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Relatório técnico do Projeto Soja Brasil 2014/2015 Por Áureo Lantmann Introdução: Este relatório releva uma visão técnica sobre o desenvolvimento da soja em todo o território nacional na safra 2014/2015. Durante a Expedição Soja Brasil, foi possível observar o comportamento da soja em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil, desde as atividades que antecedem a semeadura até as de colheita e armazenamento. Analisamos o comportamento da oleaginosa entre as latitudes 06º e 32º Sul, em 13 Estados em mais de 65 localidades. Também pudemos relatar o desenvolvimento; a concorrência de problemas bem como as alternativas para soluções; as expectativas de rendimento; os êxitos proporcionados com o uso de tecnologias próprias para cada situação de lavoura; a ocorrências de pragas e doenças e seus impactos sobre os rendimentos; o comprometimento das lavouras em funções do clima; e as consequências positivas quanto ao uso dos modelos de manejo de solos e rotação de culturas. Objetivos do relatório técnico do Projeto Soja Brasil 1) Mostrar todos os componentes da cadeia produtiva de soja, discutindo seus aspectos positivos e negativos; 2) Apresentar o desempenho das lavouras de soja na safra 2014/2015 em várias localidades do Brasil, revelando a diversidade de tecnologias próprias para cada situação, ressaltando a pertinência de cada uma de acordo com características edafoclimáticas regionais; 3) Apresentar de forma jornalística os problemas e soluções técnicas adotados pelos agricultores para que o cultivo da soja expressa-se seu melhor rendimento; 4) Destacar a preocupação constante para a continuidade da produção de soja no Brasil, dos fatores relevantes, como a conservação dos solos, qualidade ambiental e sustentabilidade. Considerações gerais sobre o cultivo da soja safra 2014/15: Com os 31,62 milhões de hectares cultivados com soja nesta safra o Brasil pretendia colher mais de 95 milhões de toneladas do grão. Adventos como a falta de chuva nos períodos mais adequados para a semeadura; a falta de umidade nos estádios críticos; a germinação e enchimento de grãos; o excesso de umidade no momento da colheita; a ocorrência inesperada de pragas que antes eram consideradas secundárias; o controle inadequado de doenças, por exemplo, a ferrugem; o manejo ruim dos solos deve reduzir o volume final da colheita. Os Estados com maior área cultivada com a soja nesta safra, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, que representam 62% das lavouras de soja no Brasil, tiveram que adiar as semeaduras em até 20 dias, fato que poderá resultar em menores rendimentos. Por todas as regiões que a Expedição passou, observamos tecnologias aplicadas de forma equivocada, o que contribui para que a soja não tenha seu rendimento máximo e, também,
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Relatório Técnico Projeto Soja Brasil 2014/2015

Jul 18, 2015

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Relatório técnico do Projeto Soja Brasil 2014/2015

Por Áureo Lantmann

Introdução: Este relatório releva uma visão técnica sobre o desenvolvimento da soja em todo o território nacional na safra 2014/2015. Durante a Expedição Soja Brasil, foi possível observar o comportamento da soja em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil, desde as atividades que antecedem a semeadura até as de colheita e armazenamento. Analisamos o comportamento da oleaginosa entre as latitudes 06º e 32º Sul, em 13 Estados em mais de 65 localidades. Também pudemos relatar o desenvolvimento; a concorrência de problemas bem como as alternativas para soluções; as expectativas de rendimento; os êxitos proporcionados com o uso de tecnologias próprias para cada situação de lavoura; a ocorrências de pragas e doenças e seus impactos sobre os rendimentos; o comprometimento das lavouras em funções do clima; e as consequências positivas quanto ao uso dos modelos de manejo de solos e rotação de culturas. Objetivos do relatório técnico do Projeto Soja Brasil 1) Mostrar todos os componentes da cadeia produtiva de soja, discutindo seus aspectos positivos e negativos; 2) Apresentar o desempenho das lavouras de soja na safra 2014/2015 em várias localidades do Brasil, revelando a diversidade de tecnologias próprias para cada situação, ressaltando a pertinência de cada uma de acordo com características edafoclimáticas regionais; 3) Apresentar de forma jornalística os problemas e soluções técnicas adotados pelos agricultores para que o cultivo da soja expressa-se seu melhor rendimento; 4) Destacar a preocupação constante para a continuidade da produção de soja no Brasil, dos fatores relevantes, como a conservação dos solos, qualidade ambiental e sustentabilidade. Considerações gerais sobre o cultivo da soja safra 2014/15: Com os 31,62 milhões de hectares cultivados com soja nesta safra o Brasil pretendia colher mais de 95 milhões de toneladas do grão. Adventos como a falta de chuva nos períodos mais adequados para a semeadura; a falta de umidade nos estádios críticos; a germinação e enchimento de grãos; o excesso de umidade no momento da colheita; a ocorrência inesperada de pragas que antes eram consideradas secundárias; o controle inadequado de doenças, por exemplo, a ferrugem; o manejo ruim dos solos deve reduzir o volume final da colheita. Os Estados com maior área cultivada com a soja nesta safra, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, que representam 62% das lavouras de soja no Brasil, tiveram que adiar as semeaduras em até 20 dias, fato que poderá resultar em menores rendimentos. Por todas as regiões que a Expedição passou, observamos tecnologias aplicadas de forma equivocada, o que contribui para que a soja não tenha seu rendimento máximo e, também,

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aumente os custos de produção. Por outro lado, há lavouras bem conduzidas, com tecnologia adequada, que deve representar altos rendimentos com custos reduzidos. Aspectos negativos da safra 2014/2015 1) Estiagem durante o período de semeadura e germinação

Nos Estados de Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia, Goiás, Pará e Tocantins tiveram que postergar a semeadura de soja, em média, 20 dias. Esse “atraso” pode comprometer o rendimento ou proporcionar aumentos, dependendo dos ciclos das variedades cultivadas, porém fica prejudicado o cultivo de milho segunda safra em varias regiões. Alguns agricultores semearam a soja no pó, em condições de solo muito seco e, com isso, sem chance para que a soja tivesse boa germinação. Outro fator importante quando a semeadura é no pó, diz respeito á adubação. O adubo deve cair ao lado e abaixo das sementes. Caso caia muito perto, haverá uma competição por água entre adubo e semente, além do fato abrasivo que o adubo pode fazer nas sementes. 2) Estiagem durante o período reprodutivo. Em varias localidades do Brasil, registramos estiagens prolongadas de até 42 dias após o inicio do período reprodutivo. A soja quando sofre estiagem no período vegetativo ainda tem chance de uma recuperação, mas quando isto acontece entre os estádios reprodutivos R4 e R5 a recuperação é quase nula. O estádio R4 marca o início do período mais crítico de desenvolvimento da planta quanto à determinação do rendimento em grãos. O estresse (seja umidade, luz, deficiências nutricionais, geada, acamamento ou desfolha) ocorrendo a qualquer momento entre os períodos de R4 a logo após R6 reduzirá mais a produção do que a ocorrência do mesmo estresse em qualquer outro período de desenvolvimento. O período R4.5 (formação das últimas vagens) a aproximadamente R5.5 é muito crítico porque o florescimento completa-se e não pode ser compensado, uma vez que as vagens e grãos novos são mais propensas a abortamento sob estresse que as vagens e grãos mais velhos. O estádio R5 é caracterizado pelo rápido crescimento ou início do enchimento dos grãos, e s redistribuição da matéria seca e dos nutrientes das partes vegetativas para os grãos em formação. A demanda por água e nutrientes é alta ao longo do período de enchimento dos grãos. Durante todo esse período, os grãos adquirem aproximadamente metade do seu nitrogênio, fósforo e potássio através da redistribuição pelas partes vegetativas da planta, aproximadamente metade pela absorção do solo e da atividade microbiológica. As deficiências hídricas podem reduzir a disponibilidade dos nutrientes porque as raízes não podem, absorve-los e nem crescer nas camadas superficiais e mais secas do solo. Fica evidente que a falta de água nesses estádios compromete muito o rendimento da soja. Tecnologias que preservam água no solo, como formação de palha de espécies vegetais com baixa relação carbono/nitrogênio (N/C) devem ser praticadas sempre para amenizar impactos negativos como esta acontecendo na região citada. O desenvolvimento do sistema radicular em camadas mais profundas do solo, obtido com a distribuição uniforme dos nutrientes, também minimiza efeitos negativos de estiagens.

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3) Efeitos do manejo de soja sobre soja Com a Caravana Soja Brasil e a Expedição, em diversas regiões do Brasil, entre o período de novembro de 2014 até março de 2015, tivemos a oportunidade de avaliar, segundo depoimentos de agricultores que praticaram o cultivo da soja depois de soja, o resultado desta prática. Um conjunto de agricultores de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul declararam que nunca mais fariam tal pratica, porém alguns do Paraná afirmaram que estão satisfeitos e iram praticar a segunda safra de soja novamente em 2015. No momento que todos entendem e aceitam o “vazio sanitário” e a eliminação da “ponte verde” como importante ferramenta de controle de doenças da soja. Mesmo atuando no controle de problemas como a ferrugem, mofo branco, cercóspora, nematoides, percevejos, helicoverpa, entre outros, alguns agricultores, contrariando os princípios de ambas as ferramentas, afirma que vão fazer novamente a segunda safra de soja. Essa atitude representa uma contra tecnologia, um tiro no pé, uma ação desastrosa. Uma das formas de reduzir a ação nefasta da Helicoverpa armigera é não proporcionar uma “ponte verde” na qual este inseto se hospede e continue seu ciclo de vida. Com soja sobre soja, se criará uma condição enorme para que a lagarta se abrigue, saindo de uma condição bem favorável, que é a presença de vagens de soja para, logo em seguida, se hospedar e se alimentar de uma soja recém-geminada. Ou seja, vai favorecer muito para que o inseto se abrigue se alimente se reproduza, sendo necessários muitos baldes de inseticidas poderosos para sua eliminação. Algumas pragas de raiz como o percevejo castanho e os corós terão seus ciclos de vida bastante favorecidos com o cultivo contínuo de soja, o que vai demandar um controle com inseticidas além do que já se pratica. É muito importante respeitar o vazio sanitário para o controle da ferrugem para diminuir o inóculo na safra seguinte, bem como a eliminação de plantas voluntárias de soja (guaxa ou tiguera), mas, com o cultivo de soja sobre soja, a pressão tende a aumentar. O cultivo de soja em sucessão a soja pode inviabilizar, no médio prazo, o cultivo desta leguminosa, de forma técnica e econômica. Econômica porque aumenta os custos de produção com inseticidas e fungicidas; tecnicamente, pois, doenças e pragas vão adquirir em tempo mais curto resistências aos princípios ativos e as moléculas que hoje compõem os inseticidas e fungicidas disponíveis no mercado. 4) Pragas de difícil controle, lagartas elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e falsa medidideira e mosca branca

Durante o desenvolvimento da cultura da lavoura, a soja fica exposta a um conjunto de aproximadamente 36 espécies de insetos, com diferentes magnitudes de danos. Danos que se iniciam nas sementes colocadas no solo até a colheita. Nos últimos anos pelo menos três pragas secundárias têm causado grandes prejuízos nas lavouras de soja. Neste ano, em função de longos períodos de estiagem, foram registrados varias incidências graves de lagartas como a elasmo e falsa medideira, além da mosca branca.

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A lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus) tem grande capacidade de destruição em curto intervalo de tempo, sendo que seu aparecimento é esporádico e está associado a secas em períodos que favorecem o intenso desenvolvimento populacional da praga. Maiores danos são observados em solos leves e bem drenados, sendo sua incidência menor sob a técnica do plantio direto. As larvas atuam sobre o de crescimento das plantas, provocando a morte das folhas, mal esse conhecido como "coração morto". Em áreas com constantes infestações da praga, deve realizar o tratamento das sementes com inseticidas sistêmicos. Também é necessário usar produtos registrados para a cultura. Nas três edições da Expedição Soja Brasil, safras 2012/2013 2013/2014 e 2014/2015, em várias localidades nós observamos a presença da lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens), no estádio reprodutivo, caracterizada como praga secundária na cultura da soja, mas que nas ultimas safras promoveu perdas significativas. Como nos últimos anos esta praga ocorreu de forma surpreendente, inesperada, as perdas de área foliar chegaram a índices de até 32%, o que deve afetar muito os rendimentos da soja. É importante daqui para frente que o agricultor esteja atento para a ocorrência desta praga. Por que a ocorrência exagerada, de Pseudoplusia includens no período reprodutivo da soja nas ultimas safras? No passado, as populações da lagarta falsa-medideira eram controladas naturalmente por uma gama enorme de inimigos naturais, representada principalmente por parasitoides, como as vespinhas (Copidosoma sp) e, especialmente, por doenças fúngicas, como a doença branca (Nomuraea rileyi) e doença marrom (Pandora sp. e Zoophthora sp). É possível afirmar que a aplicação exagerada de inseticidas sem critério técnico no inicio do desenvolvimento da soja, não obedecendo aos níveis de dano indicados no manejo integrado de pragas, além do uso de fungicidas não seletivos para o controle da ferrugem asiática da soja vão afetar negativamente as populações desses inimigos naturais. Consequentemente, crescerá os problemas com a lagarta falsa-medideira. Aliado a isso, nas ultimas safras têm sido observado veranicos e altas temperaturas, principalmente a partir do final de dezembro e começo de janeiro, que são extremamente favoráveis para a ocorrência da explosão populacional da praga. É importante realizar o monitoramento das pragas com o auxílio do pano-de-batida e aplicar o inseticida apenas quando for necessário (30% de desfolha no vegetativo ou 15% de desfolha no reprodutivo). Além da aplicação no momento certo, é importante escolher um produto registrado para a lagarta alvo do controle. Devemos levar em consideração alguns critérios que interferem na eficiência do controle como: - A praga tem hábito diferente da lagarta-da-soja. Ela é mais tolerante aos inseticidas e para o seu controle necessita de doses de duas até quatro vezes maiores. Alimenta-se de folhas da parte mediana da planta no período reprodutivo da soja. Dessa forma, fica “protegida” pelo dossel da planta, que nessa fase da cultura está fechado, dificultando o contato do inseticida com a praga (“efeito guarda-chuva”). Isso ainda é agravado com a utilização de um baixo volume de calda/ha, ainda mais quando o inseticida é aplicado de avião.

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Temperaturas elevadas, acima de 30º, e a umidade abaixo de 60% aumentam a evaporação, dificultando o controle. Assim, nessas condições climáticas extremas, sugere-se controlar as lagartas durante a madrugada, quando as temperaturas são relativamente mais baixas e a umidade mais alta, além da ausência de ventos que proporcionarão melhores condições para aplicação. Sendo assim, a lagarta falsa-medideira é uma praga importante na soja, mas que com a adoção do manejo integrado de pragas, realizando monitoramento, respeitando os níveis de ação e usando uma boa tecnologia de aplicação dos inseticidas, ela pode ser mantida em baixas populações sem prejuízos ao agricultor ou ao meio ambiente. Os danos de insetos pragas podem ser percebidos já no inicio, logo após a germinação, porém o seu controle esta sujeito a uma análise bem criteriosa, fundamentada em resultados de observação e pesquisa. Normalmente, quando é formada a planilha de custo de produção de uma lavoura de soja, no item “pragas” (insetos), os gastos considerados são para controle de lagarta da soja, lagarta falsa-medideira e percevejos. A somatória dos custos nesse item pode variar de 11% a 15% do custo total. Em alguns anos, em determinadas localidades, e em função do clima, surgem insetos não previstos, que, em muitos casos, são considerados como pragas secundárias, mas dependendo da quantidade exigem controles. Durante a Expedição Soja Brasil verificamos a incidência de mais seis pragas, imprevistas ou de menor ataque para a cultura, mas que se não controladas produziriam menor rendimento da soja. A mosca branca foi uma delas, além das já citadas acima. Na cultura da soja, a mosca branca causa danos diretos pela sucção da seiva, provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. Durante a alimentação, a mosca branca excreta substancia açucaradas que cobrem as folhas, resultando na formação da fumagina, que causa a murcha e queda das folhas, antecipando o ciclo da cultura. Todas essas seis pragas foram observadas em lavouras percorridas pela nossa expedição. O controle significa um aumento no custo de produção entre uma até quatro sacas de soja a mais. 5) Danos promovidos pela doença ferrugem.

A maior parte das lavouras de soja no Brasil, safra 2014/2015, encontram-se nos estádios reprodutivos. Exatamente entre os estádios do R1 até R6. A ferrugem da soja produz os maiores danos. Porém, existem algumas estratégias para atenuar esse grande problema. Do conjunto de agricultores que já ouvimos durante esses 70 dias da Expedição Soja Brasil 2013/2014 todos fazem uma aplicação de fungicida de forma preventiva. Uns fazem quando aparece a primeira flor; outros entre o estádio vegetativo V5 e V6; outro grupo planta soja logo após o vazio sanitário; uma parcela toma como referencia para a primeira aplicação de

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fungicida o surgimento da ferrugem; outros quando aplicam o fungicida pouco antes das linhas de soja se fecharem. O momento certo das aplicações é fundamental, uma vez que o sucesso na primeira pulverização acarreta o êxito nas aplicações seguintes, podendo ser mais uma ou mais três ou até quatro dependendo do ciclo e época de semeadura. Considerando a produção de soja nas safras, 2010/2011 com 75.324 mil t. e 2011/2012 com 66.383 mil toneladas, justifica-se a menor produção na última safra em função da seca que ocorreu em várias regiões do Brasil, com o rendimento médio de 3115 kg/hectare e de 2651 kg/hectare, respectivamente. Informações mostram que o consumo de fungicida na safra 2011/2012 foi muito menor que o da safra 2010/2011. A informação acima pode ser compreendida da seguinte forma: as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem são temperatura entre 18° a 28° C., horas de molhamento foliar acima de 10 horas, (tempo chuvoso) e presença de orvalho por mais de 6 horas. Nesta safra, a distribuição de chuvas foi irregular, com pouca chuva em algumas regiões, grande parte da soja já semeada estaria hoje com mais de 75 dias após germinação. Portanto, nos estádios R3 e R5, com soja de ciclo curto (100 ha 110 dias), as estratégias para as aplicações de fungicidas devem considerar, as questões relativas às condições de umidade mais favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem. Aspectos positivos

1) Adubação de sistemas Em praticamente todos os Estados por onde a Expedição Soja Brasil passou, nós pudemos observar agricultores definindo a adubação para a soja em função do sistema produtivo. Isso é viável porque a soja tem grande capacidade de aproveitar resíduos de adubações, ou seja, das adubações praticadas para outras culturas. A adubação por sistemas produtivos considera a sucessão e rotação de culturas e, com isso, é possível maximizar a eficiência dos adubos e, também, reduzir o custo de produção sem comprometer a produtividade da soja. Entendem-se por “adubar por sistema”, uma pratica que leva em consideração, para definição das quantidades de adubo, o seguinte: a) Resultados de análises de solo; b) Demandas nutricionais de cada cultura que compõem o sistema; c) Evolução da fertilidade do solo, ou seja, pelos resultados de analises de solo observar, se os principais nutrientes estariam em disponibilidade crescente ou decrescente; d) Rendimentos anteriores das culturas que compõem o sistema; e) Situação de acidez do solo; f) Capacidade de troca catiônica (CTC); g) Os principais nutrientes sempre acima do nível crítico;

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A adubação por sistema considera também o efeito residual das adubações anteriores sobre a sucessão de culturas. Dessa forma é possível uma redução nos custos com adubação sem comprometer os rendimentos. A adubação por sistema permite, em muitos casos, adubar uma só cultura da sucessão por safra.

2) Rotação de culturas

A rotação de culturas é um fator de sustentação dentro dos sistemas produtivos. Conhecemos uma propriedade que tem um ótimo sistema de planejamento. Com 208 funcionários, ela tem como meta nesta safra 2014/2015 um rendimento médio de soja de 58,28 sacas/ha, que em função do conjunto de tecnologias adotadas, deverá ser superado. A rotação de culturas, não a sucessão de culturas, é um perfeito sistema de plantio direto, que tem assegurado alta rentabilidade, com 348,00 US$/ha/ano para a soja. A soja, o milho safra, o algodão e o milho safrinha são rotacionados de forma que a soja só é cultivada em um talhão durante duas safras seguidas. São incluídos no sistema o milheto e o nabo. O milheto destaca-se como uma das principais culturas, devido ao seu rápido desenvolvimento vegetativo, pois atinge 5 a 8 t/ha de matéria seca entre os 45 e 60 dias após a semeadura, proporcionando excelente cobertura do solo. O uso do milheto visa a reposição da palhada em área de plantio direto. O sistema de rotação de culturas adotado na fazenda com o algodão tem proporcionado uma grande redução no custo de produção da soja. A quantidade de adubo usada no algodão cerca de 1300 ate 1600 kg/ha, gera um efeito residual dessa adubação da qual a soja pode aproveitar, desde que as condições físicas e químicas do solo sejam adequadas. Essas condições acontecem quando, por exemplo, o teor de matéria orgânica do solo é bom, e isso é obtido quando se pratica um sistema de rotação em que participe culturas para a produção de palha. Na media a adubação utilizada para soja nesta fazenda é de 300 kg/ha da formula 02-30-10, porém quando a soja vem depois do algodão, essa quantidade é reduzida para 100 kg/ha, sem nenhum prejuízo de rendimento.

3) Plantio direto O fato técnico que mais chamou atenção foi a enorme quantidade de solos descobertos, sem qualquer tipo de cobertura, isso é muito grave. Afinal o solo é o grande patrimônio dos agricultores e também da nação brasileira, os solos precisam ser protegidos. A técnica do plantio direto assegura sempre maiores rendimentos de soja em relação a outras formas de manejo dos solos. Agricultores que mantêm durante mais de 25 anos o sistema de plantio direto têm conseguindo manter bons rendimentos, mesmo em situações de grande deficiência hídrica. Além de também controlar plantas daninhas e algumas doenças da soja, como mofo branco e pragas como a lagarta elasmo. As águas das chuvas mais severas produzem uma série de fatos negativos nos solos. O impacto das gotas de chuvas contra o solo destroem as estruturas dos solos e o arrasto de grande quantidade de nutrientes quando há escorrimento de agua na superfície.

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Os efeitos negativos do calor, dos ventos e das águas podem ser evitados em todas as regiões produtoras de soja no Brasil. Os solos podem ser protegidos com um conjunto de técnicas de preservação que incluem sistemas onde se cultivam espécies que produzem grandes quantidades de palha. Milheto, braquiária, aveia, trigo, são espécies que produzem palha com relação C/N alta, de decomposição lenta. O cultivo do milheto, solteiro, durante dois meses, produz palha suficiente para proteção do solo durante todo o ano assim como a braquiária cultivada em consorcio com o milho safrinha. Os efeitos de adubos químicos são inócuos quando os solos não oferecem umidade, ação dos microrganismos e temperaturas amenas, para a efetivação das reações químicas necessárias.

4) Controle de pragas, pelo MIP Agricultores que se baseiam no Manejo Integrado de Pragas (MIP) conseguem diminuir o numero de aplicações de inseticidas para lagartas e percevejos sem comprometer o rendimento da soja. Os percevejos são atualmente um dos fatores mais impactantes dentre as pragas que compõem o complexo de insetos que atacam a soja. No cenário atual da sojicultora brasileira, as táticas de manejo integrado foram negligenciadas e o uso do MIP foi muito reduzido, contribuindo para um aumento nas aplicações de inseticidas. Esse procedimento desencadeou problemas mais sérios, assim como populações de insetos resistentes, agressividade de insetos pragas considerados secundárias, como a mosca branca e ácaros, produzindo ambientes desequilibrados. Por consequência, isso aumenta os custos de produção. Mesmo com o uso variedades superprecoces e de cultivares com tecnologia Bt são aceitos os seguintes princípios do MIP. Os critérios recomendados pelo MIP-Soja são viáveis no atual sistema produtivo da soja: 1) O monitoramento de lagartas e dos percevejos é fundamental na tomada de decisão de controle e, deve continuar até a fase de maturação da soja, sendo intensificado nos períodos de ocorrência de maiores densidades populacionais desses insetos na cultura; 2) A qualidade (vigor e viabilidade da semente) da soja obtida no MIP não é comprometida;

3) As aplicações para o controle dos percevejos antes do início do desenvolvimento de vagens (R3) não resultaram em melhoria da produtividade ou da qualidade dos grãos, e também não reduzem a densidade populacional de percevejos na fase crítica da soja ao dano da praga;

4) Durante a quarta etapa da Expedição foram comuns os casos de falsa medideira, mosca branca e ácaros consideradas pragas secundárias. A incidência destas pragas muitas vezes é decorrente do uso excessivo e descontrolado de inseticidas para controle de percevejos e lagartas.

5) Conjunto de tecnologias que reduzem custos e mantem bons rendimentos Durante a Expedição Soja Brasil ouvimos várias estimativas de custo de produção, variaram, de 27 sc/ha até 45 sc/ha, na média ficaram em 36 sc/ha entorno hoje de R$ 1.980,00/ha. O uso

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constante de tecnologias ajustadas a “calendários” durante o desenvolvimento da soja eleva o custo de produção e normalmente não elevam os rendimentos. Porém, nós conhecemos agricultores que tem uma assistência desvinculada de calendários, e definem os procedimentos de tecnologia e fundamentos apenas em critérios científicos. Alguns exemplos desses procedimentos possibilita a economia. 1) A quantidade de calcário foi estabelecida e distribuída em função de cálculos por agricultura de precisão. Isso significa que quantidades de calcário foram dimensionadas e distribuídas conforme a real necessidade de cada espaço dentro dos talhões, o que garantiu uma homogeneidade da lavoura, com o uso de menos calcário em se comparado a uma distribuição sem agricultura de precisão. Economia de 0,75 sc/ha; 2) A distribuição de adubos foi no sulco de semeadura, o que garante um melhor aproveitamento dos fertilizantes. A distribuição de adubos a lanço em solos de textura arenosa pode comprometer o rendimento da soja, principalmente em situações de estiagem durante o período reprodutivo, situação que ocorre com frequência na região de Naviraí. Aproveitamento do fertilizante representa uma economia de 1,75 sc/ha. 3) O processo de infecção da ferrugem na soja depende de água livre na superfície da folha, sendo necessário no mínimo 6 horas com um máximo de infecção ocorrendo com 10 a 12 horas de molhamento foliar. Temperaturas entre 18°C e 26,5°C são favoráveis para a infecção. Em Naviraí (MS) são frequentes temperaturas acima 28°C, o que promove intensa evapotranspiração nas superfícies das folhas de soja. Essas informações, aliadas a consultas fornecidas pelo Consorcio Antiferrugem, a pratica do vazio sanitário com qualquer vegetal que forneça uma “ponte verde” para o estabelecimento da ferrugem, tem permitido aos agricultores desta região fazer uma única aplicação de fungicida para o controle da doença. Economia de 1,75 sca/ha. 4) O controle de percevejos no custo de produção da soja pode representar até 2,5 sac/ha. Porém, se levarmos em conta alguns procedimentos, como aplicações para o controle dos percevejos antes do início do desenvolvimento de vagens (R3) não resulta em melhoria da produtividade, e ou da qualidade dos grãos. Também não reduz a densidade populacional de percevejos na fase crítica da soja ao dano da praga. O início das infestações com percevejos começa sempre pela bordadura, daí a primeira aplicação ser exclusiva para a região da bordadura. Essas duas observações são levadas em consideração por produtores de soja da região de Naviraí, com isso o custo de 2,5 sc/ha pode ser reduzido para 1,5 sc/ha. Economia de 1,0 sac/ha. A adoção destas quatro tecnologias reduz o custo em 5,25 sac/ha. Soja Intacta RR2 PRO

No período e entre 1º de outubro de 2014 até 3 de março de 2015 o Projeto Soja Brasil realizou em 13 Estados a expedição jornalística e as caravanas de capacitação. Nessas duas ações discutiu-se com agricultores e técnicos pros e contras sobre o suo da soja intacta RR2 PRO™. Ouvimos de vários agricultores que já tinham cultivado a soja Intacta certo grau de satisfação, pois, conseguiram diminuir o número de aplicações com inseticidas para lagartas e tiveram excelentes rendimentos e para a próxima safra iriam aumentar a área com o uso das

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variedades de soja intacta RR2 PRO™. Um dos pontos, mas discutidos com os agricultores foi como estariam realizando o refúgio, uma ação que é fundamental para a preservação da tecnologia intacta. O refúgio deverá ser feito em 20% da área de soja total com variedades, sem a tecnologia Intacta RR2 PRO™, de mesmo ciclo e semeada na mesma época, com distância máxima de 800 metros das áreas plantadas com soja Intacta RR2 PRO™ e o manejo de insetos deve ser feito conforme o MIP (manejo integrado de insetos). Mesmo sabendo sobre a forma correta de instalar o refúgio, agricultores formara esse procedimento sem obedecer os critérios estabelecidos. 1) Consideraram com refugio as lavouras do vizinho que semearam soja sem a tecnologia RR2 PRO™;

2) Admitiram como refugio variedades sem a tecnologia RR2 PRO™, mas semeadas em épocas bem diferentes;

3) Semearam na área de refugio variedades de ciclo diferente da semeada com a tecnologia RR2 PRO™; 4) A área de refugio com menos de 20% do total da área cultivada com tecnologia RR2 PRO™; 5) Em muitas fazendas as áreas com soja RR2 PRO™ ultrapassaram os 800 metros; 6) Nas áreas de refugio não praticaram o MIP para o controle de lagartas; 7) Trataram a área semeada com variedades RR2 PRO™ da mesma forma com a do refugio; 8) E alguns agricultores não fizeram nem uma forma de refugio; 9) Esse conjunto de atitudes, a médio prazo vai comprometer a eficiência das variedades com a tecnologia RR2 PRO™ no controle das lagartas. Grandes contrastes no cultivo da soja no Brasil Tivemos oportunidade nestas três safras de observar vários aspectos e formas de cultivo da soja, em diversas situações do território nacional. Podemos afirmar que observamos a oleaginosa cultivada em solos com 85% de argila e, também, em solos com 85% de areia. Vimos soja em terrenos com mais de 1100 metros de altitude com também em terrenos com 150 metros de altitude. Teve lavouras de soja que foram conduzidas com sete aplicações na soma de herbicidas, inseticidas para lagartas inseticidas para percevejos e fungicidas, mas também aconteceu de lavouras em que foram feitas 18 aplicações. Alguns agricultores tiveram custos de produção da soja equivalente a 28 sacas/ha, mas, também, agricultores apresentaram custo de 48 sacas/ha, considerando o preço de R$ 50,00/sc. Observamos lavouras do grão conduzidas em solos com 40 anos de plantio direto, sem que durante estes anos o solo tenha sido arado, gradeado ou escarificado, mas também verificou-se soja cultivada em solos recém incorporados ao processo produtivo com a leguminosa.

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Vimos agricultores cultivando 150 ha de soja, mas também conhecemos agricultores cultivando 15.000 ha. Conhecemos agricultores que cultivam soja a mais de 45 anos e também alguns que estão no seu primeiro ano. Tivemos a oportunidade de conhecer agricultores que há 15 anos cultivam soja no verão e milho safrinha no inverno, num processo de sucessão sem muita sustentabilidade, mas vimos agricultores que praticam um sistema de rotação de culturas, em que a soja é cultivada no máximo três anos num mesmo talhão sendo substituída pelo milho no verão e milheto ou braquiária no inverno, sistema que tem garantido sustentabilidade técnica e econômica. Agricultores que estão localizados a 100 km do porto de Paranaguá no Paraná, mas também conhecemos outros que estão a mais de 2000 km deste porto. Registramos em reportagens, lavouras de soja que estão a cinco anos sem receber adubação, lembrando que a adubação representa até 35% do custo com insumos, e todas produzindo o máximo que a variedade e a condições de clima permitam. É nesse universo de situações que a soja é cultivada no Brasil. Podemos afirmar que para todas as situações de cultivo de soja no Brasil há um conjunto de tecnologias próprias para cada. Considerações de agricultores sobre o cultivo da soja Participo da terceira edição do Projeto Soja Brasil, que iniciamos na safra 2012/2013. Nesse tempo, já vimos soja cultivada nas mais diversas situações, de clima, de altitude, de tipos de solos, de tempo de cultivo, de diversos sistemas de produção, de formas de condução de lavoura e também de expectativas de rendimentos. Observei durante essas três ultimas safras diferentes atitudes de agricultores, conforme a soja se desenvolve e que no fundo revelam variadas visões e ansiedades em relação ao produto soja. Listei algumas observações de agricultores tomadas durante as reportagens do Projeto: 1) A forma como estamos produzindo a soja não da mais; 2) O modelo de agricultura que estamos praticando está esgotado; 3) A cultura de soja passa por um momento de transição, ainda bem que chegou a Helicoverpa armigera, para podermos refletir; 4) Não estou interessado em saber do porque a Helicoverpa armigera se estabeleceu na minha lavoura de soja, o que eu quero é um inseticida que mate ela agora; 5) A presença da Helicoverpa armigera nas lavouras de soja vai induzir os agricultores e técnicos a uma postura mais técnica do que a que se esta praticando; 6) Todas as aplicações de inseticidas e de fungicidas nas minhas lavouras são feitas de forma preventiva conforme um calendário estabelecido; 7) Faço calagem superficial a cada três anos, independente de resultado de analises do solo;

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8) Eu cultivo soja durante três safras num determinado talhão na quarta safra sempre cultivo milho de verão, independente de preço de venda para o milho; 9) Não será uma nova molécula para um novo inseticida que, usado isoladamente de prática de manejo de pragas, irá controlar de forma eficaz o percevejo; 10) Depois que meu vizinho adquiriu um pivô central, ficou muito mais difícil de controlar as pragas e doenças na minha lavoura de soja; 11) Sempre mantive os solos da minha propriedade agrícola cobertos com um tipo de palha; 12) O custo de produção de soja aumenta ano a ano e o aumento de custo não tem refletido em maiores rendimentos; 13) Sempre semeio a soja uns 5 a 8 dias antes do termino do vazio sanitário; 14) Nunca mais vou fazer a tal safrinha de soja; 15) Há 6 nos faço safrinha de soja, mas na soma das duas não consigo passar dos 90 sacas/ha; Essas posições revelam atitudes corretas e outras nem tanto certas, mas que refletem toda a complexidade sobre o entendimento e uso das tecnologias disponíveis. Fatores climáticos e tecnológicos que contribuíram para que a soja não tivesse seu rendimento máximo e também promovesse aumentos no custo de produção, (aspectos negativos) e situações de lavouras conduzidas com tecnologias adequadas que representaram altos rendimentos com custos reduzidos (aspectos positivos).