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Identificao e Descrio deRelaes Comportamentais na
Economia Solidria
Identification and description of behavior relations insolidary
economy
Art
igo
246
Ana Lucia Cortegoso
UniversidadeFederal de So Carlos
Este trabalho contou com o apoiodos membros da
equipeINCOOP/UFSCar e com acolaborao especfica de KlenAniuska Lopes
Vieira e LuizAugusto Pierangelli, comoauxiliares de pesquisa.
PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265
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Resumo: Que comportamentos, nas relaes organismo-ambiente,fazem
parte da economia solidria como organizao para o trabalho
erepercusso na sociedade? A partir de observao e registro
deinformaes em situaes de trabalho em uma incubadora universitriade
empreendimentos solidrios, consulta a documentos de
atividadesrealizadas e literatura e entrevistas sobre aspectos da
atuao dediferentes tipos de atores nesse campo de atividade humana,
foi possvelidentificar e descrever comportamentos organizacionais e
individuais.Tais comportamentos so considerados relevantes para
prticas culturaiscooperativas, distribuio eqitativa dos benefcios
do trabalho e relaomenos predatria do homem com seu ambiente,
inclusive social, emtermos de relaes ambiente-organismo. O produto
deste estudo, comosistematizao de atividades de uma agncia
universitria destinada aincubar empreendimentos solidrios,
representa contribuio para acompreenso do papel de diferentes
atores sociais no complexofenmeno social que a economia solidria, a
partir do conceito decomportamento como proposto pela anlise do
comportamento.Palavras-chave: comportamentos em economia
solidria,comportamentos organizacionais, prticas culturais no
trabalho, economiasolidria.
Abstract: Which behaviors, in the ambient-organisms relations,
areconcerned with solidary economy as a form of organization for
workthat reflects on society? Data accessed by interviews, from
documentsand permanent register of information in situations of
collective workabout aspects of performance from actors in that
human activity fieldallowed identifying and describing
organizational and individual behaviors.These were considered
relevant to cooperative cultural practices,equitable distribution
of the benefits of work and a less predatory relationof the human
being with his environment, including the social one. Theproduct of
this study, as a systematization of activities in an agency
thatincubates solidary groups, represents a contribution for
betterunderstanding about the role of different social actors in
the complexsocial phenomena that is solidary economy, based on the
use of conceptsas behavior according to the behavior analysis
view.Key words: behaviors in solidary economy, organizational
behavior,cultural practices in work, solidary economy.
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muitos. A sistematizao e o exame detrabalhos de psiclogos e
pesquisadores emPsicologia, particularmente como membros deequipes
multiprofissionais e de grupos depesquisa multidisciplinares, no
campo daeconomia solidria, constituem umapossibilidade, dentre as
vrias que buscamgarantir a concluso do processo de produode
conhecimento, ou seja, a produo demudanas de comportamentos
compatveiscom esse conhecimento.
Economia solidria, prticasculturais e metacontingncias
De acordo com documento da SecretariaNacional de Economia
Solidria (SENAES,2004), esse movimento corresponde a umconjunto de
atividades econmicas deproduo, distribuio, consumo, poupana
ecrdito, organizadas sob a forma de autogesto,isto , pela
propriedade coletiva dos meios deproduo de bens ou prestao de
servios,pela participao democrtica nas decises dosmembros da
organizao ou empreendimentoe pela distribuio eqitativa dos
resultadosdo trabalho. Empreendimentos solidrios so,assim,
organizaes de trabalho cujascaractersticas bsicas so a
propriedadecoletiva ou associada ao capital e o direito liberdade
individual (Singer, 2002), nos quaisos trabalhadores so,
simultaneamente, donosde seu prprio negcio, sendo as cooperativasas
formas mais conhecidas desse tipo deempreendimento (Singer, 2000).
Sob aorientao de um conjunto de princpios(adeso livre e voluntria,
participaoeconmica eqitativa dos scios, controledemocrtico, pelos
scios, na definio daspolticas do empreendimento e nos processosde
tomada de deciso, educao, treinamentoe formao para os scios,
intercooperao epreocupao com a comunidade), essesempreendimentos tm
surgido, no Brasil, apartir da dcada de 1990, como formaalternativa
de gerao de trabalho e renda parasegmentos excludos da populao.
So,
Identificao e Descrio de Relaes Comportamentais na Economia
Solidria
248
Acesso ao conhecimento da Psicologia comocondio para mudar as
relaes do homemcom seu meio
Um dos grandes desafios atuais da cincia,para que esta possa
cumprir seu papel social, transformar conhecimento emcomportamentos
humanos significativos, paraque pessoas e instituies lidem com
seuambiente de forma a promover umasociedade mais justa e
equilibrada, como partedo prprio processo de produzirconhecimento
(Botom, 1996).
Overstreet (1978), h quase trinta anos,afirmava que o
conhecimento caractersticodo sculo era o psicolgico, e o avano
daPsicologia, como rea do conhecimento, foicertamente imenso nesse
perodo que,segundo o autor, trouxe uma nova atitude emrelao
natureza e experincia humana.Sob qualquer ponto de vista
(quantidade equalidade de publicaes, diversidade detemas e
problemas estudados, nmero deinstituies formadoras de profissionais
denvel superior, bacharis, licenciados epsiclogos, programas de
ps-graduao,frentes de atuao profissional e de demandaspor atuao),
possvel apontar progressosimportantes na contribuio oferecida
pelaPsicologia para a compreenso dos fenmenospsicolgicos e para o
exerccio profissionalnesse campo. O desafio, porm,
continuaexistindo, e no de pequena proporo,considerando os
problemas que ainda devemser enfrentados em produo deconhecimento e
tecnologia em Psicologia,mas, principalmente, pelo baixo grau
deacesso da humanidade ao conhecimento jdisponvel sobre as questes
que constituemo objeto dessa rea de conhecimento.
A quantidade e a diversidade deconhecimento j existente, ainda
que emgraus diferentes de desenvolvimento econsolidao, no mbito da
Psicologia, muitogrande, e torn-lo acessvel uma tarefa para
PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265
Um dos grandesdesafios atuais dacincia, para queesta possa
cumprirseu papel social,
transformarconhecimento em
comportamentoshumanos
significativos, paraque pessoas e
instituies lidemcom seu
ambiente, deforma a promover
uma sociedademais justa e
equilibrada comoparte do prprio
processo deproduzir
conhecimento
Botom
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tambm, e talvez fundamentalmente,organizaes dentro das quais so
esperadasrelaes humanas muito diversas daquelaspromovidas por uma
organizao socialessencialmente competitiva: relaes deigualdade,
colaborao e preocupao com obem-estar do ser humano como
valoressencial.
Ainda que seja a cooperativa a forma maisconhecida de
empreendimento solidrio, nemtodas as cooperativas fazem parte ou
soconsideradas de economia solidria. Atrajetria do cooperativismo
no Brasil levouao surgimento de dois tipos de iniciativaseconmicas,
alm daquelas indicadas comoatores principais na economia solidria:
oprimeiro deles, relativo a empreendimentosque, inseridos no que
pode ser chamado degrande cooperativismo, na prtica, pouco
sediferenciam das empresas tradicionais emtermos da hierarquizao
das relaes notrabalho; o segundo, a cooperativasfraudulentas, nas
quais os trabalhadores apenasaparentemente so donos dos meios
deproduo e do poder de deciso, e sosubmetidos a uma condio de
precariedadetrabalhista, j que, como donos legais
dessesempreendimentos, no tm acesso garantidoaos direitos
trabalhistas. Por essas razes, daeconomia solidria, fazem parte
cooperativasdenominadas populares, como indicao nos da populao que
as compe mas tambmdos compromissos que assumem seusmembros com
princpios consagrados pelomovimento, podendo a autogesto
serconsiderada o principal deles.
De acordo com os dados apresentados no Atlasda Economia Solidria
no Brasil - 2005 (BRASIL,2006), a partir de trabalho de
mapeamentoda economia solidria que alcanou 2274Municpios
brasileiros (41% do total), 14 954empreendimentos econmicos
solidriosforam visitados, e sobre eles foram obtidasinformaes
diversas. Alm dessesempreendimentos econmicos solidrios
(organizaes de finanas solidrias, empresasautogestionrias,
cooperativismo popular,redes de empreendimentos, associaes,clubes
de troca), fazem parte da economiasolidria, no Brasil, diferentes
atores, como:instncias governamentais (em nvel federal,estadual e
municipal), entidades de apoio efomento (universidades, ongs,
organizaes denatureza religiosa, movimento sindical), ligase unies,
instncias de organizao poltica domovimento, como os fruns de
economiasolidria (municipais, estaduais e brasileiro),redes (de
gestores pblicos, por exemplo), eoutros.
A implementao da economia solidria, comas caractersticas
indicadas, pode ser entendidacomo resultado, a longo prazo, da
atuao dediferentes atores sociais, pessoas e instituiesde
diferentes tipos. O conceito demetacontingncia (Glenn, 1991, entre
outros),como unidade de anlise que descreverelaes funcionais entre
prticas culturaisresultantes de contingncias
comportamentaisentrelaadas e de seus produtos agregados,permite
descrever apropriadamente ofenmeno da economia solidria. Este
resultados esforos de um nmero considervel deiniciativas nesse
campo, com a perspectiva demudana cultural na direo de
relaeseconmicas mais igualitrias e humanas demelhor qualidade, do
ponto de vista do bem-estar dos indivduos, do que as
predominantes,em que o ser humano , em geral, um meiopara o acmulo
de capital.
A preocupao com a produo de um outrotipo de cultura para o
homem, de maiorigualdade social e confiana entre os sereshumanos,
no nova na anlise docomportamento, e est presente na obra deF. S.
Skinner, fundador dessa abordagem, desdemuito cedo, conforme
demonstram trabalhoscomo o de Andery (1990). Para Skinner,
oconhecimento produzido no mbito da anlisedo comportamento
constitua ferramentaessencial para a construo dessa nova
Ana Lucia Cortegoso
249PSICOLOGIA CINCIA EPROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265
A preocupaocom a produode um outro tipode cultura para ohomem,
de maiorigualdade social econfiana entre osseres humanos,no nova
naanlise docomportamento,e est presente naobra de F. S.Skinner,
fundadordessaabordagem,desde muitocedo, conformedemonstramtrabalhos
como ode Andery (1990)
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sociedade, que o autor chegou a ilustrar emuma novela, Walden
Two (Skinner, 1977),quando esse conhecimento era ainda muitomenor
do que o que hoje se encontradisponvel. H bastante tempo, o
pesquisadorlanou os elementos que permitiriam, maisrecentemente, o
desenvolvimento mais plenode condies para o estudo de
fenmenossociais complexos e para uma efetivainterferncia em relao a
esses fenmenos.A perspectiva de compreenso da economiasolidria como
resultado de um conjunto deprticas culturais entrelaadas, cujas
relaespodem ser descritas por meio demetacontingncias, requer e
facilita melhorexaminar o papel de cada um dos atoresrelevantes
para a produo desse resultado.Mais do que uma opo ideolgica
relacionada cooperao entre esses atores, a economiasolidria um
fenmeno que s poderresultar da ao de muitos atores, pessoas,grupos
e organizaes, articuladas na mesmadireo, ainda que as prticas de
cada um delesapresentem especificidades e sejam mantidaspor
conseqncias imediatas especficas.Identificar e descrever as prticas
especficasdos principais atores que contribuem para oresultado
final desse fenmeno constitui umacontribuio relevante para a
implementaoda economia solidria como alternativa sociale
econmica.
Noo de comportamentocomo ferramenta paradescrever e examinar
prticasno mbito da economiasolidria
A definio de comportamento operanteapresentada por Botom (1981),
comoresultado da sistematizao do conhecimentoproduzido no contexto
da anlise docomportamento sobre o comportamentohumano, pode
constituir referncia para oexame de fenmenos aqui destacados
comopartes significativas das relaes das quais,espera-se, resulte a
economia solidria, com
a qual se comprometem diferentes atoressociais. De acordo com
esse autor, ocomportamento humano, de naturezaoperante, que
representa a unidade mnimade interesse para estudo e interveno,
arelao entre um determinado tipo de ao,ou classe de respostas, e os
aspectos relevantesdo ambiente. Em outras palavras, os
aspectosambientais so funcionalmente relacionadoscom essa classe de
respostas, antecedendo-a(classes de estmulos antecedentes), e
osaspectos, tambm funcionalmenterelacionados a ela, que resultam
(ou devemresultar) desse tipo de ao (classes deestmulos subseqentes
ou conseqentes,sendo as expresses subseqentes econseqentes
utilizadas como equivalentes,neste trabalho).
Essa noo de comportamento, emboraaparentemente simples,
constitui umacontribuio de valor inestimvel para acompreenso do
agir humano e umaferramenta poderosa para lidar com situaesem que
esse agir esteja presente ou pareadesejvel. Compreender o
comportamentohumano como uma relao implica reconhec-lo como fenmeno
essencialmente dinmico,de mltiplas direes, com o homeminterferindo
no ambiente tanto quanto esseambiente interfere no agir humano,
umconceito que inclui, como parte mesmo doagir humano, decorrncias
das aes dohomem em relao a esse ambiente, ou seja,a dimenso tica da
relao. Tal mudanaexige, inclusive, alteraes na linguagemutilizada
para fazer referncia aos fenmenosque envolvam comportamentos
humanos, cujapresena , muitas vezes, obscurecida pelouso de
substantivos.
A contribuio dada pelo conceito decomportamento, ao afirmar a
importncia decompreender o agir humano no considerandoapenas o que
o organismo faz, mas o contextoem que esse fazer se insere, e a
especificaraspectos desse contexto que so fundamentais
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Identificao e Descrio de Relaes Comportamentais na Economia
Solidria
PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265
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como parte dessa relao, traz um referencialpara o exame da atuao
de outros atoressociais, ainda que no sejam eles pessoas. Deacordo
com Glenn e Mallot (2004),organizaes consistem da interao
dinmicaentre o comportamento de seres humanos eseus produtos, e a
expressocomportamento organizacional refere-se,tambm, ao
comportamento das organizaescomo entidades funcionais. Nessas
condies,descries comportamentais, entendidas comoespecificaes de
relaes entre aspectos doambiente e da atuao dos organismos,
daquiloque ou pode ser esperado de organizaesque desempenham
importante papel emrelao implementao da economiasolidria, podem
trazer contribuiesrelevantes para a compreenso e para oexerccio
desses papis. Verificar a fecundidadedo uso desse referencial ao
estabelecerobjetivos para alguns dos atuais atores daeconomia
solidria constitui o objetivo desteestudo.
No conjunto de atuaes que contribuem paraa constituio do
resultado de interesse social,ao menos no contexto brasileiro
atual,denominado economia solidria, cabe instituio Universidade,
como agncia defomento desse campo, desenvolver, de acordocom
Cortegoso e Shimbo (2005),especificamente, a produo deconhecimento
e tecnologia para odesenvolvimento da economia solidria, tantoem
relao ao estudo de cadeias produtivasquanto no que se refere ao
cooperativismo e autogesto administrativa dosempreendimentos, assim
como garantia deacesso, por parte dos empreendimentos, a
taisconhecimentos e tecnologias. Uma dasformas por meio das quais
universidadesbrasileiras tm buscado cumprir esse papel pela criao
das denominadas incubadorasuniversitrias de cooperativas (ou,
maisamplamente, empreendimentos solidrios), apartir de meados da
dcada de 1990. Comaes destinadas incubao de cooperativas
populares, tendo como pblico-alvo osdesempregados historicamente
excludos ouaqueles expulsos do mercado formal detrabalho em virtude
dos processos tecnolgicos,da privatizao de empresas estatais ou
deterceirizao dos servios, com a presena depopulaes mais
empobrecidas e pessoas comdeficincias, essas agncias surgiram e
seorganizaram buscando favorecer a criao denovas oportunidades de
trabalho e renda, pormeio de empreendimentos coletivos,solidrios e
autogestionrios. Atualmente,apenas em uma das redes
universitriasexistentes (Rede de Incubadoras Tecnolgicasde
Cooperativas Populares ITCPs), o nmerode incubadoras desse tipo se
aproxima detrinta.
De acordo com Cortegoso et al. (2005a),um dos desafios
enfrentados por essesncleos de ensino, pesquisa e extenso quese
dedicam economia solidria desenvolvermtodos de incubao capazes de
viabilizarno apenas a existncia de coletivosorganizados para o
trabalho mas tambm seufuncionamento como clulas
efetivamenteautogestionrias e comprometidas com osprincpios
orientadores da economia solidriae a insero dessas clulas em
complexasredes de relaes que envolvem outrosempreendimentos
solidrios, outros atoressociais da economia solidria, e mesmo
nomercado capitalista, pouco amistoso a essaforma de organizao do
trabalho e gesto.Neste trabalho, so apresentadas, comoresultado de
um processo de sistematizaode conhecimento produzido sobre a
atuaode diferentes atores da economia solidria, apartir de
atividades de ensino e intervenoprofissional desenvolvidas em uma
incubadorauniversitria de empreendimentos solidrios,formulaes de
classes de comportamentosque vm se evidenciando como relevantes
paraa construo da economia solidria, tal comodefinida anteriormente
neste texto. Talsistematizao representa tanto referencial para
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Ana Lucia Cortegoso PSICOLOGIA CINCIA EPROFISSO, 2007, 27 (2),
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um dos desafiosenfrentados poresses ncleos deensino, pesquisa
eextenso que sededicam economiasolidria desenvolvermtodos
deincubaocapazes deviabilizar noapenas aexistncia
decoletivosorganizados parao trabalho mastambm seufuncionamentocomo
clulasefetivamenteautogestionrias ecomprometidascom os
princpiosorientadores daeconomiasolidria e ainsero dessasclulas
emcomplexas redesde relaes queenvolvem
outrosempreendimentossolidrios, outrosatores sociais
daeconomiasolidria, e mesmono mercadocapitalista, poucoamistoso a
essaforma deorganizao dotrabalho egesto.
Cortegoso
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produo de conhecimento novo, a partir deinvestigaes sobre
propriedades das classesde comportamentos e sua relao com
osresultados finais pretendidos, quanto condiopara interveno no
processo dedesenvolvimento dessa prtica cultural, emrelao qual
parece existir interesse socialdos diferentes envolvidos.
Aspectos metodolgicos paraidentificao e descrio decomportamentos
emeconomia solidria
Fontes de informaes, procedimentos einstrumentos utilizados para
coleta e anlisede dados.
Em relao ao que esperado de umaincubadora universitria de
cooperativaspopulares (classes de comportamentos daincubadora),
constituram fontes deinformao: documentos norteadores daeconomia
solidria, elaborados no perodo dacoleta de dados pela Secretaria
Nacional deEconomia Solidria e pelo Frum Brasileiro deEconomia
Solidria; documentos descritivos deatividades previstas e
desenvolvidas nosprocessos de incubao de grupos atendidospela
equipe da incubadora, produzidos nodecorrer desse processo por seus
responsveis(relatrios de projetos de incubao, relatriosde estgio de
alunos de graduao querealizaram intervenes junto a gruposincubados,
atas de reunies da equipe emsituaes, rotineiras ou especficas,
paramonitoramento e avaliao de projetos deincubao implementados,
anotaes emcadernos de campo sobre atividadesrealizadas, problemas
encontrados, resultadosalcanados nesses processos e
possibilidadesde atuao alternativa ou complementar);observao direta
de situaes de trabalho daequipe da incubadora, como reunies
internas(da incubadora, de equipes responsveis porprojetos de
incubao especfica) e de
interao de membros da equipe com osgrupos assessorados, com
registro decomportamentos apresentados por essesmembros e suas
decorrncias, efetivas oupotenciais, em termos de referenciais
daeconomia solidria (autogesto, autonomia,etc), para o processo de
incubao. Taisinformaes foram obtidas diretamente pelapesquisadora,
tambm participante da equipeda incubadora, e por auxiliares de
pesquisa,por um perodo de trs anos. Todas asinformaes obtidas foram
sistematizadas emtermos de relaes entre o que era esperadoque a
incubadora garantisse ao implementar oprocesso de incubao de
empreendimentossolidrios, as condies diante das quais eraesperado o
tipo de ao previsto e osresultados, produtos e efeitos dessa
ao,como parte do processo de incubao deempreendimentos solidrios. O
produto dessasistematizao prossegue como objeto deestudo e discusso
da equipe, que realiza,coletivamente, a adequao s
descriespropostas, em funo de avanos conceituaise novos dados
advindos do processo deinterveno inerente incubao. Tal processose d
de forma articulada com a produo deconhecimento e ensino, com a
participaode estudantes de graduao, tcnicos de nvelsuperior e
alunos de ps-graduao na equipe.Em relao a comportamentos de
membrosde empreendimentos solidrios, foramrealizadas, por
auxiliares de pesquisa treinadospara essa finalidade, entrevistas
com membrosdas equipes de trabalho de uma incubadorauniversitria de
cooperativas populares comexperincia no processo de incubao, a
partirde uma pergunta geral (o que importanteque as pessoas que
fazem parte deempreendimentos solidrios sejam capazes defazer?), e
da solicitao de justificativas paraas respostas apresentadas pelos
entrevistados.A partir dos relatos verbais gravados em fitacassete
e por meio de audio sucessiva dasgravaes, foram identificados e
registrados,por esses auxiliares, relatos que se referiam aclasses
de comportamentos de indivduos, em
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Solidria
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termos de classes de respostas, classes deestmulos antecedentes
e classes de estmulossubseqentes; essas informaes foramregistradas
com a ajuda de um formulrio quecontinha trs colunas, uma para cada
um doscomponentes da relao comportamental. Foramidentificadas,
ainda, expresses indicativas dosobjetivos a serem alcanados
apenascoletivamente e a partir de comportamentoshumanos
diversificados e articulados,denominados classes de comportamentos
deempreendimentos solidrios como organismos.Verses preliminares
dessas descries foramsucessivamente revistas e adequadas,
porauxiliares de pesquisa e pela pesquisadora, demodo a corrigir e
completar tais descries emfuno de dados coletados a partir da
observaodireta de situaes de trabalho, internas ou juntoa grupos
atendidos, alm de registros emcadernos de campo, feitas pela equipe
daincubadora. As informaes utilizadas paradescrio da classe geral
de comportamentosde consumidores, no mbito da economiasolidria,
foram obtidas a partir do exame dosobjetivos propostos por um grupo
organizado deconsumidores, produtores e consumidores e doprocesso
de definio de objetivos (exame dedocumentos do grupo, tais como
pgina web eatas de reunies em que os objetivos foramdefinidos) e da
observao direta desse processode definio. Procedeu-se ao registro
de relatosverbais dos participantes, no que se refere acondies
diante das quais era esperado queocorresse o padro de consumo
indicado comodesejvel, a partir de acordo coletivo do grupo edos
resultados, produtos e efeitos que precisariamser garantidos ao
lidar com as situaes deconsumo.
Resultados e discusso
Mtodo de incubao ou incubarempreendimentos solidrios?
A expresso mtodo de incubao,freqentemente utilizada para indicar
o quecabe a (ou define) agncias que do apoio
direto para a formao e a implementao deempreendimentos
solidrios, dificultaevidenciar que o fenmeno de
interesse,considerando aquilo que pretendido comoproduto social,
refere-se ao que essas agncias,por meio da atuao de cada um de
seusmembros, articuladamente, devem fazer. Issoenvolve um processo
comportamentalcomplexo, descrito inicialmente por uma classeampla e
complexa de comportamentosorganizacionais que, de forma articulada,
oupelo menos somada a todas as outras quecompem a especificidade
social de cada umdos diferentes atores da economia solidria,pode
influir na existncia dessa forma deorganizao para o trabalho e nas
suascaractersticas, denominada sinteticamenteincubar
empreendimentos solidrios.
Essa no , contudo, uma classe decomportamentos j
suficientementeconhecida, ou com caractersticas idnticas emtodos os
contextos, mesmo considerandoapenas os j conhecidos, em que a
incubaode empreendimentos solidrios se d, aindaque se tratem de
atores sociais com muitoem comum, como so as
incubadorasuniversitrias no Brasil. Considerando o estgiode
conhecimento e de experincia acumuladanesse campo, na verdade,
muito tem sido feitopor tentativa e erro, a partir de
referenciaisgerais e, freqentemente, genricos, contandocom recursos
(humanos, materiais,conceituais, etc) diferenciados.
A construo de representaes da prticaexistente, bem como daquilo
que j possvelprojetar como desejvel em termos de aesindividuais e
organizacionais, para alcanaralguns produtos sobre os quais existe
um certoconsenso, como, por exemplo, caractersticasessenciais de
empreendimentos de economiasolidria tal como sintetizada pela
SecretariaNacional de Economia Solidria (SENAES, 2004)e pelo Frum
Brasileiro de Economia Solidria(FBES, 2005), em termos de classes
decomportamentos, no significa criar modelos
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Identificao e Descrio de Relaes Comportamentais na Economia
Solidria
estticos ou universais de atuao a serem seguidos, nem mesmo no
mbito da agncia especficaem que essa construo se d. Tal representao
constitui, ao contrrio, ponto de partida parareflexo e permanente
aprimoramento conceitual e instrumental dessa atuao
compreendendoque conceitos so ferramentas a serem adequadas
realidade para a qual so desenvolvidas e quedevem mudar conforme
muda essa realidade, em direes usualmente mais complexas.
Neste estudo, como resultado de sistematizao de prticas que vm
sendo desenvolvidas emuma incubadora universitria a partir do
trabalho com diferentes situaes (populaes, atividadesprodutivas,
regies, tipos de demandas, parcerias, referenciais tericos, etc),
com importantevariabilidade comportamental por parte de seus
membros ao responder s condies concretasem que atuam, e de reflexo
sobre essas prticas luz de propostas conceituais e polticas nocampo
da economia solidria, foram identificadas classes de comportamentos
consideradas relevantesno processo de apoio constituio e
implementao de empreendimentos solidrios. Partiu-sedo que foi
considerado papel dessa agncia no atendimento a esses
empreendimentos, expressocomo objetivo a ser alcanado, ou seja, por
meio de uma classe de comportamentos. No quadro1, pode ser vista a
definio dessa classe, tal como aprovada pela equipe da incubadora
na pocada coleta de dados.
Quadro 1. Definio de classe de comportamentos que constituem
objetivo de uma incubadorauniversitria de cooperativas
populares.
Diante de demandas compatveis com critrios em vigor na agncia
para incubao deempreendimentos solidrios, e de disponibilidade de
recursos considerados necessrios paraisso, esperado da incubadora
que ela possa assessorar grupos para a formao deempreendimentos
econmicos, por meio da oferta de subsdios e do acompanhamento
doprocesso de tomada de deciso e implementao de atividades, com
participao dosresponsveis pela incubao em todas as etapas do
trabalho, incluindo avaliao de resultados,por meio de relaes
dialgicas. A assessoria tem, como objetivo, a promoo da existncia
ea consolidao de empreendimentos solidrios de natureza popular,
organizados para o trabalhocoletivo e dotados de funcionamento
autnomo, com capacidade para identificar suas prpriasnecessidades e
providenciar para que estas sejam atendidas. Tais empreendimentos
se achaminseridos no mercado e no contexto mais amplo da economia
solidria e possuem caractersticasgradualmente mais compatveis com
os princpios de economia solidria.
A descrio da classe de comportamentos apresentada no quadro 1
evidencia no apenas aquilo
que esperado que a incubadora, atuante que no processo de
incubao de empreendimentos
solidrios, faa, do ponto de vista das respostas desse organismo,
mas a relao desse agir (classe
de respostas) com as condies (classes de estmulos antecedentes)
diante das quais esse fazer
ocorre ou deve ocorrer, ou que sinalizam que esse fazer seja
desejvel, necessrio ou oportuno
(demandas compatveis com os critrios em vigor na agncia para
atendimento a grupos) e as que
so necessrias para isso (recursos disponveis). Ambas podem se
alterar no tempo e de uma
agncia para outra o que provavelmente ocorrer, sendo o conceito
de comportamento utilizado
para representar esse fazer dinmico como a prpria realidade que
pretende representar. Da
descrio, fazem parte, ainda, indicaes sobre os resultados,
produtos e efeitos (classes de
estmulos subseqentes) que devem decorrer das respostas
apresentadas pela incubadora.
PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265
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No quadro 2, extrado de Cortegoso et al. (2005b), podem ser
vistas as classes de comportamentosmais especficas que foram
identificadas, a partir dos dados obtidos, como desejveis nesse
processode assessoramento a grupos em formao. Nesse quadro, as
classes aparecem indicadas, deforma sinttica, sem a explicitao de
todas as propriedades relevantes dos estmulos antecedentes,das
respostas e dos estmulos subseqentes, e representam um mapeamento
inicial de condutasda agncia que devem ser consideradas ao lidar
com o atendimento a qualquer grupo em relaoao qual surjam demandas
que possam vir a ser atendidas pela agncia, em funo de sua missoe
objetivos.
Quadro 2. Classes de comportamentos organizacionais indicados
como relevantes no processode incubao de empreendimentos solidrios
no contexto em que os dados foram coletados(extrado de Cortegoso et
al., 2005b).
processar demanda apresentada por diferentes atores sociais para
a incubao deempreendimentos solidrios; identificar populao em
potencial para a formao de empreendimento solidrio; caracterizar,
de forma o mais completa possvel, diferentes envolvidos no processo
deincubao; apresentar economia solidria como possibilidade de
organizao para gerao de trabalhoe renda, para populao ou grupo em
potencial, a fim de formar empreendimentos solidrios; apoiar a
organizao inicial do grupo para a tomada de deciso sobre formao (ou
no) deempreendimento solidrio; elaborar proposta de trabalho com
participantes do grupo a ser incubado; promover a formao dos
membros do grupo para a economia solidria, de forma contnuae
permanente, de todas as maneiras possveis; promover escolha de
atividade econmica pelo grupo; promover condies para capacitao
tcnica em relao ao servio ou produo ofertadopelo empreendimento, de
forma permanente; promover formao contnua e permanente dos membros
para a autogesto administrativa,em todas as oportunidades e de
todas as maneiras possveis; promover a elaborao de normas de
funcionamento do empreendimento (estatuto eregimento interno) de
maneira participativa; assessorar grupo para a legalizao do
empreendimento; assessorar grupo para a implantao do
empreendimento; assessorar grupo para a implantao de sistema de
monitoramento por meio de indicadores; assessorar grupo para a
implementao do empreendimento, de forma episdica e espordica;
assessorar grupo para a participao em redes de cooperao e em
iniciativas do movimentode economia solidria.
A construo de representaes correspondentes ao que ou entendido
que deva ser aatuao de qualquer organismo, seja ele um indivduo ou
uma organizao, implica identificar aspropriedades (variveis ou
dimenses de variveis) das classes de estmulo
antecedentesefetivamente relevantes para o organismo que se
comporta e das classes de estmulos subseqentesou conseqentes a
serem necessariamente produzidas por essas respostas, como condio
paraque a relao comportamental seja aquela de interesse, e das
classes de respostas a serem
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apresentadas pelo organismo, para que esses resultados, produtos
ou efeitos sejam efetivamentegerados. Na elaborao dessa representao
do processo de incubao de empreendimentossolidrios, correspondente
ao que a equipe da incubadora envolvida neste trabalho
considerou,em um determinado momento de sua existncia, apropriado
aos seus objetivos, cada uma dasclasses de comportamentos
apresentadas no quadro 2 foi descrita em seus componentes.
Quadro 3. Descrio da classe de comportamentos destinados a
apoiar a organizao inicial dogrupo para tomada de decises a
respeito de formao de empreendimento solidrio e suascaractersticas
gerais.
Apoiar a organizao inicial do grupo para tomada de decises
arespeito de formao de empreendimento solidrio e suascaractersticas
gerais
Em que situaes ocorre ou deveria ocorrer?Grau insuficiente de
organizao autnoma do grupo e de capacidade para tomar decises
coletivase democrticas sobre a constituio ou no do empreendimento;
grupo informado quanto atemas do cooperativismo, objetivos da
INCOOP, bem como sua forma de trabalho e condies,e alternativas
para gerao de trabalho e renda existentes; interesse do grupo em
contar comapoio para tomada de decises sobre a constituio ou no de
empreendimento solidrio.
O que a incubadora leva ou deveria levar em considerao?Nvel de
organizao do grupo, caractersticas socioculturais do grupo,
caractersticas individuaisdos membros, conhecimento disponvel sobre
moderao de grupos autogestionrios, condiesconcretas para reunio do
grupo.
Como a incubadora atua ou deveria atuar para apoiar a organizao
inicial do grupo paratomada de deciso sobre formao de
empreendimento solidrio?A incubadora pode, atuando como
facilitadora do processo de tomada de decises sobre aconstituio de
um empreendimento solidrio e de suas caractersticas gerais,
garantir espaofsico adequado para que o grupo se rena, convidar ou
garantir o convite de todos os que,tendo sido identificados como
populao potencial, se manifestem como interessados na
possvelorganizao de empreendimento solidrio; propor procedimentos
para discusso das questesenvolvidas com as decises, oferecer
informaes necessrias para a tomada de decises oufavorecer a sua
disponibilidade para o grupo, apresentar modelos de conduta para
anlise eprocessamento de problemas e conflitos no processo de
discusso e para argumentao, moderarreunies e debates, oferecer
conseqncias para condutas dos indivduos que devem tomar asdecises
de interesse, favorecer a participao de todos e a tomada de
decises, por meio deprocessos democrticos e de compreenso da
viabilidade. No entanto, essa atuao deve se dar,como em todos os
momentos de atuao junto ao grupo, de modo a promover a autonomia
dogrupo, como, por exemplo, incluindo pessoas do grupo na proposio
e implementao dasprovidncias, e explicitando, em todas as
oportunidades e de todas as formas possveis, as razespara fazer
cada uma das atividades propostas e a funo de cada providncia ou
procedimentosugerido.
O que esperado, como resultado dessa ao da incubadora?Que sejam
tomadas decises sobre formao ou no de empreendimento solidrio e
formapreferencial de organizao, de forma democrtica, com participao
de todos, e de modo maisharmonioso e compatvel com as informaes
disponveis sobre as questes em relao s quaisas decises so tomadas,
e com autonomia crescente do grupo na conduo desses processos
dedeciso.
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Identificao e Descrio de Relaes Comportamentais na Economia
Solidria
PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265
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No quadro 3, pode ser vista a descrio deuma dessas classes de
comportamentos. Nessequadro, as duas perguntas, destacadas
emnegrito, so condies diante das quais foramexplicitadas (ou
conferidas, em situaescoletivas de conferncia de verses
elaboradaspela pesquisadora) as classes de estmulosantecedentes
(sinalizadoras da necessidade,oportunidade ou convenincia
deapresentao das classes de respostas sobexame primeira pergunta e
das condiescom as quais a incubadora dever entrar emcontato ou
levar em considerao paraapresentar a classe de respostas
considerada segunda pergunta). As respostas evidenciamas
especificidades desses estmulos, que soconsideradas relevantes para
a relaocomportamental. Da mesma forma, a terceirapergunta se refere
a caractersticas relevantesda prpria classe de respostas sob
exame,definidas em funo tanto de resultadosanteriores da atuao da
incubadora nesse tipode situao quanto de conhecimentodisponvel
indicativo desse tipo decaracterstica da classe de respostas ou,
como usualmente denominado, o como fazer.Considerando ser a
atividade de incubao deempreendimentos solidrios uma
atividadehumana recente, para lidar com uma realidadehistrica e
social particular e, provavelmente,to transitria quanto a
necessidade que agerou, identificar e descrever esse processo,em
termos de classes de comportamentos,corresponde a reconhecer que os
resultadospretendidos em relao aos empreendimentosautogestionrios s
podem ser construdos pelofazer humano, individual e coletivo.
Faz-lojustifica-se, entre outras coisas, pelo potencialque esse
tipo de anlise comportamentaloferece para a percepo de quem
secomporta ou deve se comportar - paraproduzir os resultados
pretendidos, sobre adeterminao probabilstica dos fenmenos,os
comportamentos entre eles e a relevnciade variveis componentes de
estmulosambientais e do agir humano, mesmo quesutis, para as
caractersticas finais que esses
fenmenos apresentam ou deixam deapresentar.
Em dois estudos diferentes, Cortegoso eBotom (2001 e 2002)
examinarampropriedades de comportamentos de agenteseducativos
(supervisores de estudo erecreacionista), em termos das
propriedadesde diferentes comportamentos (por exemplo,latncia,
freqncia, durao da resposta deolhar para a criana ou dar instrues)
bemcomo das condies em que se apresentavamesses comportamentos,
para os resultados quegeravam ou poderiam gerar em termos
deaprendizagens dos educandos. Com base eminformaes sobre esse tipo
de propriedadedas classes de comportamentos identificadas,foi
possvel tanto compreender quanto lidar,do ponto de vista
administrativo e pedaggico,com situaes de ensino, de forma a
aumentara probabilidade de ocorrncia deaprendizagem eficaz por
parte de usurios daagncia educacional em que os estudos
foramrealizados.
A descrio de comportamentos, em termosde relaes comportamentais,
torna claros osobjetivos a serem atingidos, tanto para aavaliao da
atuao da agncia em relao aesses objetivos quanto para orientar a
aofutura dos indivduos cujos comportamentoscompem a agncia, no por
meio daprescrio de respostas automticas oupadronizadas, mas pela
construo de relaespotencialmente relevantes e pela utilizaotanto do
conhecimento quanto da criatividadeexistentes.
A construo coletiva desse tipo dereferencial, como no caso da
incubadora a quese referem as classes de comportamentosindicadas no
quadro 2, apresenta ainda avantagem de gerar acordos mnimos para
aatuao harmnica de grupos de pessoas que,com histrias de vida
diferentes, podemapresentar, e freqentemente apresentam,maneiras
diferentes de compreender fatos e
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acontecimentos, como o caso de equipesconstitudas de
professores, tcnicos eestudantes de graduao e ps-graduao
comdiferentes formaes e origens. O nvel deespecificidade envolvido
com a descrio derelaes comportamentais como a ilustradafavorece,
nesse sentido, um debate efetivo,que muito freqentemente,
conformeargumenta Botom (1994), escamoteadopelo uso de termos e
expresses gerais, queoferecem uma falsa impresso deconcordncia,
somente identificada a partir dosresultados j instalados de aes no
apenasdiferentes, mas divergentes e desencontradas. um debate que,
de modo coerente com oque prope a economia solidria, devepermitir a
participao igualitria de todos osenvolvidos e a comunicao de boa
qualidadecomo condio para a melhoria das relaesentre as pessoas, e
destas com seu meio.
O que esperar de outrosatores de economia solidriapara alcanar
os objetivosdessa forma de organizaopara o trabalho?
Tanto quanto o exame da prtica de agnciasque assumem o papel de
incubarempreendimentos solidrios, e particularmentepara aquelas que
consideram comocentralidade de sua ao o processo educativo(no mnimo
para a autogesto, para a atividadeprodutiva e para a economia
solidria, tal comoindicado em Cortegoso et al., 2005a),
soessenciais a identificao e a descrio doscomportamentos de outros
indivduos eorganizaes que contribuem para a existncia(ou no) de
caractersticas (desejveis ou no)da economia solidria, os
prpriosempreendimentos econmicos (nascidos ouconsolidados a partir
de assessoramentoexterno ou no) e os indivduos que fazemparte
desses empreendimentos, bem comoaqueles que so responsveis pela
atuao deagncias como as incubadoras.
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Acerca daquilo que ou pode ser esperadode empreendimentos
econmicos solidrios,atores principais da economia solidria,
foramidentificadas, por meio deste estudo, classesgerais e
especficas de comportamentos, tantode empreendimentos solidrios
(comoentidades funcionais) quanto de membrosdesses empreendimentos,
potencialmenterelevantes para os resultados pretendidos nombito da
economia solidria. No quadro 4,podem ser vistas as classes gerais
decomportamentos propostas, nessa versopreliminar, bem como algumas
das classesespecficas de comportamentos identificadaspara
empreendimentos solidrios, expressasde forma sinttica, ou seja,
principalmente pormeio da indicao da classe de respostas,
semespecificao das condies antecedentes,subseqentes e das
propriedades das classesde respostas relevantes para as
relaespretendidas.
So evidenciadas, no quadro 4, as classes decomportamentos gerais
que podem serconsideradas relevantes na trajetria dequalquer
organizao, no apenas dosempreendimentos solidrios, servindo
essasclasses como indicao da importncia dadedicao dos participantes
doempreendimento a algumas atividadesfundamentais e complexas, para
que ocorrauma adequada deciso sobre a conveninciae a possibilidade
de que o empreendimentovenha a existir (propor), que sejam
definidassuas finalidades e caractersticas essenciais(planejar),
que este inicie suas atividades(implantar), seja gerido
(implementar) e queseja inserido no contexto mais amplo daeconomia
solidria, de forma consciente eproposital. A especificidade dessas
classes decomportamentos, para o contexto daeconomia solidria,
contudo, dada peladescrio das relaes propostas, tal comoilustrada
no quadro 5, em relao a duas dasclasses apresentadas no quadro 4,
uma maisgeral, e outra, mais especfica.
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Solidria
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Quadro 4. Classes de comportamentos, gerais e especficas,
propostas como relevantes paraempreendimentos solidrios no mbito da
economia solidria.
Propor a constituio de um empreendimento solidrio que seja
vivel, relevante ecompatvel com princpios da economia solidria:
identificar necessidades e demandas porservios ou produtos,
caracterizar ofertas de servios ou produtos disponveis em relao
snecessidades e demandas identificadas, propor trabalho ou produto
a ser feito ou oferecidopelo empreendimento solidrio, analisar a
viabilidade do empreendimento solidrio, etc.
Planejar empreendimento solidrio em termos de sua finalidade e
caractersticas gerais:identificar os documentos necessrios para
constituir empreendimentos solidrios, definir opapel do
empreendimento solidrio na sociedade, definir os objetivos do
empreendimento,obter informaes sobre os aspectos burocrticos para
constituir um empreendimento solidrio,etc.
Implantar empreendimento solidrio de modo a aumentar sua
probabilidade de sucesso:inaugurar empreendimento solidrio,
encaminhar documentos s instncias responsveis;
Implementar empreendimento solidrio de forma compatvel com os
princpos daeconomia solidria, no seu funcionamento rotineiro;
Garantir a insero do empreendimento no contexto mais amplo da
economia solidria.
No quadro 5 podem ser vistas as descries correspondentes a uma
classe geral de comportamentosde um empreendimento solidrio em
formao, que est relacionada deciso pela proposio(ou no) de um
empreendimento solidrio em funo da existncia e do tipo de
necessidadesocial, indicativa de possibilidade de atuao ou
desenvolvimento de uma determinada atividadeprodutiva. Alm dessas,
so apresentadas as descries dos recursos disponveis (mesmo que
noestejam imediatamente acessveis) e de uma das classes especficas
que fazem parte da maisgeral, relativa verificao da existncia de
outros empreendimentos solidrios que atuam emrelao mesma
necessidade social, de modo a garantir o princpio cooperativista da
intercooperao(Rech, 2000). Dessa forma, no devem existir
empreendimentos solidrios concorrendo em ummesmo segmento de
mercado, e um novo empreendimento, caso venha a existir, deve
fortalecera economia solidria por meio de redes de cooperao,
principalmente dentro da mesma cadeiaprodutiva.
Da mesma forma que em relao aos empreendimentos solidrios, foi
possvel identificarcomportamentos humanos que, com base na
experincia acumulada a partir do acompanhamentode grupos para a
formao de empreendimentos solidrios, bem como da literatura em
economiasolidria e em Psicologia, parecem fundamentais como parte
do repertrio de indivduos inseridosnesse tipo de empreendimento e
na economia solidria. Constituem, tal como os outros tipos
decomportamentos evidenciados neste texto (de incubadoras e de
empreendimentos solidrios), edentre muitos outros que esto ou
necessitam estar articulados para a gerao da economiasolidria, como
resultado de longo prazo de comportamentos mantidos por conseqncias
prprias(contingncias de reforo), parte da metacontingncia de
interesse.
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Quadro 5 - Descrio de classes de comportamentos indicadas como
relevantes paraempreendimentos solidrios.
Propor a constituio de um empreendimento solidrio
Diante de... identificao de necessidades sociais sem atendimento
satisfatrio; caractersticas do atendimento disponvel em relao s
necessidades sociais identificadas; possibilidades identificadas de
atendimento necessidades sociais; potencial humano disponvel para
atender tais necessidades, por meio de empreendimentocoletivo de
trabalho; recursos disponveis para atendimento s necessidades
identificadas a que o grupo tem oupode conseguir acesso; exigncias
legais para constituir empreendimentos solidrios; possibilidades de
atendimento de exigncias legais.
Resultados, produtos ou efeitos esperados...proposta de
constituio de empreendimento solidrio, compatvel com exigncias
legais,necessidades sociais identificadas, recursos humanos e
materiais acessveis e com princpios daeconomia solidria,
particularmente o de intercooperao.
Verificar a existncia de outros empreendimentos solidrios
queestejam atendendo s necessidades sociais identificadas
comopossibilidades de atuao do empreendimento.
Diante de... necessidades sociais identificadas como possveis
frentes em relao s quais podem serofertados servios ou produtos;
possibilidades identificadas de oferta de servios / produtos;
fontes de informaes sobre empreendimentos que realizam ou podem
realizar atividadesem relao necessidades sociais identificadas na
rea de atuao do potencial novoempreendimento; recursos disponveis
para consultar as fontes de informaes sobre outros
empreendimentosque podem estar atuando em relao necessidade
identificada.
Resultados, produtos ou efeitos esperados...identificada
existncia ou no de empreendimentos solidrios que ofeream os mesmos
produtos/ servios que os identificados como possveis de serem
oferecidos pelo empreendimento emformao.
No quadro 6, podem ser vistas as classes gerais de
comportamentos propostas para membros deempreendimentos solidrios e
algumas das classes mais especficas que as compem,
consideradasobjetivos relevantes por pessoas que assessoram
empreendimentos solidrios para esse trabalhoeducacional.
Identificao e Descrio de Relaes Comportamentais na Economia
Solidria
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Quadro 6 - Classes de comportamentos gerais e especficas de
indivduos participantes deempreendimentos solidrios, propostas como
relevantes em funo das caractersticas da economiasolidria.
No mbito profissional...Planejar desenvolvimento do trabalho
previsto: conciliar atividades de trabalho e particulares,cumprir
compromissos assumidos com o empreendimento; avaliar trabalho em
andamento:propor critrios para avaliar o trabalho que est sendo
realizado, identificar aspectos positivose negativos em relao a
trabalho que est sendo realizado; promover mudanas necessriasno
trabalho: identificar mudanas a serem feitas; tomar decises
individualmente; investirna prpria formao nos vrios nveis
necessrios; engajar-se em atividades de aquisio denovos
conhecimentos; capacitar-se para usar equipamentos e recursos
necessrios para otrabalho.
No mbito administrativo...Participar da administrao do
empreendimento: manter-se atualizado sobre o funcionamentodo
empreendimento, participar de eleies para cargos e funes no
empreendimento, participarde situaes de tomada de deciso no
empreendimento; lidar com as dificuldades que osistema capitalista
mais amplo impe ao empreendimento.
Quanto comunicao...Promover comunicao entre cooperante: produzir
veculos de comunicao entre cooperantes(murais, jornais, etc.);
estimular o cooperante a expressar para outros a sua
idia/opinio;identificar maneiras adequadas de estimular o
cooperante a expressar sua idia/opinio;comunicar-se com outros
cooperados: comunicar-se com outro cooperante da forma maisdireta
possvel, expressar-se adequadamente; identificar caractersticas do
interlocutor, adequaros comportamentos s caractersticas do
interlocutor;
Quanto motivao para o trabalho...Promover motivao para o
trabalho: motivar a si mesmo e aos outros para trabalhar
noempreendimento, enfrentar situaes de frustrao, identificar causas
de erros e fracassos,identificar alternativas;
Quanto ao trabalho em equipe...Trabalhar de modo a considerar as
necessidades da coletividade; contribuir para o trabalho emequipe;
tomar decises em conjunto; criar oportunidades e condies para que
todos os membrosdo grupo participem dos diversos processos;
conviver com as diferenas (religiosas, raciais,socioculturais, etc.
) entre os participantes.
Foram identificados, assim, comportamentos de indivduos, na
esfera administrativa dosempreendimentos, relativos s atividades
profissionais a serem desenvolvidas no mbito doempreendimento, bem
como habilidades gerais e especficas de comunicao, de trabalho
emequipe e de motivao para o trabalho. Esses comportamentos esto,
no quadro 6, apenasindicados por meio de expresses que enfatizam a
classe de respostas em questo, e, eventualmente,os aspectos das
condies antecedentes ou subseqentes que se destaquem na relao,
estandoduas dessas classes descritas, de forma mais completa, no
quadro 7.
Ana Lucia Cortegoso PSICOLOGIA CINCIA EPROFISSO, 2007, 27 (2),
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Quadro 7 - Descries de classes de comportamentos de membros de
empreendimentos solidrios,indicadas como desejveis em funo de
caractersticas da economia solidria.
Diante de... Oportunidades de atuao no mbito do empreendimento
solidrio; Expectativas da coletividade; Expectativas individuais;
Condies disponveis para revisar expectativas, como compreenso e
compartilhamentodos ideais cooperativistas, satisfao com o grupo,
etc; Objetivos a serem atendidos com a reviso.
Rever expectativas individuais em funo das expectativas
coletivas
Com os seguintes resultados, efeitos ou produtos... clareza
quanto possibilidade de satisfao das expectativas individuais
dentro das possibilidadescriadas pelas expectativas da
coletividade; reavaliao do grau de satisfao individual com o
empreendimento como fonte de trabalhoe renda e como convivncia
social.
Diante de... Necessidade de comunicao entre membros do
empreendimento; Caractersticas dos membros do empreendimento
(escolaridade, temperamentos,disponibilidade, etc.); Objetivos a
serem atingidos com a comunicao; Recursos (materiais, humanos e
financeiros) disponveis.
Promover comunicao entre membros do empreendimento
Resultados, produtos ou efeitos esperados... comunicao feita com
rapidez, eficincia e economia entre todos os membros
doempreendimento; acesso de todos os membros do empreendimento s
informaes de interesse; aumento da probabilidade de entendimento
entre os membros do empreendimento.
No caso das classes de comportamentos de empreendimentos
solidrios e de indivduos quefazem parte desses empreendimentos, e
de forma coerente com princpios de economia solidria,como autogesto
e participao democrtica, esse processo de identificao e descrio de
relaescomportamentais que representem, da melhor forma possvel,
aquilo que constitui acordo coletivosobre o que relevante, como
parte dos fazeres que constituem os elos articulados
dametacontingncia, cujo resultado a economia solidria, dever
envolver no apenas aquelesque respondem pelo processo de assessoria
a empreendimentos solidrios, mas tambm, e talvezprincipalmente, os
participantes desses empreendimentos. Esses so os protagonistas
centraisdesse processo e os principais beneficiados, ao menos de
imediato, pelo avano da economiasolidria como forma alternativa de
organizao para o trabalho. Da mesma forma, tambm a
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participao desses indivduos na construo de referenciais para a
atuao de agncias e agentes defomento a esses empreendimentos (como
no caso de incubadoras universitrias) altamente desejvel,de modo
que sejam ampliadas a compreenso e a influncia mtua de todos os
atores sociais quepodem contribuir para que os resultados de longo
prazo sejam alcanados com a maior brevidadepossvel.Tais resultados
visam no s obteno de uma economia solidria forte, consolidada,
comnovas prticas de organizao para o trabalho, mas tambm a outras
prticas de relaes entre pessoas,e destas com seu ambiente,
diferentes daquelas produzidas pelo modo capitalista de
organizaosocial, que so implementadas. No entanto, a explicitao de
concepes daqueles que estotrabalhando, a partir de uma incubadora
universitria de cooperativas populares, para o fomento
dessesempreendimentos, constitui, no mnimo, ponto de partida
relevante para a socializao dessasconcepes, conferncia e ajuste de
conceitos no mbito da coletividade que, conjuntamente,
devergarantir os resultados finais esperados e a derivao de
propostas prticas de ao.
Nesse sentido, um outro tipo de ator social, em relao ao qual
foram identificadas classes decomportamentos desejveis, o
consumidor de produtos e servios que, por meio de suas
escolhas,pode atuar como favorecedor ou desfavorecedor da
existncia, das caractersticas e da viabilidade daeconomia solidria.
No quadro 8, pode ser vista uma descrio do comportamento consumir,
a partirde dados coletados em situaes de trabalho coletivo de um
grupo que articula consumidores, produtorese distribuidores em
favor de um consumo tico, responsvel e solidrio no processo de
definio deseus objetivos.
Quadro 8. Descrio do comportamento consumir, proposto a partir
dos objetivos formulados por umgrupo organizado, para a promoo de
consumo tico, responsvel e solidrio.
Diante de... necessidades efetivas de consumo; diferentes tipos
de produtos disponveis para consumo em relao ao potencial de
geraode resduos; produtos gerados com diferentes graus de
aproveitamento de resduos no processo deproduo e de respeito ao
homem; caractersticas dos produtores ou prestadores de servios,
quanto condio social, tipo deorganizao para o trabalho e benefcios
para os indivduos envolvidos; recursos disponveis para a obteno dos
produtos; conhecimento existente sobre as possibilidades de
aproveitamento de resduos e de reduona produo de resduos.
Prover necessidades prprias, familiares ou de grupos
Resultados, produtos ou efeitos esperados... necessidades de
consumo satisfeitas; benefcios para segmentos excludos,
preferencialmente os organizados para gerao derenda; menor gasto
possvel de recursos prprios e ambientais; ausncia de resduos ou
mnimo de resduos gerados pelo consumo; resduos inevitveis
produzidos com maior potencial de aproveitamento; uso mximo de
produtos gerados a partir do aproveitamento de outros.
Ana Lucia Cortegoso
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A descrio da classe geral do comportamentode consumidores que
aparece no quadro 8coloca em evidncia um conjunto de aspectosa que
esses indivduos necessitam estar atentos,que vo desde a existncia
de necessidadesefetivas at critrios para a escolha de bens eservios
que se referem qualidade dosprocessos produtivos, em relao ao
ambientes pessoas que deles participam, destinaode resduos oriundos
do consumo desses bense servios por esse consumidor e
aoconhecimento disponvel sobre todos essesaspectos. So indicados,
ainda, os fatores doambiente que, decorrentes da ao de consumire
como efeitos de longo prazo dessa ao,caracterizam esse consumo como
tico,responsvel e solidrio, podendo ser esperadoque tais
resultados, produtos e efeitos venhama influir na probabilidade de
manuteno dessecomportamento no futuro, de modo, inclusive,a superar
o valor das conseqncias imediatasdo consumir. Deve-se
considerar,especialmente, com muita freqncia, que taisconseqncias
imediatas apenas possam mantercomportamentos que so, a longo prazo,
danosospara a prpria vida, o que muito evidentecomo resultado de
padres de consumoestimulados pela sociedade de
naturezacapitalista.
A descrio de comportamentos humanos ouorganizacionais como
relaes entre o que fazum organismo e o ambiente em que a aoocorre
corresponde a uma estratgia, entreoutras possveis, para a
operacionalizao deprincpios que constituem referencial para todosos
indivduos e organizaes que secomprometem com a economia solidria.
Essaestratgia apresenta, como benefciosimportantes, a possibilidade
de construocoletiva, a objetividade que torna possvel avaliaros
impactos efetivamente alcanados com aapresentao dessas classes
decomportamentos para os resultados pretendidose, talvez
fundamentalmente, avaliar a crescentevisibilidade sobre o papel do
fazer humano,individual e coletivo, para a produo dasmudanas
necessrias destinadas construode uma sociedade mais justa e
equilibrada, ecompreender que essa sociedade que se deseja
mudar, por no atender s necessidades, mesmobsicas, de grande
parte da humanidade ,tambm ela, resultado de condutas humanasde
muitas geraes, mantidas por nossa prpriaconduta ao decidir que
conhecimento produzire a quem torn-lo acessvel.
As descries de classes de comportamentosde alguns dos tipos de
atores da economiasolidria aqui apresentadas tm representadoavano
considervel na compreenso do papelde cada um desses atores, ao
menos no mbitode uma equipe de trabalho que atua em umaincubadora
universitria de empreendimentossolidrios. O processo de construo
dessasdescries, baseado na obteno deinformaes, tornadas disponveis
em diferentestipos de situaes que fazem parte da rotina dogrupo e
outras eventualmente coletadas emsituaes especiais, na sua
sistematizao e noexame, pelo grupo, dos produtos
dessassistematizaes, tem permitido tornar pblicasconcepes e
perspectivas diversas, por vezescontraditrias, em outras,
complementares, emrelao ao trabalho coletivo. Tem
possibilitado,ainda, um crescente reconhecimento de que aeconomia
solidria e ser um produto daquiloque indivduos e organizaes forem
capazesde produzir, por meio de sua interao com ocontexto mais
prximo e mais abrangente. Aidentificao e a descrio de classes
decomportamentos prprias dos diferentes atoresque participam de um
fenmeno social como aeconomia solidria, tendo como referencial anoo
de comportamento como relaodinmica do que um organismo faz com
ocontexto e com os produtos que gera ou soesperados de suas aes, tm
se mostrado umaferramenta relevante para a compreenso e oavano
desse processo, particularmente pelanatureza dinmica dessa
representao.Evidentemente, a compreenso e o avanodesse campo no
dependem apenas desse tipode conhecimento, e sua complexidade
erelevncia justificam esforos mltiplos, demuitas reas de
conhecimento e pesquisadores,de muitos campos de atuao profissional
e deprofissionais, e, de forma coerente com aeconomia solidria, de
muitos pontos de vistaprticos e tericos.
Identificao e Descrio de Relaes Comportamentais na Economia
Solidria
PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265
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A descrio decomportamentos
humanos ouorganizacionaiscomo relaes
entre o que faz umorganismo e o
ambiente em quea ao ocorrecorresponde a
uma estratgia,entre outras
possveis, para aoperacionalizao
de princpios queconstituem
referencial paratodos os indivduos
e organizaesque se
comprometemcom a economia
solidria.
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Ana Lucia Cortegoso Universidade Federal de So Carlos,
Departamento de
Psicologia/ Incubadora Regional de Cooperativas Populares Rua
Antonio Fiorentino, 58 Jardim Ricetti So Carlos SP CEP
13570-020
E-mail: [email protected].: (16) 3368-1529; celular:
9174-1593; UFSCar: 3351-8361
Recebido 06/03/06 Reformulado 26/06/06 Aprovado 26/07/06
Ana Lucia Cortegoso
Referncias
265PSICOLOGIA CINCIA EPROFISSO, 2007, 27 (2), 246-265