Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas Aplicação em telhas cerâmicas Rui João Santos Campos e Ramos Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Construção e Reabilitação Orientadores: Professor Doutor Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito Professor Doutor Pedro Manuel dos Santos Lima Gaspar Júri Presidente: Professor Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito Vogal: Doutora Ana Filipa Ferreira da Silva Cigarro Matos Outubro de 2016
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Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de
coberturas inclinadas
Aplicação em telhas cerâmicas
Rui João Santos Campos e Ramos
Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em
Construção e Reabilitação
Orientadores:
Professor Doutor Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito
Professor Doutor Pedro Manuel dos Santos Lima Gaspar
Júri
Presidente: Professor Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques
Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito
Vogal: Doutora Ana Filipa Ferreira da Silva Cigarro Matos
Outubro de 2016
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação i
Resumo
A presença de sinais evidentes de degradação no parque edificado em Portugal, apesar de este
ser relativamente recente, quando comparado com o de outros países europeus, está associada à
má prática de manutenção, traduzindo-se na perda de desempenho das construções, nas quais se
incluem os revestimentos exteriores cerâmicos de coberturas inclinadas. A qualidade e a
durabilidade das construções são essenciais para a qualidade de vida, constituindo parâmetros
fundamentais para a estabilidade social e económica das nações. Neste sentido, tem crescido o
interesse pela determinação da durabilidade e da vida útil dos materiais e dos componentes de
estruturas e de edifícios.
O objetivo da dissertação consiste no desenvolvimento de uma metodologia de estimativa da vida
útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas, aplicada a telhas cerâmicas, validada
através de uma campanha de inspeções visuais. A metodologia desenvolvida permitiu a obtenção
de resultados que demostraram ser adequados, verificando-se que a degradação dos revestimentos
depende de fatores que influenciam a sua vida útil.
Esta investigação envolveu uma amostra constituída por 149 revestimentos exteriores de
coberturas inclinadas, distribuídos por 86 edifícios, com uma área total de 44.748,0 m2, visando a
obtenção de informação relevante no apoio à decisão para gestão do património edificado.
Palavras-chave: vida útil, durabilidade, degradação, revestimentos, coberturas inclinadas, telhas
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
ii Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
Abstract
The progressive degradation of the building stock in Portugal, even though relatively recent when
compared with that of other European countries, is associated with poor maintenance practice,
translating into a loss of performance of buildings, and of its pitched roofs of ceramic tiles. The
quality and durability of constructions are essential to the quality of life, which are basic parameters
for the social and economic stability of the nations. In this sense, there has been growing interest in
the determination of the durability and service life of materials and components of structures and
buildings.
The purpose of this work is to develop a methodology to predict the service life of exterior
claddings of pitched roofs, applied to ceramic tiles, validated through a visual inspection campaign.
The methodology allows obtaining results that demonstrated to be adequate, verifying that the
degradation of claddings depends on factors that influence their service life.
This research involved a sample of 149 coatings of pitched roofs, distributed over 86 buildings with
a total area of 44,748.0 m2, which afforded relevant information to support the decision of property
management.
Keywords: service life, durability, deterioration, coatings, pitched roofs, roof tiles
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação iii
Agradecimentos
Ao terminar um período relativamente longo, durante o qual esta investigação foi desenvolvida,
chega a altura de recordar todos os intervenientes que permitiram concretizar o objetivo deste
trabalho, pessoas que têm permitido o desenvolvimento de conhecimento, que se espera de
interesse e utilidade para o mundo.
Agradeço ao Professor Jorge de Brito, pela incansável persistência e motivação para que este
trabalho pudesse ser desenvolvido; agradeço por ser um exemplo dotado das mais extraordinárias
capacidades de trabalho, demonstrado no seu espírito de sacrifício e abnegação, entregando ao
seu trabalho todo o esforço e inteligência em prol do desenvolvimento do conhecimento científico.
Ao Tenente-general Joaquim Manuel Nunes Borrego, enquanto meu comandante, agradeço pelo
seu apoio e contributo que permitiu a o desenvolvimento da dissertação.
Ao Coronel José Manuel Santiago, enquanto meu chefe, agradeço a confiança depositada na
minha pessoa, pelo seu exemplo e extraordinária capacidade de trabalho, que contribuíram para a
motivação e empenho neste trabalho.
À Professora Ana Silva, agradeço pelo seu apoio e motivação, pela disponibilidade demostrada e
pela contribuição para a qualidade deste trabalho.
Ao Tenente-Coronel Borges Ferreira, ao Capitão José Romão, ao Tenente Robalo, ao Tenente
Ricardo Simões, e todos os seus colaboradores, que permitiram e facilitaram o acesso às
coberturas.
Aos meus camaradas, Tenente-Coronel José Pereira, Major Cristina Fachada, Major Rute
Ramalho, Capitão Ana Gomes e Tenente Andreia Costa, pelo incansável apoio e motivação para a
conclusão deste trabalho.
À minha mãe, ao meu pai, às minhas irmãs, Carla e Clara, por acreditarem nas minhas
capacidades, e pela motivação durante toda a realização da dissertação.
Aos meus sogros, pelo apoio familiar, pela motivação e pelo contributo que permitiu concluir este
trabalho.
À minha esposa, Ana de Carmo, agradeço pela fé, pelo exemplo demostrado na sua capacidade
de trabalho, pelo sacrifício, por toda a abnegação e pelo seu permanente e incansável apoio
familiar, que permitiram a conclusão deste trabalho.
À minha filha, Glória de Carmo, agradeço pela compreensão na sua tenra idade, pelo seu amor, e
pelo tempo de brincadeira de que abdicou comigo, um dos bens mais caros da sua vida.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
iv Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
Índice geral
Resumo ............................................................................................................................................... i
Abstract................................................................................................................................................ ii
Agradecimentos .................................................................................................................................. iii
Índice de figuras ................................................................................................................................ vii
Índice de tabelas ................................................................................................................................ ix
Figura 1.5 - Curvas de Weibull, para valores de η de 40 e β de 3, 5, 7 e 9
1.5.2 Métodos probabilísticos
Os métodos probabilísticos constituem processos estocásticos regidos por variáveis aleatórias,
que definem parâmetros de afetação de uma curva média de degradação [27]. Nestes métodos,
1. Introdução
12 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
para além do valor estimado de vida útil, são acrescentados intervalos possíveis de valores com
probabilidades de ocorrência associadas [14]. Dada a existência de incerteza relacionada com as
formas de degradação e com a forma de irreversibilidade das condições de serviço respetivas,
recorre-se ao cálculo matricial ou probabilístico [34]. Estes métodos são relativamente complexos,
necessitando de grande quantidade de informação e, por isso, implicando enorme dependência de
trabalho de campo [15] [36].
O modelo de deterioração de Markov (Markov Chain) assenta numa abordagem estocástica, que
se baseia na hipótese de a deterioração ser definida a partir de um número limitado de condições.
Para cada critério de desempenho, são definidos parâmetros de desempenho escalonados de
acordo com a degradação do sistema. Para cada estado ou condição, é definida a probabilidade
de transição de estado por unidade de tempo, baseada em observações de campo, em função de
cada variável ambiental, formando-se matrizes de probabilidades de transição de estado [17].
Na Figura 1.6, apresenta-se a evolução da degradação, usando sete níveis de desempenho com
distribuições probabilísticas associadas.
Nív
el de D
esem
penho
Tempo/Idade
Figura 1.6 - Função de deterioração de Markov (adaptado de Moser [27])
1.5.3 Métodos de engenharia
Os métodos de engenharia conciliam as vantagens dos métodos determinísticos e dos métodos
probabilísticos. Por um lado, descrevem os processos de degradação de forma probabilística e,
por outro, mantêm a simplicidade de aplicação [27].
Segundo Hovde e Moser [33], os métodos de engenharia satisfazem três critérios:
o método é fácil de compreender (para engenheiros);
7
6
5
4
3
2
1
0 tn-1 tn tn+1
Curva média de degradação
Distribuições probabilísticas no nível de desempenho
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 13
o método é fácil e rápido de se aplicar;
os resultados são realistas (para as simplificações consideradas).
O princípio geral dos métodos de engenharia pode ser definido em quatro pontos, como se
apresenta [33]:
definição de uma equação que descreva a vida útil do edifício ou seus componentes, tendo em
consideração todos os parâmetros relevantes identificados. Para os casos padrão, pode ser
utilizada a equação do método fatorial, definida na ISO 15686-1. Noutros casos, têm que ser
criadas equações modificadas ou feitas à medida (a definição dos sete fatores corretivos do
método fatorial, como variáveis aleatórias, são um exemplo do método de engenharia [36]);
utilizar dados dos parâmetros da equação referida, obtidos a partir da experiência, da opinião de
peritos, etc., para criar qualquer tipo de distribuição de densidade de probabilidade para os
parâmetros individualmente identificados;
realizar o cálculo de vida útil;
rever a plausibilidade dos resultados usando opinião de especialistas e, quando necessário,
modificar os dados de entrada em conformidade, ou seja, entrar em maior detalhe na criação de
parâmetros para as variáveis dominantes da vida útil.
1.6 Estrutura da dissertação
A dissertação é constituída por cinco capítulos, bibliografia e anexos:
capítulo 1: Introdução - neste capítulo, faz-se uma abordagem ao tema da dissertação,
definindo o seu objetivo e a metodologia adotada; expõe-se os conceitos relacionados com a vida
útil e descreve-se, de forma resumida, os principais métodos existentes; no encerramento deste
capítulo, apresenta-se a estrutura da dissertação;
capítulo 2: Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - no segundo capítulo,
apresenta-se um levantamento do estado da arte relativamente aos RECI, classificando-se os
diversos tipos de revestimentos e de coberturas inclinadas; define-se as exigências funcionais,
classifica-se e caracteriza-se as anomalias mais frequentes; por fim, classifica-se os fatores de
degradação associados às anomalias;
capítulo 3: Trabalho de campo - no terceiro capítulo, descreve-se o objetivo e a metodologia
adotada no trabalho de campo; caracteriza-se as anomalias e define-se os níveis de degradação
correspondentes, de acordo com cada grupo de anomalias; define-se a informação a registar na
ficha de inspeção e diagnóstico; e analisa-se os dados recolhidos em campo, caraterizando a
amostra obtida;
capítulo 4: Metodologia de estimativa de vida útil de RECI - no quarto capítulo, apresenta-se
a metodologia para estimativa da previsão de vida útil de revestimentos exteriores de coberturas
1. Introdução
14 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
inclinadas; com base nos dados recolhidos no trabalho de campo, analisa-se a evolução da
degradação, de acordo com as caraterísticas dos revestimentos, a extensão e a severidade da
degradação para cada grupo de anomalias; por fim, discute-se os resultados obtidos, avaliando a
validade do modelo de previsão proposto;
capítulo 5: Conclusões - no último capítulo, apresenta-se as conclusões gerais sobre o
trabalho desenvolvido e as recomendações sobre desenvolvimentos futuros.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 15
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
2.1 Considerações iniciais
Segundo a associação americana National Roofing Contractors Association (NRCA), o sistema de
cobertura representa um dos principais e maiores investimentos em edifícios, dada a necessidade
de ser durável, impermeável à água e de funcionar como isolamento térmico [37].
Patterson e Mehta [38] referem que as coberturas são os elementos mais críticos dos edifícios, no
entanto, como mencionado por Hassanain et al. [39], são consideradas como inestéticas e, como
nem sempre são visíveis, o investimento realizado durante a fase de construção e com a sua
manutenção é o menor em todo o edifício; o que não está de acordo com a leitura da NRCA.
As coberturas estão mais expostas a fatores ambientais severos do que qualquer outro elemento
dos edifícios, tendo de resistir à ação da chuva, da neve, à radiação solar, ao vento, a
tempestades e, em alguns casos, a ações humanas abusivas [40]. Torna-se, então, fundamental,
compreender as coberturas, em particular os RECI, dada a importância e atenção que merecem
como a “pele” mais solicitada dos edifícios.
2.2 Classificação de revestimentos e de coberturas inclinadas
As coberturas inclinadas apresentam, por definição, uma inclinação superior à das coberturas
planas. A Associação Portuguesa de Industriais de Cerâmica de Construção (APICC) [41]
diferencia as coberturas inclinadas das planas a partir de 8º de inclinação. De acordo com o
Eurocódigo 1 - NP EN 1991-4 (alínea 1 do ponto 7.2.3), as coberturas planas compreendem
inclinações entre +5º e -5º com o plano horizontal. Mas existem outros critérios de classificação.
Por exemplo, Khuncumchoo [40] refere que as coberturas têm duas classificações genéricas: até
14º (razão de 3:12) são de baixa inclinação e a partir de 14º são de elevada inclinação.
Em termos estruturais, a APICC define quatro tipos de elementos constituintes de uma cobertura
inclinada [41]:
estrutura principal, que constitui os elementos que permitem dar forma e sustentar todo o
conjunto da cobertura; a estrutura de cobertura inclinada pode ser executada em madeira, ripado
cerâmico, ou laje aligeirada, ou maciça em betão armado;
estrutura secundária, que compreende todos os elementos que sustentam o revestimento de
uma cobertura inclinada;
revestimentos, com a função de proteger o sistema das ações dos agentes atmosféricos;
forro, que constitui uma proteção térmica, impermeável e acústica ao espaço interior.
As coberturas inclinadas, e os revestimentos respetivos, podem assumir diversas configurações e
a sua definição depende de condições ambientais, da utilização, da geometria e das dimensões
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
16 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
dos edifícios que servem. Na Tabela 2.1, são apresentadas várias formas de classificar as
coberturas, em função das suas características.
Tabela 2.1 - Classificação de revestimentos e de coberturas inclinadas
Característica de Classificação
Classificação Observações
Número de vertentes [24], [42]
Uma água Designação de telheiro
Duas águas Intersecção em caleira ou cumeeira
Quatro águas Intersecção com uma cumeeira e quatro rincões
Pavilhão Forma particular de cobertura com quatro águas - interseção em quatro rincões sem cumeeira
Funcionamento estrutural [43]
Diferenciadas
Os elementos de revestimento descarregam sobre elementos de maior rigidez, como vigas, asnas e arcos
Indiferenciadas
A estrutura de suporte vence o vão principal, desempenhando, em simultâneo, funções de revestimento
Tipo de estrutura [43]
Contínua A estrutura de suporte contínua pode ser em laje estrutural de betão armado
Descontínua
As estruturas descontínuas podem ser em madeira, metal, vigotas de betão armado ou pré-esforçado, mistas ou alvenaria
Natureza dos materiais de revestimento [24], [43], [44]
Pétreo natural Soletos de ardósia, granito ou calcário
Pétreo artificial
Telha cerâmica, telha de microbetão, fibrocimento, soletos de pedra artificial. Estes revestimentos são os mais aplicados em edifícios correntes
Metálico
Chapas de zinco, de aço galvanizado e de aço inoxidável. Folhas de cobre, placas de chumbo e telhas metálicas. Estes revestimentos são frequentemente aplicados em edifícios industriais ou pavilhões
Plástico
Chapas de policloreto de vinilo, poliéster reforçado com fibras de vidro, polimetacrilato de metilo e alveolares de policarbonato
Mistos
Chapas de aço revestidas com betume e folha de alumínio, painéis sanduiche com camada de isolamento térmico e telhas asfálticas
Vegetal Colmo, palha e ramos de árvores
Forma dos elementos de revestimento [24]
Planos Curvos Ondulados Trapezoidais Mistos
Exemplos: as telhas cerâmicas são elementos de plana ou ondulada; as telhas de microbetão e elementos de forma plástica apresentam maioritariamente forma ondulada
Dimensão dos elementos de revestimento [24], [44]
Pequenos
Telhas e soletos - elementos fáceis de transportar; revestimento fácil de executar, fácil de substituir e boa capacidade de adaptação às características geométricas da cobertura
Médios
Revestimento com reduzida quantidade de juntas, permitindo maior estanqueidade, face aos elementos de pena dimensão
Grandes
Revestimento com reduzida quantidade de juntas, permitindo maior estanqueidade, face aos elementos de pena dimensão
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 17
2.3 Exigências funcionais
Para que os RECI desempenhem a função para a qual foram concebidos, deverão ser
estabelecidos alguns critérios. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil [45] propõe uma
classificação de exigências funcionais, conforme apresentado na Tabela 2.2.
Tabela 2.2 - Classificação das exigências funcionais dos RECI [45]
Exigências de segurança
Segurança estrutural Dimensionamento para ações
Segurança contra incêndio
Comportamento ao fogo dos elementos de construção
Reação ao fogo dos materiais
Resistência a ações por utilização normal
Ações de punçoamento
Ações de choques acidentais
Acão dos agentes atmosféricos
Segurança contra as intrusões
Exigências de habitabilidade
Estanqueidade Água / neve
Poeiras / permeabilidade ao ar
Conforto higrotérmico
Isolamento térmico
Suscetibilidade de condensações
Proteção solar
Conforto acústico Sons aéreos
Sons de percussão
Conforto visual
Iluminação natural
Refletividade da camada de proteção
Aspeto Exterior
Interior
Pureza do ar
Iluminação
Exigências de durabilidade
Manutenção do desempenho
Resistência mecânica
Estabilidade dimensional
Resistência química
Comportamento ao gelo / degelo
Limpeza, manutenção e reparação
Exigências de economia
Limitação do custo global
Custos de construção
Custos de conservação, manutenção e reparação
Outras exigências
Estabilidade geométrica
Processo construtivo
Sustentabilidade
Os materiais que constituem estes revestimentos devem respeitar normas de qualidade, como a
Diretiva Europeia dos Produtos da Construção 89/106/CE, que estabelece a obrigatoriedade de
aptidão para o uso a que se destinam [46].
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
18 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
A escolha do tipo de revestimento depende do tipo de utilização do edifício, das exigências
estéticas, da economia e, sobretudo, da durabilidade pretendida.
2.4 Tipos de revestimentos
Atualmente, os revestimentos exteriores de coberturas inclinadas são bastante diversificados.
Apesar de a telha cerâmica constituir o revestimento tradicional dos edifícios correntes em Portugal,
a utilização de telha de microbetão e de telha asfáltica tem vindo a crescer nos edifícios de
habitação.
A escolha do revestimento é especialmente condicionada pela utilização atribuída ao edifício,
estando disponíveis revestimentos de fibrocimento, metálicos e plásticos, e soluções mistas de
painéis sanduíche, constituídas por chapas metálicas perfiladas preenchidas por poliuretano,
poliestireno expandido ou lã mineral e painéis de telhas asfálticas combinadas com poliuretano e
película de alumínio na face interior.
Os revestimentos podem ser agrupados em cinco grupos, em função do material constituinte,
conforme a Tabela 2.3. Esta tabela, adaptada da Tabela 2.1, não contempla o revestimento do tipo
vegetal cuja aplicação nas construções não apresenta expressão significativa, por ser constituído
por colmo, palha e ramos de árvores.
Tabela 2.3 - Classificação de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas [43]
Tipo de revestimento Denominação
Pétreo natural
Ardósia
Granito
Calcário
Pétreo artificial
Telha cerâmica
Telha de microbetão
Fibrocimento / naturocimento
Metálico Aço; alumínio
Cobre; zinco
Plástico
Acrílico (polimetacrilato de metilo)
Policarbonato
PRFV (poliéster reforçado com fibras de vidro)
PVC (policloreto de vinilo)
Mistos
Chapas compostas
Painéis sanduíche
Telhas asfálticas
Telhas metálicas
2.4.1 Revestimentos pétreos naturais
Dos revestimentos naturais, são os soletos de ardósia que apresentam alguma expressão em
Portugal. No entanto, a aplicação da ardósia é muito restrita, ocorrendo sobretudo em recuperação
de casas típicas transmontanas [43]. Os soletos de ardósia apresentam elevada estabilidade
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 19
dimensional, quando sujeitos a elevadas variações de temperatura, e isolam termicamente melhor
a cobertura do que as telhas cerâmicas, dado que apenas absorvem 1% do seu peso em
humidade, enquanto as últimas absorvem 12% [47].
Tipicamente, este material é aplicado sobre um forro em madeira, sobre um ripado de madeira, ou
sobre um forro flexível, sob o ripado, conferindo maior estanqueidade à cobertura. Os soletos são
fixos com grampos de aço galvanizado e as suas singularidades são executadas em cobre ou
chumbo [24].
O granito e o xisto não apresentam, atualmente, viabilidade para aplicação nas construções, na
medida em que existem diversas alternativas de produção em série disponíveis no mercado. O
xisto, por exemplo, exige mão-de-obra especializada e a sua aplicação é realizada com elementos
que não apresentam formas padronizadas e em que o resultado final, em termos de acabamento,
estética e impermeabilização, depende fortemente da experiência do aplicador.
2.4.2 Revestimentos pétreos artificiais
2.4.2.1 Telha cerâmica
A telha cerâmica integra o revestimento de coberturas inclinadas mais frequente em Portugal. A
sua preferência tem por base as vantagens, comparativamente com os restantes revestimentos:
possibilidade de criar diferentes estilos arquitetónicos, devido às diversas formas e peças
acessórias; qualidade; elevada durabilidade; bom desempenho face às ações dos agentes
atmosféricos; e matéria-prima de reduzido custo [23] [43].
As telhas distinguem-se, sobretudo, através do seu encaixe e geometria. O mercado português
dispõe de grande variedade de telhas cerâmicas, com várias opções em termos de forma,
coloração e textura. As telhas com maior expressão são a telhas do tipo lusa, marselha, canudo,
romana e plana, integrando as coberturas inclinadas da maioria dos edifícios tradicionais, edifícios
correntes de habitação e de comércio, edifícios industriais antigos, igrejas e pavilhões.
2.4.2.2 Telha de microbetão
As telhas de microbetão tiveram origem no Norte da Europa, em locais onde a argila é de
baixa qualidade e a resistência ao gelo é fraca. Estas telhas apresentam boa estabilidade
dimensional, boa estanqueidade, elevada resistência mecânica, pouca sensibilidade às
variações térmicas e bom comportamento em zonas costeiras ou afetadas pelos ciclos
gelo-degelo. Em termos estéticos, as telhas de microbetão adaptam-se às necessidades das
generalidades das coberturas, dispondo do um largo espectro de cores e de acabamentos.
Face às telhas cerâmicas, este RECI apresenta maior peso, com consequências negativas ao
nível da estrutura de suporte e maior consumo energético para produção.
Para produção das telhas de microcimento, é utilizado como matéria-prima o cimento, a areia e a
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
20 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
água. A cor das telhas é obtida através da introdução de um pigmento na cor pretendida e a textura
pode ser variada em função das características do granulado aplicado. Os dois tipos de telhas de
microbetão disponíveis no mercado são a de perfil Duplo S e a de perfil Dupla Romana [24].
2.4.2.3 Revestimento em fibrocimento
O fibrocimento deve a sua origem a Ludwig Hatschek, que o patenteou em 1901, tornando-se um
dos materiais compósitos mais antigos usados na construção. Este material é incombustível,
inoxidável, pouco suscetível aos diferenciais térmicos e apresenta bom comportamento mecânico.
Devido à leveza que este material apresenta e à sua boa resistência mecânica, consegue vencer
grandes vãos e, associado à elevada resistência a agentes químicos, é adequado para edifícios
próximos do mar, edifícios de exploração agrícola e pecuária, unidades fabris, edifícios escolares
e pavilhões desportivos [24] [43].
A utilização do fibrocimento na construção está associada a um baixo custo e rapidez de
execução. No entanto, carece de cuidados acrescidos nas ações de inspeção e de manutenção,
implicando o uso de equipamentos elevatórios auxiliares e a uma substituição relativamente
demorada, quando comparada com telhas.
Atualmente o fibrocimento é produzindo com fibras sintéticas em substituição do amianto, sendo
aplicado como revestimento de cobertura ou subtelha, apresentando diversas formas, tais como
soletos, chapas planas e chapas onduladas, dispondo de dimensões, cores e peças acessórias
complementares diversas. Estes elementos podem ser aplicados sobre estrutura de madeira,
metálica ou de betão armado ou pré-esforçado. Em função do material da estrutura de suporte,
devem ser adotados elementos de fixação específicos; em estruturas de madeira, utiliza-se
tirefonds, em estruturas de betão, utiliza-se buchas autoexpansíveis e grampos e, em estruturas
metálicas, utiliza-se parafusos auto-roscantes com alheta e grampos [23].
2.4.2.4 Vidro
A utilização do vidro nos RECI garante a proteção da cobertura face aos agentes atmosféricos,
permitindo a entrada de luz natural. De acordo com Argilés, o vidro contribui para os ganhos
energéticos, que podem ser importantes na estação de inverno e favoráveis à obtenção de
conforto interior [48].
O vidro é durável e 100% reciclável, apresentado uma dureza elevada, bom isolamento elétrico,
baixa condutibilidade térmica, e variadas formas e tamanho. O vidro pode ser aplicado
integralmente em toda a área de cobertura como RECI, ou como complemento a outro material,
como é caso dos revestimentos de telha cerâmica.
2.4.3 Revestimentos metálicos
Os revestimentos metálicos são extremamente leves permitindo grande versatilidade de formas e
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 21
de vãos. As chapas metálicas são normalmente perfiladas, permitindo obter bom comportamento
mecânico, cujo desempenho é devido à geometria da secção e a partir da qual se obtém módulos
de flexão e inércias variadas.
Os RECI metálicos são aplicados, maioritariamente, em edifícios industriais, pavilhões
gimnodesportivos, hangares, edifícios agrícolas e de agropecuária, edifícios comerciais e
armazéns. A construção de coberturas metálicas é rápida, devido às grandes dimensões dos
painéis, e pouco onerosa.
Das dimensões habituais destes revestimentos resultam poucas juntas, diminuindo o risco de
infiltrações de água. No entanto, estes revestimentos necessitam de cuidados adicionais ao nível
da proteção anticorrosiva, que deve ser adequada ao meio ambiente, ao tipo de utilização e à
durabilidade pretendida. As proteções mais frequentes são os revestimentos pré-patinados, em
alumínio, zinco, liga de alumínio e zinco (galvanização), revestimentos anodizados (para
elementos em alumínio), orgânicos (lacagem), películas plásticas ou películas reflectantes [24].
2.4.4 Revestimentos plásticos
A aplicação dos revestimentos plásticos é adequada a coberturas de edifícios industriais,
comerciais e agrícolas, permitindo uma estrutura de suporte aligeirada devido ao reduzido peso
específico dos seus materiais. Os materiais que estão na base deste tipo de revestimentos
dividem-se em termoplásticos (PCV - policloreto de vinilo, PMMA - polimetacrilato de metilo e PC -
policarbonato) e termoendurecidos (PRFV - poliéster reforçado com fibra de vidro).
Os plásticos, quando incolores, permitem entrada de luz natural no interior dos edifícios, devido à
elevada transmitância de radiação visível. No entanto, a exposição do plástico aos raios
ultravioletas compromete a durabilidade deste material, na medida em que se tornam quebradiços
e progressivamente opacos. Este processo pode ser acelerado com a presença de humidade, o
que torna a aplicação deste material em zonas costeiras mais suscetível. Para aumentar a
resistência aos raios ultravioletas, podem ser revestidos com membranas protetoras.
Estes materiais são, ainda, muito suscetíveis à ação do vento, devido ao seu peso reduzido, e aos
diferenciais térmicos, havendo necessidade de se proceder a um dimensionamento de fixações
especialmente cuidadoso [24].
2.4.5 Revestimentos mistos
A combinação de diferentes materiais permite reforçar as fragilidades que cada material apresenta
isoladamente, obtendo-se uma solução mista mais equilibrada, de acordo com as propriedades
que forem selecionadas para o tipo e uso dos edifícios. Deste modo, os painéis sanduiche
apresentam uma maior resistência à corrosão, maior isolamento acústico e maior amortecimento
dos efeitos do ruído da chuva e dos sons aéreos. Entre estas soluções mistas, as mais comuns no
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
22 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
mercado estão representadas por painéis sanduiche, telhas asfálticas e telhas metálicas
revestidas com grânulos minerais [49]. Outros revestimentos, como as chapas de aço revestidas
com betume e folhas de alumínio, são pouco utilizados em Portugal [24].
Os painéis sanduiche são compostos por duas chapas metálicas em aço, ou em alumínio,
podendo os materiais das duas faces ser diferentes. O núcleo é, habitualmente, constituído por
poliuretano ou lã mineral. Estes painéis são aplicados, principalmente, em edifícios de comércio e
de serviços, em armazéns e em edifícios agrícolas. A elevada resistência mecânica, obtida pela
geometria definida pelas chapas e pelo seu afastamento devido à presença do núcleo, permite
obter vãos elevados e soluções estruturais leves e económicas. A proteção anticorrosiva e de
proteção atmosférica das chapas metálicas integrantes no revestimento misto é a mesma do que a
das chapas instaladas isoladamente.
Aa telhas asfálticas são constituídas por granulado cerâmico, betume oxidado, fibra de vidro e
areia de sílica, permitindo obter um material impermeável, flexível e reciclável. Este revestimento
deve ser aplicado sobre um forro, normalmente em placas de madeira ou em placas cimentícias
com fibrocelulose, o que se traduz num processo de aplicação relativamente simples. No entanto,
o rendimento da sua aplicação apresenta um índice relativamente baixo. Em locais de clima
quente, desaconselha-se a sua aplicação, uma vez que a elevada captação de radiação solar
pode originar a perda de componentes voláteis causando a fissuração [24].
As telhas e soletos metálicos revestidos com grânulos minerais são constituídos por um suporte
em aço galvanizado em ambas as faces, revestido com uma camada de primário epóxido, uma
camada em resina acrílica, granulados de rocha e aglomerante acrílico com fungicida. A sua
constituição permite elevada resistência aos agentes atmosféricos, boa resistência ao vento, às
variações térmicas e eficaz isolamento acústico [43] [49].
2.4.6 Revestimentos tradicionais
Os revestimentos tradicionais apresentam-se em diversos materiais, tais como colmo, palha e
outros revestimentos combustíveis. Em Portugal, a aplicação de revestimentos tradicionais não é
permitida, com exceção dos edifícios rústicos e isolados das restantes edificações, tal como
previsto no Regulamento Geral das Edificações Urbanas, art.º 153.
2.5 Patologia dos RECI
2.5.1 Classificação das anomalias
Os RECI constituem a primeira proteção dos edifícios, evitando que as agressões externas afetem
o desempenho de toda a construção. A degradação dos RECI compromete o comportamento e a
durabilidade dos materiais do edifício, principalmente devido à presença de humidade e de água
das chuvas, uma vez que a exposição à ação dos agentes atmosféricos é elevada.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 23
As anomalias nos RECI conduzem a uma vasta gama de manifestações patológicas provocadas
por determinados fenómenos ou causas, podendo ter origem na ação humana ou em fenómenos
naturais. As anomalias mais frequentes nos RECI foram estudadas por Garcez [23] e Lopes [24]
tendo sido proposta a classificação que se apresenta na Tabela 2.4.
Tabela 2.4 - Classificação de anomalias em RECI [23]
A-C CONDENSAÇÕES
A-D DESLOCAMENTOS / DEFORMAÇÕES
A-D1 deformações acentuadas do revestimento
A-D2 desalinhamento de elementos de revestimento
A-D3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
A-E DEGRADAÇÃO DO REVESTIMENTO
A-E1 acumulação de detritos
A-E2 corrosão
A-E3 descasque / escamação / esfoliação
A-E4 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
A-E5 diferenças de tonalidade / alteração de cor
A-E6 desagregação / oxidação (envelhecimento)
A-E7 fissuração / fratura
A-O DEFEITOS DE PROJETO / EXECUÇÃO
A-O1 defeitos nas fixações
A-O2 defeitos nos remates
A-O3 inexistência ou deterioração de cordões de estanqueidade
A-O4 sobreposição insuficiente ou excessiva
A-O5 defeitos no sistema de isolamento térmico
A-O6 defeitos no sistema de ventilação
A-O7 inclinação insuficiente ou excessiva
A-O8 intervenções incorretas ou deficientes
A metodologia de classificação proposta agrupa as anomalias por tipologia e aspeto visual,
definindo-se 19 anomalias distribuídas em quatro grupos:
o grupo A-C contempla apenas as condensações, como uma das formas de manifestação da
humidade mais críticas em coberturas;
o grupo A-D reúne as anomalias relacionadas com deformações do revestimento e com o
descolamento de elementos que permitem a infiltração de água da chuva;
o grupo A-E constitui um conjunto de anomalias que se traduzem em envelhecimento e em
degradação, em alterações estéticas, em perda de coesão e em desgaste dos revestimentos e
dos acessórios das coberturas;
o grupo A-D é alusivo a defeitos de projeto / execução (que se traduzem em defeitos em vários
elementos de RECI, como fixações, remates, sistema de ventilação e de isolamento térmico), a
inclinações insuficientes ou excessivas e a intervenções inadequadas.
Para cada tipo de revestimento, Garcez [23] obteve uma relação de anomalias possíveis,
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
24 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
conforme apresentado na Tabela 2.5.
Tabela 2.5 - Relação entre as anomalias e os diferentes RECI [23]
As anomalias que se desenvolvem nos RECI devem-se, sobretudo, a deficiências de projeto e a
erros de execução que, de acordo com Argilés [48], citado por Garcez [1], representam entre 40 e
50% e entre 25 e 35%, respetivamente, de todas as anomalias.
Nos trabalhos de investigação de Garcez [23] e de Lopes [24], as anomalias analisadas nas
coberturas inclinadas obtiveram, como causas principais, erros de execução, seguindo-se erros de
projeto, representando 31% e 29%, respetivamente, das causas admissíveis (Figura 2.1).
Figura 2.1 - Distribuição das principais causas de anomalias em RECI [23][24]
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 25
Para que se reduza a ocorrência de anomalias nos RECI, é fundamental compreender como se
caracterizam e, conhecendo as causas que lhes dão origem, se possa atuar com eficácia sobre as
mesmas. A compreensão das anomalias e das suas causas prováveis permite, posteriormente,
proceder a uma análise de relação entre a condição dos revestimentos e a vida útil.
2.5.2.1 Condensações
A quantidade de água que o ar tem capacidade para conter é limitada e depende da temperatura.
A quantidade de água existente por unidade de volume de ar, ou de massa de ar, designa-se por
humidade absoluta, Ha, expressa em kg/m3, ou kg/kg de ar seco. Quanto maior for a quantidade
de água contida na massa de ar, maior será a pressão parcial, Pp, expressa em Pa. Quando um
determinado volume de ar atinge a capacidade máxima de contenção de água, atinge-se o limite
de saturação, Ws, e a correspondente pressão de saturação, Ps, ocorrendo o fenómeno de
condensação associado à quantidade de água em excesso.
O conceito de humidade relativa, Hr, permite compreender a quantidade de água por unidade de
ar, Ha, face ao limite de saturação, Ws, ou seja, a percentagem de água presente no ar até se
atingir a saturação, como traduzido na equação ( 5 ).
100P
P100
W
HH
s
p
s
ar ( 5 )
A humidade relativa aumenta com a variação negativa da temperatura, o que acontece até atingir o
limite de saturação do ar. Este fenómeno ocorre a uma determinada pressão de saturação específica
a que se designa “ponto de orvalho”, ou tensão de vapor, também dependente da temperatura.
Quando a temperatura na superfície dos RECI é muito baixa, o fenómeno de ocorrência de
condensações é facilitado, não sendo necessária a existência de uma humidade absoluta muito
elevada para que ocorra. Para evitar a condensação dos RECI, deve-se conhecer a produção de
vapor no interior do edifício, associada à sua utilização, e adequar o RECI a um sistema de
ventilação que permita um equilíbrio de pressões entre o ar exterior e interior no intradorso do
revestimento [50] [51]. Quando se justifique, esta solução pode ser acompanhada de uma barreira
pára-vapor e de um sistema de isolamento térmico apropriado, tendo em consideração a utilização
do edifício, em especial as piscinas, os balneários e as cozinhas [45].
A degradação dos RECI pode dever-se a condensações, traduzindo-se na redução de
caraterísticas térmicas e na deterioração dos elementos de suporte quando sujeitos a longos
períodos de contacto com a água. A presença de água proveniente de condensações promove a
formação de manchas escuras devido à retenção de poeiras e ao desenvolvimento de fungos e
bolores. Em RECI constituídos por telhas asfálticas, as condensações podem promover a
formação de bolhas de ar nos elementos e conduzir à sua fissuração, perda de aderência e à
perda de funcionalidade nas zonas de remate.
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
26 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
2.5.2.2 Deformações acentuadas do revestimento
As deformações acentuadas nos revestimentos podem ser caracterizadas em função dos
materiais dos RECI ou das estruturas de suporte, os quais são suscetíveis às solicitações que
sobre eles atuam, tais como: movimentações diferenciais do suporte, ações de inspeção e de
manutenção e de agentes atmosféricos.
A deformação nos revestimentos pode ser devida à falta de capacidade resistente nos elementos
estruturais, como consequência de um dimensionamento deficiente, de uma execução defeituosa,
ou a falta de manutenção que tenha permitido a deterioração por infiltrações de água das chuvas
ou acumulação de água de condensação.
Nos elementos metálicos, os erros de execução ou de conceção estão associados à aplicação de
materiais de fraca qualidade, a falhas na ligação entre os elementos, devido a corrosão, e a
problemas nos apoios.
Nos elementos em madeira, a desadequação entre a humidade em condições de serviço e a
humidade de secagem prescrita conduz a empenos, que podem ser agravados por dilatações e
contrações elevadas, conduzindo a abertura de juntas entre peças e empolamentos, com
consequências graves ao nível do revestimento exterior. Nestes elementos, a presença de
humidade e temperatura ideais pode conduzir à degradação da madeira por agentes biológicos,
tais como xilófagos marinhos, bactérias, fungos e insetos.
Os revestimentos constituídos por telhas cerâmicas, em microbetão, ou por soletos de ardósia
podem apresentar abertura de juntas entre elementos associada a deformações do suporte, que
afetam a estanqueidade da cobertura.
Os revestimentos constituídos por elementos metálicos, plásticos, em fibrocimento e por painéis
sanduiche, quando sujeitos a deformações dão origem a zonas de acumulação de água e de
detritos, que promovem um conjunto diversificado de anomalias [24].
2.5.2.3 Desalinhamento do RECI
O desalinhamento do RECI poderá estar associado à deficiente execução do ripado, influenciando
o seu desempenho. Quando os ripados são executados com recurso a elementos construídos em
argamassa, esta anomalia torna-se mais provável.
A ação do vento pode conduzir ao desalinhamento dos RECI, em especial quando construídos em
elementos metálicos, e, no geral, as ações de inspeção e de manutenção poderão conduzir ao
desalinhamento quando os elementos não se encontram devidamente fixos.
O desalinhamento do RECI pode conduzir a descontinuidades favoráveis à penetração da
humidade de precipitação.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 27
2.5.2.4 Desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
Os RECI com inclinações elevadas, que são incorretamente colocados ou que se encontram
degradados ou sem fixação, apresentam uma maior frequência de ocorrência de desprendimento /
descolamento [41]. A inadequação da tipologia da cobertura face à ação do vento e às restantes
condições climatéricas, ou o colapso da estrutura de suporte, são condições favoráveis a esta
anomalia [24].
O desprendimento / descolamento de RECI conduz à exposição dos elementos de suporte /
estruturais, e de outros elementos da construção, aos elementos atmosféricos, agravando a
patologia dos revestimentos.
2.5.2.5 Acumulação de detritos
A acumulação de detritos contribui para o aparecimento de vegetação parasitária, afetando o
escoamento das águas pluviais na cobertura. Esta situação favorece a fixação da humidade de
precipitação, resultando em infiltrações na cobertura, principalmente sob a ação do vento [41].
Os detritos acumulados sobre a cobertura podem resultar da existência de animais, tais como
pombos e gatos, de elementos vegetais transportados pelo vento, como ramos e folhas de árvores,
ou de objetos transportados em ações de manutenção ou devidos a atos de vandalismo [24] [25].
2.5.2.6 Corrosão
Os elementos de revestimento metálicos são suscetíveis à corrosão, um fenómeno eletroquímico
que pode conduzir à perda de funcionalidade destes RECI. A ocorrência de corrosão deve-se a
fatores metalúrgicos (corrosão intergranular e deszincificação dos latões), a condições de
utilização, a condições de exposição ambiental (proximidade do mar, humidade relativa, ambiente
químico / industrial), ao contacto entre metais de natureza distinta (corrosão bimetálica), e a erros
de conceção e de execução [24] [51].
As anomalias decorrentes de corrosão podem ser superficiais ou profundas. As anomalias
superficiais mais comuns são: perda de brilho / branqueamento, alteração de cor, manchas,
escorrimentos, empolamentos ou destacamentos do revestimento protetor / anticorrosivo. As
anomalias profundas mais comuns são: picadas / perfurações, diminuição de espessura e perda
do elemento metálico ou fissuras / fraturas.
A corrosão superficial pode ocorrer em faces exteriores ou em faces interiores. A corrosão nas
faces interiores deve-se, principalmente, à humidade de condensação, sobretudo em locais com
temperaturas baixas ou com elevada produção de vapor [52] [53].
2.5.2.7 Descasque / escamação / esfoliação
O descasque é uma anomalia que pode ocorrer em revestimentos cerâmicos, de microbetão e em
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
28 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
ardósia devido à exposição prolongada de ciclos gelo-degelo, principalmente quando não são
garantidas condições adequadas de ventilação.
A ardósia, apesar de garantir melhor estanqueidade à água das chuvas, apresenta facilidade em
soltar lascas devido ao seu processo de formação na natureza. Dado que se desenvolve por
camadas que constituem panos preferenciais de delaminação, quando as suas superfícies não
são polidas podem conter fissuras que dão origem a escamações.
A esfoliação das camadas de proteção de revestimentos metálicos e mistos pode dever-se à
corrosão que se desenvolve por camadas de forma paralela à superfície [23] [51].
2.5.2.8 Desenvolvimento de vegetação parasitária / crescimento biológico
A vegetação parasitária e o crescimento biológico constituído por fungos, líquenes, musgo ou
vegetação diversa fixam-se nos RECI afetando o escoamento da água e criando zonas de
estagnação. As zonas de estagnação facilitam a penetração da água promovendo novas anomalias.
Quando os RECI apresentam microfissuras, nomeadamente em elementos cerâmicos e em
microbetão, as raízes de alguns agentes biológicos podem dar origem a fissuras maiores. A
fixação destes agentes é promovida pela humidade, em zonas de sombra prolongada e a
excrementos de aves, que é facilitada quando não existem ações de manutenção [54].
2.5.2.9 Diferenças de tonalidade / alteração de cor
As diferenças de tonalidade ou alteração de cor podem dever-se ao processo de fabrico, à
degradação do RECI, à afetação da película protetora ou a manutenção inadequada [24].
As diferenças de tonalidade e alteração de cor não comprometem o desempenho da cobertura,
desde que o processo de fabrico assegure as exigências funcionais. No entanto, quando existe
exigência de RECI com a mesma tonalidade, as diferenças de tonalidade podem ser consideradas
uma anomalia.
2.5.2.10 Desagregação / oxidação
A interação dos RECI plásticos com a radiação solar e com os agentes atmosféricos promove a
oxidação, que se traduz na sua fragilização e perda de transparência. Esta anomalia afeta a
funcionalidade destes revestimentos, dado que são frequentemente utilizados a fim de permitir
entrada de luz nos edifícios.
Os produtos com base em microbetão, como o fibrocimento, podem sofrer deterioração por
agentes químicos agressivos ou por agentes atmosféricos, como o vento, humidade e ciclos
gelo/degelo. Os fenómenos principais de deterioração e de envelhecimento são a carbonatação, a
lixiviação e as chuvas ácidas.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 29
2.5.2.11 Fissuração / fratura
A fendilhação dos RECI pode dever-se à ventilação insuficiente ou inexistente, facilitando a sua
ocorrência com a geada. A rotura dos elementos cerâmicos pode ocorrer devido aos ciclos
gelo-degelo, a impactos como a queda de granizo ou de objetos, a circulação de pessoas, a
vandalismo, ou a excesso de peso de equipamentos instalados sobre a cobertura.
A fissuração pode ocorrer quando os elementos são fixos de forma demasiado rígida, conduzindo
a um conjunto de tensões internas excessivas quando sujeitos a diferenciais térmicos elevados.
2.5.2.12 Defeitos nas fixações
Os defeitos nas fixações podem dever-se à corrosão de parafusos ou de anilhas, a deformações
da estrutura de suporte ou do RECI, face a movimentações volumétricas, a aperto excessivo ou
insuficiente, à ausência de anilhas vedantes e a fixações excessivas ou insuficientes.
2.5.2.13 Defeitos nos remates
Nos remates, os elementos que apresentam anomalias são, geralmente, a cumeeira, o rincão, os
remates nas ligações entre vertentes, remates inferiores no beirado, no beiral, no algeroz, na
platibanda, remate lateral, remate com clarabóias, remates com chaminés, com tubagens, com
paredes emergentes, caleiras, larós, e juntas de dilatação [56].
Frequentemente, as práticas construtivas inadequadas, como a aplicação de argamassa em
excesso ou em elementos incompatíveis, provoca a dificuldade de escoamento de água ou
facilidade de infiltração através de fissuras, ou outras anomalias que surgem como consequência da
anterior.
2.5.2.14 Inexistência ou deterioração dos cordões de estanqueidade
Os cordões de estanqueidade, como os mastiques e as bandas betuminosas, garantem a
estanqueidade das coberturas. No entanto, nem sempre está prevista a sua aplicação,
considerando-se tal situação uma incorreta conceção. Noutras situações, ocorre a deterioração
destes materiais devido a ataque químico, a ataque dos raios ultravioletas, a variações volumétricas
do RECI ou da estrutura de suporte, e incorreto dimensionamento ou execução das juntas [24].
2.5.2.15 Sobreposição insuficiente ou excessiva
A sobreposição insuficiente ou excessiva ocorre em todos os tipos de RECI, comprometendo a
estanqueidade das coberturas. No entanto, a sobreposição insuficiente é mais gravosa, na medida
em que, pela perda de estanqueidade, o contacto frequente com a água conduz à perda de
funcionalidade e degradação dos materiais.
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
30 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
2.5.2.16 Defeitos no sistema de isolamento térmico
Os defeitos de isolamento térmico estão associados a erros de execução ou de conceção. Face às
exigências, o tipo de solução adotada pode não ser o mais adequado. A degradação precoce
deste elemento pode dever-se à inexistente, ou inadequada, proteção à ação da chuva, raios
ultravioletas, ações de manutenção e presença de animais.
2.5.2.17 Defeitos no sistema de ventilação
A correta ventilação permite reduzir a ocorrência de várias anomalias, pelo que os defeitos no
sistema de ventilação assumem particular preocupação. Entre as anomalias que surgem como
consequência de uma ventilação inexistente ou insuficiente, encontram-se o descasque, a
esfoliação e escamação por ação do gelo-degelo, a ocorrência de condensações, o
desenvolvimento biológico e a degradação da estrutura de suporte e elementos da construção.
Deste modo, a micro-ventilação e a ventilação do desvão da cobertura, devem ser assegurados. As
telhas de ventilação, ou acessórios de ventilação, devem ser instalados em quantidade suficiente;
caso contrário a sua inexistência, ou insuficiência poderá ser considerada uma anomalia.
2.5.2.18 Inclinação insuficiente ou excessiva
Para cada tipo de revestimento, deve ser adotada uma inclinação dentro dos limites, mínimo e
máximo, estabelecidos. Enquanto a inclinação insuficiente dificulta o escoamento das águas
pluviais - o que facilita a penetração de humidade e a acumulação de detritos e o desenvolvimento
de agentes biológicos - a inclinação excessiva pode conduzir ao deslocamento do RECI, ao seu
desalinhamento e ao desprendimento de elementos [24].
2.5.2.19 Intervenções incorretas ou deficientes
Quando as práticas construtivas associadas à correção de anomalias nos RECI são inadequadas,
surgem novas anomalias. Segundo Lopes [24], as práticas construtivas inadequadas estão
relacionadas com a aplicação de telas asfálticas e de mastiques no RECI fissurado, ou fraturado,
ou nas singularidades da cobertura, que pretendem garantir a estanqueidade. Garcez [23]
acrescenta, ainda, que a prática frequente de aplicação de argamassas nos revestimentos de
betão e de microbetão é incorreta por não resolver o problema da estanqueidade e por contribuir
para o aumento da carga sobre a estrutura de suporte e, por sua vez, o aumento de deformação.
A aplicação de telas pode comprometer a ventilação da cobertura e, dado que não se consegue
garantir a sua aderência ao suporte, poderá ocorrer a penetração de águas pluviais. Nestes casos,
os revestimentos devem ser substituídos e não reparados com produtos betuminosos.
2.5.3 Classificação dos fatores de degradação associados às anomalias
Os fatores de degradação dos RECI são apresentados numa perspetiva de tipificação das causas
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 31
que contribuem para a ocorrência de anomalias. Para o efeito, resume-se o sistema classificativo
apresentado por Garcez [23], baseado na divisão definida pelo Colégio Oficial de Arquitetos de
Madrid [57].
As causas podem ser divididas em dois grupos: causas diretas, ou próximas, e causas indiretas,
ou primeiras. Entre as causas diretas, encontram-se as ações de origem mecânica e ações
ambientais; entre as causas indiretas, encontram-se as associadas a erros de projeto, a erros de
execução e a erros de utilização ou de manutenção. As causas indiretas necessitam da
conjugação de uma causa direta para que se inicie o processo patológico.
2.5.3.1 Ações de origem mecânica
As ações de origem mecânica contribuem para a deformação da estrutura de suporte da
cobertura, com origem na circulação de pessoas ou de cargas sobre os revestimentos, na
instalação de equipamentos pesados sobre os revestimentos ou em impactos de objetos pesados.
2.5.3.2 Ações ambientais
As ações ambientais através da ação das chuvas, do vento, da radiação solar, da presença de
neve e de ciclos gelo-degelo são as principais causas de ocorrência de anomalias em RECI.
A ação do vento pode ser responsável por deformações dos revestimentos devido aos esforços
excessivos na estrutura de suporte ou nos próprios revestimentos. O desprendimento de
elementos de revestimento deve-se a situação pouco comuns de ventos fortes, principalmente em
coberturas com inclinações elevadas, ou em situações de elementos degradados, sem fixações,
ou incorretamente colocados.
2.5.3.3 Erros de projeto
Os erros de projeto constituem a maior causa de anomalias nas construções. Entre os erros de
projeto, encontram-se o dimensionamento incorreto das estruturas de suporte, conceção e
pormenorização incorreta das pendentes, dos sistemas de ventilação, dos remates, dos beirais,
das fixações e prescrições inadequadas de materiais.
2.5.3.4 Erros de execução
Os erros de execução devem-se à qualificação insuficiente da mão-de-obra e à subcontratação de
empresas cuja responsabilidade se pode perder em casos de subcontratação [58].
Os erros comuns de execução dizem respeito a:
sistemas de ventilação, nomeadamente à distribuição incorreta na cobertura;
sistemas de isolamento térmico, em particular quando a continuidade não é garantida permitindo
a existência de pontes térmicos que facilitam a ocorrência de condensações;
2. Revestimentos exteriores de coberturas inclinadas
32 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
desalinhamento dos elementos de revestimento, que afeta o efeito estético da cobertura ou
mesmo a sua funcionalidade;
uso excessivo de argamassas para fixação de elementos de cumeeira e de rincões, ou de
remates, ocorrendo fissuração e infiltração de humidade, desenvolvimento de vegetação
parasitária e ventilação deficiente;
uso incorreto de telas asfálticas sobre os revestimentos dificultando a sua ventilação;
fixação dos elementos de revestimento com aperto exagerado, que originam esmagamento,
fissuração, ou impedem a deformação livre dos elementos;
remates inadequados em chapas de policarbonato e ausência de cordões de estanqueidade em
cumeeiras e rincões de chapas metálicas.
2.5.3.5 Erros de utilização / manutenção
A inexistência de manutenção conduz à ocorrência descontrolada de anomalias, podendo gerar
novas anomalias. A principal causa de acumulação de detritos sobre os revestimentos é a
inexistência de manutenção, o que facilita o desenvolvimento de líquenes e de plantas,
dificultando o escoamento da água.
Intervenções deficientes podem, por outro lado, conduzir a deformações das estruturas de
suporte, normalmente associadas ao aumento de cargas sobre as coberturas. O incremento de
peso sobre as coberturas pode dar-se pela aplicação de argamassa para tentar aumentar,
incorretamente e de forma ineficaz, a estanqueidade do RECI constituído por telhas.
O uso de telas asfálticas é frequentemente usado ainda que incorretamente, impossibilitando a
ventilação das coberturas e, por sua vez, incrementando o peso dos revestimentos.
A substituição de elementos de revestimento, efetuada numa perspetiva de manutenção, ou de
reparação, pode conduzir a um efeito inestético, uma vez que nem sempre se obtém as mesmas
tonalidades.
2.6 Conclusões
Neste capítulo, apresentou-se a classificação de revestimentos e de coberturas inclinadas,
focando as suas exigências funcionais e caraterizando os vários tipos de revestimentos: pétreos
naturais, pétreos artificiais, metálicos, plásticos, mistos e tradicionais.
Em relação à patologia, procedeu-se à classificação das anomalias e à caraterização das
mesmas, de acordo com Garcez [23] e Lopes [24] e classificou-se os fatores de degradação,
numa perspetiva de tipificação das suas causas.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 33
3. Trabalho de campo
3.1 Considerações iniciais
A elaboração de uma MEVURECI assenta num estudo sobre a patologia de revestimentos
exteriores de coberturas inclinadas e sobre as metodologias de previsão de vida útil, combinado
com uma campanha de trabalho de campo que permita a sua validação. A realização de uma
campanha, baseada em inspeções visuais, tem em vista identificar, caracterizar, classificar e
quantificar as anomalias resultantes da degradação natural dos RECI.
3.2 Objetivos do trabalho de campo
Com o trabalho de campo, pretende-se caraterizar e classificar as anomalias evolutivas
atribuindo-se um nível de degradação. Para cada anomalia, é necessário avaliar a extensão da
área de revestimento afetado, identificando os fatores de degradação que lhes possam estar
associados de modo a compreender a sua influência na vida útil dos RECI.
O levantamento de características e de anomalias de revestimentos de coberturas inclinadas
permite estabelecer relações entre os parâmetros que caracterizam o estado patológico com a
idade, de modo a que, através da metodologia a desenvolver, seja possível prever a vida útil. O
estabelecimento de uma relação entre a idade e cada uma das anomalias compreende a
avaliação da extensão, a definição de níveis de degradação, os quais se prevê aumentarem com o
tempo de vida, e da severidade respetiva. Deste modo, recorrendo a inspeções visuais (como
método empírico [6]), a realização do trabalho de campo tem os seguintes objetivos:
levantamento das anomalias evolutivas;
avaliação da extensão da área de revestimento afetado por cada anomalia;
quantificação dos níveis de degradação para classificação das anomalias;
definição dos fatores de degradação associados às anomalias.
3.3 Metodologia
A previsão de vida útil de RECI depende das variáveis severidade e idade e, por isso,
necessariamente das caraterísticas da amostra adquirida com o trabalho de campo. Para
avaliação da condição da degradação dos RECI, recorre-se a uma escala qualitativa, utilizada pela
maioria das metodologias, conforme referido por Gaspar e Brito [59]. Esta escala é baseada em
diferentes níveis de degradação e balizada através da condição verificada na campanha, de
acordo com Marteinsson et al. [60] e Freitas et al. [61], citados por Silva et al. [4].
Neste sentido, considera-se as anomalias que apresentam natureza evolutiva a fim de serem
avaliadas, enquanto variáveis do modelo de previsão, associadas a fatores de degradação. Para
3. Trabalho de campo
34 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
este efeito, é necessário compreender a condição dos RECI e os fatores de degradação, de modo
a que a correta caraterização e classificação das anomalias permita desenvolver uma MEVURECI.
Para que a informação recolhida durante o trabalho de campo seja considerada uma
representação da realidade, é necessário definir os níveis de degradação de acordo com a
intensidade e o tipo de anomalia, independentemente da extensão da manifestação patológica [9].
Definindo-se um índice numérico, que exprima a degradação global dos revestimentos
inspecionados, é possível expressá-lo graficamente, usando os pontos que representam as
variáveis idade e severidade, cujos valores pertencem ao eixo das abcissas e aos eixos das
ordenadas, respetivamente [11]. Conhecendo o conjunto de pontos, num sistema de eixos
cartesianos, é possível determinar a curva de degradação dos RECI, traçando de uma curva de
regressão da amostra, tal como estudado por Shohet et al. [62].
3.3.1 Ficha de inspeção e diagnóstico
A recolha da informação obtida durante o trabalho de campo foi preparada através do
preenchimento de uma ficha de inspeção e diagnóstico (Anexo A), visando a padronização e a
organização dos dados, de modo a facilitar o seu tratamento. Os dados foram obtidos através de
inspeção visual, cruzando a informação disponível em plantas, sempre que foi possível aceder aos
projetos, e com auxílio da fotografia aérea para identificação dos edifícios.
A ficha de inspeção e diagnóstico segue o modelo de Garcez [23] e de Lopes [24], adaptando a
informação das fichas de Chai [17], de Ximenes [18], de Sousa [25] e de Silva [26]. Deste modo, a
ficha divide-se em duas partes:
primeira parte: caracterização geral do edifício, com referência às condições ambientais, e dos
revestimentos de cada uma das suas coberturas, com informação relativa a eventuais ações de
manutenção;
segunda parte: caracterização de cada anomalia e classificação respetiva, com atribuição do
nível de degradação correspondente, e avaliação da área afetada.
De acordo com a patologia relativa aos RECI, seleciona-se as anomalias suscetíveis de
caraterizar a condição de cada revestimento, procedendo à classificação e avaliação da área
afetada.
Relativamente à primeira parte da ficha, existem três parâmetros que devem ser esclarecidos
antes do trabalho de campo. Estes dizem respeito à exposição atmosférica (protegida, normal ou
exposta), à zona climática (um, dois e três) e à exposição a agentes poluentes.
De acordo com a Associação Portuguesa dos Industriais da Cerâmica de Construção (APICC)
[41], os edifícios estão sujeitos a um determinado grau de exposição que depende das condições
do local, conforme representado na Tabela 3.1.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 35
Tabela 3.1 - Grau de exposição atmosférica dos edifícios [41] [63]
Situação protegida Situação normal Situação exposta
Zona totalmente rodeada por elevações de terreno, abrigada face a todas as direções de incidências de ventos.
Zona plana, ou praticamente plana, podendo apresentar ligeiras ondulações do terreno.
Zona litoral até uma distância de 5 km do mar, sobre falésias, em ilhas ou penínsulas estreitas, estuários ou baías cavadas, regiões montanhosas e planaltos; em situações intermédias, podem surgir edifícios que comportem cinco ou seis pisos, situados em locais protegidos ou normais.
Em relação ao zonamento climático, que classifica o território em função da ação combinada da
precipitação e do vento, Portugal encontra-se dividido em três zonas, conforme apresentado na
Figura 3.1.
Figura 3.1 - Zonamento climático resultante da combinação vento / precipitação [41] [63]
Quando os edifícios se encontram próximos de vias urbanas principais, com elevado tráfego
rodoviário, considera-se que existe exposição aos agentes poluentes, preenchendo-se o campo
respetivo.
3. Trabalho de campo
36 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
A informação que consta na primeira parte da ficha de inspeção e diagnóstico é apresentada na
Tabela 3.2. A segunda parte compreende os registos referentes a cada anomalia identificada, com
a classificação do nível de degradação e com a avaliação da área degradada correspondente.
Tabela 3.2 - Informação constante na primeira parte da ficha de inspeção e diagnóstico
CARACTERÍSTICAS DO EDIFÍCIO
Localização
Ano de conclusão
N.º de pisos acima do solo
Quantidade de coberturas
Tipo de utilização: habitação / comércio / serviços / outro
Tipo de envolvente: rural / urbana / marítima / outra
Zona climática: zona 1 / zona 2 / zona 3 /
Proximidade do mar: < 1 km / ≤ 5 km / > 5 km
Exposição da cobertura: protegida / normal / exposta
Exposição a agentes poluentes: s / n
CARACTERÍSTICAS DA COBERTURA
Forma da cobertura: uma água / duas águas / três águas / quatro águas / em pavilhão ou piramidal / redonda / águas desencontradas / trapeira / em mansarda
Designação do RECI
Área total do RECI (m2)
Inclinação da cobertura (%)
Estrutura de suporte: madeira / metálica / mista / muretes de alvenaria / betão - contínua / betão - descontínua
Sistema de ventilação: micro-ventilação / ventilação do desvão / telhas de ventilação / beiral com ventilação / bandas de ventilação / ventiladores
Isolamento térmico: laje de esteira / vertente inclinada / não existe
Existência de barreira de vapor: s / n / ns
Existência de fixações: s / n / ns
Existência de forro: s / n / ns
Singularidades da cobertura: beirais ou beirados / cumeeiras ou rincões / larós / elementos emergentes / platibandas / paredes de bordo / caleiras exteriores / caleiras recuadas
MANUTENÇÃO
Tipo de manutenção ou de reparação
Data da última intervenção
3.4 Classificação e definição dos níveis de degradação
3.4.1 Classificação das anomalias
Garcez [23] e Lopes [24] analisaram 19 anomalias (Tabela 2.4) correspondentes ao domínio de
todos os tipos de revestimentos exteriores classificados na Tabela 2.3. No caso de RECI
constituídos por telhas cerâmicas, excluiu-se as anomalias A-E2 corrosão, A-E6 desagregação /
oxidação e A-O3 inexistência ou deterioração de cordões de estanqueidade, por não se verificar a
sua ocorrência neste tipo de revestimento (Tabela 2.5), conforme referido por Garcez [23].
Analisando as 16 anomalias relativas aos revestimentos cerâmicos, verificou-se que as do grupo
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 37
A-O defeitos de projeto / execução não apresentam caráter evolutivo. Dado que se pretende relacionar
a idade com a severidade das anomalias dos RECI, procedeu-se à exclusão das anomalias relativas a
defeitos nas fixações (A-O1), defeitos nos remates (A-O2), sobreposição insuficiente ou excessiva (A-
O4), defeitos no sistema de isolamento térmico (A-O5), defeitos no sistema de ventilação (A-O6),
inclinação insuficiente ou excessiva (A-O7) e intervenções incorretas ou deficientes (A-O8).
A anomalia A-E1 acumulação de detritos foi incorporada na A-E5 relativa a diferenças de tonalidade
/ alteração de cor, excluindo-se do estudo os casos que podem ser eliminados definitivamente
através de ações de manutenção simples. Nas situações em que se verifique que esta anomalia
afeta a tonalidade ou a cor, exigindo uma ação de manutenção próxima da utilizada para a
eliminação da colonização biológica, a mesma foi considerada com a classificação A-E5.
Assim, procedeu-se a uma nova classificação das anomalias, considerando apenas as evolutivas
(AE), organizando-as em três grupos, conforme apresentado na Tabela 3.3.
Tabela 3.3 - Classificação de anomalias evolutivas em RECI
Classificação de anomalias evolutivas Classificação de Garcez
[23] e de Lopes [24]
AE-E ESTÉTICAS
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica A-E4
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor A-E5
AE-F FUNCIONAIS
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação A-E3
AE-F2 fissuração / fratura A-E7
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento A-D3
AE-S ESTRUTURAIS
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento A-D1
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento A-D2
Para desenvolver uma metodologia de previsão de vida útil, há que considerar as anomalias que
afetam a durabilidade dos revestimentos e, para isso, deve-se estudar aquelas que são
modeláveis. Nesta situação, pressupõe-se que estas anomalias são evolutivas, sofrendo um
aumento do nível de degradação com o tempo de vida. O comportamento de cada anomalia será
comprovado com o trabalho de campo, podendo vir a excluir-se do estudo aquelas que não
demonstrarem sofrer evolução em função do tempo.
3.4.2 Níveis de degradação das anomalias
Para cada anomalia identificada, atribui-se uma classificação referente ao nível de degradação, de
acordo com uma escala que pretende explicar a condição dos revestimentos. Esta escala, definida
através de valores discretos, não é forçosamente caracterizada pelo tipo de área afetada, ou extensão
da mesma por cada anomalia, mas pela gravidade da degradação. Pretende-se que cada nível de
degradação corresponda a um patamar associado à consequência que determinada anomalia tem nos
revestimentos, em termos das exigências funcionais que poderão ser comprometidas.
3. Trabalho de campo
38 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
Assim, definiu-se cinco níveis de degradação, numerados de 0 a 4, em que o nível 0 corresponde à
inexistência de degradação (muito bom) e o nível 4 corresponde a degradação generalizada. Todos os
grupos são classificáveis nos cinco níveis de degradação.
3.4.2.1 Anomalias estéticas
As anomalias estéticas são classificadas de acordo com as suas consequências, em todos os
níveis de degradação. Para efeitos da determinação do nível de degradação, recorre-se à
quantificação da área afetada, relacionando-a com a área total da cobertura. Deste modo,
contabiliza-se as telhas afetadas por cada uma das anomalias deste grupo e multiplica-se cada
uma destas quantidades pela área unitária da telha. Os intervalos admitidos para cada nível de
degradação são apresentados na Tabela 3.4.
Por se considerar que as consequências das anomalias relativas ao desenvolvimento de vegetação
parasitária / colonização biológica (AE-E1) são mais gravosas do que as provocadas pelas
diferenças de tonalidade / alteração de cor (AE-E2), atribuiu-se a AE-E2 o nível 3 como máximo de
degradação, correspondente a degradação moderada; já que a classificação de degradação
generalizada pareceria exagerada para uma anomalia que não tem consequências graves. Os
intervalos que caraterizam os restantes níveis apresentam uma maior dimensão e percentagem de
área de RECI afetada pela anomalia AE-E2 do que os intervalos definidos para a anomalia a AE-E1.
A anomalia AE-E2 abrange o escurecimento do RECI devido a acumulação de detritos, que
requeira uma ação de manutenção, e que contribua para a alteração da tonalidade ou da cor.
Tabela 3.4 - Níveis de degradação para anomalias do grupo estéticas
Nível de degradação Caracterização das anomalias
AE-E Estéticas
Observação
% área de RECI afetada
Nível 0
Muito Bom
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor
AE-E1: não identificado
AE-E2: não identificado
Nível 1
Bom estado de conservação
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor
AE-E1: ≤ 10% Atotala
AE-E2: ≤ 20% Atotala
Nível 2
Degradação ligeira
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor
AE-E1: > 10% e ≤ 30% Atotala
AE-E2: > 20% e ≤ 50% Atotala
Nível 3
Degradação moderada
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor
AE-E1: > 30% e ≤ 50% Atotala
AE-E2: > 50% Atotala
Nível 4
Degradação generalizada
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor
AE-E1: > 50% Atotala
AE-E2: não aplicável
Nota: a valor da área total do revestimento de uma cobertura inclinada
3.4.2.2 Anomalias funcionais
O grupo referente a anomalias funcionais é classificado em todos os níveis de degradação, conforme
apesentado na Tabela 3.5. As anomalias que constituem este grupo são classificadas em função da
extensão de área afetada. Para determinação da área afetada, recorre-se à contabilização das
telhas afetadas e à área unitária da telha, multiplicando estas duas quantidades.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 39
A anomalia referente a fissuração / fratura (AE-F2) é mais gravosa do que a anomalia descasque /
escamação / esfoliação (AE-F1), pelo que os intervalos considerados apresentam menor
dimensão. Por outro lado, a ocorrência da anomalia AE-F2 pode conduzir a consequências
gravosas, pelo que não se considerou adequada a sua classificação no nível de degradação 1,
correspondente a bom estado de conservação.
A anomalia referente a desprendimento / descolamento de elementos de revestimento (AE-F3) é a
mais gravosa das três e, por isso, considerou-se como menos grave o nível 2. Nesta situação,
referente a degradação ligeira, considerou-se que a área afetada não deve ser superior a 5% da
área total (Atotal), o que revela o caráter gravoso atribuído à anomalia.
Tabela 3.5 - Níveis de degradação para anomalias do grupo funcionais
Nível de degradação Caracterização das anomalias
AE-F Funcionais Observação
% área de RECI afetada
Nível 0
Muito Bom
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação
AE-F2 fissuração / fratura
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
AE-F1: não identificado
AE-F2: não identificado
AE-F3: não identificado
Nível 1
Bom estado de conservação
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação
AE-F2 fissuração / fratura
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
AE-F1: ≤ 10% Atotala
AE-F2: não aplicável
AE-F3: não aplicável
Nível 2
Degradação ligeira
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação
AE-F2 fissuração / fratura
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
AE-F1: > 10% e ≤ 30% Atotala
AE-F2: ≤ 10% da Atotala
AE-F3: ≤ 5% da Atotala
Nível 3
Degradação moderada
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação
AE-F2 fissuração / fratura
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
AE-F1: > 30% e ≤ 50% Atotala
AE-F2: > 10% e ≤ 30% Atotala
AE-F3: > 5% e ≤ 10% Atotal a
Nível 4
Degradação generalizada
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação
AE-F2 fissuração / fratura
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
AE-F1: > 50% Atotala
AE-F2: > 30% Atotala
AE-F3: > 10% Atotala
Nota: a valor da área total do revestimento de uma cobertura inclinada
3.4.2.3 Anomalias estruturais
As anomalias do grupo estruturais manifestam-se ao nível de deformações acentuadas do
revestimento (AE-S1) e ao nível do desalinhamento de revestimentos (AE-S2). A classificação do
nível de degradação é apresentada na Tabela 3.6.
As anomalias estruturais analisadas no âmbito da dissertação dizem respeito apenas aos
elementos de revestimento, não obstante as suas causas poderem ter origem em anomalias da
estrutura de suporte. Nesta perspetiva, as anomalias que possam ocorrer na estrutura de suporte
das coberturas não são avaliadas. No entanto, recorre-se a alguns critérios de desempenho
utilizados ao nível da estabilidade, nomeadamente relacionados com os estados limite de
utilização, como ferramenta de análise à condição dos revestimentos.
3. Trabalho de campo
40 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
Tabela 3.6 - Níveis de degradação para anomalias do grupo estruturais
Nível de degradação Caracterização das anomalias
AE-S Estruturais Observação
% área de RECI afetada
Nível 0
Muito Bom
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento
AE-S1: não identificado
AE-S2: não identificado
Nível 1
Bom estado de conservação
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento
AE-S1: não aplicável
AE-S2: ≤ 10% Atotala
Nível 2
Degradação ligeira
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento
AE-S1: ≤ 25% Atotala
AE-S2: > 10 e ≤ 25% Atotala
Nível 3
Degradação moderada
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento
AE-S1: > 25 e ≤ 50% Atotala
AE-S2: > 25 e ≤ 50% Atotala
Nível 4
Degradação generalizada
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento
AE-S1: > 50% Atotala
AE-S2: > 50% Atotala
Notas: a valor da área total do revestimento de uma cobertura inclinada
As anomalias referentes a deformações acentuadas de revestimentos (AE-S1) são classificadas
com os níveis 0, 2, 3 e 4. Dado que nem todos os revestimentos têm o mesmo tipo de suporte,
procurou-se estabelecer intervalos de valores aceitáveis para a generalidade das estruturas. Deste
modo, cruzou-se informação relativa às estruturas mais frequentes, em betão armado, em madeira
e em aço. De acordo com o Eurocódigo 3, parte 1-1 [64] e Eurocódigo 5 [65], a flecha máxima
admissível para coberturas é definida através da expressão ( 6 ):
200
Lδmax ( 6 )
onde:
δmax - deformação vertical máxima;
L - vão medido entre apoios.
Dada a necessidade de obter uma referência para a deformação máxima aceitável dos RECI,
poderá, ainda, ser consultada a norma ISO 4356 [66], o AC 318.83 [67], o ACI Committee 435 [68]
e o Manual do CEB [69], a partir dos quais, e para o caso de áreas que deverão drenar água, se
considera que a deformação limite corresponde ao valor do comprimento do vão a dividir por 240.
Deste modo, assume-se que os revestimentos padecem de deformação acentuada quando a
flecha é superior ao resultado da razão entre o comprimento do vão e 200 mas, para efeitos de
classificação, apenas se regista o nível correspondente a degradação ligeira, quando este valor é
ultrapassado. A partir deste valor, a deformação torna-se evidente e, por este motivo, a não
classificação em nível 1 evita a dúvida que poderia surgir na diferenciação entre a classificação
relativa a bom estado de conservação e a degradação ligeira.
Assim, e de modo a conseguir facilmente classificar o nível de degradação, assumiu-se que a
degradação é ligeira (nível 2), de acordo com a expressão ( 6 ), quando visível sem necessidade de
recorrer a instrumentos de medição, mas com uma configuração suave e contida numa área igual ou
inferior a 25% da área da cobertura. Quando a deformação envolver uma área de revestimento
superior a 25% da área da cobertura, mas inferior a 50%, a degradação corresponde ao nível 3; será
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 41
de nível 4, caso a área de cobertura sujeita a deformação for superior a 50% da área total.
O critério usado para a classificação da anomalia correspondente ao desalinhamento de elementos
de revestimento (AE-S2), baseia-se na dimensão média dos diferentes tipos de telhas, usando como
referência o afastamento do ripado, ou seja, a distância entre apoios. Conforme apresentado na
Tabela 3.7, dependendo do tipo de telha, o espaçamento entre ripado varia de 15 cm a 46 cm.
Tabela 3.7 – Espaçamento entre ripado para os diferentes tipos de telhas [41] [70]
Espaçamento do ripado por tipo de telha (cm)
Lusa Marselha Canudo Romana Plana
33 a 45 37 a 39 25 a 36 25 a 46 15 a 38,5
Considerando a elevada amplitude, e os valores médios dos diferentes tipos de telha, propõe-se que o
espaçamento no valor de 40 cm seja utilizado como referência para o desalinhamento dos elementos
que constituem o revestimento. Assim, considera-se que o revestimento está em bom estado de
conservação quando o valor do desalinhamento, que corresponde à distância da telha mais desviada
da linha reta definida pela fiada, é da ordem da dimensão do elemento de RECI (Dreci) sobre 40. Deste
modo, o valor de desalinhamento aceitável é menor para elementos de revestimento de menores
dimensões, dado que a sua configuração geométrica tem menor capacidade para acomodar
divergências dimensionais em relação à sua instalação na fiada de RECI. Em campanha, o nível 1
pode ser atribuído se for possível perceber, sem recurso a instrumentos de medição, que existe
desalinhamento numa área inferior a 10% da área total da cobertura; para áreas de maior dimensão, o
nível de degradação pode ser 2, 3 ou 4, conforme Tabela 3.6.
3.5 Caracterização da amostra
3.5.1 Determinação da dimensão da amostra
Assumindo cada uma das anomalias independente das restantes, considera-se que, numa
perspetiva de inferência estatística, a dimensão da amostra deverá estar compreendida entre 10 a
15 vezes o número de variáveis independentes a pesquisar [71]. Não sendo conhecida a
quantidade de variáveis independentes, no início do trabalho de campo, e considerando a
necessidade de se obter uma amostra suficientemente grande (classificação estatística) de RECI,
a sua dimensão pode ser determinada em função de um nível de confiança (ou de significância) e
de uma precisão escolhidas [72], de acordo com a expressão ( 7 ):
n
p1pz )2/1(
( 7 )
onde:
ε - margem de erro, ou precisão do intervalo de confiança;
Z(1-α/2) - valor crítico, lido na abcissa da curva de densidade normal reduzida para o nível de
confiança correspondente a 1-α/2;
3. Trabalho de campo
42 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
p - proporção de elementos da população com caraterísticas de interesse;
n - dimensão da amostra.
Isolando n na expressão ( 7 ) é possível determinar a dimensão da amostra através da expressão ( 8 ):
p1pz
n2
2)2/1(
( 8 )
Não conhecendo a dimensão da população de RECI, mas compreendendo que o valor máximo de
p(1-p) maximiza a dimensão da amostra, n, para p pertencente ao intervalo entre 0 e 1, esse valor
ocorre para p=0,5. Assim, para um intervalo de confiança de 99% e uma margem de erro de 10%,
a dimensão da amostra é determinada de acordo com a expressão:
89,1655,05,001,0
636,65,015,0
1,0
576,2n
2
2
( 9 )
ou seja, 166 revestimentos. A mesma dimensão permite obter um intervalo de confiança de 95% e
uma margem de erro de 7,7%, como determinado através da seguinte expressão:
98,1615,05,000593,0
842,35,015,0
077,0
960,1n
2
2
( 10 )
3.5.2 Caraterização das construções analisadas
Foram inspecionados 167 revestimentos exteriores de coberturas inclinadas, com uma área total
no valor de 48.576,7 m2, pertencentes a 93 edifícios. Alguns destes revestimentos foram excluídos
da amostra, por se ter verificado a existência de inconsistências que permitem caraterizá-los como
outliers. Assim, excluíram-se 14 elementos por se ter verificado a existência de evidências físicas
que justificam a exclusão destes elementos, como recomendado por Matos [75], e quatro
elementos que, apesar de não se considerarem outliers, ainda não têm 1 ano de idade, não
contribuindo para a explicação da degradação em função do tempo.
Os quatro elementos com menos de um ano de idade encontram-se caracterizados nas fichas
72_1/2, 72_2/2, 73_1/2 e 73_2/2. O conjunto de 14 elementos considerados outliers encontra-se
caraterizado nas fichas de inspeção e diagnóstico com os números 17, 20_2/2, 52, 54_4/6, 54_5/6,
54_6/6, 57_1/2, 57_2/2, 61_1/5, 61_2/5, 61_3/5, 61_4/5, 63 e 64. Com a exceção do elemento
registado na ficha 61_4/5, todos os 13 revestimentos excluídos apresentam deformação ao nível da
estrutura de suporte principal, não fazendo parte do âmbito deste estudo. Para efeitos da construção
de uma MEVURECI, apenas se considera a deformação ao nível do revestimento, o qual envolve
apenas a estrutura secundária, ou seja, o ripado, o contra-ripado (quando existe) e a vara.
O revestimento a que se reporta a ficha 61_4/5 apresenta uma caleira exterior que recolhe águas
do beirado junto a um laró, encontrando-se subdimensionada, o que contribui para o registo de
uma degradação elevada para a sua idade, constituindo um outlier.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 43
Assim, a amostra para efeitos da MEVURECI é constituída por 149 revestimentos, distribuídos por 86
edifícios. A área total de revestimentos considerada tem 44.748,0 m2, com uma área média no valor de
300,3 m2, e os seus edifícios têm uma área média no valor de 520,3 m2. A área das coberturas
apresenta uma elevada amplitude de valores, desde 11,7 m2, para a menor cobertura, até 2011,5 m2
para a maior cobertura. Existem 27 edifícios que, devido à sua função e arquitetura, apresentam mais
do que uma cobertura, razão pela qual existe uma média de 1,7 coberturas por edifício.
Os revestimentos analisados pertencem a edifícios que se encontram caraterizados em termos de tipo
de utilização (Figura 3.2), número de pisos acima do solo (Figura 3.3), idade (Figura 3.4) e localização
(Anexo B). Estas caraterísticas permitem compreender, numa primeira análise, o contexto em que se
inserem os revestimentos, como a idade do edifício, que pode ser diferente da do revestimento; ou ter
uma noção da altura da cobertura, que será tanto maior quanto o número de pisos do edifício acima do
solo; e a função do edifício, que pode sugerir uma utilização mais produtora de humidade do que outra.
Os revestimentos analisados distribuem-se por edifícios cujas funções são maioritariamente de
serviços e de habitação, com um total de 85% dos RECI (Figura 3.2). O tipo de utilização que engloba
a maior quantidade de revestimentos é serviços, com 41% dos RECI, havendo um conjunto de 6% de
revestimentos que partilha a sua função entre serviços e habitação. Os edifícios que têm outros tipos
de função são utilizados para armazéns, oficinas e igrejas.
5661
23
9
38%41%
15%
6% 0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
0
10
20
30
40
50
60
70
Habitação Serviços Outros Mista (habitaçãoe serviços)
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Tipo de utilização
Figura 3.2 - Distribuição da amostra relativamente ao tipo de utilização
Os RECI inspecionados pertencem a edifícios com 1, 2 ou 3 pisos, tendo permitido aceder às suas
coberturas pelo exterior, com recurso a escadas portáteis na maior parte dos edifícios. A maioria
dos RECI pertence a edifícios com 1 piso, com 50% dos revestimentos, seguindo-se dos edifícios
com 2 pisos com 41% dos revestimentos (Figura 3.3).
3. Trabalho de campo
44 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
75
61
13
50%
41%
9%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
1 2 3
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Nº de pisos acima do solo
Figura 3.3 - Distribuição da amostra relativamente ao número de pisos acima do solo
Dado que a idade dos RECI é referente ao ano da última intervenção de manutenção, ou de
reparação, dos revestimentos da cobertura, apresenta-se na Figura 3.4 a sua distribuição em função
da idade dos edifícios de que fazem parte. Cerca de 59% dos RECI pertence a edifícios com 50 ou
mais anos e a média de idade dos edifícios, considerando a distribuição das coberturas, é de 64
anos; valor calculado tendo em consideração a idade do edifício que corresponde cada cobertura da
amostra.
58
15
6
27 27
45
5
11
3%5%
10%
4%
18% 18%
30%
3%
7%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
[0 a 9] [10 a 19] [20 a 29] [30 a 39] [40 a 49] [50 a 59] [60 a 69] [70 a 79] > 79
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Idade dos edifícios
Figura 3.4 - Distribuição da amostra relativamente à idade dos edifícios
3.5.3 Caracterização das zonas estudadas
Os RECI distribuem-se pelos concelhos de Alenquer, Beja, Lisboa, Loures, Moita, Peniche e
Sintra, conforme apresentado na Figura 3.5. Os concelhos que contêm a maior quantidade de
RECI são os de Alenquer, Beja e Sintra, com cerca de 83% do total de revestimentos. Foram
efetuadas inspeções a coberturas no concelho de Peniche e da Moita, procurando analisar a
influência da proximidade do mar e do rio, respetivamente. Os RECI inspecionados em Lisboa e
em Loures procuram aumentar caraterísticas na amostra, como a envolvente urbana (Figura 3.6) e
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 45
a exposição do tipo “exposta” (Figura 3.8), que estão em minoria.
32%
17%
7%
3%
8%
34%
48
25
104
12
50
0
10
20
30
40
50
60
Alenquer Beja Lisboa eLoures
Moita Peniche Sintra
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
Nº
de
RE
CI
% d
e R
EC
I
Localização dos RECI
Figura 3.5 - Distribuição da amostra relativamente à localização dos RECI por concelhos
A maioria dos RECI encontra-se em zonas de envolvente rural, com 83% do total de revestimentos,
havendo apenas 17% dos RECI em envolvente urbana. Compreende-se que a envolvente rural
contenha a maioria das coberturas, uma vez que se procurou incidir o estudo em edifícios militares.
123
26
83%
17%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
0
20
40
60
80
100
120
140
Rural Urbana
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Envolvente dos RECI
Figura 3.6 - Distribuição da amostra relativamente à envolvente dos RECI
A exposição das coberturas foi definida de acordo com a Figura 3.1, relativa ao zonamento climático,
que classifica o território em função da ação combinada da precipitação e do vento. A zona que
concentra mais RECI é a zona 3, com 51% do total de todos os revestimentos, um valor ligeiramente
superior aos 49% dos RECI que se somam no conjunto da zona 1 com a zona 2 (Figura 3.7).
Adicionalmente, as coberturas foram classificadas em função da sua exposição aos agentes
atmosféricos, de acordo com a Tabela 3.1, verificando-se que a maioria dos RECI apresentam uma
exposição normal, com 82% do total dos revestimentos. Os revestimentos restantes distribuem-se
equitativamente por exposição protegida e exposta, com 9%, respetivamente (Figura 3.8).
3. Trabalho de campo
46 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
25
48
76
17%
32%
51%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Zona 1 Zona 2 Zona 3
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Zonamento climático
Figura 3.7 - Distribuição da amostra relativamente ao zonamento climático
13
122
14
9%
82%
9%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
0
20
40
60
80
100
120
140
Protegida Normal Exposta
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Exposição da cobertura
Figura 3.8 - Distribuição da amostra relativamente à exposição dos RECI
Relativamente à proximidade do mar, procedeu-se ao registo da localização dos RECI em função
da sua distância ao mar, recorrendo aos intervalos definidos por Ferreira [76], conforme seguido
por Chai [17] e Ximenes [18]. Estes intervalos correspondem a 3 níveis: normal, para elementos a
mais de 5 km da linha de costa; desfavorável, para elementos até 5 km da linha de costa, ou sob
influência direta de ventos dominantes soprados por mar; e incidência direta, para edifícios
localizados a menos de 1 km da linha de costa.
Analogamente ao que acontece com as fachadas, conforme referido por Gaspar [11], em que os
ventos podem transportar algas que as colonizam, o mesmo pode ocorrer nos RECI. Assim,
caraterizou-se os RECI em função da proximidade ao mar, verificando-se, conforme apresentado
na Figura 3.9, que a maioria se encontra a mais de 5 km da linha de costa, representado 92% do
total dos revestimentos. Não se observou nenhum RECI a menos de 1 km da linha de costa.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 47
12
137
8%
92%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0
20
40
60
80
100
120
140
160
≤ 5 km > 5 km
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Proximidade do mar
Figura 3.9 - Distribuição da amostra relativamente à proximidade do mar
3.5.4 Caracterização dos revestimentos inspecionados
Os revestimentos inspecionados (Anexo C) foram caraterizados em função da idade, da forma da
cobertura, do tipo de telha e da estrutura de suporte. Adicionalmente, foram registados outros
dados que podem esclarecer o comportamento dos RECI, como a inclinação, o tipo de sistema de
ventilação e a existência de isolamento térmico e a sua posição.
A idade dos RECI é referente à data da última intervenção realizada na cobertura para efeitos da
sua manutenção, ou reparação. Assim, a idade dos revestimentos difere da idade dos seus
edifícios, apresentando uma média de 36 anos, valor substancialmente inferior à média de idades
dos edifícios, tendo em consideração a distribuição das coberturas, que é de 64 anos. O RECI
mais jovem apresenta 1 ano de idade e mais antigo apresenta 112 anos.
Na Figura 3.10, pode-se observar que o conjunto dos RECI que apresentam uma idade até 39
anos, inclusive, reúne 49% dos elementos da amostra e os que têm mais de 39 anos representam
51% de todos os revestimentos. Distribuindo a amostra por grupos com uma diferença de 10 anos
de intervalo, verifica-se que aquele que tem mais RECI é o dos 0 aos 9 anos, inclusive, com 21%
de elementos da amostra, seguido do intervalo de 60 a 69 anos, com 19%.
Redistribuindo os elementos por grupos com intervalos de 20 anos de idade, verifica-se um maior
equilíbrio entre a quantidade de revestimentos por grupo, mantendo-se o de menor idade aquele
reúne mais RECI, com 30% dos elementos da amostra, seguindo-se do grupo com idades entre
40 e 59 anos, com 29% (Figura 3.11).
As coberturas da amostra assumem diversas formas, sendo a de duas águas a predominante,
com 52% do total, seguida da de quatro águas, com 26%, representando 78% dos revestimentos.
As coberturas menos representativas são do tipo mansarda e do tipo pavilhão, com 2 e 3
3. Trabalho de campo
48 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
coberturas, respetivamente (Figura 3.12).
32
13
21
8
23
20
28
3
1
21%
9%
14%
5%
15%
13%
19%
2% 1%0%
5%
10%
15%
20%
25%
0
5
10
15
20
25
30
35
[0 a 9] [10 a 19] [20 a 29] [30 a 39] [40 a 49] [50 a 59] [60 a 69] [70 a 79] > 79
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Idade dos RECI
Figura 3.10 - Distribuição da amostra relativamente à idade dos RECI com intervalos de 10 anos
45
29
43
32
30%
19%
29%
21%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
[0 a 19] [20 a 39] [40 a 59] > 60
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Idade dos RECI
Figura 3.11 - Distribuição da amostra relativamente à idade dos RECI com intervalos de 20 anos
A amostra é constituída por revestimentos do tipo lusa, marselha, canudo e romana. O tipo de
revestimento mais frequente é do tipo lusa, com 50% dos RECI da amostra, seguido do tipo
marselha, com 34%, totalizando 84% de todos os revestimentos (Figura 3.13). O tipo canudo é o
menos representativo da amostra com apenas 9 elementos, traduzindo-se em apenas 6% dos
revestimentos.
A estrutura de suporte pode ter influência no comportamento dos RECI, nomeadamente a nível da
deformação cobertura. No entanto, não é do âmbito deste estudo a deformação estrutural, uma
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 49
vez que envolve mais mecanismos de degradação do que a deformada do revestimento. A
deformação analisada envolve, apenas, a estrutura secundária constituída pelas ripas e pelas
varas. Assim, e dado que as diversas soluções apresentam comportamentos distintos,
caraterizou-se o tipo de suporte estrutural (Figura 3.14).
16
78
12
38
3 2
11%
52%
8%
26%
2% 1%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Um
a á
gua
Du
as
águ
as
Trê
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gua
s
Qu
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gua
s
Pa
vilh
ão
/Pir
am
idal
Ma
nsa
rda
% d
e R
EC
I
Nº
de R
EC
I
Forma das coberturas
Figura 3.12 - Distribuição da amostra relativamente à forma das coberturas
75
51
914
50%
34%
6%9%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Lusa Marselha Canudo Romana
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Tipo de RECI
Figura 3.13 - Distribuição da amostra relativamente ao tipo de revestimento
A estrutura de suporte mais frequente é de madeira, englobando 66% de todos os revestimentos,
seguida da estrutura em betão descontínua, com 19% dos elementos da amostra, constituído os
dois tipos de estrutura mais representativos.
3.5.5 Caracterização das anomalias detetadas
Para a caraterização das anomalias detetadas, apresenta-se a frequência relativa e absoluta de
cada anomalia, e de cada grupo de anomalias, na totalidade dos RECI.
3. Trabalho de campo
50 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
98
1 1
8 12
29
66%
5%8%
19%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
0
20
40
60
80
100
120
Ma
de
ira
Me
tálic
a
Mis
ta
Mu
rete
s d
e a
lven
aria
Be
tão
- c
ontí
nua
Be
tão
- d
esco
ntí
nua
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Estrutura de suporte
Figura 3.14 - Distribuição da amostra relativamente ao tipo de estrutura de suporte
Complementarmente, analisa-se a distribuição das anomalias em função do nível de degradação,
comparando as anomalias e os grupos entre si.
3.5.5.1 Frequência das anomalias detetadas
De modo a caraterizar as anomalias dos RECI, contabiliza-se a quantidade de revestimentos em
que se verifica a ocorrência de cada anomalia, independentemente da sua extensão e da sua
repetição em diferentes zonas do mesmo revestimento, apresentando-as em termos de frequência
relativa e absoluta e procedendo do mesmo modo para cada grupo de anomalias. Assim, nesta
análise, considera-se apenas uma anomalia de cada tipo e de cada grupo por revestimento.
Adicionalmente, analisa-se a frequência de anomalias, individualmente e por grupo, relativamente
à quantidade de revestimentos, ou seja, comparando a quantidade de RECI, em que se regista
cada anomalia, com a totalidade de revestimentos que constituem a amostra.
A anomalia mais frequente é relativa ao desenvolvimento de vegetação parasitária ou de
colonização biológica, representado 37% de todas as anomalias, seguida das diferenças de
tonalidade ou de alteração de cor e de desprendimento de elementos de revestimento, com 18% e
12%, respetivamente (Figura 3.15).
Em relação aos grupos de anomalias, o mais representativo é relativo a anomalias estéticas,
reunindo 53% de todas as anomalias, seguido dos referentes a anomalias funcionais e a
anomalias estruturais, com 27% e 20%, respetivamente (Figura 3.16).
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 51
136
65
25
3746
40
22
37%
18%
7%
10%
12%11%
6%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
0
20
40
60
80
100
120
140
160
AE-E1 AE-E2 AE-F1 AE-F2 AE-F3 AE-S1 AE-S2
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Anomalias detetadas
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação
AE-F2 fissuração / fratura
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento
Figura 3.15 - Frequência relativa e absoluta das anomalias detetadas
149
77
55
53%
27%
20%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Anomalias estéticas
Anomalias funcionais
Anomalias estruturais
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
Grupos de anomalias detetadas
Figura 3.16 - Frequência relativa e absoluta das anomalias detetadas por grupos
Na Figura 3.17, apresenta-se a percentagem de revestimentos afetados por cada anomalia,
verificando-se que grande parte dos RECI, 91%, são afetados por anomalias relativas ao
desenvolvimento de vegetação parasitária ou de colonização biológica, seguindo-se de anomalias
relativas a diferenças de tonalidade ou alteração de cor (AE-E2), com 44% do total dos revestimentos.
Pela Figura 3.18, verifica-se que todos os revestimentos (100%) são afetados por anomalias estéticas,
que 52% são afetados por anomalias funcionais e que 37% são afetados por anomalias estruturais.
Entre as anomalias funcionais, aquela que mais afeta os RECI é a relativa ao desprendimento /
descolamento de elementos, afetando 31% dos revestimentos, seguida das relativas a fissuração /
fratura e a descasque / escamação / esfoliação, afetando 25% e 17%, respetivamente.
3. Trabalho de campo
52 Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação
136
65
25
3746
40
22
91%
44%
17%
25%
31%27%
15%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0
20
40
60
80
100
120
140
160
AE-E1 AE-E2 AE-F1 AE-F2 AE-F3 AE-S1 AE-S2
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
RECI com anomalias detetadas
AE-E1 desenvolvimento de vegetação parasitária / colonização biológica
AE-E2 diferenças de tonalidade / alteração de cor
AE-F1 descasque / escamação / esfoliação
AE-F2 fissuração / fratura
AE-F3 desprendimento / descolamento de elementos de revestimento
AE-S1 deformações acentuadas do revestimento
AE-S2 desalinhamento de elementos de revestimento
Figura 3.17 - Frequência relativa e frequência absoluta de RECI afetados por anomalias detetadas
149
77
55
100%
52%
37%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Anomalias estéticas
Anomalias funcionais
Anomalias estruturais
% d
e R
EC
I
Nº
de
RE
CI
RECI com anomalias detetadas por grupos
Figura 3.18 - Frequência relativa e frequência absoluta de RECI afetados por grupos de anomalias detetadas
Entre as anomalias estruturais, a que mais afeta os revestimentos é relativa a deformações
acentuadas dos revestimentos, afetando 27% dos RECI, seguida da anomalia relativa ao
desalinhamento de elementos de revestimento, com incidência em 15% dos revestimentos.
A frequência das anomalias apresenta uma variação relativa entre grupos, passível de se caraterizar
por idade do revestimento (Figura 3.19). Verifica-se que, em todas as idades, o grupo das anomalias
estéticas apresenta uma maior frequência de anomalias do que qualquer um dos outros grupos. No
entanto, a frequência de anomalias dos grupos de anomalias funcionais e de anomalias estruturais
tende a aumentar com a idade, enquanto a referente a anomalias estéticas tende a reduzir a sua
representatividade na globalidade das anomalias. Em relação ao grupo de anomalias estéticas,
verificou-se uma exceção na tendência de evolução no tempo, no intervalo de 9 a 19 anos,
contribuindo para isso a inexistência de anomalias funcionais nos revestimentos da amostra analisada.
Previsão da vida útil de revestimentos exteriores de coberturas inclinadas - Aplicação em telhas cerâmicas
Dissertação de Mestrado Avançado em Construção e Reabilitação 53
65%
87%
55%62%
43%50% 45%
36%
27%
0%
24%23%
32%28%
32%
36%
8%13%
21%15%
25% 23% 23% 27%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
[0 a 9] [10 a 19] [20 a 29] [30 a 39] [40 a 49] [50 a 59] [60 a 69] >69