Produtividade, Câmbio e Salários: Evolução da Competitividade na Indústria Regis Bonelli (IBRE/FGV) 12º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas São Paulo, 15 de setembro de 2015
Produtividade, Câmbio e Salários: Evolução da Competitividade na Indústria
Regis Bonelli (IBRE/FGV)
12º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas
São Paulo, 15 de setembro de 2015
Motivação e Ponto de partida
• O crescimento insuficiente da produtividade é um dos principais obstáculos ao crescimento brasileiro
• Assim como para a economia como um todo, ele também é um dos obstáculos para a expansão da indústria de transformação
• Isso tem impacto relevante sobre a competitividade, dificultando crescimento da indústria – mas outros fatores também atuam
• Círculo vicioso
Roteiro(apresentação inclui resultados de trabalho com A. Castelar Pinheiro)
• Produtividade industrial no Brasil não apresenta, no longo prazo, sinal de convergência com a fronteira tecnológica– Muito pelo contrário
• Significativas diferenças de desempenho no tempo: valor adicionado e emprego– Quanto é estrutural? Quanto é conjuntural/cíclico?
• Desaceleração e estagnação recente da produtividade industrial
• Ganhos e perdas de competitividade desde meados de 1990s– Os custos unitários do trabalho (CUT) em US$ constantes;
comparação internacional
• Idem, em relação a uma cesta de moedas, preços correntes– Desempenho das exportações de produtos industriais
• Conclusão
Produtividade industrial: não convergência com a fronteira tecnológica mundial, representada pelos EUA (US$ constantes)
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Produtividade industrial BRA-EUA 10 por Média Móvel (Produtividade industrial BRA-EUA)
17%
12%
A perda de dinamismo industrial: desempenho por fasesIndústria de Transformação: Crescimento real, emprego e produtividade por
períodos (% a.a.)
Taxas médias de crescimento anual (% a.a.)
Períodos VA Indústria Emprego Produtividade
1949-61 9,6 3,1 6,3%
1961-67 (crise e ajuste) 3,5 3,8 -0,3%
1967-73 13,3 5,7 7,2%
1973-85 3,6 2,8 0,8%
1985-90 (superinflação) 0,2 3,9 -3,6%
1990-97 2,9 -2,3 5,3%
1997-14 (fase de prosperidade + crise) 1,4 2,4 -1,0%
1997-09 (queda produtividade) 1,3 2,8 -1,5%
2009-14 (estagnação produtividade) 1,7 1,6 0,1%
Total 1949-2014 4,6 2,6 1,9%
Ganhos e perdas: produtividade (pr. ctes de 2014; R$ mil)
Desempenho no período desde meados dos anos 1990 até recentemente se destaca dos demais; por quê? Nas NCN taxa 1996-2013 = - 0,7% a.a.
A que se deve o desempenho algo surpreendente da produtividade depois de 1997?
• Fases de queda ou estagnação da produtividade industrial sempre estiveram associadas a ajustes e/ou recessão– Meados dos anos 1960
– Segunda metade dos anos 1980: Planos de estabilização, hiperinflação e Plano Collor
• Mas no período mais recente, não
• Pelo contrário, bonança externa durante boa parte da 1ª década deste século sugeriria melhoria da produtividade– Que, de fato, foi o que aconteceu com a PTF para a economia
como um todo
Duas especulações [que não se excluem mutuamente] (1)
• Será que o desempenho ruim refletiu mudança estrutural no interior da Indústria, por atividades, beneficiando as menos produtivas?
• Ou foi essencialmente devido a ganhos/perdas internos às atividades?
• As PIAs de 1996 a 2013 ajudam a esclarecer– A resposta é que não foi a mudança estrutural
• Que de fato puxou a produtividade para baixo, mas pouco
– O pouco ganho observado, quando houve, pode ser atribuído aos ganhos nas atividades
Ganhos e perdas de produtividade 1996-2013(subdividido em dois subperíodos: 1996-2007 e 2007-13)
• Entre 1996 e 2007: efeito estrutural negativo, mas não muito forte (-2/51)
– Atividades com produtividade acima da média perderam participação relativa no emprego
• Todo o ganho foi por conta da produtividade nas, ou interno às atividades
• Líderes: Refino Petróleo (22%), Alimentos e Bebidas (15%), Metalurgia Básica (10%), Veículos Automotores (9%) e Produtos Químicos (9%)
• Entre 2007 e 2013: efeito estrutural também fracamente negativo (-3/36)
• Novamente, todo o ganho foi devido à produtividade das atividades
– Uma única atividade com contribuição negativa: Metalurgia
• Destaques: produtos alimentícios (produtividade abaixo da média, mas forte crescimento do emprego); derivados de petróleo (produtividade alta e crescente, queda no emprego); veículos automotores
• Mas efeitos pequenos para explicar a lenta/nula evolução da produtividade
Contribuições % para os aumentos de produtividade(soma dos dois efeitos; vários casos de líderes comuns aos dois períodos)
1996-2007 2007-2013
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Especulação (2)
• Outra resposta para o medíocre desempenho industrial vem da perda de competitividade
– Competitividade custo
– Uma medida: custo unitário do trabalho (CUT)
– Folha salarial medida em moeda estrangeira por unidade de produto
– Igual à relação entre o salário médio em moeda estrangeira e a produtividade
Rendimento real, câmbio e produtividade na indústria: o CUT em comparações internacionais (gráfico a seguir)
• CUT em dólares do Brasil aumentou significativamente entre 1995 e 2011
• Parte se deveu à apreciação do real– Outros países tiveram o mesmo desempenho (embora
mais suavemente)
• Forte alta do rendimento real no Brasil– Só superado pela Coreia
• Brasil teve produtividade decrescente– Único caso, no gráfico seguinte
– Depois de 2011, adiante
Custo Unitário do Trabalho da Indústria de Transformação, 1995-2011 (variação média anual em USD constantes)
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Taxa Câmbio Real Rendimento real
Produtividade CUT USD
CUT cesta de moedas Brasil 1996-2014(variações nominais, exceto produtividade)
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Produtividade VA/PO (pr. 2010)
Taxa de câmbio efetiva nominal
Salário médio nominal PIAs
Custo unitário do trabalho (cesta de moedas)
Variação anual do custo unitário do trabalho (cesta de moedas)
Idem, por subperíodos: desempenho da produtividade foi o oposto do desejável; câmbio
efetivo nominal ajudou em subperíodos
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1997-99 2000-04 2005-11 2012-14
Produtividade VA/PO (pr. 2010)
Taxa de câmbio efetiva nominal
Salário médio PIAs
Custo unitário trabalho (cesta de moedas)
Variação média anual do custo unitário do trabalho (cesta de moedas)
Em que medida a elevação do custo se deveu aos salários?
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Salário mínimo (1996=1)
PIB per capita (mensal)
PIA Salário médio nominal (mensal) (1996=1)
Aparentemente, não muito (exceto 2012-14): salário médio cresceu menos do que mínimo e PIB pc (Cresc. médio anual)
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1997-99 2000-04 2005-11 2012-14
Salário mínimo PIB pc Salário médio nominal (PIA)
CUT e desempenho comercial (Exp. e Imp. 2006=100)
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Quantum Exportações Indústria Quantum Importações Indústria
Import. Média 1996-2004
X aumentaram 10% a.a. e CUT +2% a.a. 1996-2005
X caíram -0,7% a.a e CUT +11% a.a. 2005-14
Conclusão (1/2)
• Desde a segunda metade dos anos 1990 a perda de dinamismo da indústria parece mais endógena, como refletido em uma retração ou estagnação da produtividade
• A partir de 2004-05 retrocesso é combinado com forte alta dos rendimentos reais do trabalho e apreciação do câmbio para gerar uma elevação significativa do custo unitário do trabalho (CUT) da indústria de transformação
• Combinação de queda/estagnação da produtividade, alta pronunciada do rendimento real do trabalho e apreciação cambial (até 2011)
Conclusão (2/2)
• Desvalorização cambial observada em 2012-2014 deu algum alívio à indústria
• Logo, perda de competitividade esteve mais concentrada no período 2004/05-11
• Perda de dinamismo da indústria de transformação brasileira esteve associada a uma perda prolongada de competitividade, como refletido no CUT relativo a outros países
• Mas que esse resultado parece ter sido mais a consequência de problemas internos do país, em especial o fraco desempenho da produtividade, do que de uma abertura comercial exagerada, ou táticas desleais de nossos parceiros comerciais.
• Se é assim, e para o futuro? Qual é agenda para a retomada da produtividade?