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RAFAEL BRUGNERA ALCÂNTARA DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DE ENSINO ANFITREKKING: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA EDUCAÇÃO, O ESPORTE DE AVENTURA E A PROTEÇÃO À BIODIVERSIDADE DO MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE, RS, BRASIL. Novo Hamburgo 2016
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rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

Mar 13, 2023

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RAFAEL BRUGNERA ALCÂNTARA

DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DE ENSINO ANFITREKKING: UMA

CONTRIBUIÇÃO PARA EDUCAÇÃO, O ESPORTE DE AVENTURA E A

PROTEÇÃO À BIODIVERSIDADE DO MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE, RS,

BRASIL.

Novo Hamburgo

2016

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RAFAEL BRUGNERA ALCÂNTARA

DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DE ENSINO ANFITREKKING: UMA

CONTRIBUIÇÃO PARA EDUCAÇÃO, O ESPORTE DE AVENTURA E A

PROTEÇÃO À BIODIVERSIDADE DO MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE, RS,

BRASIL.

TCC apresentado ao curso de Ciências

Biológicas, como requisito para aprovação

na disciplina de Trabalho de Conclusão de

Curso II.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira de Barros

Novo Hamburgo

2016

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RAFAEL BRUGNERA ALCÂNTARA

Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências Biológicas- Licenciatura, com título

“DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DE ENSINO ANFITREKKING: UMA

CONTRIBUIÇÃO PARA EDUCAÇÃO, O ESPORTE DE AVENTURA E A

PROTEÇÃO À BIODIVERSIDADE DO MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE, RS,

BRASIL. ”, submetido ao corpo docente da Universidade FEEVALE, como requisito

necessário à obtenção do Grau de Licenciado em Ciências Biológicas.

Aprovado por:

__________________________________

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira de Barros

__________________________________

Prof. ª. Me. Janaina Cardoso

(Banca examinadora)

__________________________________

Prof. Me. Luís Eurico Kerber

(Banca examinadora)

Novo Hamburgo, 2016.

Page 4: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

Agradecimentos

Agradeço de coração aos meus grandes mentores que

acreditaram no desenvolvimento deste trabalho, meu orientador

Prof. Dr. Marcelo P. Barros, Prof. Me. Rage W. Maluf, Me.

Maria Carmen S. Bastos e o Biólogo Marcelo D. Freire.

As minhas melhores amigas, irmãs e companheiras Camila

Mueller e Bruna S. Souza Alcântara que ficaram sempre ao meu

lado, fazendo desta trajetória algo possível.

Aos meus grandes amigos Rosangela C. Soares, Lisiane Lima

Douglas P. Villagran, Aline Almeida e Anne por serem

parceiros, pelas críticas e pelas palavras de carinho, conforto e

motivação que contribuíram muito para meu desenvolvimento

pessoal e profissional.

Ao meu “tutor” Biólogo Michel Mendes por suas críticas e

análises que contribuíram muito para o desenvolvimento deste

estudo.

A todos meus colegas que enfrentaram junto comigo as

experiências vivenciadas em campo.

Aos meus alunos que foram minha fonte de inspiração e

parceiros fundamentais neste caminho.

Por fim aos meus Pais Maria Jurema e Luís Alberto que

acreditaram em mim e que fizeram o possível e o impossível

para que este sonho se tornasse realidade. E por me passarem

um pouco de suas essências para me tornarem quem eu sou

hoje.

Page 5: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

Ao passar por esta terra tenha a bondade de limpar

seus rastros, corra entre as riquezas da floresta e dê

alimento para sua alma, voe como os pássaros se

conseguires ser menos denso que a pureza do ar.

Ouça as variedades de vozes de várias espécies que

compõem esta canção, que é dissipada por todo

morro, para quem quiser ouvir, graças aos córregos

D’água.

Rafael Alcântara

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RESUMO

O pensamento contemporâneo sobre a corporeidade fez o homem buscar sua

existenciabilidade no ambiente natural. As práticas desportivas de aventura, fomentadas

pelas indústrias eco turísticas, possuem um impacto significativo sobre os sistemas

naturais. Assim, neste trabalho, buscou-se desenvolver a metodologia anfitrekking, isto

é equivalente a transposição didática entre o desporto de aventura e a educação

ambiental. Desta forma o objetivo da pesquisa é testar atividades de anfitrekking como

uma proposta piloto para atividades de desporto de aventura e educação ambiental, no

município de Porto Alegre - RS. A amostra consistiu-se de 29 (vinte e nove) alunos do

7° ano do ensino fundamental, de faixa etária de 12 à 15 anos de idade e 24 (vinte e

quatro) adolescentes voluntários, com faixa etária de 13 à 17 anos de idade, praticantes

do desporto de aventura, convidados através das redes sociais. Verificou-se a percepção

empírica e construída dos grupos voluntários através de um questionário, aplicado antes

e depois das atividades de anfitrekking. Durante a prática, na modalidade trekking,

desenvolveu-se mecanismos de empatia e aventura, denominados de self in loco e game

in situ no intuito de apurar as visões semânticas: física externa, emotiva interna e

química resultante, dos participantes. Através das respostas indicadas no questionário,

verificou-se, a construção de novos conceitos, concepções e significados sobre a

natureza, aventura e preservação, isto ilustra sua relevância como metodologia de

ensino.

Palavras-chave: Topofilia, corporeidade, preservação e Metodologia de Ensino.

Page 7: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

ABSTRACT

The contemporary thinking about the corporeal made the mankind search for its

existentialism. The adventurous sports practice, much increased by the Eco touristic

industries, has a significant impact on the natural system. Thus, this paper has the

purpose of developing an anfitrekking methodology that is as a didactic transposition

between the adventurous sports practice and the environmental education. The main

purpose of this paper consists in an examination of anfitrekking activities as a pilot

proposal for the adventurous sports practice and the environmental education, in Porto

Alegre city. The sample consisted in twenty-nine students from the elementary school’s

seventh year and twenty-four volunteers’ teenagers, all practitioners of adventurous

sports, invited randomly. It was checked an empirical perception building by the

volunteer group. It finds in this result by a questionnaire, applied before and after the

anfitrekking activities. During the anfitrekking activity – in the trekking modality - it

developed mechanisms of empathy and adventurous, called ‘self in loco’ and ‘game in

situ’ with the aim for checking semantic views: external physics, internal emotional and

resulting chemistry, from the participants. By the answers indicated in the

questionnaire, it checked the building of new ideas, conceptions and meanings about

nature, adventurous and preservation. Those illustrate the efficiency of the developing

method.

Key-words: topophilia, corporeal, preservation and teaching methodology.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFAN – Atividades Físicas de Aventura na Natureza

APA – Área de Proteção Ambiental

EA – Educação Ambiental

ICMBio – Instituto Chico Mendes De Conservação Da Biodiversidade

IUCN – International Union for the Conservation of Nature

IDEB -

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

ONU – Organizações das Nações Unidas

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PC – Percepção Construída

PE – Percepção Empírica

REBIO – Reserva Biológica

REVIS – Refugio de Vida Silvestre

RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural

UC – Unidades de Conservação

Page 9: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

PRÓLOGO

Nasci e me criei numa comunidade ribeirinha no município de Porto Alegre,

situada dentro da Área de Proteção Ambiental Delta do Jacuí. Na época da escola

participei do Projeto Navegar, onde, no turno inverso das aulas, eram realizadas

atividades teóricas e práticas, no lago Guaíba, sobre vela, canoagem e remo.

Durante minha formação acadêmica explorei diversas áreas das Ciências

Biológicas, trabalhando com biologia da conservação, ecologia, educação ambiental,

comportamento animal de grupos como: cetáceos, quirópteros, lacertídeos, primatas,

aves de rapina, ofídios e anfíbios. Tais vivencias foram adquiridas através de estágios

não-obrigatórios, voluntariados e desenvolvimento de projetos acadêmicos.

Posteriormente trabalhei no Sitio das Canjeranas, situado no Município de

Morro Reuter – RS, onde realizava reconhecimento e avaliação de locais para trilhas,

montanhismo, vias de rapel, escalada e acampamento.

Há cerca de um ano, atuando na docência, descobri algo em comum entre todas

as vivencias que havia tido. Percebi que o que me fazia estar próximo da natureza era

descobrir mais sobre ela para aprender a cuida-la corretamente e o desporto de aventura

era mais uma forma que eu entrei para estar mais próximo disto.

Então comecei a desenvolver reflexões sobre como aconteceu a minha

conscientização ambiental, resgatei diversos aspectos que contribuíram para isso, e

então fiz a união e sistematização destes aspectos, ao desenvolver o método

denominado de anfitrekking.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 12

3. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ...................................................................... 13

4. OBJETIVOS ............................................................................................................ 13

4.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 13

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 13

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 14

5.1 A RELAÇÃO SIMBIÓTICA ENTRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O DESPORTO DE AVENTURA

................................................................................................................................................. 14

5.2 ENTRE OS MOVIMENTOS CORPÓREOS, AMBIENTAIS E CULTURAIS: UMA REVOLUÇÃO NA

EDUCAÇÃO BRASILEIRA. .......................................................................................................... 16

5.3 UMA PRÁXIS SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA E AS NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO

................................................................................................................................................. 18

6. METODOLOGIA ..................................................................................................... 20

6.1 O MÉTODO ANFITREKKING ............................................................................................... 20

6.2 LOCAL DE ESTUDO ............................................................................................................. 21

6.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 22

6.3.1 Sujeitos do estudo ....................................................................................... 22

6.3.2 Anfitrekking na prática .............................................................................. 22

6.3.3 Instrumento de coleta de dados .................................................................. 24

6.4 ANÁLISES DOS DADOS ................................................................................................ 25

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 26

7.1 CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE AMBIENTAL NA JUVENTUDE A PARTIR DAS PRÁTICAS

DESPORTIVAS DE AVENTURA .................................................................................................. 26

7.2 MECANISMOS DE EMPATIA E AVENTURA: UM ESTÍMULO PROXIMAL PARA AFEIÇÃO E

SENTIMENTO DE CUIDADO DO HOMEM COM A NATUREZA.................................................. 33

7.3 A CORPORIEDADE E A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA ............................................................. 41

7.3.1 Análise da visão simplista do aventureiro entusiasta .............................................. 46

7.3.2 Análise das pegadas ecológicas dos aventureiros .................................................... 48

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 51

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 52

APÊNDICES ................................................................................................................. 54

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente muito se discute as implicações dos impactos ambientais para

qualidade de vida da sociedade. Diversas organizações como ONU, Greenpeace, IUCN,

ICMBio entre outras instituições de proteção ambiental orientam que o ser humano

precisa viver de maneira sustentável para garantir a disponibilidade dos recursos

naturais para futuras gerações. A partir disto iniciou-se um movimento pela

sustentabilidade que vem ganhando cada vez mais adeptos no mundo inteiro graças a

miscigenação cultural gerada pelas redes sociais do campo cibernético (TAKAHASHI,

2000).

Diversos modelos de sustentabilidade vêm ganhando cada vez mais forças no

mundo globalizado, como por exemplo, energias renováveis, reaproveitamento de

produtos, reciclagem, atividades de permacultura doméstica, criação de ciclovias,

hidrovias, atividades de turismo ecológico, esportes de aventura na natureza entre outros

movimentos que vem ganhando cada vez mais adeptos. Todos estes modelos buscam

aproximar o homem ao ambiente natural com intuito de cultivar uma conscientização

ambiental quanto aos cuidados com a natureza.

Este trabalho destina-se em propor um novo método de EA denominado

Anfitrekking. O método consiste em realizar uma transposição didática entre os esportes

de aventura e a educação ambiental com intuito de contribuir com os modelos de

aproximação do homem e a natureza.

Para isso, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre os locais e os tipos

de desporto de aventura que são realizados no município de Porto Alegre. Após isto, foi

realizado um teste piloto do método, no Parque Natural Municipal Saint Hilarie, com

dois grupos voluntários, sendo um grupo de crianças do 7° ano do ensino fundamental

de uma escola da rede pública e outro grupo com jovens praticantes de esportes de

aventura convidados, aleatoriamente.

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2. JUSTIFICATIVA

Há cerca de duas décadas o desporto na natureza está em fase de ascensão no

país, ganhado cada vez mais adeptos a estas práticas. Ideal para sociedade urbana que

busca fugir da correria do dia adia. Existem diversos estudos que apontam que as

Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN) contribuem para conscientização

ambiental do cidadão, pois o praticante constrói uma relação topofólica (relação afetiva

do homem com o ambiente físico) com o local. No entanto, corriqueiramente as AFAN

possuem um impacto significativo nos sistemas biológicos das áreas protegidas. Tal

impacto pode ser observado no Refúgio de Vida Silvestre São Pedro (REVIS São

Pedro) onde as atividades de motociclismo ocasionam erosão, poluição sonora e

atmosférica (BASTOS et. al. 2014).

Nas AFAN, a natureza se transforma num verdadeiro campo de jogos, sendo

tomada pela percepção seletiva de cada praticante (MOREIRA-CASTILHO in

SCHWARTZ, 2006). Esta percepção seletiva do atleta de aventura limita a sua

conscientização da preservação dos recursos naturais.

Atualmente muito se discute estas práticas desportivas dentro das Unidades de

Conservação ou em outros ambientes preservados. Em Porto Alegre, há unidades como

Delta do Jacuí onde ainda são permitidas práticas de AFAN, ao contrário do Morro do

Osso, onde atualmente há proibição quanto às práticas de corridas de orientação, por

exemplo, pois este tipo de atividade infringe as zonas intangíveis da área.

O município de Porto Alegre possui sete Unidades de Conservação: (4)

municipais: Parque Natural Morro do Osso, Parque Natural Saint Hílare, Refúgio de

Vida Silvestre São Pedro e Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger; (2) estaduais:

Parque Delta do Jacuí e APA Delta do Jacuí e (2) particulares: RPPN Costa do Cerro e

Rincão das Flores. Todas estas Unidades de Conservação (UC) recebem visitantes de

forma legal e/ou ilegal diariamente, a fim de praticar atividades desportivas, lazer e/ou

educacionais.

Neste sentido, o presente trabalho propõe a desenvolvimento do método de

ensino anfitrekking, em que a partir desse, vislumbra-se a conscientização ambiental de

praticantes do desporto de aventura no município de Porto Alegre.

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3. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Na presente pesquisa, considera-se o histórico do crescimento gradual de

praticantes de desporto de aventura que vêm ocorrendo nas últimas duas décadas e

adotam-se as práticas desportivas na natureza como um método efetivo de aproximação

do homem com o meio natural.

Dado o exposto, vislumbra-se a possibilidade de utilizar a pedagogia da aventura

para criar uma nova abordagem metodológica a serem agregadas aos métodos atuais de

ensino e aprendizagem que são utilizados por educadores aliados as questões

socioambientais (PEREIRA; ARMBERST, 2010). Tal prática possui amparos legais na

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN – 9394/96) que institui, no

terceiro caderno dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as competências e

habilidades para a transversalidade da temática meio ambiente. E na Lei 9795/99 que

institui a Política Nacional de Educação Ambiental.

Portanto, esta pesquisa propõe-se responder a seguinte questão: Qual a

contribuição do método anfitrekking para conscientização ambiental dos praticantes de

esportes de aventura?

4. OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o método anfitrekking como uma proposta piloto para atividades de

desporto de aventura e educação ambiental.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar a percepção dos praticantes e não praticantes de desportos de

aventura quanto aos impactos causados por estes ao meio ambiente;

Avaliar a contribuição do método de anfitrekking como uma ferramenta na

construção de uma conscientização ambiental em praticantes de desportos

de aventura;

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5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

5.1 A RELAÇÃO SIMBIÓTICA ENTRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O

DESPORTO DE AVENTURA

Diz-se haver uma relação simbiótica entre dois organismos que precisam um do

outro para sua sobrevivência, como, por exemplo, os protozoários que ficam no

aparelho digestório dos mamíferos ruminantes. É uma questão de lógica perceber que

sem a Educação Ambiental o desporto de aventura não existe, pois sem a natureza, não

há o campo da aventura (PIMENTEL, MOREIRA, PEREIRA, 2013). Mas sem o

desporto de aventura a Educação Ambiental existe?

A educação ambiental, desde 1970, vem ganhando cada vez mais espaços nos

meios educacionais e culturais. Sem dúvidas a protagonista inicial desta jornada foi

Rachel Carson, onde em seu livro PRIMAVERA SILENCIOSA, trouxe ao mundo

científico questões plausíveis sobre a nocividade dos pesticidas na produção agrícola,

bem como outros episódios do declínio ambiental antecedente a década de 70, tais como

descritos por Medina (2008):

Contaminação do ar em Londres e Nova York, entre 1952 e 1960;

Os casos fatais de intoxicação com mercúrio em Minamata e Niigata, entre 1953

e 1965;

A diminuição da vida aquática em alguns dos Grandes Lagos norte-americanos;

A morte de aves provocada pelos efeitos secundários imprevistos do DDT e

outros pesticidas;

A contaminação do mar em grande escala, causada pelo naufrágio do petroleiro

Torrei Canyon, em 1966.

Ao analisar estes fatos históricos, sugere-se que estes acontecimentos

subsidiaram a origem de um movimento chamado sustentabilidade, que permeou por

todo o globo, em decorrência as ações ativistas, pelas redes de comunicação e

informação tais como: mídias, jornais, revistas e/ou conexões ciberculturais.

Neste sentido, Sorrentino (2005) contextualiza o nascimento da Educação

Ambiental como um processo de cidadania que viabiliza a materialização de valores

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éticos e regras políticas em prol da consciência ambiental. Isso implica que todo cidadão

ensine e pratique os mecanismos básicos de uma vida sustentável, pensando nas

gerações futuras.

Algumas ações resultantes deste processo são: incentivos de reciclagem de

resíduos, diminuição de consumo através do reaproveitamento e reuso dos produtos,

energias renováveis entre outros. Estas pequenas ações foram gradativamente dando

cada vez mais enfoque para o meio natural, neste sentido nasce o desporto de aventura

(maiores detalhes no item a seguir) em busca de suprir a necessidade do homem de estar

junto à natureza, se desvencilhar dos alicerces urbanos onde está inserido

cotidianamente e ser um cidadão ecologicamente correto, como atualmente, é imposto

pela mídia, em comerciais das indústrias ecoturísticas. (MARINHO; INÁCIO 2007;

PIMENTEL, MOREIRA, PEREIRA 2013).

O desporto de aventura traz uma forma mais dinâmica de se inserir na natureza.

Deixando de lado os aspectos teóricos que implicam a educação ambiental, focando-se

mais para parte de desafio, lazer, técnicas laborais e motoras. Hoje, acredita-se que as

Atividades Físicas de Aventura na Natureza – AFAN, estão contribuindo para

conscientização ambiental da sociedade (MARINHO; INÁCIO, 2007).

A prática ecoturística proporciona aos praticantes uma relação topofólica

involuntária (ato de envolver-se de modo parcial ou integral com o meio físico a partir

das manifestações afetivas), onde o homem integra-se ao ambiente natural,

ultrapassando a barreira da exploração comercial destas atividades (CARDOSO;

SILVA; FELIPE, 2006).

Após avaliar os pressupostos descritos neste capítulo referente à educação

ambiental e o desporto de aventura, retoma-se à questão inicial: há uma relação

simbiótica entre o desporto de aventura e a educação ambiental? Nesta pesquisa,

levanta-se a hipótese, que, metaforicamente esta relação simbiótica exista, pois como

descritos nos parágrafos anteriores, involuntariamente ao praticar uma atividade física

de aventura na natureza, o indivíduo já está realizando uma vivência de educação

ambiental e está exposto a ter uma sensibilidade para com o cuidado com o meio

(CARDOSO; SILVA; FELIPE, 2006; DIAS; MELO; ALVES JUNIOR, 2007;

MARINHO & INÁCIO 2007; PIMENTEL; MOREIRA; PEREIRA, 2013).

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5.2 ENTRE OS MOVIMENTOS CORPÓREOS, AMBIENTAIS E

CULTURAIS: UMA REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.

Ao final do século XX, com o avanço dos estudos sobre a motricidade humana,

houve uma revolução quanto a Educação Motora. A perspectiva biológica e mecânica

relacionada à qualidade de vida, nesta época, no Brasil, foram incorporadas nos

discursos médicos e militares. Nesse sentido, o adestramento físico tornou-se um aliado

para combater o sedentarismo e as práticas desportivas passaram a ser associadas a uma

vida saudável (INFORSATO; FIORANTE, 2010).

Esta nova perspectiva em relação ao corpo é antagônica aos sistemas

dicotômicos e cartesianos herdados pelos paradigmas de Newton e Descartes. Então

surge a corporeidade contemporânea, onde o homem redescobre que é corpo e não

possui corpo. A corporeidade, numa dimensão ontológica, trata o corpo como

importância essencial do homem, afirmando sua existência e colocando-o como única

alusão em relação ao mundo. Assim como descreve Venâncio, (1998 p. 131) apud.

Inforsato e Fiorante, (2010) em sua perspectiva dialética do ser sujeito/objeto:

[...] meu corpo um ser no mundo é a fonte inesgotável de minha possibilidade

de relação com o mundo; assim, ele não é nunca um em si por ser esta

constante abertura a essa possível relação. Neste sentido é que meu corpo não

pode ser tratado como objeto no sentido de coisa; o objeto em si não traz esta

intencionalidade, este apelo em direção a um fora dele, mas minha

corporeidade sim, por isso, ter um corpo não é ser um objeto no mundo, mas

ele é o mediador de minha comunicação com o mundo.

Numa busca existencial, o homem, indagado por encontrar o seu lugar no

espaço, iniciou um percurso de auto superação física e mental e encontrou na natureza a

partir das explorações econômicas, cientificas e militares um ambiente oportuno para

pratica aventureira (PEREIRA et. al., 2008 apud. PEREIRA 2010). A palavra aventura

deriva do latim “adventura” que quer dizer algo que está por vir, imprevisível, é algo

intangível num primeiro momento e assim surgem os esportes de aventura (PEREIRA,

2010, p. 16).

Os esportes de aventura ou Atividades Físicas de Aventura na Natureza –

AFAN, bem como outras diversas nomenclaturas, ganharam, a partir da década de 1990,

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divulgação pela mídia numa oferta de ecoturismo, turismo sustentável, esportes na

natureza entre outros. Supostamente, o movimento em prol a adesão das práticas de

aventura, ganhou mais forças devido às expressões ciberculturais derivadas da Era da

informação instantânea (TAKAHASHI, 2000).

É possível relacionar o crescimento exponencial da procura das Atividades

Físicas de Aventura na Natureza às explorações comerciais “ecoturisticas”. Esta por sua

vez, incorpora o discurso “ecológico” para corroborar com suas ofertas de mercado,

mesmo que não estejam verdadeiramente comprometidas com nenhum aspecto

educacional de desenvolvimento da consciência ambiental (BAHIA, 2008). De forma

geral, as pessoas acabam aderindo a estes pacotes, devido à tendência ou modismo

vigente, na sociedade, acerca do marketing: cidadão ecologicamente correto, como

tratado no tópico anterior.

Também é possível atrelar o desporto de aventura à educação básica, uma vez

que, este, atende aos pressupostos dos Parâmetros Curriculares Nacionais no que tange

a cultura do movimento corporal e a intensão de trabalhar as práticas cinestésicas para o

desenvolvimento do ensino e aprendizagem (BRASIL, 1998). Como explica Galvão:

“No âmbito mundial, a cultura corporal de movimento pode ser entendida como uma

parte da cultura humana, definindo e sendo defendida pela cultura geral numa relação

dialética” (GALVÃO et. al. 2005 apud. PEREIRA 2010 p. 41).

A ideia de inserir as Atividades Físicas de Aventura na Natureza como proposta

interdisciplinar na educação básica, principalmente empregada na disciplina de

Educação Física vem ao encontro dos princípios educacionais estipulados pela LDBEN

(Lei 9394/96). As corridas de orientação, por exemplo, proporcionam aos discentes uma

forma esclarecida sobre fenômenos básicos de seu cotidiano, tais como: deslocamento e

localização, fornecendo ao professor subsídios para serem trabalhadas questões

geográficas, matemáticas, históricas, biológicas, linguísticas entre outros (SILVA;

PINTO, 2009). Afirmando mais uma vez a relação dialética da cultura do movimento

corporal.

Por fim, esta relação dialética, da corporeidade, cibercultura, ecoturismo e

sustentabilidade podem ser explorados de forma inesgotável por educadores das

diversas áreas do conhecimento, originando-se assim, diversos modelos pedagógicos

interdisciplinares, tais como, o modelo apresentado por este estudo, o anfitrekking.

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5.3 UMA PRÁXIS SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA E AS NOVAS

METODOLOGIAS DE ENSINO

Considera-se a vivência da informação instantânea pelo público discente para

responder alguns atributos indicados pelos dados do IDEB (2014), que detém o aumento

do desinteresse, desafeto e defasagem escolar dos alunos. Percebe-se a carência para

construção de novas abordagens metodológicas de ensino, já que o professor não é o

“dono de todo saber”. Tão pouco é o conhecimento expresso exclusivamente por um

livro ou textos.

A falta de aderência à pedagogia contemporânea expressa por autores como

Cachapuz, Praia e Jorge (2004); Vidotto, Laburú e Barros (2002); Milaré (2008); Demo

(2002); Bizzo (2002); Ramozzi-Chiarottino (2010); Ferreira e Marturano (2002);

Dodge, Pettit e Bates (1994); Carless et al. (2015) e Shaw e Emery (1988) resulta em

um cenário de fragilidade no âmbito educacional brasileiro.

Estes pressupostos, mencionados no parágrafo acima são explicados por Pedro

Demo (2002) que elabora duas causas para este período: relações sociais a qual estes

indivíduos são expostos e/ou pela abordagem de ensino. Ambos os fatores relutam

contra o sistema de “aprendizagem por cópias”, uma vez, que se vive a era cibercultural,

o desafio do professor, deve ser direcionado em ensinar o aluno a pensar, refletir e

contribuir com argumentos críticos para sociedade.

Em detrimento a problemática apresentada pelo texto, buscou-se as medidas

adotadas pelo Poder Público para mudar esta realidade apresentada. Diante aos

precedentes históricos observou-se que o Ministério da Educação, na década de 90

promulgou a Lei 9394/96 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN), trazendo desafios e oportunidades aos professores interessados em aprender

e aplicar novas metodologias de ensino. Dentre estas novas técnicas de ensino, podemos

citar: mapas conceituais, saídas de campo, jogos, projetos, oficinas entre outros

(ANASTASIOU; ALVES, 1999).

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No entanto, precisa-se ainda amadurecer uma ideia diferente de aula inovadora,

contrapondo-se aquela que o professor fala e o aluno escuta descrito na pedagogia do

oprimido de Paulo Freire. Para Becker (2008), um dos alicerces para prática

construtivista diante a teoria relacional é o emprego da interdisciplinaridade proposta

nos atuais Parâmetros Curriculares Nacionais da educação básica brasileira (BRASIL,

1998).

A partir deste novo contexto de educação, iniciou-se uma caminhada em busca

de uma relação interdisciplinar, dado como exemplo os temas transversais, tais como:

meio ambiente, saúde, orientação sexual e pluralidade cultural. É plausível reconhecer

também a aplicabilidade de projetos de diversas temáticas como uma metodologia

interdisciplinar no ambiente escolar. Pois, neste momento, presume-se que o aluno

explore, busque e permeie entre os universos curriculares de modo a construir sua

própria identidade em relação ao objeto estudado, assim como foi exposto no tópico

anterior sobre a relação interdisciplinar do desporto de aventura. (SILVA & PINTO,

2009 e DEMO, 2002).

O emprego de projetos na escola permite trazer assuntos relacionados ao

cotidiano dos alunos. Esta metodologia oferece ao professor subsídios para elaboração

de um diagnóstico básico sobre o seu aluno. É possível levantar hipóteses sólidas em

relação aos seus conhecimentos empíricos, interesses (musica, jogos, poesia, desenhos e

etc.) e desinteresses.

Ao realizar esta pesquisa de campo é possível fazer uma práxis sobre o sistema

de ensino que o professor adota e em caso de uma práxis negativa é possível

redirecionar suas metodologias de ensino com objetivo de despertar o interesse do

discente ao objeto estudado de acordo com sua realidade e afinidades (PIMENTEL,

MOREIRA & PEREIRA, 2013).

A arte de reinventar a maneira de aprender e ensinar, em busca da adaptação de

conteúdos programáticos para uma versão transversal é uma liberdade infinita e

defendida pelos autores já citados neste texto. As metodologias alternativas de ensino na

educação formal, não formal e informal, são de suma importância como

desenvolvimento de pesquisa e aplicação, porque em geral a educação tradicional já não

atende as necessidades de uma geração que vive em torno de informações instantâneas

ligadas à cibercultura. (BECKER, 2008; ALVES FILHO, 2000).

Page 20: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

20

Nesse sentido, autores como: Alves Filho (2000); Silva & Pinto (2009); Ferreira

e Marturano (2002) indicam que a relação interdisciplinar ocorre quando o professor

instruir-se a estabelecer uma transposição didática, isto é criar um novo objeto a partir

de um aspecto comum entre dois ou mais elementos de estudos já conhecidos.

6. METODOLOGIA

O presente trabalho possui caráter quali-quantitativo de cunho descritivo, que

segundo Prodanov e Freitas (2013) é caracterizada como uma pesquisa de campo, pois

se estuda um determinado grupo e a coleta de dados no próprio campo de atuação dos

investigados, utilizando técnicas de interrogação e diferentes metodologias de ensino e

avaliação.

6.1 O MÉTODO ANFITREKKING

O termo anfitrekking, foi criado pelo autor deste estudo. A etimologia da

expressão tem origem, a partir da junção dos termos “amphi” e “trekking”, cujo, a

primeira é de origem grega e significa dois ou dupla e a segunda tem origem sul-

africana e quer dizer seguir um trilho. Conceitualmente, anfitrekking é transposição

estável de dois elementos didáticos que simultaneamente desenvolvem mecanismos de

ensino e aprendizagem ao ar livre no que tange a educação ambiental e o desporto de

aventura, a partir de expressões físicas, emocionais e químicas.

Espera-se que numa atividade de anfitrekking que os praticantes vivenciem

alguma Atividade Física de Aventura na Natureza, tendo que pensar nos modos de vida

de um determinado organismo, grupo biológico e/ou situações que envolvam os

sistemas naturais. Esta proposta metodológica é vista como uma transposição didática

entre a Educação Ambiental e o Desporto de Aventura, tal como sugere Filho (2000).

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21

Esse método consiste em aplicar conhecimentos biológicos sobre o meio físico o

qual o praticante do desporto de aventura está inserido. Desenvolvendo técnicas

motoras, laborais e intelectuais sobre um sistema biológico.

É uma tarefa simples de reflexões e associações. O método anfitrekking busca

resgatar a relação biofílica do homem para com a natureza, fazendo-o sentir-se

novamente parte dela. Nesta abordagem metodológica pretende-se dar respostas práticas

aos fenômenos fiscos e biológicos simples que ocorrem no meio natural.

6.2 LOCAL DE ESTUDO

O município de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, situa-se entre a

Depressão Central e o Escudo Sul-rio-grandense. Possui uma área territorial de 496,8

Km² e sua população total é cerca de 1,409 milhões habitantes (IBGE, 2010).

O encontro entre os Biomas Mata Atlântica e Pampa confere a Porto Alegre a

heterogenia em suas belezas cênicas naturais. Formações vegetais como Florestas

Ombrófilas Densa e Mista, Florestas Estacionais Semideciduais e Deciduais, e campos

sulinos e rupestres são grandes atrativos para indústria ecoturisticas e aos praticantes do

desporto de aventura para o município (COSTA, 2006).

Para garantir a preservação dos belos morros, banhados, planícies, nascentes,

maricazais, a diversidade biológica e o registro histórico-natural, o município conta com

sete Unidades de Conservação (4) municipais: Parque Natural Morro do Osso, Parque

Natural Saint Hílare, Refúgio de Vida Silvestre São Pedro e Reserva Biológica do Lami

José Lutzenberger; (2) estaduais: Parque Delta do Jacuí e APA Delta do Jacuí e (2)

particulares: RPPN Costa do Cerro e Rincão das Flores.

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22

6.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

6.3.1 Sujeitos do estudo

Para o desenvolvimento do estudo foram analisados dois grupos voluntários que

realizaram de forma experimental o método anfitrekking, desenvolvido pelo

pesquisador. O primeiro foi constituído por uma turma de alunos do 7° ano do ensino

fundamental atendidos pela rede pública, com faixa etária de 12 a 15 anos de idade,

num total 29 alunos participantes.

O segundo grupo foi composto por um grupo de jovens com faixa etária de 14 a

17 anos de idade que realiza periodicamente atividades como trekking, acampamento,

slackline, rapel entre outros. O segundo grupo foi convidado para atividade mediante a

criação de um evento na rede social Facebook, no qual participaram da atividade 24

indivíduos.

6.3.2 Anfitrekking na prática

Ambos os grupos realizaram em dias diferentes, no turno da manhã, totalizando

4 horas de atividade anfitrekking, para cada grupo amostral, no Parque Natural

Municipal Saint Hilarie, localizado entre os limites dos municípios de Porto Alegre e

Viamão.

O método anfitrekking foi aplicado na modalidade trekking como caráter

experimental. A atividade consistiu em ambos os grupos criarem personagens a partir de

um determinado grupo ou conteúdo biológico, preenchendo uma ficha anfitrekking

(figura 1). Suas personagens deveriam ter habilidades e relações com o assunto

biológico designado para ser relacionado com situações simuladas e reais de

singularidade com o ambiente a qual estavam inseridos.

Durante a prática foi criado um circuito trekking para os voluntários passarem e

irem jogando com seus personagens como se estivesse em um campo real de RPG (Role

Playing-Game) ou em Português, o jogo da interpretação de personagens. Ao decorrer

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23

da trilha eles tiveram que preencher o campo recursos de cura/vida da ficha

anfitrekking (figura 1) a partir de suas percepções de recursos naturais que poderiam

auxiliar seu personagem.

Foram simuladas “batalhas” entre os personagens, onde o participante que

obtivesse mais recursos de cura/vida recolhidos ao decorrer do trajeto, teve maior

sucesso na realização dos seus ataques e defesas. Havia também a possibilidade das

equipes jogadoras formarem “alianças” ou ajudar umas às outras durante os combates.

Esta estratégia foi adotada intencionalmente para que voluntários incorporassem seu

personagem durante a trilha. Assumindo a premissa do método anfitrekking de viver

como um determinado grupo biológico ao realizar um desporto de aventura.

Vale ressaltar que o grupo 1 teve seu tema pré-estabelecido antes da prática que

consistia em o grupo criar personagens com habilidades biológicas que articulassem

com as teorias de evolução biológicas, vírus, reino monera, reino protista e reino fungi.

Estes conteúdos eram os conteúdos que a turma estava trabalhando na disciplina de

Ciências da Natureza na época do estudo.

Já o grupo 2, tomou conhecimento do método anfitrekking ao chegar no local da

pratica. No evento do Facebook, havia somente informações básicas sobre o que se

passaria ao participar da atividade anfitrekking. Desta maneira, formaram-se quatro

equipes entre os jovens participantes, e cada equipe ganhou um grupo de vertebrados

terrestres como modelo biológico para prática, tais como: anfíbios, répteis aves e

mamíferos. Após esta definição, eles tiveram que realizar os mesmos procedimentos

que o grupo 1.

A metodologia adotada buscou averiguar a eficiência do método anfitrekking

para conscientização dos praticantes do desporto de aventura em áreas protegidas, a

partir de um questionário, descrito no item 6.3.3 deste capitulo. Além disso, ao fazer

uma separação entre os grupos 1 e 2, onde grupo 1 havia tido o preparo para realização

da pratica anfitrekking e o grupo 2 não, foi possível verificar se o método pode ser

empregado no ato das realizações das práticas desportivas de aventura ou será preciso

fazer adaptações para incluir didáticas preparatórias antes de realizar a prática.

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24

A organização da atividade foi realizada de acordo com a logística e estabilidade

climática, considerando-se fatores de preços de locação de ônibus, dias menos úmidos e

encurtamento de percurso devido a redução do tempo da atividade.

6.3.3 Instrumento de coleta de dados

Para avaliar os conhecimentos empíricos e desenvolvimento de novos

conhecimentos dos grupos criou-se a ficha anfitrekking (figura 1), nela os participantes

elencaram seus conhecimentos sobre os grupos biológicos á sua capacidade cognitiva e

criativa para criação de um personagem, além de utilizá-la como “guia” para captação

de novos conhecimentos sobre a via trekking onde estava sendo desenvolvida a

atividade.

Figura 1: Ficha Anfitrekking

Fonte: Elaborado pelo autor (2016)

Para análise quantitativa, utilizou-se um questionário (Apêndice) por se tratar de

uma pesquisa exploratória (PRODAV & FREITAS, 2013). Esta metodologia adequa-se

para este estudo, pois se busca conhecer uma determinada realidade, a fim de criar

categorias de cunho explicativo para evidenciar a problemática abordada pela pesquisa.

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25

Questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série

ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a

presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao

informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o

pesquisado devolve-o do mesmo modo (MARCONI; LAKATOS, 2003,

p.201).

Por fim, realizou-se também uma entrevista informal com intuito de investigar a

aderência ou não dos esportes de aventura. Vale ressaltar que este procedimento

metodológico possibilita que o pesquisador tenha maior permeabilidade sobre os

assuntos de uma nova área de pesquisa que está sendo explorada (COSTA, 2006).

6.4 ANÁLISES DOS DADOS

Tanto o grupo 1 quanto o grupo 2 tiveram que responder ao questionário

(apêndice) antes e depois das atividades realizadas. Os questionários foram

posteriormente analisados a partir do método de análise de conteúdo de Bardin, segundo

Farago e Fofonca (2016) é possível analisar perguntas abertas e fechadas de um

questionário a partir da sistematização dos dados, agrupamento por semelhanças de

informação e categorização das respostas em eixos temáticos que a pesquisa propõe

responder.

Ainda para analise, considerou-se Percepção Empírica (PE), aquela percepção

ambiental que os participantes já carregavam consigo antes do desenvolvimento do

método anfitrekking, ao contrário da Percepção Construída (PC), que foi a análise de

percepção após a aplicação do método.

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26

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES

7.1 CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE AMBIENTAL NA JUVENTUDE A

PARTIR DAS PRÁTICAS DESPORTIVAS DE AVENTURA

Em maio de 2016, foram realizadas as práticas do método anfitrekking com os

grupos 1 e 2 no Parque Natural Municipal Saint Hilarie. Todos os participantes, antes da

prática, preencheram a ficha anfitrekking (figura 1), bem como o questionário. As

primeiras lacunas do instrumento de pesquisa destinaram-se em traçar um perfil dos

grupos voluntários.

A amostra constitui-se de cerca de 53% dos participantes do sexo masculino e

47% do sexo feminino. A faixa etária levantada para o grupo 1 foi de 66% dos

participantes com 12 anos de idade (gráfico 1) e o grupo 2, 79% dos participantes com

idades entre 14 e 15 anos de idade na época da pesquisa (gráfico 2).

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Gráfico 1: caracterização etária do 1° grupo voluntário que realizou a

pratica anfitrekking, no Parque Natural Municipal Saint Hilarie.

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27

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

No grupo 1 somente 41% dos participantes já haviam tido contato com as

práticas do desporto de aventura, sendo estas práticas ligadas ao grupo de escoteiros a

qual eles fazem parte, ao contrário do grupo 2, onde 71% dos participantes já possuíam

vinculo às práticas desportivas de aventura e lazer na natureza, sendo por meio de

programas de escoteiros, familiares, grupos de amigos e práticas profissionais realizadas

em unidades de conservação como a APA Delta do Jacuí, destacando-se esportes como

remo, vela e canoagem (gráfico 3).

Gráfico 2: caracterização etária do 2° grupo voluntário que realizou a

pratica anfitrekking, no Parque Natural Municipal Saint Hilarie

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28

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

A análise do gráfico 3 permite concluir que o desporto de aventura está cada vez

mais cedo presente na vida dos cidadãos brasileiros. Este processo vem ocorrendo de

forma natural e gradativa a partir de incentivos governamentais e não governamentais.

Uvinha (2001) afirma que a adesão à estas práticas, é mais evidente na fase da

adolescência, cujo segundo a Unesco (1977), é um grupo social representado por

indivíduos de 15 a 25 anos de idade. Ao analisar os gráficos 1 e 2 é possível perceber

que o grupo que possui maior vinculo as atividades de aventura na natureza é o grupo 2

o qual possui jovens de 14 a 17 anos de idade, reforçando a ideia de Uvinha.

A maior representatividade de adolescentes as práticas desportivas de aventura,

pode estar relacionada a fatores como: maior tempo ocioso, experiências e descobertas,

busca pela identidade de grupo entre outros (PAIS 1993 p. 189 apud UVINHA 2001).

Para Magnani, 1998, p. 39 (apud Uvinha 2001) estudar as práticas desportivas e de lazer

na adolescência é compreender o espirito da juventude, para estimular a cultura de

menos violência e maior qualidade de vida, isto auxilia na construção de uma sólida

identidade na fase adulta, como sugere o trecho abaixo:

O momento do lazer – instante de esquecimento das dificuldades do dia-a-dia

– é também aquele momento e oportunidade do encontro, do estabelecimento

Gráfico 3: análise da experiência dos participantes quanto às práticas do desporto de

aventura.

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29

de laços, do reforço dos vínculos de lealdade e reciprocidade, da construção

das diferenciações (MAGNANI, 1998, p.39 apud UVINHA 2001).

Nota-se que há uma tendência crescente de jovens e adultos terem perspectivas

de auto superação, mudança de rotina, efemeridade ou perpetuação de padrões e

modismos vigentes quanto às práticas de Atividades Físicas de Aventura na Natureza –

AFAN, (SCHWARTZ, 2006 p.25).

Para Moreira-Castilho (2006) as AFAN possuem um importante papel para

construção da consciência ambiental, pois a partir das práticas desportivas de aventura o

homem constrói uma relação topofólica, isto é, uma relação de amor com o meio a qual

está inserido, devido à repercussão das emoções e da aventura praticada junto ao

ambiente natural (BRUHNS, 1997 apud SCHWARTZ et. al. 2006). Ainda para

Schwartz (apud Burgos e Pinto, 2002) a experiência do homem em meio ao ambiente

natural, auxilia na construção de novos conceitos e significados do estilo de viver em

frente as perspectivas sustentáveis.

No entanto, ao avaliar as respostas dos grupos 1 e 2, antes da realização do

método anfitrekking, referente à pergunta: o que você entende por um ambiente

preservado? Verificou-se que 33% dos participantes do grupo 1 acreditam que um

ambiente preservado configura-se por ser ambiente intocado pelo homem e outros 20%

relaciona a preservação ambiental a um conjunto de regras e/ou leis proibindo a

interferência do homem na natureza (gráfico 4). Para o grupo 2, um ambiente

preservado é aquele local sem nenhum tipo de poluição e sem a interferência do homem

(26%), para outros o ambiente preservado é aquele que possui árvores, mato, flores,

animais e sem construções feitas pelo homem (22%) como é possível observar no

gráfico 5.

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30

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Gráfico 4: concepções do grupo 1 sobre ambiente preservado.

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31

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Ao analisar os gráficos 4 e 5 é possível perceber que a maioria dos participantes,

antes da realização da atividade, tinham o homem como um fator determinante de

destruição, poluição e degradação do ambiente natural. Isto ficou evidente ao analisar os

resultados para o grupo 2.

Esta percepção negativa quanto a relação ao homem e a natureza, evidenciada

por meio da presente pesquisa, pode ser explicada através das análises das formas e

mecanismos de transmissão de conhecimento e informações geradas através das

conexões ciberculturais, onde há a peculiaridade de das notícias serem difundidas de

maneira errônea ou exagerada, quanto à determinados assuntos (TAKAHASHI, 2000).

Gráfico 5: concepções do grupo 2 sobre ambiente preservado.

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32

Segundo Hutchison (2000) a situação ambiental no planeta é preocupante e deve

ser trabalhada em todos os níveis educacionais. No entanto, alguns enfoques trazem o

homem como “o grande destruidor do planeta” e isto resulta numa desarmonia entre o

homem e a natureza, pois não há mais um sentido ético e cultural para cuida-la se é

preciso afastar-se para tudo ficar bem e ser preservado (HUTCHISON, 2000, p.65).

Ao continuar analisando os resultados apresentados pelos gráficos 4 e 5 é

possível perceber que ambos os grupos construíram novos conceitos em relação ao

ambiente preservado, após a realização do método anfitrekking. Posteriormente ao

experimento, percepção construída por eles destaca o ser humano como um agente que

auxilia neste processo de preservação do ambiente.

Para Boff (apud Ferraro-Junior, 2013) a educação é um grande instrumento para

formar alianças de cuidados com o planeta, uma vez que segundo as novas pesquisas, já

estamos vivendo uma nova era geológica denominada de antropoceno que marca a ação

negativa do homem para os sistemas terrestres. Como destaca em seu texto:

É que nos últimos decênios, como muitos cientistas afirmam, inauguramos

uma nova era geológica: o antropoceno. Esta expressão quer dizer quem

ameaça o sistema-terra é o sistema-vida, não é algum meteoro rasante que,

como no passado, dizimou grande parte da biodiversidade e num curto lapso

de tempo exterminou os dinossauros. Hoje, o meteoro rasante se chama ser

humano. Criamos duas bombas que nos podem matar: a nuclear e a ecológica

(BOFF apud FERRARO JUNIOR, 2013 p. 107).

O mesmo autor mencionado anteriormente acredita que o amadurecimento da

sociedade em vista as questões sustentáveis, fará nascer uma civilização que deve ser

denominada de biocivilização ou ecocivilização. Esta será a fase da humanidade

ecológica, onde o homem viverá em harmonia com a natureza e irá dominar todos os

níveis de conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais quanto às práticas de

cuidados com o meio ambiente. No entanto, isto ocorre quando o homem conhece a

natureza a partir de uma relação proximal, entende a necessidade de preserva-la a partir

de transmissão de conhecimentos e saberes, bem como porque tem prazer de ajudar no

cuidado do meio.

Neste contexto o presente estudo, assume a postura que o desporto de aventura

possui a capacidade de aproximar o homem para a natureza e gerar reações topofólicas e

biofólicas (amor pela vida, pelas demais espécies) a partir das emoções vivenciadas

durante as práticas de AFAN, em outras palavras, o desporto de aventura não possui um

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33

papel de construção de identidade ou consciência ambiental. Numa relação causal

direta, é preciso haver estratégias didáticas para que ocorra verdadeiramente esta

conectividade entre o homem e a natureza para o amadurecimento do afeto e cuidado

pelos recursos naturais e o direito intrínseco das demais espécies existirem, sendo de

incumbência do mediador, das práticas desportivas de aventura, realizar tal

proximidade.

7.2 MECANISMOS DE EMPATIA E AVENTURA: UM ESTÍMULO PROXIMAL

PARA AFEIÇÃO E SENTIMENTO DE CUIDADO DO HOMEM COM A

NATUREZA

O renomado botânico Liberty Hyde Bailey, fundador do movimento para o

estudo da natureza na virada do século, disse “A sensibilidade em relação à

vida é o fruto mais precioso da educação”. Se quisermos cultivar uma atitude

de relevância para com a vida, em primeiro lugar precisamos desenvolver a

percepção, que, por sua vez, pode se transformar em amor e empatia. À

medida que começamos a sentir uma comunhão com os seres vivos que nos

rodeiam, nossas atitudes tornam-se mais harmoniosas e fluem com

naturalidade, e, por conseguinte, passamos a nos preocupar com as

necessidades e o bem-estar de todas as criaturas. O eminente

conservacionista japonês Tanaka Shozo definiu: “cuidar dos rios não é uma

questão de rios, mas do coração humano”. No entanto, um simples contato

direto com a natureza nem sempre é o suficiente (CORNELL, 1997, p.13).

Como descrito no subcapitulo anterior deste trabalho as práticas desportivas de

aventura possuem um importante papel proximal entre o homem e a natureza, no

entanto como referido no trecho à cima às vezes um simples contato direto com a

natureza não é o suficiente para construção de amor e empatia com o meio.

Ao desenvolver o método anfitrekking, se descobriu mecanismos para realizar

esta proximidade afetiva do homem e a natureza a partir do desporto de aventura. São

aspectos básicos de assimilação do praticante do desporto de aventura com o meio o

qual ele está inserido, como se fosse qualquer outra criatura existente em nosso planeta.

Como exposto no subcapitulo 6.3, utilizou-se a criação de personagens a partir

de conhecimentos empíricos dos participantes sobre alguns conteúdos das ciências

biológicas (estimulo da self in loco), esta metodologia foi adotada com intuito de barrar

a visão antropocêntrica que os participantes poderiam vir a ter durante a realização da

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atividade desenvolvida. Para verificar a percepção ambiental empírica dos participantes

questionou-se a eles que características do ambiente você julga importante para

sobrevivência do seu personagem?

O grupo 1 criou personagens em relação a aspectos evolutivos, vírus, reino

monera, reino protista e reino fungi. Então a partir de seus conhecimentos baseados em

experiência passadas, os participantes do grupo 1 descaram características básicas

como: sujeira, floresta, umidade, ambiente preservado, todos os tipos de ambiente entre

outros (gráfico 6).

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Ao analisar o gráfico 6 é possível perceber que alguns conceitos foram

desmistificados em relação a alguns organismos trabalhados no anfitrekking, por

exemplo, 7% dos participantes inicialmente não sabiam responder tal questão, pois não

haviam incorporado o seu personagem. Supostamente, os 7% dos participantes que

responderam que o recurso de vida de seu personagem envolvia poluição e sujeira, se

Gráfico 6: características do ambiente para sobrevivência dos personagens originados a partir da

evolução biológica, vírus, reino monera, reino protista e reino fungi.

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referiam aos microrganismos patológicos, eles deixaram de ter uma percepção

superficial em relação aos recursos de vida, pois novos conceitos foram atribuídos tais

como: recursos abióticos (7%), preservação do ambiente para manter a biodiversidade

(22%) e a percepção de todo tipo de ambiente como uma possibilidade de vida (41%).

A mesma situação ocorreu para grupo 2 que deu origem aos personagens das

classes dos vertebrados terrestres, a saber: anfíbios, repteis, aves e mamíferos. Ao

comparar os resultados do grupo 1 e 2, percebe-se que o grupo 2 atribuiu uma gama

maior de possibilidades de recursos de vida para seus personagens, totalizando 10

(gráfico 7) em contraponto de 6 atribuídos pelo grupo 1. Provavelmente, tal resultado

esteja relacionado com a maturidade perceptiva do ambiente do grupo 2 em relação ao

1.

Ao analisar o gráfico 7, torna-se notável a percepção superficial dos

participantes antes do desenvolvimento do método, mesmo que a maioria já tenha uma

percepção ambiental mais aguçada em relação ao grupo 1, percebível pela descrição

mais minuciosa dos recursos naturais para sobrevivência do personagem (gráfico 7),

ainda sim 21 % dos participantes possuíam uma visão dos recursos naturais muito

superficial levantando hipóteses de que tudo que a natureza tem para oferecer é

suficiente para sobrevivência de seu personagem.

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36

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Após a realização do método anfitrekking, esta categoria de resposta reduziu

para 9%, dando espaço para novos conceitos, uma nova percepção do ambiente e dos

recursos de vida para os demais organismos vivos. Carvalho-Moura, C. I in Ferraro-

Junior, (2014 p. 301) definiu a subjetividade ou self como: “um modo de ser ou estar no

mundo que resulta em estilos de vida e valores adotados por indivíduos e grupos sociais

nas suas relações com outros humanos e não humanos”. Tal como o método adotado

neste estudo.

Este resultado ilustra a incorporação efetiva do personagem, pelo participante,

durante a realização do método anfitrekking, em outras palavras, a self in loco foi um

importante mecanismo para construção de uma nova percepção ambiental para os

praticantes anfitrekking.

Outro mecanismo explorado neste estudo foi a pedagogia da aventura. A palavra

aventura deriva do latim “adventura” significando algo que está por vir, imprevisível, é

algo intangível num primeiro momento, fato característico dos esportes na natureza,

Gráfico 7: características do ambiente para sobrevivência dos personagens originados a partir dos

vertebrados terrestre: anfíbios, repteis, aves e mamíferos.

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presentes principalmente naquelas modalidades, onde a distância, clima, esforço físico,

a privação e as incertezas estão presentes (PEREIRA, 2010 p. 16). Neste estudo o

método anfitrekking assumiu uma forma de jogo ou game in situ a fim de estimular o

entusiasmo e a competitividade dos participantes. Como indica o trecho abaixo:

O gosto pela competição, à busca da sorte, o prazer pela simulação e a

atração pelo vertiginoso surgem, indiscutivelmente, como fatores

predominantes do jogo, mas a sua ação se envolve na vida das sociedades e,

em outra forma, a vida das pessoas inseridas na sociedade se engendra nos

jogos, embora de modo e intensidade diferentes (CALLOIS, 1994 & ANJOS,

2005 apud PEREIRA, 2010 p. 49).

Estes mecanismos de empatia e aventura também auxiliaram para construção de

novos conceitos em relação a execução dos esportes de aventura em áreas protegidas,

para verificar a contribuição do método anfitrekking para construção destes novos

valores, realizou-se um levantamento das concepções positivas dos participantes em

relação a execução dos esportes de aventura no Parque Natural Municipal Saint

Hilarie.

Para o grupo 1 os aspectos positivos agregam-se aos seus valores pessoais tais

como melhoria do condicionamento físico (10%), ambiente propício a realização da

pratica (13%), Novas experiências (16%) e 10% dos participantes incialmente não

encontrou pontos positivos em relação a estas atividades. Ao analisar o gráfico 8,

percebe-se que a questão do condicionamento físico após a pratica anfitrekking já não

existe, foi tomada por novas concepções tais como: contato direto com a natureza

(23%), diversão (16%) e aprender e conhecer para cuidar do Parque. O número de

participantes, após a realização do método anfitrekking, foi de 3% para 6% em relação a

não enxergar pontos positivos em relação a estas atividades. Segundo estes

participantes, todos estes esportes de aventura, causam algum tipo de impacto no

parque, mesmo que sem querer, mas é divertido e legal.

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38

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Ao analisar o gráfico 9, nota-se que o grupo 2 atribuiu uma gama maior de

aspectos positivos em relação ao grupo 1. Destacando-se aspectos como: explorar e

conhecer a natureza (27%), Melhoria no condicionamento físico e saúde (15%), estar

em um ambiente intocado pelo homem (12%), estimular as pessoas a praticarem

esportes (12%), quebra de rotina/ reflexão sobre os problemas

ambientais/conscientização (8%). Assim como o grupo 1, o grupo 2 também atribuiu

novos valores as práticas desportivas de aventura após a realização do método

anfitrekking. Concepções como: contato íntimo com a natureza (15%) e perceber que

somos parte da natureza (4%) tomaram espaço na percepção construída a partir do

método, é possível destacar também o aumento de participantes relatando sobre a

Gráfico 8: levantamento das concepções positivas que o grupo 1 possui em relação a realização dos

esportes de aventura no Parque Natural Municipal Saint Hilarie.

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39

sensação de bem-estar e calmaria (15%) e a exclusão do conceito de modismo dos

esportes de aventura (estimular as pessoas a praticarem esportes).

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Durante a realização da pratica observou-se que a empatia dos participantes com

o meio a qual estavam inseridos ocorreu a partir da aventura, e pode ser entendida a

partir de momentos, tais como:

a. Entusiasmo;

b. Percepção detalhada do meio;

c. Simulação de batalhas entre os grupos e incorporação de conceitos

construídos;

Gráfico 9: levantamento das concepções positivas que o grupo 2 possui em relação a realização dos

esportes de aventura no Parque Natural Municipal Saint Hilarie.

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40

d. Argumentação e percepção crítica do ambiente e da preservação dos recursos

naturais.

e. Novas concepções das relações dos seres vivos.

Estes momentos estão relacionados às regras atribuídas ao jogo, bem como a

ação do mediador durante a prática (HUIZINGA, 2000). Basicamente as regras

consistiam em cada participante “captar” recursos de vida para seu personagem a partir

das observações durante o percurso trekking, atribuindo estes recursos às necessidades

do tipo de organismos que deu origem ao personagem. O mediador simulava batalhas

entre os personagens, bem como situações que poderiam ocorrer no ambiente, o

personagem vencedor das batalhas era classificado a partir do número de recursos de

vida corretos observados por eles.

O jogo e a aventura assumem um papel estimulante da imaginação de quem o

pratica. Além de, construir novos significados aos seus objetos de estudo, esta estratégia

pedagógica faz com que as “caixas disciplinares” sejam abertas para serem trabalhadas

em conjunto despertando a interdisciplinaridade. Três fatores fundamentais para

desenvoltura da consciência ambiental dos voluntários desta pesquisa foram: a

experimentação, a descoberta e a organização (SOUZA, 2001; FREIRE 2002;

CALLOIS 1994; MORIN 1986 & VYGOTSKY 1998 apud PEREIRA, 2010, p. 49-51).

Dado o exposto, conclui-se que os mecanismos de empatia e aventura devem

ser trabalhados simultaneamente se o objetivo for desenvolver a consciência ambiental

em praticantes do desporto de aventura. Assim como ilustra o diagrama da figura 2.

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41

Figura 2. Representação esquemática dos princípios e missões da atividade anfitrekking.

Fonte: elaborado pelo autor (2016)

7.3 A CORPORIEDADE E A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

Ao decorrer deste estudo já foram relatados diversos aspectos que levam o

homem a buscar o desporto de aventura, tais como: sensações, emoções,

autossuperação, fuga de rotina, proximidade com o meio, entre outras. Assim como,

Breton explica:

(...) o corpo tornar-se então um caminho possível da salvação, numa

perspectiva leiga em que o indivíduo determina as provas a que ele se inflige

para testar seu valor. Trata-se de encontrar enraizamento sólido em sua

existência (LE BRETON, 2006, p.116 apud. PEREIRA, D. W. 2010 p.15).

É possível relacionar o crescimento exponencial da procura das Atividades

Físicas de Aventura na Natureza às explorações comerciais “ecoturisticas”, esta por sua

vez, incorpora o discurso “ecológico” para corroborar com suas ofertas de mercado,

mesmo que não estejam verdadeiramente comprometidas com nenhum aspecto

educacional de desenvolvimento da consciência ambiental (BAHIA, 2008).

Page 42: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

42

Para Bruhns (1998 apud Bahia, 2002) é possível perceber uma mescla semântica

de três visões de vida e de mundo no perfil do praticante do desporto de aventura,

sendo: a visão física externa (natureza, água, velocidade), a visão emotiva interna (risco,

liberdade) e a visão química resultante (adrenalina).

Tais aspectos resultam numa experiência aparentemente positiva ao ecoturista,

no entanto, não passa de uma visão superficial do meio à qual ele está inserido. E o

discurso ecológico feito pela indústria turística, na pratica, é muitas vezes, antagônico a

filosofia sustentável, e mais uma vez, o homem utiliza a natureza de forma exagerada na

exploração comercial (MARINHO, A., 1999).

As práticas de AFAN, quando executadas de forma desordenada e sem

planejamento ocasionam vários impactos socioambientais, tais como os indicados na

tabela 2 (COSTA, 2006; BAHIA, 2008; COSTA-MENEZES & PAIXÃO 2009).

Principais AFAN realizadas em POA Possíveis impactos ambientais Grau de

intensidade

Asa Delta e Parapente

Impacto nas trilhas onde o salto

acontece, Poluição: barulho, lixo,

Alteração e destruição da vegetação,

Alteração no habitat de animais,

Compactação e erosão do solo,

Interferência social e cultural em

comunidades próximas envolvidas.

Baixo

Mountain bike

Compactação e erosão do solo,

Poluição: barulho, lixo,

Alteração e destruição da vegetação e

do habitat de animais,

Interferência social e cultural em

comunidades próximas envolvidas.

Baixo

Motocross

Impacto na abertura e utilização de

trilhas,

Compactação e erosão do solo,

Poluição: barulho, lixo, emissão de

gases e

petróleo (combustível),

Alteração e destruição da vegetação e

do Habitat de animais,

Interferência social e cultural em

Médio

Tabela 1: levantamento bibliográfico dos possíveis impactos ambientais derivados das principais

práticas de AFANs realizadas no município de Porto Alegre.

Fonte: Adaptado pelo autor com base em Bahia e Sampaio (2005 apud BAHIA, 2010).

Page 43: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

43

comunidades próximas envolvidas.

Trekking/Escalada/ Rapel/Boulder

Por tais modalidades utilizarem trilhas

para

chegar a pontos de descida, subida ou

mesmo a caminhada pela mata, há

impacto na utilização das trilhas,

Impacto na vegetação onde se fixa o

equipamento de segurança (canyoning,

escalada, cascade, espeleologia, rapel),

Poluição, barulho, lixo, distúrbios,

alteração e destruição do habitat e

vegetação (trilha),

Compactação e erosão do solo,

interferência social e cultural em

comunidades próximas envolvidas.

Baixo

Canoagem, rafting e duck

Poluição: barulho, lixo,

Distúrbios e alteração da fauna,

Possíveis quebras de pequenos pedaços

de rocha em corredeiras (contato com

os boias ou caiaques),

Interferência social e cultural em

comunidades próximas envolvidas.

Baixo

Esqui na Água, Jet Sky e Wake board

Poluição por meio da emissão de gases

do motor

da lancha (que reboca esqui, parasail,

prancha) e

motor do Jet Sky,

Poluição: barulho, lixo, algum

derramamento combustível na água,

Distúrbios e alteração da fauna,

interferência social e cultural em

comunidades próximas envolvidas.

Médio

Kitesurf, Windsurf/Vela

Alteração e Distúrbios da fauna dos

ecossistemas aquáticos, Poluição: lixo,

Interferência social e cultural em

comunidades próximas envolvidas.

Baixo

Fonte: [adaptado] Bahia e Sampaio (2005 apud. BAHIA, 2008).

Page 44: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

44

Cabe salientar que não é responsabilidade do leigo ter e continuar com uma

percepção superficial sobre o ecossistema o qual está inserido, sem ter um

conhecimento real sobre os impactos ambientais decorrentes da exploração comercial da

corporeidade contemporânea que envolve a (re) consolidação do homem com a

natureza.

Ao desenvolver o presente estudo, é possível ilustrar os aspectos negativos da

execução dos esportes de aventura em áreas protegidas como o Parque Natural

Municipal Saint Hilarie, estes aspectos estão expostos pelos gráficos 10 e 11 que trazem

as concepções negativas, dos grupos 1 e 2, que tangem em relação a este assunto.

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Gráfico 10: levantamento das concepções negativas que o grupo 1 possui em relação a realização dos

esportes de aventura no Parque Natural Municipal Saint Hilarie.

Page 45: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

45

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Ao confrontar os resultados levantados pela tabela 2 com os gráficos 10 e 11,

constatou-se a similaridade entre as informações obtidas por fontes bibliográficas e em

campo. No entanto, numa análise proporcional das categorias de respostas, em relação

as percepções empíricas e construídas, constatou-se algumas “falhas” em relação a

construção da consciência ambiental a partir da aplicação do método anfitrekking.

Destaca-se, que após a aplicação do método anfitrekking, houve um aumento da

percepção de que a execução dos esportes de aventura em áreas protegidas não possui

aspectos negativos.

Desta maneira, se avaliou algumas variáveis destes dados qualitativos, tais

como:

a. Faixa etária dos participantes;

b. Tempo de contato com o desporto de aventura;

Gráfico 11: levantamento das concepções negativas que o grupo 2 possui em relação a realização dos

esportes de aventura no Parque Natural Municipal Saint Hilarie.

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46

c. As três visões semânticas de vida e mundo: a física externa, emotiva interna

e química resultante.

7.3.1 Análise da visão simplista do aventureiro entusiasta

Precedentemente, ao analisar as concepções negativas expostas pelo grupo 1

(gráfico 10) é preciso recordar que neste grupo 66% dos participantes possuíam 12 anos

de idade na época da pesquisa (gráfico 1). Outro aspecto relevante é que 57% deles não

haviam tido nenhum contanto com estas práticas desportivas (gráfico 3).

Esta visão abstrata e distante que os participantes possuíam sobre o desporto de

aventura, pode ser ilustrada pelos resultados do gráfico 12, onde ao questionar sobre

qual esporte de aventura não causaria impacto na vida do personagem criado, eles

buscaram, trazer a ideia de invencibilidade de seu personagem, demonstrando que

nenhum esporte de aventura poderia causar impacto na vida de seu personagem (53%

numa percepção construída a partir do método anfitrekking).

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Gráfico 12: A visão simplista do grupo 1, a partir da self in loco, sobre os impactos ambientais

provenientes dos esportes de aventura.

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47

Supostamente, as técnicas laborais e lúdico-corporais, atribuídas aos

mecanismos de empatia e aventura utilizados para de desenvolver a self in loco,

colaboraram para o desenvolvimento da ideia de que os esportes de aventura aproximam

o homem da natureza de forma divertida e dinâmica, além de fazer bem para saúde

física e mental, como foi atribuída pelo grupo no gráfico 13, ao questioná-los sobre a

relação entre a natureza e os esportes de aventura (HUIZINGA 2000; SOUZA 2001;

FREIRE 2002; CALLOIS 1994, MORIN 1986 e VYGOTSKY 1998 apud PEREIRA,

2010 p. 49-51).

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

20%

30%

27%

10%

0%

0%

0%

7%

3%

3%

10%

23%

13%

3%

3%

17%

13%

10%

3%

10%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

os esportes de aventura aproximam o homem e anatureza, fazendo-o ter um contato direto com o

meio

obstáculo, trajeto e/ou circuito proporcionadopelas características geográficas do meio natural

aprendizagem e conhecimento da natureza, sabersua importância para cuidá-la

estes esportes causam impacto para natureza

Testar de habilidades físicas

aprender sobre a natureza de maneira dinâmica,aventureira e divertida

os esportes de aventura são essenciais paraaproximar o homem e a natureza

sensação de bem estar e leveza/ faz bem para saúdedo corpo e mental

nenhuma relação

inválido/não respondido/nulo

Que relação tu achas que existe entre a natureza e a realização dos esportes de aventura?

percepção construída percepção empírica

Gráfico 13: A visão do grupo 1 sobre a relação entre a natureza e a realização dos esportes de

aventura.

Page 48: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

48

Conclui-se então, que o fato, deste grupo ter se “empoderado” do aspecto

recreativo em relação ao método anfitrekking e as demais Atividades Físicas de

Aventura na Natureza, levou a maioria a crer na inexistência de aspectos negativos em

relação a estas práticas (gráfico 10), uma vez que, segundo eles, estas práticas

desportivas contribuem para aproximar o homem e a natureza (gráfico 13). Este fato é o

resultado das variáveis sociológicas e didáticas implicadas ao desenvolver a

metodologia e não compromete as afirmativas apresentadas ao decorrer deste capítulo

em relação a construção da consciência ecológica a partir da aplicação do método

anfitrekking.

7.3.2 Análise das pegadas ecológicas dos aventureiros

Ao analisar o gráfico 11, é notável que a percepção empírica e construída dos

representantes do grupo 2 é maior em relação ao grupo 1. Este fator pode ser associado

as experiências anteriores destes participantes, uma vez que 71% deles já haviam tido

contato com o desporto de aventura (gráfico 3).

Não obstante, ao fazer a análise proporcional, entre a percepção empírica e

construída, acerca de não haver aspectos negativos na execução dos esportes de

aventura no Parque Natural Municipal Saint Hilarie, contatou-se o aumento deste

significado assim como ocorreu com o grupo 1.

Novamente, este resultado está associado aos mecanismos self in loco e game in

situ realizado ao decorrer do método anfitrekking, todavia, as experiências anteriores

dos participantes deste grupo, fez com que houvesse uma percepção mais profunda em

relação as visões de vida e de mundo. Tais como ilustradas pelos gráficos 14 e 15.

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49

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

É possível destacar, no que diz respeito à concepção, cujo, todos os esportes de

aventura causam impacto, surgiu somente após a realização do método anfitrekking.

Sustentando a ideia, de que, se não existir a natureza, não existe a prática desportiva de

aventura levantada pelo grupo 2, após desenvolver os mecanismos de empatia e

aventura: self in loco e game in situ (gráfico 15).

Gráfico 14: A visão dos aventureiros do grupo 2, a partir da self in loco, sobre os impactos

ambientais provenientes dos esportes de aventura.

Page 50: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

50

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Dado o exposto, constatou-se um enraizamento sólido e consciente sobre as

visões semânticas de vida e de mundo descritas por Bruhns (1998 apud Bahia, 2008),

onde:

A visão física externa aguçou-se ao perceber os detalhes dos recursos a

naturais e dos organismos que precisam deles;

A visão emotiva interna eclodiu ao competir, sorrir, brincar, ao sentir a

sensação de bem-estar, de respirar o ar puro, aprender coisas novas e dar-se

autonomia para cuidar da natureza com o entendimento correto (gráfico 9).

Gráfico 15: A visão do grupo 2 sobre a relação entre a natureza e a realização dos esportes de

aventura.

Page 51: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

51

A visão química foi depurada a todo instante com as simulações, narrações,

estratégias, batalhas entre outras ações proporcionadas pela vivência e prática

de anfitrekking.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo definiu-se como um teste piloto para modelar o método

anfitrekking a partir da realização de uma trilha guiada. Porém, a proposição deste

método pressupõe que, outras modalidades de desportos de aventuras poderão, também,

estar embasados nesta mesma metodologia, bastando para isso, uma adaptação

adequada a cada prática desportiva.

Enfim, o anfitrekking surge não para contestar ou questionar os esportes de

aventura, por estes, serem, muitas vezes, impactantes ao meio ambiente, mas sim como

agregador das práticas desportivas da natureza e à preservação do meio ambiente.

Destacando que, uma prática desportiva consciente, onde o esportista tenha a percepção

do meio onde ele se encontra e, que as dificuldades de superação não sejam somente a

sobreposição dos obstáculos, mas sim a construção de uma sintonia onde praticante e

natureza estejam conectados.

Page 52: rafael brugnera alcântara - Biblioteca Feevale

52

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