Top Banner
DA PARTE CORDILLERA PERu RECONHECIMENTO GEOLoGICO SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca Cordillera with a lenght of about 20 km, is situated in the Northwestern part of Peru and belongs to the Western Cordillera of the Andes. It was visited in June 1968 by the Braslleira 1968 aos Andes Peruanos", whose aim was to climb for the first time the peaks of Nevado Huallanca (5 .480 m), Nevado Hual- lanca Sur (5.400 m), Tunacancha (5.320 m) and Mina Pata (5.260 m), and make the orographic and geo- logic reconaissance of the region. Rocks are mostly deposited, in the Cordillera Huallanca, during the Cretaceous period that, in Peru, is represented by outcrops that occupy more than 75% of the total area of the mesozotc rock expositions. In the small visited area the Lower Cretaceous (Pos-Portlandian to Pre-Valanginian) is represented by the Chimu Formation sandstone and the Upper Cretaceous (Upper Albian to Upper Turonian interval) is represented by the massive dark lImestones of the Jumasha Formation. Out- crops of the older Chicama beds (Upper Jurassic) are known to the East, at the small village of HualJanca (Bodenlos and Erickson) and to the West, at the Caullaraju Mountains, in the southern part of the CordiJIera Blanca (Rocha Campos and CordanIJ. It is thus probable that these jurassic rocks occur beneath the Cordillera HualJanca, as well as under the Huayhuash more to the south (P. Coney), and are disconformably overlain by the Chimu sandstone. The Santa, Carhuaz, Pariahuanca, Chulec and Pariatambo Formations, mapped by Peter Coney (3) in the southern part of the Cordillera Huallanca, were not recognized in its northern portion. In restricted places. covering the mesozoic for- mations, "Breccioid" rocks are found related to small terciary hlpabyssal intrusions, which are more numerous at the vicinity of the ridges formed by intensely folded limestones. Small flJling and replacement mineralizations on the limestones are associated to these intrusions, and allow for a rudimentary copper. silver, anti- mony, lead and zinc exploration. A Cordillera Huallanca, com pouco mals de 20 km de extensiio, situa-se na parte noroeste do Peru e faz parte da Cordllheira Ocidental dos Andes. Foi visitada em Julho de 1968 pela "Ex- Brasileira aos Andes Peruanos", que visou conquistar os cumes ainda virgens de HualJanca (5.480m), HualJanca Sur (5.400m), Tunacancha (5.320 m) e Mina Pata (5 .260 m), e executar reco- nhecimentos orograricos e geol6gicos na regiao. Predominam, na Cordillera Huallanca, rochas depositadas durante 0 Cretaceo que, no Peru, esta representado por afloramentos que ocuparn mais de 75% da area total ' de exposicoes das rochas do Mesoz6ico. Na pequena area estudada, 0 Cretaceo Inferior (Pos-Portlandiano ao Pre- Valangintano) esta representado pelo arenito da Chimu e 0 Cretaceo Superior (intervalo do Albiano Supe- rior ao Turoniano E'ouperior), esta representado pelos calcartos negros mactcos da F'ormacao Ju- masha, Sao conhecidos afloramentos das camadas Chicama, mals antigas, a leste, no povoado de Hual- lanca (Bodenlos e Erickson) e a oeste, no do Caullaraju, na extremidade sui da Cordillera Blanca (Cordani e Rocha Campos). Jlj bern prova- vel. assirn, que essas roehas de idade jurnssica ocorram por baixo da Cordillera Huallanca, bern como da Huayhuash , mats ao sui (3). estando so- brepostas em desconformidade pela Chlmu. As Santa, Carhuaz, Pariahuanca, Chulec e Pariatambo, mapeadas por Peter Coney (3) na parte sui de Huallanca, niio foram reconhe- cidas em sua setentrionaJ. Em lugares restrttos, recobrtndo as formacdes mesoz6icas, arloram rochas "Brech6ides" relacio- nadas a pequenos tntrusoes hipabissals de idade terclarla, que se distribuem, preferencialmente, nas proximidades das cristas constituldas de cal- carlos intensamente dobrados, A essas intrus5es estiio associadas pequenas mlneralizaqdea de preen- chimento e substttuicdo em calcarlos, que permitem uma rudimentar de cobre, prata, anttme- nio, ehumbo e zlnco. Os vales e "quebradas" apresentam aeumula- de material principalmente aluvial e glacial,
15

RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

Dec 17, 2018

Download

Documents

trandieu
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

DA PARTECORDILLERAPERu

RECONHECIMENTO GEOLoGICOSETENTRIONAL DA

HUALLANCA,

PorANDREA BARTORELLI

ABSTRACT RESUMO

The Huallanca Cordillera with a lenght ofabout 20 km, is situated in the Northwestern partof Peru and belongs to the Western Cordillera ofthe Andes. It was visited in June 1968 by the"Expedi~iio Braslleira 1968 aos Andes Peruanos",whose aim was to climb for the first time thepeaks of Nevado Huallanca (5 .480 m), Nevado Hual­lanca Sur (5.400 m), Tunacancha (5.320 m) and MinaPata (5.260 m), and make the orographic and geo­logic reconaissance of the region.

Rocks are mostly deposited, in the CordilleraHuallanca, during the Cretaceous period that, inPeru, is represented by outcrops that occupy morethan 75% of the total area of the mesozotc rockexpositions. In the small visited area the LowerCretaceous (Pos-Portlandian to Pre-Valanginian) isrepresented by the Chimu Formation sandstoneand the Upper Cretaceous (Upper Albian to UpperTuronian interval) is represented by the massivedark lImestones of the Jumasha Formation. Out­crops of the older Chicama beds (Upper Jurassic)are known to the East, at the small village ofHualJanca (Bodenlos and Erickson) and to theWest, at the Caullaraju Mountains, in the southernpart of the CordiJIera Blanca (Rocha Campos andCordanIJ. It is thus probable that these jurassicrocks occur beneath the Cordillera HualJanca, aswell as under the Huayhuash more to the south(P. Coney), and are disconformably overlain bythe Chimu sandstone.

The Santa, Carhuaz, Pariahuanca, Chulec andPariatambo Formations, mapped by Peter Coney(3) in the southern part of the Cordillera Huallanca,were not recognized in its northern portion.

In restricted places. covering the mesozoic for­mations, "Breccioid" rocks are found related tosmall terciary hlpabyssal intrusions, which aremore numerous at the vicinity of the ridgesformed by intensely folded limestones. SmallflJling and replacement mineralizations on thelimestones are associated to these intrusions,and allow for a rudimentary copper. silver, anti­mony, lead and zinc exploration.

A Cordillera Huallanca, com pouco mals de20 km de extensiio, situa-se na parte noroeste doPeru e faz parte da Cordllheira Ocidental dosAndes. Foi visitada em Julho de 1968 pela "Ex­pedi~ao Brasileira aos Andes Peruanos", que visouconquistar os cumes ainda virgens de HualJanca(5.480m), HualJanca Sur (5.400m), Tunacancha(5.320 m) e Mina Pata (5 .260 m), e executar reco­nhecimentos orograricos e geol6gicos na regiao.

Predominam, na Cordillera Huallanca, rochasdepositadas durante 0 Cretaceo que, no Peru, estarepresentado por afloramentos que ocuparn mais de75% da area total ' de exposicoes das rochas doMesoz6ico. Na pequena area estudada, 0 CretaceoInferior (Pos-Portlandiano ao Pre-Valangintano)esta representado pelo arenito da Forma~iio Chimue 0 Cretaceo Superior (intervalo do Albiano Supe­rior ao Turoniano E'ouperior), esta representadopelos calcartos negros mactcos da F'ormacao Ju­masha, Sao conhecidos afloramentos das camadasChicama, mals antigas, a leste, no povoado de Hual­lanca (Bodenlos e Erickson) e a oeste, no Maci~o

do Caullaraju, na extremidade sui da CordilleraBlanca (Cordani e Rocha Campos). Jlj bern prova­vel. assirn, que essas roehas de idade jurnssicaocorram por baixo da Cordillera Huallanca, berncomo da Huayhuash, mats ao sui (3). estando so­brepostas em desconformidade pela Forma~ao

Chlmu.As Forma~oes Santa, Carhuaz, Pariahuanca,

Chulec e Pariatambo, mapeadas por Peter Coney(3) na parte sui de Huallanca, niio foram reconhe­cidas em sua por~ii.o setentrionaJ.

Em lugares restrttos, recobrtndo as formacdesmesoz6icas, arloram rochas "Brech6ides" relacio­nadas a pequenos tntrusoes hipabissals de idadeterclarla, que se distribuem, preferencialmente,nas proximidades das cristas constituldas de cal­carlos intensamente dobrados, A essas intrus5esestiio associadas pequenas mlneralizaqdea de preen­chimento e substttuicdo em calcarlos, que permitemuma extra~iio rudimentar de cobre, prata, anttme­nio, ehumbo e zlnco.

Os vales e "quebradas" apresentam aeumula­~oes de material principalmente aluvial e glacial,

Page 2: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

28 BDL. DA SOCIEDADE BRASILElRA DE GEOLOGIA - V. 19, N" 1, 1970

ex ist indo tamb em abunda ntes depositos de taludee mat eri al fragm ent ado incoeso ao longo das en­costas ab rup tas .

INTROD UQAO

Duraeilo dos trabalhos, meios e metodos

Em Junho de 1968 foi realizada a «E x­ped i<;ao Brasileira 196 8 aos Andes Peruanos»,organizada pelo Engenheiro e Alpinista Do­min gos Giobbi , pre sidente do Clube AlpinoP au lista. A fin alidad e da exped icao consistiuna conquista dos principals curnes, ainda vir­gens, da Cordillera HualJanca e na execucaode reconhecimentos cient ificos e cartograragemde uma reg iao praticamente desconhecida.

Localiz ada n a regiao noroeste do Peru epertencendo a Cord ilhe ira Ociden tal dos And es,a Cordillera HualJanca dista de Lima aproxi­madamente 400 km por estrada de rod agem .Com seus 20 km de comprlmen to, acompanhaa llnha divisoria entre os de partamentos deAncash e Huanuco, numa dire<;ao noroeste,ocupando a a rea compreendida entre os meri­dianos 77000' e 77 005' Oeste e os paralelos 10000'e 9050' SuI (vide figura ane xada ao mapa ).A noroeste intercepta a parte meridional daCordillera Blanca e, a apenas 3 km de sua ex­tremidade sudeste, er guem-se os majestosos ne­vados da Cordillera Huayhuash.

Al gum as referenclas it geologia da regiaosao encontradas em trabalho de Peter Coney(1964) sa bre a Geologia e Geografla da Cordil­lera Huayhuash, que considera Huallanca comouma continuidade estratigrafica e estruturalda cordilheira por ele estudada. 'I'ambem G.E. Erickson e A. J . Indacochea (1949) visi­taram a regiac e elaboraram urn mapa com aIocaltzacao de pequenos depositos de chumboe ·zinco na parte norte de Huallanca, princi­palmente nas quebradas Shicra-Shicra e Min aPata, marcando urn total de 32 ocorrencias.

o reconhecimento da regtao foi feito como auxillo de fotografias aereas executadas pelaFiirl;a Adrea Norte Americana em 196 2, quepermitl ram a conreccao de uma ca rta orogra ­flea em esca la aproximada de 1 :30 .000 (mesal ­co nao cont rolado j , na qual Ianearam-se osdados topograncos e geologicos obt ldos nocampo e atraves de fotointerpretacao, A topo­nimia dos acidentes geograficos foi feita se­guindo-se a denornlnacao usada pela escassapopulacao local e alguns nomes ja adotados perKinzl (1939 ). Erickson e Indacochea (1949) eConey (1964).

A geologia de campo restringtu-se principal­mente a area vizinha dos cumes mais altos,por ser est a a parte de maior interesse paraa expedicao, F oram dispendidos 12 dias nocampo, tendo sido possivel 0 estudo siimentedos afloramentos a oeste da area reconhecida,devido a dificuldade de transposi cao da zona decristas. A parte leste da mesma foi mapeadapor fototnterpretacao e infericoes feitas a par­t ir do mapa de Coney e de outras informa­<;oes obtidas,

A alti tude dos plcos foi determinada, den­tro de urn provave l limIte de erro de 20 metros,atraves de t riangulacao (nivel de Abney etrena ) e medidas altlrnet ricas (altimetro Thom­men ) executadas por ocas iao da escalada dosmesmos. 0 mais alto, Ne vado Huallanca, tevesua altitude determinada em 5.480 metros, se­guindo-se 0 HualJanca Sur com 5 .400 m , Tuna­cancha com 5 .320 m e Mina Pata, com 5.260 m(Vide mapa ) .

o termo «quebrada», repetldas vezes aquiaplicado, e usado pelos habitantes da Cordilhei­ra dos Andes para designar vales glaciais, naomais submetidos a aeao de geleiras, que per­mitem 0 acesso , mesmo para animals de carga,as partes mais altas das cordllheiras e posstbi­litam, as vezes, a sua travessia. Neste caso,entao, sao conhecidos como «puntas» ou«pasos»,

A expedicao foi realizada sem apoio eco­n6mico por parte de qualquer tipo de entidade,tendo sido financiada exclusivamente pormetes particulares.

Fisiografia e Clima

A Cordillera Hualianca, apesar de estaralinhada com a Cordillera Huayhuash que seextende por 30 km para sudeste, nao deixa deconstituir uma cordilhelra independente. Asvias de acesso a cadeia principal sao constltui­das pelas quebradas, que estao separadas entreai por cristas sem neve alcaneando altitudesde ate 5 .000 metros.

A nordeste da cordilhe ira 0 limi te de nevesperenes est a a uma altitude de 4.800 m a4.900 m, enquanto que no flanco sudoeste sobepara mais de 5 .000 m. Uma excessao notavele constituida pela geleira da quebrada MinaPata (foto 12 ) , que, estando protegida contraa ablaeao pela crista formada entre os cumesprincipais (Vide mapa ) , chega a descer ate umaaltitude ao redor de 4.600 m. li:ste limite es­taria numa cota ainda rna is baixa nao fessea forte Incllnacao da encosta recoberta pela

Page 3: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

ANDREA BARTORELLI - Reconhecimento Geologico da Parte Setentrional... 29

MAPA DE RECONHECIMENTO GEOLdGICO DASETENTRIONAL DA CORDILLERA

HUALLANCA - PERU

PARTE

." ..r

LEGENDA•• 1 Povoodo

::-~ Rios e Corregos~ t.ccccs<3 Neve e gela perenes

.r.;:;;;";'Zona de crlsrcs orogrcif.jcos{oprox.l... Cumes de montonhos

• Estrodos e cominhos~ Depositos minerois em exptcroccc

~ Depositos oluvjois, Qlociois e talus~ fllmlOCOO JumoshQE3illLJ formoolio Chim<i

oE S CA L A

Km

A. BARTORELL.i

D.G .I? - F.'F.'C.Lu, S . F?

-1969-

Page 4: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

30 BOL. DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA - V. 19, NQ I, 1970

geleira, que provoca 0 rompimento de sua partefrontal e permite 0 despreendimento de gran­des blocos de gelo, os quais sao acumulados nopequeno lago, a uma altitude de 4.350 m, daquebrada Mina Pata.

A direrenca entre os limltes inferiores dogelo, a noroeste e a sudeste da cordilheira, de­ve-se a predominancia de ventos provindos denordeste. Esse vento e responsavel, ainda, pelarormacao das cornijas de neve que estao volta­das para oeste, permitindo um grande acumulotambem nsste lado, apesar de predominarem aspreclpitacoes nas encostas voltadas para 0 ladedo vento.

Como em toda regiao andina do Peru, naCordillera Huallanca 0 clima e caracterlzadopor uma estaeao de chuvas fortes nos meses deiNovembro a Abril, e por uma relatlva epoca deestiagem durante 0 resto do ano . A regiao estacompreendida em uma faixa onde as precipi­tacoes anuais variam de 200 a 1.000 milimetros,

A temperatura e mals ou menos constantedurante t6do 0 ano , sendo que as maiores dife­rencas ocorrem entre 0 dia e a noite. Duranteo dia , tanto sobre as geleiras como nas que­bradas, a temperatura alcanca 200C enquantoque a norte, em ambos os lugares, atinge va­lores inferiores a 50C abaixo de zero.

A vegetacao arbustiva e bastante pobre,existindo bosques ralos de «Quenuas» (polyle-

COLUNA GEOLOGICA

pis ), principalmente na crista norte da quebra­da de Gara e alguns arbustos na confluenciada mesma com as quebradas Quenuaracra eShicra-Shicra. 0 restante da flora e constl­tuldo por gramineas que recobrem as encostase, sobre tudo, 0 fundo das quebradas, propi­ciando pastagens para carneiros e gada bovtno,

Ressaltam-se, no inicio da quebrada deGara, em sua encosta suI, numerosos exempla­res de Puya raimondit, bromeliacea rara quechega a alcancar 10 m de altura, s6 encontra­da a grandes altitudes, em poucos vales e que­bradas dos Andes Bolivianos e Peruanos(foto 13).

Agradecimentos

EspecIal agradecimento cabe ao Engenhei­ro Domingos Giobbi pela organizacao da ex­pedi«;iio e pelo idealismo e incentivo dispensadosa Geologia. Ao Prof. Dr. Viktor Leinz e de­vido 0 grande apoio que possibilttou a partici­pa<.;Ao na expedicao e incentivo para os traba­lhos de campo. 0 Dr. Umberto G. Cordanimuito auxiliou atraves de material gentilmen­te cedido e na revelacao de excelentes conhe­cimentos, adquiridos por ocastao de sua parti­cipa«;iio na expedicao de 1961, que visitou 0

Macico do Caullaraju, na Cordillera Blanca. 0Prof. Dr. Jose Moacyr Vianna Coutinho e 0

Dr. Vicente Girardi prestaram precioso auxilio

(SIMPLIFICADA)

oc>oj

Q

NoZf;I;lc

oc>oj

Q

NorLJ

~

Quaternario

Terciario

Cretaceo

Jurlissico

{

{

Recente - Depositos glaciais em iniclos de vales e encostas(acima de 5. 000 metros)

Pleistoceno - Depositos glaciais ate 4.000 metros

Rochas vulcanicas acidas - diques, sills e stocks de granitep6rfiro e «Brechas»

Rochas vulcantcas intermediarias - stocks de granodiorito

- Inconf. -

Superior - Formacao Jumasha (rochas carbonaticas macica­mente acamadas, formando os cumes mats altos)

- Desconf. -

Inferior - Arenito Chirmi (camadas mactcas de arenitealtamente cimentado com Intercalaeoes de folhelhocarbonaceo)

- Desconf.

Superior - Formacao Chicama?

Page 5: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

ANDREA BARTORELLI - Reconhecimento Geologico da Parte 8etentrional... 31

no estudo de laminas petrograficas, as quaisforam dedicadamente preparadas pela 8ra. Me­lany Isauk.

No Peru foi prestada Inestimavel ajudapela Cerro de Pasco Mining Co., nas pessoasdo Eng. Miguel Abele e Macario Angeles, quetambem participou da expedicao, e pelos geo­logos Dr. Victor Benavides Caceres, da Inter­national Petroleum Co. e Dr. Eleodoro BellidoB., da Comision de la Carta Geologica Nacio­nal.

LlTOLOGIA E ESTRATIGRAFIA

Depositos Recentes

as depositos recentes sao constituidos porsedimentos inconsolidados que preenchem osfundos de vales e quebradas. Sao sedimentosheterogeneos constituidos, em parte, por rna­teriai de talude e antigas morenas retrabalha­das e, em menor parte, por solos humicos ne­gros , as depositos de cascalho adquirem maiorlmportancia nos vales dos rios Tunacancha,Piscapaccha e Pativilca (ao suI de Pachapa­qui) , os quais correm sobre leitos altamentepedregosos. Material desagregado recobre,ainda, boa parte das encostas abruptas dasprincipals quebradas.

G1aci~o

a limite inferior atual da neve pereneesta numa cota aproximada de 5 .000 m, exis­tindo excessoes que dependem da alimentacaode algumas geleiras e da intensidade de abla­gao. A geleira que desce para a quebrada MinaPata, chega a atingir a cota de 4.600 m pelofato de estar protegida contra a agao dos raiossolares pela crista existente entre os NevadosHuallanca e Tunacancha. Na realidade, 0 gelonao chega a constituir verdadeiras geleiras porestar restrito, quase unicamente, as regioesmais elevadas, limitando-se sobretudo a reco­brir, sob a forma de espessas capas, as encos­tas ingremes de montanhas.

Alem da presenca de vales glaciais, evl­dencias de uma glaciagao preterita muito maisdesenvolvida que a atual sao encontradas soba forma de estrias nos afloramentos de granltoe metarenito do fundo de alguns vales, bai­xando ate a cota de 4.200 m, como na que­brada Mina Pata. Proximo a mina Esperanza,a aproximadamente 200 m abaixo do atual ni­vel do gelo, encontram-se perfeitamente pre­servadas estrlacoes glaciais na superficie deafloramento de granito p6rfiro (foto 10).

Existem, ainda, dep6sitos moremcos, tam­bern na cota de 4 . 200 m, em alguns dos quaisforam encontrados seixos estriados e facetados.as depositos rnorenicos, freqUentemente asso­ciados a depositos de talude provlndos das en­costas, formam verdadeiras barragens contra 0

escoamento da agua de degelo, constltuindo re­presamentos que dao origem aos numerososlagos exlstentes na regiao (Foto 11) . Essasbarragens naturals, muitas vezes, rornpem-sedando origem a Inundacoes repentinas que setomam catastr6f1cas ao atingirem vilas epovoados.

Forma~ Jumasha

A Formacao Jumasha foi definida por MeLaughlin (1924) que escolheu a localidade tiponas colinas pr6ximas a Jumasha, perto do lago

Punrum, no Peru central. A formacao e porele descrita como sendo constituida por urn cal­carlo homogeneo, cinza claro, geralmente malscompacto que as camadas Machay, assentadoem conformidade sabre as mesmas, e estandorecoberta por folhelhos vermelhos e arenitos deprovavel idade terciaria,

A Formacao Jumasha e, orograficamente,a mais importante, por formarem as suas ro­chas a crista principal da Cordillera Huallan­ca . a mesmo ocorre na Cordillera Huayhuash,onde e encontrada na crista axial e se extende,segundo Coney (3 ), ate a Cordillera Huallan­ca , desenvolvendo-se , principalmente, na partenorte da mesma. Consiste em urn calcario cinzaa cinza escuro, as vezes negro, mactcarnenteacamado, rnicrogranular e parcamente fossilife­ro (na Cordillera Huallanca, se bern que naotenha side feito urn perfil completo da forma­gao, nao foi encontrado nenhum resto organi­co ). Benavides (2), descreve a Formacao Ju­

.m asha em Pomachaca, onde encontrou umaespessura de 800 m de dolomitos e catcariosmarrom-amarelados e cinzentos, extremamentepobres em fossels, Urn afortunado achado derestos de Lyelliceras ulrichi Knechtel e Oxytro­pidoceras douglasi Knechtel, permitiu-lhe con­ferir uma ldade Albiano-Turoniana a esse pa­cote calcarlo, Cita, ainda, a presenca de restosde Foraminiferos, especialmente na parte su­perior da formacao. Coney (3 ) encontrou, naCordillera Huayhuash, especlmens de Inocera­mus concentricus proximo a base da FormacaoJumasha.

A avaliacao da espessura da Formacao Ju­masha, na Cordillera Huallanca, nao foi pos­sivel devido a falta de urn perfil total da mes-

Page 6: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

32 BOL. DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA - V. 19, N9 1, 1970

rna e pelo conhecimento Incomplete das estru­turas tectonlcas que a afetam. Benavides (2)calculou uma espessura de 800 m para essaformacao em Pomachaca, nos Andes centro­ocidentais do Peru. A espessura, na CordilleraHuaIIanca, certamente e desta ordem de gran­deza, pols, se bern nao tenham side conside­radas as repeticoes estrattgraflcas devidas aointenso dobramento sofrido pela regiao, podern­se medir no mapa mais que 5 km de rochas daFormacao Jumasha, perpendicularmente it di­recao das camadas.

No vale do rio Cajon Racra 0 calcarioaflora em camadas escuras, nao ultrapassando30 em de espessura, intercaladas com camadasde 50 a 70 ern de folhelho negro afossilifero. Oscalcarios da Formacao Jumasha, que soem sermuito hornogeneos, apresentam uma outra va­ria<;ao Iitologlca nas proximidades da minaEsperanza, localizada na encosta leste da que­brada Mina Pata, onde estao finamente mar­morizados, com uma cor mais clara da que lhese caracteristica e mostram intercalacoes, deigual espessura, de material fino, escuro, com­pactado e ligeiramente piritizado (foto 2). 0

material marrnoreo, quando examinado sob 0

mlcroscopio petrografico, denota tipica texturasacar6ide devida it interpenetracao dos peque­nos cristais de calcita, ao passe que a rochaintercalada mostra alguns graos muito finos dequartzo, dispersos numa matriz escura argilosae levemente piritizada. 0 conjunto representa,provavelmente, 0 calcarlo com intercalacoes detolhelho afetado pela intrusao de granito por­fire da mina Esperanza.

Pela homogeneidade do pacote sedimentarao longo de toda a espessura da FormacaoJumasha, acredlta-se (2) que ela resulte deuma sedimentacao continua durante a epoca dedeposicao e represente um ambiente de aguasmais profundas que as de sedimentos contem­poraneos do Peru setentrional.

Arenito Chimli

o Arenito da Formacdo Chimu foi des­crito POl' Victor Benavides Caceres (1956) emBanos de Chimu, onde existe uma conhecidafonte tel' mal na parte superior do vale do Chi­carna, na estrada de Trujillo a SayapuIIo. 0rio abrlu, nesta regiao. uma profunda gargantadelimit ada POl' paredes abruptas constltuidaspelos arenitos da Formacao Chimu, A secaotipo foi medlda de urn ponto a partir de 250 ma juzante da fonte termal, ate um ponto 400 ma montante da mesma.

o Arenito Chirnu e encontrado na Cor­dillera HuaIlanca sob a forma de uma rochaaltamente cimentada e compacta, branca aclnza clara, estando a oeste, ao longo do valedo rio Tunacancha, intercalada com fin as ca­madas (10 ern) de folhelho siltoso carbonaceo,rico em restos mal conservados de vegetais(foto 1). As camadas psamiticas, com umaespessura ao redor de 40 em, denotam estra­tifica<;ao cruzada, Benavides (2) avalia a es­pessura da Formacao Chimu, na se<;1io tipo,em 685 m, enquanto Coney (3) mediu 650 mpara a mesma na Cordillera Huayhuash. A es­pessura nao foi medida na Cordillera HuaIIan­ca, mas e provavel que seja da mesma ordemde grandeza, sendo que Wilson avalia umaespessura de 500 a 700 m para a FormacaoChimu nos Andes Centrais do Peru.

Na encosta leste da quebrada Tunacancha,numa cota de 4.180 m, intercalada no quartzi­to , existe camada de folhelho negro endurecidoque atinge uma espessura de pouco mais de10 rn, Essas camadas de folhelho siltoso ocor­rem de maneira bastante irregular e suas es­pessuras somadas constituem pouco menos que1/10 da espessura total da Formacao Chimu(2).

A idade do Arenito Chimu corresponde aoIn tervalo que val do post-Portlandlano ao Va ­langlniano. Foi determinada por Benavides,que observou 0 seu contacto inferior com ascamadas marinhas, Chicama, nas quais umafauna portlandiana foi descrlta por Welter(1913) . POl' outro lade, observou 0 mesmoautor que 0 Arenito Chimu esta s6breposto emdesconformldade pela Formaeao Santa, neo­valangin iana.

o Arenito Chimu e constituido POl' umagregado de graos de quartzo com tamanhomedic, emprestando-lhe um carater de quartzitopelo fato de tel' sido submetido, na CordilleraHuallanca, a urn metamorfismo regional matsintense nas areas de dobramento complexo.

Sob 0 mlcroscopio, 0 arenito Chirrni revel aurn agregado consistente de graos imbricados eequidimensionais de quartzo e pouca pirita, soba forma de cristais quadrangulares, clrcundadosper fina pelicula de oxide de ferro. Os graosde quartzo tern diametro medic de 0,5 mrn, de­notando, multos deles, extincao ondulante,

A estratirtcacao cruzada nao foi observadanos pormenores, porern, Coney (3) mediu naCordillera Huayhuash estratificag6es indican­do direcoes de corrente para sudoeste, sendoprovavel que esta mesma direcao se repita em

Page 7: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

ANDREA BARTORELLI - Reconhecimento Geologico da Parte Setentrional... 33

Huallanca, a arenito Chiml1 indica ambientede deposicao continental aquosa, sugerindo, noentanto, a boa selecao e a superficie bastantefosca dos graos uma previa agao eolica e de­rtvacao, ou de urn terreno granttico altamenteintemperizado, ou de urn sedlmento areniticomais antigo (2). Deve ter sldo depositado sobcondicoes tectonicamente calmas, sendo a fonteconstituida por regicSes relativamente baixas,

Pelas observacoes de campo, constatou-seque 0 arenito Chiml1 aflora, continuamente, aolange de todo 0 flanco sudoeste da CordilleraHuallanca (a NE foi mapeado por fotointer­pretacao), tendo uma dlrecao geral paralela aoseu contacto com a Formacao Jumasha sobre­jacente, ou seja, ao redor de N -30 oW. Essecontacto raramente ultrapassa a cota de4.300 m e e dificil de ser observado, por estaro seu plano ocupado por rocha calcossilicatadamacica, mostrando evidencias de origem cata­elastica e movimentacao, freqtientemente ul­trapassando a espessura de 20 m.

ROCHAS MAGlUATICAS

As rochas magmaticas sao encontradas portoda a Cordillera Huallanca sob a forma dediques, sapatas (sills) e pequenas bossas(stocks). Ocorrem dois tipos petrograficos dis­tintos, sendo 0 mais importante constituido POl'

urn granito porfiro branco, lntroduzido noscalcarios das cristas montanhosas e responsa­vel por numerosas mlneralizacoes hidrotermais.A outra rocha e urn granodiorito, as vezes por­firitico, encontrado no fundo de vales e que­bradas e intrometido, preferencialmente, nosarenitos da Formacao Chiml1. A sua compo­sicao mineralogica e textura sugerem uma pro­vavel associacao com 0 grande batolito daCordillera Blanca, do qual deve fazer parte.Na extremidade suI da quebrada Mina Pata11a bons afloramentos cujas amostras revelaram,sob 0 mlcroscopio, a presenca de plagioclasio(cristais de 0,5 em), ortoclasio em menor quan­tidade, biotita (l mm), pequena quantidade dehornblenda e, ainda, como acessorlos, titanita,apatita e opacos . A textura tende a porfiritica,sendo os fenocristais constituidos principalmen­te de feldspato, imersos em uma matriz holo­cristalina de feldspato e quartzo, com tamanhomaximo de 0,5 mm.

a granito porfiro predomina na regiao dosaltos cumes e, na parte norte da CordilleraHuallanca, ocorre sob a forma de diques e bossas(stocks), tendo side observados sills s6mentenas fotograf'ias aereas que cobrem a area ao

suI da mapeada. A sua agao metam6rficasobre as encaixantes resume-se em recristaliza­~cSes e silicifica~cSes restritas as zonas de con­tacto. As bossas (stocks) raramente ultrapas­sam a area de 1/4 de km2 e a espessura dosdiques varia de alguns metros ate pouco maisde 20 m. Na parte sudeste da regiao reconhe­cida, na encosta NE da quebrada Shicra-Shi­era, ressaltam-se do calcario negro, pela suacoloracao clara, quatro diques de granito por­fire com dire gao leste-oeste e mergulhando 850para 0 suI (foto 3). l1J urn granito leucocra­tieo , branco-amarelado, mostrando fenocrlstaisde quartzo bipiramidado e de feldspato alte­rado, com cor marrom-alaranjada, imersos emuma matrlz fina, branco-acinzentada.

Existe uma bossa (stock) de granito por­firo no inicio da encosta SE da quebrada MinaPata, a qual esta associada a rocha «bre­cholde » que aflora desde a base da encosta(4.300 m), ate quase 0 topo da mesma, atin­gindo a mina E'speranza, na cota de 4.820 m.

a exame microscoptco de secao delgada deamostra desse granito revelou a existencla defenocristais euhedrais de quartzo hexagonal,atingindo ate 4 mm de diametro, imersos emmatriz holocristalina de granulacao muito fina.Existem tarnbem fenocristais, com 2 mm decomprimento, de feldspato totalmente substitui­do por agregados de sericita fibro-radiada ecalcita e, em menor quantidade, quartzo. l1J

provavel que os pseudomorfos sejam antigosfenocristais euhedrais de feldspato, os quais ro­ram alterados por solucoes hidrotermais duran­te, ou logo apos a consolidacao da rocha, asminerais opacos sao constituidos por cristaiscublcos de pirita, com 1,5 mm de aresta, emmedia, dispersos na massa fundamental fina,microcristalina, composta por graos de quartzoe, em menor quantidade, sericita, calcita epirita.

a granito porflro deve corresponder asrochas igneas que Coney (3) descreveu, naCordillera Huayhuash, como quartw monzoni­to-porf'iros, que ocorrem sob a forma de diquese sills, podendo representar uma diterenciacaotardia de rochas plutonicas associadas, que se­rlarn constituidas pelo granodiorito da Cordille­ra Blanca.

a granodiorito foi introduzido em fins doCretaceo e, talvez, principles do Terciario, poisesta intrometido rios calcarios da FormacaoJumasha apes 0 seu dobramento e, na Cor­dillera Blanca, encontra-se cortado por diquesde rochas basicas associadas ao vulcanismo ter­ciario (8). as corpos de granito p6rfiro sao ,

Page 8: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

34 BOL. DA SOCIEDADE BRASILEIRA DID GEOLOGIA - V. 19 , N° 1, 1970

entretanto, mais novos, pols, alern de cortaremos calcarlos albiano-turonianos da FormacaoJumasha, na Cordillera Huayhuash sao encon­trados intrometidos nos vulcanitos terclarios deTsacra (3).

Associadas ao granito p6rfiro da quebradaMina Pata, aflorando na encosta leste damesma, ocorrem rochas brech6ides (foto 4)

constituidas essencialmente de fragmentos degranito e calcario negro. Os fragmentos degranite, principalrnente, atingem diametros demais de meio metro e alguns mostram evi­dencias de terem sido depositados no estadoplastlco, com as bordas irregulares e en­globando fragmentos de calcario (foto 6).Tambem na matriz sao encontradas estruturasque evidenciam uma deposicao sob 0 estadofluido, Tanto a matriz como as bordas dosfragmentos calcarlos encontram-se bastante pi­ritlzadas. Arocha mostra uma estratlficacaoincipiente e no meio do espesso pacote rudaceoencontra-se camada de arenito grosseiro comuma espessura de 40 em (foto 5).

As estruturas sugerem, portanto, a forma­Qao de urn aglomerado vulcanico concomitantecom uma deposicao elastica grosseira aquosa,resultando na formacao de uma rocha decarater misto, que pode ser consideradacomo uma «brecha» . Essa rocha afloradesde a mina Esperanza, na cota de4.820 m, onde esta em contato com 0 gra­nito p6rfiro, ate a base da quebrada MinaPata, na cota de 4. 350 m, tornando-se maisespessa e alargando-se it medida que desce aencosta formada pelos calcarlos da FormacaoJumasha. Sob 0 microsc6pio observam-se frag­mentos de calcario e granito p6rfiro muito seri­citizado e calcitizado. Plrita e calcita ocorremesparsas na rocha, tanto nos fragmentos comona matriz. Ha, ainda, raros pedacos de meta­renito de granulacao muito fina. Os fragmen­tos , principalmente de calcar io, sao bastanteangulosos e emprestam um carater brech6idea rocha, que se encontra muito endurecida ecoesa.

Os afloramentos dessa roche. «brech61­des mostram evldenc ias de terem sidosubmetidos a esrorccs tecto nicos, sofrendo rup­turas posterlores a sua consolidacao, como bemo Ilustram os planes de falhas de pequeno re­jei to que os a t ravessam .

DEPOSITOS HIDROTERMAIS

Na Cordillera Huallanca, especialmente aolongo das encostas da quebrada Mina Pata,

ocorrem numerosas mlneralizaqoes de chum­bo, cobre, zinco e de outros metais nao-ferrosos.Ja em 1949, Erickson e Indacochea (5 ) locali­zaram, na parte norte de Huallanca, 32 ocor­rencias de chumbo e zinco .

o unlco dep6sito visitado, atualmente emexploracao, e 0 da mina Esperanza, localizadoproximo ao topo da encosta leste da quebradaMina Pata (v. mapa) . Foram observados tam­bern outros depositos ja abandonados que naopermitiram, porern, uma lnvestigacao mats por­menorizada da assoctacao mineral6gica e tipode mineralizacao.

f::sse dep6sito esta associado a pequena in­trusao de granito p6rfiro que aflora nas pro­ximldades, tendo 0 veio seguido, aproximada­mente, 0 contato da intrusao, numa direQaoN -80oE . 0 metal mais abundante e 0 cobre,contido na calcopirita, que e 0 principal mine­ral do minerio da mina, e esta associado a es­falerita, galena (argentifera), calcosina e mi­nerais de ganga como rodonita, quartzo, calcltae pirita.

Do mesmo modo que as demais mineraIi­zacoes da regiao, esta se deu nos calcarios daFormacao Jumasha, os quais mostram-se re­cristallzados e piritlzados proximo ao contatocom 0 veio, cuja espessura alcanca, incluindoos minerals de ganga, 0 valor de 1 metro. 0calcarlo da entrada da mina apresenta-sebrechado estando os fragmentos, aproxirnada­mente esfericos, recobertos por pelicula de 2 mmde sulfetos, constituidos quase unicamente porcalcosina. No interior da gale ria, 0 calcariornostra-se sempre macico e piritizado, estandoas cores cinza escuro e cinza claro intercaladasde maneira irregular. A pirita ocorre sob aforma de pequenos cristais cublcos, homoge­neamente disseminados, estando 0 granito p6r­firo igualmente piritizado pr6xlmo ao contato.

Em junho de 1968 a galeria da mina Es=peranza tinha atingido 80 m de comprimentoe sua producao era de 60 toneladas de mineriobruto por mes. 0 material extraido e moidoem Pachapaqui, produzindo 18 toneladas men­sais de sulfetos concentrados, que sao exporta­dos para refino.

ESTRUTURAS E TECToNICA

A Cordillera Huallanca, bem como aHuayhuash mais ao sul, resultou da rase cul­minante da Orogenia Andina. Representa umacrista de maxima intensidade de dobramento,ladeada por regioes que sofreram um dobra­mento menos complexo. A crista montanhosa

Page 9: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

ANDREA BARTORELLI - Reconhecimento Geol6gico da Parte Setentrional.. . 35

e constituida essencialmente por uma suces­sao de sinclinais e anticlinais com eixos iso­orientados para noroeste. Predominam as do­bras isoclinais, nao deixando de ter importan­cia, entretanto, as dobras assimetricas e re­cumbentes (fotos 7: 8 e 9). Sao tambem co­muns os flexuramentos e ondulacoes em peque­na escala, que afetam tanto os arenites daForma!:ao Chimii (foto 1) como os calcarios daFormacao Jumasha.

A Cordillera Huallanca pode se enquadrarna parte dos Andes peruanos que foi subme­tida as tres rases de atividade teetontca reco­nhecidas por Steinmann (1930), abaixo rela­cionadas:

a) Fase Peruana (Neocretaceo)

b) Fase Incaica (Eocenoz6ico)

c) Fase Quechua (Plioceno ao atual)

Pelo fata dos sedimentos estarem dobradosintensamente apenas ate 0 Neocretaceo (For­macao Jumasha) , nao tendo sido afetadas asrochas vulcanlcas terciarias (vulcanicas Tsacrae camadas vermelhas continentais, que, naCordillera Huayhuash, se assentam horizontal­mente sobre as primeiras), e provavel que aCordillera Huallanca, do mesmo modo que aHuayhuash, tenha side afetada mais intensa­mente pela Fase Peruana. Segundo Coney (3),as vuleanicas Tsacra e camadas vermelhas con­tmentais da Cordillera Huayhuash foram pouco

perturbadas pela Fase Incaica. Somente naFase Quechua, a partir do Plioceno, que a re­giao foi submetida a levantamentos ate atingiras etevacoes atuais.

Outras deformacoes devidas a esforcos tec­tonicos manifestam-se, na Cordillera Huallan­ca, atraves de falhamentos, principalmente dotipo empurrao, como 0 existente na regiao docontato sudoeste entre as rormacees Chiml1 eJumasha (v. mapa) . Nessa zona e . encontradarocha milonitica fina macica, que atinge espes­suras de ate algumas dezenas de metros. Arocha e de coloracao branca a cinza esverdea­da e mostra orientacao evidencaida pelo ali­nhamento de minerais. No vale do rio Tuna­cancha e encontrada, a aproximadamente 1 Kmao norte do contato entre as rormacses Chiml1e Jumasha, outra zona de milonitiza¢o queafeta, neste local, somente a Formacao Ju­masha.

o exame microsc6pico da rocha miloniti­zada revelou a presence de epidote, diopsidio,plagioclasto, quartzo (pouco), titanita e pirita,evldenciando a!:ao metassomatica que ...foi, pro­vavelmente, contemporanea a movimentacao.

Ocorrem, ainda, falhas transversais de pe­queno rejeito, que sao facilmente observadasnas fotografias aereas, principalmente nas re­gioes de contato entre as camadas areniticase calcarias, onde as linhas de contato entre asduas litologias mostram-se deslocadas.

BIBLIOGRAFIA

1 - BELLIDO B. , ELEODORO e SIMONS, F . S.(1957) - "Memo r ia Explica ti va del Ma pa Ge6­logico del Peru" . Boletin de la Soci edadGeolog ica del P eru, Torno 31 : 1er. CongresoNacional de Geo logia.

2 - BENAVIDES CACERES, V. E. (1956) - "Cre­taceou s System in Northern P eru". Bulletinof the Am erican Mu seum of Natural History,vol. lOB, art. 4, New York.

3 - CONEY, P . (1964) - "Geology and Geographyof the Cor dillera Huayhuash, Peru". A d isser­tion su bm lted in partial fulfillment of therequirements for the D egree of Doctor ofPhilosophy on Geology at the University ofNew Mexico. Nao publicad o.

4 - DE SITTER, L. U. (1956) - "StructuralGeol ogy" . Mc Graw-Hill Book Company Inc.,Netherlands.

5 - ERICKSON, G. E . e INDACOCHEA, A. J .(1949) - "Lead and Zinc Deposits , CordillerasBlanca and Huayhuash " . Cerro de P as coMining Co. (Rela t6r io) .

6 - KINZL, H. (1949) - "Die Vergletscherung inder Sudhalfte der Cordillera Blanca, Peru, mitKarte1:100.ooo" . Zeitschr. F. GIetscherkundeund GIazi algeol. , Vol. 1.

7 - KINZL, H. et a l (1954) "CordilleraHuayhuash, Peru'. Verlag Tiroler Graphik,Ges. M .B .H., Innsbruck.

8 - RO CHA CAMPOi:', A. C. e CORDANI, U. G.(1962) - "Reconh eclmento Geol6glco no Ma­cleo do Caullaraju, Peru" . Bol. da Soc. Bras.Geo!. , Vo!. 11, no 1.

9 - STEINMANN, G. (1930) - "Geologia delP eru". Carl Winters Universitli.tsbuchhandlung,H eidelberg.

10 - WILSON, J. J. e REYES, R. L. (1964) ­"Geologia del Cuadrangulo de Pataz". Comi­sion Carta Geologica Nacional, Boletin no 9,L im a.

11 - WILSON, J . J. - REYES R., L . e GARAYARS., J. (1967) - "Mapa Geologico de los Cua­dran gulos de MoIIebamba, Tayabamba, Huay­las. Pomabamba, Carhuaz y Huari" . Escala1 :200.000. Carta Geologica del P eru, Ministe­ri o de Fomento y O. P., Lima.

Page 10: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

36 BOL. DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA - V. 19, N · 1, 1970

,,F oto 1 - Ar enito da F ormacao Chi rnu fl exurado e mostrando finas Intercalacoesde siltito argiloso , con t endo restos carbonizados de vegetais. Vale do rio

Tunacanch a , 3 km ao norte de Pach ap aqul,

Foto 2 - Calcarto da Formacao Jumasha mos­trando tonalidade mais clara da normal, d evida arecristaiiza~ao causada pela proximidade da intru­Sao de granite p6rfiro da mina Esperanza. As inter­calacoes mais es curas, regularrnente. espacadas, saode folhelho end urec ido contendo pirita. As camadasmergulham 55. p ara SW. Encosta leste da que­brada Min a Pata , proximo a laguna hom6nima, a4.420 m de alti t ude.

Page 11: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

ANDREA BARTORELLI - Reconhecimento Geol6gico da Parte Setentrional... 37

Foto 3 - Diques de granito porfiro cortando a Formacao Jumasha segundo umadire~ao leste-oeste e mergulhando 85. para sut, Os cones de deiec!:ao sao origi­nados a partir dos diques, POI' serem estes menos resistentes a desagregacao fisicado que os calcarios encaixantes. Foto tomada da quebrada Sohicra-Shicra, de uma

altitude de 4 .400 m, d ir ig ida para E.

Foto 4 - "Brecha" da mina E speranza. E constituida de fragm entos de granitoe calcarto (escuro) ocorrendo, casualrnente, metarenito

Page 12: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

38 BOL. DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA - V. 19, N· 1, 1970

Foto 5 - Banco de arenite grosselro no conglome­rado agtomeratlco da mlna Esperanza, em aflora­mento na base da quebrada Mina Pata, A estratl­ficagao do arenite acornpanha a do conglomeradoe e paralela ao declive da encosta sObre a qual seassentam ~sses sed imentos que, no local, mostram

caracterlstlcas ttptcas de deposlgao aquosa,

Foto 6 - Mesmo afloramento do regtstrado na fotografia anterior, apenasalguns metros mais abalxo. Observam-se grandes fragmentos de granlto p6rfiro(brancos). Os fragmentos calcarios mostram as bordas plritlzadas, enquanto que

alguns granltlcos tern a forma t1plca de blocos aglomeraticos.

Page 13: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

ANDREA BARTORELLI - Reconhecimento Geologico da Parte Setentrional. . . 39

Foto 7 - Sinclinal isometrico nos calc4rios da Formacao Jumasha. com eixo diri­gldo para noroeste. Crista SW do Nevado Mina Pata, tomada do vale do rio

Cajon Racra.

Foto 8 - Dobras recumbentes nos calcarios da Formacao Jumasha., no sope doCerro Tankan. vlsto do vale do Cajon Racra.

Page 14: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

40 BOL. DA SOCIEDADE BRASILEffiA DE GEOLO GIA - V. 19, N" 1, 1970

.l"oto 9 - Anticlinal assimetrteo no arenito da Formacao Chimu. 0 plano axialesta inclinado e mergulha para sudoeste. Encosta noroeste da quebrada de Gara,

na porcao inicial da mesma.

Foto 10 - Estria~5es glaciais no granite p6rfiro da mina Esperanza, a 200 m aosui da galerta da mesma. A frente atual da geleira encontra-se numa cota 200 m

mats acima (para a lado esquerdo da foto). A altitude local ~ de 4.800 m.

Page 15: RECONHECIMENTO GEOLoGICO DA PARTE SETENTRIONAL …boletim.siteoficial.ws/pdf/1970/19_1-26-40.pdf · SETENTRIONAL DA HUALLANCA, Por ANDREA BARTORELLI ABSTRACT RESUMO The Huallanca

ANDREA BARTORELLI - Reconhecimento Geologico da Parte Setentrional. . . 41

Foto 11 - Laguna Mina Pata, represada POl' material taludar e glacial que impedeIQ eseoamento imediato da agua de degelo. 0 gelo flutuante e originado de bloeosprovindos do desmoronamento de "seracs" da geleira da quebrada Mina Pata,

250 m mais acima.

F oto 12 - N evado HuaUan ca Sur (5 .400 m) , vistodo acampamento-base da qu ebrada Mina P ata ;avista-se, tambem, parte da geleira que desce para

a mesma. A altitude local e de 4.200 m .

Foto 13 - Exemplar de Puya raimondii apos aflorac;ao, atingindo urna altura de 8,5 m. Encostasudeste da quebrada de Gara, em sua extremidade

Inicial. A altitude do local e de 4.350 m.