1 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Provérbio popular: Um agenciamento na produção subjetiva Jordana Cristina de Lacerda Betim 2008
1
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Provérbio popular: Um agenciamento na produção subjetiva
Jordana Cristina de Lacerda
Betim 2008
2
Provérbio popular: Um agenciamento na produção subjetiva
RESUMO
Esse trabalho apresenta a influência que os provérbios populares exercem na
produção subjetiva dos indivíduos contemporâneos a partir da observação e do estudo
bibliográfico sobre sua utilização. Enfocam-se os provérbios como agenciamentos que
atravessam a rede-rizoma mundo provocando a desterritorialização e abrindo espaço
para linhas de fuga que possibilitam novos territórios existenciais. Os provérbios
influenciam diretamente na produção subjetiva, pois se trata de um ordenamento social.
Dessa forma a intervenção clinica por meio de provérbios poderá proporcionar ao
individuo novas possibilidades.
Palavras-chave: Provérbio popular, agenciamentos e produção subjetiva.
3
Provérbio popular: Um agenciamento na produção subjetiva Autora: Jordana Cristina de Lacerda Orientador: Silvia Regina Eulálio de Souza – PUC - Minas Banca examinadora: Roberta C. Romagnoli - PUC- Minas Maria Luiza Marques Cardoso – PUC- Minas
4
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..............................................................................06 2. A HISTÓRIA DOS PROVÉRBIOS POPULARES ...................09
3. A PRODUÇÃO SUBJETIVA ......................................................14
4. PROVÉRBIO POPULAR E PRODUÇÃO SUBJETIVA NA
CONTEMPORANEIDADE .........................................................21
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................26
REFERÊNCIAS ............................................................................28
APÊNDICE ....................................................................................30
5
Na vida nos deparamos com vários obstáculos, mas
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, né! Dizem
que “Quem procura acha” e eu realmente achei. Esse trabalho
foi um verdadeiro achado que não esquecerei jamais. No início
deu um frio na barriga de tanto medo, mas depois me disseram
que “Querer é poder”, então segui em frente. Percebi que
“Falar é fácil, fazer é que é difícil”, mas mesmo assim não
desisti. Como eu sei que “Cão que ladra não morde”, “Sacudi a
poeira e dei a volta por cima”. Tive “Fé em Deus e coloquei o
pé na Tábua”. Demorei dias para escolher um tema, mas não
me preocupei, pois “O que é do homem o bicho não come”.
Bom! “Há males que vem para o bem” e “Quem não tem cão,
caça com gato”, mas a demora me deu a chance de falar sobre
a cultura popular que atravessa minha subjetividade. Depois
desse trabalhão não concordo com quem disse que “Pau que
nasce torto, morre torto”, pois o meu endireitou ao longo do
tempo e vi que “Ri melhor, quem ri por último”. Acredito que
realmente, “Quem planta, colhe” e que a “União faz a força”,
pois se não fosse pelo apoio dos meus colegas e da minha
orientadora, acho que não conseguiria chegar onde cheguei. É
de “Passinho a passinho que se faz um bom caminho” e o meu
caminho foi, simplesmente, esse. Difícil, agradável, angustiante
e recompensador, pois “O fim coroa a obra”.
Jordana C. Lacerda
6
1.INTRODUÇÃO
Não quero te pedir Que me entendas, se não puderes Só não quero que me repreendas com intempéries Tente me olhar com olhar de surpresa Porque, com certeza Vai saber apreciar
(Luciane Fontes)
Ao observar as relações que as pessoas estabelecem no cotidiano percebe-se que
fazem uso dos provérbios populares para se comunicarem. Os provérbios são
empregados para expressarem crenças, pontuações, reafirmações, interpretações e como
estratégia de intervenção do indivíduo nas suas diferentes formas de inserção social.
Assim, pode-se pressupor que os provérbios populares são crenças, ideologias e
analisadores que as pessoas utilizam para criar relações com o mundo por meio da
linguagem.
A partir das observações realizadas em vários contextos do meu dia-a-dia e
diante de todo esse quadro me questiono o grau/força de influência que os provérbios
populares exercem na produção da subjetividade na contemporaneidade. Sabe-se que os
provérbios estão presentes nas interlocuções do cotidiano desde a antiguidade e
constituem voz coletiva que se apresentam como conselhos, advertências, observações
etc., sendo que o provérbio tem o objetivo de dizer as realidades percebidas por meio
dessa anônima sabedoria das nações. Eles são usados pelas massas e são tão velhos
quanto o mundo e ao mesmo tempo tão novos quanto os acontecimentos de nossos dias.
(BITTENCOURT, 2005).
Na antiguidade, o relacionamento entre as pessoas era marcado pelo contato
físico e presencial além de darem maior importância aos processos grupais. Na
contemporaneidade as pessoas se relacionam de formas diferentes e pelos vários meios
de comunicação, que vêem sendo modernizados de acordo com o nível tecnológico. A
comunicação entre as pessoas se torna cada vez mais virtual e a cultura se faz por meio
da imagem. A linguagem se caracteriza por ser midiática, ou seja, encontra-se na mídia
e altera decisivamente os modos de viver na atualidade. A cultura baseada na imagem
dispõe de meios de comunicação como a televisão, os computadores, a publicidade etc.,
suplantando a cultura literária anteriormente predominante. Considera-se que esse
quadro provoca a estetização da realidade. (FRIDMAN, 1999). A internet, um dos
meios de comunicação pós-moderno, permite que as pessoas se relacionem sem se
7
conhecerem e a linguagem fica, por sua vez mais fragmentada, assim como o sujeito.
Ocorre uma ausência de historicidade que acompanha a revolução tecnológica e a
informatização. Com todo esse progresso o contato físico e os processos grupais se
tornam cada vez mais escassos.
É importante apontar que mesmo com essas mudanças os provérbios populares
continuam sendo utilizados nas relações sociais cotidianas em diversos contextos. A
partir do conhecimento e entendimento das formas com que os indivíduos se relacionam
na contemporaneidade e, conseqüentemente, as dificuldades e conflitos que os mesmos
encontram no decorrer de suas vidas, este estudo propiciará não só aos psicólogos, mas
também a todos os interessados a compreenderem razões e motivos que permeiam as
relações em que os provérbios são empregados. Os psicólogos poderão, a partir do
conhecimento deste estudo, em que foi proposto criar novos instrumentos e técnicas de
intervenção que os ajudem a pensar na utilização dos provérbios como dispositivos nas
trocas intersubjetivas. Ao considerar os indivíduos e a sociedade como possuidores de
uma potência, acredito que os provérbios ao incidirem sobre os indivíduos, produzem
subjetividade.
Acredita-se que o psicólogo no processo de escuta poderá entender melhor os
modos de subjetivação de cada individuo e a maneira como este se comporta. Tal
processo pode ser intensificado a partir de uma análise contextual de suas ações e dos
provérbios que direcionam o comportamento e a visão de mundo desses indivíduos.
Para possibilitar tais discussões foi necessário fazer um diálogo entre a
Psicologia e a Literatura Popular. O objetivo desse diálogo entre estas áreas é de
entender a possibilidade que os provérbios populares possuem de modificar e, até
mesmo, estruturar as relações subjetivas dos indivíduos na contemporaneidade. Buscou-
se também conhecer os sentimentos que os provérbios despertam nas pessoas assim
como a motivação pelo qual os mesmos continuam sendo usados em contextos
diferentes daqueles em que foram elaborados.
Para atingir tais objetivos foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema
proposto em que se buscaram fontes da Psicologia, da Filosofia e da Literatura. Além
dessa pesquisa bibliográfica foi realizada uma observação simples. Essa observação
permite ao pesquisador observar de maneira espontânea os fatos ocorridos no ambiente
investigado, que é o mesmo em que ele está inserido. Assim, as informações foram
obtidas em minhas relações cotidianas, ou seja, no meu dia-a-dia onde coletou
expressões linguageiras que deverão conter o provérbio popular citado no contexto,
8
forma e conteúdo em que foi falado. Nessa coleta de dados não é definido grau de
escolaridade, nível socioeconômico, gênero e idade. Nessa observação não será
delimitado um grupo focal, pois a mesma ocorreu a partir da minha experiência
cotidiana e dos vários lugares em que freqüento. Essa técnica é interessante, pois
proporcionou atingir dados públicos sendo aprovada cientificamente e considerada
apropriada para condutas manifestas na vida social das pessoas. (GIL, 1999). Portanto,
essa observação mantém a naturalidade do observador e dos observados, pois busca os
provérbios na vivência social dos indivíduos.
O instrumento utilizado para essa coleta de dados será um diário de campo, em
que foram anotados todos os provérbios expressados pelos indivíduos na fase de
elaboração da monografia. Esse método além da coletar dados possibilitou um processo
de análise e interpretação de acordo com os procedimentos científicos, além de um
diálogo entre as áreas do conhecimento envolvidas, ou seja, a interação entre a literatura
popular e os processos de subjetivação no contexto atual.
Esse trabalho foi dividido nos seguintes capítulos: o primeiro capítulo,
Introdução; o segundo capítulo, A história dos provérbios populares; o terceiro capítulo,
A produção subjetiva; o quarto capítulo, Provérbio popular e produção subjetiva na
contemporaneidade; e o ultimo capítulo é caracterizado pelas considerações finais.
9
2. A HISTÓRIA DOS PROVÉRBIOS POPULARES.
Sou um animal sentimental Me apego facilmente ao que desperta meu desejo. (Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá).
De acordo com o dicionário Melhoramentos (1996), a palavra provérbio em
latim é proverbium e indica que uma expressão figurada é usada no lugar de algo que
precisa ser dito. Já no grego, de acordo com Menandro, Rölke, Bertollo (2005),
provérbio é designado por gnome, que significa também legendários homenzinhos que
habitavam o interior da terra e guardava seus tesouros, o que permite uma analogia
etimológica de que os provérbios encerram tesouros de sabedoria guardados de forma
condensada. O provérbio trata-se de uma sentença expressa por poucas palavras,
máxima, adágios e ditados, que se tornaram populares e expressam idéias ou
pensamentos de forma figurativa.
Os Provérbios, as adivinhações, as frases-feitas e outros são considerados como
literatura oral. A literatura oral brasileira reúne todas as manifestações da recreação
popular, mantidas pela tradição e se compõe pelos elementos trazidos pelas três raças
(indígena, portuguesa e africana) com o objetivo de ser memorizado e utilizado pelo
povo atual.
Os provérbios imperam desde a antiguidade nas interlocuções dos indivíduos.
Eles são considerados como uma produção cultural e fonte de informação, além de
serem amplamente utilizados e incorporarem atitudes populares. Foram registrados
desde o inicio do século XVI e são utilizados até os dias atuais. Menandro, Rölke,
Bertollo (2005) acreditam que o modo mais rápido de entender uma pessoa ou uma
cultura é aprender os provérbios. Eles são ditos que se tornam parte das tradições
culturais com conteúdos que soam como conselhos sábios e morais, além de funcionar
como regras de comportamentos e advertências a serem observadas.
Assim, provérbios, frases-feitas, adágios, rifões, ditados, anexins, aforismo,
máximas e outros constituem uma sabedoria popular e são usados como um conselho
dos antigos. A forma letrada dos adágios e provérbios tinha aplicação educacional,
indicações de higiene e medicina preventiva, cortesania, leis sociais, rituais domésticos
e outros.
10
Nos provérbios, a sabedoria popular é transmitida, por meio de experiências de
vida e da conclusão retirada de numerosas e repetidas vivências no campo das relações
morais entre os sujeitos. Ocorre uma educação invisível na transmissão e uso dos
provérbios pelas pessoas. Os provérbios podem variar em termos de estrutura
lingüística, de conteúdo, de finalidade, de aplicabilidade pedagógica, e também de
propriedades. As propriedades podem variar: status, efeito argumentativo e contexto de
enunciação.
Alguns provérbios, no entanto, podem apresentar um conteúdo crítico com o
objetivo de opor-se ao quadro social, cultural e político vigente, assim como manifestar-
se contra as instituições que nos regem, denunciar os maus hábitos e costumes e até
mesmo revoltar-se contra os seres humanos. Os nanismos, provérbios de conteúdo
reduzido, apresentam conteúdos críticos e evidenciam poder no dia-a-dia das pessoas e
das instituições, como por exemplo: “Querer é poder” (informação oral) 1; “Bateu
levou”; “Dos males, o menor”; “Há males que vem para o bem”; “Faca de dois gumes”;
e “Quem Procura Acha”. Esse efeito ocorre devido a facilidade de memorização, os
poucos elementos estruturais e a obscuridade no sentido. Esses ditos populares
demandam um grande esforço interpretativo.
As unidades proverbiais apresentam variações a partir dos ingredientes que os
decorrem sendo, portanto, ricos em lingüísticas e podendo apresentar: ritmo; rima;
aliterações (são repetições das mesmas sílabas, no mesmo verso ou em versos
seguidos); paralelismo (correspondência entre duas coisas); musicalidade e outros
elementos como no seguinte provérbio: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que
fura”. “Os mais conhecidos são curtos e dão o recado rápido e incisivamente.
Metáfora, ritmo, aliteração, assonância, construções binárias: estes e outros recursos
criam, na forma do provérbio, um eco do sentido”. (MENANDRO, RÖLKE,
BERTOLLO, 2005, p. 4).
Segundo Menandro, Rölke, Bertollo (2005) as coletâneas de provérbios
abrangem três tipos de enunciados: 1) maneiras de falar figuradas e metafóricas: “Nunca
diga: desta água não beberei”; 2) enunciação de um fato ou verdade experimental que
explicita uma maneira de agir e pensar que seja comum a muitas pessoas: “Pau que
nasce torto, morre torto”; 3) ensinamentos morais ou conselhos práticos: “Quem casa
quer casa”. O fato de os provérbios se constituírem por varias características gramaticais
1 Todos os provérbios citados no decorrer do texto se encontram no diário de bordo presente no apêndice.
11
e recursos tanto de escrita quanto recursos orais, emitem um eco tanto do sentido dos
provérbios quanto da utilização dos mesmos.
Mesmo com tanto tempo de criação e uso dos provérbios, eles continuam sendo
utilizados atualmente, na maioria das vezes, igual à forma original como se não fosse
possível modificá-los. Tal dado é essencial para entender o objetivo crucial do
provérbio, que é o de prover sabedoria anônima e atemporal de difícil contestação.
Assim, por mais diversas que sejam as épocas, as latitudes ou as tribos sempre será
encontrado nos provérbios críticas sobre o egoísmo, a avareza, a inveja e a pequenez,
além do louvor à generosidade, a sinceridade, a grandeza e a lealdade.
Várias interações e argumentações podem ser apresentadas pelos provérbios que
podem ser divididas entre as de cunho confirmatório e contestatório. Os ditos de cunho
confirmatório servem para explicar, exemplificar, esclarecer, comprovar ou reforçar um
determinado ponto de vista. Isso pode ser percebido no exemplo: “Quem nunca comeu
melado quando come se lambuza”. Este dito foi falado por uma personagem da novela
Sete pecados da emissora Globo. Tal personagem era desprovida de recursos financeiros
e se tornou rica. Ao ser questionado sobre os motivos pelo qual ela havia se bronzeado
excessivamente ela responde falando o provérbio citado acima, buscando explicar que o
fato de ser rica a levou cometer o excesso de bronzeamento, o qual nunca havia ocorrido
em sua situação anterior.
Já os provérbios de cunho contestatório têm o objetivo de criticar, questionar
e/ou denegar a credibilidade e a confiabilidade do conteúdo expresso pelo provérbio
como no exemplo: “Pau que nasce torto morre torto”. Esse provérbio foi falado por uma
professora universitária ao explicar que sua paciente de 60 anos gostaria de fazer
mudanças psíquicas em sua vida, então a professora fala o provérbio com o objetivo de
contestar a veracidade do mesmo dando um sentido contrário. Para detectar e analisar
esses aspectos nos provérbios é necessário que se conheça o propósito e o contexto o
qual está sendo ou foi usado.
De acordo com Menandro, Rölke, Bertollo (2005) a história dos provérbios na
Europa foi marcada por oscilações entre a extrema utilização difundida por vários
movimentos sociais e pelo período de colapso na utilização da razão e das mudanças na
cultura letrada. Apesar dessa trajetória, os provérbios representam uma rica fonte de
informação que existiu antes dos livros. Eles não são livros, mas sim velhos dizeres que
regulamentam a conduta do Homem antigo e atual.
12
Bittencourt (2005) coloca que as sentenças proverbiais constituem uma espécie
de veículo midiático que se configuram como objeto de publicidade em tempos
modernos, por meios tecnológicos. Na contemporaneidade, a comunicação entre as
pessoas se torna cada vez mais virtual e ultrapassa os recursos tradicionais de
transmissão de ensinamentos orais de pai para filho. Os provérbios não só se constituem
como aparato argumentativo, como também se encontram nos discursos humorísticos,
nos quais buscam provocar risos. Assim, estes se tornam dispositivos da mídia atual que
têm intencionalidade humorística, como o filme Show de verão, a novela Eterna magia,
o programa A grande Família, que fazem parte da emissora Globo. Como o programa
Graffite que faz parte da emissora SBT. Todos foram citados em meu diário de bordo.
Em contrapartida, os provérbios não dizem tudo, pois alguns podem não ter sido
conhecidos devido à falta de registro e ao conteúdo que transmitiam, uma vez que
poderiam ter uma conotação política e/ou contra a moral vigente. Há também
provérbios que expressam significados opostos em uma mesma cultura. Mesmo diante
dessas restrições é importante o estudo e compreensão dos provérbios, pois fazem parte
do social contemporâneo.
Segundo Texeira (2005), os provérbios são duplamente estratégicos:
primeiramente por seus conteúdos, pois fornecem informações ou teorizam sobre as
pessoas, fatos e/ou temas importantes como, por exemplo: “Defunto ruim não merece
vela boa”; e posteriormente por ele mesmo como veículo, porque faz tudo isso sem
censuras, temas e idéias de interesse e/ou acatamento generalizado. Esta mesma
credibilidade é reconhecida por Francis Bacon citado por Texeira (2005, p. 200) quando
diz que: o espírito das nações está em suas máximas e provérbios.
Aponta-se que independente da origem e trajetória da real consolidação de cada
provérbio, eles são expressões coletivas de sentimentos e entendimentos comuns e
inerentes à vida sócio-cultural. O fato de a autoria ser inquestionável reforça este
entendimento e a credibilidade dos mesmos, uma vez que podem ser assimilados pela
própria ressonância que fazem e pela espontaneidade que o ouvinte tem para aceitá-lo
ou não.
Após a exposição realizada anteriormente sobre os provérbios populares é
necessária uma orientação teórica com princípios que iluminem a influência desses na
produção subjetiva. Para tanto, serão buscados conceitos advindos da esquizoanálise. A
esquizoanálise parte de uma nova concepção de mundo e de subjetividade e tem como
objetivo maior, a potenciação da vida no seu sentido mais amplo. É, contudo, uma
13
proposta micropolítica, que passa pela capacidade de despertar o entusiasmo, a vontade
de viver, a vontade de criar assim como a importância de afetar e ser afetado, que deve
ser captada. Esses afetos vão produzindo a existência humana. A realidade é vista como
um processo produtivo – desejante e uma fonte inesgotável de criação, inovação e de
transformação.
Nessa concepção de mundo podemos encontrar elementos de várias áreas do
saber como das Ciências Formais, das Ciências Naturais, das Ciências Humanas, das
Artes, do Saber Popular e conceitos da Filosofia. Diversidade de elementos que se
convergem e se misturam na busca pela transformação e impulsionam a optar por essa
vertente, uma vez que a natureza dos provérbios necessita ser explicada por várias áreas
do conhecimento. Outro aspecto a ser ressaltado é que essa concepção de mundo
possibilita uma construção inovadora a respeito dos provérbios populares.
Em seguida, serão apresentadas algumas contribuições da esquizoanálise para o
entendimento dos provérbios, pois se acredita que eles propiciarão a contextualização da
realidade, facilitando o entendimento sobre a influência e a força que exercem na
produção subjetiva.
14
3. PRODUÇÃO SUBJETIVA
“Na verdade, os meios de mudar a vida e de criar um novo estilo de atividade, de novos valores sociais, estão ao alcance das mãos. Falta apenas o desejo e a vontade política de assumir tais transformações”.
Félix Guattari.
Pode-se dizer que os provérbios são elementos que circulam nos contextos culturais
e transmitem um ordenamento social por meio da linguagem e da oralidade que estas
frases demonstram inserindo diretamente nas construções sociais dos sujeitos. O
provérbio insere diretamente na produção subjetiva por via do social. A natureza está
interpenetrada pelos aspectos sociais e subjetivos, seguindo cursos que são compostos
por eles. Da mesma maneira ocorre com os provérbios que são atravessados por
conteúdos extraídos a partir da relação do homem com a natureza e com a cultura.
A subjetividade é essencialmente social, não é uma coisa em si, imutável. É
produzida por componentes que circulam nos contextos sociohistóricos, ou seja, é tudo
que é produzido pelos homens, com os recursos e elementos de seu determinado
contexto e que compõem um ordenamento social. Faz parte da produção de
subjetividade qualquer ambiente natural que estiver também conectado às construções
sociais. Subjetividade é pura potência e possui uma lógica de intensidades não devendo
ser reduzida à consciência ou às representações, pois trata-se de um sistema complexo e
heterogêneo.
A partir das relações e atravessamentos encontrados na produção subjetiva ocorrem
as conexões em diversos níveis, produzindo uma rede aberta e variável conforme a
força, a velocidade, os fluxos e matérias. Essa rede que é a maneira como a produção
subjetiva se instaura e se conecta a multiplicidade de elementos que compõem o real,
funciona como rizoma, ou seja, são sistemas, são anti-sistemas do qual se pode entrar e
sair em qualquer ponto. O rizoma é um termo emprestado da botânica, utilizado por G.
Deleuze e F. Guattari (1995) e refere-se a tipos de plantas em que seu crescimento não
ocorre a partir de um centro, mas sim a partir de qualquer ponto de sua estrutura, por
apresentar múltiplas raízes.
O rizoma apresenta características como conexão, heterogeneidade, princípio de
multiplicidade e principio de ruptura a - significante. Pode-se dizer que há conexão
porque qualquer ponto pode se ligar a outro, num rizoma e conectar-se as cadeias
15
semióticas de toda natureza. Nessa conexão não existe locutor-auditor ideal como
também não existe comunidade lingüística homogênea.
A língua é uma realidade essencialmente heterogênea, assim um método do tipo
rizoma deve analisar a linguagem efetuando um descentramento sobre outros registros.
A multiplicidade é quando o uno e o sujeito deixam de existir para darem espaço para a
multiplicidade. Não há unidade e sim determinações, grandezas e dimensões que não
podem crescer se não mudarem sua natureza. As multiplicidades se definem pelo fora,
pelas linhas abstratas, linhas de fuga, as quais mudam sua natureza ao se conectarem às
outras. (DELEUZE; GUATTARI, 1995).
Princípio de multiplicidade: é somente quando o múltiplo é efetivamente tratado como substantivo, multiplicidade, que ele não tem mais nenhuma relação com o uno como sujeito ou como objeto, como realidade natural ou espiritual, como imagem e mundo (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 14).
A ruptura a - significante diz de um corte que pode ser feito no rizoma, ou seja, o
rizoma poderá ser rompido em qualquer lugar, pois retorna as outras linhas. Há ruptura
no rizoma quando uma linha de segmentaridade, que se rompe e se transforma em uma
linha de fuga, às quais não param de se remeterem a outras linhas.
Em um agenciamento há linhas de segmentaridade que organizam a repetição do
mesmo e há ainda as linhas moleculares, que são mais flexíveis e que fazem desvios
processados no plano de consistência, possibilitando o afetamento da subjetividade,
criando os agenciamentos. Nas linhas de segmentaridade as coisas não se transformam e
o plano de organização corresponde ao plano das formas já constituídas. Já as linhas
moleculares, são mais flexíveis e possibilitam certa mobilidade para transformações
podendo gerar angústia, mas também serenidade. Algumas vezes, uma linha escapa e se
torna em uma linha de fuga que faz fugir em um novo sentido não previsível. Fazer
fugir implica em realizar uma viagem imóvel, ou seja, sair de um modo de existir
constituído, fugindo pelo mesmo modo de existir sem ir embora. As linhas de fuga
convergem em processos que se volta para o novo, para a demolição do velho. É uma
ruptura em que nada mudou, no entanto, tudo mudou.
Um agenciamento é um crescimento das dimensões numa multiplicidade e à
medida que aumentam as conexões, modifica-se também sua natureza. Os
agenciamentos trabalham com os fluxos semióticos, materiais e sociais sendo estes
caracterizados por um devir. Esse devir é dado como um entre coletivo que convida à
16
conexão. Os agenciamentos são criados por territórios que são domínios do universo
existencial. Assim, os agenciamentos por meio da desterritorialização, ou seja, o
processo que se caracteriza por desfazer-se dos territórios originais, liberta o sujeito do
individual e o lança no coletivo. (CARDOSO, 2005).
Agenciamento ou dispositivos: é uma montagem ou artifício produtor de inovações que gera acontecimentos, atualiza virtualidades e inventa o Novo Radical [...] Os dispositivos, geradores da diferença absoluta, produzem realidades alternativas e revolucionárias que transformam o horizonte do considerado real. (BAREMBLITT, 1994, p.151).
O social se organiza na rede-rizoma do mundo e é também nessa que as
subjetividades se produzem e ambos se articulam com elementos dispersos que vibram,
correm, escapam, se acoplam e se cortam pela rede. Todas essas transformações
relacionadas às linhas que se movimentam na rede, são sustentadas pelo desejo. O
desejo, na esquizoanálise, funciona a favor da produção como potência e busca
desbancar a inércia provocada pela alienação e pela padronização. O desejo é produzido
pelos agenciamentos e podem ser definidos como uma força política transformadora e
produtiva que inseri o sujeito no campo social. Esse funciona em uma dimensão
inventiva, como um impulsor para a instalação de novos dispositivos buscando produzir
novos agenciamentos na subjetividade. O modo que os indivíduos vivem a
subjetividade pode variar entre dois extremos: de alienação e opressão, em que o
individuo se submete à subjetividade da forma como ele a recebe; ou uma relação de
expressão e criação, em que o sujeito se apropria de elementos da subjetividade recebida
e a transforma pelo processo de singularização de subjetividade. (GUATTARI;
ROLNIK, 2000).
A subjetividade é, então, produzida por agenciamentos de enunciação, que
implicam o funcionamento de máquinas de expressão podendo ser de natureza
extrapessoal, extra-individual, quanto de natureza intrapsíquica. Assim, o provérbio
popular é um agenciamento, pois por meio de elementos heterogêneos ele organiza e
insere o sujeito na rede-rizoma do mundo. É importante ressaltar que as pessoas se
apropriam de modos diversos dos provérbios populares. Alguns indivíduos fazem o uso
dos provérbios definindo sentido único e imutável para qualquer que seja a época ou
contexto que estão utilizando-os. Já outras pessoas conseguem fazer com que os
provérbios se tornem agenciamentos, ou seja, um conjunto multilinear composto por
linhas de naturezas diferentes com capacidade de transformação. Estes podem circular
17
em diversos espaços sociais, inovando assim sua finalidade e sua pluralidade de
representações. Pontua-se que os provérbios são utilizados, na maioria das vezes, como
linhas de fuga, pois buscam expressar idéias, considerações e sentidos que surgem da
interpretação das frases proverbiais. Essa interpretação se encontra imersa na
subjetivação e por meio do provérbio como agenciamento pode gerar novas conexões.
O sujeito desterritoriliza por meio da linha de fuga e possibilita novos territórios com
uma multiplicidade de sentidos.
Os agenciamentos possuem como componentes: linhas de visibilidade, que é
feita por linhas de luz, as quais tornam visíveis e invisíveis objetos que sem ela não
existem; linhas de enunciação são regimes de enunciados definidos precisamente que
dão origem a variáveis; linhas de forças são produzidas em toda relação por passarem
atravessando pontos dos dispositivos; linhas de subjetivação; que são produções de
subjetividade num agenciamento, que escapam as forças estabelecidas como aos saberes
constituído; e as linhas de brecha, de fissura, de fratura, que se entrecruzam e suscitam
umas nas outras formando mutações nos agenciamentos. (DELEUZE, 1996).
As linhas, as marcas e os ritmos que conectam elementos heterogêneos são
reunidos para definirem o território existencial, o qual é sinônimo de apropriação, de
subjetivação fechada para si mesmo. “Ele é o conjunto dos projetos e das
representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de
comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais,
estéticos, cognitivos”. (GUATTARI, ROLNIK, 2000, p. 323). O território aqui perde o
valor geográfico e se torna existencial, demarcando para cada individuo o campo
familiar, as distâncias nas relações e protegendo-os do caos.
O território é constituído pela composição de diferentes meios e ritmos sendo
que um meio envolve a repetição vibratória de algum componente e um ritmo envolve
as diferenças que ligam os meios heterogêneos. Os componentes dos meios são
agenciados, ritmados para demarcar o dentro e o fora, o seguro e o caótico. A marca é
primeira e precisa ganhar consistência para intensificar o ritornelo. Esse é um termo
retirado da música que diz de algo que se repete sempre, variações num mesmo tema e
que constitui algo na subjetividade. Organiza as funções, mantém os componentes do
território juntos podendo configurá-los como territórios individuados, que operam como
terminal de consumo dos componentes de subjetivação existentes no momento
histórico. Assim, o sujeito poderá construir uma consistência identária, corpórea,
perceptiva, enunciativa ou maquínica. Essa consistência maquínica pode gerar modos de
18
agenciar às maquinas do mundo para benefício da vida e invenções singulares, mas
pode também (re) produzir linhas, modelos, percepções endurecidas ou até mesmo
destruição. (CARDOSO, 2005).
Um território é composto também por desterritorialização, por linhas de fuga.
Desterritorializar é abrir-se para linhas de fuga e até sair do seu curso e se destruir. Os
territórios originais se desfazem com os sistemas maquínicos que o levam a atravessar a
estratificação material e mental. Deve-se observar que as linhas de fuga que
desterritorializam um modo de existir poderá ser bloqueada e tentar recompor um
território engajado num processo de desterritorialização, podendo aparecer de modo
mais resistente e endurecido. (CARDOSO, 2005).
O estado de desterritorialização dos agenciamentos é o que define as máquinas
abstratas. As dimensões da matéria são indissociáveis e como parte de agenciamentos
podem constituir a maior dimensão de potencial geradora do novo. As máquinas
abstratas mais conhecidas são: a Máquina de Guerra e a Máquina de Estado. A Máquina
de Guerra possui em sua estrutura uma posição mais desterritorializante. Só possui
guerra como objeto quando o Estado realiza a captura da Máquina de Guerra. Já a
Máquina de Estado possui um paradigma que gera equipamentos sedentários e
territorializados. (SOUZA, 2004).
As máquinas, segundo Guattari e Rolnik (2000) se engendram uma nas outras,
selecionam-se, eliminam-se, fazendo aparecer novas linhas de potencialidades. As
máquinas funcionam por agregação ou por agenciamento. A partir dessa perspectiva é
importante considerar dois tipos de máquinas: as máquinas sociais e as máquinas
desejantes. A máquina social traça uma linha abstrata, atravessa os elementos
heterogêneos e agencia-os para que funcionem juntos sendo diferente do conceito de
máquina da mecânica, que é fechada em si. Funciona por via das formas, estruturas e
formações já constituídas que permitem a reprodução da organização social, como por
exemplo, o capitalismo. Acoplada a esta máquina social do capitalismo operam outras
máquinas como as máquinas desejantes. Essas funcionam através das multiplicidades e
fluxos de objetos parciais e resíduos que lhe são próprios.
Em nosso momento contemporâneo, é preciso observar os componentes e arranjos subjetivos que se tornaram dominantes no capitalismo, com suas formas de percepção, de pensamento, de relação - com o mundo, com os outros, com o próprio corpo -, com seus processos de individualização e privatização, com sua busca identária, referenciável e identificável (CARDOSO, 2005, p.42-43).
19
Ao abordar os provérbios populares como agenciamentos, pode-se afirmar que
quando ocorre o processo de territorialização existencial os provérbio irão atuar de
acordo com os processos de subjetivação referentes a cada indivíduo. Quando os
provérbios atuam como linhas de segmentaridade, ou seja, eles traçam um plano
estruturador em que ocorrem repetições, os mesmos perpassam contextos históricos
diferentes sem que ocorram mudanças em sua estrutura literária, interpretação ou
sentido. Como no provérbio “Quem casa quer casa” que foi utilizado durante uma
conversa informal para reafirmar a idéia que ao casar a pessoa quem falou quer ter sua
casa própria. Nesse caso, não há alteração nem no sentido e nem na forma.
Outra forma de se estruturar subjetivamente é fazer agenciamentos em que
atuam as linhas moleculares, que são mais flexíveis. Nesse caso, os provérbios se
flexionam de acordo com o contexto, o que possibilita mudanças na estrutura e
diferentes formas de abrangência além da casual. Como, por exemplo: “Deus escreve
torto por linhas certas”. Esse provérbio foi falado por um personagem do programa “A
Grande Família” (Programa de comédia emitido pela Rede Globo de Televisão) e o
objetivo era reforçar a idéia de que o acontecimento foi algo divino e não esperado.
Nesse exemplo, o personagem modificou a estrutura literária dando abertura para novas
interpretações, mas não deixou de utilizar o sentido original do provérbio, sendo este
um agenciamento caracterizado pela linha de fuga. Quando uma linha escapa e se torna
uma linha de fuga busca-se a desterritorialização, ou seja, deixar o território
constituindo mudanças e transformações. Nesta situação os provérbios funcionam como
linhas de fuga em que há uma alteração na forma e no conteúdo, mas continuam sendo
utilizados para expressarem algo de forma simples e eficiente.
O agenciamento pode proporcionar uma saída do modo de existir já constituído,
o que poderá ser exemplificado com o seguinte provérbio: “Cada macaco no seu galho,
mas a árvore é uma só”. Nesse caso houve uma alteração do sentido, forma e conteúdo,
mas a idéia inicial propiciou a modificação. Esse ditado foi falado por uma estudante
universitária quando explicava sobre a dinâmica do trabalho interdisciplinar, pois
acredita que no trabalho interdisciplinar cada pessoa deverá utilizar os ensinamentos da
sua área de atuação (“Cada macaco no seu galho”), mas focando sempre no resultado de
todas as ciências reunidas (a árvore seria o todo).
A subjetividade se faz e refaz a partir, dos afetamentos, do “fora” que traz forças estranhas que pedem uma decifração. Essas forças, quando entram
20
em contato com a subjetividade aumentam a impressão de estranheza do mundo e conduzem a rupturas de sentido. [...] As rupturas de sentido nos obrigam a trilhar novos caminhos e a ocupar novos territórios existenciais. (ROMAGNOLI, 2006, p. 41).
A proposta da produção subjetiva é de uma relação entre sujeito e mundo que
propicie a criação e a inovação, (re) apropriando a subjetividade num espaço
heterogêneo. Portanto, busca-se a seguir estabelecer uma relação entre os conceitos
abordados neste capítulo referentes à esquizoanálise e a influência dos provérbios
populares na produção subjetiva e na cultura na contemporaneidade.
21
4.PROVÉRBIO POPULAR E PRODUÇÃO SUBJETIVA NA CONTEMPORANEIDADE.
“Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia? Eu não vou me adaptar, me adaptar”.
(Arnaldo Antunes)
A globalização da economia e dos avanços tecnológicos aproxima universos
distintos e cria uma grande variabilidade de espécies. Pode-se destacar nesse contexto a
mídia eletrônica que une cada vez mais elementos distintos e de várias partes. Na
contemporaneidade, encontra-se uma subjetividade que tende a ser povoada por afetos
que surgem desta profusão cambiante de universos. Essas forças que estão presentes na
subjetividade provocam uma mestiçagem de forças que colocam em perigo os habituais
contornos da subjetividade (ROLNIK, 1996a).
Essa mesma globalização que intensifica as misturas e destrói as identidades,
produz também perfis - padrão que funcionam de acordo com o mercado para que sejam
consumidos pelas subjetividades. Essas identidades mudam de acordo com a
flexibilidade e com a mesma velocidade do mercado. Tal flexibilidade propõe uma
abertura para o novo: novos produtos, novos paradigmas, etc. essas transformações
esvaziam o sentido das figuras vigentes e assim lançam as subjetividades no estranho e
as forçam para que reconfigurem-se. A abertura não é, necessariamente, para a
inovação, para o estranho, nem para tolerar o desassossego que as subjetividades
encontram na atualidade.
Pode-se apontar que há, na atualidade, uma dicotomia sendo que de um lado há
uma desestabilização exacerbada, e de outro lado à referência identitária lidando com o
perigo de ser nada, quando não se consegue alcançar o perfil do mercado. Ao se
combinar esses dois fatores o vazio de sentido poderá ser insuportável, sendo vividos
como um esvaziamento da própria subjetividade. Essa ameaça constante de
esvaziamento provoca uma sensação de fracasso, constantemente, podendo levar até a
morte. Para se proteger dessas forças, busca-se anestesiar a vibratilidade do corpo ao
mundo, ou seja, perde a capacidade de afetar e ser afetado enquadrando-se aos modelos
oferecidos.
Em resposta a este processo o sujeito se agarra em alguma coisa oferecida pela
contemporaneidade, que atue como um sedativo e o organiza no rizoma – mundo,
evitando que os afetamentos convoquem a existência de outros territórios existenciais.
22
Como exemplo desses sedativos, pode-se citar a anorexia, a literatura de auto-ajuda e as
drogas químicas. Segundo Rolnik (1996a), a TV é oferecida como uma droga, pois
oferece uma oferta de identidades glamurizadas que estão imunes aos movimentos
dessas forças, deste coletivo anônimo e que viciam o sujeito tanto quanto a droga
propriamente dita. Quando esta droga é consumida pelas pessoas como uma prótese de
identidade criando indivíduos clones, estes se tornam vulneráveis a qualquer
movimentação das forças. Os viciados vivem na esperança de assegurar seu
reconhecimento em alguma órbita do mercado e estão dispostos a mitificar e consumir
toda imagem oferecida. Assim, essa busca pelo modelo midiático impede a motilidade
da vida ao provocar uma ruptura de sentido.
Os provérbios podem ser ao analisá-los como componentes do processo citado
acima, agenciamentos utilizados pela mídia para propiciar ao sujeito conexões que se
atenham à lógica do mercado. Os provérbios seriam instrumentos universais, pois
devido ao fato de serem usados costumeiramente e cotidianamente, eles representam
muitas vezes, uma síntese da cultura e veiculam significações e denotações que escapam
aos axiomas próprios da linguagem que geram conexões de cadeias semióticas de toda
natureza.
Quando os provérbios são usados em programas de TVs, eles aproximam as
pessoas às imagens sedutoras midiáticas, que promove um reconhecimento na lógica do
mercado e fortalece as linhas de segmentaridade. Ao influenciar as linhas de
segmentaridade em que os provérbios se estruturam, repetem os territórios existentes e
reivindicam a singularidade contemporânea. Isso dá ao sujeito uma falsa sensação de
organização em torno de si, dada a priori, pois ele ignora as forças que o constitui e que
o leva a desterritorialização, ou seja, a transformação.
Assim todo dispositivo se define pelo que detém em novidade e criatividade, e que ao mesmo tempo marca a sua capacidade de se transformar, ou desde logo se fender em proveito de um dispositivo futuro, a menos que se dê um enfraquecimento de força nas linhas mais duras, mais rígidas, ou mais sólidas. E, na medida em que se livrem das dimensões do saber e do poder, as linhas de subjetivação parecem ser particularmente capazes de traçar caminhos de criação, que não cessam de fracassar, mas que também, na mesma medida, são retomados, modificados, até à ruptura do antigo dispositivo (DELEUZE, 1996, p.92).
Além de serem utilizados como linhas de segmentaridade no contexto midiático,
o provérbio pode também ser usado como agenciamento que se conecta ao rizoma pelas
linhas de fuga, as quais promovem a desterritorialização e levam aos novos sentidos
23
existenciais. Assim, o provérbio organiza o social e se articula com outros elementos na
busca pela eliminação da inércia do corpo provocada pela alienação e pela padronização
da máquina social capitalismo. Produz, contudo subjetividades inovadoras que
possibilitem a instalação de novos agenciamentos.
Os provérbios são agenciamentos de uma literatura antiga, mas que predominam
até a atualidade por serem contextualizados. Quando se fala um provérbio, o mesmo é
entendido por todos, pois possuem estruturas pré – definidas, que não impedem o fluxo
de linhas de fuga que possibilitam novos territórios atuais. É necessário ressaltar nesse
momento que a novidade de um dispositivo em relação aos outros que o precede é
chamada de atualidade do dispositivo. O atual não é o que somos, mas sim aquilo que
vamos tornando aquilo que somos em devir, ou seja, o nosso devir – outro. O devir dos
provérbios são possibilitados de acordo com a abertura que cada sujeito apresenta para
saída do mesmo, que pode assim se lançar para novas possibilidades, como a cultura, a
arte, os provérbios, a clínica etc. Já a história é o desenho do que somos e deixamos de
ser. O atual é então o esboço daquilo que nos tornamos, ou seja, novas formas de estar
no mundo. (DELEUZE, 1996).
Os provérbios como agenciamentos, podem atuar em várias direções e fluxos,
além desses que foram apontados. Eles representam uma multiplicidade de linhas de
forças que se conectam umas as outras mudando suas naturezas e provocando novos
sentidos. Com isso a subjetividade vai sendo construída e influenciada pelos
agenciamentos que organizam e inserem o sujeito na rede-rizoma do mundo. As pessoas
se apropriam de formas diferentes dos provérbios, e com isso eles circulam na cultura e
na história com uma diversidade de representações e inovações em seu uso.
Mas enfatizemos imediatamente o paradoxo. Tudo circula: as músicas, os slogans publicitários, os turistas, os chips de informática, as filiais industriais e, ao mesmo tempo, tudo parece petrificar-se, permanecer no lugar, tanto as diferenças se esbatem entre as coisas, entre os homens e os estados de coisas. No seio de espaços padronizados, tudo se tornou intercambiável, equivalente. (GUATTARI, 1992, p. 169).
Durante uma divisão de trabalho na sala de aula, várias mulheres conversavam e
discutiam quem iria ficar com cada tema, até que uma delas finaliza a discussão
pontuando: “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é bobo ou não tem
arte”. Neste exemplo, o provérbio é utilizado em seu sentido e conteúdo originário e
24
mesmo assim propiciou por meio deste agenciamento conexões e afetamentos diferentes
aos envolvidos na discussão.
Em um outro momento que o provérbio foi citado pode-se encontrar uma
distorção do conteúdo, mas o sentido geral que o provérbio representa continua sendo
direcionador para o contexto atual. Nesse caso há uma inversão de personagens, que
buscam a inovação e a desterritorialização por meio da confirmação e pontuação
representada pelo provérbio. Um aluno universitário busca reforçar a idéia de seu
paciente, o qual afirma que estava sendo seduzido por meninos e que a culpa deste
evento seria dos pais que não limitavam seus filhos, então afirma: “Segura seus bodes,
porque meus bodes estão soltos”.
Por meio destes dois exemplos retirados do diário de bordo construído a partir
das observações proposta pela metodologia deste trabalho, pode-se pontuar a força e
influência que os provérbios ainda exercem na subjetividade dessas pessoas que foram
observadas. É interessante ressaltar que não há uma diferenciação de nível sócio –
econômico e cultural no que diz respeito a utilização do provérbio. Percebe-se que o
provérbio é um agenciamento que busca criar uma conexão na rede-rizoma do mundo
produzindo subjetividade independente do contexto e da pessoa que o utiliza.
Atualmente as subjetividades devem-se combater as referências identitárias para
que essas dêem lugar aos processos de singularização, de criação existencial, movidos
pelos acontecimentos. Todas as estratégias que visam tanto à volta das identidades
locais, quanto as que sustentam identidades globais têm a meta de domesticar as forças,
vencendo assim a resistência ao contemporâneo. (ROLNIK, 1996a).
Diante desse quadro contemporâneo, Rolnik (1996a) coloca que a prática clínica
nos dias atuais deveria direcionar-se para encontrar meios de domesticar as forças do
fora, relançando a processualidade a qual substituiria a referência identitária. Assim, o
sujeito poderia criar condições para que o vazio de sentido possa ser vivido como
excesso e não como falta de modo que as subjetividades possam inventar possibilidades
de vida e de transformação.
Acredita-se que de acordo com os pressupostos desta clinica que Rolnik (1996a)
propõe, o provérbio popular poderia atuar enquanto um agenciamento que implica em
criar condições para que a desterritorialização possibilite as linhas de fuga criar novas
possibilidades. Entende-se que quando o provérbio é modificado para que faça sentido
no contexto em que foi expresso, é uma forma de substituir o que enquadra por algo que
abre para a processualidade.
25
Destacar-se então de um falso nomadismo que na realidade nos deixa no mesmo lugar, no vazio de uma modernidade exangue, para acender às verdadeiras errâncias do desejo, às quais as desterritorializações técnico-científicas, urbanas, estéticas, maquínicas de todas as formas, nos incitam. (GUATTARI, 1992, P. 170).
A prática clínica busca trabalhar com os processos de subjetivação em sua
especificidade e em âmbitos da existência individual e coletiva, estando sempre
contextualizada. A esquizoanálise busca ajudar o sujeito a viabilizar a produção de uma
subjetividade heterogênea. (ROLNIK, 1996b).
A subjetividade não é algo dado, mas sim um trabalho de produção. O que se
tem são processos de individuação ou de subjetivação, que se fazem nas conexões do
desejo com fluxos heterogêneos que variam ao longo da existência, e que nos resultam
os indivíduos e seus contornos. Assim, a formação da subjetividade pressupõe
agenciamentos coletivos e impessoais. Os provérbios são agenciamentos que podem ser
utilizados na clinica como instrumento de intervenção, pois circulam em diversos
contextos e estão diretamente ligados às construções sociais, sem perder de vista o
sentido singular dado por cada sujeito.
26
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS “Jamais poderemos compreender o que o outro espera de nós e o que nós esperamos do outro. Mas é preferível fazer o errado a nada fazer por medo de errar”.
(Martin Luther King)
Os provérbios populares são crenças, ideologias e analisadores que as pessoas
utilizam para se relacionarem com o mundo, Por meio da linguagem eles expressam
pensamentos de forma figurativa. A partir da percepção que obtive com relação aos
contextos sociais observados, questionei qual é a força/ influência que os provérbios
populares exercem na produção subjetiva atualmente. Para responder a essa questão
comecei meus estudos com um levantamento bibliográfico e depois com a realização de
um diário de bordo contendo anotações dos provérbios que foram citados durante esse
levantamento. Tais procedimentos me proporcionaram um entendimento mais amplo
sobre os provérbios e um conhecimento maior sobre a produção subjetiva e a
esquizoanálise.
As unidades proverbiais operam desde a antiguidade e expressam experiências
de vida além de incorporarem atitudes populares. Podem variar de acordo com a
estrutura, o conteúdo, a aplicabilidade e outros itens. Mesmo com tanto tempo de
criação e uso, os provérbios continuam sendo usados da maneira original, mas em
algumas situações há uma alteração do conteúdo e/ou sentido. Possuem uma autoria
inquestionável que reforça a credibilidade dos mesmos, uma vez que podem ser
assimilados pela própria ressonância e pela espontaneidade do ouvinte aceitá-lo ou não.
O provérbio insere diretamente na produção subjetiva por via do social. A
produção subjetiva, a partir do ponto de vista da esquizoanálise, é tudo que é produzido
pelos homens com recursos e elementos do seu próprio contexto que compõe um
ordenamento social. O social se organiza na rede – rizoma do mundo, na qual a
subjetividade se produz e ambos se articulam por meio dos agenciamentos. Os
agenciamentos trabalham com os fluxos caracterizados por um devir e são formados por
territórios existenciais que, por meio da desterritorialização, abrem passagem para as
linhas de fuga e a constituição de novos territórios.
É importante ressaltar que as pessoas se apropriam de modos diversos dos
provérbios populares. Assim, quando ocorre o processo de territorialização o provérbio
irá atuar de acordo com os processos de subjetivação referentes a cada indivíduo. A
27
proposta da esquizoanálise é, contudo de uma produção subjetiva com novas conexões e
novos agenciamentos que buscam a ruptura de sentido e a inovação.
Na contemporaneidade, a globalização intensifica as misturas, destroem as
identidades e produzem modelos de acordo com o mercado. A ameaça constante de
esvaziamento da subjetividade faz com que as pessoas busquem anestesiar a
vibratilidade do corpo e com isso há uma perda da capacidade de afetar e ser afetado.
Assim, a TV surge como uma droga a ser consumida levando a uma identidade
identitária. O provérbio atua como um instrumento agenciador tanto para manipulação e
alienação, quanto para transformação e inovação. Desse modo, o devir dos provérbios
são possibilitados de acordo com a abertura que cada sujeito apresenta para lançar-se
em outras formas de ser.
Na clinica busca-se trabalhar com processos de subjetivação em vários âmbitos
da existência individual e coletiva, contextualizando-os sempre. Assim o provérbio
pode ser utilizado como intervenção no processo terapêutico, pois propicia ao individuo
estabelecer conexões no rizoma para que ele possa se inserir no campo social devido a
sua potencialidade. A subjetividade, portanto não é algo dado, mas sim um trabalho de
produção social podendo ser atravessado pelo provérbio.
Contudo, após a finalização desta monografia percebo que o provérbio
influência na produção subjetiva de quem o utiliza ou o escuta como agenciamento de
enunciação. Essa influência é clara devido ao fato de estarmos num contexto em que o
provérbio, mesmo modificado alguns de seus aspectos, ele se apresenta no social e,
conseqüentemente, atravessa a subjetividade. Dessa forma, se os provérbios são
agenciamentos, logo estão influenciando na produção subjetiva e nas possibilidades de
inovação e transformação dos sujeitos. É importante lembrar que a forma como o
provérbio afeta a produção subjetiva é singular de cada individuo.
Ressalto a importância dos provérbios não só como agenciamentos, mas também
como um rizoma que é atravessado por outros elementos e fluxos semióticos que
constroem novos territórios de inovação e criatividade desde a antiguidade.
28
REFERÊNCIAS
BAREMBLITT, Gregório F. Compêndio de análise Institucional e outras correntes: teoria e prática. 2. ed. Ria de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1994.
BAREMBLITT, Gregório. Introdução a Esquizoanálise. Belo Horizonte: Biblioteca do Instituto Félix Guattari, 1998.
BITTENCOURT, Vanda de Oliveira. “O provérbio é a voz do povo”, e “o povo é a voz de Deus”: a voz da parêmia no diário de Helena Morley. Lingüística e Filologia SCRIPTA. Revista do Programa de pós-graduação em Letras e do Centro de Estudos Luso-afro-brasileiros da PUC Minas. Belo Horizonte, v. 8, n. 16, p. 148-165, 1º sem. 2005.
CARDOSO, Maria Luiza Marques. Máquinas de Comunicação e Máquinas-Desejantes: Televisão e Produção de Subjetividade. 2005. Dissertação de Mestrado em Comunicação Social- Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
CASCUDO, Luiz da Câmara. Literatura Oral no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1984, Cap. 1. Dicionário de língua portuguesa Melhoramentos. São Paulo: Editora Melhoramentos, 10º Ed, 1996. DELEUZE, Gilles. O mistério de Ariana. Lisboa: Passagens. P. 83 – 96, 1996.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia. Ed. 34, Rio de Janeiro: Coleção TRANS, 1995, vol. 1, cap1.
FRIDMAN, L. C. Pós-modernidade: sociedade da imagem e sociedade do conhecimento. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 353-75, jul./out. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701999000300007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 01 Out. 2007.
29
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. Cap.10 p.111-114. GUATTARI, Félix. Caosmose - Um novo paradigma estético. Ed. 34, São Paulo: Coleção TRANS, 1992.
GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: Cartografias do Desejo. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
MENANDRO, Paulo Rogério MeiraI; RÖLKE, Rafaela KerckhoffII; BERTOLLO, Milena III.. Seção temática conjugalidade, parentalidade e gênero. Concepções sobre relações amorosas / conjugais e sobre seus protagonistas: um estudo com provérbios. Psicologia Clínica. Rio de Janeiro,v.17, n.2,2005.Disponível em: http://www.deproverbio.com/DPbooks /LAUAND/1.htm. Acesso em 10 Out. 2007.
ROLNIK, Suely. Toxicômanos de identidade – subjetividade em tempo de globalização. In: Lins, Daniel S. (org). Cultura e Subjetividade – saberes nômades. São Paulo: Papirus, 1997a. ROLNIK, Suely. Inconsciente Antropofágico. Texto apresentado no colóquio Encontros Internacionais Gilles Deleuze RJ e SP, 1996b. ROMAGNOLI, Roberta C. Apostila da disciplina: Clínica Social. Curso de Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Betim, 2006. SOUZA, Sílvia Regina Eulálio de. O PENSAMENTO NÔMADE E A PRÁTICA DA PSICOLOGIA EM DESTERRITORIALIZAÇÃO. 2004. Tese de Doutorado em Psicologia Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
TEIXEIRA, Sérgio Alves. Produção e consumo social da beleza. Horizontes antropológicos, vol.7, nº.16, p.189-220, Dez 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832001000200011&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 10 Out. 2007.
30
APÊNDICE - Diário de bordo
Nesse diário de bordo estão transcritos todos os dados e provérbios coletados durante o
processo de observação. A observação foi realizada durante os meses Outubro e
Novembro de 2007. São apresentados nesse diário os provérbios falados, os contextos,
a idéia que eles buscam expressar e as modificações e observações notadas. Em alguns
provérbios encontra-se também a data em que foram falados e uma característica de
quem o utilizou.
• “Perco um amigo, mas não perco uma piada”.
Falado por uma estudante universitária ao fazer uma brincadeira com um colega de sala,
que o desprezava. Para disfarçar e amenizar a situação ela fala o provérbio para dar um
ar de graça e tentar minimizar tal situação. O provérbio alterado para se tornar ainda
mais engraçado. Confirmação, reafirmação e explicação. (10/10/07)
• “Nunca diga desta água não beberei”.
Falado por uma personagem do filme Show de verão (da emissora Globo). A
personagem fala o provérbio quando é demitida do seu emprego, pois devido à raiva
que sentia não queria mais voltar naquele lugar. Idéia de reafirmar e confirmar a idéia
original. (11/10/07)
• “Quem nunca comeu melado quando come se lambuza”.
Falado pela personagem da novela Eterna Magia (da emissora Globo) que reclamava,
pois seu neto quando mudou para cidade grande havia se transformado. A
transformação tinha sido ruim, pois o mesmo havia caído em perdições. Idéia de
confirmação e reforço do sentido original. (Sem data)
• “Deus escreve torto por linhas certas”.
Falado pelo personagem do programa “A grande Família” (emissora Globo). Para
expressar que a mulher que apareceu na vida do seu amigo foi Deus que mandou para
resolver seus problemas. O personagem atua no papel de um homem analfabeto,
utilizando o provérbio na ordem trocada. Idéia de reforço, confirmação e explicação,
mantendo o sentido original. (11/10/07)
31
• “Até provar que focinho de porco não é tomada”.
Falado por uma jovem durante um churrasco para confirmar e reforçar a idéia que sua
amiga havia colocado. Queria confirmar que todas as mulheres que estavam ali eram
iguais. (12/10/07)
• “Quem gosta de osso é cachorro”
Falado por um personagem do filme Show de Verão (emissora Globo) quando uma
garota reclamava de seu próprio corpo. O personagem afirmava que homem não gosta
de mulheres muito magras. Idéia de reafirmação e confirmação. (11/10/07)
• “Defunto ruim não merece vela boa”
Falado pela vilã da novela Eterna Magia (emissora Globo), quando soube que um outro
personagem havia matado uma pessoa e não ficou no local para certificar que tal
personagem estava morto. Idéia de reafirmação, confirmação e exemplificação do
sentido original do provérbio. (11/10/07)
• “O cão chupando manga”.
Falado quando uma estudante universitária descreve uma outra pessoa expressando a
idéia de que ela é muito feia, então reforça a idéia falando o provérbio. (9/10/07)
• “Casa de ferreiro, espeto de pau”.
Falado por uma professora universitária do curso de psicologia, para reforçar e
confirmar o que havia dito. Ela afirmava que nos congressos em que a participava
cobrava caro por sua participação, mas que na sala de aula ninguém queria escutá-la
mesmo que gratuito.
• “Água mole pedra dura, tanto bate até que fura”.
Falado por uma professora universitária do curso de psicologia durante a supervisão de
estágio em que uma aluna contava como estava sendo seu atendimento. A professora,
então falou que agora ela deverá insistir ao ensinar o comportamento desejado e
finalizou sua fala com o provérbio para reforçar o que havia dito.
32
• “Pau que nasce torto morre torto”.
Falada por uma professora universitária de psicologia quando explicava sobre a
disponibilidade de mudança que uma paciente de 60 anos apresentava durante o
processo terapêutico. Ele demonstrou surpresa em saber que uma pessoa idosa tem
vontade de mudar de vida, então usou o provérbio para contestá-lo e nega-lo.
• “Segura os bodes porque meus bodes estão soltos”.
Falado por um aluno universitário durante a supervisão de estágio que utilizou o
provérbio para reafirmar e reforçar a idéia que ele tinha a respeito de seu cliente. Há
uma inversão do provérbio, pois o caso refere-se a uma questão homossexual.
O paciente coloca a culpa da sedução que ocorre entre ele e os meninos mais novos nos
pais que não limitam seus filhos. Então o provérbio foi usado para reforçar essa idéia e
confirmar o sentido, mesmo que alterando a forma.
• “Se eu contar minha vida ruim para o carroceiro, o cavalo chora”.
Falado por uma aluna universitária durante a reunião de projeto. A pessoa começou a
falar dos seus problemas do dia-a-dia confirmando e finalizando a idéia com o
provérbio.
• “Assombração sabe pra quem aparece”.
Falado durante uma conversa entre estudantes universitários. Elas conversavam sobre a
relação entre duas pessoas em que uma delas abusa da generosidade de uma outra
pessoa, então elas usam o provérbio para confirmar e explicar aquilo que falavam.
• “Cada macaco no seu galho, mas a arvore é uma só”.
Falado por um estudante de enfermagem durante uma reunião de estagio para
exemplificar como deve ser a relação do trabalho interdisciplinar. Há mudança na forma
do ditado para completar a idéia, mas o conteúdo continua o mesmo.
• “As pessoas vêem as pingas que bebo, mas não vêem os tombos que levo”.
Ditado falado no programa Graffite da emissora SBT, ao introduzirem a história de vida
de uma dupla sertaneja. Um dos cantores para falar de suas dificuldades e reforçar o
vídeo que trazia sua história cita o ditado. (06/10/07)
33
• “Quem casa quer casa”.
Falado durante a conversa entre duas mulheres num bar e foi usado para reafirmar a
idéia que quando uma delas se casar ela quer ter sua casa própria. Então usa o provérbio
para confirmação e reafirmação sua posição. (5/10/07)
• “Pra morrer basta estar vivo”.
Falado por algumas pessoas em um bar quando o assunto era sobre doenças graves que
começaram a afetar as pessoas mais intimas como parentes. Para confirmar e finalizar o
assunto uma pessoa disse esse provérbio. (5/10/07)
• “Não adiante rezar pra defunto que já está com a alma perdida”.
Ditado falado por uma coordenadora de projeto social a qual foi citada em uma aula de
psicopedagogia. No projeto em que ela trabalha foi pedido uma atitude da mesma diante
de um adolescente que não queria participar das atividades do projeto e que se encontra
em risco social. Então a coordenadora disse o ditado, expressando por ele toda sua
opinião, confirmando a exatidão do mesmo. (4/10/07)
• “Por traz de um grande homem tem sempre uma grande mulher”.
Falado por uma personagem da novela “Amigas e Rivais” da emissora SBT com o
intuito de negar a veracidade do mesmo. Segundo ela o provérbio não é verdadeiro
nesse caso, porque havia um homem em que sua mulher não o apoiava. (4/10/07)
• “Faca de dois gumes”.
Falado por uma professora de psicologia para dizer sobre as vantagens e desvantagens
que o tratamento terapêutico domiciliar apresenta. O provérbio reafirma e confirma suas
colocações. (5/10/07)
• “Há males que vem para o bem”
Falado por um professor universitário de Pedagogia. Utilizou esse ditado durante uma
reunião para dizer que não havia envido o projeto para aprovação, mas que isso não foi
de todo ruim porque havia surgido outra oportunidade de enviá-lo para uma instituição
melhor. Diante desse quadro, após explicar o processo ele encerra o assunto
confirmando o provérbio. (20/10/07)
34
• “Quem procura acha”
Falado por um ator da novela Duas Caras da emissora Globo. O ditado foi utilizado para
expressar a idéia de que o ator estava procurando uma mulher para se casar, então se
falou o ditando confirmando e finalizando a idéia do provérbio. (06/11/07)
• “Ferro quente e água fria concertam qualquer porcaria”.
Falado por uma senhora aposentada em que explicava que o cabelo de uma moça era
alisado/ espichado, mas mesmo assim apresentava ser muito ruim. Então, a senhora para
reforçar e explicar essa idéia ela fala o provérbio. (26/10/07)
• “Quem não tem cão, caça com gato”.
Falado por um universitário do curso de psicologia quando pontuava que no 8º período
do curso não havia nenhum professor do sexo masculino. Então fala o provérbio para
explicar e confirmar sua idéia, ou seja, se não tem professor ele tem que aceitar as
professoras. (17/10/07)
• “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é bobo ou não tem
arte”.
Falado por uma universitária quando seu grupo discutia sobre a divisão de um trabalho
em que umas haviam ficado com partes maiores e outras com menores. Então, uma das
pessoas usa o ditado para explicar o fato da diferença na divisão do trabalho e para
finalizar a discussão.
• “Descobrir um santo para cobrir outro”
Falado por um aluno universitário quando explicava para professora o motivo pelo qual
ele não lia os textos que ela mandava. Ele afirmava que lia os textos que eram mais
importantes e os outros deixava de ler devido ao tempo. Então usou o ditado para
reforçar e reafirmar a idéia. (24/10/07)
• “Santo de casa, não faz milagre”.
35
Falado por uma professora universitária do curso de psicologia para afirmar e confirmar
a idéia de que ela é boa professora, mas os alunos não percebem o quanto ela é ótima.
Então ela fala o ditado para reforçar essa idéia. (09/11/07).