Pin Ups

Pin-upsPin-ups

Ainda guardo no fundo de minha garagem a velha geladeira, com os “pin-ups” de minhas artistas favoritas do século passado, nela colados.

Claro que a isso cabe uma explicação: no auge do cinema romântico, houve um tempo em que a onda eram “pin-ups”; peças em plástico próprios para serem colados em geladeiras.

Essas peças passaram a ser colecionadas e tê-las era o mesmo que ter a mulher do cinema de seus sonhos um pouco mais perto de você.

O elo sentimental entre o espectador de filmes (maioria americanos) se completava com essas pequenas peças, que ficavam expostas com muito orgulho por dias, meses, anos. No meu caso, até hoje, e aí de quem tirá-los de lá. Ali está um pouco de minha história.

Artistas naquele tempo era coisa mais ou menos sagrada, e isso por muitas razões. Ditavam moda, mostravam o que havia de mais moderno no mundo, provocavam a sensualidade comedida própria da época, além de nos fazerem sorrir e chorar na medida ditada pelo autor do filme ou seu diretor.

Os “pin ups” vinham sempre reportando a uma cena especial de um filme famoso.

Eu colecionei das artistas que me fizeram rir, chorar e sonhar... sonhar muito.

Nem sei se a nova geração sabe o que é colecionar peças, figurinhas, etc.

Mas era no mesmo sistema, pois haviam os “pin ups” mais difíceis, os encontrados com mais facilidade, etc.

Acho que aí cabe uma explicação, pois isso aconteciam com adolescentes, jovens e mesmo adultos.

Veja que coisa saudável: os adolescentes ainda jogavam bola na rua, mas também brincavam com seus sonhos e fantasias. E os “pin ups” estimulavam esse exercício.

Quantas vezes não acordei encerrando um sonho provocado por um filme, no qual eu era o artista e beijava ardentemente Gina Lolobrígida.

Sophia Loren, essa ocupava minha cabeça de adolescente e me fez muitas vezes acordar em situação pouco recomendável para aquela época.

E assim ia. Conforme o sucesso da época, uma nova peça no mercado (e importada) e a disputa dos fãs brasileiros.

Dá pra imaginar quanto romantismo?

Claro que haviam os “pin ups” super insinuantes, como este. A saia levantada iniciava a viagem em nossas cabeças. Daí pra frente tudo era imaginação.

A isso atribuo estímulo, que fazia da geração de então muito mais criativa e sonhadora.

Os “pin ups” fizeram soldados americanos da 2ª Guerra Mundial sonharem em pleno campo de batalha.

O que começou como um exercício de óleos, logo foi tomando rumos diferentes, alcançando as fuselagens das máquinas dos combatentes e tornando-se uma característica essencial do mundo masculino de garagens e casernas.

Falar sobre as pin-ups é voltar Falar sobre as pin-ups é voltar ao fim do século 19, época em ao fim do século 19, época em que o teatro de revista que o teatro de revista transformava dançarinas em transformava dançarinas em estrelas, fotografadas para estrelas, fotografadas para revistas, anúncios, cartões e revistas, anúncios, cartões e maços de cigarros. Em Paris, maços de cigarros. Em Paris, dois artistas, Alphonso Mucha dois artistas, Alphonso Mucha e Jules Cheret, criaram as e Jules Cheret, criaram as primeiras imagens de primeiras imagens de mulheres em poses sensuais mulheres em poses sensuais para pôsteres, com trabalhos para pôsteres, com trabalhos marcados pela presença de marcados pela presença de contornos e detalhes. contornos e detalhes.

E é justamente a partir do ato de E é justamente a partir do ato de pendurar ilustrações nas paredes pendurar ilustrações nas paredes que o nome que o nome pin-up pin-up surgiu. surgiu.

Foi na década de 40, contudo, Foi na década de 40, contudo, que as pin-up girls (ou “garotas que as pin-up girls (ou “garotas penduradas”) viveram o auge do penduradas”) viveram o auge do sucesso.sucesso.

Mostrar as pernas era atitude Mostrar as pernas era atitude subversiva e ser fotografada subversiva e ser fotografada nua, atentado ao pudor.nua, atentado ao pudor.

O jeito era se contentar o com O jeito era se contentar o com resultado provocado pelo resultado provocado pelo artista, com seu lápis, papel e artista, com seu lápis, papel e tinta. Os chamados posters, tinta. Os chamados posters, que vieram antes dos “pin ups”.que vieram antes dos “pin ups”.

Betty Grable foi uma das Betty Grable foi uma das mais populares dentre as mais populares dentre as primeiras “pin-ups”. Um de primeiras “pin-ups”. Um de seus posters em forma seus posters em forma adesiva tornou-se adesiva tornou-se onipresente nos armários de onipresente nos armários de soldados na Segunda Guerra soldados na Segunda Guerra e a mania se estendeu para o e a mania se estendeu para o mundo todo. mundo todo.

O conceito das garotas pin-O conceito das garotas pin-up era bastante claro: eram up era bastante claro: eram sensuais e ao mesmo tempo sensuais e ao mesmo tempo inocentes.inocentes.

A verdadeira pin-up A verdadeira pin-up jamais poderia ser vulgar jamais poderia ser vulgar ou oferecida, apenas ou oferecida, apenas convidativa. Asseguradas convidativa. Asseguradas pelos traços sofisticados pelos traços sofisticados vindos da vindos da art-nouveauart-nouveau, , elas vestiam peças de elas vestiam peças de roupa que deixavam roupa que deixavam sutilmente à mostra sutilmente à mostra suntuosas pernas e suntuosas pernas e definidas cinturas.definidas cinturas.

Era o bastante para Era o bastante para

alimentar a fantasia dos alimentar a fantasia dos marmanjos. marmanjos.

Das ilustrações de papel, as Das ilustrações de papel, as pin-ups logo ganharam vida pin-ups logo ganharam vida ao serem encarnadas por ao serem encarnadas por atrizes como Betty Grable e atrizes como Betty Grable e Marilyn Monroe, ou Marilyn Monroe, ou fotografadas por modelos fotografadas por modelos voluptuosas como Bettie voluptuosas como Bettie Page, também chamada de Page, também chamada de “rainha das curvas”.“rainha das curvas”.

A partir dos anos 70, a A partir dos anos 70, a indústria do sexo passou a indústria do sexo passou a desmanchar a aura misteriosa desmanchar a aura misteriosa dessas mulheres, graças a dessas mulheres, graças a filmes pornográficos e revistas filmes pornográficos e revistas de nu feminino. de nu feminino.

O mundo masculino da época O mundo masculino da época suspirava pela beleza suspirava pela beleza feminina. Um pouco diferente feminina. Um pouco diferente do que ocorre hoje, com tudo do que ocorre hoje, com tudo muito fácil, muito ao alcance muito fácil, muito ao alcance de todos a todos os de todos a todos os momentos.momentos.

Avanço ou não (não me compete Avanço ou não (não me compete julgar), mas que a pitada de julgar), mas que a pitada de dificuldade, o que estava por vir, o dificuldade, o que estava por vir, o que não foi mostrado, faziam das que não foi mostrado, faziam das relações algo muito mais relações algo muito mais prazeroso. prazeroso.

Isso porque tinham as pessoas Isso porque tinham as pessoas envolvidas na relação, um forte envolvidas na relação, um forte desejo estimulado pelas desejo estimulado pelas imaginações, sem no entanto imaginações, sem no entanto perder o respeito necessário a perder o respeito necessário a duas pessoas que se procuraram e duas pessoas que se procuraram e se entenderam. se entenderam.

Às vezes a arte vinha em forma Às vezes a arte vinha em forma de uma ilustração bem de uma ilustração bem humorada, sem no entanto humorada, sem no entanto deixar de exibir a proposta de deixar de exibir a proposta de insinuar.insinuar.

E como dizia Cazuza, “o E como dizia Cazuza, “o tempo não para”. Houve o tempo não para”. Houve o tempo dos seios grandes, tempo dos seios grandes, que aliás voltou com tudo que aliás voltou com tudo agora.agora.

Aqui, como esse detalhe era Aqui, como esse detalhe era exibido.exibido.

E sob a visão artística, um E sob a visão artística, um detalhe: as imagens eram na detalhe: as imagens eram na maioria alegres.maioria alegres.

Isso fazia com que a viagem Isso fazia com que a viagem fosse ainda mais divertida e fosse ainda mais divertida e completa. completa.

O sonho parecia percorrer um O sonho parecia percorrer um roteiro, com o início no roteiro, com o início no encontro com a mulher encontro com a mulher imaginada em pose espontânea, imaginada em pose espontânea, a abordagem, as primeiras a abordagem, as primeiras manifestações e a conclusão manifestações e a conclusão que sempre se dava intensa e que sempre se dava intensa e muito prazerosa.muito prazerosa.

É isso, coisas de uma época É isso, coisas de uma época romântica.romântica.

Um tempo muito diferente dos Um tempo muito diferente dos atuais, com a imaginação atuais, com a imaginação respondendo por todas as respondendo por todas as conquistas.conquistas.

Isso, talvez, porque no real aquiloIsso, talvez, porque no real aquilo

era inatingível. Mas como era era inatingível. Mas como era gostoso sonhar.gostoso sonhar.

Eu beijei Elisabeth Taylor, dormi Eu beijei Elisabeth Taylor, dormi com Betty Gable, casei-me comcom Betty Gable, casei-me comBarbara Bates, tive um longo Barbara Bates, tive um longo caso com Vivian Leigh e fui caso com Vivian Leigh e fui disputado por Carole Lombard.disputado por Carole Lombard.

Estive na filmagem de Estive na filmagem de “Cleópatra”, atuei em “Assim “Cleópatra”, atuei em “Assim Caminha a Humanidade” e Caminha a Humanidade” e estrelei em “Os dez estrelei em “Os dez mandamentos”.mandamentos”.

“Eu nasci a dez mil anos atrás”.“Eu nasci a dez mil anos atrás”.

Penso ter acordado.Penso ter acordado.

Mas às vezes me pego Mas às vezes me pego conversando com John Wayne, conversando com John Wayne, trocando tiros com Rock trocando tiros com Rock Hudson numa cena de bang Hudson numa cena de bang bang e em outras vezes estou bang e em outras vezes estou tascando um longo beijo em tascando um longo beijo em Glória Swanson.Glória Swanson.

E quero continuar sonhando...E quero continuar sonhando...alguém tem que contar essa alguém tem que contar essa história.história.

Texto e apresentação por Renato Cardoso

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