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MIDAS3 (2014)Variae dossier temtico: "Museos y participacin
biogrfica"
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Elisa Noronha Nascimento
A musealizao da artecontempornea como um processodiscursivo e
reflexivo de reinveno
domuseu................................................................................................................................................................................................................................................................................................
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Referncia eletrnicaElisa Noronha Nascimento, A musealizao da
arte contempornea como um processo discursivo e reflexivo
dereinveno do museu, MIDAS [Online], 3|2014, posto online no dia 09
Junho 2014, consultado no dia 16 Junho2015. URL:
http://midas.revues.org/563; DOI: 10.4000/midas.563
Editor: Alice Semedo, Raquel Henriques da Silva, Paulo Simes
Rodrigues, Pedro
Casaleirohttp://midas.revues.orghttp://www.revues.org
Documento acessvel online
em:http://midas.revues.org/563Documento gerado automaticamente no
dia 16 Junho 2015. Revistas MIDAS
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
reflexivo de reinven (...) 2
MIDAS, 3 | 2014
Elisa Noronha Nascimento
A musealizao da arte contemporneacomo um processo discursivo e
reflexivode reinveno do museuIntroduo
1 Marcado por um conjunto de circunstncias que assinalam as
ltimas cinco dcadas domundo dos museus, este estudo1 considera a
dcada de 1960 como um divisor de guasna vida destas instituies.2 No
somente pelos desafios suscitados pelas novas realidadespolticas,
governamentais, sociais, artsticas e culturais que se consolidaram
a partir de ento,como tambm por uma crescente atitude crtica do
museu sobre si mesmo, por um crescente(auto)questionamento sobre
seus limites, papis, pblicos e objetos; o que contribuiu paragerar
uma certa crise de identidade e esquizofrenia, evidenciadas pela
dificuldade que osmuseus apresentavam (e, em muitos casos, ainda
apresentam) ao tentarem resolver os seusproblemas de definio e funo
(Cameron 1971). E nesta mesma dcada, mais precisamenteno inverno de
1969, Christo (n. 1935) e Jeanne-Claude (1935-2009) empacotaram o
Museumof Contemporary Art de Chicago3. A imagem de um museu de arte
contempornea empacotadotornou-se emblemtica do desafio assumido por
este estudo: um questionamento contnuosobre o que define e
especifica um museu de arte contempornea e sobre como seria
possvelabord-lo na sua dinmica processual de (auto)afirmao e
reinveno institucional.
Fig. 1 foto: Shunk-Kender Roy Lichtenstein Foundation
2 E entre as diferentes dinmicas performadas pelo museu de arte
contempornea e queconstituem a sua identidade, optou-se por
desenvolver o estudo centrando-se nos modos comoestas instituies se
afirmam e se reinventam atravs do comprometimento que
estabelecemcom o seu prprio objeto, i. e., com a arte contempornea.
Ou seja, como estas instituiescontextualizam paradigmas e funes que
as justificam e as fundamentam ao musealizarema arte contempornea?
Como cada museu se define historicamente enquanto museu de
artecontempornea? Como se enquadra nesta tipologia de museu? Quais
so seus modelosreferenciais de museus e de prticas? Qual o perodo
abrangido pelas suas colees? Como assuas colees so expostas? Que
conceitos ou pressupostos definem as caractersticas dos seus
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
reflexivo de reinven (...) 3
MIDAS, 3 | 2014
espaos arquitetnicos e expositivos? Como definem a arte
contempornea e os seus critriosde catalogao e documentao? Como os
artistas so envolvidos e participam em todo esteprocesso?
3 Assume-se, portanto, a musealizao como o meio de atuao e
reinveno do museu;assume-se que atravs das negociaes, escolhas e
decises implcitas s interpretaese representaes consequentes ao ato
de colecionar, conservar, expor, comunicar e tornaracessveis os
seus objetos o museu constri, questiona e afirma sua identidade. A
musealizao analisada, assim, como um processo discursivo, o que
envolve a reiterao de normas, deconvenes, de prticas significativas
historicamente e culturalmente localizadas mas tambmcom um processo
reflexivo, o que envolve agncia e disrupo crtica no fluxo do
pensamento eda ao. A partir desta perspetiva, para alm de ser uma
instituio que realiza a musealizao,ao transformar objetos em
testemunhos autnticos de uma determinada realidade, o museu ele
prprio realizado ou performado pela articulao dos diferentes
elementos que constituemeste processo: os seus espaos fsicos,
objetos, prticas, agentes, conceitos, determinaes,objetivos,
valores. Neste sentido, a questo que aqui se coloca : como os
museus de artecontempornea so performados atravs do comprometimento
que estabelecem com o seuprprio objeto, i. e., com a arte
contempornea?
4 Porm, apesar deste estudo se centrar nos modos como os museus
se afirmam e se reinventamao musealizarem a arte contempornea, no
se pressupe aqui que a sua identidade estejaapenas relacionada com
os tipos de relaes que estabelecem com os seus objetos
crtica,discursiva, reflexiva, ritualista e nem que estas sejam as
nicas relaes estabelecidas. Pelocontrrio, assume-se que a sua
reinveno situa-se, principalmente, na realizao de umapoltica de
conversao cultural entre muitos participantes e atravs da promoo de
espaospara onde confluem uma srie de dilemas, contradies e tenses
em relao aos processos deseleo e produo de conhecimento (Padr
2003). O que se prope que a musealizao daarte contempornea se
constitui como um destes espaos.
Contextos5 O marco contextual deste estudo a convergncia de trs
fenmenos que assinalam as ltimas
cinco dcadas do mundo dos museus: o que pode ser definido como a
reinveno do museu;o boom de museus de arte contempornea; e a prpria
arte contempornea. Ou seja, so asreflexes e as problemticas que
surgem do encontro entre esses trs contextos que constituemo pano
de fundo da investigao e a animam.
6 A reinveno do museu diz respeito s adaptaes, s respostas, s
solues do museufrente s exigncias de uma nova realidade poltica,
social e cultural ps-moderna,lquida, tardia ou radicalizada: tensa
e contraditria, composta por ritmos espcio-temporaisdesiguais
(Lopes 2000, 342). Frente a essa nova realidade, os museus mudaram
rapidamentee radicalmente e so constantemente desafiados a
justificar a sua existncia, a desenvolvernovas prticas, a
reimaginar o seu futuro. Segundo Hooper-Greenhill (2001), duas
questesorientam fundamentalmente esse processo e projetam a
identidade de um ps-museu ou deum museu lquido, tardio ou
radicalizado. A primeira diz respeito s narrativas e s vozes,ou o
que dito e quem diz; a segunda diz respeito compreenso, interpretao
e construo de significados, ou quem ouve. Por outras palavras, tal
processo orientado pelareconceptualizao da relao entre o museu e o
seu pblico, na qual a reflexo sobre os modosde construo do
conhecimento apresenta-se como um aspeto vital. A identidade do
museuprojeta-se, assim, com a poltica cultural em que est engajado,
o que implica em possibilidadede agenda, de ao, de exame crtico do
seu patrimnio e em procura por novas formas deadaptar as suas
prticas de longa data s novas circunstncias. Entende-se, portanto,
que areinveno do museu um processo variado e anacrnico ou que
existe enquanto potnciaprpria de nossa poca, sendo parte essencial
dessa reinveno as diversas sensibilidadessociais e culturais que se
do no mundo. Isso implica que os museus reinventam-se
seguindoobjetivos e prticas distintas, definidos atravs de uma
maior participao e protagonismo deseus interlocutores, nos seus
contextos de interao.
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
reflexivo de reinven (...) 4
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7 O boom de museus de arte contempornea entendido,
primeiramente, como manifestaodaquilo que Fyfe denominou the museum
phenomenon, i. e., o extraordinrio crescimentodo nmero e da
variedade de museus em todo o mundo, vinculado s transformaes
daseconomias regionais, ao desenvolvimento de uma sociedade de
consumidores e violaodos limites estabelecidos entre cultura
cultivada e cultura popular (2006, 40); motivaes oupreocupaes estas
que conduziram, por um lado, proliferao de museus de
vizinhana,muitas vezes concentrados na cultura da vida quotidiana e
no patrimnio local e, por outrolado, proliferao de museus superstar
relacionados com a construo ou representao deidentidades e aqui se
refere s cidades e os seus incentivos promoo e competio globalpor
prestgio e por uma parcela do mercado do turismo cultural mas tambm
com questesdo espetculo, do trfego global em smbolos, do fluxo de
capital (Macdonald 2006, 5).
8 Ao mesmo tempo, o museum phenomenon foi acompanhado por
transformaes sociais nemsempre positivas e, consequentemente, por
reformas polticas e econmicas que visaramrecuperar e promover a
confiana social, a cooperao e o bem-estar comunitrio. Frente atal
situao e em muitos pases os museus foram reconhecidos
governamentalmente comoferramentas eficazes para a reduo da excluso
social, para a melhoria da autoestima dosindivduos, contribuindo
para a sade da sociedade. E se, por um lado, este
reconhecimentopode ser percebido como uma oportunidade para o
desenvolvimento de novas competncias,por outro, o envolvimento do
museu com uma agenda poltica mais alargada significou muitasvezes a
redefinio de suas prioridades, a justificao do seu valor e sua
existncia em termosdos objetivos especificados pelos organismos de
financiamento governamentais4 (Scott 2003,2007, 2009).
9 Por conseguinte, o boom de museus de arte contempornea diz
respeito, para alm doextraordinrio crescimento do nmero de
instituies dessa natureza, presena de taisinstituies em cidades de
qualquer tamanho, deixando de serem privilgios apenas dasgrandes
metrpoles (Lorente 2008). Diz respeito a um certo valor
utilitarista que considera osmuseus de arte contempornea peas
motoras dos projetos urbansticos de reabilitao dereas histricas ou
degradadas, atribuindo a tais instituies a capacidade de
reestruturaodo tecido urbano, socioeconmico e simblico; e que as
torna, por um lado, excelentesinstrumentos para a projeo de uma
imagem monumental e expressiva do poder das cidadese seus
governantes (Layuno Rosas 2008, 9) e, por outro, objetos de intenso
escrutnio:acadmico, empresarial, governamental, jornalstico (Prior
2002).
10 O terceiro contexto ou fenmeno evocado a prpria arte
contempornea, e maisespecificamente, a problemtica de definio que a
acompanha. Apesar de ser uma expressoque se impe sobretudo a partir
dos anos de 1980 (Millet 1997), a categoria arte contemporneano
nova, e pode-se dizer que durante muito tempo referiu-se
simplesmente artemoderna que se est fazendo agora ou a arte
produzida por nossos contemporneos, i. e.,o contemporneo no seu
sentido mais evidente (Danto 1999). No entanto, a partir dos anosde
1950 comea a emergir uma distino entre o moderno e o contemporneo
e, assim comoo moderno foi definido como algo mais que um conceito
temporal e a designar no apenasuma arte mais recente, adquirindo um
significado estilstico, uma noo de estratgia, estiloe ao (30), o
contemporneo passou a designar algo mais que a arte do momento
presente,a arte contempornea passou a significar arte produzida com
uma determinada estrutura deproduo nunca vista antes, [...], em
toda a histria da arte (32).
11 Segundo Millet (1997), tal necessidade de distino emerge
primeiramente no mundo dosmuseus quando os conservadores foram
confrontados com um problema muito concreto:quando aqueles que
pertenciam s instituies mais importantes, j largamente providas
deobras do incio do sculo XX e cujas colees continuaram a ser
enriquecidas, tiveram deapreender a classificao dessas colees; e
quando aqueles que contribuam para o arranquede novas instituies
inteiramente dedicadas arte contempornea, tiveram que definir o
seucampo de competncia relativamente a museus que seguiam a evoluo
da arte moderna. Paraambos, a questo a ser respondida era: Onde
termina a arte moderna e onde comea a artecontempornea? (15).
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
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12 No final da dcada de 1990, Millet (1997) realizou um inqurito
com a finalidade de percebercomo esta questo vinha sendo respondida
e sobretudo investigar do que se falava quando sefalava de arte
contempornea. Uma das concluses a que chegou foi que para a maioria
dasinstituies interrogadas a rutura entre a arte moderna e
contempornea acontece em torno dosanos de 1960, quando se impuseram
a pop art, o novo realismo, a op art e a arte cintica, aminimal art
e o color-field painting, os happenings, a arte conceitual, a arte
povera, a landart, a body art, o support-surface e outras inmeras
formas de arte e processos que recorrerama todo tipo de material,
ao prprio corpo do artista, participao do pblico. Contudo, aideia
dominante surgida com o inqurito foi que a arte contempornea, ou
melhor, a arte queos conservadores dos museus designavam como
contempornea era definida no tanto emtermos temporais ou estticos e
sim em termos materiais; mais precisamente a arte que,pela natureza
de seus materiais e processos, os obriga a modificar profundamente
o seu papelou seu modo de trabalho (Millet 1997, 17).
13 Doze anos aps a publicao do resultado do inqurito realizado
por Millet, os editores darevista eletrnica e-flux, confrontados
com a dificuldade em estruturar o ndice de um wikisobre arte
contempornea, convidaram crticos, curadores, artistas de vrias
partes do mundoa refletir e a responder a partir de suas prprias
experincias profissionais questo o que arte contempornea? (Aranda
et al. 2009, 2010). O panorama introdutrio traado peloseditores
sobre o estado da discusso de tal questo reflete a complexidade e
um certo paradoxoque a subjaz: se, por um lado, a hesitao inicial
em desenvolver qualquer tipo de estratgiaabrangente para a
compreenso da arte contempornea foi compreensvel e justificvel
dadoque a mesma se encontrava em sua fase emergente, por outro
lado, o trabalho desenvolvidoat ento pelos museus, pela academia e
pelo mercado de arte formou um contexto concretopara a produo
artstica com parmetros que so de certa forma assumidos como
adquiridos,mas que no so declarados como tal.
14 No mesmo ano de publicao das primeiras respostas pela e-flux,
a edio de outono da revistaOctober apresentava o resultado de um
outro inqurito sobre a contemporaneidade da arte,realizado desta
vez por Foster, atravs de um questionrio enviado para
aproximadamente 70artistas, crticos e curadores dos Estados Unidos
da Amrica e da Europa. De certa maneira,as questes propostas por
Foster tinham como fundamento a mesma situao paradoxalpontuada pela
e-flux: por um lado, a sensao de que a prtica artstica atual flutua
livrede determinao histrica, de definio conceitual e juzo crtico e,
por outro lado, atransformao da arte contempornea em um objeto
institucional em si, com investigadorese programas acadmicos
dedicados ao seu estudo, assim como, museus e outras
instituiesmundiais (2009, 3). No entanto, as questes formuladas por
Foster incitaram no apenas orelativismo implcito constatao da
pluralidade de momentos e da diversidade de prticasque caracterizam
a contemporaneidade da arte mas, principalmente, um
posicionamentoreflexivo em relao maneira como a arte contempornea
vem sendo apresentada, estudada,discutida pelos historiadores da
arte, pelos crticos, pelos museus.
15 Neste mbito, observa-se que as investigaes desenvolvidas por
Millet, pela revista e-flux e por Foster trazem tona, para alm da
diversidade de intenes e realizaes daarte contempornea, a
impossibilidade de captur-la numa nica dimenso, seja
esttica,social, cultural, histrica, econmica ou poltica. De tal
modo que, segundo Smith (2006),por mais de duas dcadas no se
articulou qualquer generalizao de sucesso sobre aarte contempornea.
No entanto, pode-se dizer que duas grandes definies ou
tendnciasdespontaram nos principais centros mundiais de distribuio
de arte: a arte contemporneacomo o novo moderno e a arte
contempornea como trnsito entre culturas (Smith 2006). Aarte
contempornea como o novo moderno diz respeito sua forma mais
institucionalizada ea uma certa globalizao esttica, i. e., a arte
contempornea como um movimento artstico estilos e prticas , como a
ltima fase da histria da arte moderna na Europa, nos EstadosUnidos
da Amrica e nas suas colnias culturais, como a continuao da
linhagemmodernista e, consequentemente, a sua renovao ativa, como o
elevado estilo cultural deseu tempo (688). Por sua vez, a arte
contempornea como trnsito entre culturas diz respeito arte que
emerge ideologicamente no cruzamento dialtico com a cultura de um
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
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ps-colonial, ps-guerra fria, ps-ideolgico, transnacional,
desterritorializado, diasprico,global (Smith 2006, 693); cruzamento
este estabelecido materialmente e simbolicamente,atravs de
procedimentos de traduo, interpretao, subvero, hibridao,
crioulizao,deslocamento e remontagem (694).
16 De acordo com Smith (2006, 2009a, 2009b), uma terceira
resposta seria possvel ainda: aarte contempornea como a arte da
contemporaneidade o que diz respeito s preocupaes eestratgias de
uma gerao de artistas herdeiros dos xitos e deficincias das
disputas polticasdas dcadas de 1960 e 1970 do anticolonialismo ao
feminismo , interessados por elementosque caracterizam as duas
primeiras tendncias, porm, menos atenciosos s suas
respetivasestruturas de poder, de desvanecimento e estilos de luta.
Diz respeito a uma gerao deartistas mais preocupados com as
potencialidades interativas dos diversos meios e materiais,com a
compreenso da natureza mutvel do tempo, do lugar, dos meios de
comunicao, edo humor do presente, e que procuram fluxos sustentveis
de sobrevivncia, cooperao ecrescimento num mundo complexo e
antagnico (Smith 2009b, 8). Diz respeito a uma artemais pessoal, de
menor escala e modesta, em contraste com a escala monumental e
espetacularque caracteriza a arte contempornea como o novo moderno,
e em contraste com o testemunhoconflituoso que continua a ser o
objetivo da maioria da arte como trnsito entre culturas
(Smith2009a).
17 Apreendidas em conjunto, essas trs respostas ou tendncias
caracterizariam a artecontempornea do final do sculo XX e incio do
sculo XXI. E a particularidade das mesmasest, segundo Smith
(2009b), no facto de abarcarem no apenas a prpria obra de arte
mas,tambm, de se constiturem como uma interrogao dentro da prpria
ontologia do presenteao questionarem o que isso de existir em
condies de contemporaneidade? (2009a, 54).Enfim, a questo de maior
relevncia nessa discusso o reconhecimento de que houve apartir da
segunda metade do sculo XX uma mudana significativa nos modos de
produo,interpretao e distribuio da arte em todo o mundo. No
entanto, esta mudana tem ocorridode maneiras distintas em cada
regio, nao ou cidade, dependendo sobretudo do histricoartstico, da
cultura e poltica local, o que vem exigindo uma grande variedade de
abordagenscrticas, atentas aos limites e potencialidades de cada
contexto e s conexes possveis entrea arte de lugares distintos e
distantes (Smith 2010).
Do que se fala quando se fala em musealizao?18 Neste estudo so
desenvolvidas trs consideraes sobre a musealizao, cada uma
priorizando
perspetivas distintas, porm, no excludentes entre si e que
fundamentam o entendimentoda musealizao como um meio de
(auto)afirmao e reinveno do museu. Sendo assim,no se pretende
definir um conceito objetivo de musealizao e sim refletir sobre
questesou princpios que a caracterizam como um processo cultural,
construtor de significadose de representaes; mas, sobretudo, que a
caracterizam como um espao e momento deenvolvimento crtico do
museu, o que envolve discursos e reflexividade.
19 Ao falar de musealizao, fala-se, portanto, de um processo
cultural produtor de significadospartilhados, o que diz respeito a
sensibilidades e desejos presentes, ou seja, da musealizaono apenas
como um processo de construo e preservao de um passado os seus
objetos,os factos, as circunstncias mas tambm como um processo de
construo e preservao deum presente com os seus critrios e os seus
valores , da relao que temos hoje com ascoisas que atualmente
acreditamos nos constituir enquanto seres humanos, indivduos
sociais,histricos e culturais. Neste sentido, um estudo sobre o
processo de musealizao pode revelarmuito mais sobre o presente
conhecido e prximo do que sobre o passado estranho e longnquo.
20 Fala-se de contexto museolgico e dos efeitos e registos que o
particulariza e o especfica.Neste sentido, o estudo sobre o
processo de musealizao desenvolve-se no horizonte dosseus
resultados, na perspetiva das suas consequncias. Entre estas
consequncias, os efeitosprprios descontextualizao (fsica e/ou
conceitual) dos objetos, por exemplo, a suaalienao ou secularizao e
resignificao (Mensch 1992); o modo de ver especfico sob oqual os
objetos so expostos no museu, o qual Alpers (1991) identifica como
museum effect;e nos museus de arte, uma ateno especfica, uma
metamorfose do olhar que liberta da sua
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
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funo as obras de arte (Malraux 1965). Por outro lado, ainda
circunscrito aos museus de arte,efeitos prprios transformao do
museu no contexto primrio da arte, repleto de obras queassumem seus
efeitos, suas condies de visualizao e de propriedade como um
pressupostosubjacente (Buskirk 2012, 5). A discusso sobre os
efeitos da musealizao toma ainda outroscontornos quando a
descontextualizao e mais especificamente a recontextualizao de
umobjeto no museu convertida em elemento chave da obra de arte. E
aqui o readymade torna-se paradigmtico, abrindo, de uma certa
maneira, a possibilidade para que o museu se torneum princpio
inerente prpria obra de arte um campo disponvel para uma
reordenaoconstante e, em certo sentido, causa, efeito e encarnao
das atitudes e prticas que definemo momento ps-histrico da arte
(Danto 1999, 28).
21 Por fim, fala-se sobretudo sobre envolvimento crtico e
agncia, de discursos (Foucault 2000,2005) e reflexividade (Giddens
1991, 2000) construdos medida que o museu dialoga comaes,
proposies, agentes que tensionam e revisam as prticas e os
pressupostos que osjustificam e fundamentam; situando-se neste
extremo do dilogo o seu prprio objeto, i. e.,a arte contempornea,
ao desafi-lo a desenvolver novas formas de expor, de colecionar,
deconservar, a criar novos conceitos e categorias, a estabelecer
outro tipo de mediaes, decontato com o seu pblico e com outras
instituies, enfim, ao desafiar o museu a confrontar-se com os seus
prprios discursos e representaes.
22 Crimp (2005) discorre, por exemplo, sobre como as obras de
Robert Rauschenberg(1925-2008), do incio da dcada de 1960, ameaavam
a ordem do discurso do museu pelaintroduo da fotografia na
superfcie pictrica; ao esta que significava a extino de ummodo
tradicional de produo e que questionava as pretenses de
autenticidade sob as quaiso museu determinava o seu conjunto de
objetos e o seu campo de conhecimento. Segundoo autor, quando os
agentes determinantes de uma rea do discurso comeam a ruir,
abre-separa o conhecimento toda uma gama de novas possibilidades,
as quais no poderiam ter sidovislumbradas do lado de dentro do
antigo campo (122). Crimp refere-se runa da modernaepistemologia da
arte5 e, consequentemente, da coerncia epistemolgica do museu
quando omesmo permitiu que a fotografia entrasse em seus espaos,
porm, no sendo o museu capazde explicar atravs do seu sistema
discursivo as novas atividades estticas que surgiram como seu
desmoronamento.
23 Por outro lado, a partir da dcada de 1960 e mais
sistematicamente a partir da dcada de 1980,muitos museus comearam a
desenvolver estratgias crticas e reflexivas de envolvimentoatravs
do dilogo estabelecido com os prprios artistas que, por via de
diferentes propostas,questionam os sistemas estabelecidos de poder
atrelados s prticas museolgicas, denunciamos sistemas rgidos de
interpretao, revelam a existncia de narrativas mltiplas,
desafiandoa histria das instituies (Putnam 2001). Refira-se, neste
contexto, a abertura do museu aosartistas associados crtica
institucional. Identificada inicialmente como a prtica
artsticapolitizada dos finais dos anos 60 e comeo dos anos 70
(Ramsden 1975), e manifestando-se demuitas formas a partir de ento
obras e intervenes artsticas, escritos crticos ou ativismoartstico
poltico a crtica institucional definida de uma maneira geral como
uma crticaexercida por artistas e dirigida contra s instituies
artsticas principalmente o museu dearte , contra as suas funes
sociais, ideolgicas e de representao (Alberro 2009). Todavia,Fraser
observa que apesar de realmente agitar e corroer os alicerces do
museu, provocandosignificativas transformaes, a crtica
institucional:
No uma questo de ser contra a instituio: Ns somos a instituio.
uma questo de quetipo de instituio que somos, que tipo de valores
institucionalizamos, que formas de prticasremuneramos, e a que
tipos de recompensas aspiramos. Por ser a instituio da arte
internalizada,incorporada, e representada por indivduos, estas so
as questes que a crtica institucionaldemanda que perguntemos,
sobretudo, a ns mesmos. (Fraser 2005, 283)
24 Torna-se quase automtico considerarmos positivo o
envolvimento crtico e reflexivo domuseu. Ainda mais tendo em conta
que a reflexividade est imediatamente relacionadacom a difuso
extensiva das instituies modernas, universalizadas por meio dos
processosde globalizao6. Neste contexto, um museu reflexivo em
sintonia com a sensibilidadelocal o que realmente se espera. Por
outro lado, a questo que se coloca : ser que os
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
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museus esto realmente preparados e dispostos a enfrentar as
perturbaes e as instabilidadesimplcitas reflexividade? A abertura
experimental ou a democracia dialgica pressupe, porexemplo, a
redefinio de papis e o tensionamento das relaes de confiana,
autoridade eresponsabilidade entre os agentes responsveis pela
produo de conhecimento; conhecimentoeste em relao ao qual as
prticas museolgicas so organizadas e que num processoativo,
circular e dialgico no se apresenta apenas como resultado da
perceo, aprendizadoe raciocnio, mas tambm e principalmente como o
processo da perceo, aprendizado eraciocnio com a produo de um
resultado especfico (Whitehead 2009). E um resultadopossvel desse
processo, enquanto potncia, a reinveno do prprio museu.
Estratgia metodolgica25 Embora este estudo tenha dialogado com
distintas reas de conhecimento como os estudos
artsticos e os estudos culturais, a sua realizao d-se no campo
discursivo da museologia,assumindo o pensamento crtico museolgico
como perspetiva orientadora, como programa deentendimento da
realidade museal. E, de uma certa maneira, est identificado com os
estudosque orbitam a museologia crtica (Shelton 2001, 2006), na
medida em que se caracteriza comouma tentativa de abarcamento de
tal realidade com o propsito de analisar e supervisionar
todasaquelas aderncias que, com o passar do tempo, impedem o seu
crescimento e revitalizao(Hernndez 2006), desde uma postura
interdisciplinar, circunstancial, poltica, reflexiva eemancipadora
(Padr 2003). Assim sendo, procurou-se construir um entendimento
sobreos museus de arte contempornea centrado nos movimentos de
atualizao, adeso, rutura,afirmao, reorientao de discursos e prticas
institucionais.
26 Assente na metodologia dos estudos de caso, a investigao
deu-se em dois momentosdistintos e sucessivos. Inicialmente,
desenvolveu-se de maneira exploratria e heurstica,visando
desenvolver um quadro de discusso para a anlise dos casos7. Atravs
de umareviso da literatura sobre museus de arte contempornea,
procurou-se identificar discusses,paradigmas, questes, que, uma vez
articulados pudessem fundamentar ou operar como umaabordagem ou
entendimento de tais instituies. Sem a pretenso de identificar uma
totalidadede discursos, definiram-se sistematicamente quatro
problemticas que estariam na base dosprocessos e estudos dos museus
de arte contempornea (quadro 1). Estas problemticasorientaram o
primeiro contato com cada um dos casos, funcionando como linhas ou
domniosde investigao.Quadro 1: Problemticas que estariam na base da
prtica e do estudo dos museus de artecontempornea
1. o museu de arte contempornea e a sua histria: a origem
histrico-objetiva do museu de arte contempornea,apresentada como
exemplo e resultado de um processo de consecutiva especializao e
fragmentao que atingiuos museus a partir do sculo XIX, como
consequente subdiviso do museu de arte e complementar ao museude
arte antiga; a utilizao do termo contemporneo como maneira de
definir a especializao de um museu; osvalores e as funes
subjacentes sua consolidao ao longo dos seus quase 200 anos de
existncia; os modelosparadigmticos; as novas perspetivas, papis,
agentes e desafios que surgem a partir das ltimas dcadas do
sculoXX;
2. o museu de arte contempornea e a sua dimenso
espacial/arquitetnica: os modelos arquitetnicos referenciais;o
museu de arte contempornea como espao de encenao espetacular; o seu
protagonismo nos projetos dereabilitao urbanstica e na projeo do
poder (econmico, cultural, turstico) das cidades e dos seus
governantes;
3. o museu de arte contempornea e as suas poticas e polticas
museolgicas: as narrativas e os discursosexpositivos; o dilema
entre exposio permanente vs. exposies temporrias; a reviso histrica
dos modos deexpor a arte contempornea; o museu como espao de
experimentao, interpretao, entretenimento e produode conhecimento;
o museu e os seus agentes i. e., os seus pblicos, profissionais,
parceiros, mecenas e patronos; asagendas curatoriais e de pesquisa;
as polticas de gesto das colees; os desafios e as estratgias de
conservaoda arte contempornea;
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
reflexivo de reinven (...) 9
MIDAS, 3 | 2014
4. o museu de arte contempornea e o artista: a crtica
institucional; o envolvimento dos artistas na criao deestruturas
institucionais; os dilogos entre o artista, o museu e o pblico.
27 Este primeiro contato foi realizado, atravs de uma reviso da
bibliografia sobre os casos e deuma leitura exploratria dos seus
registos de prticas e processos. O objetivo foi perceber quaisdas
quatro problemticas definidas eram compartilhadas e referidas pelos
relatos e estudossobre o processo de formao institucional dos trs
museus estudados e, por conseguinte,definir quais seriam assumidas
como contextos ou esferas de discusso na anlise do processode
construo da identidade de cada museu.
28 A partir deste confronto foi possvel redefinir o quadro de
discusso para que o mesmorespeitasse a integridade e as
particularidades de cada caso, e permitisse, ao mesmo
tempo,estabelecer comparaes entre eles. Este quadro passou a ser
constitudo por trs esferas dediscusso (quadro 2) que orientaram a
recolha e anlise dos dados no segundo momento dainvestigao.Quadro
2: Trs esferas de discusso para a anlise dos estudos de caso
1. museu de arte contempornea: modelos paradigmticos e casos
inspiradores, i. e., a consolidao do museu dearte contempornea,
atravs da reproduo ou emulao de paradigmas institucionais;
2. museu de arte contempornea em suspenso, i. e., o museu de
arte contempornea entendido como umatipologia de museu que
coleciona, conserva e expe a arte contempornea e que tensionado e
problematizadopelas caractersticas materiais e conceituais do seu
prprio objeto;
3. dilogos entre o museu e o artista, i. e., as estratgias de
envolvimento crtico e reflexivo que surgem da relaoentre o museu de
arte contempornea e o artista.
29 Assumindo durante o desenvolvimento dos estudos de caso
contornos essencialmentequalitativos, esta segunda fase da
investigao objetivou perceber como cada um dostrs museus
selecionados contextualizavam essas trs esferas de discusso. Para
tanto,desenvolveu-se uma estratgia metodolgica hbrida8, utilizando
a triangulao entre mtodos(Denzin e Lincoln 2005) para a recolha de
dados e uma abordagem discursivo-interpretativapara a anlise dos
dados.
Algumas consideraes finais30 Partindo de questes que surgem do
encontro entre trs fenmenos que assinalam as ltimas
cinco dcadas do mundo dos museus, nomeadamente a reinveno do
museu, o boom demuseus de arte contempornea e a prpria arte
contempornea, este estudo procurou construirum entendimento sobre
os museus de arte contempornea, analisando os modos como osmesmos
se organizam e se identificam como instituies desta natureza ao
colecionarem,conservarem, exporem, tornarem acessvel e inteligvel o
seu objeto. Por outras palavras,procurou-se explorar e analisar
como os museus de arte contempornea contextualizamos paradigmas, as
funes que os justificam e os fundamentam ao musealizarem a
artecontempornea e quais so as transformaes por eles sofridas ao
longo deste processo. Nestesentido, a musealizao da arte
contempornea foi abordada como um processo discursivo ereflexivo de
afirmao e de reinveno dos museus.
31 Durante este estudo foi possvel perceber que os modos como os
museus estudados seorganizam e se identificam no dizem respeito
apenas afirmao ou reviso de discursos queos fundamentam como museus
de arte contempornea e que foram aqui sistematizados emtrs esferas
de anlise. Dizem respeito principalmente aos modos como se
relacionam com osseus prprios contextos histricos, polticos,
artsticos, culturais; e que, portanto, a anlise daconstituio e a
reinveno de sua identidade teria que ser considerada, sobretudo em
relao aestes contextos. E que, apesar deste estudo se centrar nos
modos como os museus estudados se
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
reflexivo de reinven (...) 10
MIDAS, 3 | 2014
organizam, se identificam e se reinventam ao musealizarem a arte
contempornea, de se centrarprincipalmente na anlise e na
interpretao dos seus discursos e de orientar a apreciaodos seus
discursos por apenas trs esferas de discusso, considera-se que todo
este processode organizao, identificao e reinveno do museu
constitudo por uma rede muito maiscomplexa de agentes, de
negociaes, de tenses e de dilemas.
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Notas
1 Este artigo resulta da investigao realizada no mbito do
doutoramento em museologia realizado naFaculdade de Letras da
Universidade do Porto, sob a orientao da professora doutora Alice
Semedo,com o ttulo: Discursos e Reflexividade: Um Estudo Sobre a
Musealizao da Arte Contempornea.2 Faz-se aqui uma aproximao ao
conceito the artworld de Danto (1964), referindo-se assim histriado
museu, ao pensamento ou teoria museolgica e importncia de ambos
para o estudo e compreensodo museu enquanto tal.3 Para isso os
artistas utilizaram 930 metros quadrados de uma pesada lona
castanho-esverdeada e 1 219metros de corda de Manila.4 Scott (2009)
cita, por exemplo, as reformas econmicas e estruturais propostas
pela Organisation forEconomic Cooperation and Development (OECD)
tendo como objetivo a modernizao governamental,o que exige uma
maior responsabilidade na utilizao das verbas pblicas pelos rgos do
setor pblico
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
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ou pelos rgos financiados pelos governos; responsabilidade esta
medida atravs de indicadores deeficincia econmica e eficcia na
produo de resultados que cumpram com objetivos econmicos esociais
gerais.5 Onde a arte apresentada como autnoma, alienada, algo
parte, submetendo-se apenas prpriahistria e dinmicas internas
(Crimp 2005, 14).6 No entanto, nem a radicalizao da modernidade nem
a globalizao da vida social so processos queesto, em algum sentido,
completos. Muitos tipos de respostas so possveis, dada a
diversidade culturaldo mundo como um todo. Porm, as suas implicaes
so sentidas em toda parte (Giddens 1991).7 Trs museus foram
analisados neste estudo: o Museu do Chiado Museu Nacional de
ArteContempornea (MNAC), instituio pertencente ao Estado portugus e
situado em Lisboa, fundado em1911 e tutelado pela
Direo-GeraldoPatrimnioCultural (Portugal); o Museu de Arte
Contemporneade Serralves, situado no Porto (Portugal), inaugurado
em 1999 e tutelado pela Fundao de Serralves,por sua vez constituda
por uma participao significativa de capital privado, associada
presena doEstado portugus; e o Museu de Arte Contempornea da
Universidade de So Paulo (MAC-USP), noBrasil, criado em 1963, e
tutelado pela Universidade de So Paulo, uma universidade pblica,
mantidapelo Estado de So Paulo e ligada Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econmico, Cincia eTecnologia.8 Caracterizada pela
utilizao pragmtica de princpios metodolgicos e como forma de fugir
filiaorestritiva a um discurso metodolgico especfico (Flick 2009,
33).
Para citar este artigo
Referncia eletrnica
Elisa Noronha Nascimento, A musealizao da arte contempornea como
um processo discursivoe reflexivo de reinveno do museu, MIDAS
[Online], 3|2014, posto online no dia 09 Junho 2014,consultado no
dia 16 Junho 2015. URL: http://midas.revues.org/563; DOI:
10.4000/midas.563
Autor
Elisa Noronha NascimentoDoutora em Museologia pela Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, mestre em Artes Visuaispela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e bacharel em Artes
Plsticas pela Universidadedo Estado de Santa Catarina (Brasil).
professora afiliada da Faculdade de Letras da Universidadedo Porto.
Os seus interesses de investigao esto relacionados com a interseo
entre os estudosartsticos e a museologia, assumindo como ponto de
confluncia os museus e os centros de artecontempornea nas suas
diversas dimenses (colees, exposies, espaos, agentes) e a
prpriaarte contempornea como uma forma profundamente importante de
pensamento e de provocao aopensamento. [email protected]
Direitos de autor
Revistas MIDAS
Resumos
Este artigo apresenta sucintamente um estudo desenvolvido sobre
museus de artecontempornea, mais especificamente sobre a musealizao
da arte contempornea comoum processo de atualizao, adeso, rutura,
afirmao, reorientao de discursos e prticasinstitucionais. Centra-se
na construo do enquadramento terico utilizado para explorar comoos
museus ao musealizarem a arte contempornea realizam os paradigmas,
as discusses,as funes que os justificam e os fundamentam; e quais
so as transformaes por elessofridas ao longo deste processo.
Essencialmente, insere-se na discusso sobre a constituioda
identidade dos museus e procura compreender e refletir criticamente
acerca das ideiasatuais, do conceito implcito do que vem a ser um
museu de arte contempornea quando umadeterminada instituio se
manifesta como tal.
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A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e
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The musealization of contemporary art as a discursive and
reflexiveprocess of museums reinventionThis article concisely
presents a study about museums of contemporary art. Specifically,it
examines the 'musealization' of contemporary art as a process of
updating, accessing,rupturing, affirming and reorienting
institutional discourses and practices. Building atheoretical
framework, it explores how institutions apply paradigms,
discussions and functionsthat justify and support them, as well as
the transformations that occur during the processof musealization
of contemporary art. Essentially, it enters the debate regarding
museumsidentity, while searching for a critical understanding and
reflection on current and implicitideas of what constitutes a
contemporary art museum when institutions manifest themselvesas
such.
Entradas no ndice
Keywords :contemporary art museum, museum identity,
musealisationPalavras-chave :museu arte contempornea, museus e
identidade, musealizao