pois o que ela demonstra é que quem
participou mais foram os(as) assistentes sociais que enviaram os questionários
pela Internet. A explicação que talvez seja possível sugerir é que os que mais
participaram da pesquisa são assistentes sociais que valorizaram a sua
importância, os quais costumam ter um uso razoável da tecnologia.
Como já dito, os questionários impressos foram enviados pelo
correio a todos(as) os(as) assistentes sociais do estado do Rio de Janeiro, com
a indicação da possibilidade respondê-lo diretamente na versão eletrônica
disponível na página eletrônica. Além disso, foi construída uma lista com mais
101
de 6000 endereços de correio eletrônico de estudantes e profissionais de todo
o Brasil, para os quais foram enviadas mensagens semanais sobre a pesquisa,
convidando o(a) profissional ou estudante para dela participar, respondendo ao
questionário eletrônico. Foram feitas, também, divulgações junto aos
Conselhos Regionais de Serviço Social do Brasil, ao Conselho Federal de
Serviço Social e à ABEPSS e diversas universidades brasileiras com cursos de
Serviço Social. Este processo inicial de coleta de dados durou pouco mais de
seis meses, tendo começado no final de 2004 e se encerrado em meados de
2005.
Com a coleta de dados em andamento, foi elaborado um sistema de
registro e totalização para tratamento e gerenciamento das informações
produzidas pela pesquisa. Assim, com este pequeno banco de dados foi
possível, além de digitar os dados dos questionários impressos recebidos,
processar e totalizar o conjunto dos dados enviados pelos(as) participantes da
pesquisa. No segundo semestre de 2005 foram digitados os dados dos
questionários impressos enviados pelo correio e, também, elaboradas as
primeiras quantificações dos dados já disponíveis. Um ponto interessante que
merece ser destacado é que os resultados parciais foram divulgados na página
do projeto na medida em que iam sendo produzidos, de modo que os(as)
profissionais e estudantes que participaram da pesquisa pudessem ter um
“retorno” destes dados e ter acesso às informações obtidas, possibilitando um
maior envolvimento com a proposta.
102
2 . 2 . O B S E R V A Ç Õ E S P R E L I M I N A R E S
Antes de ingressar na apresentação dos resultados da pesquisa
realizada convém apontar algumas observações preliminares. A primeira delas
refere-se à grande dificuldade de abordar o tema escolhido, tanto pela
escassez ou mesmo inexistência de dados referentes à presença da TI no
trabalho do Serviço Social, quanto pelo reduzido acervo de textos que realizam
um tratamento do tema. Além disso, cabe observar o baixo número de pessoas
que responderam ao questionário. Apesar de ultrapassar os 1.400
participantes, sua distribuição em termos geográficos, pelos estados, mostra-se
bastante pulverizada, dificultando a captação de tendências que possam ser
projetadas para o conjunto da categoria em termos nacionais.
Para que tal apreensão se operasse com um nível de consistência
mais elevado, considera-se necessária uma maior participação dos estados no
sentido de configurar uma amostra realmente representativa do universo de
profissionais de nosso país. Os estados que efetivamente podem ser
considerados representados na amostra limitam-se a Rio de Janeiro e São
Paulo, com índices relativos que ultrapassam os dois dígitos, enquanto a
maioria (18 estados) possui índices de um dígito apenas. É bom que se diga,
no entanto, que esta observação não tem por objetivo desqualificar a amostra
nem tampouco a importância da pesquisa. Trata-se de uma investigação
inédita e ainda assim de grande importância para construir uma aproximação
inicial ao tema. O que se pretende é demonstrar o real alcance desses
103
resultados, bem como a seriedade e a responsabilidade que o rigor
metodológico buscado impõe.
De fato, o que se tentou fazer com o recurso aos dados coletados a
partir da aplicação do questionário é apresentar considerações que na maior
parte das vezes são apenas hipóteses de trabalho e não afirmações
conclusivas sobre o assunto. São esboçadas, assim, tentativas de explicação,
algumas das quais produzidas com base em comparações entre as respostas
dos(as) próprios(as) participantes. A propósito, considera-se que a comparação
que talvez seja a mais relevante é a efetuada entre os que participaram da
pesquisa e os que dela não participaram. Isso significa dizer que os(as)
profissionais e estudantes que optaram por participar da iniciativa proposta o
fizeram por valorizar e atribuir importância ao tema, sem o que provavelmente
não se sentiriam estimulados(as) a participar.
A percepção desta postura de valorização da TI pelos(as)
participantes é fundamental para compreender o potencial explicativo dos
dados coletados. A amostra não se refere a uma parcela qualquer de
assistentes sociais, mas a uma parcela que valoriza e considera importante
este recurso, fato que provavelmente induziu a sua participação na pesquisa.
Se a pesquisa é marcada pelo caráter de espontaneidade sem constituir-se
como obrigação, o que pode levar os(as) assistentes sociais a dela participar?
A opinião do pesquisador, reafirma-se, é de que a resposta a esta questão
passa, também, pelo reconhecimento de uma certa valorização da proposta por
parte dos(as) participantes, o que impulsionou a sua participação.
104
Percebeu-se que há uma parcela de profissionais que vem
demonstrando uma certa valorização da contribuição que a TI pode oferecer ao
Serviço Social, tentando, apesar das várias dificuldades existentes, incorporá-la
ao seu trabalho. A existência de parcela da categoria profissional que atribui
importância à TI pode ser sugerida tendo por base os dados especificamente
obtidos no estado do Rio de Janeiro, que mostram que cerca de 7% dos(as)
profissionais de Serviço Social deste estado participaram da pesquisa,
contribuindo para um processo de problematização e reflexão sobre este tema.
Trata-se de um índice que ilustra a presença de uma certa articulação entre o
Serviço Social e a TI, que, a depender das condições historicamente
produzidas, pode caminhar no sentido de sua incorporação ao trabalho
profissional em sintonia com os valores e princípios que fundamentam o projeto
profissional construído pelo Serviço Social ao longo das últimas décadas. O
que não significa, no entanto, que os(as) profissionais que valorizam a TI e
percebem sua importância para a nossa profissão (na opinião do pesquisador
os que se sentiram mais atraídos pela proposta e, por conta disso, efetivaram
sua participação) não encontrem, além da resistência dos(as) colegas,
insuficientes, quando não inexistentes, condições concretas que permitam uma
efetiva apropriação e incorporação da TI ao exercício profissional. Como se
verá, as condições em que se tenta efetivar tal apropriação muitas vezes não
são as mais adequadas, demandando, por parte da categoria profissional, a
reflexão e o debate coletivo em torno desse tema, como uma das formas de
produzir mudanças em tais condições.
105
Tendo por base estas observações, considera-se ser uma postura
mais prudente e adequada não apresentar por objetivo a elaboração de uma
descrição exata e precisa do padrão específico de incorporação da TI ao
trabalho profissional, mas apenas obter pistas e considerações que possam
indicar tendências, sem a pretensão de afirmar a existência ou não de
determinadas realidades ou configurações. Não se pretende realizar uma
análise formalista, tentando enquadrar a realidade nos dados que foram
coletados na pesquisa, já que aquela será sempre mais dinâmica e complexa
do que estes últimos. O que se busca é vislumbrar, a partir dos dados
coletados, expressões das tendências presentes na realidade. Captar, na
complexidade do movimento das relações sociais, elementos que possam
indicar caminhos a serem trilhados para se conhecer o potencial que a TI pode
ter para o Serviço Social, no sentido de agregar novas possibilidades aos
processos de trabalho em que o Serviço Social está inserido, e não como
estratégias de substituição tecnológica, empobrecimento ou desqualificação do
seu trabalho.
Tampouco se tem por objetivo a realização de um estudo estatístico
sobre o tema, sobretudo devido às dificuldades e limites nessa matéria
assumidas desde já pelo pesquisador. O recurso aos gráficos, índices e
percentuais, realizado com certa freqüência ao longo deste trabalho, se dá no
sentido de tentar evidenciar as expressões e tendências que se considera mais
importantes a serem visualizadas e retidas, sem qualquer privilégio a um
tratamento exclusivamente quantitativo do tema em pauta.
106
É com esta preocupação que se apresenta a última observação,
referente ao tratamento quantitativo dos dados. Ao longo da exposição dos
resultados, será apresentado, inicialmente, um gráfico com o valor absoluto das
respostas oferecidas pelos(as) participantes, distribuídos pelos segmentos a
que pertencem (profissionais, alunos ou docentes), para, em seguida,
trabalhar-se com os valores relativos, percentuais de cada um dos segmentos
em relação ao total de cada um deles. Os indicadores absolutos serão exibidos
em gráficos de barras empilhadas, em que se pode verificar a contribuição de
cada segmento (ou valor) para o total absoluto de uma categoria de dados,
mostrando os relacionamentos desses segmentos com o todo. Já os
indicadores relativos (percentuais dos valores para cada um dos segmentos)
serão exibidos em gráficos do tipo barras agrupadas, comparando os valores
de cada um dos segmentos de uma categoria específica.
Pretende-se, com isso, preservar, num primeiro momento, o grau
absoluto da contribuição de cada um dos segmentos da categoria que
participou da pesquisa, e evidenciar, em um momento posterior, a contribuição
relativa que os segmentos possuem para conhecer o objeto de análise. Neste
momento, o objetivo será captar as variações presentes no interior de cada
segmento e tentar estabelecer comparações entre eles. Tais comparações, no
entanto, terão caráter meramente ilustrativo, já que a base de dados de cada
um destes segmentos é bastante diferenciada: enquanto os(as) docentes, por
exemplo, são 72, os(as) assistentes sociais totalizam 1.111, um universo
quinze vezes maior do que o dos(as) primeiros(as). Isso significa que mesmo
que 90% dos(as) docentes respondam “sim” a uma pergunta e apenas 10%
107
dos(as) profissionais indiquem a mesma resposta, ainda assim, o número
absoluto de profissionais que responderem “Sim” será quase o dobro do
número de docentes. Como o objetivo aqui não é atribuir o caráter de verdade
absoluta às tendências captadas, mas apenas oferecer pistas interpretativas,
julgamos interessante a realização das comparações, tomando o cuidado, é
claro, de não obscurecer a realidade, ao invés de descortiná-la. Tendo feito
estas breves considerações, passemos à apresentação dos comentários e
reflexões realizados a partir dos dados disponíveis.
2 . 3 . B R E V E P E R F I L D O S ( A S ) P A R T I C I P A N T E S
Percebeu-se que, se os dados não revelam de imediato a dinâmica
da realidade analisada, eles possibilitam a captação de alguns traços mais
gerais de seu processo, dando origem a esboços interpretativos. Desta forma,
apresenta-se, inicialmente, um perfil geral dos(as) participantes da pesquisa,
para, em seguida, tecer considerações sobre temas específicos capazes de
auxiliar a contextualização e a interpretação das conexões estabelecidas entre
o Serviço Social e a TI.
A pesquisa contou com a participação de 1.440 pessoas, de mais de
250 cidades de 27 estados brasileiros. Verificou-se que em relação à
distribuição geográfica regional, o maior índice recaiu sobre a região sudeste.
Com pouco mais de 1.000 participantes, esta região concentrou 75% dos(as)
participantes da pesquisa, seguida pela região sul, com 14%, nordeste, 7%,
108
centro-oeste, 2%, norte, 1%. Houve também a participação de pessoas de
outros países, que totalizaram apenas 1%.
Gráfico 01 - Regiões geográficas dos participantes d a pesquisa - Total de casos: 1440
28
105
16
15
1080
196
0 200 400 600 800 1000 1200
Centro-oeste
Nordeste
Norte
Outro país
Sudeste
Sul
Fonte: SSTI, 2005.
Como já sinalizado, apesar do número de participantes ser de 1.440,
a maior concentração se dá em poucos estados, com uma grande pulverização
de participantes pelos demais, principalmente da região norte e nordeste.
Dentre as maiores concentrações de participantes, coube ao Rio de Janeiro o
índice de 59,4%. São Paulo contou com 11,0% e Rio Grande do Sul com 6,0%.
Os demais estados ficaram com índices de participação abaixo de 5%.
Participaram da pesquisa apenas assistentes sociais (incluindo
docentes) e estudantes de Serviço Social, tendo em vista que o objetivo era
apreender a relação do Serviço Social com a tecnologia a partir das respostas
109
dos(as) próprios(as) integrantes da categoria profissional, não sendo permitido
que outros(as) profissionais, ainda que vinculados(as) à profissão, dela
participassem. Foi o caso, por exemplo, de professores(as) de cursos de
Serviço Social que não são assistentes sociais e funcionários(as) não
assistentes sociais de setores de Serviço Social de unidades de saúde, ou
integrantes de equipe multidisciplinar, que, apesar de relatarem possuir
razoável conhecimento sobre as questões postas à profissão, não puderam
responder o questionário, pois não se enquadravam nos critérios de definição
da amostra escolhidos pelo pesquisador.
Tais critérios tiveram como diretriz norteadora a tentativa de captar
as percepções da própria categoria profissional acerca de sua relação com a
TI, o grau de valorização desta tecnologia e a sua presença no Serviço Social.
A fonte de dados definida para buscar essa percepção foi a própria categoria
profissional, que, a partir de suas respostas, pôde indicar elementos preciosos
para a construção de uma aproximação inicial ao tema. Desta forma, o gráfico
a seguir mostra a distribuição dos(as) participantes pelos segmentos que
compõem a categoria profissional.
110
Gráfico 02 - Categoria do(a) participante - Total d e casos: 1440
257
1111
72
0 200 400 600 800 1000 1200
Estudante
Assistente Social
Docentes
Fonte: SSTI, 2005.
O maior índice de participação foi apresentado pelos(as)
profissionais de campo, que representam 77% da amostra, enquanto os(as)
estudantes concentram-se em 18% e os(as) docentes concentram-se nos 5%
restantes. Tal distribuição, de uma certa forma, já era esperada: um maior
número de participantes entre os(as) profissionais, e números mais reduzidos
para professores(as) e estudantes. De fato, a maior parcela de nossa categoria
é formada pelos(as) profissionais de campo. Isso, por outro lado, não retira a
importância da expressiva participação dos(as) estudantes, que demonstraram,
ao participar da pesquisa, estar em sintonia com as preocupações dessa
pesquisa. Cabe, ainda, mencionar a importância dessa maior presença dos(as)
profissionais para a pesquisa, já que um de seus objetivos é identificar a
utilização da TI não no Serviço Social de forma genérica, mas, sobretudo, no
cotidiano do exercício profissional, tendo por preocupação central refletir sobre
111
a importância e potencialidade desta tecnologia para este exercício, o que será
mais bem trabalhado no próximo capítulo.
A presença considerável dos(as) estudantes pode demonstrar a
existência de pelo menos uma curiosidade acerca da contribuição que a TI
pode oferecer à profissão, sobretudo no que se refere à problematização do
tema na formação profissional. Trata-se de um aspecto de grande importância,
já que os(as) alunos(as), ao passarem pela experiência de estágio, podem
contribuir para a demonstração do potencial da TI para o desenvolvimento e
aprimoramento dos processos de trabalho nos quais, juntamente com seus
(suas) supervisores(as) e demais profissionais, participam, ainda que na
condição diferenciada de estagiário(a). É possível, portanto, verificar uma
tendência de valorização desta temática por parte dos(as) estudantes,
valorização essa indicada pela própria participação na pesquisa. Chama, ainda,
a atenção o fato de que em alguns estados o número de estudantes que
responderam ao questionário foi maior do que o de profissionais, como foi o
caso de Amazonas (três estudantes e nenhum profissional), Paraná (46
estudantes e 25 profissionais) e Sergipe (cinco estudantes e dois profissionais).
Em relação à idade, verificou-se que 63,8% dos(as) participantes
concentram-se na faixa etária que vai até os 40 anos, enquanto 25,1% dos(as)
participantes relataram ter entre 41 e 50 anos e 11,1% mais de 51 anos.
112
Gráfico 03 - Distribuição absoluta dos participante s por idade e segmento - Total de casos: 1440
0 100 200 300 400 500 600
de 10 a 20
de 20 a 30
de 30 a 40
de 40 a 50
de 50 a 60
de 60 a 70
Fonte: SSTI, 2005.
Alunos
AS
Docentes
Docentes 0 4 20 29 13 6
AS 0 318 347 314 110 22
Alunos 11 179 39 19 9 0
de 10 a 20 de 20 a 30 de 30 a 40 de 40 a 50 de 50 a 60 de 60 a 70
Como já era de se esperar, os(as) estudantes apresentaram uma
maior concentração nas faixas que vão até os 30 anos de idade (74%),
enquanto os(as) docentes, por outro lado, concentram-se nas faixas que vão
dos 30 aos 60 anos (86%). Já entre os(as) assistentes sociais que não se
encontram vinculados(as) à docência, sua maior concentração reside na faixa
entre 20 e 50 anos (88,1%). Se forem retirados(as) da amostra os(as)
estudantes (grupo mais jovem) e considerar-se apenas os(as) assistentes
sociais, ainda assim, é possível perceber uma menor quantidade de
participantes das faixas mais elevadas: 29% têm entre 20 e 30 anos, 32% entre
31 e 40 anos, 28% entre 41 e 50, e 12% acima de 50 anos. Partindo-se do
pressuposto de que os(as) participantes da pesquisa o fizeram por valorizar a
113
TI, atribuindo-lhe importância e significado no trabalho profissional, pode-se
perceber uma nítida tendência de maior valorização nas faixas de idade mais
jovem, nas quais se constata uma maior concentração de participantes,
reforçando a idéia comumente difundida de que os jovens vêm demonstrando
maior capacidade de uso e envolvimento com as novas tecnologias existentes
(Carneiro, 2002).
Gráfico 04 - Distribuição relativa dos participante s por idade e segmento - Total de casos: 1440
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0%
de 10 a 20
de 20 a 30
de 30 a 40
de 40 a 50
de 50 a 60
de 60 a 70
Fonte: SSTI, 2005.
Docentes
AS
Alunos
Docentes 0,0% 5,6% 27,8% 40,3% 18,1% 8,3%
AS 0,0% 28,6% 31,2% 28,3% 9,9% 2,0%
Alunos 4,3% 69,6% 15,2% 7,4% 3,5% 0,0%
de 10 a 20 de 20 a 30 de 30 a 40 de 40 a 50 de 50 a 60 de 60 a 70
Em certa medida, os dados reiteram observações referentes às
diferenças em relação à faixa etária na forma de incorporação da TI. Kachar
114
(2003), por exemplo, aponta que estudos que comparam jovens, adultos e
idosos na interação com a informática sinalizam a existência de tendências e
formatos diferenciados de uso e incorporação deste recurso, demonstrando a
importância do “dimensionamento de estratégias de ensino e aprendizagem
delineadas de acordo com as características e condições da população”,
respeitando-se, nesse processo, aspectos como ritmo e tempo para aprender,
limitações físicas (auditivas, visuais) e cognitivas (memória, atenção etc.)
(p.65). Evidencia-se que a faixa etária constitui-se como uma variável
importante na apreciação tanto da valorização que o Serviço Social confere à
TI e da sua adequada incorporação ao trabalho profissional. Há uma tendência
de os indivíduos mais jovens demonstrarem uma maior valorização da TI,
tendo em vista o forte apelo que esta faz a valores e atitudes comumente
considerados modernos e inovadores.
A percepção deste fator nos dados coletados torna-se possível
quando, ao comparar-se o quantitativo de participantes de cada uma das faixas
etárias, verifica-se a baixa participação na pesquisa dos(as) participantes com
idade mais elevada. Verifica-se a incidência de uma adesão diferenciada dos
integrantes da categoria profissional à pesquisa, expressa pela variação da
freqüência de cada uma das faixas etárias, com um nítido predomínio dos
setores mais jovens. Entre os(as) participantes, no entanto, não há muita
variação na valorização e no uso da TI relatados. Isso poderia ajudar a explicar
a relativa aproximação entre as respostas dos(as) participantes
independentemente de sua faixa etária. Apenas para ilustrar, verificou-se, por
exemplo, que 68% dos(as) assistentes sociais que possuem entre 20 e 30 anos
115
consideram o computador um instrumento importante para o seu trabalho,
enquanto que para as outras faixas etárias (31 a 40; 41 a 50 e 51 a 60) não há
mudanças significativas nos índices (71%, 71% e 72%, respectivamente). A
diferenciação na valorização por conta da faixa etária, portanto, acontece, só
que não pode ser captada a partir das respostas oferecidas pelos(as)
participantes, exatamente pelo fato de que tais participantes consideram esta
tecnologia importante.
Após a apresentação deste breve perfil dos(as) participantes,
passemos às considerações sobre as conexões entre a TI e o Serviço Social,
levantadas a partir dos dados coletados.
2 . 4 . G Ê N E R O , T I E S E R V I Ç O S O C I A L
No que se refere ao sexo, 94,4% dos(as) participantes são
mulheres, expressando a esmagadora maioria feminina da profissão. Verificou-
se que apenas 80 homens (48 assistentes sociais, 26 estudantes e 06
docentes) responderam ao questionário, enquanto as mulheres totalizaram
1360 (1063 assistentes sociais, 231 estudantes e 66 docentes).
116
Gráfico 05 - Sexo dos participantes - Distribuição absoluta - Total de casos: 1440
0 500 1000 1500
Masculino
Feminino
Fonte: SSTI, 2005.
Alunos
A.S.
Docentes
Docentes 6 66
A.S. 48 1063
Alunos 26 231
Masculino Feminino
Em relação aos percentuais, verifica-se um maior predomínio das
mulheres nos segmentos de assistentes sociais (95,7%) e docentes (91,7%).
Entre os(as) estudantes, embora o percentual de mulheres seja ainda elevado
(89,9%), foi constatada uma variação positiva na quantidade de homens em
relação aos outros segmentos. Enquanto os homens representam, entre os(as)
estudantes 10,1%, entre os(as) profissionais eles correspondem a 4,3% e entre
os(as) docentes, 8,3%.
117
Gráfico 06 - Sexo dos participantes - Distribuição relativa - Total de casos: 1440
0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%
Masculino
Feminino
Fonte: SSTI, 2005.
Docentes
A.S.
Alunos
Docentes 8,3% 91,7%
A.S. 4,3% 95,7%
Alunos 10,1% 89,9%
Masculino Feminino
Assim, como se constata no gráfico acima, os homens, em termos
relativos, estão mais presentes no segmento de estudantes, que se destaca,
também, pelo fato de ser ocupado por pessoas de faixa etária mais jovem;
enquanto as mulheres se fazem mais representadas no segmento de
profissionais. Percebe-se que 33% dos homens encontram-se no segmento de
estudantes, enquanto nesse mesmo segmento, encontram-se apenas 17% das
mulheres. Pode-se sugerir, a partir desses índices, a existência de maiores
valorização e envolvimento de alunos do sexo masculino com o tema TI, onde,
de certa forma, sexo e idade parecem estabelecer um tipo específico de
articulação.
118
Apesar de não se considerar que os índices obtidos possam refletir
qualquer tendência de valorização/desvalorização do tema por quaisquer dos
segmentos ou dos sexos (antes, apresentam apenas pistas que merecem
tratamento mais aprofundado), parece ser possível indicar que o gênero,
categoria que estrutura e organiza relações sociais, faz-se presente,
configurando um determinado perfil.
No entanto, cabe perguntar porque há um maior percentual de
homens entre os(as) estudantes e não entre os(as) profissionais. Talvez possa
ser útil a impressão de que nem sempre os homens que ingressam no Serviço
Social chegam a concluir o curso, tendo em vista exatamente a esmagadora
maioria feminina da profissão, o que, socialmente, faz com que essa seja
considerada uma “profissão feminina”. No trabalho de conclusão de curso
(TCC) de graduação deste pesquisador (Veloso, 1996), foi elaborada uma
reflexão sobre o estudante de Serviço Social do sexo masculino, constatando-
se que, muitas vezes, a permanência do aluno homem no curso de Serviço
Social encontra-se condicionada pelo acesso a atividades que, de certa forma,
são consideradas de maior importância acadêmica e profissional e, por isso,
lhe propiciam um certo status, como participação em pesquisas com bolsa de
iniciação científica, monitorias, movimento estudantil, estágios em empresas de
renome etc.
O acesso a estas atividades era utilizado como justificativa para
permanência no curso mais pelos homens do que pelas mulheres, como se aos
homens fosse necessário um “motivo especial” para continuar no curso de
119
Serviço Social, no qual, a princípio ele “nem deveria estar”, exatamente pelo
fato de ser considerado uma “profissão feminina”. Isso permitiria construir a
hipótese de que, caso não se inserissem em atividades como as citadas acima,
os homens tenderiam, aos poucos, a abandonar o curso e a buscar um outro
tipo de inserção acadêmica ou profissional que lhes oferecesse respostas às
suas “demandas de gênero”. Ajuda a sustentar esta hipótese, por exemplo, as
tentativas de mudança de curso realizadas pelos alunos entrevistados no
processo de construção do referido TCC, demonstrando, já, um certo
descontentamento com o curso escolhido, que poderia ser mantido ao longo
dos períodos e mesmo após a sua formatura, o que teria por conseqüência a
opção pelo não exercício da profissão.
Se essas considerações não oferecem uma explicação contundente
sobre a incidência dos índices verificados (embora possam ajudar a elaborar
hipóteses explicativas mais consistentes), elas demonstram a vigência, neste
âmbito, do gênero, estruturando, organizando e mediando relações sociais.
Assim, pode-se perceber a presença do gênero na forma pela qual se
estabelece a incorporação da TI pelo Serviço Social, constatando que as
escolhas e opções feitas por profissionais e alunos(as) sofrem influência da
dimensão de gênero presente nas relações sociais. Além disso, percebe-se,
também, que o gênero produz outras formas de influência para além das
apontadas até aqui. Na questão da incorporação da TI ao trabalho profissional,
por exemplo, atua não apenas na constituição de obstáculos ou resistências à
absorção da tecnologia, no plano mais imediato do trabalho profissional, mas,
120
também, na própria caracterização de sua importância e relevância para o
projeto profissional.
Hirata (2002) sinaliza a existência de uma relação diferenciada dos
homens e das mulheres com a técnica, o que faz com que as novas
tecnologias sejam incorporadas de forma distinta, com conseqüências diretas
sobre a qualificação. Ao levantar a questão da maneira com que a tecnologia
afeta a organização, os postos e a qualificação do trabalho se a mão-de-obra
for masculina ou feminina, a autora observa uma segregação tecnológica dos
homens e das mulheres que vem, cada vez mais, se reproduzindo ao longo do
tempo. Ressalta que as “abordagens assexuadas da tecnologia” (p.198)
impedem a percepção de uma “apropriação masculina da tecnologia, que
estaria na origem da relação diferenciada das tecnologias de acordo com o
sexo” (p.199), ocasionando uma forte ausência das mulheres dos postos
técnicos e uma grande distância dos equipamentos caros e competitivos.
Com base em pesquisas sobre a divisão sexual do trabalho
realizadas em empresas do Brasil, França e Japão, Hirata destaca o
predomínio entre as mulheres de um certo tipo de máquinas que demanda
delas uma grande quantidade de trabalho manual, sem maiores necessidades
de qualificação, enquanto aos homens são conferidas atividades mais
valorizadas e qualificadas, onde predomina o uso de tecnologias mais
avançadas. Com isso, a autora constata que “o sexo da mão-de-obra varia de
acordo com o nível de automação e de qualificação” (p.201), e que “assiste-se
a um aumento da qualificação masculina e a uma redução maciça da
121
qualificação feminina” (p.203), concluindo que a tecnologia não leva
necessariamente a uma evolução do trabalho, mas, sobretudo, abre diversos
campos possíveis de evolução.
Assim, de acordo com a autora, qualquer estudo desta questão que
não leve em conta a variável sexo pode ser muito discutível, tendo em vista
que as conseqüências das inovações técnicas podem ser opostas para as
mulheres e para os homens. Ao mesmo tempo em que a entrada de mulheres
em um ramo automatizado foi acompanhada da desqualificação de uma parte
dos postos de trabalho existentes, a desqualificação de alguns postos permitiu
a entrada das mulheres em estabelecimentos em que antes a mão-de-obra era
inteiramente masculina. Por outro lado, naqueles ramos em que mulheres
predominavam amplamente, a incorporação tecnológica ocasionou a
introdução de homens, que passaram a ficar responsáveis pelo seu controle. É
neste sentido que Hirata irá reforçar a tese de que as novas tecnologias não
abalaram a divisão sexual do trabalho, e que, “uma vez que uma máquina seja
considerada complexa, os homens se reservam o controle dela” (Perrot, apud
Hirata, 2002, p.211).
Como utilizar essas considerações para pensar a incorporação da TI
ao Serviço Social? Em primeiro lugar, é bom lembrar que as observações
apontadas por Hirata referem-se aos impactos que a tecnologia vem tendo
sobre a ocupação e qualificação das mulheres, ressaltando que a divisão
sexual do trabalho impõe condicionantes à sua incorporação e exerce efeitos
diretos sobre tais impactos. Ao pensar o Serviço Social, percebe-se que esta
122
profissão está inscrita na divisão sexual do trabalho e, por conta disso, encerra
uma incorporação da TI por ela condicionada. A “apropriação masculina da
tecnologia”, indicada por Hirata, pode constituir-se como um dos fatores da
pouca incidência da TI na categoria profissional, ocasionando a ausência de
reflexão sobre a sua importância e o seu potencial estratégico. Neste sentido,
verifica-se a presença do gênero na forma pela qual a TI vem sendo
incorporada ao Serviço Social. Trata-se de uma categoria relevante para ajudar
a compreender as dificuldades apresentadas pela maioria dos(as) profissionais
na incorporação da TI.
A pouca incidência de uma efetiva incorporação da TI ao Serviço
Social, gerida e controlada pelos(as) próprios(as) profissionais, e a
conseqüente ausência de impactos expressivos sobre o trabalho profissional,
as quais o gênero ajuda a explicar, não significa, no entanto, que o Serviço
Social esteja imune aos efeitos e conseqüências gerados pela incorporação da
TI a processos de trabalho mais gerais em que ele esteja inserido, como se
verá no próximo capítulo. Tal incorporação pode ocorrer de forma autoritária e
reducionista, sem (ou com poucas) possibilidades de participação dos sujeitos
(embora com forte apelo à sua colaboração) no sentido de definir a melhor
forma de se conduzir o processo de incorporação da TI.
É o caso, por exemplo, do processo de introdução de novas
tecnologias informacionais na área de empresa. Freire (2003) aponta que em
uma das empresas por ela pesquisadas a duração do atendimento do Serviço
Social, na estruturação e programação do sistema geral de registro de
123
atendimentos, foi limitada a apenas trinta minutos. Assim, independentemente
do tipo de demanda, características do usuário, procedimentos necessários,
dentre outros aspectos, o atendimento teria que durar, obrigatoriamente, trinta
minutos. Se, como diz a autora, por um lado, a informatização propiciou ganhos
positivos, tais como a redução da carga de tarefas burocráticas e a melhor
organização do atendimento e registro, por outro lado, “através do curto espaço
de meia hora, para atendimento e registro de cada caso, (...) verifica-se a
incorporação da cultura produtivista à frente de eventuais necessidades
humanas singulares” (Freire, 2003, p.88).
Trata-se, portanto, de um tipo de incorporação da TI conduzida a
partir de princípios e valores opostos aos presentes no projeto profissional do
Serviço Social. Tendo em vista a ausência de uma prévia apropriação deste
recurso pelos(as) assistentes sociais em sentido diverso do imposto pela
empresa, estes(as) se viram obrigados(as) a absorver o “pacote” que lhes que
foi destinado. Assim, se o processo de introdução da TI no Serviço Social for
conduzido por agentes externos à profissão, que não coadunem com os
princípios defendidos pela categoria, as conseqüências podem ser
desastrosas, já que a direção a ser seguida será determinada por projetos
alheios, que podem proporcionar uma incorporação forçada e prejudicial aos
valores e princípios profissionais. Nesse sentido, um recurso de potencial
estratégico para o projeto profissional esvazia-se, passando a ser utilizado
como meio de se atingir finalidades diversas daquelas defendidas pela
categoria.
124
Uma postura de incorporação passiva ou forçada da TI, por parte do
Serviço Social, pode não estar muito distante, tendo em vista a pouca
incidência, no debate profissional, de reflexão crítica e de acúmulo técnico
sobre o tema. Corre-se, o risco de a profissão ser vítima de um processo de
incorporação da TI limitada a uma informatização de caráter meramente
tecnicista e instrumentalista, marcada pela presença do novo complexo de
tecnologias, da automação do trabalho, de computadores, impressoras, redes,
Internet, enfim, pelo conjunto de ferramentas existentes, sem, no entanto,
realizar-se de forma subordinada ao projeto profissional, configurando um
acesso dos(as) profissionais à TI na condição de meros usuários ou
consumidores.
Se num primeiro momento essa informatização tecnicista pode gerar
um certo sentimento de maior eficiência, eficácia, polivalência etc., qualidades
comumente associadas aos recursos tecnológicos, em pouco tempo os(as)
profissionais podem ser atingidos(as) por um sentimento de
“desencantamento”, ao perceberem que as tarefas sobre as quais,
anteriormente, detinham controle e geriam com certa autonomia, do ponto de
vista estritamente técnico, agora se encontram controladas por outros sujeitos,
que, com a mediação da tecnologia, imprimem ao trabalho desses profissionais
um outro significado: esvaziam-no de seu sentido original sem promover
inflexões ou mudanças qualitativas que fortaleçam, por exemplo, as
possibilidades de maior acesso às políticas sociais e sem agregar novas
possibilidades aos processos de trabalho.
125
2 . 5 . O A C E S S O À T I
Toma-se como um dos indicadores para se apreciar a presença da
TI no Serviço Social, o acesso que os(as) participantes têm aos recursos e
equipamentos tecnológicos, dentre os quais se destaca o computador. Sabe-se
que o acesso a computadores, por si só, não determina a existência ou a
ausência de uma apropriação da TI por parte da categoria profissional, mas
permite vislumbrar tendências e possibilidades. Toma-se por pressuposto que
a existência de computadores, seja na casa, seja nas instituições em que
os(as) assistentes sociais encontram-se inseridos(as), propicia, em conjunto
com outros fatores, possibilidades de incorporação. Assim, tal existência não
será tomada como sinônimo de apropriação da TI, tendo em vista que se trata
apenas de um dos diversos requisitos necessários a uma efetiva incorporação
deste recurso.
Nesse sentido, foram apresentadas aos(as) participantes perguntas
sobre a existência de computadores, tanto em seu trabalho quanto em sua
residência, considerando tal fato como uma das condições básicas para uma
efetiva incorporação da TI ao Serviço Social. Como resultado, foi percebido que
a grande maioria dos(as) participantes indicou possuir apenas um computador,
tanto no trabalho, quanto na residência. Optou-se, no entanto, por apresentar,
neste momento, apenas os resultados referentes à existência de computadores
nas residências dos(as) participantes, deixando as respostas da pergunta
referente aos locais de trabalho para o próximo capítulo, onde será discutida a
presença da TI no trabalho cotidiano. Vejamos, portanto, os resultados.
126
Gráfico 07 - Quantos computadores possui em casa - Distribuição absoluta - Total de casos: 1440
0 200 400 600 800 1000 1200
Nenhum
Um
Dois
Três
Mais de três
Fonte: SSTI, 2005.
Alunos
ASDocentes
Docentes 0 41 24 6 1
AS 135 816 134 19 7
Alunos 47 189 17 3 1
Nenhum Um Dois Três Mais de três
Verifica-se, como já adiantado, que a grande maioria dos(as)
participantes (72,6%) indicou a existência de um computador em suas
residências e uma parcela bem menor (12,2%) apontou a existência de dois
computadores. Além disso, uma quantidade não desprezível de participantes
(12,6%) relatou não possuir nenhum computador em suas residências, o que
pode ser tomado como um sério limite a um processo de incorporação da TI.
Estes índices devem ser apreciados lembrando-se do pressuposto
com o qual se está trabalhando, o de que os(as) participantes da pesquisa, de
certa forma, são os(as) que valorizam o uso da TI, em decorrência do
estabelecimento de alguma utilização deste recurso. Neste sentido,
127
considerando-se tal pressuposto, os índices adquirem um sentido diferenciado,
já que podem referir-se às indicações daqueles(as) profissionais, estudantes e
docentes que se encontram mais próximos de uma postura de reconhecimento
do potencial e da importância que esse recurso tem para a profissão, e, ainda
assim, pouco mais de 10% não vem tendo acesso a ele. Lembre-se, também,
que mesmo indicando a existência de um computador na residência, isso não
significa que o(a) profissional o tenha como recurso unicamente seu, com
exclusividade sobre seu uso, já que, geralmente, os computadores domésticos
são compartilhados com toda a família. Desta forma, a existência desse
recurso em sua residência, embora seja um fator importante para
contextualizar a incorporação da TI por parte deste(a) profissional, não significa
que este seja efetivamente utilizado pelo(a) profissional. Apresenta-se, agora, a
distribuição das respostas em termos relativos pelos três segmentos.
128
Gráfico 08 - Quantos computadores possui em casa - Distribuição relativa - Total de casos: 1440
Pode se perceber que as respostas indicam o predomínio do contato
dos(as) docentes e profissionais com este tema, sendo que enquanto para
os(as) docentes a diferença entre “Sim” e “Não” é de 43 pontos percentuais,
para os(as) assistentes sociais, é de apenas 4,3 pontos percentuais. Ou seja,
entre os(as) docentes, há uma grande distância entre as respostas “Sim” e
“Não”, demonstrando que esse segmento parece dispor de maiores ou
melhores possibilidades de acesso à reflexão e debate sobre o tema. Assim, se
tanto profissionais quanto docentes relataram ter contato com o tema TI, entre
os(as) docentes o contato relatado aparece em proporções relativas bem
maiores. Em sentido oposto, a maioria dos(as) alunos(as) declarou não ter tido
acesso ao tema, embora a variação presente entre uma resposta e outra não
seja muito elevada.
141
De fato, não é incomum, nos dias atuais, a oferta de atividades
acadêmicas voltadas ao debate sobre a TI. Trata-se de um tema que tem
estado presente na sociedade, mostrando-se como objeto de interesse de
vários atores sociais, dentre eles os(as) assistentes sociais. O problema, no
entanto, aparece no ponto seguinte, quando é perguntado ao(à) participante se
já teve acesso a material, se já leu texto ou participou de evento ou seminário
sobre o tema específico “TI e Serviço Social”, ou seja, sobre materiais que
tratam especificamente desta articulação. As respostas obtidas são as
seguintes.
Gráfico 13 - Já teve acesso a materiais, textos ou participou de eventos sobre o tema “Tecnologia da Informação e Serviço So cial” - Distribuição absoluta - - Total de casos: 1440
0 200 400 600 800 1000 1200
Sim
Não
Não sei responder
Fonte: SSTI, 2005.
Alunos
AS
Docentes
Docentes 29 41 2
AS 174 911 26
Alunos 65 186 6
Sim Não Não sei responder
142
Há um expressivo predomínio da resposta “Não” para o conjunto
dos(as) participantes, demonstrando o existente, mas escasso acesso aos
materiais que tratam da articulação específica entre o trabalho do Serviço
Social e as possibilidades concretas de incorporação da TI por parte da
categoria profissional. Em relação à distribuição dos dados de forma relativa
pelos três segmentos da categoria, percebe-se a existência de resultados bem
próximos ao indicado acima., como demonstra o gráfico a seguir.
Gráfico 14 - Já teve acesso a materiais, textos ou participou de eventos sobre o tema “Tecnologia da Informação e Serviço So cial” - Distribuição relativa - - Total de casos: 1440
Em todos os segmentos, com índices superiores a 90%, a grande
maioria indica não se considerar na condição de “excluído digital”. Verifica-se,
também, que entre os(as) participantes que se consideram “excluídos digitais”,
há uma maior concentração de profissionais, o que pode sugerir a tendência de
que o não acesso à TI seja maior entre eles(as), quando comparados(as) com
os outros segmentos. Considera-se que esta última observação merece um
pouco mais de atenção, pois permite vislumbrar tendências mais próximas da
realidade em que se encontra o Serviço Social, a qual, por sinal, não parece
ser a que se expressa nos gráficos.
Vale considerar a hipótese de que, mais do que o mero acesso, o
importante é realizar uma real apropriação da TI. Ter acesso à Internet e aos
computadores é um passo inicial, indispensável, mas insuficiente. O mero
152
contato propiciado pelo acesso pode não gerar a apropriação efetiva e
adequada da TI. Como lembra Barreto (2004), um sério problema presente no
uso das novas tecnologias é o acesso a elas na condição de usuário ou
consumidor apenas. Isso significa que é possível, por exemplo, que o acesso à
Internet por parte dos(as) assistentes sociais se realize apenas numa
perspectiva de consumo, não havendo, desta forma, uma real incorporação ao
seu trabalho, que lhe possa possibilitar um desenvolvimento e/ou
aprimoramento. Neste sentido, a observação realizada por Souza (2000)
mostra-se relevante, ao apontar a necessidade de se elaborar uma crítica
contundente às posturas que pensam a relação entre Serviço Social e
informática:
“... fundadas ora em uma interpretação acrítica e apolítica da
informática, orientada simplesmente para o uso desse recurso
numa perspectiva integrada ao consumismo, ora a denúncia
pura e simples desse processo. Em ambas versões, o debate
sobre a informática acaba sendo visto como um fenômeno
restrito aos aspectos mais visíveis e óbvios dos novos padrões
de consumo da sociedade contemporânea” (Souza, 2000,
p.258).
Neste sentido, como forma de evitar o que Tapajós (s/d) qualificou
como “perversos efeitos da assimilação acrítica e alienada destas
potencialidades tecnológicas”, que culminam geralmente na “exacerbação
consumista e no uso paripatético” de tais potencialidades (p.15), atenta-se para
o fato de que uma real apropriação da TI depende menos (embora dele não se
possa prescindir) do acesso físico aos equipamentos, e mais da capacidade de
153
absorver criticamente as possibilidades disponibilizadas por esta tecnologia.
Essa capacidade, por sua vez, estará diretamente vinculada à existência de
condições adequadas, dentre elas um processo de formação e qualificação
profissional que estimule e desenvolva as competências teórica, técnica e
política, não se limitando a momentos de capacitação em serviço ou
treinamento. Parafraseando Barreto (2004, p.1192), trata-se de propor um
modo de objetivação da TI que passe pela análise das condições de sua
inserção nos processos de trabalho do Serviço Social, condições necessárias a
sua efetiva incorporação e apropriação em conformidade com os pressupostos
profissionais presentes no projeto profissional.
Não se trata, portanto, apenas de evidenciar, no uso da TI, a
competência tecnológica, mas, também, e fundamentalmente, a competência
crítica que permita uma real apropriação deste recurso com vistas a estimular
modalidades de trabalho alternativas ao tradicionalismo e ao conservadorismo.
Com esse pressuposto, evita-se o risco de dispor-se de tecnologia e não se
conseguir efetivamente utilizá-la, por conta da insuficiência ou inexistência de
profissionais qualificados e de condições objetivas de trabalho que permitam a
criação de novos usos e formas de utilização. A ênfase, portanto, pode recair
na possibilidade de se promover uma integração da TI aos processos de
trabalho nos quais o Serviço Social se faz presente, o que, por outro lado, pode
ser incentivado pela formação profissional e pelo trabalho com o recurso
tecnológico.
154
Faz-se necessário atentar para os modos pelos quais o acesso e o
uso da TI se dão, podendo-se priorizar uma inserção da TI no trabalho
profissional direcionada à melhoria da qualidade dos serviços prestados
aos(às) usuários(as) e ao fortalecimento do trabalho profissional. Considera-se,
portanto, que a “exclusão” que mais deve preocupar a categoria não é a do
mero acesso, mas aquela que impede a profissão de se apropriar do potencial
que a TI pode ter no sentido de contribuir para a construção e consolidação de
uma perspectiva profissional emancipatória, como vem sendo defendida pela
categoria nas últimas décadas.
2 . 7 . O P O T E N C I A L E S T R A T É G I C O D A T I P A R A O S E R V I Ç O S O C I A L
Uma das preocupações presentes neste trabalho é tentar
demonstrar a importância que a TI possui para o Serviço Social, mais
especificamente como um dos fatores que podem contribuir para fortalecer e
consolidar o projeto ético-político profissional construído pelo Serviço Social
brasileiro. Neste sentido, foi formulada e apresentada aos(às) participantes da
pesquisa uma questão sobre este ponto, indagando-os se a TI poderia
contribuir para o fortalecimento de nosso projeto profissional. Foi verificado o
seguinte resultado.
155
Gráfico 17 - A tecnologia da informação pode contri buir para o fortalecimento do projeto ético-político profission al - Distribuição absoluta - - Total de casos: 1440
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Sim, muito
Sim, um pouco
Não
Não sei
Fonte: SSTI, 2005.
Alunos
AS
Docentes
Docentes 63 8 0 1
AS 915 135 11 50
Alunos 202 40 2 13
Sim, muito Sim, um pouco Não Não sei
Como se pode perceber, a distribuição relativa dos dados entre os
diferentes segmentos da categoria demonstra um resultado bem próximo do
apresentado no gráfico anterior.
156
Gráfico 18 - A tecnologia da informação pode contri buir para o fortalecimento do projeto ético-político profission al - Distribuição relativa - - Total de casos: 1440
gestão, 2%. Para finalizar, 75% desses profissionais consideram a TI um
recurso importante para o trabalho do Serviço Social, 70% consideram-na
necessária, 18% consideram-na prioritária e 44% consideram-na estratégica.
Trata-se de um perfil próximo do perfil identificado no conjunto total de
participantes.
Os profissionais que responderam a este segundo questionário
configuram um grupo bastante diversificado, com algum tipo de aproximação
ao uso da TI em seu trabalho, podendo, por isso, oferecer dados interessantes
e representativos para uma abordagem inicial da relação que tem sido
estabelecida entre o Serviço Social e a TI. Quando utilizados no texto, os
depoimentos dos(as) profissionais foram qualificados pelas seguintes
características: idade, sexo, titulação, área de atuação e estado onde trabalha.
Espera-se, com a apresentação destas características, demonstrar a variedade
e diversidade dos depoimentos obtidos, chamando a atenção para os diversos
contextos e particularidades em que foram produzidos. Perceber-se-á, apesar
dessa diversidade, a existência de algo comum nas respostas obtidas, que é
216
exatamente a valorização da TI como fator potencializador do trabalho do
Serviço Social e a indicação da necessidade de investimento por parte da
própria categoria na incorporação desse importante recurso ao trabalho
profissional.
3 . 2 . 1 . A I N F O R M A T I Z A Ç Ã O D O S E R V I Ç O S O C I A L
Antes de apresentar os dados referentes à aplicação da TI ao
exercício profissional, convém ressaltar que alguns(mas) profissionais
relataram não atuar em um “setor” específico de Serviço Social, integrando
equipes de trabalho multi ou interdisciplinares, em gerências, assessorias e
outras formas de atuação nos processos de gestão de políticas sociais. Esses
depoimentos tendem a reforçar o pressuposto de que o Serviço Social insere-
se em processos de trabalho amplos, dos quais, com seu trabalho
especializado, fazem parte, ao invés de possuírem um único e exclusivo
processo de trabalho.
“O ‘setor’ (na realidade, um programa) no qual trabalho, não é específico do Serviço Social, mas envolve uma equipe de técnicos de nível superior. Este setor é informatizado, para o uso de toda a equipe técnica” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Não trabalho em um setor de Serviço Social. Sou assistente social e trabalho em um setor de informações sócio-econômicas com outros profissionais. Este setor está informatizado” (32 anos, sexo feminino, mestrado, gestão - RS).
“O setor onde trabalho não é ‘setor de Serviço Social’, mas faço parte de uma equipe que dispõe de um assistente social. E esta equipe está informatizada” (47 anos, sexo feminino, especialização, gestão - RS).
217
“Não havia necessariamente um setor, mas estava informatizado, porém sem acesso a Internet” (29 anos, sexo masculino, mestrado, assistência - AL).
“Trabalho na Assessoria de uma Secretaria Municipal da área da Assistência Social” (54 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
“O setor em que trabalho não é específico do Serviço Social. Trabalho em equipe multidisciplinar num setor de gerenciamento” (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
“Primeiro, eu não trabalho, especificamente, em um setor de Serviço Social. Eu trabalho na Coordenação do Programa Bolsa Família da FUNLAR RIO, uma Fundação ligada à SMAS e Secretaria Extraordinária do Deficiente Cidadão, cujo foco de trabalho é na pessoa com deficiência. Minha coordenadora é uma fonoaudióloga e em nossa sala há um computador com dois monitores” (37 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
“O Serviço Social faz parte de um departamento de ações de cidadania. Não existe um setor de Serviço Social informatizado. Neste setor não há atendimento direto à população, trabalha-se com projetos” (46 anos, sexo masculino, mestrado, assistência - RS).
Como já sinalizado anteriormente, a preocupação neste trabalho
reside em verificar em que medida o uso da TI pode potencializar o trabalho do
Serviço Social. Por este motivo, entendeu-se que o trabalho do Serviço Social
encontra-se delimitado pelo que é chamado nas instituições de setor, seção ou
departamento de Serviço Social. Tal postura visa enfatizar a atuação do
Serviço Social como uma equipe de trabalho situada num determinado
contexto institucional. Isso não significa, no entanto, desconsiderar que
muitos(as) profissionais vêm integrando equipes multidisciplinares que lhes
demandam o exercício de atribuições e competências inerentes ao trabalho
profissional. A postura de valorização da equipe de Serviço Social não significa
a desvalorização de outras modalidades de inserção profissional, mas apenas
reforça que o foco principal de atenção da pesquisa reside na potencialidade
218
da TI para o trabalho do Serviço Social nestes termos, reconhecendo que um
de seus espaços importantes, embora não exclusivo, é o setor de Serviço
Social.
Como um dos elementos para avaliar a presença da TI no trabalho
do Serviço Social serão tomados os recursos mais diretamente ligados à
informática, que expressam os possíveis processos de informatização pelos
quais os setores de Serviço Social podem passar. Percebeu-se que grande
parte (72%) dos(as) assistentes sociais indicou que o setor em que trabalham
está informatizado, como se verifica no gráfico a seguir, demonstrando que
houve, nestes setores, algum tipo de incorporação da TI, embora, como já
apontado, a mera presença de computadores ou programas não signifique,
necessariamente, que sua apropriação consistente e crítica tenha ocorrido.
Gráfico 26 - O Setor de Serviço Social em que você trabalha está informatizado? - Total de casos: 93
26
67
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Não
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
219
Por informatização entende-se a presença de um conjunto mínimo
de recursos tecnológicos, na maioria computadores, dos quais os(as)
profissionais de Serviço Social podem lançar mão para planejar, executar e
avaliar suas atividades profissionais. Assim, pode-se dizer que o Serviço Social
encontra-se informatizado quando dispuser minimamente de tais recursos.
A mera existência de um processo de informatização e a simples
presença de recursos tecnológicos, no entanto, não significam que a TI tenha
sido adequadamente incorporada ao trabalho, sendo necessário, para isso, que
seu uso não esteja restrito apenas à automatização de tarefas e atividades ou
à substituição de profissionais por computadores ou máquinas. Uma outra
forma de se pensar a incorporação da TI refere-se aos efeitos que pode
proporcionar de economia de tempo e de recursos, como racionalização do
trabalho, ou como fator gerador de competitividade, produtividade, dentre
outros princípios representativos da lógica capitalista produtivista e
quantitativista que toma conta dos processos de gestão contemporâneos, tanto
públicos quanto privados. Mais do que buscar a satisfação de interesses
gerenciais, cabe ao Serviço Social se preocupar em adquirir condições mais
favoráveis à satisfação dos interesses dos seus usuários e usuárias, sendo a TI
um recurso importante nesse sentido. Trata-se, portanto, de uma compreensão
que se aproxima do que afirma Albuquerque (1995):
“A informática hoje não pode ser considerada apenas um
processo de registro, processamento e distribuição imediata de
informações, uma tecnologia que serve ao capitalismo global.
Precisa ser utilizada como um instrumento decisivo de
democratização, um meio de socialização de informações e
220
decisões, uma garantia de democracia cultural para a
população à margem dos processos de modernização. Pode
reforçar o seu poder de compreensão e controle sobre a
realidade” (p.298).
De forma geral, os(as) profissionais indicaram a existência de um
processo de informatização precário, parcial, em fase de implantação,
manifestando apenas uma tentativa ou intenção de se incorporar ao trabalho o
potencial oferecido pela TI, tentando tirar de seu uso ganhos e resultados
positivos para o trabalho. Esta intenção, no entanto, muitas vezes aparece de
forma conturbada e confusa, demonstrando que os(as) profissionais não têm,
ainda, conhecimento mais preciso acerca das noções e significados presentes
no campo da TI, o que pode ampliar os obstáculos para o reconhecimento sua
importância para o trabalho.
“O que é o Serviço Social informatizado? É a nossa sistematização e trabalho no computador? É usar recursos do computador para nossos instrumentais, projetos, pesquisas (com uso da Internet)etc?” (37 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
É possível, no entanto, verificar a incidência de uma postura que
questiona a informatização conduzida nos setores de Serviço Social, indicando
uma tentativa de compreender o computador como um instrumento que pode
propiciar modos de uso que ultrapassem a mera digitação, consulta a recursos
ou processos, envio de mensagens etc. Embora não seja explicitado,
alguns(mas) profissionais parecem apontar para uma compreensão de
informatização que tende a se aproximar da perspectiva de potencialização do
exercício profissional que vem sendo apontada neste trabalho, que pode
221
superar um uso meramente burocratizado, como se pode notar nos
depoimentos a seguir.
“A colocação do computador em nossa sala se deu em outubro de 2005. Já a informatização...” (37 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
“O serviço ainda não está informatizado. Apenas acessamos recursos, enviamos mensagens eletrônicas, digitamos textos, documentos etc” (47 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
“Eu trabalho em uma unidade de saúde ligada ao governo do estado de São Paulo. Posso afirmar que não está informatizado, apesar dos agendamentos serem feitos por computador (o computador é um 486)” (44 anos, sexo feminino, especialização, saúde - SP).
“Bem, temos na sala do Serviço Social computador, com impressora e acesso a Internet, mas os procedimentos ainda não foram informatizados” (35 anos, sexo feminino, especialização, saúde - TO).
“Não sei se posso dizer informatizado, tendo em vista o fato de que a equipe interdisciplinar, que conta com, além de nove profissionais de outras áreas, um assistente social e duas estagiárias, possui um computador, sem acesso a Internet” (38 anos, sexo feminino, especialização, criança/adolescente - RS).
“O setor tem computadores, mas não tem um sistema de software para o Serviço Social. Em uma primeira fase participamos de uma discussão, mas não foi em frente” (44 anos, sexo feminino, doutorado, saúde - RJ).
Nota-se a indicação, por parte de alguns(mas) profissionais, de uma
certa recusa em tomar a noção de informatização como mera existência do
computador, esperando algo mais de tal noção. Parecem, portanto, sinalizar
que a existência de computadores ou outros recursos da TI no local de
trabalho, não significa que tenha havido, de fato, um processo de incorporação
da TI como recurso capaz de potencializar o trabalho dos(as) assistentes
222
sociais. No entanto, embora não possa ser equiparada à mera informatização,
essa incorporação não pode dela prescindir.
Vários problemas são apontados pelos(as) profissionais para indicar
as dificuldades presentes na construção de um processo de apropriação da TI.
Os mais citados são falta de recursos, falta de vontade política, instalações
inadequadas e resistência dos(as) profissionais. Questões como falta de
estrutura física e inexistência de equipamentos adequados e suprimentos
foram citados de forma mais recorrente, e, de acordo com os(as) profissionais,
podem criar muitas dificuldades para que o processo de incorporação da TI ao
Serviço Social se efetive.
Pode-se perceber que os(as) assistentes sociais indicam vários
fatores que poderiam propiciar a existência de uma incorporação da TI ao
trabalho. Dentre eles se destacam: interesse da instituição e do gestor;
existência de equipamentos e recursos institucionais; existência de recursos
humanos qualificados, que possam implantar e dar continuidade ao processo
de incorporação da TI; maior empenho por parte das chefias de Serviço Social
na aquisição de recursos e implantação de aplicativos específicos para uso do
Serviço Social. Os depoimentos a seguir, permitem verificar tais observações.
“Existem pontos de rede, mas o computador em uso é pessoal, a impressora está quase sempre inoperante por falta de tinta” (50 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Temos apenas dois computadores: um novo e um velho para a utilização de toda a equipe - aproximadamente 65 pessoas” (47 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
“Faltam máquinas compatíveis com os programas a serem instalados e
223
acesso a Internet. O que temos hoje são computadores antigos muito lentos” (53 anos, sexo feminino, especialização, criança/adolescente - RJ).
“No meu local de trabalho há um computador que não tem condições de uso pela precariedade do equipamento e o mesmo também não acessa a Internet, por não ter ainda ponto de ligação no local. Creio que os equipamentos adequados e acesso à informática melhorariam em muito nossas condições de trabalho” (43 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RS).
“Há um computador na secretaria, para uso de todos. Mas vive com problemas, impossibilitando seu uso. Criamos vários arquivos/documentos de uso próprio do setor de Serviço Social, mas com o defeito do computador, não podemos avançar” (34 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
“Falta adequação do espaço físico, instalação de computadores, treinamento e interesse” (53 anos, sexo feminino, graduação, previdência - RJ).
“Existem diversas lacunas, desde a implantação da rede, como compra dos equipamentos necessários ainda não alocados na proposta orçamentária deste ano. Temos computadores na secretaria, mas os assistentes sociais não contam com o mesmo, de maneira contínua, em seus trabalhos” (38 anos, sexo feminino, doutorado, assistência - SP).
“Falta termos acesso ao equipamento completo (computador com impressora), pois a unidade já possuía instalações necessárias, inclusive na sala do Serviço Social” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
Percebeu-se, também, a existência de uma problematização, por
parte de alguns(mas) profissionais, da imposição da informática ao Serviço
Social. Os depoimentos demonstram a realização de um questionamento das
reais finalidades presentes nos processos de informatização, aos quais, por
vezes, encontram-se sujeitos. Sinalizam que nem sempre tais processos são
conduzidos com vistas à melhoria dos atendimentos, mas apenas para agilizar
processos burocráticos e/ou administrativos, como ilustram os depoimentos a
seguir.
224
“Realmente não sei se pensam na informatização para otimização do trabalho técnico, mas percebo muito mais como uma diminuição da sobrecarga do trabalho administrativo do pessoal desta área. Esta tal informatização se deu pela sobrecarga de material para digitação para o profissional da área administrativa” (38 anos, sexo feminino, especialização, criança/adolescente - RS).
“A informatização deu-se devido à necessidade de controles, como rotatividade, acidentes de trabalhos, bancos de dias, afastamentos por doenças, controle de horas de treinamentos, relatórios gerenciais etc” (47 anos, sexo feminino, especialização, empresa - RJ).
Trata-se de uma postura que precisa ser identificada e criticada,
tendo em vista a superação de uma utilização da TI que tenha por base o
reforço de valores favoráveis aos segmentos dominantes em nossa sociedade.
O Serviço Social pode tentar construir uma forma de apropriação do recurso
tecnológico tendo por objetivo a melhoria dos serviços prestados aos usuários
e usuárias, contribuindo, desta forma, para o reforço de valores condizentes
com a satisfação de seus interesses. Desta forma, a profissão pode afastar-se
de uma incorporação da tecnologia tal qual caracterizada por Vieira Pinto
(2005), em que seu uso tenha por finalidade principal “fazer da tecnologia um
instrumento eficaz de dominação” (p.301).
Por outro lado, é possível identificar depoimentos em que os(as)
assistentes sociais demonstram uma tentativa de incorporação da TI atribuindo
prioridade à melhoria e ao aprimoramento do trabalho. Ainda que seu potencial
não esteja claramente formulado e evidenciado nestes depoimentos, é possível
perceber a indicação de possibilidades postas pelo uso deste recurso,
principalmente pelas contribuições que já vem oferecendo em termos de
atualização e reformulação de procedimentos na atuação profissional. Além de
225
sinalizarem as possibilidades de alterações no campo da atuação profissional,
apontam também a possibilidade de aprimoramento dos próprios recursos da
TI disponíveis no setor ou instituição, a partir de questões levantadas pela
dinâmica do trabalho.
“A informatização já existia quando eu cheguei. Mas houve uma mudança a partir do trabalho, que foi uma atualização do sistema e a criação de um programa voltado para as questões que tratam o Serviço Social na instituição. Está sendo atualizado no momento, com previsão de conclusão em outubro de 2006. Também foi instalado o acesso a Internet, por ser uma ferramenta de uso contínuo para comunicação e multiplicação de informações” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
“Hoje, todos os atendimentos sociais e programas corporativos do Serviço Social podem ser registrados e acompanhados pelo sistema, que permite consultas e emissão de relatórios gerenciais, com a possibilidade da estratificação de dados de acordo com a necessidade. Este sistema vem sendo aperfeiçoado e atualizado sistematicamente” (42 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
“Tanto na empresa onde trabalho (saúde), quanto no órgão público (prefeitura), já existiam os computadores. Na clínica foram desenvolvidos programas, incluindo a avaliação social dos pacientes, e outros formulários e sistemas de controle e avaliação do trabalho foram implantados pelo próprio assistente social, no caso eu mesma, como primeira assistente social da clínica. Na prefeitura, onde atuo em coordenação financeira de fundos municipais, tudo está informatizado, mas na área social, ainda falta muito para ter um banco de dados eficiente dos usuários da assistência” (43 anos, sexo feminino, graduação, saúde e assistência - RJ).
“Quando cheguei já existiam computadores, contudo, com o passar do tempo este equipamento foi se tornando cada vez mais indispensável para praticamente todos(as) os(as) que trabalham neste setor, o que torna a quantidade de computadores insuficiente” (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
Os profissionais, portanto, tendem a evidenciar uma tentativa de se
apropriar da TI, extrapolando os limites de uma preocupação tecnicista,
gerencial ou mistificadora deste recurso. Assim, mostra-se importante para
esses profissionais a postura de superar a compreensão da TI de forma
226
reduzida a ferramentas de racionalização do trabalho, de permanência no
mercado de trabalho ou, ainda, de adequação aos novos tempos. Ao abordar
os estudos acerca da tecnologia e educação, no âmbito da “sociedade da
informação”, Barreto (2004) observa que é preciso distinguir “os que partem de
seu questionamento daqueles que assumem tal sociedade como pressuposto”
(p.1185). Tendo em vista as observações da autora, considera-se que o debate
sobre a TI no Serviço Social será mais bem realizado na medida em que
conseguir superar posturas mistificadoras e avançar no sentido de incentivar
um processo de apropriação e incorporação crítica do recurso tecnológico aos
processos de trabalho e à formação profissional.
3 . 2 . 2 . A P A R T I C I P A Ç Ã O D O S E R V I Ç O S O C I A L N O S P R O C E S S O S D E I N C O R P O R A Ç Ã O D A T I
Um ponto interessante abordado no questionário refere-se à
participação dos(as) profissionais nos processos de informatização dos setores
de Serviço Social. Constatou-se que entre os(as) assistentes sociais que atuam
em setores informatizados, boa parte deles(as) (58%) relatou ter participado do
processo de informatização, como demonstra o gráfico a seguir.
227
Gráfico 27 - Os assistentes sociais participaram do processo de informatização? - Total de casos: 67
28
39
0 10 20 30 40 50
Não
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
Nota-se, no entanto, que os principais canais de participação
relatados pelos(as) profissionais foram o acompanhamento da implantação de
programas específicos e a inserção em cursos e programas de treinamento.
Atividades como planejamento e parametrização de programas, ou ainda
proposição e solicitação de bancos de dados e aplicativos específicos são
pouco citadas.
O envolvimento dos(as) profissionais com o processo de
incorporação da TI ao Serviço Social é tomado neste trabalho como um
aspecto relevante. Considera-se importante reconhecer se os(as) assistentes
sociais vêm tendo alguma participação ativa nesse processo ou se costumam
ficar aguardando que outros sujeitos o definam e o conduzam. Isso não
significa que os(as) profissionais tenham que dominar conhecimentos
específicos da área de informática, mas apropriar-se de um conteúdo mínimo
228
que lhes permita desenhar os traços gerais tanto de um processo de
informatização mais restrito, quanto, numa perspectiva mais ampla, uma
incorporação efetiva da TI. Assim, ao serem perguntados sobre como se deu o
processo de informatização do Serviço Social (quando relatada a existência de
tal processo), alguns(mas) profissionais indicaram que este foi imposto de
forma autoritária, conturbada, precária e improvisada, sem recursos, suporte e
acompanhamento adequados. São depoimentos que indicam uma ausência de
participação dos(as) profissionais na construção desse processo de
informatização e, conseqüentemente, inviabilizam um processo de apropriação
mais efetiva e crítica da TI.
“Estou chamando de informatização a instalação dos computadores. Mas foram criados programas os quais o Serviço Social não foi chamado para conhecer ou saber operar. Foram oferecidos cursos apenas alguns no nível de operacionalização de processadores de texto: Carta Certa, Word etc.” (48 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“Somente participaram os profissionais da informática” (45 anos, sexo feminino, especialização, empresa - SP).
“Os assistentes sociais não participam da informatização, assumindo apenas o papel de usuário (digitar relatórios, por exemplo)” (34 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“A equipe de Serviço Social (existente no Rio Mulher há apenas dois anos) não chegou a participar da implantação da informatização” (30 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
“Não houve participação do Serviço Social e somos obrigadas a nos adequar a nova realidade” (37 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
Alguns(mas) profissionais indicaram, ainda, que a informatização do
Serviço Social aconteceu por determinação externa ao setor, muitas vezes pela
229
direção da instituição, sendo operacionalizada pelos setores de informática ou
de TI da instituição como um todo. Apesar de, muitas vezes, as equipes de
Serviço Social apresentarem demandas e iniciativas voltadas à participação
nesse processo de informatização, a existência de uma determinação externa
tende a reforçar a ausência de uma participação mais efetiva dos(as)
profissionais no processo.
Além disso, há alguns depoimentos que indicam que os processos
de informatização dos setores de Serviço Social não são frutos de
reivindicações ou pressões originadas exclusivamente por esses setores, tendo
em vista que muitas vezes a informatização do Serviço Social acompanhou a
informatização da própria instituição e de seus diversos setores. Novamente,
em tais situações, percebe-se a inexistência de uma participação consistente
dos(as) assistentes sociais no processo de informatização.
“A informatização do Serviço Social ocorreu no mesmo momento que ocorreu em outras áreas” (45 anos, sexo feminino, especialização, empresa - SP).
“Desde a implantação do serviço social, a estrutura da instituição já era informatizada, só solicitei da necessidade deste setor” (28 anos, sexo feminino, graduação, saúde - MG).
“O Serviço Social é informatizado porque toda a empresa é informatizada, não tem nenhum setor que não seja” (31 anos, sexo feminino, mestrado, empresa - RJ).
“O Serviço Social foi incorporando a informática às suas atividades paulatinamente, conforme estas tecnologias foram sendo inseridas no âmbito da empresa. Quanto à informatização via sistema específico, padronizado para toda a empresa, ocorreu mais tardiamente, há cerca de três anos.
“Como toda a estrutura da prefeitura foi informatizada o Serviço Social também foi, porém estamos adaptando as máquinas, os programas às nossas necessidades. Adaptando inclusive os técnicos para o bom uso da
230
tecnologia” (39 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RS).
“A informatização ocorreu como parte de um projeto de modernização administrativa, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre” (47 anos, sexo feminino, especialização, gestão - RS).
“A informatização aconteceu em todos os setores através de um sistema único de informatização de informações” (48 anos, sexo feminino, especialização, justiça - SC).
Isso significa que, se por um lado constata-se a existência de um
processo de informatização de alguns setores de Serviço Social, indicando a
existência de algum tipo de incorporação da TI ao trabalho, por outro esta
incorporação de modo algum significa uma apropriação crítica e efetiva de tal
tecnologia por parte dos(as) profissionais. Absorvida como decorrência de
determinações autoritárias impostas aos setores de Serviço Social, dissociada
das reais necessidades apresentadas por estes setores, a TI serve muito mais
como instrumento de controle e opressão do que de emancipação e defesa de
direitos. A potencialização originada com este tipo de uso não tem por objetivo
a defesa dos valores presentes no projeto profissional, mas a dos valores que
sustentam relações sociais marcadas pela desigualdade e injustiça.
3 . 2 . 3 . A S M U D A N Ç A S P R O P I C I A D A S P E L A T I
Apesar de relatarem vários problemas presentes no processo de
informatização dos setores de Serviço Social, grande parte dos(as)
profissionais (94%) apontou o surgimento de mudanças nos procedimentos e
231
processos de trabalho devido à inclusão de recursos da TI, como mostra o
gráfico a seguir.
Gráfico 28 - Foram notadas mudanças por conta da informatização? - Total de casos: 67
4
63
0 10 20 30 40 50 60 70
Não
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
Tais mudanças, de acordo com os(as) profissionais, exerceram
alguns impactos sobre o trabalho realizado pelos(as) assistentes sociais,
ocasionando, em muitos casos, melhorias significativas, principalmente em
relação à agilização de algumas tarefas relativas ao trabalho, ao registro e
tratamento de dados e ao acesso a redes de informações disponíveis sobre
serviços e recursos. O gráfico a seguir demonstra que grande parte dos(as)
profissionais (93%) relatou que o processo de informatização, de forma geral,
melhorou a realização do trabalho do Serviço Social, enquanto apenas 7%
disseram que não houve mudanças expressivas.
232
Gráfico 29 - A informatização propiciou melhorias p ara o Serviço Social? - Total de casos: 67
62
5
0 10 20 30 40 50 60 70
Melhorou
Não houvemudança
Fonte: SSTI, 2006.
Os depoimentos dados pelos(as) profissionais apontam para um
forte reconhecimento do valor da TI na condução de seu trabalho. Em geral,
os(as) profissionais afirmam que o uso da TI torna o trabalho mais ágil e
dinâmico, principalmente nas tarefas mais burocráticas; favorece a
comunicação entre os(as) profissionais e as instituições; ajuda na localização e
referenciamento de recursos; otimiza a elaboração de relatórios e pareceres
sociais; imprime uma maior organização ao setor; favorece o acesso a
informações; dentre outras.
“Com certeza trouxe agilidade na informação institucional, bem como na identificação de recursos externos e na gerência dos dados do setor” (34 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“É muito bom fazer um encaminhamento, um relatório, um projeto e imprimi-lo. Contar com dois computadores e uma impressora é fabuloso. Isso de certa forma até compensava a falta da Internet, pois nesses casos em que precisávamos viabilizar alguns encaminhamentos, tínhamos que fazer ‘a moda antiga’ (ligar para rede de serviços e fazer uma peregrinação para saber como encaminhar, quais os documentos necessários e com isso garantir o acesso às políticas sociais)” (29 anos, sexo masculino, mestrado, assistência - AL).
233
“Com relação à possibilidade de pesquisa, na assistência nos ajuda a agilizar o atendimento, através de informações previdenciárias, saúde etc. Além de formulários que podemos deixar prontos” (50 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Até hoje ainda procuramos usufruir o máximo dos recursos oferecidos. No meu local de trabalho, há algum tempo, o envio de correspondências somente se faz a partir da confecção de guias de remessa pelo sistema integrado. Fazemos consultas a processos, o que facilitou em muito para o Serviço Social conhecer um pouco do resultado de seu trabalho. Temos nossos logins que permitem também o acesso a informações pessoais (solicitações, processos, contracheques etc.)” (48 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“Melhorou todos os processos do Serviço Social pela acessibilidade dos dados (agora on-line) por qualquer assistente social da empresa, de qualquer unidade do país; pelas pesquisas de dados e correlações viáveis de serem efetivadas, pela gestão dos resultados da prática profissional, dentre tantas outras melhorias” (42 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
“Melhorou uma vez que deu mais autonomia ao setor na criação e impressão de relatórios/formulários específicos do Serviço Social. Há cerca de três anos temos acesso direto à Internet, o que facilitou a consulta de recursos comunitários, informações relacionadas às necessidades dos usuários deste serviço, agilidade na comunicação na organização e também externa” (33 anos, sexo feminino, graduação, saúde - SP).
“Acredito que tenha melhorado, pois a informatização agiliza processos de comunicação, troca/busca de informações e de registros. Com o acesso a Internet foi possível, por exemplo, buscar uma série de informações sobre recursos, dados, orientações, protocolos e informações sobre órgãos e políticas públicas” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Melhorou, na busca por informações, na agilização do contato com outras instituições, na comunicação com outros profissionais” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
“Maior agilidade no trabalho, desenvolvimento de uma rede de informação, melhor conhecimento técnico do profissional” (41 anos, sexo feminino, especialização, criança/adolescente - RJ).
“Agora é possível até agendar as perícias do INSS, facilitando, assim, ao usuário, que muitas vezes não dispõe de transporte e não tem a necessidade de enfrentar filas” (47 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RS).
“Por conta de ter, por exemplo, acesso à Internet, agilizou a comunicação e o envio de trabalhos, o acesso a sites relativos à área” (37 anos, sexo feminino, graduação, saúde - SC).
234
“A utilização dos programas teve um grande impacto no nosso trabalho, viabilizando a consolidação de dados, o que não seria possível sem a utilização dos mesmos. Criamos uma planilha em Excel para acompanhar as famílias beneficiárias do Programa Bolsa-Família e que deveriam comparecer às unidades de saúde para cumprimento de condicionalidade (caso não compareçam correm o risco de perder o benefício). Se não tivéssemos utilizado a planilha, seria inviável tal acompanhamento, já que são muitas famílias“ (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
Se a informatização embrionária pela qual o Serviço Social vem
passando, marcada pelos problemas apontados há pouco, consegue gerar
mudanças positivas, tal como sugerem os(as) assistentes sociais, o que dizer a
respeito dos resultados que poderiam ser gerados a partir de uma apropriação
mais consistente, crítica e efetiva da TI? Acredita-se que as possibilidades são
diversas, e a tarefa que é colocada à profissão reside exatamente em
desvendar tais possibilidades, convertendo-as em experiências efetivas de
apropriação crítica deste recurso.
Reconhecer a importância da TI para o trabalho do(a) assistente
social não significa, no entanto, cair na armadilha da mistificação da informática
e da tecnologia, como se todos os problemas existentes no exercício
profissional simplesmente desaparecessem ao se incorporar a TI. Incorrer
nesse erro significa extrapolar as fronteiras das reais possibilidades contidas no
uso deste recurso e atribuir-lhe um caráter “salvacionista”, ou, nas palavras de
Vieira Pinto (2005), conferir “poder demiúrgico” ao que se constitui como
expressão de um modo de ser do sujeito real a que se refere” (p.158). É nesse
sentido que se apontam alguns depoimentos que podem levar a uma postura
de “endeusamento” da TI, atribuindo-lhe o papel de salvadora, quando na
verdade, o que ela realmente faz é auxiliar, ou ainda, potencializar o processo
235
de solução dos problemas existentes, sem constituir-se, por si mesma, na
solução para esses problemas.
“Sem a informatização tudo seria mais difícil” (33 anos, sexo feminino, especialização, educação - RJ).
“Sabemos que um dos objetivos do Serviço Social é a veiculação de informações e isso hoje não é possível sem uma atualização constante e essa atualização não se dá sem o recurso da informática e da tecnologia” (35 anos, sexo feminino, especialização, saúde - TO).
“Sem dúvida, trabalhar com estes recursos disponíveis é de fundamental importância. Não consigo imaginar um profissional nos dias de hoje trabalhando de outra forma” (39 anos, sexo feminino, especialização, empresa - RJ).
“Acredito que tudo que é informatizado é melhor para trabalhar” (44 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
“Quem não se atualizar na utilização da informática não tem como trabalhar, já que todas as informações e todos as metodologias de trabalho são informatizadas” (35 anos, sexo feminino, especialização, saúde - TO).
“O assistente social, bem como qualquer outro profissional, precisa sair da universidade com o mínimo de atualização para o mercado de trabalho. Um assistente social que não sabe trabalhar com a informática ou usá-la a favor de seu trabalho não acompanhará o desenvolvimento da sociedade, principalmente pela dinâmica e agilidade da informação, atualmente” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
“Hoje não consigo imaginar minha prática profissional sem a TI” (44 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
“Avalio como importantíssima a garantia do acesso da informática no Serviço Social. A meu ver não há como intervir, sem o apoio desta ferramenta” (44 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RJ).
Nota-se, portanto, um certo deslumbramento com os recursos
oferecidos pela tecnologia e as possibilidades de mudanças dela decorrentes.
A existência de tal postura demonstra a necessidade de cautela para não tomar
236
estes recursos como soluções mágicas para os problemas reais que ocorrem
no cotidiano do trabalho profissional. Uma observação de Guerra (1995) pode
ser útil para refletir sobre essa questão:
“o fetiche que permeia o instrumental técnico e a deificação das
metodologias de ação (...) colocam-se como determinações e
especificações tanto da instrumentalidade do Serviço Social
quanto da insuficiência na compreensão do profissional sobre o
significado social e político da sua prática” (p.168).
A autora aponta, portanto, uma “tendência de atribuir aos
instrumentos e técnicas, municiadores da intervenção, um status superior
àquele que é dado aos demais componentes da prática profissional” (p.169).
Trata-se de uma tendência que encontra seu ponto de sustentação no
“fetichismo que envolve as relações sociais do mundo burguês e que, em
última instância, são representações falsas sobre a realidade” (idem). A autora
ressalta que o domínio do instrumental técnico requisita do(a) profissional um
conhecimento das finalidades presentes na atuação e das formas de alcançá-
las, considerando que:
“Ao atribuir autonomia às metodologias de ação e ao
instrumental técnico, ao separá-los e torná-los independentes
do projeto profissional, o assistente social acaba por
transformar o que é acessório em essencial. O fetiche,
enquanto ‘escopo do mundo moderno’, também penetra as
representações e auto-representações dos assistentes sociais
sobre os elementos que mediatizam a sua intervenção” (p.169)
237
Considera-se que a TI constitui-se como um recurso de grande
importância, no entanto não substitui outras dimensões fundamentais do
exercício profissional, inclusive o próprio profissional. Em geral, é perfeitamente
possível que o trabalho do Serviço Social se realize sem o recurso da TI. Sua
presença pode tornar sua realização mais rápida, sistematizada, organizada,
propiciando condições para potenciar as dimensões inerentes ao exercício
profissional. É neste sentido que não se deve cair na postura que identifica a TI
como um elemento que deva substituir os(as) profissionais. Tal preocupação é
indicada por alguns(mas) profissionais, como se pode verificar nos
depoimentos a seguir.
“Vejo a informática para o Serviço Social como um instrumento altamente facilitador da ação profissional, mas não essencial” (54 anos, sexo feminino, graduação, previdência - RJ).
“Vejo esta tecnologia como ferramenta auxiliar do trabalho do Serviço Social, seja no planejamento, na execução, na avaliação ou na supervisão de ações e de processos de trabalho” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“É necessário pela agilidade em buscar informações, em pesquisar assuntos, em se atualizar, mas não é o principal. No momento em que a máquina for o principal, não existirá a essência do Serviço Social” (48 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
Desta forma, o Serviço Social precisa planejar e organizar uma
incorporação da TI tomando-a como um elemento auxiliar, subordinado a seus
interesses profissionais, não individuais, mas coletivos, permitindo que esse
recurso seja colocado a serviço de tais interesses. Agindo desta forma, poderá,
além de preservar, ampliar seu espaço de legitimidade profissional.
238
Considera-se que muitas atividades que os(as) assistentes sociais
poderiam realizar com o recurso da TI, poderia ser feito, também, sem utilizar-
se dele. A diferença é que as atividades e procedimentos seriam feitos de
forma menos rápida e menos ágil. Isso significa que o elemento principal neste
contexto não é o recurso tecnológico em si, mas o sujeito que trabalha, o(a)
profissional, que se apropria deste recurso para alcançar os projetos que já tem
em mira. O fator substantivo, digamos assim, reside no profissional, enquanto
no recurso tecnológico reside o fator adjetivo. Importante, mas ainda assim,
adjetivo, e que, portanto, não pode substituir o real sujeito da atuação
profissional. Assim, mais uma vez, a TI pode possuir um papel importante para
o trabalho, mas isso não significa nem o ofuscamento nem a substituição
dos(as) profissionais. Ao contrário, tal papel reside exatamente na
potencialização de seu trabalho, de suas atividades e na consolidação de sua
condição de protagonista de seu exercício profissional.
Tais comentários conduzem à observação de que a incorporação da
TI ao trabalho do(a) assistente social não deve ter por conseqüência uma
redução ou uma economia de trabalho. Pode significar, sim, que a quantidade
de trabalho manual, mecânico, burocrático e repetitivo pode diminuir, no
entanto outras habilidades e competências passam a ser exigidas do(a)
profissional, como, por exemplo, a habilidade de analisar e interpretar a grande
quantidade de dados e informações produzidas pelo Serviço Social com o
auxílio da TI, aumentando a demanda global por trabalho. Os(As) profissionais
precisam tomar cuidado para não perder de vista o potencial a ser retirado do
uso da TI: este recurso não serve apenas para realizar mais atividades de
239
forma mais rápida, mas para tentar imprimir algum tipo de mudança qualitativa
no trabalho, seja na captação de dados da realidade que antes não podiam ser
percebidos, seja na promoção de novas modalidades de atendimento voltadas
à satisfação das necessidades dos usuários e usuárias, tendo em vista o
potencial do recurso tecnológico de sistematizar e organizar dados e
informações sobre serviços e direitos sociais. Os depoimentos a seguir
parecem apontar para esta preocupação, embora, em geral, não a
desenvolvam de forma mais contundente.
“Como potencializador da organização de dados do Serviço Social, a importância da informática para os usuários é clara porque otimizamos tempo que pode ser dedicado a ampliação de nossas ações junto aos usuários, respondendo a outras demandas que antes seriam inviáveis de responder por conta do tempo. Ao consolidarmos dados podemos ter acesso às maiores demandas colocadas pelos usuários, tanto explícitas quanto implícitas, o que ajuda na elaboração de projetos, do estabelecimento de prioridades e na elaboração de avaliações do nosso trabalho” (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
“O uso da informática melhorou e aumentou o trabalho, como ocorre em todas as áreas no sistema on-line” (45 anos, sexo feminino, especialização, empresa - SP).
A informática proporcionou maior agilidade no trabalho, mais resultados, mais alternativas de acesso a recursos, mas também mais sobrecarga de trabalho, porque as demandas também chegam com mais velocidade e aguardam respostas velozes. Pelo aumento de sobrecarga, pela velocidade de informações, que atinge o mundo do trabalho em geral, temos que ficar atentos a nossa saúde psíquica no trabalho” (31 anos, sexo feminino, mestrado, empresa - RJ).
“A capacidade de trabalho e o acesso às informações e soluções ficou muito mais amplo” (54 anos, sexo feminino, graduação, previdência - RJ).
Alguns(mas) profissionais destacaram que grande parte das
melhorias obtidas decorre exclusivamente do esforço do(a) profissional, sem
incentivos por parte da instituição empregadora. De fato, em diversas
240
instituições, pode-se constatar uma grande exigência em relação ao uso da TI,
tendo em vista a transferência de diversas atividades para o ambiente
tecnológico. Pense-se, por exemplo, no âmbito universitário, a forma atual de
lançamento das notas dos(as) alunos(as): se antes o preenchimento era feito
em atas ou formulários de papel e enviados às secretarias dos departamentos,
atualmente, tal preenchimento faz-se diretamente em um sistema on line, o que
traz, certamente, grande economia de tempo e trabalho para o conjunto de
trabalhadores envolvidos na realização da tarefa. Nota-se, assim, a
transferência desta atividade, para o ambiente tecnológico, extraindo-se daí,
vantagens na maioria das vezes gerenciais.
O problema, no entanto, está no fato de que muitas vezes
transferências como essa ocorrem sem ser acompanhadas por um processo de
qualificação e envolvimento com o novo recurso, além de não haver, também,
uma disponibilização de equipamentos em quantidade e qualidade suficientes
para uma efetiva incorporação da TI com finalidades para além das gerenciais.
É nesse sentido que a questão das condições de trabalho mostra-se tão
importante, já que elas constituem-se como um dos elementos fundamentais
para a efetivação da incorporação da TI, como sinalizam os depoimentos a
seguir.
“O que sei manusear do computador aprendi em minha casa por interesse próprio, e não por incentivo do empregador. Vários colegas não sabem absolutamente nada sobre computador” (38 anos, sexo feminino, especialização, criança/adolescente - RS).
”Em geral, o trabalho melhorou, contudo, como os equipamentos e as instalações não são apropriados, em alguns momentos isto nos faz perder muito tempo aguardando a resolução dos problemas que tanto são de software quanto de hardware” (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde -
241
RJ).
”Falta as instituições disponibilizarem os equipamentos para uso dos profissionais e se necessário possibilitar a realização de cursos de qualificação” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Em relação à TI, dispomos de uma assessoria técnica, mas que não vem contemplando algumas de nossas demandas, como por exemplo, a elaboração de um banco de dados para o Serviço Social. Assim, o banco de dados vem sendo montado a partir da iniciativa dos próprios assistentes sociais. Porém, tal serviço deveria ser assegurado pela instituição” (26 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
Além disso, muitas vezes, o próprio profissional é quem vai ter que
comprar os recursos necessários para o seu trabalho, tendo em vista a
inexistência de sua alocação por parte das instituições empregadoras. Trata-se
de um quadro que, além de demonstrar os efeitos perversos do neoliberalismo
sobre as condições de trabalho, indica a realidade em que diversos assistentes
sociais tentam, quase que heroicamente, conduzir suas atividades
profissionais. O depoimento a seguir ilustra o extremo a que tal situação pode
chegar.
“As condições são mínimas, embora possua uma sala, que comporta privacidade para uma entrevista. Após um ano e meio, recebi cadeiras adequadas para os usuários e/ou outros profissionais sentarem durante uma entrevista ou discussão de caso, pois as disponíveis eram aquelas plásticas de quinta categoria, cujas pernas iam abrindo até quebrar (tivemos colegas que caíram ao chão durante reunião e usuários batendo cabeça na parede, ao despencar da cadeira). O material para documentação é de última qualidade, tanto que eu mesma compro meu material de escritório para consumo próprio. Canso de imprimir documentos em casa, e a Internet, uso a particular, pois não há acesso no trabalho. Possuo um colega assistente social, que em certa ocasião comprou cadeira e mesa para trabalhar. Eu comprei o ventilador de teto de minha sala devido ao calor insalubre nas tardes de verão e estufa para o inverno. Outras colegas assistentes sociais dividiram a compra de um ar-condicionado para a sala coletiva dos profissionais” (38 anos, sexo feminino, especialização, criança/adolescente - RS).
242
Embora não sejam a causa exclusiva, situações como essa podem
contribuir para fortalecer ainda mais o distanciamento do Serviço Social em
relação ao uso da TI no trabalho. Apesar dos(as) profissionais afirmarem que a
TI tem uma grande importância para a profissão, muitos(as) não conseguem
efetivamente utilizá-la, tendo em vista a sua inexistência ou escassez. Tais
condições criam uma aparência de resistência ao uso da TI, quando na
verdade o que ocorre é uma enorme dificuldade em utilizá-la, tendo em vista os
diversos obstáculos que se põem a seu acesso, como ilustram os depoimentos.
“Não vejo resistência do profissional em usá-lo, acredito que as prefeituras dentro das secretarias de assistência social é que não disponibilizam. Depende da valorização que as administrações dão para a área social” (38 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RS).
“Não acredito em resistência ao uso da informática e sim, dificuldades para acesso a equipamentos, programas, manuseio, dentre outras” (38 anos, sexo feminino, doutorado, assistência - SP).
”Não sei se é resistência ou se é escassez desta tecnologia nos serviços, como no nosso caso” (47 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
Nota-se, portanto, que os(as) profissionais indicam nos depoimentos
uma referência ao fato de que tanto a existência de condições de trabalho
adequadas, quanto o incentivo ao uso da TI pelo Serviço Social, são aspectos
fundamentais para que este recurso seja adequadamente incorporado ao
exercício profissional.
243
3 . 2 . 4 . O S C O N D I C I O N A N T E S D A I N C O R P O R A Ç Ã O D A T I
Nesta seção, pretende-se discutir alguns elementos mais específicos
que podem condicionar a incorporação da TI pelo Serviço Social. Não se
desconsidera, neste momento, a importância dos aspectos históricos e
processuais mais gerais apresentados ao longo do capítulo 1. A forma
hegemônica de imposição da tecnologia ao conjunto da sociedade por parte
dos grupos dominantes evidentemente condiciona fortemente os usos
possíveis desses recursos tecnológicos, não apenas por parte do Serviço
Social, mas também por parte do conjunto dos trabalhadores. Da mesma
forma, as transformações societárias pelas quais a sociedade capitalista vem
passando desde a década de 70, principalmente aquelas que se referem à
desresponsabilização e ao desmonte do Estado e à reestruturação produtiva,
exercem grande influência sobre as modalidades possíveis de incorporação da
TI por parte dos(as) trabalhadores, dentre eles(as) os(as) assistentes sociais.
Apesar de não desconsiderar a existência e influência desses
aspectos estruturais, o que se pretende é apresentar alguns elementos mais
específicos e pontuais que condicionam a incorporação, por parte da profissão,
desse recurso tecnológico, tendo por base as respostas oferecidas pelos(as)
profissionais. Neste sentido, verificou-se que o uso da TI pressupõe a
existência, no âmbito da atuação profissional, de condições básicas a sua
apropriação. De forma geral, os(as) profissionais apontam três elementos
básicos que tornam possível a incorporação da TI ao trabalho profissional:
vontade e interesse dos(as) profissionais em utilizar a tecnologia em seu
244
trabalho; existência de condições de trabalho adequadas; existência de
formação profissional voltada para o tratamento deste tema.
Gráfico 30 - O que está faltando para que a incorpo ração da tecnologia da informação ao Serviço Social aconteça ? - Total de casos: 77
53%
27%
19%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%
Formação ecapacitaçãoprofissional
Condições detrabalho adequadas
Interesse e vontadedos profissionais
Fonte: SSTI, 2006.
Na opinião dos(as) profissionais, o principal fator que possibilita uma
adequada incorporação da TI ao trabalho do Serviço Social refere-se a uma
formação profissional que dê conta das principais questões referentes não só
ao uso operacional do recurso técnico, mas também à desmistificação e
superação da resistência em relação ao seu uso, demonstrando as
possibilidades e efeitos positivos de sua adequada utilização. Os(As)
profissionais sinalizam a importância de disciplinas nos cursos de graduação e
pós-graduação, capacitações, cursos, palestras e espaços de discussão e
reflexão sobre esta temática como forma de qualificação e como possibilidade
de combate à resistência ao uso da TI, possibilitando uma maior aproximação
dos(as) profissionais a este tema.
245
”Como já disse, cursos específicos para assistentes sociais, disciplinas específicas na graduação e pós-graduação, publicação de artigos sobre o tema e organização de mesas e palestras sobre o tema” (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
”Criação de interfaces entre o mundo da informática e a prática do assistente social” (32 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
”Os profissionais devem ter acesso a treinamentos, para se familiarizar com o uso rotineiro do computador e de programas, bancos de dados, apresentações etc” (53 anos, sexo feminino, mestrado, previdência - RJ).
”Palestras abertas nas faculdades, Cress, Cfess etc. Mini-cursos, seminários, cursos, divulgação de manuscritos, materiais e artigos tudo correlacionado com a prática tecnológica e profissional” (44 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
”O aprendizado desse conteúdo na formação profissional, não como uma disciplina que reprova, mas como uma atividade discente obrigatória” (29 anos, sexo masculino, mestrado, assistência - AL).
”Talvez uma cadeira ou cursos específicos que mostrem ao profissional o que se pode fazer utilizando a informática” (35 anos, sexo feminino, graduação, justiça - RS).
Ainda no plano da formação profissional, destacam os(as)
profissionais a importância de se socializar e disseminar as experiências
existentes sobre o uso da TI pelo Serviço Social, como forma de discutir e
definir estratégias para ampliar sua incorporação ao trabalho. Além disso,
fazem referência, também, à necessidade de um investimento por parte
dos(as) próprios(as) docentes, no sentido de se qualificarem para incorporar e
difundir a importância desse recurso.
”Falta iniciativa dos formadores” (44 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RS).
”No meu ver, falta uma qualificação de professores (não somente professores teóricos, mas que tenham conhecimento da prática profissional)
246
nas universidades. Falta também que o profissional saia do seu comodismo (prática diária) e possa investir em cursos e formação” (38 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RS).
Em sintonia com as preocupações apresentadas pelos(as)
profissionais acerca da incorporação da TI por parte dos(as) docentes, Colmán
(2004) observa que se por um lado pode-se considerar a inclusão do ensino de
informática nos cursos de Serviço Social um passo importante, no sentido de
reconhecer o papel que as novas tecnologias têm nos ambientes de trabalho,
por outro, cabe, também, aos professores, “enquanto responsáveis pela
formação profissional, propor conteúdos que qualifiquem a apropriação das
tecnologias de informação e os sistemas de informação pela nossa profissão”,
ampliando-se, desta forma, as possibilidades de apropriação deste recurso por
parte da profissão.
Além disso, uma das possibilidades para o aumento do debate sobre
o tema é a criação de espaços de discussão sobre Serviço Social e TI, em que
sejam apresentadas, analisadas e problematizadas experiências de aplicação
dessa tecnologia ao exercício profissional, gerando um acúmulo da categoria
sobre o assunto. Com isso, além de conhecer as experiências existentes, é
possível dar visibilidade à temática e incluí-la na agenda de debates da
categoria de assistentes sociais. Como observou Mattelart (2002, p.169), “a
demonstração de experiências de uns têm efeitos sobre a prática dos outros”,
sinalizando uma postura que pode ser de grande importância para a reflexão e
a formulação de propostas alternativas ao modelo hegemônico.
247
O segundo fator que, de acordo com os(as) profissionais, possibilita
a incorporação da TI ao exercício profissional, refere-se à existência de
condições adequadas de trabalho, que disponibilizem recursos físicos,
materiais e humanos em quantidade e qualidade necessárias para a condução
das atividades. As condições de trabalho são vistas como de grande relevância
pelos(as) profissionais, principalmente se forem tomadas em conjunto com uma
formação profissional sintonizada com as demandas apresentadas pelos
usuários e usuárias e capaz de dar conta das necessidades de aprendizado
sobre o uso da TI.
”Acesso por meio de condições oferecidas pelas instituições empregadoras” (40 anos, sexo feminino, mestrado, justiça - SP).
”Ter acesso a informática no local de trabalho e maior conhecimento dos recursos a ser utilizados” (49 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RS).
”Universidades mais equipadas que ajudem a preparar o aluno, instituições que invistam em condições de trabalho e programas que potencializem o trabalho do assistente social” (31 anos, sexo feminino, mestrado, empresa - RJ).
”Em alguns lugares, até mesmo o equipamento em condições de uso. Oferta de cursos e informações também” (34 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
“Possuímos uma pequena sala, somente para o setor, com duas mesas de escritório com cadeiras de interlocutor e um aparelho telefônico. Existem as instalações para ligar o equipamento e o cabo de acesso para a Internet. O que não existe é o equipamento!” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
O terceiro fator que possibilita a incorporação da TI refere-se à
iniciativa dos(as) profissionais. Foram feitas referências à ausência de
iniciativa, força de vontade ou interesse do(a) profissional em incorporar a seu
248
trabalho o potencial oferecido pela TI. Tal incorporação, de acordo com os
depoimentos, poderia trazer melhorias para além da realização do trabalho,
incidindo também sobre o status do(a) profissional, fazendo com que os(as)
assistentes sociais passassem a ser vistos como profissionais “modernos”,
“antenados(as) com as novidades”, capazes de “concorrer” com os outros
profissionais nas instituições empregadoras para se manterem no mercado de
trabalho. Nota-se uma tendência de tomar a TI como um elemento que
possibilita a própria sobrevivência do(a) profissional no mercado de trabalho,
tendo em vista, principalmente, o fato de que outras profissões já vêm
realizando essa incorporação, estando, desta forma, à frente do Serviço Social,
que por sua vez, estaria em desvantagem em relação a outros(as)
profissionais.
”É preciso expor a necessidade da informática e como é tempo que se economiza. Acredito que seja questão de sobreviver ao mercado de trabalho, a sua permanência na empresa, ao desenvolvimento e crescimento do seu trabalho” (44 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
”Falta visão ampliada da categoria, pois ao incorporar a informática a nossas atividades, estaremos sendo vistos como um profissional de prática atual, pois o mundo está informatizado e as informações poderão ser armazenadas e repassadas de forma rápida e eficiente, facilitando assim a prestação de serviço a nossos usuários” (44 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
”Falta interesse dos que não acompanharam o processo tecnológico” (24 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
”Falta vontade de superar seus limites” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“É necessário que haja uma conscientização da categoria sobre a importância da informática como instrumento de trabalho” (33 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
249
”Acho que há apenas um grupo de resistentes, aqueles que se formaram há muito tempo ou que mesmo recém-formados têm na profissão apenas um título para ganhar mais um pouco. Infelizmente temos muitas colegas negando essa realidade, dizendo que não têm mais como aprender. Falta engajamento com a profissão e com todas as suas nuances” (35 anos, sexo feminino, especialização, saúde - TO).
Apesar de compreender a preocupação dos(as) profissionais com
sua inserção no mercado de trabalho é necessário observar que o valor da TI
para o trabalho do Serviço Social não se restringe à sobrevivência do(a)
profissional neste mercado, ou, ainda, à aquisição de um status mais elevado
devido ao domínio de alguns recursos tecnológicos. Considera-se que a
preocupação maior consiste nas possibilidades que a TI apresenta para a
potencialização do trabalho e para as suas conseqüências para o conjunto da
profissão, e não para alguns(mas) profissionais apenas. Nesse sentido, uma
abordagem acerca da importância da TI, limitada às suas conseqüências para
o âmbito pessoal, da iniciativa individual, da força de vontade de cada um
(embora dela não se possa prescindir), não é tão elucidativa quanto aquela que
abrange a dimensão coletiva da profissão, envolvendo o conjunto da categoria
profissional e as condições necessárias à realização de seu trabalho,
destacando-se dentre elas a formação profissional e as condições adequadas
de trabalho nas instituições empregadoras.
250
3 . 2 . 5 . O P A P E L D A F O R M A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L
Um fator considerado importante para que o processo de
incorporação da TI ao trabalho do Serviço Social ocorra é o tratamento deste
tema na formação profissional. De fato, ainda se constata uma certa ausência
do tratamento desta questão na formação profissional, seja no âmbito da
graduação, seja no da pós-graduação. Por outro lado, quando o tema aparece
apresenta-se reduzido, como observa Colmán (2004), a oficinas, tópicos de
conteúdo ou laboratórios, limitando o ensino dessa matéria ao uso e
treinamento em alguns programas mais conhecidos, tais como editores de
texto e planilhas eletrônicas. Ao abordar o assunto, Albuquerque (1995)
observa que:
“A questão da relação do Serviço Social com a informática e
seu uso ético na prática profissional para acelerar o processo
de democratização tem sido pouco discutido nas salas de aula
como componente essencial da formação profissional” (p.298).
Uma incorporação efetiva da TI ao Serviço Social pressupõe um
processo de formação profissional que contemple tanto os aspectos gerais que
conformam os usos sociais possíveis da tecnologia, quanto as potencialidades
presentes em tal recurso a serem apropriadas pelo Serviço Social. Isso
significa ultrapassar a mera capacitação técnica ou o mero aprendizado dos
aspectos operacionais das inovações tecnológicas. Embora sejam dimensões
necessárias à formação, elas não esgotam as possibilidades presentes nestes
recursos, demandando a sua articulação com questões concretas presentes no
251
cotidiano profissional e com os princípios fundamentais do projeto ético-político
profissional.
Apesar desta ausência do tema na formação profissional, constatou-
se que 71% dos(as) profissionais participantes indicaram já ter realizado algum
curso ou qualificação na área de TI ou de informática, como se pode verificar
no gráfico a seguir.
Gráfico 31 - Você já fez algum curso ou alguma qual ificação na área de informática ou tecnologia da informação? - Total de casos: 93
27
66
0 10 20 30 40 50 60 70
Não
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
Os(as) participantes informaram já ter realizado cursos de introdução
à informática, com ênfase nos pacotes de editores de texto, planilhas
eletrônicas e aplicativos de bancos de dados mais conhecidos. Informaram
também que os cursos realizados foram feitos, na maior parte das vezes,
dentro das próprias instituições (na maioria empresas ou sindicatos),
principalmente quando há implantações ou modificações nos sistemas com que
252
trabalham. A grande maioria relatou que o início de sua qualificação não
ocorreu no momento da graduação, mas sim depois de terem se inserido no
mercado de trabalho, como decorrência de uma exigência do mesmo.
A preocupação com o tratamento da TI, de acordo com os(as)
profissionais, não estava contemplada na grade curricular de Serviço Social.
Ainda que a preocupação surgisse durante a graduação, ela geralmente estava
reduzida à satisfação de um dos critérios para inserção em projetos de
pesquisa, onde a informática era utilizada como um instrumento de
organização e sistematização de dados de pesquisa, digitação de relatórios
etc., ou ainda, para seleções de estágio que demandavam conhecimento nesta
área. Trata-se de uma incorporação da TI de forma desarticulada dos principais
aspectos do exercício profissional.
“Quando ainda era da graduação do Serviço Social (em 1998) fiz curso de informática para conseguir a bolsa de pesquisa. Assim, a própria faculdade mostrou-me a necessidade de entender de informática. Considero que o conhecimento de informática não é mais uma opção, mas tornou-se imprescindível. O problema é que o assistente social quando já está no mercado de trabalho não encontra muitos ‘estímulos’ ou ‘obrigações’ para aprender informática. Desta forma, as faculdades poderiam tornar-se promotoras do conhecimento sobre informática, entendendo este como parte da qualificação profissional do assistente social” (34 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Há uma grande ausência deste tema durante a graduação, os estudantes não são informados como podem usar esta ferramenta a favor das entrevistas realizadas, nem mesmo na quantificação dos dados estatisticamente montados sobre a população usuária, o que facilitaria a criação de projetos e até o investimento em políticas para uma determinada região” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
“Acho que poderiam incluir uma modalidade no curso com o básico da informática, pois assim seria mais fácil para o profissional inserir-se na era digital, bem como auxiliar em pesquisas e em banco de dados” (35 anos, sexo feminino, graduação, justiça - RS).
253
A TI precisa ser incorporada ao exercício profissional tendo em vista
as necessidades presentes nesse mesmo exercício. Faz-se necessária uma
apropriação “por dentro” do Serviço Social, pensada a partir das necessidades
identificadas nos próprios processos de trabalho em que o Serviço Social está
inserido. As universidades, nesse sentido, poderiam contribuir para esse
processo de apropriação, decifrando e construindo, a partir das demandas
postas no cotidiano, possibilidades de uso da TI no trabalho profissional.
Para boa parte dos(as) profissionais (40%), não há, no âmbito do
Serviço Social, opções de formação ou qualificação em TI, como indica o
gráfico a seguir. Os(as) que consideram haver alguma opção correspondem a
35%, enquanto os(as) que não souberam responder constituem 25%.
Gráfico 32 - Você acha que há opções de formação nesta área no Serviço Social? - Total de casos: 93
23
37
33
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Não sei
Não
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
Relatam os(as) profissionais que as opções de qualificação e
aperfeiçoamento na área são poucas e que isso pode ser prejudicial à
254
profissão, tendo em vista a ausência de reflexões sobre o recurso e sobre as
suas possibilidades de uso no trabalho, fato que pode contribuir para a
inviabilização do potencial que a TI possui para o aprimoramento do trabalho
do Serviço Social.
Se por um lado os(as) profissionais consideram importante o
tratamento da TI na formação profissional, isso não significa, em sua opinião,
que este recurso deva ter primazia sobre os demais conteúdos. Ao contrário,
deve ocupar posição compatível com outros recursos, dimensões e
instrumentos necessários ao trabalho, demonstrando que a prioridade reside
no projeto profissional, nos valores e nos aspectos mais fundamentais da
profissão. Chama-se a atenção para o fato de que o recurso tecnológico
constitui-se como uma das mediações presentes no exercício profissional,
devendo, portanto, ser considerado em conjunto com os demais aspectos que
integram o que Netto (1996a) chamou de “sistema de mediações concretas que
forma a rede em que se constitui a unidade de intervenção” (p.91). Assim,
pensar a TI como uma mediação significa tomá-la como um elemento pelo qual
se pode, nas singularidades da intervenção profissional, elaborar indicativos
teórico-práticos de intervenção imediata vinculados aos objetivos, finalidades e
valores profissionais e humano-genéricos. Ou ainda, nos termos de Guerra
(2000), um fator que “permite acionar, potencializar os diversos elementos que
compõem a cultura profissional” (p.23).
Como observou Pontes (1995), o(a) assistente social pode ser
considerado “um articulador e potencializador de mediações”, atuando “nos
255
sistemas de mediações que infibram as refrações da ‘questão social’
constitutivas das demandas sociais à profissão” (p.177). Podendo ocupar um
lugar importante nesse âmbito, na medida em que a categoria profissional
consiga apreendê-la e dela apropriar-se, a TI pode ser compreendida como
uma mediação que permite, no jogo das contradições presentes na sociedade
capitalista, alcançar as finalidades presentes no projeto profissional. Assim,
uma formação profissional que se preocupe com o tratamento da TI pode tomá-
la como um aspecto complementar da formação profissional, necessária na
medida em que permite um aprofundamento das competências profissionais, e
não como o principal elemento do processo formativo. É o que podem sugerir
os depoimentos a seguir.
“Acredito que esta opção deve ser de cunho complementar” (29 anos, sexo masculino, graduação, assistência - RJ).
“Vejo como um conhecimento a mais, não como uma obrigatoriedade. Talvez como um curso de línguas: você faz como atividade extra-curricular” (34 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“É um tema transversal e de capacitação que extrapola a formação profissional” (38 anos, sexo feminino, doutorado, assistência - SP).
“Creio que se tivesse algo mais específico para o Serviço Social seria interessante, mas isto não necessariamente teria que estar no currículo do curso e sim cada instituição poderia financiar isto para os seus profissionais uma vez que em cada situação de trabalho há especificidades” (43 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RS).
Os depoimentos de alguns(mas) profissionais atribuem importância
à qualificação na área de TI e à reflexão sobre os usos e aplicações possíveis
desta tecnologia no trabalho profissional. No entanto, não são formuladas
indicações sobre a construção de uma articulação da TI com questões
256
presentes no cotidiano do trabalho profissional, buscando conhecer sua
aplicabilidade ao Serviço Social.
Ao problematizar este aspecto, Colmán (2004) observa que, se por
um lado cursos de graduação em Serviço Social já introduziram disciplinas,
oficinas ou tópicos de conteúdo sobre informática em seus currículos, por
outro, o conteúdo trabalhado limita-se ao treinamento e capacitação em alguns
programas mais conhecidos, como editores de texto e planilhas eletrônicas.
Essa postura de redução do ensino da informática a treinamento nos softwares
mais difundidos é inadequada, e deixa de lado a tarefa mais importante, que é
pensar a aplicação dos novos recursos tecnológicos no sentido de potencializar
a intervenção dos(as) assistentes sociais nas instituições em que trabalham.
Nesse sentido, para o autor, a forma mais adequada de apropriação das novas
tecnologias seria oferecer aos(as) estudantes a oportunidade de praticar a
concepção e a construção de aplicações, e promovendo, ao longo do processo,
uma articulação das potencialidades tecnológicas com alguns aspectos
relevantes da profissão, tais como objeto, estruturas burocráticas, os sistemas
de decisão e as funções administrativas presentes no trabalho profissional.
De forma geral, os depoimentos tratam apenas da importância de
cursos e capacitações que, embora sejam um passo importante na relação da
TI com o Serviço Social, não podem prescindir de momentos de elaboração e
avaliação de possibilidades de aplicação concreta da tecnologia junto a
problemas vivenciados pelos(as) profissionais. Como observam alguns(mas)
profissionais:
257
“Os cursos realizados nos permitem um conhecimento geral, acerca da ferramenta informática e não um conhecimento que associe informática e Serviço Social” (26 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
“Os cursos deveriam abordar instrumentos para viabilizar o trabalho do assistente social” (32 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
Assim, a qualificação não consiste apenas em aprender os
procedimentos necessários para utilizar os computadores. Mais do que isso,
pode proporcionar a descoberta dos usos possíveis da TI pelo Serviço Social,
absorvendo-a e adequando-a às necessidades do projeto profissional.
Tendo em vista as poucas opções de formação sobre os usos
possíveis da TI no Serviço Social, foi percebida uma indicação de que a
ausência deste tema na formação profissional é um problema com o qual
devemos nos preocupar. Como mostra o gráfico a seguir, 85% dos(as)
profissionais consideram que a ausência de cursos e a ausência do tema na
formação profissional podem ser ruins para a profissão.
Gráfico 33 - A ausência do tema na formação profiss ional e a ausência de cursos sobre o tema são ruins para a pr ofissão? - Total de casos: 93
6
8
79
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Não sei
Não
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
258
Os depoimentos a seguir ilustram as diversas considerações dos(as)
profissionais sobre a importância que atribuem ao tratamento da TI na
formação profissional. Se por um lado é possível verificar a presença de
tendências variadas nestes depoimentos, por outro constata-se a intenção
dos(as) profissionais de atribuir à tecnologia um sentido positivo para a
condução de seu trabalho.
“Hoje a TI é muito importante para o nosso trabalho, e não tenho a menor dúvida que deveria fazer parte do currículo de formação do profissional. A meu ver é tão, ou mais importante que a cadeira de estatística” (47 anos, sexo feminino, especialização, empresa - RJ).
“Num mundo tecnológico os profissionais saem perdendo, pois a interação com outros setores ou áreas acontecem através destas tecnologias” (37 anos, sexo feminino, graduação, saúde - SC).
“Somos julgados por estarmos ‘out’ das práticas de comunicação do mundo do trabalho e isto restringe a atuação profissional, além de impactar na imagem profissional” (31 anos, sexo feminino, mestrado, empresa - RJ).
“Considerando que a tendência é o avanço da tecnologia, acredito que se isentar desta ferramenta é arriscar-se a reduzir as próprias oportunidades de trabalho” (54 anos, sexo feminino, graduação, previdência - RJ).
“Quanto mais qualificado, mais chances de mercado de trabalho e melhor qualidade no atendimento ao público” (32 anos, sexo feminino, especialização, saúde - AL).
“Não é possível pensar em formação profissional ignorando um recurso de trabalho como a informática” (33 anos, sexo feminino, graduação, saúde - SP).
Acredita-se que a presença do tema da TI na formação profissional
dos assistentes é uma condição de grande importância, embora não a única,
para que o processo de incorporação de tal tecnologia ao trabalho do Serviço
259
Social se efetive de forma adequada. Os dados disponíveis parecem reforçar
sua importância, na medida em que demonstram, como se verifica no gráfico a
seguir, que os(as) profissionais que indicaram a existência de um processo de
informatização do Serviço Social, indicaram também a existência de uma
formação ou qualificação prévia na área de TI ou informática.
É verdade que entre os(as) profissionais que indicaram a
inexistência de um processo de informatização há também um predomínio de
profissionais que passaram por experiências de formação e qualificação
profissionais em TI ou informática. No entanto, verifica-se, também, dentre os
que não estão informatizados, que a diferença entre os que possuem formação
e os que não possuem é bem menor, quando comparada com os(as)
assistentes sociais inseridos(as) em setores informatizados. Nota-se,
nestes(as) últimos(as), uma diferença bem maior entre os(as) que relataram ter
Gráfico 34 - Informatização do Serviço Social por f ormação na área - Total de casos: 93
50
16
17
10
0 10 20 30 40 50 60
Informatizado
Não informatizado
Fonte: SSTI, 2006.
Sem formação
Com formação
260
participado de algum processo de capacitação ou qualificação e os(as) que
relataram não ter tido nenhuma formação na área. De qualquer forma,
constata-se que a incorporação e o tratamento deste tema no âmbito da
formação profissional é de grande importância para que a profissão possa
efetuar uma apropriação crítica e consistente deste recurso.
3 . 2 . 6 . A R E S I S T Ê N C I A À T I
Os depoimentos permitem notar a existência de uma certa
resistência em relação ao uso da TI, tanto por parte de alguns(mas) assistentes
sociais quanto por parte de alguns gestores. Nestes últimos, a resistência
refere-se à incompreensão da importância da TI para o trabalho dos(as)
assistentes sociais, entendendo que tal recurso não teria qualquer utilidade
para o desenvolvimento das atividades profissionais, como demonstram os
depoimentos a seguir.
“Existem os equipamentos para trabalharmos, mas também existe uma certa resistência na liberação de profissionais para a capacitação/treinamento na área de TI (alguns gestores perguntam: ‘Para que o Serviço Social precisa ser treinado em TI?’)” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Falta vontade dos gestores em informatizar o Serviço Social. TODOS os outros setores já estão informatizados e utilizando o sistema HOSPUB” (34 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
A tal postura se adiciona a inexistência de equipamentos e/ou
recursos adequados de trabalho, demonstrando que, além da ausência de
261
programas de qualificação e formação para os(as) assistentes sociais, a falta
de condições de trabalho adequadas tem sido uma tônica no exercício
profissional cotidiano. É nesse âmbito que se processa uma postura de
resistência dos(as) profissionais em relação ao uso da TI, justificada tanto por
aspectos objetivos quanto subjetivos que condicionam o trabalho profissional.
Indicações acerca desta resistência podem ser verificadas nos depoimentos a
seguir.
“Não só não temos uma estrutura mínima de informatização, como grande parte da equipe de Serviço Social é avessa a este tipo de estrutura como resistência pela não familiaridade com o mundo digital. Grande parte da equipe não é familiarizada com informática, o que gera resistência à digitalização do setor” (34 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“Tanto eu quanto a outra assistente social que trabalha neste setor, ao percebermos a necessidade de utilizarmos programas, buscamos criar planilhas para qualificar o nosso trabalho. Tivemos muitas dificuldades para criar estas planilhas já que tanto eu quanto ela, tínhamos muita resistência em utilizar o computador” (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
“Não temos espaço físico para acomodar todos os técnicos, temos poucos computadores e, além disso, alguns assistentes sociais, que ainda não sabem utilizar o computador, relutam em aprender” (43 anos, sexo feminino, graduação, saúde - RJ).
“Trabalho em setor que se opõe à necessidade da informatização” (32 anos, sexo feminino, especialização, educação - RJ).
Trata-se de uma postura que tem estado presente entre os(as)
assistentes sociais e que vem sendo reproduzida devido a uma série de
fatores, dentre os quais se pode sugerir a falta de condições adequadas e a
ausência de uma problematização consistente sobre o tema no âmbito da
formação profissional.
262
Boa parte dos(as) profissionais considera que se o tema da TI
estivesse mais presente na formação profissional (inclusive com a existência
de cursos e espaços de reflexão sobre os usos de tal recurso no Serviço
Social), a resistência ao seu uso, por parte dos(as) profissionais, poderia
diminuir: 27% consideram que talvez diminuísse e 60% consideram que com
certeza diminuiria.
Gráfico 35 - A resistência ao uso da informática di minuiria com a criação de cursos sobre o tema específicos para o S erviço Social? - Total de casos: 93
7
5
25
56
0 10 20 30 40 50 60
Não sei
Não
Talvez
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
É evidente que a resistência do(a) profissional de Serviço Social ao
uso da TI deve-se a diversos fatores, não sendo conseqüência exclusiva de um
único fenômeno. Dentre eles, pode-se destacar as formas concretas de
utilização da TI no sentido de substituir trabalhadores por máquinas e
computadores, características culturais relacionadas ao sexo, idade, e,
também, às condições de trabalho, que, muitas vezes, não são disponibilizadas
aos(às) profissionais nem de forma adequada nem em quantidade suficiente.
263
Considera-se, no entanto, que a ausência do tema na formação profissional
pode ser considerada um dos mais relevantes elementos que propiciam e
reproduzem essa resistência.
Na medida em que haja uma reflexão sobre a importância da TI para
o Serviço Social no âmbito da formação profissional, é possível o seu
tratamento como elemento estratégico, principalmente por permitir a
apreciação das possibilidades de uso deste recurso no trabalho do(a)
assistente social. Isso não significa, no entanto, que a presença do tema na
formação profissional, acabe, sozinha, com a resistência que a categoria de
assistentes sociais vem demonstrando em relação ao uso da informática, mas
ela pode deter um papel fundamental na sua superação.
Os profissionais não só concordam que a presença do tema na
formação profissional diminuiria a resistência em relação ao uso da TI, como
ainda apresentam algumas propostas de incorporação deste conteúdo, como
se verifica nos depoimentos a seguir.
“Acredito que a presença do tema na formação profissional diminuiria a resistência, desmistificaria” (39 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RS).
“Acho que diminuiria se nos fosse solicitado, desde a graduação, a aprendizagem básica de informações gerais e uso dos programas mais comuns como Word e Excel” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Primeiramente teria que haver palestras de informações sobre a importância de cursos específicos na área de informatização e, em uma segunda fase, realizar laboratórios referente a prática social, como plataforma de agilização técnica operacional” (44 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
264
“Sem dúvida a criação de cursos, talvez sob a forma de laboratórios, estimularia o interesse pela experiência da informática e reduziria as resistências gradativamente. Que eu saiba, 90% das assistentes sociais já usam o computador sistematicamente, na previdência” (54 anos, sexo feminino, graduação, previdência - RJ).
”Sem dúvida! É urgente a criação de cursos voltados para esta área, facilitando o levantamento de dados, a aferição de hipóteses através da análise de informações que, com o uso da informática, agiliza, em muito, os resultados” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
Os depoimentos dos(as) profissionais demonstram a consideração
de que a resistência ao uso da TI é criada por diversos fatores. Um deles
refere-se à faixa etária dos(as) profissionais. Sinalizam que a tendência é a de
que a resistência seja maior entre os(as) profissionais mais velhos, que teriam
mais dificuldades para aprender e para se apropriar das novas tecnologias,
enquanto os mais jovens teriam mais facilidade para aprender e estariam mais
“abertos” às inovações trazidas pela TI.
”Vejo que as novas gerações (estagiários) estão bem ambientados. As antigas gerações têm resistência, que acho que é cultural mesmo” (37 anos, sexo feminino, mestrado, empresa - RJ).
“Vejo resistência mais nos profissionais que estão formados há mais de dez anos do que nos mais recentes” (44 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
“Acho que a resistência é maior se relacionada aos profissionais da ‘antiga’, pois os novos profissionais interagem bem, vide o número significativo de pessoas do Serviço Social no ‘Orkut’ e a quantidade que recebe o ‘Via Cress’ (boletim informativo do CRESS)” (29 anos, sexo masculino, mestrado, assistência - AL).
“Não sei se há uma resistência ao uso da informática pelos jovens que ingressam na universidade. Imagino que não, mas estou desinformada a respeito” (53 anos, sexo feminino, mestrado, previdência - RJ).
265
Essa questão da idade é entendida como um obstáculo para o
processo de incorporação da TI ao Serviço Social, gerado a partir da idéia
fortemente difundida de que os mais jovens têm melhores condições de usar a
informática do que os mais velhos. Os(As) profissionais indicaram que a
parcela mais jovem da categoria está pronta para incorporar a TI ao trabalho,
mas, por outro lado, aqueles profissionais que se encontram em faixas etárias
mais elevadas ou inseridos há muito tempo no mercado de trabalho, e
acostumados com as rotinas já estabelecidas, já teriam, em sua opinião, mais
dificuldades para operar essa incorporação. Ao perguntar aos(às) profissionais
se os(as) assistentes sociais teriam condições de incorporar a TI ao seu
trabalho, as respostas segmentam os(as) assistentes sociais mais novos(as) e
os(as) mais velhos(as).
“Os jovens sim, os mais velhos são muito resistentes e despreparados” (53 anos, sexo feminino, mestrado, previdência - RJ).
“As novas gerações, sim, entretanto aquelas que estão no mercado de trabalho há muito tempo, se faz necessário um curso” (32 anos, sexo feminino, especialização, saúde - AL).
“Bom, acredito que as assistentes sociais que se formaram há pouco tempo, sim” (23 anos, sexo feminino, graduação, assistência - PR).
“Acredito que sim. As gerações atuais estão habituadas, ou são obrigadas a se habituar com o uso da informática, por exigência dos próprios trabalhos solicitados pelos professores. Não existe instituição que não utilize este meio de informação, comunicação e organização de dados. As poucas que não possuem computador estão em busca de consegui-lo. Fazer bom uso da tecnologia, favorece o desenvolvimento do trabalho realizado junto aos usuários” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
“Percebo que os profissionais mais jovens já vêm trazendo o conhecimento da informática e aplicando-o no seu dia-a-dia” (47 anos, sexo feminino, especialização, empresa - RS)
266
Evidentemente a questão que aparece nos depoimentos não se
refere a um problema exclusivo do Serviço Social. A relação entre TI e
geração, principalmente no que se refere a seu uso pelos integrantes da
chamada “terceira idade”, tem chamado a atenção de alguns autores, dentre os
quais se pode destacar a obra de Kachar (2003). Embora se perceba a
relevância de tal aspecto para a compreensão das diversas formas de
apropriação da TI, não se estabelece neste trabalho qualquer tentativa de
compreender essa relação, tendo em vista que o objetivo principal consiste na
elaboração de uma reflexão inicial acerca da importância da TI para o exercício
profissional. Fica, portanto, para trabalhos futuros, a reflexão sobre as
influências dos aspectos geracionais sobre as possibilidades de apropriação da
TI.
Assim, como visto, a resistência ao uso da TI tem estado presente
entre os(as) assistentes sociais, a despeito de sua potencialidade para o
trabalho profissional. Trata-se de uma questão que merece atenção por parte
da categoria profissional, por integrar o conjunto de dificuldades e obstáculos
que se colocam à efetiva e consistente apropriação deste recurso pelo Serviço
Social.
3 . 2 . 7 . O S I G I L O P R O F I S S I O N A L
Um aspecto considerado relevante pelos(as) profissionais e que
aparece de forma recorrente nos depoimentos refere-se ao sigilo no
267
atendimento, direito profissional previsto no Código de Ética Profissional de
1993 e sempre reivindicado no cotidiano profissional. Muitos(as) profissionais
informaram que as condições em que seu trabalho se realiza não permitem que
tal direito seja garantido, ficando o sigilo, muitas vezes, prejudicado pela
ausência de condições adequadas, como ilustram os depoimentos a seguir.
“No momento, houve uma melhora. Entretanto ainda não apresenta todas condições necessárias para se considerar o local próximo do ‘ideal’. A falta de ambientes sigilosos, já que se trata de uma sala única que foi dividida de modo a se obter dois espaços, porém não há sigilo entre ambos. Problemas de ventilação na sala (no verão é impraticável) e a dificuldade de acesso a equipamentos de informática, entre outros” (28 anos, sexo feminino, graduação, saúde - RJ).
“As condições são ruins, desde recursos humanos (insuficientes) a recursos físicos, materiais e financeiros para os programas/projetos. Ainda estamos na ‘era da escrita’ e a intensidade e quantidade de relatórios e procedimentos realizados propiciam riscos à saúde (caso das tendinites). O que temos disponível é espaço físico, com sala individual para o atendimento Mas ainda são necessárias condições de maior sigilo, pois as salas são muito próximas, permitindo a quem está do outro lado, ouvir todos os procedimentos/orientações. Seria muito bom se tivéssemos computadores, com acesso a rede de atendimentos prestados no município, acesso a Internet, dentre outros” (38 anos, sexo feminino, doutorado, assistência - SP).
“Bem, o nosso serviço conta com uma infra-estrutura precária em relação às demandas dos usuários e institucionais. Um exemplo é que não há privacidade para o atendimento. Quanto ao computador, só há um único exemplar, que logo se tornará obsoleto. Somos seis assistentes sociais numa sala sem divisória e com toda a parte elétrica precisando de reparos” (34 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
A preocupação com a manutenção do sigilo profissional aumenta
quando se pensa a presença do uso da TI. Alguns(mas) profissionais
problematizam a possibilidade de quebra de sigilo, por conta da utilização de
computadores para registro dos dados e informações sobre os usuários e
usuárias, que são partilhados com outros(as) profissionais. Como, muitas
268
vezes, os computadores disponíveis não são exclusivos do Serviço Social,
sendo utilizados, também, por outros membros da equipe de trabalho, fica a
interrogação a respeito da proteção dos dados sigilosos que os(as) assistentes
sociais armazenam nesses computadores de uso coletivo. Essa preocupação
pode ser verificada no depoimento a seguir.
“Sempre percebi a necessidade de organização, para que houvesse uma maior clareza das questões que atravessam o exercício profissional do assistente social. A partir da demanda por mim apresentada, foi viabilizado o computador para uso exclusivo do Serviço Social. Antes existia um computador para toda a equipe técnica (formada por uma assistente social, uma pedagoga e um coordenador), por isso, como essa ferramenta era utilizada por todos os profissionais, algumas informações não podiam ser colocadas neste computador de uso coletivo, tendo em vista a necessidade de se assegurar o sigilo do usuário” (26 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
Tratando deste tema, Colmán (2004) aponta para a pertinência da
reflexão sobre o sigilo em ambientes informatizados, tendo em vista os
crescentes riscos de invasões. Observa o autor que o problema do sigilo
profissional tem sido usado como uma das “justificativas” para a resistência de
muitos(as) profissionais ao uso das novas tecnologias em seu trabalho. Ele
concorda que a utilização de computadores, bancos de dados com os registros
dos atendimentos realizados e redes informatizadas podem comprometer o
sigilo do trabalho dos(as) assistentes sociais, tendo em vista a possibilidade,
oficial ou não, de acesso de terceiros aos dados e informações confidenciais
sobre os usuários e usuárias. Isso tem feito com que muitos(as) profissionais
desconfiem da possibilidade de sigilo que os recursos da TI podem garantir.
Apesar de reconhecer que as preocupações apontadas pelo autor
podem ser tomadas como válidas, considera-se que o risco de invasão ou
269
quebra de sigilo já é uma realidade presente no trabalho cotidiano,
independentemente do uso de computadores ou bancos de dados por parte
dos(as) profissionais. De forma geral, as possibilidades de invasão de um
computador em rede são tão reais quanto as possibilidades de invasão de um
arquivo comum. Em ambos os casos, são necessários procedimentos
específicos de segurança da informação, de modo a preservar o sigilo dos
dados. Parece que a alternativa mais adequada não deveria ser a negação do
uso da TI, mas o aprofundamento deste uso, o domínio das possibilidades de
segurança e de restrição de acesso existentes. Tal fato demonstra que a
incorporação da TI ao trabalho não se reduz à existência de computadores no
Serviço Social, mas sim ao domínio deste recurso, o que só é possível com
qualificação e aprimoramento constantes.
Tampouco, limita-se ao mero uso de programas e aplicativos
básicos, demandando da profissão a apropriação de recursos cada vez mais
sofisticados que possam ser utilizados para o fortalecimento do trabalho. É
evidente que haverá problemas e questões decorrentes do uso da TI no
exercício profissional. No entanto, tais problemas não devem ser usados como
justificativa para a negação deste uso, mas como indicadores da necessidade
de qualificação e aprimoramento cada vez mais constantes, que possam gerar
uma apropriação efetiva e consistente da TI por parte da profissão, aplicando-a
às diversas dimensões que compõem o exercício profissional.
270
3 . 2 . 8 . A S C O N D I Ç Õ E S D E T R A B A L H O
Considera-se que a informatização do Serviço Social não significa
automaticamente a incorporação do potencial oferecido pela TI. Tal potencial
será incorporado ao trabalho, na medida em que os(as) profissionais tiverem
condições de se apropriar crítica e criativamente de seus recursos. Isso
demanda uma série de esforços que envolvem vontade política, existência de
condições adequadas de trabalho, envolvimento com o trabalho, formação e
qualificação profissional contínuas, dentre outros. Tais condições nem sempre
estão disponíveis aos(às) profissionais, o que proporciona sérias dificuldades
para a incorporação da TI ao trabalho. Assim, pensar as possibilidades desta
incorporação supõe conhecer, de início, as condições de trabalho em que
os(as) profissionais se encontram, entendendo que estas condicionam tal
apropriação.
A existência de condições adequadas, embora não seja pré-requisito
único e absoluto para uma consistente incorporação da TI, pode ser
considerada um aspecto básico, pois de fato expressa a presença dos
elementos materiais e objetivos necessários a tal incorporação. Verificou-se
que 58% dos(as) profissionais informaram dispor de condições de trabalho
adequadas, entendendo que boa parte dos recursos necessários para a
condução de seu trabalho encontrava-se disponível. Por outro lado, 27%
afirmaram não possuir condições adequadas de trabalho e 15%, condições
razoáveis, como demonstra o gráfico a seguir.
271
Gráfico 36 - Possui condições de trabalho adequadas ? - Total de casos: 93
54
25
14
0 10 20 30 40 50 60
Sim
Não
Razoáveis
Fonte: SSTI, 2006.
Alguns depoimentos apontam para a idéia de que as dificuldades
encontradas no cotidiano do trabalho, no que se refere às condições de
trabalho, não são exclusivas dos(as) assistentes sociais, espalhando-se pelo
conjunto dos trabalhadores. Assim, os(as) profissionais sinalizam a importância
de se apreender não apenas as condições de trabalho do Serviço Social,
especificamente, mas dos(as) trabalhadores em geral, como sinalizam os
depoimentos a seguir.
“Não entendo que se deva ver as condições de trabalho ‘do’ Serviço Social. Se pensarmos desta forma, estamos nos vendo como uma corporação. Entendo que os assistentes sociais devam estar preocupados com as condições de trabalho de todos os trabalhadores da área onde está inserido, onde trabalha. Como assistente social de uma prefeitura municipal tenho que estar preocupada com as condições de trabalho do conjunto de servidores municipais. O mesmo deveria acontecer se trabalhasse numa fábrica, numa siderúrgica. Hoje os profissionais de Serviço Social não estão alocados tão simplesmente num setor de Serviço Social, mas distribuídos em equipes multidisciplinares. No meu caso, penso que temos condições de trabalho (considerando sala, telefone, equipamentos, material administrativo, transporte, acesso) muito boas. Não foge ao do conjunto de trabalhadores: a crescente defasagem salarial” (47 anos, sexo feminino, especialização, gestão - RS).
272
“As condições são boas, embora haja dificuldades, mas estas não são exclusivas dos profissionais de Serviço Social. No âmbito do meu trabalho, faltam políticas institucionais para melhor definir a extensão, sua estrutura, financiamento, maior fomento da pesquisa etc.” (35 anos, sexo feminino, especialização, educação - BA).
Ao relatarem as condições de trabalho em que se encontram
inseridos(as) os(as) profissionais fizeram referência às mudanças que vêm
atingindo os processos de trabalho nas instituições empregadoras, muitas das
quais em decorrência do advento do projeto neoliberal e de estratégias de
combate à crise estrutural do capital surgida a partir da década de 70, tais
como a reestruturação produtiva, a reforma do Estado e o aberto combate ao
trabalho.
No contexto de crise, o capital reage atacando fortemente o trabalho,
com vistas a aumentar os níveis de extração de mais-valia, intensificando a
exploração e diminuindo os custos de produção pela redução de gastos
atrelados ao salário. De uma maneira geral, o neoliberalismo pretendia acabar
com a intervenção do Estado sobre a economia, liberando o capital para
livremente se desenvolver e reproduzir. Tal “liberação” implicava redução,
quando não eliminação, dos direitos trabalhistas, por meio da chamada
desregulamentação, além da flexibilização das relações de trabalho, tendo por
conseqüência o recrudescimento de fenômenos como subcontratação,
precarização, e horizontalização, e levando a maiores complexificação e
heterogeneização do trabalho, configurando diversas metamorfoses no mundo
do trabalho (Antunes, 1998). São fenômenos que levaram a um enxugamento
do trabalho, à sua "liofilização" (Antunes, 2000), gerando aumento da
273
desigualdade, da pobreza e das injustiças sociais, e ocasionando sérias
conseqüências para a formação das identidades individuais, que, como
observou Telles (1994), são constituídas a partir de suas conexões com o
trabalho e com o conjunto de relações sociais acessadas por seu intermédio.
Se antes o contexto era de uma certa “segurança social”, a partir do
novo processo de reestruturação do capital (determinado tanto pela crise de
acumulação do capitalismo quanto pela crise do socialismo real) este passa a
ser de “insegurança”, como destacou Mattoso (1996). Trata-se, portanto, de um
contexto no qual o trabalho passa a sofrer duros ataques por parte do capital,
como forma de criar novas condições para que o processo de acumulação
continue, e para que as taxas de produtividade e de extração de mais-valia
sejam elevadas.
As conseqüências do neoliberalismo foram drásticas, ressaltando-se
dentre elas o aumento das desigualdades sociais devido ao desemprego e à
forte concentração de renda. O novo modelo de acumulação posto em prática
com a reestruturação do capital, a “acumulação flexível” (Harvey, 1993),
fomenta o desemprego, a pobreza e a miséria, resgatando antigas formas de
exploração do trabalho (baseadas na extração de mais-valia absoluta) e
articulando-as com formas contemporâneas de exploração (baseadas na
extração da mais-valia relativa). Como mostrou Teixeira (1996), o fenômeno do
“salário por peça”, que Marx analisou em O Capital e que serviu de alavanca
para o prolongamento do tempo de trabalho e rebaixamento dos salários,
assume novas configurações no atual contexto. De acordo com o autor, as
274
grandes corporações contam com uma rede de pequenas e microempresas
espalhadas ao seu redor. Tais corporações dispõem, assim, de um enorme
contingente de trabalhadores domésticos, artesanais, familiares, que funcionam
como peças centrais de uma cadeia de “subcontratação” e constituem-se como
fornecedores de trabalho “materializado”, trabalho este vendido ao capital, sem
que ele sequer seja realizado nas instalações fabris.
Trata-se, portanto, de conseqüências nefastas para os
trabalhadores, demonstrando que a precarização e subcontratação do trabalho,
presentes hoje de maneira recorrente nas diversas sociedades, impacta
fortemente a resistência e a luta destes mesmos trabalhadores. Neto (1996),
por exemplo, observa que o desemprego, na atualidade, é um pressuposto da
reestruturação produtiva, o qual teria por finalidade enfraquecer a capacidade
de resistência coletiva dos trabalhadores (p.89). Para este autor, o chamado
"exército industrial de reserva" torna-se a base da fragilização dos sindicatos e
da introdução de uma ideologia de cooperação com as imposições do capital,
proporcionando uma adesão dos trabalhadores aos processos de trabalho
flexíveis. Como destacou o autor, o desemprego enfraquece a solidariedade da
classe trabalhadora empregada e desempregada, debilitando a capacidade de
luta e resistência dos trabalhadores assalariados (p.94).
Ao relatarem as condições de trabalho em que vêm exercendo suas
atividades profissionais, os(as) assistentes sociais demonstram sofrer os
impactos do quadro brevemente exposto acima, apontando questões como:
inadequação de espaço e a estrutura física disponibilizados ao Serviço Social;
275
inexistência de recursos materiais e humanos; ausência de bom
relacionamento com os integrantes da equipe, chefia, direção e demais
profissionais; carga horária de trabalho excessiva; inexistência de políticas
públicas voltadas ao atendimento das necessidades da população usuária.
Os(As) profissionais entendem ainda que a existência de condições adequadas
de trabalho, para além da disponibilidade de equipamentos ou recursos
materiais, refere-se, também, à existência de condições favoráveis de convívio
profissional e de construção de uma proposta de trabalho participativa, que, em
conjunto com as políticas públicas existentes, possam contemplar,
democraticamente, os diversos interesses envolvidos no trabalho e gerar algum
tipo de mudança na realidade social.
Nota-se, ainda, uma comparação com as condições de trabalho
existentes em outras instituições em que os(as) profissionais já trabalharam,
seja para argumentar que as atuais condições são adequadas, seja para dizer
que há lugares piores, ou ainda para demonstrar que, em geral, as condições
de trabalho do Serviço Social são marcadas pela escassez de recursos e
precariedade das instalações.
“Tenho boas condições de trabalho, considerando a maioria das demais instituições que possuem assistentes sociais em seus quadros.” (33 anos, sexo feminino, especialização, educação - RJ).
“Como a maioria dos setores de Serviço Social, não são muito boas. Não temos uma sala própria para atendimento. Existem recursos materiais para trabalhar, mas não existe um espaço físico exclusivo do Serviço Social. O atendimento é feito numa sala fechada, mas que é dividida com os outros segmentos do setor de recursos humanos” (44 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
“As condições são excelentes. Trabalho na Petrobrás. Sei que esta não é a
276
realidade do Serviço Social em outros lugares, pois tenho trajetória anterior. Aqui o Serviço Social tem condições de trabalho bem diferenciadas de outros locais. No entanto, ainda permanecem alguns dilemas relacionados à correlação de forças institucional” (31 anos, sexo feminino, mestrado, empresa - RJ).
Boa parte dos(as) profissionais aponta insuficiências ou lacunas nas
condições de trabalho, demonstrando não dispor da integralidade de requisitos
necessários para a atuação. Dentre elas são destacadas as observações feitas
pelos(as) profissionais em relação à carga horária de trabalho, considerada
extrema em alguns casos, e à inexistência de profissionais em número
suficiente, o que pode produzir situações de sobrecarga de trabalho, estresse e
tensão. Soma-se a esses fatores a inexistência de programas sociais em
quantidade suficiente para o desenvolvimento das atividades de
referenciamento e encaminhamento. Estas situações são expressas nos
depoimentos a seguir.
“Atualmente, temos duas salas de atendimento para assistentes sociais e conselheiros. No entanto, no município do Rio de Janeiro temos apenas dez Conselhos Tutelares, quando a demanda real é de no mínimo o dobro deste número. A equipe técnica é composta por apenas três assistentes sociais e um psicólogo, e temos demanda de pedagogo e assessoria jurídica. A demanda da nossa área de abrangência é de termos pelo menos mais dois Conselhos Tutelares. No cotidiano faltam os suprimentos de manutenção aos equipamentos, tais como tinta para a impressora, toner para a copiadora. Temos demanda para mais uma viatura e mais profissionais” (33 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RJ).
“Em geral, as condições de trabalho são muito boas. As queixas ficam por conta dos programas para concessão de benefícios e a legislação muito complexos e sempre em mutação, muitas vezes até contraditórios entre si, dificultando o acesso aos benefícios previdenciários e mais a redução de espaço para as equipes de Serviço Social à medida que aumentam as equipes de perícia médica. Na maioria das unidades as assistentes sociais compartilham um Box e um computador para duas ou três profissionais. Além das contradições citadas, há uma supervalorização do medo de fraudes que, somada à falta de tempo para atualizar-se sobre a legislação, leva os servidores da área de benefícios a se fecharem para os problemas com que lidam diariamente” (54 anos, sexo feminino, graduação, previdência - RJ).
277
“As condições de trabalho no geral são adequadas, com limitações de disponibilidade de espaço físico e considero que a carga horária para quem faz atendimentos sociais deveria ser reduzida (hoje 40 horas semanais) devido ao estresse emocional. Há um microcomputador para cada profissional. Os recursos mais escassos são os humanos e por falta de espaço físico” (42 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
“A carga horária é exaustiva (40 horas) e há uma forte flutuação de recursos (uma hora tem, outra não tem). Em outra instituição em que trabalho um dos principais problemas é a falta de sala de atendimento, porém já há previsão de construção para o segundo semestre deste ano. Foi aprovada a solicitação do Serviço Social com base na lei que regulamenta a profissão e no código de ética profissional” (29 anos, sexo masculino, graduação, assistência - RJ).
A título de ilustração pode-se apontar a inexistência, observada em
alguns depoimentos, de um dos recursos mais importantes para o trabalho
do(a) assistente social: o telefone. Vários profissionais sinalizaram a sua
inexistência em seus locais de trabalho, fato que pode ser considerado grave,
tendo em vista que boa parte das atividades e dos contatos do Serviço Social
se faz exatamente a partir de seu uso. Ironicamente, alguns(mas) profissionais
relatam a existência até de computadores, sem, no entanto, disporem de linha
e aparelhos telefônicos.
“Não possuímos sequer linha telefônica para o Serviço Social” (29 anos, sexo masculino, graduação, assistência - RJ).
“Computador existe com Internet para consulta. Não existe linha direta telefônica na sala de uso do Serviço Social, o que dificulta contato com outras instituições” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“O local de trabalho é insalubre, com pouca iluminação e instalação elétrica precária. Não há recursos materiais. Instalaram uma linha telefônica há pouco mais de um mês, após vários relatórios enviados” (40 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
278
Além da inexistência de condições objetivas adequadas, os(as)
profissionais apontam, também, a falta do que eles chamaram de condições
“subjetivas”, apontando a incidência de interferências que outros(as)
profissionais realizam em seu trabalho. Assim, os(as) assistentes sociais
relatam uma expectativa dos(as) demais profissionais em relação às atividades
a serem realizadas pelo Serviço Social, indicando que outros(as) profissionais
consideram que os(as) assistentes sociais deveriam efetuar tarefas que, em
sua opinião, não fazem parte das suas atribuições previstas na lei que
regulamenta o exercício da profissão. Vislumbra-se, portanto, uma tendência
de reforçar uma visão de “indefinição profissional”, que pode contribuir, como
ocorre em muitos casos, para a criação de uma tensão entre os(as) assistentes
sociais e os(as) demais profissionais que integram a equipe de trabalho,
fazendo com que as condições de trabalho tornem-se ainda mais estressantes,
já que se trata de interferências que podem trazer prejuízo para o processo
coletivo de trabalho.
A esse respeito, Iamamoto (1998) destaca que, em meio às radicais
alterações incidentes nos diversos campos profissionais, “não têm mais lugar
as visões do Serviço Social ‘prisioneiras do passado’, que identificam as
funções e atribuições tradicionalmente instituídas como sendo ‘o Serviço
Social’” (p.110). A autora ressalta que na medida em que determinadas
funções são eliminadas ou alteradas, e organizações se reestruturam,
modificando também a própria inserção do Serviço Social em seu interior, “os
profissionais, que caem nas armadilhas daquelas análises a-históricas, sentem
279
‘perder o chão’, ‘diluir sua identidade profissional’, receando a ‘morte prematura
do Serviço Social, a perda de espaço ocupacional e de poder” (idem).
Assim, faz-se necessário aos(às) assistentes sociais olhar além das
fronteiras imediatas das atividades da rotina profissional, tentando apreender
as tendências presentes nos processos profissionais e alterações
macroscópicas que se passam na atualidade, com vistas a identificar novas
possibilidades e requisições para o trabalho. Nesse sentido, é preciso, como
enfatiza a autora:
“... ultrapassar o mito da ‘indefinição profissional’ para
apreender o lugar do assistente social em um processo coletivo
de trabalho, partilhado com outras categorias de trabalhadores,
que, juntos, contribuem na obtenção dos resultados ou
produtos pretendidos” (p.110).
Verificou-se, também, a indicação de interferências seja de pessoas
que julgam entender da área, seja de assistentes sociais que detêm
concepções de profissão que se diferenciam (ou se contrapõem) da concepção
presente no projeto profissional. Esta interferência pode ter por base, ainda
como apontam alguns depoimentos, uma vinculação do Serviço Social com
praticas assistencialistas, entendendo a profissão como sinônimo de
assistência, quando na verdade esta consiste num dos espaços de atuação
profissional, e não a profissão em si.
“Objetivamente, são as mesmas condições dos demais técnicos. Em relação à informatização, são dois computadores (sendo um conectado a Internet por banda larga) para um grupo de seis profissionais. Já as condições subjetivas de trabalho dos técnicos de Serviço Social são diferentes dos demais técnicos, pois estes apresentam diversas demandas e expectativas
280
estranhas ao serviço, por um lado e, por outro, estranham algumas ações empreendidas pelo serviço (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Há interferências no setor, de chefias ou pessoas que não entendem da área” (37 anos, sexo feminino, graduação, saúde - SC).
“São adequadíssimas, inclusive resguardando o sigilo necessário a documentos e entrevistas com os usuários. Temos sala exclusiva, computador com acesso a Internet à disposição, um programa voltado para as questões sociais, arquivos invioláveis, verba para visita domiciliar. O que for necessário para a realização do trabalho está à disposição. Ainda há, no entanto, dificuldade de outros profissionais entenderem a atuação do assistente social” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
“Nesta atual instituição que estou trabalhando há um ano e uns três meses, basicamente estamos implantando o Serviço Social e como já havia passado por lá outros profissionais de competência duvidosa, estamos tendo um certo trabalho em desmistificar algumas ações, principalmente mostrar outro trabalho além do assistencial. Estamos começando a mostrar as nossas necessidades e temos encontrado respostas satisfatórias, apesar de algumas resistências. Estamos sem um coordenador, sem diretor e quem está querendo nos assumir e ser nosso chefe, não tem a menor condição, pois tem uma prática extremamente assistencialista e não sabe diferenciar Assistência Social de Serviço Social. Já havia um trabalho muito na linha do assistencialismo e estamos tentando mostrar outros processos de trabalho e aí às vezes temos de ser assistencial e não deixar de mostrar outro trabalho para ir mudando aos poucos” (35 anos, sexo feminino, especialização, saúde - TO).
Evidencia-se, portanto, a importância dos(as) profissionais
atentarem para o reforço de uma autonomia profissional (ainda que relativa) na
instituição em que se encontram inseridos, o que não significa, no entanto, que
o(a) profissional tenha condições de definir as formas pelas quais pretende se
inserir no espaço institucional. Os(as) assistentes sociais, na condição de
profissionais assalariados(as), têm de submeter-se às formas de organização
do trabalho definidas pelas instituições empregadoras. Como lembra Guerra
(1995):
281
“Este vínculo de assalariamento, ao mesmo tempo que é
resultante das funções sociais atribuídas ao profissional,
interdita suas ações às funções para as quais sua força de
trabalho foi adquirida. Ao não se perceber como trabalhador
assalariado, desprovido dos meios de produção, o assistente
social pode acreditar na sua autonomia, que somente se
explicita no plano jurídico formal” (p.156).
Assim, se por um lado cabe aos(às) assistentes sociais perceberem
sua condição de trabalhadores que detêm, com as instituições empregadoras,
vínculo de assalariamento, por outro, isso não significa que o(a) profissional
pode organizar seu trabalho da forma que deseja, cabendo à instituição
empregadora a disponibilização dos meios pelos quais a força de trabalho
do(a) assistente social se transformará em trabalho. Como destacou, Iamamoto
(1998):
“Ainda que dispondo de relativa autonomia na efetivação de
seu trabalho, o assistente social depende, na organização da
atividade, do Estado, da empresa, entidades não-
governamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus
serviços, fornecem meios e recursos para sua realização,
estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na
definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do
trabalho institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um
condicionante a mais do trabalho do assistente social. Ela
organiza o processo de trabalho do qual ele participa” (p.63).
O compromisso dos(as) profissionais com a realização de um
trabalho crítico, competente e criativo, sintonizado com as demandas de seus
usuários e usuárias é um aspecto fundamental do exercício profissional, o que
permite uma inserção mais qualificada dos(as) profissionais em seu campo de
282
atuação. Assim, a autora observa que a ruptura com uma atividade burocrática
e rotineira, preocupada com a mera realização de tarefas as mais diversas e
com o cumprimento de atividades preestabelecidas, supõe um exercício da
profissão que ela caracteriza como:
“... uma ação de um sujeito profissional que tem competência
para propor, para negociar com a instituição os seus projetos,
para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e
funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas
institucionais e buscar apreender o movimento da realidade
para detectar tendências e possibilidades nela presentes
passíveis de serem impulsionadas pelo profissional” (p.21).
Nesse sentido, conclui Iamamoto que as “possibilidades estão dadas
na realidade, mas não são automaticamente transformadas em alternativas
profissionais”, o que significa que compete aos(às) profissionais “apropriarem-
se dessas possibilidades e, como sujeitos, desenvolvê-las transformando-as
em projetos e frentes de trabalho” (p.21).
O desenvolvimento dessa postura profissional pode ser entendido
como um dos elementos que permitem a construção de propostas de trabalho
críticas e criativas, aproveitando as possibilidades presentes no cotidiano
profissional. Trata-se de um esforço de grande importância para a profissão,
podendo, inclusive, contribuir para o acesso a uma melhoria das condições de
trabalho. Muitas vezes a mobilização, a articulação, a organização e a
criatividade da equipe aparecem como fatores determinantes na alteração de
tais condições. Sinalizam os(as) profissionais que as dificuldades que
cotidianamente se colocam ao trabalho são mais bem superadas quando a
283
equipe consegue, coletivamente, articular os interesses e traçar propostas de
trabalho criativas e implementá-las de forma democrática.
“Hoje o Serviço Social possui uma sala ampla, preservada para a realização dos atendimentos. Possui autonomia de propor suas ações e propostas de trabalho. Participa de espaços de representação da categoria profissional - item este presente no projeto de intervenção, o que consideramos fundamental! Tentamos garantir a participação do profissional nesses espaços coletivos. Estamos pleiteando a contratação de mais uma profissional de Serviço Social, pois as demandas que chegam para esta categoria são inúmeras. Pretendemos assegurar que o trabalho se mantenha com qualidade e que o profissional não caia no chamado ativismo profissional” (26 anos, sexo feminino, graduação, assistência - RJ).
”Possuímos excelente estrutura física e material na primeira instituição. Entretanto há um embate muito grande pela conquista do nosso espaço e pelo reconhecimento da autonomia profissional, uma vez que a instituição é extremamente conservadora e hierarquizada. No hospital onde também trabalho, temos o reconhecimento da autonomia e do espaço, mas carecemos enormemente de estrutura física e material. Falta de espaço físico (dividido com a psicologia), falta de material permanente (cadeiras quebradas, mesas velhas com fórmica soltando, até condicionadores de ar tivemos de comprar com recursos próprios a fim de tornar a sala menos insalubre); Falta de funcionamento das instituições que prejudica a nossa clientela e demanda do profissional grandes embates no encaminhamento dos casos” (34 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“A equipe precisa tomar a iniciativa de mobilizar os meios para a informatização, já que a instituição tem recursos” (45 anos, sexo feminino, graduação, empresa - SP).
“As condições são relativamente precárias. Temos algumas conquistas em virtude de uma certa imposição e organização da equipe. Não tínhamos uma sala de atendimento e em uma reunião conseguimos estabelecer que a sala da coordenação seria utilizada para os atendimentos (então toda vez que uma família chagava o coordenador saía da sala; isso era um pouco constrangedor, mas necessário). No trabalho em comunidade muito do que era realizado, era fruto da nossa criatividade e como estamos acostumados a trabalhar em condições precárias fica até difícil estabelecer um critério do que é adequado” (29 anos, sexo masculino, mestrado, assistência - AL).
“Não há funcionário administrativo, ficando a equipe sobrecarregada com trabalhos burocráticos. Na sala de trabalho, sequer há janelas e os computadores estão sempre com defeito. Falta articulação entre a equipe para mobilizar os recursos necessários ao bom andamento do trabalho e das rotinas. Muitos colegas não sabem operar computadores, danificando a máquina. Existem três computadores, mas sempre há apenas um funcionando” (45 anos, sexo feminino, graduação, empresa - SP).
284
“Temos conquistado nosso espaço na instituição” (32 anos, sexo feminino, especialização, saúde - AL).
“Posso dizer que neste setor temos condições favoráveis para o desenvolvimento do trabalho, porém, em alguns momentos temos que pressionar para que as condições necessárias se concretizem” (32 anos, sexo feminino, mestrado, gestão - RS).
Nota-se nos depoimentos a presença de uma postura profissional
que valoriza o trabalho, demonstrando engajamento e responsabilidade na
tentativa de superar as dificuldades, sempre numa perspectiva de compromisso
e atualização profissional constante. É nesse contexto que, apesar de todas as
dificuldades e resistências, alguns(mas) profissionais conseguem utilizar os
recursos da TI e aplicá-los ao Serviço Social, tendo em vista a preocupação
com a qualificação de seu trabalho e a melhoria do atendimento ao usuário.
“Não há condição ideal, mas contamos com um mínimo que permite oferecer ao usuário um atendimento mais respeitoso. Em termos de hardware contamos com três computadores meio ultrapassados, duas impressoras matriciais e uma jato de tinta, mas cujos cartuchos são sempre um problema para se conseguir. Após exaustivos pedidos, recebemos mais dois computadores há poucos dias, mas ainda não foram instalados. Há necessidade também de ampliar as instalações elétricas e organizar local para ficarem (bancadas ou mesas). Recentemente, conseguimos fazer inscrições por e-mail para evento que promovemos, mas o pouco espaço do nosso e-mail chegou a dificultar o serviço. Além disso, ele somente funcionou porque criamos um e-mail em nossos computadores e com servidor particular. Estamos aguardando a instalação de outros dois aparelhos, mas não há perspectiva de liberação de impressoras ou do conserto, ou ainda da liberação de cartucho” (48 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“No momento disponho de um computador que divido com uma administrativa que está subordinada a mim. O ideal é que tivesse um computador disponível apenas para mim, que tivesse programas atualizados. Como sou chefe de outras equipes de Serviço Social que estão em outras unidades de saúde, o fato das assistentes sociais destas unidades não terem acesso às mesmas condições de trabalho que eu, acaba inviabilizando uma série de fluxos que poderiam ser criados para facilitar/qualificar nosso trabalho. São necessários equipamentos, com programas instalados, com Internet e intranet. Não dispomos de profissionais que dominem a tecnologia para utilizá-la em sua potencialidade, nem de cursos que nos capacitem para tanto” (28 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
285
“Quando chegamos ouvimos falar que foi implantado um programa para o Serviço Social muito bom, mas não estava funcionando. Agora estão tendo as reuniões para criação de novo programa e estão ouvindo todas as nossas necessidades” (35 anos, sexo feminino, especialização, saúde - TO).
“Dispomos de um sistema próprio para formulação de estudo social, para anotações de entrevistas e atendimentos diversos, bem como sistema específico CUIDA (Cadastro Único Informatizado de Adoções e Abrigos) que é alimentado diariamente e permite a todas as profissionais do TJ do estado de Santa Catarina acesso on-line. Temos também o SAJ (Sistema de Automação do Judiciário - Santa Catarina) que tem destinações específicas para o profissional de Serviço Social fazer inclusão de atendimentos nos autos” (48 anos, sexo feminino, especialização, justiça - SC).
Considera-se que as condições de trabalho nas quais os(as)
assistentes sociais estão inseridos(as) podem ser consideradas um fator de
grande importância na incorporação da TI pelo Serviço Social, e, muitas vezes,
sua existência ou inexistência pode ser explicada por aspectos como inserção
da instituição no campo das políticas sociais, na contradição entre capital e
trabalho, nas prioridades governamentais etc. Desta forma, a existência ou não
de tais condições não depende apenas da ação do(a) profissional, mas de
diversos outros fatores. Ainda assim, apesar dos vários problemas e
dificuldades detectados nos depoimentos, 70% dos(as) profissionais indicaram
que as condições de trabalho existentes em suas instituições permitem uma
apropriação da TI pelo Serviço Social, como indica o gráfico a seguir.
286
Gráfico 37 - Há condições de trabalho que permitam uma apropriação tecnologia? - Total de casos: 93
65
28
0 10 20 30 40 50 60 70
Sim
Não
Fonte: SSTI, 2006.
Apesar da existência das dificuldades apontadas, os(as)
profissionais parecem vislumbrar possibilidades de incorporação da TI ao
trabalho, o que pode demonstrar uma tentativa de superar os problemas reais
existentes no cotidiano. Dentre esses problemas merecem destaque a
inexistência de equipamentos e momentos de qualificação em TI e a
dificuldade de acesso a computadores, impressoras, suprimentos, bem como a
espaços de qualificação na área.
Em suma, constata-se que as condições de trabalho são um fator
importante para a incorporação da TI ao exercício profissional. Em geral os(as)
profissionais que relataram a existência de um processo de informatização no
setor de Serviço Social são aqueles que se encontram inseridos em condições
de trabalho consideradas adequadas. Fica demonstrada, como se percebe no
gráfico a seguir, a existência de uma relação entre as condições de trabalho e
287
o processo de informatização, o qual poderia ser tomado como uma fase
embrionária de uma apropriação efetiva da TI pelo Serviço Social.
Gráfico 38 - Informatização do Serviço Social por c ondições de trabalho - Total de casos: 93
45
9
12
13
10
4
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Informatizado
Não informatizado
Fonte: SSTI, 2006.
Razoáveis
Inadequadas
Adequadas
Ainda que pareça óbvio, verificou-se que a informatização está mais
presente entre aqueles profissionais que indicaram a existência de condições
de trabalho consideradas adequadas, e menos presente entre aqueles que
indicaram a inexistência de tais condições, o que demonstra a sua influência
sobre o processo de incorporação da TI. A existência desta última pode sofrer,
portanto, um considerável condicionamento das primeiras. Em outras palavras,
a existência de condições de trabalho adequadas pode ser considerada um
importante fator no processo de incorporação da TI ao trabalho do Serviço
Social, o que sugere que não se trata apenas de um ato de vontade do(a)
profissional, mas de existência de condições reais que permitam a sua efetiva
incorporação.
288
Neste sentido, o potencial da TI para o trabalho profissional só pode
ser alcançado na medida em que este trabalho encontrar-se em condições
adequadas. Não se trata de uma mera injeção de recursos tecnológicos
modernos, destacando-se os computadores e impressoras, mas uma política
de incorporação da tecnologia que contemple as várias dimensões presentes
neste contexto. A apropriação da TI pelo Serviço Social tende, portanto, a
acompanhar o processo mais amplo de fortalecimento e desenvolvimento
profissional, como um dos aspectos que compõem tal processo, e não o
principal ou o mais importante.
Ainda que, como se viu, a formação profissional possa ser
considerada um fator importante nesse processo de apropriação da TI, não se
pode extrapolar os limites de seu real papel neste processo. O gráfico a seguir,
por exemplo, demonstra que, ao confrontar-se o processo de informatização do
Serviço Social com as condições de trabalho relatadas e a participação em
processos de formação na área, constata-se o predomínio do fator “condições
de trabalho” sobre o fator “formação profissional”.
289
Gráfico 39 - Informatização do Serviço Social distr ibuída por condições de trabalho e formação - Total de casos: 79
36
59
47
95 4
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Informatizado Não informatizado
Fonte: SSTI, 2006.
Adequadas com qualificação
Adequadas sem qualificação
Inadequadas com qualificação
Inadequadas sem qualificação
Como se percebe, os(as) profissionais que relataram que o Serviço
Social passou por processo de informatização são aqueles que relataram
possuir condições de trabalho adequadas e ter participado de algum tipo de
formação na área, seguidos, de longe e com pouca diferença em relação às
outras possibilidades, pelos(as) profissionais que relataram ter condições
adequadas, mas nenhum tipo de formação na área. Por outro lado, os que
relataram que o Serviço Social não passou por processo de informatização,
são aqueles que informaram a existência de condições de trabalho
inadequadas e a participação em algum tipo de formação profissional. O que se
pretende sugerir é que a existência de condições de trabalho adequadas
parece ser um aspecto determinante para o processo de incorporação da TI ao
Serviço Social, tendo em vista que elas se fazem mais presentes onde há
290
informatização, e se fazem menos presentes onde não há. É uma realidade
que pode ser ilustrada pelo depoimento a seguir.
“O uso da informática no cotidiano do trabalho e pessoal é inevitável. Só que as condições de trabalho são desfavoráveis para o exercício profissional com ou sem informática” (34 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
Assim, pensar a incorporação da TI demanda pensar, de forma mais
abrangente, as condições de trabalho do Serviço Social, já que tais processos
estão profundamente imbricados. Isso não significa, no entanto, que basta a
mera existência de condições materiais de trabalho adequadas para que essa
incorporação ocorra. Em articulação com tais condições, e como forma de
complementá-las, é que se considera importante a existência de um processo
de formação profissional que dê conta das demandas postas à profissão e que
auxilie esse processo de incorporação da TI ao nosso trabalho, como ilustra o
depoimento a seguir.
“Parece-me que somos uma categoria aberta a coisas novas e se houver um investimento na socialização dos conhecimentos da informática não deixaremos de aderir aos mesmos e usá-los no nosso cotidiano de trabalho desde que tenhamos a infra-estrutura necessária para tal e a formação específica para isto que me parece é o que nos falta. Creio que os usuários só viriam a lucrar com isto uma vez que este recurso qualificaria o atendimento dos mesmos” (43 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RS).
Discorda-se, portanto, da postura que sustenta que a incorporação
da TI ao Serviço Social esteja limitada a iniciativas pessoais dos(as)
profissionais, ou ainda, seja produto da vontade pessoal do(a) profissional
envolvido. Mais do que isso, é necessária a construção de uma proposta
291
abrangente e coletiva de inclusão desse tema na agenda do debate
profissional, pensando sua importância no âmbito da formação profissional e,
sobretudo, articulando-a à discussão sobre as condições de trabalho de que
possibilitam a incorporação concreta da TI ao Serviço Social.
3 . 2 . 9 . A T I C O M O P O T E N C I A L I Z A D O R D O T R A B A L H O
Tem-se trabalhado com o pressuposto de que a TI pode provocar
alterações no desempenho das atribuições e competências profissionais, tanto
no atendimento aos usuários e usuárias, quanto em atividades como
assessoria, supervisão, formulação e implementação de políticas, podendo
gerar efeitos positivos em relação ao acesso aos direitos sociais. Tais
possibilidades, no entanto, encontram-se fortemente condicionadas pelas
expressões do processo de desmonte das políticas sociais operado pelo
neoliberalismo.
Embora se possa perceber a importância da incorporação da TI ao
trabalho profissional, muitos são os obstáculos para uma efetiva apropriação
deste recurso. Dentre elas, chamam a atenção, como já visto, as precárias
condições de trabalho de boa parte das instituições nas quais se inserem
os(as) assistentes sociais. Trata-se de um quadro de sucateamento e
precarização encontrado sobretudo nas instituições públicas, decorrentes da
implementação sistemática de políticas de caráter neoliberal, justificadas por
292
uma concepção de gestão pública baseada em critérios de eficiência e eficácia
determinadas pela lógica de mercado.
Essas políticas constituem-se como elemento fundamental ao nosso
exercício profissional, já que são, em grande parte dos casos, uma condição
necessária para nossa atuação. Como observou Iamamoto (1998), “o
assistente social não detém todos os meios necessários para a efetivação de
seu trabalho”, dependendo, portanto, “de recursos previstos nos programas de
projetos da instituição que o requisita e contrata, por meio dos quais é exercido
o trabalho especializado” (p. 63). Perceber os impactos do neoliberalismo sobre
as políticas sociais, portanto, é tarefa essencial, dadas as relações e conexões
existentes entre tais políticas e a profissão.
Os processos de trabalho nos quais o Serviço Social se insere vêm
sofrendo várias mudanças, decorrentes, das transformações estruturais pelas
quais o capitalismo vem passando. Tais transformações, norteadas pelo ideário
neoliberal, exprimem-se na chamada reestruturação produtiva, que implica
mudanças ou metamorfoses drásticas no mundo do trabalho, englobando,
dentre outros fenômenos, a fragmentação da classe trabalhadora, a
precarização das relações de trabalho, a heterogeneização e complexificação
do mercado de trabalho. As conseqüências deste processo têm sido o aumento
das desigualdades, cujas expressões, dentre as mais gritantes, são a
ampliação do desemprego, aprofundamento da concentração de riqueza e
alastramamento da miséria e da pobreza.
293
Nesse quadro, os(as) profissionais consideram que a TI pode ser
entendida como um elemento importante para o exercício profissional, o que ,
em certa medida, reforça as idéias até aqui apresentadas. Como se percebe no
gráfico abaixo, 96% dos(as) profissionais apontam para a importância da TI
para o Serviço Social.
Gráfico 40 - Você acha que a informática e a tecnol ogia da informação têm um papel importante no trabalho do Serviço Soci al? - Total de casos: 93
4
89
0 20 40 60 80 100
Não
Sim
Fonte: SSTI, 2006.
A partir dos depoimentos dos(as) profissionais verifica-se que este
recurso pode desempenhar um papel importante para o Serviço Social,
constituindo-se como um elemento potencializador do trabalho em três
aspectos principais: agilização do trabalho e dinamização do atendimento;
organização e tratamento de dados; e uso de redes e da Internet. A distribuição
dos depoimentos dos(as) profissionais por cada um destes aspectos poder ser
verificada no gráfico a seguir.
294
Gráfico 41 - Como acha que a tecnologia da informaç ão pode ser usada a serviço dos usuários? - Total de casos: 77
40%
35%
25%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%
Uso de redes e internet
Agilização do trabalho
Tratamento de dados
Fonte: SSTI, 2006.
Como aspecto mais citado pelos(as) profissionais, o acesso à
Internet e às redes de serviços e recursos disponíveis aparece como uma das
formas de democratizar as informações e ampliar o acesso dos usuários e
usuárias aos direitos sociais. A ampliação desse acesso constitui-se como um
dos objetivos mais buscados pelos(as) assistentes sociais em seu trabalho.
Com o uso da TI, é possível potencializar a realização de contatos e o acesso a
informações de forma que se possa oferecer aos usuários e usuárias
condições mais favoráveis para a realização de encaminhamentos e oferta de
respostas às demandas apresentadas.
“Eu penso que o grande bem atual é o acesso à informação. Um profissional bem informado poderá ser melhor qualificado e conseqüentemente poderá estabelecer uma relação de melhor qualidade com o usuário e com a instituição onde trabalha” (40 anos, sexo feminino, mestrado, justiça - SP).
“Os profissionais podem acessar na Internet uma infinidade de sites importantes, mantendo-se atualizados sobre legislações, recursos etc.
295
Podem, ainda, se comunicar com instituições para dirimirem dúvidas; se informarem sobre eventos relacionados com a profissão ou com a área de atuação, além de redigirem relatórios e preencherem formulários. Com uma consulta rápida, pode-se fornecer uma resposta imediata” (53 anos, sexo feminino, graduação, previdência - RJ).
“Não só na facilidade do cruzamento de informações em rede, mas acesso a benefícios, encaminhamentos, possibilidade do estabelecimento de parcerias, dentre outras” (38 anos, sexo feminino, doutorado, assistência - SP).
“De diversas formas: ampliando o conhecimento dos profissionais sobre as legislações em vigor e da rede de recursos disponíveis, o que certamente garantirá aos usuários maior conhecimento de seus direitos como cidadãos e maior acesso aos serviços disponíveis” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Na elaboração de projetos e políticas com maior grau de informação sobre o público-alvo. Na democratização da informação através da informática e Internet, proporcionando aos usuários este acesso. Na agilização das orientações aos usuários fazendo uso de uma ferramenta que traz a informação quase que imediata” (33 anos, sexo feminino, graduação, criança/adolescente - RJ).
Assim, de acordo com os(as) profissionais, o uso de redes e da
Internet pode auxiliar a qualificação do trabalho, oferecendo uma importante
contribuição na sua condução, seja na socialização de informações durante os
seja na formulação e elaboração de pesquisas mais específicas sobre temas
referentes ao trabalho.
“Pesquisas rápidas sobre recursos; encaminhamentos rápidos de questões dos usuários para as instituições competentes; levantamento de dados e informações importantes que podem ser repassados para os usuários a fim de que os mesmos busquem seus direitos” (37 anos, sexo feminino, mestrado, empresa - RJ).
“Para pesquisa, levantamento de dados que irão contribuir para resolução de uma solicitação desse usuário, melhor entendimento do que é escrito nos encaminhamentos, solicitações etc” (44 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
296
“Link entre as redes da seguridade social; buscas de recursos; produção de conhecimento; construção de perfis sociais (conhecimento sobre o usuário)” (44 anos, sexo feminino, doutorado, saúde - RJ).
“Acabei de falar das redes sócio assistenciais e da facilidade de acesso aos bens e serviços comunitários. Quando todos estiverem em rede será mais fácil trabalhar e os usuários não precisarão caminhar tanto de órgão em órgão buscando ser atendido. E tem também aquela questão da rede de beneficiários, que evitará a duplicidade de ações ao mesmo usuário” (35 anos, sexo feminino, especialização, saúde - TO).
“Além de facilitar cadastros e agilizar a redação de documentos e relatórios, com a Internet podemos acessar diversos sites de utilidade pública, cidadania, politicas sociais, acessando informações atualizadas” (33 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
Como segundo aspecto mais citado, os(as) profissionais indicam
que a TI pode ser utilizada como um importante recurso na agilização do
trabalho e na dinamização do atendimento prestado aos usuários e usuárias.
Essa agilização é vista como um dos elementos impulsionadores da melhoria
da qualidade do trabalho, sendo, portanto, algo a ser buscado pelos(as)
profissionais.
“Um assistente social com conhecimento de informática pode em muito facilitar de maneira variada os efeitos de sua intervenção, tanto para agilizar seu trabalho como para facilitar comunicação com outras instituições, a troca de informações, a criação/atualização de um banco de dados, enfim, são inúmeras as possibilidades” (48 anos, sexo feminino, especialização, justiça - RJ).
“A informática agiliza a emissão de documentos, permite a consulta a instituições diversas através da Internet. A TI possibilita acesso a um maior número de informações atualizadas. Ambas possibilitam ao assistente social um atendimento de maior qualidade ao usuário, que poderá ter informações variadas e rápidas a suas angústias” (45 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Além da disponibilização de documentos ‘legíveis’ que podem auxiliar o usuário a ser melhor entendido, há a facilidade de acessar uma gama maior de recursos e orientações para agilizar e disponibilizar seu encaminhamento” (28 anos, sexo feminino, graduação, saúde - RJ).
297
“Penso que a informática agilizaria os atendimentos se pudéssemos contar com mais computadores, de preferência mais rápidos e conectados à Internet permanentemente. Poderíamos utilizá-los como forma de buscar recursos, informações mais atualizadas e etc” (34 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Agilizando o serviço e possibilitando aos profissionais maior acesso a informação, o que resulta em melhoria na qualidade dos serviços e maior acesso da população aos seus direitos” (45 anos, sexo feminino, graduação, empresa - SP).
“A informática hoje já faz parte da rotina do Serviço Social na instituição, assim como a caneta e o carimbo. Temos um convívio continuo com a TI, e isso tem sido muito rico para os usuários, pois quanto mais qualificada uma equipe, mas qualificado também será o atendimento” (32 anos, sexo feminino, especialização, saúde - AL).
Os profissionais apontam ainda que o uso da TI pode facilitar os
processos e ações que envolvam comunicação, troca/busca de informações e
de registros. Permite agilizar a produção de relatórios, a busca de recursos,
instituições, textos e diversos outros materiais de interesse dos(as)
profissionais. Proporcionam, ainda, a rapidez nos fluxos de trabalho, podendo
ser utilizada para dar transparência aos processos, e estimular novas formas
de intervenção, potencializadas pelo acesso à TI, organizando melhor o
trabalho e obtendo melhores resultados nas tarefas desempenhadas.
“A informática, com toda a sua tecnologia, promove a agilidade tanto no atendimento aos nossos usuários, quanto no encaminhamento das suas demandas à rede de atendimento social. Também é um forte instrumento na documentação e registro das atividades desenvolvidas. Não há dúvidas da melhoria na qualidade do trabalho desenvolvido a partir da utilização destes instrumentos” (43 anos, sexo feminino, graduação, saúde - RJ).
“Profissional capacitado tem mais idéias e poderá inovar e facilitar o atendimento e o encaminhamento das situações que aparecem no seu dia-dia” (37 anos, sexo feminino, graduação, saúde - SC).
298
O terceiro aspecto citado pelos(as) profissionais refere-se à
possibilidade de aprimorar a organização e o tratamento de dados, apontada
como uma grande contribuição que a TI pode oferecer ao trabalho do Serviço
Social. Os depoimentos indicam que, neste sentido, o registro, a
sistematização de dados e a produção de informações sobre demandas e
atendimentos podem ser potencializados pelo uso da TI, favorecendo a
produção de perfis de usuários e de atendimentos, estatísticas, relatórios e
avaliações dos programas e projetos em andamento no Serviço Social.
“O acesso à informática permite informações mais completas, permite a organização de dados, o contato entre grupos de interesses e inúmeras outras facilidades para o usuário” (53 anos, sexo feminino, mestrado, previdência - RJ).
“Para termos maior facilidade na sistematização dos dados coletados. Desta forma poderíamos ter dados que contribuam com mudanças e melhorias para a vida da população” (33 anos, sexo feminino, mestrado, assistência - RJ).
“Banco de dados, perfil dos usuários, perfil da demanda, pesquisas variadas, avaliação dos serviços etc” (47 anos, sexo feminino, mestrado, saúde - RJ).
“Registros de atendimentos, acesso a informações confidenciais, busca de dados pessoais e demonstrativo dos registros realizados” (28 anos, sexo feminino, graduação, empresa - MG).
“Com banco de dados, sendo possível gerar dados quantificáveis, que esclarecidos e interpretados qualitativamente, subsidiem ações mais efetivas à população atendida; com sistemas interligados, de forma que eu ao atender o usuário ‘x’ possa acessar virtualmente caminhos percorridos e acessados pelas políticas públicas, por exemplo. Profissionais que já tiveram alguma aproximação com o caso em questão, facilitando a troca de informações e até opinião” (38 anos, sexo feminino, especialização, criança/adolescente - RS).
“Para cruzamento de dados de pesquisas, rapidez no atendimento, melhoria na sistematização das informações” (23 anos, sexo feminino, especialização, empresa - PE).
299
Desta forma, indicam os(as) profissionais que os dados
armazenados e as informações geradas pelo Serviço Social, com a
contribuição da TI, podem ser utilizados para pesquisa e avaliação do trabalho,
contribuindo desta forma, para o desenvolvimento e o aprimoramento do
exercício profissional.
“Facilitando a pesquisa, a análise de dados e democratização de conhecimentos acerca da realidade social, políticas sociais e prática dos assistentes socais” (42 anos, sexo feminino, graduação, empresa - RJ).
“Para garantir estudos e viabilizar políticas públicas, onde os registros das assistentes sociais poderiam ser instrumentos para subsidiar essas políticas” (32 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RJ).
“Tanto a questão da organização de dados (ou mesmo construção de instrumentos de trabalho), quanto a elaboração e desenvolvimento de Programas e Projetos, se beneficiam com a informatização” (30 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
“Monitoramento, avaliação de impacto, mais velocidade na informação, facilidade de divulgar as atividades. Há inúmeras possibilidades, basta estarmos receptivos” (39 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RS).
“Inicialmente como cadastro, depois como atualização de dados, em seguida como informação de relato dos fatos, parecer social e até no processo investigativo do assistente social em relação aos usuários e/ou para uma atividade de interdisciplinaridade” (44 anos, sexo feminino, especialização, assistência - RJ).
“Praticidade e simplicidade para armazenar dados; pesquisas destas informações para elaboração de projetos que sejam de fato relevantes aos usuários” (49 anos, sexo feminino, especialização, saúde - RS).
O uso da TI, portanto, pode potencializar a dimensão investigativa
do trabalho profissional, oferecendo elementos e condições para melhor
organização dos dados e informações que perpassam cotidianamente o
trabalho profissional. Se o uso desta tecnologia, por si só, não é capaz de
300
produzir conhecimento, tendo em vista que nada mais faz do que oferecer uma
descrição aproximada da realidade, pode oferecer as condições básicas para a
percepção inicial de algumas tendências do movimento da sociedade, já que tal
percepção pode partir da descrição por ela oferecida.
Pensar a importância da TI para o trabalho profissional implica,
compreendê-la como uma mediação, tal como sugeriu Vieira Pinto (2005),
tendo em vista que “a tecnologia foi criada e é usada exatamente para servir de
mediação prática entre o ser humano e a natureza ou a sociedade”, integrando-
a, de acordo com o autor, num processo histórico dialético (p. 285).
O recurso à categoria de mediação no Serviço Social, como
destacou Pontes (1995), “favoreceu uma apreensão mais próxima do
movimento da totalidade social do objeto de intervenção profissional” (p.167),
tornando possível perceber o campo de intervenções profissionais como um
“campo de mediações” (p.170). As mediações, segundo o autor, permitem
passagens entre as instâncias constituintes da totalidade, tratando-se de:
“condutos por onde fluem as relações entre as várias estâncias
da realidade. São eles que possibilitam conceber-se a
realidade como totalidade” (p.181).
Neste sentido, pode-se compreender a TI como uma das mediações
presentes no campo da atuação profissional, na medida em que, com o seu
uso, em articulação com outras mediações presentes no exercício profissional,
as finalidades presentes no projeto profissional podem ser alcançadas. Este
recurso pode oferecer uma importante contribuição para o(a) profissional em
301
sua tarefa de articular as diversas mediações presentes no campo da atuação
profissional. Mais do que um instrumento a ser utilizado no exercício
profissional, a TI pode ser também entendida como um elemento
potencializador de outras dimensões já previamente existentes no trabalho
profissional. Em outros termos, os(as) assistentes sociais podem utilizar a TI
para potencializar sua atuação junto às expressões da questão social,
apropriando-se deste recurso para otimizar as competências e habilidades já
previamente existentes no âmbito de sua atuação.
O dimensionamento da utilização da TI no trabalho profissional, bem
como dos demais recursos e instrumentos, demanda a apreensão dos
processos constitutivos do exercício profissional. Trata-se de uma questão
relevante, na medida em que este recurso pode potencializar:
“passagens cognitivas entre as várias dimensões em presença,
podendo articular estas mediações potencializando forças em
presença, em favor de um projeto de sociedade progressista e
transformador da realidade, ou simplesmente manter-se
alienado da trama destas complexas relações (Pontes, 1995,
p.182).
O aprimoramento do trabalho ou a solução de problemas e dilemas
profissionais não será produto exclusivo da incorporação da TI ao trabalho do
Serviço Social. A solução será decorrência da capacidade que os(as)
profissionais possuírem de definir e alcançar projetos e finalidades. A
tecnologia nada mais é do que uma mediação para se alcançar tais finalidades.
Por outro lado, na medida em que se familiariza com a tecnologia e seus
302
diversos recursos, na medida em que se utiliza e se estuda as inovações e as
possibilidades que ela traz, pode-se visualizar com uma abrangência cada vez
maior, a sua contribuição para o alcance de novos projetos e novas finalidades.
Poderá acontecer um tipo de articulação entre o Serviço Social e a TI cujos
frutos sejam positivos para o trabalho profissional, sem que haja, no entanto,
uma subordinação da profissão à tecnologia.
Uma das aplicações da TI para as quais os(as) assistentes sociais
podem estar atentos(as) são os sistemas de informação. Tais sistemas
constituem-se como importantes recursos para o Serviço Social, contribuindo
para promover uma mudança qualitativa no exercício da profissão,
expressando, assim, o seu potencial estratégico. A criação e utilização de
sistemas de informação que possam oferecer subsídios para a realização do
trabalho poderiam ser encaradas pelos(as) profissionais como uma importante
demanda.
O uso de sistemas de informação, no entanto, não deve se dar de
forma voluntarista, demandando do(a) profissional uma postura crítica em
relação a sua natureza e objetivos. Com esta preocupação em mente, Jonas
(2002) observa que grande parte dos sistemas de informação destinados às
políticas sociais disponíveis no mercado seguem um padrão adequado às
necessidades do capital, sendo concebidas como ferramentas de
racionalização do trabalho e de gerenciamento. Ao absorverem a contribuição
da TI, as políticas públicas podem gerar uma forte tensão por conta da
incompatibilidade de interesses. É nesse sentido, que ao apontar a importância
303
de um esforço de “adaptação dos recursos informáticos à gestão das políticas
sociais”, a autora destaca que não se deve abandonar os pressupostos e
valores profissionais identificados com a ampliação dos direitos e
aperfeiçoamento das instituições democráticas.
Embora se concorde com a autora nos aspectos principais de sua
análise, considera-se que a tarefa principal aqui não é a de fazer adaptações
apenas. Mais do que uma adequação da TI ao trabalho do Serviço Social,
trata-se de construir e identificar as reais possibilidades de sua incorporação ao
trabalho, utilizando-a como uma contribuição para alcançar as finalidades
presentes no projeto ético-político profissional.
A TI pode ser um importante recurso para a produção e divulgação
de informações úteis aos indivíduos. Sua incorporação ao trabalho não deve se
limitar ao uso apenas de pacotes de programas e aplicativos comerciais
fechados. É necessário, seguindo as indicações da autora acima, avançar no
conhecimento da lógica que embasa o desenho dos sistemas de informação,
buscando impulsionar a construção de aplicações que absorvam os valores e
parâmetros ético-políticos de nossa profissão. A elaboração de um sistema de
informação a ser utilizado pelos(as) assistentes sociais deve estar permeada
pelas principais características de nosso projeto profissional, de modo que ele
seja, também, expressão e indicador desse projeto. Trata-se de uma postura
que não está preocupada com a adaptação ou adequação da TI ao trabalho do
Serviço Social, mas sim com a construção de novas possibilidades de uso, de
304
apropriação crítica deste recurso tendo por ponto de partida os desafios postos
à profissão.
Assim, cabe aos(às) profissionais evitar o caminho predominante de
adaptação aos produtos disponíveis no mercado. Antes, podem priorizar, a
partir de sua postura ético-política, o compromisso com os valores
profissionais, buscando formas de concretizá-los e criando sistemas que
possam viabilizá-los. A preocupação aqui não é apenas com o
desenvolvimento de um sistema tecnicamente perfeito, mas com a criação de
um recurso que possa propiciar o avanço, um meio de auxiliar a efetivação dos
princípios profissionais afetos à categoria de assistentes sociais. Para isso, faz-
se necessário um amplo processo de discussão com o envolvimento dos(as)
profissionais de forma a incorporar essa questão à agenda de debates da
categoria.
A título de ilustração, realizam-se algumas rápidas observações
sobre uma experiência concreta de criação e utilização de um sistema de
informações, o Sistema de informações do Serviço Social – SiSS (Veloso,
2004), uma experiência produzida, socializada e avaliada coletivamente, com
vistas a contribuir para discutir a importância da TI para o fortalecimento do
trabalho profissional e as condições necessárias à sua incorporação.
Apesar das melhorias possibilitadas, o SiSS foi, aos poucos,
deixando de ser usado pelos(as) assistentes sociais da equipe de trabalho. Isto
porque, como ocorre em várias outras unidades de Serviço Social, diversos
obstáculos se impuseram ao estabelecimento de uma efetiva incorporação da
305
TI ao trabalho, dentre os quais se pode destacar os mesmos elementos
apresentados ao longo deste trabalho: insuficiência de equipamentos e
suprimentos; acomodação e resistência de alguns(mas) profissionais às
mudanças e inovações; ausência de treinamentos especializados e
aperfeiçoamento técnico das(os) profissionais; inviabilidade da obtenção de
recursos físicos e humanos necessários ao pleno desenvolvimento do trabalho.
O processo de informatização do setor não foi acompanhado de um
processo de qualificação dos(as) profissionais e de alocação de recursos
adequados ao trabalho. A instituição em que a experiência foi conduzida não
dispunha das condições que favorecessem uma incorporação efetiva da TI por
parte do Serviço Social. A ausência de qualificação e das condições
adequadas de trabalho passou a criar problemas e aumentar a resistência ao
uso do sistema, tendo em vista os defeitos que passaram a acontecer e a
ausência de uma manutenção contínua no equipamento existente. Constatou-
se, portanto, que se o processo de informatização não for acompanhado de
atividades de formação e capacitação, com o efetivo envolvimento do(a)
profissional, e com a disponibilização de condições adequadas de trabalho,
equipamentos e suprimentos, as possibilidades de sucesso serão muito
poucas.
Verificou-se um retorno aos procedimentos tradicionais do trabalho,
tais como livro de ocorrências, cadastro de recursos em agendas impressas,
fichas de papel, uso de arquivos manuais, dentre outros, demonstrando que
possibilidade de uso da TI é histórica, dependendo em grande medida das
306
condições objetivas e subjetivas existentes e disponíveis à profissão. A efetiva
incorporação da TI ao trabalho não é um ato de vontade apenas, e a ausência
de investimentos em infra-estrutura e em formação e qualificação dos(as)
profissionais tornam tal incorporação um grande desafio a ser superado.
A incorporação da TI ao trabalho do Serviço Social é possível e
viável, no entanto, demanda que a equipe de profissionais disponha das
condições objetivas e subjetivas necessárias, o que pode potencializar o
desenvolvimento de suas competências e atribuições, fortalecer o
compromisso com os objetivos profissionais e consolidar os valores ético-
políticos que orientam seu trabalho.
Acredita-se que os dados apreciados permitem sugerir que o Serviço
Social tem estabelecido algum tipo de incorporação da TI ao seu trabalho.
Trata-se, no entanto, de uma incorporação embrionária, tateante, motivada
muito mais pela vontade dos(as) profissionais, muitas vezes de forma individual
e isolada, do que por uma política explicitamente formulada e implementada
pela categoria profissional no sentido de propiciar uma apropriação crítica e
consistente deste recurso.
Apesar de os depoimentos relatarem experiências incipientes, sem
um uso mais aprofundado da TI, considera-se que, de forma geral, este recurso
pode contribuir para o trabalho profissional, desde que os(as) assistentes
sociais estejam preparados(as) para utilizá-la, não só do ponto de vista técnico,
mas também, crítico. As competências profissionais não podem ser reduzidas
ao domínio do recurso tecnológico apenas, mas envolver, também, a
307
competência crítica que permita uma apropriação do recurso tecnológico como
elemento potencializador, capaz de estimular, constituir e aprimorar
modalidades de atuação profissional alternativas ao tradicionalismo e ao
conservadorismo profissionais.
308
C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
Pretendeu-se discutir neste trabalho a importância que a TI,
sobretudo no que se refere ao uso da informática e da Internet, pode possuir
para o exercício profissional, qualificando tal importância como um potencial
estratégico para dinamizar e fortalecer o trabalho do Serviço Social. A
importância conferida a este recurso por parte dos(as) profissionais e as
poucas experiências de efetiva utilização remetem a uma problematização das
condições necessárias à sua incorporação e apropriação. Poder-se-ia, neste
sentido, apresentar uma série de questões a respeito de tal apropriação. É
possível aos(às) profissionais potencializarem seu exercício profissional tirando
da tecnologia as vantagens que esse recurso oferece? Em que medida é
possível aos(às) assistentes sociais apropriarem-se da TI como elemento
potencializador se de fato o conhecimento que os(as) assistentes sociais
dispõem sobre o tema é muito reduzido? As exigências feitas em termos de
apropriação da TI não estariam muito além das condições e capacidades
detidas pelo conjunto de assistentes socais? Faz-se referência não à parcela
da categoria que tenha demonstrado possuir um nível de compreensão e
absorção da TI mais acentuado, mas à categoria como um todo, ao conjunto
dos seus segmentos e integrantes. Embora não se possa esgotar essas
questões, acredita-se que alguns comentários gerais podem ser feitos como
forma de sugerir algumas possibilidades de resposta.
309
Pensar o potencial da TI para o Serviço Social demanda, antes de
tudo, definir um ponto de partida. Este, na opinião do pesquisador, deve ser o
próprio exercício profissional. Não se entende que o uso da tecnologia possa
resolver os diversos problemas expressos no cotidiano do trabalho profissional,
como muitas vezes tendem a pensar os(as) profissionais. Tais problemas, na
maior parte das vezes referentes aos aspectos ligados aos processos de
atendimento, sistematização, planejamento, organização e avaliação do
trabalho, podem ser equacionados com o auxílio da TI, de forma articulada a
outras competências e habilidades profissionais. Quem efetivamente apresenta
e executa propostas para a solução das questões presentes no cotidiano
profissional são os(as) próprios(as) profissionais, que com sua capacidade de
reflexão e elaboração devem projetar e implementar alternativas para as
demandas concretas com as quais lidam.
As dificuldades e limites presentes no cotidiano de trabalho e a
necessidade de aprimoramento e desenvolvimento profissional devem ser
apropriadas pelos(as) próprios(as) profissionais, que, a partir de seu acervo de
conteúdos e instrumentais analíticos, técnicos e éticos, podem formular as
diretrizes e alguns aspectos necessários ao seu trabalho. Isso é claro, levando-
se em conta as condições concretas em que sua atividade, como trabalho
assalariado que é, se processa.
Portanto, não se trata de compreender o(a) profissional como um
indivíduo acima dos limites institucionais concretos em que se situa, mas de
salientar que, pelo fato de possuir uma relativa autonomia técnica, mostra-se
310
possível conduzir propostas profissionais que possam alterar algumas das
características da organização de seu trabalho.
Embora a TI possa ser considerada como um recurso importante
para o exercício profissional, entende-se que os problemas postos no trabalho
cotidiano não serão automaticamente solucionados a partir da incorporação da
tecnologia, tendo em vista que esta, sozinha, não realiza absolutamente nada.
Seu efeito útil, ou ainda, seu valor de uso para a profissão encontra-se
condicionado pela forma concreta pela qual se processará sua incorporação ao
trabalho. É neste sentido que se compreende a tecnologia não como um
instrumento de trabalho apenas, como é comumente ressaltado. Acredita-se
que uma adequada abordagem da TI é aquela que a toma como um otimizador
e potencializador dos instrumentos de trabalho já previamente existentes no
Serviço Social, os quais devem passar por um constante processo de
aprimoramento. Quem deve promover (pensar e propor) este aprimoramento, é
o próprio profissional. Aproximando-se do uso do instrumento, a partir da
reflexão e análise crítica sobre o mesmo, poderá propor mudanças com vistas
ao seu melhoramento. Notem que o(a) profissional, ao analisar o uso que faz
de seu instrumento, poderá pensar e propor mudanças qualitativas em tal uso,
criando e imprimindo-lhe, neste processo, novos objetivos, novas finalidades,
utilizando-o para alcançar novos projetos.
Pensa-se tecnologia como um dos meios que podem ser utilizados
na obtenção das finalidades definidas e projetadas pelo(a) profissional, não
sendo, portanto, a finalidade em si. Isso significa que para se aprimorar o
311
trabalho do Serviço Social, o ponto de partida não é estudar, conhecer e
aprofundar-se no uso da TI. Isso até pode acontecer, desde que venha
precedido por um estudo, conhecimento e aprofundamento na forma de
processamento do trabalho de forma geral. O ponto de partida, portanto, é o
próprio trabalho do(a) assistente social. A partir da avaliação de sua atividade,
serão identificadas as falhas, problemas, lacunas que poderão ser corrigidas ou
ajustadas. A TI nada mais será do que um meio que auxilia e contribui para a
solução dos problemas e para a potencialização do trabalho, mas que de forma
alguma substitui a ação do(a) profissional na definição dos elementos que
possibilitam essa potencialização.
Se por um lado tal potencialização pode dar-se no sentido de
contribuir para ampliar as condições de acesso aos direitos sociais, pode
também, proporcionar uma redução da demanda por trabalho braçal, tendo em
vista o processo de automatização que o uso da TI implementa, e no aumento
da demanda por trabalho intelectual, tendo em vista a necessidade do(a)
profissional lidar com os diversos conjuntos de dados e informações produzidos
ao longo do trabalho.
Tendo em vista a redução do trabalho manual, braçal e físico que
pode proporcionar, como visto no capítulo 1, a incorporação da TI no cotidiano
profissional, principalmente os recursos relacionados especificamente à
informática e suas diversas aplicações, faz com que o(a) profissional disponha
de uma maior quantidade de tempo para o exercício profissional, já que deixará
de se preocupar, ou se preocupará menos, com tarefas como localização de
312
recursos em pastas, arquivos, agendas; arrumação de arquivos, organização
em ordem alfabética; contagem dos atendimentos para elaboração de
estatísticas, perfis etc. Essas tarefas, de fato, poderão ser feitas pelo
computador em tempo bem menor do que o gasto pelos(as) profissionais nos
processos tradicionais.
No entanto, não é só para isso que a TI pode ser útil. Além de
possibilitar economia de tempo, fazer com que tarefas burocráticas e repetitivas
sejam realizadas de forma mais rápida, a TI pode possibilitar ao(à) profissional,
se for criticamente apropriada, uma mudança qualitativa em seu trabalho, o que
passaria a exigir do(a) profissional uma parcela cada vez maior de trabalho
intelectual, de esforço analítico, ou ainda, um esforço analítico em níveis mais
superiores, tendo em vista a dinamização possibilitada pela otimização dos
instrumentos, como sinalizou Vieira Pinto (2005, p.81).
Poder-se-ia pensar, por exemplo, nas estatísticas de atendimento
que os(as) profissionais precisam entregar, em um dado período, às
coordenações ou direções de unidade. Não é incomum que profissionais de
Serviço Social, utilizando-se de processos tradicionais de contagem e
totalização, gastem dias inteiros para produzir relatórios estatísticos, como os
de atendimentos mensais realizados. O uso de bancos de dados
informatizados, uma das grandes possibilidades de uso da TI pelo Serviço
Social, além de fazer com que o(a) profissional produza tais relatórios de forma
muito mais rápida e em um tempo bem menor (já que as funções de
agrupamento, contagem e totalização serão realizadas pelo computador),
313
demandará, por outro lado, uma maior capacidade de apreciação crítica e
análise dos dados.
De fato, essa capacidade não será inaugurada pelo uso da
tecnologia, mas seu uso criará condições para que ela seja mais bem
desempenhada, para que ela seja mais bem aplicada, por pelo menos dois
fatores: primeiro porque o(a) profissional terá mais tempo; segundo porque os
dados poderão ser organizados de forma que o(a) profissional consiga ver
neles informações ou expressões da realidade que antes não conseguia
verificar. Pense-se, por exemplo, na diferença entre as estatísticas gerais de
atendimento, em que se tem apenas o total de atendimentos do mês, e as
diversas outras formas possíveis, tais como, estatísticas com distribuição dos
atendimentos por demanda atendida, por local de encaminhamento, por
procedência, por recurso utilizado, dentre outros. Pense-se, ainda, a análise da
variação mensal desses índices. Em um mês, por exemplo, 10% dos
atendimentos demandavam orientações sobre previdência, no mês seguinte,
orientação para inserção em atendimento ambulatorial. As variações de perfil
de usuários e de perfil de demandas, atendimentos realizados,
encaminhamentos, dentre outros, podem ser rapidamente captadas pelo(a)
profissional com um uso adequado da TI. Esses números, ao serem
apreciados, podem expressar uma dimensão qualitativa da realidade, e
precisam ser interpretados pelos(as) profissionais, como forma de aprimorar o
trabalho, propiciando condições favoráveis à formulação de novas propostas de
intervenção ou ao aprofundamento das já existentes.
314
Este é um exemplo de uma das formas pelas quais a TI pode
contribuir para a potencialização do exercício profissional: a possibilidade de
propiciar uma redução do tempo gasto em algumas atividades braçais e
manuais, já que tal tecnologia pode ser utilizada para realização de tais
atividades. No entanto, o Serviço Social precisa compreender essa
possibilidade de redução não como elemento voltado à valorização da
organização do trabalho baseada na redução do tempo de trabalho
socialmente necessário e no aumento do tempo de trabalho excedente. A
utilização da TI para diminuir o tempo gasto na realização das tarefas manuais,
tomada como artifício para aumento da produtividade do trabalho baseada em
critérios quantitativos que tenham por objetivo a ampliação das taxas de lucro,
consiste numa postura que deve ser combatida e criticada pelos(as)
assistentes sociais.
A tarefa que se coloca aos(às) profissionais, no que refere à
apropriação da TI, é tentar construir uma forma de incorporação que supere o
modelo hegemônico imposto ao conjunto de trabalhadores: como uma forma
de reduzir a demanda por trabalhadores, como forma de aumentar a extração
de mais-valia, sobretudo a mais-valia relativa, como forma de expulsar
quantidades cada vez maiores de trabalhadores do mercado de trabalho.
Nestes casos, a redução do tempo de trabalho teve por conseqüência o
aumento do tempo de trabalho excedente, num primeiro momento, e, além da
manutenção de níveis cada vez maiores de exploração, a produção do excesso
de trabalhadores no mercado de trabalho, em um outro momento. Construir a
forma como a categoria profissional se apropriará deste recurso é, portanto,
315
fundamental, resistindo ao formato com que hegemonicamente vem sendo
utilizada na sociedade capitalista. Espera-se que seu uso possa, de fato,
potencializar o exercício profissional, gerando novas capacidades e
habilidades, e contribuindo para criar condições que tornem possível o
aprimoramento profissional.
O Serviço Social precisa construir uma apropriação do recurso
tecnológico que permita ultrapassar a lógica racionalizadora, de redução de
custos e de emprego de força de trabalho, evitando um modo específico de uso
que signifique a substituição de profissionais ou a redução das possibilidades
de criação de informação. A prioridade deve ser concedida ao reforço e à
efetivação dos princípios profissionais, sem cair na armadilha do tecnicismo, ou
seja, pensar que o mero aperfeiçoamento técnico-operativo garante uma
apropriação qualificada da TI.
Trata-se de um tema cuja reflexão tem estado pouco presente entre
os(as) assistentes sociais, sem significar, no entanto, que o mesmo não
detenha um papel relevante para a profissão. Os(as) participantes, por
exemplo, ilustram essa relevância ao demonstrar o que consideram como
tendências futuras acerca da articulação entre TI e Serviço Social, como se
verifica na tabela a seguir.
316
Tabela 02 - Tendências vislumbradas entre Serviço S ocial e TI
Alunos AS Docentes Total
A Internet será mais utilizada como ferramenta de articulação/diálogo entre assistentes sociais
190 73,9% 890 80,1% 65 90,3% 1145 79,5%
Serão criados sistemas/programas/softwares específicos para o trabalho do assistente social 189 73,5% 815 73,4% 62 86,1% 1066 74,0%
Crescerá a presença do tema tecnologia da informação na formação profissional em S.S 177 68,9% 776 69,8% 58 80,6% 1011 70,2%
A defasagem entre o avanço tecnológico e sua incorporação pelo serviço social continuará
19 7,4% 99 8,9% 11 15,3% 129 9,0%
Os atendimentos do serviço social serão cada vez mais mediados pelo computador 85 33,1% 304 27,4% 28 38,9% 417 29,0%
A dimensão de escuta e de interlocução será prejudicada pelo uso do computador
25 9,7% 53 4,8% 8 11,1% 86 6,0%
O uso do computador tornará o atendimento menos humanizado 37 14,4% 63 5,7% 8 11,1% 108 7,5%
O uso do computador no atendimento terá efeitos democratizantes 58 22,6% 378 34,0% 32 44,4% 468 32,5%
Total 257 100,0% 1111 100,0% 72 100,0% 1440 100%
Fonte: SSTI, 2005.
A partir dos dados acima, constata-se que os(as) participantes
vislumbram como fortes possibilidades o uso da Internet como ferramenta de
articulação entre os(as) assistentes sociais, a criação de sistemas de
informação para o trabalho do(a) assistente social e a maior presença da
tecnologia da informação na formação profissional. Nota-se, a partir dessas
indicações, a existência de uma postura de valorização do uso da TI,
acompanhada de uma vontade de incorporação deste recurso ao trabalho
profissional, buscando seguir uma direção próxima à defendida ao longo deste
trabalho.
317
Considera-se válida a compreensão da TI como detentora de um
potencial estratégico para o Serviço Social, desde que sua incorporação não
seja realizada de maneira fetichizada, entendendo a tecnologia como solução
mágica para os problemas enfrentados pela profissão, o que poderia ocasionar
a simplificação ou o esvaziamento das competências profissionais. Evita-se,
portanto, uma incorporação da TI da forma como criticou Barreto (2005), “como
se sua simples presença garantisse a produção de mudanças qualitativas e,
até mesmo, uma espécie de revolução” (p.142). O que deve acontecer é um
processo de apropriação efetiva, subordinada a finalidades concebidas pela
categoria no sentido do fortalecimento profissional, com conseqüências
positivas para o aperfeiçoamento e a qualidade do trabalho, situado em um
contexto profissional bem determinado. Assim, não se defende a idéia simplista
de que tudo irá bem no Serviço Social desde que haja computadores nas
unidades de formação e intervenção profissional. Mais do que o mero acesso
dos(as) profissionais a computadores, é preciso pensar os modos e sentidos de
acesso a tal tecnologia.
Uma real incorporação da TI ao Serviço Social supõe que os(as)
profissionais deixem de ser meros(as) usuários(as) ou consumidores(as),
passando a formular e implementar propostas criativas e críticas que
demonstrem sua efetiva apropriação, adequada a suas demandas e
necessidades, e não imposta, podendo promover o enriquecimento tanto da
formação quanto do trabalho profissional.
318
É preciso perceber as formas pelas quais a TI tem estado presente
no trabalho profissional. Perceber o seu potencial estratégico significa perceber
as possibilidades de seu uso para o fortalecimento do exercício profissional.
Mas ela também pode ser utilizada em sentido oposto, de forma reducionista,
tecnicista, burocratizada e fetichizada, impedindo que a concretização da
satisfação dos interesses dos usuários e usuárias por meio de seu uso. Neste
sentido, criar disciplinas como “Laboratório de Informática” ou “Informática
aplicada ao Serviço Social”, priorizando a parte técnica sem demonstrar as
conexões possíveis desta tecnologia com a construção de um projeto de
sociedade e um projeto profissional, esvazia a TI de seu potencial estratégico
para o trabalho. É preciso, neste sentido, enfatizar que esta deve ser utilizada
como um recurso a serviço do fortalecimento do exercício profissional
parametrado pelo projeto ético-político profissional.
Para não se correr o risco de ver a TI sendo utilizada tão-somente
como parte de um processo de “modernização conservadora”, em que a
existência de recursos comumente considerados “modernos” e sofisticados
seja utilizada para reforçar práticas antigas e tradicionais, o Serviço Social
precisa articular a construção de modalidades de uso TI no trabalho
profissional numa perspectiva crítica e democratizante. Não se trata,
evidentemente, de uma questão de vontade apenas, mas de um processo
histórico, marcado pela incidência de diversos fatores (alguns dos quais tentou-
se apresentar ao longo desse trabalho) que mediatizam a sua incorporação.
319
A postura que pretende tomar o uso da TI de forma crítica
contrapõe-se, portanto, a qualquer “reverência” ou “encantamento” com o seu
uso, buscando-se, sim, um processo de apropriação, com envolvimento da
categoria profissional. Não se trata apenas de treinar ou capacitar os(as)
assistentes sociais, mas promover um processo de apropriação em que estes
sejam sujeitos ativos capazes de projetar e construir aplicações, como
observou Colmán (2004), e implementar o uso da TI como meio para satisfazer
seus interesses, necessidades e demandas.
Neste sentido, a categoria profissional, para promover uma real
apropriação da TI, deve ter as seguintes preocupações:
• capturar a TI, o que significa que deve haver uma apropriação
dessa tecnologia, que, se utilizada de forma adequada, pode
se constituir como um instrumento e um recurso de grande
importância para o nosso trabalho. Os(As) profissionais não
devem simplesmente se submeter e se adequar acriticamente
à forma hegemônica como a TI vem sendo utilizada em
diversos espaços sociais, com prioridade para interesses
privados e de mercado. Devem, antes, pensar formas
criativas e críticas que possam direcionar sua utilização pela
categoria.
• como decorrência do item anterior, não devemos permitir que
sejamos capturados pela TI, ou seja, deixar que a forma
hegemônica com que tal tecnologia vem sendo utilizada
320
determine o uso que vamos fazer deste instrumento. A lógica
que deve permear seu uso não deve ser produtivista, que
enfatize processos geradores do aumento das taxas de mais-
valia, absoluta ou relativa. Deve-se compreender o seu
potencial para o trabalho profissional, tendo como horizonte a
satisfação das demandas e o estabelecimento de
modalidades de uso criativas e compatíveis com as
finalidades profissionais buscadas em nosso cotidiano
profissional.
Dizer, portanto, que o Serviço Social, antes de ser capturado pela TI,
precisa capturá-la, corresponde a dizer que ela deve ser apropriada, realmente
incorporada ao nosso trabalho, auxiliar a organização e sistematização do
trabalho realizado, possibilitar a formulação de propostas de intervenção
inovadoras e contribuir para a consolidação de um exercício profissional cada
vez mais competente, crítico e qualificado.
A qualificação profissional preocupada com a incorporação desse
recurso ao trabalho profissional deve ser encarada como uma necessidade,
expressa pelas demandas que são apresentadas ao Serviço Social, e não
apenas como um ato de vontade ou de investimento individual. Este
entendimento supõe a problematização de algumas questões importantes. A
primeira delas refere-se às mudanças sociais e culturais necessárias à
incorporação da TI e de suas aplicações, as quais podem tornar-se um
importante acessório para o desenvolvimento do exercício profissional. A
321
incorporação da TI ao exercício profissional supõe, de fato o abandono de
alguns hábitos antigos, fortemente presentes nas(os) agentes profissionais, e a
substituição por outros, referentes a utilização de novos recursos. Trata-se de
uma mudança que, no entanto, não deve ser feita de uma hora para outra,
demandando um longo processo que, se bem conduzido pode trazer resultados
positivos, principalmente se os(as) profissionais puderem contar com recursos
como, além de vontade e investimento individual, condições de trabalho
adequadas e alternativas de formação e qualificação profissionais.
Outra consideração importante refere-se às experiências de
incorporação da TI que vêm sendo realizados pelos(as) assistentes sociais, as
quais não devem ser tomadas apenas como uma incorporação técnica,
instrumental ou uma "adaptação" às novas tecnologias, mas, antes, como
experiências de construção e condução de um projeto político, o qual pode
propiciar importantes contribuições para a profissão. Não se trata, portanto, de
promover a substituição de formas “antigas" de se trabalhar por formas mais
"modernas" e “eficientes”, ou de propor uma informatização generalizada e
desenfreada dos espaços profissionais como forma de melhoria do trabalho.
Trata-se de propor a apropriação da TI tendo em vista as reais possibilidades
existentes.
Se, de um lado, deve haver uma preocupação e resistência a uma
incorporação forçada e autoritária da TI ao nosso exercício profissional, por
outro lado, é necessário que estejamos abertos às possibilidades e
potencialidades que tal tecnologia traz, o que significa que “a resistência pela
322
resistência” e o menosprezo em relação à TI não deveriam ser elementos
presentes em nossa profissão.
Como se viu, a TI é um recurso que ainda não foi efetivamente
incorporado ao trabalho profissional. Se o for adequadamente, pode constituir-
se como uma contribuição capaz de proporcionar subsídios para se
compreender e, talvez, superar algumas dificuldades presentes nos processos
de trabalho em que os(as) assistentes sociais estão inseridos(as). Sua
incorporação pelo Serviço Social deve se dar não pelo fascínio com as diversas
novas tecnologias disponíveis, mas sim por uma necessidade de
aprimoramento e qualificação do trabalho realizado pelos(as) profissionais.
Uma das formas possíveis de apropriação deste recurso é a construção e
utilização de sistemas de informação, que, ao articular-se com as demais
competências teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas,
poderiam auxiliar o(a) profissional nas diversas dimensões de seu trabalho,
como planejamento, sistematização, avaliação e pesquisa, potencializando a
implementação de práticas democráticas.
Pretendeu-se desenvolver uma compreensão acerca da TI tomando-
a a partir de algumas conexões possíveis com o Serviço Social, demonstrando
que seu uso, feito de maneira adequada, pode ser importante para a profissão.
Acredita-se estar oferecendo uma contribuição neste sentido, indicando alguns
aspectos gerais que expressem um modo possível de pensar essa articulação.
Trata-se de um esforço não só pela compreensão do papel da TI para o
Serviço Social, mas também pela divulgação de sua potencialidade, que vem
323
tendo seu reconhecimento por parte de alguns(mas) profissionais que partilham
de uma percepção da importância que o tema tem para a profissão. Não se
teve por objetivo apresentar respostas definitivas para o complexo problema da
sua incorporação por parte do Serviço Social, mas sim, desenvolver um
conjunto de considerações que pudesse oferecer uma argumentação em
defesa dessa incorporação, demonstrando, ainda que timidamente, sua
potencialidade para o trabalho profissional.
324
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
AFONSO, Carlos. A Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? São Paulo, Friedrich Ebert Stifung, Policy Paper, n. 26, setembro de 2000.
ALBUQUERQUE, J. M. S. “Informática em Serviço Social como instrumento de democratização da cultura”. In Anais do 8o Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Salvador: Conselho Federal de Serviço Social, 1995.
ALMEIDA, Rubens Queiroz de. “O leitor navegador (III)”. In SILVA, Ezequiel Theodoro da (coord.). A leitura nos oceanos da Internet. São Paulo: Cortez, 2002.
AMARAL, Sergio Ferreira do. “As novas tecnologias e as mudanças nos padrões de percepção da realidade”. In SILVA, Ezequiel Theodoro da (coord.). A leitura nos oceanos da Internet. São Paulo: Cortez, 2002.
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? 5a ed. São Paulo: Cortez, 1998.
_________. Os sentidos do trabalho. 2a ed. São Paulo: Boitempo, 2000.
BARRETO, R. G. “Educação e tecnologia: (des)caminhos da Educação Superior a Distância”. In ADUFRJ Seção Sindical, n.515. Rio de Janeiro: ADUFRJ, 2006, pp.4-5.
_________. “A presença das tecnologias” In FERRAÇO, C. E. (Org.) Cotidiano escolar, formação de professores(as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2005.
________. “Tecnologia e educação: trabalho e formação docente”. In Educação e Sociedade, v.25, n.89. Campinas: CEDES, 2004.
_________. “As condições de produção da formação docente”. In BARRETO, R. G. Formação de professores, tecnologias e linguagens: mapeando novos e velhos (des)encontros. São Paulo: Loyola, 2002.
325
BARRETO, R. G., LEHER, E. M. T. e NOGUEIRA, E. S. “Formação baseada em competências e tecnologias da informação e comunicação: o paradigma (neo)tecnicista”. In VI Colóquio sobre Questões Curriculares e II Colóquio Luso-Brasileiro sobre Questões Curriculares – Currículo: Pensar, Inventar, Diferir. Rio de Janeiro: UERJ, 2004, pp. 1670-9.
BEHRING, Elaine. Brasil em contra-reforma. Desestruturação do Estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003.
CARNEIRO, Raquel. Informática na educação: representações sociais do cotidiano. São Paulo: Cortez, 2002.
CARVALHO, Maria do Carmo Brandt. “O conhecimento da vida cotidiana: base necessária à prática social”. In NETTO, José Paulo e CARVALHO, Maria do Carmo Brandt. Cotidiano: conhecimento e crítica. 5a edição. São Paulo: Cortez, 2000, pp: 13-62.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
_________. A sociedade em rede (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.1). São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CHIAVENATO, Idalberto. “Cibernética e administração”. In Introdução à teoria geral da administração. Edição compacta. 2a ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
COELHO, Cristina da Silva Souza. “Sistema de informação no sistema penal e o Serviço Social”. In Cd-Rom do XI CBAS. Fortaleza, 2004.
COLMÁN, Evaristo e TOSCAN, Francielle. “Tecnologias de informação, processos de trabalho do assistente social e formação profissional”. In Serviço Social em Revista, v.5, n.2. Londrina: UEL, 2003. Disponível em <http://www.ssrevista.uel.br> Acesso em: 28/07/06.
_________. “Tecnologias de informação: instrumento para o Serviço Social?” In Cd-Rom do IX ENPESS. Porto Alegre, 2004.
COLMÁN, Evaristo. “Apropriação das tecnologias de informação pelo serviço social”. In Anais do IX CBAS. Goiânia, 1998.
326
________. “Notas sobre o ensino de informática nos cursos de Serviço Social”. In Serviço Social em Revista, v.7, n.1. Londrina: UEL, 2004. Disponível em <http://www.ssrevista.uel.br> Acesso em: 28/07/06.
________. “Contribuição da pesquisa para o ensino das tecnologias de informação. Implementação das diretrizes curriculares”. In Cd-Rom do IX ENPESS. Porto Alegre, 2004a.
CORSANI, Antonella. “Elementos de uma ruptura: a hipótese do capitalismo cognitivo”. In COCCO, Giuseppe et. alli. (orgs.) Capitalismo cognitivo: trabalho,redes e inovação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
CRESS. Assistente Social: ética e direitos. Coletânea de Leis e Resoluções. 3a ed. Rio de Janeiro: CRESS 7a Região, 2001.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 16a ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
FALEIROS, V. P. “Serviço Social: questões presentes para o futuro”. In Serviço Social e Sociedade. n.50. São Paulo: Cortez, 1996.
_________. Estratégias em Serviço Social. 2a ed. São Paulo: Cortez, 1999.
FREIRE, Lucia M. B. O Serviço Social na reestruturação produtiva: espaços, programas e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2003.
FREITAS, Arlena Sarmento de. “O sistema de informatização como recurso operacional na agilização do atendimento ao adolescente em conflito com a lei”. In Cd-Rom do XI CBAS. Fortaleza, 2004.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3a ed. São Paulo: Atlas, 1991.
GLEISER, Marcelo. Turbilhão digital, Suplemento Mais, Folha de São Paulo, 11 de agosto de 2002, p.23.
GUERRA, Alexandre Lalau et. alli. “Sistema de gerenciamento de informações dos programas sociais”. In POCHMANN, Marcio (org.) Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade. Novos caminhos para a inclusão social. São Paulo: Cortez; Fundação Perseu Abramo, 2002, pp.51-8.
327
GUERRA, Yolanda. “Instrumentalidade do processo de trabalho do Serviço Social”. In Serviço Social e Sociedade, n.62. São Paulo: Cortez, 2000, pp.5-34.
________. A instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1995.
HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. 2a ed. São Paulo: Loyola, 1993.
HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar voltado para a empresa e a sociedade. São Paulo: Boitempo, 2002.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998.
__________. "O serviço social no processo de reprodução das relações sociais". In IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social no Brasil. Esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 9a ed. São Paulo: Cortez; [Lima, Peru]: CELATS, 1993, pp.71-123.
_________. "A questão social no capitalismo". In Temporalis, n.3. Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001, pp.9-32.
_________. “Projeto profissional, espaços ocupacionais e trabalho do assistente social na atualidade”. In CFESS. Atribuições privativas do(a) assistente social. Em questão. Brasília: CFESS, 2002.
JONAS, Liz Clara de Campos. “Sistemas de informação na assistência social e parâmetros ético-políticos. In Serviço Social em Revista, v.5, n.1. Londrina: UEL, 2002. Disponível em <http://www.ssrevista.uel.br> Acesso em: 28/07/06.
KACHAR, Vitória. Terceira idade e informática: aprender revelando potencialidades. São Paulo: Cortez, 2003.
KAMEYAMA, Nobuco. “Notas introdutórias para a discussão sobre reestruturação produtiva e serviço social”. In MOTA, Ana Elizabete (Org.). A Nova Fábrica de Consensos. São Paulo, Cortez, 1998.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
328
_____. Cibercultura. São Paulo: Editora 34,1999.
LIMA, Kátia Regina de Souza. Reforma da educação superior nos anos de contra-revolução neoliberal: de Fernando Henrique Cardoso a Luís Inácio Lula da Silva. Rio de Janeiro: UFF, 2005 (Tese de Doutorado em Educação).
LOJKINE, J. A Revolução Informacional. 3a ed. São Paulo: Cortez, 2002.
MALINI, Fábio. “A informação com arma política: do confinamento ao descontrole”. In COCCO, Giuseppe et. alli. (orgs.) Capitalismo cognitivo: trabalho, redes e inovação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril cultural, 1982 (Os economistas).
MARTINS, V. L. “A incorporação da informática pelo Serviço Social do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP/Bauru: um estudo de caso”. In Cd-Rom do X CBAS. Rio de Janeiro, 2001.
MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1971.
MATTELART, Armand. História da sociedade da informação. São Paulo: Loyola, 2002.
MATTOSO, Jorge. A Desordem do Trabalho. São Paulo: Scritta, 1996.
MEIRELES, Fernando de Souza. Informática – novas aplicações com microcomputadores. 2a ed. São Paulo: Makron Books, 1994.
MORAES, Denis de. O concreto e o virtual: mídia, cultura e tecnologia. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
NETO, José Menelau. “Desemprego e luta de classes: as novas determinidades do conceito marxista de exército industrial de reserva”. In OLIVEIRA, Manfredo e TEIXEIRA, Francisco (Orgs.). Neoliberalismo e Reestruturação Produtiva. São Paulo, Cortez/UECE, 1996.
329
NETTO, José Paulo. “A construção do projeto ético-político do Serviço Social frente à crise contemporânea”. In Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo 1 – Brasília: CEAD/ABEPSS/CFESS, 1999.
______. “Para a crítica da vida cotidiana”. In NETTO, José Paulo e CARVALHO, Maria do Carmo Brandt. Cotidiano: conhecimento e crítica. 5a edição. São Paulo: Cortez, 2000, pp: 64-93.
______. “Transformações societárias e Serviço Social – notas para uma análise prospectiva da profissão no Brasil”. In Serviço Social e Sociedade, no 50. São Paulo: Cortez, 1996.
______. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 2a ed. São Paulo: Cortez, 1996a.
PINHEIRO, V. M. & DEMÉO, I. M. SOS – Sistema de Obras Sociais: desenvolvimento de um programa com a informática. In Revista Serviço Social Hospitalar, v.1. São Paulo: USP, 1996.
PINKETT, Randal D. Redefining the Digital Divide. Disponível no endereço: http://tcla.gseis.ucla.edu/divide/politics/pinkett.html. Acessado em 19/08/2006.
POCHMANN, Marcio (org.) Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade. Novos caminhos para a inclusão social. São Paulo: Cortez; Fundação Perseu Abramo, 2002.
PONTES, Reinaldo Nobre. Mediação e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1995.
ROSA, Lutero Oliveira. “Informação Tecnológica e Serviço Social”. In Serviço Social e Sociedade, n.º 49. São Paulo: Cortez Editora, 1995, pp. 137-163.
RUBEN, G., WAINER, J., DWYER, T. (Orgs.) Informática, organizações e Sociedade no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003.
SANTOS, Boaventura de Souza. “Economia de cassino”. Folha de São Paulo. São Paulo, 15 de março de 1998, Folha Dinheiro, p.8.
SANTOS, Laymert Garcia dos. “Tecnologia, perda do humano e crise do sujeito do direito”. In OLIVEIRA, F. e PAOLI, M. C. (orgs.) Os sentidos da democracia
330
– políticas do dissenso e hegemonia global. Petrópolis: Vozes; Brasília, NEDIC, 1999.
SCHAFF, Adam. A sociedade informática. São Paulo: Brasiliense, 1993.
SILVA, Arídio et. alli. Sistemas de Informação na administração pública. Rio de Janeiro: Revan, 2004.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. “Formação do leitor virtual pela escola brasileira: uma navegação por mares bravios”. In SILVA, Ezequiel Theodoro da (coord.). A leitura nos oceanos da Internet. São Paulo: Cortez, 2002.
SILVA, Márcio Antunes da. “Assistente Social e tecnologias de informação”. In Serviço Social em Revista, v.6, n.1. Londrina: UEL, 2003. Disponível em <http://www.ssrevista.uel.br> Acesso em: 28/07/06.
SILVEIRA, Sergio Amadeu da. Exclusão digital: a miséria na era da informação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.
SOUZA, P. C. . “Revolução Informacional e Serviço Social: uma articulação promissora”. In: RAMOS, M. H. R. R. (Org.). Metamorfoses sociais e políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, pp. 241-263.
______ . “Serviço Social e informática”. In: CEFESS; ABEPSS; CEAD/UNB. (Org.). Capacitação em Serviço Social. Brasília: UnB, 2000, v. 4, p. 255-270.
TAPAJÓS, L. M. “Pensando Tecnologia e Sociedade”. s/l, s/d (mimeo).
TAUILLE, José Ricardo. Para reconstruir o Brasil contemporâneo: trabalho, tecnologia e acumulação. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.
TAVARES, Cristina, SELIGMAN, Milton. Informática: a batalha do século XXI. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
TEIXEIRA, Francisco José Soares. “Modernidade e crise: reestruturação capitalista e ou fim do capitalismo”. In OLIVEIRA, Manfredo e TEIXEIRA, Francisco (Orgs.). Neoliberalismo e Reestruturação Produtiva. São Paulo, Cortez/UECE, 1996.
331
TELLES, Vera. “Pobreza e Cidadania: Precariedade e Condições de Vida”. In: Terceirização: Diversidade e Negociação no Mundo do Trabalho. São Paulo, HUCITEC/CEDI-NETS, 1994.
VASCONCELOS, A. M. A prática do Serviço Social – cotidiano, formação e alternativas na área da saúde. São Paulo: Cortez, 2002.
VELOSO, Renato. Serviço Social: profissão feminina? - A condição masculina na formação profissional. Trabalho de conclusão de curso. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996 (mimeo).
_______. “A tecnologia da informação a serviço do social”. In CD-ROM do IX ENPESS. Porto Alegre: ABEPSS, 2004.
_______. “Neoliberalismo e políticas sociais: algumas notas para discussão”. In ADVIR. Rio de Janeiro: Asduerj, 2005.
VIEIRA PINTO, Álvaro. O conceito de tecnologia. Vol. 1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.
WAINER, Jacques. “O paradoxo da produtividade”. In RUBEN, G., WAINER, J., DWYER, T. (Orgs.) Informática, organizações e Sociedade no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003.