Poesia Plural 9 , Raiz Ed, p. 278 Aquela nuvem José Gomes Ferreira, Poeta Militante II
PoesiaPlural 9, Raiz Ed, p. 278
Aquela nuvemJosé Gomes Ferreira, Poeta Militante II
Aquela nuvemParece um cavalo... Ah! Se eu pudesse montá-lo! Aquela?Mas já não é um cavalo,É uma barca à vela. Não faz mal.Queria embarcar nela. Aquela?Mas já não é um navio,É uma torre amarelaA vogar no frioOnde encerraram uma donzela.
Não faz mal.Quero ter asasPara a espreitar da janela. Vá, lancem-me no marDonde voam as nuvensPara ir numa delasTomar mil formasCom sabor a sal- Labirinto de sombras e de cisnesNo céu de água-sol-vento-luz concreto e irreal...
José Gomes Ferreira
1. O sujeito poético é o menino que, na praia, olha as nuvens.2.1. Ao longo do poema a observação e a
imaginação caminham de mãos dadas.
O menino observa uma nuvem que parece um cavalo, depois um barco à vela e, finalmente, uma torre amarela que encerra uma menina.
2.2. O desejo vai progredindo a par da imaginação.
Quando a nuvem lhe parece um cavalo, o menino deseja montá-lo; quando lhe parece um barco, deseja navegá-lo; quando lhe parece uma torre, deseja ter asas para espreitar a menina pela janela.
2.3. O que há de comum entre os três desejos formulados?
O menino associa a nuvem à ideia de partida, movimento, viagem, por isso vê nela cavalo, barco, torre a vogar no alto. Estas visões estão associadas ao desejo de cavalgar, navegar, voar, que é, afinal, o desejo de partir ao encontro do sonho.
3. Desejo expresso na última estrofe.
Já que é a nuvem que desperta a imaginação, o sonho e o desejo de partir, o sujeito poético (que está na praia) deseja mergulhar no mar, lugar que ele interpreta como a fonte onde nascem as nuvens. Assim, poderá partir numa nuvem e tomar “mil formas”, ou seja, sonhar todos os sonhos, “no céu (…) irreal” – no mundo da fantasia.
4.1. Comparação “Aquela nuvem parece um cavalo”;
Metáforas“Mas já não é um cavalo”; “é uma barca à vela”; “já não é um navio”; “é uma Torre Amarela a vogar no frio”.
4.2. Progressão da imaginação A comparação implica estabelecer um
paralelo entre duas realidades; já a metáfora permite transformar uma realidade noutra, transfigurando-a. Assim, ao comparar a nuvem a um cavalo, a nuvem continua nuvem, mas semelhante a um cavalo; já na metáfora, “é um barco à vela”, a nuvem deixou de ser nuvem e passou a ser barco, a imaginação transfigurou-a.
5. Classifica todas as estrofes tendo em conta o número de versos de cada uma.
1ª - dístico2ª - monóstico3ª - terceto4ª - dístico5ª - quintilha6ª - terceto7ª - septilha
6. Indica o número de sílabas gramaticais e de sílabas métricas do verso “Ah! Se eu pudesse montá-lo”
9 sílabas gramaticais e 7 sílabas métricas (verso de redondilha maior ou heptassílabo).
1. Expressividade da pontuação: reticências, pontos de exclamação, pontos de interrogação.
reticências (vv.2 e 23) – suspendem a palavra para dar lugar ao pensamento, à imaginação;
ponto de exclamação (v.3) usado na frase exclamativa, exprime a intensidade do desejo; a interrogação (vv.) dá um tom coloquial (de conversa) ao poema.
2. Formação de palavras: embarcar e irreal
Embarcar – derivada de barco por parassíntese
Irreal – derivada de real por prefixação
Gramática