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A TERRRITORIALIDADE DO MIGRANTE NORDESTINO EM ARAUCRIA,
PARAN (BRASIL)1
MOURA, Neide de2
BAHL, Miguel3RESUMO
O presente artigo tem a finalidade de discutir a apropriao do espao e a
formao de novos territrios e territorialidades por trabalhadores migrantes
brasileiros nordestinos, sobretudo os advindos do Estado da Bahia chamados
popularmente de baianos; para o municpio de Araucria (Paran, Brasil). A
presena e estadia destes se tornaram alvo de inmeras controvrsias emudanas na espacialidade local. A tentativa de se fazer presente e dominante
garante expressivos choques entre culturas numa rea. No municpio de
Araucria, tais choques mostram duas distintas faces: a primeira retrata o pice
do desenvolvimento econmico; a segunda evoca o enfrentamento cultural entre
os moradores locais e os migrantes. Compreender como se do tais vnculos
territoriais bem como verificar as consequncias sociais e culturais e analisar sua
contribuio no local onde se estabeleceram em virtude de seu trabalho, terocomo pressuposto terico os apontamentos de HAESBAERT (2004; 2008), SACK
(1986) e RAFFESTIN (1987). As discusses evidenciadas por tais autores foram
aliadas concepo de espao de relaes, de BOURDIEU (1996), alm de
outros autores que tratam sobre esta temtica, numa tentativa de se estabelecer
um parmetro geral acerca da construo de territorialidades singelas, mas que
se fazem presentes no cotidiano de toda uma cidade.
Palavras-chave: Territrio; Territorialidade; Trabalhador migrante; Espao de
relaes.
1 Eje temtico: Poblacin, gneros e identidades culturales.
2 Graduao em Geografia. Mestre e Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal doParan. E-mail: [email protected]
3
Graduao em Turismo e em Geografia. Mestre e Doutor em Cincias da Comunicao.Professor do Curso de Graduao em Turismo e do Programa de Mestrado e Doutorado emGeografia da Universidade Federal do Paran. E-mail: [email protected]
mailto:[email protected]:[email protected]8/6/2019 POB-048 Neide de Moura
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1. INTRODUO
A aproximao e a apropriao dos espaos pelos indivduos fazem com
que estes passem a ser dotados de valor, tornando-se prximos e significativos
de algum modo. Tal fato faz com que um lugar ganhe a expresso de suas partes
ou mais ainda, faz com que os lugares se transformem em smbolos de um
territrio, que por sua vez, tem a capacidade de agrupar muitos lugares.
Nos lugares os indivduos adquirem distino social e tramitam suas
existncias ao redor destas distines, criando espaos circunscritos nos quais
possuem suas redes de influncias e de relaes. Ento, para analisar e/ou
compreender o indivduo, grupo ou comunidade imprescindvel que se conheao contexto no qual estes se inserem.
A este respeito, Haesbaert (2004) coloca que sociedade e espao social
so dimenses gmeas. No h como definir o indivduo [...] sem ao mesmo
tempo inseri-lo num determinado contexto geogrfico, territorial (p. 20).
Entendendo deste modo, a sociedade est implcita na espacialidade, na
territorialidade, sendo, portanto, partes de um mesmo quebra-cabea, a ser
desmistificado e montado, para s ento poder ser compreendido e analisado emsua imparcialidade e totalidade.
Neste sentido, se coloca a formao de territorialidades por migrantes
nordestinos, em especial os advindos do Estado da Bahia (Brasil), para o
Municpio de Araucria, Paran (PR), componente da Regio Metropolitana de
Curitiba RMC, pois, suas presenas e estadias no referido municpio se
tornaram alvo de inmeras controvrsias e mudanas na espacialidade
presenciada na cidade at ento.
2. A AMPLIAO DA REPAR4 E O FLUXO MIGRATRIO EM ARAUCRIA
Segundo o Jornal Folha de So Paulo (2010), aPetrobrs responsvel
pela maior obra do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) no Paran.
Est sendo investido cerca de R$ 10 bilhes na construo e modernizao de
4 REPAR: Refinaria de Petrleo de Araucria, Presidente Getlio Vargas.
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dezenove novas unidades na Refinaria Presidente Getlio Vargas. Este um dos
maiores investimentos da companhia na rea de refino no Brasil.
No ano de 2008, teve incio o trabalho de ampliao da Refinaria de
Petrleo em Araucria (REPAR). Obra com durao prevista para cinco anos e
que aumentar o nmero de divisas arrecadadas pelo Municpio em alguns
milhes de reais. O processo de licitao para o desenvolvimento da obra foi
vencido por empresas oriundas de diferentes partes do pas, fato que implicou
num fluxo migratrio decorrente da localizao de tais empresas, ocorrendo
vinda de muitos trabalhadores do complexo petroqumico da Bahia.
Este fato fez com que milhares de trabalhadores migrantes fossem
trazidos para o Municpio pelas empresas vencedoras das licitaes, ou viessempor sua conta e risco em busca de melhores condies de vida e de
oportunidades de trabalho. O fluxo de migrantes no Municpio se acelerou com o
incio das obras, fato evidenciado no trecho de matria que segue:
Dona de um parque industrial consolidado, Araucria experimentaagora um novo ciclo de desenvolvimento, com forte expanso dossetores de comrcio e servios. A REPAR est em obras, o quedeve fazer com que haja um fluxo de at 17 mil trabalhadores nacidade em meados deste ano, quando o projeto estiver no pice. a chegada repentina dessa multido que tem mudadodefinitivamente a vida econmica do municpio (GAZETA DOPOVO, 2010).
O trecho supracitado revela uma mudana de estado de desenvolvimento
em todos os setores do Municpio, pois o cotidiano da cidade transformado pelo
aumento do nmero de pessoas que necessitam usufruir de seus servios e
equipamentos e transitar em suas ruas. Este fato faz com que se criem
diferenciadas estratgias para atender esta nova demanda que passa a existir
expressivamente como nova populao do Municpio.
O Municpio de Araucria tem em sua essncia uma forte influncia
migratria de pases europeus, sobretudo poloneses, que teve incio a partir da
segunda metade do sculo XIX (ARAUCRIA, 2003). A caracterstica mais
marcante de sua cultura, ento, fica centrada nos costumes e festas de origens
polonesas, assim como a caracterstica fsica de seus habitantes nativos. Nota-se,
assim, o contraste gerado entre os costumes e hbitos culturais entre os povos
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que agora compartilham o mesmo espao de vivncia. So perceptveis no
Municpio, choques culturais que geram diferenciados tipos de posicionamentos e
opinies entre os moradores, os migrantes e o poder local. Trata-se de uma nova
territorialidade que emerge meio a um turbilho de opinies e hbitos que (re)
configuram o espao urbano do Municpio.
3. TERRITORIALIDADES
Em linhas gerais, se pode dizer que um territrio tem sua essncia ditada
pelas foras e aes de poder. Pode ser perfeitamente representado, entretanto, abstrato e idealizado.
Tendo o poder de englobar lugares, amplo e necessita se fazer
presente no imaginrio e nas representaes daqueles que o vivenciam para que
se consolide e garanta sua existncia. A este respeito, Haesbaert (2004) salienta
que um territrio acaba sempre por envolver uma dimenso simblica, cultural,
por meio de uma identidade territorial:
[...] atribuda pelos grupos sociais, como forma de controlesimblico sobre o espao onde vivem (sendo tambm, portanto,uma forma de apropriao), e uma dimenso mais concreta, decarter poltico-disciplinar [e poltico-econmico, deveramosacrescentar]: a apropriao e ordenao do espao como formade domnio e disciplinarizao dos indivduos (HAESBAERT,2004, p. 94).
Neste sentido, o territrio se faz presente e se circunscreve enquanto
efeito de controle e poder. Neste mesmo territrio, os imaginrios se dissolvem ese acrescem de fatores ideolgicos e culturais, que demandam formas
diferenciadas, mas organizadas, de ver, sentir e estar no territrio. Com isso, o
territrio aparece com uma conotao material e simblica (HAESBAERT, 2008).
Assim sendo, organizam-se modos pelos quais os indivduos interagem
entre si, criando crculos de convivncia no espao habitado, onde cada indivduo
ou grupo vai exercer o controle sobre o territrio, ou seja, sua territorialidade. Para
Sack (1986) a territorialidade envolve o controle de uma rea:
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Territoriality for humans is a powerful geographic strategy tocontrol people and things by controlling area. Political territoriesand private ownership of land may be its most familiar forms butterritoriality occurs to varying degrees en numerous social contexts(SACK, 1986, p. 5).
Deste modo, a territorialidade define o uso que se faz e o modo que se
controla uma rea, podendo ser ativada e desativada, fato que d mobilidade ao
territrio (SACK, 1986). A territorialidade definida por Sack (1986) como a
tentativa pelas sociedades humanas em controlar seu semelhante, bem como
seus relacionamentos, afirmando deste modo, seu controle sobre uma rea.
Alm de expressar o controle sobre uma rea, a territorialidade tambm
expressa o conjunto das relaes mantidas pelo homem, que o faz sentirpertencente a uma sociedade (RAFFESTIN, 1987).
Embora os enfoques dos autores citados anteriormente no sejam
essencialmente os mesmos, ambos os tratam com uma viso de sociedade
essencialmente humana, social (HAESBAERT, 2004, p. 86), havendo momentos
em que os pensamentos se aproximam, como por exemplo, quando afirmam que
a territorialidade aproxima espao e sociedade (HAESBAERT, 2004), sendo este
o ponto que de interesse para a presente discusso.Neste sentido, a territorialidade aqui retratada, diz respeito ao uso,
controle e manifestaes sociais e culturais ocorridas no espao urbano do
Municpio de Araucria. Territorialidade manifestada nas aes do poder e
tambm nas relaes culturais e sociais expressas no confronto entre os modos
de compreender, usar e se fazer presente no territrio, garantindo assim seu
domnio.
4. TERRITORIALIDADES DOS BAIANOS EM ARAUCRIA / PR
A tentativa de se fazer presente e dominante, impondo seu modo de vida,
garantem expressivos choques entre culturas que se mostram atuantes e
relevantes dentro de uma rea. No municpio de Araucria, tais choques mostram
duas distintas faces: a primeira retrata o pice do desenvolvimento econmico; a
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segunda evoca o enfrentamento cultural entre os moradores locais e os
migrantes, denominados genericamente de baianos.
O panorama geral da cidade passa por uma srie de transformaes
ocorridas em detrimento da chegada desta grande leva de migrantes que se
instalou na cidade. As opinies se consolidam, os espaos ora se separam, ora
se mesclam, dando um ar de diferenciada existncia ao que antes era de
predomnio de uma cultura totalmente tradicional.
Separando os pontos de interesse, importante salientar e relatar como
se situam as duas facetas colocadas anteriormente. Iniciando por aquela que
denota o crescimento econmico e o latente desenvolvimento do Municpio.
4.1. A ampliao da REPAR e o desenvolvimento econmico do Municpio
Diversos so os setores que se beneficiaram do emergente
desenvolvimento que se deu no Municpio nos ltimos dois anos. Em entrevista
para a o Jornal Gazeta do Povo (2010), a presidente da Associao Comercial,
Industrial e Agropecuria de Araucria (ACIAA), Rosa Tanaka Zelaga, comentou:
perceptvel o aquecimento do comrcio com a abertura de novas lojas,restaurantes e padarias. De um ano para c, percebemos um aumento de cerca
de 40% no faturamento do setor.
Alem disto, grandes empreendimentos so esperados para o Municpio,
tais como a instalao de uma grande rede de supermercados, um hotel de
grande porte e a construo de um shopping center. Mas o grande complicador
se situa no ramo da construo civil. A chegada repentina de trabalhadores
tambm deu uma sacudida no mercado imobilirio. Na falta de imveisdisponveis, muitas casas residenciais esto sendo transformadas em pousadas
que servem de alojamentos para esses operrios. Cada pousada pode abrigar
entre 20 e 50 trabalhadores. A diria, de R$ 25 em mdia, muitas vezes
bancada pela empreiteira contratante da mo-de-obra. As acomodaes so
simples e incluem o dormitrio, um refeitrio para o caf da manh e banheiros.
No ltimo ano, o preo dos imveis teve um aumento significativo situado
entre 30 e 50%. Os interessados em comprar um imvel chegam a ter que
enfrentar uma fila de espera para poder garantir a compra. Segundo o empresrio
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Antonio Carlos Torres (GAZETA DO POVO, 2010), dono de imobiliria na cidade
no d tempo de colocara placa em frente ao imvel. Tudo que entra, sai logo
em seguida.
Outro ramo que cresce consideravelmente no Municpio o de
alimentao. Os restaurantes, bares e lanchonetes da cidade aumentaram seus
lucros consideravelmente e muitos foram construdos para atender a demanda de
trabalhadores.
importante salientar que embora muitos investimentos privados estejam
sendo ou j foram realizados no Municpio, a conscincia de que a obra da
REPAR passageira se faz presente no mbito dos negcios e dos dilogos dos
investidores, como salienta o empresrio Pedro Basso em entrevista ao JornalGazeta do Povo (2010):
preciso aproveitar o momento para alavancar os negcios, mas semesquecer que boa parte dessa exploso no permanente, e tende adesaparecer com o fim da obra da Repar. No entanto, o momento certopara investir e conseguir novos contratos com as outras indstriasinstaladas na cidade.
O cotidiano dos moradores tambm sofreu transformaes em
decorrncia da obra: em Araucria, passamos a conviver com situaes at ento
inditas, como filas nos bancos e supermercados, engarrafamentos e aumento da
violncia. Uma coisa certa: a cidade dificilmente voltar a ser o que era , afirma
Rosa Tanaka Zelaga (GAZETA DO POVO, 2010).
Realizados os apontamentos que evidenciam o crescimento econmico
do Municpio, resta ainda salientar os pontos que evocam o choque entre culturas,
formador de territorialidades na cidade.
4.2. A ampliao da REPAR e os choques culturais no Municpio: consideraes e
concluses iniciais
Alm dos muros do desenvolvimento industrial e econmico, encontram-
se as paredes do preconceito e do embate entre vises de mundo diferenciadas.
No se trata de preconceito exclusivo a uma cor ou etnia, se trata sim do
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preconceito ao novo, ao diferente modo de se portar em sociedade e de conceber
o espao.
Entre as frases que mais se ouviu dizer durante o trabalho de campo
realizado para a elaborao deste artigo, teve-se: tudo culpa dos baianos.
(Morador 1). Garanto que foi um baiano. (Morador 2). Est cheio de baianos
fazendo nada pela cidade. (Morador 3). S ficam bebendo e danando pelas
esquinas. (Morador 4).
Estas entre outras so afirmaes que se atribuem aos trabalhadores
migrantes que vivem na cidade na atualidade. O fato que estas pessoas se
destacam em meio aos habitantes permanentes, seja por seu modo de vestir, seja
por seu modo de falar ou mesmo pelo destaque de seu grupo tnico. E isto causacerta instabilidade nas relaes sociais. Este fato pode ser visto publicamente
num sitede relacionamentos da web, como mostram as Figura 1, 2 e 3:
FIGURA 1, 2 e 3: PGINAS DE SITES DE RELACIONAMENTOS DA WEB MOSTRANDODESAFETOS AOS MIGRANTES
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FONTE: www.orkut.com.brAcesso em: junho /2010.
Chama ateno o nmero de membros das comunidades, destacado em
vermelho, demonstrando que so vrias as pessoas que partilham da mesmaopinio. As opinies acerca da multido de novos moradores na cidade se
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destacam e geram discusses fervorosas entre as pessoas. Cada um dos
envolvidos, habitantes e migrantes, projeta sua opinio sobre o assunto de modo
diferente. Os habitantes, em sua grande maioria, so contra a grande migrao
destinada cidade por conta da obra da REPAR, pois a cidade no comporta o
grande nmero de migrantes, 17 mil at maio de 2010 e mais cinco mil em julho
de 2010, tanto em equipamentos pblicos, vagas em creches e escolas, quanto
em espao fsico construdo.
Os migrantes por sua vez, se dizem prejudicados. Na opinio de um
entrevistado, tudo o que de ruim acontece na cidade agora culpa do baiano
(Migrante 1). Ou ainda eu me sinto ameaado aqui [...] (Migrante 2). Este fato
realmente citado pela populao como verdade absoluta, na maioria dos casos.As pessoas costumam atribuir todos os acontecimentos negativos presena dos
migrantes, atribuindo inclusive elementos facilitadores para tal comportamento
aqui tudo fcil para eles [...] fcil para trabalhar, para comer, nunca comeram
to bem, e fcil para roubar tambm [...] (Morador 5).
Segundo Haesbaert (2004) os migrantes em disperso possuem uma
multiterritorialidade, ou seja, estas pessoas partilham territrios e procuram
exercer sua influncia nos mesmos. Deste modo, elas se desterritorializam parase reterritorializarem novamente, criando uma nova identidade ou impondo a sua
para o novo grupo.
Estas novas territorialidades acabam por formar um espao de relaes
no imaginrio dos moradores da cidade, permanentes ou migrantes, que se
cristalizam no mbito das relaes sociais. Tomando como base os conceitos de
Bourdieu (1996) sobre campo5 e habitus6, pode-se notar que o panorama da
cidade caracteriza uma luta pelo domnio de um territrio. O estabelecimento deum espao de relaes remete a considerar os imaginrios que se situam nos
relacionamentos interpessoais.
5 Para Bourdieu (1996) os campos so criados na maioria das vezes, por indivduos que detmcerto grau de importncia no ambiente dentro do qual se inserem. Estes indivduos, fazendo usode sua viso de mundo, estabelecem novos contedos e novas relaes de poder entre os atores.Este procedimento faz com que surjam campos, que por sua vez podem ter diferentes formas(poltica, econmica, literria, cientfica, etc.).
6Bourdieu (1996) coloca que dentro do campo est o habitusde cada um dos atores, ou seja, os
pontos ocupados por eles dentro do campo, localizando-os e definindo sua posio perante osdemais, habituseste que se coloca enquanto estruturas internalizadas pelos indivduos em suasrelaes cotidianas.
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Neste sentido, podem-se correlacionar os depoimentos recolhidos,
agrupando-os em uma figura pela qual se busca a organizao do espao de
relaes que se configura a partir do choque entre as culturas e a formao de
uma nova territorialidade para os migrantes. Para tanto, a Figura 1 foi elaborada.
FIGURA 1: ESPAO DE RELAES POPULAO RESIDENTE X TRABALHADORMIGRANTE (ARAUCRIA PARAN)
FONTE: Pesquisa de campo. MOURA, N. de. 2010.
A figura agrupa os dados que mais apareceram nas entrevistas que foramrealizadas de maneira tal que os entrevistados se sentissem vontade para falar
o que realmente sentiam. Tais entrevistas foram organizadas de maneira semi-
estruturada, ou seja, com questes abertas que permitiram maior liberdade aos
entrevistados em expressarem suas reais opinies. Segundo May (2004) este tipo
de entrevista apresenta diversas vantagens em relao s demais. Para o autor, a
diferena central desta forma de entrevista se encontra em seu carter aberto,
fato que a prov de liberdade em relao a possveis preconceitos por parte dosentrevistados e do prprio pesquisador, pois permite ao entrevistado falar sobre o
REPARTERRITRIO/
REA(ARAUCRIA /
PR)
POUSADAS
HOT IS
RESTAURANTES
CONSTRUOCIVIL
ALTA DO SETORIMOBILIRIO
VALORIZAODOS IMVEIS
TRABALHADORESMIGRANTES
MORADORESPERMANENTES
AUMENTO DAVIOLNCIA
AUMENTO NOCUSTO DE VIDA
CONGESTIONAMENTOS
FILAS EM BANCOS
FALTA DE VAGASEM ESCOLASE CRECHES
LEGENDA:Relao conflituosa
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tema utilizando seu referencial de conhecimento. Ao pesquisador cabe realizar
algumas interferncias suaves para que o entrevistado no disperse muito o foco
e se concentre naquilo que lhe foi proposto.
Com base na Figura, se podem fazer algumas consideraes. O espao de
relaes que se apresenta pode ser dividido em duas partes. A primeira retrata o
desenvolvimento trazido pela obra da REPAR. Enquanto que a segunda retrata as
alteraes que, em acordo com os moradores permanentes, ocorreram na cidade
com a vinda destes trabalhadores migrantes. A linha vermelha tracejada
representa a relao conflituosa entre as duas populaes. Enquanto que o fundo
amarelo representa o espao de relaes no qual os dois universos imaginrios
se situam.No mbito deste espao, ocorrem dois blocos de relaes que se
estabelecem enquanto relaes de poder e enquanto prtica social. Dentro destas
sinalizaes, se pode argumentar que de modo geral o poder se legitima pelas
idias inerentes prtica social dos grupos. Tais idias, por sua vez, se
constituem na essncia do poder, pois, do-lhe o carter de justia ou de
inevitabilidade que permitem que seja exercido em atos rotineiros, com assepsia
da normalidade. Ento, na prtica social que o poder se legitima, se consolida ese faz sentir, ela quem busca tentar dar existncia s coisas, garantindo a
usurpao pela fora do poder. Neste contexto, o discurso opera como fator
determinante, pois sua eficcia garante tambm a eficcia do enunciado proferido
(BOURDIEU, 1996) .
J a prtica social, por sua vez vai permitir aos indivduos manipularem
suas realidades, ou seja, suas vidas, seus comportamentos, hbitos e opinies,
permitindo que sua atuao se direcione para aquilo que mais lhes convm dentrode suas vivncias (BERGER; LUCKMANN, 1994). Neste mbito, poder e prtica
social proporcionam a criao de imaginrios inseridos no espao de relaes.
Retomando Bourdieu (2003) se pode dizer que o conjunto de tais
imaginrios cria um campo ou um espao de relaes que pode ser considerado
to real quanto o prprio espao geogrfico (p. 137) ampliando a expanso do
indivduo, permitindo-lhe variar a rede de relaes por ele estabelecida. Dentro
Bourdieu encara o poder como simblico, como invisvel, que s pode ser exercido com acumplicidade daqueles que no querem saber que lhe so sujeitos ou mesmo que o exercem(BOURDIEU, 2003).
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deste campo os atores sociais iro expressar seus posicionamentos em relao
aos fatos, o que constituiria seu habitus, que opera nas relaes buscando fazer
valer seu posicionamento. Deste modo se estabelecem as relaes entre as
populaes, num espao conflituoso que abriga duas territorialidades distintas
que se orientam por suas opinies, buscando-as fazer valer em detrimento da
alheia.
Os elementos no universo que se compe pela REPAR e sua obra
poderiam ser encarados como fatores mediadores dentro do conflito e as aes
dos empresrios, sobretudo, funcionariam como elementos para um possvel
processo de comunicao entre as partes. Estes, segundo Raffestin (1987) so
elementos importantes dentro de uma anlise de territorialidades.Neste sentido, o papel de cada um destes elementos seria o de promover o
que se poderia chamar de um acordo entre as partes, na tentativa de tentar
diminuir os conflitos.
Entretanto, o fato que coexistem no Municpio duas territorialidades
distintas. Uma que se faz presente pela fora do pertencer ao lugar e outra que
busca se fazer presente pela fora do ser diferente. Ambas buscando garantir
seu espao e determinar seu territrio, ou seja, garantir sua territorialidade, pormeio do poder em sua prtica social.
Deste modo, a territorialidade agrega mais do que o poder poltico. Ela
agrega tambm aspectos relativos s relaes econmicas e culturais, pois ela
diz respeito ao modo como os indivduos ou grupos se relacionam com o espao
em que habitam como se organizam e do significado ao lugar. Neste sentido,
Sack, 1986, coloca a territorialidade como um componente do poder, no apenas
como a forma de criar e manter a ordem, mas tambm como uma maneira decriar contextos geogrficos.
Assim, os trabalhadores migrantes de Araucria buscam se fazer presentes
e conquistar sua territorialidade, firmar sua participao e atuao na localidade
em que tentam se inserir. Esto se multiterritorializando, pois no vo deixar de
pertencer a seu estado de origem, mas querem agregar um pertencimento ao
novo local. Tal fato se pode perceber nos discursos dos entrevistados, como o
trecho que segue: eu gostei daqui, no quero mais ir embora, mas tambm gosto
da minha terra [...] (Migrante 3).
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Este depoimento provoca a sensao de que a territorialidade abstrata,
imaterial. A este respeito, Haesbaert (2008) salienta que a territorialidade se torna
abstrata no sentido ontolgico, enquanto imagem de um territrio ela existe e se
insere eficazmente como estratgia poltico-cultural para os grupos. Assim, a
materialidade do territrio se expressa por meio da territorialidade expressa pelos
indivduos em suas prticas sociais. O territrio esboa sua dupla funcionalidade,
ou seja, dispor das condies necessrias ao uso e garantia de sobrevivncia dos
indivduos / grupos; e tambm, uma funo simblica, na medida em que nele se
produzem significados que o dotam de valor.
Deste modo, a territorialidade do baiano, do trabalhador migrante em
Araucria, perfaz um rol de elementos que esto ainda em fase de construo ede enfrentamento para alcanar o domnio de um espao que circunscreva a sua
imagem enquanto indivduo / grupo atuante e integrante da cidade, ou estabelecer
vnculos com o lugar se multiterritorializando, vivendo aqui e em sua terra de
modos diferenciados, mas garantindo sua herana cultural.
5. ALGUMAS CONSIDERAES DECORRENTES
As discusses sobre esta territorialidade (ou sobre a multiterritorialidade
vivida pelos indivduos) que se configura meio a um espao de relaes
conflituosas ainda requer que mais estudos sejam elaborados e que suas
reentrncias e pormenores sejam mais bem avaliados para que uma
compreenso mais efetiva seja possvel. Entretanto, conveniente ressaltar
alguns pontos que passam a se constituir como possveis objetos de estudo.
O primeiro ponto a ressaltar, seria o fato de existirem revelaes pblicassobre a averso pela populao aos migrantes, como o caso do site de
relacionamento colocado. Outro ponto relevante seria o interesse do poder local e
dos empresrios beneficiados para que os migrantes venham, pois com eles viria
um suposto desenvolvimento econmico para o Municpio. Sem mencionar as
particularidades como os futuros casamentos entre migrantes e nativos, o
aumento da violncia urbana, entre outros.
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O fato que o trabalho ainda est em desenvolvimento e que futuras
pesquisas acrescentaro maior sustentabilidade proposta e, espera-se, maior
riqueza de dados e aproveitamento dos mesmos.
Assim, resta salientar ainda que a territorialidade dos trabalhadores
migrantes em Araucria se constitui em diferenciado tipo de relacionamento e
formao de territrios e territorialidades e que ainda muito se h de estudar
sobre o assunto.
6. REFERNCIAS
ARAUCRIA, PREFEITURA MUNICIPAL. Perfil Municipal. Araucria, 2003.
BERGER, P. I.; LUKMANN, T. A construo social da realidade. Traduo de Florianode Souza Fernandes. 11. ed. Petrpolis: Vozes, 1994.
BOURDIEU, P. A economia das trocas lingsticas. So Paulo: EDUSP, 1996.
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GAZETA DO POVO, JORNAL. Obra na REPAR inicia novo ciclo em Araucria.Disponvel em:. Acesso em: junho/2010.
HAESBAERT, R. O mito da desterritorializao. Do fim dos territrios multiterritorilidade. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004.
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