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Revista InterteXto / ISSN: 1981-0601 v. 6, n. 1 (2013)
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QUESTES SOBRE ENSINO DE LITERATURA
SUBJECTS ON TEACHING OF LITERATURE
Danglei Castro Pereira1
Glaucia Bereta2
RESUMO: A problemtica dos paradigmas formativos do Canon
literrio ganhou destaque no cenrio da critica literria brasileira
nos ltimos anos. A reflexo discute a influncia do olhar cannico no
ensino de literatura nos ltimos anos. Acreditamos que a situao
fragmentria do ensino de literatura reflete um distanciamento
paulatino do leitor em formao face s obras literrias Stricto Sensu
em ambiente escolar. A investigao provm de discusses realizadas
dentro do projeto de dois projetos de pesquisa: O ensino de
literaturas em Lngua portuguesa em escolas estaduais de Campo
Grande/MS, projeto com apoio financeiro do Edital Universal
014/2009 do FUNDECT/MS e do projeto de pesquisa O ensino de
literaturas em Lngua
portuguesa em escolas estaduais de Campo Grande/MS, projeto com
apoio do Edital MCTI /CNPq /MEC/CAPES N 07/2011. Acreditamos que
oportunizar o contato do leitor com textos literrios em ambiente
escolar de forma a valorizar a reflexo esttica e a presena de
qualidades artsticas um dos caminhos para a construo de leitores
crticos, capazes de apreender a qualidade de autores como Joaquim
de Sousa Andrade, Sousndrade, corpus selecionado no
artigo. Entendemos, com isso, que a constante reviso do cnone
literrio indica um caminho interessante na valorizao do ensino de
literatura para alm dos limites cristalizados pela viso cannica
tradicional. A ideia ao apresentarmos a obra potica de Sousndrade,
discutir a relao entre cnone, Historiografia literria e o ensino de
literatura no contexto contemporneo.
PALAVRAS-CHAVE: reviso de cnone; cultura brasileira; leitura
literria.
ABSTRACT: Problematic of the formative paradigms of literary
Canon it won prominence in the
scenery of the it criticizes literary Brazilian in the last
years. To present reflection the influence of the canonical glance
discusses in the literature teaching in the contemporary. We
believed that the fragmentary situation of the literature teaching
is reflected the reader's estrangement the formation with literary
works Stricto Sensu in school atmosphere. The investigation of
discussions
accomplished inside of the research projects: O ensino de
literaturas em Lngua portuguesa em escolas estaduais de Campo
Grande/MS; O ensino de literaturas em Lngua portuguesa em escolas
estaduais de Campo Grande/MS. We believed the reader's contact with
literary texts in atmosphere form scholar to value the aesthetic
reflection and the presence of qualities is one of the roads for
the critical, capable readers' construction to apprehend the
authors' quality as Joaquim de Sousa Andrade, Sousndrade, corpus
the article. We understood, with that, that the
constant revision of the literary canon indicates an interesting
road in the discussion of the literature teaching for besides the
limits crystallized by the traditional canonical vision. The idea
is to discuss the relationship among canon, literary Historiography
and the literature teaching in the contemporary context.
1 Doutor em Letras pela Universidade Estadual Paulista "Julio de
Mesquita Filho", Campi S.J.R.P. Professor
de Literatura e cultura brasileira na Universidade Estadual de
Mato Grosso do Sul (UEMS). E-mail: [email protected] 2 Graduada em
Letras pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
mailto:[email protected]
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KEYWORDS: Canon Revision; Brazilian culture; Literary
Reading
Introduo
Um dos instrumentos de manuteno e afirmao do Canon literrio
est
presente nos manuais de teoria e critica literria destinados ao
ensino de literatura e
teoria literria nos cursos de Graduao e Ps-Graduao em Letras;
bem como nos
Livros Didticos destinados ao ensino de literatura na Educao
Bsica. Por manuais de
Teoria e crtica literria entendemos os compndios que visam
apresentar recortes
temporais, listando obras e analisando sob uma tica terica,
explicita ou no, a
diversidade literria brasileira. Por Livros Didticos (LD)
entendemos a enorme variedade
de livros e apostilas destinados ao ensino de Lngua e literatura
na Educao Bsica.
Tantos os compndios e manuais quanto o LD sero denominados, no
limite deste
trabalho, como Materiais de Apoio Pedaggico (MAP).
No Brasil pensamos em manuais e compndios representativos como,
por
exemplo, Histria concisa da Literatura brasileira, de Alfredo
Bosi (1993), Formao
da literatura brasileira, de Antnio Cndido (2000), A Literatura
no Brasil, de Afrnio
Coutinho (1969), entre outras. Os textos listados seriam manuais
de literatura brasileira
porque retomam um discurso classificatrio e pressupe julgamento
critico diante da
tradio literria. Acreditamos que sua utilizao reiterada ao longo
das ltimas dcadas
cria um dilogo interno que refora a abordagem de determinados
autores e obras como
representantes da tradio literria no Brasil. Este aspecto
possibilita a compreenso
destes livros como agentes se no de confirmao, mas de veiculao
de valores ligados
ao Canon.3
Lembramos que algumas das reflexes propostas neste artigo provem
de
discusses realizadas dentro dos projetos de pesquisa: O ensino
de literaturas em
Lngua portuguesa em escolas estaduais de Campo Grande/MS,
projeto aprovado pelo
Edital Universal 14/2009 do FUNDECT e O ensino de literaturas em
Lngua portuguesa
em escolas de Campo Grande/MS, projeto aprovado pelo Edital MCTI
/CNPq
3 Um exemplo deste dilogo a retomada em autores como Bosi (1993)
e, em alguns aspectos, Coutinho
(1969) e Candido (2000) de posicionamentos crticos observveis em
dois textos fundadores: A literatura no Brasil, de Silvio Romero
(1888) e, antes dele, Bosquejo da Histria da poesia brasileira,
publicado por de Joaquim Norberto de Sousa Silva, em 1841 e,
reeditado em 2002 com a organizao e notas de Roberto Aczelo de
Souza, mas sob o ttulo de Histria da literatura brasileira e outros
ensaios. Remetemos o leitor ao artigo Consideraes sobre Canon
literrio, publicado nos Anais do XIX Seminrio do CELLIP em 2009 no
qual abordamos mais detidamente esta relao.
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/MEC/CAPES N 07/2011. No desenvolvimento do artigo discutiremos
a influncia dos
MAP no ensino de literatura, bem como o distanciamento dos
leitores em formao de
obras literrias Strictu Senu na Educao Bsica. Por fim,
construiremos uma reflexo a
partir do mtodo linear de leitura literria, tendo como foco a
obra de Sousndrade um
dos autores trabalhados no projeto de extenso Oficina de leitura
literria; ao
desenvolvida como interveno em decorrncia dos resultados obtidos
nos projetos de
pesquisa mencionados h pouco.
Procuraremos enfatizar, como um dos objetivos deste estudo, a
importncia do
enfrentamento do texto literrio Stricto Sensu em ambiente
escolar. Entendemos que sua
focalizao, para alm da fragmentao tericas e metodolgicas
presentes nos MAP,
uma alternativa pertinente ao ensino de literatura na Educao
Bsica.
Materiais de apoio pedaggico: questes
Na introduo do livro didtico Lngua, Literatura & redao, de
Jos de Nicola
Beth Brait (apud NICOLA, 1999, p. 1) comenta, apresentando uma
avaliao favorvel ao
texto, que uma das qualidades do livro est na rigorosa adequao
dos contedos e da
forma de trat-los, s exigncias informativas e didticas
requeridas pelo texto suporte do
ensino e do aprendizado. Pensado como exemplo de LD destinado ao
Ensino Mdio
teramos na obra de NICOLA (1999) a utilizao do texto literrio em
atividades prticas
como exerccios de leitura, adequao de estilo e abordagem de
caractersticas estticas
frente s normas historiogrficas paradigmticas.
Fazendo a ressalva de que utilizamos os excertos que seguem como
metonmia,
damos um exemplo.
Caractersticas do Arcadismo
Os modelos seguidos so clssicos, Greco-latinos e renascentistas;
a mitologia pag retomada como elemento esttico. Da a escola tambm
ser conhecida como Neoclassicismo. Inspirados na frase de Horcio
Furgere urbem (Fugir da cidade) e
levados pela teoria de Rousseau acerca do Bom selvagem, os
rcades voltam-se para a natureza em busca de uma vida simples,
buclica, pastoril. a procura do lcus amoenus, de um refgio ameno em
oposio
aos centros urbanos monrquicos; a luta do burgus culto contra a
aristocracia se manifesta na busca da natureza. (...) ( NICOLA,
1999, p. 207, volume 1) A busca da simplicidade Fundamentalmente
antigongrico, o movimento rcade tinha por emblema um meio brao
segundo um padro foice de cabo curto e o lema Inutilia truncat
(cortar as inutilidades). Visava com isso cortar os
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exageros, o rebuscamento e a extravagncia caractersticas do
Barroco, retomando um estilo literrio mais simples, em que
prevalecesse a objetividade do mundo burgus. Os modelos seguidos
eram os clssicos greco-latinos e os renascentistas; a mitologia pag
foi retomada como elemento esttico. Da a escola tornar-se conhecida
tambm como Neoclassicismo. (TERRA; NICOLA; FLORIANA, 2002, p. 364)
(...) Caractersticas do Arcadismo O Arcadismo tinha por lema a
frase latina Inutilia Truncat (cortar,
suprimir as inutilidades). Visava com isso cortar os exageros, o
rebuscamento e a extravagncia caractersticos do Barroco, retornando
a um estilo literrio mais simples, em que prevalecesse a
objetividade do mundo burgus. Os modelos seguidos eram os clssicos
Greco-latinos e os renascentistas; a mitologia pag foi retomada
como elemento esttico. Inspirados no poeta latino Horcio, os rcades
cultivam o carpe dien, que
consiste no princpio de viver o presente, gozar o dia, pois o
tempo corre clebre, e o furgere urbem (fugir da cidade), o abandono
dos centros urbanos (...) (TERRA; NICOLA, 2008, p.383-384)
Nos trs fragmentos, aqum do evidente jogo de parfrases,
encontramos
definies complexas, como as dos conceitos latinos em itlico -
sem uma prvia
discusso. Alm disso, a tendncia em descrever caractersticas
estticas complexas de
maneira sinttica O Arcadismo tinha por lema a frase latina
Inutilia Truncat figura como
forma de resumir o estilo, fato que naturalmente implica na
equalizao das nuances
individuais das obras literrias e na consequente minimizao de
efeitos de sentido
presentes nos textos literrios vistos de maneira panormica e
como exemplos das
consideraes crticas apresentadas sobre o movimento, no caso, o
Arcadismo.
Ao apresentar de forma simplificada a diversidade de textos
presentes no
escopo literrio, retomando Braith (apud NICOLA 1999), o LD
atinge s exigncias
informativas e didticas requeridas pelo texto suporte do ensino
e do aprendizado. No
questionando a validade da perspectiva apresentada por Braith
(apud NICOLA 1999) os
exemplos passam a impresso de que para saber literatura basta
decorar ou apreender
as caractersticas comuns a determinado perodo literrio e
compreender os excertos
literrios presentes nos textos como exemplos destas consideraes.
A opo didtica do
exemplo dado parece ser listar contedos estilsticos de maneira
homognea e
apresentar uma viso paradigmtica que filtra a tradio em busca de
constantes de um
determinado estilo de poca. Entendemos, no entanto, para alm da
validade
paradigmtica do LD que esta postura resume uma complexa rede de
organizao
esttica e temtica a um conjunto homogneo o que minimiza a
diversidade esttica de
movimentos literrios, no mnimo, mais complexos.
Vejamos o que diz sobre o Arcadismo e o Neo-Clssico Alfredo Bosi
(1993) em
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um dos compndios mencionados no incio deste estudo:
A Arcdia enquanto estilo melfluo, musicalmente fcil e ajustado a
tempos buclicos, no foi criao do sculo de Metastsio: retomou o
exemplo quatrocentista de Sannazaro, a lira pastoril de Guarani (II
Pastor Fido) e, menos remotamente, a tradio anticultirsta da Itlia
que se ops potica de Marino e as vozes que na Espanha se haviam
levantado contra a idolatria de Gongora. Mas o que j se postulava
no perodo ureo do Barroco em nome do equilbrio e do bom gosto
entra, no sculo XVIII, a integrar todo um estilo de pensamento
voltado para o racional, o claro, o regulador, o verossmel; e o que
antes fora modo privado de sentir assume foros de teoria potica, e
a Arcdia se arrogar o direito de ser, ela tambm, philosophique e
digna verso literria do Iluminismo vitorioso (BOSI, 1993. p.
55)
Compreendendo a opo natural pela reduo explicativa como uma
caracterstica dos textos didticos, concordando com Brait (apud
NICOLA 1999)
encontramos, tambm, nos manuais de teoria e crtica literria uma
tendncia em limitar
as consideraes aos aspectos gerais dos movimentos literrios como
perceptvel no
excerto de Bosi (1993, p.55) e exemplificado no fragmento que
segue estilo melfluo,
musicalmente fcil e ajustado a tempos buclicos. No LD, porm, a
presena deste
percurso facilitador que reduz o Arcadismo, conforme Bosi
(1993), a philosophique e
digna verso literria do Iluminismo vitorioso segue-se a utilizao
de exerccios
interpretativos direcionados aos excertos e textos literrios.
Esta opo, no entanto, em
muito reduz as discusses sobre a diversidade e qualidade
intrnseca do texto literrio
Stricto sensu ao fugir da abordagem do texto literrio em sua
complexidade imanente.
As Cartas chilenas completam a obra de Gonzaga. So poemas
satricos,
escritos em linguagem bastante agressiva, que circulam em Vila
Rica pouco antes da Inconfidncia Mineira. Apresentam versos
decasslabos e tm a estrutura de uma carta, assinada por Critilo
(Gonzaga) e endereada a Doroteu (Cludio Manuel da Costa). Nessas
cartas, Crtilo, habitante de Santiago do Chile (na verdadeVila
Rica) narra os desmandos e as arbitrariedades do governador
chileno, um poltico sem moral, desptico e narcisista, o Fanfarro
Minsio (na realidade, Lus da Cunha Meneses, governador de Minas
Gerais at pouco antes da Inconfidncia) (TERRA; NICOLA, 2008, p.
385)
Os excertos de Terra e Nicola (2008) compreende a apresentao de
uma lista
de caractersticas que, em alguns casos, abordam obras literrias
de compleio mais
sinttica como o conto e o poema e, em sua grande maioria,
utiliza apensas fragmentos
de obras, seguidas de apresentao de informaes biogrficas na
realidade, Lus da
Cunha Meneses, governador de Minas Gerais at pouco antes da
Inconfidncia de
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forma a apresentar uma linearidade de focalizao dos textos
reduzindo-os a informaes
de contextualizao e apresentao esttica que evita a discusso
especfica do texto e
minimiza a abordagem de conceitos complexos como, por exemplo, a
stira no excerto
citado.
As simplificaes da diversidade e complexidade de obras literrias
passam a
ser, em nosso ponto de vista, um dos problemas apresentados nos
compndios e,
principalmente, nos LDs. Soma-se a esta caracterstica a construo
de listas de autores
e a cobrana de leituras com objetivos especficos, ler para fazer
uma prova, por exemplo,
e teremos o perfil do ensino de literatura no escopo dos
entrevistados na Educao
Bsica no recorte de nossas pesquisas.
Estas simplificaes fogem a anlise detida do texto literrio
Stricto Sensu em
ambiente escolar. A comprovao desta afirmao encontrada na anlise
de
depoimentos de alunos entrevistados nos dois projetos de
pesquisa que do suporte a
esta reflexo. Lembramos que, para este artigo, selecionamos 38
alunos matriculados em
10 escolas de Campo Grande/MS e 20 alunos de graduao em Letras.
Optamos por
manter o anonimato, tanto das instituies de ensino quanto dos
alunos como forma de
preservar a identidade dos entrevistados.
Dos 38 entrevistados da Educao Bsica apenas 2 conseguiram
comentar o
enredo das leituras literrias realizadas ao longo do ano letivo
anterior. Este dado
demonstra que, em linhas gerais, os entrevistados apresentam um
distanciamento do
texto lido. Nas respostas que apontam para este distanciamento
encontrarmos
depoimentos como estes:
No me lembro da leitura, foi solicitada apenas para a prova
(entrevistado 13); No li as obras, s resumos (entrevistado 24);
difcil ler, no tenho tempo. Peguei o resumo na internet
(entrevistado 22)
Este perfil ler resumos e sem muito tempo para reflexo no
diferente nas
respostas dadas por alunos de graduao em Letras. Dos vinte
acadmicos
entrevistados, apenas 01(um), diz ler obras literrias na
integra. Os demais afirmam ler
fragmentos tericos e resumos para adequar estas leituras s
solicitaes das aulas de
literatura e teoria literria. Dos entrevistados, todos Educao
Bsica e Graduao em
letras so unanimes em afirmar que gostam de ler textos
literrios, mas o tempo
destinado leitura escasso. Treze dos entrevistados da Graduao
apresentam
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respostas que podem ser agrupadas na resposta de um dos
entrevistados: leio, mas o
tempo curto e prefiro buscar referncias e artigos da internet.
Os demais, 07 (sete),
afirmam ler apenas para adequar sua leitura a exigncias do
currculo, sendo que apenas
um indica ler obras na integra e consegue comentar a leitura
realizada.
Estas respostas possibilitam a inferncia de que tambm na
graduao
encontramos uma situao fragmentada ligada a leitura literria no
escopo de nossa
investigao. Pelo que parece, o texto literrio perde
progressivamente espao em
ambiente de ensino. Esta ideia apresenta uma concluso em
prolongamento: como se l
fragmentos de textos na Educao Bsica, na graduao a distncia
progressiva dos
leitores diante do texto literrio Stricto Sensu parece ser um
desdobramento natural.
Esta percepo, embora metonmica, dado o recorte da pesquisa
aqui
apresentado, indica que a abordagem do texto literrio Stricto
sensu, enquanto
diversidade esttica especfica prejudicada na Educao Bsica e na
Graduao em
Letras.
Relato de experincia: um projeto de interveno
Como forma de justificar a necessidade da presena especfica do
texto
literrio em ambiente de ensino; apresentamos, em seguida, uma
proposta de interveno
ao ensino de literatura que tem como premissa a discusso do
texto literrio Stricto
Sensu. A proposta proveniente de uma ao de extenso conjugada com
os dois
projetos de pesquisa que do suporte a esta discusso. Sua
apresentao proveniente
de uma inquietao: por que no apresentar e discutir textos
literrios Stricto Sensu em
sala de aula?
O projeto de extenso Oficina de leitura literria desenvolvido
desde 2009
na UEMS de Campo Grande e tem como pblico alvo alunos da Educao
Bsica e,
como ministrantes, acadmicos de Letras da Universidade Estadual
de Mato Grosso do
Sul, unidade universitria de Campo Grande/MS. A proposta uma
adaptao do Mtodo
linear de contao de histrias, de Fanny Abramovich (1997). A
ideia ler e discutir textos
literrios em um contexto de interao direta entre leitores e o
texto.
Passamos, antes de iniciar a discusso dos resultados da ao, a
necessidade
de uma breve apresentao do que denominamos Mtodo linear de
leitura literria.
Como dito, utilizamos como base para nossa proposta metodolgica
uma adaptao do
Mtodo linear de contao de histrias de Fanny Abramovich (1997).
Nesta adaptao,
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enfatizamos na leitura do texto sua especificidade estrutural.
Evita-se, portanto, a leitura
dramatizada ou a utilizao de aspectos cnicos na apresentao do
texto ao pblico
alvo. A ideia obedecer pontuao e ao ritmo do texto,
utilizando-se de um tom
constante na voz durante a leitura.
O primeiro passo organizar o pblico alvo em crculos ou
semicrculos,
evitando o modo habitual de organizao da sala de aula em
fileiras horizontais/verticais.
Tal organizao permite que o professor/leitor (alunos de graduao
em Letras) veja e
seja visto por todos os envolvidos durante a leitura e possa,
eventualmente, mediar
possveis intervenes.
Aps a organizao da sala o professor/leitor apresenta o texto por
meio de uma
pequena introduo, na qual comenta o tema do texto selecionado,
os motivos da seleo
e faz um pequeno histrico biogrfico e bibliogrfico do texto e do
autor. A inteno nesta
apresentao verificar a empatia do grupo diante do texto que ser
lido. Feita a
introduo ocorre o inicio da leitura que no interrompida durante
sua realizao. Aps
a leitura inicia-se o debate do texto, dando voz aos ouvintes e,
por fim, a confeco dos
ps-textos.
importante que aps a leitura e confeco de ps-textos que o
publico alvo possa
comentar suas produes na interao com o texto lido. Ao pedir aos
ouvintes, aps a
realizao de uma discusso sobre as impresses obtidas, que
comentem suas
produes o professor/leitor pode verificar em que medida o texto
atingiu o leitor. Em sua
maioria, os ouvintes optam pela produo de um novo texto escrito,
por manifestaes
orais, confeco de desenhos ou qualquer outra elaborao,
incluindo, pinturas com giz
de cera, canetinhas coloridas ou tinta guache. O importante, no
mtodo linear, portanto
colocar o leitor em uma interao direta com o texto lido e
oportunizar a ele, ouvinte/leitor,
a possibilidade de manifestar sua impresso de leitura comentando
primeiro o texto lido
no debate e, posteriormente, sua produo ps-textual.
Ao promovemos o contato dos leitores com textos literrios
acreditamos criar um
espao de enfrentamento especfico da diversidade literria e, com
isso, contribuir com a
formao de um leitor que apresenta interesse pela leitura
realizada uma vez que tem a
possibilidade de emitir sua impresso sobre a leitura.
Como exemplo de uma das atividades desenvolvidas na proposta,
comentaremos,
em seguida, uma experincia de leitura que envolve a obra potica
de Joaquim de
Sousndrade, definido como exemplo das atividades desenvolvidas
dentro da Oficina de
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leitura literria. Lembramos, no entanto, que no projeto
trabalhamos com diferentes
autores e obras sem a preocupao especfica de apresentar ou
filiar este ou aquele autor
determinada corrente e/ou tendncia literria. A ideia focalizar o
texto literrio e
explorar suas particularidades para, posteriormente, caso
necessrio, fazer referncias ao
estilo de poca ao qual o texto pertence ou dialoga.
A inteno ampliar o contato do leitor com o texto literrio e, na
medida do
possvel, com as demais manifestaes artsticas. Ressaltamos,
naturalmente, que as
consideraes resultam do debate em relao ao texto selecionado e,
por isso, assumem
uma verso mais formal do que a apresentao oral dentro da
oficina.
Sousndrade: apresentao de uma potica
Ao apresentarmos a obra de Sousndrade no contexto da proposta da
oficina
discutimos a expectativa do pblico alvo em relao a poemas como:
Se se morre de
amor e Cano do exlio, de Gonalves Dias. Exploramos, nesta
introduo, as
consideraes orais sobre certa emotividade presente nos poetas
romnticos brasileiros.
A ideia da presena da subjetividade, da melancolia e de uma
tendncia aos temas
passionais comumente veiculadas nos LD foram relacionadas, pelos
ouvintes, ao
Romantismo, algo esperado na medida em que o publico alvo
frequenta o Ensino Mdio e
grande parte , 20 dos envolvidos, frequentam o 3 ano. Feita a
discusso, de maneira
oral, dos dois poemas de Gonalves Dias iniciamos a apresentao da
potica de
Sousndrade, dando enfoque ao aspecto inovador no s de sua poesia
como por meio
da apresentao de seu inusitado perfil biogrfico.
Aps esta apresentao iniciamos a leitura de alguns fragmentos do
poema O
guesa, com o objetivo de apresentar a obra do poeta maranhense
aos ouvintes. Como
dito, preferimos, neste artigo, sistematizar as informaes
transmitidas de forma oral
durante a atividade na Oficina de leitura literria. Lembramos
que as atividades foram
realizadas em trs encontros de duas horas semanais em um total
de 06 seis horas de
atividades.
Organizamos as aes desenvolvidas na oficina em um texto que
sintetiza as
consideraes apresentadas, bem como a anlise dos textos de
Sousndrade
desenvolvidas na ao.
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Apresentao de Sousndrade: preliminares4
Joaquim de Sousa Andrade nasceu na Vila de Guimares, comarca de
Alcntara,
na Fazenda Nossa Senhora da Vitria, s margens do rio Pericum,
estado do Maranho,
em 9 de julho de 1832. Teve uma infncia difcil em decorrncia da
prematura morte dos
pais, fato que marcaria profundamente a vida do autor. Do perodo
de 1853 a
aproximadamente 1856, aps ver negado um pedido de ajuda
financeira para custear os
estudos na Europa, feito ao imperador D. Pedro II, vende parte
de suas posses e parte
para a Europa. Nesse perodo, provavelmente cursa Letras pela
Sorbonne e Engenharia
de Minas, cursos que provavelmente no concluiu. Em passagem pela
Inglaterra,
convidado a se retirar do pas por ter atacado, num artigo de
imprensa, a rainha Vitria.
De volta ao Brasil, no ano de 1857, faz sua estria literria com
a obra Harpas
selvagens. Em 1858, o poeta viaja pela Amaznia, onde coleta
informaes sobre o culto
do Jurupari, anotaes essas que, posteriormente, utiliza na
composio do Guesa. No
ano de 1864, casa-se com Dona Mariana de Almeida e Silva, viva
de abastado
fazendeiro, com a qual tem uma filha: Maria Brbara. No perodo de
1867 a 1868 so
publicados, no Semanrio Maranhense, dirigido por Joaquim Serra,
fragmentos dos dois
primeiros cantos do Guesa. Em 1868, o poeta publica Impressos 1
vol, contendo
poesias diversas e os Cantos I e II do Guesa. No ano seguinte,
sai Impressos 2 vol,
contendo o Canto III do Guesa.
Provavelmente, no ano de 1870, separa-se da esposa legtima, pois
j em 1871,
acompanhado da filha, fixa residncia nos EUA. Educa a filha
Maria Brbara no Colgio
Sacred Heart em Manhattanville, Nova Iorque. Nesse perodo, o
poeta entra em contato
com a agitao do capitalismo norte-americano e a bolsa de valores
de Wall Strett, fator
extremamente importante para a composio do Canto X do Guesa.
Nesse mesmo
perodo, trabalha como secretrio e colaborador do peridico O Novo
Mundo, publicado
em portugus em Nova Iorque.
Em 1874 faz imprimir, tambm em Nova Iorque, o 1 volume de suas
Obras
poticas (nessa obra aparecem os Cantos de I a IV do Guesa
Errante, alm das obras
Elias e Harpas Selvagens). Em 1876, publica os Cantos V a VII
(incompleto) do Guesa.
No ano seguinte, vem a lume a ltima edio nova-iorquina que tem o
Canto VIII (Canto X
da verso londrina). Provavelmente, no ano de 1888, publica em
Londres a verso mais
atualizada do Guesa. Nessa edio, o Canto VIII da edio
nova-iorquina aparece como
4 Os comentrios crticos e biogrficos sobre o autor foram
recuperados de CAMPOS (1979) e Williams
(1979).
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Canto X. Em 1889, j de volta ao Brasil, envia, de So Lus do
Maranho, um telegrama
de saudaes ao Marechal Deodoro da Fonseca, felicitando-o pela
Proclamao da
Repblica. No mesmo ano, nomeado membro da Junta Provisria
Municipal de So
Lus.
Ingressando na vida poltica, candidato, em 1890, a senador, mas
acaba
renunciando. No mesmo ano, idealiza o desenho da Bandeira do
Estado do Maranho.
Em 1893, publica Novo den, poemeto da adolescncia, provavelmente
escrito entre
1888 e 1889. No ano seguinte, contratado para lecionar Grego no
Liceu Maranhense,
seu primeiro emprego. Sonha com a criao de uma universidade
popular, a qual nomeia
Universidade Nova Atenas, mas j sem condies financeiras para
concretizar o sonho
imagina os regulamentos da instituio, a forma de sua bandeira,
chegando mesmo a
promover reunies em sua Quinta para discutir a implantao da
Universidade.
No ano de 1899, aparece pela ltima vez em pblico, proferindo o
discurso de
saudao a Coelho Neto, quando em visita ao Maranho.
Provavelmente, nesse mesmo
ano, a esposa e a filha se transferem para Santos. Sem condies
financeiras o poeta,
para se manter, vende as pedras dos muros da sua arruinada
Quinta Vitria. Tido como
louco, passa a perambular pelas ruas de So Lus sendo, inclusive,
alvo de brincadeiras
de moleques que lhe atiram pedras, fato que obriga o Governador
Lopes Leo a tomar
medidas de segurana para proteger o poeta. Em 1902, vem a lume,
em O Federalista,
O Guesa, o Zac (continuao do Canto XII do Guesa). No dia 21 de
abril, do mesmo
ano, os alunos do Liceu Maranhense encontram-no gravemente
enfermo em sua Quinta
Vitria. Transportado para o Hospital Portugus, falece no mesmo
dia.
Diz a lenda que os ltimos originais do poeta foram utilizados
como papel de
embrulho ou mesmo queimados. O certo que sua obra permaneceria
no abandono at
meados do sculo XX, quando seria novamente colocada em circulao
pelos irmos
Campos (1979).
O poema O Guesa organizado em XIII Cantos, dos quais ficaram
inacabados os
Cantos VII, XII, e XIII. 5 Estudos feitos por autores como
Frederick G. Williams (1976),
Luiza Lobo (1986), Haroldo e Augusto de Campos (1979), entre
outros, apontam para a
importncia do priplo da personagem central do poema como ponto
importante para a
5 Muitos crticos tm afirmado que o Canto VI do poema est
incompleto. Embora realmente este Canto
apresente uma certa irregularidade, no o consideraremos
inacabado, uma vez que o poeta o deu como concludo ao no mencion-lo
na edio definitiva do poema, na qual encontramos: Ficam
interrompidos os Cantos: VII, XII, XIII do poema O Guesa (O Guesa.
Canto XIII, p. 350)
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compreenso, pelo menos superficial, da estrutura organizacional
do texto. Concordando
com esses crticos, faremos uma breve exposio do deslocamento
espacial da
personagem Guesa ao longo do texto. Para tanto, como j foi dito,
levaremos em conta o
priplo da personagem, buscando, sempre que possvel, discutir as
implicaes
subjetivas atribudas pelo eu-potico em relao ao cenrio
descrito.
Lembramos, no entanto, que ao final da apresentao do poeta o
pblico alvo
manifestou interesse pela biografia de Sousndrade. Aproveitando
este interesse
chamamos a ateno para a relao entre a potica de Sousndrade e sua
inusitada
biografia. Esta relao criou nos ouvintes uma expectativa
positiva para a leitura dos
fragmentos do poema, algo que julgamos relevante mencionar neste
estudo.
Como forma de organizar a leitura dos fragmentos, chamamos a
ateno para um
aspecto do poema, a questo do priplo do personagem.
Potica de extremos: ironia
Os Cantos I, II e III de O Guesa podem ser considerados como
momentos de
busca pelas origens mticas do poema. Essa noo pode ser percebida
se pensarmos no
incio idlico encontrado no Canto I. Nele o Guesa se refere, por
um lado, exuberncia
da natureza americana e, por outro, crueldade do colonizador,
visto pejorativamente
como elemento degradante para a paz primitiva:
Candidos Incas ! Quando j campeiam Os heroes vencedores do
innocente ndio n; quando os templos sincendeiam, J sem virgens, sem
oiro reluzente, Sem as sombras dos ris filhos de Manko, Viu-se . .
. ( que tinham feito? e pouco havia A fazer-se . . . ) num leito
puro e branco A corrupo, que os braos estendia! (O Guesa, Canto I,
p. 3) 6
Neste fragmento, percebemos o percurso descrito acima, pois a
adjetivao
candidos e innocente, atribuda aos Incas, remete pureza do
primitivo antes do
contato com o estrangeiro. O perder as virgens e o oiro denuncia
a viso negativa
associada ao estrangeiro, que contamina com sua cobia a pureza
virginal dos nativos. O
espanto interrogativo exposto no verso entre parnteses uma soluo
genial do poeta
para expressar a indignao do eu-potico frente atrocidade imposta
pela cultura
6 Ser resguardada a ortografia original do poema, mesmo que em
alguns momentos esta apresente
algumas incorrees aos olhos da norma culta vigente. O texto
fonte ser sempre: SOUSNDRADE, J. O Guesa .Edio fac-similar. Org.
Jomar de Morais. So Lus/ MA : SIOGE, 1979.
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colonizadora ao nativo.
Essa indignao ser percebida com mais clareza no Canto II, no
qual o indgena
assume a identidade do europeu em detrimento de suas
particularidades culturais,
perdendo, com isso, sua pureza inicial. A exposio dessa
participao do nativo no
processo de colonizao faz com que o trao interno tambm seja
criticado, pois passa a
ser visto como elemento propagador da ao colonizadora. A dana
pandemnio
Tatuturema, contida no interior deste Canto II, funcionaria como
um ndice da situao
imposta ao nativo com a equiparao a um parmetro externo.
Nesta medida, a referncia nudez do ndio, diante da queimada dos
templos, no
fragmento citado do Canto I, pode ser vista como um ndice da
participao ativa do
nativo na degradao de sua cultura, pois este assiste
passivamente ao do
estrangeiro e, com isso, nega sua matriz primitiva para,
posteriormente, assumir o
paralelo externo como determinante de seus valores
culturais.
Na socegada lavra, esperanosas Tangendo o boi do arado. O povo
infante O corao ao estupro abre ignorante Qual s leis dos Christos
as mais formosas. Mas, o egoismo , a indiferena, estendem, As ras
do gentio; e dos passados Perdendo a origem chara estes coitados,
Restos de um mundo, os dias tristes rendem. Quanta degradao! Razo
tiveram ... (O Guesa, Canto II, p. 21)
A aluso ao povo infante, que perde sua identidade cultural,
aproximada
imagem do nativo vtima da ao externa. O verbo estendem, no
entanto, coloca o
nativo como participante da ao corruptora, pois as ras do gentio
deixam de remeter
pureza virginal para ser entendida como a propagao do
egoismo.
O Canto II deflagra, assim, a degradao cultural do elemento
interno, pois o nativo
aparece como parte integrante deste processo.
( Um delegado em scismas)
Reina a paz em Varsovia: Mas, a guerra a chegar, Recrutamos
arraus, Picapaus, Quando a luz se apagar. (O Guesa, Canto II,
p.35)
A participao do nativo no processo de degradao cultural pode ser
percebida,
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na medida em que elementos naturais como arraus e picapaus
aparecem recrutados
para a guerra. A luz que se apaga indicaria justamente a
descaracterizao do trao
genuno da brasilidade, pois o olhar para fora transforma o
interno, apontando para a
perpetuao da degradao. A referncia paz em Varsovia soa como
ironia, uma vez
que o elemento interno ligado a um universo exterior em paz, o
que pode indicar um
conflito interno, no qual os traos de brasilidade tensionam com
a exterioridade.
O Canto III tem como cenrio a exuberncia do espao amaznico; no
entanto, o
Guesa aparece dormindo: Dormindo o Guesa est. Negrantes
coroas[p.46]. O ambiente
descrito aproximado a um sonho, no qual figuram quatro
personagens: uma figura
maternal, uma imagem mtica (Uyara, deusa protetora das guas na
mitologia tupi); uma
metafsica (Chaska, lua para os incas) e a musa Virjanra7.
Estas personagens, envoltas no sonho, funcionariam como iconizao
da prpria
natureza brasileira, uma vez que o poema as coloca em um
paralelo direto com o
ambiente brasileiro.
Deusa dos roagantes vus doirados! Se me aparto de ti, quantos
cuidados, Quantas saudades tenho de deixar-te! noites do Amazonas!
formosas Noites denlevos! To enamoradas! Alvas, to alvas! E as
canes saudosas, Incantos do luar, sempre cantadas! Foi este o prazo
. . . Virjanura a esta hora Tambm te olhando est . . . muda e
pendida
A viso branca da montanha erguida, Que longa noite espera,
espera a aurora. ( O Guesa, Canto III, p. 56)
A inquietao do eu-potico perante a Deusa dos roagantes vus
doirados
remete a uma idealizao da figura feminina que transcende a mera
projeo fsica para
concretizar um paralelo mais amplo: a natureza brasileira. A
tristeza do eu-potico face
despedida do ambiente nacional transporta a musa a um cone da
natureza brasileira. O
olhar dos Andes, a viso branca da montanha erguida sobre a
exuberncia do espao
nacional implica, nesta medida, a deflagrao do nacionalismo
sousandradino
metaforizada na aurora.
O Canto IV marcado por uma profunda afetao romntica, pois o
eu-potico
7 Neologismo sousandradino formado pela fuso das palavras :
virgem e pura. Tal procedimento remete a
uma caracterizao romntica da figura feminina.
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surge como projeo amargurada diante da contaminao do elemento
natural. O Guesa
aparece, neste fragmento, como um espectro montado em um cavalo,
presenciando a
degenerao de sua ptria, metaforizada em um incndio que assola o
espao natural. A
aluso explcita morte de Gonalves Dias, contida neste Canto,
indica uma viso
pessimista em relao ao espao interno.
Do fundo espesso a nuvem tremulante. O Sol raiando beija a onda
brilhante Onde Gonalves Dias sepultou-se! ( O Guesa, Canto IV, p.
70)
Tais versos remetem a uma metalinguagem imanente ao poema,
podendo ser vista
como ndice da situao degradada do espao nacional em contraposio
ao ideal
utpico apresentado em Cano do exlio, de Gonalves Dias.
Dos gzos era o escravo: onde as mulheres Luzissem meigo olhar;
onde os perfumes Fossem bero de zephyro e prazeres Da florea varzea
e os levantados cumes, Alli vivia o Guesa entre os desmaios Das
brancas frmas, das vises ethereas Que ao luar sincantam, entre os
raios Que a amar derrama celestiaes materias! (O Guesa, Canto IV,
p. 69)
As referncias a figuras femininas degeneradas e a indicao da
luxria e da
devassido, onde as mulheres luzissem meigo olhar (prostbulo),
remetem a alienao
prpria do esprito romanesco, pois os ltimos versos se referem a
uma viso carnal do
amor.
No Canto V, temos uma espcie de intensificao do teor
nacionalista, pois o fluxo
de conscincia proporciona um regresso ao Maranho e, ao mesmo
tempo, leva o eu-
potico evaso romntica, infncia e figura materna. Neste Canto, o
poema
denuncia a degenerao moral da sociedade brasileira.
E onde esto os villes civilizados Foram os selvagens, livres na
investida sombra de suas settas resguardados, No amor da gloria e
da luctada vida; Uns, viciosos; outros, forasteiros; Todos ao mesmo
abysmo que os no chama,
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Nem donde os no evocam. Extrangeiros, Tupan ou Theos, quem a luz
derrama ? (O Guesa, Canto V, p. 92-93)
Neste excerto, podemos perceber a viso do estrangeiro como
elemento negativo,
pois os villes so civilizados e, portanto, extrangeiros (sic).
Os vcios trazidos pelos
estrangeiros imprimem, assim, a degenerao moral da cultura
brasileira. O nativo,
lanado ao mesmo abysmo que o forasteiro, indica a fuso entre os
planos civilizado e
selvagem. A descaracterizao do nativo figura, desta forma, como
um processo de
esvaziamento da pureza nativista percebida na aproximao entre o
Deus nativo Tupan
e a imagem do Deus cristo Theos, que, ironicamente, so postos
lado a lado.
A viagem Corte, cantada no Canto VI do poema, remete a um
aprofundamento
da descaracterizao do nativo.
Oh, quanta luz ! Nos valles jaz mesquinha A cidade, negra harpa,
que recorda Creaes de Can : jardins e vinhas; Ruas sonoras so-lhe
da harpa as chordas. (O Guesa, Canto VI, p. 131)
A referncia a um abysmo indica a destituio do olhar positivo
atribudo ao
nativo, que tem seus preceitos ticos e morais ligados idia de
traio, metaforizada na
figura bblica de Can. A melancolia face ao trao interno remete
diretamente ao Canto
II, mas, alm disso, indica uma viso depreciada do mundo. A
intertextualidade bblica
encontrada na figura de Can, smbolo da traio por ter trado e
matado seu irmo Abel
na liturgia crist, remete distncia entre o plano idealizado e a
realidade nacional. A
feroz crtica a uma falsa independncia ganha contornos
definitivos na indicao satrica
famlia real portuguesa8: Aqui Pedro Bragana coa victoria /
Dindependncia, pela
liberdade. [p. 136]. Nestes dois versos, temos uma viso sinttica
do olhar apresentado
no Canto VI.
A vitria da independncia sugere a derrota da liberdade, o que
lana o
brasileiro a uma situao de escravido em relao ao externo. Tal
postura perceptvel
ao longo de todo o poema, mas se torna mais ntida neste Canto,
uma vez que sintetiza a
crtica imposta pelo eu-lrico em relao a sua sociedade. No Canto
X, temos, no
chamado Inferno de Wall Street, uma nova intensificao desta
crtica social.
8 Muitos crticos, entre eles os irmos Campos (1964) relacionam
este Canto resignao do poeta em
relao monarquia brasileira, mas, como aponta Lobo (1986), tal
postura implica uma reduo simplria do poetar sousandradino.
Preferimos encarar as constantes referncias famlia imperial
brasileira como uma forma de deflagrao da espoliao do estrangeiro
em relao ao nativo.
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Pode-se dizer que o Canto VII representa um momento de fuga,
tendo como
cenrio o espao europeu, mas infelizmente, por ter ficado
inacabado, no oferece
maiores possibilidades de anlise. Cabe ressaltar, entretanto,
que este Canto poderia
contrastar com o Canto VI, uma vez que temos nele a aluso figura
bblica de Abel:
J consternado, o corao do Guesa Vibrou; e erguendo-se a moral
belleza, Resgatou-a; de asylo religioso Sagrou-lhe a educao coa
divindade De quem traidor disciplo ama zeloso, E diz : se meiga
flor e a liberdade Luz de Abel Deus eterno! a vaidade. dextranhos
punhal : faces amenas, Risos evanos meigos da saudade E flor de
morte americas morenas! . . . (O Guesa, Canto VII, p. 148)
O resgate do asylo-religioso negado pela vaidade humana,
mostrando a
degenerao do ideal de pureza. Os risos evanos, remetendo
ironicamente
participao de Eva na cena do pecado inicial, indicaria que o
paraso perdido leva a flor
de morte. Nesse caso, a aluso a um traidor zeloso traria uma
viso sinttica da
dominao da vaidade humana sobre o ideal de um homem puro voltado
a Deus e
ordem moral. A aluso Luz de Abel confirmaria essa leitura, pois
a ao do traidor
Cain ao mat-lo concretiza o sofrimento humano, proporcionando a
consternao do
Guesa com essa situao.
No Canto VIII, teramos, novamente, um movimento de regresso s
origens, ou
seja, ao Maranho. A viso sousandradina mostraria um Maranho
impregnado de
nostalgia, no qual o presente remete, por um lado, crtica
monarquia e corrupo
trazida pela cobia ao seio republicano, por outro, a um
saudosismo em relao infncia
de paz ao lado da famlia e da figura materna. O contraste entre
as figuras idlicas,
associadas famlia, e os elementos destruidores da pureza
primitiva so metaforizados
na cobia e na podrido moral do homem.
E aos ps luziu-lhe da fortuna o oiro Em grandes montes, que os
dos mundos frivolos Homens, e qual se fosse o oiro o thesoiro, N
elle honravam qual honram falsos idolos.
(O Guesa, Canto VIII, p. 159 )
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A adorao ao oiro remete passagem bblica, na qual Moiss, ao
regressar da
montanha, depara-se com a traio de seu povo. luz dessa leitura,
parece-nos que o
poeta, graas ao seu olhar crtico, procura estabelecer um
contraponto entre um elemento
de pureza e a deturpao deste trao pela ao do homem. Levados pela
cobia, os
homens forjam seus ideais a partir de paradigmas norteados pelo
egosmo e pela
falsidade e, com isso, contaminam qualquer trao de pureza. A
frivolidade do mundo,
absorto na usura, cega o homem que, assim, esquece seu trao
positivo para se afirmar
como degradador do seus prprios ideais.
O Canto IX focaliza o deslocamento do Guesa pelo continente
americano. O
cenrio descrito ser o das Antilhas, da Amrica Central, do Golfo
do Mxico e das costas
dos EUA. Neste Canto, fica latente a importncia dada natureza,
tida como elemento de
refgio purificador para o homem corrompido pelo meio social.
Tu ainda luz dos trpicos saudosa Leras Paulo-e-Virginia, o amor
e o riso De doce creao, sempre mimosa Quando a terra no estado de
paraiso : (O Guesa, Canto IX, p. 170)
A referncia intertextual obra Paulo e Virgnia de Bernardin de
Saint-Pierre (1986)
pode ser entendida como uma tentativa de denunciar uma
ingenuidade inata presente no
seio humano. A terra em estado de paraso estabelece uma ironia
em relao morte da
herona Virginia, afogada no mar por receio de revelar suas
formas virginais. A saudade
da luz dos trpicos indica a natureza como ponto de refgio para o
homem atormentado
pela sociedade corrompida.
O Canto X, tendo como cenrio os EUA, aponta para uma
possibilidade de
plenitude metaforizada na Repblica. No entanto, a viso do espao,
corrompido pela
cobia e pela degradao moral, descaracteriza a viso eufrica,
instaurando uma crtica
utopia republicana. O inferno financeiro de Wall Street mostra a
impossibilidade de
preservao moral do homem. O mundo da usura e da ganncia figura
como paradigma
insupervel, sendo o homem condenado a participar ativamente do
jogo.
O Canto XI pressupe o regresso ao Brasil : o den. Nesse
regresso, o olhar
desloca-se para o Oceano Pacfico, passando pelo Panam, Colmbia,
Venezuela e
Peru. Temos, novamente, a focalizao da exuberncia da natureza
como paliativo para o
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sofrimento gerado pelo contato com o inferno financeiro e pela
decepo com a
Repblica.
Nessa mesma linha temtica, o Canto XII continua a volta s
origens; o espao
descrito o da Argentina, da Cordilheira Andina, da Bolvia e do
Chile. Percebemos,
neste Canto, uma viso idlica do mundo, contraposta viso
aterradora do deserto.
Formosos mares! terras generosas, Onde floriu magnfico o Indiano
Ao bello Sol ( bastante a edeneas rosas) Andeos pendores ferteis,
ou medno
Deserto quasi-ignoto! se descobre ... (O Guesa. Canto XII, p.
311)
A aridez do deserto estabelece o contraste entre o positivo e o
negativo do espao
americano. Em outra passagem, a narrao exacerbada focaliza uma
tormenta no mar.
Oh, a aridez terrvel dos rochedos Elevados dos ares a pureza E a
transparncia ideal dos climas ledos Alma d Hercules! A esta
natureza Abrem-se tempestuosas penedias, Vanzeiam, mugem, qual
revoltos mares, Onde escutam-se grandes agonias E donde azas
desdobram-se estellares. (O Guesa, Canto XII, p. 319)
Podemos notar, neste canto, a viso do elemento natural como
denunciador da
inquietao do eu-potico. As contraposies entre amenidade e
rusticidade, observadas
neste fragmento, podem ser entendidas como a denncia da lucidez
do eu-potico face a
uma idealizao do espao, prpria do discurso romntico.
Os ares de pureza e o clima ledo comparados figura mitolgica de
Hrcules
podem ser entendidos como confirmao de uma crtica ao discurso
romntico. Sendo
assim, o choque entre a aspereza do deserto e das rochas,
associado violncia da
tempestade, figura como ponto destoante em relao percepo da
natureza como
refgio do homem, ou seja, o prprio elemento natural
transfigurado em agressor do eu-
potico.
Caracterizando-se por uma profunda melancolia em relao ptria,
que aparece
metaforizada na figura feminina de Inti, o canto XIII ou Canto
Eplogo, embora
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inacabado, poderia ser entendido como uma sntese temtica do
texto. Tida como noiva,
Inti concretiza a situao degradada vivida pelo eu-potico, que
aparece enfermo. A
doena que assola o Guesa, nesse fragmento, pode ser entendida
como a perda da
esperana. O esvaziamento do ideal de plenitude gera no s a
frustrao em relao ao
presente, como tambm a eleio do futuro como ponto a ser
redefinido para que esse
ideal possa florescer.
Amava a patria [ Inti ], e della ao po amargo Selevava terrivel
contra Deus; Mais a essora, formosa, a vida ao largo, De um cynico
ministro, dessa lama Dicta diplomacia. Ao peito a chamma, Ai dos
divinos, dos formosos rus! (O Guesa, Canto eplogo, p. 336)
Resta-te a esprana em mim ? gemeu minha alma (. . .) No te
abandono; impunemente e louca No vem-se despertar, olhos luzindo, A
um quasi-mudo peito, porque evoca
Ao futuro E porque loucura vindo? (O Guesa, Canto eplogo, p.
338)
A aluso pejorativa a elementos como diplomacia, aliada a um
cinismo envolto
em lama, poderiam ser citados como exemplos dessa postura
pessimista em relao ao
presente. O amor ptria resgata a esperana, metaforizada na
prpria imagem do
futuro. O gemido da alma, ao evocar esse futuro, indica uma
desesperana no novo,
resultando na chegada da loucura.
A continuao do Canto XII, denominado O Guesa, o Zac, escrito no
ano de
1902, s vsperas da morte do poeta, tem como cenrio o Maranho.
Neste fragmento,
percebe-se um fino pessimismo em relao ptria. A busca pela
igualdade democrtica
aparece como elemento a ser conquistado para a efetiva
concretizao de uma liberdade
plena em relao priso colonizadora.
Na constatao da fora do povo, o olhar moderno mostra-se como
nica
possibilidade de conquista da liberdade, to cara a
Sousndrade.
Volta ptria! a tua croa, o teu cetro Vem na praa queimar! teu
espectro Catstrofe, Europa, ah! ah! vai fazer rir ! No dizias-te um
Republicano? Vem! vem ser cidado soberano
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Da democracia urea pura a surgir! ( O Guesa, o Zac, p. 363)
Como a grande maioria de seus contemporneos, Sousndrade foi
marcado por
um forte nacionalismo. No entanto, a viso sousandradina,
perpassada por um veio
altamente crtico, denunciou a fragilidade da utopia nacionalista
cantada pela maioria dos
autores romnticos. A ridicularizao da mscara europia faz-se
presente, neste
fragmento, atravs do tom de galhofa produzido pelo uso das
interjeies ah! ah!. O
cidado republicano puro queima o cetro e se liberta do espectro
catstrofe para, s
assim, ser considerado como republicano, ou seja, um republicano
brasileiro, desprovido
do constante olhar externo e envolto em sua matriz cultural.
Inquietaes no pblico alvo
Discutir o texto literrio Stricto Sensu em sala de aula, no
caso, o texto de
Sousndrade, eleito como exemplo, uma das maneiras de compreender
nossa
diversidade literria. A apresentao do autor, neste sentido,
ampliou o conhecimento
especfico do publico sobre o Romantismo brasileiro ao apresentar
outra face desse
movimento.
Ao concluirmos as leituras dos fragmentos de O guesa, comentados
neste estudo,
muitos alunos demonstraram interesse pela produo do poeta. A
aproximao dos
fragmentos textuais aos poemas de Gonalves Dias foi fundamental,
pois provocou nos
leitores/ouvintes um sentido de incompreenso em relao
homogeneidade do
Romantismo no Brasil. Um desdobramento desta inquietao foi a
grande quantidade de
produes ps-textuais realizadas pelos alunos. A ideia de que
teramos um poeta
diferente de Gonalves Dias nos parece ser uma observao
importante a ser feita na
interao do publico alvo com o texto de Sousndrade. Lembramos que
no foi objetivo
da ao propor uma comparao entre autores romnticos Gonalves Dias
e
Sousndrade -, antes contribuir para o acesso de leitores a obras
literrias em um espao
de interao com o texto.
Mais do que apresentar um poeta, no caso Sousndrade, procuramos,
neste
trabalho, aludir importncia de valorizar o texto literrio
Stricto Senu em atividades de
leitura em ambiente escolar. Pensamos, com isso, contribuir para
a formao de leitores
e, por contingncia, ampliar a valorizao da literatura ao apontar
para a importncia da
focalizao detida do texto e seu ensino, objeto primeiro deste
trabalho.
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CONSIDERAES FINAIS
A questo que encerra este trabalho a presena de uma inquietao
diante da
influncia do cnone e da Historiografia literria no ensino de
literatura. Discutir a
necessidade de reviso constante do cnone literrio por meio do
enfrentamento detido e
especfico do texto literrio nos parece ser um caminho profcuo a
ser trilhado. Ao abordar
o texto Stricto Sensu em ambiente escolar, em nosso
entendimento, possibilita um
caminho para a reflexo sobre a necessidade de valorizao da
literatura enquanto fator
de construo de novos discursos e, ao mesmo tempo, um espao para
indicar lacunas
no ensino de literatura no sculo XXI.
Entendemos que a mediao esttica na construo do literrio, bem
como a
leitura detida de textos amplia em muito o interesse pela
leitura literria no contexto
contemporneo. Reconhecemos a importncia da abordagem de textos
tericos e da
crtica literria no Brasil; mas entendemos que sua apresentao no
deve ultrapassar a
relevncia do texto no contexto de ensino. por este prisma que
acreditamos na
necessidade da apresentar textos Stricto Sensu em ambiente
escolar. Em nosso
entendimento, criar espaos de debate relacionados a
especificidade do literrio uma
forma de ampliar o contato de leitores com a diversidade de
textos na tradio.
Para concluir este trabalho, parafraseando Carlos Drummond de
Andrade,
afirmamos que pela leitura e discusso do texto literrio Stricto
Sensu que podemos
mensurar sua importncia enquanto expresso cultual.
REFERNCIAS
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. So
Paulo: Scipione, 1997.
BOSI, A. Histria concisa da literatura brasileira. 37.ed. So
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CANDIDO, Antonio. Formao da Literatura brasileira. 3 ed. Belo
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