1 38コ Encontro Anual da Anpocs GT 28 – PENSAMENTO SOCIAL NO BRASIL Estado Novo, José Olympio e Dostoiévski: por que uma “coleção” de obras completas? Bruno B. Gomide (USP)
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38º Encontro Anual da Anpocs
GT 28 – PENSAMENTO SOCIAL NO BRASIL
Estado Novo, José Olympio e Dostoiévski: por que uma“coleção” de obras completas?
Bruno B. Gomide (USP)
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A literatura russa é um dos melhores termômetros das flutuações políticas da era
Vargas. Ela foi especialmente sensível às pressões do Estado Novo, um regime, afinal,
cuja ideologia lastreava-se, em grande medida, na recusa ao comunismo soviético. A
forma como os atores políticos e culturais se relacionaram com o “texto russo”,
mobilizando paixões pró e contra, permite traçar a história do anti-comunismo no Brasil
– história que já foi analisada por diversos ângulos, mas nunca exclusivamente pelo da
literatura russa.
Entre outras reviravoltas políticas e culturais, a década de trinta assistiu ao
fortalecimento do incipiente mercado editorial brasileiro. Uma das conseqüências mais
marcantes ocorreu justamente no universo da literatura russa. É a explosão de
publicações que Brito Broca chamou, com certo mau-humor, de “febre de eslavismo”,
quando se traduziu ficção russa em grande escala. O crítico, curiosamente, não menciona
que ele mesmo fez parte da tal febre, pois foi um dos tradutores da coleção “Biblioteca de
obras russas”, do editor imigrante Georges Selzoff.1 A grafia francesa do seu nome russo
(originalmente Zeltzóv) é típica da ambigüidade do período. O primeiro grande projeto
editorial dedicado aos russos propunha nada menos do que uma coleção inteira traduzida
a partir do original, mas, sintomaticamente, exibia um editor com nome afrancesado, no
velho estilo, e uma equipe que tinha que somar esforços para produzir um único
“tradutor” razoavelmente competente: consta que Selzoff fazia uma primeira versão
literal, e os jovens escritores brasileiros, estreantes nas letras em começos dos anos trinta,
providenciavam um segundo texto, com as qualidades literárias desejáveis. O arranjo,
variação brasileira da prática soviética de “podstrótchnik”, prenuncia, numa versão
tateante, o trabalho a seis mãos tecido pouco mais de trinta anos depois, que também
juntava um russo imigrante (Boris Schnaiderman) com dois escritores brasileiros
(Augusto e Haroldo de Campos). Eles traduziriam não prosa, mas poesia, sendo que essa
mudança de gênero, além da evidente diferença de qualidade das propostas envolvidas,
pode ser vista como um indicador expressivo do novo patamar alcançado pelos estudos
russos no Brasil.
Nos anos trinta, portanto, aparecem oficialmente as primeiras traduções diretas do
russo. Isso não significava um esmero maior com a atividade tradutória ou o incremento
do estudo da língua russa. Nesse período, talvez mais do que em qualquer outro, há um
1 Sobre a coleção de Selzoff, cf. Denise Bottman, “Georges Selzoff, uma crônica”. Tradução em revista, n.14, 2013/1.
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forte cruzamento entre política, imigração e tradução de textos russos. Aparecem
tradutores de sobrenomes eslavos (ou vagamente), esquivos para o pesquisador
contemporâneo: Elias Davidovitch, Ivan Petrovitch, J. Jobinsky, Raul Rizinsky. Na
enorme maioria dos comentários críticos então produzidos, a exigência de conhecimento
direto da língua russa e a qualidade das traduções aparecem desvinculadas, embora aqui e
ali percebamos uma tentativa de articular esses aspectos. É o que faz o intelectual
alagoano Valdemar Cavalcanti, para o qual a “Biblioteca de autores russos” continha
livros “traduzidos carinhosamente e editados com bom gosto”2:
“A iniciativa do sr. Georges Selzoff de traduzir para o português uma coleção de grandes obras de
autores russos é, sob todos os pontos de vista, merecedora do melhor acolhimento por parte dos intelectuais
brasileiros. Todos sabemos o quanto vinham sofrendo Dostoiewski e Gorki e Tolstoi com as ultimas
edições em português de suas obras. O russo editor percebeu o martírio infligido aos seus geniais
compatriotas mortos e resolveu fazer a Edição Cultura, a Biblioteca dos Autores Russos, traduzindo ele
mesmo as obras a editar”.3
Esse momento, que vai até meados da década, coincide com uma enorme leva de
publicações de editoras como a Unitas, Pax, Marisa e Calvino, muitas delas associadas a
intelectuais e gráficas de esquerda. No plano transnacional, tal fluxo de Dostoiévskis
misturados a Lênins se afina com as políticas internacionalistas soviéticas de difusão
literária, as viagens de estrangeiros à União Soviética e os alinhamentos de intelectuais a
associações de apoio e ajuda ao povo soviético. Com a Intentona Comunista e o começo
do Estado Novo, a publicação de obras russas no Brasil despenca, para retornar
dramaticamente após fins de 1942. O período que vai desse momento até o fim da guerra
e do Estado Novo talvez tenha sido o de maior presença do “texto russo” no Brasil,
incluindo-se aí o momento de furor editorial atual. Nunca se publicou tanta literatura
russa no Brasil quanto entre 1943 e 1945.4
O referido Valdemar Cavalcanti é um bom exemplo dessas idas e vindas da
literatura russa no Brasil entre o começo dos anos trinta e o fim do Estado Novo: no
2 Jornal de Alagoas, 11-5-32.3 Recorte de jornal, sem indicação de título (possivelmente, Novidade), 19-8-31.4 Uma excelente listagem pode ser encontrada em Denise Bottman: “Bibliografia russa traduzida no Brasil(1900-1950)”. Disponível em:https://www.academia.edu/7164591/Bibliografia_Russa_Traduzida_no_Brasil_1900-1950_(Essa pesquisa apresenta os livros publicados. Em jornais do mesmo período, o número de textos de
escritores russos seria centenas de vezes maior).
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primeiro período, ele escreve dezenas de artigos de jornal, saudando enfaticamente a
“febre de eslavismo” e iniciativas como a da Selzoff; em 1937-38 e nos dois anos
seguintes, resenha majoritariamente autores brasileiros (Bandeira, Freyre, Euclides da
Cunha, entre outros), aprecia iniciativas do Ministério da Educação, aborda temas
nacionais (problemas de educação, instrução pública, arqueologia, edições da Brasiliana
e outros livros da Companhia editora Nacional), elogia Alberto Torres, Azevedo Amaral
e considera que o livro de Anor Butler Maciel oferece “oportunos subsídios para o estudo
dos fundamentos políticos da Democracia Autoritária instaurada no Brasil pelo
presidente Vargas, no histórico 10 de novembro”.5 Julga, ademais, que o “(...) Estado
Novo enriquece a nacionalidade de uma seiva diferente e começa a inchar as suas raízes
no espírito coletivo”.6 Naquela altura, não há sinal dos escritores russos, que voltarão
apenas a partir do realinhamento político brasileiro, quando Cavalcanti traduzirá dois
deles: Dostoiévski, para uma coletânea de contos publicada por Rubem Braga e Anibal
Machado, e Ressurreição, de Tolstói, para a José Olympio, em 1945. Além das
traduções, escreverá artigos inflamados sobre “os atentados que no Brasil se verificaram
ao patrimônio cultural da Rússia” e reduziram obras de Dostoiévski e Tolstói a
“rebotalhos literários”, resultando na perseguição pública de textos como Cimento, de
Gladkóv, e O Volga desemboca no mar Cáspio, de Pilniák7 – basicamente, o tipo de livro
gerado pela “febre” de começos da década de trinta, resenhada efusivamente por ele e
engavetada após as turbulências de 1935-37.
A cereja no bolo dos esforços editoriais de então foi a coleção de obras completas
de Dostoiévski publicada pela José Olympio a partir de 1944, assinalando o ápice da
nova fase de contato com a ficção russa. Diga-se, porém, que mesmo nos momentos de
baixa, especificamente em 1937-1941, a literatura russa jamais deixou totalmente de ser
traduzida e comentada. Com uma ressalva importante: era dos escritores do século
dezenove que se falava, quase nunca dos “novos” soviéticos (ou da “moderna literatura
russa”, como se dizia), tidos em geral pela crítica como inferiores àqueles (uma
apreciação equivocada, que só seria desfeita a partir da atividade crítica de Boris
Schnaiderman) e muito mais visados pela repressão política. Dostoiévski, Tolstói e
5 CAVALCANTI, Valdemar, “Apontamentos literários” (Jornal não identificado, 13-2-38 – recorteexistente no acervo do escritor, depositado na Fundação Casa de Rui Barbosa).6 CAVALCANTI, Valdemar. “Retratos”. (Jornal não identificado, 16-2-38 - idem).7 CAVALCANTI, Valdemar. “Livros condenados”. Leitura. Rio de Janeiro, maio 1945.
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Górki, em primeiro lugar, e Turguêniev, Gógol e Púchkin, a seguir, eram portos seguros
que possibilitavam aos críticos prolongar a sua freqüentação da cultura russa e, ao
mesmo tempo, realizar um comentário sobre o Brasil, o mundo e a humanidade em
tempos árduos.
A ficção russa estava, portanto, vinculada à discussão estritamente política,
acompanhando o ritmo nervoso do tempo e sendo apropriada de modos radicalmente
diferentes para fins bastante práticos. Entretanto, podia ser tratada também através de
uma perspectiva universalizante, que a tornava cada vez mais canônica, “clássica” e
apolítica, ligada aos grandes temas eternos da condição humana.
Assim, não é de espantar a quantidade de ensaios que aparecem sobre temas
literários russos escritos por uma profusão de críticos das orientações as mais diversas.
Da longa lista a seguir, apenas parcial, alguns são bem conhecidos, outros mereceriam
maior reconhecimento pela dedicação que mostraram no estudo da literatura russa:
Rubem Braga, Otto Maria Carpeaux, Nelson Werneck Sodré, Álvaro Lins, Augusto
Meyer, Wilson Martins, Adônias Filho, Eloy Pontes, Joracy Camargo, Jamil Almansur
Haddad, Hélio Sodré, Edgard Cavalheiro, Modesto de Abreu, Anibal Bonavides, Moacir
Werneck de Castro, Galeão Coutinho, Adonias Filho, Temístocles Linhares, Ubaldo
Soares, D’Almeida Vítor, Otto Schneider, Emmanuel de Benningsen, Santana Dionysio,
Ruy Fernandes, Plácido Ribeiro, Francisco A. Magalhães Gomes e Antonio Candido. Há
ainda um grande número de textos de autores estrangeiros, repercutidos nas revistas
brasileiras: Pio Baroja, Stefan Zweig, Paulo Shostakovitch, Adolfo Casais Monteiro e
muitos outros.
Esses intelectuais mostram um nível de conhecimento muito variável sobre a
história intelectual e literária russa. Em meio a resenhas circunstanciais e artigos
entusiasmados, porém às vezes precários do ponto de vista da exatidão das informações,
há um número significativo de textos de qualidade. Seria um equívoco tratar essa crítica
como “menor”, superada pelo profissionalismo instaurado a partir de começos dos anos
sessenta com a fundação de cursos de literatura russa.8 É um ensaísmo diversificado e,
em seus melhores momentos, desconfiado em relação aos lugares-comuns da crítica
destinada a temas russos, aos chavões que campeavam àquela altura (e que ainda grassam
na imprensa brasileira). À diferença da manifestação isolada de um José Carlos Junior no
8 Para uma discussão instigante sobre esse tema, ver: ROCHA, João Cezar de Castro, Crítica literária: embusca do tempo perdido? Chapecó, Argos, 2011.
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fim do século dezenove,9 ampliava-se o clamor por novas traduções e pelo conhecimento
mais aprofundado da língua russa – a ponto de Antonio Candido, de modo irônico, ter se
desdobrado em um pseudônimo (“Fabricio Antunes”, usado também por Ruy Coelho),
que arrogava saber justamente o idioma de Maiakóvski.10
Em meio a tanto entusiasmo pela literatura russa, por que justamente Dostoiévski
foi o escolhido pela José Olympio?
Se os escritores russos foram, coletivamente, objeto de atenção de críticos e
editores, Dostoiévski era indubitavelmente um dos carros-chefe do processo de recepção
da literatura russa no Brasil. Foi alvo do entusiasmo de escritores como Lima Barreto,
Graciliano Ramos e Nelson Rodrigues, e de uma multidão de intelectuais e leitores de
todos os tipos, desde a descoberta internacional do romance russo na década de 1880.
Um bom exemplo da centralidade de Dostoiévski nos debates literários pode ser
visto na troca de correspondência entre Jayme Adour da Câmara e Lima Barreto. A
estréia do primeiro na vida literária adveio associada justamente ao destino dos escritores
russos no Brasil e do mais “russo” dos nossos escritores. Isso acontece em conhecida
carta de Lima Barreto, datada de julho de 1919, em que o escritor carioca dispensa o seu
famoso conselho ao “jovem autor”, o próprio Adour da Câmara: “Leia sempre os russos:
Dostoiévski, Tolstoi, Turguêneff, um pouco de Górki; mas, sobretudo, o Dostoiévski da
Casa dos Mortos e Crime e Castigo”.11 O iniciante participava, assim, de um dos
momentos-chave das relações entre Lima Barreto e a literatura russa. Naquela altura,
leitor dos russos há pelo menos duas décadas, Lima podia dar caráter de síntese às suas
opiniões sobre a tradição literária russa, relativamente nova no plano internacional, mas
já desfrutando de um peso decisivo. É de se supor que o conselho tenha impressionado o
jovem Adour da Câmara, então com pouco mais de vinte anos.
O escritor sugerido é “sobretudo” o Dostoiévski dos romances mencionados
porque Lima movia-se no terreno crítico fornecido pela crítica francesa de fins do século
dezenove, responsável pela primeira onda significativa de difusão da literatura russa.
9 Cf. GOMIDE, Bruno, Da estepe à caatinga: o romance russo no Brasil (1887-1936). São Paulo, Edusp,2011.10 ANTUNES, Fabrício. “A propósito de Maiakovski”. Clima, n. 12. São Paulo, abr. 1943. Este parágrafo eo anterior utilizam comentários apresentados, em forma modificada, em: GOMIDE, Bruno. “Os estudosrussos no Brasil: momentos decisivos”. Tempo Brasileiro, n. 193, abr/jun. 2013..11 Lima Barreto, Um Longo Sonho do Futuro, 1993, p. 280. Este parágrafo e os três seguintes utilizamcomentários apresentados, em forma modificada, em: GOMIDE, Bruno, “Jayme Adour da Camara, umabibliografia russa e uma carta tolstoiana”. Revista Brasileira, 2014 (no prelo).
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Para Lima Barretto (e, por extensão, para Adour da Câmara e a maior parte da
intelligentzia russófila latino-americana), tão importante quanto o “niilismo” russo ou a
revolução de 1917, que palpitam nas entrelinhas desse e de outros comentários do
escritor brasileiro, foi o referencial crítico fornecido por obras como O romance russo, de
Melchior de Vogüé, um texto que promovia uma pugna contra o naturalismo francês a
partir de uma matriz ensaística de feitio religioso (e, especificamente, católico).12 Vogüé
sugeria aqueles dois romances como os melhores de Dostoiévski, às expensas de obras
como Os irmãos Karamázov, nebulosas no pensamento e desconjuntadas na arte, no
entender do ensaísta francês. Note-se, porém, que Lima Barreto realizava uma
apropriação insubordinada da obra de Vogüé, parafraseando-a, ao repassar a sugestão
daqueles dois romances para o seu jovem missivista, ao mesmo tempo em que a
confrontava, elevando ao ponto máximo do seu conselho justamente o escritor que, para
Vogüé, não era o apogeu da ficção russa.
Chama a atenção, no conselho dado por Lima, a quantidade moderada de Górki a
ser apropriada, ele que já era um poderoso ícone da esquerda internacional, lido via de
regra em edições baratas: as memórias de diversos escritores brasileiros costumam
localizar o primeiro contato com Górki em livros semi-enterrados em porões e desvãos,
nos bastidores do mundo do trabalho e da pobreza. Era, como se sabe, um autor
apreciadíssimo em círculos anarquistas e socialistas. Portanto, muito mais palatável caso
o objetivo da recomendação epistolar fosse essencialmente político. Desse ponto de vista,
Górki era, em teoria, o antípoda de Dostoiévski, politicamente duvidoso e ideólogo
“perigoso”, porém de apelo muito mais universal no campo da cultura, capaz de atingir
grupos literários diversos e até antagônicos (esse ponto será, como veremos, um
elemento decisivo na apropriação brasileira de Dostoiévski nas décadas seguintes, pelo
menos até o final da tensão estadonovista).
Hoje parece simples, portanto, deduzir por que justamente o autor de Crime e
castigo foi o escolhido para capitanear uma proposta de peso, feita pela emblemática
livraria-editora da Rua do Ouvidor. A coleção de obras completas de Dostoiévski lançada
pela José Olympio a partir de meados dos anos quarenta era, até então, a maior iniciativa
do gênero feita por uma editora de respeito em relação a um autor estrangeiro. Até hoje,
12 Cf. GOMIDE, Bruno, op. cit, 2011, pp. 79-123.
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com sua brilhante mescla de traduções, textos críticos e ilustrações, é um dos pontos altos
do nosso mercado editorial, e não apenas daquele relacionado à literatura russa.
Na virada da década de trinta para a de quarenta, quando o projeto começa a se
desenhar, a resposta à pergunta – por que Dostoiévski? - também pareceria natural. Ele
estava em todos os cantos da vida literária nacional, solidamente assentado como um dos
eixos da modernidade literária.
No Brasil, estava tão ligado ao nervo da vida cultural, que muita gente começa a
escrever reclamando da onipresença do escritor e manifestando impaciência com textos
escritos de modo dostoievskiano. Ainda em meados dos anos vinte, referindo-se ao
surrealismo, Mário de Andrade afirmava: “Os franceses estão fazendo do subconsciente
o que fizeram da psicologia de Dostoiewsky quando começaram a usar uma formula do
horror à russa, outra do abismo psicológico, outra da simultaneidade dos sentimentos
contraditórios”.13 Mário de Andrade fez, em outras duas ocasiões, considerações
similares. Em 1936, lamentou a “moda Dostoiévski” e a “moda russa” postas em
circulação pela França.14 Na segunda edição do Compêndio de História da Música,
aludiu à “moda russa que ridiculamente tomou o mundo desde a última década do século
passado”.15 Em 1943, Rubem Braga, resenhando uma edição do Diário de um escritor
lançada pela Vecchi, afirmava que “Proust e Dostoiévski têm exercido a pior influência
na literatura brasileira, o que não é culpa de nenhum dos dois”.16 E, comentando um livro
da escritora argentina Estela Canto, em novembro de 1945, Moacir Werneck Castro
elogiava o fato de ela ter fugido da “tentação da sombra, tão comum entre os nossos sub-
dostoiévskis tropicais, que ocultam a lamentável pobreza de estrutura de seus romances
lançando sobre a história um véu espesso de sombra, de silêncios e de mistérios
inenarráveis”.17
O problema, claro, não era o escritor russo, mas seus imitadores e a generalização
de um “ambiente” associado a ele. Nos jornais literários, há notícias sobre grandes livros
preparados sobre Dostoiévski: escritores comentam, em entrevistas a Vamos Ler!, à
Revista do Globo, a Dom Casmurro, que estão reunindo anotações para a obra
13 ANDRADE, Mario de. Resenha da revista “Estética n. 3”, ago. 1925. A Revista, ano I, n. 2, BeloHorizonte, ago. 1925.14 ANDRADE, Mario de. “Decadência da Influência Francesa no Brasil”, In: Vida literária. São Paulo,Edusp-Hucitec, 1993.15 Andrade, 1933, Compêndio de História da Música, 1933, 2a ed., pp. 144 - 145.16 Braga. BRAGA, Rubem, “O diário de Dostoiévski”, Leitura, n. 5, 1943, p. 16.17 CASTRO, Moacir Werneck de. “O muro de mármore”. Leitura. Rio de Janeiro, nov. 1945, p. 41.
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interpretativa decisiva, adequada ao grande papel destinado a Dostoiévski, criador de
pessoas e ficções da nossa era.18 Uma delas fora projetada pelo escritor gaúcho Athos
Damasceno Vieira; outra era a história da literatura russa prometida por Otto Maria
Carpeaux, justamente para a José Olympio. Nenhum desses ensaios foi publicado. A José
Olympio, a seu modo, realizou o tão esperado livro-magno dostoievskiano. Em meio a
um mar de artigos e traduções dispersas, relativos à literatura, à história e à política
russas, ela sistematizou as apostas e ansiedades da época.
O empreendimento da José Olympio é certamente um ponto alto da longa duração
da recepção brasileira de Dostoiévski. Mas é também um produto firmemente enraizado
nas tensões culturais do Estado Novo, pelo menos quanto ao seu nascimento, pois a
coleção prosseguirá depois do término daquele momento autoritário e chegará, acrescida
de novas traduções, quase no seguinte.
Os debates em torno da gestação da coleção não são muito claros, mas há indícios
de que ela começa a ganhar contornos por volta de 1941, ainda no período de retração
editorial da literatura russa. Rachel de Queiroz parece ter desempenhado papel
importante como incentivadora do projeto nesse primeiro impulso. A imprensa passa a
noticiar a coleção timidamente em fins de 1943, ganhando fôlego no primeiro semestre
de 1944. Os comentários iniciais mostram indefinições no escopo da coleção. Além de
títulos diferentes para certas obras, alguns anúncios incluem O diário de um escritor
entre os volumes futuros, portanto conferindo mais veracidade à completude prometida
no título da coleção. A obra, em quatro tomos, seria prefaciada por Álvaro Lins, crítico
que escreveu ensaios excelentes sobre os russos no Correio da manhã, em diálogo com o
recém-chegado Otto Maria Carpeaux. Lins é o grande nome ensaístico que ficou ausente
do desenho final da coleção da José Olympio, designado para uma obra que, até hoje, é
uma das maiores lacunas do mercado editorial brasileiro.
Um anúncio de fevereiro de 1944 publicado na seção “O que leremos em breve”
da revista Cultura Política (um periódico fundamental do Estado Novo) é bem
característico da expectativa em torno das traduções:
“A livraria José Olympio promete para breve a tradução das obras completas de Dostoïewski, feita
através dos melhores textos até hoje conhecidos, baseados nas edições oficiais russas de 1926 a 1929.
18 Para um panorama do ambiente dostoievskiano dos anos trinta, ver GOMIDE, Bruno. Op. cit, 2011, pp.387-467.
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Essas edições foram feitas após importantíssimos estudos sobre a obra de Dostoïewski a partir de 1920, por
determinação do governo russo. Os volumes serão ilustrados por Santa Rosa, a bico de pena, e terão
xilografias de Alex de Leskoschek e Osvaldo Goeldi. As traduções foram confiadas a escritores de mérito,
profundos conhecedores, por sua vez, dos romances do genial ficcionista, como Raquel de Queirós, Lúcio
Cardoso, Rosário Fusco, Costa Neves, José Geraldo Vieira”.
Brito Broca, cujo importante papel de comentador da literatura russa (inclusive na
coleção da José Olympio) ainda está por ser estudado, e que já vimos atuando na coleção
de Selzoff, era um dos colaboradores de Cultura política e foi responsável por vários
desses informes.19
Os livros são lançados a partir de julho de 1944, com O eterno marido. Logo
depois vêm O jogador e Humilhados e ofendidos, em setembro e novembro,
respectivamente, do mesmo ano. Desprovida dos grandes romances da maturidade com
os quais Dostoiévski é classicamente associado, pode parecer uma seqüência “fraca” para
abrir os trabalhos de um projeto editorial dessa monta e envolto em tamanha expectativa.
O primeiro livro de apelo ubíquo viria apenas no segundo semestre de 1945: as
Recordações da casa dos mortos, texto-chave na recepção brasileira de Dostoiévski,
encerravam o primeiro fluxo de traduções e, ao mesmo tempo, o próprio Estado Novo.20
Os livros seguintes saem com intervalos maiores, em 1947 e 1949. Depois haverá uma
nova leva no começo dos anos cinqüenta e diversos rearranjos ao longo dessa década e da
seguinte, já com a participação de Boris Schnaiderman a partir de 1960, substituindo
algumas das traduções originais, inclusive a de O eterno marido, o livro de estreia. Boa
parte das obras chegará à quarta ou à quinta edição .
Pode-se especular que a ausência de romances paradigmáticos como Crime e
castigo ou Os irmãos Karamázov na primeira parte do projeto se deve a questões
conjunturais ou ao trabalho maior requerido para a preparação desses textos (há
indicações de que a tradução do primeiro já vinha sendo feita desde o começo dos anos
quarenta). Mas é possível também supor que a abertura com obras “laterais” tenha
19 Brito Broca, além de ter sido um dos colaboradores de Georges Selzoff, escreveu artigos pioneiros sobrea recepção da literatura russa no Brasil e, em fins da década de 1940, traduziu O romance russo, deEugène-Melchior de Vogüé, para a editora A Noite.20 Um fator fundamental para o sucesso da coleção era a sua junção de traduções, aparatos críticos eilustrações: O eterno marido tinha prefácio e tradução de Costa Neves e ilustrações de Axel Leskoschek. Ojogador repetia os mesmos nomes. Humilhados e ofendidos trazia tradução de Raquel de Queiroz, prefáciode Otto Maria Carpeaux e ilustrações de Osvaldo Goeldi. As Recordações da casa dos mortos tinham omesmo tradutor e ilustrador do anterior, e prefácio de Brito Broca.
11
relação com a perspectiva modernista de releitura de Dostoiévski. O eterno marido, por
exemplo, era uma narrativa central para a interpretação de André Gide, um dos
fomentadores da nova série de traduções francesas dos anos vinte, lastreadas nas
descobertas arquivísticas e nas propostas editoriais russas pós-revolução.21 Elas
ganharam equivalentes editoriais mundo afora, munidas de traduções e aparatos críticos
que reviam e contestavam as versões herdadas do fim de século. A coleção da José
Olympio era a variante brasileira desse fenômeno.
A escolha de um russo para protagonizar a primeira coleção dedicada a um autor
estrangeiro está também estreitamente ligada aos debates sobre a tradução, que se
intensificavam no Brasil ao mesmo passo em que o nosso mercado literário e editorial
encorpava. De todas as grandes tradições literárias, a russa era a mais problemática no
quesito tradução, e a única que não dispunha de traduções diretas, salvo em tentativas
pontuais, como a mencionada coleção de autores russos de Georges Selzoff.22 Mesmo
com problemas de toda natureza, e em registros variadíssimos, era possível encontrar
traduções de obras inglesas, espanholas, francesas e alemãs feitas a partir do original, às
vezes produzidas por escritores brasileiros talentosos. A situação da literatura russa era
muito diferente, e a importância que ela adquirira estava em proporção inversa ao que
havia por aqui no mercado tradutório. Há inúmeros artigos na imprensa da época
reclamando da má qualidade das traduções brasileiras em geral, sendo que os
comentários sobre as traduções de obras russas eram especialmente severos –
sintomaticamente, a palavra “mutilação”, usada comumente para as traduções brasileiras
do russo, se tornou também um termo comum para a censura estadonovista a livros e
idéias.
Há diversas manifestações sobre a necessidade de melhoria das traduções: por
exemplo, o artigo de Gilberto Miranda, que fala da importância da melhoria das
condições de trabalho dos tradutores. Ou a opinião apresentada na revista Cultura
Política, segundo a qual era preciso tomar cuidado com “tanta pachucada estrangeira em
apressadas traduções” que “inundavam” o “mercado livreiro”. A exigência de um
tratamento mais profissional em relação à literatura russa transparece na opinião de
Rubem Braga, que criticava as “péssimas traduções” de Dostoiévski disponíveis. Braga
21 GIDE, André. Dostoievski. Paris, Plon, 1923.22 Sobre a coleção de Selzoff, conferir a pesquisa de Denise Bottmann disponível em:http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/search/label/georges%20selzoff (acesso verificado em 11 de maiode 2013).
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tentava tomar providências para remediar a situação: ele organizava, naquela altura, um
volume de contos russos que, na qualidade das ilustrações e na diversidade dos tradutores
e críticos, funcionava como uma versão em escala menor do projeto de obras de
Dostoiévski editadas pela José Olympio. Na mesma linha, vimos que Valdemar
Cavalcanti falava de Dostoiévski e Tolstói “desfigurados” pelas “más traduções”. No seu
entender, era uma mutilação similar à cometida pela perseguição política estadonovista
aos livros russos. Carlos Lacerda, então crítico literário, comentava Górki e as “horríveis
traduções que editores bem intencionados nos serviam”. Moacir Werneck de Castro, por
sua vez, reconhecia as limitações da sua própria tradução de um poema de Maiakóvski,
feita a partir do francês. E, por fim, a seção “Movimento literário” de Cultura política
criticava as “traduções estropiadas, tão freqüentes em nosso mercado livreiro”. Oferecia
como alternativa a tradução de Rosário Fusco (um dos que trabalhará na coleção da José
Olympio) para a biografia de Dostoiévski escrita por Henri Troyat.23
As traduções da José Olympio eram indiretas, mas, nas condições da época, eram
o que de melhor podia ser feito. Quase todos os artigos escritos sobre a coleção
ressaltaram o papel das novas traduções. Veja-se, por exemplo, esta, de Lucio Cardoso,
que não participou diretamente da coleção, como prefaciador ou tradutor, mas que é uma
das personalidades do mundo literário que certamente podem ser associadas ao projeto
como fomentadores do “ambiente” dostoievskiano. Após saudar as iniciativas de obras
completas de Edgar Allan Poe e de Balzac, ambas da Globo, ele afirma:
“A livraria José Olympio, que foi a primeira entre nós a iniciar a campanha em prol do
desdenhado autor nacional, campanha que vem sustentando com inexcedível brilho, ainda nitidamente
manifesto há pouco com a estréia de Fernando Sabino e Xavier Placer, não podia ficar atrás nesse
movimento editorial. Assim, já depois de iniciada a coleção dos belíssimos romances de Mazo de La
Roche e com a “Forsyte Saga” no prelo, acha-se agora diante de um empreendimento que honraria
qualquer casa editora – em qualquer parte do mundo: o lançamento das obras completas de Dostoiewski.
Não estamos em face de uma fria tentativa visando lucros imediatos, mas ante um empreendimento
honesto, perfeito, e de responsabilidade perfeitamente nítida. As traduções até agora aparecidas – O eterno
marido e Um jogador – foram entregues a Costa Neves, que tem do “metier” uma larga experiência aliada
23MIRANDA, Gilberto, “Escritores e livros – traduções brasileiras”. Cultura Política, n. 47, dez. 44.BRAGA, Rubem, “O diário de Dostoiévski”. Leitura, n. 5. Rio de Janeiro, abr. 1943; CAVALCANTI,Valdemar, “Livros condenados”. Leitura. Rio de Janeiro, maio 1945; LACERDA, Carlos, “Destinaçãosocial do romance brasileiro”. Revista acadêmica, n. 66. Rio de Janeiro, nov. 1945; CASTRO, MoacirWerneck de, “Numa flauta de vértebra”. Revista acadêmica, n. 62. Rio de Janeiro, nov. 1942; “Movimentoliterário”, Cultura Política, n. 35, dez. 1943.
13
a um bom gosto indiscutível e a um perfeito senso do que significa a palavra traduzir. Pois traduzir não é
como imagina o melancólico e paquidérmico Sr. Guilherme de Figueiredo, uma exibição de pieguices
gramaticais, e sim uma compreensão viva e forte do texto a transpor, numa linguagem em que, se às vezes
os pronomes não estão muito certos, vale no entanto como uma perfeita transposição do pensamento do
autor”.24
Outra maneira de entendermos a coleção da José Olympio é como o produto
“russo” mais bem acabado no contexto pós-Stalingrado, em que a censura estadonovista
aos temas russos se flexibilizou consideravelmente. As manchetes dos jornais noticiavam
as vitórias do nosso novo aliado, o Exército Vermelho. As páginas dos cadernos culturais
espelhavam as novas dos campos de batalha e traziam anúncios apregoando a triunfante
procedência soviética das edições que serviam de base ao projeto brasileiro. Muitas vezes
essas notas vinham com indisfarçável sentimento de desforra por parte de uma esquerda
até então amordaçada, associando as novas traduções de literatura russa aos feitos
militares soviéticos, defensor, conforme rezava o lugar-comum da época, da cultura,
contra a barbárie nazi-fascista.
Não é por acaso, nesse sentido, que o lançamento das quatro obras iniciais da José
Olympio coincide com a reta final da ditadura varguista. No mesmo contexto e com a
mesma velocidade, há um volume exponencialmente crescente de publicação de obras
russas feitas por outras editoras: Globo, Panamericana, Leitura e a maior concorrente da
José Olympio nessa seara, a Vecchi. No campo dostoievskiano, ela editará dois livros de
peso, o Diário de um escritor (tradução de Frederico dos Reys Coutinho) e Os irmãos
Karamázov, na tradução de Boris Solomônov, pseudônimo de Boris Schnaiderman, que
estreava no ramo da tradução – para nunca mais voltar a uma empreitada tão caudalosa.
Vale observar que a própria José Olympio, naquele período agitado, lançava outros
autores russos, de Berdiáev a Turguêniev.
Interpretar a publicação de Dostoiévski como uma forma de resistência política
(considerável, dada a dimensão do projeto) ao autoritarismo varguista é bastante
razoável. Mas a coleção não se resume a isso. Se a única questão em pauta fosse a
contestação ao regime, haveria outros escritores russos disponíveis no mercado, alguns
até mais adequados ao propósito (no limite, qualquer um serviria). Tolstói também era
24 Lucio Cardoso. “Uma edição de Dostoiewski”. A manhã, n. 00921. Rio de Janeiro, 10 ago. 1944.
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muito traduzido, e sua ficção constava de todas as listas do tipo “meus romances
preferidos”, sempre ocupando as primeiras posições. A tradução de Guerra e paz, de
Gustavo Nonnenberg, para a editora Globo, em 1942, constituiu um marco da nova etapa
de publicação dos russos, prefigurando a virada política e simbólica caracterizada por
Stalingrado. Tolstói possuía uma imagem de contestador político muito mais acentuada
do que Dostoiévski, imagem consolidada pelo fato de estar vivo e (muito) presente na
imprensa mundial em paralelo ao “boom” do romance russo de fins do século dezenove.
Já Górki foi possivelmente o escritor mais citado e comentado da imprensa brasileira dos
anos trinta e quarenta, o que se deve, em parte, ao fato de estar atuante até 1936,
representando a tradição da literatura russa continuada em pleno período contemporâneo.
E era, evidentemente, um ícone da esquerda política e cultural internacional, em contraste
com o “perigoso” (aos olhos de certos setores dogmáticos soviéticos) Dostoiévski.
Tolstói e Górki foram tão publicados, em livro, quanto Dostoiévski. Mas, em
nenhum momento, encontramos esboços, anúncios ou o desejo de uma coleção voltada a
eles.
Apesar da presença constante nas livrarias e nas páginas de jornais e revistas,
Tolstói e Górki eram nomes menos ecumênicos do que Dostoiévski. Tolstói não passara,
no Brasil, pelo mesmo processo de ressignificação modernista do seu rival. Seu nome,
correta ou incorretamente, estava mais ancorado no universo dos “clássicos” do século
dezenove. A crítica que lidava com ele era muito mais pobre e anedótica do que a relativa
a Dostoiévski. Praticamente não há, no período, ensaios críticos sobre Tolstói do mesmo
quilate daqueles que prefaciam os volumes da José Olympio. Górki e seus “vagabundos”,
por sua vez, desfrutavam de grande prestígio, mas era uma reputação que passava por
idas e vindas, e, no geral, não há esforços no sentido de se apresentar as especificidades
literárias de sua obra, que somente serão reveladas na crítica de Boris Schnaiderman,uma
década depois.25 Púchkin, Gógol, Turguêniev e outros (com Tchékhov começando a
despontar) localizavam-se em um nicho subsidiário, sempre à sombra dos supracitados.
A escolha precisamente de Dostoiévski envolve uma mistura de resistência política,
acomodação e simbiose dentro da cultura brasileira. Remete a um universo complexo,
ligado às ambigüidades da posição da própria José Olympio no cenário intelectual do
país. É, em outras palavras, um projeto tanto de resistência quanto de conciliação.
25 Cf. GOMIDE, Boris. “Boris Schnaiderman: questões de tradução nas páginas de jornal”. EstudosAvançados, vol. 26, n. 76, 2012.
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Dostoiévski era o único nome consensual à esquerda e à direita da vida literária
brasileira. Um artigo de Evaristo de Moraes Filho publicado na Revista do Brasil em
agosto de 1939 tenta definir essa posição:
“Não há por onde fugir, Dostoiewski foi um precursor genial de todo esse movimento literário
contemporâneo. (...) Dostoiewski é o exemplo típico do realista dos dois lados: interpreta, com igual
mestria e genialidade, a alma humana e a socidade, não tira o indivíduo de seu tempo e de seu ambiente,
não separa a cabeça que pensa dos pés que andam pelo chão”.26
Escritores de todas as orientações reivindicavam filiação a Dostoiévski. Nesse
ponto, há uma correlação exata com a pauta mais profunda da editora José Olympio, que
acolhia correntes distintas em sua “casa”. Dostoiévski era o que podia atender melhor aos
seus habitantes, enfeixado em uma coleção que permitia abranger as contradições da vida
intelectual brasileira, “sociais” e “introspectivos”, romancistas do Nordeste e católicos,
comunistas e presidentes. Ele era o nome de consenso para Lucio Cardoso, Raquel de
Queiroz, Octavio de Faria, Tristão de Athayde, Rubem Braga, Brito Broca e tantos outros
(a convergência em torno de Dostoiévski, aliás, pode ser um bom ponto de investigação
para uma análise futura que busque esmaecer fronteiras aparentemente definidas entre os
grupos distintos de ficcionistas no Brasil de fins dos anos trinta). Em seu discurso sobre
Púchkin, de 1880, Dostoiévski pretendia superar as tensões da intelligentsia russa,
oferecendo o poeta como um nexo acima das disputas. No longínquo país sul-americano,
pouco mais de meio século depois, ele mesmo logrou obter um efeito semelhante entre os
intelectuais brasileiros.27
O que nos leva a uma última hipótese para o fato de justamente ele ter sido, entre
todos os escritores (e não apenas os russos), escolhido para se transformar em uma
coleção na José Olympio, editora especializada também em textos de interpretação do
Brasil. Não é o caso de apresentar aqui uma listagem extensa de livros publicados na
conhecida coleção de “Documentos brasileiros”, a partir de 1936, e que lançará cerca de
cinqüenta volumes até o fim do Estado Novo, complementados por outros tantos até o
término do decênio seguinte. Cumpre apenas observar inicialmente que, ao lado de textos
26 FILHO, Evaristo de Moraes. “O realismo dos dois lados”. Revista do Brasil, ano II, 3a fase, n. 14. SãoPaulo, ago. 1939.27 A primeira tradução direta do ensaio de Dostoiévski sobre Púchkin está em Antologia do pensamentocrítico russo. (Org: Bruno B. Gomide). São Paulo, Editora 34, 2013.
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mais “históricos”, “sociológicos” e “memorialísticos”, de Sérgio Buarque de Holanda,
Oliveira Lima, Gilberto Freyre e outros, encontramos muitos textos de crítica literária,
por autores como Olívio Montenegro, Elói Pontes e Nelson Werneck Sodré, autores que
escreverão artigos críticos sobre Dostoiévski nos anos seguintes.
(É preciso reiterar que a proposta de uma coleção de obras completas não era
exclusividade da José Olympio. Como demonstra Gustavo Sorá, tal tendência vinha se
desenhando em outras editoras no começo da década de 1940 e foi um “(...) fator de
aceleração da concorrência, uma palavra de ordem das escolhas rentáveis, e um
dinamizador dos processos de diferenciação e distinção entre públicos e editoras”.28 No
que diz respeito a autores brasileiros, a própria José Olympio preparara a coleção de
obras de Humberto de Campos; a Jackson, as obras de Afrânio Peixoto, a Martins, as de
Jorge Amado etc).
Porém, a conexão entre Dostoiévski, sociologia e estética, embora tenha
encontrado uma articulação decisiva na virada dos anos trinta para os quarenta no
imaginário crítico brasileiro, e tenha ganhado uma feição visual e tradutória robusta na
coleção da José Olympio, não é uma invenção daquele momento. Ela remete a uma
maneira particularmente brasileira de ler Dostoiévski que remonta aos primeiros
momentos de contato com ele, em fins do século dezenove. Vale observar, nesse sentido,
que a outra grande coleção idealizada no período estadonovista, rival em ambição da
elaborada pela editora carioca, reproduzia a dicotomia presente na primeira recepção
brasileira entre uma nova forma “russa” e a tradição francesa: referimo-nos, claro, à
Comédia Humana, de Balzac, organizada por Paulo Rónai para a editora Globo.
Desde os primeiros artigos publicados por aqui, Dostoiévski é apresentado como
a ligação mais poderosa, no âmbito da cultura russa, entre literatura e vida nacional. Sua
inovação no campo da ficção seria, por esse ângulo, indissociável do seu papel de, como
rezava o clichê, o “mais russo de todos os russos”, de intérprete das mazelas e dos
tormentos da formação nacional de seu país. É necessário recuar no tempo para uma
melhor compreensão desse processo – por exemplo, para o artigo de Clóvis Beviláqua,
“Naturalismo russo – Dostoievsky”, o primeiro publicado sobre o autor no Brasil.29
28 SORÁ, Gustavo. Brasilianas: José Olympio e a gênese do mercado editorial brasileiro. São Paulo,Edusp, 2010, p. 390.29 Retomo a seguir, nas próximas 2 páginas, considerações feitas, de forma ligeiramente modificada, em:GOMIDE, Bruno, op. cit, 2011, pp. 123-170.
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Beviláqua se apóia em uma série de críticos franceses para sua interpretação de
Dostoiévski, notadamente no ensaio fundamental O romance russo, do visconde Eugène-
Melchior de Vogüé. Ao reproduzir as teses do escritor francês sobre as semelhanças e
diferenças entre o realismo russo e francês, e discutir a sua aplicação para o caso
brasileiro, Bevilaqua introduz um aspecto que não está presente no livro resenhado (ou
está, mas apenas parcialmente): o surgimento súbito do romance na Rússia, caso inédito
de uma literatura nacional forte que não apenas brotara em um país até então tido como
“sem-literatura”, como também se tornara rapidamente internacional, a despeito da
barreira lingüística e dos preconceitos existentes contra a “barbárie” russa:
“A francofobia dominante ainda não me pôs de cama. Apenas queria e quero pedir apoio a um
contraste. Seja ou não exato que a França tem o dever hereditário de tudo conhecer do mundo para melhor
guiar o mundo, o certo é que nós, os brasileiros, necessitamos de conhecer o que fazem os mestres para
continuarmos a aprender. (...)
Tenhamos fé. Um dia deixaremos também os nossos mestres de hoje, e iremos pensar por conta
própria. Como a Rússia, cuja emancipação literária data apenas de cinqüenta anos, poderemos emancipar-
nos intelectualmente à força de gênio e de estudo”30.
Do ponto de vista periférico, a difusão do romance russo modificava o sistema
literário mundial e abalava hierarquias. Beviláqua, embora apreciador da novidade
literária russa, manifesta, contudo, uma posição ambígua. O alinhamento com a cultura
francesa, declarado na abertura, será retomado ao final do ensaio, quando, após percorrer
Dostoiévski, e tendo diante de si os dois modelos, manifesta-se em prol de leve
russificação dos franceses, e não de afrancesamento dos russos.
O tema da dissolução do romantismo imitativo e sua substituição por uma arte
autenticamente nacional, por meio da adoção de um naturalismo não-ortodoxo,
transparece na estruturação dos capítulos de Épocas e Individualidades, coletânea de
ensaios publicada por Bevilaqua em 1889 e que traz o texto sobre Dostoiévski
(originalmente impresso em um jornal do Ceará, no ano anterior):
I – Esboço sintético do movimento romântico brasileiro.
II – O teatro brasileiro e as condições de sua existência.
30 Idem, p. 142.
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III – Silvio Romero e a história da literatura brasileira.
IV – Aluisio Azevedo e a dissolução romântica.
V – Julio Soury e sua interpretação patológica do caráter de Jesus.
VI – Naturalismo russo – Dostoievsky.
Temos, progressivamente, a derrocada das antigas idéias: dois painéis históricos
do momento romântico em vias de superação; dois capítulos sobre nomes novos (Romero
e Azevedo), atores privilegiados da desmontagem do romantismo; um capítulo
intermediário, que, com a figura de Jesus, reintroduz a religião, mas sob crivo da ciência
e do método histórico; e a culminação em Dostoiévski, união moderna de nacionalidade,
naturalismo e idealismo – em suma, da estética mais avançada e do compromisso com o
país. Vale observar que o romancista russo é o único autor de ficção estrangeiro que
merece um capítulo no livro.
Esse fio condutor será retomado ao longo das décadas seguintes sob ângulos
diferentes e complementares: às vezes, na forma do debate sobre os paralelos históricos,
sociais e culturais entre a Rússia e o Brasil, na linha de Gilberto Freyre Everardo
Backheuser e outros; ou podia ser a discussão, correlata à anterior, e forte nos setores de
esquerda, sobre as possibilidades de implantação do comunismo no Brasil; podia ocorrer
também pela via da sensibilidade, de uma espécie de sentimento íntimo que mesclava as
misérias existenciais e sociais no mesmo universo semântico e fazia com que, nas
palavras de Gilberto Amado, a leitura de Dostoiévski, no Brasil, fosse “um fato”:
“Conheço inúmeras pessoas que fizeram do dia que leram o Crime e Castigo uma data de sua
vida. E não foram somente letrados, homens de cultura, tendo larga instrução dos costumes dos povos. Foi
gente de toda a casta, gente viajada, e gente que nunca arredou pé do Brasil, que nunca saiu de sua cidade
do interior. Livro escrito no meio da neve, por um filho das terras frigidíssimas do norte, muitas vezes lido
ao embalo da rede nos dias cálidos do sertão, por homens nascidos e criados nos trópicos. (...) O gênero
humano é um só, qualquer que seja a latitude em que se ache. Um homem alegre na Rússia é igual a outro
homem alegre no Brasil, ou em qualquer outro ponto do planeta. A lágrima é sempre a mesma; uma gota d’
água; caia dos olhos claros de Nastazia Philippona (sic) ou das pálpebras escuras de qualquer amante
morena das nossas plagas. O soluço que sobe do coração humano diz no seu arquejo estertorado a mesma
agonia”.31
31 AMADO, Gilberto, “História das Minhas Leituras”. Revista do Brasil, n. 107, São Paulo, nov. 1924.
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Ou o argumento podia seguir pelo lado da “idéia nativista” na literatura, de que a
Rússia seria modelar. Vários modernistas bateram nessa tecla, em especial Cassiano
Ricardo e Menotti Del Picchia. José Lins do Rego também seguiu orientação similar, em
uma série de artigos jornalísticos que vão desde o começo da década de trinta até os anos
quarenta. No primeiro momento, criticará o romance de Plínio Salgado, autor que, no seu
entender, estava tentando criar o “grande romance da terra”. Não foi assim, porém,
afetando literatura, que “Dostoiévski fez o grande romance da Rússia: foi entrando na
alma de sua gente como uma verruma, se despindo de tudo que era vaidade de homem de
letras para ser somente Dostoiewski”.32 Em 1944, Lins do Rego completará o ciclo e
saudará o projeto da José Olympio como um grande acontecimento cultural: a edição
inaugural de O eterno marido redimia as más traduções existentes, edições de folhetim
que não faziam jus ao russo. Não importava que Dostoiévski fosse, politicamente, um
reacionário. Do ponto de vista humano e artístico, ele era “o mais revolucionário dos
homens”.33
Na leitura brasileira, essa leitura nacionalizante de Dostoiévski ajudava a
suspender a antipatia dos meios comunistas por ele, sentimento que ganhava cada vez
mais força na União Soviética dos anos trinta e quarenta (a ponto de ali ele ter se tornado
uma figura cultural semi-maldita, um estranho no ninho dos “clássicos” cada vez mais
sólidos do século dezenove) e espalhava-se pelo mundo, em graus variáveis de aceitação
por parte de intelectuais de esquerda. No Brasil do período estadonovista, praticamente
não podemos encontrar, na intensa produção crítica a seu respeito, feita inclusive por
escritores comunistas, ressalvas sérias às posições políticas do autor ou à outra faceta do
mesmo fenômeno – a sua estética, dificilmente assimilável a modelos realistas.34
Mas, e esta é a hipótese final deste trabalho, o que reforça ainda mais a idéia de
que haveria uma equivalência entre a perspectiva de transformar Dostoiévski em uma
coleção e o caráter de produtora de textos de interpretação da realidade nacional (tanto no
plano do ensaio quanto no do romance) que notabilizava a José Olympio é a profunda
afinidade entre certos autores que escreveram textos-chave do pensamento social
brasileiro, entre os anos vinte e trinta, e a obra dostoievskiana.
32 REGO, José Lins do. “O último livro do Sr. Plínio Salgado”. Novidade, n. 6. 16 maio 1931.33 REGO, José Lins do. “Uma edição de Dostoiewski”. A manhã, n. 0888. Rio de Janeiro, 2 jul. 1944.34 SWIFT, Megan. “Demonization and Celebration: Dostoevsky’s Soviet Afterlives and Notes from theHouse of the Dead”. Paper (não publicado) apresentado no Congresso Anual da Associação Canadense deEslavística. Victoria, 2013.
20
Vários intelectuais explicadores da realidade nacional, no período anterior e
posterior à revolução de 30, foram atraídos por Dostoiévski e escreveram ensaios
alentados a seu respeito. É o caso, por exemplo, de Vicente Licínio Cardoso, organizador
do célebre À margem da história da República, coletânea de ensaios de 1924 que ajudou
a lançar as bases de diversas tendências intelectuais dos anos trinta, inclusive as
autoritárias. Em paralelo, Licínio Cardoso publicou extensos artigos sobre Dostoiévski,
em que exaltava a sua capacidade de expressão de uma nacionalidade russa forte.35
Incluídos em Vultos e idéias, são eles “O ambiente do romance russo (tema com
variações sobre o Brasil)” e “Dostoievsky”, este dividido em “I – o pai de espectros
vivos”, “II – da vitalidade de seus romances” e “III – a significação do Idiota”. Ao lado
de um exaustivo paralelo entre Rússia e Brasil, definidos como “pátrias de contrastes”,
“colônias espirituais da Europa” e “amálgama de raças”, Licínio Cardoso propõe a
literatura russa como a fomentadora de um tipo de unidade nacional que não fora obtida
pela política, pela economia ou pela absorção de idéias estrangeiras. De todos os
escritores, Dostoiévski seria o que obtém o melhor ajuste entre forma literária e forma
nacional.36
Virgínio Santa Rosa compartilhava com Licínio Cardoso não apenas a consoante
inicial e o nome tríplice, de indisfarçável sabor “Primeira República”, mas também o
apreço pelo escritor russo. Santa Rosa é, claro, o autor de O sentido do tenentismo,
explicação-chave das novas realidades políticas dos anos trinta, publicado originalmente
no calor da “febre” de eslavismo (a qual, diga-se de passagem, exprimia, em suas
resenhas e artigos críticos, um forte viés anti-bacharelesco).37 É também o autor de
Dostoiévski, um cristão torturado, o maior livro já publicado no Brasil sobre o escritor
russo.38 A edição é de 1980, mas há indicações de que tenha sido preparada nos anos
trinta, no mesmo ritmo em que o autor refletia sobre a realidade brasileira.39 Assim, é
tentador ver os textos interpretativos do país tão característicos da editora José Olympio,
35 CARDOSO, Vicente Licínio. À margem da história da República. Rio de Janeiro, Anuário do Brasil,1924. CARDOSO, Vicente Licínio. Vultos e idéias. Rio de Janeiro, Anuário do Brasil, 1924.36 Cf. GOMIDE, Bruno, op. cit. 2011, pp. 347-386. Sobre Licínio Cardoso, cf. MAIA, João Marcelo Ehlert,A terra como invenção: o espaço no pensamento social brasileiro. Rio de Janeiro, Zahar, 2008.37 Valdemar Cavalcanti, em diversos artigos sobre as traduções russas, sugere que publicá-las no Brasil éuma excelente forma de combate ao bacharelismo.38 SANTA ROSA, Virginio. O sentido do tenentismo. Rio de Janeiro, Schmidt, 1933; SANTA ROSA,Virginio. Dostoiévski, um cristão torturado. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980.39 Conforme depoimento ao autor deste trabalho por Gilberto Santa Rosa, filho de Virgínio, em 18-11-2008.
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em especial a sua coleção de “Documentos brasileiros”, organizada inicialmente por um
intelectual que via o Brasil como uma “Rússia americana”, confluindo simbolicamente
com a grande e inédita coleção de literatura estrangeira, que passava a constituir, por esse
prisma, uma espécie de “brasiliana russa”, ou de “russiana brasileira”. Ela era preparada
por uma editora cujas pontas de lança eram a vanguarda da ficção brasileira e os textos
interpretativos da realidade nacional – os dois pontos, precisamente, que desde fins do
século dezenove vinham se articulando em torno da recepção de Dostoiévski, tido como
exemplo maior de ruptura e inquietação literária (nesse sentido, diferenciando-se da
recepção de um Tolstói ou um Górki) e, ao mesmo tempo, considerado unanimemente
como “o mais russo de todos os russos”.
Em meados da década de quarenta, consolidava-se, enfim, em tom de apoteose,
uma conexão que vinha se gestando desde os primeiros momentos da recepção brasileira,
entre Dostoiévski, um dos grandes transformadores da narrativa realista do século
dezenove, e a “explicação do Brasil”. Essa conexão adquiriu sua face mais notável na
coleção da José Olympio.
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