às vezes vida nos devolve...
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Irineu VOLPATO
Quando Às vezes VIDA NOS DEVOLVE PARA DENTRO DE NÓS
MESMOS
RENARD
às vezes vida nos devolve...
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DIREITOS RESERVADOS V961P
VOLPATO Irineu, 1933... ÁS VEZES VIDA NOS DEVOLVE...Poesia, 2010®
Santa Bárbara d´Oeste, SP, BRASIL Renard ediç. 112 p. 21 cm.
1. Literatura brasileira 1. Título
CDD: 968.615
Foto das Capas: do autor Papeis:
Capa Chamois 180 Miolo Polen 80
Tipos: Emgravers MT/Arial/Georgia /Times new Roman
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“ Porque o extraordinário não consegue convicção e, sim, encantamento (ekstasis)
do ouvinte; o que nos arrebata a admiração é, em todo sentido, superior àquilo que é
convincente e agradável “.
Longino
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largo que Verdi conduza este domingo
de sol nos campos que eu cuido dos avessos
ia na noite de olhares
medrontados de outras sombras
de primeiro levaram-nos os sonhos largaram nossa infância
pinchada por quiçaça
nossas vozes que às vezes ficam demoradas em casa que mudamos
o vôo das garças no fechar da tarde
e desses silêncios que se prestam
eternam-se as palavras quando internam-se em nós
não me venhas embalada de contrastes
mentida de sutis inúteis
por que culpar-te do júbilo perdido incógnita revolta que sobrou-me ?
que verdades da pureza humana
Climério urdira com seus naives burrinhos coloreados ?
se foi o temporal ?
vamos atrás dos perdidos dos quebrados
já é tempo se varrerem os cacos das estátuas em que tempo nos partiu
meu berço era bacia de zinco
forrada de trapos que sobravam
e as saudades que lhe iam descarnando pelas rugas as idades...
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guardou durando toda uma sessão de filme
vazia uma cadeira ao lado sonhando ela viria
vez em quando trazias cara
dessas fotos mal focadas
cadê meu cheiro de infância quando eu pisava esta terra ?
é preciso vez em quando
ir em gavetas catando-nos
minha alma já nasceu arregaçada a encantações
eram fumos de glória demasiado pra um minuto
e dês sobrou silêncio imenso
esse coro de bocas oprimidas sem trombetas aos gritos e humilhações
ô vida que nos obriga conjugar subjuntivos
dessas vagas quando invadem os porões de nossas almas...
quanto tempo passamos rabiscando a vida
sem um esboço quase de emendar
nossa candeia... às vezes descuidamos seu petróleo
se um dia me vires tristemente
embala-me nas horas de teus braços
deu-se num fugaz agosto o amor resistira suas calendas um dia nosso poema desistiu
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ousar caminhos até a loucura de alcançá-los
e que interessa à fome
o nome da comida ?
meu dia se esgueirou feito bandido entre ramas de cedrinhos... era à tarde
esses ocos intervalos loucos
entre nossas emoções e alguns cenários
ah pudéssemos trocar de nossos sonhos...
quantas vezes passam
pisando-nos lembranças
felicidade seria esse sorrir que nos pôs desistir desesperar ?
circunscreve de silêncio
tua última pergunta
quando veio vida descorando-nos já ventos cansavam nossos dias
mesmo porque nem mais somos
personagens que valham narrativas
céu rabiscou dia de coriscos e apagou-os seguidinho derrubando tempestade
assegura que teus gritos não mintam
além do que vai de tua dor
continuas ainda te esperando antigo
pelas tardes ?
se carecer levanta o tampo dos signos pra que digam algo de ti
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por que demorar-se além da nostalgia ?
é o que me apavora
apresentar ao espelho este velho
que não se acredita mais
abre tua janela para que ventos tragam sortilégios
tremularem tuas cortinas
escreve como que arrancando ossatura desses termos
este inverno se achegou tão pobrezinho
que nem roupa lembrou-se de trazer
um barco - esse gesto docemente que navega águas que sonhamos
e adiantou os deuses projetarem-nos eternos?
um dia inventamos a mentira de morrer...
outubro/novembro quando as cigarras tornavam inaugurando cantos
domingo dói outro dia
que segunda leva embora
aprendi quando as coisas me ardíam ir gastando umas demoras de pincel
apesar da crueldade
como sabem porem-se épicas as águas tempestades
ah – os amores moleques
que como águas de rio mal molham
nem demoram passam
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preocupar-me com eterno se malemal cumpro-me efêmero ?
e aqueles sobrados poitados
onde rua pregueava-se em morro
o jeito é insistir teimando que os fados um dia possam errar
e acolher-nos em seus mantos
- não tô dizendo sozinha – vô estou falando meu outro
(minha neta que nem leva inda 3 anos)
ainda me enroscam sons uns sinos de convento
tece as palavras
assim vestidas de noivas
vamos gostar deste vinho na varanda enquanto tarde inda se ostenta
e não importa se nada sobrar-nos pra dizer
inda bem que mãe-vida propicia-nos às vezes recomeços
vamos nos despir de ácidos da vida
e salvar no coração vozes de mel
que andam se apagando em nós tintas palavras
pobre história a dele
dum jeito tão pungida
bom seria se nossa vida se assentasse em risos e verdades sem tristezas cópias
despentear por que as flores
que nascem amáveis arrumadas ?
naquele estágio em que nem vale mais trocar de máscaras...
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já é tempo de cuidar
desses que mastigam a própria fome senão virão cobrar em breve a porção que deles roubamos
e punha-se ao espelho ver
se via virem de volta suas saudades
céu de nuvens repolhudas em cansaço de dia teimosamente
acho que já me conhecia aquela casa que tristemente me olhava
hei-de um dia aprender
esperar pelas horas dumas coisas
é só vacilar que o tempo vem almoçar vida da gente
que sorte a nossa
por tanta gente ter errado antes de nós
larga as cigarras fatiando a tarde
que o mundo continua se inconsútil
era um trator cavando violando alma do chão
me sinto em estado de glória
quando poema me veste
quanto é doce um rostinho lambrecado de pitangas
amoras nuns felizes olhos
seria que mania de perfeito fazia de meu pai parnasiano
e eu não entendia ?
como amava ver o mar à tarde levando sol pra ir dormir
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e passou vida a escutar vozes
das próprias arestas
enquanto voltam visitar-nos solidões
tornei à antiga casa velha bastante
de me judiar saudade
de nosso vale ficou-me monótono monjolo cachoando em vale
água dum corgo
e quando eu me encontrar entre meu declínio e o nada ?
e minhas rapsódicas vertigens infantis
larguei-as penduradas em tábuas duma porteira em Z
ah – ver um sonho
abastardar-se realidade
há quanto não me lembra olhar estrelas ?
mais que moveis pontes estradas casas submersas de enxurradas punge-lhe dor de mudo olhar
que perdeu tudo
mareia mar sem descansar de desenhar-se em praia
compassam distantes daqui
colinas embaçadas de mais longes
quem não lembrava das quireras risadas cariadas na cara duma Odila ?
e a gente de repente já não tinha
mais a “nonna” e a doce sua vó/zinha
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dessas gentes simplesmente mas que são bonitas de bondades
magrinha alma empenada Antonieta filha da vizinha
e ficou manhã inteira
em derrubado de morro malhando ardido seu canto
a siriema
dessas dores pingadas levianinhas a judiar do coração
há um tempo da tristeza doer
até se coar devagarzinha
era quando mãe derrubava seus olhos de sorrisos
na alegria dos filhos ali brincando
... e “nonna” que morria: - Iaco (seu filho - meu pai) stà zito
que voglio ascutá os barulho desto indo
encontrei Marilis - nossa infância judiada tão velhinha
ah – desses infaustos
que levam a gente de fasto até acontecer se encontrar
como uma saudade parada
minha irmã toda perdida de dor diante do que sobrou
de seu gato assassinado
por que se importar com ruins de em volta se dentro da gente alumiam-se alegrinhos ?
amava pisar descalça sentindo pele do chão
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tornaram os fumos da Usina a corrigir de estragado
o cheiro de nossos matos
de quando tudo na gente ressente que nosso barco
já anda embicando estuário...
dessas gentes que mal um gole na goela é conta pra ser ruim
quando se vai perdendo desenho
do corpo temperos da alma e tudo na gente empaca...
1/2 tarde é quando verão costuma arrebanhar pelas corcovas do céu
dessas nuvens invocadas para escarcéu de chover
... e nossa eternidade nesta vida
é como água de rio num sempiterno estar
de sempre se indo embora
era desses que levam n´alma muita ronha de impiedade
também os marimbondos têm os seus favos de mel
ia noite derrubada
e dormíamos à latada dum bambuzal
... enfiados de viagem
que os céus me emprestassem velhice sem miseriá-la de sonhos
foram dias de muitos dias
encarreirados de mata até que lá nos cataram perdidos
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quanta saúva andou desmanchando horta e plantados nossos em Ressaca
até de ser-se feliz
alma carece de manhas
a gente nasce briga sonha padece existindo e num dia sabe-se lá quem
vem e rouba lumeio de nossa candeia...
por mais desornado da existência sempre sobra em cada um toquinho de competência
ia naquela estação em que as pernas
já estranham peso da gente
montoeira de caras consumidas em adro de ermida a rezar terço
rogando milagre do santo nenhuma trazendo traço
que desenhasse pra gente remota obra de Deus
dumas dessas vantagens que nós velhos
derrubamos sobre os jovens: guardamos em baús muitas saudades
para em tempo gastá-las de ir contando
lembrava namorada imaginando-a - ô Paraopebas longes desta terra !
em vôo vadio gavião rascunha
desenhados em chão do céu
eram de família tão tristezas que todos desenhavam-se cansados
eram 10 eram 100 quantas eram
nossas fomes em desnome de pobreza ?
ah – geografias que já fomos
dum sono repetindo-nos antigos
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quanta vez nossa solidão
foi catar cores em flores desses campos ?
desses risos desgraçados que nos trombam quando vida negaceia-nos mentiras
candeeiro levitando sobre nós e nossas vozes breves que apagavam-se dormir
tarde de nuvens estragadas
assim pobres trapos em varais
nossa casa na Ressaca não guardava nas paredes
nem estampa de santo
ô distâncias demoradas que até tristezas desbotam
nossos nomes que gravamos
numas cascas de figueiras ... de tão magra duração
não me olhe como antigo salmo
que ninguém mais decora recitar
alma não envelhece derruba-se judiada àsvezesmente
que seria desses humanos rebotalhos que brigam de viver não fossem mãos
piedosas com que orapronobis lhe valessem
engoliu sozinho seu roçado sem prever fome dos filhos e dos filhos de seus filhos
é que a vida não perdoa
à-toa vai-nos todos desflorando
tinha alma e trato dum tronco todinho paineira - de espinhos
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como eram contentes dias
de nossa infância mesmo rés a tanta pobreza
desses filhos resultados
de saudade catada em paixão
março trepando ano tempo da gente ir pensando
não ser derradeiro ir-se embora
quem é que não se encalha em Deus quando se está bem madurando
esse verde demais depois do chuvaral duns já três meses
com sorriso de tersa malícia
seus olhos brenhavam na gente
assim como quem sai duma briga de afeto carregando brasas atoladas no peito
é quando a gente acha que o mundo deveria
de guardar algum silêncio solidário à nossa dor...
era inteiro um homem bom
seu Oclides
quando é que alguém sentiu uma tristeza o ajudando ?
dessas gentes que costuma
ir alimando os beiços com a serpente da língua
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na roça se tira leite aquele tantinho pro gasto que o resto resta no pasto
em tetas das vacas para sustento das crias
extêmporas sempre sobram
nestas quebradas umas cigarras fringindo
quanto as pessoas velhecem quando apartadas da gente
guardara da mocidade
aquele carão guzerá
desses sonhos que acordam vestidos de suas felizes risadas
bom quando alma da gente consegue
nesses calmos se enxugar
certo é que minha sombra sobrará sempre comigo
dessa gente que passa pela gente e num estalar de dedo de repente
desfazem-se embora
sempre achei que qualquer outro lugar andava à espera por mim
amanhã quem vai adivinhar
onde estaremos o que seremos e se alguém cuidará
do que já fomos ?
desses que se levantaram outrora nossos precursores...
celebremos
unge-te com pedras que as palavras mesmo as persignadas
não te devolverão às perplexidades
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quantas vezes sapateamos nossos pés pelas loucuras
enquanto coração moi-se de espinhos
sonde vez em quando voz que lhe intervala o coração
sovai bem as palavras
que quando forem aplicadas não se despojem
do que intentavas dizer
de quem cobrar nossos brinquedos da infância sonegados ?
ah – úmidas tardes de nossas confidências
desses nossos subsolos açoitados de censuras
vez em quando vinham visitar-me viúvas solidões de antigas mágoas
vamos cuidando deste chão vão que um dia nos aguarda
se trazia com mulher
3 tranqueirinhas de filhos cão feiinho
e nos todos olhos deles tanta fome
esses sonhos de esperanças que nos chegam
já meio ladroando-nos
quanta gente se contenta só com vésperas
será que eles bandidos guardam
alma alguma dentro deles ?
tanto era-lhe o medo que a resposta se veio em dissezinho
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eram demais tristezas
em prantos aquela gente
quanto grátis nos oferta a vida sem a gente proveitar
passou tropa de mulos em-vindo-indo
ecoando cascos seus tons
de quantos cânones vida nos empilha ?
foi bom desmanchá-la numa ausência
antes de loucar-me outro afeto
quanta vez deu-nos Deus brinquedo que nem aprendemos um dia brincá-lo ?
levantou se abotoou de roupa
e foi respirar manhã duma sacada
até que um dia obriga-se apear desta vida e doar nosso eito em mutirão
íamos
por nós passaram uns morros 4 pontes mais seus rios...
foi um dia árduo de chegar
dessas pessoas programadas pobremente que brigam enraivadas pela vida
é quando olhos da gente se pincham em nosso dentro à cata duns escuros
naquela hora da tarde
em que ventinhos sobem ê-vindo de vale conversando com folhas
e árvores vizinhas
e eu que pensei que 48 anos de trabalho iriam me descansar
dengozinho em varanda sonhejando...
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sei lá que resultou depois de meus 40 sei-me que travessei fantasmas
e por anos - mais errei do que acertei
será que Deus às vezes faz de conta que não ouve e dá as costas
ao gemer de nossas preces... de interesses ?
é quando vai-se à caça doido com a sorte
e erramos personagens que escolhemos...
safa-te da fama essa fronteira do desdém
dessas coceiras esperas de vésperas proibindo-nos dormir
que metro vai medir-nos as fantasias
dessas gentes que se empacam de palavras
mas guarda atento aceso olhar...
já não é tempo de trocar os sabores desses vinhos
e odores vizinhos desse fado ?
sempre um âmago trágico se esconde em cada lenda
e foram na cidade 2 janelões
de ido sobrado que me aprenderam ver a rua
com seus líricos cenários
quantos proibidos foram consumindo nossas ternuras de infância
sufocadas de silêncios ...
como doem saudades nesses quietos
vamos devolver-nos de crianças a brincar sorrir coçar...
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um dia nos levaram pau de tronco em que a gente se arrimava...
dessas crianças nuvenzinhas
que lá sobre passam sombrando nossas coisiquinhas esperanças
e lá um dia na gente se arrebentam
forças dormidas com que a vida se alumeia e vem nos acordando horizontes
de repente num cotó de minuto
por nervosias incontidas estragam-se tantos duma vida inteira
nessa hora de céu se consolar
do calorão esperto sobre meio dia
num tempo em que nossa alma lagartixa vivia de inventar pecados em cada
uma dessas nossas vizinhas castidades
que micra de profetas permeia nosso sangue
que nos apeia àsvezesmente entre vozeios pentateucos ?
quem não sonha
com sua graça acontecida ?
houve um tempo que nos adestraram ir com(o) as demais vacas agradecidos pelos pastos
até achar a verdade
na rubra razão dos desesperos...
... e tomara quando achá-la não nos troquem em tempestade
dona duns olhos negros que quando passavam
até manchavam na gente
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fica sempre um espinho atravessado de afeto que por nós andou
tenho que os céus nos misturaram
a certas almas pequenas da gente ir aprendendo
se humildar na caridade
Pinhão - nosso burro avinhado decorou todas ruindades de estradas
que costumava trepar
naquelas arestas do morro Barbosa os ventos xingavam com vozes trastinhas
janeiro tempo dos rios passarem babados de espumas no lombo
quando nossa alma salta fora da baínha
sem tempo da gente nem pensar
havia no Quadrado beirando nossa casa engenho de pau em pé
onde nunca se moeu uma cana de garapa
era tempo de abril trocar-se maio com neblinas dormindo nas baixadas
vamos lembrar minha amada
do futuro que seremos
ermos conseguir o que dos desenganos ?
ah – regatos com suas águas afogadas
vamos tornar a nosso vale catar vozes de infância
lá enterradas
quantos estigmas restam machucando dobras rejuntadas de nossa alma
meninos - quantas vezes
fingimos homens feitos...
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veteranos – acabamos abobando-nos outramente
uns meninos
há-que-se aprender da vida quando é o minuto
quando a hora azada
e dia chegou já lavado de suas chuvas e roncos de trovões
no céu a trovejar
dessas palavras que sem dono sobram
vale esse preço a paz que tão buscamos ?
coisas pequenas sempre amei-as
humildes me emprestadas
vem que lumiaremos nossa noite de poemas que nos limpem de outros males
até quando ficaremos resistindo-nos
Casimiro aos oito anos ?
se ergueu baita lua arredondada atrás dos morros assim de alguém
que vem querer poitar nosso sozinho
é quando se deixa silêncio compridando pra se ter tempo de rachar um pensamento
morreu e não havia um lume-lhe vizinho
ajudasse no caminho que sua alma ia escolher
quanta vez nos ermos de Extrema
ficava a namorar as tardes reformando umas saudades
pouco lembro dos m´emboras
que troquei em tantos indos
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já nos-quando mexericas apetecem-se em abril
e de apás e ferramentas vieram os operários
deflorar nossas colinas - inventavam uma estrada
meu sentimento do mundo
nesse dia ia tão inho que cabia em minha sombra
ao ½ dia
fumejam chaminés na paisagem - tempo das canas moerem açúcar e álcool
esse círculo de luz que trago aceso
agonia em mim palavras presas que se livram só quando
poema me porfia
quanta vez vida é-nos mais sádica que épica ?
ah heróis que somos todos
peitando as enxurradas
meus olhos aprenderam ver o céu entre trapos conchegados a uma bacia
em dias que minha mãe alvava roupas atolada em ribeirão
morrer é quando nos sobra o nem do nada
dessas fotos mal tiradas
em álbuns de família onde cada um se adivinha
sempre alguém
longe onde vento punge sentimento de paisagem
outono e o desmentir de cores
de folhas despojadas
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vinhos e seus múltiplos vermelhos novos... velhos
vou jejuar umas férias
em minha senda de ser gente
esses que fogem de silêncio de nunca se encontrar
por que se envenenar
castigalmente dúvidas ?
quantos fantasmas já topei a sorrir de meus fracassos
veredemos as vertigens vez em quando a surpreender a vida em seus arcanos
é bom treinar lidar inquietações
de quando elas chegarem não doer se arranharem
há dias que a gente sente alma todinha de pedriscos por angústias derramadas
nem teças arrogante tuas estrofes
que os símplices da vida é que evocam
quando um dia aprendemos polir ásperos que rangiam nossos colóquios
nossos mundos já não convergiam
cansou de se judiar de sustos e passou a margear bordas da vida
onde conseguisse congregar outros distantes
não deixa teus olhos se poírem esperas aveluda tua boca doutra estrofe
de quando idade vem nos apagando
com silêncio volúpias que trouxemos da alvorada
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essa vontade minha traquinas de passar pé em carreiro de saúvas
enquanto seguem seu ofício comportadas...
velhice foi como a vida se tramou de oposição à pressa
por que achar que versículos da Bíblia
apocalipsam o que singelo autor queria dizer ?
de fininho ocaso passou aqui de trás
que nem tempo deu ao sol para abluções antes do sono
o que levam de comum
as gentes que se enforcam além da corda ?
esperança – esse branco intervalo
da emoção que nos rouba de cenário
dessas lembranças que contamos muitamente inventadas
meu vizinho tem um cão cuja feiúra é de desenho canhestramente naif
tamanhos dos nossos sonhos
importa é cevar os que nos sobram ardendo em nossa vida
havia um poste que estorvou nosso namoro ali na esquina
ando cumprindo minha parte
na saga desta vida - dizendo do quanto me estorva
outonas andam as folhas
de ipês já desistindo
fiquei demorando nuns olhinhos nem ainda seus 3 anos
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atolados em vão de porta que teimavam sobre mim
hoje passei viver
à procura de entender-me gostosamente escrevendo
quanta vez não cabemos em nosso instante
sou desses de palavras empacadas
inda bem que grisalho
consigo me reinventando
nuns dias em que nem promessas acodem animar-nos de consolo
já não é tempo de parar e escutar o que esta vida vem tentando nos dizer ?
promessa é quando nossa alma
se enfeitiça de preguiça e dispensa de lutar
as pernas das mocinhas em nosso tempo
quanto substantivas as sonhávamos
dessas cuneiformes palavras das crianças inventando-se falar
ah – esses de repente docemente
duns olhos que demoram-se nos nossos
moramos um Caiapiá com mato a querer entrar
nos vagos de nossa casa
sustentou-se quanto pode impoluta até que amor botou-a de fogo ateado
era quando se pensava
que tudo se dava loguinho sem muita dor de esperar
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e a gente que nem sabe
onde nossa alma começa
órfão é última lição dos pais quando nos largam sós na vida
aos 15 somava mais maldade
que sua idade
e você mata uma árvore desses tamanhos portentos
sem um fisgado de dor nessa sua alma danada ?
e a gente vai aprendendo
que nas viagens de ir só estorvam as bagagens
sei lá se já não estou a termo de largar
dessas sombras que me levam
de repente o imensamente de gente no teatro do colégio
eu a recitar Castro Alves
aprendi de silêncio em silêncio acostumar-me comigo
e se nada amanhã sobrar
de tudo isso valeu o sacrifício ?
se ao menos qualquer dia
neblinassem aqueles olhos varrendo deles esses ódios
quando a gente se acha só
cercado duns nunca mais...
ele partiu ela ficou cada um cumpriu-se judiado
nas pontas duma saudade
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continuaremos sendo as velhas fábulas ainda que versões delas
se lambuzem de inovadas
a vida - esse sopro sempre a tentar apagar nossa candeia
o ódio já nasce machucado aos cacos
por que não respeitar vontade de morrer dessas taperas obrigando-as a história ?
Ícaros quanta vez sol nos pinchou
aos nossos prosaicos de volta
ah ter que deixar envelhar outro domingo fresquinho
há uns dias que nos cercam
desertos de nós mesmos
dessas vidas que só romanceiam desgraças
e há gente que inda ama tais paisagens
vestidas cor de maleita em outono
a gente parece que ouvia silêncio subindo do mato quando noite acontecia
... mas as árvores
é que inventaram o mato
ali que podreciam as águas que eram largadas de enchente
nas várzeas de Cuvitinga
quando voltou da cidade trouxe trouxas de sonhos
para um tempo sem fim de gastar
alguém desenhou araucária nesses gestos de rezando
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de redor de nosso sítio pastavam bois xucros
com olhos quentes de raiva
de entremeio nadava Araquá com sol lustrando suas águas
estirava as mãos inocentes a nascer verbo impossível
que o conseguisse dizer
além do pólen trocado que outro gesto de afeto
doam-se as flores se amando
passaram nadando o rio umas trombas capivaras
aquele encurvado do vale proibiu do rio se encurtar
e a rutilância das risadas
que só crianças conseguem desenhar...
tinham uns olhos tão jabuticabas os seus dois anos...
e aqueles olhinhos soslaios já se ensaiando trapaça ...
quanta pena pesa mão da mãe
ao cariciar nosso sono ?
umas águas de cara assustada remoinhavam no encontro dos rios
quando às vezes a gente
se perde nesses rastros de tristeza
essas paredes de casa que como a gente andam velhando
nunca deixe que te roubem o humor
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tempo outra vez das cigarras
retornarem inauguradas de cantos
é que nem sempre a sorte ama nossa companhia
vestir-me da azeda cara de Sócrates
vai eleger-me filósofo ?
vamos felizes juntar nosso feijão e se um dia conseguirmos strogonoff
vamos comê-lo sem dor alguma na alma
de repente jardineira foi levando tantos vizinhos pra cidade
secando o Paraíso
se mudou para Tungal onde serra se empina
ali nasceram as meninas e um filho que o fez pagar
os seus pecados na vida
e quando é que os rios vão conseguir-se aprontados ?
e grilo não desistia
de incomodar nossas noites
foi quando negros aqui chegaram trazendo noite na pele
e uns olhos em que doíam outras vozes
e os trovões ensinaram nossos índios esconderem-se nas matas com medo do céu desabar
cantar foi o jeito que se achou de limpar a alma dos trapos
velhos das nossas dores
no só do vale dormia uma casinha em finzim de caminho que tocava pra lá
às vezes vida nos devolve...
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quantos eram os mandamentos
dos índios antes dos frades degredados governadores chegarem ?
e que o silêncio me fique escutando
ah - fora fácil esta vida
se pra tudo se arrumasse mandinga ?
bandeirantes não respeitaram as preguiças do Brasil
ah - não fosse essas velhinhas
e suas rezas enredeiras com seus dedos em nós dos terços
pra amansar os bofes de Deus...
ah - por que nos estragam de medo e depois inventam de vir curar a gente ?
duns pecados que só se curam
com setenta orapronobis
ai compadre Almeida Júnior me pinta com caras ladinas outros caipiras matreiros
amarrou sua paciência
à espera dum afeto
um nosso amigo morreu como uma frase apagando-se
pendura ali no silêncio dos fumeiros
essas saudades malemal de resolvidas
vou largar vida aprendendo que aos 70 nem treinei quase viver
esse ser habitual que a gente é...
senão como sustentar-se continuando ?
às vezes vida nos devolve...
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nunca te exponhas vísceras nesses varais da vida
por que sair doando-nos bisonhos ? e se amanhã tornarem os espantos
pedindo repetir-nos ?
prosaico derramava-se vivendo simplesmente
por não veludar-nos àsvezesmente
maciados dos ásperos e ácidos a que nos obrigam o escalar da vida ?
eternidade ...
acaso somamos validade até transpô-la ?
e o triste de se ir procurando nos trecos perdidos de aís?
manhã acordou desses perfumes
quase amargos de madeira
descores os campos dormem hibernos de inverno
um dia diário - jeito de se vagar
ao sabor de mentiras consteladas
há mais ecumênica palavra que a latina etecetera ?
ter por que piedade da miséria sem a caridade de adestrá-la ?
ruim que nossos ontens acabam
sempre voltando resmungar em nosso hoje
saber-se incógnita quimera
que se trocou de cores no caminho
aquela ausência fizera-se cansaço valia ainda buscar por outras margens ?
às vezes vida nos devolve...
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e o dia vai catando
o que a noite derramou
edifica afeto que caiba além dos olhos
em teu peito
um dia nosso endereço irá morar numa placa de bronze
ou num desses envelopes frios de mármore
ah – a gente entendesse as entrelinhas da sorte que viaja a nosso lado
essas cores lindas lendas de quando a gente nasce e que a vida vai trocando
sempre os tons...
triste o dia em que a gente passa sentindo-se cinzas
duns restos que se queimou
dessas saudades que a gente anda trombando e não sabe depois como cuidar
quantas lembranças nossas careciam
se limpar das teias desses vinhos sem nobrezas
as virtudes de meus pais :
- driblar rudeza da vida manter alto o mastro da honra
mesmo que afagos mal sobrassem entre eles ainda nos lecionavam
travessia de pinguela
nunca pemita espiem-lhe a alma
acrescentar por que outras palavras se na prosa não sobra mais que dizer ?
às vezes vida nos devolve...
35
dê-me o silêncio que eu devolverei muitas saudades
sem fé – em que segurar-se-ia
nossa essência ?
ah essa paciência nos doada destreinada...
é quando nosso vôo de amor
não mais se inventa
quantas vezes nos obrigam enroupar de novo a vida
minta que foram os pássaros
que acordaram a manhã não o grito do sol madrugando
será que um dia juntos outra vez
iremos semear nosso trigal?
iam comigo as ruas de madrugada quantos sonos ficavam
a espiar-me das janelas ?
esqueceu os olhos perdidos na areia que lhe escorria da mão
quando enfim aceitarei cumprir-me
senda que a sorte esculpiu ?
o trágico da gente - ganhar da vida uma história pra viver
e ornar de mentira mesma história ao contar
não estaria de novo
em tempo de se caiar nossa fé ?
ah – maldosa idade que fez daqueles rindo lindos lábios dela esses vincados beiços tristecidos
às vezes vida nos devolve...
36
houve tempo em que se amava o veludo dum colóquio
passa o vento a cariciar o costado da lagoa que dengosa se arrepia
que sorte das paisagens
que não padecem de humores
quanta vez vida é esse branco que nos encalha ao partir
viemos escoando quantidade
de Deus que havia em nós ... e agora que zeramo-nos de nada ?
inda bem que a vida nos deixou
esse poço de inventando espera de silêncio
após última pergunta...
e a briga de nossa alma conseguir fina harmonia da orquestra...
que minhas necessidades
não almocem meus princípio
foi se deixando endurecer acostumado à solidão do mato
não me afronte com tua maldade risada
lá onde tudo é importante mesmo a mentira da gente
deixou sorriso de seus dentes lindos
demorando dó naquela despedida
e nos varais a farra das roupas a balangar de vento
que soprava desbocado
às vezes vida nos devolve...
37
- pai – como era mesmo Araquá que inventei ?
uns símplices meus olhos
ah – tivessem insistido minha singeleza...
foi ruim levar a vida a comer um feijãozinho mais arroz
torresmo ovo frito e vez em quando um virado incrementado ?
você já bebeu água de mina
em corgo catada no conco da mão ?
num aquele vasto minuto duma espera
de quantas ruas nossos passos infiéis
mais não se lembram ?
e os nossos gestos caipiras em que fiamos...
é quando dor desperta em nós
potestades mal dormidas
o triste duma banda batestaca é tentar afinar em fim de festa
uma berceuse
há quanto vimos nos levando nos cascos destes dias ?
sequer carece o afeto
de beleza pra instalar-se ?
é precisava ser domingo para o dia se enfeitar assim de cores ?
o triste às vezes é que a vida
não passa do prefácio
às vezes vida nos devolve...
38
quantos sonhos fiz largando por estradas que não queriam companhar-me ?
foi quando se deu conta que o calvário
dela se apropiara e seus dias que iam de vir
seriam de apóstrofes inúteis
velho todo teimoso nodoado me espia do quintal um cedro
como parente chegado
que meus olhos não percam de ver poema em cada gota de orvalho
nesses matos meus passos pisam mansos de inverno
na tarde quantas pombas vão
mergulhadas em vôo de indo embora ?
é que os ipês costumaram decorar de flor nossos chãos
e de arrasto com as chuvas
veio vagando verão
chuchu mamão pimentão com 4 palitos espetados
e mais um curral já prontinho
costumava demorar-se no verão suas tardes na sacada lá de casa
e 1/2 copo de pinga à mão assistia outro dia que se ia
abraçada a tronco dum coco
me sorri ½ vermelha bromélia
que sina a da cigarra cantar até se secar
... e o sol que desenha redes
nas caras dos pescadores
às vezes vida nos devolve...
39
acaso céus vêm-nos questionar se somos impuros ou malditos
se margaridas ou putas quando em suas noites dormimos ?
quando secam capins pelos barrancos
é que outono sonegou orvalho
de quando ventos chegam assanhando as virgens saias das plantas
apaguemos a candeia
que a lua cheia quer entrar nossa janela
ouço na noite fome das saúvas
devorando meu pomar
que é tempo dos coquinhos pestearem chãos dos nossos pastos
era tempo da gente nas noites de roça
posar de sombra em paredes enquanto doía inverno lá fora
há um point aqui vizinho em que urubus crocitam-se
pulinhos
essa mania das copas dos bambus vergarem-se orando...
Deus às vezes tem cada uma conosco
- largar doenças reiunas feitar feiúras avessas
numas maldades cruéis
largou alma se goivando ao sol num desses varais de quintal
que pecado ensinar as crianças
aprenderem-se assustadas
às vezes vida nos devolve...
40
pobres daqueles que desacreditam de si
e se acodem em igrejas...
tenho que alho sativo mezinha pra toda obra
(num destempo de Ressaca) só não curava dores de amores sofridos
foi quando brasou naquele olhar
olhos de ódios ergueu-se desafeto pelos ares
e saiu lobo a ulular por rua e lua
é lá me importa alguém
que herde minha voz para canção nunca ser interrompida ?
minha cidade não gosta de saudade
vive a trocar cores das casas a cada ano e derrubar lindas velhices
... onde vão sobrar suas histórias ?
dessas tardes bonitamente tardes sem carecer adjetivos advérbios
ah – espelho não erre em meu rosto
rugas de meu pai
nunca confia na perfeição das coisas
os retratos dos “nonnos” em parede da sala eram receita de perpetuar
vigilância às nossas vidas ?
nos beirais moravam ervas festando vetusteza do telhado
naquelas horas em que ruas
descansam de andar na madrugada
quando expunha suas idéias
às vezes vida nos devolve...
41
a gente nele percebia dessas ruins engrenagens
de motor que demora um sem fim para engrenar
Deus é muito mais fácil
que explicados de fé
será mesmo que algum dia esse deusinho pai nosso passou por este caminho
onde sobrou-nos tranqueira ?
outra vez agosto e os eucaliptos se despem sãofranciscos envergonhados
não entorte esses meus ventos
eles sabem bem o endereço de minhas saudades encalhadas
se forem proibidas no céu dessas risadas
por que pra lá levaram tia Izabel cujos sofridos da vida
ela os brincava sorrindo ?
por que empurrar meu sonho pra lá do dia que existo ?
uma pracinha preguiçando
ao sol do ½ dia seus retalhos de silêncio
aquela janela acesa
acordava a madrugada
morrer não é da gente devolver-se novamente a nada ?
quando empenho emocionar-me
não vou ler poema algum desses fractais hojemdia mas esses desesperados
pequenos anúncios em jornais
às vezes vida nos devolve...
42
amar é a gente ficar emprestando d´outrem nossa alma
era uma rua velhada
duma cidade vencida apropriada a fotógrafos
lamparina de óleo lumiava
o Santíssimo no susto noturno duma capela
quem está ouvindo nesta hora
em casa que deixamos no Quadrado portas batendo de vento encanado
berros tristinhos de cabras vizinhas bochichos pecados de meninos safados ?
multidão dum só cão cortava viés a praça de preguiça ½ dia
em varais do matadouro em dias de sol
cascas de couro conversam suas histórias de bois
e sol vagabundo costumou
quentar tantos velhos desusados em bancos de jardim
quanto doeu-me quando
mindinho cresceu pareceu nem era meu
nem morte teve piedade
de vir beijar nosso primo mordido de cachorro louco
cadê nosso silêncio quaternário
depois que entrou em casa certo piano multifário
desses pecados que nunca
chegamos pecar porque eram mais supinos que nós
às vezes vida nos devolve...
43
ah se nosso anjo não fosse tão pidão em prol da gente...
quanta vez fui mais medo
que meu medo ? era só noite chegar
viver é também a gente ir arrastando saudade
foi quando caiu-me sobre
aquele indeciso caipira assombro
primo Tonico era daqueles que trazia na algibeira sempre um
metro do que papear
atrás da casa passava riozinho brincado de lambaris
quanto a gente àsvezesmente carece
de mentir no varejo da vida
bem pra lá onde céu bebe águas dum rio
num arco íris
foi um hirsuto inverno bravio inteiro cabelos brancos
todo em frio tremebundo
... e o mar brigava seus rochedos
naquele pátio de colégio somávamos 6 sotaques de Brasil
...em que nem sabíamos trocar
nossas dores de feridas
ah – despojar-me por que das miudinhas alegrias corriqueiras que lumiam
alguns de nossos dias
às vezes vida nos devolve...
44
não me desobrigue na vida de rir minhas risadas
dessas pregas mal feitas lá no dentro da gente...
ah – de quando vão os anos nos arcando
e na gente inda apetecem liberdades
meu vizinho era uns desmandos duma hora bandeou-se para Deus... haja agora agüentá-lo se emendar
aproveitemos dessas sombras
que inda prestam refrescar
em perigo de viver nunca abro mão de amizade a muitos santos
em especial os mais chegados a Deus
aquele um primo de pai seu Zebatista de habilidades raposas...
uns que se escondem em casca de ½ risada de nunca deixarem
a gente ler seus dentros
seu Estevo tão lerdo de cuca que até Deus gastejava
de indulgência quando ele
um primo Tonico que a vida nunca deixou que passasse dum pobre destino menino
um dia desarreou-me um colégio
para um prazo nunca mais de vir-me esbornear neste mundo
por que sempre nos espeta
um azedinho em gostoso de saudade ?
pinchando das costas as cobertas dia se dizia com assovios de manhã
às vezes vida nos devolve...
45
que saudade que não é
um judiado que se gosta ?
lembranças de minha mãe são saudades que gastaram
antes mesmo que elas fossem
era uma alegria de colméia com vespas em flor de pitanga
vadio morro Barbosa debruçava
sobre as herdades dos padres
essa precisão de fé que todos somos na burrice da vida
se Deus não houvera havíamos de inventá-lo
já está na idade de meu coração
parar... tentar me ouvir
dessas gentes que deviam nascer nunca já sendo
amor é esse macio que
só olhar não satisfaz carece mãos em corpos
que se t®oquem
de quanta coisa se erra o nome nesse mundão de trecos
... a vida sempre um manhecendo
e a gente um destrinçando-se em miúdas miserinhas
nas contações de saudade quanto de fato é mentira
quando no fundo é verdade ?
ruim quando raiva trepa a mandar nalma da gente
às vezes vida nos devolve...
46
de quando coração põe despovoar-se e este mundo se torna uma tranqueira
inda bem que nosso anjo que dormia
acorda e nos guia pelas léguas seguintes de esperanças
quanta vez a gente de repente
percebe-se perdido num certo de sozinha travessia...
ai quanto dói se perceber
despojado do somado disso tudo
será que um dia a gente pode se dizer definitivo em conta desta vida ?
o bom de repassar tanta paisagem
indo a vida é que quando dizem delas dá um gostoso de alembrar...
seu Belaires – um sorriso despachado
atrepado em alto dum alpendre
nossas lembranças às vezes dão impressão que ficam se escondendo de lugares
quanto a gente é permissivo
com nósmente
e nosso indo acompanhava estrada com quilômetros perfumes de cedrinhos
ventinho relava de bulha nas folhas
e silêncio madrugava
já na barra da velhice e quanto sobra aprender...
ôta Araguaia arrumadinho
em muitas águas !
às vezes vida nos devolve...
47
é quando se percebe que velhice é um ir gastando mocidade
das poucas matas que por aqui inda sobram
vão-nas bebendo-as paulatinos canaviais
soprava vento azul na galhada dos pinheiros
quanta vez botamos ao colo
essas saudades que ficamos relembrar ?
é que hoje vacas viajam
embaladas em caminhões ir de a pé por que se o trato das estradas
andam proibidos por asfalto sem poeira ?
Araquá partiu-me a vida de incertezas
como costumar olhos em paisagem na pressa que leva indo de carro ?
que de repente nos desbotam solidões
até que um dia aprenderam
minhas mãos gostar da pele dela
há umas horas em que é preciso sonhação
pra tempero da vida
ela guardava umas saudades em que eu não conseguia
figurar no meio delas
desses lugares em que a gente nunca devia ter vindo
ah quanto eu carecia duma
saudade àquela tarde
às vezes vida nos devolve...
48
e quanto seria acautelado à gente escutar primeiro os próprios dentes
antes de sair se pronunciar...
esses sozinhos que despencam-nos por nossos cavernos dentros
quanta vez se vai embora oquinho
do que não se conseguiu brigando a vida
naquele tempo da gente quando se demorava poder
passear as mãos de carinhos em faces das namoradas...
os olhos nossos voando adeuses a vida inteira
em paisagens
quando nossa metade de fora não consegue coincidir
com a outra metade lá dentro
o infinito seria desses esticados do nunca ?
e às vezes a gente
se empacando etc.s
todo prefácio n´é esse iscar de luz
em nhenhenhém duma história ?
não posso atravessar meus fantasmas quantos pai avô vieram somando neles ?
dessas igrejas silêncios e seus macios incensos que às vezes se carece
pra nossa alma encostar
às vezes vida nos devolve...
49
quando fundiram minhalma naquele onze em novembro
chovia demais e no barro esqueceram galhos e espinhos
hoje Paraíso não passa
dum triste arraial doutros tempos
naquela estação em que dias acordam brumados de sono
era um arruado coitado
de gente que ali campara já cansada de caminhos
guardava inda desenho
da linda musa que fora na mocidade
esses que hoje oram mãos tornadas
de palma para o céu como se Deus fora
obrigado a essas esmolas...
é que a gente anda tomando emprestado tanta crise deste mundo
que os tempos repetem-se miúdos
e vão-nos obrigando viver ruins que inda nos faltam
íamos - Goiás mostrando tristes uns pastos judiados de inverno
com árvores coitadas do serrado
só buritis vez outra formoseavam verdes alguns banhados
desses mazelos que a vida
vem botando na gente que nunca logra livrar-se
às vezes vida nos devolve...
50
até que um dia se consegue arrancar-se da baínha
para empreitada da vida
que fazer esperar é jeito da vida judiar da gente
sempre há um envelhado
aprender de ir vivendo
duns ontens que tornam-se amanhãs sem tempo saberem dos hojes
e quando os limites
nos ficam questionando ?
quanta coisa fora agosto em minha vida e no entanto finco-me esperando outras tardes
não fotografem os cacos destas dúvidas
que ainda não aprendi compor-me inteiro
na verdade desses dias que se passam em eterno despedindo...
ou são sonhos meros grafitados ?
consolar-nos por que com defeitos dos vizinhos
a paz do mundo não acrescenta para nós ?
e lá está vida interessada
se conseguimos aprendê-la ?
e depois que a gente aprende a vida não passa duma insossa brincadeira
quando se vive tanto
perde-se empenho de entender as coisas que desimportantes se repetem
às vezes vida nos devolve...
51
já se estava no acabar do dia quando voltávamos
das distâncias do Zambom - nos doíam 18 horas de caminho
nessas horas em que medo se aproveita dos silêncios
e se agiganta
quantas vezes vida nos põe muito além das vossorocas
dessas batalhas que
tristemente se ganha
e sol a se vestir de flamejantes tons de conhaque ali na tarde
o quadrado branco duma página
em capítulo final de nosso enredo - quem vai ajudar-nos desenhá-lo ?
já íamos em tempo de dezembro
quando mangas dependuram- se mocinhas
outra primavera se inaugura
e inverno para celebrá-la gasta seus últimos ventos nas folhas novas trocadas
... nestes dias de solitárias travessias
dessas casinhas matutas que
nascem tristezamente já velhas
ô serrinhas enfiadas umas poucas de Goiás
mal vestidas de cerrado
não me lembra de meus pais capricharem-se de Deus
de vez em quando rezando
às vezes vida nos devolve...
52
umas pressas que passam tropelando nossa espera
naquele morre-não-morre do sol
longo pio quase risada de inhambu que despedia
a gente do dia
setembro já maduravam daquelas azedas uvaias
tem gente que nunca se lava
da cara ruim da maldade
encontrei-o 20 anos que não via trazia-se tão envelhado
lhe também nem perguntei como seus olhos me achavam
sempre que vinha trazia
alegrias limpinhas naqueles olhos sorrindo
era dessas caras que dianho empresta pra ruins pessoas
gente cujas vidas vão podrecendo
amassadas de tristezas que nelas costumam empacar
umas tristezas assim
de quando tudo foi embora
quem largou uma sapucaia em triângulo de estrada
Paraíso Bacuri Cuvitinga que nos setembros florava
irmãzinhas dos ipês ?
desses nascidos em dias de noite que guardam uns tristes
em tudo que trazem
às vezes vida nos devolve...
53
e já nascem preparados pra desamigarem-se ruins
ah – mentiras obrigadas a que a gente se sujeita
nuns baralhados da sorte...
velhava e não perdera aquele sujo brilho dos olhos
que tecera quando mulher de muitos em bordel entrando a cidade
uns que sempre vivem
a contra-pé da sorte
e os que levam a vida a torcer sorte ao avesso
e acham de reclamar quando-a tenta desvirar
dessas dores que com o sarando dos dias
vão mais amenas doendo
são desses tratos que a gente quer negociar com a vida
quando já se viveu as medidas da gente
por que se amolar com tristezas dos outros matos do mundo ?
música não isso mesmo
de cada um nela ir amolar sua dor ?
primo nosso Jesuíno
gentinha mais preparada pra desastrados destinos
Zecan daqueles de alma pequena
em que tristezinha nenhuma cabia
por que invejar daquilo que nunca Deus prometeu ?
às vezes vida nos devolve...
54
fiquei catando poemas naquelas folhinhas caídas
no inverno da cabreúva
e quem às vezes não é fruta dependurada
em galho de beira estrada ?
daquelas mocinhas sólindas não prometidas a nada
assim almofadas de renda em que se proíbe sentá-las
e quando àsvezesmente a vida
nos larga adros sozinhos ?
quantos rascunhos da sorte a gente armou e pinchou ?
ah – bondade de Deus
de ensinar-nos sonhar...
ficou demorando aqueles olhos de lembrar - não achou onde atar continuação
quanto mais vai a vida nos letrando mais incapazes crescemos de opinar
6 castiçais no altar devotos
enquanto prosseguiam as rezas com umas velas lagrimando
parou junto de Deus
olhos duros tanta angústia do filho que lhe morrera
e Deus...
iam-se garças na manhã de vôos costurando
daqueles telhadinhos tristemente
derramados de mal feitos à entrada da cidade
às vezes vida nos devolve...
55
que Deus o livrasse desses uns que nasceram bem-armados de maldades
foi um tempo de miserere nobis
quase réquiem um que passamos em Caiapiá com braba sezão toda família
será que os céus derrubaram a gente no mundo
só pra resistir quaresmando ?
inda bem que sobraram uns verdes onde brincassem as mãos
naquele instante humilhado
a tarde - assim de janelas se fechando uma paineira de vaso florando
louvava cores da paisagem
vez em quando carece arear-nos dumas cracas a que alma acostumou-se
por que vida que ultimamente
anda tão nua não foi presa por atentado ao pudor ?
até que um dia esse espelho
não mais refletirá este meu velho
será que a gente retorna a lugares nossos antigos
para vir catar umas vozes que se perderam de nós ?
impressão que nas noites
janelas vão derrubando de sono as pálpebras das luzes
quando eu morrer quero deixar
uma saudade indez para em caso de eu tornar se não gostar do céu
onde os que demoram na rua
hospedam seus sonhos fantasmas ?
às vezes vida nos devolve...
56
que antes da morte sobre-me tempo de eu banhar minha alma
pra quando eu entrar no céu não chegue cheirando à gente
não te untes de cinza
não te regues de sangue que se chegares exangue quem vai arriscar somar
de amor contigo ?
por que olhos das estátuas ficam espiando pro nada ?
acho que por isso anjos
amam-nos tanto esperando que um dia de espanto se tornem humanos assim gente
Deus é isto que faz a gente continuar teimar vivendo
foram meninos tristes que inventaram brinquedos de manobrá-los sozinhos ?
se quiserem marcar dia de eu dormir
que seja de manhã quando tudo acontece vagarinho
não me leguem estátuas gregas quando eu for morrer sozinho que elas trazem olhos ausentes
de não me ensinarem o caminho
essas flores de dores mal vividas que esquecemos secando pelos livros...
sempre sobra ao poeta um poema
mesmo desses judiadinhos pra umas tristezas comezinhas
às vezes vida nos devolve...
57
impressão que se não empurrassem com as mãos aquelas horas empacavam
se envelhece porque os gastos na gente já não tem como suprir dos desgastes
- mas quanto santas eram rezas
as de Carolina d´Inácio
até que um dia se desmancharam do casamento que tinham
desses que não aprendem
alguns atalhos da vida e vão atolar-se em brejos
sei que um dia estarão confusos
meus pertos meus desertos e pra não me incomodar
sei que até lá não estarei mais dono de mim
ah – um dia vou cariciá-la
com o desejo de meus dedos
amar é a gente arrumar encrenca de nunca saber onde vai dar
tristes e alegres de paisagem não é carbono do mel ou fel
que copiam-se de nós ?
nem chá mais sobrou para ofertar aos fantasmas que costumam visitar-me
por que não deixar que a mentira tenha também um dia de glória ?
dessas ternuras inúteis nossas... nem percebeu da rosa que deixei
à mesa junto a xícara e o pão
às vezes vida nos devolve...
58
democracia seria deixar os pés decidirem por seus passos
quando não sobrar mais cor alguma
nesta vida por que não coloreá-la cor-de-não ?
se me dessem escolher por outra infância
não trocaria aquela que vivi em Paraíso
visitar almas alheias se nem aprendemos conversar com a nossa ...
por que não surpreender-me de dizer
diverso do que ia dizer ?
foi então que mundo se ferrou ousou criar o próprio sendo
diverso do Deus lhe deu
para criar um riso em alma triste não valeria a patranha da mentira ?
costumo em vez de carneiros
nessas minhas noites sem sono ficar ouvindo o quieto dormindo
dos campos arredores
envelhecer é quando se aprende adivinhar os antes desses irem acontecendo
sorria dum sorriso quieto sem os lábios se largarem
parecia silêncio se gastando pelas beiras
as vozes no velório ao borrar da madrugada
em gesto de mulher toda dengada lânguida garça ergue-se vôo
em vago de rio
meu eucalipto continua se inventando crescido para o céu
às vezes vida nos devolve...
59
bom de vez em quando é por-nos escutando as tempestades
há uns dias em que corpo e alma da gente
andam atrás de vadiagem
quantos silêncios quebram nossas pontas de não alcançarmos
dizendo das palavras
afeto – essa carência que se tem de outro vir ocupar
brancos no dentro da gente
meninas que aos 15 anos já andam empapadinhas de boas carícias de carnes
quando se é pobre tudo se resume no alcançar essas coisinhas à-toas
sem conseguir sacrifícios
quem na roça não vestiu roupa com rasgos cicatrizados
de remendos ?
desses amargos de desprezo que raspelam pela gente uns encardidos de ódio
que mais esperar de amizades quando jorram de seus verbos
só maldades ?
sempre achei que Natal só existia pra gente criança
e quem disse que
não se é ditoso parvamente ?
ah – esses cuidados medrosos em nossos sonhos
às vezes vida nos devolve...
60
foi quando meu pai se apercebeu dos últimos seus dias e foi se hospedar de hospital e na mesma noite viajou para onde nem se sabia
é preciso da gente insistir
inventar o milagre de continuar acreditar neste mundo
se queres estar em paz quando morrer
não largue aqui na terra um empenho inacabado
quanto é difícil acertar os passos
parelhos da felicidade que ora louca dispara à nossa frente
e tanta vez empaca nem querendo seguir com a gente
crer noutro mundo
para lá encontrar uma nova espera... por que não insistir por aqui mesmo
e largar essa partida zero-a-zero ?
há outro jeito de se inteirar da vida senão tecendo-a por imagens?
o que nos move é aventura de fazer
que quando se tem em mãos a coisa feita perde-se em nós o gosto que a confeita
não é tomando de vinho um tonel
que vamos nos polir do seu “buquê”
tentar alegrar por que uns que choram se
o deleite deles é prosseguirem chorando ?
até mel em demasia enfastia
conhecer-se a si mesmo já não é um pouco de ser louco ?
às vezes vida nos devolve...
61
te rega de paciência cada dia sempre até que um dia acostumes
por que pejar-nos das tolices ditas
quando tantos filósofos deixaram-nas escritas ?
calcemos as idéias
que não se machuquem quando trombarem contra outras
das mais chucras
como medir nossa massa de ridículos ?
ah – equânime mundo sapiente que consegue normalmente equilibrar
engenho e estupidez da gente
quanto épico é o olhar duma mulher ao perceber sua inimiga se ruindo
por que valem mais as coisas que já foram ?
se te derem pra escolher certa amizade
entre homem e um cão abraça-te ao cão para amanhã
continuares crendo na amizade
já consegui mudar-me tanto de idéias bem mais que as estações
há sempre um lenço demorado
a despedir na vida
e a gente a correr trás da ventura e sempre descontente de se sentir feliz
há manto perfeito de vizinho ?
nenhum é sem emenda e tantos outros defeitinhos...
iam na estrada em por-de-sol
dona virtude e sua sombra a vaidade
às vezes vida nos devolve...
62
tão bestial às vezes o ser humano que consegue transvestir-se de animal
ate´que um dia a gente sente ser a saudade uma ventura
maior que a constância ao lado da amada criatura
só a complicada paixão do vizinho
é ridícula - a nossa não...
todo segredo neste mundo geralmente possui olhos ouvidos boca indiscreção
pode alguém invadir
sem licença nossa alma?
ainda bem que me sobrou certa preguiça pra não cometer
tantos pecados inda na vida
será não haverá alguém um dia que dome esses moinhos de vento ?
que régua nesta vida nos baliza
a tênue linha entre o louco e o sizo ?
que tal um vinho bom junto à lareira que a teimosia de gênio
demorando-se besteiras ?
eu levarei o arco-íris tu trarás o sorriso pra gente celebrar
a vida em piquenique
só partirei em dia que tiver as malas prontas
e minhas contas em dia
às vezes vida nos devolve...
63
quando vida dum casal se compõe mais de silêncios...
umas ninhadas de alegria que de repente
se juntam a brincar vida da gente...
e esses dias que demoram-se depressa ?
era daquelas que até as coisas revezavam-se por ela
era assim um desenho de gente
que nunca foi caprichado
começara se estragar mal de saúde inda novinho judiou-se
e da família uma empreitada
incomodar-se por que com essas vozes- águas sujas que escorrem nas valetas ?
vez em quando alma da gente põe
a se estragar dessas perrengues tristezas
de repente anéis de sua vida desandavam com cada vez vãos menores pra conserto
mesmo nas intempéries da dor
conseguia um sorriso evangélico aos mais quantos perto sofriam
e mentirosamente quantas vezes se vai escorrendo em palavras...
daquelas mulheres que nossos olhos
já as chegam despenteando em suas partes
quanta gente faz da vaidade religião...
aprendessem ajudarem-se os casais durar em êxtase o afeto desta vida...
foi quando começaram tristezar
o Paraíso de tanta gente se mudando
às vezes vida nos devolve...
64
vez em quando até alma nos escapa
quanta coisa se rasga no vago dum grito ?
umas pessoas que não conseguem
senão sempre demoradas
ao me obrigarem tornar para a cidade trarei comigo a paz
caipira que aprendi vestir
a boca se escreveu entre-parêntesis os olhos acortinaram-se de dor
- diziam da morte da mãe
de prosa em prosa em velório entortaram a noite em madrugada
por que saudades guardam
uns ares tristes de vencidas viagens ?
que vida não me invente de pensar esparramado
as páginas que vou escrever prefiro demorar-
me dizendo esses golinhos
ah – nossas essas eternidades quando vão se murchando
humanamente
andam as manhãs com cheiros de matos a querer ser doces
como conseguir refabular
meus pedaços que obrigaram-me ir desmistificando a vida ?
e aqueles lugares que a gente
nem sabia e longes os desenhava...
às vezes vida nos devolve...
65
trazia um bigode sem zelo de fios encardidos de sarro
juntou quanto cabia no bornal
sem adeus nem chapéu veredou por uns trilhos indo estradas
e demorou de nunca voltar
de quanto se arrastando depressinha vida vai nos gastando de velhice
benditos esses ancestrais
que erraram primeiro que nós
e adiantava eu dizer às gentes daquele velório que a morta
andava com pressa de ir ocupar lugar seu de santa no lado de lá ?
até que por uns tempos vai dar certo
o teatrinho de sombras na parede onde fingimos uns durantes
mas quando a noite acabar ...
razão quem tem é a boa cigarra que entre tantas mortes escolhera a de cantando
desses tempos verbais que
nem mais prestam mas resistem pendurados na gramática
que tudo continue acontecendo nesta vida
Senhor - com os mesmos desafios
naqueles tempos da gente cuja nossa ignorância sabia tudo do mundo
quem não leva lá dentro
seu lado escuro de gente ?
às vezes vida nos devolve...
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é que passamos a vida a cuidar mal de nossa lamparina contra os ventos
e queremos razão de reclamar
eram ainda amarelos os ipês quando agosto poitamos no Araguaia
viveu vida bordejando
escapando sempre de entendê-la
era um aprazível longe muito quieto ainda que
às vezes ruim de muitas chuvas lamas e vasto inverno
nessas datas em que a gente a andorinhar criança quer
aprender de pressa o mundo...
minha neta deitada de bruços ensina o dedinho indicador ir aprendendo
sujeiras avulsas do tapete
já inventava seu mundo aos dois aninhos
e na tarde trovão troou arrastando-se desastres
e esses medos da gente
que nos pererecam em 2 extremos da saudade
desses que a vida não consegue
prendê-los num abraço
como se caminho fosse empurrando-o pra longe numa noite vagalumes
vestiu sua solidão sem despedir-se
e foi de estrada longamente embora
esse mundo com tudo que o trapalha - ahg !
às vezes vida nos devolve...
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já nem se carregar podia sozinho seu Bartocchio mas orgulhava-se
gente saber errar sem ajuda de ninguém
nenhum de meus Volpato
- e todos pela vida vadearam em tanta idade –
vazou cercas de maluco na velhice
amava demorar-se no pomar
detrás de tronco atlético de jaca a espiar o mundo vizinho
que ia pela estrada
que fui um menino feliz e seria bem cachorro
se me queixasse da sorte
e lá touro zebu queria saber se era gente ou se padre
semovente que encontrou desembestado do morro
ante espelho de sua raiva ?
quem conseguia viver com a capetagem vizinha
dos filhos de seu Lazinho ?
há dias que se pescando anzol só acerta tranqueira
como enquanto não se costuma
com os demorados da vida
quer mais judiado no peito - nisso de abotoando-se o dia
uns ventos soprando na gente uns toques de Ave Maria ?
às vezes vida nos devolve...
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ah – dos avessos que se carece de nos irem ensinando
nesses pautados da vida
aos rios como a gente a vida não nos ensina
nos devolver marcha-ré
inda bem que Deus guarda pra si muitos desígnios
em muita gente só bate a devoção depois dos encantos carcomidos
se nem no espelho te pejas
de te cometeres velhaca qual o pudor de expor tua cara ao sol ?
que poema já não nasce
sua angústia de poema ?
já ando cobrando da morte que mixarias consente
que eu carregue em picuá dessas desimportâncias na minha viagem pra lá
como nessas páginas brancas
há dia que nossa alma anda árdua árida áspera
visitei colégio antigo
que padres abandonaram - encontrei inda silêncios rezando
iguaizinhos os dias que morei
assassinar por que um poeta ? largue-o que a vida o esgote
brigando dizer das coisas
esqueceram o morto em velório e foram em madrugada celebrar
em bar próximo a lembrança do passado
às vezes vida nos devolve...
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única vez que família celebrou-o – ao morrer
trazia na boca gosto da noite
quando morro enterrou-o derrubado em volta de estrada
em águas vales dum corgo
até que um dia exausto de claustro saiu a sondar o gravitar da vida
esse hálito em cio que noite
inventa tentações pelos caminhos
esquecer como ? se fora quando minhas rugas
aprenderam me ensinar ?
dormiam janelas enquanto jasmins
damas da noite iam comigo as madrugadas
achava que no Natal vinha um anjo
marcar antes as portas dos meninos que na terra inda prestavam
de papai Noel presentear
e a última candeia quem na apagará quando tudo se acabar ?
dessas viagens sonhadamente
preparadas nem sempre acontecidas ...
reparou como quase tristemente os olhos das cabras reparam na gente?
é a vida uma dádiva
ou danada dívida divina ?
era um desses rios virgens que nunca celebrou um afogado
às vezes vida nos devolve...
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e estão as aves sequer preocupadas quanto medem suas sombras
quando voam ?
nossas vozes meninas é que adoçavam de boninas o monótono coro
gregoriano dumas missas seminárias dos domingos
dessas imensas igrejas sem almas de oração
- que rezar é a gente vir cochichar num quieto conchego com Deus
não passo dum tosco capiau que aprendeu amar a vida
ternamente
tinha uma fé tão febre o fogueando que a gente sua vizinha desistia
de compartir com seu canto obstinado
já é tempo de sentarmos beber desses orvalhos aninhar algum cauim
e soltar nossas ternuras amarradas
por que-nos essa dor de anjos renegados
um dia do éden ?
enfeitavam nossa escola 6 palmeiras dessas do Império
com manias Castro Alves
um dia mais nada vai sobrar do desmazelo e devolveremos nossas naus de Monte Pascoal aos embarcadouros de Restelo
em Portugal
por que fazer-se epiceno se a vida nos multiplica fascínios ?
às vezes vida nos devolve...
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vamos indo a conversar fulanamente pela noite – pode ser que um meteoro
de repente assuste-nos à frente
ah sonhos que todos fabricamos - que filhos nossos saiam vitoriosos dos afogados sonhos que não fomos
eu contemplava minhas mãos
essas mãos que sempre foram inquietas ferrujadas-se velhas descansando
em braços de cadeira
eram sépias e roucos os mugidos dos bois amedrontados dos raios
no adro do curral
assim umas tardes irreais de sem umedecidas confidências
houve um tempo - nosso olhar
adusto nos queimando mutuamente de desejos
Ah – Araquá quando molecavas
ambulando nossas várzeas...
por que nossos palmos de medir-nos sempre são mais-nos esganados
que para sombras vizinhas desenhadas ?
será que vida não nos planta de insônia pra vez em quando a gente faxinar lixo interno que-nos cumulamos ?
é quando silêncios avultam-se
em nós essas ilhas que habitamos
fui arrumar meu borralho de memórias ver se encontrava ali meu supino homem
...sobravam cinzas que pareciam repetindo minhas risadas guardadas de menino
às vezes vida nos devolve...
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que praga estão latindo as sujas águas que se despejam nos degraus do Salto ?
esses que somos pela vida
tentando modelar-nos outros...
da vida que esperar senão o mosaico trastejado de nós mesmos ?
estaria já nesse confuso tempo
de trocar coisas largadas por sonhos que venturos ?
no de aprendermos amar
na dor das coisas é que estaremos mais gente
em dia que marcares virei lumiar de candeia o copiar
de sua varanda para a gente desarmar-se
no morro nem de mel cuidávamos
lá em cima tinha cada qual seu mundo a girar redor do umbigo
quando vieres traz o que puderes
pra viagem que na passagem da noite ao outro dia
do caminho eu cuidarei
quem pode garantir se amanhã não dormirei já noutro lado de meu dia que empacou ?
quantas viagens ficaste devendo a vossos pés ?
há amor na vida por + breve que não quebre arcabouço
de duas almas ?
não me entendo ainda como rito de lembranças
às vezes vida nos devolve...
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há capítulos que inda devo completar na minha história
resmunga uma chuvinha há ½ hora
descompassos em folhas ali fora
aquele prima nossa de Mombuca vez por ano chegava-se ali em casa
sentava-se à esquina da mesa da cozinha e se entretinha a distribuir os olhos mansamente
ouvindo cada um como se agasalhasse no colo o que falávamos
até que se aprenda sorrir
da loucura cotidiana...
que vida tem mais vida que os regatos que nunca são os mesmos
onde passam
não respondas com urzes das palavras há sempre um mel para açucar esses momentos
não escames tua vida só de arestas
tece-a às vezes dum sorrindo ...
era eu mesmo minhas quimeras pelo espelho ?
silêncio há-os que cada um visite seu interno ...
ainda me prefiro um desses comumente
pela vida que dormido herói lavrado em mármore da praça
quanto é fantástisca esta vida
inda que facetada a sabor de cada olhar...
é quando sol fica na tarde a espreitar que dia venha derrubando-se
viés nas cumeeiras
às vezes vida nos devolve...
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por que teimosamente cometemos pela vida como se átimos
fôramos transitórios
rezemos por essa gente que por nós ambígua
passa em seus crepúsculos
quantos vão em romarias esquecidos do encardido
que nas aldeias largaram...
vale ser parte dessa dor do mundo a ouvir dos ventos que costumam contar quando passam por aqui ?
de bubuia barco descia em pescaria a ouvir múrmure voz do Araguaia
será que um dia até abandono
irá nos deslembrar ?
se buscamos defeitos imperfeição de quem amamos é que nossas
entranhas já estão a descosturar-nos dessa gente
nunca busques meu lado treva de escorpião embora tragas teu signo placebo
o trágico é maturar a vida
com filtros descorados demorando-nos
e quando é que um dia
vai a gente realmente se saber ?
duns que bebem acreditando que então vão se abraçar
com a verdade
às vezes vida nos devolve...
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que importância lembrar de quanto éramos se nem geografia hoje mais somos
inventa teu retorno de saudade
poupa-me saber-te
que nunca me soubeste
como demora a vida da gente se esquecer
ah – o árduo de se desamar amando
talvez sobre em nós alguma brasa
de saudade que insiste em demorar apesar dos 70 quando a alma
negadamente nem apetece
quando sobrar outro silêncio em tua vida convida-me dividi-lo e à lua cheia delongar uma noite só nós ambos
temo que meus amores
sempre foram teimadas travessias
que amizade pode interessar de pós a morte ?
vai fundo a teus abismos
ao tornares consulta se és o mesmo em teu espelho
o tempo é fugaz é peregrino
perdurável nem o sonho que nos leva
não teças de cores palavras que amanhã poderão te envergonhar
e quando tornar a lucidez
aos cálidos amantes ?
ah licorosa ventura de existir mesmo com ranhuras entre espinhos
às vezes vida nos devolve...
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ainda me restam contentes de estar vivo mesmo que em ilhas dessas escondidas
sempre haverá um sonho ensolarado
dês que prossigamos avivando-nos crianças
ei - flor sempre haverá um vaso
e sombra e sol para que cumpras esse destino de sem sustos enfeitar-nos
o que se diz num quarto entre 4
de seus muros nem sempre pode ser contado ao sol
do cinismo nosso humano
um dia inda alcançarei a imperfeição
a quem o amor não foi magia e trigo ?
há sempre um adeus nos encalhando
em espaços de tempo que vivemos
sempre há um dia de se purgar de afeto findo
será valem a pena os desgostos que plantamos ?
é por isso que a vida vai velhando
nosso rosto e resto é que gastamos viver fora de hora
dessas medidas que cada qual
põe no amor
era mulher de viagens demoradas com seu corpo
o que não é véspera na vida
é partida
às vezes vida nos devolve...
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quantas perguntas antigas ainda nos demoram ?
sempre achamos que há um rochedo
sustentando quando preferimos confiar
ah conseguíssemos de novo nossas meninices amanhã
junta-te aos poucos loucos
lúcidos da vida
há uma ponte onde todos vamos encontrar-nos de passagem
- a da morte
um silêncio que a gente conchegava entre ambos nós sempre
que decidíamos ir embora
e esses morrendo que conosco acontecem de não saber
cuidar nosso jardim
quanto nos custa um sorriso a um rosto ácido
que na rua cruza conosco ?
a alquimia da vida entregue-a ao poeta que com sua louca lucidez
haverá de repensar noite do mundo
não deixemos as coisas infinitas ir morrendo gastando
nosso mundo já pequeno
há quantos mil anos andam os homens estercando
de adeuzinhos seus caminhos
é fatal um dia hemos- de pousar as nossas sombras
às vezes vida nos devolve...
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qualquer hora irão nos despojar desses vestidos e mãos
nos porão no nada que seremos
em qual de nossas mãos está a verdade ?
e essa inquietude 15 anos que nos põe
tarzã inventa-nos marujos em busca de índias atlântidas
ilhas maravilhas...
até tarde nesse dia desenhou-se sem gosto dumas nuvens trovoando
é quando se põe a vida
à reboque do nada
... que às vezes pego-me ouvindo umas preces de silêncios
poeta é o que se esmera solilóquios
há quanto não paramos
ante espelho visitando-nos ?
e esse salobro vez-em-quando que é-nos a vida
sempre se dá fingir ser dia de festa
pra gente se vingar dos dias que nos judiam
já demoramos demais a nossa espera e ainda não soubemos inventar-nos
há uns dias tão inutilmente
que nem nosso anseio de viver recria nossa alegria
conseguimos com o tempo plantar
doce silêncio entre nós e contemplar as tardes que lá nos desenhavam
às vezes vida nos devolve...
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de que adiantam tantas consoantes
sem alma vibrante das vogais
ah – tentar voltar catando nos caminhos naquinhos de tempos que perdemos
duns que temem despedirem-se da vida
e restam por aís obrados esmos
vez quando a vida se lhe dói amoita cabeça em qualquer canto
colo ou travesseiro e sonda coração lhe ouvindo a voz
... que na Grécia tudo é do que sobrou
cínico é o que se enverniza das virtudes que não tem
hás de um dia aprender
quando se é festa ou vinho convidado
arruado de casinhas se relando
dos dois lados em renque duma rua que sai do povoado
ficou-me foto dum cacto
único gesto decente na miséria da caatinga
quantos da gente podem ao chegar no céu
ir entrando sem rogar licença ?
um dia também hei-de me esquecer efêmero e me tornar granito
como castos eram os dias antigos
desses incensos de igrejas
é nosso medo de cedo apagar-nos essa nossa fome de juntar fotos antigas ?
às vezes vida nos devolve...
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ah eletrônicos brinquedos que andam secando a castidade
das almas dessa infância
em acordos que fazemos com a vida no geral somos roubados
sobrará algum tóteme amanhã
após tanto egoísmo ?
e outro novembro de escorpião se foi de tanta chuva...
ainda bem que vem a vida àsvezesmente derramar
modéstias em nosso orgulho
costumo ter em punho minha câmera de fotos que sempre a vida vem
de surpresa em cada gole
às vezes vida nos devolve...
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Títulos 2009 que ajudaram neste título:
- Por onde poitar um etc.
- Enquanto voltam visitar-me solidões - Quando pararmos para ouvir nossos anjos concertando
- Inventemos meigamente outros sorrisos ... e quem nunca desenhou sua imagem de mentira? - De quantos gestos canhestros caipiras nos fiamos
- Numa cidade que não gosta de saudade - Um dia apearei das peias que me atam certos signos
- Das vezes que esta vida nos sozinha - Duns lugares em que noite é mais que em outros
- Por que não tecer azul nossa lembrança - Volúpia de ser pássaro asa vôo
às vezes vida nos devolve...
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Os Fotopoemas de Volpato
Carla Ceres (*)
Um leitor desavisado poderia imaginar que este livro contém um grande poema dividido em pequenas estrofes e, partindo desse engano, concluir que sua leitura é dificílima. Já vi isso acontecer. É com alívio que as pessoas descobrem que cada “estrofe” é um poema independente. O erro ocorre porque estamos acostumados a poemas com títulos, algo raro na obra de Irineu Volpato. Reparem que o título do livro é, na verdade, um poema sem título, como os demais neste álbum de fotopoemas. Fotografrar com palavras, mais uma arte sobre a qual o poeta/fotógrafo Irineu Volpato demonstra domínio. Literatura e fotografia unem-se na criação dos pequenos poemas deste livro. O autor os chamou “motemas”, neologismo composto por “mote” e “poemas”. Ocorreu-lhe também o termo “lampoemas”, por serem “lampejos”, retratando instantes da mesma rapidez com que os flashes fotográficos capturam imagens: era uma rua velhada/duma cidade vencida/apropriada a fotógrafos . Irineu Volpato é um excelente fotógrafo. Seus trabalhos estão longe dos meros instantâneos tirados sem elaboração técnica. O mesmo ocorre com seus poemas: sovai bem as palavras/que quando forem aplicadas/não se despojem/do que intentavas dizer. São breves linhas costurando a beleza do instante, porém utilizam recursos sofisticados. Neologismos inovações sintáticas recriam o ambiente rural e a fala caipira. Alguns motemas assemelham-se ao haicai pela brevidade,por retratar a natureza simples enquanto mudam as estações do ano e por uma forma quase zen de elaborar a impermanência. Outros lembram minicontos: se mudou para Tungal/onde serra se empina/ali nasceram as meninas/e um filho que o fez pagar/os seus pecados na vida. Neste livro a poesia inconfundível de Irineu ganha em subjetividade, apresenta-se mais compassiva, afetuosa, compreensiva. Os sofredores recebem carinhos acanhados de quem, acostumado à aspereza, procura vencer seus modos bruscos: ah – não fosse essas velhinhas/e suas rezas enredeiras/com seus dedos em nós dos terços/pra amansar os bofes de Deus... A aridez fica na paisagem e é digna de lástima quando se comunica às pessoas.
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Quando terminamos a leitura, concluímos que, de certa forma, o livro talvez contenha um poema único: a história dum artista que teve uma infância feliz, mas sem mimos, em um ambiente rude, onde a sensibilidade se educou para perceber e revelar a alma alheia sem revelar-se a si mesma.
(*) Escritora e membro da Academia Piracicabana de Letras
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endereço do autor: rua otávio angolini, 235 – cruzeiro
13459-467 santa bárbara d´oeste - sp BRASIL 2010/7
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