Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação em Psicologia Nível Mestrado RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL Adriana Raquel Binsfeld Bolsista CAPES Dissertação de Mestrado São Leopoldo, 2011
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Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Nível Mestrado
RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM
ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL
Adriana Raquel Binsfeld
Bolsista CAPES
Dissertação de Mestrado
São Leopoldo,
2011
RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM
ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL
ADRIANA RAQUEL BINSFELD
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Psicologia,
Área de Concentração Psicologia Clínica, da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Psicologia.
Orientadora Profª. Drª. Denise Falcke
São Leopoldo,
2011
Catalogação na publicação: Bibliotecário Flávio Nunes - CRB 10/1298
B614r Binsfeld, Adriana Raquel. Relações familiares e sintomas internalizantes em
adolescentes: um estudo longitudinal / Adriana Raquel Binsfeld. – 2011.
115 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2011. “Orientadora Profª. Drª. Denise Falcke.” 1. Adolescentes – Relações com a família. 2. Família –
Aspectos psicológicos. 3. Psicologia do adolescente. I. Título.
CDD 155.5 CDU 159.922.8
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“A vida e a arte do encontro,
embora haja tanto desencontro pela vida”
Vinícius de Moraes
AGRADECIMENTOS
Após esta trajetória, permeada por desafios, aprendizados e crescimento - pessoal e
profissional - é impossível não agradecer às pessoas importantes que, cada uma a seu modo,
contribuíram para a concretização dessa conquista.
Agradeço aos meus pais, Pedro Paulo Binsfeld e Marlene Binsfeld, por todo amor,
confiança e apoio nos momentos mais difíceis. Por terem me ensinado a acreditar que meus
sonhos poderiam se tornar realidade. Pai e mãe: muito obrigada por tudo!
Aos meus irmãos, Vinicios e Gabriela Binsfeld, por toda ajuda ao longo desta
caminhada. Pela compreensão e torcida nos momentos mais difíceis.
Ao meu noivo, Estevão Hess, pelo apoio, paciência, compreensão e incentivo, em
todos os momentos, principalmente naqueles de maior ausência. Te amo!
À minha querida orientadora Profª Draª. Denise Falcke, pelo carinho com o qual me
acolheu em seu Núcleo de Pesquisa, e pelo empenho e atenção com que conduziu a orientação
deste trabalho, sempre acreditando em meu potencial! Deni, muito obrigada por todos os
ensinamentos de vida pessoal e acadêmica!!! Com certeza aprendi muito com você, e já sinto
saudades dos almoços, chimas e cafés, que com certeza foram momentos de intenso
aprendizado.
Ao professor Dr. Maycoln Teodoro, pela proposição do desafio da realização de um
estudo longitudinal, pelas orientações iniciais e por ter continuado compartilhado seus
conhecimentos, mesmo que à distância. Muito obrigada por todo auxílio durante a realização
deste trabalho.
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Às bolsistas de iniciação científica Elisa Weber e Marcela Madalena, que auxiliaram
na coleta e tabulação dos dados com muita dedicação e carinho, cuja contribuição foi muito
importante para o desenvolvimento deste trabalho. Aos meus colegas do “Núcleo de Pesquisa
Família, Transgeracionalidade e Violência”, pelo convívio e por todo o aprendizado nos mais
diversos momentos desta trajetória.
Às minhas queridas colegas de Mestrado, Cristiane Blumm e Patrícia Sachet, com as
quais dividi momentos de angústias, dúvidas e estresses, bem como alegrias, felicidade,
viagens, Congressos. Sem dúvidas, a parceria de vocês – em momentos científicos e nos
demais - foi muito importante durante esta trajetória.
Às minhas super-friends, Danixa Ruas e Fernanda Soares Fernandes, pela
compreensão nos vários momentos de distanciamento. À minha amiga Maria Helena, por toda
luz e boas energias sempre transmitidas.
Às escolas, por possibilitarem a coleta dos dados. Aos adolescentes e pais que
participaram do estudo.
Às professoras da banca - Drª. Adriana Wagner (UFRGS), Drª Edwiges Silvares
(USP) e Dra. Elisa Kern de Castro (UNISINOS) - pela disponibilidade e contribuições.
Ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UNISINOS e todo o corpo docente
pela formação. Também a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) pelo investimento em minha formação e pela oportunidade da realização deste
trabalho.
À Deus, pela saúde, fé e determinação, que me permitiram a conclusão deste
2.2.3 Instrumentos.................................................................................................................... 54 2.2.3.1 Ficha de Dados Sócio-Demográficos.........................................................................................54 2.2.3.2 Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report) ...............54 2.2.3.3 Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report) ..............55 2.2.3.4 Familiograma (FG) ....................................................................................................................55 2.2.3.5 Inventário do Clima Familiar (ICF)...........................................................................................56 2.2.3.6 Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)......................................................57
2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS................................................................................. 58
2.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS.................................................................................. 59
ANEXO A – RELATÓRIO DE PESQUISA................................................................................................. 79
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ........................................ 106
ANEXO C – FICHA DE DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS....................................................................... 107
ANEXO D – FAMILIOGRAMA (FG) ..................................................................................................... 109
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ANEXO E – INVENTÁRIO DO CLIMA FAMILIAR (ICF)......................................................................... 111
ANEXO F – INVENTÁRIO DE EVENTOS ESTRESSORES NA ADOLESCÊNCIA (IEEA)............................. 113
LISTA DE TABELAS
Seção I - Sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares: uma revisão sistemática da literatura
Tabela 1. Número de publicações de acordo com as bases de dados...................... 19
Tabela 2. Classificação metodológica dos estudos, de acordo com o ano de realização................................................................................................................. 20
Seção II – Relações Familiares, Eventos Estressores e Sintomas Internalizantes na Adolescência
Tabela 1 – Porcentagens do YSR dos adolescentes, nos tempos 1 e 2..................... 60
Tabela 2. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2).................... 61
Tabela 3. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)..................... 62
Tabela 4. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os sintomas internalizantes no T2........................................................ 63
Tabela 5. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e sintomas internalizantes do adolescente no T2........................................... 64
Tabela 6 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a), ICF e IEEA............................................................................................... 65
RESUMO
Os problemas emocionais e de comportamento na adolescência referem-se a padrões
sintomáticos, que podem ser divididos em dois tipos: externalizantes e internalizantes. Mais
especificamente, os sintomas internalizantes são os que se expressam em relação ao próprio
indivíduo, caracterizando-se pela tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Esta
dissertação pretende ampliar a compreensão sobre os sintomas internalizantes dos
adolescentes e sua relação com os aspectos familiares. A Seção I da dissertação abrange uma
revisão sistemática da literatura sobre os sintomas internalizantes dos adolescentes e as
relações familiares em bases de dados nacionais e internacionais, no período de 2005 a 2009.
Na Seção II, é apresentado um estudo empírico que teve por objetivo investigar o poder
preditivo dos problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, das
características dos relacionamentos familiares e dos eventos estressores na adolescência para
o aparecimento de sintomas internalizantes manifestados pelos adolescentes no intervalo de
um ano. Participaram deste estudo 139 adolescentes e seus pais. Os pais responderam os
seguintes instrumentos no Tempo 1 (T1): Familiograma (FG), Inventário de Clima familiar
(ICF) e Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (Adult Self-Report, ASR).
Os adolescentes responderam, no Tempo 1 (T1) e no Tempo 2 (T2), o FG, o ICF e o
Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (Youth Self-Report, YSR). No T2,
também responderam ao Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). A
análise dos dados, através de regressão linear, revelou que tiveram maior poder explicativo
dos sintomas internalizantes dos adolescentes no T2, os eventos de vida estressores na
adolescência e os próprios sintomas internalizantes dos adolescentes mensurados no T1. As
relações familiares não apresentaram poder preditivo significativo nesta amostra, o que pode
estar relacionado com a estabilidade dos sintomas internalizantes ao longo do tempo, com o
fato dos sintomas internalizantes abrangerem questões intrínsecas ao indivíduo e, ainda, ao
fato de na adolescência haver uma maior influência do grupo de pares.
Como os problemas emocionais e de comportamento sofrem a influência de variáveis
biológicas, psicológicas e sociais, nesta dissertação, pretende-se verificar o quanto os
problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, as características dos
relacionamentos familiares e os eventos estressores na adolescência podem ser preditores dos
sintomas internalizantes manifestados pelos filhos após um ano.
Os resultados da investigação foram organizados em dois artigos, um teórico e outro
empírico. Na Seção I, é apresentado o artigo teórico, que foi elaborado a partir de uma revisão
sistemática de literatura que investigou publicações nacionais e internacionais sobre os
sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares. Na Seção II consta o artigo
empírico, no qual são descritos e discutidos os resultados obtidos na investigação sobre o
poder preditivo das relações familiares, dos problemas emocionais e de comportamento de
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pais e filhos e dos eventos estressores na adolescência nos sintomas internalizantes dos
adolescentes.
Finalmente, são apresentadas as considerações finais da dissertação e os anexos. Nos
anexos, conforme exigência do regimento interno deste Programa de Pós-Graduação, consta o
relatório de pesquisa, no qual é realizada uma descrição detalhada dos objetivos do estudo, da
amostra e dos procedimentos de coleta e análise dos dados. Também nesse relatório são
apresentados de forma mais abrangente os resultados encontrados no estudo.
1 Seção I - Sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares:
uma revisão sistemática da literatura
Resumo: Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática de literatura, nacional e internacional, no período de 2005 a 2009, sobre os sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares. Inicialmente, foi realizado um levantamento dos artigos indexados nas bases de dados Academic Search Premier, Education Resources Information Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE with Full Text e SciELO (Scientific Electronic Library Online), utilizando-se os descritores, em português, “problemas internalizantes” ou “sintomas internalizantes” e “adolescência ou adolescente ou jovem” e “família”; e, em inglês, “internalizing problems or internalizing symptoms” and “adolescence or adolescent or teenager” and “family”. Os artigos foram classificados de acordo com o ano de publicação, o país, a metodologia o instrumento de mensuração para comportamentos internalizantes e, ainda, quanto às temáticas relacionadas. Na literatura internacional, constatou-se um predomínio de estudos empíricos e de caráter quantitativo, realizados preponderantemente pelos Estados Unidos. No Brasil, observou-se uma grande escassez de estudos integrando as temáticas da sintomatologia internalizante na adolescência e as relações familiares. Foram encontrados somente dois artigos, o que indica a necessidade de realização de mais pesquisas nesta área em nosso país. Palavras-chave: Adolescência; Sintomas Internalizantes; Relações Familiares
Internalizing symptoms in adolescence and family relationships:
a systematic literature review
Abstract: This article aims to perform a systematic literature review, national and international, in the period from 2005 to 2009, on internalizing symptoms in adolescence and family relationships. Initially, a survey was conducted in indexed articles in the Academic Search Premier, Education Resources Information Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE databases with Full Text, and SciELO (Scientific Electronic Library Online), using the descriptors in Portuguese, "problemas internalizantes" or "sintomas internalizantes" and "adolescência ou adolescente ou jovem" and "família" and in English, "internalizing problems or internalizing symptoms" and "adolescence or adolescent or teenager" and "family". The articles were classified according to the publication year, country, the methodology, the measurement instrument for internalizing behaviors, and also about the issues related. In the international literature, we found a predominance of empirical studies and quantitative character, performed mainly by the United States. In Brazil, there was a paucity of studies integrating the themes of internalizing symptoms in adolescence and family relationships. We found only two articles, which indicates the need for more research in this area in our country.
Keywords: Adolescence, Internalizing Symptoms, Family Relations
1.1 Introdução
A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano que compreende mudanças
físicas, sociais e psicológicas. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069), compreende a faixa etária que vai dos 12 aos 18 anos de idade.
Segundo Bessa (2004), a adolescência é marcada por transformações orgânicas e
emocionais. Este é um período de instabilidade, de busca da identidade, auto-afirmação e
independência individual (Silva & Mattos, 2004), no qual há um distanciamento da família de
origem e uma maior aproximação com o grupo de iguais (Wagner, Falcke, Silveira, &
Mosmann, 2002). Assim, face a estas mudanças, a adolescência pode ser considerada um
período de vulnerabilidade para o desenvolvimento de problemas emocionais e de
Stocker, C. M., Richmond, M. K., & Rhoades, G. K. (2007). Family emotional
processes and adolescents’ adjustment. Social Development, 16(2), 310-325.
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year follow-up of patients with borderline pathology of childhood. Journal of Personality
Disorders, 21(6), 664–674.
2 Seção II – Relações Familiares, Eventos Estressores e Sintomas Internalizantes na
Adolescência
Resumo: Este trabalho teve como objetivo investigar a percepção sobre as relações familiares (afetividade, conflito e clima familiar), os sintomas internalizantes dos pais e dos filhos e os eventos estressores, no período de um ano, como preditores dos sintomas internalizantes dos filhos. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, de caráter longitudinal, com um ano de intervalo entre a primeira e a segunda avaliação. Participaram do estudo 139 adolescentes, e seus pais. Os adolescentes eram provenientes de duas escolas públicas do interior do RS e as idades variaram entre 11 e 16 anos (Média=12,90 anos, DP=1,07). Os instrumentos utilizados foram: uma Ficha de Dados Sócio-Demográficos, o Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report), o Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report), Familiograma (FG), o Inventário do Clima Familiar (ICF) e o Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA). As associações entre variáveis foram analisadas por meio de Correlação de Pearson e as comparações entre grupos por meio de Teste t para amostras independentes. As análises longitudinais foram realizadas por meio de regressão linear múltipla, tendo os sintomas internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável dependente. Os resultados obtidos indicaram que as relações familiares não tiveram um poder explicativo significativo com relação aos sintomas internalizantes do adolescente após um ano. Contudo, os eventos estressores vivenciados pelos adolescentes no último ano, apresentaram poder preditivo significativo (β=0,223; p=0,012) com relação aos sintomas internalizantes dos adolescentes. Palavras-chave: Eventos Estressores, Sintomas Internalizantes, Relações Familiares
Family Relations, Stressful Events and Adolescent Internalizing Symptoms Abstract: This study aimed to investigate the perception of family relations (affection, conflict and family climate), internalizing symptoms of parents and children, and stressful events in a period of one year, as predictors of internalizing symptoms of children. This is a quantitative research, with a longitudinal disposition, with one year interval between the first and second evaluation. The study included 139 adolescents and their parents. The adolescents were from two public schools from RS and ages ranged from 11 to 16 years (mean = 12,90 years, SD = 1,07). The instruments used were: a socio-demographic data form, the Youth Self-Report (YSR), the Adult Self-Report (ASR), the Familiograma (FG), the Inventário do Clima Familiar (ICF) and the Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). The associations between variables were analyzed using Pearson Correlation, and the comparisons between groups by t-test for independent samples. The longitudinal analyses were performed using multiple linear regression, and adolescents' internalizing symptoms at Time 2 as dependent variable. The results indicated that family relationships were not a significant explanatory power in relation to symptoms of internalizing adolescents after one year. However, stressful events experienced by adolescents in the last year, had significant predictive power (β=0,223; p=0.012) with respect to internalizing symptoms in adolescents. Keywords: Stressful Events, Internalizing Symptoms, Family Relations
2.1 Introdução
A adolescência é a fase do desenvolvimento humano na qual ocorre o processo de
maturação biopsicossocial. Assim, é um período de intensas mudanças físicas, emocionais e
sociais, de modo que, face a estas mudanças, o adolescente pode estar mais vulnerável ao
desenvolvimento de Problemas Emocionais e de Comportamento (PEC).
Não existe, na literatura científica, um consenso sobre a definição de problemas
emocionais e de comportamento na infância e adolescência. Assim, há autores que tratam o
assunto enfocando os sintomas, segundo um o modelo médico ou biológico (Kaplan, Sadock,
& Grebb, 1997), enquanto outros analisam mais os déficits e os excessos comportamentais
(Patterson, DeBaryshe, & Ramsey, 1989).
Segundo Achenbach (1991), os problemas emocionais e de comportamento são
caracterizados por padrões sintomáticos, os quais podem ser divididos em dois tipos:
externalizantes e internalizantes. Os transtornos externalizantes são aqueles que se expressam
em relação a outras pessoas. Referem-se a comportamentos como dificuldade em controlar
impulsos, hiperatividade, agressividade e presença de raiva e delinqüência. Comumente estão
ligados ao transtorno da conduta e ao transtorno desafiador opositivo. Os transtornos
internalizantes são os se que expressam em relação ao próprio indivíduo. Caracterizam-se pela
tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Geralmente estão relacionados aos
transtornos de humor (depressão) e ansiedade (Achenbach, & Howell, 1993).
Estudos recentes vêm apontando para a importância da família no desenvolvimento de
problemas emocionais e de comportamento em crianças e adolescentes (Althoff, 2008;
Pode-se observar, na tabela, a preponderância de adolescentes não clínicos (T1= 71,7;
T2= 74,1), uma distribuição equiparada, mas com leve preponderância de baixa afetividade e
baixo conflito em todas as díades familiares, tanto no T1 como no T2 e uma avaliação
positiva do clima familiar como um todo.
A partir do Familiograma é possível que as famílias sejam classificadas em quatro
tipos diferentes, de acordo com o nível de afetividade e conflito. Assim, as famílias foram
categorizadas segundo nível de conflito e afetividade, na percepção do adolescente, para cada
díade estudada (mãe-filho(a), pai-filho(a) e pai-mãe). Os resultados podem ser observados na
tabela 6.
Tabela 6. Percentagem dos tipos familiares, de acordo com o FG, na percepção do
adolescente, para cada díade
Tipo familiar Díade
Mãe-Filho(a)
Díade
Pai-Filho(a)
Díade
Pai-Mãe I: alta afetividade e baixo conflito 31,7% 31,6% 34,9%
II: alta afetividade e alto conflito 10,8% 15,0% 14,3%
III: baixa afetividade e baixo conflito 25,9% 23,3% 19,0%
IV: baixa afetividade e alto conflito 31,7% 30,1% 31,7%
Os resultados da classificação das famílias segundo o nível de afetividade e conflito,
na percepção do adolescente, mostram que, em torno de 30% das famílias classificam-se
como sendo do Tipo I que caracteriza as famílias mais funcionais, ou seja, as que apresentam
alta afetividade e baixo conflito. Por outro lado, mais ou menos a mesma proporção
caracteriza as famílias mais disfuncionais, aquelas que apresentam baixa afetividade e alto
nível de conflito.
92
Os eventos estressores mensurados através do IEEA foram categorizados em
diferentes domínios, de acordo com o contexto de desenvolvimento do adolescente, conforme
critério utilizado por Dell’Aglio, Benetti, Deretti, D’Incao, e Leon (2005). O percentual de
ocorrência e o impacto dos eventos estressores em cada domínio são apresentados na tabela 7.
Tabela 7 - Percentual de ocorrência e impacto dos eventos estressores, nos diferentes
domínios (familiar, escolar, judicial/institucional, social, sexual e pessoal)
Domínio Evento Estressor Ocorrência Impacto (%)
(%) Baixo Médio Alto
Você teve que obedecer às ordens de seus pais
84,6 51,0 12,5 36,5
Você teve familiares com ferimentos ou doenças
40,9 55,5 17,9 26,8
Você brigou com irmãos(ãs) 40,7 41,8 21,8 36,4 Morreu um outro familiar 38,2 57,7 32,1 19,2 Você não recebeu cuidado e
atenção dos pais 24,1 39,4 12,1 48,5
Um dos seus pais teve filhos com outros parceiros
21,3 75,9 6,9 17,2
Familiar Um dos seus pais ficou desempregado
19,6 70,4 7,4 22,2
Seus pais se divorciaram 13,1 38,9 11,1 50,0 Um dos seus pais se casou
novamente 11,7 81,3 6,3 12,5
Você sofreu agressão física ou ameaça de agressão por parte dos seus pais
8,0 27,3 45,5 27,3
Você foi rejeitado(a) pelos familiares
7,0 0,0 0,0 100,0
Um dos seus pais teve que morar longe por causa do serviço
6,5 77,8 0,0 22,2
Morreu um de seus irmãos(ãs) 2,2 66,7 33,3 0,0 Morreu um dos seus pais 1,4 50,0 0,0 50,0 Você foi impedido(a) de ver os
seus pais 1,4 50,0 50,0 0,0
Você assumiu o sustento da sua família
0,7 100,0 0,0 0,0
Você foi adotado(a) 0,7 100,0 0,0 0,0 Você teve provas no colégio 91,5 31,9 10,1 58,0 Você teve problemas com
professores 35,0 56,3 27,1 16,7
Você rodou de ano na escola 18,4 60,0 12,0 28,0 Escolar Você foi expulso(a) da sala de 17,0 56,5 8,7 34,8
93
aula pela professora Você mudou de colégio 15,2 66,7 14,3 19,0 Você teve dificuldades de
adaptação na escola 7,9 45,5 9,1 45,5
Você se relacionou mal com colegas
7,3 40,0 20,0 40,0
Você foi suspenso(a) da escola 7,2 80,0 10,0 10,0 Você foi expulso(a) da escola 2,2 66,7 33,3 0,0 Você foi para o Conselho Tutelar 2,9 50,0 25,0 25,0 Judicial/ Institucional
Você teve problemas com a polícia
2,2 33,3 0,0 66,7
Você teve problemas com a justiça
0,7 100,0 0,0 0,0
Você foi preso 0,0 0,0 0,0 0,0 Você foi levado(a) para uma
instituição de abrigo 0,0 0,0 0,0 0,0
Você discutiu com amigos(as) 51,1 49,3 21,7 29,0 Você foi impedido(a) de ir a
festas ou passeios 41,8 33,9 23,2 42,9
Você terminou um namoro 25,4 58,8 14,7 26,5 Você foi xingado(a) ou
ameaçado(a) verbalmente 21,5 66,5 17,2 17,2
Social Você sofreu castigos e punições 21,3 62,1 17,2 20,7 Você teve amigos(as) com
ferimentos ou doenças 15,9 45,5 36,4 18,2
Você mudou de casa ou de cidade 14,7 75,0 15,0 10,0 Morreu algum amigo(a) 13,1 61,1 16,7 22,2 Você sentiu-se rejeitado(a) por
colegas e amigos(as) 13,0 38,9 27,8 33,3
Você envolveu-se em brigas com agressão física
8,0 45,5 18,2 36,4
Você sofreu humilhação ou foi desvalorizado(a)
7,3 50,0 10,0 40,0
Você teve dificuldades em fazer amizades
5,8 62,5 25,0 12,5
Você ficou sem amigos(as) 5,8 37,5 25,0 37,5 Você teve problemas com
autoridades ou chefia 2,9 25,0 25,0 50,0
Você teve problemas com os outros pela sua raça
0,0 0,0 0,0 0,0
Você teve ou está esperando um filho(a)
0,7 0,0 0,0 100,0
Sexual Você foi tocado(a) sexualmente contra a vontade
0,7 0,0 0,0 100,0
Você ou sua namorada fez aborto 0,7 0,0 0,0 100,0 Você foi estuprado(a) 0,0 0,0 0,0 0,0 Você passou por dificuldades
financeiras 28,3 74,4 12,8 12,8
Você teve problemas e dúvidas 17,5 54,2 25,0 20,8
94
quanto às mudanças no corpo e aparência
Você foi assaltado(a) 16,9 52,2 21,7 26,1 Você teve crise nervosa 13,8 42,1 21,1 36,8 Pessoal Você teve doenças graves ou
lesões sérias 7,3 40,0 10,0 50,0
Você sofreu um acidente 6,6 55,6 0,0 44,4 Você não conseguiu emprego 6,6 77,8 0,0 22,2 Você teve perdas financeiras 6,6 55,6 22,2 22,2 Você sentiu-se pobre 6,5 11,1 33,3 55,6 Você usou drogas 5,1 71,4 14,3 14,3 Você teve problemas no trabalho 2,2 33,3 0,0 66,7 Você sofreu algum tipo de
violência 2,2 33,3 66,7 0,0
Você perdeu o emprego 1,4 100,0 0,0 0,0 Você dormiu na rua 0,0 0,0 0,0 0,0
A média de ocorrência dos eventos estressores foi de 8,65 (DP=5,06). Os eventos
estressores mais citados pelos adolescentes foram: “teve provas no colégio” (91,5%), “teve
que obedecer às ordens de seus pais” (84,6%), “discutiu com amigos(as)” (51,1 %), “foi
impedido(a) de ir a festas ou passeios” (41,8%), “teve familiares com ferimentos ou doenças
(40,9%) e “morte de um familiar” (38,2%). Com relação ao impacto dos eventos estressores,
os considerados como estressores de mais alto impacto foram “foi rejeitado(a) pelos
familiares”, “teve ou está esperando um filho(a)”, “foi tocado(a) sexualmente contra a
vontade” e “você ou sua namorada fez um aborto”.
Apesar dos estressores de alto impacto terem apresentado uma baixa ocorrência, estes
merecem ser considerados, tendo em vista, principalmente, que os eventos citados como
altamente estressores envolvem situações graves. Dessa forma, estes eventos podem
contribuir para que os adolescentes estejam mais vulneráveis ao desenvolvimento de
problemas emocionais e de comportamento, considerando a fase do desenvolvimento que
estão vivendo.
Com a finalidade de verificar diferenças no escore total do IEEA ao serem
comparados os grupos clínico e não-clínico, com relação aos sintomas internalizantes do YSR
95
foi realizado teste t. Os resultados revelaram uma diferença significativa (t=-4,962; p<0,01),
sendo que o grupo clínico (M=13,04, DP=4,78) relatou um número bem maior de estressores
vivenciados no último ano quando comparado ao grupo não clínico (M=7.73, DP=4,63).
Estabilidade Temporal das Medidas
Com o intuito de investigar a estabilidade temporal das medidas dos instrumentos
aplicados aos adolescentes no T1 e no T2, foram realizadas Correlações de Pearson. No que
diz respeito aos sintomas internalizantes dos adolescentes, mensurados através do YSR,
observou-se uma correlação significativa (r=0,655, p< 0,01) entre os índices obtidos no tempo
1 e tempo 2, indicando que houve uma estabilidade dessa medida no período investigado.
O mesmo ocorreu em relação as subescalas do YSR que compõem a dimensão dos
sintomas internalizantes, como se pode observar na tabela 8:
Tabela 8 – Subescalas de sintomas internalizantes do YSR T1 e T2
Isolamento/
Depressão
Queixas
Somáticas
Ansiedade/
Depressão
Isolamento/Depressão 2 0,458** 0,274** 0,363**
Queixas Somáticas 2 0,316** 0,563** 0,426**
Ansiedade/Depressão 2 0,448** 0,427** 0,633**
Nota: ** p<0.01
Considerando as dimensões do clima familiar, observa-se que houve estabilidade na
percepção do sistema familiar, na visão do adolescente, nas quatro dimensões do ICF: Apoio
(r=0,534, p<0,01), Hierarquia (r=0,427, p<0,01), Coesão (r=0,449, p<0,01) e Conflito
(r=0,615, p<0,01).
96
Tabela 9. Escores de Correlação de Pearson entre as variáveis do ICF, na percepção do
adolescente, no tempo 1 e tempo2
Apoio T1 Hierarquia T1 Coesão T1 Conflito T1
Apoio T2 0,534** -0,132 0,381** -0,232**
Hierarquia T2 -0,113 0,427** -0,086 0,392**
Coesão T2 0,364** -0,211* 0,449** -0,348**
Conflito T2 -0,106 0,390 -0,313** 0,615**
Nota: ** p<0.01
Adicionalmente, podem ser observadas na tabela 9, correlações positivas significativas
entre os fatores Coesão no T1 com Apoio no T2 (r=0,381, p< 0,01), Conflito no T1 com
Hierarquia no T2 (r=0,392, p< 0,01) e Hierarquia no T1 com Conflito no T2 (r=390, p< 0,01).
Correlações negativas foram verificadas entre o Conflito no T1 e a Coesão no T2 (r=-0,348,
p< 0,01) e Coesão no T1 e Conflito no T2 (r=-0,313, p< 0,01), evidenciando a interação entre
as dimensões que compõem o clima familiar.
A seguir, foram realizadas correlações entre a percepção de afetividade no tempo T1 e
no T2. Observa-se, na tabela 10, que foram encontradas correlações positivas em todas as
dimensões, indicando a estabilidade da medida no período investigado.
Tabela 10. Correlação entre Afetividade FG no T1 e T2, na percepção do adolescente
Afetividade
mãe-filho T1
Afetividade
pai-filho(a) T1
Afetividade
pai-mãe T1
Afetividade mãe-filho(a) T2 0,538** 0,145 0,283**
Afetividade pai-filho(a) T2 0,069 0,507* 0,349**
Afetividade pai-mãe T2 0,227* 0,285** 0,619**
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
Também se observam correlações positivas entre as diferentes díades, especialmente
entre a afetividade observada na díade pai-mãe no tempo 1 e as demais díades, indicando que
97
a percepção do adolescente sobre a conjugalidade dos pais mostra-se diretamente relacionada
a percepção dele sobre a relação dos pais com ele.
As mesmas análises foram realizadas para verificar a estabilidade da dimensão de
conflito no tempo 1 e 2, na percepção do adolescente. Neste estudo, também observou-se uma
estabilidade na percepção dos adolescentes com relação ao conflito familiar, indicando que
aqueles que percebiam conflito no T1 também percebiam a sua presença no T2, como pode
ser observado na tabela 11:
Tabela 11. Correlação entre Conflito FG, na percepção do adolescente, no tempo T1 e no
tempo T2
Conflito
mãe-filho
Conflito
pai-filho(a)
Conflito
pai-mãe
Conflito mãe-filho(a) T2 0,581** 0,270** 0,372**
Conflito pai-filho(a) T2 0,290** 0,531** 0,428**
Conflito pai-mãe T2 0,368** 0,391** 0,656**
Nota: ** p<0.01
Nesta dimensão, ainda mais do que ocorre com relação à afetividade, observa-se
correlações significativas entre as díades, evidenciando o quanto o conflito transborda entre a
parentalidade e a conjugalidade.
Correlação entre a percepção das relações familiares no Tempo 1 e os sintomas
internalizantes dos adolescentes no Tempo 2
Foram realizadas correlações de Pearson entre as percepções do adolescente, de sua
mãe e do seu pai sobre o clima familiar no tempo 1 e os sintomas internalizantes no tempo 2.
Os resultados revelaram que:
98
Tabela 12. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)
Internalizante T2
Apoio 0,013
ICF do Adolescente no T1 Hierarquia 0,167
Coesão -0,73
Conflito 0,237**
Apoio -0,239**
ICF da Mãe no T1 Hierarquia 0,282**
Coesão -0,299**
Conflito 0,433**
Apoio -0,225
ICF do Pai no T1 Hierarquia 0,005
Coesão -0,185
Conflito 0,019
Nota: ** p<0.01
Os resultados apontaram correlações positivas entre a percepção de conflito pelo
adolescente no T1 e a manifestação de sintomas internalizantes por ele no T2. Outras
correlações foram observadas entre os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2 e todas
as dimensões do clima familiar na percepção materna no T1, o que parece estar evidenciando
a percepção aguçada das mães com relação ao clima familiar e o quanto podem afetar nos
sintomas dos filhos.
Também foram calculadas as correlações entre a percepção dos relacionamentos
diádicos no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2. Os resultados foram os
seguintes:
99
Tabela 13. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)
Internalizante T2
Conflito mãe-filho(a) 0,218*
Afetividade mãe-filho(a) -0,185*
FG do Adolescente no T1 Conflito pai-filho(a) 0,205*
Afetividade pai-filho(a) -0,129
Conflito pai-mãe 0,216*
Afetividade pai-mãe -0,069
Conflito mãe-filho(a) 0,119
Afetividade mãe-filho(a) -0,022
FG da Mãe no T1 Conflito pai-filho(a) 0,120
Afetividade pai-filho(a) -0,137
Conflito pai-mãe 0,098
Afetividade pai-mãe -0,035
Conflito mãe-filho(a) 0,119
Afetividade mãe-filho(a) 0,000
FG do Pai no T1 Conflito pai-filho(a) 0,045
Afetividade pai-filho(a) 0,121
Conflito pai-mãe 0,068
Afetividade pai-mãe 0,034
Nota: *p<0.05
Observam-se correlações significativas somente entre a percepção do próprio
adolescente sobre os relacionamentos entre os membros da família no T1 e a manifestação de
sintomas internalizantes no T2.
100
Correlação entre a percepção das relações familiares e os sintomas
internalizantes dos adolescentes no Tempo 2
Foram repetidos os cálculos das correlações anteriores, mas considerando a percepção
dos adolescentes sobre as relações familiares, mensuradas através do ICF e do Familiograma,
no tempo 2. A tabela 14 mostra os resultados obtidos:
Tabela 14. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os
sintomas internalizantes no T2
Internalizante T2
Apoio -0,043
ICF Adolescente T2 Hierarquia 0,379**
Coesão -0,162
Conflito 0,360**
Conflito Mãe-Filho(a) 0,112
Conflito Pai-Filho(a) 0,207*
Familiograma Conflito Pai-Mãe 0,256**
Adolescente T2 Afetividade Mãe-Filho(a) 0,151
Afetividade Pai-Filho(a) -0,053
Afetividade Pai-Mãe -0,046
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
Os resultados revelam que as principais correlações existiram entre as dimensões de
conflito e os sintomas internalizantes, especialmente os conflitos observados pelos
adolescentes nas díades pai-mãe e pai-filho. Esse resultado reforça o quanto a dimensão da
conjugalidade dos pais repercute nos sintomas dos adolescentes, ao mesmo tempo em que
revela a importância da relação com o pai.
101
Correlações entre os problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos
filhos
A análise de Correlação de Pearson entre os problemas emocionais e de
comportamento dos pais no tempo 1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no tempo
2 mostraram correlações significativas e positivas entre a sintomatologia materna (tanto
internalizante como externalizante) e os sintomas internalizantes paternos com os
internalizantes do adolescente no tempo 2, conforme dados da tabela 15:
Tabela 15. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e
sintomas internalizantes do adolescente no T2
Internalizante T2
Internalizantes Mãe T1 0,307**
Externalizantes Mãe T1 0,318**
Internalizantes Pai T1 0,274*
Externalizantes Pai T1 0,179
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
Esses dados trazem à luz a possibilidade de transmissão transgeracional de sintomas
psicopatológicos, ao se perceber que quando as mães apresentam problemas de
comportamento de qualquer natureza ou quando os pais apresentam sintomas internalizantes,
é maior a chance do filho também apresentar sintomatologia internalizante.
Preditores dos sintomas internalizantes dos adolescentes
No intuito de identificar alguns preditores para os sintomas internalizantes dos
adolescentes no tempo 2, procedeu-se a realização de regressões lineares múltiplas com o
102
método Enter. Foram consideradas, inicialmente, como variáveis independentes os sintomas
internalizantes do filho(a), da mãe e do pai no T1. Os resultados estão descritos na Tabela 16.
Tabela 16 - Análise de Regressão para os Sintomas Internalizantes dos Adolescentes no T2 e
os Sintomas Internalizantes do Filho(a), da Mãe e do Pai
Internalizantes
Adolescentes
T2
Coeficientes não
Padronizados
Coeficientes
Padronizados
Modelo B Erro padrão Beta t Sig
(Constante) 3,007 2,04 0,146 0,146
Internalizantes (F) 0,564 0,094 0,621 5,975 0,000
Internalizantes (M) 0,043 0,089 0,055 0,484 0,630
Internalizantes (P) 0,073 0,073 0,111 0,999 0,322
Porcentagem de variância explicada: 43%
F = Filho(a); M = Mãe; P = Pai
Como pode ser observado na Tabela 15, o principal preditor dos sintomas
internalizantes dos adolescentes no T2 foram os sintomas internalizantes deles próprios no T1,
explicando 43% de variância. As demais variáveis não apresentaram poder preditivo
significativo, nesta amostra, para os sintomas internalizantes dos adolescentes.
Ao serem incluídas as variáveis referentes às relações familiares (Apoio, Hierarquia,
Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG), amplia-se o poder preditivo para
48,1%. Os resultados são mostrados na tabela 17.
103
Tabela 17 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas
Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a) e o ICF
Atualmente, quem mora com você em sua casa? .................................................... ................................................................................................................................. .................................................................................................................................
Você trabalha? ( ) Sim ( ) Não Qual sua profissão? ........................................
Você está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?
( ) Sim ( ) Não
Você tomou, durante o último ano, algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual? .......................................................................
Sobre seus pais, responda:
Atualmente seus pais: ( ) Vivem juntos ( ) Vivem Separados
Qual é a escolaridade de seu pai?
( ) Não estudou ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino Superior
Seu pai está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?
( ) Sim Não ( )
No último ano, seu pai tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual?...............................................................................
Qual a escolaridade de sua mãe?
( ) Não estudou ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino Superior
108
Sua mãe está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?
( ) Sim Não ( )
No último ano, sua mãe tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual? ...............................................................................
Sobre sua família, responda:
Alguém da sua família está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico?
( ) Sim Não ( )
No último ano, alguém de sua família tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual? ...............................................................................
Nas próximas páginas, pediremos a você que descreva como é o relacionamento entre algumas pessoas da sua família. Para isto, gostaríamos que você pensasse em cada membro de sua família e sobre os sentimentos que existem, geralmente, no dia-a-dia de cada relação. Em seguida, pediremos que você pense em apenas uma relação de cada vez. Para cada relação familiar, serão mostradas várias palavras que demonstram sentimentos e comportamentos. Você deverá marcar o quanto você acha que estas palavras refletem a relação. Os valores vão de 1 (a palavra não descreve a relação de jeito nenhum) até 5 (a palavra descreve a relação totalmente). Veja este exemplo sobre o relacionamento de João e Pedro:
João e Pedro têm um relacionamento:
De jeito nenhum
Pouco Mais ou menos
Muito Completa- mente
Tranqüilo 1 2 3 4 5
Neste exemplo, o relacionamento de João e Pedro foi descrito como sendo completamente tranqüilo (5). Lembre-se de que não existem respostas certas ou erradas. Nós só queremos conhecer um pouco mais sobre a sua família.
Relação entre pai e mãe Meu pai e minha mãe têm um relacionamento: De jeito
Este questionário trata de um tema sobre o qual todos nós temos muito a dizer: a nossa família. Gostaríamos de pedir que você pense sobre o(s) membro(s) de sua família e sobre como eles, geralmente, se relacionam. Abaixo estão algumas frases que descrevem situações e sentimentos que podem ou não ocorrer no dia-a-dia de qualquer família. Leia cada frase e responda se ela se aplica ou não à sua família, utilizando os seguintes números:
Não concordo de jeito nenhum
Concordo um pouco
Concordo mais ou menos
Concordo muito
Concordo completamente
1 2 3 4 5
Lembre-se de que não existem respostas certas ou erradas. Nós só desejamos saber como as coisas têm estado em sua família ultimamente.
Em minha família... De jeito nenhum
Pouco Mais ou menos
Muito Completamente
1. Procuramos ajudar as pessoas da nossa família quando percebemos que estão com problemas.
1 2 3 4 5
2. As proibições são constantes. 1 2 3 4 5 3. Uns mandam e outros obedecem. 1 2 3 4 5 4. As pessoas zombam umas das outras. 1 2 3 4 5 5. Briga-se por qualquer coisa. 1 2 3 4 5 6. Algumas pessoas deixam de fazer as suas coisas para auxiliar as outras pessoas da família.
1 2 3 4 5
7. Não importa a vontade da maioria, a decisão final é sempre da mesma pessoa.
1 2 3 4 5
8. As pessoas irritam umas às outras. 1 2 3 4 5 9. As pessoas gostam de passear e de fazer coisas juntas. 1 2 3 4 5 10. As pessoas resolvem os problemas brigando. 1 2 3 4 5 11. As pessoas criticam umas às outras freqüentemente. 1 2 3 4 5 12. Resolver problemas significa discussão e brigas. 1 2 3 4 5 13. As pessoas tentam ajudar umas às outras quando as coisas não vão bem.
1 2 3 4 5
14. As pessoas gostam umas das outras. 1 2 3 4 5 15. Sinto que existe união entre os membros. 1 2 3 4 5 16. Os mais velhos mandam mais. 1 2 3 4 5 17. As pessoas se sentem próximas umas das outras. 1 2 3 4 5
112
Em minha família... De jeito nenhum
Pouco Mais ou menos
Muito Completamente
18. O(s) filho(s) têm pouco poder nas decisões familiares. 1 2 3 4 5 19. Temos prazer e alegria em passar o tempo juntos. 1 2 3 4 5 20. Algumas pessoas resolvem os problemas de maneira autoritária 1 2 3 4 5 21. Ajudamos financeiramente uns aos outros. 1 2 3 4 5 22. As pessoas me ajudam a fazer as coisas quando não tenho tempo.
1 2 3 4 5
Anexo F – Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)
Abaixo estão apresentados alguns eventos que podem ter acontecido na sua vida, no último ano, provocando uma reação de tensão que chamamos de estresse. Damos o nome de estresse a um conjunto de reações físicas e psicológicas que temos quando passamos por uma situação de vida difícil, que nos dá medo, incomoda ou irrita. Marque SIM para aqueles eventos de vida que ocorreram com você no último ano e atribua um valor entre 1 a 5, de forma que quanto maior for o valor, mais forte foi o estressor para você. Caso o evento não tenha acontecido com você, marque NÃO, e passe a afirmativa seguinte. Considere o seguinte exemplo:
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO SIM 1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
0) Você teve problemas de saúde Não Sim 1 2 3 4 5
Nesse exemplo, o jovem realmente teve problemas de saúde (marcou SIM) e considerou isso um evento estressor muito forte, portanto, marcou o valor “5”. Se o jovem não tivesse passado por nenhum problema de saúde, ele assinalaria a alternativa “NÃO”, pois o mesmo não ocorreu. Leia com atenção às alternativas abaixo e trabalhe individualmente. Muito obrigado pela sua colaboração.
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO
SIM
1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
1) Você teve problemas com professores Não Sim 1 2 3 4 5
2) Você teve problemas com a polícia Não Sim 1 2 3 4 5
3) Você passou por dificuldades financeiras Não Sim 1 2 3 4 5
4) Você teve problemas com a justiça Não Sim 1 2 3 4 5
5) Você rodou de ano na escola Não Sim 1 2 3 4 5
6) Um dos seus pais teve filhos com outros parceiros Não Sim 1 2 3 4 5
7) Você perdeu o emprego Não Sim 1 2 3 4 5
8) Você teve problemas e dúvidas quanto às mudanças no corpo e aparência
Não Sim 1 2 3 4 5
9) Você ficou sem amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5
10) Você não conseguiu emprego Não Sim 1 2 3 4 5
11) Você mudou de colégio Não Sim 1 2 3 4 5
12) Você mudou de casa ou de cidade Não Sim 1 2 3 4 5
13) Você assumiu o sustento da sua família Não Sim 1 2 3 4 5
114
14) Você foi preso Não Sim 1 2 3 4 5
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO
SIM
1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
15) Você foi para o conselho tutelar Não Sim 1 2 3 4 5
16) Morreu um dos seus pais Não Sim 1 2 3 4 5
17) Morreu um de seus irmãos(ãs) Não Sim 1 2 3 4 5
18) Morreu um outro familiar Não Sim 1 2 3 4 5
19) Morreu algum amigo(a) Não Sim 1 2 3 4 5
20) Você discutiu com amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5
21) Você brigou com irmãos(ãs) Não Sim 1 2 3 4 5
22) Você teve familiares com ferimentos ou doenças Não Sim 1 2 3 4 5
23) Um dos seus pais ficou desempregado Não Sim 1 2 3 4 5
24) Você dormiu na rua Não Sim 1 2 3 4 5
25) Você teve amigos(as) com ferimentos ou doenças Não Sim 1 2 3 4 5
26) Você não recebeu cuidado e atenção dos pais Não Sim 1 2 3 4 5
27) Você foi impedido(a) de ir a festas ou passeios Não Sim 1 2 3 4 5
28) Você teve que obedecer às ordens de seus pais Não Sim 1 2 3 4 5
29) Você teve crise nervosa Não Sim 1 2 3 4 5
30) você teve doenças graves ou lesões sérias Não Sim 1 2 3 4 5
31) Você teve problemas com os outros pela sua raça Não Sim 1 2 3 4 5
32) Você teve dificuldades de adaptação na escola Não Sim 1 2 3 4 5
33) Você sofreu humilhação ou foi desvalorizado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
34) Você sofreu castigos e punições Não Sim 1 2 3 4 5
35) Você teve dificuldades em fazer amizades Não Sim 1 2 3 4 5
36) Um dos seus pais se casou novamente Não Sim 1 2 3 4 5
37) Você sofreu agressão física ou ameaça de agressão por parte dos seus pais
Não Sim 1 2 3 4 5
38) Você foi tocado(a) sexualmente contra a vontade Não Sim 1 2 3 4 5
39) Você foi suspenso(a) da escola Não Sim 1 2 3 4 5
40) Você foi adotado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
41) Você teve ou está esperando um filho(a) Não Sim 1 2 3 4 5
42) Você ou sua namorada fez aborto Não Sim 1 2 3 4 5
43) Você foi levado(a) para uma instituição de abrigo Não Sim 1 2 3 4 5
44) Você teve problemas no trabalho Não Sim 1 2 3 4 5
45) Você teve provas no colégio Não Sim 1 2 3 4 5
46) Você teve perdas financeiras Não Sim 1 2 3 4 5
47) Você usou drogas Não Sim 1 2 3 4 5
115
48) Um dos seus pais teve que morar longe por causa do serviço Não Sim 1 2 3 4 5
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO
SIM
1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
49) Você envolveu-se em brigas com agressão física Não Sim 1 2 3 4 5
50) Você foi estuprado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
51) Você foi rejeitado(a) pelos familiares Não Sim 1 2 3 4 5
52) Você foi assaltado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
53) Você foi xingado(a) ou ameaçado(a) verbalmente Não Sim 1 2 3 4 5
54) Seus pais se divorciaram Não Sim 1 2 3 4 5
55) Você foi expulso(a) da escola Não Sim 1 2 3 4 5
56) Você foi expulso(a) da sala de aula pela professora Não Sim 1 2 3 4 5
57) Você sofreu algum tipo de violência Não Sim 1 2 3 4 5
58) Você terminou um namoro Não Sim 1 2 3 4 5
59) Você sentiu-se rejeitado(a) por colegas e amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5
60) Você sofreu um acidente Não Sim 1 2 3 4 5
61) Você teve problemas com autoridades ou chefia Não Sim 1 2 3 4 5
62) Você se relacionou mal com colegas Não Sim 1 2 3 4 5
63) Você foi impedido(a) de ver os seus pais Não Sim 1 2 3 4 5