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Programa de Monitorização dos Ecossistemas Terrestre e Estuarino na Envolvente à CTRSU de S. João da Talha 2007
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Programa de Monitorização dos Ecossistemas … · Parmelia caperata, Parmotrema reticulatum, Pertusaria spp., Physcia adscendens entre outras espécies, podendo ocorrer alguns talos

Sep 19, 2018

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Programa de Monitorização dos Ecossistemas Terrestre e Estuarino na Envolvente

à CTRSU de S. João da Talha2007

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Programa de Monitorização dos Ecossistemas Terrestre e Estuarino na Envolvente

à CTRSU de S. João da Talha2007

L. S. Gordo, V. Brotas, M. Sim-Sim, M. J. Boavida, A. M. Ferreira, C. Garcia,

A. M. Neves, B. Paulo e R. Rebelo

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A monitorização ambiental desempenha um papel fundamental no contexto da avaliação de impacto ambiental, permitindo acompanhar a evolução dos ecossistemas e inventariar e descrever as possíveis alterações decorrentes da implementação do projecto.

A monitorização biológica dos ecossistemas terrestre e estuarino da envolvente à CTRSU teve como objectivo, no seu primeiro ano de trabalho, a criação de uma situação de referência que permitisse a comparação com os dados a obter nos anos seguintes e já durante a fase de exploração do empreendimento. Neste contexto procurou-se estabelecer o programa de recolha de dados que melhor permitisse equacionar os efeitos sobre o ecossistema em vários descritores que vêm sendo avaliados desde 1998: flora epífita, flora vascular e aves (ambiente terrestre); fitoplâncton, zooplâncton, algas macrófitas, vegetação halófita, macroinvertebrados e ictiofauna (ambiente estuarino).

No presente trabalho apenas serão apresentados os resultados de um número reduzido de componentes (flora epifítica, aves, fitoplâncton, zooplâncton, macroinvertebrados e ictiofauna).

1. Introdução

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Ao longo de 2007 foi realizado o acompanhamento da vegetação epifítica na região envolvente à Central de Tratamento de Resíduos Sólidos e Urbanos de São João da Talha (CTRSU), tendo como base 35 estações de um total de 44 seleccionadas no primeiro ano de monitorização (Figura 1).

Cada estação de amostragem da flora epifítica (briófitos e líquenes) foi georreferenciada para posterior utilização em Sistemas de Informação Geográfica.

� CTRSU

Figura 1. Localização dos levantamentos de flora epifítica na área envolvente à CTRSU da Valorsul. Estações de monitorização biológica da flora epifítica. Estações não monitorizadas nos anos de 2006, e 2007

A metodologia adoptada no estudo das comunidades epifíticas de briófitos e líquenes que se desenvolvem no ritidoma de oliveira (Olea europaea L.) seguiu rigorosamente os mesmos critérios que em anos anteriores. Assim, em cada estação, a área de amostragem compreendeu, sempre que possível, 10 oliveiras onde foram estudadas a cobertura de e vitalidade de briófitos e líquenes. Nas estações 32 e 33 por ausência de Olea europaea foram amostrados mióporos (Myoporum acuminatum R. Br.) e na estação 20, o carvalho português (Quercus faginea Lam.). Em cada local de amostragem identificou-se e registou-se, numa ficha de campo, a totalidade dos taxa presentes bem como o seu valor de sociabilidade (Si), vitalidade (Vi) de acordo com as escalas quantitativas (Bento-Pereira & Sérgio, 1983). Numa folha de acetato e numa área rectangular com 220 cm2, registou-se a área ocupada por cada espécime ou colónia de briófito ou líquene, tendo em consideração o forófito previamente seleccionada em cada um dos locais de estudo. Esta metodologia permitiu monitorizar a

dinâmica das populações de briófitos e líquenes ao longo dos anos, para além da evolução da diversidade global na área de estudo.

Em 2007, no total das 35 estações, foram identificados 67 taxa de líquenes e 25 taxa de briófitos (23 musgos e 2 hepáticas). A Riqueza Florística (RF) de cada local manteve-se constante em 17 estações de estudo, diminuindo em 10 estações e aumentando em 7.

Relativamente aos valores de IPA, os quais ponderam não só a presença de um determinado taxon, como também a sua cobertura, observou-se em 2007 um aumento em 20 estações, um decréscimo em 6, mantendo-se o IPA constante em 8 estações.

A estação com o valor mais elevado de IPA, mantêm-se a número 20 (IPA= 11,7), enquanto o valor mais baixo de IPA foi observado na estação 14A (IPA= 0,6). Estas estações são também as que apresentam a maior e a menor Riqueza Florística (RF), 34 e 3 respectivamente. Salienta-se que o aumento do valor de IPA em 2007 em 20 estações, é o resultado de um acréscimo de cobertura das diversas colónias de briófitos e principalmente de líquenes.

2.1. Análise da zonação de regiões isocontaminadas

A zonação de regiões isocontaminadas representadas nas figuras 2 e 3 foram efectuadas com base nos valores de Riqueza Florística e no Índice de Pureza Atmosférica do ano de 2007. Efectuou-se, tal como em anos anteriores, a cartografia dos valores de RF e IPA, utilizando o programa SURFER, versão 8.0.

0

5

10

15

20

25

30

2

3 4A

5

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7

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2930A

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2

3 4A

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11

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28

31

2006 2007

Figura 2. Evolução do padrão de distribuição da zonação de classes de RF para cada estação de amostragem em 2006 e 2007.

2. Flora Epifítica

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23

2425

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3536

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1820

22

232425

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34A

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37

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2006 2007

Figura 3. Evolução do padrão de distribuição da zonação de classes de IPA para cada estação de amostragem em 2006 e 2007.

Pela análise da zonação da Riqueza Florística (Figura 2), pode observar-se que existem algumas variações nas diferentes classes de RF. No entanto, as regiões com valores de RF mais elevados (a verde), bem como as regiões com valores de RF mais baixos (a castanho), mantêm uma distribuição semelhante. Apesar da RF ter diminuído ligeiramente em 10 estações em 2007, é notória um aumento da área ocupada por algumas classes de RF mais elevado (a verde), especialmente nas estações situadas a NW da CTRSU, sendo o resultado de um ligeiro aumento do número de espécies em algumas estações.No que diz respeito à zonação de IPA (Figura 3), verificou-se igualmente em 2007 algumas alterações na distribuição das diferentes classes, como resultado de ligeiras alterações em 26 estações de monitorização. Tal como em 2006, as estações com IPA superior a 8, mantiveram-se praticamente inalteradas, localizadas a uma maior distância da zona de maior actividade rodoviária e onde se concentram grande parte das unidades industriais.

2.2. Análise da presença/ausência de alguns grupos funcionais

Ao longo de 2007 analisaram-se individualmente as coberturas dos diversos grupos de organismos que ocorrem sobre Olea europaea, Myoporum acuminatum e Quercus faginea nas estações de monitorização. Foram analisadas as coberturas de musgos, hepáticas e líquenes; estes últimos divididos em três formas de vida, fruticulosos, foliáceos e crustáceos.

Líquenes fruticulosos

Este grupo de líquenes apresenta uma elevada sensibilidade a alterações ambientais, sendo as espécies com esta forma de

vida as primeiras a evidenciar alterações morfológicas (Basel, 1985; Carvalho et al., 2002), que se reflectem na cobertura/frequência das espécies bem como na fertilidade, podendo desaparecer completamente numa determinada região.Estes líquenes apresentam coberturas elevadas nas estações com maior número de espécies (RF), bem como um valor de IPA mais elevado como é o caso das estações 20 e 28. Em 2007, ocorreram ligeiras alterações em 7 estações, visualizadas pelo aumento de cobertura de líquenes fruticulosos em 3 estações e pela diminuição em 4 estações.

Líquenes foliáceos

A cobertura dos líquenes foliáceos foi igualmente alvo de uma monitorização no ano de 2007. Tal como os líquenes fruticulosos este grupo funcional é igualmente sensível às alterações ambientais, em especial diversas espécies de Parmelia e Nephroma laevigatum, além de outras. Em 2007 ocorreram alterações em 14 estações, entre as quais 5 correspondem a decréscimos e 9 correspondem a aumentos de cobertura. Estas oscilações devem-se principalmente a ligeiros aumentos e decréscimos de coberturas de espécies do género Collema, Parmelia e Xanthoria. Salienta-se ainda que os locais com maior representatividade deste grupo funcional se situam a NW da área de estudo.

Líquenes crustáceos

Este grupo de líquenes é particularmente abundante em regiões fortemente humanizadas, estando associado a formas de vida que apresentam uma elevada capacidade de resistência às alterações ambientais. Em 2007, ocorreram alterações de cobertura em 16 estações, das quais, 14 apresentam um aumento dos valores de cobertura, enquanto em 2 estações ocorreu uma diminuição dos líquenes crustáceos. Os aumentos de cobertura ocorreram especialmente em Diploicia canescens e Schismatomma decolorans, líquenes resistentes a alterações da qualidade do ar, cujo crescimento impede que outras espécies mais sensíveis com as que integram parte dos líquenes foliáceos e os líquenes fruticulosos se possam desenvolver.

Musgos

A análise da cobertura dos diferentes taxa de musgos ao longo dos anos de monitorização e em particular o ano de 2007, revela alterações em 18 estações de estudo. Pode referir-se que em 12 estações se observou um aumento dos valores de cobertura e em 6 estações um decréscimo desses valores.

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Hepáticas

Entre os briófitos, as hepáticas são um grupo de organismos bastante sensíveis a alterações ambientais, quer sejam alterações climáticas quer sejam alterações da qualidade do ar. Observou-se que a cobertura de hepáticas se manteve estável, com a excepção das estações 18 e 20 onde ocorreu um ligeiro decréscimo.

2.3. Zonas de qualidade ambiental da região envolvente à CTRSU

Como resultado da monitorização realizada no ano de 2007 foi possível a distinção de diferentes zonas de qualidade ambiental nas 35 estações de monitorização (Tabela 1). Foram assim identificadas 3 zonas que correspondem a 3 classes de qualidade ambiental: Fraca, Intermédia e Boa – tendo como base o Índice de Pureza Atmosférica (IPA). Durante o ano de 2007, a estação 23 transitou de uma qualidade Fraca para uma Intermédia, enquanto a estação 5, transitou de uma qualidade Intermédia para uma qualidade Boa.Qualidade ambiental fraca

Esta classe engloba as estações com valores de biodiversidade mais reduzida e com reduzidas áreas de cobertura de espécies. Nela se integram os locais em que a qualidade. do ar é mais fraca, correspondendo a zonas mais intervencionadas. É o caso das estações 3; 4A; 8; 9; 10; 14; 16; 18; 30A; 32; 33; 34A; 39;

40; 44 em que os valores de IPA são inferiores ou iguais a 4 (IPA≤4).

As espécies mais frequentes nesta classe são na maioria líquenes com a forma de vida crustácea como Lecanora spp, embora possam ocorrer outras formas de vida como em Xanthoria parietina, um taxon do grupo dos líquenes foliáceos que vivem intimamente em contacto com o substrato. No que se refere aos briófitos podemos encontrar nesta classe espécies bastante tolerantes a alterações na qualidade ambiental e com uma elevada capacidade de regeneração como é o caso de Syntrichia laevipila.

Qualidade ambiental intermédia

É a classe de qualidade ambiental mais frequentada por espécies epifíticas na zona de estudo, integrando as estações: 2; 7; 12; 13; 22; 23; 24; 25; 29; 31; 35; 36; 37; 41; 42. Nestas estações com uma biodiversidade considerável quer de líquenes, quer de briófitos, são comuns os líquenes Hyperphyscia adglutinata, Parmelia caperata, Parmotrema reticulatum, Pertusaria spp., Physcia adscendens entre outras espécies, podendo ocorrer alguns talos do género Ramalina sp. Relativamente aos briófitos são mais frequentes Frullania dilatata, Zygodon rupestris e Homalothecium sericeum.

Na sua maioria estas espécies possuem uma elevada capacidade de colonização, mas raramente frutificam adoptando uma estratégia de vida que lhes permite apresentar frequências

Zonas de

qualidade do ar

Fraca

IPA ≤4

Intermédia

4 < IPA < 8

Boa

IPA≥ 8

Estações de amostragem

3; 4A; 8; 9; 10; 14; 16; 18; 30A; 32; 33; 34A; 39; 40; 44

2; 7; 12; 13; 22; 23; 24; 25; 29; 31; 35; 36; 37; 41; 42 5; 6; 20; 26; 28

Espécies dominantes

Orthotrichum diaphanum Tortula laevipila (com gemas)

Diploicia canescens

Lecanora spp.

Physcia tenella

Xanthoria parietina

Schismatomma decolorans

Homalothecium sericeum (estéril)

Pterogonium gracile (estéril)

Zygodon rupestris

Frullania dilatata

Candelariella xanthostigma Hyperphyscia adglutinata Hypocenomyce stoechadiana Parmelia caperata

Parmotrema reticulatum Pertusaria spp.

Physcia adscendens

Aparecimento de espécies de Ramalina sp.

Cryphaea heteromalla Homalothecium sericeum (fértil)

Leptodon smithii

Leucodon sciuroides Pterogonium gracile (fértil)

Radula lindenbergiana

Espécies de Parmelia sp.

Várias espécies de Ramalina sp.

Tabela 1. Zonas de qualidade ambiental da área em estudo para 2007.

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elevadas no ritidoma dos forófitos, embora nem sempre, com elevadas coberturas.

Qualidade ambiental boa

Incluem-se nesta classe as estações com a melhor qualidade ambiental da área de estudo: 5; 6; 20; 26; 28. Nela se agrupam as estações com o Índice de Pureza Atmosférico (IPA) e com a Riqueza Florística (RF) mais elevadas. Entre os taxa mais frequentes salientam-se diversas espécies de Parmelia sp., bem como diversas espécies de Ramalina sp. Estão também presentes os briófitos Radula lindenbergiana, Cryphaea heteromalla e Leptodon smithii, entre outros. Salienta-se aqui que muitas destas espécies se encontram normalmente frutificadas e com coberturas elevadas, demonstrando uma maior estabilidade nos habitats que integram.

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3.1. Transectos Terrestres

Com a redução do número de tarefas contemplada na reformulação do programa de monitorização, os trabalhos de monitorização da fauna de vertebrados dos ecossistemas terrestres foram reduzidos à monitorização da comunidade de aves de rapina diurnas em áreas do Parque Natural do Estuário do Tejo (PNET) próximas da CTRSU.

A figura 4 apresenta os resultados comparados para os valores das contagens máximas das cinco espécies de aves de rapina mais comuns no PNET nos meses de Dezembro/ Janeiro desde o início dos trabalhos de monitorização (as contagens de Fevereiro/ Março serão iniciadas na semana que começa a 24 de Fevereiro).

No Inverno de 2007/08, os números de aves de rapina presentes nas lezírias do PNET foram semelhantes aos registados em 2006/07. As quato espécies mais abundantes no estuário durante o Inverno (tartaranhão-ruivo-dos-pauis, peneireiro, peneireiro-conzento e águia-de-asa-redonda) são espécies residentes no nosso país, estando asism expostas durante todo o ano às condições locais. Desde o início do programa de monitorização assistiu-se a um aumento no número de aves de rapina invernantes no estuário entre 1998 e 2001, seguido de uma estabilização desde então. O aumento nos primeiros anos deveu-se principalmente ao aumento dos efectivos de tartaranhão-ruivo-dos-pauis e de peneireiro-cinzento.

3.2. Sectores de contagem de avifauna estuarina

As contagens são efectuadas em dois grupos de sectores - três sectores próximos da CTRSU e dois sectores situados na região menos intervencionada e com menor perturbação humana do PNET.

As figuras 5 e 6 mostram os efectivos de duas espécies muito conspícuas e de interesse conservacionista, que se alimentam nas areias e vasas intermareais do estuário - o flamingo, Phoenicopterus ruber e o alfaiate, Recurvirostra avosetta – censados nas duas margens do estuário ao longo do programa de monitorização.

Ambas as espécies apresentam efectivos mais elevados na margem menos intervencionada do estuário. Os flamingos estiveram bastante ausentes do estuário entre 2001 e 2003 (e novamente no fim do Inverno de 2006/07). A presença desta espécie no estuário está sujeita a grandes flutuações, o que está claramente relacionado com a ausência de uma população reprodutora (todos os indivíduos que permanecem no estuário durante a Primavera e Verão são não-reprodutores).

A figura 6 indica uma diminuição geral dos efectivos de alfaiate invernantes no estuário do Tejo, observada em ambas as margens desde o Inverno de 1999/2000, seguida de uma pequena recuperação e manutenção dos efectivos a partir de 2005. Para os alfaiates, não houve nenhuma tendência de diminuição preferencial do número de indivíduos que procurou alimento nas vasas da margem direita do estuário.

3. Vertebrados Terrestres

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Dezembro/ Janeiro

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1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Peneireiro

Águia-de-asa-redonda

Tartaranhão-ruivo-dos-pauis

Tartaranhão-azulado

Peneireiro-cinzento

Outros

Figura 4 – Contagens comparadas de aves de rapina no transecto T3 na época de Dezembro/ Janeiro.

P. ruber

0200400600800

100012001400

Dez98

Fev99

Dez99

Fev00

Dez00

Fev01

Dez01

Fev02

Dez02

Fev03

Dez03

Fev04

Dez04

Fev05

Dez05

Fev06

Dez06

Fev07

Dez07

M. D.M. E.

Figura 5 – Nº de flamingos, P. ruber censados no estuário nos meses de Outono e Inverno durante o programa de

monitorização. M.D. – Margem direita; M.E. – Margem esquerda.

R. avosetta

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Dez98

Fev99

Dez99

Fev00

Dez00

Fev01

Dez01

Fev02

Dez02

Fev03

Dez03

Fev04

Dez04

Fev05

Dez05

Fev06

Dez06

Fev07

Dez07

M. D.M. E.

Figura 6 – Nº de alfaiates, R. avosetta censados no estuário nos meses de Outono e Inverno durante o programa de

monitorização. M.D. – Margem direita; M.E. – Margem esquerda.

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A recolha de amostras para o estudo do plâncton foi efectuada mensalmente em situação de maré morta, em preia-mar, no início da vazante, nas 3 estações situadas na área envolvente à CTRSU. A biomassa de fitoplâncton foi estimada a partir da concentração de clorofila a (µg l -1) e a densidade do zooplâncton foi expressa em indivíduos por m3.

No presente relatório comparam-se os valores obtidos durante os anos de 2006 e 2007, com a série de dados anteriores, referentes ao período entre 1999-2005). Ao longo do ano de 2007, os valores de biomassa do fitoplâncton no Estuário do Tejo, representados pela concentração em clorofila a na coluna de água, seguem um padrão sazonal com valores mais baixos no Inverno, um pico de biomassa na Primavera, e um decréscimo subsequente no Verão (Figura 7). Este padrão difere dos anos anteriores, que apresentam uma estabilização da biomassa ao longo da Primavera/Verão, sendo as condições climatéricas verificadas durante 2007 a causa provável desta diferença. Note-se no entanto que a ordem de grandeza dos valores se mantém ao longo de todos estes anos de estudo. As Diatomáceas continuam a ser o grupo taxonómico dominante, enquanto os grupos taxonómicos potencialmente causadores de fenómenos de “blooms” nocivos, isto é, os Dinoflagelados e as Cianobactérias, mantêm-se em concentrações reduzidas.

Na figura 8 está representada a variação da densidade de zooplâncton. Observa-se uma variação elevada das densidades de zooplâncton ao longo de cada ano, estando a maioria dos valores situada abaixo dos 1000 indivíduos por m3.

Pode-se perceber que existe uma tendência para a ocorrência de picos de zooplâncton na Primavera, havendo geralmente densidades mais baixas durante o Outono e Inverno. As estações 1 e 2 têm um padrão relativamente semelhante, enquanto a estação 3 apresenta maior abundância, assim como maior variabilidade das densidades de zooplâncton no período estudado.

Figura 7 – Evolução anual da concentração em clorofila a (índice de biomassa para o Fitoplâncton 1999-2005: média das três estações (La1-La3) da concentração de clorofila a desde 1999 a 2005. 2006: Média das três estações da concentração de clorofila a no ano de 2006. 2007: Média das três estações da concentração de clorofila a no ano de 2007.

Figura 8 - Comparação da variação da densidade de Zooplâncton ao longo do ano, nas três estações de amostragem (LA1, LA2, e LA3entre os primeiros sete anos de amostragem (média 1998-2005), o ano de 2005/06 e este ano de 2006/07.

4. Fitoplanctôn e Zooplâncton

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Comparando o período dos últimos quatro anos de monitorização com o quinquénio de 1999/2003, verifica-se alguma consistência nos teores de vasa das estações 3, 4 e 5, com valores acima dos 90% (Figura 9). No entanto, as estações 1 e 2 apresentam uma maior variabilidade: a estação 1 tem registado um teor crescente de vasa desde 2005, com valores próximos ou mesmo acima a 80%, comparativamente aos valores inferiores a 60% registados até então. Relativamente à estação 2, frente à CTRSU, verificou-se, no ano de 2007, um valor médio da ordem de 70%, muito inferior aos 90% observados nos anos anteriores.

A comunidade endofaunística apresentou, no decorrer do ano de 2007, e com excepção da estação 1, uma densidade semelhante à determinada em 2006 (Figura 10). Tal como em anos anteriores, a comunidade foi dominada por poliquetas, particularmente das espécies Streblospio shrubsolii e Hediste diversicolor, conotadas por preferirem ambientes ricos em matéria orgânica e apresentarem uma boa resistência a diversos tipos de distúrbios. Estes poliquetas alimentam-se de partículas depositadas no substrato, destabilizando os sedimentos coesivos do mesmo, por alterar o tamanho das partículas e aumentar o conteúdo em água.

Em termos espaciais, a maior densidade (número de indivíduos por m2) ocorreu na estação 1, caracterizada por um substrato com menor teor médio de vasa (Figura 10).

O estado de perturbação das comunidades tem revelado uma melhoria significativa desde 2004 (Figura 11). Com efeito, também neste ano de 2007, todas as estações foram classificadas como tendo uma ausência de perturbação. No entanto, mantém-se a dominância de taxa tipicamente com maior tolerância à poluição (S. shrubsolii, H. diversicolor, Oligochaeta), apresentando os índices de diversidade e equitabilidade valores baixos (cf. Relatório anual de Outubro de 2007).

Figura 9. Comparação do teor de vasa determinado em 2007 em cada uma das estações amostradas com os valores de 2006, 2005, 2004 e a média dos valores obtidos durante o período de 1998 a 2003.

Figura 10. Comparação da densidade de endofauna determinada em 2007 em cada uma das estações amostradas com os valores de 2006, 2005, 2004 e a média dos valores obtidos durante o período de 1998 a 2003.

Figura 11. Comparação do estado de degradação de cada estação de amostragem entre os anos de 2003/04 a 2006/07.

5. Macroinvertebrados e Ictiofauna

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A comunidade epifaunística tem sido dominada por duas espécies de crustáceos decápodes: o camarão-mouro, Crangon crangon e o caranguejo-verde Carcinus maenas. A figura 12 apresenta a comparação da densidade do camarão-mouro por estação de amostragem determinada para 2007, relativamente a 2006, 2005, 2004 e ao período de monitorização de 1998/2003. O ano de 2007 registou valores mais baixos que os de 2006, em particular nas estações 1 e 3. Assiste-se, assim, à manutenção do padrão registado nos últimos anos, ou seja, a ocorrência das maiores densidades nas estações situadas na Cala Norte. Os valores mais baixos têm sido registados nas estações 1 e 3, onde o substrato tem apresentado uma maior componente arenosa.

A densidade do caranguejo-verde Carcinus maenas está representada na figura 13. Embora se mantenha a tendência verificada nos últimos anos, com as maiores densidades a ocorrer na Cala Norte, o ano de 2007 registou densidades particularmente baixas, próximas das verificadas no quinquénio 1998/2003.

A comunidade ictíica tem sido dominada por uma espécie, o caboz-da-areia, Pomastoschistus minutus, cujo valor da densidade por estação de amostragem se encontra representado na figura 14. Em 2007 registaram-se valores bastante baixos quer relativamente ao último ano quer ao período 1998-2003

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1998/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007

Figura 12. Comparação da densidade do camarão-mouro Crangon crangon determinada em 2007 e em cada uma das estações amostradas, com a obtida em 2006, 2005, 2004 e a média dos valores obtidos durante o período de 1998 a 2003.

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1 2 3 4 5Estações

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1998/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007

Figura 13. Comparação da densidade do caranguejo-verde Carcinus maenas determinada em 2007 e em cada uma das estações amostradas, com a obtida em 2006, 2005, 2004 e a média dos valores obtidos durante o período de 1998 a 2003.

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1998/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007

Figura 14. Comparação da densidade do caboz-da-areia Pomastoschistus minutus determinada em 2007 e em cada uma das estações amostradas, com a obtida em 2006, 2005, 2004 e a média dos valores obtidos durante o período de 1998 a 2003.

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6.1. Organoclorados e metais

As concentrações de compostos organoclorados (bifenilos policlorados (tPCB)) estão acima da gama de valores encontrados na monitorização que tem vindo a ser realizada desde 1999 (Figura 15). O facto dos valores mais elevados ocorrerem nas amostragens de Outono e Inverno, sugere que tais valores podem resultar de escorrências das margens para o estuário. Convém, no entanto, referir que estes valores estão muito abaixo dos níveis admissíveis para consumo humano. Relativamente aos metais, a evolução temporal das concentrações de cádmio (Cd) e mercúrio (Hg), presente na figura 15, mostra que os teores encontrados estão dentro da gama de valores encontrados na monitorização que tem vindo a ser realizada desde 1999.

Saliente-se que, algumas variações podem estar relacionadas com os factores fisiológicos dos organismos, tais como diferenças entre espécies, variações intraespecificas entre indivíduos, idade, diferentes estado de maturação sexual. No entanto, para as variações encontradas, não se pode por de parte alterações na biodisponibilidade ambiental dos contaminantes que podem provir de fontes difusas ou activas provenientes das várias unidades industriais existentes.

6. Contaminantes

Figura 15. Concentrações de bifenilos policlorados (tPCB), cádmio (Cd) e mercúrio (Hg) no camarão-mouro Crangon crangon (a) e no caranguejo-verde Carcinus maenas (b) capturados entre 1999 e 2007.

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6.2. Dioxinas e Furanos

A análise dos teores de dioxinas e furanos foi realizado por um laboratório independente certificado pela Comissão Europeia. No caso das plantas, foi analisado o líquene fruticuloso, Evernia prunastri (L.) Ach., por períodos exposição de 6 meses e 1 ano de material transplantado.

Da análise da figura 16, pode-se constatar que a estação 5 (Fábrica da Manteiga - Sacavém) tem revelado os valores mais elevados de dioxinas e furanos, em todas as análises efectuadas, relativamente à estação 4A (São João da Talha). No entanto, os valores encontrados para estes compostos não parecem apresentar, em todas as análises efectuadas, valores muito superiores às amostras controlo, também evidente no transplante originário da Serra da Malcata.

Para a fauna (Figura 17), foi analisada a rã-verde Rana perezi (fauna terrestre), o camarão-mouro Crangon crangon, o caranguejo-verde Carcinus maenas e o caboz-da-areia Pomatoschistus minutus, estas últimas três espécies pertencentes à fauna estuarina.

No caso da rã-verde, os valores para a população do Trancão apresentam alguma flutuação em torno de uma média de 10,025 ng kg-1. No entanto, são sempre bastante superiores aos valores obtidos para a população de Grândola, que flutuam em redor de uma média de 3,59 ng kg-1. Em 2007, os teores de dioxinas e furanos no Trancão foram 2 vezes e meia superiores aos valores de Grândola.

Embora na literatura não tenham sido encontrados valores de referência para anfíbios, o teor base de dioxinas determinado em ratos não submetidos a fontes poluidoras foi de 4 ng kg-1 (U.S. E.P.A., 1989). Este valor de referência é, de facto, muito próximo do encontrado na população de Grândola pelo que se pode aceitar esta população como indicadora de uma região não poluída. Pelo contrário, os valores determinados na população do rio Trancão sugerem que estes indivíduos têm sido sujeitos a fontes poluidoras persistentes, cujo efeito não tem diminuído (mas também não tem aumentado) nos últimos anos.

Uma análise global da fauna estuarina (Figura 17) mostra que as espécies de crustáceos apresentam, em regra, valores superiores aos determinados nos peixes. Com efeito, no camarão-mouro, e após uma tendência crescente dos teores de dioxinas presentes no músculo de 2003 a 2006, em 2007 registaram-se valores próximos dos obtidos em 2005. Os valores observados em indivíduos capturados na margem sul, região menos intervencionada, nos últimos dois anos, foram cerca de 60% dos registados frente à CTRSU. O caranguejo-verde registou os mais elevados teores de dioxinas e furanos determinados nas três espécies estudadas. A análise comparativa dos últimos quatro anos parece revelar uma tendência crescente de 2005 a 2007, tendência que não se verifica nos indivíduos capturados na margem sul. Relativamente ao caboz-da-areia, e se exceptuarmos o valor extraordinariamente elevado determinado em 2005, os teores de dioxinas e furanos têm mostrado uma tendência para alguma estabilidade com valores inferiores a 40 ng kg-1.

Em resumo, embora os valores encontrados na fauna terrestre e estuarina se enquadrem dentro da amplitude de valores registados para outras espécies em áreas intervencionadas e sujeitas a fontes poluidoras, convém realçar que algumas destas espécies (rã-verde e crustáceos) podem ser objecto de consumo humano e têm apresentado teores de dioxinas acima dos valores de referência enquadrados pela legislação comunitária relativa às substâncias e produtos indesejáveis na alimentação animal.

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6 Meses 2003 1 Ano 2003 6 Meses 2004 1 Ano 2004 6 Meses 2006 1 Ano 2006

WH

O-T

EQ; n

g kg

-1

4A5controlo

Fogo nas proximidades do transplante

Evernia proveniente da Serra de Aire Evernia proveniente da

Serra de Montemuro Evernia proveniente da Serra da Malcata

Figura 16. Concentração de dioxinas e furanos na área de estudo utilizando um biomonitor transplantado

Figura 17. Teores de dioxinas e furanos determinados na rã-verde, no camarão-mouro, no caranguejo-verde e no caboz-da-areia.

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7. Referências Bibliográficas