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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE PATOS PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA MONOGRAFIA Tratamento de feridas em equinos (Equus caballus) levantamento de casos no Hospital Veterinário do CSTR/UFCG/Campus de Patos - PB. Suelem Almeida Silveira Lopes 2011
84

PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

Mar 01, 2023

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Khang Minh
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Page 1: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS – PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

Tratamento de feridas em equinos (Equus caballus) – levantamento de casos no Hospital Veterinário do CSTR/UFCG/Campus de Patos - PB.

Suelem Almeida Silveira Lopes

2011

Page 2: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS – PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

Tratamento de feridas em equinos (Equus caballus) – levantamento de casos no Hospital Veterinário do CSTR/UFCG/Campus de Patos - PB.

Suelem Almeida Silveira Lopes (Graduanda)

Prof. Dr. Pedro Isidro da Nóbrega Neto (Orientador)

Patos – PB Junho /2011

Page 3: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR / UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

L864t 2011 Lopes, Suelem Almeida Silveira

Tratamento de feridas em equinos (Equus caballus) – levantamento de casos no Hospital Veterinário do CSTR/UFCG/Campus de Patos – PB. / Lopes, Suelem Almeida Silveira, - Patos - PB: UFCG/UAMV, 2011.

85f.: il. Color. Inclui Bibliografia. Orientador: Pedro Isidro da Nóbrega Neto

(Graduação em Medicina Veterinária). Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande. 1- Clínica Médica de Equinos – Levantamento de casos. 2 – Dermatopatias em Equinos

CDU: 616:636.1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS – PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

SUELEM ALMEIDA SILVEIRA LOPES Graduanda

Monografia submetida ao Curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para obtenção de grau de Médica Veterinária.

APROVADO EM: 09/06/2011 MÉDIA: ______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ _______ Prof. Dr. Pedro Isidro da Nóbrega Neto Nota Orientador

__________________________________________ _______ Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto Nota Examinador I

__________________________________________ _______ Profa. MSc. Sônia Maria de Lima Nota

Examinador II

Page 5: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

DEDICATÓRIA

À minha mãe e melhor amiga Maria do Socorro de Almeida Silveira Lopes, por

ser a pessoa que mais me apóia e acredita na minha capacidade. Pelas horas em que

ficou ao meu lado não me deixando desistir e me mostrando que sou capaz de chegar

onde desejo, sem dúvida é quem me deu o maior incentivo para conseguir concluir esse

trabalho. Pessoa que sigo como exemplo, mãe dedicada, companheira, cúmplice,

batalhadora e que abriu mão de muitas coisas para proporcionar o melhor em minha

vida. Dedico este trabalho a você, MÃE, por me fazer acreditar que nada é impossível!

Ao meu avô Antônio Lopes (In Memorian), por sempre ter acreditado em mim.

Lembro quando me dizia que queria muito me ver formada e que estaria em minha

formatura para dançar a valsa comigo. Mas, infelizmente a vida nos separou antes que isso

pudesse acontecer. Mesmo assim, sou grata por seus ensinamentos e sempre o levarei em

minha lembrança. Sei que onde estiver, estará orgulhoso por mais uma etapa vencida em

minha vida.

Page 6: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

AGRADECIMENTOS

Bem, essa parece ser a parte mais fácil de uma monografia, mas digo a vocês,

não é! Ter que se lembrar de cada pessoa que de alguma forma me deu forças, ânimo,

me empolgou pra fazer esse trabalho e fazê-lo direito. Então pra começar quero

agradecer primeiramente a Deus. E é a Ele que dirijo minha maior gratidão. Deus, mais

do que me criar, deu propósito à minha vida. Vem dele tudo o que sou o que tenho e o

que espero.

Aos meus pais, Maria do Socorro e Antonio Lopes Filho, que além de terem me

proporcionado uma boa infância e vida acadêmica, formaram os fundamentos do meu

caráter e me apontaram uma vida eterna. Obrigada por serem a minha referência de

tantas maneiras e estarem sempre presentes na minha vida de uma forma indispensável,

mesmo separados por tantos quilômetros. Obrigada também por terem me ensinado a

lutar diante das adversidades da vida. A eles devo meu caráter, minha ética como pessoa

e profissional.

Aos meus tios, Maria Graciete e Antônio Jefferson, por sempre terem caminhado

ao meu lado durante esta difícil jornada. Agradeço todo apoio recebido por vocês. Meus

segundos pais.

Aos meus avós, tanto maternos quanto paternos, por desde criança sempre terem

cuidado de mim com muito amor.

À toda minha FAMÍLIA, por todo sacrifício ilimitado em todos os sentidos e por

terem acreditado e torcido pela minha vitória.

À minha melhor amiga, Thalita Nazário, por nunca ter desistido de mim. Por

sempre ter me apoiado em minhas decisões. Obrigada pela amizade incondicional,

incentivo, companheirismo e por partilhar muitos momentos importantes em minha

vida.

À Roberta Kelly, por sempre ter acreditado em mim e nunca ter me abandonado

nos momentos mais difíceis de minha vida universitária. Obrigada pela amizade!

À Katrina e sua família, por todo apoio recebido e acolhimento quando cheguei

a Patos. Desde a pré-matrícula até minha permanência definitiva no curso. Uma cidade

totalmente nova pra mim e cheia de desafios.

À Rafaela Fernandes, por sua paciência em ajudar na formatação deste trabalho,

assim como pela sua amizade.

Page 7: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

Às amigas Janiely Paulo, Mariana Lacerda, Karla Pollyanna, Sâmya Felizardo e

Sayonara Alves por todo companheirismo durante os cinco anos de curso. Por todos os

momentos compartilhados juntas. As alegrias, tristezas, brincadeiras, saídas,

palhaçadas, diversões, amores e desamores. Como também por todas as dificuldades

que enfrentamos juntas com algumas disciplinas estressantes, passando o conhecimento

uma pra outra, nossos trabalhos e nossas loucuras. Sem vocês essa trajetória não seria

tão prazerosa.

Ao meu namorado, Paulo Cássio Albuquerque Freire, que representa minha

segurança em todos os aspectos, meu companheiro incondicional, o abraço espontâneo e

tão necessário, especialmente em tempos de conclusão do último semestre na

universidade. Obrigada por me fazer sentir tão amada, também nos momentos mais

difíceis da nossa vida.

Meu eterno amor e muito obrigada também à Halana, Olavo e minhas novas

irmãs, Priscila e Tamires por suas orações, palavras, abraços e aconchegos.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Pedro Isidro da Nóbrega Neto, que se dispôs a

dividir comigo sua sabedoria, mostrando-me que as respostas científicas devem ser

norteadas pela atenção. Obrigada não só pela orientação, apoio, oportunidade e

possibilidade, de realizar este trabalho, como também pela amizade.

Ao Prof. Dr. Eldinê Miranda, por repartir seus conhecimentos, até mesmo nos

finais de semana em que eu o perturbava, sempre pronto a me ajudar, colocando em

minhas mãos as ferramentas com asas as quais abrirei novos horizontes, rumo à

satisfação plena do meu ideal humano e profissional.

À Profa. Sônia Lima, por ter me ensinado muito mais que teoria, por ter me

preparado também para a vida, todo o meu carinho e minha gratidão.

Aos animais que me ensinaram a verdadeiro valor da vida. As minhas limitações

foram por eles transformadas em conhecimentos que reverteram a favor da vida.

À Turma de Concluintes 2010.2, por todos os desafios que superamos juntos.

Aos amigos adquiridos no decorrer do curso, em particular aqueles que sempre

me apoiaram (Ana Lucélia, Arthur Moreira, Diogo da Costa, Jamerson Veloso, Larissa

Amaral, Luiz Marinho, Matheus Maia, Paulo Vinícius, Renato Maia, Zeno Fixina) e em

especial a Vinícius Longo, por sempre ter me ajudado com seus projetos e sua amizade.

A todos os funcionários, que realizam suas tarefas diariamente, muitas vezes não

percebidas por nós, para nos dar suporte.

Page 8: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

À Tereza, uma pessoa competente, dedicada, eficiente e acima de tudo muito

especial na vida de todos os alunos de medicina veterinária da UFCG/Campus de Patos

- PB. É uma profissional que merece todo respeito e reconhecimento pelo seu trabalho.

Por isso e muito mais, quero lhe dizer apenas muito obrigada por tudo. Sem você,

estaria de mãos e pé quebrados. Felicitações e muito agradecimento por sua valiosa

colaboração.

A todos os professores do curso de medicina veterinária, pela paciência,

dedicação e ensinamentos disponibilizados nas aulas, cada um de forma especial

contribuiu para a conclusão desse trabalho e consequentemente para minha formação

profissional.

Aos que contribuíram direta e indiretamente para a conclusão deste trabalho.

Agradeço até mesmo aqueles que não acreditaram na minha capacidade, pois o

desafio traz crescimento, e vencer obstáculos tornou-se hábito.

A todos muito obrigada!

Page 9: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

“Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida

e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia,

pois o triunfo pertence a quem se atreve...

E a vida é muito para ser insignificante.”

Charles Chaplin

Page 10: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

SUMÁRIO

Pág. LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

RESUMO

ABSTRACT

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 14

2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 15

2.1 Feridas ............................................................................................................ 15

2.2 Classificação das feridas ................................................................................ 15

2.2.1 Quanto ao dano tecidual ........................................................................ 15

2.2.1.1 Incisa .......................................................................................... 15

2.2.1.2 Lacerada ..................................................................................... 16

2.2.1.3 Punctória .................................................................................... 17

2.2.1.4 Penetrante ou perfurante ............................................................ 17

2.2.2 Quanto à contaminação ......................................................................... 18

2.2.2.1 Limpa ......................................................................................... 19

2.2.2.2 Limpa-contaminada ................................................................... 19

2.2.2.3 Contaminada .............................................................................. 19

2.2.2.4 Suja ou infectada ........................................................................ 19

2.3 Cicatrização tecidual ...................................................................................... 20

2.3.1 Fases da cicatrização ............................................................................ 21

2.3.1.1 Inflamação ................................................................................. 21

2.3.1.2 Debridamento ............................................................................ 22

2.3.1.3 Fibroblástica .............................................................................. 22

2.3.1.4 Proliferação ................................................................................ 23

2.3.1.5 Epitelização ................................................................................ 24

2.3.1.6 Contração ................................................................................... 25

2.3.1.7 Maturação ou remodelação ........................................................ 25

2.4 Fatores que influenciam a cicatrização .......................................................... 26

2.4.1 Idade ...................................................................................................... 27

2.4.2 Hiperatividade do paciente ................................................................... 27

Page 11: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

2.4.3 Estado nutricional ................................................................................. 27

2.4.4 Diabetes ................................................................................................ 28

2.4.5 Uremia e hipoproteinemia .................................................................... 28

2.4.6 Terapia anticâncer................................................................................. 28

2.4.7 Corticosteróides ................................................................................... 29

2.4.8 Corpos estranhos e tecido desvitalizado .............................................. 30

2.4.9 Infecção ................................................................................................ 30

2.4.10 Oxigenação ........................................................................................ 30

2.4.11 Medicamentos ................................................................................... 31

2.5 Tipos de cicatrização ..................................................................................... 31

2.5.1 Por primeira intenção............................................................................ 31

2.5.2 Por primeira intenção retardada (ou terceira intenção) ........................ 32

2.5.3 Por segunda intenção ............................................................................ 33

2.6 Tipos de curativos .......................................................................................... 34

2.6.1 Para limpeza e escarificação ................................................................. 35

2.6.2 Para debridamento ................................................................................ 37

2.6.3 Para tamponamento .............................................................................. 39

2.6.4 Para absorção ........................................................................................ 41

2.6.5 Compressivos ........................................................................................ 42

2.6.6 Para sustentação .................................................................................... 43

2.6.7 Para proteção ........................................................................................ 44

2.6.8 Para manter a umidade .......................................................................... 44

2.7 Tipos mais frequentes de feridas em equinos no semi-árido paraibano ........ 45

2.7.1 Pitiose .................................................................................................. 45

2.7.2 Habronemose ....................................................................................... 51

2.7.3 Ferida lacerante .................................................................................... 57

2.7.4 Ferida perfurante .................................................................................. 59

2.7.5 Ferida granulomatosa........................................................................... 61

3. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 64

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 65

5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 77

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 78

Page 12: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

LISTA DE FIGURAS Pág. Figura 1. Equinos parcialmente submersos no lago com presença abundante de

plantas aquáticas, em região com elevadas temperaturas (acima de 30ºC

em média). Ambiente propício para presença de zoósporos de Pythium

insidiosum..................................................................................................

46

Figura 2. Kunkers observados na ferida após a necropsia do animal........................ 48

Figura 3. Marcação positiva em vermelho (seta) para Pythium insidiosum em

imunohistoquímica...................................................................................

49

Figura 4. Exérese de lesão provocada por pitiose em um equino. 1. Equino

durante o exame clínico. 2. Equino no pré-operatório imediato. 3.

Aspecto final da ferida cirúrgica. 4. Aspecto da ferida no 7º dia de pós-

operatório. 5. Aspecto da ferida no 30º dia de pós-operatório. 6. Aspecto

da ferida no 45º dia de pós-operatório.......................................................

50

Figura 5. Equinos com lesões graves de pitiose nas regiões torácica, membro e

face...........................................................................................................

51

Figura 6. Mesmos animais mostrados na Figura 5, curados de pitiose no tórax,

membro e face após o uso do imunoterápico Pitium Vac........................

51

Figura 7. Tecido granulomatoso com cerca de 20 cm de diâmetro na região

palmo- lateral da articulação metacarpofalangeana do membro torácico

direito.......................................................................................................

54

Figura 8. Feridas no canto medial dos olhos, com aproximadamente 2 cm de

diâmetro, secreção serosa e pequenos nódulos ulcerados coalescentes

de coloração amarelada............................................................................

54

Figura 9. Mesma lesão mostrada na Figura 7, após lavagem e tricotomia (A) e 45

dias após a cirurgia (B)..............................................................................

57

Figura 10. Casuística de feridas cutâneas em equinos, de acordo com o tipo,

atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB,

no período de 2006 a 2010....................................................................

65

Figura 11. Proporção do número de casos de pitiose equina tratados

cirurgicamente e não-cirurgicamente..................................................

67

Figura 12. Proporção do número de casos de habronemose equina tratados

cirurgicamente e não-cirurgicamente....................................................

70

Page 13: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1. Casuística de pitiose em equinos, segundo raça, sexo, idade, época de

ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital Veterinário da

UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010..................

66

Tabela 2. Casuística de habronemose em equinos, segundo raça, sexo, idade,

época de ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital

Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a

2010.........................................................................................................

69

Tabela 3. Casuística de feridas lacerantes em equinos, segundo raça, sexo, idade,

época de ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital

Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a

2010............................................................................................................

72

Tabela 4. Casuística de feridas lacerantes em equinos, segundo raça, sexo, idade

da lesão e tratamento realizado, atendida no Hospital Veterinário da

UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010.....................

73

Tabela 5. Casuística de feridas perfurantes em equinos, segundo raça, sexo, idade,

época de ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital

Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a

2010............................................................................................................

74

Tabela 6. Relação da raça, sexo, idade, época de ocorrência e evolução dos casos

de Ferida granulomatosa no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de

Patos – PB..................................................................................................

75

Page 14: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

RESUMO

LOPES, SUELEM ALMEIDA SILVEIRA. Tratamento de feridas em equinos (Equus caballus) - levantamento de casos no Hospital Veterinário do CSTR/UFCG/Campus de Patos – PB. Patos, UFCG. 2011. p. 85 (Trabalho de conclusão de curso em Medicina Veterinária). Este trabalho tem por objetivo realizar uma revisão do tema abordando os aspectos clínicos do processo cicatricial, complicações na cicatrização e as principais formas de tratamento, auxiliando o profissional desde o manejo inicial da ferida até o completo reparo tecidual. Devido à alta incidência de lesões cutâneas em equinos registrados no Hospital Veterinário do CSTR/UFCG/Campus de Patos – PB no período de 2006 a 2010, e ao fato de que abordagem de feridas cutâneas em equinos está ligada à rotina dos profissionais especializados nessa espécie, foi realizado um levantamento da casuística deste, através dos prontuários do arquivo do HV, sendo comparados e discutidos frente aos resultados obtidos na literatura disponível. Concluiu-se que os tipos mais frequentes de feridas em equinos no semi-árido paraibano são as decorrentes da Pitiose e da Habronemose, seguidas das lacerantes, perfurantes e granulomatosas. Palavras-chave: dermatopatia, cicatrização, cavalos.

Page 15: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

ABSTRACT LOPES, SUELEM ALMEIDA SILVEIRA. Wound treatment in equines (Equus

caballus) – Casework in the Veterinary Hospital of CSTR/UFCG/Campus of Patos – PB. Patos, UFCG. 2011. p. 85 (Completion of Course Work in Veterinary Medicine). This paper aims to review the issue by addressin the clinical aspects of wound healing, healing complications and the main forms of treatment, helping, the professional from the initial management of the wound until complete tissue repair. Due to the high incidence of skin lesions in horses registered in the Veterinary Hospital of CSTR/UFCG/Campus de Patos – PB in the period 2006 to 2010, and the fact that approach of wounds in equines is related to the routine of professionals specialized in this kind was a survey of the number of patients through the medical records of the file from HV, and compared and discussed before the results obtainedin the literature. It was concluded that the most frequent types of wounds in equines in semi-arid of Paraíba are Pythiosis, Habronemiasis, Lacereted, Punctured and Granulomatous. Keywords: skin disease, healing, horses.

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1. INTRODUÇÃO

A natureza do cavalo, caracterizada por comportamento ativo e respostas

rápidas, associada à realização de atividades atléticas, o predispõe a injúrias traumáticas,

especialmente nos membros. Problemas relacionados ao manejo, como pastagens sujas

e instalações precárias, também constituem causas importantes destes processos.

Barulhos e ruídos estranhos, tais como os causados por trovões, estrondos de motores

ou bombas e disparos de armas de fogo, assustam os equinos e fazem com que estes se

atirem cegamente contra cercas e objetos sólidos, sem preservação de sua integridade

física. Arames farpados constituem a causa mais comum de feridas, embora muitos

outros objetos possam ser incriminados. Assim, a abordagem de feridas em equinos é

um procedimento de rotina para os profissionais que trabalham com esta espécie.

Os ferimentos de pele representam uma das mais frequentes ocorrências na

clínica de equídeos, principalmente os ferimentos localizados nos membros

locomotores. As feridas localizadas nas extremidades distais são geralmente

complicadas pela falta de tecido de revestimento, má circulação, movimento articular,

maior oportunidade para contaminação e consequente infecção. Esses fatores, assim

como o lapso de tempo anterior ao tratamento, as facilidades disponíveis, o

temperamento do cavalo, sua utilização e o tamanho e localização das lesões são

determinantes para o progresso da terapia. São necessários inúmeros outros fatores para

concluir-se que a abordagem da lesão foi correta, como praticidade e exequibilidade do

tratamento, efetivação da cicatrização, restabelecimento da função e uma aceitável

aparência da cicatriz. Ainda que muitas alternativas diferentes sejam reconhecidamente

satisfatórias para abordar-se determinada ferida, o método selecionado deve fornecer

um ambiente favorável, permitindo progressão natural para completar-se o processo de

reparação sem demora.

Sendo assim, objetivou-se com este estudo realizar uma revisão bibliográfica a

respeito do tema, abordando os aspectos clínicos do processo cicatricial, complicações

na cicatrização e as principais formas de tratamento, bem como um levantamento da

casuística do Hospital Veterinário da Universidade Federal da Campina Grande, em

Patos – PB, a respeito dos principais tipos de feridas que acometem os eqüinos, no

semi-árido paraibano.

Page 17: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

15

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Feridas

Uma ferida é representada pela interrupção da continuidade de um tecido

corpóreo, em maior ou em menor extensão, causada por qualquer tipo de trauma físico,

químico, mecânico ou desencadeada por uma afecção clínica, que aciona as frentes de

defesa orgânica para o contra-ataque (CESARETTI, 1998).

2.2 Classificação das feridas

Os esquemas de classificação de feridas levam em consideração três aspectos

básicos: contaminação, grau de exposição tecidual e localização. Todos estes fatores

devem ser considerados na abordagem destas lesões em equinos. A classificação das

feridas é útil na seleção do tratamento apropriado, assim como na previsão da

recuperação final (NETO, 2003).

2.2.1 Quanto ao dano tecidual

2.2.1.1 Incisa

São ferimentos provocados por objetos cortantes, mas nos quais o dano tecidual

é mínimo. Ocorre pouca contusão às estruturas subjacentes e a hemorragia não é grave,

a não ser que tenha sido cortado um grande vaso. A separação das bordas da ferida é

mínima, a menos que a ferida seja profunda, ou corte linhas de tensão (ADAMS;

STASHAK, 1994).

Há pouca dor no início e separação das bordas em maior ou menor grau

conforme a região. A dor tardia ocorre devido à inflamação pós-traumática. A lesão

pode estender-se até músculos, tendões, vasos sanguíneos e nervos. Naquelas feridas

com até cinco horas de evolução deve-se efetuar tricotomia ampla na região, limpeza

com anti-séptico e encaminhamento para correção cirúrgica imediata. Por mais

atraumática que a ferida pareça, deve-se proceder ao reavivamento das bordas,

removendo a superfície tecidual exposta. Na sequência deve-se fazer hemostasia,

Page 18: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

16

irrigação abundante com solução salina morna e suturar com fio monofilamentado não

capilar (RAISER, 1995b).

Feridas traumáticas antigas, exsudativas, consideradas infectadas, apresentarão

melhor evolução se primeiro forem controlados o edema, o exsudato e/ou a infecção,

para somente então, ser procedida a redução cirúrgica. Associar antiinflamatório

sistêmico ao uso tópico de anti-séptico. O uso parenteral de antibiótico deverá ser

restrito às feridas infectadas que apresentem sinais de complicação sistêmica como

hipertermia, depressão e anorexia. O uso tópico de antibiótico deve ser evitado, pois

favorece a resistência bacteriana (RAISER, 1995b).

A infecção localizada será facilmente controlada com o uso tópico de açúcar

granulado puro, com baixo custo e com 100% de eficiência. Feridas muito profundas,

com tecido necrótico, ou localizadas em áreas de tecidos nobres que não possam ficar

expostos (vasos sanguíneos, nervos) devem ser debridadas, irrigadas abundantemente

com solução salina e suturadas plano a plano com a adaptação de dreno (RAISER,

1995b).

2.2.1.2 Lacerada

Essas lesões são provavelmente as mais comuns entre os equinos. São

geralmente produzidas por objetos angulares, tais como cercas de arame farpado e por

mordidas. Os bordos deste tipo de lesão são geralmente irregulares e o dano se estende

aos tecidos subjacentes. Constituem uma combinação de dano e perda tecidual,

estendendo-se a qualquer profundidade abaixo do epitélio (NETO, 2003).

Ferida irregular criada pelo rompimento dos tecidos, o que causa lesão variável

ao tecido superficial e profundo (SLATTER, 1998). Quando produzida por arame

farpado ou objetos em forma de gancho pode haver arrancamento de tecido,

caracterizando avulsão (RAISER, 1995b).

Este tipo de ferimento é caracterizado por danos extensos aos tecidos

subjacentes (tendões e suas bainhas, ligamentos, cápsulas articulares e estruturas

neovasculares), assim como a pele e tecido conjuntivo subcutâneo. Podem ser

acompanhados por abrasão ou contusão (ADAMS; STASHAK, 1994).

A hemorragia normalmente não é intensa, a menos que tenha sido aberto um

grande vaso, pois os vasos geralmente são lacerados, havendo intensa constricção

Page 19: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

17

arterial. A dor geralmente é intensa e o maior perigo é a infecção, com bolsas de pus e

tecido necrótico, se os tecidos são separados do suprimento sanguíneo (ADAMS;

STASHAK, 1994).

2.2.1.3 Punctória

Neste tipo de ferida o agente agressor pode implantar bactérias e sujidades na

intimidade dos tecidos. Com a evolução podem formar-se galerias ou sinus. Quando

causadas por mordidas de cães e gatos, apresentam pequeno orifício superficial, mas

podem esconder amplo espaço morto em nível subcutâneo devido à avulsão (RAISER,

1995b).

Nas feridas punctórias são observados sinais clínicos de pouca dor, hemorragia

insignificante, mínimo afastamento de bordas no ferimento cutâneo, podendo haver

sinais que comprometam a função regional distal do local do traumatismo. Devem ser

transformados em feridas cirúrgicas com ampla abertura, para permitir debridamento,

limpeza e prevenção de anaerobiose que, principalmente em equinos, pode favorecer o

desenvolvimento de tétano. Deve-se remover todo o tecido desvitalizado, irrigar

abundantemente com solução salina isotônica e suturar a ferida, com adaptação de

dreno dependendo da presença ou não de exsudato e/ou infecção (RAISER, 1995b).

O debridamento cirúrgico de todo o tecido muscular/adiposo desvitalizado é

essencial para evitar ou controlar a infecção; no entanto, estruturas como fáscia, nervos,

tendões e ligamentos serão preservadas se estiverem viáveis. Todas as feridas por

mordedura são contaminadas. A eficácia de antibióticos profiláticos é duvidosa, pois é

improvável que qualquer droga isolada seja eficaz contra os diversos microorganismos

presentes. É importante reduzir os níveis de contaminação com irrigação extensa e

debridamento adequado para minimizar a infecção potencialmente desastrosa após as

feridas causadas por mordedura. Recomenda-se a lavagem abundante da ferida com

clorexidina a 0,05% (SLATTER, 2007).

2.2.1.4 Penetrante ou perfurante

Solução de continuidade da pele e tecidos subjacentes (RAISER, 1995a) causada

por objetos pontiagudos como pontas de madeira, bambus, etc. Em geral a lesão cutânea

é pequena, porém profunda e, quando a perfuração é causada por madeira ou bambu,

Page 20: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

18

um fragmento pode permanecer no fundo da lesão e produzir contaminação local que

evolui para a formação de uma fístula. As consequências das feridas perfurantes

dependem da lesão e das estruturas atingidas, sendo a hemorragia pequena, a não ser

que um vaso calibroso seja atingido pelo corpo estranho. As feridas penetrantes podem

também atingir articulações, cavidade abdominal, caixa torácica, ou outras estruturas

vitais, com graves consequências quanto à vida animal (THOMASSIAN, 1997).

O tratamento consiste na abordagem da cavidade comprometida, exploração e

identificação dos possíveis órgãos envolvidos e instituição da terapia conforme a

necessidade. Nas rupturas de órgãos sólidos avaliar o grau de comprometimento sendo

recomendada a excisão parcial, sutura, ou completa remoção quando não for vital.

Naqueles ocos proceder ressecção e/ou anastomose. É fundamental a limpeza adequada

da cavidade. Quando no abdome, a perfuração de órgãos ocos favorece a incidência de

peritonite. Feridas penetrantes no tórax podem causar pneumo ou hemotórax. Nessa

eventualidade é importante aliviar o estresse respiratório restabelecendo a pressão

negativa no espaço pleural (RAISER, 1995b).

2.2.2 Quanto à contaminação

Os ferimentos cirúrgicos são classificados pelo grau de contaminação para

ajudar a prever a probabilidade de desenvolvimento de uma infecção (FOSSUM, 2005).

A contaminação da ferida cirúrgica com bactérias é o determinante mais

importante da infecção de uma ferida. A quantidade e virulência das bactérias são duas

variáveis clinicamente importantes da contaminação de uma ferida, determinando se a

infecção ocorrerá ou não (BOJRAB, 1996).

2.2.2.1 Limpa

É uma ferida cirúrgica não traumática, sem quebra da técnica asséptica, sem

envolvimento dos tratos respiratório, alimentar ou genitourinário (HARARI, 1999).

Não é detectada inflamação e o procedimento é eletivo com cicatrização

primária, sem necessidade de drenagem (BOJRAB, 1996).

Em uma cirurgia “limpa”, o risco de infecção da ferida dobra aproximadamente

a cada hora em que a ferida fica exposta na sala cirúrgica (BOJRAB, 1996).

Page 21: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

19

2.2.2.2 Limpa-contaminada

Ferida que ocorreu há menos de quatro horas, não apresenta sujidades ou

envolve os tratos respiratório (RAISER, 1995a), gastrintestinal ou genitourinário sob

condições controladas e sem contaminação incomum; um ferimento de outra forma

limpo, no qual se coloca um dreno. Nessa categoria, estão incluídos procedimentos nos

quais ocorre uma falha mínima na técnica asséptica, tal como perfuração de luva

cirúrgica (FOSSUM, 2005). A contaminação pode ser efetivamente removida

(SLATTER, 1998).

Nos ferimentos limpo-contaminados, indica-se profilaxia antimicrobiana, e a

escolha do antibiótico deve se basear na flora prevista (FOSSUM, 2005).

2.2.2.3 Contaminada

Quando o ferimento apresenta microorganismos sem que, no entanto, haja

infecção e suas consequências locais ou gerais (THOMASSIAN, 1997).

Há uma quebra maior na técnica asséptica ou grande transbordamento do interior

do órgão ou trato infectado ou ferida traumática aberta há mais de quatro horas

(HARARI, 1999).

Em casos de ferimentos contaminados, indica-se profilaxia antibiótica, e a

escolha da droga deve se basear inicialmente na flora bacteriana prevista e modificada

conforme os resultados de cultura e antibiograma. Esses ferimentos não são infectados

inicialmente, mas têm potencial para tanto. O destino dos ferimentos contaminados

pode ser acentuadamente alterado por intermédio de um tratamento precoce.

Debridamento delicado, lavagem abundante e antibioticoterapia podem converter tais

ferimentos em ferimentos “limpos”, enquanto uma terapia inadequada resulta quase

sempre em ferimentos infectados e sujos (FOSSUM, 2005).

2.2.2.4 Suja ou infectada

Os ferimentos sujos são aqueles nos quais ocorre uma infecção grosseira no

momento da intervenção cirúrgica (por exemplo, ferimentos traumáticos com retenção

de tecido desvitalizado, corpos estranhos ou contaminação fecal) (FOSSUM, 2005).

Page 22: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

20

Caracterizada por processo infeccioso em curso (SLATTER, 1998), apresenta-se

com fenômenos teciduais de necrose, secreção purulenta e sem tendência a reparação

(THOMASSIAN, 1997). É uma ferida traumática com mais de seis horas ou

transecções de tecidos “limpos” para alcançar um abscesso; infecção bacteriana aguda

normalmente é encontrada (HARARI, 1999).

O tratamento desse tipo de ferimento requer antibioticoterapia, sendo a escolha

inicial baseada na flora prevista e talvez modificada posteriormente por cultura

bacteriana e antibiograma; lavagem abundante, debridamento, drenagem e,

possivelmente, uso de ataduras úmido-secas para debridar adicionalmente o ferimento

durante o período pós-operatório inicial (FOSSUM, 2005).

2.3 Cicatrização tecidual

A cicatrização de ferimentos é um processo biológico preferencial. Trata-se de

uma combinação de eventos químicos e celulares que restaura um tecido ferido ou o

substitui por colágeno. A cicatrização de ferimentos começa imediatamente após uma

lesão ou incisão e é dinâmica, de modo que várias fases ocorrem simultaneamente. Os

primeiros três a cinco dias correspondem à fase intervalar da cicatrização, pois

predominam inflamação e debridamento e os ferimentos ainda não ganharam força

apreciável. A cicatrização é influenciada por fatores do hospedeiro, características do

ferimento e outros fatores externos (FOSSUM, 2005).

O processo de reparação compreende dois mecanismos de restauração dos

tecidos: a regeneração e a cicatrização (BLANES, 2004).

A regeneração ocorre com reposição tissular "original". O trauma inicial gera

uma resposta inflamatória aguda, manifestada através de edema e formação de exsudato

seroso, rico em leucócitos, que cessa em menos de 24 horas. As células epidérmicas,

das margens da ferida e das invaginações epidérmicas dos folículos pilosos e glândulas

sudoríparas e sebáceas começam a proliferar e migrar no leito da ferida, ocluindo

rapidamente sua superfície (BLANES, 2004).

O processo de cicatrização de feridas é composto de uma série de estágios

complexos, interdependentes e simultâneos, que são descritos em fases (BLANES,

2004). Entretanto, isto não significa que haja verdadeiramente uma sequência de

acontecimentos, pois várias destas fases ocorrem concomitantemente, sobrepondo-se

temporal e espacialmente (NETO, 2003).

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21

2.3.1 Fases da cicatrização

2.3.1.1 Inflamação

A inflamação é uma resposta tecidual protetora iniciada por uma danificação.

Essa fase se caracteriza por aumento da permeabilidade vascular, quimiotaxia das

células circulatórias, liberação de citocinas e fatores de crescimento e ativação celular

(macrófagos, neutrófilos, linfócitos e fibroblastos). A hemorragia limpa e preenche os

ferimentos imediatamente após a lesão. Os vasos sanguíneos se contraem por cinco a 10

minutos para limitar a hemorragia, mas depois se dilatam e escoam fibrinogênio e

elementos de coagulação no interior dos ferimentos. O mecanismo de coagulação

extrínseco é ativado pela tromboplastina liberada de células lesadas. A fibrina e os

transudatos plasmáticos preenchem os ferimentos e tampam os vasos linfáticos,

localizando a inflamação e “colando” as bordas do ferimento. A formação de coágulo

sanguíneo estabiliza as bordas do ferimento e proporciona uma força de ferimento

limitada. Quando o coágulo seca, formam-se crostas, que protegem os ferimentos,

evitam hemorragias adicionais e permitem que a cicatrização progrida por baixo de sua

superfície. As células da fase inflamatória (tais como plaquetas, mastócitos e

macrófagos) secretam fatores de crescimento ou citocinas, que inibem e mantêm a fase

proliferativa de secreção. Mediadores inflamatórios (histamina, serotonina, enzimas

proteolíticas, cininas, prostaglandinas, complemento, enzimas lisossomais, tromboxano

e fatores de crescimento) causam a inflamação, que começa imediatamente após a lesão

e dura cerca de cinco dias (FOSSUM, 2005).

O macrófago é essencial para a cicatrização normal de feridas contaminadas ou

infectadas e por volta do terceiro a quinto dia após a injúria, estes tornam-se as células

predominantes. Os macrófagos são removedores macrofagocíticos que sintetizam e

liberam proteases, fazendo a remoção de colágeno desvitalizado e coágulos de fibrina

da ferida. O fator alfa de crescimento transformante (TGF-alfa), o TGF-beta e o fator-1

de crescimento insulina-like são sintetizados pelos macrófagos e podem influenciar as

fases tardias da cicatrização, como neovascularização, granulação, fibroplasia e

epitelização (NETO, 2003).

Os leucócitos que escoam dos vasos sanguíneos para o interior dos ferimentos

iniciam a fase de debridamento (FOSSUM, 2005).

Page 24: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

22

2.3.1.2 Debridamento

É o processo de remoção do tecido desvitalizado de uma ferida (SLATTER,

1998). Inicia-se cerca de seis horas após a lesão com proliferação de polimorfonucleares

neutrófilos, que permanecem poucos dias, e dos monócitos, que permanecem até que

seja completado o processo de reparação (RAISER, 1995a). O debridamento pode ser

obtido por meio de vários métodos: cirúrgico/instrumental, físico, químico, autolítico e

enzimático (HENDRICKSON, 2006).

Esta fase tem como objetivo impedir a decomposição e o aumento do

crescimento bacteriano, onde, os tecidos mortos precisam ser removidos (BOJRAB,

1991).

Segundo Turner e McIlwraith (2002), o objetivo da excisão e debridamento do

ferimento é converter um ferimento contaminado em um ferimento cirurgicamente

limpo, além de remover material estranho, que iria potencializar a infecção por

proporcionar um meio para proliferação bacteriana. A técnica da excisão e

debridamento envolve uma seleção do tecido morto (fáscia, tecido adiposo, músculo) do

ferimento. Pequenos fragmentos destacados do osso, extremidades de pele contaminada,

e tecido edematoso são extirpados do ferimento com bisturi ou tesoura. Quando

possível, os nervos, vasos sanguíneos e tendões que dão a impressão de serem viáveis

devem ser mantidos. Se o ferimento estiver altamente contaminado, uma preparação

inicial e o debridamento podem ser seguidos de uma segunda preparação e

debridamento com uma troca das luvas e dos instrumentos.

A exploração do ferimento deve ser efetuada de maneira judiciosa para evitar a

abertura de outros planos de tecido, o que pode permitir uma disseminação da infecção.

Entretanto, se há a possibilidade da existência de um corpo estranho, tal como no

ferimento perfurante, então está indicada uma exploração completa para procurar o

material estranho (TURNER; McILWRAITH, 2002).

2.3.1.3 Fibroblástica

Nesta fase ocorre a reparação do tecido conjuntivo e do epitélio (BLANES,

2004). A fase de reparo geralmente começa três a cinco dias após a lesão (FOSSUM,

2005). Na reparação do tecido conjuntivo ocorre a formação do tecido de granulação,

com proliferação endotelial e fibroblastos. O fibroblasto surge por volta do segundo e

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23

terceiro dia após o trauma, sendo uma célula fusiforme com núcleo oval. O fibrinogênio

do exsudato inflamatório transforma-se em fibrina, formando uma rede, onde os

fibroblastos depositam-se e passam a multiplicar-se e a secretar os componentes

protéicos do tecido cicatricial. Concomitante a esta fibroplasia, ocorre intensa

proliferação vascular. Este tecido formado por fibroblastos, substâncias produzidas por

eles e vasos sanguíneos é denominado tecido de granulação, clinicamente apresentando-

se com aspecto granuloso e avermelhado. O miofibroblasto é uma célula que está

presente no tecido de granulação e confere capacidade contrátil, reduzindo a área

cruenta e facilitando a epitelização. A atividade mitótica do fibroblasto praticamente

desaparece em torno do 15º dia. Estes passam a secretar as proteínas presentes no tecido

de granulação, produzindo componentes da substância fundamental e colágeno. A

substância fundamental é formada por água, eletrólitos e glicosaminoglicanos, tem

aspecto semelhante a um gel e está distribuída entre as fibras do tecido conjuntivo

(BLANES, 2004).

A formação do epitélio é outro fenômeno que ocorre na fase de fibroplasia. Esta

epitelização faz-se pelo aumento de tamanho, da divisão e da migração das células da

camada basal da epiderme por sobre a área de reparação do tecido conjuntivo

subjacente. Nas feridas com perda total da derme, a epitelização se faz apenas das

margens da mesma, pois não há anexos cutâneos remanescentes (BLANES, 2004).

2.3.1.4 Proliferação

Dividida em três subfases, a proliferação é responsável pelo "fechamento" da

lesão propriamente dita (MANDELBAUM et al.,2003).

Caracteriza-se por predominância de macrófagos, aumento progressivo de

fibroblastos e intensa rede de neovascularização, proveniente de brotos endoteliais. A

presença de fibroblastos e da rede neovascular nesta fase determina à ferida um aspecto

granular, róseo débil, que sangra facilmente ao menor trauma (THOMASSIAN, 1997).

A primeira das fases da proliferação é a reepitelização. Ocorre a migração de

queratinócitos não danificados das bordas da ferida e dos anexos epiteliais, quando a

ferida é de espessura parcial, e apenas das margens nas de espessura total. Fatores de

crescimento são os prováveis responsáveis pelos aumentos das mitoses e hiperplasia do

epitélio. O plano de movimento dos queratinócitos migrantes é determinado também

pelo conteúdo de água no leito da ferida, de modo que feridas superficiais abertas e

Page 26: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

24

ressecadas reepitelizam mais lentamente do que as ocluídas (MANDELBAUM et

al.,2003).

A segunda fase da proliferação inclui a fibroplasia e formação da matriz, que é

extremamente importante na formação do tecido de granulação (coleção de elementos

celulares, incluindo fibroblastos, células inflamatórias e componentes neovasculares e

da matriz, como a fibronectina, as glicosaminoglicanas e o colágeno). A formação do

tecido de granulação depende do fibroblasto, célula crítica na formação da matriz.

Longe de ser apenas produtor de colágeno, o fibroblasto produz elastina, fibronectina,

glicosaminoglicana e proteases, estas responsáveis pelo debridamento e remodelamento

fisiológico (MANDELBAUM et al.,2003).

A última fase da proliferação é a angiogênese, essencial para o suprimento de

oxigênio e nutrientes para a cicatrização. Inicialmente as células endoteliais migram

para a área ferida, a seguir ocorre proliferação das células endoteliais e acesso para as

células responsáveis pelas próximas fases (MANDELBAUM et al.,2003).

2.3.1.5 Epitelização

Nas primeiras 24 a 36 horas após a lesão, fatores de crescimento epidérmicos

estimulam a proliferação de células do epitélio. Na pele os queratinócitos são capazes de

sintetizar diversas citocinas que estimulam a cicatrização das feridas cutâneas

(TAZIMA; VICENTE; MORIYA, 2008).

A epitelização, proliferação e migração são os primeiros sinais de reparo,

ocorrendo antes que qualquer tecido conjuntivo novo se tenha formado na ferida. A

resposta inicial das células imediatamente adjacentes a uma ferida é a mobilização.

Estas células deslocam-se de seus substratos e prepararam-se para a migração

(SLATTER, 1998).

As células epiteliais migram, a partir das bordas da ferida e dos folículos pilosos

próximos, induzindo a contração e a neoepitelização da ferida, reduzindo a sua

superfície. Os queratinócitos, localizados na camada basal da epiderme residual ou na

profundidade de apêndices dérmicos, migram para recobrir a ferida. As células epiteliais

movem-se, aos saltos e desordenadamente, até as bordas, aproximando-as. A

epitelização envolve uma sequência de alterações nos queratinócitos da ferida:

separação, migração, proliferação, diferenciação e estratificação (TAZIMA; VICENTE;

MORIYA, 2008).

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25

2.3.1.6 Contração

É a diminuição das dimensões de uma ferida aberta, caracterizando-se pelo

movimento centrípeto de toda a espessura da pele circunjacente (POPE, 1996;

PROBST, 1998).

Nas feridas que cicatrizam por granulação e fibroplasia, o fechamento ocorre por

contração das paredes marginais da lesão. Esta ação é realizada pelos fibroblastos

ativados, os quais se diferenciam para miofibroblastos. Os miofibroblastos contêm

fibras intracelulares de actinomiosina e formam conexões especializadas, ou fibronexus,

com fibras extracelulares e outras células dentro da cavidade da lesão. Estas

propriedades possibilitam aos miofibroblastos contrair ativamente e gerar a tensão

necessária para fechar o defeito. Os miofibroblastos aproximam as margens da ferida,

forçando as fibras de colágeno a se sobreporem e se interlaçarem, dando o suporte para

o menor tamanho da lesão. Dependendo do tamanho da ferida, formato, espessura dos

tecidos circunvizinhos e forças externas, como movimento, a contração máxima ocorre

uma a duas semanas após ocorrência da lesão. Se o volume ou integridade tecidual é

reduzida, a contração pode ser insuficiente para fechar o defeito, resultando em

granulação exuberante ou superfície epitelial prematura. Mais adiante, a eventual

superação da contração lesional pode ser modulada através de estiramento ou

compressão dos bordos da ferida e pela implantação de enxertos de pele e retalhos

pedunculados (NETO, 2003).

Geralmente não se evidencia contração visível da ferida até cinco a nove dias

após a lesão. Apenas durante a segunda semana de reparo, quando os fibroblastos

assumem fenótipo de miofibroblastos, é que corresponde a contração da ferida. À

medida que o reparo progride, o número de miofibroblastos da ferida diminui,

correspondendo à diminuição na velocidade de contração da ferida, até que

praticamente não haja mais deposição de miofibroblastos e a contração da ferida cesse

(HOSGOOD, 2007).

2.3.1.7 Maturação ou remodelação

A força dos ferimentos aumenta até seu nível máximo por causa de alterações na

cicatriz durante a fase de maturação da cicatrização (FOSSUM, 2005). Nesta fase ocorre

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26

a transição do tecido de granulação para cicatriz, necessitando da remodelagem ou

maturação do conteúdo de tecido conjuntivo da ferida (HOSGOOD, 2007).

Ao contrário das outras fases de cicatrização, a remodelação dos componentes

do colágeno e matriz, como ácido hialurônico e proteoglicanas, persistem por longo

tempo após o ferimento e é o período nos quais os elementos reparativos da cicatrização

são transformados para tecido maduro de características bem diferenciadas (NETO,

2003).

A maturação dos ferimentos começa quando o colágeno já foi depositado

adequadamente nos mesmos (17 a 20 dias após a lesão) (FOSSUM, 2005). Durante esta

fase, o número de células diminui, mas aumenta a síntese e a produção de colágeno do

tipo I. As fibras de colágeno, as quais estão dispostas paralelamente às linhas de tensão,

formam feixes de várias unidades, preferencialmente intercruzadas, enquanto as fibras

orientadas aleatoriamente são digeridas pela colagenase. O conteúdo aquoso da matriz

diminui, aumentando a agregação das fibras de colágeno. A resistência da ferida

aumenta lentamente durante as primeiras duas semanas após a injúria, aumentando

drasticamente durante o pico de remodelação da matriz e colágeno. Portanto, ganhos na

resistência da lesão progridem assintomaticamente, embora nunca chegando à

resistência original do tecido íntegro (NETO, 2003).

É possível manipular a cicatrização superando-se os problemas de tensão

tecidual. As técnicas de expansão tecidual em animais têm sido descritas em locais

anatômicos onde há escassez natural de pele para cicatrização, tais como extremidades e

face. Devido à falta relativa de tensão cutânea, o retorno à função e aparência original

do tecido cicatricial são melhores do que aquele alcançado em defeitos cicatriciais

naturais (NETO, 2003).

2.4 Fatores que influenciam a cicatrização

Vários fatores podem interferir em maior ou menor grau no processo de

cicatrização. Entretanto, em muitos deles o cirurgião pode interferir para otimizar o

resultado final (TAZIMA; VICENTE; MORIYA, 2008).

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27

2.4.1 Idade

A idade avançada retarda a cicatrização. Em casos experimentais a velocidade de

epitelização e a resistência do ferimento diminuem nos animais velhos em relação aos

novos (HARARI, 1999). Quanto mais idoso o paciente menos flexíveis são os tecidos e

há uma diminuição progressiva do colágeno tecidual (TAZIMA; VICENTE; MORIYA,

2008).

2.4.2 Hiperatividade do paciente

A hiperatividade dificulta a aproximação das bordas da ferida. O repouso

favorece a cicatrização (TAZIMA; VICENTE; MORIYA, 2008).

2.4.3 Estado nutricional

Uma deficiência nutricional pode dificultar a cicatrização, pois deprime o

sistema imune e diminui a qualidade e a síntese de tecido de reparação (TAZIMA;

VICENTE; MORIYA, 2008). Indivíduos mal nutridos têm dificuldade de cicatrização

devido à ausência de certas proteínas, metais (como o zinco) e vitaminas (como a

vitamina C) (SCHMITT, 2006).

As carências de proteínas e de vitamina C são as mais importantes, pois afetam

diretamente a síntese de colágeno. A vitamina B aumenta o número de fibroblastos. A

vitamina D facilita a absorção de cálcio e a E é um cofator na síntese do colágeno,

melhora a resistência da cicatriz e destrói radicais livres (TAZIMA; VICENTE;

MORIYA, 2008). A deficiência de vitamina K interfere nos mecanismos de coagulação

(THOMASSIAN, 2005). O zinco é um cofator de mais de 200 metaloenzimas

envolvidas no crescimento celular e na síntese protéica, sendo, portanto, indispensável

para a reparação dos tecidos uma vez que sua deficiência pode impedir a formação de

tecido de granulação e retardar a cicatrização, inibindo a proliferação celular epitelial e

fibroblástica (TAZIMA; VICENTE; MORIYA, 2008).

Altas doses de vitamina A revertem a inibição da cicatrização pelos

corticosteróides e estimulam a fibroplasia e síntese de colágeno. Doses excessivas de

vitamina E impedem a cicatrização e produção de colágeno. A deficiência de vitamina

C retarda a cicatrização e reduz a resistência do ferimento (HARARI, 1999).

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28

2.4.4 Diabetes

A diabetes mellito prejudica a cicatrização de ferida em todos os estágios do

processo (TAZIMA; VICENTE; MORIYA, 2008). Causa isquemia e aumenta a

susceptibilidade a infecções (SCHMITT, 2006). Além da diminuição da resposta

imunológica, os novos capilares podem ser lesados devido à hiperglicemia (GOMES;

COSTA; MARIANO, 2005).

2.4.5 Uremia e Hipoproteinemia

Diminui a formação de tecido de granulação, a proliferação epitelial e a

resistência do ferimento (HARARI, 1999). A uremia que surge dentro de cinco dias

após uma lesão prejudica a cicatrização por meio da alteração dos sistemas enzimáticos,

dos trajetos bioquímicos e do metabolismo celular (FOSSUM, 2005).

Segundo Harari (1999) a hipoproteinemia é causada pela perda de proteínas, má-

nutrição ou sobrecarga líquida e dificulta a cicatrização retardando a fibroplasia,

diminuindo a força de tensão do ferimento e produzindo edema.

2.4.6 Terapia anticâncer

As drogas citotóxicas interferem em todas as fases da cicatrização. As drogas

utilizadas em quimioterapia devem ser evitadas nos primeiros cinco a sete dias de pós-

operatório (fase crítica da cicatrização). A radioterapia também compromete a

cicatrização, pois é causa de endarterite com obliteração de pequenos vasos, isquemia e

fibrose (ANDRADE; SEWARD; MELO, 1992).

As neoplasias estão sendo mais agressivamente tratadas com radiação,

quimioterapia ou ambas, como o tratamento principal ou auxiliar. Os efeitos destes

agentes sobre a cicatrização das feridas são particularmente importantes quando são

combinados com a cirurgia. A própria cirurgia pode ser prejudicial à cicatrização das

feridas, especialmente quando estão presentes síndromes paraneoplásicas como a

caquexia ou anorexia. A anorexia é também um efeito colateral comum da

quimioterapia (BOJRAB, 1996).

Os prejuízos à cicatrização de uma ferida, subsequentes à radioterapia,

provavelmente resultam da combinação da lesão direta aos fibroblastos e tecidos

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29

endoteliais. Os efeitos estão relacionados à dose, de modo que doses baixas têm efeito

mínimo ou nenhum sobre a cicatrização das feridas. As lesões da radiação aos

fibroblastos resultam numa redução da proliferação destas células e numa menor taxa de

produção de colágeno. A radioterapia provoca lesão endotelial, o que resulta numa

fibrose progressiva dos vasos sanguíneos. A liberação do oxigênio aos tecidos fica

prejudicada, ocorrendo hipóxia tecidual. Neste ambiente hipóxico, a proliferação celular

fica prejudicada, havendo diminuição na produção do colágeno (BOJRAB, 1996).

Incisões em tecido irradiado tornam-se infectadas mais frequentemente que

incisões similares nos tecidos normais. A infecção predispõe a percentagens mais

elevadas de deiscência e a redução na resistência das feridas à ruptura (BOJRAB, 1996).

Neutropenia, um efeito colateral da maioria dos agentes quimioterápicos,

geralmente não é observada até sete a 10 dias após o início da terapia. Quando a terapia

teve início pré-operatoriamente, uma neutropenia grave poderá estar presente por

ocasião da cirurgia. A neutropenia predispõe o paciente a infecções de feridas, mas na

ausência da infecção não há efeito sobre a proliferação dos fibroblastos e a formação de

tecido conjuntivo. Certos agentes antitumorais inibem a vasodilatação que normalmente

ocorre depois da realização da ferida, prolongando a fase inflamatória e diminuindo a

deposição de fibrina (BOJRAB, 1996).

2.4.7 Corticosteróides

Os corticosteróides deprimem todas as fases da cicatrização e aumentam a

chance de infecção (FOSSUM, 2005).

A tensão prolongada ou a repetida administração sistêmica de doses elevadas de

esteróides inibe a cicatrização das feridas, particularmente no caso da administração

destes agentes antes ou durante a realização da ferida. Níveis elevados de esteróides

inibem a fase inflamatória da cicatrização das feridas, através do decréscimo do

acúmulo e da capacidade fagocitária dos leucócitos polimorfonucleares (PMN) e

macrófagos na ferida. Os esteróides também reduzem a proliferação dos fibroblastos e a

síntese do colágeno. Doses elevadas de esteróides também limitam o brotamento capilar

e diminuem a velocidade de epitelização (BOJRAB, 1996).

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30

2.4.8 Corpos estranhos e tecido desvitalizado

Corpos estranhos são massas anômalas presentes nos tecidos provenientes não

só do exterior, como do próprio organismo. Como exemplo destaca-se os fragmentos de

tecidos desvitalizados, materiais de sutura, acúmulo de sangue ou de linfa, entre outros.

Os corpos estranhos podem ser eliminados, absorvidos ou retidos, constituindo-se

sempre um fator irritante para os tecidos (BLANES, 2004) causando inflamação e

infecção persistente (SCHMITT, 2006).

A liberação de enzimas destinadas a degredar corpos estranhos destrói a matriz

do ferimento, prolonga a fase inflamatória e retarda a fase fibroblástica do reparo

tecidual (FOSSUM, 2005).

A abertura do ferimento leva a um ressecamento que pode causar morte tecidual.

Qualquer tecido que é separado da circulação também será desvitalizado e sofrerá

necrose (ADAMS; STASHAK, 1994).

2.4.9 Infecção

É provavelmente a causa mais comum de atraso na cicatrização (TAZIMA;

VICENTE; MORIYA, 2008).

A simples presença de bactérias não caracteriza a infecção, que deve ser

diferenciada da colonização (BLANES, 2004). A presença de microrganismos prolonga

a fase inflamatória e a lesão tecidual (GOMES; COSTA; MARIANO, 2005). A

infecção é o maior inimigo da cura de uma ferida, pois, ao determinar maior destruição

de tecidos e retardar o processo de reparação, aumenta a formação de tecido cicatricial,

que poderá comprometer a função, a estética ou ambos. Assim, as culturas são indicadas

não só quando há indícios clínicos de infecção local ou sistêmica, mas também em

casos de comprometimento ósseo e de feridas que não cicatrizam, apesar do tratamento

adequado (BLANES, 2004).

2.4.10 Oxigenação

A cicatrização depende do suprimento sanguíneo, que transporta oxigênio e

substratos metabólicos para as células (FOSSUM, 2005). A má oxigenação, que se dá

devido à tensão de oxigênio arterial diminuída alterando a síntese de colágeno e

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31

formação de células epiteliais, se a circulação sanguínea no local for pobre, nos casos de

anemia, pois há falta de hemoglobina no sangue interferindo no restabelecimento dos

tecidos, interfere nos mecanismos celulares normais que promove a liberação de

oxigênio para os tecidos (CUNHA, 2003).

Doenças que alteram o fluxo sanguíneo normal podem afetar a distribuição dos

nutrientes das células, assim como a dos componentes do sistema imune do corpo. Essas

condições afetam a capacidade do organismo de transportar células de defesa e

antibióticos, o que dificulta o processo de cicatrização (TAZIMA; VICENTE;

MORIYA, 2008).

2.4.11 Medicamentos

Os medicamentos para ferimentos podem ser mais nocivos que úteis na cicatrização de

um ferimento. Os antissépticos e drogas irritantes devem ser evitados em todos os casos.

Apesar de estes produtos destruírem o tecido de granulação exuberante e superficial,

eles irritam os tecidos profundos, levando como resultado final a um ferimento com

mais tecido fibroso subcutâneo. Se houver tecido de granulação exuberante, este deve

ser removido cirurgicamente com o bisturi ou cautério. O ferimento é então mantido sob

faixas que o pressionam com um unguento corticóide e antibiótico, até que se cure. Os

curativos devem ser trocados com frequência suficiente para evitar irritação. Curativos

úmidos contendo secreções do ferimento podem retardar a cicatrização. Na maioria dos

casos, não se deve manter o curativo por mais de três dias (ADAMS; STASHAK,

1994).

2.5 Tipos de cicatrização

2.5.1 Por primeira intenção

Este tipo de cicatrização ocorre quando há união imediata das bordas da ferida,

evolução asséptica e cicatriz linear. As condições requeridas são a coaptação das bordas

e planos anatômicos (RAISER, 1995a).

São tratadas por primeira intenção todas as feridas não infectadas, isto é, que não

estiverem em contato com a terra e fezes, ou que não tenham ultrapassado seis horas

desde a sua ocorrência. O tratamento por primeira intenção é feito através da sutura da

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32

pele, utilizando fios apropriados, após a antissepsia e anestesia da região atingida

(THOMASSIAN, 1997).

Para tanto, devemos, logo após o acidente, procurar proteger e manter limpa a

ferida, lavando-a suavemente com sabão de coco e água limpa e, se possível,

enfaixando-a com gaze ou atadura de crepe até o momento da sutura (THOMASSIAN,

1997). Se houver hemorragia forte, deve-se garrotear ou comprimir a lesão. Caso o

garroteamento não seja possível, deve-se realizar hemostasia comprimindo a ferida com

uma compressa ou toalha limpa até que o sangramento pare ou o vaso seja ligado

(THOMASSIAN, 1997).

Após a sutura, caso o animal não esteja vacinado contra o tétano, deve-se aplicar

5.000 UI de soro antitetânico, via intramuscular ou subcutânea e penicilina G benzatina,

na dose de 40.000 UI/kg, pela via intramuscular, realizando uma aplicação a cada 3

dias, até a retirada dos pontos. A ferida deve ser limpa diariamente e, se for possível, ser

conservada aberta, sem enfaixar, para melhor ventilação e cicatrização

(THOMASSIAN, 1997).

Ferimentos tratados por primeira intenção, localizados nos membros,

principalmente sobre articulações, frequentemente sofrem deiscências de pontos, isto é,

ocorre abertura dos lábios da ferida e produção de secreção purulenta, obrigando ao

tratamento por segunda intenção (THOMASSIAN, 1997).

2.5.2 Por primeira intenção retardada (ou terceira intenção)

O fechamento primário retardado é a sutura de um ferimento aberto previamente

contaminado, três a cinco dias após a lesão, antes que tenha se formado tecido de

granulação (HARARI, 1999). Este tipo de fechamento é ocasionalmente realizado nas

partes distais dos membros do cavalo (TURNER; McILWRAITH, 2002).

Durante o intervalo de tempo do fechamento retardado, o ferimento é mantido

limpo (HARARI, 1999) e deixado aberto por um determinado período, funcionando

como cicatrização por segunda intenção, sendo suturado posteriormente, induzindo-se a

cicatrização por primeira intenção. Este procedimento é empregado geralmente nas

feridas cirúrgicas com infecção (BLANES, 2004).

O animal pode ter sido apresentado ao cirurgião só depois que o proprietário fez

um número considerável de tentativas para cicatrizar a ferida por segunda intenção.

Então o ferimento é preparado para cirurgia, removendo-se o tecido de granulação

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33

excessivo ao longo de suas bordas, e suturando-se as extremidades da pele, para que

cicatrizem por primeira intenção. Uma aplicação de ataduras ou molde de gesso é

normalmente necessária para a minimização dos movimentos e para prevenir tensão

indevida na linha de sutura (TURNER; McILWRAITH, 2002).

2.5.3 Por segunda intenção

Ocorre quando as bordas da ferida não estão aproximadas, ou seja, não estão

apostas, por perda tecidual, como em queimaduras ou em ferimentos profundos que são

deixados abertos para formação de tecido de granulação (DANTAS; JORGE, 2005).

São tratadas por segunda intenção todas as feridas que apresentem contaminação

pela presença de secreção purulenta ou por terem sido ocasionadas há mais de seis

horas. Também as feridas cirúrgicas que apresentarem necrose ou deiscência dos pontos

são tratadas por segunda intenção (THOMASSIAN, 1997). Neste processo, o ferimento

preenche-se com tecido de granulação e a pele restabelece continuidade pela

epitelização e/ou pela contração do ferimento. A contração da parede é um processo

ativo caracterizado pela movimentação centrípeta de toda a espessura da pele

circundante, o que resulta numa diminuição do tamanho do ferimento. Este é o principal

processo para o restabelecimento da continuidade da pele na cicatrização do ferimento

por segunda intenção. O epitélio frágil resultante está isento de folículos de pêlo ou de

glândulas sudoríparas (TURNER; McILWRAITH, 2002).

A cicatrização do ferimento por este processo requisita a atenção constante se

for desejável obter os melhores resultados funcionais e cosméticos. Enquanto o

ferimento estiver “em granulação”, deve receber limpeza diária. A pele intacta

localizada ventralmente ao ferimento deve ser protegida de irritação pelo soro com uma

pomada branda, tal como a vaselina. Uma vez estabelecida a placa de granulação, os

antibióticos tópicos não são desejados devido à resistência inata que este tecido possui

contra infecção. Os antibióticos parenterais são aplicados somente nos estágios iniciais

de cicatrização, a não ser que se desenvolvam sinais de infecção difusa (TURNER;

McILWRAITH, 2002).

Nas partes distais dos membros do cavalo, onde os ferimentos cicatrizam por

segunda intenção, o tecido de granulação em excesso poderá tornar-se um problema

maior. Isto é particularmente verdadeiro naquelas regiões onde não há músculos, mas

somente tendões, ligamentos e pele revestindo o osso. O tecido de granulação

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abundante (granuloma) em geral não é um problema acima do carpo ou do tarso e no

restante do corpo. Se for permitido que ele se torne excessivo, invariavelmente irá

resultar numa deformidade cosmética grave. A prevenção consiste em evitar pomadas

irritantes e à base de óleo, minimizar os movimentos e manter a ferida sob uma atadura

compressiva ou tala de gesso. Se existe um excesso de granulação, ela deve ser

removida até que se aproxime do nível da pele circundante, de modo a facilitar a

migração do epitélio por sobre o ferimento. A excisão do tecido de granulação com um

bisturi fino é o tratamento de escolha, se for feita cuidadosamente para não romper o

epitélio que avança da borda do ferimento. Substâncias cáusticas e adstringentes ainda

são populares, mas a sua ação ainda não é seletiva, e elas também removem o delicado

epitélio juntamente com o tecido de granulação (TURNER; McILWRAITH, 2002).

Se um osso ou tendão está exposto, o que é muito frequente nos ferimentos

traumáticos do animal de grande porte, eles devem ser recobertos por tecidos de

granulação antes que o epitélio cubra o defeito. A sequestração do osso normalmente

ocorre se o periósteo ficou ressecado ou se a injúria inicial lascou um pedaço do osso.

Assim, que o sequestro ósseo for identificado ele precisa ser retirado, o que pode

significar a execução de uma incisão através da placa do tecido de granulação que já foi

formada. O enxerto de pele é indicado em ferimentos nos quais exista uma falha

importante, ou seja, antecipada uma lenta cicatrização da pele (TURNER;

McILWRAITH, 2002).

Martins et al. (2003) relatou que a utilização de fitoterápicos de uso tópico como

o barbatimão (Stryphnodendron barbatiman) e a calêndula (Calendula officinalis)

favorecem o processo de cicatrização por segunda intenção em equinos. Constatou-se

que a calêndula possui atividade antiinflamatória e o barbatimão estimula a

multiplicação e migração centrípeta dos fibroblastos pela malha de fibrina, favorecendo

o processo de fibroplasia, reparação e retração da ferida. Ambos demonstram ação

antibacteriana.

2.6 Tipos de curativos

Segundo Gomes, Costa e Mariano (2005) curativo é um meio terapêutico que

consiste na limpeza e aplicação de uma cobertura estéril em uma ferida, quando

necessária, com a finalidade de promover a rápida cicatrização, prevenir a contaminação

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35

ou infecção, eliminar os fatores desfavoráveis que retardam a cicatrização da lesão e

diminuir infecções cruzadas, através de técnicas e procedimentos adequados. Podem-se

citar duas categorias de curativos: primários (colocados diretamente sobre a ferida) e

secundários (colocados sobre o curativo primário).

Gomes, Costa e Mariano (2005) relatam que os curativos são classificados em:

Curativo semi-oclusivo: Este tipo de curativo é absorvente e comumente

utilizado em feridas cirúrgicas, drenos e feridas exsudativas, absorvendo o

exsudato e isolando-o da pele adjacente saudável.

Curativo oclusivo: não permite a entrada de ar ou fluidos, atua como barreira

mecânica, impede a perda de fluídos, promove isolamento térmico e veda a

ferida, a fim de impedir enfisema e formação de crosta.

Curativo compressivo: Utilizado para reduzir o fluxo sanguíneo, promover a

estase e ajudar na aproximação das extremidades da lesão.

Curativos abertos: São realizados em ferimentos em que não há necessidade

de serem ocluídos. Feridas cirúrgicas limpas após 24 horas, cortes pequenos,

suturas e escoriações, são exemplos de lesões que podem ser tratadas com

este tipo de curativo.

O tipo de curativo a ser realizado varia de acordo com a natureza, a localização e

o tamanho da ferida. Em alguns casos é necessário uma compressão, em outros lavagem

exaustiva com solução fisiológica e outros exigem imobilização com ataduras

(GOMES; COSTA; MARIANO, 2005).

2.6.1 Para limpeza e escarificação

Segundo Oda (2004) a limpeza deve ser feita da área menos contaminada para a

área mais contaminada, evitando-se movimentos de vaivém. Nas feridas cirúrgicas, a

área mais contaminada é o tecido perilesional (ao redor da ferida), enquanto que nas

úlceras ou feridas infectadas a área mais contaminada é a do interior da lesão.

O contato da ferida com instrumentos e bandagens não estéreis, bem como com

mãos não enluvadas, deverá ser evitado, para que não ocorra a introdução de

microorganismos hospitalares resistentes a antibióticos. O método mais simples para

proteger uma ferida aberta consiste em utilizar gazes ou esponjas estéreis não aderentes.

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36

Pomadas hidrossolúveis esterilizadas também podem ser aplicadas temporariamente e

removidas por lavagem durante o tratamento cirúrgico definitivo (ODA, 2004).

Para remover os pêlos junto às bordas da ferida, pode-se lançar mão de tesouras.

Uma pequena quantidade de óleo sobre as lâminas de tosa ou das tesouras ajuda a

manter os pêlos afastados, evitando a contaminação da ferida. Para impedir a introdução

de pêlo no ferimento uma gaze estéril e úmida deve ser colocada sobre o ferimento para

protegê-lo. Quando as bordas do ferimento já foram tosadas, a gaze é simplesmente

retirada do ferimento. Uma ampla área ao redor do ferimento deve ser tosada, para o

caso em que seja requerida uma exposição adicional das partes profundas da ferida.

Essa área deve ser preparada com uma solução de lavagem cirúrgica eficaz, tais como a

iodopovidona e o gliconato de clorexidina (TURNER; McILWRAITH, 2002).

A quantidade de bactérias no interior da ferida aberta pode ser reduzida por meio

de debridamento cirúrgico e lavagem da ferida. A irrigação sob pressão de uma ferida

com volumes adequados de líquido é eficaz para a redução do número de bactérias, bem

como para a remoção de tecido desvitalizado e material particulado caso seja utilizada

uma pressão suficiente (8,24 kg/cm²). Muitos irrigantes e agentes de lavagem são

aplicados às feridas na tentativa de reduzir as taxas de infecção dessas lesões.

Extensivamente, empregam-se água corrente, solução salina a 0,9% e solução de Ringer

lactato como agentes de lavagem da ferida. Qualquer um desses três irrigantes é eficaz e

satisfatório para o uso na ferida contaminada visivelmente aguda, caso seja empregado

em volume suficiente e distribuído com a pressão recomendada. Em função de sua

hipotonicidade e seu conteúdo potencial de elementos citotóxicos, parece prudente

limitar o tempo de contato do tecido com a água de torneira na ferida contaminada

aguda, se é que se deve utilizá-la. À medida que a cicatrização da ferida evolui,

recomenda-se uma solução de lavagem isotônica como o Ringer lactato (SLATTER,

2007).

O antisséptico ideal para uma ferida deve ser bactericida, sem, no entanto,

causar dano aos tecidos em processo de cicatrização. As soluções de diacetato de

clorexidina e iodopovidona costumam ser utilizadas para lavagem das feridas, devido ao

seu amplo espectro de atividade antimicrobiana. O diacetato de clorexidina, quando

usado como solução a 0,05% (diluição de 1:40 da solução-estoque de clorexidina em

água) reduz de modo significativo a população bacteriana em feridas contaminadas, sem

aumentar a inflamação dos tecidos. A clorexidina possui atividade residual prolongada e

ação satisfatória na presença de matéria orgânica, porém alguns microorganismos

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37

Gram-negativos desenvolvem resistência à clorexidina. A diluição de clorexidina em

água estéril é preferível, porque a solução salina ou a de Ringer lactato provoca a

precipitação da solução (SLATTER, 2007).

A iodopovidona é amplamente empregada como solução de lavagem a 1%

(diluição de 1:10 da solução-estoque de povidona em salina) e apresenta boa atividade

antimicrobiana. A iodopovidona tem atividade residual limitada em decorrência da

inativação de iodo livre pela matéria orgânica presente na ferida (SLATTER, 2007).

O líquido de Dakin é constituída de 0,5% de hipoclorito de sódio (alvejante). Foi

usada primeiramente em ferimentos durante a Primeira Guerra Mundial e atua como um

agente de debridamento químico na dissolução e remoção de tecidos necrosados. Assim,

o debridamento de tecido necrosado é uma das melhores formas para diminuir a

quantidade de bactérias. Consequentemente, a solução de Dakin deve ser usada somente

na existência de tecido necrosado (HENDRICKSON, 2006).

O peróxido de hidrogênio (água oxigenada) já foi utilizado na irrigação das

feridas. Esse composto tem pouco ou nenhum valor como antisséptico e ainda pode

causar lesão ao leito capilar. Uma vez que sua ação pode retardar a cicatrização, esse

agente não tem nenhum valor positivo no tratamento das feridas (SLATTER, 2007).

Os curativos mais utilizados para limpeza e escarificação são as compressas de

gases. Estas podem ser trançadas e não trançadas. Em geral, a gaze trançada é melhor

que a não trançada para limpeza e escarificação, por conta de seu afrouxamento (não

solta fios e fibras) e da sua resistência (HENDRICKSON, 2006).

2.6.2 Para debridamento

O debridamento é o processo de remoção do tecido desvitalizado de uma ferida,

com o objetivo de converter a ferida a um estado de “limpeza”, contendo tecido com

irrigação sanguínea adequada para a cicatrização normal. A causa mais comum de

retardo na cicatrização da ferida e infecção subsequente é o debridamento inadequado.

O debridamento da ferida pode ser cirúrgico, enzimático, mecânico ou hidrodinâmico

(lavagem) (SLATTER, 2007).

A extensão do debridamento cirúrgico varia com o tipo de ferida e o grau de

dano ou contaminação. As lacerações por instrumento cortante talvez não necessitem de

debridamento, enquanto aquelas com dano tecidual extenso podem exigir ampla

exploração e debridamento agressivo. A técnica do debridamento em camadas, que tem

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38

início na superfície e avança até as fases mais profundas da ferida, é a empregada na

maioria dos casos. A excisão completa da ferida (debridamento em bloco) raras vezes é

indicada e pode envolver a ressecção de tecido sadio (SLATTER, 2007).

O debridamento cirúrgico/instrumental ocorre quando instrumentos como

bisturis, tesouras ou laser são usados para remover o tecido desvitalizado. Trata-se de

uma das formas mais utilizadas para debridamento. O debridamento

cirúrgico/instrumental é o menos traumático, sendo a lâmina do bisturi a menos

traumática dessa modalidade. É um método definitivo no qual, uma vez cortado o

tecido, não a retorno. O debridamento preciso requer bom conhecimento da viabilidade

tecidual, pois debridamento agressivo pode provocar um ferimento maior que o

necessário (HENDRICKSON, 2006).

É imprescindível uma analgesia adequada para proporcionar debridamento

completo. Recomenda-se a anestesia geral para animais em condições estáveis com

amplos ferimentos, como queimaduras, que podem exigir excisão tecidual extensa. A

administração narcótica sistêmica e a analgesia local ou regional também podem ser

eficazes. A lavagem da ferida com solução de lidocaína a 2% ou a aplicação de gazes

estéreis embebidas com esse anestésico são procedimentos possíveis, enquanto o pêlo

estiver sendo submetido à tricotomia. A lidocaína ou a bupivacaína pode ser injetada

através da pele intacta na periferia da ferida, paralelamente às suas margens. Muitas

vezes, a aplicação em blocos anelares é satisfatória para a obtenção de analgesia. Um

torniquete pode ser aplicado no sentido proximal à ferida e a lidocaína injetada através

da pele em direção ao osso, no formato de um anel imediatamente distal ao torniquete

(SLATTER, 2007).

À medida que a ferida é explorada, todo o tecido é examinado quanto à sua

viabilidade e à presença de corpos estranhos. A excisão penetrante com bisturi é

preferível ao uso da tesoura. Os tecidos superficiais são submetidos inicialmente à

excisão, seguidos pelos tecidos mais profundos. Em geral, o músculo e a gordura são

debridados de modo agressivo, mas estruturas como nervos, tendões e ligamentos são

preservadas. O músculo é especialmente suscetível à necrose adicional após a lesão; é

removido se não apresentar sangramento, se estiver friável ou com a coloração

diferente. A quantidade de pele submetida a um intenso debridamento está diretamente

relacionada à disponibilidade cutânea. A avaliação da viabilidade da pele no período

agudo após a ocorrência do ferimento pode ser tarefa difícil, devido ao vasoespasmo ou

edema temporários. Sob tais circunstâncias, a pele viável pode não sangrar. Em caso de

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39

dúvida, sobretudo em áreas nas quais a pele seja escassa, é possível adiar o

debridamento cutâneo por até 48 a 72 horas, até que ocorra uma nítida delimitação pela

coloração. A vantagem de um debridamento em etapas ou em camadas está na

possibilidade de realização de um método seletivo. Os tecidos questionáveis em

princípio podem exibir recuperação e ser poupados para facilitar a oclusão e aliviar a

tensão da ferida (SLATTER, 2007).

O debridamento enzimático desempenha papel secundário no tratamento das

feridas. Uma vantagem na aplicação enzimática está em sua capacidade de produzir

debridamento sem anestesia e em feridas onde estejam localizadas importantes

estruturas intactas (nervos). As desvantagens das enzimas incluem custo, tempo exigido

e debridamento insuficiente (SLATTER, 2007).

O debridamento mecânico de uma ferida pode ser concluído mediante o uso de

bandagens, após o debridamento cirúrgico dos debris macroscópicos. O emprego de

curativo “úmido-a-seco” é indicado em feridas com tecido necrosado ou desvitalizado,

corpos estranhos ou exsudato viscoso. Compressas de gases embebidas em solução

salina estéril são aplicadas diariamente à superfície da ferida, acompanhadas pela

aplicação de uma segunda camada de bandagem absorvente. A ferida é debridada do

tecido necrótico e do material estranho, que se aderem à bandagem quando esta seca. As

bandagens devem ser trocadas duas ou três vezes por dia durante o período inicial do

tratamento da ferida. A solução salina fisiológica e a solução de clorexidina a 0,05% são

comumente empregadas como soluções umectantes (SLATTER, 2007).

2.6.3 Para tamponamento

Forma-se espaço morto quando o ferimento perde tecido o suficiente a ponto de

deixar uma cavidade onde deveria haver tecido. A presença de espaço morto em um

ferimento ou local cirúrgico permite, em potencial, a formação de seroma ou hematoma

(HENDRICKSON, 2006).

De qualquer forma, é mais comum haver infecção do que o ferimento ou a

região cirúrgica ser fechada por inteiro, sem espaço morto. Em alguns casos, isso é

simplesmente impossível e o espaço morto permanece (HENDRICKSON, 2006).

A gaze é o curativo mais utilizado para preencher o espaço morto

(HENDRICKSON, 2006). A atadura é preferida para obter um curativo contíguo,

minimizado a chance de material estranho nas regiões mais internas no espaço morto. A

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40

gaze é desenrolada e empurrada para dentro do defeito até preenchê-lo. Se o defeito for

grande e requerer mais de um rolo, amarra-se a extremidade final do primeiro rolo ao

início do rolo seguinte e assim por diante. Assim, somente uma extremidade de gaze

precisa ser puxada até que toda ela seja removida (HENDRICKSON, 2006).

A gaze trançada é preferida por ser mais forte que a não trançada e ter menos

probabilidade de rasgar. A gaze deve ser umedecida antes da aplicação e mantida úmida

para minimizar o ressecamento do ferimento e reduzir a dor associada com a remoção

do tampão (HENDRICKSON, 2006).

Segundo Fossum (2005) as ataduras úmido-secas são o tipo mais comum de

atadura aderente na medicina veterinária. As ataduras úmidas auxiliam no debridamento

por meio de liquefação do coágulo e absorção de resíduos necrosados, enquanto deixa o

tecido viável intacto. O princípio de uma atadura umedecida com solução salina é que, à

medida que o tampão seca, a ação de trancamento puxa os resíduos e o exsudato para o

tampão e para fora do ferimento. As ataduras úmido-secas possuem as vantagens de

possibilitarem o uso de antimicrobianos na solução umedecedora, de manterem um

ambiente fisiológico na ferida e o conforto do paciente e removerem o exsudato. No

entanto, bactérias podem florescer em um ambiente úmido e pode ocorrer maceração

tecidual. Os antibióticos tópicos usados em conjunto com a atadura úmida devem ser

hidrossolúveis e colocados na solução usada para umedecer os tampões. Devem-se

colocar várias camadas de tampões de gaze estéril sobre o ferimento e embebê-los em

solução salina ou solução de clorexidina a 0,05% a 0,1%. Em seguida, deve-se cobrir os

tampões úmidos com uma atadura absorvente e, se ocorrer remoção, trocar a atadura

diariamente ou com maior frequência. Para remover as camadas primárias da atadura

(tampões de gaze secos), deve-se umedecer os tampões com solução salina e levantá-los

do ferimento.

A remoção da camada de atadura primária pode causar sangramento ou

corrimento. Geralmente indica-se uma atadura não-aderente três a cinco dias após uma

aplicação de atadura úmido-seca. A camada de contato deve ser uma almofada não-

aderente, seguida por uma capa absorvente intermediária para manter a almofada no

lugar (FOSSUM, 2005). Gaze com antimicrobianos apresenta benefícios na redução da

carga bacteriana, além de tamponar o espaço morto (HENDRICKSON, 2006). A

espessura da capa absorvente intermediária varia com a quantidade de drenagem

esperada (FOSSUM, 2005).

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41

Qualquer tipo de gaze trançada propiciará debridamento físico e, desde que seja

pré-umedecida, minimizará o trauma ao tecido adjacente (HENDRICKSON, 2006).

2.6.4 Para absorção

Uma das funções mais comuns dos curativos é a absorção (HENDRICKSON,

2006). Ataduras absorventes são indicadas para ferimentos abertos contaminados e

infectados (FOSSUM, 2005). Nesse caso, o curativo é utilizado para conter a drenagem

e o exsudato. O algodão é um dos melhores materiais para essa finalidade, graças à sua

capacidade natural de absorção. Está disponível em várias formas e diferentes marcas.

Algodão em rolo é encontrado com facilidade e possui, provavelmente, o melhor custo-

benefício das diferentes formas disponíveis (HENDRICKSON, 2006).

Produtos como o algodão combinado e o tecido de Gamgee têm uma camada de

algodão coberta por tecido não aderente. Na verdade, esses curativos foram descritos em

1880 por um médico chamado Joseph Samson Gamgee, que descreveu o uso de coxins

de algodão cru cobertos com delicada malha de algodão (gaze absorvente) por

jardineiros para proteger as plantas dos pássaros. Esses produtos agora são apresentados

na forma de grandes rolos cortados em comprimentos menores para fins específicos.

Esse algodão também é apresentado em pedaços semelhantes a folhas, podendo ser

colocado em camadas e usado de forma semelhante a outros tipos de algodão

(HENDRICKSON, 2006).

Materiais sintéticos, como os protetores ABD (Tyco Healthcare / Kendall),

também estão disponíveis para absorção. Na maioria dos casos, um material semelhante

à gelatina é encaixado entre folhas plásticas não porosas e um tecido não aderente. A

camada de tecido não aderente é colocada contra o ferimento, permitindo que o

exsudato passe para dentro do componente de absorção, mas evitando que ele volte para

a superfície do ferimento. A camada plástica não porosa impede que o exsudato penetre

por dentro e que outros fluidos penetrem por fora. As fraldas descartáveis funcionam da

mesma forma e podem ser esterilizadas, se necessário. As fraldas muitas vezes

funcionam melhor que os grandes coxins em virtude de seu tamanho e formato

(HENDRICKSON, 2006).

É importante usar o curativo apropriado contra a superfície do ferimento,

permitindo que uma quantidade adequada de exsudato seja mantida e que o seu excesso

seja absorvido pela camada de absorção (HENDRICKSON, 2006).

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42

2.6.5 Compressivos

Utilizados para reduzir o fluxo sanguíneo, promover a estase e ajudar na

aproximação das extremidades da lesão (GOMES; COSTA; MARIANO, 2005).

As bandagens compressivas são o tipo mais comum de bandagem utilizado para

manter unidos os tecidos moles. Estas bandagens controlam a hemorragia, evitam a

formação de edemas, obliteram os espaços mortos e impedem a formação excessiva do

tecido de granulação. Uma compressão por igual, controlada, pode ser conseguida

mediante a aplicação de gaze elástica ou camada de fita cirúrgica sob tensão, por sobre

uma camada intermediária acolchoada. Ao utilizar uma bandagem compressiva,

devemos tomar o cuidado especial para que não ocorra compressão inadvertida a

alguma estrutura vascular ou nervo periférico. As pesquisas acerca dos efeitos da

compressão externa sobre a hemodinâmica do membro indicam que a compressão

crítica do fechamento das arteríolas da pele é de aproximadamente 30 mmHg. As

arteríolas musculares sofrem oclusão a aproximadamente 50 mmHg. Estas pressões são

facilmente atingidas ou ultrapassadas pelo excesso de zelo na aplicação da gaze ou fita

elástica. Infelizmente, é impossível uma avaliação direta da compressão aplicada por

uma bandagem em situações clínicas; assim, é inevitável que, neste caso, exista certa

atitude de ensaio e erro (SLATTER, 1998).

Certos princípios da aplicação das bandagens podem reduzir o risco de obstrução

vascular. A compressão gerada por estas bandagens deve ser distribuída equitativamente

através da superfície da bandagem, evitando áreas circunferenciais de pressão

concentradas, causadas pela aglomeração ou deslizamento do material da bandagem.

Em segundo lugar, os dois dedos centrais devem permanecer expostos, ao ser aplicada

bandagem compressiva em um membro. Estes dedos servirão como indicador do fluxo

sanguíneo sob a bandagem. Os dedos devem ser avaliados várias vezes por dia, para a

ocorrência de edema, temperatura excessivamente baixa e cianose. Um terceiro

princípio para os cuidados com as bandagens compressivas é que a bandagem deverá

ser removida, no caso de o animal estar traumatizando-a ativamente. Com frequência, a

intolerância do paciente é o primeiro sinal de problemas significativos. Isto é

particularmente válido, se o grau de intolerância mudou subitamente (SLATTER,

1998).

As bandagens compressivas são aplicadas mais comumente em pequenos

animais para o controle de pequenas hemorragias, para que não ocorra a formação de

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43

edema após alguma cirurgia, ou para que seja obtida a imobilização temporária das

fraturas dos membros antes do tratamento definitivo. Quando bandagens são utilizadas

na prevenção da hemorragia, estas aplicações deverão ser deixadas no lugar por período

de tempo relativamente curto (12 a 24 horas). É utilizada pequena quantidade do

material na camada intermediária (SLATTER, 1998).

Quando a bandagem compressiva é temporariamente empregada na imobilização

de uma fratura, ou para que seja minimizada a formação do edema pós-operatório,

deverá ser utilizada uma camada intermediária mais substancial. A compressibilidade

desta camada cuida também de um possível aumento no volume do membro causado

por hemorragia profunda, ou por extravasamento de líquidos. A bandagem de Robert

Jones é o exemplo mais comum deste tipo de bandagem. “Estribos” de fita são

aplicados para que a bandagem não deslize. Este tipo de bandagem é feito com camadas

de algodão de baixo para cima enrolando o material no membro na direção distal-

proximal. Ataduras com generosa quantidade de algodão em rolo são aplicadas em cada

camada até que a bandagem fique três vezes mais grossa que o membro do cavalo (sem

a bandagem) (CORTE, 2007). Em seguida, o algodão é comprimido sob um rolo de

gaze elástica. Uma camada externa de fita elástica, adesiva ou não-adesiva, então

aplicada sob tensão, para que seja proporcionada sustentação e maior compressão da

camada de algodão. A compressão resultante pode alterar o gradiente de pressão

hidrostática nos tecidos moles, impedindo a formação de edema e pequenas

hemorragias. A compressão também pode ajudar na imobilização temporária de

estruturas esqueléticas subjacentes (SLATTER, 1998).

Modificações da bandagem de Robert Jones são utilizadas comumente, com

várias finalidades. As modificações mais comuns consistem na redução do volume da

camada secundária e da tensão aplicada à camada terciária, quando a absorção ou

proteção da ferida é o objetivo mais importante que a aplicação de pressão. Barras de

alumínio ou talas de gesso podem ser acrescentadas a estas bandagens, para a obtenção

de imobilização mais rígida das estruturas ósseas (SLATTER, 1998).

2.6.6 Para sustentação

Os curativos para sustentação são idênticos aos compressivos

(HENDRICKSON, 2006).

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44

É importante saber que há pouca vantagem no uso de bandagens de sustentação

em cavalos adultos, a não ser que se utilize algum tipo de coaptação externa, como uma

tala (HENDRICKSON, 2006).

2.6.7 Para proteção

Segundo Hendrickson (2006) os curativos de proteção podem ser usados para

proteger o ferimento tanto de trauma quanto de contaminação. Podem ser muito

delgados e simples ou idênticos aos curativos compressivos. Potros neonatos com

deformidades flexurais podem ser protegidos com curativos muito leves, visando

proteger a pele de abrasões. Nesses casos, faixas pesadas provavelmente exacerbarão a

deformidade flexural.

Um dos curativos favoritos do autor para proteção de potros com relaxamento

dos tendões flexores é a malhar tubular. Se mais proteção for necessária, um curativo

compressivo poderá ser usado (HENDRICKSON, 2006).

Curativos com antimicrobianos como o Kerlix A. M. D. foram designados para

proteger ferimentos da penetração bacteriana, reduzindo assim a probabilidade de

infecção (HENDRICKSON, 2006).

2.6.8 Para manter a umidade

Os curativos do tipo úmido estão indicados em ferimentos que apresentam

quantidade abundante de exsudato viscoso e poucos resíduos ou tecido necrosado. Estas

bandagens não favorecem em muito o debridamento da ferida, mas conseguem diluir

efetivamente o exsudato nela presente, o que tornará mais fácil sua remoção

(SLATTER, 1998).

Segundo Fossum (2005) uma atadura úmido-úmida é semelhante a uma úmido-

seca, exceto que se espera que a camada de contato permaneça úmida e não se permite

que ela seque antes da remoção da atadura. A atadura pode ser mantida úmida entre as

trocas de curativo pela inserção de um dreno fenestrado entre as camadas de gaze e uma

injeção de fluido no interior da atadura a cada quatro a seis horas. Utiliza-se uma

atadura úmido-úmida para transportar calor e potencializar o movimento capilar do

exsudato a partir do ferimento. As desvantagens das ataduras úmido-úmidas incluem

aumento no período de tratamento, maceração tecidual que promove infecção e

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45

contaminação ambiental do ferimento por bactérias, se o fluido atingir a superfície da

atadura. Após três a cinco dias, já deve ter se formado um tecido de granulação saudável

e a atadura deve ser trocada por uma atadura não-aderente.

A perfeita cicatrização ocorre quando se mantém o nível adequado de umidade

no leito do ferimento (HENDRICKSON, 2006).

2.7 Tipos mais frequentes de feridas em equinos no semi-árido paraibano

2.7.1 Pitiose

A doença é conhecida por outros nomes como hifomicose, zigomicose,

dermatite granular, “bursattee”, “Florida leeches”, granuloma ficomicótico e “swamp

câncer”. Nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul o nome popular mais

conhecido é “ferida da moda” (SANTURIO et al., 2006). Conhecida também como

“tumor dos pântanos e alagadiços” (THOMASSIAN, 2005). O termo hifomicose inclui

outras doenças causadas por fungos, especialmente Conidiobolus ranarum e

Basidiobolus haptosporum, além de membros da ordem Mucorales (SANTURIO et al.,

2006).

A pitiose hoje é um termo utilizado em medicina veterinária para descrever uma

enfermidade piogranulomatosa, cosmopolita, que atinge várias espécies animais,

inclusive o homem (RIET-CORREA et al., 2007).

A espécie equina é a mais atingida pela pitiose, não havendo predisposição de

raça, sexo ou idade. As lesões cutâneas são as mais frequentes e atingem principalmente

as extremidades distais dos membros e porção ventral da parede toraco-abdominal,

provavelmente devido ao maior tempo de contato com águas contaminadas com

zoosporos (SANTURIO et al., 2006).

A doença é frequentemente diagnosticada em equinos como sendo um

piogranuloma cutâneo, entretanto outras apresentações clínicas podem estar presentes

nessa espécie, como a forma intestinal e a metastática, que atingem vários órgãos

(RIET-CORREA et al., 2007).

O agente etiológico da doença é a espécie Pythium insidiosum, um pseudofungo

pertencente ao Reino Stramenopila, Filo Oomycota, Família Pythiaceae, Gênero

Pythium, entretanto essa classificação é discutível e há controvérsias entre autores

quanto ao reino, podendo ser enquadrado no Chromista ou Protista. O Pythium

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insidiosum é um microrganismo termofílico, essencialmente aquático, que se reproduz

assexuadamente através de zoosporos biflagelados que estão contidos em

zooesporângios. Esses zoosporos desempenham o papel de propagadores do agente, os

quais são liberados periodicamente em águas pantanosas, vindo a parasitar equinos e

outros mamíferos. Possivelmente, esses animais constituem-se em hospedeiros casuais,

não fazendo parte do ciclo de vida do microrganismo (RIET-CORREA et al., 2007).

O ciclo evolutivo do Pythium insidiosum consta de uma fase micelial,

produzindo esporângios na superfície ou no interior dos tecidos de gramíneas, lírios e

outras plantas aquáticas, os quais, após a maturação, liberam os zoosporos móveis na

água, que por quimiotactismo encontrarão uma nova planta para iniciar novo ciclo onde

germinarão e formarão um novo micélio. Quando equinos são introduzidos nestas áreas

alagadas (Figura 1), os zoosporos móveis são atraídos para o pêlo destes animais por um

mecanismo quimiotático semelhante ao que ocorre com as plantas e que envolve

substâncias químicas presentes em ambos os tecidos. O zoosporo em contato com o

tecido do hospedeiro libera uma substância adesiva que ajuda na fixação e permite a

formação de filamentos com poder invasivo. A presença de traumas na pele dos animais

que pastejam essas áreas alagadas permitem que os zoosporos, após germinar, penetrem

no tecido lesionado, produzindo a enfermidade. É desconhecido o período exato que

transcorre entre o primeiro contato com o microrganismo e o desenvolvimento das

lesões, sendo este período estimado em aproximadamente três a quatro semanas (RIET-

CORREA et al., 2007).

Figura 1: Equinos parcialmente submersos no lago com presença abundante de plantas aquáticas, em região com elevadas temperaturas (acima de 30ºC em média). Ambiente propí- cio para presença de zoósporos de Pythium insidiosum. Fonte: SANTOS et al., 2011.

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A patogenia da pitiose inicia-se a partir de uma porta de entrada para o

microrganismo (traumatismo, picadas de insetos, etc.) que estabelecendo a solução de

continuidade penetra e coloniza o tecido animal. O P. insidiosum invade o tecido

subcutâneo e prolifera formando um piogranuloma eosinofílico onde se encontra o

microorganismo envolto por uma massa necrótica amorfa ("kunker"). No interior das

áreas necróticas observam-se imagens negativas tubiliformes que constituem as hifas de

Pythium insidiosum (RIET-CORREA et al., 2007) de parede espessa, ramificadas e

ligeiramente irregulares em largura (AIELLO, 2001). Variam de dois a 10 mm de

diâmetro e penetram no tecido granular, dentro de sinus formados ao longo do seu

trajeto. Circundando essas áreas observam-se intensa proliferação de tecido de

granulação e fibrose (SANTURIO et al., 2006).

Os sinais clínicos caracterizam-se por lesões ulcerativas granulomatosas,

formando grandes massas teciduais (cinco a 500 mm), com bordas irregulares, de

aparência tumoral e com hifas recobertas por células necróticas, que formam massas

branco-amareladas semelhante a corais, chamadas internacionalmente de “kunkers”

(SANTURIO et al., 2006).

A lesão subcutânea aumenta de volume em poucas semanas tornando-se uma

grande massa esbranquiçada que fistula para o exterior e deixa drenar continuamente

um exsudato serossanguinolento (RIET-CORREA et al., 2007).

O tamanho das lesões depende do local e duração da infecção e as mesmas

apresentam secreção serossanguinolenta, mucosanguinolenta, hemorrágica e, às vezes,

mucopurulenta, que flui através dos sinus. Os animais apresentam intenso prurido e

normalmente mutilam a lesão na tentativa de aliviar o desconforto (SANTURIO et al.,

2006), hábito este que pode inocular o agente em outras partes do corpo (RIET-

CORREA et al., 2007).

As lesões geralmente são únicas e mais frequentemente encontradas nas áreas do

corpo nas quais os animais estão em constante contato com a água: pele das regiões

inferiores dos membros, principalmente pélvicos, região abdominal ventral, peito,

pescoço, face, lábios, mama e genitais (RIET-CORREA et al., 2007). O envolvimento

ósseo pode ser uma característica da pitiose crônica (RADOSTITS et al., 2000;

AIELLO, 2001).

O envolvimento intestinal é a segunda forma mais frequente da infecção pelo

Pythium insidiosum em equinos (SANTURIO et al., 2006). Caracteriza-se por lesões

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gastrointestinais fibrosantes e estenóticas, contendo focos intralesionais de material

caseoso e hifas fúngicas (AIELLO, 2001).

A doença é de evolução rápida, podendo a lesão atingir 50 cm em cerca de dois a

três meses, sem histórico de cura espontânea, podendo levar a morte. O animal fica

caquético e inapto para o trabalho (RIET-CORREA et al., 2007).

O cultivo do pseudofungo causador é uma tarefa laboriosa. Equinos infectados

com o Pythium insidiosum apresentam reação positiva ao teste de difusão em ágar-gel

duplo, e os testes de fixação de complemento e de hipersensibilidade intradérmica

também têm valor diagnóstico. O exame de uma amostra de tecido, obtido por meio de

biópsia, também é de valor, sendo, porém, conveniente obter uma porção de tecido

necrosado, no qual as hifas são mais facilmente encontradas. Métodos

imunohistoquímicos de coloração, utilizando técnica da peroxidase indireta, são

importantes na diferenciação dos Pythium spp. de outros fungos nas lesões do câncer do

pântano (RADOSTITS et al., 2000).

O diagnóstico se baseia no aspecto granulomatoso da lesão, presença de áreas

necróticas com fístulas e canais que secretam prurido viscoso e núcleos de grumos

calcificados (Kunkers) (Figura 2). Em razão do aspecto granulomatoso da lesão há a

possibilidade de ser confundida, no início, ou ser associada com tecido de granulação

cicatricial exuberante, habronemose cutânea e com sarcóide fibroso ou fibroblástico,

deve-se realizar o diagnóstico diferencial, cultivando-se a secreção em meios especiais

para fungos, para observação e isolamento do agente (THOMASSIAN, 2005).

Figura 2: Kunkers observados na ferida após a necropsia do animal.

Fonte: MACIEL et al., 2008.

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Em muitos casos, há necessidade de realização de exames histopatológicos com

biopsias profundas da região de transição do granuloma, auxiliando, desta maneira, o

diagnóstico diferencial (THOMASSIAN, 2005).

Tradicionalmente, o diagnóstico da pitiose baseava-se nos aspectos clínicos,

histopatológicos e no isolamento e identificação do agente através de suas

características culturais, morfológicas e reprodutivas. A identificação precoce da

doença, no entanto, torna-se difícil através desses métodos. Atualmente, métodos como

imunohistoquímica (Figura 3) e técnicas sorológicas auxiliam e suportam um

diagnóstico precoce e correto (SANTURIO et al., 2006) possibilitando a visualização do

agente juntamente com a lesão (PEDROSO et al., 2009). Em 1988, Brown et al.

descreveram pela primeira vez o método de imunohistoquímica para diagnóstico da

pitiose equina, que foi posteriormente utilizada por vários autores.

O diagnóstico diferencial inclui habronemose, neoplasia, tecido de granulação

exuberante e granulomas fúngicos e bacterianos (BROWN et al., 1988).

Figura 3: Marcação positiva em vermelho (seta) para Pythium insidiosum em imunohistoquímica. Fonte: PEDROSO, 2009.

A pitiose merece destaque pela dificuldade de tratamento e pelo risco que

representa para a vida de animais afetados. Inúmeros tratamentos têm sido utilizados,

principalmente em equinos, incluindo o químico (antimicóticos), o cirúrgico e a

imunoterapia (DÓRIA, 2009).

O sucesso das diferentes formas de tratamento é variável e em muitos casos

influenciado pelo tamanho e duração da lesão, idade e estado nutricional do animal

(SANTURIO et al., 2006). Apesar da taxa de recidiva ser relativamente alta, a excisão

cirúrgica é a mais utilizada e a que apresenta os melhores resultados, quando realizada o

mais precocemente possível e de forma abrangente (DÓRIA, 2009). A intervenção

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cirúrgica requer retirada de toda área afetada, com margem de segurança para evitar as

recidivas, porém isso é dificultado pelas estruturas anatômicas envolvidas,

principalmente nos membros (SANTURIO et al., 2006).

Como alternativas de tratamento, obteve-se sucesso no uso de raio laser

vermelho de alumínio, neodímio e ítrio como terapia suplementar após a remoção

cirúrgica de lesões de pitiose equina (SANTURIO et al., 2006). A ablação do micetoma

com laser pode resultar em necrose térmica, podendo matar o agente que estiver

infiltrado no tecido adjacente, reduzindo a taxa de recidiva (SEDRISH et al., 1997;

RADOSTITS et al., 2000; BIAVA et al., 2007).

O tratamento cirúrgico apresenta bons resultados (Figura 4), especialmente em

lesões onde seja possível a retirada de toda área afetada. Alguns autores afirmam que a

ressecção cirúrgica total do granuloma combinada com imunoterapia especifica para P.

insidiosum é o tratamento mais indicado para cura de pitiose clínica em equinos

(SANTURIO et al., 2006).

Figura 4: Exérese de lesão provocada por pitiose em um equino. 1. Equino durante o exame clínico. 2.

Equino no pré-operatório imediato. 3. Aspecto final da ferida cirúrgica. 4. Aspecto da ferida no 7º dia de pós-operatório. 5. Aspecto da ferida no 30º dia de pós-operatório. 6. Aspecto da ferida no 45º dia de pós-operatório. Fonte: CESCON et al., 2008.

Estudos realizados por Sallis, Pereira e Raffi (2003) demonstraram que o uso de

iodeto de potássio a 10%, via intravenosa, associado ao sulfato de cobre tópico, resulta

em cura parcial da lesão.

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Maciel et al. (2008) relataram que, além da administração de imunoterápico via

subcutânea com intervalo de 14 dias e da assepsia diária do local, com solução aquosa

de iodo 0,5% a 1%, deve-se também instituir antibioticoterapia com penicilina

(6.000.000 UI/dia) e sulfato de estreptomicina (2,5 g/dia) durante dez dias, para

minimizar as infecções secundárias bacterianas (Figuras 5 e 6).

Figura 5: Equinos com lesões graves de pitiose nas regiões torácica, membro e face. Fonte: SANTURIO, 2004.

Figura 6: Mesmos animais mostrados na Figura 5, curados de pitiose no tórax, membro e face após o uso

do imunoterápico Pitium Vac. Fonte: SANTURIO, 2004. 2.7.2 Habronemose

A habronemose é uma helmintose que acomete equídeos (equinos, asininos e

muares), provocada por nematóides heteroxenos que parasitam o estômago dos

hospedeiros definitivos e têm como hospedeiros intermediários muscídeos cosmopolitas

das espécies Musca domestica, Stomoxys calcitrans e outros menos frequentes, cujos

ovos e larvas são eliminados nas fezes de equídeos (TIMOTHY, 2000).

O principal motivo da alta prevalência da habronemose no Brasil é a falha no

manejo sanitário dos rebanhos e muitas vezes a falta de informação sobre tratamento,

controle e ciclo evolutivo da doença. A enfermidade pode adquirir diversos nomes, de

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acordo com cada região brasileira como: “Ferida de Verão”, “Câncer do Pântano”,

“Bursatti”, “Feridas Estivais”, “Ferida dos Machos” e “Esponja” (AIELLO et al., 2001).

Como descrito por Meldau (2010), a habronemose pode manifestar-se de quatro

formas:

Habronemose cutânea: Esta é a forma mais comum em equinos. É iniciada

por uma lesão previamente existente no animal, geralmente presente nos

membros (onde é mais comum ocorrer traumas), sendo posteriormente

contaminados pela larva das moscas infestadas por H. muscae.

Habronemose conjuntival: Caracteriza-se pelo aparecimento de uma ferida

elevada e proliferativa, em regiões que sempre estão úmidas, como a orbital,

geralmente no canto médio do olho. Quando as moscas pousam na região

ocular, acabam por deixar as larvas da H. muscae, gerando lesões nessa

região.

Habronemose pulmonar: O pulmão pode ser atingido pelas larvas

aberrantes ou erráticas. As larvas depositadas próximo ao nariz migram para

os pulmões, gerando granulomas parasitários próximos aos bronquíolos,

induzindo uma peribronquite nodular.

Habronemose gástrica: Esta forma ocorre quando os animais ingerem a

larva do parasita causador da habronemose (H. muscae, H. microstoma ou

Draschia megastoma), que são deixadas pelas moscas próximo à região da

boca do animal ou nos alimentos. Quando chegam ao estômago, essas larvas

instalam-se e se desenvolvem até a fase adulta, quando liberam seus ovos no

ambiente junto com as fezes dos animais parasitados. As fezes irão atrair

algumas espécies de moscas que serão hospedeiras intermediárias do parasita

causador da habronemose.

Há três espécies de Habronema - Habronema muscae, H. microstoma e H.

(Draschia) megastoma - e todas elas infestam o estômago de equinos. Os granulomas

gástricos e a maioria das lesões cutâneas parecem ser causados por H. megastoma,

embora lesões cutâneas típicas ocorram naturalmente e tenham sido produzidas

experimentalmente em equinos pela implantação cutânea de larvas de H. muscae ou H.

microstoma. Equinos de todas as idades são suscetíveis, mas a doença é mais comum

em adultos (BLOOD, 1983).

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53

O ciclo evolutivo do Habronema é indireto, usando como vetor a mosca

doméstica (Musca domestica) e a mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans). As fêmeas

do Habronema fazem a ovipostura de ovos embrionados, que são eliminados com as

fezes, ou há a eclosão de larvas no intestino e são então eliminadas larvas. No meio

ambiente as larvas (L1) são ingeridas por larvas da mosca doméstica que vivem no

estrume. Temos então o desenvolvimento concomitante da mosca e da larva do

Habronema. Cerca de duas semanas mais tarde, temos as moscas adultas com a larva

infectante (L3) do Habronema. Essas moscas ao pousarem em feridas abertas na pele do

equino depositam as larvas e temos a denominada habronemose cutânea (MURO et al.,

2008).

A habronemose cutânea é ocasionada pela localização errática de larvas de

Habronema spp. e Draschia sp. na pele dos equinos (SANTURIO; CANTO, 2007) e

ocorre frequentemente nos períodos quentes e chuvosos (GODOY et al., 2007). As

lesões ocorrem mais nas regiões onde o cavalo não consegue remover as moscas: rosto,

linha média do abdômen, em torno do pênis e prepúcio, parte baixa dos membros,

cavidade orbital e locais de traumatismos (SANTURIO; CANTO, 2007). Menos

comumente, as lesões podem ser encontradas nas pernas e na cernelha, mas as que

ocorrem na região do machinho e da coroa são muito graves (BLOOD, 1983).

A habronemose gástrica é relativamente comum e, embora possa causar mortes

esporádicas, a maioria dos equinos acometidos não apresenta sinais da doença. As

habronemoses cutâneas e conjuntivas raramente são fatais, mas podem provocar

transtornos consideráveis (BLOOD, 1983).

As larvas de H. megastoma invadem a mucosa gástrica e provocam o

desenvolvimento de grandes massas granulomatosas. Esses “tumores” contêm os

vermes adultos e têm um orifício central, por onde os ovos e as larvas passam para a luz

do órgão. Em muitos equinos, as lesões produzem apenas uma gastrite crônica leve,

mas, em raros casos, pode ocorrer perfuração seguida por uma peritonite local, que pode

envolver o intestino, provocando constrição, ou o baço, produzindo abcessos. O H.

microstoma e o H. muscae não causam “tumores”, mas podem penetrar nas glândulas

do estômago. Cargas intensas causam inflamação e mesmo ulceração (BLOOD, 1983).

Na habronemose cutânea, as larvas das Habronema spp. depositadas nas feridas

causam inflamação local e o desenvolvimento de extenso tecido de granulação. Podem

ocorrer invasões bacterianas ou fúngicas secundárias (RADOSTITS et al., 2000). A

lesão começa como pequenas pápulas com centro erodido. O desenvolvimento é rápido

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e as lesões podem atingir 30 cm de diâmetro em poucos meses (Figura 7). No ínicio

ocorre prurido intenso e isso pode levar ao autotraumatismo. Em seguida temos um

granuloma castanho avermelhado não cicatrizante. Mais tarde a lesão pode se tornar

fibrosa e inativa, mas só cicatriza no tempo frio (HAMMOND et al., 1986).

Figura 7: Tecido granulomatoso com cerca de 20 cm de diâmetro na região palmo-lateral da articulação

metacarpofalangeana do membro torácico direito. Fonte: RIBEIRAL, 2006.

No olho, formam-se lesões semelhantes no ângulo interno, na membrana

nictante ou na pálpebra, as quais podem provocar lacrimejamento profuso e outros

sinais de irritação local (RADOSTITS et al., 2000) (Figura 8).

Figura 8: Feridas no canto medial dos olhos, com aproximadamente 2 cm de diâmetro, secreção serosa

e pequenos nódulos ulcerados coalescentes de coloração amarelada. Fonte: RIBEIRAL, 2006.

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Na habronemose pulmonar, as larvas erráticas ou aberrantes podem atingir os

pulmões, caracterizando habronemose pulmonar (RIBEIRAL, 2006). Segundo Timothy

(2000), as larvas depositadas no nariz migram para os pulmões, onde causam a

formação de granulomas parasitários próximos aos bronquíolos, induzindo uma

peribronquite nodular (BERNE, 2001). Em raras ocasiões, durante a migração das

larvas pode-se detectar discretos sinais de bronquite (BLOOD, 1983).

Lesões granulomatosas podem ser vistas em todos os locais mencionados na

descrição dos sinais clínicos e, embora variem de tamanho, apresentam essencialmente

a mesma composição descrita acima. Os equinos que tiveram a forma cutânea da doença

podem apresentar pequenos nódulos no parênquima do pulmão. Estes são duros,

amarelados e contêm pus e larvas (BLOOD, 1983).

O diagnóstico é difícil na forma gástrica da doença, porque as larvas não são

fáceis de serem encontradas nas fezes. A biopsia das lesões cutâneas revela tecido

conjuntivo com áreas caseosas amareladas, pequenas, de até cinco mm de diâmetro. As

larvas podem ser encontradas em raspados de pele ou biopsias e, nas lesões oculares, no

saco conjuntival ou no corrimento. Ocorre uma acentuada eosinofilia local (BLOOD,

1983). Segundo Ribeiral (2006), o diagnóstico da habronemose cutânea é feito

facilmente, através da identificação das larvas encontradas em lesões, através de

raspado de pele ou biópsia da lesão. O diagnóstico da habronemose conjuntival é feita

através da presença de larvas na conjuntiva e durante a necropsia. E, o diagnóstico da

habronemose pulmonar é feito apenas através da necropsia.

A habronemose cutânea deve ser diferenciada de granuloma fúngico, já que a

forma e a histopatologia da lesão são bastante semelhantes. O diagnóstico diferencial é

feito pelo encontro de hifas do pseudofungo Pythium insidiosum. A proliferação de

tecido de granulação excessiva após um ferimento, carcinoma epidermóide,

botriomicose (granuloma bacteriano) e o sarcóide equino são os principais diagnósticos

diferenciais (SMITH, 1993; TIMOTHY, 2000). Qualquer lesão ulcerativa poderá ser

complicada por habronemose secundária, e a causa primária poderá passar

despercebida, se as biópsias para a histopatologia não contiverem tecido adequado

(THOMASSIAN, 1997).

A ferida evolui de forma rápida, podendo atingir grandes diâmetros. Possui o

centro ligeiramente côncavo com tecido de granulação irregular, vermelho e às vezes

recoberto por crosta acinzentada. O granuloma pode evoluir atingindo grandes volumes,

o que torna importante o tratamento precoce (THOMASSIAN, 1997).

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56

O tratamento da habronemose cutânea visa a quatro objetivos: redução das

dimensões das lesões, redução da inflamação associada às lesões, eliminação do

Habronema adulto do estômago e redução das populações de vetores. Quando possível,

as lesões são reduzidas por debridamento cirúrgico (Figura 9). Se tais lesões estão

localizadas em áreas inacessíveis à cirurgia, a criocirurgia poderá ser uma alternativa

viável (SMITH, 1993; SANTURIO; CANTO, 2007).

Foram propostos diversos tratamentos para a redução da inflamação. Quando

estão presentes múltiplas lesões, deve-se administrar prednisona ou prednisolona na

base de 1 mg/kg durante 10 a 14 dias, seguida por 0,5 mg/kg por mais 10 a 14 dias. Se

ocorrerem apenas uma ou duas lesões isoladas, pode-se injetar triancinolona

intralesional na dose de 5 a 15 mg/lesão, não excedendo a dose total de 20 mg. Este

procedimento poderá ser repetido a intervalos de 10 a 14 dias, se houver necessidade.

Para as lesões que envolvem a conjuntiva, serão benéficas aplicações tópicas de

preparação corticosteróide oftálmica. As preparações tópicas de DMSO-corticosteróide

podem ser benéficas também em outras regiões. Diversas terapias inseticidas tópicas e

sistêmicas, por exemplo, ivermectina, foram recomendadas para lesões cutâneas, mas

seus benefícios para as lesões cutâneas já instaladas são motivo de controvérsia, com

base na crença de que a patogênese da habronemose cutânea esteja relacionada à morte

larval, que ocorre logo após seu ingresso na pele. A terapia inseticida sistêmica é

importante para a eliminação do Habronema adulto do estômago, o que reduzirá o

potencial de reinfecção; ivermectina a 0,2 mg/kg é eficaz. Diclorvos e dissulfeto de

carbono também são de conhecida eficácia contra o Habronema, e todos os cavalos

presentes nas instalações deverão ser tratados. A pré-administração em 30 minutos de

NaHCO3 a 2% aumentará a eficácia antihelmíntica, ao auxiliar na dissolução dos

tampões mucosos dos nódulos de Draschia megastoma. Para evitar a reinfecção das

lesões, é importante fazer curativos e dar proteção às feridas existentes, bem como o

controle das populações dos vetores. A pronta remoção e o destino adequado dos

dejetos e camas sujas são medidas vitais para eliminação dos habitats de reprodução dos

vetores (SMITH, 1993; SANTURIO; CANTO, 2007).

Page 59: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

57

Figura 9: Mesma lesão mostrada na Figura 7, após lavagem e tricotomia (A) e 45 dias após a cirurgia (B). Fonte: RIBEIRAL, 2006.

Em geral, o prognóstico para a resolução das lesões individuais é bom, se forem

atingidos os ideais terapêuticos. Os proprietários deverão estar cientes da possibilidade

de recidiva, caso não sejam praticados de modo efetivo os cuidados com as feridas e o

controle das moscas (SMITH, 1993).

2.7.3 Ferida Lacerante

Estes ferimentos geralmente são provocados por objetos irregulares, como arame

farpado, objetos fixos de metal, chifres e mordidas (ADAMS; STASHAK, 1994).

O cavalo, mais que outras espécies animais, precisa de cuidados adequados no

tratamento dos ferimentos. Um tratamento errôneo resulta em granulação exuberante,

cicatrizes excessivas, defeitos e, algumas vezes, perda da perfeita condição física. Os

ferimentos abaixo do carpo e tarso exigem tratamento cuidadoso para evitar

complicações (ADAMS; STASHAK, 1994).

A hemorragia deve ser controlada por ligação e/ou torção dos vasos e a ferida

deve ser completamente limpa. Após a tosa rente da área adequada, os pêlos das bordas

da ferida devem ser raspados até pelo menos 1 cm de distância da borda da ferida. Após

a raspagem, as bordas da ferida devem ser esfregadas com anti-sépticos e enxaguadas

com uma solução balanceada de eletrólitos. Pode-se utilizar um anestésico local para

Page 60: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

58

insensibilizar o ferimento. A face distal da ferida necessita de muito pouco anestésico

local, devido à sua inervação rompida. A face proximal, entretanto é bastante sensível.

Além da anestesia local, o cavalo pode ser tranquilizado para facilitar o tratamento. Em

alguns casos pode ser necessário a anestesia geral, alternativamente (ADAMS;

STASHAK, 1994).

O debridamento de todos os ferimentos deve ser feito cuidadosa e

completamente. Toda a sujeira, pêlos e tecidos obviamente isolados da irrigação

sanguínea devem ser removidos do ferimento. Recomenda-se que seja utilizada uma

solução eletrolítica balanceada para lavar o ferimento. A ferida deve ser completamente

limpa, utilizando-se esponjas de gaze estéril, até que uma superfície saudável esteja

presente. As feridas podem também ser completamente lavadas com solução contendo

1% de povidona-iodo. Estas soluções podem também ser usadas sob pressão, para uma

limpeza mais completa. Em todos os casos, deve-se tomar cuidado para evitar o

aumento de contaminação da ferida, de modo que são utilizadas luvas cirúrgicas.

Antibióticos locais, como a penicilina utilizada para injeções intramusculares, podem

ser colocados em um ferimento ou injetados nos tecidos em torno do mesmo. Uma

melhor escolha são os antibióticos hidrossolúveis (ADAMS; STASHAK, 1994).

Qualquer ferimento incisado ou lacerado recente que permita sutura deve ser

suturado. Isto é especialmente verdadeiro se o ferimento está localizado abaixo do carpo

ou tarso. Os ferimentos recentes normalmente demonstram qualidades notáveis de

cicatrização se forem adequadamente debridados e suturados. No entanto, isto significa

que a ferida deve ser manejada adequadamente. As camadas profundas devem ser

suturadas com sutura sintética absorvível, enquanto que a pele deve ser suturada com

uma sutura não-capilar e não-absorvível. Geralmente, as suturas não-absorvíveis não

devem ser escondidas. Em áreas de tensão cutânea considerável, as linhas de sutura

podem ser reforçadas com suturas tipo “quill” (de colchoeiro). A pele normalmente se

rompe em “flaps” de formato triangular. Se o ápice do triângulo aponta na direção do

suprimento sanguíneo, a ponta do “flap” é muitas vezes perdida. No entanto, vale a pena

suturá-lo para minimizar a perda da pele. Os anestésicos locais que contém adrenalina

não devem ser utilizados para anestesiar um ferimento com “flap” de pele abaixo do

carpo ou do jarrete. A circulação destas regiões está, muitas vezes, no limite e a

adrenalina pode causar necrose (ADAMS; STASHAK, 1994).

Page 61: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

59

Se for evidente que vai ocorrer à formação de uma bolsa no ferimento,

permitindo a acumulação de secreções, deve ser estabelecida uma drenagem ventral.

Sempre que houver dúvidas quanto à drenagem apropriada ou surja à possibilidade de

contaminação levando à infecção e drenagem, deve-se utilizar um dreno Penrose ou um

dreno de sucção. Ferimentos grandes, que exigem sutura em uma área difícil de ser

drenada, podem ser drenados utilizando-se um aparelho de sucção. Alguns ferimentos

realmente necessitam desta drenagem, mas ainda assim, devem ser suturados. Se não for

possível suturar-se um ferimento porque a superfície da pele foi arrancada ou por que a

duração do inchaço não permite a aposição, são recomendados o debridamento e

colocação de faixas de contrapressão com a medicação tópica adequada. A faixa de

contrapressão ajuda a manter as bordas da ferida em aposição; deve ser utilizada até que

o ferimento esteja praticamente cicatrizado, especialmente em ferimentos abaixo do

carpo ou tarso. Se for retirada a pressão, há uma tendência para o desenvolvimento de

tecido de granulação exuberante. Os curativos devem ser trocados com frequência

suficiente para que o exsudato não se acumule e irrite a área do ferimento (ADAMS;

STASHAK, 1994).

Os ferimentos, que algumas vezes não são práticos de suturar-se, como os na

parte superior do antebraço, podem ser tratados muito bem raspando-se os pêlos,

limpando-se a ferida e aplicando-se diariamente uma pomada cicatrizante que não

contenha substâncias irritantes (ADAMS; STASHAK, 1994).

2.7.4 Ferida Perfurante

Estes ferimentos são provocados por objetos pontiagudos cujo comprimento

excede o diâmetro, sendo caracterizados por pequenas perfurações superficiais com

quantidade considerável de lesão profunda. Muitas vezes são provocados por mordidas,

chifradas, perfurações com pregos (ADAMS; STASHAK, 1994), bala ou ponta de faca

(TAZIMA; VICENTE; MORIYA, 2008).

Segundo Adams e Stashak (1994), os ferimentos perfurantes são ainda

classificados como:

1. Penetrantes: adentram uma cavidade corpórea.

2. Perfurantes: adentram uma cavidade corpórea e a atravessam.

3. Furos: penetram apenas nos tecidos.

Page 62: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

60

Os ferimentos perfurantes são perigosos nos cavalos, pois podem levar ao edema

maligno, celulite ou tétano. Este tipo de ferimento pode penetrar uma bainha tendínea

ou cápsula articular. A ferida deve ser enxaguada diariamente com soluções

antibióticas, como a penicilina (ADAMS; STASHAK, 1994).

Ribeiro (1999) relatou que feridas perfurantes nos cascos são as causas mais

comuns de claudicação nos cavalos e que o resultado destas feridas são abcessos

soleares, recomendando a abertura da sola com uma rineta para drenagem. Caso não

ocorra essa drenagem em quatro dias, recomenda a aplicação de uma pasta de sulfato de

magnésio colocada com uma bandagem no casco. Após 12 horas a ferida deve ser

reavaliada, caso ainda esteja drenando, deve ser aberta uma área maior na sola. Esta

abertura do ferimento deve ser adequadamente limpa e os pêlos raspados de acordo com

Adams e Stashak (1994) e aplicado bactericida e bandagem (RIBEIRO, 1999).

De acordo com Ribeiro (1999) as feridas penetrantes nos cascos classificam-se

em: superficiais quando penetram o tecido córneo mais não invadem o corium, e

profundas que são subdivididas em Tipo I, II e III. As feridas do Tipo I penetram apenas

no corium solear, do Tipo II penetram profundamente no corium da ranilha e barras e a

do Tipo III é as que abscedam na banda coronária. O tratamento cirúrgico das feridas

superficiais inclui a remoção do tecido córneo afetado com uma rineta, colocação de

tintura de iodo a 2% e proteção com bandagem. Nos casos das feridas profundas, o

autor preconiza preparar o casco para um debridamento cirúrgico asséptico com

colocação de torniquete, e caso tenha aumento de volume no membro, é indicado iniciar

tratamento com antibiótico sistêmico e aplicação de compressas duas vezes ao dia.

Um ferimento perfurante no antebraço, ou acima do jarrete, muitas vezes faz

com que a porção distal do membro fique aumentada pelo edema. Este edema pode ser

devido aos efeitos gravitacionais da inflamação ou a uma celulite em desenvolvimento.

Se o inchaço é devido aos efeitos gravitacionais, devem ser colocadas faixas de

contrapressão. Isto pode ser feito com bandagens elásticas e fita elástica ou por uma

faixa Robert Jones. Uma cataplasma, pasta antiflogística ou unguento de sulfóxido de

dimetila e furacin podem ser colocados sob as faixas. Os agentes antiinflamatórios não

esteroidais são indicados. A medicação antibiótica parenteral e local deve ser

continuada até que o ferimento esteja em cicatrização evidente. Algumas vezes é

necessário estabelecer-se drenagem ventral (ADAMS; STASHAK, 1994).

Page 63: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

61

As radiografias não revelam corpos estranhos de madeira e outros materiais

moles. No entanto, a sinografia de contraste ou uma fistulografia podem delinear estes

objetos (ADAMS; STASHAK, 1994).

2.7.5 Ferida Granulomatosa

Tecido de granulação é o crescimento de pequenos vasos sanguíneos e de tecido

conectivo para preencher feridas de espessura total (GOMES; COSTA; MARIANO,

2005), produzido três a quatro dias após a lesão (NETO, 2003). O tecido é saudável

quando é brilhante, vermelho vivo, lustroso e granular com aparência aveludada.

Quando o suprimento vascular é pobre, o tecido apresenta-se de coloração rosa pálido

ou esbranquiçado para o vermelho opaco (GOMES; COSTA; MARIANO, 2005).

O tecido de granulação exuberante ocorre em equinos devido a diversas causas,

sendo frequentemente observado em feridas localizadas nos membros dos animais

(HUSSNI et al., 2003). Os tratamentos utilizados na tentativa de reduzir o tecido de

granulação exuberante incluem excisão cirúrgica, cauterização seguida de imobilização

com bandagens, ou uso de medicamentos, como corticosteróides, drogas adstringentes e

citotóxicas (FRETZ et. al., 1983).

Na maioria dos casos a perda de tecido nas feridas de membros é significativa e,

em razão da pouca elasticidade cutânea na região, não se consegue a redução e

cicatrização por primeira intenção. Nestes casos deve ser estimulada a granulação para

preencher as perdas de tecido e cicatrização por segunda intenção (RAISER, 1995b).

Para estimular a formação do tecido de granulação e evitar contaminação tem

sido recomendado o uso de bandagem não aderente. Para tanto, após debridamento e

limpeza com solução salina, aplicar gaze embebida em solução de nitrofurazona

(Furacin®) e/ou óleo de fígado de bacalhau acolchoando com bandagem firme

(RAISER, 1995b).

Feridas infectadas são melhor tratadas com açúcar granulado que é bactericida e

excelente estimulador da granulação (RAISER, 1995b).

O uso de bandagem logo após o debridamento confere proteção à contaminação,

absorve os exsudatos e contribui para reduzir o edema. No início da granulação a

bandagem úmida, não aderente, favorece a migração epitelial sobre o leito em

granulação (RAISER, 1995b).

Page 64: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

62

Na primeira e segunda semanas as feridas de extremidades distais aumentam de

tamanho possivelmente em decorrência de forças de tensão que retraem a pele ao

contrário do que ocorre em outras áreas do corpo. As feridas localizadas mais

distalmente, como na superfície dorsal do metacarpo ou metatarso estão mais

predispostas à granulação excessiva (RAISER, 1995b).

Feridas retangulares cicatrizam em um período de tempo 30% menor que

aquelas arredondadas de mesmo tamanho. Assim, quando determinado ferimento for

estimulado a cicatrizar por contração, deve-se procurar dar-lhe forma retangular ao fazer

o debridamento e orientação para regeneração (RAISER, 1995b).

O tecido de granulação excessivo evita a reepitelização da ferida e retarda a

cicatrização. Fundamentalmente fatores que causem umidade, aquecimento excessivo

na ferida induzem granulação exuberante. Por outro lado, mínima mobilidade na ferida,

compressão, alta tensão de oxigênio e exposição ao ar ambiente oferecem menor

possibilidade de granulação excessiva (RAISER, 1995b). Na parte distal dos membros o

excesso deste tecido resulta em uma deformidade grave e o mesmo deve ser removido

até que se aproxime do nível da pele circundante (TURNER; McILWRAITH, 2002).

Existem diferentes maneiras de remover ou inibir a formação excessiva do

tecido de granulação: excisão cirúrgica, cauterização química, corticosteróide tópico,

imobilização e adaptação de enxerto de pele (RAISER, 1995b).

A excisão cirúrgica é o método mais simples e efetivo para controlar a

granulação excessiva. Deve ser feita de modo a preservar a margem epidermal para que

a cicatrização prossiga. A hemorragia difusa deve ser controlada com bandagem

compressiva. Até a cicatrização definitiva podem ser necessárias de duas a três

intervenções (RAISER, 1995b).

Substâncias cáusticas como nitrato de prata, permanganato de potássio

hipersaturado e sulfato de cobre têm sido utilizados para induzir necrose e diminuição

do tecido de granulação. Lembrar que estes cáusticos causam toxicidade também ao

epitélio. Assim, quando de sua aplicação, as bordas da ferida devem ser protegidas

(RAISER, 1995b).

A imobilização da região do ferimento só terá utilidade se o movimento de

bordas for fator irritante (RAISER, 1995b).

Tanto o uso tópico de corticosteróide como a terapia por irradiação têm sua

indicação baseada na inibição da divisão celular e da proliferação excessiva de

Page 65: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

63

fibroblastos. Na prática o uso tópico de corticosteróide não tem vantagem comprovada e

as radiações (ultra-violeta, cobalto) têm custo muito elevado (RAISER, 1995b).

Quando a ferida for muito extensa o processo de contração será prolongado e

não será suficiente para permitir reparação cutânea. Neste caso deve ser considerada a

possibilidade de transplantação de pele para recobrir o tecido de granulação (RAISER,

1995b).

Para que se obtenha sucesso na transplantação é fundamental a preparação de

um leito adequado para receber o enxerto ou retalho. Para tanto deve ser debelada a

eventual presença de infecção. Nesses casos e naqueles em que houver abundante perda

de tecido com exposição de osso, tendão ou fáscia (tecidos pobremente vascularizados),

o resultado será melhor se primeiro for estimulada a formação de um leito de

granulação. A enxertia pode ser efetuada diretamente nas feridas em que o

debridamento e a excisão de tecidos desvitalizados ofereça um leito vascularizado, sem

edema, exsudato ou infecção. As feridas com tecido de granulação crônico devem ser

reavivados para o restabelecimento de um tecido saudável ricamente vascularizado

(RAISER, 1995b).

Page 66: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

64

3. MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado um levantamento da casuística de feridas em equinos atendidos no

Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, em Patos – PB,

através da consulta aos prontuários do arquivo do HV, correspondente aos atendimentos

nos anos de 2006 a 2010, para definir quais os tipos de feridas mais comuns nesta

espécie.

Os dados obtidos foram compilados e discutidos frente aos obtidos na literatura

disponível na biblioteca do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da UFCG, bem como

em sites especializados, acerca do tema proposto.

Page 67: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

65

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o levantamento das fichas clínicas realizado no Hospital

Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande (HV/UFCG), Campus de

Patos – PB, nos anos de 2006 a 2010 os cinco tipos de feridas cutâneas mais frequentes

em equinos foram Pitiose (37%), Habronemose (13%), Ferida lacerante (30%), Ferida

perfurante (10%) e Ferida granulomatosa (10%) (Figura 10).

Figura 10 – Casuística de feridas cutâneas em equinos, de acordo com o tipo, atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010. Fonte: PESSOAL.

Pitiose

A pitiose equina é uma doença que pode estar presente em todas as regiões do

Brasil, principalmente em regiões com baixadas, sujeitas a alagamentos. Esta condição é

comumente observada em pequenas ou grandes áreas de inúmeras propriedades do

nosso país durante o período chuvoso (MACIEL et al., 2008). Os animais acometidos

de pitiose atendidos no HV/UFCG, no período compreendido entre os anos de 2006 e

2010, também eram provenientes de uma pastagem com essas características, apesar de

localizada em uma região semi-árida do país.

Na maioria dos animais que apresentaram pitiose, observou-se que o

aparecimento da doença coincidiu com épocas de maior precipitação pluviométrica e a

37%

13%

30%

10%

10%

Tipos de feridas cutâneas em equinos

Pitiose

Habronemose

Ferida Lacerante

Ferida Perfurante

Ferida Granulomatosa

Page 68: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

66

consequente formação de águas paradas. A maior parte dos 32 animais acometidos

durante o período estudado não tinha raça definida (SRD) e alguns eram da raça Quarto

de Milha e Inglês, observando-se que não houve predisposição de sexo ou idade (Tabela

1), sendo a forma clínica mais comum a cutânea, o que está de acordo com Riet-Correa

et al. (2007).

Tabela 1 – Casuística de pitiose em equinos, segundo raça, sexo, idade, época de

ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010.

Raça Sexo Idade Época de ocorrência

Evolução

SRD M 1 ano e 6 meses Dezembro Óbito Quarto de Milha M 7 meses Maio Cura

SRD F 2 anos Outubro ─ SRD F 6 anos ─ ─ SRD M 1 ano e 6 meses Março Cura SRD F ─ Maio Óbito SRD M 12 anos Maio ─ Inglês F 5 anos Abril Cura

Manga Larga F 8 anos Novembro Cura SRD F 2 anos Junho ─ SRD M 5 anos Dezembro Óbito SRD F 10 anos Novembro Óbito

Quarto de Milha M 8 anos Setembro ─ SRD F 6 anos Agosto Cura SRD F 6 anos Julho ─ SRD F 4 anos Maio ─ SRD F 7 meses Julho Cura SRD F 3 anos Julho Cura SRD F 5 anos Abril Cura SRD F 7 anos Julho Cura SRD M 2 anos e 3 meses Março Cura SRD F 10 anos Maio Cura

Quarto de Milha F 11 anos Setembro Cura Quarto de Milha M 3 anos Abril Cura

SRD F 4 anos Maio Cura SRD M 6 anos Novembro ─ SRD M 5 anos Julho ─

Quarto de Milha F 6 anos Janeiro Cura SRD M 2 anos e 6 meses Maio ─ SRD F 7 anos Agosto Cura

Mestiço de Inglês Mestiço

F M

7 anos 5 anos

Maio Setembro

─ Cura

SRD – Sem raça definida M – macho; F - fêmea

Page 69: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

67

Em todos os casos de pitiose, foram observados granulomas ulcerados com

abundante secreção serossanguinolenta, prurido intenso e presença de “kunkers”, de

forma semelhante aos relatos da literatura.

Como tratamento da pitiose, segundo os dados levantados realizou-se a

intervenção cirúrgica realizada em 81% dos casos (Figura 11). A ressecção sempre foi

realizada abrangendo-se toda a lesão, com uma margem de segurança para evitar as

recidivas, conforme sugerido por Santurio et al. (2006) e Dória, (2009). Os demais

casos (19%) foram tratados realizando inicialmente limpeza com água corrente e

clorexidina degermante, seguida de curetagem quando necessário e aplicação de pasta

de sulfato de cobre (CuSO4) associada com açúcar granulado em quantidade que

recobrisse a ferida, seguida de bandagem compressiva.

Figura 11 – Proporção do número de casos de pitiose

equina tratados cirurgicamente e não-cirurgicamente. Fonte: PESSOAL.

Após excisão cirúrgica, a limpeza com água corrente e clorexidina degermante,

tratamento antisséptico pós-operatório empregado nos casos ocorridos no HV/UFCG,

segundo o levantamento realizado, foram eficientes para a redução do número de

bactérias, bem como para a remoção de tecido desvitalizado, uma vez que a clorexidina

possui atividade residual prolongada e ação satisfatória na presença de matéria orgânica,

conforme citado por Slatter (2007).

Na literatura encontram-se diversos fármacos propostos para o tratamento da

pitiose como, por exemplo, a anfotericina, descrita por Radostits et al. (2000) como

propiciadora de bons resultados, quando associada à excisão cirúrgica. Após a excisão

cirúrgica, os medicamentos mais utilizados de acordo com o levantamento deste

81%

19%

Tratamento da Pitiose

Cirúrgico

Não-cirúrgico

Page 70: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

68

trabalho foram Penicilina, Monofenilbutazona e Flunixin Meglumine. A penicilina foi

prescrita para prevenir as infecções secundárias (MACIEL et al., 2008) e os AINE´s

como analgésicos. Também era administrado soro antitetânico, como prevenção ao

tétano, já que as feridas eram deixadas a cicatrizar por segunda intenção.

Maciel et al. (2008) afirmam que a ressecção cirúrgica total do granuloma

combinada com imunoterapia específica para P. insidiosum, é o tratamento mais

indicado para cura de pitiose clínica em equinos, o que não é realizado no HV/UFCG.

Faz-se uso de curetagem quando necessário e aplicação de pomada cicatrizante e

antiinfecciosa (nitrofurazona) associada com açúcar granulado em quantidade que

recubra a ferida, que é em seguida coberta com gaze e bandagem compressiva. Esta,

utilizada para reduzir o fluxo sanguíneo, promover a estase e ajudar na aproximação das

extremidades da lesão (GOMES; COSTA; MARIANO, 2005), controlando também a

hemorragia, evitando a formação de edemas, obliterando espaços mortos e impedindo a

formação excessiva do tecido de granulação (SLATTER, 1998). Após a bandagem,

opta-se por colocação de spray ou unguento repelente e cicatrizante.

A cicatrização ocorre por segunda intenção, onde o ferimento preenche-se com

tecido de granulação e a pele restabelece continuidade pela epitelização e/ou pela

contração do ferimento, o que resulta numa diminuição do tamanho da ferida aberta,

conforme relatado por Pope (1996) e Probst (1998). Se existir um excesso de

granulação, ela é removida até que se aproxime do nível da pele circundante, para não

haver deformidade grave (TURNER; McILWRAITH, 2002). A presença crescente de

tecido de granulação é interessante, devido ao fato deste possuir grande quantidade de

fibroblastos que sintetizam o colágeno necessário para o processo de reepitelização.

A recorrência é um achado comum, especialmente quando o tecido

comprometido não foi totalmente removido. Apesar da taxa de recidiva ser

relativamente alta (DÓRIA, 2009), foram observados apenas dois casos nos equinos

tratados cirurgicamente, no presente levantamento.

Habronemose Cutânea

Apenas animais sem raça definida (SRD) e da raça Quarto de Milha foram

diagnosticados com Habronemose (Tabela 2), observando-se que não houve

predisposição de sexo, idade e época de ocorrência, sendo a forma clínica mais comum

a conjuntival, o que está de acordo com o referido por Meldau (2010).

Page 71: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

69

Tabela 2 – Casuística de habronemose cutânea em equinos, segundo raça, sexo, idade, época de ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010.

Raça Sexo Idade Época de

ocorrência Evolução

Quarto de Milha M 8 anos Março Cura SRD M 5 anos Setembro Cura SRD M 5 anos e 2 meses Fevereiro Cura SRD F 4 anos Fevereiro Cura SRD F 4 anos Março Cura

Quarto de Milha F 6 anos e 5 meses Janeiro ─ SRD M 8 anos Novembro Cura SRD F 1 ano e 6 meses Novembro Cura SRD F 2 anos e 6 meses Maio Cura SRD SRD

F M

2 anos e 6 meses 10 anos

Abril Outubro

Cura ─

M – macho; F - fêmea SRD – Sem raça definida

Segundo Blood (1983), Radostits et al. (2000) e Meldau (2010) a habronemose

conjuntival ou ocular tem ocorrência bastante comum e o local de maior frequência da

lesão é no canto medial do olho. Dos 11 casos descritos de habronemose, nove

apresentavam a forma conjuntival no canto medial do olho, sendo que dois destes

concomitantemente apresentavam habronemose cutânea. Foram detectados pequenos

nódulos não ulcerados nas feridas do canto medial dos olhos e o animal lacrimejava

excessivamente, conforme citado por Radostits et al. (2000).

Segundo Thomassian (1997), o tratamento cirúrgico é indicado quando as

feridas são muito extensas e quando estão causando transtornos estéticos. Em 45% dos

animais atendidos com habronemose no HV/UFCG, nos anos de 2006 a 2010, o

tratamento cirúrgico foi empregado (Figura 12).

Page 72: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

70

Figura 12 – Proporção do número de casos de Habronemose equina tratados cirurgicamente e não-cirurgicamente. Fonte: PESSOAL.

Smith (1993) afirma que o tratamento da habronemose cutânea visa reduzir as

dimensões das lesões e a inflamação associada às mesmas; eliminar o parasita adulto do

estômago e reduzir a população de vetores.

Nos casos levantados, a ressecção do tecido de granulação foi feita desviando-se

dos principais vasos encontrados na região, como forma a reduzir o sangramento. Em

alguns casos a hemostasia foi realizada por cauterização térmica, conforme recomenda

Aiello (2001).

O curativo após a cirurgia foi realizado com limpeza diária da ferida utilizando

solução de clorexidina degermante e água corrente, associada à aplicação tópica de uma

pasta contendo nitrofurazona e triclorfon (Neguvon®)¹, estes últimos servindo

respectivamente como bacteriostático e parasiticida. Diariamente o tecido necrótico

residual era removido. Em alguns casos fez-se uso também do açúcar granulado, devido

ao seu poder bactericida que, por sua vez, acelera o processo de granulação, diminui o

edema local, melhora a oxigenação e irrigação da ferida, debrida os tecidos mortos e

desvitalizados, não provoca reação alérgica, é indolor e de baixo custo (COELHO,

2002; RAISER, 1995b).

Os animais foram vermifugados com ivermectina por via enteral ou parenteral.

Desta forma, o tratamento citado por Smith (1993) torna-se viável pela fácil via de

administração, baixo custo e êxito obtido.

¹Neguvon® - Laboratório Bayer

45%

55%

Tratamento da Habronemose

Cirúrgico

Não-cirúrgico

Page 73: PB CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA - UFCG

71

Quando necessário, fez-se uso de curetagem das feridas e bandagem, esta

realizada com uma faixa de algodão e atadura, que, de acordo com Smith (1993), evita a

reinfecção das lesões, sendo importante fazer curativos e dar proteção às feridas

existentes. Para o controle de vetores foi realizada a remoção diária do esterco e

sujidades das baias, depositando-os em locais fechados.

Nos casos de habronemose conjuntival foi feito apenas limpeza ocular com

solução de NaCl a 0,9%, pois não havia lesão ulcerativa apesar da eliminação constante

de secreção purulenta e do excessivo lacrimejamento, que de acordo com Radostits et

al. (2000), são sinais clínicos iniciais da conjuntivite parasitária provocada pela

Habronema spp. ou Draschia spp. Segundo Slatter (2007) poderia-se utilizar o líquido

de Dakin, desde que este seja diluído à metade da concentração usual, antes da

aplicação nas feridas.

Também foi aplicado repelente local para evitar que moscas se instalassem na

ferida e depositassem larvas, de acordo com a orientação de Smith (1993).

No pós-operatório, os medicamentos mais utilizados foram Penicilina,

Monofenilbutazona e Flunixin Meglumine, além de soro antitetânico. Tal prescrição

visava reduzir o risco de infecções secundárias e reduzir a inflamação e a dor, bem

como prevenir o tétano.

Ferida lacerante

Foram verificadas 21 ocorrências de feridas lacerantes em equinos, durante o

período levantado. A maioria dos animais não tinha raça definida (SRD) e a minoria era

da raça Quarto de Milha, não havendo predisposição de sexo, idade e época de

ocorrência (Tabela 3). Também foi observado que a maior parte dos ferimentos foi

provocada por objetos cortantes, como arame farpado e chifrada, o que corrobora

Adams e Stashak (1994).

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Tabela 3 – Casuística de feridas lacerantes em equinos, segundo raça, sexo, idade, época

de ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010.

Raça Sexo Idade Época de

ocorrência Evolução

SRD M 14 anos Abril Cura SRD M ─ Maio Cura SRD F 3 anos e 6 meses Setembro Cura SRD F 9 anos Março Cura

Quarto de Milha F 10 anos Dezembro ─ SRD F 3 anos Novembro ─ SRD F 3 anos Agosto ─ SRD F 1 ano e 1 mês Fevereiro ─

─ M 8 anos Julho Cura SRD M 1 anos e 7 meses Janeiro Cura SRD M 8 anos Setembro Cura

Quarto de Milha M 6 anos ─ Cura SRD M 3 anos Outubro Cura SRD F 7 anos Setembro Cura SRD F 5 anos Abril Cura SRD M 6 anos Junho ─

Quarto de Milha F 2 anos e 4 meses Setembro Cura Apaloosa F 8 meses Maio Cura

SRD F 2 anos Abril ─ SRD SRD

F F

8 anos 13 anos

Janeiro Fevereiro

─ ─

SRD – Sem raça definida M – macho; F - fêmea

Nas feridas lacerantes a hemorragia normalmente não é intensa, a menos que

tenha sido aberto um grande vaso, devendo ser controlada por ligação e/ou torção dos

vasos (ADAMS; STASHAK, 1994), fato este não observado nos casos clínicos objeto

deste levantamento.

As feridas foram limpas realizando primeiramente a raspagem dos pêlos de suas

bordas, seguida da lavagem com água corrente e clorexidina degermante, a qual possui

amplo espectro antibacteriano, baixa toxidade e atividade residual, sendo mais indicada

que a iodopovidona, que possui atividade residual limitada em decorrência da inativação

do iodo livre pela matéria orgânica presente na ferida, além de poder ser lesiva aos

tecidos (SLATTER, 2007).

A maioria das lacerações não pôde ser suturada, pois já havia-se ultrapassado o

período de seis horas de sua ocorrência até a chegada ao HV/UFCG, estando, portanto

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contaminadas. Nestes casos, utilizou-se Penicilina e Monofenilbutazona ou Flunixin

Meglumine, a primeira como agente bactericida e os demais como terapia antiflogística

e analgésica; associados à limpeza da ferida.

Três dos casos ocorridos foram tratados cirurgicamente, extirpando-se o tecido

de granulação excessivo. As demais feridas, que já tinham mais de cinco dias de

evolução, com os bordos das feridas já afastados pela perda tecidual, foram tratadas por

segunda intenção, conforme cita Harari (1999) (Tabela 4).

Tabela 4 – Casuística de feridas lacerantes em equinos, segundo raça, sexo, idade da lesão e tratamento realizado, atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010.

Raça Sexo Idade da lesão Tratamento SRD M 1 dia Não-cirúrgico SRD M 5 dias Não-cirúrgico SRD F 5 dias Não-cirúrgico SRD F 15 dias Não-cirúrgico

Quarto de Milha F 1 dia Não-cirúrgico SRD F 15 dias Não-cirúrgico SRD F 10 dias Não-cirúrgico SRD F ─ Não-cirúrgico

─ M ─ Não-cirúrgico SRD M 5 dias Cirúrgico SRD M 6 meses Não-cirúrgico

Quarto de Milha M 3 dias Não-cirúrgico SRD M 1 semana Não-cirúrgico SRD F 10 horas Não-cirúrgico SRD F 10 dias Não-cirúrgico SRD M ─ Não-cirúrgico

Quarto de Milha F ─ Não-cirúrgico Apaloosa F 20 dias Cirúrgico

SRD F 8 dias Não-cirúrgico SRD SRD

F F

12 horas 7 horas

Não-cirúrgico Cirúrgico

SRD – Sem raça definida M – macho; F - fêmea

Outra forma de tratamento aplicada em feridas laceradas foi o debridamento,

processo que remove o tecido desvitalizado impedindo a decomposição e o aumento do

crescimento bacteriano (SLATTER, 1998; BOJRAB, 1991). Desta forma, converte-se

um ferimento contaminado em um ferimento cirurgicamente limpo, contendo tecido

com irrigação sanguínea adequada para a cicatrização normal. Deve-se escolher a

melhor forma de debridamento para evitar o retardo na cicatrização e uma subsequente

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infecção. Após o processo de debridamento, fez-se uso de uma pasta de nitrofurazona

com açúcar granulado, associados à aplicação de sulfadiazina spray, esta com finalidade

repelente e cicatrizante. A maioria das feridas foi deixada sem ataduras, para melhor

ventilação e cicatrização conforme recomendado por Thomassian (1997). Em poucos

casos colocou-se bandagem compressiva, com finalidade hemostática, durante dois a

três dias. Em todos os casos administrou-se soro antitetânico como profilaxia do tétano.

Ferida perfurante

Dos equinos acometidos de feridas cutâneas, durante o período ao qual

correspondeu o presente levantamento, 11 ocorrências foram de feridas perfurantes.

Observou-se que não houve predisposição de raça, sexo, idade e época de ocorrência

(Tabela 5). A maioria dos ferimentos foi provocada por objetos pontiagudos, tais como

chifrada, vidro, projétil de arma de fogo, ponta de faca e madeira. Estes agentes

agressores implantam bactérias e sujidades no interior dos tecidos, o que, com a

evolução do processo, forma galerias, fístulas ou sinus (RAISER, 1995b;

THOMASSIAN, 1997).

Tabela 5 – Casuística de feridas perfurantes em equinos, segundo raça, sexo, idade, época de ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010.

Raça Sexo Idade Época de

ocorrência Evolução

Puro Sangue Inglês M 2 anos e 6 meses Março ─ SRD F 1 ano Outubro Cura SRD F ─ Junho Cura SRD F 3 anos Junho Cura SRD M 2 anos Junho Cura

Quarto de Milha F 3 anos Agosto Cura Paint Horse F 3 anos e 6 meses ─ ─

SRD F 6 anos Junho Óbito SRD M 6 anos Maio ─

Mangalarga SRD

F F

2 anos 11 meses

Janeiro Fevereiro

Óbito Cura

M – macho; F - fêmea SRD – Sem raça definida

As feridas perfurantes apresentaram edema e secreção purulenta. Devido a isto, à

profundidade dos traumas e por terem sido ocasionadas havia mais de seis horas, as

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feridas foram tratadas por cicatrização por segunda intenção, conforme recomendado

por Turner e McIlwraith (2002). Após a limpeza e antissepsia da ferida com água

corrente e solução de clorexidina degermante, aplicou-se pasta de nitrofurazona mais

açúcar tratamento este realizado até a completa cicatrização. Administraram-se ainda

antibióticos de amplo espectro de ação, comumente bactericidas, e AINES,

especialmente com atividade antiinflamatória e antipirética, minimizando as infecções

bacterianas secundárias e a dor. Em alguns casos utilizou-se ainda água oxigenada para

limpeza da ferida e soro antitetânico, como prevenção do tétano.

Os ferimentos perfurantes, em geral, foram mais graves quando ocasionados por

projéteis de arma de fogo, os quais se inclinam em sua trajetória pelo tecido quando o

projétil se fragmenta. O processo de rolamento do projétil aumenta significativamente

sua capacidade destrutiva, pois na medida em que este se move dentro do corpo, dá-se

um aumento efetivo do diâmetro da lesão. Isso explica porque um pequeno ferimento na

entrada do projétil pode não revelar o significativo dano interno (ECHEVÉRRI, 1994).

Ferida granulomatosa

A ocorrência de feridas granulomatosas não seguiu um padrão definido,

distribuindo-se ao longo de todo o ano, sem predisposição de raça, sexo ou idade

(Tabela 6).

Tabela 6 – Casuística de feridas granulomatosas em equinos, segundo raça, sexo, idade,

época de ocorrência e evolução dos casos, atendida no Hospital Veterinário da UFCG / Campus de Patos – PB, no período de 2006 a 2010.

Raça Sexo Idade Época de

ocorrência Evolução

SRD F 2 anos Outubro ─ SRD F 10 anos Março Cura SRD M 10 anos Junho Cura

Quarto de Milha M 10 anos Março Cura SRD F 7 anos Abril Cura

Puro Sangue Inglês F 12 anos Janeiro Cura SRD M 11 anos Junho Cura

Quarto de Milha F 8 anos Setembro ─ SRD F 1 ano e 6 meses Agosto Cura SRD SRD

F F

2 anos 7meses

Julho Junho

Cura Cura

SRD – Sem raça definida M – macho; F - fêmea

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De acordo com o levantamento realizado, observou-se que a maioria dos

ferimentos granulomatosos foram provocados por objetos cortantes, especialmente por

arame farpado. Os ferimentos apresentavam-se sujos e com secreção

serossanguinolenta.

A presença crescente de tecido de granulação é interessante, devido ao fato deste

possuir grande quantidade de fibroblastos que sintetizam o colágeno necessário para o

processo de reepitelização, conferindo capacidade contrátil e reduzindo a área cruenta

(BLANES, 2004). A reação inflamatória ocorre com maior intensidade nos primeiros

dias após a lesão estando presente acentuadamente até a primeira semana, tendendo a

diminuir com o passar dos dias (HOSGOOD, 2007).

Embora o tecido de granulação seja fundamental para o processo de cicatrização,

quando encontrado em excesso nas partes distais dos membros dos equinos, evita a

reepitelização da ferida retardando a cicatrização, devendo ser removido até que se

aproxime do nível da pele, conforme proposto por Turner e McIlwraith (2002).

Em todos os casos verificados no presente levantamento, realizou-se a excisão

cirúrgica do tecido de granulação, seguida da cauterização térmica e, quando possível,

imobilização das feridas com bandagens compressivas. Em alguns casos empregaram-se

ataduras úmidas nas feridas, as quais auxiliam no debridamento por meio de liquefação

do coágulo e absorção de resíduos necrosados, enquanto deixa o tecido viável intacto

conforme relatado por Fossum (2005). Em outros casos foi utilizado também o

policresuleno (Albocresil®)², como auxiliar na remoção dos debris e da granulação

excessiva, promovendo o debridamento químico, além de apresentar ação contra germes

e contra sangramentos locais, de acordo com Raiser (1995b).

Na maioria dos casos, a perda de tecido foi significativa, em razão da pouca

elasticidade cutânea da região cárpica e társica. Nestes casos, foi estimulada a formação

de tecido de granulação para preencher as perdas de tecido com aplicação de pasta de

nitrofurazona com açúcar granulado, seguindo a orientação de Raiser (1995b).

Também foi realizada antibioticoterapia com penicilina, administrada pela via

intramuscular, e analgesia, administrando fármacos do grupo dos antiinflamatórios não

esteroidais, como flunixin meglumine, monofenilbutazona e fenilbutazona. Utilizou-se

ainda soro antitetânico como prevenção do tétano.

²Albocresil – Laboratório Altana Pharma Ltda.

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77

5. CONCLUSÕES

- A incidência de lesões cutâneas na espécie equina na rotina do Hospital

Veterinário da UFCG/Campus de Patos – PB é elevada;

- Protocolos baseados na higiene diária, com limpeza das feridas, remoção do

tecido necrosado, proteção e hidratação são efetivos na maioria dos casos, com exceção

das neoplasias;

- A orientação técnica de pessoal treinado para realizar os curativos diariamente

é essencial para o sucesso do tratamento, especialmente em feridas nos membros, cuja

cicatrização é mais lenta, devido a fatores como maior facilidade de contato com

sujidades, pouco tecido e menor vascularização.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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