RUBENS CESAR STIER PORTELLA POR UM NOVO CONCEITO DE ENSINO DA ARTE Monografia apresentada para obten~o de titulo de especialista em Melodologia do Ensino da Arte, CEPPE - Centro de Pas Gradua~o, Pesquisa e Extensiio, da Universidade Tuiuti do Parana. Orientadora: Denise Araujo. UTP CURITIBA 2000
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RUBENS CESAR STIER PORTELLA
POR UM NOVO CONCEITO DE ENSINO DA ARTE
Monografia apresentada para obten~ode titulo de especialista emMelodologia do Ensino da Arte, CEPPE- Centro de Pas Gradua~o, Pesquisae Extensiio, da Universidade Tuiuti doParana.Orientadora: Denise Araujo.
Desde sua forma mais primitiva a atitude humana de apreensao da realidadetem par finalidade estreitar os layos que unem 0 homem ao universo que 0 cerca,
acompanhando continuamente a mudant;a de ambos. No desenvolvimento deste
processo, revelaram-se ao homem diferentes dimensoes de sua atuay80 e
existemcia,dentre elas, sua rela~o com a belez8, a arte e a estatica.o objetivo deste trabalho e de discutir esta relayiio dentro de um enfoque
particular, que e 0 da questiio do ensino da arte, procurando atraves de um
panorama do desenvolvimento do ensino da arte no Brasil e das variayoes dos
conceitos de arte e estatica, uma ligayao natural entre a arte, 0 homem e seu
contexto.
Para tanto, S8 faz necessaria urn exame de abordagem da pr6pria realidadeem toda sua flexibilidade, considerando dois p610sprincipais de configurayiio. 0
primeiro deles e 0 da realidade classica, 0 do conhecimento absoluto e da realidade
como verdade. 0 segundo, e 0 de uma realidade nac classica, do conhecimento
relativo e da realidade como circunstancia.Por uma necessidade intrinseca de organizayao e sistematizayao do
conhecimento, consolidado na estrutura academica, 0 ensina da arte desenvolveu-se dentro de um formato ciassico de realidade. Reflexos de uma contingencia
oposta, tanto 0 homem, quanto a arte vem exigindo, cada vez mais, a necessidade
de espansao desta realidade lirnitada - numa realidade nao classica.Procura-se en.tao, por urna forma de se conciliar estas duas realidades, por
novo conceito de metodologia do en sino da arte.
2 0 ENSINO DA ARTE
o Ensino da Arte em suas diferentes metodologias, vem sistematicamente
privilegiando 0 produto ou 0 processo criativD, desconsiderando a importancia de S9
incentivar 0 estudante de arte na formaC;8o de um criteria estetico individual e uma
maneira critica de apreensao dos valores artisticos e esteticos dissolvidos na
realidade.
Voltadas a seus proprios metodos e a defesa de sua ideologia, as escolas ou
tendemcias do ensina da arte no Brasil deixaram esta lacuna na formaC;8o de seus
alunos.Nas escolas mais normativas ou tradicionalistas, nota-s8 apenas a
preocupac;ao com 0 produto artistico, atraves do fornecimento sistematico de
subsidios como tecnica, material, tema e modelo. Essas escolas, descendentes
diretas do academicismo dominante no seculo XVII, visam principalmente 0
aprimoramento tecnico do alune e seu resultado, muitas vezes satisfatorio, e produtoda repeticao mecilnica dos modelos, com pouco ou nenhum trabalho de
contextualizac;ao hist6rica e embasamento te6rico.
Num revisionismo formal esteril e arcaico, este tipo de escola deixa de lade a
experiencia individual do alune e 0 desenvolvimento de seu conhecimento e de sua
habilidade intelectual e critica. Alem disso, este tipo de escola contribui para a
cristaliza<;ilo dos paradigmas da arte classica como a (mica forma verdadeira de
arte.
Este procedimento contribui para a formayao de um publico preconceituoso,
cuja propria deformidade do gosto, 0 impede de se relacionar com as formas da arte
contemporanea e ate mesmo com seus reflexos em seu cotidiano.
Outro modele de ensino, experimentado a partir da Escola Nova, privilegia a
liberdade criativa do aluno, sem a interferencia do professor, para que 0 produto de
sua pratica nao seja impuro, contaminado por urn fazer que Ihe fosse alheio.
Essa forma de arte catartica e liberadora e seus metodos de auto-
aprendizagem continuou a ignorar a consciencia intelectual e estetica do aluno e,
apesar de ser um processo mais livre que 0 ensino academico, incorreu tarnbern
numa instrumentalizayao processual, substituindo a obrigatoriedade do modelo a do
nao-modelo.
Atualmente, a tendencia do ensino da arte e de se tornar mais analitico,
desenvolvendo paralelos entre teoria e pratica, valorizando a interdisciplinariedade.
Dentro desta filosofia, cabe-se destacar a cham ada "Metodologia Triangular",
idealizada por Ana-Mae Barbosa, onde a proposta pedagogica propoe a integra<;iio
da Historia da Arte, da leitura de obras de arte e do fazer artistico. Assim, procura-se
estabelecer urn maior equilibrio entre os fatores historicos, teoricos e tecnicos que
envolvem os processos relativos a arte.
Paralelamente, comec;a-se a desenvolver nas escolas de Arte, uma
preocupa9aO especial com dois elementos que ate entao nao haviam recebido 0
merecido destaque : a enfase em uma postura crftica em relayao a arte e a estetica
contemporaneas e 0 desenvolvimento da poetica propria do aluno.
Estas novas contingencias exigem que se procure, alem do desenvolvimento
teorico, historico e tecnico do aluno, uma forma de ajuda-Io a se relacionar com a
realidade.
Assim como 0 ensino da arte e seus contextos, a propria realidade que
envolve artistas, professores, consumidores, alunos e crfticos, se transformou. As
escolas nao sao mais os receptaculos da sabedoria, os professores nao sao mais
detentores do conhecimento e nem as alunos, telas em branco.
A atividade do professor como mediad or entre aluno e conteudo, proposta
pela pedagogia atual, se soma a de ponto de liga<;iio entre a escola e esta realidade,
derrubando as paredes que separam os assuntos academicos da vivencia pessoal
do aluno.
As questoes da arte nao cabem mais no universo limitado das rela90es
professor, aluno e escola, se extendendo ao contexto comum e infinitamente maior
de uma nova realidade - de uma realidade estetica.
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3 °BELO, A ARTE E A ESTETICA
No decorrer da hist6ria, os conceitos relacionados ao bela e a arte, assim
como suas implica90es na realidade humana, percorreram urn longo caminho ate
que pudessem alcan~r a relativa autonomia que as caracteriza nos dias de hoje.
Foram concebidos diferentes criterios de avaliayao e relacionamento com
estes conceitos, muitos dos quais presentes ate hoje nas atitudes do homem
contemporaneo - seja em suas melhores virtu des ou nos piores preconceitos.
Durante a antiguidade cl<issica, a beleza adquire legitimidade quando
participa do bem e a arte, entendida como manufatura, na adequac;ao do produto
criado ao cumprimento de sua finalidade. Surge 0 criteria moral, que acompanhara 0
pensamento ocidental por toda a Antiguidade e Idade Media.
Com 0 Renascimento a arte se desliga do caniter servil quando se liga a obra
do artista a sua ideia ou imagina9iio. 0 artista, alem de tecnicamente habil, e capaz
de idealizar e materializar uma nova realidade - mold ada de acordo com seus
desejos - celebrando a atividade humana e sua supremacia sobre a Natureza. A
arte torna-se coisa intelectual - cosa mentale, nas palavras de Leonardo - e
concretiza a configurac;aode uma Realidade Ideal.
Essa nova realidade idealizada, representada na arte em sua perfeic;ao
racional e matematica, encontrou no academicismo uma maneira de perpetuar-se
atraves do metodo. Baseado principalmente nas conceP90es de simetria, propor9iio,
harmonia e consonancia, herdadas da antiguidade classica e reafirmadas pela
filosofia medieval, este padrao classico academico se firmou como mais solido
paradigma da arte jamais visto.
Com um forte apelo a fantasia, ja prenunciado pelo Barroco, 0 Romantismo
traz it tona uma nova natureza, forte, selvagem e misteriosa que ao contra rio da
renascentista - docil e controlada - foge ao controle do homem.
o racionalismo que predominava anteriormente se tempera com 0 empirismo
numa nova atitude que aproxima 0 hom em e natureza, 0 sujeito e objeto. A Estetica
surge como uma nova ciencia advinda da contemplayao sensfvel e finalmente, ao
moralizador binario bela J feio a realidade e acrescentada de outras categorias
esteticas como 0 sublime, 0 gracioso, 0 grotesco e 0 tragico.
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A ficyao autoriza a criaC;8o de urn universo paralelo com infinitas
possibilidades, mais intenso, exotica e interessante que a realidade cotidiana,
abalando as alicerces do academicismo estabelecido.
Nessa mesma apaca, comeyam a ser organizados as primeiros grandes
museus cnde artefatos provenientes de outras culturas e epocas passam a ser
valorizados naD par seu valor material au utilitario, mas pelo seu valor estatica, como
verdadeiras obras de arte.
A esta revolu9iio da consciencia estetica se somaram a for9a da arte
romantica e as conting{mcias da modemidade, rompendo definitivamente com 0
canone do classicismo. 0 desenvolvimento da tecnologia e sobretudo 0
aparecimento da fotografia deflagrou 0 processo de crise da representa9ao na arte,
desafiando as artistas a criar novas realidades de expressao.
As vanguardas da modernidade procurararn, cada uma a seu modo, urn novo
sentido para a arte - e em alguns casos sua propria destruiyao - que se tornava tao
vibrante, veloz e diversificada quanto a sociedade do inicio do seculo XX. Outra
nova caracteristica desta arte emergente era a vontade de mudan~, a voz de
manifesto, ensaiada e nao exprimida pelos romanticos. 0 tom messianico e ut6pico
da arte modernista trouxe a tona uma nova dimensao para as quest6es da arte: a do
compromisso social e da arte como instrumento de protesto e denuncia.
Passada a metade do seculo, a uma boa distancia da efervecencia
modernista, notou-se um certo desconforto em relayao as promessas de mudan~
da arte moderna. 0 rigor formal, as mudan9as de conceito e atitude se esvaziaram e
perderam a for98 da certeza.
A arte da chamada P6s-Modernidade nao tern mais 0 compromisso de ataque
ou defesa e aparentemente, volta-se a si mesma numa postura que revela ora uma
atitude reflexiva e revisionista, ora de celebra9iio da liberdade alcan9ada, recriando-
58 a si m8sma em infindav8is wneos" e wp6s".
Essa nova realidade mundial encontra-s8, nos termos de Baudrillard, num
estado de transparencia, onde a arte e a estetica se potencializaram a tal ponto, que
de tao saturadas se tornam in6euas.
De todo este processo, a exercicio das diferentes atitudes do homem em
rela980 a arte contemporanea, como produtor, eonsumidor ou eritleo -
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desdobramentos das tunyoes ocupadas historicamente par filosotos, artesaos,
artistas e estetas - exige urn foco cada vez mais preciso sabre uma existencia cada
vez mais ampla, etemera, imaterial e tragmentada.
Ao mesma tempo em que a vida estetizada deste novo homem exige seu
envolvimento em todas as esferas do processo de conhecer, consumir, analisar,
criticar e produzir esteticamente, a arta e 0 processo estetico S8 atomizam par todos
as campos da realidade que 0 cerca.
Sendo assim, ha que S8 considerar duas implicacoes diretas deste processo:
a necessidade de S8 desenvolver uma apreensao desta dimensao estatica da
realidade e uma forma de S8 utilizar desta informac;ao como referencial no ensina au
no exercicio da arte.
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4 ESTETICA, ARTE E REALIDADE
Detectada a amplitude desta estetizacao da realidade e a impossibilidade de
se definir urn ambito verdadeiro que delimite a existencia de urn universe artfstico na
contemporaneidade, e precise encontrar urna forma de trabalhar as conceitos de
estetica arte e realidade dentro desta mesma unidade em que S8 encontram no
cotidiano.
Para Sanchez Vazquez • Estetica e a ci€mcia de urn modo especifico de
apropria<;iio da realidade, vinculado a outros modos de apropria9iio humana do
mundo e com as condic;oes hist6ricas, sociais e culturais em que ocorre.'" Ao
considerar a atitude estatica como urna maneira de ver 0 mundo e suas
contingencias, ao inves de segmentar os limites entre obra de arte, produto estatica
e cotidiano, propoe-se urna maneira de S8 enxergar para alam da superficie,
contemplando estes conceitos naD apenas como fatores isolados, mas como a
propria assodac;ao em rede que os configura.
Esta propria realidade, amplia-da e potencializada pelas novas tecnologias
expande-se em infinitas possibilidades, onde as rnais diversas areas do
conhecimento se combinam e interagem, criando novas realidades hibridas, cada
vez mais complexas e inter-referendadas.
Cada vez mais presente no cotidiano do homem urbano, este material se
constitui numa das mais ricas fontes de informac;ao,nao s6 nos assuntos relativos aesta nova estetica contemporiinea ou pos modema, mas tambem no que diz
respeito a uma nova maneira de existir e encarar 0 mundo.
Estas informa¢es sao muito importantes sobretudo no aprendizado informal
do individuo, e servem como complemento e referenda para 0 estudo formal em
todos os nrveis. Segundo Manuel Moran, MOS meios de comunicac;ao, principalmente
os audio-video-graficos, desenvolvem formas sofisticadas de comunicac;ao
sensorial, multidimensional, de superposi<;iio de linguagens e mensagens que
facilitam a arendizagem e condicionam outras formas e espayos de comunicac;ao."2
esteticamente - eis 0 homern. Todos as ramos da atividade humana, em maior OU
menor escala, participam deste processo.
o que S8 propoe e que se utilize deste mesmo referencial artistico e estetico
impregnado na vida do estudante de arte como parte do seu processo de
aprendizagem e conhecimento, trabalhando a partir de suas proprias areas de
interesse e experiencias de sua vivemcia pessoa!.
E preciso aeabar com a postura passiva do aluno em relayao a propria
realidade que 0 cerca, transformando-a em uma fonte de informa9iio que nao so
complemente 0 trabalho executado na vida academica, mas tambem 0 seu propriodesenvolvimento como ser humane vinculado a esta realidade, sendo necessaria
tambem que 0 ensino da arte contemple esta mudan9a.
9
CUi.SSICO, P6S-MODERNO E NEOBARROCO
Com toda a racionalidade que caracteriza a especie humana, 0 modo que 0
homern apreende a realidade, privilegia 0 esquema classica, ande 0 bern €I superiorao mal, a razaD €Isuperior a sensibilidade e a forma e superior a materia.
Culturalmente condicionado nesta maneira do conhecer, a partir das grandes
mudanyas ocorridas na sociedade a partir do seculo XIX, 0 homem moderno nao
pode continuar aver 0 mundo par urn filtro cartesiano.A ordem, prometida entao pelo modernismo, nao S8 concretizQu e no lugar da
certeza de uma verdade instaurou-se uma era de transformayoes, incertezas e decrise. Este e 0 panorama descrito por Jean-Fran<;oisLyotard em A Condi98o P6s-
Modema.
Dissidentes do experimentalismo modernista e de seu compromisso com 0racionalismo e 0 funcionalismo, 0 movimento pos-moderno S8 utilizou dadeconstruc,:ao,da reelaborac,:ao.da releitura e da citac,:aona construc,:aode uma nova
forma de S8 pensar e de S8 tazer arte.Tomado como manifesto, moda, estilo ou simplesmente como corrente
puramente antagonica aD movimento moderno, 0 pos-modernismo vern sendotomado por simpatizantes e detratores de uma forma diferente da concepc,:ao
original, que e a de ser apenas urn criterio analitico.
Evitando confusees de terminologia e esta ideia de contraposi9aO as
vanguardas, Omar Calabrese propoe 0 termo neobarroco para designar umaqualidade cultural especifica da contemporaneidade - entendendo 0 barroco como
categoria do espirito oposta ao classico e 0 prefixo neo significando uda mesma
forma que' e nao como repetic,:ao.regresso ou reciclagem. Como ressalta Maflesoli.
"trata-se menos do barroco como conjunto artistico bem delimitado, que do barroco
como tipo de sensibilidade".
Calabrese identifica urn 90sto neo-barroco na cultura contemporanea, pelabusca de formas em que se assiste a perda da integridade. da globalidade e da
sistematicidade ordenada em troca da instabilidade, da polidimensionalidade e da
mutabilidade e em oposic,:aoa maneira classica de organizac,:aoda realidade. propee
10
o neobarroco como urn ar do tempo Maparentemente tao confuse, fragmentado e
indecifravel ( ... ).'"
Severo Sarduy salienta que ao contrario do barraee europeu que
pressupunha urna harmonia implicita na subversao do circulo pel a elipse e na
organiza9&o proporcional de urna assimetria harmonica, o neo-barroco
contemporaneo recusa a existencia de urn Logos absoluto, M( ... ) reflexo estrutural de
um desejo que nao pode alcanyar seu objeto,( ... ) pretende um fim que
constantemente Ihe escapa (... ).'"
Esse jogo estetico, do objeto de desejo vislumbrado e jamais alcanyado e
refiexo da maneira contempor€mea de apreensao da realidade, onde a atenyao naD
busca a tranquilidade do conhecimento de uma verdade eterna e absoluta, mas a
fugacidade do prazer.
A arte e a realidade da contemporaneidade, em sua rede de relayoes,
metatoras e referencias nao se deixa apreender pela 16gica determinista do
pensamento classico e neste sentido, como diz Maffesoli, "coloca em jogo a forya do
imaginal (imagens, imaginarios, imaginayao e aparencia) ( ... ) em ayao na
complica<;ao do barroco"6
A verdade estetica, que se mantinha estatica e consolidada nos modelos da
arte c1assica, se amplia numa uma forma orgimica e se alastra pela realidade
cotidiana, numa forma que, ainda que fragmentada, passui urna coenancia interna.
Para explicar esta uharmonia conflituar7 e esta MI6gica contraditorian8 desta vi sao
neobarroca, Maffesoli a compara com a cidade, ~pelo menos a cidade barroca, que
nao se entrega em primeira mao, a cidade toda em labirinto, a cidade em curvas e
em lugares escondidos, em suma, a cidade equivoca~9.
J MAFFESOLI. Michel. No fundo das apllreneius. P. 188."'CALABRESE, Omar. A Idade Neobarroca. p.lO.S SARDUY, Severo. Escrltosobrc urn corpo. p.79.6 MAFFESOLI. MicheLNo fundo das aparendas. p.llS.7 MAFFESOLl, Michel. No fundo dns Apnrenclns. p 226.~ Idem.
II
6 ESTETlCA, TECNICA E TECNOLOGIA
Uma das maiores questoes sobre arte na atualidade discute a legitimidade
dos meios pelos quais S8 apresenta 0 produto estatica au artfstico, cada vez maisintimamente ligado a tecnologia.
As correntes de pensamento mais classicas defendem 0 ponto de vista que a
tecnologia, usada it exaustao para S8 subverter a forma da arte tradicional atravesde exercfcios vazios de tecnicismo - da releitura e do pastiche - e em grande parteresponsavel pela perda da habilidade tecnica dos artistas contempor;;neos.
Hit urn grande receio que estas tecnologias - au ainda que 0 espetaculoproduzido per elas, nos termos em que colocou 8audrillard10 - tarnem 0 hom em
prisioneiro numa construc;ao estetizada em que 0 computador, como pr6tese
prolongadora da mao - ou do proprio cerebro - roube 0 dominio da arte das maos
do homem.
A propria realidade, tranformada numa opera baudrillardiana do caos se
impoe diante do homem, fazendo com que a expectativa do retorno da placidez
classica S8 perea em uma angustia cada vez mais crescenta.Uma vez constatada essa SitU8C;80 de fragmentac;8.o eu ate mesma de
desmaterializa9ao da realidade nos moldes consagrados, e inutil pensar numa
inversao do estado das eoisas.
A saida mais clara parece ser a adapta9ao a esla nova situa9iio numa atitude
em que, ao inves de negar, tome partido desta nova realidade, usufruindo das
facilidades que as novas tecnologias oferecem na manutenc;ao do referendalartistico hist6rico e tambem na possibiHdadeda criac;aode novas form as de arte.
Ao estudar 0 bin6mio Tecnica e Estetica, Francastel desenvolve um raciociniono qual afirma a inexistencia de oposi9aOnatural entre estes dois fatores. Longe de
se excluirem, um complementa 0 outro: "Sem a arte, a tecnica seria apenas umaatividade va; sem a tecnica a arte nao passaria de um inutil jogo de sombras
fugitivas~11. Parte do principio que, apesar das artes terem origem na operagao do
9 Ibidem.
10 BAUDRILLARD, Jean. A transparencia do mal. p. 59-66.II FRANCASTEL, Pierre. A reaIidade Figuratlva, p. 62.
l2
homem sobre a materia, esta operac;ao S8 faz na livre associayao de valores
plasticos e utilitarios.
De maneira anilloga, Luigi Pareyson, diz que a arte ",; um tal fazer que,
enquanto faz, inventa 0 par tazer e a modo de fazer"12,
Outro fator de grande importancia na configurayao da arte contemporanea e a
nova reaJidade comunicacional produzida pela internet, on de as conceitos de original
e copia, autoria e co-autoria, se f1exibilizam atraves de urna arte que rompe com a
estrutura rigida da arte tradicional.
Massimo Canevacci va nesta nova estatica, f1uida e IIquida urna nova
dimensao de liberdade de autoria, ande a interferencia do usuario - transformado
em co-autor - amplia a individualidade do autor, transformando-Q em varies eus.Segundo Canevaci, "a obra de arte contemporanea, no fluxo da comunicayao, e uma
obra de arte performativa, comunicacional. Arte comunicacional e uma arte que nao
vai colocar-se num momenta definitivo, de congelamento. Ela e mais f1uida e desafia
cada tentativa de fixar urn momenta unico~13.
Juntas, estas circunst€mcias indicam que a combinac;ao rnais prov8vel entre
estetica, tecnica e tecnologia nao e a de exclusao aniquilar;ao au de
empobrecimento, mas de cambinac;ao, enriquecimento e perpetuac;ao.
11 PAREYSON, Luigi. Os problemas da Estetiea. p.26.I) CANEVACCI, Massimo.Webpidgill, cria~o em trlnsito. Jornnl do Museu de Arte do Rio Grande do Sui
Ado Mnlngoli. Pon.oAlegre, nO 59,ju1. 2000.
13
7 PRODUTOS ESTETICOS CONTEMPORANEOS
As mesmas caracteristicas de onipreseng8, transparencia e confusao
esteticas que comp6em 0 diagnostico apocaliptico de Baudrillard, nos trazem nao a
morte, mas 0 comec;o de urna nova realidade. Urna nova realidade, organizada em
rede, cnde a verdade nao mais S8 refugia na solidez dos conceitos, mas em suas
frestas.
Os produtos da estetica contemporanea f1utuam nessa mesma tendencia,
misturando-se entre si, confundindo as limites entre a vida e arte, forma e conceito.
E exatamente por esta fiuidez, pela surpresa, por sua velocidade de muta9ao e pelo
constante desafio que oferece, que 0 objeto estetica contemporaneo S8 torn a tao
importante no estabelecimento de urna ligar.;:ao entre 0 homem, a arte e seu proprio
contexto.
Para ilustrar esta influencia mutua entre a arte e 0 cotidiano do estudante de
arte, estao elencados a seguir seis elementos dentre os produtos estetlcos
contemporaneos que, conceltual e folmalmente, constituem um referencial vasto e
importante sobre a atualidade, formando um ponto de liga.;,ao, au ainda, uma rede
de conexoes entre a vida, a ensino e a arte.
14
FOTOGRAFIA
Ha mais de urn seculo, 0 surgimento da fotografia deflagrou urn dosprocessos mais importantes na his6ria universal da arte - a crise da representayao.
A arte, impossibilitada de superar a capacidade mimetica da fotografia se obriga a
procurar par novas maneiras de representar 0 mundo.A fotografia contemporanea se coloca nos dias de hoje sobre um impasse
semelhante ao da arte na aurora da modernidade. A sociedade e a cultura da pos
modernidade em seu anseio pelo extrema, pelo superiormente interessante e pelonovo exige da fotografia a transcendencia de seu objetivo original, da imagem comorecorte do real.
As novas tecnologias, principalmente as softwares desenvolvidos a partir do
inicio da decada de 1990 permitiram um controle total de cada uma das minimas
particulas que compoem a imagem. Esse advento tecnol6gico ocasionou duasimportantes consequencias no relacionamento entre realidade e fotografia.
A primeira delas diz respeito a uma reafirma980 do compromisso da fotografia
com a realidade. A liberta9ao dos processos quimicos e manuais utilizados no
reloque de imperfei95es do processo de registro de imagem, possibiltou aos
fotografos uma maior fidelidade de reprodu9ao, resultando numa maior proximidade
entre imagem e objeto. A funyao inicial da fotografia como instumento de registro eentao cumprida com a maxima eficiencia.
A segunda implica980 deste desenvolvimento tecnologico e justamente
aquela que rompe 0 vinculo existente entre imagem e 0 real, trazendo a ton a umanova realidade, cada vez mais pr6xima da arte - sobretudo a uma concepC;aoromantica da arte, como fic9ao e fantasia.
Este novo tipo de fotografia se desenvolveu principalmente, nas areas da
comunica980, da publicidade, do entretenimento e da moda, dimens5es do cotidiano
mais ligadas aos anseios, angustias e desejos do homem em rela980 a propria
imagem e a sua concep980 do mundo.A nova fotografia, ao inves de revelar seu conteudo, faz 0 caminho inverso
propondo um desafio tanto a nivel formal quanto em significado.
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A configura9iio pictorica prop6e um desafio ao olhar - nao se distingue
facilmente 0 real do virtual. Os elementos visuais - cor, luz, sombra, textura, volume -apontam para urna dramaticidade alam do real, indican do urna maneira de olhar
proxima a do barreco, aspirando a vertigem a velocidade e ao prazer.Sua narrativa e metaf6rica e parab6lica, contendo refen§ncias a Qutras areas
do conhecimento como a arte, a cultura, a hist6ria e a ciemcia. A informavao contida
nesta fotografia, ao contra rio da documental, naD tern nenhuma pretensao de vinculocom a verdade e e exatamente nesta fresta entre 0 real e 0 imaginario e que esta
sua importancia como referencial estatica de pesquisa.Recentemente, a editora inglesa Phaidon Press publicou "The Impossible
Image", registrando 0 trabalho de novos fotografos, sob 0 enfoque dos limites entre
fantasia e realidade na fotografia contemporanea e a relaryao entre 0 processo
fotografico e a manipula9iio digital de imagem. Dentre eles, Nick Knight um dois
mais respeitados fotografos da atualidade, a respeito destas quest6es afirma: "nunca
vi rneu trabalho como qualquer outra caisa que nao fosse uma serie de imagens
manipuladas.(... ) Se voce quer realidade, de uma olhada pela janela".
Foto de Nick Knight para Alexander McQueen.
16
MUSICA
Em sua relayeo com a musica, a produyao contemporanea procura urna
ambivalencia: a manuten~o e restaurayao do material acumulado no passado
historico e tambem a pesquisa de novas possibilidades musicais, em sintonia com a
nova realidade do homem.
No primeiro caso, a tecnologia vern colaborando de maneira inestimavel,atraves da recupera<;iio de arquivos danificados e pelo estabelecimento de
condic;oes tecnicas e acusticas cada vez mars pr6ximas ao ideal.
Dentro das novas pesquisas, a musica - notadamente a cham ada musicaeletr6nica - e um dos produtos que mais refietem 0 carater de movimento,
instabilidade e tensao presentes na estetica contemporanea.
Sua organiz8c;ao em sobreposic;ao, com movimentos em espiral, interrupc;oes
e reversoes, assim como 0 ritmo em sincope reafirmam a visao do mundo em urna
organizac;ao naD linear do tempo e do espac;o. Outra de suas caracterfsticas e 0 usa
de samples, colagens digitais de outras obras que puntuam na estrutura musical
como citac;oes au referencias - de uma forma analoga a dos links no hipertexto
Esta estrutura compositiva, assim como na arquitetura dos dias de hoje,
deriva dos proprios processos geradores e sua forma, independente deles, seria
inimaginavel.
Atualmente pode-se notar a crescente necessidade de acoplamento da
musica a uma forma visual. 0 aparecimento e consagrac;ao do video-clip em
meados da dacada de 80 deu inicio a um formato musical que se apoia
paradoxalmente em um texto visual.
Transformada nesta unidade hibrida, a nova musica conseguiu transcender a
imaterialidade de sua estrutura e se personificou material e visivelmente. Cada estilo
musical constr6i e simboliza uma estatica particular, correspondendo a um esquema
visual e de comportamento proprios com grande infiuEmcia,sobretudo na polula<;iio
maisjovem.
Num mercado avido pelo novo e com uma tecnologia capaz de suprir esta
demand a com uma velocidade vertiginosa, 0 universe da musica a um dos
ambientes de maior cruzamento de informa9oes, estilos e tendencias. Pela
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amplitude de seu alcance - como no formato MP3 transmitido pela Internet -
consegue atingir simultaneamente todo 0 planeta, absorvendo e influenciando todas
as ambientes culturais.
Esta pluralidade se revela numa qualidade especifica da nova musica que e a
da cita~o e da referemcia, que van alem de urn nivel superficial. resultando em
novas formas musicais. Pode-sa hoje ouvir 0 samba, 0 jazz, a bessa nova ( jell urn
hibrido de samba e cool jazz), 0 techno (musica eletronica) e tambem a technova
(techno com estrutura e referendal de bossa nova), 0 sambalounge (samba
eletronico de compasso desacelerado) e 0 acid jazz Uazz eletronico de colagem).
Cada uma destas form as, ao gerar uma estatica, reverenciar suas influencias
e influenciar noves autores, torna-S9 atitude e ao mesmo tempo em que absorve as
tendencias da arte e da vida contemporanea, e tambem absorvida por elas.
Capas dos albuns Homogenic, de Bjork (superior) e Mezzanine, de Massive Attack.Fatos de Nick Knight
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ARQUITETURA
Em oposit;ao a arquitetura moderna que S8 colocava como soluyao (mica edefinitiva aos problemas existentes entre 0 homem e a espa90 em que ViV8, a
arquitetura dos dias de hOje aponta para a multiplicidade e a individualidade de cada
solu~o arquitet6nica. A fal€mcia de um modele que pudesse ser aplicado
indefinidamente pas tim a arquitetura an6nima da maquina de morar corbusiana. A
casa contemporanea e antes urn lar, refletindo e tambem revelando em seus
elementos a individualidade do habitante.
A racionalismo puro que caracterizQu a arquitetura moderna tai dando lugar auma nova arquitetura que, sem descuidar da funcionalidade, propos urn espar;o
simb61ico e poetico, unindo tecnologia e sensibilidade.
Jean Nouvel e um dos principais seguidores desta tendemcia, como nos
revela um de seus projetos, 0 Instituto do Mundo Arabe em Paris. Para controlar a
incidencia da luz solar no interior do edificio, projetou uma reticula metalica sobre a
pele de vidro de uma de suas tachadas, na qual 0 desenho remete aos motivos
decorativos arabes e a fun~o, aos muxarabis - treli98s de madeira que fechavam
as janelas das casas no oriente, protegendo a privacidade de seu interior. Nesta
reticula estao dispostos centenas de diafragmas metalicos conectados a um sistema
que aumenta ou diminui 0 diametro de seus oriffcios, de acordo com a quantidade
de luz desejada - na COnCeP9aO do autor, assim como se dilatam as pupilas de uma
mulher apaixonada, ante a visao do amado.
Essa aproxima~o com a tecnologia e outra caracteristica da arquitetura
contemporanea. Por um lado ha a liga980 dupla entre a possibilidade material e a
configura~o plastica - novas formas pedem novos materiais I novos materiais
geram novas tormas - de que talou Francastel. Por outro, surge um novo tipo de
espa90, que s6 pode se configurar tecnologicamente.
Um bom exempo deste tipo de arquitetura e 0 Museu Guggenheim de Bilbao.
Projetado por Frank O. Gehry, sua estrutura se compoe de superficies que ondulam
e se contorcem numa sucessao de espa~os onde se contrastam elementos
arquitetonicos tradicionais a outros completamente novos. Sua carapa98 retorcida
de titanio ao mesmo tempo em que repousa e se reflete sobre 0 principal rio da
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cidade, ameaya invadi-Ia com seus estilhac;os angulosos, numa belfssirna metatorada arte que contem.
Fachada do Museu Guggenheim - Bilbao.Folo de Timothy Hursley
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MODA
A moda e tambem urn importante campo de pesquisa sobre a estaticacontemporimea. Seu ritmo vertiginoso constr6i e destre; sucessivamente idea is de
beleza e perfeic;ao, que ja nascem com uma obsolescencia programada, gerando
uma expectativa que procura nao 56 0 novo, mas 0 al8m do novo.A tensao provocada por essa efemeridade faz com que 0 ambiente da mod a
seja um dos mais criativos da atualidade, pesquisando constantemente materia is,
conceitos, referencias e alternativas para S8 manter sempre a frente de seu tempo e
garantir 0 frescor da novidade que Ihe e exigida.
A tecnologia provem constantes melhorias no desenvolvimento das fibras
texteis, criando materiais cada V8Z mais leves, confortaveis e duraveis. Associados aessas industrias, 0$ criadores buscam novas qualidades visuais, de textura eestrutura.
Assim como 0 pensamento contemporaneo, a moda S8 caracteriza par umaconfigurac;iio multipla, agregando elementos da hist6ria, da literatura, do cinema, das
artes e da propria sociedade inventando e reinventando a si mesma para 5e manterno centro do v6rtex que criou.
A imagem que a moda refiete no espelho nao e s6 a da roupa, do cal98do e
do acess6rio - e a de toda a cultura de seu tempo.
Vestido de acetato tingido de Yves Saint Laurent Rive Gauche.Imagem de Dah Len
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DESIGN
Desde a pre-historia a homem investe aos objetos que fabrica urn
componente que transcende a dicotomia forma-funyaO e feflete entre eles uma
relac;ao estatica, atraves daquil0 que Vazquez chamou de "forma excedente" - uma
forma sem justificativa funcional.
Assim como a moda, as objetos que cercam a humanidade, sao como uma
especie de arquivo sobre a hist6ria, a cutura e a tecnologia. A sociedade de
con sumo, orientada pelo mesma ritmo que rege a moda, caloca nurn mercado cada
vez mais voraz uma serie inumeravel de objetos que S8 sucedem uns aos outros
pela proposta do novo, atraves de urna nova configurayao formal ou de urn avanryo
funcional ou tecnol6gico.
Alguns designers, preocupados com uma relayao mais intima entre objeto e
usuario, comeryam a desenvolver produtos dentro de uma filosofia que ao contra rio
da tendemcia de mercado, propoe uma postura critica de con sumo, de acordo com
as necessidades humanas dentro de uma sociedade com novos valores,
respeitando a escala entre 0 homem e 0 espayo em que vive, preservando 0 meio
ambiente.
Essa noyao de intimidade e desmaterializayao do objeto e claramente
identificada em seus projetos, atraves da tendencia uma forma organica quase
protetica, do uso de texturas que convidam ao toque, do numero cada vez mais
reduzido de componentes, do uso de materiais transparentes e translucidos e na
utilizayao de materia-prima reciclavel.
Philippe Starck e um deles. Seus objetos e ambientes revelam a busca de
uma qualidade simb6lica, de humor, poesia, ironia e drama, propondo uma ligayao
afetiva entre usuario e objeto, numa sociedade que chama de "uma solidao
superequipada". Stark preve uma sociedade menos consumista, mais preocupada
com a qualidade de vida que com 0 acumulo desordenado de bens. Recentemente,
publicou um catalogo intitulado "Good goods" - contendo cerca de 200 "nao objetos
para nao consumidores~, onde ilustra essa passagem do design do produto ao
serviyo.
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Atraves de urn estilo paradoxal, num minimalismo sofisticadamente complexoreferenciado aos objetos em sua forma arquetipica e em um jogo entre formas
historicas e de urn futurismo fantastico, seu design e a propria personifica~o do
905tO neo-barraco.Em entrevista a revista Domus de junho de 1997, Starck revela sua sintonia
com a nova sociedade quando diz que Mhoje, na cidade moderna, a forya e menes
importante que urna mente aberta, mais intuitiv8, menes estruturada, mais
semelhante ao modo de trabalhar nascido do mundo da eletronica, asimultaneidade; e aqui vern a tona a inteligemcia e 0 comportamento femininos.Todos as objetos que temes em volta funcionam em modo masculino, obsoleto e
perigoso porque nos levam a relayoes de forya e de agressividade".
Objetos desenhados por Philippe Starck.Fatos de Tom Vack
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CINEMA
Assim como a fotografia, 0 cinema percorre nos dias de hoje urna dire9aooposta aquela que tinha em sua origem, a de retratar com fidelidade urn reeorte da
realidade. Pela propria capacidade de simular toda uma realidade atraves da
poderosa combinac;;ao da imagem em movimento com 0 som, 0 cinema se
transformou na forma de arte que mais aproxima a imaginayao da dimensao
humana do real. Os recursos tecnol6gicos pemitem ao mesma tempo urna situacao
do mais peneito realismo e da mais livre fantasia.
Absorvendo, subvertendo e influenciando as meies de comunicayao, 0 teatro
e a literatura, 0 cinema e tambsm urn organismo mutante que aos poucos vai se
libertando de suas origens e se estabelecendo como urna nova forma aut6noma,
procurando, assim como a propria apreensao da arte, urna coerencia com 0 seu
tempo.
o cineasta ingles Peter Greenaway diz que "ainda nao vimos cinema ... Vlmos
ate agora teatro filmado e principalmente, textos ilustrados. (... ) Estamos diante do
inicio de todo um metacinema novo que pode criar uma nova mfdia e um novo
produto. Esta criac;ao deve oearrer de forma totalmente aut6noma, sem estar
associada a n090es preconcebidas da cultura ocidental do seculo XIX".
Alem de compartilhar com os demais objetos esteticos contemporaneos a
func;ao de catalogo vivo da existencia estatica humana - real e ficcional - 0 cinema
tem a vantagem de faze-Ie na esfera do prazer do entretenimento, criando uma
realidade que ao mesmo tempo contam e transcende a do expectador - a de uma
estatica Wcinematica-.
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CONCLUSAO
A forma em que S8 configura a arte na contemporaneidade naD mais permite
que se atenha as formas tradicionais de pesquisa academica em arte. Pelo
entrecruzamento cada vez maior das diferentes areas do conhecimento humane
com a que S8 define atualmente par arte, a estrutura normativa do ensina S8 torna
par demais rigida, direcionando seu foeo a urna campo cada vez mais restrito.
o material de estudo nao pode mais limitar-se aquele apresentado na sala de
aula, nem as bibliotecas, nem aos livros.
A nova informac;:ao, construida em urna velocidade maior que sua
possibilidade de registro naD consegue penetrar na area da educayao, tornando-se
parte apenas da vida extra academica do estudante, ao lnves de somar-S8 a ela.
Musica, arquitetura, design, cinema, moda e fotografia - elementos presentes
no cotidiano de todas, sao reflexos daquilo que S8 pensa e S8 vive, ao mesma tempo
em que se tornam agentes deflagradores de novas ideias e valores.
A realidade cotidiana do aluno, convertida em texto, e a mais rica fonte de
informa~o e pesquisa sobre a estetica e a arte contemporaneas, e como tal, nao
pode ser ignorada. E na permeabilidade destas duas dimensDes - do cotidiano e da
estrutura academica - partindo de uma percep~o nao mais artistica, mas estetica
da realidade que a arte encontra a realidade do estudante de arte.
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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
1. BARBOSA, Ana-Mae. A imagem do ensino da arte. Sao Paulo: Perspectiva,
1991.
2. BAUDRILLARD, Jean. A transparencia do Mal - ensaio sabre as fen6menos
extremos. Campinas: Papirus, 1998.
3. BAYER, Raymond. Hist6ria da Estetica. lisboa: Editorial Estampa, 1993.