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POLOS DE PRODUO CINEMATOGRFICA NO BRASIL:
reflexes sobre o caso do Rio de Janeiro1
POLES OF FILM PRODUCTION IN BRAZIL: reflections about Rio de
Janeiross case
Andr Ricardo Araujo Virgens2
Resumo: Nos ltimos anos, o pas tem presenciado a expanso de um
formato de incentivo produo audiovisual com a criao de polos
locais, que buscam aliar o incremento da produo com a adoo de
polticas de fomento concentradas em determinado territrio. Assim,
este trabalho tem como objetivo discutir esse fenmeno a partir da
anlise da experincia da cidade do Rio de Janeiro. Essa analise foi
realizada a partir de quatro categorias principais: contexto,
histrico, natureza e mapeamento de agentes envolvidos no processo.
E, ao final, buscamos refletir sobre a noo de polo de produo
cinematogrfica. Palavras-Chave: Cinema no Brasil. Polos de Produo
Cinematogrfica. Economia da Cultura. Economia do Cinema. Rio de
Janeiro. .. Abstract: In recent years, the country has witnessed
the expansion of an incentive format for audiovisual production
with the creation of local centers, seeking to combine increased
production with the adoption and support policies concentrated in a
particular territory . This work aims to deepen discussions about
this phenomenon from the analysis of the implementation of the
experience of Rio de Janeiro . This analysis was performed from
four main categories : context , history , nature and mapping
agents involved. And in the end, we reflect on the notion of film
production center Keywords: Cinema in Brazil. Poles os film
production. Economy of Culture. Economy of film. Rio de
Janeiro.
1. INTRODUO
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Polticas de
Comunicao, do VI Congresso da
Associao Brasileira de Pesquisadores em Comunicao e Poltica (VI
COMPOLTICA), na Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), de 22 a 24 de abril de 2015. 2 Diretor de Produo
vinculado Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, Mestre
em
Cultura e Sociedade pela mesma universidade. E-mail:
[email protected]
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O mercado cinematogrfico, conforme conhecemos hoje, comeou a
se
consolidar em meados do sculo XX. Sendo hegemonizado,
atualmente, pelo
modelo hollywoodiano, tanto do ponto de vista do modo de produo,
quanto da
construo de linguagem e expresso, diversos pases tm buscado,
historicamente, assegurar uma posio privilegiada para suas
cinematografias
nacionais, tendo em vista a importncia cada vez maior do
audiovisual na
construo de valores e bens simblicos e na gerao de divisas
comerciais. No
Brasil, no foi diferente.
um fato que o pas nunca conseguiu construir uma indstria
slida,
entretanto, diversas experincias surgiram com essa finalidade. A
primeira delas
data do incio do Sculo XX, com a produo incentivada pelos donos
de salas de
exibio e que originou a chamada Bela poca do cinema
nacional.
Posteriormente, com a criao de estdios privados, como a Cindia,
a Atlntida e a
Vera Cruz, entre os anos 30 e 50. Em seguida, com a atuao direta
do Estado
atravs da criao da Embrafilme Empresa Brasileira de Filmes S/A
ou, mais
recentemente, com o advento das leis de incentivo e com uma
interseco cada vez
mais forte entre televiso e cinema.
Dentro desse contexto, nos ltimos anos, o pas tem presenciado a
expanso
de um formato de incentivo com a criao de polos locais, aliando
o incremento da
produo com a adoo de polticas de fomento concentradas num
determinado
territrio. Assim, esse trabalho tem como objetivo aprofundar as
discusses sobre
esse fenmeno traando os principais marcos histricos e analisando
a
configurao da cidade do Rio de Janeiro enquanto polo
cinematogrfico.
Importante salientar que o paradigma Hollywoodiano tambm surge
como um
marco fundamental para o raciocnio que realizamos aqui, pois foi
a primeira
iniciativa que associou a noo de produo cinematogrfica com a
partir de um
polo. Ou seja, dotar uma determinada regio de infraestrutura
tcnica e de mo de
obra especializada para o desenvolvimento de uma determinada
atividade
econmica.
A capital fluminense sempre foi uma cidade que ocupou lugar de
destaque no
Brasil, seja do ponto de vista econmico, poltico e/ou cultural.
E, no que se refere
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ao desenvolvimento do campo cinematogrfico, vale lembrar que
acabou
acumulando certa tradio. Foi nela, por exemplo, que se realizou
a primeira
exibio cinematogrfica no pas, no ano de 1898. A partir de ento,
comeou a
montar seu parque exibidor e realizador, e foi se consolidando
como o principal
centro de produo nacional.
No podemos esquecer que algumas das principais experincias que
tentaram
consolidar uma produo cinematogrfica industrial citadas
anteriormente tiveram
sede no Rio de Janeiro: a maior parte das produtoras da chamada
Bela poca do
Cinema Brasileiro, os estdios da Cindia, da Atlntida, ou mesmo a
sede da
Embrafilme. Mas, se at ento a cidade concentrava boa parte da
produo
brasileira, seja por conta da atuao da iniciativa privada, seja
pela atuao de
iniciativas estatais, importante ressaltar que apenas nos anos
80 que
consideramos a existncia de sua condio de polo de produo
institucionalizado.
Interessa-nos, aqui, pensar no apenas sobre o desenvolvimento de
aes
para o fomento ao audiovisual regional, mas tambm entender como
esse
fenmeno acontece quando sua estruturao ganha corpo de poltica
pblica
reconhecida e mediada por governos (municipais, estaduais e/ou
municipais), pelo
mercado e por agentes do campo audiovisual. Essa opo metodolgica
denota,
tambm, uma posio do autor sobre o que poderia ser entendido como
um polo de
produo cinematogrfico. Consideramos que essa uma reflexo
importante,
pois, nos ltimos anos, tem sido cada vez mais comum surgirem
notcias e relatos
sobre a constituio de novos polos de produo no pas. Entretanto,
para alm da
realizao de aes pontuais, partimos de uma ideia, a priori, de
que a constituio
de um polo perpassa a conjuno de uma srie de aes estratgicas
e
continuadas. Isso significa que ele se constitui dentro de uma
poltica de longo
prazo, cuja caracterstica fundadora a existncia de marcos legais
desse
processo.
Consideramos que essa institucionalizao se apresenta de duas
formas: pela
existncia de uma estrutura organizacional responsvel pela
sua
manuteno/gesto; e pela criao e vigncia de marcos legais
fundacionais e
reguladores da sua dinmica de funcionamento. E, nesse processo,
dois marcos
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foram importantes: a criao do Polo Rio Cine&Vdeo, na zona
oeste da cidade a
partir de uma parceria entre poder pblico e sociedade civil; e a
criao da
RioFilme - Empresa Distribuidora de Filmes S.A., j em 1991.
A anlise desse fenmeno se deu a partir de 04 categorias de
anlise,
escolhidas a partir da proposio de Robert Stake para estudos de
caso: 1)
Contexto caracterizao geral da regio; 2) Histrico caracterizao
e
constituio de marco legal fundacional; 3) Natureza Caracterizao
de arranjo
institucional/ modelo de gesto, infraestrutura construda,
projetos implementados; e
4) Informantes, com breve caracterizao dos agentes envolvidos no
processo. E
vale salientar que essa anlise levou em considerao aes
implementadas at
maio de 2014.
Assim, para alm da sntese dessa experincia, buscamos
desenvolver, a
partir da, um conceito inicial sobre o que entendemos como polo
de produo
cinematogrfica. Acreditamos que tanto o setor pblico quanto a
classe de artistas,
produtores cinematogrficos e pesquisadores necessitam
complexificar o debate
das polticas de fomento a esse campo, e a prpria banalizao da
noo de polo
cinematogrfico aponta para a necessidade de refletirmos sobre as
implicaes e
consequncias desse tipo de poltica de fomento.
Esse artigo apresenta parcialmente os resultados da dissertao de
mestrado
intitulada Cinema e Indstria: a experincia dos polos de produo
cinematogrfica
brasileiros, desenvolvida no Programa de Ps-Graduao em Cultura e
Sociedade
da UFBA, sob orientao da prof Dr Clarissa Bittencourt Pinho e
Braga.
2. CONTEXTO
O Rio de Janeiro sempre foi uma cidade que ocupou um lugar de
destaque
no Brasil, do ponto de vista econmico, poltico e/ou cultural.
Isso se intensificou a
partir do ano de 1763, quando assumiu o posto de capital do pas,
uma posio que
ocuparia at meados de 1960. Atualmente, sua populao ultrapassa a
marca de
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6,3 milhes de habitantes, e seu ndice de desenvolvimento humano
municipal
(IDHM)3 de 0,799, considerado muito alto.
Segundo dados da Fundao Centro Estadual de Estatsticas,
Pesquisas e
Formao de Servidores Pblicos do Rio de Janeiro (CEPERJ, 2013)
referentes ao
ano de 2011, a cidade tem um PIB aproximado de 209 bilhes de
reais e uma renda
per capita de R$ 32.940,00. Esses nmeros posicionam o Rio como a
cidade com o
segundo maior PIB do pas - atrs apenas de So Paulo.
Apesar de o estado do Rio de Janeiro ter como uma de suas
principais bases
econmicas a extrao de petrleo, o setor de servios o verdadeiro
responsvel
pela movimentao econmica de sua capital, responsvel por cerca de
85,5% da
renda local (CEPERJ, 2013). Algo que no surpreende, pois de
conhecimento
geral a fora da cidade em ramos como o turismo (um dos
principais destinos
tursticos do pas) e as comunicaes (a sede de algumas das
principais TVs do
pas).
Nesse sentido, vale lembrar que a cidade acabou acumulando certa
tradio
no campo cinematogrfico. Foi nela, por exemplo, que se realizou
a primeira
exibio cinematogrfica no pas no ano de 1898. Isso apenas trs
anos depois da
exibio pblica feita pelos irmos Lumire em Paris. Desde ento,
comeou a
montar seu parque exibidor e produtor e foi se consolidando como
o principal centro
de produo no pas.
As aes de incentivo ao setor, por parte da prefeitura, comearam
a sair do
papel nos anos 30. Em 1934, atravs do Decreto n 5034, de 27 de
agosto de 1934,
o ento interventor federal no Distrito Federal isentou de
impostos e taxas
municipais estdios e laboratrios cinematogrficos brasileiros,
por um perodo de
trs anos (GONZAGA, 1987). Tambm no podemos esquecer que a sede
de
algumas das principais experincias que tentaram consolidar uma
produo
cinematogrfica industrial no pas foi no Rio de Janeiro: a maior
parte das
produtoras da chamada Bela poca do Cinema Brasileiro, os estdios
da Cindia,
3 ndice calculado pelo Programa das Naes Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) a partir de
dados obtidos pelos censos do IBGE.
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da Atlntida, ou mesmo a sede da Embrafilme, iniciativas que j
foram discutidas
com mais detalhes no tpico anterior desta pesquisa.
Outros fatores tambm contriburam para a construo desse
ambiente
favorvel potencializao do setor audiovisual na regio. Desde
1968, havia sido
criado o Curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense, com
a iniciativa do
cineasta Nelson Pereira dos Santos (que tambm havia participado
da fundao
desse curso da UNB, mas foi desligado da instituio brasiliense
nesse mesmo
ano). Eles, juntamente com a graduao em cinema da Universidade
de So Paulo
(USP), so os trs cursos superiores mais antigos do pas nessa
rea.
A partir dos anos 80, a cidade comeou a ser palco de
Festivais
Internacionais de Cinema. O primeiro deles foi o I Festival
Internacional de Cinema,
Televiso e Vdeo do Rio de Janeiro, realizado em 1984. Nesse
mesmo ano, foi
criado o Festival de Cinema da Cidade do Rio de Janeiro, atravs
da Lei Municipal
n 549, de 18 de junho desse mesmo ano, tendo sua primeira edio
realizada em
1985.
Se, at ento, a cidade concentrava grande parte da produo
brasileira, seja
por conta da atuao da iniciativa privada, seja pela atuao de
iniciativas estatais,
importante ressaltar que s nos anos 80 foi que consideramos a
existncia de sua
condio de polo de produo institucionalizado. Isso devido aos
critrios que
enumeramos antes, que levam em considerao fatores como marcos
legais e
aes de planejamento, execuo e controle em curto, mdio e longo
prazos.
3. HISTRICO
Desde os anos 60, os planos de urbanizao da regio oeste da
cidade
apontavam para o desenvolvimento de atividades econmicas de
menos impacto
ambiental. J nos anos 80, uma srie de dispositivos legais foi
assinada de forma
que a Zona Oeste do Rio, em especial, a regio de Jacarepagu, na
Barra da
Tijuca, passasse a ser ocupada por um polo de desenvolvimento
cultural. Assim,
foram feitas desapropriaes e modificaes no zoneamento urbano
municipal,
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atravs dos decretos 9.510 e 9806, ambos de 1990. Alm disso, a
Lei Orgnica do
Municpio, sancionada em 05 de abril de 1990, previa, em seu
artigo 345:
O Poder Pblico manter mecanismos institucionais, na forma da
lei, e garantir incentivos materiais e fiscais para consolidao,
desenvolvimento e ampliao da posio que o Municpio detm na produo de
filmes cinematogrficos de enredo e documentrios e na produo de
vdeos.
Ainda em relao questo fundiria, outra ao que favoreceu o setor
foi a
iseno do imposto sobre propriedade predial e territorial urbana
(IPTU) que a
Prefeitura do Rio tem oferecido para imveis ocupados por
empresas do setor,
desde 1984, para beneficiar laboratrios, estdios, locadoras de
equipamentos e
distribuidoras. A medida criada pelo Artigo 12, inciso IX da Lei
n 206 de 16 de
dezembro de 1980, foi referendada pelo Art. 61 da Lei 691 de 24
de dezembro de
1984 (que reformou o cdigo tributrio municipal) e vem sendo
prorrogada,
seguindo em vigor, pelo menos, at o final de 2014, perodo em que
venceu a atual
legislao que rege essa matria - Lei n 5124 de 02, de dezembro de
2009. As
salas de exibio administradas por empresas brasileiras tambm
foram
desoneradas de IPTU pela mesma legislao citada.
No ano de 1986, comeou a ser estruturada a criao do Polo Rio
Cine &
Vdeo nessa regio. Por isso, nossa hiptese de que a cidade no s
passou a ser
um centro produtor importante, como tambm a desenvolver aes
sistemticas
para se estruturar como polo de produo. Esse processo surgiu a
partir da
mobilizao da classe cinematogrfica local, juntamente com uma
articulao com o
poder pblico. Assim, ele foi integrado ao Programa de Construo
de Polos
Industriais da Cidade do Rio de Janeiro (PETRAGLIA, 2002), que
estava sendo
levado adiante pela prefeitura na poca.
Outro marco importante foi a criao da RioFilme - Empresa
Distribuidora de
Filmes S.A., atravs da sano da Lei Municipal n 1672, de 25 de
janeiro de 1991,
de autoria do vereador e ator, Francisco Milani. O Artigo 2
dessa lei aponta suas
finalidades:
I - a distribuio de filmes no pas e no exterior;
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II - a realizao de mostras e apresentao em festivais, no pas e
no exterior, visando difuso do filme brasileiro em seus aspectos
culturais, artsticos e cientficos; III - a realizao de atividades
comerciais relacionadas com o objetivo principal de sua atividade,
conforme definido no inciso I; IV - o fomento produo de filmes,
quando vinculada a contratos de distribuio de exclusividade da
empresa.
A partir de 2003, com a aprovao da Lei n 3553 de 13 de maio de
2003, o
inciso IV passou a vigorar com o seguinte texto: IV - coproduo e
participao na
realizao de obras audiovisuais de qualquer natureza. Na prtica,
isso j vinha
acontecendo nos anos anteriores, porque a empresa nunca se
restringiu ao papel
de distribuidora, mas tambm de patrocinadora e coprodutora de
filmes. Em relao
atuao da RioFilme, abordaremos seu histrico e resultados
especficos em
tpico mais adiante.
J em 2005, dessa vez por iniciativa do governo do Estado, foi
instituda a
Comisso Estadual de Fomento Atividade de Audiovisual, atravs do
Decreto n
37. 369, de 12 de abril de 2005, assinado pela ento governadora
Rosinha
Garotinho. Atravs dele, foi formado um grupo de trabalho cujo
principal objetivo
seria de criar a Rio State Film Comission, um rgo que
assessoraria equipes
estrangeiras com demandas para projetos cinematogrficos no
estado do Rio de
Janeiro.
Vale reforar a informao de que os trabalhos seriam coordenados
pela
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico, e no, pela
Secretaria de
Cultura. J em 2007, quando o Estado estava sob a gesto de Srgio
Cabral, foi
assinado um convnio de cooperao tcnica entre o governo estadual
e a
ANCINE, com o objetivo principal de implementar essa proposta.
Entretanto,
mostrando a falta de dilogo entre o Estado e a Prefeitura,
proposta semelhante
vinha sendo gestada em mbito municipal desde 2006, a qual se
intitulava RioFilme
Comission e estava sendo desenvolvida pela distribuidora
RioFilme. Apesar de no
ter encontrado nenhum aparato legal de fundao, achamos registros
de suas
atividades desde 2007, quando se filiou Aliana Brasileira de
Film Comissions
(ABRAFIC). A partir de 2009, os dois rgos finalmente se fundiram
e formaram a
Filme no Rio Rio Film Comission.
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No mbito do governo do estado do Rio, inclusive, o projeto
de
Desenvolvimento do Setor do Audiovisual do Estado do Rio de
Janeiro apareceu
como o projeto 33, entre os 40 listados como planos prioritrios
pelo Plano
Estratgico do Governo do Rio de Janeiro 2007-2010 construdo pela
gesto do
governador Srgio Cabral. Segundo o documento, o objetivo do
projeto de
desenvolver, modernizar e fortalecer a economia do audiovisual
no estado,
transformando-o no mais competitivo, criativo e atraente do pas
para empresas
dessa atividade (GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2008, p.
97).
Ainda nesse plano, aponta como principais resultados
esperados:
1. Aumentar em 30% o PIB do setor audiovisual no estado do Rio
de Janeiro, at 2010; 2. Aumentar em 15% o nmero de empresas no
setor audiovisual no estado, at 2010; 3. Aumentar em 18% o nmero de
empregos gerados pelo setor no estado, at 2010 (GOVERNO DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO, 2008, p. 97).
Apesar dessas metas estabelecidas, no existe nenhum estudo
ou
documento produzido pelo governo do Estado ou por algum segmento
do setor
audiovisual carioca que comprove o seu cumprimento ou no. Mas, a
nosso ver, foi
partir do ano de 2009 que as aes no campo audiovisual carioca
comearam a
tomar um novo impulso do ponto de vista de planejamento e
organizao. Nesse
ano, a cidade incluiu o desenvolvimento do setor audiovisual
como umas das metas
presentes no Plano Estratgico da Prefeitura do Rio de Janeiro
2009-2012, cuja
inteno de tornar a cidade do Rio o principal polo das indstrias
criativas (mdia,
audiovisual, moda e design) no pas.
Como forma de operacionalizar essa meta, selecionamos nove aes,
entre
as quais destacamos as seguintes: revitalizao da RioFilme; apoio
direto a
produes; incentivos fiscais para empresas do setor; atrao de
produes
internacionais atravs da Film Comission; apoio a iniciativas de
formao de mo de
obra e a eventos internacionais. Como se v, o desenvolvimento do
setor foi
inserido tanto no plano estratgico do poder municipal quanto do
estadual. Essa
convergncia culminou com a assinatura de um termo de cooperao
entre a
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prefeitura e o governo do estado do Rio de Janeiro, que institui
o Programa Rio
Audiovisual em setembro de 2009. Entre as principais aes desse
programa, esto
previstas a criao de fundos de apoio conjuntos (definitiva) e da
Rio Film
Comission (definitiva) e a implementao de programas de desonerao
fiscal.
Sintetizando algumas das informaes apresentadas, organizamos, na
tabela
abaixo (Tab.1), os principais marcos legais relacionados ao
desenvolvimento do
Polo do Rio de Janeiro.
Tabela 01 Marco legal Polo Cinematogrfico do Rio de Janeiro
Tipo Nmero Objeto
Decreto-lei 42/1969 Aprova o Plano Piloto de Urbanizao e
Zoneamento da
Baixada de Jacarepagu.
Lei municipal 549, de 18 de junho de 1984 Cria o Festival de
Cinema da Cidade do Rio de Janeiro.
Decreto municipal 7.548 de 07 de abril de 1988 Aprova rea e
loteamento para instalao do Polo Rio de
Cine e Vdeo em Jacarepagu.
Decreto municipal
9.510 de 01 de agosto de 1990
Complementa o Decreto 7.548/88, que permite a instalao de
empreendimentos ligados indstria, ao comrcio e
cultura na regio da Barra da Tijuca-RJ.
Decreto municipal
9.806 de 20 de novembro de 1990
Permite instalao de empreendimentos ligados indstria, ao comrcio
e cultura na regio da Barra da Tijuca RJ.
Lei municipal 1.672 de 25 de janeiro de
1991 Cria a RioFilme Empresa Distribuidora de Filmes S.A.
Lei municipal 3553 de 13 de maio de 2003 Autoriza a RioFilme a
atuar na rea de coproduo de
obras audiovisuais.
Decreto estadual 37. 369 de 12 de abril de
2005 Institui Grupo de Trabalho para estruturao da Rio State
Film Comission.
Resoluo estadual
225 de 04 de fevereiro de 2009
Estabelece as atribuies do Escritrio de Apoio ao Setor
Audiovisual-Filme no Rio-Rio Film Office.
Decreto estadual 42.042 de 24 de setembro
de 2009 Autoriza iseno de ICMS para importao de
equipamentos por empresas cariocas.
Resoluo conjunta estadual
Sefaz/SEC
087 de 04 de dezembro de 2009
Regulamenta a iseno de ICMS para importao de equipamentos por
empresas cariocas.
Decreto estadual
42.358 de 16 de maro de 2010
Incorpora a Rio Film Comission estrutura da Secretaria Estadual
da Cultura, atravs da sua Superintendncia de
Audiovisual.
Lei municipal 5.215 de 02 de agosto de
2010
Aprova o Plano Plurianual no Municpio do Rio de Janeiro, que
tambm estabelece prioridades para o fomento ao
setor audiovisual.
Decreto estadual
43.168 de 29 de agosto de 2011
Estabelece as atribuies da Rio Film Comission.
Decreto estadual
44.158 de 15 de abril de 2013
Complementa as atribuies da Rio Film Comission estipuladas pelo
decreto 43.168 de 2011.
Fonte: produzida pelo autor
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4. NATUREZA
Com a estruturao do Polo Rio Cine&Vdeo, o poder pblico e a
iniciativa
privada adotaram uma srie de medidas conjuntas para estimular o
setor, criando
um novo momento na estruturao do polo cinematogrfico da cidade.
Assim, no
histrico traado, consideramos que algumas instituies e eventos
passaram a ser
smbolos desse processo devido sua importncia no cenrio local.
Eles/as
seriam os/as seguintes: a Prefeitura Municipal, atravs da
RioFilme e da Rio Film
Comission; o governo do Estado, atravs da Superintendncia de
Audiovisual da
Secretaria da Cultura; agentes privados e do terceiro setor, em
especial, a
Associao Polo Rio Cine&Vdeo, e o Festival Internacional de
Cinema do Rio.
Estamos tratando de uma estrutura complexa, em que diversos
agentes
atuam de forma paralela na consolidao desse polo local, mas que
ainda
demorariam a se inter-relacionar. Ento, para facilitar a
compreenso desse
processo e a sntese de dados, a seguir, apresentamos, de forma
individualizada e
detalhada, cada uma dessas iniciativas citadas e como se
inter-relacionam.
a) Polo RioCine&Video
Conforme aponta Cludio Petraglia (2002), no final dos anos
80,
produtores de cinema e de vdeo e o Sindicato da Indstria
Cinematogrfica juntaram-se para criar uma associao privada sem fins
lucrativos, batizada de Associao Polo Rio de Cinema e Vdeo, num
modelo que unia a iniciativa privada e a fora poltico-institucional
do Estado.
Ele aponta, ainda, que a relao entre a associao e a prefeitura
para
implementar o conjunto de estudos se deu com permutas. A
prefeitura havia cedido
o terreno em Jacarepagu, com 35 mil metros quadrados, por um
perodo de 10
anos. Em contrapartida, a associao construiria a infraestrutura
necessria de
produo. Esses investimentos teriam sido da ordem de 12 a 15
milhes de dlares,
num complexo de oito estdios. Entretanto, ele mesmo aponta que a
iniciativa ficou
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parada durante alguns anos, e as primeiras empresas s comearam a
se instalar
nesse terreno no final dos anos 904.
A partir de 2008, a cesso de uso do espao cedido pela prefeitura
passou a
ser mediada pelo contrato 003, de 04 de maro de 2008, que
envolveu a Empresa
Municipal de Urbanizao Rio Urbe e a Associao Polo Rio Cine Vdeo
e
Comunicao, com validade de cinco anos (nesse caso, o contrato j
venceu e
ainda no foi renovado), e que estabelecia o pagamento de um
aluguel mensal (da
associao prefeitura) de R$ 12.962,95, que somava um valor total
de R$
777.777,00.
importante esclarecer um ponto para evitar confuses
terminolgicas.
Apesar de levar o nome de polo, no estamos reduzindo a
estruturao do Polo de
cinema do Rio de Janeiro estruturao dessa iniciativa em
Jacarepagu, mas
situando-a como ponto de partida para mais essa etapa na histria
de fomento ao
audiovisual na regio, porque a estrutura do Polo Rio Cine &
Vdeo oferece
condies (infraestrutura) de trabalho, mas no d conta de outras
questes
importantes, como aes de incentivo e de fomento ao setor que
cabem ao poder
pblico.
Desde meados de 2013, a RioFilme vem anunciando que o complexo
ser
alvo de um edital de licitao para administrao. Em contrapartida,
o vencedor
deveria investir na expanso de sua infraestrutura, ampliando o
nmero de estdios
de oito para 16. Aliada a isso, tambm foi anunciada a proposta
de se criar um novo
complexo de estdios no Bairro de So Cristvo, utilizando o espao
onde ainda
funciona o Quartel da Guarda Municipal do Rio de Janeiro (O
GLOBO, 2013).
Entretanto, conforme comentou Adrien Muselet, diretor comercial
da RioFilme em
entrevista, a proposta de licitao est parada na Procuradoria
Geral do Municpio,
4 Em terreno prximo, em 1995, foi inaugurado o Projac, complexo
de estdios da Rede Globo de
Televiso utilizado para filmar seus programas e novelas. Essa
iniciativa privada tambm se relaciona com o objetivo do poder
pblico municipal de estimular as empresas dos setores de cultura e
de comunicao a ocuparem aquela rea da cidade. Mais tarde, em 2008,
comearam a ser construdos os estdios da Rede Record, chamados de
RecNov, na perspectiva de esse setor da cidade ser ocupado por
empreendimentos da rea de cultura.
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e a de construo do complexo de So Cristvo ainda se encontra em
fase de
negociao.
b) RioFilme
Criada atravs de Lei Municipal em 1991, a RioFilme passou a
funcionar
regularmente a partir do ano seguinte, sob a direo da produtora
Mariza Leo.
Essa estrutura foi criada pelo poder municipal carioca em um
momento pouco
favorvel ao cinema brasileiro, paralelamente ao desmantelamento
da estrutura
federal de fomento cultura pelo Governo Collor - incluindo o
fechamento da
Embrafilme - em que a produo nacional ficou estagnada. Mas era
um momento,
tambm, em que se discutiam novas (com aspas propositais)
estratgias para o
setor. Assim, o ano de 1993 assistiu aprovao da Lei do
Audiovisual, na esfera
federal, enquanto a RioFilme seguia em processo de
implementao.
Entre os anos de 1992 e 2008, as atividades da empresa se
concentraram,
de fato, no ramo da distribuio, e ela investiu pouco em outros
elos da cadeia. Mas
isso, necessariamente, no ruim, pois ela se consolidou como uma
das principais
distribuidoras nacionais e apresentou resultados de pblico
expressivos com filmes
como Central do Brasil e Carandiru (GATTI, 2005). Entretanto, a
partir de 2009,
quando o jornalista e ex-secretrio de Polticas Culturais do
Ministrio da Cultura,
Srgio S Leito, assumiu a presidncia do rgo, o escopo de atuao da
empresa
foi ampliado. A partir da, entendemos que ela passou a ocupar,
de fato, um lugar
privilegiado no corpo de polticas pblicas voltadas para o
fortalecimento da
produo local, com ampliao de recursos e de elos da cadeia
atendidos pela
empresa.
Atualmente, a relao entre a RioFilme e a Prefeitura Municipal
passou a ser
estabelecida por meio de contratos de gesto que pontuam,
anualmente, diretrizes,
metas e oramento disponibilizado. Um dos principais dados que a
RioFilme gosta
de mencionar em suas apresentaes institucionais o crescimento de
sua
capacidade de investir. Se, no ano de 2008, esse valor foi de R$
1,1 milho de
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reais, em 2009, ele j seria ampliado para R$ 11,3 milhes de
reais e beirou os R$
50 milhes de reais em 2012 e 2013.
Outro dado importante a ser analisado a evoluo das receitas da
empresa,
ou seja, dos recursos provenientes de suas atividades econmicas
(participao de
lucros em coprodues e em atividades de distribuio, por exemplo).
Se no ano de
2008 esse valor foi de R$ 1,4 milho de reais, em 2012, foi
ampliado para R$ 8,4
milhes de reais. No elo da produo, ela atua oferecendo linhas de
financiamento
atravs de editais pblicos. A partir de 2013, passou a
desenvolver (e a priorizar)
um mecanismo de financiamento automtico, que consiste na injeo
de recursos
diretos em produtoras. No primeiro ano de funcionamento dessa
linha, a proposta foi
de avaliar os resultados obtidos por empresas que atuam no
mercado, atravs de
um sistema de pontuao que avalia, por exemplo, a quantidade de
ingressos
vendidos. Cada ingresso vendido gera um valor em crdito que pode
ser utilizado
pelas produtoras habilitadas no projeto de sua escolha.
Entretanto, s estariam
habilitadas empresas que totalizassem, pelo menos, 300 mil
espectadores entre
2011 e 2012. Ou seja, trata-se de um mecanismo que valoriza
agentes consolidados
no mercado, em detrimento de novos empreendimentos e produtoras
de menor
porte.
E, no elo da exibio, a RioFilme construiu a rede Cine Carioca,
cujo
objetivo seria de construir salas de exibio em locais com menos
oferta desse tipo
de equipamento. A gesto do espao, entretanto, cedida iniciativa
privada
atravs de licitao. Atualmente, a rede conta com quatro salas -
uma com 90
lugares em Nova Braslia (no Morro do Alemo), e trs, no Bairro do
Mier, zona
norte do Rio, com capacidade total de 400 lugares.
Ressaltamos, entretanto, que importante salientar que a
programao
atende a finalidades comerciais, sem atentar, por exemplo, para
que o espao seja
utilizado no lanamento de filmes brasileiros ou para filmes
produzidos e/ou
coproduzidos pela RioFilme. Cabe, pois, aos concessionrios
montarem as grades
de programao dessas salas. A sala em Nova Braslia administrada
pela rede
CineMagic, e o complexo do Mier, pela rede Kinoplex, pertencente
ao grupo
Severiano Ribeiro.
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A Riofilme tambm estabeleceu convnios para atuar no campo da
formao.
O principal parceiro nessa rea o Servio Nacional de Aprendizagem
Industrial do
Rio de Janeiro (SENAI-RJ), que vem oferecendo cursos tcnicos na
rea de
fotografia, edio de imagens, eltrica, animao e som. Em 2012,
primeiro ano em
que essa parceria foi realizada, foram qualificadas,
aproximadamente, 100 pessoas.
Em 2013, foram abertas 550 vagas. A participao do SENAI em
atividades do
campo do cinema aparece como algo indito, campo tradicionalmente
ocupado pelo
Servio Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Esse mais um
indcio da
forma como as polticas no Rio vm sendo concebidas e
implementadas.
A empresa tambm vem realizando uma ao de formao de roteiristas,
em
parceria com a Universidade de Colmbia, atravs de um programa
que formou 15
roteiristas em 2013 e pretende formar mais 15 em 2014. Apesar de
toda essa
ampliao no escopo e na capacidade de atuao, formalmente, no
houve
mudanas na estrutura organizacional da empresa, regulada pelo
Decreto n 27.518
de 04 de janeiro de 2007. Entretanto, conforme apontado por
Adrien Muselet, essa
estrutura, na prtica, no funciona dessa forma e, internamente,
foi adaptada para
lidar com essa nova conjuntura institucional.
c) Filme no Rio - Rio Film Comission
A Film Comission do Rio de Janeiro foi, finalmente, estruturada
no ano de
2009, como j foi dito, com a fuso de duas iniciativas
semelhantes que vinham
sendo estruturadas separadamente em mbito estadual e municipal.
A partir dessa
juno, sua gesto ficou sob a responsabilidade do governo do
Estado, atravs de
sua Secretaria de Cultura. Seguindo a concepo de uma film
comission, como
estrutura que d suporte s produes realizadas no local onde foi
criada, a
estrutura carioca surgiu com as seguintes finalidades
principais, segundo
informaes contidas em seu site oficial5:
5 Site oficial: . Acesso em: 01 mar de 2014
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atender s solicitaes de produtores audiovisuais nacionais e
internacionais;
buscar produes economicamente relevantes para serem filmadas no
municpio e no Estado do Rio de Janeiro;
ajudar na criao de incentivos fiscais para produes
audiovisuais;
Implantar um sistema simples e padronizado para solicitao de
permisso de filmagens, facilitando sua obteno;
fazer parcerias e acordos de cooperao tcnica com instncias
governamentais e da sociedade civil; (...);
apoiar a logstica de produes audiovisuais (...).
Como se v, ela no uma estrutura de fomento direto, que
financia
produes atravs de editais, por exemplo. Mas surgiu como
estrutura que contribui
para atrair e realizar produes. Nesse caso, ela poderia,
inclusive, oferecer aportes
financeiros para atrair produes. Isso foi o que aconteceu, por
exemplo, no
processo de negociao para realizar filmagens na cidade do Rio de
franquias de
filmes como Crepsculo e Velozes e furiosos.
Steve Solot, convidado para assumir a presidncia da Rio Film
Comission,
era presidente do brao latino-americano da Motion Pictures
Asssociation of
America e est frente do processo de estruturao do rgo desde
sua
implementao em 2009. Ou seja, o convite feito a um representante
da principal
associao do mercado cinematogrfico dos EUA para assumir esse
posto j mais
um indcio que nos mostra com que parmetros a poltica de fomento
ao cinema no
Rio vem sendo implementada.
No final de 2013, foi anunciada uma nova mudana em seu modelo
de
gerenciamento. A partir de um novo acordo entre a RioFilme e a
Secretaria de
Cultura do Estado do Rio, sua gesto passou a ficar sob a
responsabilidade da
RioNegcios, uma agncia vinculada Prefeitura do Rio para atrair
investimentos
em diferentes ramos econmicos. Nesse processo de reestruturao da
Rio Film
Comission, foi assinado um convnio entre a RioFilme e o
Sindicato da Indstria
Audiovisual do Rio de Janeiro (SICAV-RJ), no valor de R$ 900 mil
para execuo do
programa Films from Rio, que tem como objetivo estimular a
participao de
produtoras cariocas em eventos internacionais de mercado
audiovisual.
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d) Secretaria Estadual da Cultura Superintendncia de
Audiovisual
Na estrutura da Secretaria Estadual de Cultura do Rio de
Janeiro, a
responsabilidade de gerir as aes voltadas para a rea de cinema
fica a cargo de
sua Superintendncia de Audiovisual. A partir de 2009, com a
implantao do
Programa Rio Audiovisual, o Estado e a Prefeitura passaram a
realizar uma srie de
aes conjuntas de fomento, especialmente no campo do
financiamento a projetos.
Esse programa continua aparecendo como meta estratgica do
Plano
Plurianual do Estado do Rio de Janeiro 2012-2015, mostrando o
lugar central que o
tema continua tendo na diante da gesto pblica local.
Complementando esse processo, no ano de 2013, como resultado
da
elaborao do Plano Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, foi
elaborado um plano
setorial para o setor audiovisual. Foram estabelecidas seis
diretrizes estratgicas:
contribuir para consolidar o polo audiovisual fluminense como o
principal centro de
excelncia da produo audiovisual da Amrica Latina; estimular a
inovao e a
competitividade tecnolgica no setor audiovisual; reconhecer e
apoiar a diversidade
e a excelncia artstica da produo audiovisual fluminense;
promover uma
formao audiovisual de excelncia no Estado; ampliar o acesso s
obras
audiovisuais e preservar as obras audiovisuais produzidas no
Estado. Isso dificultou
a anlise da atuao da Superintendncia, porque os dados
apresentados em
relatrios oficiais no dividem as aes realizadas por cidade. Ou
seja, no
conseguimos saber, com preciso, qual o impacto das aes da
Secretaria na
capital quando comparada com outras cidades do estado do
Rio.
Outra ao realizada pelo governo do Estado de fomento ao setor
apareceu
com o Decreto 42.042, de 24 de setembro de 2009, e a Resoluo
Conjunta
Sefaz/SEC n 087, de 04 de dezembro de 2009, que oferece iseno de
ICMS para
a importao de equipamentos por empresas cariocas.
e) Festival do Rio
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O Festival do Rio, ou Rio de Janeiro International Film
Festival, surgiu com a
unificao de outros dois festivais, ambos surgidos nos anos 80: o
Festival
Internacional de Cinema, Televiso e Vdeo do Rio de Janeiro,
criado em 1984, e o
Rio Cine Festival, criado em 1985. Desde ento, ele se consolidou
como um dos
festivais mais importantes do pas, tanto em nmero de filmes
exibidos quanto em
pblico presente nas sesses. Em sua ltima edio de 2013, foram
exibidos 406
filmes, distribudos em 27 mostras, segundo o seu site oficial6.
De acordo com
relatrio da RioFilme (principal patrocinadora do festival), sua
ltima edio contou
com um pblico aproximado de 319 mil pessoas.
importante ressaltar que, levando em considerao apenas o ano de
2013,
o banco de dados Kinoforum7 apontou a realizao de 24 festivais
na capital
carioca, desde o j citado Festival do Rio, mas passando tambm
por outros
festivais tradicionais e de diferentes gneros e formatos, como o
Festival
Internacional de Cinema Infantil (FICI); o Festival Brasileiro
de Cinema Universitrio
(FBCU); o Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro;
Tudo Verdade
Festival Internacional de Documentrios; o Festival Vises
Perifricas - Audiovisual,
Educao e Tecnologias; Mostra do Filme Livre; Anima Mundi
Festival
Internacional de Animao do Brasil; o FEMINA - Festival
Internacional de Cinema
Feminino e o Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade, entre
outros.
5. INFORMANTES
De forma geral, considerando os dados apresentados, podemos
perceber a
presena de agentes de diferentes setores participando, de forma
direta, das aes
de estruturao do polo. Nesse momento, no nos interessa fazer um
mapeamento
completo do setor, mas apontar as principais instituies
responsveis pela
formulao e/ou execuo de aes que impactem no setor audiovisual
do
municpio e que se relacionem com a proposta institucional do
Polo de cinema do
6 Site oficial: . Acesso em: 20 nov 2013. 7 Principal banco de
dados sobre os festivais de cinema realizados no pas. Pode ser
acessado atravs do endereo: . Acesso em: 10 mar 2014.
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Rio de Janeiro. As propostas vm sendo implementadas por meio de
trs conjuntos
de agentes:
a) O Poder pblico, representado, em mbito federal, pela Ancine,
que j
ofereceu auxlio tcnico para implementar a proposta de Film
Comossion
e que, atualmente, est em negociao com a RioFilme para a
liberao
de verbas complementares atravs do Fundo Setorial do
Audiovisual; em
mbito estadual, pela Secretaria de Cultura, atravs de sua
Superintendncia de Audiovisual, que tem concentrado suas aes
de
fomento em editais pblicos e patrocnio a eventos; e em mbito
municipal, atravs da RioFilme, como empresa pblica que tambm
tem
concentrado aes de fomento e de acompanhamento do mercado
local,
e, mais recentemente, atravs da Rio Film Comission, que passou a
fazer
parte da estrutura municipal.
b) A iniciativa privada (e/ou parcerias pblico-privadas), em que
existem
trs agentes principais: a Associao Polo Rio Cine&Video,
ainda
responsvel pela gesto e pela manuteno da infraestrutura de
estdios
e escritrios, implementadas na regio de Jacarepagu, nos anos 90;
o
Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com a
realizao
de parcerias na rea de formao de mo de obra; e o Latin
American
Training Center-LATC (Centro Latinoamericano de Treinamento
e
Assessoria Audiovisual), que aparece como consultor e/ou
correalizador
de algumas atividades de formao e intercmbio, como seminrios
e
workshops. Coincidncia ou no, a equipe de coordenao do LATC
a
mesma da Rio Film Comission.
c) Terceiro setor e/ou associaes de classe: Apesar de ter um
mercado
produtor consolidado, interessante notar que no existe uma
grande
quantidade de associaes de classe relacionadas ao campo do
audiovisual na cidade. Num mapeamento prvio, encontramos o
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Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indstria
Cinematogrfica e
do Audiovisual (STIC), que atua tambm em outros estados e o
principal sindicato de trabalhadores do campo audiovisual no
pas; a
Associao Profissional dos Reprteres Fotogrficos e
Cinematogrficos
do Rio de Janeiro (ARFOC), fundada em 1946 e voltada para a
defesa
dos interesses de fotgrafos e cinegrafistas; a Associao
Brasileira de
Documentaristas e Curtas-metragistas do Rio de Janeiro e a sede
da
Associao Brasileira de Roteiristas Profissionais de TV
(ARTV).
Notamos, entretanto, a participao direta na articulao e na
realizao de
aes de fomento de apenas outras duas instituies dessa natureza:
o Sindicato
da Indstria do Audiovisual do Rio de Janeiro (SICAV-RJ), atravs
de uma parceria
voltada para a execuo do programa Films from Rio, e a ABPITV
Associao
Brasileira de Produtores Independentes de Televiso, responsvel
pela realizao
do RioContentMarket, considerado hoje o maior evento voltado
para o mercado
audiovisual realizado na Amrica Latina e que foi criado no ano
de 2012.
6. CONCLUSES INICIAIS
Dentre os 10 filmes nacionais mais assistidos de 2013, 09 foram
produzidos
no Rio de Janeiro. Essa era a frase mais entoada nos corredores
e nas salas de
exibio do Festival do Rio de 2013, especialmente presente nas
falas dos agentes
responsveis pelas polticas de fomento na cidade e no estado
fluminense e que era
repetido no teaser de propaganda da Riofilme exibida antes de
todas as sesses do
festival. Esse foi um dado muito comemorado por eles.
Esse um dado que reflete os investimentos realizados no setor,
nos ltimos
anos, mas tambm aponta para uma situao preocupante, pelo menos
para quem
defende o processo de regionalizao da produo no pas, pois
demonstra a
concentrao de produes cinematogrficas na capital carioca se
intensificou. Isso,
certamente, deveria ser alvo de aes de rgos federais, como a
Ancine e a
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Secretaria do Audiovisual, atravs de aes de disseminao geogrfica
da
produo nacional. Do ponto de vista das produtoras e dos agentes
locais, esse
nmero indica o sucesso das aes implementadas.
um fato que a cidade do Rio de Janeiro, a partir da prpria
histria de
relacionamento com o setor audiovisual, conseguiu construir uma
complexa rede de
fomento quem vem se ampliando e se aperfeioando nos ltimos anos.
Com a
incluso do setor audiovisual nos planos estratgicos de
desenvolvimento da capital
e do estado do Rio, ambos os poderes convergiram no entendimento
desse setor
como pea estratgica para o desenvolvimento local e regional.
Ressalte-se, todavia, que, com base na anlise dos dados
apresentados,
questionamos como a RioFilme assumiu um papel central no
processo de coordenar
as aes de fomento na capital carioca, e as demais organizaes/
instituies
orbitam ao seu redor. Ela desenvolveu parcerias estratgicas com
agentes
estaduais e federais, terceirizou determinadas aes,
especialmente na rea de
formao, e adotou uma ttica sobremaneira agressiva de captao e
patrocnio de
eventos, atraindo agentes do mercado internacional para atuarem
na cidade.
Partindo da centralidade da RioFilme e analisando discursos e
aes
implementadas, percebemos a forte influncia do modelo hegemnico
em suas
aes, algo abertamente defendido pelos seus gestores. RioFilme
defende fomento
a blockbusters, dizia o ttulo de uma matria da Folha de So Paulo
publicada no
dia 26 de abril de 2013. Quando questionado sobre o motivo de a
empresa investir
em filmes comerciais (inclusive da Globo Filmes), Adrien Muselet
respondeu: Pela
mesma razo que o BNDES coloca dinheiro numa fbrica de carro na
Bahia: porque
gera emprego e renda. Tem uma srie de vantagens econmicas
bvias
(CANNICO, 2013).
Assim, percebemos uma movimentao na cidade para inclu-la no
circuito
institucionalizado de produo com padres internacionais de
fomento, gesto e
produo, incluindo polticas fortes de insero de produtoras locais
no circuito
internacional, com a realizao de coprodues e participao de
eventos de
mercado. Ou seja, o ideal industrial continua mais vivo do que
nunca.
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Figura 01 Banner de divulgao da RioFilme
Alm disso, de forma geral, percebemos existncia de cinco
aspectos em
comum em seu processo de implementao, quando comparadas com
outras
experincias da mesma natureza no Brasil: a construo de uma
infraestrutura de
apoio, ilustrada, especialmente, por um complexo de estdios; a
realizao de, pelo
menos, um festival de grande porte; a aprovao de marcos legais
locais que
garantam a implementao da proposta e sob quais dispositivos
gerais elas sero
implementadas; a instalao de uma film comission e a realizao de
uma poltica
de financiamento para produo.
Outras aes tambm so importantes serem mencionadas: foram
realizadas
por, pelo menos, dois deles: medidas de desonerao fiscal;
programas de
formao de mo de obra tcnica; e aes de estmulo expanso do
circuito
exibidor. Outra caracterstica que perpassa as experincias dessa
natureza no pas
sua interface com o setor de turismo. No Rio de Janeiro, surge,
especialmente,
como estratgia de ampliao da visibilidade da cidade atravs da
atrao de
produes (em especial estrangeiras).
J do ponto de vista de gesto, percebemos trs problemas centrais:
Em
primeiro lugar, a existncia de uma estrutura vertical de tomada
de decises, ou
seja, no h mecanismos efetivos de participao social e discusso
sobre suas
aes. Assim, o poder pblico centraliza esse poder em si.
Em segundo lugar, por uma tradio de descontinuidade, j que no
se
conseguiu estabelecer mecanismos que garantissem seu
funcionamento em mdio
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e longo prazos, sofrendo sempre as intempries de mudanas de
gesto que no
do continuidade a processos anteriores. Sua histria
caracterizada por funcionar
com extremos de efetivao de propostas e extremos de
paralisia.
E, em terceiro lugar, a relao desse tipo de ao com
determinadores
gestores, num processo de personalizao das polticas. No Rio,
inicialmente era
associado s imagens dos ex-prefeitos Marcelo Allencar e Csar
Maia. E, mais
recentemente, a partir do momento em que Eduardo Paes assume a
prefeitura, e d
o cargo de Secretario Municipal de Cultura a Srgio S Leito.
Seria interessante,
contudo, verificar, a partir de uma anlise continuada, se elas
se transformaro em
polticas pblicas municipais de fato, ou se continuaro sendo
atreladas a
determinados perfis de governantes.
Para alm das crticas ao processo analisado, e numa primeira
tentativa de
sintetizar essas experincias, optamos por compreender um polo de
produo
cinematogrfica como um arranjo institucional, seja do campo
pblico ou do campo
privado, organizado de forma a desenvolver a produo
cinematogrfica a partir de
determinada regio/territrio, perpassando a implementao, em
geral, de aes de
quatro naturezas: apoio logstico, financiamento e desonerao
fiscal, formao de
mo de obra e de pblico fruidor e estmulo realizao de eventos do
setor. Uma
proposta inicial de conceito que pode ser mais bem
problematizado com a anlise
de outras experincias concretas.
importante reconhecer, tambm, que a noo de territrio
fundamental
para a realizao dessas reflexes, especialmente porque o agente
municipal toma
corpo como incentivador do mercado cinematogrfico, o que
representa uma
mudana significativa. Isso porque, at ento, esse era um papel
basicamente
ocupado pela esfera federal e, pontualmente, por alguns governos
estaduais.
Estamos falando de um conjunto de polticas adotadas num espao
geogrfico
muito especfico e de uma nova forma de atuar do Estado e do
mercado, no campo
das polticas pblicas de desenvolvimento do campo
cinematogrfico.
Ainda numa discusso relacionada ao campo territorial,
interessante
perceber uma diferena entre essas experincias contemporneas e as
outras
implementadas no pas durante o Sculo XX. Aqui, percebemos que a
ideologia
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nacionalista, que defendia a necessidade de construir uma
indstria nacional de
cinema com bases slidas ou de ver o cinema como estratgia de
legitimao de
uma cultura nacional, perdeu espao para uma ideia de cinema
local. Percebemos
isso de maneira mais forte no Rio, pela defesa do cinema
carioca.
A iniciativa ainda carece de estudos especficos, seja do ponto
de vista
conceitual, a econmico ou da produo cultural e seu impacto no
incremento do
circuito de produo, distribuio e consumo de bens simblicos. E
acreditamos que
tanto o setor pblico quanto a classe de artistas e de produtores
cinematogrficos
necessitam complexificar o debate das polticas de fomento a esse
campo, e que a
prpria banalizao da noo de polo cinematogrfico aponta para a
necessidade
de refletirmos sobre as implicaes e limites desse tipo de
poltica de fomento.
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