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FINANÇAS & COMPORTAMENTO: COLETÂNEA DE ARTIGOS1
Prof. Elisson de Andrade
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1 Os artigos que compõem esse eBook são textos adaptados do blog do Prof. Elisson de Andrade. Foi realizada uma coletânea das melhores publicações sobre Finanças & Comportamento.
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SUMÁRIO
Visão geral sobre Mudança de Hábitos Financeiros............................................................................................... 2
Por que algumas pessoas não guardam dinheiro? ................................................................................................. 9
Revendo paradigmas financeiros ............................................................................................................................... 13
Mudando paradigmas financeiros ............................................................................................................................. 17
A verdadeira riqueza ....................................................................................................................................................... 20
Quatro formas de poupança ........................................................................................................................................ 25
Relação entre saúde e finanças pessoais ................................................................................................................. 29
Como mudar hábitos de consumo ............................................................................................................................ 32
A diferença entre agir e reagir, no contexto financeiro pessoal ...................................................................... 37
Use sua liberdade de escolha de maneira inteligente ......................................................................................... 40
Razão e sensibilidade ...................................................................................................................................................... 43
Privação e suas consequências no comportamento dos consumidores ...................................................... 48
Prazer não traz felicidade .............................................................................................................................................. 51
O que homeostase tem a ver com educação financeira ..................................................................................... 57
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Visão geral sobre Mudança de Hábitos Financeiros
Compreenda o processo de mudança de hábitos financeiros
A imagem acima tem como espinha dorsal as ideias encontradas no livro “Os 7 hábitos das pessoas
altamente eficazes”, de Stephen Covey, porém, adicionando diversos conteúdos de outros livros
igualmente interessantes sobre comportamento.
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Muitos dos conceitos utilizados foram-me apresentados no curso online “Produtividade Ninja”, do
genial Seiiti Arata, em que adaptei parte do conteúdo sobre produtividade para questões ligadas às
finanças pessoais. Para tal, acrescentei tópicos ligados à administração financeira, como a elaboração do
fluxo de caixa e balanço patrimonial pessoal, conforme descrito de maneira detalhada em meu eBook “As
5 etapas do planejamento financeiro“.
Isso significa que estou conseguindo, ao longo do tempo, criar uma identidade própria, através de
um conteúdo bastante completo sobre como mudar hábitos financeiros nocivos, na busca de uma
melhoria do bem estar financeiro dos indivíduos.
PRINCÍPIOS – a base de tudo
Para uma mudança de hábitos efetiva no contexto das finanças pessoais, argumenta-se que as
decisões do dia a dia devem ser baseadas em princípios como integridade, respeito, responsabilidade,
honestidade, dentre outros. Tais princípios possuem a característica de serem universais, ou seja, vão
além de uma cultura ou religião específica. Também independem do tempo, pois foram verdade no
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passado e o são até os dias atuais. E por último, tais princípios são inquestionáveis: basta ir contra eles e
verá que nada que possa ser visto como admirável será construído.
Dessa forma, criar hábitos que sejam baseados nesses princípios significa encontrar o rumo certo
para trilhar os caminhos da vida. Além disso, ter uma base sólida se traduz em segurança nas tomadas de
decisões, na construção de um caráter inabalável que lhe permitirá fazer as melhores escolhas, não só
para si, mas também com reflexos positivos para os outros. Significa não se deixar vencer por ventos
contrários e estabelecer uma linha de conduta em que dificilmente agentes externos conseguirão fazê-lo
desviar. Portanto, basear nosso comportamento em princípios é o início de todo o processo.
PARADIGMAS – modelo mental
Depois de realizada a reflexão sobre a importância de os princípios serem a base de nossas
decisões, é preciso rever os paradigmas que possuímos, ou seja, o modelo pelo qual decidimos. Isso
significa perguntar-se: quais parâmetros utilizo para gastar meu dinheiro? Existe uma forte influência da
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maneira como meus pais e avós pensavam? Quanto sou influenciado(a) a consumir pelos regras impostas
pelo mercado? Faço gastos exagerados apenas para manter certo status perante à sociedade?
Veja que rever paradigmas tem relação íntima com o autoconhecimento. Descobrir as raízes
(modelos mentais) que levam as pessoas a consumir de maneira exagerada mostra-se como passo
fundamental para a mudança. É um verdadeiro processo de autoanálise, de desvendar a si. E realizada tal
reflexão, parte-se para a etapa da mudança de paradigmas, em que serão inseridos novos mapas
mentais, alinhados aos princípios e objetivos pessoais.
VISÃO DO SER HUMANO INTEGRAL
As decisões que tomamos ao longo da vida, financeiras ou não, devem levar em consideração
quatro aspectos essenciais ao ser humano, descritos a seguir:
CORPO FÍSICO: para que diversos objetivos financeiros possam ser conquistados ao longo da vida,
é preciso saúde física. Para ter disciplina, algo tão importante dentro das finanças pessoais, é
imprescindível disposição. Um assunto importante nesse contexto é a Administração de Energia, além de
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cuidados como dormir bem, fazer check ups médicos periódicos, exercitar-se, comer produtos saudáveis
etc. Quer um exemplo aplicado ao dinheiro? Trabalhar em excesso para poder ficar “rico”, só o fará ter
uma vida pobre.
CORPO MENTAL: desenvolver a capacidade de pensar e raciocinar é essencial para o sucesso
financeiro. Isso é possível através de boas leituras, diálogos com pessoas que agreguem valor e muita
reflexão. Com a mente sã, é possível delinear objetivos, visualizar cada passo antes de dá-lo e aumentar o
leque de possibilidades da vida.
CORPO EMOCIONAL: cuidar da parte emocional tem muito a ver com inspiração. Colocado de outra
forma, o autoconhecimento e a compreensão do mundo à nossa volta, faz emanar a emoção
(empolgação) por fazer algo diferente, que realmente seja duradouro e benéfico. Reconhecer as
fraquezas pessoais e buscar superá-las faz parte do desejado controle emocional, do modo como agimos e
reagimos às situações envolvendo dinheiro. Busque concentrar-se em atividades (hábitos) que sejam
realmente valiosas e transformadoras, e deixe de lado prazeres efêmeros que nada constroem.
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CORPO ESPIRITUAL: nesse contexto, a palavra espiritual nada tem a ver com religião. A ideia é
transcender à questão física, mental e emocional, para compreender quais são os verdadeiros propósitos
de se ganhar dinheiro. O que nos leva a acordar cedo para trabalhar o dia inteiro ou estudar com afinco?
Para que vale todo esse sacrifício? Cuidar da parte espiritual significa encontrar um sentido na vida, que
seja a mola propulsora de todas os hábitos a serem incorporados ao longo da vida. Como se baseia nos
princípios já citados, é tido como a bússola orientadora de nossas vidas. Na questão puramente
financeira, é um corpo espiritual bem desenvolvido que nos permite abrir mão de algo hoje, para colher
coisas melhores no futuro.
O que se pode concluir é que um processo de mudança de hábitos exige uma visão holística sobre
o ser humano, senão todas as intenções ficarão apen as no plano do desejo.
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MUDANÇA DE COMPORTAMENTO FINANCEIRO
A última etapa baseia-se em como mudar hábitos de consumo. Primeiramente, é preciso
compreender como um hábito é formado, para em seguida aprendermos técnicas sobre como mudá-lo.
Com tal conhecimento torna-se possível elencar quais hábitos praticados hoje são ruins para a vida
financeira, além de compreender quais poderiam ser incorporados. Esse não é um processo fácil, nem
rápido, mas talvez seja a única saída para uma transformação duradoura em relação às práticas de
consumo.
Os próximos textos tratarão de cada uma dessas etapas, de forma a aprofundar sobre cada
um desses assuntos.
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Por que algumas pessoas não guardam dinheiro?
Como educador financeiro, faz parte de meu ofício – e de tantos outros – sugerir às pessoas que
guardem, habitualmente, uma parcela de sua receita mensal para o futuro. Todavia, o que se nota é que
apenas um baixo percentual da população segue tal conselho. A grande maioria se agarra no consumo
imediato de toda sua receita, fazendo uso de financiamentos e pagando juros por isso. Então surge a
pergunta: por que tanta gente se recusa a guardar dinheiro, mesmo depois de ouvir especialistas
dizendo que o “certo” seria agir de maneira contrária?
Gostaria de discorrer, neste texto, sobre uma possível resposta: a falta de PROPÓSITO.
Antes de explicar esse ponto de vista, gostaria de diferenciar propósito de objetivo, dentro do
contexto que pretendo apresentar. Objetivo seria um destino (uma finalidade), que se deseja alcançar,
como por exemplo, adquirir a casa própria. Já propósito vai além de nós mesmos e leva em consideração
os princípios que regem nossas ações. É algo que transcende e justifica nossa condição enquanto ser
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humano, fazendo valer a pena cada dia que acordamos e saímos de casa para fazer nossas atividades
diárias.
Tal conceito é totalmente abstrato e, a princípio, complexo, mas estou convencido que mesmo
havendo objetivos bem traçados, muitas pessoas não conseguem atingi-lo pela “simples” falta de
propósito. O objetivo seria um guia e o propósito o combustível para que a disciplina possa se
manifestar.
Mas como identificar um propósito?
A dica é perguntar para si, quantas vezes forem necessárias: por que estou correndo atrás de certo
objetivo? Após finalizada a sequência de respostas aos porquês, chega-se ao propósito – algo que guia
todo o resto.
Vamos para um exemplo:
OBJETIVO: passar em um concurso público.
Mas por quê? RESPOSTA 1: para ter estabilidade
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Mas por quê? RESPOSTA 2: para dar segurança à minha família
Mas por quê? RESPOSTA 3: por que minha família é a coisa mais importante da minha vida
Pois bem, chegamos ao propósito. Todo o esforço que a pessoa fará para passar no concurso
público tem como combustível o amor que sente pela família.
Dessa forma, o que desejo argumentar é que, muitas de nossas ações cotidianas, que tomam boa
parte de nosso tempo, são desprovidas de propósito. Vivemos como robôs, acostumados a executar as
mesmas tarefas diárias, dia após dia, e isso pode trazer como consequência uma boa dose de desânimo,
ansiedade ou estresse. Faz-se uma infinidade de coisas e não se sabe o motivo pelo qual se está vivendo.
Em outros casos, mesmo com objetivos definidos, não existe clareza acerca do propósito para que se
tome as atitudes certas.
Quando o assunto é guardar dinheiro, devido a uma falta de clareza de propósitos, algumas pessoas
acabam por optar pela saída mais fácil: o consumo e o prazer imediato. Isso se dá porque esses supostos
momentos de “felicidade” acabam por confortar, pelo menos momentaneamente, o vazio de suas
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existências. E vai se vivendo um dia após o outro, à espera de algum milagre que lhes transformem.
Infelizmente isso nunca vai ocorrer, pois a transformação só será possível se vier de dentro da
própria pessoa.
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Revendo paradigmas financeiros
Conceituemos paradigmas como modelos nos quais nos baseamos para tomar decisões financeiras.
Explicando de outro modo, são nossas referências, que influenciam a forma como vemos tudo ao nosso
redor. Vejamos alguns exemplos de como tais paradigmas são construídos ao longo da vida:
Família
Dentro de casa aprendemos diversas “regrinhas” as quais devemos nos pautar ao longo da vida:
estude bastante para conseguir um bom emprego; faça tudo o que estiver ao seu alcance para fugir do
aluguel e comprar sua casa própria; parcele ou nunca terá coisa alguma; e por aí vai.
Obs: não entrarei no mérito se os exemplos citados são bons ou ruins.
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Religião
Muitas religiões pregam o desapego aos bens materiais, associando riqueza financeira a algo
pecaminoso: “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ir para o reino
dos céus”.
Escola
Dentro do ambiente escolar somos bombardeados por paradigmas que nos seguem durante anos a
fio. Quantas vezes não ouvimos que pessoas que não tiram boas notas nunca terão sucesso na vida
adulta?
Ambiente de trabalho
Esse é um ambiente riquíssimo em moldar paradigmas alheios. Vestir a camisa da empresa,
trabalhar duro para produzir cada vez mais, perceber que só é promovido quem é amigo do chefe, são
alguns exemplos.
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Sociedade
Pessoas que desafiam paradigmas sociais sofrem constantes represálias ou vivem à margem.
Existem modelos: de beleza, de bom comportamento, de bom aluno etc. As decisões de consumo são
muito afetadas por isso. Quem nunca ouviu a frase: “no aniversário de fulana TEM que dar uma
lembrancinha, senão fica chato”?
Como é possível notar, muitos de nossos hábitos financeiros se expressam de maneira inconsciente,
tendo sua origem em paradigmas muito arraigados em nosso interior e construídos ao longo de toda
uma vida. Não é incomum uma pessoa endividada achar que tal situação é “normal”, ou que seus hábitos
atuais não são os causadores de sua situação financeira difícil.
Mudar tais paradigmas não é nada fácil, mas possível. Na verdade, principalmente para aqueles que
não conseguem poupar dinheiro ou estão devendo, chego a dizer que é IMPRESCINDÍVEL. Sem uma
revisão das referências que servem de base para nossas tomadas de decisão, será uma corrida atrás do
próprio rabo. Pensa-se positivo, passa-se alguns dias segurando as despesas, mas depois tudo foge do
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controle novamente. Há também aquelas pessoas que vivem de promessas, mas nunca conseguem
cumprir o que prometeu a si.
Então, como mudar esses paradigmas? Esse é tema do próximo artigo
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Mudando paradigmas financeiros
No texto anterior escrevi sobre a importância de revisarmos nossos paradigmas, construídos com
bases em modelos “impostos” pela sociedade, família, amigos etc. Como bem diz Stephen Covey, antes
de qualquer esforço, é preciso colocar a escada na parede certa, senão cada degrau adiante nos levará ao
lugar errado. Dessa forma, no presente texto irei discutir como mudar tais paradigmas, também me
baseando nas ideias do autor supracitado.
Pois bem, antes de discutir como essa mudança pode ser colocada em prática, é preciso
compreender que nossa construção enquanto seres humanos deve se dar de “dentro para fora”. Isso
significa buscar basear os paradigmas em nossas convicções mais genuínas, ao invés de ser apenas um
espelho que reflete modelos alheios. E então surge a pergunta: quais devem ser os alicerces de nosso
modelo mental? A resposta é: os princípios.
O pensador Sêneca, dois mil anos atrás, já dizia, “se vives de acordo com as leis da natureza, nunca
serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico”. Tais princípios naturais existem
independentemente da vontade humana, sendo imutáveis e inflexíveis, podendo ser vistos como um
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conjunto de posturas que revelam o nosso caráter. São exemplos: honestidade, justiça, integridade,
respeito à diversidade, dentre outros. Portanto, são os princípios que devem ser a base da construção
de nossos paradigmas.
Então, proponho a você um desafio. Primeiramente, identifique quais são os paradigmas que guiam
suas decisões financeiras. Por exemplo, se decide financiar uma casa, por longos anos, a qualquer custo e
sacrifício, em qual modelo mental está se baseando? Seria da opinião, por exemplo, de seus pais, que
consideravam ter um lar a coisa mais importante a se conquistar ao longo de sua existência? Ou seria da
sociedade, em que a maior expressão disso é chamar um programa habitacional de “Minha Casa, Minha
Vida”?
Após anotar os paradigmas que norteiam sua maneira de lidar com dinheiro, anote os princípios
fundamentais que existem dentro de você. Vá além e descreva quais são seus maiores propósitos, ou em outras
palavras, o que é realmente importante de ser alcançado e que dá sentido à sua vida? Com base nessas
anotações, reflita se seus paradigmas estão alinhados aos seus princípios, ao que você realmente deseja
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para si. Se houver alguma contradição, reformule seus paradigmas, mas agora construindo um modelo
de pensar que venha realmente de suas convicções mais íntimas.
Assim, com um novo paradigma, escolha os hábitos que se alinham a esse mapa mental e busque
colocar em prática uma nova maneira de olhar o mundo, pautando-se na nova pessoa que acabou de se
tornar.
Isso é fácil? Obviamente não. Demorará certo tempo, haverá pressões externas para que se volte à
condição interior, mas creio ser a única saída. É isso aí, boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
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A verdadeira riqueza
A história que vou lhes contar teve início há um ano e meio. Saulo, um senhor com seus quarenta e
tantos anos, empresário, trabalhador desde muito jovem, estava sentado em frente ao computador
conferindo suas finanças pessoais. Após atualizar a planilha de orçamento doméstico, pôs-se a analisar
seus investimentos financeiros. A alocação de ativos de Saulo era de causar inveja até ao investidor mais
experiente. Dominava complexas operações financeiras, diversificava, revia sua carteira constantemente
e colhia bons frutos advindos de anos de estudo sobre o mercado de ações, renda fixa, imobiliário,
dentre outros.
Sempre tivera orgulho da “mão firme” em segurar as finanças da casa, que julgava ser
imprescindível para o bem estar de todos: esposa e dois filhos. Mas de maneira súbita, talvez devido à
crise da meia idade lhe pesando sobre os ombros, fechou suas planilhas e começou a refletir sobre a vida.
Há tempos Saulo vinha amargando a sensação de que todo aquele esforço financeiro não estava
resultando em uma melhora no ambiente familiar. A convivência com a esposa estava bem mais
superficial que nos tempos de outrora, e percebia também certo déficit em relação ao envolvimento com
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os filhos. Foi então que decidiu agir e contabilizar (era muito bom nisso) por quantas andava seu saldo
emocional com cada membro de seu clã.
Ao chegar em casa, antes de dormir, iniciou uma franca conversa com a esposa – algo que nos
últimos anos não havia ocorrido uma única vez. Propôs-se a apenas ouvir, pacientemente e sem sua
peculiar imposição de visão própria, as argumentações de Sofia. Após alguns minutos de queixas, que
versavam desde a falta de momentos de lazer até a pouca procura por momentos mais íntimos, Saulo
percebeu que sua conta emocional estava no vermelho. Como bom investidor, sabia que tal situação não
se sustentaria a longo prazo, pois os juros dessa dívida aumentavam de forma exponencial, a cada dia
que se passava. Nesta noite, quase que não dormiu, mas prometeu a si que faria algo para sanar esse
problema.
No primeiro fim de semana que se seguiu a essa conversa, Saulo prontificou-se a realizar o mesmo
experimento com os filhos. Luan, um adolescente com seus conflitos próprios da idade, era um garoto
distante do pai. Ao iniciar o diálogo, o jovem pensou em se tratar de mais algum sermão, mas espantou-
se quando o pai deu-lhe a palavra, sem restrições. Ficou sem saber o que falar, ofereceu um argumento
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estranho aqui, outro deveras pertinente acolá, mas Saulo percebeu que sua dívida com o filho era ainda
maior que a credora mãe. Mas sem titubear, ele seguiu em frente e foi ao encontro da filha, também a
sós.
Ingrid era o xodó do pai. Menina com dez anos de idade, muito esperta e amorosa, sempre lhe
pareceu ser o porto seguro da casa, em relação a afeto. Com ela, Saulo teve que se desdobrar para
descobrir seu saldo emocional, e depois de um olhar bastante atento, percebeu que era ela que havia
feito depósitos imensos em sua conta pessoal. Ele também lhe dava carinho, mas notou que não sabia
nem mesmo o nome das amiguinhas da filha. “É, também nesse caso”, pensou, “estou devendo”.
Passadas tais experiências dolorosas, mas de grande valia, Saulo decidiu fazer um planejamento
emocional. Como era muito bom em traçar metas, diminuiu sua carga de trabalho (que começava cedo e
ia até altas horas da noite, na empresa em que era o dono) e sentenciou que voltaria para casa, todos os
dias, às seis horas em ponto. E que, nos finais de semana, se dedicaria integralmente à família. Para que
isso fosse possível, percebeu ser necessário mudar sua rotina na empresa: começou a delegar funções e
não mais querer mais resolver todos os problemas sozinho; os entraves corriqueiros do dia a dia
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começaram a ser tratados com tranquilidade e sabedoria, ao invés dos costumeiros arroubos de fúria. E
por que isso? Era necessário guardar energia para seu mais novo desafio: quitar seu saldo emocional
negativo.
Ao longo dos últimos meses, até o dia de hoje, esse novo homem incorporou hábitos como:
caminhar com a esposa todos os dias ao final da tarde, em que trocavam conversas interessantíssimas,
sendo que tal atividade melhorou sua disposição física, até mesmo para os tais momentos íntimos
reclamados por Sofia; planejava meticulosamente os finais de semana, com atividades decididas em
comum acordo com os membros da família; envolveu-se com os estudos de sua xodó e até em reuniões
de pais, na escola, começou a ir; conversando com o filho em um estádio de futebol (nunca haviam ido
juntos, apesar de Luan adorar o esporte e torcer pelo mesmo time do pai), percebeu neste um interesse
muito grande em finanças e começou a repassar seus conhecimentos sempre que indagado; além de
várias outras interações, ora em grupo, ora com cada membro separadamente, que lhe traziam
momentos de extrema felicidade. Ao invés de saques (brigas, imposições, intrigas, descaso), focou em
depósitos emocionais e no respeito às vontades alheias. Saiu do estágio de independência para a
interdependência.
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Hoje, Saulo ainda continua com suas planilhas eletrônicas, verificando seu orçamento e a alocação
dos ativos – isso lhe traz a segurança que a família necessita. Porém, agora as decisões financeiras são
tomadas em conjunto e os próprios filhos viraram fiscais do desperdício de dinheiro – pois se tornaram
parte do processo. Percebeu, com o tempo, que sua maior conquista não estava no patrimônio
financeiro, mas de ter conseguido reverter a situação de sua poupança emocional familiar. Através de
ações cotidianas simples e mais humanas, baseada em uma revisão de prioridades, conseguiu sair do
vermelho e poder contar com uma poupança emocional bastante polpuda, em relação a cada membro
da família. E toda vez, em seu escritório, quando desliga o computador, diz bem baixinho, só para si:
agora sim, conquistei minha verdadeira riqueza.
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Quatro formas de poupança
No artigo anterior, fiz alusão a uma conta hipotética que denominei Poupança Emocional. A
intenção foi de demonstrar a necessidade de se colocar as Finanças Pessoais em seu devido lugar:
- não se pode ser totalmente desleixado com a administração do próprio dinheiro, fazendo com que
sua falta prejudique diversos aspectos importantes da vida (casamento, saúde, educação dos filhos etc);
- mas também, as finanças não podem tomar papel central nas atitudes do dia a dia, a ponto de
prejudicar as mesmas questões citadas no item anterior.
Assim, com o objetivo de avançar na questão, proponho uma expansão dessa análise, dando
atenção especial a quatro dimensões: relacionamento com terceiros (poupança emocional), saúde
(poupança de saúde), conhecimento (poupança de conhecimento) e finanças (poupança financeira).
Vejamos a seguir, cada uma delas.
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POUPANÇA EMOCIONAL
Seria uma conta relativa à nossa interação com familiares, amigos e demais conhecidos. Toda vez
que os tratamos com desdém, autoritarismo ou aspereza, fazemos um saque. Por outro lado,
engordamos essa poupança sempre que oferecermos atenção, ajuda e carinho. É importante observar
que possuímos diversas contas desse tipo, em igual número à quantidade de pessoas com quem nos
relacionamos. Ao longo da vida, ao construirmos um saldo negativo em nossas interações com terceiros,
provavelmente nos sentiremos bastante pobres.
POUPANÇA DE SAÚDE
Todos os hábitos cotidianos, com maior ou menor intensidade, terão reflexos em nossa saúde
futura. Quando dormimos mal, trabalhamos em excesso, ingerimos alimentos pouco saudáveis,
abusamos do álcool, ficamos irritados, não nos exercitamos fisicamente, dentre outros exemplos,
fazemos saques na Poupança de Saúde. Aqueles indivíduos que agem com descaso em relação a essa
importante conta, talvez vejam pouca utilidade no saldo positivo de outras poupanças, no futuro.
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POUPANÇA DO CONHECIMENTO
Muitos filósofos relacionam o saber com plenitude, felicidade ou riqueza. Podemos (e em minha
opinião, creio que devemos) aprender a cada dia, buscando um engrandecimento interior que nos
permita desfrutar do gosto bom da vida. Depósitos nessa conta são realizados toda vez que lemos um
bom livro, conversamos com pessoas que agreguem valor, temos curiosidade de descobrir como algo
funciona, e por aí vai. Pessoas que passam a vida sem aumentar significativamente essa poupança,
certamente deixarão passar despercebidas muitas das riquezas verdadeiramente genuínas do ser
humano.
POUPANÇA FINANCEIRA
Neste ponto entra-se em contato com as finanças pessoais. Guardar dinheiro ao longo da vida
deveria ser um hábito daqueles que vivem inseridos no capitalismo. Não pelo dinheiro em si, mas pela
segurança, conforto e liberdade de escolhas que ele proporciona. Ao pensar em futuro, principalmente
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para nós brasileiros, aqueles que não se preocuparem em poupar constantemente, terão sérios
problemas para viver em um mundo cada vez mais selvagem, e com benefícios estatais à mingua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível notar que o presente artigo mostra-se como uma expansão da ideia de poupança para
quatro dimensões importantes da vida (você pode sugerir outras, nos comentários abaixo). Isso é apenas
uma forma de visualizar o ser complexo que somos, e que, com atitudes simples, tornamos possível
realizar coisas grandiosamente boas ou ruins, tanto para nós mesmos como para os outros. Poupar, nesse
contexto, apresenta-se como uma saída inteligente àqueles que pretendem curtir a vida em sua
plenitude. Lembre-se: nada é conquistado da noite para o dia, mas é exatamente esse caminho rumo às
conquistas que nos fazem bem e dão sentido à vida.
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Relação entre saúde e finanças pessoais
Por que guardar dinheiro?
Em diversos artigos tenho deixado minha opinião acerca da real importância do dinheiro em nossas
vidas. Em suma, penso que nada adianta enriquecer financeiramente se o preço a ser pago for
a deterioração da saúde ou dos relacionamentos interpessoais. E também discordo da visão
imediatista, baseada em consumismo exagerado no presente, no qual as pessoas acabam aceitando
correr sérios riscos de escassez no futuro.
Penso que a questão é mais profunda do que apenas consumo ou poupança. Para que o dinheiro
possa ser usado de maneira realmente inteligente, é preciso que a análise esteja inserida dentro de um
contexto mais amplo. Argumento que é preciso considerar uma visão integral do ser humano, dividindo-
o em quatro partes: os corpos físico, mental, emocional e espiritual. O objetivo do presente texto é focar
na relação entre os cuidados com o corpo físico (saúde) e as finanças pessoais.
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Trade off entre saúde e dinheiro Se por um lado, ter dinheiro permite pagar um bom plano de saúde, frequentar academias,
alimentar-se bem etc, também é possível argumentar que ter saúde é um requisito básico para ganhar
dinheiro. Veja o exemplo de pessoas com alguma doença fatal incurável. Elas pouco dão valor à questão
financeira, se apegando às dimensões que realmente dão sentido à vida. Isso significa dizer que ter saúde
(e cuidar dela) é condição essencial para um planejamento financeiro de longo prazo. Quando investimos
dinheiro, está implícita a pressuposição de que é necessário estar com uma boa saúde para usufruir da
grana guardada.
Mas não termina aí a interação entre saúde e dinheiro. Fazendo uma analogia com o futebol,
também nas finanças pessoais é preciso ser bom na defesa e no ataque. Defender-se bem significa gastar
pouco, enquanto ser bom no ataque tem a ver com colocar dinheiro no bolso. Disso decorre que para
atacar bem é necessário disposição, energia. Por exemplo, uma pessoa debilitada fisicamente por alguma
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enfermidade terá maiores dificuldades em conseguir oportunidades de ganhar mais dinheiro. Outro
exemplo de saúde debilitada atrapalhando as finanças é o estresse e a tensão, pois prejudicam o
despertar de ideias criativas e a visualização de oportunidades.
Dessa forma, argumento nesse texto que cuidar do próprio corpo possui uma estreita relação com a
administração do próprio dinheiro.
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Como mudar hábitos de consumo
Já escrevi em artigos anteriores sobre a importância de Rever e Mudar paradigmas financeiros. A
importância de tais assuntos quando tratamos de mudança de comportamento em relação ao dinheiro
é imensa. Isso porque rever e mudar paradigmas significa transformar a maneira de pensar e ver o
mundo. É atacar a causa do problema e não apenas seus sintomas.
Todavia, após uma mudança na pessoa que você é, torna-se necessário colocar esse ponto de vista
em prática. E isso pode ser implementado de duas formas:
1) inserindo NOVOS hábitos que se mostrem em conformidade com seu novo olhar de mundo
2) mudando hábitos ATUAIS que não se adequarão mais à realidade que será construída
Criar hábitos que não existiam antes, que colaborem para suas finanças pessoais, passa pela
resposta à seguinte pergunta: quais atitudes seriam benéficas para que eu atingisse meus objetivos
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financeiros? Em seguida, dê prioridade aos hábitos mais simples de serem implementados e vá
colocando-os, paulatinamente, em sua rotina. Algo como: irei reservar 15 minutos, todos os dias, para
anotar todas as receitas e despesas, e classificá-las; ou até mesmo, uma vez por semana, irei verificar a
quantas anda meus investimentos e começarei a acompanhar novas modalidades que desconheço. E por
aí vai.
Mas o que gostaria de focar nesse texto é como mudar hábitos que hoje são nocivos às finanças?
Talvez, esses comportamentos, construído anos a fio, com base em paradigmas incorretos, sejam os mais
difíceis de extirpar. O que se pode notar, na literatura sobre o assunto, é que não basta boa vontade para
mudá-los.
Nesse contexto, Duhigg, em seu livro O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos
negócios, Editora Objetiva, nos oferece uma técnica para que a transformação possa ser bem sucedida.
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Simplifiquemos o entendimento de um hábito em três partes:
- Deixa: é um estímulo que faz com que seu cérebro entre em modo automático;
- Rotina: é algo que você faz, podendo ser físico, mental ou emocional;
- Recompensa: ajuda seu cérebro a memorizar certa atitude, para que seja novamente realizada no
futuro;
Para que possamos compreender tais características, vamos para um exemplo.
Maria, toda vez que sai do trabalho, passa no supermercado para ver se lembra de algo que esteja
faltando em sua casa. Geralmente, não busca nada em específico. E quando precisa realmente de algo,
acaba trazendo muito mais coisas do que deveria. Tal hábito tem se mostrado nocivo, pois os gastos com
supermercado são muito mais altos que a necessidade real dela e sua família.
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Pois bem, olhando para o exemplo, podemos dizer que a deixa é sair do trabalho e/ou passar em
frente ao supermercado, todos os dias. A rotina é ir ao supermercado. Sendo que a recompensa, precisamos de
uma análise mais atenta para identificá-la. Vejamos algumas hipóteses levantadas:
- Maria vai ao supermercado porque não gosta de ficar sozinha em casa, pois no horário em que sai
do trabalho, marido e filhos estão fora
- Ou seria uma necessidade física de caminhar no supermercado, após ficar o dia inteiro sentada na
empresa
- Ou até uma vontade de se entreter com algo que seja diferente de seus problemas diários no
trabalho
Identificar o que a agrada tanto no supermercado é uma tarefa árdua, mas crucial para a mudança
desse hábito. Assim, identificada a recompensa, o passo seguinte é traçar um plano para deixar de gastar
tanto todo final de dia. Veja um exemplo:
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Maria decide aproveitar a DEIXA de sair do trabalho, para criar uma nova rotina. Após uma análise
profunda, percebeu que a RECOMPENSA que realmente procurava era entreter-se e ver outras pessoas,
para acalmar os ânimos de um dia complicado em sua empresa. Então, decidiu criar a ROTINA de
caminhar todos os dias em um parque, perto de sua casa, ao invés de ir ao supermercado. Compras?
Apenas às sextas-feiras, com uma lista elaborada criteriosamente durante a semana – ou seja, criou também
esse novo hábito.
O que podemos notar é que Maria identificou as características de seu hábito nocivo (Deixa, Rotina
e Recompensa) e, a partir desse conhecimento, traçou um plano, mantendo a deixa, alterando a rotina, e
recebendo a mesma recompensa que o corpo estava acostumado.
Convido-lhe a, nesse momento, descrever um plano e encarar o desafio de mudar um hábito
simples de consumo. Que tal?
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
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A diferença entre agir e reagir, no contexto financeiro pessoal
Como sempre digo em minhas aulas, administrar o próprio dinheiro é uma arte, e não somente
um conjunto de técnicas. Cada ser humano é único, implicando que as decisões sobre como gerenciar
as finanças pessoais, devem levar em consideração as peculiaridades de cada indivíduo/família. Dessa
forma, educar-se, financeiramente falando, requer um conjunto de ações a serem colocadas em prática,
com o propósito de atingir objetivos que, muitas vezes, transcendem às questões puramente financeiras.
Dentro desse conjunto de ações, é possível destacar algumas importantes: gerenciamento de
riscos, desenvolvimento de habilidades, busca por novos conhecimentos, aperfeiçoamento das relações
interpessoais, planejamento do orçamento pessoal, definição de objetivos, dentre outros. Tais ações
significam, constantemente, buscar inovar, construir, diferenciar-se, ir além. Podemos inferir, portanto,
que o “sucesso” financeiro e pessoal é baseado em atitudes proativas, que pouco dependem de questões
externas, mas da própria força de vontade de fazer acontecer, de aceitar a possibilidade de mudanças.
Do lado oposto aos que agem buscando conquistar seus objetivos, estão aqueles que
apenas reagem às circunstâncias. Pessoas reativas, geralmente, estão ligadas ao conformismo, aceitação
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e submissão. Muitas vezes, essa postura defensiva tem sua origem no medo de errar. Não se assume
riscos, planejamento parece algo inalcançável, e as prioridades são sempre adiadas. Vive-se apenas o dia
a dia, gastando o precioso tempo disponível administrando conflitos (pagamento de dívidas, contas do
mês etc) e realizando tarefas que permitam alguma fuga da realidade (comprando compulsivamente,
navegando nas redes sociais, assistindo programas de entretenimento na TV, dentre outros).
O que estou querendo argumentar é que, sendo a administração do dinheiro uma arte, a forma
como nos comportamos diariamente irá refletir, indubitavelmente, na obra do próprio artista. Pessoas
que agem, farão de suas finanças pessoais um instrumento poderoso, em busca do bem estar físico,
psicológico, intelectual e espiritual. Já aquelas que apenas reagem, serão moldadas conforme o
ambiente em que estão inseridas, encontrando-se em posição passiva e cegas às oportunidades.
Certamente, apenas agir não é condição suficiente para atingir a felicidade, mas é necessária. As
ações devem estar pautadas em princípios sólidos e valores corretos. Isso porque de nada adianta ser
alguém proativo, se todo o esforço está sendo feito na direção errada. Para não cair nessa armadilha, é
preciso, primeiramente, se conhecer, definir as prioridades e focar naquilo que é importante. Somente
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dessa forma as ações financeiras se mostrarão adequadas, sendo os frutos colhidos ao longo do caminho
bastante saborosos.
Portanto, aja, e não apenas reaja! Além disso, busque o caminho certo.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.
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Use sua liberdade de escolha de maneira inteligente
Em seu livro O 8º hábito: da eficácia à grandeza, Editora Campus, Covey (p. 42) cita que três frases
marcaram sua vida, quando se deparou com elas em um livro:
Entre o estímulo e a resposta há um espaço.
Nesse espaço está nossa liberdade e a capacidade de escolher nossa reposta.
Nessas escolhas estão nosso crescimento e nossa felicidade.
Graficamente, esse processo que compreende o recebimento de um estímulo e o oferecimento de
uma resposta, pode ser expresso por:
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Sobre a liberdade de escolha No artigo anterior, comentei sobre a diferença entre agir e reagir, no contexto financeiro pessoal,
em que aceitar passivamente os obstáculos, acaba por tolher a capacidade humana de escolhas. E
também que é preciso ser proativo, e muitas vezes nadar contra a corrente, para que seja possível o
engrandecimento pessoal.
Mas nesse momento gostaria de focar na questão da liberdade de escolha, tal como definida no
fluxograma apresentado acima. Esse espaço entre estímulo e resposta deve ser utilizado de maneira
inteligente. Quando, por exemplo, vemos um produto na vitrine de uma loja, recebemos diversos
estímulos para a compra (visuais, sensoriais, e até olfativos, em alguns casos). Porém, entre esse
momento e a possível efetivação do negócio, é importante termos a consciência de que podemos
escolher entre comprar ou não.
Muitas pessoas abreviam o espaço de tempo em que deveria refletir sobre questões como: há a
necessidade de adquirir esse produto hoje? Não tenho eu outras prioridades? Eu apenas quero ou eu
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preciso desse produto? Ou seja, é preciso utilizar o espaço entre estímulo e resposta de maneira a
racionalizar a escolha, para que não se compre por impulso, prejudicando a própria saúde financeira.
Todos nós, seres humanos, somos abençoados com o dom da liberdade de escolha. Porém, muitas
pessoas abrem mão desse momento precioso, fazendo com que “o dia de ontem mantenha como refém
o dia de amanhã”. E assim, os hábitos vão se repetindo de maneira desorientada e fugindo do controle.
Portanto, o presente artigo é um convite ao desenvolvimento e aprimoramento de sua liberdade de
escolha. Para isso, primeiramente, é preciso ter a consciência que somos nós quem decidimos entre
comprar ou não algo: isso não deve ser imposto pela sociedade, nem vir de força de hábito. Em segundo
lugar, forçar o cérebro a escolher bem aumenta o leque de possibilidades, instigando o florescer de sua
criatividade, sua capacidade de inovação. Um terceiro benefício do bom uso da liberdade de escolha é o
sentimento de que o leme de sua vida está sob seu controle, em que você se torna o principal
responsável pela criação de seu futuro.
Pois é, um pequeno espaço de tempo, bem utilizado, pode mudar fazer toda diferença.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
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Razão e sensibilidade
O título deste artigo foi inspirado em filme produzido em 1995 e protagonizado por Emma
Thompson e Kate Winslet. Baseado na obra da escritora Jane Austen, as atrizes fazem o papel de duas
irmãs de personalidades distintas: a mais velha preza pela racionalidade em suas decisões, enquanto a
mais nova é movida pela emoção. Porém, mesmo com tais diferenças, a convivência entre elas é bastante
harmoniosa.
Ao rever tal filme, dias atrás, peguei-me a pensar como essas duas características humanas, razão e
sensibilidade, são importantes nas decisões financeiras do dia a dia. Vejamos, ambas, separadamente.
RAZÃO
Quando escolhemos o que, como e por que comprar algo, ou até mesmo em se tratando de
decisões de investimento, aconselho a utilização da razão no processo de julgamento sobre a melhor
alternativa. Isso significa angariar informações relevantes sobre a situação que está sendo analisada, de
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forma que se busque a melhor alternativa. Tomando-se como exemplo a compra de um carro, sugiro
algumas questões a serem pensadas, antes da aquisição:
- realmente é preciso comprar um carro? Se sim, precisa ser neste momento ou é possível adiar?
- irá comprar um carro zero ou usado? Por quê?
- quais atributos são mais importantes a serem levados em consideração: preço? Cor? Consumo de
combustível? Possuir ar condicionado? Ter um motor potente? Um grande espaço no porta-malas? Valor
a ser pago de IPVA e seguro? Não perder tanto valor no momento da venda?
- que modelos se encaixam dentro dos atributos mais importantes?
- entre modelos disponíveis, quais seriam os mais vantajosos, considerando-se os critérios
escolhidos?
- qual a melhor forma de pagamento? Existem concorrentes, que tornem possível pesquisar preço
de determinado carro em outras cidades, por exemplo?
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Perceba que as perguntas acima indicam um processo de decisão baseado em critérios, que se
aproximam do que julgo ser racional. Nesse caso, apesar de tornar a compra um processo “complexo”,
todo esse ritual faz com que o comprador amadureça suas intenções, analise vantagens e desvantagens,
e tenda a escolher de forma a aumentar sua probabilidade de acerto.
SENSIBILIDADE
De maneira geral, fortes emoções atrapalham boas decisões financeiras. Quando a sensibilidade
está à flor da pele, geralmente, o dinheiro é maltratado. Vejamos alguns exemplos:
- alguém muito apaixonado enche a pessoa amada de mimos, mesmo sem ter condições financeiras
para tal: é tudo em nome do amor;
- pais se endividam de forma a fazer todas as vontades dos filhos, pensando: “para eles vou dar tudo
o que eu não tive”;
- irmão empresta dinheiro para irmã endividada, em nome do grande afeto e confiança, mas depois
entram em atrito quando o primeiro percebe que dificilmente receberá o montante de volta;
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- aquele que sofre grande desilusão busca aliviar seu sofrimento indo ao shopping e comprando
compulsivamente;
- pessoa compra a casa própria, financiada em 20 anos, com uma parcela que irá apertar seu
orçamento, mas “todo sacrifício é válido quando se quer conquistar um sonho”.
Esses exemplos citados são bastante comuns e não se aplicam apenas às pessoas tidas como “mais
sensíveis”. Todos nós, de maneira mais ou menos intensa, em algum momento nos deparamos com
situações de paixão, compaixão, ódio, ansiedade, obsessão, dentre outras, que na maioria das vezes
acaba por prejudicar a boa administração do dinheiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme as argumentações acima, o que se nota é que, no campo das finanças pessoais, deve
haver uma dominância da razão frente às emoções. Porém, tal ponto de vista, de forma alguma, significa
que na vida devemos sempre ser mais racionais do que sensíveis. Muito pelo contrário. Na relação com
amigos e familiares, por exemplo, muitas vezes devemos aprender a olhar pelas lentes do próximo,
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mesclando fatores emocionais e racionais. A minha sugestão é que utilizemos e aperfeiçoemos cada uma
de nossas características, para usá-las quando forem necessárias. Se nas finanças, a razão leva certa
vantagem, na vida talvez razão e sensibilidade devam viver como as irmãs do filme: em harmonia.
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Privação e suas consequências no comportamento dos consumidores
Uma definição famosa (talvez simplista) do termo Economia refere-se à questão da “alocação de
recursos escassos”. Tal ideia baseia-se na “arte” de utilizar os recursos limitados (como tempo, dinheiro,
matéria–prima, dentre outros) da melhor forma possível. Podemos notar, portanto, que ao falar
em Economia, fatalmente estaremos tratando de termos relacionados a escassez e restrição, o que nos
remete ao tema do presente artigo: a privação.
Não é incomum ouvirmos relatos de pessoas que, ao passearem por um shopping center, se veem
na posição de desejar um produto e não poder comprá-lo. Tal sensação de privação ocorre porque os
recursos financeiros são limitados (por exemplo, salário), e quase sempre será necessário abrir mão de
algo, em troca de um consumo mais urgente, essencial ou de maior utilidade. Para a grande maioria, será
sempre assim. Precisaremos escolher como alocar nosso dinheiro (quais produtos e serviços consumir?
Onde investir?) na busca de maximizar nosso bem estar, privando-nos de certas coisas para obter outras.
Mas em que ponto pretendo chegar com essa minha exposição? Explico. Apesar de ser algo
aparentemente normal, em certos casos lidar com a questão da privação pode ser um martírio. Isso
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ocorre quando o conceito de felicidade baseia-se no TER, e não no SER. Para pessoas com esse
pensamento, privar-se, constantemente, de consumir bens e serviços, traz uma sensação de fracasso. Não
poder comprar as coisas que deseja significa uma vida à margem da felicidade. É corriqueiro ouvirmos
pessoas falando sobre o carro dos sonhos, de quanto seriam felizes se pudesse ter um closet cheio de
roupas novas ou até mesmo que dariam tudo para comprar o último lançamento de certo produto
eletrônico. É uma “cultura” que relaciona sucesso ao consumo.
O que desejo, portanto, argumentar neste artigo, é que quanto maior a pobreza de espírito de uma
pessoa, mais a sensação de privação lhe trará transtornos. Devido ao imenso vazio existencial, busca-
se preencher esse espaço com prazeres efêmeros, pautados em consumo. Todavia, como já citado,
os recursos financeiros são limitados. Chega um momento em que não é mais possível comprar o que se
deseja, restando apenas a sensação de impotência, baixa de autoestima e angústia.
A solução para esse problema está em reconhecer que a verdadeira riqueza situa-se dentro de
cada um de nós, e se constrói na relação com os outros, com o ambiente que nos cerca. Para pessoas
que realmente dão valor à riqueza do conhecimento, do amor e da amizade (para citar apenas alguns
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exemplos), lidar com a administração do próprio dinheiro tende a ser um processo menos doloroso. Isso
porque a privação de bens materiais e serviços será encarada de maneira natural, tendo um menor
impacto emocional ao longo do tempo. Veja como é fácil encontramos pessoas humildes, com pouco
dinheiro, mas cheias de alegria e amor para dar, apesar de todas as privações materiais.
Concluindo, meu conselho é que você gerencie seus recursos financeiros da melhor forma possível,
pensando tanto no hoje como no amanhã. Foque na segurança de seus familiares, fazendo com que o
dinheiro viabilize uma vida mais tranquila e cheia de conquistas. As privações existirão? Certamente. Mas
a forma com que ela interferirá em suas emoções dependerá apenas sobre quais valores e princípios seus
objetivos estão alicerçados. Vida pobre significa que a privação será um tormento. Se a vida é rica,
privação não será motivo para lamentações, mas apenas uma consequência da inevitável arte de
lidar com recursos escassos.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal!
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Prazer não traz felicidade
No presente post, irei falar de um livro chamado Flow: The Psychology of Optimal Experience, do autor
Mihaly Csikszentmihalyi. Digamos que fiquei apaixonado por essa leitura e que seu conteúdo revelou-me
uma nova maneira de encarar questões relevantes em minha vida pessoal e profissional. Em especial, as
páginas 46 e 47 deste livro foram relidas por mim inúmeras vezes, tamanho o impacto que me causou.
Então, decidi compartilhar essas ideias com você, leitor, neste artigo.
Inicialmente, será preciso fazer a distinção entre dois termos em inglês, de forma a assegurar a
correta compreensão das argumentações a serem expostas adiante.
- Enjoyment: em meu dicionário Oxford, um de seus significados é “o prazer (pleasure) que você
sente por algo”. Em outro dicionário (Longman), são sinônimos de enjoy: gostar de, aproveitar, desfrutar de,
gozar de. Já no Chambers, achei outro sinônimo: DELEITE. Esse termo, no dicionário Aurélio, traz o
significado de prazer inteiro, pleno.
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- Pleasure: no Oxford é trazido como sinônimo de enjoyment, tratando-se de “um sentimento ligado
à felicidade e satisfação”. Na maioria dos dicionários inglês/português, o primeiro sinônimo descrito
é prazer.
Veja, portanto, que nos dicionários, as definições de enjoyment e pleasure são bastante parecidas.
Porém, no texto de Mihaly, essas palavras são usadas de maneira completamente distintas e será preciso
diferenciá-las também neste artigo, para não gerar dúvidas. Assim, enjoyment será tratado
como DELEITE e pleasure como PRAZER. Apesar de em nossa linguagem coloquial os termos serem
similares e usados quase que indistintamente, para a compreensão da argumentação do autor, a
diferenciação é imprescindível.
Definido o uso dos termos que serão usados de agora em diante (deleite e prazer), apresentarei as
ideias das páginas citadas anteriormente, do livro Flow: The Psychology of Optimal Experience. Como
aparecem alguns termos técnicos que prejudicariam o entendimento do texto, sem a leitura dos
capítulos anteriores, apresentarei uma “quase tradução”, ou seja, a estrutura é muito similar à original,
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porém com alguns ajustes realizados por mim, no intuito de não prejudicar a compreensão da ideia
central.
PRAZER E DELEITE
Prazer é um importante componente de qualidade de vida, mas por si só, não traz felicidade.
Dormir, descansar, comer e fazer sexo (todos esses, exemplos de prazer) são atitudes que oferecem uma
fortificante experiência que permite que a consciência retorne à sua ordem, dado que o corpo possui
suas necessidades. Mas o prazer não produz crescimento psicológico. Ele não adiciona complexidade à
pessoa. Enfim, o prazer ajuda a manter a ordem, mas sozinho não consegue criar uma nova ordem
na consciência.
Quando se pede a uma pessoa que reflita sobre o que realmente importa em sua vida, ela tende a
se mover além das memórias prazerosas e começa a relembrar de ocasiões que se sobrepõem a estas
últimas. Tais experiências caem em categoria diferente do prazer: é o que denominaremos deleite. Esses
eventos ocorrem quando a pessoa não apenas atinge alguma expectativa prévia (ou satisfaz uma
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necessidade ou desejo), mas experimentam situações que vão além do que se programou fazer –
atingindo resultado inesperado… Talvez algo nunca imaginado antes.
Deleite é caracterizado como um movimento adiante: um senso de inovação, de realização. Ler um
livro que revele coisas novas, uma conversa que nos leve a expressar ideias que nunca ocorreram outrora,
terminar um trabalho árduo… Tais experiências talvez nem tenham sido prazerosas no momento que
estavam sendo vividas, mas no momento que as relembramos, isso é feito com alegria e gostaríamos que
acontecessem novamente. Depois de um evento de deleite, percebemos uma mudança, um crescimento
interior. Em certa medida, tornamo-nos mais complexos como resultado daquela experiência.
Prazer e deleite podem ocorrer simultaneamente, mas são completamente diferentes. A princípio,
todos nós temos prazer em comer. Mas deleite é algo mais profundo. Isso significa que podemos ter
prazer sem qualquer investimento em uma energia psíquica para tal, enquanto o deleite acontece
apenas quando investimos toda nossa atenção em algo. Portanto, é possível sentir prazer sem fazer
muito esforço, bastando apenas que os locais apropriados do cérebro sejam estimulados eletricamente
ou quimicamente através de alguma droga. Por outro lado, é impossível deleitar-se com um jogo de
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tênis, com a leitura de um livro ou com uma conversa, se a atenção não estiver focada completamente na
atividade em questão.
É por essas características que o prazer é tão passageiro, tendo como consequência que uma
pessoa não cresce ao entrar em contato com uma experiência apenas prazerosa. Há de haver
complexidade e investimento de energia em objetivos que são novos e que sejam desafiadores, para que
exista crescimento pessoal. Se uma pessoa, por algum motivo, tornar-se complacente e não desejar mais
aceitar desafios (não investir energia em novas direções), talvez nunca sinta deleite. Tal situação faz com
que o prazer seja a única fonte de experiência positiva para esse indivíduo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa forma de pensar expressa no texto de Mihaly veio ao encontro de muitas coisas que penso sobre
Educação Financeira, mas ainda não havia encontrado na literatura uma argumentação tão lógica e
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completa. O modo de vida atual me parece moldado a tolher a complexidade e a capacidade ao deleite.
Tudo é efêmero e as pessoas, no geral, vivem em busca de prazeres como uma roupa nova, um carro do
ano, o novo modelo de iPad, e por aí vai. A superficialidade está em todos os cantos e isso afeta em
demasia as finanças pessoais, pois boa parte do orçamento doméstico é destinada a prazeres
passageiros.
Para concluir, penso que podemos discutir sobre mercado de ações, novas regras da caderneta de
poupança, como pagar menos imposto, ou qualquer outro assunto técnico, todavia, se questões mais
profundas sobre nossa própria condição de ser humano não estiverem bem resolvidas, todo esse
tecnicismo será mero penduricalho. Ou seja, sugerir guardar dinheiro, para uma pessoa que se prive
do deleite e viva apenas de prazer, pode não fazer sentido algum. Pense nisso!!!!
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O que homeostase tem a ver com educação financeira
Antes de iniciar o artigo, apresento-lhe três casos a seguir:
1) Jorge decide fazer o controle de seu orçamento doméstico, anotando suas receitas e despesas
diariamente. Passadas duas semanas, ele DESISTE.
2) Angélica toma a decisão de ser uma pessoa mais organizada, passa o dia arrumando suas coisas,
etiquetando, criando diversas pastas e deixa tudo em ordem. Depois de um mês de dedicação, DESISTE,
sendo que semanas depois volta tudo à mesma bagunça de sempre.
3) Paulão, um obeso desde muito jovem, inicia uma dieta rigorosa, na busca de perder vários quilos.
Sonha com comida, se esforça para manter a rotina de alimentação saudável e exercícios e, numa primeira
crise de estresse, DESISTE, joga tudo para o ar e volta a comer de maneira contumaz.
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Pois bem, em todos os casos temos as mesmas características: a tentativa de uma mudança abrupta
nos hábitos diários e um fracasso ao seu final. Mas qual seria o motivo desses acontecimentos tão
corriqueiros em nossas vidas e daqueles que nos cercam? Alguns diriam: FALTA DE FORÇA DE VONTADE.
Até pode acontecer, mas talvez não seja apenas isso.
O autor George Leonard, em seu livro Mastery: the keys to success and long-term
fulfillment (traduzido no Brasil como Maestria: as chaves do sucesso e da realização pessoal) oferece uma
explicação um pouco menos óbvia, sugerindo o conceito de Homeostase para explicar muitos desses
casos.
Homeo significa igual e stasia estado. Logo, homeostase significaria uma tendência dos sistemas
biológicos em resistir a mudanças, ou seja, uma busca ao equilíbrio (à estabilidade). Isso implicaria,
segundo Leonard, que por questões fisiológicas os seres humanos tendem a oferecer equilíbrio ao corpo,
mesmo que inconscientemente. Também cita que já existe quem empregue o termo homeostase social,
em que o próprio meio em que o indivíduo vive, através de normas, conselhos, punições, privilégios etc,
acabam por fazer com que o indivíduo regrida a quaisquer mudanças bruscas.
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Portanto, uma característica biológica, que extrapola para outros campos, como o social, acaba
fazendo com que muitas pessoas se acomodem e aceitem as coisas como elas são. Sendo assim e
voltando aos exemplos do início do texto, devido à homeostase, Jorge aceitaria sua “sina” de nunca
conseguir guardar dinheiro, Angélica sua característica “imutável” de desorganizada e Paulão seu
“destino” de gordo. Com tais aceitações, aceitar o fracasso torna-se mais cômodo e as mudanças perdem
sua justificativa.
O problema de tudo isso é que, apesar de a homeostase ser fundamental para a manutenção da vida
dos seres vivos, explica Leonard, ela não faz distinção se permanecer no status quo é benéfico para nossas
vidas ou não. Ela simplesmente diz DESISTA, toda vez que uma mudança brusca é delineada pelo
indivíduo, mesmo que essa atitude seja algo positivo. É o próprio corpo/mente sabotando a si.
Dessa forma, chega-se a conclusão de que mudar, realmente, não é nada fácil. Existirão sempre
barreiras fisiológicas e psíquicas a lhe atormentar: é a homeostase agindo. E esse fenômeno será ainda
mais danoso às tentativas de mudanças, se o perfil da pessoa colaborar com a manutenção do estado,
digamos, “normal”. Ser uma pessoa acomodada, por exemplo, apenas potencializa os efeitos.
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Mas como ser livrar dessa característica inerente ao ser humano, quando a mudança desejada é,
claramente, positiva para ele. Leonard dá algumas dicas:
1) Compreenda como a homeostase funciona, e quando sentir algum sinal que pareça lhe
empurrar para traz, fique feliz, você realmente está mudando.
2) Negocie com sua resistência a mudanças, dando um passo para trás, sempre que desejar dar
dois a frente. Tenha determinação sem perder a consciência de suas limitações. Não importa de onde
venha a resistência (do corpo, família ou sociedade), esteja firme e preparado para negociar.
3) Desenvolva um sistema que lhe auxilie na mudança. É sempre bom ter alguém para avaliar se a
mudança está caminhando para o rumo certo e dar incentivos.
4) Pratique, pratique e pratique. Ganhamos estabilidade na mudança quando praticamos. A
prática é a base para tornar uma ação um hábito, que não exija esforço, nem dispêndio de energia
desnecessariamente. Ao criar o hábito de praticar, novas mudanças serão mais fáceis de serem
implementadas.
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5) Dedique-se ao aprendizado, SEMPRE. Aprender é muito mais que ler um livro. Aprender é
MUDAR, pois educação é um processo de mudança. Um aprendiz vitalício é aquele que aprende a
conviver com ahomeostase, simplesmente porque aprende o tempo todo.
É isso aí pessoal. Reconheça as barreiras que lhe impedem de começar a guardar dinheiro, enfrente-
as e crie hábitos financeiros saudáveis. A dica está dada.
Boa sorte em suas finanças e vida pessoal.