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Ano VIIIn? 4
s E M A N A LJornal Laboratório - UFSC/CCE/COM - 17 a 24 de
outubro de 1990
Jornalistas inventam uma formade colocar no ar a notícia
mais censurada dos últimos tempos/ttl
OPERAÇAOPAPAGAIO DE
PIRATAPágina 3
...
DE LAMAA história real e cruel
da pr.imeira invasão urbanados sem.teto catarinenses -
Página central
-
2.. EDITORIAL
Oquefazerpara publicarsuasmatérias
Paramanter-se semanal oZeroprecisa ter uma estruturamínima que
lhe dê suporte editorial. Por isso, os alunos da disciplina Edição
II foram convocados e terão suas atuações comoeditores do Zero a
valiadas comoparte do conceito final do semestre. Assim, quem
quiseroferecerpauta ou matéria pode procurardiretamente os editores
das várias seções ou continuar entregandopara o supervisor do
LabOrai Os editores são:geral (páginas 3 e centrais) Rosane Portoe
Cláudio Toldo; UFSC (página2) aziasDeodato Jr.;gente eroteiro
(página 6) Gisele Dias eChristiane Balbys; cultura (página
7)RaquelEltermann e última página Viviane NunezSommer.
Todas as semanas outros alunos podem participar do fechamento,
seja como repórteres, como editores assistentes (os destasemana
foram IvaJdo Brasil Jr.,Pedro Saraiva e Ana CláudiaMenezes) ou como
diagramadores (Ivan Rau e Nilva Bianconesta edição). Apareçam,
sextafeira sempre tem serviço.
ZERO***
MelhorPeça GráficaI, /I e 11/ SetUniversiterioMaio 88
Setembro 89Setembro 90
Jornal Laboratório do Departamento de Comunicação do Centrode
Comunicação e Expressão dauniversidade Federal de Santa Catarina.
Editado sob a responsabilidade do Laboratório de
JornalismoGráfico.Supervisão: Jornalista Prof. CesarValente (Reg.
706/SC)Colaboração: Jornalistas Professores Ricardo Barreto, Luiz
A. Scotto de Almeida e Gilka Girardello.Redação: CCE/COM/UFSC,
Campus da Trindade, 88035 - Florianópolis - SC - Brasil. Fone
(0482)31-9215 e 31-9490. Fax (0482)33-4069.
'
quinzenal, participação em encontros estudantis e realização do
III Set Interno, doconcurso Garota Caloura 91 e do calourootário do
mês.Alguns CA'sjá realizaram eleições neste
ano como o de Engenharia Elétrica, Farmácia e Odontologia. No
C.A. de Odontoa eleição foi nos dias 29 e 30 de agostoonde a chapa
"Rebuliço", única concorrente, foi eleita. A nova diretoria,
constituídapor 15 pessoas, tomou posse no dia 27 desetembro.Outros
centros acadêmicos vão realizar
suas eleições como o de Matemática, nosdias 10 e 11 de outubro,
Engenharia Sanitária, em 30 de outubro e da Medicina eQuínmica em
novembro.Também em novembro deve acontecer
a eleição para o Diretório Central dos Estudantes. O DCE
convocou para o dia 17 um),reunião do CEB (Conselho de Entidadesde
Base) visando a discurssão das eleiçõese formação de chapas. O
coordenador geraldo DCE, Horácio Joaquim Perez, vai propor na
reunião que os próximos CA's a realizarem eleições façam-nas junto
com a doDiretório Central, pára que haja uma participação maior dos
estudantes.
Jornalismo daUFSC ganhamais
, dois prêmiosCristina N. Gallo
"Novos talentos estão nascendo" e foram apresentados no 3?SET
Universitário - Festival deLaboratórios de Comunicação daRegião
Sul, na PUC de Porto Alegre, entre os dias 25 e 28 de setembro.
Foram 463 trabalhos inscritos nas categorias de vídeo, áudio,texto
e peça gráfica. Segundo Nilva Bianco, aluna da UFSC, os trabalhos
deixaram bastante a desejar e o festival foi mal organizado,talvez
em conseqüência da greveda PUC que já dura mais de 50dias.Dezoito
trabalhos foram pre
miados, sendo 16 do RS e dois deSanta Catarina. O Paraná,
queparticipou pela primeira vez nãolevou nenhum. Fomos premiadosem
Vídeo-jornalismo e documentário com "João eMaria", deArleyMachado e
tri-campeões em peçagráfica com o Zero: Janeiro 90 -Balanço da
Década de 80".PREMIAÇÕES. Vídeo Publi
citário: " Família", de Tales Bahú- Famecos ; Vídeo
Exerimental:"Epilético" Felipe Garcia Vieira- PUC; Foto
Experimental: "theRaven" de Édson Luís Gastaldo- Fabico/UFRGS; Foto
Futurismo:"Santiago", de Ricardo Barcelos -PUC; Foto Jornalismo:
"Marionética . Dança" de Eduardo RangelMonteiro - Unisinos; Foto
Publicitária: "Dachstein III" de RicardoBarcello - PUC;' Áudio
Experimental: "Evolução da Música noCinema", de Carlos Roberto
Barbieri - Fabico/UFRS; Áudio Jorna.lismo: "A Era do Som", de
LauroBons Santos - Famecos; Spot: "OAssalto", de Alexandre Lucas
daCosta - Famecos; Jingle: "CalçasLee", de Flávio Luís Albuquerque-
Famecos; Peça Gráfica Publicitária: "A KodakAjuda Você SaberDisso"
de Cláudio PIetsch - Fame-
.
cos; Campanha Publicitária: "Primeira Mostra de Clássicos do
Cinema", de Daniela Ferreira - Famecos; Reportagem: "Ilhas -
OsSegredos do Guaíba", de ReginaDiehl - Famecos; Crônica: "TVAinda
a Melhor Diversão", de Carolina Bahia - Famecos; Fera daSala de
Aula com o Vídeo: "Amnésia", de Daniel Moreira - Unisinos.
Os trabalhos serão apresentados ao público nas próximas semanas
pela TVE e RBS TV do RioGrande de Sul e Prefeitura de Porto Alegre.
Infelizmente, Santa Catarina e Paraná não poderão assistir às
produções premiadas.
Chapa que propõe aredecoração do C.A. é a"novidade" no
Jornalismo
Desmotivação estudantilLuciana Carvalho
O Centro Acadêmico Livre de Jornalismo (C.A.L.S.) estaria
realizando nos dias17 e 18 de outubro as eleições para a suanova
diretoria. Masmodificações de últimahora obrigaram o adiamento para
uma data ainda nãomarcada. É que a única chapa inscrita, a "Em
Branco" recebeu novosconcorrentes no último minuto, fazendocom que
todo o processo inicialmente previsto tivesse que ser modificado.A
votação será realizada durante dois
dias para que haja uma-maior participaçãodos estudantes, pois
segundo José RicardoJacques, candidato a presidente, do C.A.L.J.
pela "Em Branco", "o movimento estudantil está num processo de
desânimo"causando um esvaziamento dos centrosacadêmicos. No caso do
Curso de Jornalismo isto é comum e José Ricardo afirmaque é preciso
dar uma "injeção política"no curso.
A chapa "Em Branco", conforme declarao candidato, está lançando
umas propostas"meio porra-loucas". As propostas são asseguintes:
redecoração do C.A., festas, informativo e noticiário de rádio
interno
.
Abstenção de 42% na APUFSCMárcia Outra
A nova diretoria da Apufsc, eleita no dia10, tomou posse ontem à
tarde. A únicachapa que concorreu foi a "Com-Posição",formada por
integrantes da ex-diretoria.A chapa única recebeu 681 votos dos
776professores associados que votaram. Aocontrário das últimas
eleições para os governos dos estados brasileiros, o númerode votos
brancos (49) e nulos (46) não foigrande, o que foi expressive foi o
númerode abstenções. Dos 1619 professores sóciosda Apufsc (dos
quais aproximadamente150 estão afastados para pós-graduação),cerca
de 624 professores não votaram. Segundo o professor Raul Valentim
da Silva,presidente da Comissão Eleitoral, "a desmobilização e
acomodação dos professores"foram, as causas de tantas abstenções.
Eleacredita que os professores acharam "desnecessário votar devido
ao fato de somenteuma chapa concorrer".Mesmo com quase 50% de
ausência dos
professores na eleição, o novo presidente,Marco Da Ros,
professor do Centro de Ciências da Saúde, acredita que a chapa
eleita"tem peso acadêmico e está bastante afinada com a maioria do
movimento docenteem todo o Brasil". Para o novo presidenteos votos
nulos e brancos "refletem que temos professores que discordam de
nossapolítica, mas são poucos, como mostram osnúmeros". O grande
número de abstençõestambém foi considerado pelo novo presidente
como comodismo dos professores associados.A nova diretoria assume
com vários com
promissos de "campanha" a cumprir. Omaior número de propostas
apresentadas
no boletim de campanha é com relação aofuturo da própria
entidade. A nova diretoria promete ampliar o patrimônio
adminis,trativo da Apufsc, profissionalizar os funcionários que
trabalham na entidade eprincipalmente redimensionar e ampliaros
espaços da sede atual, através de captação de recursos
extra-orçamentários. cA. chapa vencedora também apresenta
propostas como a transformaç_ão da Apufséem Seção Sindical da
Andes, Sindicato Na:cional, para que a entidade possa agir
comprerrogativas sindicais plenas.
HU PASSA MALA matéria sobre a situação do Hospital
Universitário, publicada na edição da semana passada à página 2
recebeu, do médicoresidente Eliézer Silva, em nome da Comissão de
Greve daquela categoria, alguns reparos. Ele afirma que não disse a
frase "nóssomos escravos mal pagos".O médico também localiza duas
informa
ções incorretas na matéria: "não foi afirmadoque não tínhamos
direito à alimentação" eo salário dos residentes, que não é do
Cr$37 mil como foi publicado, mas de Cr$ 33mil.
FOTOJORNALISMONa última página da edição da semana
passada, por um erro de revisão, foi dadocrédito a Olívio Lamas
em uma foto de LauroMaeda.
,.
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Uma operação de "guerrilha"enfrenta com criatividade ebom humor
a intransigência
Sindicato dos Jornalistas
Jornalistas lutampara poder informar
que ganhammuito poucoos
jornalistas de Santa Catarina descobriram, nas eleições de 3 de
outubro, uma faceaté então desconhecida da
"democracia" dos meios de comunicação.A Rede BrasilSul-RBS,
principal empresa do setor no Estado usou polícia partiGular para
impedir a veiculação de umanotícia escrita e censurada pelos
donosda imprensa: "Jornalistas ganham salário de Cr$ 23 mil".A
força paramilitar da RBS, recrutada
entre lutadores de academias de artesmarciais e PMs inativos,
porém, não conseguiu evitar sete inserções na TV, umaem rede
nacional pela Globo. Quando umrepórter entrava com boletim ao vivo
sobre a eleição, aparecia atrás dele um cartaz Com palavras de
ordem dos jornalistas. Foi a primeira vez no Braril que
ostrabalhadores da comunicação realizaram esta forma de protesto.-
A-idéia da "operação papagaio depirata", como também ficou
conhecida,nasceu na assembléia da noite anterior, .
quando os jornãlistas decidiram entrarem estado de greve para
cobrar a reposição de 175%, assegurada pelo TribunalRegional do
Trabalho, no julgamento dodissído, em 3 de setembro; e uma dívidade
Cr$ 122 mil decorrente desta decisãoaté a suspensão de seu efeitos,
pelo TST,no dia 25 de setembro.A primeira tentativa de "emplacar"
o
.
protesto eletrônico ocorreu por volta das7h30min,- quando os
primeiros eleitoressaíam às ruas para votar. O repórterWalter
Souza, 12 anos de RBS-TV, entrariaao vivo no "Bom Dia Santa
Catarina" pára falar domovimento de eleitores no Terminal Urbano
Cidade de Florianópolis.Um grupo de jornalistas enfeitaria o
cenário cinzento do terminal com faixas ecartaser, na hora do
boletim, que acaboucancelado "por problemas de antena". Aequipe de
TV saiu em ziguezague pelacidade, para driblar os manifestantes
ecumprir a pauta a qualquer custo. Foiparar em Ratones, sem
aparecer no "BomDia", que terminou em alvoroço que reuniu a direção
da empresa, às pressas, noMorro da Cruz.Depois de vários boletins
cancelados,
Walter Souza voltou à cena, ao meio-dia,na sede do Tribunal
Regional Eleitoral.Convicto de que estava protegido
pelainexpugnável fortaleza da Justiça Eleitoral, contou em meio a
gargalhadas as peripécias dos colegas de profissão que, "deforma
muito organizada", the haviamproporcionado uma "folga" em dia
tãoagitado para a impresa, Só franziu o cenho para dizer que os
"jornalistas estãoatrapalhando o trabalho de um jornalis-ta".
-
Quando "emplacou" uma entrevista aovivo com o corregedor
eleitoral NapoleãoAmarante, às 12h50min, no Jornal do AI-
A operação "papagaio de pirata" na Oktoberfestparticular em
concorrência com a PM ea Polícia Civil. O juiz da P Junta
Apura-dora, Fernando de Carvalho, cassou ascredenciais de dois
repórteres-diretoresdo Sindicato e os expulsou do ginásio 3da UFSC,
depois de ordenar à polícia querevistasse um deles, repórter do
JornalO Estado, o mesmo que fora insultadopor Walter Souza.
O Sindicato dos Jornalistas, que aindaenfrentou a truculência da
RBS no diaseguinte, em frente ao Diário Catarinense, e no sábado,
dia 6, no "Jornal do Almoço Especial" em Blumenau, registrouqueixa
contra esses abusos no 1� DistritoPolicial de Florianópolis e junto
ao TRE.Para o presidente do Sindicato, Celso Vizenzi, a repressão e
a censura praticadaspelos donos dos meios de
comunicação"desmascaram completamente a faláciada liberdade de
expressão, de imprensa.Aparece só a verdade deles".
Os empresários se assustaram com oprotesto eletrônico, mas
continuam descumprindo o acordo coletivo, com as bençãos do TST,
diz o Sindicato. E eles têmaliados entre os próprios jornalistas,
-garante Vizenzi, - "Alguns com nívelprofissional tão baixo, que
seriam capazes de tudo para aparecer na telinha".Repórteres que
reagiam com uma expressão patética às manifestações da categoria no
dia 3 de outubro: "Estragaram ami�ha matéria".
moço, o sorridente repórter empalideceu.Atônito, ao perceber no
monitor de vídeoque por detrás de sua própria cabeça alguém erguia
um cartaz com os dizeres"RBS - Rede de Baixos Salários".
Malterminou o boletim, ele descambou parauma reação preconceituosa:
"Tinha queser nego! Tinha que ser nego! Tinha queser nego!",
esbravejou, para espanto atédo corregedor. O cartaz, legível para
ostelespectadores, encerrou a Rede Regional de Notícias.A tarde, o
dirétor responsável pelo De
partamento de Telejornalismo da RBS,Claiton Selistre, pediu
"proteção" à PM,conforme registro do COPOM. A empresaainda armou um
escudo de alterofilistas,comandados por um ex-policial gaúcho
decodinome "Dinho" - informa o Sindicato-, ao redor dos repórteres
descolados para as duas centrais de apuração do TRE,os 'ginásios da
UFSC e o da Astel. Osagentes da RBS, usando credenciais
deoperadores de VT e um deles com o crachádo coordenador geral de
Telejornalismo,Anselmo Prada, agrediram jornalistasaos empurrões e
rasgaram cartazes. Foram. ajudados por operadores das concorrentes,
quando o protesto já freqüentavatodas as telinhas.A Justiça
Eleitoral, que se curvou à
programação da Globo, ao esperar que aemissora liberasse canal
para a RBS esó então abrir a primeira urna daCapital,também
permitiu a atuação da polícia
Cláudio Silva da Silva
Dois'dos "seguranças", com credenciais falsas
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PORUMPEDAÇODE LAMA
Geraldo Hofmann
Eram duas horas damanhã e fazia um frio debater o queixo. Para
rondamontada da PolíciaMilitar, que acabava decruzar o terreno
baldio,estava tudo em ordem. Apoucos metros do rastro dacavalaria,
lideranças doMovimento Sem-Teto
...
serviam de baliza parademarcar os lotes, queestavam sendo
sorteadosao redor de uma fogueira,num beco próximo dali.Assim que
eram sorteados,os sem-teto recebiam umasenha, um número escritoem
verde num pedacinhode cartolina, que servia depassaporte para
cruzar afronteira entre o sonho deter o próprio teto e
arealidade.
Fotos: Geraldo Hofmann e Jacques Mick
AtéO dia 29 dejulho de 1990,
amaioria dos habitantes deFlorianópolis só conheciaos
acampamentos de Sem
Terra através da imprensa ou dosbarracos de lona que, de vez em
quando, aparecem nas escadarias da Catedral ou em frente ao Palácio
do Governo. Na madrugada daquele domingo, uma centena de famílias
semterra, sem-teto e sem-medo ocuparamum terreno da
COHAB-CompanhiaEstadual de Habitação, às margensda BR-282 (Via
Expressa), na entrada da cidade. Foi aprimeira vez queum grupo de
famílias se juntoupara ocupar terras urbanas emSanta Catarina. As
outras ocupações da Capital aconteceram desordenadamenteSurgia um
barraco aqui,outro ali, cada morador se instalavapor contra própria
e, aos poucos, seformavam as favelas.Aquelas cem famílias tinham
espe
rado muito tempo para poder sonharsob o próprio teto. Muitas
delas tinham chegado do interior de SantaCatarina, há quinze, vinte
anos -quando as velhas casas açorianas daIlha começaram a ser
demolidas paradar lugar aos grandes edificios -. Opedreiro Atílio,
por exemplo, veio deChapecó. Desde 1972, constrói "casas, mansões e
prédios na Ilha. De- Monte de tralhas, aos poucos, toma forma de
casebres
pois que os donos entravam, eu continuava lá, no meu barraco de
zincona favela".Aquelas famílias, como as outras
200 mil sem-eto de Santa Catarina,já tinham entreguemontanhas de
documentos e abaixo-assinados às autoridades pedindo casa. Em
troca, haviam recebido castelos de promessas.Apresentaram um
projeto de lei aosdeputados na Assembléia Legislati-
- va, para que 1% do ICMS fosse destinado à construção de casas
populares.Mas os parlamentares o rejeitaram,com. a desculpa de que
"o povo nãosabe escrever leis". O usucapião urbano foi aprovado
pelo CongressoConstituinte. Se tivesse saído do papel,
regularizaria a propriedade de 25mil moradores dos morros de
Florianópolis.Agora, sob a penumbra das luzes
da Via Expressa e de um céu a todahora riscado por estrelas
cadentes, ossem-teto avançavam através da lamae do frio. Em
silêncio, como formigascarregadeiras, transportavam a casae o
coração aos pedaços. Atémulherescom crianças chorando no colo
ajudavam a carregar a mudança. As lágrimas das crianças iam
misturar-se aoterreno que cobria pedaços de madeira, tábuas, chapas
de zinco, compensado, caixas de papel, trouxas de rou-
Sem-teto constroem
pequenos casebresnuma área da COHAB.É a primeira invasãode terra
urbana emSanta Catarina
pa, fogões antigos, botijões de gás,louças queimadas, gatos e
cachorrosvira-latas, um monte de tralhas quemais tarde tomaria
forma nos casebres.O vaivém de silhuetas era cada vez
mais intenso na noite. Chegavam devários pontos da Capital, da
casa deparentes onde se amontoavam háanos. O gari Derci tinha sido
despejado de uma casa alugada na Costeira. O dono tinha destelhado
a casapara que ele não voltasse. A fax:ineiraRosane, de 18 anos,
com uma meninade nove meses nos .braços, vinha deum cortiço da Rua
Conselheiro Mafra. Tem gente que dá uma risadinhamaliciosa quando
se fala dessa "ruadas prostitutas", mas alimoram também faxineiras,
pedreiros, vendedores ambulantes, vigias ...Veio a notícia de que
um sem-teto
tinha adormecido e caído na fogueira,enquanto esperava o
caminhão demudança. Foi parar no hospital equando voltou a si
deixou os médicosperturbados. "Tenho que ir pra ocupação, senão não
ganho meu pedacinho de terra", gritava. Era uma baixa, mas não
poderia deter aqueleexército que lutava contra o frio, anoite e a
lama e erguia os primeirosbarracos de lona para abrigar os filhos.
Vencidos pelo cansaço, alguns.deles adormeciam ao relento,
embolados sob lonas e esteiras.De manhã, uma fina camada de
geada cobria parte do acampamento,como o pó de farinha que
embranquece os telhados dos engenhos nesses tempos de safra. Antes
de clarearo dia, acenderam pequenas fogueirase o vapor que saía da
boca dos-meninos misturava-se à fumaça. Moradores do Conjunto
Habitacional acordavam de sobressalto com o ronco doscaminhões que
traziam os novos vizinhos.Quando amanheceu, via-se as pri
meiras casinhas de madeira. Mesmoos que não eram carpinteiros
ajudavam a acelerar a construção como sea nova favela tivesse hora
marcada
para ser inaugurada. Mulheres estendiam cordas para secar as
roupase preparavam o café no fogo de chão.Via-se agora os limites
de cada terreno, indicados por tiras de roupas velhas e fitas que
se usa para enfeitarpresentes. As crianças se enturmavam e
aproveitavam a geografia acidentada do terreno para inventar novas
brincadeiras. Pescavam lixo nasvalas cheias d'água, abertas pela
CORAB para impedir a ocupação.Foi um domingo demuito trabalho,
mas "dá gosto trabalhar no que é dagente". Houve bate-bocas
entre osmoradores do Conjunto Habitacional.
"Eu acho justo. Tem que ocupar mesmo. O governo não dá casa pra
essagente mesmo", disse um homem barrigudo emeio careca. "Essa
favela vaidesvalorizar meu apartamento. Jároubaram as cordinhas do
meu varal", esbravejava uma mulher queveio pra dentro do
acampamento ves
. tindo um roupão que se usa dentrode casa.A Polícia Militar
patrulhava o
acampamento sem ensaiar qualquergesto de repressão contra os que
plantavam seus barracos na terra vermelha. A bateria demartelos só
foi inter
rompida, perto do meio-dia, quandoapareceu uma equipe de TV.
Houvecorre-corre. A repórter queria saberonde estavam as
lideranças, mas aslideranças continuavam trabalhando. Diziam que
não havia líderes, quetodos os que estavam ali vinham sereunindo
nas estradas, debaixo deviadutos até fazerem a ocupação. "Evocês
vão ficar aqui? Mas essa terraé da COHAB", repetia a
jornalista,como se a terra fosse dela. Algunshomens ficaram
indignados com ostrejeitos inquisidores da repórter.Nenhuma
autoridade apareceu paraconversar com os ocupantes.A noite, eles se
reuniram junto a
uma cruz de madeira plantada nomeio do lote reservado à casa
comunitária. O letreiro "CASA COMUNITÁRIA" já estava pronto. Só
faltavaa casa. Rezaam sob um céu estrelado.amarraram um lenço
branco na cruz.Os olhos de um casal de cabelos brancos como a geada
da manhã, brilhavam à luz das velas e de uma lâmpadapendurada na
cruz. Os olhos do pedreiro Atílio - aquele que veio deChapecó -
também brilhavam. Elelembrava o dia em que uma kombise desgovernou
na Via Expressa ecaiu em cima da casa do vizinho. Amulher desse
vizinho foi levada àspressas para a maternidade e pariuum filho de
setemeses. E, assim, cadaum lembrava os perigos e humilhações
porque passaram até entrar na"terra prometida" a outros mil e
tantos sem-teto que esperam nas filasda CORAB. Com as
mãosmanchadasde barro, repartiram entre si doispães caseiros. Com
este sinal, "seu"Atílio e sua mulher junto a outros
.
casais, abraçados, selaram o compro-.
misso de conjugar o segundo verboque aparece no lema dos Sem
Teto:ocupar, resistir e construir.No dia seguin\_e, a batalha
passaria
do terreno baldio para os gabinetesdo governo. Começava a luta
porágua e luz. Com a timidez dos pobresque chegam à casa dos ricos,
entraram no Palácio Santa Catarina. O governador prometeu quatro
bicas d'água, que deviam servir para os ocupantes e a mais 600
famílias que moram na favela ao lado, o Pasto do Gado. "Luz, vocês
podem esperar. Eu vivi 31 anos sem luz elétrica", disse
ogovernador, que ainda não visitou aocupação, mas acha que émuita
terrapara pouca gente. Quer engaiolar ali1.400 famílias num novo
ConjuntoHabitacional.
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RoteiroCinema do CIC
De 17 a 21 de outubro,o cinema do CIC exibe,sempre às 19:30
horas, ofilme "Minha Pequena Aldeia", a comédia tcheca indicada
para o Oscar do melhor filme estrangeiro de 87.A exibição deste
filme visaa obtemção de recursos para a realização do Congres- .so
Nacional de Professoresde Francês em Florianópolis, que será
realizado em28 de fevereiro de 91.A promoção é da Embai
xada da Tchecoslováquiaem Brasília.
A programação seguecom o filme "O Cozinheiro,
,
o Ladrão, .sua Mulher e oAmante", sempre às 21horas. O filme é
uma polêmica direção do inglês Peter Greenaway, construídaem três
atos e um prólogo,desenvolvendo-se num período de dez dias sob o
simbolismo das cores e baseado no número sete.
E numa promoção do Ins-,
tituto Goethe de São Pauloe Aliança Francesa de Florianópolis,
de 24 a 26 de outubro, às 19:30 horas, será,exibido o filme
alemão,"Ce!este",do diretor Percy!Adlon. Nõdia 27, outra obrado
mesmo diretor, "Bagdáe Café".
Museu de Arte deSanta Catarina
Em outubro, o MASC (Museu de Arte de Santa Catarina), apresenta
os trabalhos de cinco artistas, comdestaque para o Rio Grande do
Sul e Paraná.Paulina Laks apresenta
suas pinturas e litografiasao lado de José Francisco
-I Alves, Gaudêncio Fidelis,Paulo Roberto de Christo eCyntia
Lorenzo que trabalham com esculturas.,
,A exposição inaugurada
no dia 11 permanecerá atéo dia 4 de novembro, de segunda a
sexta, das 9 às 12horas e das 13 às 21 horas.E nos sábados,
domingose feriados, das 17 às 22 horas.
Museu de Antr�pologia da UFSC
.: Durante todo o mês de,
outubro a sala de exposição
temporária do museu deAntropologia da U FSCapresentará duas
mostras,"Os Bororo - quando avida passa pela morte" .
(vja O destaque nesta página) e"Tramas". Tramasexpõe tecidos de
Luiz Costa com esculturas de Franklin Cascaes.
Galeria de artes daUFSC
Estreou no dia 16; terçafeira, a exposição de artese artesanato
dos funcionários da UFSC, que vai atéo dia 4 de novembro,
Teatro da UFSC.
Integrando a mostra deCinema e literatura, serãoexibidos os
filmes: O JovemTorless, O Pesso Falso eEffi Briest, O cavaleiro
docavalo branco e o Abusodas cartas de amor. Os filmes vieram
através de umconvênio do Departamentoartístico-cultural da UFSCcom
o instituto Goethe.
Aterro da Baía SulNum pavilhão de lona
próximo ao mercado público você poderá assistir ao3� batismo de
Capoeira Palmares Sul, no dia 20 de outubro às 9:30 horas.
Cursos em OutubroDia 16 teve início o labo
ratório experimental deTeatro de Animação quecontinua em
funcionamentoaté novembro. O laboratório parte da experimentação
das diversas formas,linguagens e técnicas, utilizadas no processo
de criação de bonecos, máscarase sombras, através das eta-
.
pasque levam a realizaçãode uma prática teatral.AOficina de Arte
do Masc
promove também um cursode escultura em bronze,que teve início no
dia 17 evai até o dia 26 de outubroe conta com a orientaçãode José
Luiz Kinceler e Rafael João Rodrigues.
E de 16 de outubro a 16de novembro, o CIC promo've um curso de
interpretação para vídeo. Os orientadores são Lauro Goes (diretor
de cena) e Ronaldo dosAnjos (diretor d� imagem).
NÓS CHAMAMOS ATUDO ISSO DE· BLUES
Cláudia RepsoldSe a perfeição existe, o he
rói da guitarra Erica Claptona encontrou, porque perfeitoé
omínimo que se pode dizerdo show do despretencioso"god ofguitar':
que levou aoêxtasemais de 25milpessoasna noite de sábado no
estádioOrlando Scarpelli.Quando o mágico do blues
subiu ao palco e tocou osprimeiros acordes de "Pretending': som
que abriu o show,a galera já estava delirando.Nem a chuva foi capaz
de esfriar os ânimos da moçada,que dançou, cantou e vibrouao som de
"Ishot the sheriff"(numa versão mais lenta),"Running on Faith':
"Layla':"No Allibis" e, obviamente,"Coceine".A impressão que se
tinha
é que essemágico da guitarratinha saído de algum lugaralém de
nossa imaginação.Ele cantou um blues cheio detoques sensuais,
irresistívelàs nossas emoções de pobresmortais. Detonou solos nasua
Fender Strstocester (aguitarra das feras) com tantaconcentração que
chegou a ficar de costas para a moçada.Não tomem isso como um
desrespeito ao público, mas simcomo um mago viajando noseu som.
Tudo é apenas umaquestão de integração totalentre Clapton e a sua
guitarra que chega a fumar juntocom elealguns dosseus
trintacigarros diários.Mas é claro que não sepode
talar de Eric Clapton sem falar de sua banda,
formadaporinquestionáveis alquimistasda música. Começando
pelasensualidade transparente
das back vocals Katie Kissone Tessa Niles. A precisão daguitarra
de Phil Palmer. Ossolos alucinantes do baixo deNatham East. A
sutileza doteclado de GregPhiliganes. Ocompasso bem marcado daba
tera deSteveFerrone e, para fechar, a percussão muitolouca de Ray
Cooper. Mas este último é um show à parte.Cooper não só tocou
divina- •mente, como deu solos depercussão, tocou um samba
meiofunk, fez a moçada cantarjunto com ele, levando a galera à
apoteose. É, realmenteeste meio v.elho, meio louco,meio cego foi
mais um showno show de Eric Clap ton.Não faltou nada no estádi
Orlando Scarpelli. Um sompotente, dois telões nas laterais do
palco, gente interadae um toque sutil das drogas,que se tornou mais
explícitoquando rolou o som "Cocaine". Seria legal alguém dizerque
"Cocaine"é um hino an tidrogas e não o contrário, como possa
parecer.
Não houve ninguém quenão saísse do estádio com aimpressão de que
viu umgrandiosos encontro dasgrandes feras damúsica. Sendo assim, o
que nós, seres comuns, podemos dizer a�s deuses senão um
emocionadoagradecimento pela sua presença?E talvez os fogos de
artifício soltados no final doshow fossem uma espécie dereverência
a esse mágico daguitarra, a esse percussionistas divinamente
estranho, aessa banda nota dez, a tudoisso que nós chamamos
deblues, a raiz dessa viagemque é o rock and roll.
TangoseTragédiasRosane Porto
Por duas noites Florianópolis virou a Esbórnia do Sul,uma ilha
itinerante, desgarrada do continente, que navegandopelomundo acabou
como uma lixeira cultural. Masninguém percebeu, excetoquem estava
dentro do Centro Integrado de Cultura deitando e rolando ao som
doTangos e Tragédias. Rolando de rir do jeito irreverentede Nico
Nicolaiewsky e Hique Gomes, osdois de ,!O(tqAlegre, onde ha SeIS
anos uuciaram uma cerreire demúsicos que virou o Rio Grandedo Sul
quase inteiro de pernaspara o ar. Foina Esbórniado Sul (localizada
num mapaimaginário), que nasceram oviolinista Kraunus (Hique) eo
maestro ecordioniste Pletskaya (Nico), personagens quejá arrancaram
g_argalha.ila�de gaúchos, paulzstas, mineiros e cariocas.E a
platéia catarinense te
ve estes personagens por umfinal de semana pela primeira vez. O
show iio Tangos eTragédias foi despojado e repetiu a dose de
sucesso anterior. Sem cenário, com apenas luz e som acústico, Nicoe
Hique surgiram no palcodispostos a trazer diversão.Um contrasenso
se levar emconta o repertório com algumas letras de Alverengt:
eRenchinho e Vicente Celestino, a história das c1l1eirasa b . "que
se emevsme o TIO .Mas tudo acaba empizza, melhor em pastelão. Com
umaboa dose de humor, os doisacabaram treasiormendo otango em samba
e a tragédiaem comédia.O show é uma mistura de
música com teatro, que ficapor conta das caras e bocasde Nico e
principalmente Hique, com a papada dos olhosescurecidas e os
cabelos compridos que imitam vampiro:Kraunuséamargo,
violinistaexotérico, cansado dos delírios proféticos. O
maestroPletskaya é um homem sofrido, atordoado pelos
amorésfrustrados. E foi da tristeza,da amargura dos dois que
aplatéia se divertiu. Depois deuma hora em paleo, os doisacabam
voltando com um bispré-combinado com o públicopara o desfecho que
vem coma dança do Copérnico, aquelaque "você não pode mexercom as
pernas e nem com asmãos': a dança da Esbórnia.Quem foi ao CIC viu e
nãome deixe mentir. Dapróximavez que o Tangos e Tragédias estiver
em Florianópolis, vale apena viajarpela Esbórnia, que dopaleo acaba
nflporta do teatro, com os dOISmúsicos do tamanho dopúblico, cara a
cara, com acordeãoe violino,porpelomenosmais.meis hora.
-
Depois de 32 anos,mais uma estréia deum filme catarinense
"Manhã", a aventuraNilva Bianco
,'uma noite hollywoodia
, na, com atores desfilando pelo palco, sob a luz
,
, de refletores". Essa é aimagem que o escritor Salim
Miguelguarda da estréia de "O Preço da Ilusão",
- há 32 anos, no Cine São José. Apesar dedispensar o glamour, a
pré-estréia do curta-metragem "Manhã", de Zeca NunesPires e
Norberto Depizzolatti, representauma retomada do que foi iniciado
peloGrupo Sul: o cinema catarinense em35mm.Em 1958, a iniciativa do
Grupo Sul foi
uma aventura de escritores nomundo audiovisual. "Só havia uma ou
duas pessoasquejá haviam visto uma câmera na vida,os demais eram
apenas encharcados deteoria", lembra Salim Miguel. "Manhã",por sua
vez, é urna tentativa de dar continuidade e profissionalização ao
cinemacatarinense. Além dos erros, acertos, experiência e
amadorismo, existe muitomais por trás dos 10 minutos e 20 segundos
do filme. É a tentativa de se criar'uma equipe de cinema no estado,
reunindo desde atores até técnicos, visando a
Jean Lacouture, na UFSC
transformação da obra em um laboratóriode aprendizado e
aprimoramento. Semteorias ou cursos disponíveis, a soluçãoé a
prática.Felicidades - O curta "Manhã" teve '�
origem quando Zeca Nunes Pires leu "A �Morte do Leiteiro", de
Carlos Drummond i5de Andrade, e "viu um filme no poema". A luta
pela profissionalização passou por Anitápolis'Em 1987, o roteiro,
adaptado por Taba-jara Ruas, foi enviado ao poeta e recebeua
seguinte resposta:
"...Fico torcendo para
que realize o projeto e ele seja bem sucedido. Felicidades".
Foram várias interrupções até que, em 1989, junto com Norberto
Depizzolatti, Zeca Pires começou aefetivar o projeto, com o apoio
da UFSCe de empresas locais. Anitápolis foi o palco para oito dias
de filmagem, escolhidopela beleza de sua localização, próximaao
planalto catarinense. Apesar damaiorparteda equipe ser local e
inexperiente,o filme acabou saindo.Valorizando experiências como
essa,
surge o projeto de um núcleo de cinema,integrado à Cinemateca,
com autonomiatécnica para a realização de novas obras.A estrutura
desse núcleo está baseadanas pessoas interessadas em fazer
cine-
ma, bem como nos equipamentos, que começam a ser adquiridos com
verba doFuncine (arrecadação de 5%.sobre a renda, das bilheterias,
realizada pela Secretaria de Cultura e repassada à Cinemateca). O
núcleo, quejá possui equipamento de luz, em breve vai adquirir
tambémum equipamento de som.Na opinião de Zeca e Norberto,
apesar
das tentativas em 16mm, durante muitotempo não se fez cinema em
Santa Catarina devido à falta de apoio, e até mesmode insistência
dos artistas, sendo os anos70 osmais representativos dessa
situàçãono estado. Atualmente, não são poucosos que canalizam sua
vocação cinematográfica através do vídeo, em virtude damaior
facilidade de operação e pela própria falta de oportunidades de
aprendi-
,
Um jornal de jornalistas
Ana Cláudia MenezesO jornal francês "Le Monde" elegeu
no último dia 29 o seu 4? diretor, o ex-redator chefe Daniel
Vernet, que deve darcontinuidade ao trabalho desenvolvidopelo
diretor anterior, André Fontaine.A eleição, que teve a participação
diretade 300 jornalistas e colaboradores do jornal, é feita desde
1951, quando o jornalenfrentou a sua primeira crise.Nesta ocasião,
foi criada a primeira
cooperativa dos jornalistas, conhecidana época como "sociedade
dos redatores", em que os trabalhadores do "LeMonde" tornaram-se
acionistas.Para Jean Locouture, ex-jornalista e
historiador francês, "o resultado é positivo". Ele esteve na
UFSC na quintafeira, dia 4, proferindo palestra sobrea vida e a
carreira política do general
,
Charles de Gaulle.Jean Lacouture foi articulista do "Le
Monde" durante 20 anos, completadosem 1970 quando se desligou do
jornalpara se dedicar à pesquisa. Acabou escrevendo 33 livros.
Andou por paísesafricanos e achou que o texto de jornalera muito
curto para que ele pudessedescrevê-los. "Como vou explicar o
que
se passa no Brasil em cem .linhas?". Aresposta veio nos livros e
na série deconferências que vem dando em universidades européias e
americanas.O "Le Monde", que vendeu 382 rriil
exemplares diários em 1989, é um dosjornais que mais dispara
críticas contrao presidente François Miterrand. Masnem sempre foi
assim. Em 1981, quandoMiterrand foi eleito pela primeira vez,O
jornal apoiou a plataforma socialistado então novo governo. Nessa
época, o"LeMonde" foi acusado de distanciar-seda sua posição
crítica e de independência, perdendo partes de seus leitores.Mesmo
assim, um dia após a vitória deMiterrand, o jornal vendeu mais de
ummilhão de exemplares.
O engajamento político sempre conviveu nas páginas do "Le
Monde". O primeiro exemplar foi lançado em 18 dedezembro de 1944,
incentivado pelo general De Gaulle, que queria um jornalde
importância estratégica internacional. O fundador, Hubert
Beuve-Méry,morto no ano passado, dirigiu o jornalaté 1969, onde
escreveu artigos defendendo a independência da Argélia.
zado em cinema, Na carência de um cursoapropriado, o curso de
Jornalismo daUFSC acaba recebendo futuros cineastas;'como foi o
caso de Norberto e Zeca e,atualmente, de Chico Faganello, que
estádirigindo um média-metragem em16mm. Apesar disso, ainda não é
possível'comparar a instantaneidade do vídeo coma elaboração do
cinema.Ainda esse ano, "Manhã" deve' passar
por grandes provações qualitativas. Estáinscrito para o Festival
de Brasília, emoutubro, e para oRioCine-Festival eMostra
Internacional Mário Santos, em novembro. A partir daí, será
distribuído pelas Organizações Mário Santos nos trêsestados do sul
e só então enfrentará amaior prova para sua aceitação: o
grandepúblico.
Le Monde, a cooperativa que deu certo,
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Bouve-Méry ficou no comando até oitomeses depois de De Gaulle
ter deixadoo poder. Além da crise sofrida pelo "LeMonde" em 1951,
uma outra, em 79, fezo jornal perder 600 milleitores em seisanos,
além de dar um prejuízo perto deUS$ 20milhões. Nomeio de toda a
crise,foram realizadas sele eleições internaspara a direção do
jornal, entre 1980 e1982. Em 1985, o jornal se reergue, aumentando
a sua tiragem e publicidade,mas tendo que demitir pessoal e
aumentar o número de acionistas.Hoje, o "Le Monde" figura em
quinto
lugar no ranking dos jornais mais vendidos na França, mas mantém
fama eprestígio. Para trocar de sede em maiodeste ano, o jornal
aumentou o preçodo exemplar dos tradicionais 4,50 francos para 5
francos. Depois de 45 anosfuncionando num antigo prédio perto da
,Ópera, o "Le Monde" se instalou confortavelmente numa moderna sede
nobairro de Montparnasse, em Paris. Amudança foi proposital para
coincidircom a compra de uma nova impressora, _ 1'1em setembro do
ano passado, e com areforma tecnológica pretendida pelo
"LeMonde".
"
I
-
ZERO
Mesmo nos onze estados em que oequilíbrio entre 0S candidatos
exigeuma nova eleição, o governo federalnão está mal: em cinco
deles o presidente é apoiado pelos dois candidatosque disputarão o
segundo turno no dia25 de novembro. Alagoas, de onde Collor decolou
para Brasília, exemplificabem esta situação. Lá, os candidatosque
voltarão às urnas no dia 25 sãoRenan Calheiros (PRN), o ex-líder
dogoverno naCâmara Federal, e GeraldoBulhões (PSC), o candidato da
primeira-dama Rosane Collor - Ambos amigos de juventude do
presidente e colloridos de primeira hora nas eleiçõespresidenciais
de 89. As brigas que estão acontecendo em Alagoas, COin Calheiros
acusando Bulhões de fraudaras eleições e responsabilizando o
tesoureiro da campanha presidencial deCollor, Paulo Cesar de
Farias, pela articulação da "fraude", não são absolutamente brigas
ideológicas. Antes pelocontrário, Calheiros e Bulhões disputam a
posição de "preferido" de Collor.
Aparentemente, os ocupantes do Palácio do Planalto deveriam
estar dando risadas, no entanto as urnas deixaram dois problemas
para o presidenteCollor. Primeiro porque entre os poucos lugares em
que vai haver uma disputa acirrada com a oposição no segun-
COLLOR SAIFORTALECIDO ESEM SUSTOS
Pedro Saraiva
Com as apurações oficiais chegandoao seu final, os resultados
das eleiçõesde 3 de outubro aparecem por completo. São 27 estados
escolhendo seusgovernadores e elegendo 31 senadores,503 deputados
federais e 969 deputados estaduais. Junto com os nomes
dosvitoriosos, os votos do dia 3 mostramquem é quem na política
brasileira eacabam por fortalecer ou destruir ossonhos de possíveis
presidenciáveispara 94. E um dos maiores interes-
'
sados neste processo é o atual presidente Fernando Collor.
Curiosamente, apesar de Collor teroficialmente mantido a posição
de nãoparticipar diretamente nas eleições, oúnico governador já
eleito que, fazabertamente oposição ao governo federal é Leonel
Brizola, no Rio de Janeiro.Nos outros dez estados em que
comcerteza, não haverá segundo turno, todos os eleitos apóiam
Collor ou, pelomenos, transitam sem maiores percalços pelo
Planalto.
o nó formado pela indigestacombinação �e votos brancos comvotos
conservadores desafia o país
do turno, estão alguns estados estratégicos, como Paraná, Rio
Grande do Sule principalmente São Paulo - sem falarna vitória de
Brizola no Rio. Segundo,porque mesmo dentro as hostes governistas
Collor terá que lidar com a ambição de líderes regionais que
têmidéias próprias sobre quem deve subira rampa do Planalto em 94,
como oainda candidato Hélio Garcia em Minas e o virtual governador
AntônioCarlosMagalhães na Bahia - sem falardo incansável Paulo
Maluf.
Aliás, é justamente em São Pauloque Collor terá a batalha mais
árduano segundo turno. Mesmo porque SãoPaulo foi o estado
responsável pelaúnica declaração de apoio explícito deCollor,
quando o presidente manifestou publicamente sua preferência
porPaulo Maluf. Mas, principalmente,porque lá Maluf enfrentará
Fleury, ocandidato de Quércia. E Quércia éuma das poucas lideranças
oposicionista que ainda assusta o Planalto.Não sem razão: deixando
o governo deSão Paulo com um índice de aprovaçãopopular de 50%,
Quércia conseguiu levar seu afilhado político, Luiz AntônioFleury,
do quase anonimato às proximidades do Palácio Bandeirantes. Eno
caminho esmagou as pretensões dotucanoMário Covas ao governo de
SãoPaulo e à presidência da República.Diga-se de passagem que o
PSDB
é um dos partidos que mais chora oresultado das urnas. Em São
Paulo seucandidato Mário Covas sequer passoupara o segundo turno.
Em Minas Gerais os tucanos utilizam cálculo avançado para dizer que
ainda há esperanças de que Pimenta da Veiga ultrapasse Hélio Costa
(PRN) e conquisteuma vaga para o segundo turno. Maspelas projeções
fe.itas com os votos queo Tribunal Regional Eleitoral de Minas já
apurou, é muito provável queo segundo turno seja disputado
entreHélio Garcia (PRS) e Hélio Costa. Assim, dois líderes tucanos
que planejavam voar alto foram abatidos emplenadecolagem,
justamente nos dois maiores colégios eleitorais do país.Também no
Paraná o PSDB sofreu'
uma derrota humilhante. Seu candidato, o senador José Richa, no
inícioda campanha era tido como favoritoabsoluto para chegar ao
governo do estado. Na reta final da disputa, Richadescobriu que ia
ter que assistir ao segundo tempo fora do campo: no dia 25de
novembro os paranaenses escolherão se querem Roberto Requião(PMDB)
ou José Carlos Martinez(PRN) como governador. Junto comRicha afunda
outro conhecido peessedebista, o candidato a vice e ex-líderdo PSDB
na Câmara, Euclides Scalco,que agora fica sem mandato.
Em Santa Catarina o senador tucano Dirceu Carneiro ficou em
quartolugar. Não ganhou sequer em Lages,
cidade na qual foi prefeito e fez umagestão considerada
impecável. Mas isto não foi surpresa, aliás, não houvesurpresas no
3 de outubro catarinense:Kleinübing governador, EsperidiãoAmin no
Senado e Ângela Amin deputada federal mais votada. As oligarquias
catarinenses derrotadas naseleições de 86 voltam ao poder a
partirde 91. Na verdade, o retorno ao governo das oligarquias
regionais, com seuscoronéis e famílias tradicionais, nãoé um
privilégio catarinense - está aío "Toninho Malvadeza" para
confirmar.
Quanto ao PT, o partido teve o desempenho previsto pelo seu
presidenteLuís Inácio Lula da Silva. Dias antesdas eleições Lula
afirmava: "O PT teráseu pior desempenho eleitoral desdesua
fundação". De fato, apesar de aumentar sua bancàda na Câmara
Federal de 17 para 30 deputados (de acordocom projeções) e de
eleger o paulistaEduardo Suplicy para o Senado, o partido que
chegou ao segundo turno daseleições presidenciais não conseguiuse
firmar como o líder mais forte daoposição ao governo Collor. E o
PTpaulista ainda teve o désprazer de assistir o candidato
PauloMaluf em primeiro lugar nas urnas do ABC paulista.
Se houve perdedores, houve ganhadores. Como disse o comentarista
político Carlos Chagas, mesmo com oseventuais problemas que o
Planaltovenha a ter em São Paulo e em outrosestados-chaves para a
definição doquadro político nacional, "certamenteo vencedor destas
eleições foi o PFC,Partido do Fernando Collor". A maisnova versão
do Arenão, Centrão e outros partidos do poder, que já são velhos
conhecidos da rotina política brasileira.
Parece que o eleitorado decepcionou-se com a atuação de alguns
deputados e resolveu dar um basta. Nomescomo Iraí Zílio, Neuzildo
Fernandes,José Bel, Vânio de Oliveira, JorgeGonçalves da Silva,
João Gaspar daRosa, José Luís Cunha, Raulino Rosskamp e João
Romário Carvalho terãoque se conformar com a decisão do povoe
trabalhar para garantirem suas vagas nas próximas eleições. Até
mesmoo presidente da Assembléia, deputadoAloísio Piazza, não foi
reeleito.Mas o apoio popular ficou mesmo
com os 13 deputados estaduais que ficarão por mais quatro anos
em suascadeiras. Destes reeleitos, a União porSanta Catarina elegeu
oito: Pedro Bittencourt Neto, Wilson Wan DalI, Sidney Pacheco,
Otávio dos Santos, Joaquim Lemos, Júlio Garcia, José Pedroso e
Leodegar da Cunha Tiscoski. OPMDB recebeu o aval popular atravésde
João BatistaMatos, Rivaldo Macarie Lírio Rosso. Mas quem continua
comseu eleitorado fiel, mesmo com as mudanças de partido, são os
deputadosMário Roberto Cavallazzi e Ivan Ranzolin eleitos pela
coligaçãoNovaSantaCatarina, PRN-PTR.
O que realmente surpreendeu foi areeleição de quatro candidatos
doPMDB. Luiz Henrique da Silveira,Neuto de Conto, Renato Vianna
eEduardo Pinho Moreira vão continuaremBrasília ocupando suas
cadeiras naCâmara Federal. Outro que continuapor lá é o deputado
Roberval Pilotto,reeleito pela União.Todos estes deputados farão
compa
nhia aos recém-eleitos. São 11 novosdeputados federais, que
estão junto aoscinco reeleitos.E para trabalharemjunto com os
13
estaduais foram eleitos 27 novos deputados.
Para a Câmara Federal AngelaAmim, César Souza, e Paulo Bauer,os
três candidatosmais votados, forameleitos pela União,juntamente com
osoutros seis candidatos. O PMDB elegeu cinco, sendo que o mais
votado dopartido foi o deputado Luiz Henriqueda Silveira. Para
ocupar as duas vagasrestantes ficaram os candidatos daFrente
Popular, Luci Choinaski, do PTe Dércio Knopp, do PDT.A União por
Santa Catarina elegeu
19 deputados estaduais. Coincidentemente em 1986, os três
principais partidos dessa coligação elegeram seuscandidatos que
somados, tambémpreencheram 19 vagas na Assembléia.Entre os mais
votados em 1990 estãoReno Luiz Caramori e Witich Freitag.O PMDB,
que em 1986 igualou-se aonúmero de vagas dos partidos hoje
correspondentes à União, este ano preencheu somente II vagas. A
Frente Popular elegeu seis deputados, o PRNtrês e o PSDB ocupou
apenas uma dasvagas na Assembléia Legislativa.
AVALANCHECONSERVADORATAMBÉMEMSC
Jeanine K. Bellini
As eleições de 3 de outubro demonstraram a insatisfação popular
diantedo panorama atual. Com um percentual muito grande de votos
brancos enulos, elas serviram de alerta: algonão vai bem com a
democracia brasileira. Em Santa Catarina amaior prova de que o povo
cansou de acreditarem palavras de políticos foi o baixonúmero de
deputados reeleitos, Entreos 23 candidatos a reeleição para a
Assembléia Legislativa apenas 13 garantiram sua vagas.