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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO UNISAL CAMPUS MARIA AUXILIADORA Ester Costa de Oliveira Dias PASTORAL DA CRIANÇA: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA E suas Intervenções no Bairro Cidade Satélite Íris I em Campinas Americana SP 2016
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PASTORAL DA CRIANÇA: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO ...§ão_Ester... · a importância de lutar sempre por um sonho. ... ECA Estatuto da Criança e do Adolescente ... E qual o papel

Feb 07, 2019

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

UNISAL – CAMPUS MARIA AUXILIADORA

Ester Costa de Oliveira Dias

PASTORAL DA CRIANÇA: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA

E suas Intervenções no Bairro Cidade Satélite Íris I em Campinas

Americana SP 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

UNISAL – CAMPUS MARIA AUXILIADORA

Ester Costa de Oliveira Dias

PASTORAL DA CRIANÇA: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA

E suas Intervenções no Bairro Cidade Satélite Íris I em Campinas

Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção de grau de Mestre em Educação à Comissão Julgadora do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, sob a orientação do Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro.

Americana SP 2016

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D531p

Dias, Ester Costa de Oliveira.

Pastoral da criança: um olhar para a educação sociocomunitária

e suas intervenções no bairro cidade Satélite Íris I em Campinas / Ester Costa de Oliveira Dias. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2016.

121 f.

Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP.

Orientadora: Sueli Maria Pessagno Caro.

Inclui bibliografia.

1. Educação sociocomunitária. 2. Pastoral da criança. 3. Conscientização. 4. Transformação social. I. Dias, Ester Costa de Oliveira. II. Centro Universitário Salesiano de São Paulo. III. Título.

CDD 370.193

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ESTER COSTA DE OLIVEIRA DIAS

PASTORAL DA CRIANÇA: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA. E SUAS INTERVENÇÕES NO BAIRRO CIDADE SATÉLITE ÍRIS I EM CAMPINAS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Educação – área de concentração: Educação Sociocomunitária. Linha de pesquisa: A intervenção educativa sociocomunitária: linguagem, intersubjetividade e práxis. Orientadora: Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro

Dissertação defendida e aprovada em____/____/______, pela comissão julgadora: __________________________________________ Prof. Dr. Paulo Gomes Lima – Membro Externo Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – campus Sorocaba __________________________________________ Prof. Dr. Severino Antonio Moreira Barbosa – Membro Interno Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL

_________________________________________ Profa. Dra. Sueli Maria Pessagno Caro – Orientadora Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL

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Dedico este trabalho de pesquisa aos

educadores e voluntários com suas causas

sociais educativas e a todos aqueles que,

envolvidos em intervenções sociocomunitárias,

lutam e acreditam que é possível transformar

uma comunidade, chegando a uma sociedade

efetivamente mais justa, fraterna e igualitária.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus, que me ajudou a caminhar e realizar este trabalho.

Ao meu esposo Aguinaldo, que sempre me apoiou com muita paciência, nos

momentos das crises de ansiedade.

Aos meus filhos Matheus e Rebeca pelo incentivo para vencer mais esta etapa.

Ao meu pai José (in memoriam), por ter me ensinado os valores éticos e ressaltado

a importância de lutar sempre por um sonho.

À minha mãe Maria, pelas palavras de esperança e pelas orações em meu favor.

À Professora Doutora Sueli Maria Pessagno Caro, minha orientadora, que sempre

me atendeu com dedicação e carinho.

Aos professores doutores Severino Antonio Moreira Barbosa e Paulo Gomes Lima,

componentes da banca examinadora, pelas valiosas contribuições.

Aos professores do Programa de Mestrado em Educação Sociocomunitária, pelas

indicações de leituras, reflexões e seminários que valeram para todo este processo

de crescimento acadêmico.

Aos líderes da comunidade, voluntários da Pastoral da Criança, pela colaboração na

pesquisa.

À Vaníria Felippe Tozato, pela dedicação, por ser sempre prestativa no atendimento

aos alunos mestrandos.

Aos colegas do Mestrado, pelo carinho e incentivo nesta trajetória acadêmica,

especialmente à Rute Angelini e Nádia Rocha, com quem dividi dúvidas, certezas e

muitas experiências.

Aos meus familiares e amigos, pelo incentivo e compreensão de minhas ausências.

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RESUMO

Este estudo tem como objetivo conhecer e analisar as atividades da Pastoral da Criança desenvolvidas numa comunidade carente na região noroeste da cidade de Campinas, interior do Estado de São Paulo, mais especificamente, no bairro denominado Cidade Satélite Íris I. A relevância desta pesquisa está em mostrar como o diálogo é peça fundamental entre os líderes e famílias atendidas pela Pastoral da Criança. Para tanto, foi realizada uma pesquisa visando apresentar quem são os líderes da Pastoral que atuam neste local, que desenvolvem suas práticas educativas dentro dos conceitos da Educação Sociocomunitária e, igualmente, procuram promover condições de vida digna para às crianças de 0 a 6 anos e suas famílias. Ao analisar relatos de experiências, o intuito foi verificar como esse tipo de educação intervém na construção de conhecimento, conscientização e transformação social dessas famílias. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativa, alicerçada em fundamentação teórica específica sobre o tema em livros, documentos, banco de dados acadêmicos e com dados coletados em pesquisa de campo, por meio de observação in loco, entrevistas gravadas previamente roteirizadas e compostas de oito questões, bem como questionário com cinco questões abertas. A intenção de pesquisa foi confrontar os diálogos dos autores que contribuem para o enriquecimento da Educação Sociocomunitária com a prática de ação educativa da Pastoral da Criança. Como resultados obteve-se que a Pastoral da Criança, como agente social transformador, busca eficiência e eficácia na formação do sujeito, público-alvo de seu atendimento, com vistas a promover uma ação educativa sociocomunitária que o leve à conscientização de que é possível construir sua própria história e de modo mais significativo junto a sua comunidade.

Palavras-chaves: Educação Sociocomunitária; Pastoral da Criança; Conscientização; Transformação Social.

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ABSTRACT

This study aims to know and analyzed the activities of the Children's Pastoral developed in a poor community in the northwest of the city of Campinas, in the state of São Paulo, more specifically, in the neighborhood called Satellite City Iris I. The relevance of this research is show how dialogue is a key part of the leaders and families served by the Pastoral. To this end, a survey was carried out to show who are the leaders of the Ministry who work on this site, which develop their educational practices within the concepts of socio-communitarian education and also seek to promote dignified living conditions for children 0-6 years your families. By analyzing experience reports, the aim was to investigate how this type of education involved in the construction of knowledge, awareness and social transformation of these families. This is a qualitative nature of research, based on specific theoretical background on the subject in books, documents, academic database and data collected in the field of research, through on-site observation, recorded interviews previously scripted and composed of eight questions and questionnaire with five open questions. The aim of research was to compare the dialogues of the authors contributing to the enrichment of socio-communitarian education and practice of educational activities of the Pastoral. As a result was obtained that the Pastoral, as a transforming social agent, search efficiency and effectiveness in the formation of the subject, its service target audience, with a view to promoting socio-communitarian educational action that leads to the realization that it is possible to build its own history and more meaningfully with their community. Keywords: Education socio-communitarian; Pastoral of the Child; awareness; Social transformation.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Crenças........................................................................................... 17

Quadro 2 Sistematização sobre os Tipos de Educação................................. 36

Quadro 3 Educação Sociocomunitária e Alguns Conceitos........................... 50

Quadro 4 Educação Social e Alguns Conceitos............................................. 51

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Igreja Comunidade Dom Bosco – início da Pastoral da Criança no Jd. Cidade Satélite Íris I.....................................................................

53

Figura 2 Igreja São Judas Tadeu – Pastoral da Criança em atuação no momento............................................................................................

54

Figura 3 Entrada do bairro Cidade Satélite Íris I: rua é asfaltada no itinerário do ônibus...........................................................................................

57

Figura 4 Rua ainda não asfaltada: situação comum na maior parte do bairro 57

Figura 5 Fotografia de um Momento especial do diálogo entre Líder e Família...............................................................................................

79

Figura 6 Fotografia do Dia da Celebração da Vida......................................... 82

Figura 7 Fotografia de mais um Momento do Dia da Celebração da Vida...... 83

Figura 8 Olha a Pesagem!............................................................................... 84

Figura 9 Momento com alguns líderes da Igreja Comunidade Dom Bosco.... 85

Figura 10 Momento com a fundadora da Pastoral na Igreja Comunidade Dom Bosco......................................................................................

86

Figura 11 Pesagem com Balanço...................................................................... 89

Figura 12 Leitura e Reflexão no dia da Celebração da Vida............................ 89

Figura 13 Momento importante para as crianças: confecção da Árvore do Natal..................................................................................................

90

Figura 14 Divertimento e Aprendizagem: Contando histórias com fantoches.. 91

Figura 15 Que delícia, o preparo do lanche!..................................................... 92

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Número de Questionários................................................................... 68

Gráfico 2 Sexo.................................................................................................... 69

Gráfico 3 Idade................................................................................................... 70

Gráfico 4 Tempo de Residência no Bairro......................................................... 70

Gráfico 5 Conhecimento sobre a Pastoral da Criança ...................................... 71

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LISTA DE ABREVIATURAS

AR Administração Regional

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CELAM Conselho Episcopal Latino Americano

CEPROCAMP Centro de Educação Profissional de Campinas

CF Constituição da República Federativa do Brasil

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EI Educação Infantil

EJA Educação de Jovens e Adultos

EPT Educação para Todos

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MDS Ministério do Desenvolvimento Social

MEC Ministério da Educação

MS Ministério da Saúde

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PC Pastoral da Criança

PNEDH Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos

RRA Reunião de Reflexão e Avaliação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 13

CAPÍTULO I – O RETRATO DA PASTORAL DA CRIANÇA........................ 16

1.1. O que é a Pastoral da Criança? Como é a sua Formação?...................... 16

1.2. A Vida Domiciliar........................................................................................ 19

1.3. O que é Celebração da Vida?................................................................... 19

1.3.1. Formação............................................................................................. 20

1.3.2. Principais Ações da Pastoral da Criança............................................. 21

1.3.3. Engajamento Social e Fé..................................................................... 22

1.4. A Missão do Líder da Pastoral................................................................... 22

1.4.1. Sair: ir ao encontro.............................................................................. 23

1.4.2. Entrar: dialogar.................................................................................... 23

1.4.3. Frequentar: acompanhar..................................................................... 24

1.4.4. Anunciar............................................................................................... 24

1.4.5. Formar................................................................................................. 25

CAPITULO II – A EDUCAÇÃO E SUAS POSSIBILIDADES DE EXPRESSÃO....................................................................................................

28

2.1. Conceituação............................................................................................. 28

2.2. Educação Formal....................................................................................... 31

2.3. Educação Informal..................................................................................... 33

2.4. Educação Não Formal............................................................................... 33

2.5. Educação Social........................................................................................ 40

2.6. Educação Sociocomunitária...................................................................... 45

CAPÍTULO III – PASTORAL DA CRIANÇA E A EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA.....................................................................................

52

3.1. Cenário da Pesquisa: Bairro Cidade Satélite Íris I.................................... 54

3.2. Comunidade.............................................................................................. 58

3.3. Metodologia da Pesquisa.......................................................................... 61

3.4. Instrumentos para Coleta de Dados.......................................................... 67

3.5. Sobre os Sujeitos da Pesquisa................................................................. 76

3.6. Como se dá o DIÁLOGO nessas ações.................................................... 78

3.7. Quem são os Líderes nessa Comunidade?.............................................. 85

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CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 95

REFERÊNCIAS................................................................................................ 99

APÊNDICES..................................................................................................... 108

APÊNDICE A – Autorização para pesquisa e uso de voz e imagem.............. 108

ANEXOS........................................................................................................... 109

ANEXO A – 10 Mandamentos para a Paz na Família..................................... 109

ANEXO B – Ficha da Criança Caderno do Líder.......................................... 110

ANEXO C – Ficha das Vacinas....................................................................... 111

ANEXO D – Indicadores de Oportunidades e Conquistas................................ 112

ANEXO E – Ficha Gráfico da Curva de Crescimento do Bebê........................ 113

ANEXO F – Jornal da Pastoral da Criança...................................................... 114

MEMORIAL....................................................................................................... 115

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INTRODUÇÃO

... que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a

importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.

Manoel Barros (2006).

Diante das transformações sociais por que passa a sociedade atual no

âmbito da educação pretendo, neste trabalho observar o mundo de saberes e

vivências que se revelam nas atividades da Pastoral da Criança, na região noroeste

da Cidade de Campinas, exclusivamente no bairro periférico denominado Cidade

Satélite Íris I.

No desenrolar das pesquisas e análises, que compreendem o período de

2003 a 2013, surgem algumas perguntas que correspondem às questões problema

desta pesquisa: que práticas educativas acontecem nesse espaço? Quem são os

líderes voluntários que trabalham na Pastoral da Criança? Como as ações da

Pastoral favoreceram o processo de aprendizagem e emancipação dessa

comunidade? E qual o papel da Educação, no sentido de amenizar as

desigualdades instaladas, já que as crianças do bairro Cidade Satélite Íris I

convivem com a falta de políticas adequadas para suprir as necessidades em termos

de saúde, moradia, educação, lazer, segurança e outros serviços?

Em meio a estas inquietações houve um despertar de interesse em

desenvolver esta pesquisa, cujo objetivo geral é conhecer as práticas sociais e

educativas da Pastoral da Criança, na intenção de descrever as experiências de

práticas pedagógicas realizadas neste trabalho de Educação Sociocomunitária na

comunidade atendida pela Pastoral da Criança. Acredito que este trabalho social

contribuirá e muito para definir o caminho da Educação no campo de intervenção

sociocomunitária em comunidades carentes. Como objetivo mais específico buscar

respostas para conhecer esses líderes que se voluntariam junto à comunidade.

A título de contextualização este estudo apresenta a história e as

experiências da Pastoral da Criança e sua reconhecida contribuição social e

pedagógica para a comunidade atendida. Para o desenvolvimento deste estudo

foram empreendidos diálogos com renomados autores, a saber: Carlos Brandão

(1981, 1986, 2002 e 2007), Paulo Freire (1979, 1980, 1987, 1992, 1996, 2000, 2005

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e 2006), Geraldo Caliman (2010), Maria da Glória Gohn (1997, 1999, 2003, 2005,

2006 e 2008), Sueli Caro (2004, 2005, 2006, 2009 e 2011), Valéria Garcia (2001,

2005, 2007, 2008 e 2009), Paulo Gomes (2008, 2009), Evelcy Machado (2013),

entre outros, que contribuíram para o desenrolar da pesquisa qualitativa, tendo como

embasamento a fenomenologia que enfatiza o comportamento humano.

Na minha trajetória profissional até hoje, como professora de Educação

Infantil (EI) e de Educação de Jovens e Adultos (EJA), o meu olhar despertou-se

pelo lado social, buscando saber o que ocorre do lado de fora dos muros escolares.

Conhecer realmente a clientela no entorno dessa comunidade objeto de estudo,

seus costumes, suas crenças e, assim, pude conhecer trabalhos sociais e

educativos nela desenvolvidos. A Pastoral da Criança é uma entidade sem fins

lucrativos que atua nessa comunidade, a qual eu tive a oportunidade de conhecer e

ser voluntária durante um bom tempo. Aprendi, vivenciando isso na prática, que há

um projeto social e educativo preocupado não só com as crianças, mas também

com as famílias principalmente as desfavorecidas economicamente na cidade de

Campinas. No decorrer da pesquisa pude observar in loco que existe um ideário

religioso e que no dia da Celebração da Vida, é feita uma oração em círculo no qual

se o Pai Nosso e a Ave Maria, seguidos por uma passagem da Bíblia. Após a oração

abre-se um momento para quem queira se manifestar, seja para comentar o que foi

lido, seja para falar algo pertinente ao encontro. Sempre tem alguém para dar uma

palestra sobre diversos temas como Higiene, Saúde, Educação, Relacionamentos

familiares, entre outros.

E nessa trilha de um trabalho de formiguinha, a preocupação com a

autoestima desses sujeitos atendidos e o diálogo entre os líderes e essas famílias

são notórios. O bom acolhimento, no cuidado e zelo pelas crianças, e outras

atividades realizadas − serviços que deveriam ser dos órgãos públicos − são

realizados pela Pastoral da Criança que desempenha um papel importante nessa

parceria com a educação sociocomunitária, num projeto voltado ao resgate de

crianças e famílias, com propósitos de humanização, autonomia, à recuperação

desses sujeitos e o auxílio para que estes se libertem de suas realidades,

transformem sua comunidade e resgatem a sua própria identidade.

Todo o trabalho de pesquisa foi realizado através de visitas e no dia da

Celebração da Vida, bem como, um dia no mês acompanhei a líder na visita

pessoalmente à casa das crianças atendidas.

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A composição dos capítulos se dá da seguinte forma:

No capítulo 1 apresento um breve histórico da Pastoral da Criança, o seu

papel e seus objetivos diante das comunidades excluídas e marginalizadas pela

sociedade atual.

No capítulo 2 abordo o conceito de diferentes modalidades de Educação,

quais sejam: Formal, Informal, Não Formal, Social e Sociocomunitária. A exposição

final se dá sobre esta última, a Educação Sociocomunitária, fazendo um paralelo

com as ações desenvolvidas pela Pastoral da Criança.

No capítulo 3 enfatizo o desenvolvimento e a metodologia do trabalho da

Pastoral na comunidade Cidade Satélite Íris I, abrangendo uma caracterização dos

sujeitos envolvidos e da comunidade, os procedimentos relativos à coleta de dados,

entrevistas e histórias de vida, destacando-se aí, minha atuação como pesquisadora

participante. Dessa etapa resultaram informações, fotografias e gráficos construídos

depois das entrevistas, demonstrando determinados aspectos, como perfil

socioeconômico e escolaridade. E, finalmente, descrevo como a Educação

Sociocomunitária se dá nesse espaço e quais contribuições os líderes voluntários,

trabalham com seus saberes nas ações educativas da Pastoral da Criança.

Nas considerações finais espero que as histórias vivenciadas me levem,

assim como o leitor deste estudo, a refletir sobre as ações educativas e sociais,

desenvolvidas nessa comunidade que permita debruçar sobre as possibilidades de

encanto e contribuição da Educação Sociocomunitária em parceria com a Pastoral

da Criança.

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CAPÍTULO I O RETRATO DA PASTORAL DA CRIANÇA

Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e solidário. Ninguém pode permanecer insensível às

desigualdades que ainda existem no mundo. Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós

somos irmãos.

Papa Francisco (2013)

Toda história é feita com o tempo, com as experiências do dia a dia, com

suas memórias e relatos. Assim, inicio a história da Pastoral da Criança (PC) em

Campinas, com maior enfoque precisamente no Bairro Cidade Satélite Íris I,

localizado na região noroeste do município.

Para discorrer sobre o trabalho desenvolvido pela Pastoral da Criança utilizei

a metodologia das representações sociais com entrevistas e observação

participativa, tendo como sujeitos sociais os líderes voluntários durante o trabalho na

Pastoral.

1.1. O que é a Pastoral da Criança? Como é a sua formação?

Organismo de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB), a Pastoral da Criança tem seus alicerces na atuação da organização da

comunidade e na capacitação de líderes voluntários, que ali vivem e assumem a

tarefa de orientar e acompanhar as famílias vizinhas em ações básicas de saúde,

educação, nutrição e cidadania. Em seu estatuto, traz como objetivo o

"desenvolvimento integral das crianças, promovendo em função delas, também suas

famílias e comunidades, sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo,

credo religioso ou político". (Artigo 2º do Estatuto). (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007,

p.13).

Do ponto de vista de uma organização a Pastoral da Criança tem uma visão

e uma missão, assim como valores e crenças nessa ação social que são:

Visão – Trabalhamos por um mundo sem mortes materno-infantis evitáveis e onde todas as crianças, mesmo as mais vulneráveis, viverão num ambiente favorável ao seu desenvolvimento. (Cf. Isaías, capítulo 65, a partir do versículo 16).

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Missão – Para que todas as crianças tenham vida em abundância. (Cf. Jo 10, 10).

A Missão da Pastoral da Criança é promover o desenvolvimento infantil, à

luz do evangelho, reforçando a opção pelos pobres, desde o ventre materno até os 6

anos, contribuindo para que famílias e comunidades realizem sua própria

transformação, por meio de orientações básicas de saúde, nutrição, educação e

cidadania, fundamentadas na mística cristã que une fé e vida.

O Quadro 1 apresenta os valores em que a Pastoral da Criança acredita.

Quadro 1 Crenças

VALORES E CRENÇAS (NO QUE A PASTORAL ACREDITA)

COMO AS CRENÇAS SE DÃO?

Glória de Deus É a vida.

Fé e vida Vivenciar a fé, por meio de ações concretas na comunidade.

Deus Se revelar preferencialmente aos pobres, Partilha e Solidariedade.

Valores O que caracteriza/ baliza a forma de agir/ atitudes da Pastoral.

Adesão A missão da Pastoral da Criança.

Ética Transparência, honestidade, justiça, equidade e simplicidade.

Discriminação Não discriminação: raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político.

Perseverança Compromisso com os resultados.

Valorização Das crianças, gestantes e das famílias.

Alegria Em servir

Multiplicar O saber

Ir Ao encontro, buscar proximidade.

Fonte: Elaborado pela Autora.

A fundação da Pastoral da Criança se deu em 1983, na cidade de

Florestópolis, no estado do Paraná, pela médica sanitarista e pediatra Dra. Zilda

Arns Neumann (in memoriam) e pelo então arcebispo de Londrina, hoje cardeal

emérito, Dom Geraldo Majella Agnelo.

Atualmente, a Pastoral se faz presente em todos os estados brasileiros,

apresentando em sua formação a seguinte organização:

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Níveis de Coordenação:

– Coordenação Comunitária.

– Coordenação de Ramo (paróquia).

– Coordenação de Setor (Diocese).

– Coordenação Estadual.

– Coordenação Nacional.

– Assembleia Geral.

Atualmente, a Pastoral da Criança se encontra presente em 17 países:

Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, Argentina, Paraguai,

Honduras, México, Venezuela, Bolívia, Uruguai, Peru, Panamá, República

Dominicana, Colômbia, Guatemala, Filipinas, Guiné e Haiti. (PASTORAL DA

CRIANÇA, 2012).

O trabalho se dá diretamente nas comunidades com as gestantes, famílias e

crianças de 0 a 6 anos, tendo como principal objetivo a emancipação dos sujeitos

atendidos.

"Todas as pessoas têm direito a viver com dignidade. Esse direito se inicia

na concepção de uma nova vida". (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p.18).

A Pastoral da Criança inicia suas atividades com as gestantes, que precisam

ser acompanhadas desde o início da gravidez. Por intermédio das líderes há

orientação e acompanhamento durante o pré-natal nas visitas realizadas uma vez

por mês, levantando informações sobre os hábitos e condições de higiene,

alimentação, crescimento do bebê, vacinação, cuidados na gravidez etc. É feito,

inclusive, o encaminhamento para a unidade de saúde local, assim como à creche,

com a entrega do cartão da gestante com informações sobre o período de sua

gravidez e o desenvolvimento do bebê. Nessas visitas, a líder registra e acompanha,

pelo referido cartão, as informações como: a semana de gestação, vacinação e

medida da altura uterina. O incentivo à gestante é fundamental.

Já na assistência às crianças menores de 6 anos, os líderes são preparados

para envolver os familiares, destacando a importância do acompanhamento no

desenvolvimento e aprendizagem.

O encontro com as famílias se dá em diferentes ocasiões: Visita Domiciliar,

Dia da Celebração da Vida e Reunião de Reflexão e Avaliação (RRA).

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1.2. A Visita Domiciliar

Nesse momento, o líder/ voluntário tem a oportunidade de conversar sem

pressa com a gestante, os pais e familiares da criança. Com isso, ele pode conhecer

melhor a situação de vida e as necessidades das famílias cadastradas.

É importante enfatizar junto à família a importância de conhecer os seus

direitos, incluindo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que em seu artigo

4º estabelece:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Ainda recorrendo à legislação pertinente, de acordo com a Constituição

Federal (CF), de 1988:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito, à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

Logo após o nascimento do bebê, o líder deve apoiar e animar a mãe quanto

à amamentação: "Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram". (Lc

11, 27 – BÍBLIA, 1995). Desse modo, ele também ajuda a reforçar laços de

confiança e amizade entre eles.

1.3. O que é Celebração da Vida?

Uma vez por mês (aos sábados) é realizada a Celebração da Vida, um

momento em que as famílias se reúnem para conferir e comemorar o

desenvolvimento de suas crianças.

Nesse dia, além da pesagem, as crianças participam de atividades

recreativas e de aprendizagem, como: pintura, música, massinha e roda cantada. O

local, geralmente o salão da igreja, é enfeitado como se fosse uma festa, e as

crianças compartilham uma refeição completa, com sopa, pão, carne moída e suco.

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Depois, é marcada a Reunião de Reflexão e Avaliação (RRA), em que os

líderes avaliam o trabalho realizado e também conversam, aprendem mais e

celebram. Nessas reuniões, o procedimento envolve uma metodologia própria,

assim descrita:

Ver, Julgar, Agir, Avaliar e Celebrar. Nesse encontro eles observam a realidade das famílias que acompanham, julgam as causas e consequências de determinada situação, unem esforços e avaliam quais alternativas podem ajudar a família ou a comunidade. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p. 9).

1.3.1. Formação

Nós vamos trabalhar, nossa maior força vai ser na solidariedade e na multiplicação do saber para eles se

apoderarem dos conhecimentos e poderem ser promovidos e terem mais condições de buscar a melhoria da situação!

Dra. Zilda Arns Neumann

(Pastoral da Criança, Entrevista 10, 2014, p.28).

De acordo com o Guia do Líder da Pastoral da Criança, do ano de 2007,

com 304 páginas contendo textos, fotos e ilustrações, durante o processo de

formação de líderes, os voluntários precisam passar por uma capacitação de 15

encontros de três horas.

Nessa formação, os aspirantes a líderes são treinados por uma pessoa

capacitadora, de preferência, uma pessoa da comunidade em questão, que ainda é

ou foi líder e que também recebeu capacitação anteriormente, para se tornar uma

multiplicadora. No treinamento, é entregue o Caderno do Líder, que serve para

guardar os registros sobre a saúde de cada criança acompanhada, bem como os

dados sobre as famílias, além de outras funções.

Durante o ano, há encontros entre setores, regiões, estados e até em nível

nacional, visando ao compartilhamento de conhecimentos e práticas.

Todo o trabalho da Pastoral da Criança é alicerçado:

Com o método de trabalhar com a prevenção, o acesso à informação é ferramenta essencial, usada para o cuidado com as parturientes e zelos com os filhos nos aspectos da pesagem correta, vacinação, nutrição entre outros. Sabe-se que a maior parte dos problemas de saúde pode ser solucionada na família e na comunidade desde que as pessoas aprendam a identificar as doenças e a procurar os recursos o mais cedo possível. Para tanto, a educação para a saúde é essencial, pois torna o indivíduo ator dos cuidados com a sua própria vida, consequentemente melhorando a saúde

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de sua família e de sua comunidade. (JORNAL DA PASTORAL DA CRIANÇA, 2012).

Segundo o pensamento de Paulo Freire (1987, p.39), cabe enfatizar a

importância da comunhão entre as pessoas: "Já agora ninguém educa ninguém,

como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em

comunhão, mediatizados pelo mundo".

Ao terminar o curso, os voluntários recebem o título de Líderes, justificado

pelo intenso e importante trabalho de multiplicadores do conhecimento entre as

famílias atendidas na comunidade.

1.3.2. Principais Ações da Pastoral da Criança

As ações acontecem com a participação do trabalho voluntário das pessoas

da comunidade, que são capacitadas para atender as famílias, as gestantes e as

crianças.

Todos os recursos financeiros da Pastoral da Criança são oriundos de

órgãos como: Ministério da Saúde (MS), Ministério da Educação (MEC), Ministério

do Desenvolvimento Social (MDS) e também de doações de pessoas físicas e

jurídicas.

Conforme citado no Jornal Pastoral da Criança, o arcebispo Aldo di Cillo,

presidente do Conselho Diretor, reafirmou o objetivo principal da Pastoral da

Criança:

Priorizamos visitas às famílias pobres, atendidas ou não pelos órgãos públicos. Articulamo-nos com os Conselhos de Saúde. Selamos parcerias, exercendo a cidadania e o controle social de políticas públicas especificamente voltadas à mãe e à criança nas áreas de saúde, educação, capacitação para o trabalho e renda. Damos assistência aos mais empobrecidos ou em conflito com a lei, reorientando mulheres em presídios femininos. Abraçamos missões populares e práticas especiais junto a migrantes em locais de busca de oportunidades. Perplexos, enxergamos na sociedade na qual nos inserimos, terríveis contradições, provenientes da ausência de valores éticos e morais, bem como da miséria e da exclusão. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2008, p. 2).

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1.3.3. Engajamento Social e Fé

Toda a prática da Pastoral da Criança é visível no atendimento às

comunidades que apresentam carências de praticamente tudo, desde recursos

materiais até amparo emocional. Com os voluntários no combate à mortalidade e às

diferenças sociais, as experiências compartilhadas entre os sujeitos atendidos são

gratificantes e valiosas para todos os envolvidos.

Nessa busca pela libertação e tomada de consciência de um mundo mais

justo e fraterno, é possível constatar uma forte influência da Teologia da Libertação

na ação da Pastoral da Criança, conforme denota o pensamento de Boff (1998):

(...) uma reflexão mais essencial e radical que vê a própria teologia como articulação histórica da revelação do Mistério de Deus no processo humano. Esta revelação não ocorre apenas no âmbito religioso, mas na totalidade das manifestações da história dentro de sua epocalidade própria, no nosso caso, sob o signo da libertação. A teologia consiste então, na tentativa de tematizar ao nível da linguagem e da comunidade de fé essa realidade que afeta a todos, mas que na religião é conscientizada, decifrada e celebrada. (BOFF, 1998, p. 72).

1.4. A Missão do Líder da Pastoral

Este capítulo tem início na explicação do “Documento de Aparecida” (DA)

que foi elaborado para servir de parâmetro à igreja no trabalho com os mais

necessitados; documento instituído na V Conferência Geral do Episcopado Latino-

Americana e do Caribe acontecida em Aparecida-SP de 13 a 31 de Maio de 2007,

organizado pelo Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM), publicado

primeiramente pela Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) e que teve como ápice

a presença do Papa Bento XVI.

O Papa Bento XVI, expressa com muita contundência, a necessidade

urgente da solicitude da igreja pelos pobres e pela infância: “O serviço de caridade

da Igreja entre os pobres é um campo de atividade que caracteriza de maneira

decisiva a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral” (DA, 394, CELAM

2007).

“Esta V Conferência se propõe a grande tarefa proteger e alimentar a Fé do

povo de Deus e recordar também aos fiéis deste Continente que, em virtude de seu

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batismo são chamados a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo” (DA, 10,

CELAM 2007).

Conforme o que se lê no DA 362, a Pastoral da Criança afirma que

“assumimos um compromisso de uma grande missão em todo o Continente, que de

nós exigirá aprofundar e enriquecer todas as razões e motivações que permitam

converter cada cristão em discípulo missionário." (CELAM 2007).

“Por meio da Palavra que leva ao encontro de Jesus, a meta dessa missão é

evangelizar pessoas, na medida em que se almeja” [...] “atingir, como interlocutores

privilegiados, sobretudo os jovens, os afastados, os pobres, os excluídos" (CNBB,

1988).

Para avançar no trabalho missionário, a Pastoral da Criança se baseia em

cinco métodos: 1) Sair: ir ao encontro; 2) Entrar: dialogar; 3) Frequentar:

acompanhar; 4) Anunciar e 5) Formar.

1.4.1. Sair: ir ao encontro

As periferias e as áreas de marginalização urbana e rural constituem-se, por

excelência, o lugar de atuação da Pastoral em busca dos que mais necessitam.

De acordo com o DA 370: "A conversão Pastoral de nossas comunidades

exige que se vá além de uma Pastoral de mera conservação para uma Pastoral

decididamente missionária...". (CNBB, 2003).

O próprio Papa Francisco, em seus discursos pelo mundo, tem conclamado

toda a Igreja a sair para os lugares mais distantes.

1.4.2. Entrar: dialogar

Independentemente das confissões religiosas, a Pastoral da Criança bate à

porta de todas as casas, em lugares em que a qualidade dos serviços prestados

pelo sistema fica aquém das necessidades básicas. No tocante à localização

geográfica, o DA 372 afirma: "levando em consideração as dimensões de nossas

paróquias, é aconselhável a setorização em unidades territoriais menores, com

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equipes próprias de animação e coordenação que permitam maior proximidade com

as pessoas e grupos que vivem na região..." (PASTORAL DA CRIANÇA, 2011).

O diálogo é o instrumento primordial da acolhida, no respeito e na escuta

entre a Pastoral e as famílias atendidas.

Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro

de 2015, o Papa Francisco faz empenho à sociedade e aos governos para combater

qualquer tipo de situação que escravize a vida humana.

Desejo precisamente que o diálogo entre nós ajude a construir pontes entre todos os homens, de tal modo que cada um possa encontrar no outro, não um inimigo nem um concorrente, mas um irmão que se deve acolher e abraçar. Por isso, é importante intensificar o diálogo entre as diversas religiões, para que jamais prevaleçam as diferenças que separam e ferem, mas, embora na diversidade, triunfe o desejo de construir verdadeiros laços de amizade entre todos os povos. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2011).

1.4.3. Frequentar: acompanhar

Uma vez por mês os voluntários da Pastoral da Criança realizam as visitas

às famílias atendidas. Cada líder acompanha um grupo de crianças ou gestantes e,

no encadeamento desses contatos, durante o atendimento, são criados laços de

amizade e confiança.

Nesse aspecto, o DA 363 cita: "... dar o testemunho de proximidade que

entranha proximidade afetuosa, escuta, humildade, solidariedade, compaixão,

diálogo, reconciliação, compromisso com a justiça social e capacidade de

compartilhar, como Jesus o fez". (CNBB, 2007).

1.4.4. Anunciar

Sobre a missão de anunciar, o DA 372 relata: "... fidelidade na imitação do

Mestre, sempre próximo, acessível, disponível a todos, desejoso de comunicar vida

em cada região da terra". Durante o acompanhamento dos líderes às famílias é

possível semear a humanização e uma construção de uma sociedade mais justa e

fraterna. (CNBB, 2007).

Para finalizar essa palavra "Anunciar", faço uso das palavras do Papa

Francisco em seu discurso publicado pelo Vaticano em função da Jornada Mundial

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das Missões 2013, realizada no dia 20 de outubro de 2013, como conclusão do Ano

da Fé.

A fé é um dom precioso de Deus, que abre nossa mente para que possamos conhecê-lo e amá-lo. Ele quer se relacionar conosco para tornar-nos partícipes de sua própria vida e fazer com que a nossa esteja mais cheia de significado, que seja melhor, mais bonita. Deus nos ama. Saiam às ruas como fez Jesus. (PAPA FRANCISCO, 2013).

1.4.5. Formar

A contribuição da Pastoral na formação continuada e permanente é um dos

direitos dos líderes, ressaltando que essa formação acontece para atualizar

conhecimentos e trocar experiências. Essa dimensão é reafirmada no DA 371, que

enfoca:

O projeto pastoral da Diocese, caminho da pastoral orgânica, deve ser resposta consciente e eficaz para atender às exigências do mundo de hoje, com 'indicações programáticas concretas’.. [...], ‘formação e valorização dos agentes missionários promovam a criação de comunidades de famílias que fomentem a colocação em comum de sua fé cristã e das respostas aos problemas’. (CNBB, 2007).

Reafirmando esse trabalho de promoção humana, na vida das crianças e de

seus familiares, enfatizo com louvor o cântico "Na Pastoral da Criança".

Na Pastoral da Criança, nunca sozinho estás Contigo pelo caminho, Santa Maria vai

Ó vem conosco, vem caminhar, Santa Maria vem! Ó vem conosco, vem caminhas, Santa Maria vem. Se pelo mundo as crianças, tão desnutridas estão

Dê soro, vacina e farelo ao pequenino irmão Ó vem conosco...

Mesmo que digam as vizinhas, tu nada poder mudar Lembra que com teus conselhos, pode uma vida mudar

Ó vem conosco...

Este cântico da Pastoral da Criança foi adaptado da música "Estradas da

Vida", que é um canto religioso da Igreja Católica, conforme a letra original que

segue.

Pelas estradas da vida, nunca sozinho estás. Contigo pelo caminho, Santa Maria vai.

Ó vem conosco, vem caminhar, Santa Maria vem. Ó vem conosco, vem caminhar, Santa Maria vem. Se pelo mundo os homens, sem conhecer-se vão, não negues nunca a tua mão a quem te encontrar.

Mesmo que digam os homens, tu nada podes mudar

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luta por um mundo novo de unidade e paz. Se parecer tua vida inútil caminhar, lembra que abres caminho, outros te

seguirão. (VAGALUME, MÚSICAS CATÓLICAS, 2015).

É nesse trabalho de colaboração com o próximo que se socializa a missão

do líder da Pastoral da Criança, o qual relata como é preciso cuidar e proteger às

crianças.

A missão do líder é parte integrante do Guia do Líder da Pastoral da

Criança, publicado em 2007.

Missão do líder da Pastoral da Criança

No princípio Deus criou o céu e a terra...

Fez a luz... Separou terras e águas... Criou o ar, as plantas que dão sementes... Criou os animais para povoar as águas, a terra e o ar... E Deus criou o homem e a mulher à sua Imagem e semelhança, e disse: crescei e multiplicai-vos. E viu que tudo isso era bom.

Somos criaturas de Deus!

No mundo que construímos, será que tudo está bom? O ar que respiramos precisa ser puro. A terra precisa ter árvores, plantas, flores e animais. A água que bebemos e usamos precisa ser boa. Precisamos de trabalho para ter alimento, roupas, lazer. Precisamos de serviços de saúde para prevenir e tratar as doenças. Precisamos de escolas para estudar e aprender.

Será que as pessoas, principalmente as crianças, estão sendo cuidadas, protegidas e educadas conforme os planos de Deus? (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p. 9-10).

A canção “Doce é Sentir”, do filme Irmão Sol, Irmã Lua que conta a

trajetória de vida de São Francisco de Assis simboliza como deve ser o amor em

relação ao próximo, e neste dias atuais reforça o que é preciso para resgatar o amor

pelas vidas.

Doce é sentir em meu coração, humildemente vai nascendo o amor. Doce é saber que não estou sozinho. Sou uma parte de uma imensa vida, que generosa reluz em torno a mim imenso dom do seu amor sem fim.

O céu nos deste e as estrelas claras Nosso irmão, Sol, nossa irmã, Lua

Nossa mãe terra com frutos, campos, flores O fogo e o vento, o ar, água pura.

Fonte de vida de tua criatura, Imenso dom do Teu amor sem fim.

(PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p. 104).

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Após contextualizar um pouco sobre a Pastoral da Criança na sua formação

e defesa em favor da vida, o próximo capítulo aborda a Educação mostrando seus

principais desafios e possibilidades, para uma discussão nas práticas sociais e

educativas.

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CAPÍTULO II A EDUCAÇÃO E SUAS POSSIBILIDADES DE

EXPRESSÃO

Inicio este capítulo atentando para as palavras de Brandão (1981) sobre a

Educação.

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias Educações. (BRANDÃO, 1981, p. 07).

Se a Educação está tão presente se faz necessário analisar desde as suas

origens até onde nos tem levado.

2.1. Conceituação

Buscando-se a etimologia da palavra, segundo o Dicionário Michaelis

(2009), tem-se que a palavra Educação vem do latim “(sf) lat educatione” e tem

como alguns de seus significados: “1. Ato ou efeito de educar. 2. Aperfeiçoamento

das faculdades físicas intelectuais e morais do ser humano; disciplinamento,

instrução, ensino. 3. Processo pelo qual uma função se desenvolve e se aperfeiçoa

pelo próprio exercício”, entre outras.

O verbo educar tem procedência do latim nas expressões educare e educere

e significam guiar, conduzir, orientar, nutrir.

Conforme Cunha (1982, p.284), no primeiro caso, a origem estaria:

Na palavra dux, que significa ‘chefe’. Dessa raiz emergiu o verbo latino ducere, ‘levar’, que gerou o termo ‘conduzir’. A partir deste verbo, surgiriam muitas outras palavras, como producere que significa ‘conduzir para frente’, deducere que tem o significado de ‘trazer para dentro’ ou, ainda, traducere

que é ‘levar para outro lado’. A partícula ‘e’ latina tem a conotação de movimento de dentro para fora – que, uma vez anteposta à palavra ducere, fez surgir a educação no sentido de ‘conduzir para fora’, ‘dirigir exteriormente’, ‘colocar as ideias para fora’.

No segundo caso, o sentido primeiro da palavra educação, relacionado à

educare, é o de "sustentar", "alimentar" e "criar". (CUNHA, 1982, p.284).

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Com base nessas definições é possível compreender que a ação de educar

é dever da família e do Estado e deve ser fomentada pela sociedade.

São elencados alguns autores e também a própria Constituição Federal que

definem o termo Educação.

A Educação para Tavares (2007, p. 488): “[...] é o caminho para qualquer

mudança social que se deseje realizar dentro de um processo democrático”.

A educação em direitos humanos, por sua vez, é o que possibilita sensibilizar e conscientizar as pessoas para a importância do respeito ao ser humano, apresentando-se na atualidade, como uma ferramenta fundamental na construção da formação cidadã, assim como na afirmação de tais direitos. (TAVARES, 2007, p.488).

Desde 1988, após a promulgação da Constituição Federal todos têm direito

à educação e o Estado o dever de cumpri-lo, como estabelece o Art. 205:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

A Educação é um direito de todo o ser humano como condição necessária

para usufruir de outros direitos constituídos numa sociedade democrática.

"A Educação tem como princípio básico promover os direitos humanos e

atender a todas as pessoas indistintamente", de acordo com a Declaração e

Programa de Ação da Conferência Mundial sobre os Direitos Humanos (BRASIL,

1993).

Porém, no Brasil, se observa que as desigualdades são: sociais,

econômicas, educativas e culturais.

Segundo Gadotti (2005):

A educação é um dos requisitos fundamentais para que os indivíduos tenham acesso ao conjunto de bens e serviços disponíveis na sociedade. Ela é um direito de todo ser humano como condição necessária para ele usufruir outros direitos constituídos numa sociedade democrática. Por isso, o direito à educação é reconhecido e consagrado na legislação de praticamente todos os países e, particularmente, pela Convenção dos Direitos da Infância das Nações Unidas (particularmente os artigos 28 e 29). Um outro exemplo é o Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil. Negar o acesso a esse direito é negar o acesso aos direitos humanos fundamentais. É um direito de cidadania, sempre proclamado como prioridade, mas nem sempre cumprido e garantido na prática. (GADOTTI, 2005, p.01).

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A finalidade da Educação em todo o seu contexto é ajudar na formação e

desenvolvimento de todo ser humano, não importando qual o seu meio, cor, credo e

etnia.

Caro (2006) concebe que a educação objetiva preparar o indivíduo para

viver e se comunicar na sociedade. Romans, Petrus e Trilla (2003, p. 53) definem

que: "A educação é, além de instrução, aquisição de competências sociais, é

participação social".

O argumento citado evidencia a educação como um processo social no qual

os cidadãos precisam da comunicação para dialogar e opinarem, além de terem

vozes na sociedade.

Com um olhar debruçado com o que a Educação influencia na vida do ser

humano, cito o pensamento de Freire (1996, p.47), em sua obra "Pedagogia da

Autonomia" quando afirma que "ensinar exige reconhecer que a educação é

ideológica, ou seja, nenhuma modalidade de educação é neutra e desvinculada com

os valores e crenças dos educadores".

De acordo com o relatório da UNESCO – Órgão das Nações Unidas para

educação, ciência e cultura – a educação ajuda a combater a pobreza e capacita as

pessoas com o conhecimento, habilidades e a confiança que precisam para construir

um futuro melhor. (UNESCO, 1996).

A Educação é necessária para todos os cidadãos, na busca constante do

resgate de sua identidade, para deixarem de ser sujeitos passivos e se tornarem

sujeitos ativos dentro da sua própria comunidade.

E dentro da história da Educação, a escola é considerada o espaço das

práticas educativas, porém, a comunidade atendida precisa ser ouvida e ter

respeitado sua cultura, isso só contribui com a relação entre família e escola

possibilitando um caminho mais social e igualitário.

Para Gomes (2008), a escola deveria ter o papel de articulação da

comunidade pela instrumentalização das atividades comuns, função que também lhe

é imposta pelo próprio Estado.

Caro (2011, p.132) relata que “quando falamos em Educação, sempre nos

referimos àquela que ocorre dentro da escola. Parece a escola ser a única

responsável pelo desenvolvimento integral do indivíduo, portanto, a única também

responsável pelo fracasso da Educação”. Trilla (1996), citado por Caro (2011, p.132)

argumenta que:

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A educação é uma realidade complexa, heterogênea e versátil. A multiplicidade de processos, fenômenos, agentes ou instituições que se tem considerado como educativo apresenta tanta diversidade, que pouco se pode dizer da educação em geral.

Para Caro (2011), quando se aborda a educação seria muito simplista

reduzi-la à educação escolar, pois se observa somente uma parte da realidade. A

escola não é a reserva natural da formalidade e do rigor pedagógico. As outras

educações, chamadas de educação não formal ou informal, podem ser tão formais

ou mais que a própria escola. Como bem afirma Petrus (2003, p.60):

[...] A Educação é global, é social, e se dá ao longo de toda a vida. Se o objetivo da educação é capacitar para viver em sociedade e se comunicar, é preciso admitir que, em algumas ocasiões, a escola adota certa atitude de reserva frente aos conflitos e problemas sociais dos alunos.

Para melhor compreender tais conceitos os tópicos que seguem apresentam

os tipos de Educação Formal, Informal, Não Formal e mais adiante a Educação

Social e a Educação Sociocomunitária, lembrando que Educação, em todo o seu

contexto, deve ter como meta sempre: além de ser formadora dos sujeitos, deve

desenvolver sempre a autonomia, a libertação e a emancipação dos sujeitos.

2.2. Educação Formal

"Entende-se por Educação Formal, o tipo de educação organizada com uma

determinada sequência e proporcionada pelas escolas”. (AFONSO, 1992, p. 86).

Trata-se de um processo educativo que se desenvolve num espaço

institucional com regras, conceitos e certificação. No sentido amplo, a Educação

também acontece no cotidiano da vida, pois, implica em hábitos, costumes e valores

que são passados de geração para geração.

Segundo Gadotti (1993, p. 17), a Educação Formal "se faz presente nas

cidades, criando novos conhecimentos e relações sociais e humanas, sem abrir mão

do conhecimento historicamente produzido pela humanidade de forma científica e

transformadora".

E assim, a valorização da educação se dá desde a implementação das leis

que obrigam o Estado e o sistema a darem conta da escolarização desses sujeitos,

conforme nos diz Brandão (1981).

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Da família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas dos mistérios do aprender [...]. A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida [...]. A cultura é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade [...]. Através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar – às vezes a ocultar, às vezes a inculcar-se de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem [...]. Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para outros o saber que os constitui e legitima. Mais ainda, a educação participa do processo de produção de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedade. (BRANDÃO, 1981, p. 10 - 11).

De acordo com a Lei nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDBEN), a concepção de Educação é:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais § 1

º, Esta lei disciplina a educação escolar, que se

desenvolve, predominantemente por meio do ensino, em instituições próprias. (BRASIL, 1996).

No que tange ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº

8.069/90 a principal diferença, por essa Lei instituída, foi compreender toda e

qualquer criança e adolescente como sujeitos de direitos, tendo por proposta a

proteção integral desses indivíduos, que agora são considerados como sujeitos em

desenvolvimento.

Mesmo com a legislação, quando se olha para a Educação Formal são

percebidas as lacunas, e que diante de não conseguir cumprir o seu papel perante a

sociedade, surge a necessidade do trabalho de outros órgãos, bem como parcerias

visando reparar e resgatar crianças, adolescentes, jovens e adultos que foram

apartados dos seus direitos.

E dentre estes direitos está o direito a uma Educação com compromisso e

qualidade. Atualmente no Brasil, a Educação Formal está tentando se reestruturar

adequando-se à realidade de seus alunos e da comunidade em que está inserida.

Mas o prejuízo é grande e a Educação Não Formal, mesmo que a passos lentos,

está desempenhando o seu papel social perante as comunidades carentes.

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2.3. Educação Informal

A Educação Informal, segundo Afonso (1992, p. 86), “abrange todas as

possibilidades educativas, no decurso da vida do indivíduo, construindo um processo

permanente e não organizado”. Portanto, os agentes socializadores, de modo

principal, mas não exclusivo, encontram-se na família, no meio social e nos meios

de comunicação em massa.

Assim, ela acontece em casa, na igreja, no trabalho, no lazer, entre outros.

Não tem o compromisso de educar, mas de ensinar conhecimentos transmitidos de

geração para geração, costumes, por meio de gestos, provérbios e outros elementos

do comportamento social. Nessa Educação não há currículo e nem lugar fixo,

porém, conta muito a riqueza do ambiente em que se dá a socialização.

Essa ocupa um papel muito importante na vida das pessoas, já que ajuda a

estabelecer bons relacionamentos entre os sujeitos. É a aprendizagem natural no

cotidiano desses sujeitos, da qual se pode citar um exemplo básico: os pais ensinam

seus filhos a usarem os talheres e como comerem adequadamente à mesa, um

comportamento que vai passando de geração a geração.

2.4. Educação Não Formal

Com base no que foi mencionado nos tópicos anteriores sobre a educação

formal e a informal, tem-se sobre a educação não formal, que:

Aprendemos que o tempo de escola não é o único espaço de formação, de aprendizado e de cultura. O fenômeno educativo acontece em outros espaços e tempos sociais, em outras instituições, nas fábricas, nas igrejas e terreiros, nas famílias e empresas, na rua e nos tempos de lazer, de celebrações e comemorações, no trabalho. (ARROYO apud FRIGOTTO, 2002, p. 147).

Procurei elencar, a história da Educação Não Formal no Brasil, que passou a

incorporar a produção científica a partir dos anos 1990, aparecimento este,

relacionado à necessidade de corrigir as desigualdades sociais.

Segundo Trilla (1996):

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A expressão educação não formal começa a aparecer relacionada ao campo pedagógico, concomitantemente a uma série de críticas ao sistema formalizado de ensino, em um momento histórico em que diferentes setores da sociedade (não só o pedagógico, como também o serviço social, a área da saúde, cultura e outros) viam a escola e a família como impossibilitados de responder a todas as demandas sociais que lhes são impostas, delegadas e desejadas. (GARCIA, 2008, p. 67).

Na Educação não formal a organização é feita de outra forma, se

relacionando com a aprendizagem diferentemente da educação formal, oferecida

pela escola, que é toda organizada e sistematizada. Como bem aponta Paulo Freire:

Se estivesse claro para nós que foi aprendendo que aprendemos ser possível ensinar, teríamos entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios, em que variados gestos de alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se cruzam cheios de significação. (FREIRE, 1996, p. 50).

Quanto à educação não formal, ela cresceu e ainda está se desenvolvendo

de uma forma ostensiva com a perspectiva de enquadrar-se no conceito difundido

pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO, 1996) de "educação ao longo de toda a vida, englobando toda sorte de

aprendizagens para a vida, para a arte de bem viver e conviver". E aproveitando esse momento dedicado a conceituar a Educação Não

Formal, se faz uso aqui da citação de Gohn (2008), que entende a Educação Não

Formal como sendo:

[...] aquela voltada para o ser humano como um todo, cidadão do mundo, homens e mulheres. Em hipótese nenhuma ela substitui ou compete com a educação formal ou escolar. Poderá ajudar na complementação desta, via programações específicas, articulando escola e comunidade educativa localizadas no território de entorno da escola. A educação não formal tem alguns de seus objetivos próximos da educação formal, como a formação de um cidadão pleno, mas ela tem também a possibilidade de desenvolver alguns objetivos que lhes são específicos, via a forma e espaços onde se desenvolvem suas práticas, a exemplo de um conselho, ou participação em uma luta social contra as discriminações, por exemplo, a favor das diferenças culturais, entre outras. Resumidamente, podem-se enumerar os objetivos da educação não formal como sendo: a) educação para cidadania; b) educação para justiça social; c) educação para direitos (humanos, sociais, políticos, culturais etc.); d) educação para liberdade; f) educação para democracia; g) educação contra discriminação; h) educação pelo exercício da cultura e para a manifestação das diferenças culturais. (GOHN, 2008, p. 134).

Na concepção de Garcia (2009), “não é preciso pensar o não formal em

oposição ao formal. Trata-se de distintos campos de formação humana, com

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diferentes formas, objetivos e preocupações, que não precisam se polarizar. Mas

também não se reduzem um ao outro". (GROPPO, 2012, p.5).

Especificamente na comunidade objeto de estudo uma das constatações

sobre Educação Não Formal, é que ela já começa a ser valorizada pelas famílias

atendidas, que já entendem o compromisso social e transformador dessa educação.

Em paralelo, considerando a necessidade de uma educação que escute e que

afirme que a comunidade possui voz, a Educação Não Formal vem auxiliando esse

trabalho de forma que o diálogo seja constante entre os sujeitos.

Nas atividades realizadas dentro da Pastoral da Criança, a Educação Não

Formal se evidencia bem significativa junto aos líderes, famílias e crianças. Há

grande interesse das crianças em participarem das atividades não somente

recreativas, mas de aprendizagem por meio da ludicidade. Da mesma forma,

durante o dia da pesagem, por intermédio das conversas e palestras às famílias

assistidas, são socializadas aprendizagens de convivência, ensinamentos de como

lidar na educação e cuidado com os filhos.

Nesta perspectiva ao falar sobre a Educação Não Formal que ainda está em

processo de construção, cito a definição de Gohn (1999):

É como sendo processos educativos que ocorrem fora da escola, organizados pela sociedade civil, ao redor de ações coletivas, ou proporcionados pela articulação da escola com a comunidade educativa, via conselhos, colegiados e outras formas de representação (GOHN, 1999, p.7).

A intenção é mostrar outros espaços de educação, aqui confirmado por

Soffner e Rezende (2009, p. 261).

A Educação Não Formal não está condicionada, como inicialmente aparente, à ausência de formalidade do ambiente tradicionalmente escolar. É, na verdade, modo complementar, alternativo ou suplementar de educação, paralelo à escola.

De acordo com Gohn (1997), outro aspecto importante da Educação Não

Formal é que possui um conceito de educação "bastante amplo" e associado ao

aspecto cultural, que leva a entender a "educação" como um processo que se

constrói durante toda a vida e não como algo estático, como é apresentado na

maioria das Instituições Oficiais.

Gohn (2008, p.129) ainda afirma que: "a transmissão de informações e a

formação política e sociocultural são metas na Educação não formal".

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Caro (2005) apresenta importantes informações sobre educação formal e

não formal com embasamento em Trilla (1996):

A educação formal e a não formal contam com objetivos explícitos de aprendizagem ou formação e apresentam-se sempre como processos educativos diferenciados e específicos. Geralmente são distinguidas pelo critério metodológico ou pelo critério estrutural. No critério metodológico, é bastante usual caracterizar a educação não formal como aquela que se realiza fora do marco institucional da escola ou a que se aparta dos procedimentos convencionalmente escolares. A Educação Não Formal seria aquela que tem lugar mediante procedimentos ou instâncias que rompem com alguma, ou algumas determinações, que caracterizam a escola. No critério estrutural, a educação formal e a não formal se distinguiram, não exatamente por seu caráter escolar ou não escolar, senão por sua inclusão ou exclusão do sistema educativo regular. Assim, neste, a distinção entre o formal e o não formal é bastante clara, é uma distinção administrativa e legal. O formal é o que assim definem, em cada país e em cada momento, as leis e outras disposições administrativas; a não formal, por sua parte, é a que fica à margem do organograma do sistema educativo graduado e hierarquizado. (CARO, 2005, p.19).

Portanto, na concepção da autora, os conceitos de educação formal e não

formal apresentam uma clara relatividade histórica e política: o que era antes não

formal pode logo passar a ser formal, do mesmo modo que algo pode ser formal em

um país e não formal em outro.

Com necessidades a serem supridas o homem precisa da educação seja ela

formal, informal e não formal.

O Quadro 2 apresenta uma sistematização dos tipos de educação

mencionados.

Quadro 2 Sistematização sobre os Tipos de Educação

Educação Formal Educação Informal Educação Não Formal

Aquela que ocorre na escola e instituições diversas.

Aquela que ocorre no cotidiano de uma pessoa, em casa, na rua no clube etc...

Aquela que ocorre fora do ambiente escolar.

- Segundo Gadotti (2005, p.2):

“A educação formal tem objetivos claros e espe-cíficos e é representada principalmente pelas es-colas e universidades”. “Ela depende de uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturas hierárquicas e burocráticas, determinadas

- Afonso (1989 apud GARCIA, 2001, p. 150) define educação informal como "o tipo de educação que abrange todas as possibilidades educativas no decurso da vida do indivíduo, constituindo um processo permanente e não organizado".

No que se refere à definição de educação não formal e à distinção em relação à educação informal, Gohn (2008, p.99-100)

- De acordo com Garcia (2001, p. 151), "A educação não formal não tem como objetivo específico complementar o que a escola deixa de fazer por motivos diversos, ou que realiza precária ou insatisfatoriamente, embora algumas vezes isso acabe acontecendo indire-tamente".

Conforme Gohn (1999, p. 13), "a educação não formal, terá

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em nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos ministérios da educação”.

"ensina que: A educação transmitida pelos pais na família, no convívio com amigos, clubes, teatros, leitura de jornais, livros, revistas, etc. são considerados temas da educação informal. O que diferencia a educação não formal da informal é que na primeira existe a intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar determinadas qualidades e/ou objetivos." "A educação informal decorre de processos espontâneos ou naturais, ainda que seja carregada de valores e representações, como é o caso da educação familiar."

que ser considerada uma promotora de mecanismos de inclusão social, que promovem o acesso aos direitos da cidadania".

- Estruturada - Espontânea - Encorajadora

- Compulsória - Voluntária - Normalmente voluntária

Fonte: Elaborado pela Autora.

Traça-se neste momento e com base no Quadro 2 um comparativo entre os

Tipos de Educação Formal, Não Formal e Informal

Afonso (1992) acredita haver um antagonismo entre a educação formal e a

não formal.

Por educação formal entende-se o tipo de educação organizada com uma determinada sequência (prévia) e proporcionada pelas escolas, enquanto que a designação não formal, embora obedeça a uma estrutura e a uma organização (distintas, porém das escolas) e possa levar a uma certificação (mesmo que não seja essa a finalidade), diverge ainda da educação formal no que respeita a não-fixação de tempos e locais e a flexibilidade na adaptação dos conteúdos de aprendizagem a cada grupo concreto. (AFONSO, 1992, p.78).

Segundo Gohn (2001, p. 91):

Até os anos 80, a educação não-formal foi um campo de menor importância no Brasil, tanto nas politicas publicas quanto entre os educadores. Todas as atenções sempre estiveram centradas na educação formal, desenvolvidas nos aparelhos escolares institucionalizados. Em alguns momentos, algumas luzes foram lançadas sobre a educação não-formal, mas ela era vista como uma extensão da educação formal, desenvolvidas em espaços exteriores das unidades escolares.

A Educação é abrangente e grande contribuidora da construção da

cidadania, que não necessita de um espaço formal para concluí-la.

O grande destaque que a educação não formal passou a ter nos anos 90 decorre das mudanças na economia, na sociedade e no mundo do trabalho. Passou-se a valorizar os processos de aprendizagem em grupos e a dar-se

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grande importância aos valores culturais que articulam as ações dos indivíduos. Passou-se ainda a falar de uma nova cultura organizacional que, em geral, exige a aprendizagem de habilidades extraescolares. (GOHN, 1999, p. 92).

As definições sobre as modalidades de Educação são conceituadas por

vários autores, porém, o diálogo aqui tem alicerce em Gohn (2006), quando se

refere à distinção em relação à Educação Informal.

Não é organizada, os conhecimentos não são sistematizados e são repassados a partir das práticas e experiência anteriores, usualmente é o passado orientando o presente, atua no campo das emoções e sentimentos. É um processo permanente e não organizado. (GOHN, 2006, p. 30)

Sobre a Educação Não Formal a autora concorda ao afirmar que:

Os espaços onde se desenvolvem ou se exercitam as atividades da educação não formal são múltiplos, a saber: no bairro-associação, nas organizações que estruturam e coordenam os movimentos sociais, nas igrejas, nos sindicatos e nos partidos políticos, nas Organizações Não Governamentais (ONGs), nos espaços culturais, e nas próprias escolas, nos espaços interativos dessas com a comunidade educativa etc. [...] o tempo da aprendizagem não é fixado apriori são respeitadas as diferenças existentes para a absorção e reelaboração dos conteúdos, implícitos ou explícitos, no processo ensino-aprendizagem Como existe a flexibilidade no estabelecimento dos conteúdos, segundo os objetivos do grupo, a forma de operacionalizar estes conteúdos também tem diferentes dimensões em termos de sua operacionalização. (GOHN, 2008, p. 101).

Ainda sobre as modalidades da Educação os autores Park, Fernandes e

Carnicel (2007) afirmam:

Fazem parte deste rol de aprendizagens e conhecimentos a percepção gestual, moral, comportamentos, provenientes de meios familiares, de amizade, de trabalho, de socialização, midiática, nos aspectos públicos em que repertórios são expressos e captados de formas assistenciais. Tais experiências e vivências acontecem, inclusive, nos espaços institucionalizados, formais e não-formais, e a apreensão se dá de forma individualizada, podendo, posteriormente, ser socializada. (PARK; FERNANDES; CARNICEL, 2007, p. 128).

Com isso surge a Educação Não Formal que, de acordo com Garcia (2001,

p. 151), "não tem como objetivo específico complementar o que a escola deixa de

fazer por motivos diversos, ou que realiza precária ou insatisfatoriamente, embora

algumas vezes isso acabe acontecendo indiretamente".

Porém, a visão sobre o trabalho da Educação Não Formal na vida do

cidadão é colaborar para seu crescimento cultural e social. Enriquecendo essa

discussão, Garcia (2001) afirma que:

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A educação não formal pode considerar, valorizar, reafirmar e ampliar a cultura dos sujeitos nela envolvidos, incluindo educadores e educandos, fazendo com que a bagagem cultural que cada um traz seja respeitada e esteja presente no decorrer de todos os trabalhos, procurando não somente valorizar a realidade de cada um, mas indo além, fazendo com que essa realidade perpasse todos os trabalhos (GARCIA, 2001, p. 152).

Nessa concepção é possível compreender os benefícios que a Educação

Não Formal pode oferecer para as comunidades carentes contribuindo para a sua

emancipação.

Para Gohn (2008, p. 124) "a educação não formal lida com outra lógica de

espaço e tempo e possui como abordagem a linha da educação social, em que o

foco são comunidades em situações de vulnerabilidade e exclusão social".

Gohn (2008) debruça os objetivos do seu texto em Educação Não Formal

como educação para a cidadania, a justiça social, a liberdade, a equidade e para os

direitos. Portanto, também corrobora com a concepção de educação como prática

de liberdade de Paulo Freire. Considera que a educação não é feita para os atores,

mas junto com os mesmos, mediatizados pelo mundo, em uma relação dialética;

sendo que a educação proporciona a emancipação coletiva e individual dos

envolvidos.

Para Freire (2005, p.77) a educação “não pode ser a do depósito de

conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo”.

Essa educação é que exerce um papel significativo na vida do ser humano,

ajudando na construção de um cidadão crítico e consciente de seu dever e direito.

A Educação em toda a sua ciência é uma prática social e a cada dia vem se

desenvolvendo nos espaços não formais, e se afirmando no campo do

conhecimento; por isso é necessário o aprofundamento teórico nessa prática.

Nessa observação desse princípio pode-se notar a presença da Educação

Social, o que leva a uma busca sobre quem ela é e como se embasa nesse campo

da Educação.

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2.5. Educação Social

O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que confirma

como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História.

Paulo Freire (1996, p. 154).

Como toda história, a introdução da Educação Social no Brasil começou

justamente após a Segunda Guerra Mundial, para ajudar a resolver os problemas

sociais no país. Quando se dá ênfase à Educação no Brasil surgem dois

pensamentos: o primeiro é que há muito a ser melhorado na Educação Básica, e o

segundo é encontrar uma forma de superar as desigualdades sociais. E para

conhecer os conceitos e o início da Educação Social foi preciso recorrer a

referenciais teóricos de fora do Brasil, como de Ortega (1999), Diáz (2006), Trilla

(1996) e Petrus et al. (2000), todos da Europa.

O termo “Educação Social” é difícil de definir e, de momento, não existe

concordância acerca da delimitação deste conceito e da sua área de intervenção

específica.

Ortega (1999) citado por Diáz (2006) afirma que a educação social é ou

seria fundamentalmente:

A dinamização activa das condições educativas da cultura, da vida social e dos seus indivíduos e a compensação, normalização ou, até, a reeducação da dificuldade e do conflito social. Portanto, uma educação social assim entendida promove e dinamiza uma sociedade que educa e uma educação que socializa, integra e ajuda a evitar, equilibrar e reparar o risco, a dificuldade ou o conflito social. (ORTEGA apud DIÁZ, 2006, p. 99).

Para Trilla (1996) a definição da Educação Social é tida como uma educação

que tem como principal objetivo o desenvolvimento social do indivíduo, ou seja, a

Educação Social como uma educação que tem como destinatários os indivíduos que

se encontram em risco social. Ressalta-se aqui a Educação Social como Educação

Não Formal e esta definição é o ponto que liga aos agentes, que se encontram nos

contextos sociais.

Hoje, no Brasil, se convive com uma sociedade de direitos que possui uma

Constituição Federal, um Estatuto da Criança e do Adolescente, uma Lei de

Diretrizes e Bases da Educação e os Direitos humanos, porém, nem tudo que está

nas leis se efetiva na íntegra.

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A base fundamental pedagógica segue alguns critérios da Educação Formal,

da Educação Não Formal e da Educação Informal e acrescenta, conforme as

referências utilizadas que, essa Educação retrata a importância do diálogo e a

aproximação com a comunidade.

Segundo Caro (2011, p. 4):

Hoje já é comum a ideia de que a educação não se limita de forma exclusiva ao contexto escolar. O educador faz parte de um sistema mais amplo – espaço escolar e extraescolar, no qual se forma o indivíduo. Nesta perspectiva, pode-se justificar a ideia de entender a educação social como uma ação educadora da sociedade.

Para Machado (2010), as diferentes práticas de Educação Social podem ser

encontradas em vários espaços como:

Diferentes ONGs (com diversos enfoques, várias origens de financiamentos, diferentes interesses); Instituições Abrigos (espaços em que as pessoas frequentam por determinados períodos e ou definitivos); Presídios (existem muitos estudos sobre a educação em presídios, que é muito peculiar); Hospitais (existem estudos avançados na área da Pedagogia Hospitalar); Educação de Jovens e Adultos (vários projetos e programas existentes de diferentes maneiras para efetivar essa meta); Movimentos Sociais (muitas práticas são educativas em Movimentos, a própria participação já configura um tipo de formação); Igrejas (práticas educativas com intenções específicas); Projetos Sociais; Programas Sociais (existe uma gama de ações, denominadas de sociais, que atuam em perspectiva educativa, em meios como a rua, além de outros); Escolas (na própria escola são reconhecidos espaços de práticas de Educação Social, como por exemplo, projetos de contra-turno, etc.). Esses são apenas alguns dos espaços, contudo, essa lista pode ser mais extensa. (MACHADO, 2010, p. 44).

Discutir Educação hoje é repensar uma sociedade que precisa recuperar

seus direitos sociais, econômicos, políticos e culturais.

De acordo com Ortega (1999):

A educação social deve, antes de qualquer coisa, ajudar a ser e a conviver com os outros: aprender a ser com os outros e a viver juntos em comunidade. Portanto, os objetivos poderiam sintetizar-se na integração do indivíduo com seu meio social, com capacidade crítica para melhorá-lo e transformá-lo (CARO, 2011, p.7).

Não é preciso buscar novos espaços para a Educação, porque ela acontece

em todos os espaços e lugares; toda Educação deve ser de cunho social, uma vez

que todos buscam a Educação do indivíduo e dos grupos de forma permanente.

Brandão (1981) confirma ao afirmar que:

Acreditar que o ato humano de educar existe tanto no ato político que luta no trabalho pedagógico que ensina na escola quanto no ato político que luta na rua por outro tipo de escola, para um outro tipo de mundo. E é bem

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possível que até mesmo neste “outro mundo”, um reino de liberdade e igualdade buscada pelo educador, a educação continue sendo movimento e ordem, sistema e contestação. O saber que existe solto e a tentativa escolar de prendê-lo num tempo e num lugar. A necessidade de preservar na consciência dos “imaturos” o que os “mais velhos” consagram e, ao mesmo tempo, o direito de sacudir e questionar tudo que está consagrado, em nome de do que vem pelo caminho. (BRANDÃO, 1981, p.110).

Tal espaço está presente na LDB/96 que amplia a concepção de educação

incluindo novos agentes e espaços educativos. Para Caro (2011, p. 8), "a

preocupação com a educação, sem dúvida, nos remete ao desejo de mudança, de

inovação, de buscar novos caminhos. Qualquer aspecto que colabore para uma

convivência mais harmoniosa será sempre muito bem vindo." A referida autora

apresenta ainda a colocação de Petrus (1999): “a educação social, vai além de

solucionar determinados problemas de convivência, tem função de ser um

instrumento igualitário e de melhoria da vida social e pessoal”. (CARO, 2011, p.8).

Durante o caminhar desta pesquisa, muitas perguntas e dúvidas foram

surgindo em relação ao papel da educação na vida dos sujeitos, e duas delas me

acompanharam neste processo.

A primeira é compreender o papel da Educação e como corrigir as

diferenças educacionais.

A segunda é levantar as propostas educacionais que levam alunos e a

comunidade atendida a encontrar soluções através do diálogo e buscar saber quais

as práticas sociais e educativas que são desenvolvidas pela Pastoral da Criança.

Freire (1987) afirma que:

Para que esta concepção como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra com os educando-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes. Esta inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático da educação (FREIRE, 1987, p.83).

Para Freire (2006, p. 90), o diálogo é condição humana, dialogar é

humanizar-se, é existenciar-se. "Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é

modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos

pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar".

Para Freire (1987) a Educação crítica a serviço da transformação social, se

dá quando os educandos tornam-se sujeitos livres, prática esta que só se realiza

com uma pedagogia em que o oprimido tenha condições de descobrir se e

conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica.

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"A educação como prática de liberdade, ao contrário daquela que é prática

de dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado no

mundo, assim também na negação do mundo como uma realidade ausente nos

homens." (FREIRE, 1979 p. 37).

Expressar essa intenção de transformação é necessário para que os

educandos tomem consciência de sua própria história e que há sempre tempo para

mudar. Para Freire (1979, p.104) “a educação, o ensinar é um ato de amor, por isso

um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode

fugir à discussão criadora, sob a pena de ser uma farsa".

De acordo com Caro (2011, p.4) "nestes últimos anos, a Pedagogia Social

vem trazendo a esperança de uma grande reflexão sobre os caminhos de nossa

Educação e oportunizando a concretização de uma nova realidade social em nosso

país".

Freire (1992) em a Pedagogia da Esperança reforçou a necessidade do

educador entender o perfil dos alunos na comunidade atendida, saber falar a

linguagem e vivenciar e refletir sobre os costumes e problemas vivenciados no

cotidiano dessa comunidade. Cortella (2014), por sua vez, em palestra proferida

deixa uma mensagem: "Educação não é domesticar, mas humanizar utilizando-se

da humildade, coragem e esperança".

Com base nessas considerações é de fundamental importância para a

análise da prática educativa todos os tipos de Educação: Formal, Informal, Não

Formal e Social, bem como conhecer suas bases teóricas para compreender todas

as intenções de suas práticas no desenrolar de medidas educativas e sociais. Para

Freire (1996, p.12) "A educação é o caminho fundamental para transformar a

sociedade".

Concorda-se aqui com o posicionamento de Caro (2011) sobre a educação

social, quando especificamente enfatiza que:

As bases teóricas da educação social na realidade brasileira ainda são muito frágeis. Embora se tente consolidar o trabalho realizado nas várias frentes da educação não formal, da educação comunitária e da educação popular, não conseguimos fundamentar as ações presentes nas diversas frentes de trabalhos sociais. (CARO, 2011, p. 132).

Ainda para Caro (2011):

A educação não formal reconhece a pessoa como um ser que pensa, age, sente e que traz consigo uma cultura que precisa ser respeitada para que

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ele possa crescer e se desenvolver, pois a cultura faz parte da identidade do ser humano e os valores são imprescindíveis em sua formação. Esta educação acontece pelas iniciativas de movimentos populares, associações democráticas, organizações que visam à mudança social, dentre outras. Tem um caráter transformador, pois possibilita que os atendidos sejam conscientizados do seu valor e da importância de serem cidadãos conscientes ao atuarem em sua realidade, viabilizando o resgate de sua própria dignidade e a de outros [...]. A educação não-formal é compreendida como um campo, não em oposição à educação formal, mas complementar à crise da Educação escolar. Quando observamos sua trajetória prática, constatamos que ela deriva e transita por várias e diferentes ações e áreas do conhecimento. No aprofundamento desta área, nos deparamos com diversas ciências que colaboram na construção desse conhecimento e que buscam por uma proposta de mudança social. Aqui, podemos citar a Sociologia, a Psicologia e o Direito, dentre outras [...]. Os cuidados na formação do pedagogo e do Educador social dependem desta multidisciplinariedade que amplamente discute as diversas visões sobre o ser humano e o seu posicionamento na sociedade. A educação social há muito tempo deixou de ser exclusiva da marginalização, do conflito social e do risco social para nos amparar também nos diversos ambientes educacionais, como um apoio às possibilidades de relações que podemos desenvolver e propiciar aos educandos [...]. A educação social é um caminho que não devemos desprezar, pois seu conteúdo é riquíssimo para a ação do educador e o desenvolvimento do educando (CARO, 2011, 134-137).

Assim para a autora a educação revela a sua importante função social:

A educação aparece na sociedade humana com a função social de evitar a contradição existente entre os interesses pessoais e os sociais. Uma das tarefas da educação, nas sociedades, tem sido a de mostrar que os interesses individuais só se podem realizar plenamente por meio dos interesses pessoais, ou seja, a educação, ao socializar o indivíduo, mostra que, sozinho, o ser humano não sobrevive. (CARO, 2009, p. 150).

A educação social precisa ser vista como uma ação que possa

complementar a educação formal, colaborando para a resolução da crise

educacional e com o desenvolvimento da comunidade.

Segundo Freire (1987):

Que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso só o diálogo comunica. E quando os dois polos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então, uma relação de simpatia entre ambos. Só assim há comunicação (FREIRE, 1996, p. 115).

Paulo Freire deixou como legado a sua preocupação com o social e como

resgatar o cidadão de sua alienação para exercer de verdade sua cidadania e sua

dignidade. Ele coloca o amor como marca principal para a libertação do cidadão.

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O amor é fundamento, diálogo, comprometimento com o mundo e a humanidade: Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo [...] é ato de coragem, nunca de medo, o amor é compromisso com os homens [...]. O ato de amor é comprometer-se com a causa. A causa da libertação. Mas, este compromisso, porque é amoroso, é dialógico. (FREIRE, 1987, p. 45).

Por meio desse amor o educador poderá repensar e aprender a “reacreditar”

sempre que a Educação, em toda modalidade pode, e muito, ajudar na

transformação de uma sociedade melhor.

O tópico que segue aborda a Educação Sociocomunitária e sua contribuição

nas atividades sociais e educativas da Pastoral da Criança.

2.6. Educação Sociocomunitária

Este tópico reflete sobre o papel da Educação Sociocomunitária, diante das

ações sociais e educativas da Pastoral da Criança, numa comunidade carente e com

grande vulnerabilidade social.

Com base nas concepções de Gomes (2008) a educação sociocomunitária

deve ser observada neste estudo como um processo de fazer sentido de mundo a

partir de uma práxis educativa, vista sob a perspectiva do sujeito que a praticou ou

dos valores desse sujeito, construindo um modo de ser e fazer educação junto à

comunidade.

É preciso, portanto, compreender que ao se propor o estudo da Educação

sociocomunitária, a proposta não é feita como hipótese de resolução de todos os

problemas sociais e educativos, mas “como problematização das possibilidades de

emancipação de comunidades e pessoas em constituir articulações políticas,

expressas em ações educativas, que provoquem transformações sociais

intencionadas”. (GOMES, 2008, p.49).

Faz-se aqui uma ressalva sobre a escolha da linha de pesquisa do programa

de mestrado, utilizada no meu projeto acadêmico e que culminou nesta dissertação.

Trata-se do sentido da Educação Sociocomunitária que, no parecer de Gomes

(2009, p.05) “é, assim, numa primeira visão, o estudo de uma tática pela qual a

comunidade intencionalmente busca mudar algo na sociedade por meio de

processos educativos”.

Socializo a linha de pesquisa elencada pelo UNISAL como Linha 2.

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Linha 2 – A intervenção educativa sociocomunitária: linguagem, intersubjetividade e práxis.

Descrição: Investigação das ações e das formas de intervenção educativa sociocomunitária a partir das articulações das linguagens como construção do conhecimento, apreensão e transformação do mundo. A construção do discurso pedagógico na contemporaneidade, como crítica à coisificação do educando, como desenvolvimento de alteridade e autonomia. Os instrumentos de elaboração e interpretação das linguagens para compreensão e significação histórica da práxis educativa.

Com base nessas considerações acerca da descrição da linha de pesquisa e

com os conceitos de Educação Social e Educação Sociocomunitária apresentados

neste capítulo, é aqui apresentado o entendimento de Caro (2005) sobre ambas.

A Educação Social, para Caro (2005, p.134) é resultado ou produto de

processo de socialização que pode tanto ter equivalência como ser traduzido em:

Um conjunto de habilidades desenvolvidas pela aprendizagem, capacitam o homem para conviver com os demais e adaptar-se ao estilo de dominante na sociedade e cultura a que pertence, aceitando e cumprindo, ao menos, suas (da sociedade e cultura) exigências mínimas.

Já a Educação Sociocomunitária:

Podemos entender como uma construção histórica, que procura despertar interesses das classes desfavorecidas e entender o processo de legitimação ideológica relacionada à lógica do mercado no mundo capitalista. Discutimos e defendemos em nosso trabalho enquanto educação social e comunitária, reivindicações sociais sobre o despertar de possibilidades em busca do direito e da cidadania. Insistimos na defesa de uma educação social voltada as classes desfavorecidas ou excluída dos privilégios sociais, incluímos nela o despertar dos sonhos chegando-se até a conclusão de que a educação social comunitária é uma utopia desejada. (LIMA et al., 2007, p.175).

Aqui observa-se que ao propor uma emancipação, a educação pode e muito

contribuir com esta problematização, já que todo processo de ensino aprendizagem

na relação com o outro envolve duas ou mais pessoas; não necessariamente uma

que ensina e a outra que aprende, mas, tantos que ensinam e aprendem na relação

com o outro.

Proporcionar uma educação voltada para o crescimento de uma

comunidade, com intervenções políticas sociais e educativas é uma prática a ser

legitimada, conforme cita Freire (1995):

É na experiência de serem exploradas e na prática de arregimentar-se para superar a situação concreta de opressão que as classes populares se conscientizam. Por isso, a mobilização que implica a organização para a luta é fundamental à conscientização, que é algo mais profundo que a pura tomada de consciência, a prise de conscience dos franceses. A tomada de

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consciência, o dar-se conta dos fatos sem deles, porém, alcançar a razão de ser, prescinde da luta. A conscientização é a tomada de consciência que se aprofunda. Esse aprofundamento é gerado na práxis e a reflexão sobre a própria luta que iniciou o processo de conscientização o intensifica. E um ciclo dinâmico. (FREIRE, 1995, p.87).

Freire (1995) ressalta o papel da educação e a necessidade dos educadores

serem críticos e terem uma postura de libertação, ajudando os seus educandos a

deixarem de serem explorados e dominados. Segundo Freire (1995) trata-se de uma

educação:

Que tem a ver com a palavra escrita e falada, que tem a ver com o ouvir e com o falar. Não há dúvida alguma de que também tem a ver com a luta. Há uma educação revolucionária antes e outra depois que a revolução se instala. Antes ela não pode ser feita pelo poder que silencia, mas somente dentro dos movimentos sociais populares, dentro dos sindicatos, dentro dos partidos populares não-populistas. E através de educadores que façam a sua conversão, o seu suicídio de classe, os pedagogos trânsfugas. Quando o grito se encarna no poder então a educação revolucionária toma outra dimensão, pois o que foi educação contestadora passa a ser agora educação sistematizada: trata-se então de recriar, de ajudar na reinvenção da sociedade. Na fase anterior ela ajudava o grito para a derrubada de um poder hostil às massas, com elas no poder a educação passa a ser um instrumento extraordinário de ajuda para a construção da sociedade nova, para a criação do homem novo. (FREIRE, 1995, p.93).

A Educação deve ser pensada como processo de ajuda integral na vida das

pessoas e deve ocorrer em diversos espaços entre eles: trabalho, casa, família,

comunidade, escola, cinema e etc... A Educação não pode ocorrer fora de um

contexto social, histórico, cultural e econômico e no trabalho da Pastoral da Criança,

objeto de estudo desta dissertação, o diálogo é um dos pontos forte nessa relação

da educação.

Como bem afirma Gomes, é preciso, portanto, compreender que:

Ao se propor o estudo da educação sociocomunitária, a proposta não é feita como hipótese de resolução de todos os problemas sociais e educativos, mas como problematização das possibilidades de emancipação de comunidades e pessoas em constituir articulações políticas, expressas em ações educativas, que provoquem transformações sociais intencionadas. (GOMES, 2009, p.75)

A Educação é um ato político libertador, no sentido de que ela induz o sujeito

a ser questionador e crítico da sua própria realidade.

[...] A libertação é o fim da educação. A finalidade da educação é libertar-se da realidade opressiva e da injustiça; tarefa permanente e infindável [...] A educação visa a libertação, a transformação radical da realidade, para melhorá-la, para torná-la mais humana, para permitir que os homens e as mulheres sejam reconhecidos como sujeitos da sua história e não como objetos (GADOTTI, 1996, p.80-81).

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Com base nessas possibilidades de restauração, resgate da cidadania e

autoestima pessoal dessas famílias, muitas vezes excluídas socialmente, a Pastoral

da Criança tem contribuído na luta contra essas mazelas sociais. O diálogo é uma

das propostas da Educação Sociocomunitária. Na comunidade para que o sujeito

seja reconhecido é preciso haver esse diálogo que, como bem cita Freire em suas

distintas obras, educa e liberta. E isso é o que acontece na Pastoral da Criança.

Freire (2006) explica esse diálogo como tarefa de quem educa e quer se

educar.

Ao contrário, educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem - por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais - em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais. (FREIRE, 2006, p. 25).

Esse educar e educar-se pode ser observado quando da pesagem da

criança, que acontece uma vez ao mês; nesse dia, a família (o responsável e a

criança sentada no círculo) participa de debates, palestras e oficinas, sempre com

temas pertinentes à saúde, educação, trabalho e convivência familiar.

Através dessa perspectiva todo sujeito tem o seu dever, assim como o seu

direito a uma educação de qualidade, significativa, com o seu propósito de

cidadania, conhecimento e também de pertencimento a sua comunidade e a

sociedade em geral.

Gadotti (2012) relembra a educação popular comunitária concebida por

Paulo Freire.

[...] podemos considerar como experiências de educação popular comunitária aquelas que incorporam em seu quefazer, de maneira articulada, os eixos do produtivo, do organizativo e do educativo. Os campos de ação da educação popular comunitária podem ser tanto a escola formal, como a educação não-formal, as organizações econômicas populares, a educação municipal, as escolas produtivas e mesmo as microempresas, os movimentos populares e sociais etc. Aprender através da atividade produtiva não significa limitar a aprendizagem do educativo a um quefazer técnico-produtivo: a educação popular comunitária deve possibilitar aos educandos o acesso a um saber mais geral exigido para o acesso a outros níveis de escolaridade e de trabalho. Aprender a partir da atividade produtiva tem implicações na teoria educacional, no curriculum escolar e na política educacional. Com a educação popular comunitária o trabalho e a produção, como princípios educativos, foram definitivamente incorporados ao campo da educação popular transformadora. Paulo Freire, no prefácio do livro organizado por Cyril Poster e Jürgen Zimmer ‘Educação Comunitária no Terceiro Mundo’, afirma que a educação comunitária consegue ‘aprender na comunidade, com ela e para ela’ e associa

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‘instrução e organização sociopolítica dos pobres’ (GADOTTI, 2012, p. 16-17).

Gadotti (2012) destaca que educação é um processo que engloba as

experiências de vida e os processos de aprendizagem não formais, no

desenvolvimento da autonomia tanto da criança quanto do adulto, ultrapassando os

limites do escolar. É um conceito de educação que incorpora a essência da

educação social em qualquer espaço educativo. O autor afirma que "toda a

educação é, ou deve ser, social, já que quando falamos de educação não podemos

prescindir da sociedade, da comunidade e do contexto familiar, social e político onde

vivemos" (GADOTTI, 2012, p. 9).

O compromisso da educação é que ela se torne a forma privilegiada de

humanização das pessoas, de mudança e comprometimento social e cultural.

Vale aqui socializar outro conceito bastante significativo sobre a Educação

Salesiana com a Educação Sociocomunitária, com base em autores como Isaú,

Caro e Evangelista. Evangelista citado por Caro (2015) relata que os estudos sobre

a educação salesiana têm sistematicamente encontrado a proximidade da ação

educativa salesiana com os conceitos da educação sociocomunitária.

Na concepção de Isaú (2007, p.3) para aprofundar esses estudos

“precisamos traçar, do ponto de vista teórico-metodológico, a evolução histórica do

modelo de comunidade" e de vida comunitária, denominada “vida de família”,

praticado e vivido pelos salesianos em suas instituições educativas desde o início de

sua história com S. João Bosco”.

Dessa maneira, se pretende conseguir subsídios para o conceito de

educação sociocomunitária, ainda em construção. Para Isaú (2007)

Por educação comunitária, em princípio, seria a educação realizada numa comunidade para viver em comunidade e realizar-se com a participação desta e para o desenvolvimento desta sem descuidar da realização da própria pessoa humana. Já a educação social realiza-se na sociedade, para o desenvolvimento da sociedade, ampliando o âmbito da educação comunitária, pois entendemos que a sociedade é a integração das comunidades em um organismo mais vasto, o ‘mundo social’, ou ‘superorganismo’. Em ambos os casos a educação individual só se concebe integrada nas duas estruturas, para a própria realização individual. Por isso chamamos de educação sócio-comunitária. Finalmente, é muito difícil conceber a educação sem que ela seja por si mesmo. (ISAÚ, 2007, p.6).

Esta reflexão mostra a preocupação com a formação do ser humano. Ao

acreditar na capacidade de transformação dos sujeitos, dentro da comunidade,

cabe, mais uma vez, mencionar Paulo Freire que deixou como legado a sua

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preocupação com o social, de como resgatar o cidadão de sua alienação para

exercer efetivamente sua cidadania e ter sua dignidade.

É este pensamento de Freire (1987), sobre o sentimento de amor ao

próximo, o desejo de um mundo melhor e o diálogo que se fazem presentes em

todas às ações da Pastoral da Criança, que são alicerçadas em princípios, respeito,

solidariedade e transformação social das famílias atendidas.

Com base em autores, professores do programa de mestrado em educação

sociocomunitária do UNISAL, foram elaborados dois quadros com citações que

firmam os dois últimos tipos de educação apresentados nesta revisão da literatura.

São autores engajados numa Educação comprometida com um sujeito de direitos,

que precisa de uma educação que transforma e liberta.

Quadro 3 Educação Sociocomunitária e Alguns Conceitos

EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA e Alguns Conceitos...

Apesar dos estudos sobre a Educação Sociocomunitária serem recentes, a sua prática não se trata de uma novidade. Pois, segundo Noronha (2004 apud GROPPO, 2010): A educação sociocomunitária sempre existiu ao longo da modernidade, ao lado ou no interior dos sistemas educacionais hegemônicos, e até mesmo antes da constituição destes sistemas, como as cooperativas e as experiências anarquistas dentro dos movimentos operários europeus do século XIX. (NORONHA, 2004 apud GROPPO, 2010, p. 70).

Na perspectiva de Ribeiro Júnior (2006), uma Educação Sociocomunitária deverá ser aquela que pressupõe:

1) Que o sujeito da Educação Sociocomunitária é a pessoa, isto é, enquanto pessoa;

2) Que o dever e o direito à educação fundamentam o princípio de liberdade;

3) Que o fim da Educação Sociocomunitária é a personalização, isto é, crescer em sua própria personalidade, o que implica crescer na consciência de si em sua relação com a sociedade.

4) Que é a partir desta personalização que empurra a pessoa para a convivência sociopolítica, que irá despertar nela a vontade livre de sua integral realização como ser humano. (RIBEIRO JÚNIOR, 2006, p. 48).

Gadotti (2012) cita Martins (2012) referindo-se a educação sociocomunitária, “’em construção’ descreve a busca para realçar o papel social e transformador da educação comunitária e distinguir-se de uma educação em geral na qual a comunidade de maneira consciente busca mudar algo na sociedade apoiando-se de processos educativos”.

Fonte: Elaborado pela Autora.

Essas concepções levam à reflexão sobre uma maior clareza conceitual do

termo Educação Sociocomunitária, que tem como base teórica da educação a

formação do ser humano, em todos os aspectos sociais, culturais e de reinserção do

sujeito na sua comunidade.

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Quadro 4 Educação Social e Alguns Conceitos

EDUCAÇÃO SOCIAL e Seus Conceitos...

"A educação social reconhece a pessoa como um ser que pensa, age, sente, que traz consigo uma cultura que precisa ser respeitada para que ele possa crescer e desenvolver, pois a cultura faz parte da identidade do ser humano e os valores são imprescindíveis em sua formação". (EVANGELISTA apud GOMES, 2003, p.210).

[...] “se encontra educação social em textos referentes à arte-educação, à socioeducação, a movimentos de direitos humanos, à educação ambiental, à educação comunitária, à educação popular, à educação do campo, à educação especial, à educação de adultos, dentre outros. (MACHADO; SOUZA, 2013, p. 5).

Segundo Gadotti (2012, p.6), a educação social segue os passos da Educação Popular, na luta para tornar-se política pública, "entendo que a própria educação não formal também aspira a ser política pública”.

A afirmação de Gadotti (2012) vem ao encontro da compreensão de educação que se aborda no decorrer desta pesquisa. “Compreende-se educação como um espaço de formação integral do indivíduo, que acontece em diferentes espaços de relação social (família, escola e sociedade). Nessa perspectiva, amplia-se o olhar para o campo de atuação da educação, não se restringindo apenas ao espaço escolar, incluindo-se a educação social e englobando seu amplo campo de atuação” (GADOTTI, 2012, p. 11).

Fonte: Elaborado pela Autora.

Com o olhar sempre na transformação social do sujeito, assume-se o

compromisso diante de uma comunidade ou sociedade, de uma práxis libertadora e

conscientizadora e isso se dá numa Educação compromissada com o social e o

educativo.

Após a finalização deste capítulo de revisão da literatura o estudo parte para

a pesquisa propriamente dita, que enfoca a Pastoral da Criança e a Educação

Sociocomunitária.

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CAPÍTULO III PASTORAL DA CRIANÇA E A EDUCAÇÃO

SOCIOCOMUNITÁRIA

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os

nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-

la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

Essa epígrafe de Fernando Pessoa me conduz ao objeto deste estudo, o

bairro Cidade Satélite Íris I e, nessa travessia pela comunidade, a oportunidade de

conhecer todo o trabalho social e educativo da Pastoral da Criança.

Foi essencial o trabalho de campo, a partir do qual consegui organizar e

mapear todas as intervenções sociais da Pastoral da Criança nessa comunidade do

bairro Cidade Satélite Íris I. O recorte desta pesquisa se deu pelo envolvimento

desta pesquisadora com o trabalho da Pastoral no período de 2003 a 2013, e

também pelo conhecimento dos fatores socioeconômicos do bairro, a falta de

infraestrutura, de pavimentação, de posto de saúde ou área de lazer, de rede de

esgoto em conclusão, enfim, um bairro que não possui ainda a Regularização

Fundiária.

Em sua formação escolar, os chefes das famílias atendidas pela Pastoral da

Criança não concluíram o Ensino Fundamental, enquanto as crianças, em sua

maioria, vivem em situação de vulnerabilidade social. A subsistência dessas famílias

é garantida, principalmente, por fontes de renda informais, gerada pelo trabalho sem

registro em casas de famílias, como empregadas domésticas, faxineiras, diaristas,

pedreiros, serventes e ajudantes gerais.

Em meio a esse histórico de lutas, fiz uso de entrevistas, questionários e

relatos de pessoas atendidas pela Pastoral da Criança, mediante os quais fui

costurando os saberes e vivências dessa comunidade e sua vulnerabilidade social,

cujo conceituo tem base em Ximenes (2015):

Vulnerabilidade social é um conceito multidimensional que se refere à condição de indivíduos ou grupos em situação de fragilidade, que os tornam expostos a riscos e a níveis significativos de desagregação social. Relaciona-se ao resultado de qualquer processo acentuado de exclusão, discriminação ou enfraquecimento de indivíduos ou grupos, provocado por

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fatores, tais como pobreza, crises econômicas, nível educacional deficiente, localização geográfica precária e baixos níveis de capital social, humano, ou cultural, dentre outros, que gera fragilidade dos atores no meio social. (XIMENES, 2015)

Outro recurso que muito contribuiu para a realização do estudo foi conhecer

também o histórico de atuação local da Igreja Católica, que tem como foco, além de

pregar o evangelho, ajudar os pobres visando à construção de uma sociedade mais

justa, humana e emancipadora.

Figura 1 – Igreja Comunidade Dom Bosco – Início da Pastoral da Criança no Jd. Cidade Satélite Íris I

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

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Figura 2 – Igreja São Judas Tadeu – Pastoral da Criança em atuação no momento.

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

3.1. Cenário da Pesquisa: Bairro Cidade Satélite Íris I

No futuro, quando se lembrarem de nós, o que pensarão desse nosso tempo de travessias? Que imagens fundadoras

emergirão? O que permanecerá como contribuição ao trabalho civilizatório, à humanização da história?

Severino Antônio Barbosa

O bairro Cidade Satélite Íris 1, cuja maioria dos habitantes é de migrantes do

Nordeste e do Paraná, está localizado na região noroeste da cidade de Campinas-

SP, que pertence à Administração Regional AR 13 Campo Grande, composto por

um conjunto de quatro bairros denominados respectivamente: Cidade Satélite Íris I,

II, III e IV. Essa divisão se deu pela população que foi nomeando a área conforme as

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pessoas foram construindo, mas, nos registros da Prefeitura, consta o nome Cidade

Satélite Íris, sem a referida divisão no mapa. Trata-se de uma região periférica de

Campinas, distante do Centro e entrecortada pela Rodovia dos Bandeirantes.

Mesmo existindo há aproximadamente 55 anos, o bairro ainda se encontra

em processo de Regularização Fundiária, com um histórico de reivindicações

referentes a serviços de saneamento, pavimentação e posto de saúde. Os

equipamentos públicos disponíveis são: duas escolas públicas estaduais do Ensino

Fundamental ao Ensino Médio, uma escola municipal de Educação Infantil, um

centro profissionalizante denominado Centro de Educação Profissional de Campinas

(CEPROCAMP) e uma unidade da Nave-Mãe.

As Naves-Mãe são creches construídas pelo munícipio de Campinas para

atender a demanda da Educação Infantil; foi através da Vara da Infância e da

Juventude que gerou uma ação para o munícipio cumprir e zerar o déficit da lista de

espera (de crianças de 0 a 5 anos). É um novo modelo para a Educação Infantil no

qual a prefeitura constrói o prédio, sempre em locais carentes, ou seja, em regiões

mais pobres e uma ONG passa a gerenciar esse espaço, contratando todos os

funcionários. Outro objetivo desse projeto é que além de atender às crianças são

oferecidos cursos pelo CEPROCAMP que são gratuitos e os alunos recebem passe

social e lanche; do mesmo modo são oferecidos cursos para a formação das mães

atendidas pelas Naves-Mãe, num trabalho de parceria com o CEPROCAMP.

. A Nave-Mãe, do bairro objeto de estudo atualmente atende 220 crianças de

0 a 5 anos, parte delas vindas de bairros vizinhos.

Também se encontram ali duas Organizações Não Governamentais (ONGs),

um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e um Módulo de Saúde, que

funciona em um galpão alugado pela Prefeitura.

O bairro possui características próprias de um lugar abandonado pelos

órgãos públicos. Somente as ruas que recebem o itinerário do ônibus são

asfaltadas, além disso, apenas uma parte do bairro foi contemplada com a rede de

esgoto em 2014 e, por isso, muitos moradores ainda não têm saneamento básico.

Para a construção do posto de saúde é necessária uma área com uma

dimensão que, no momento, o bairro não tem, sendo preciso desapropriar um

terreno particular para esse fim. Ocorre que todas as áreas públicas foram ocupadas

por uma invasão há anos, o que impede a Prefeitura de fazer a retirada dos

ocupantes e, em lugar disso, dotar o bairro de infraestrutura adequada. E como a

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Regularização Fundiária ainda não foi concluída, muitos sonham ansiosos, com o

documento de posse de seu terreno.

Por conta da área em situação de "invasão" desde sua implantação, as

casas são construções simples, havendo algumas ainda feitas de madeira, antigos

barracos erguidos, sobretudo, em áreas públicas. Por isso, somente algumas

contam com saneamento básico e a grande maioria usa energia e abastecimento de

água de forma irregular, os famosos "gatos".

Geograficamente, o bairro é muito extenso, existindo a parte alta, que abriga

terrenos próprios com casas com ótimas construções, e a parte baixa, cuja quase

totalidade foi invadida e onde se formaram "favelas". Encontra-se aí a maioria da

comunidade que a Pastoral da Criança atende até hoje desde sua implantação no

ano de 2003.

O comércio é escasso e muito improvisado pelos próprios moradores.

Menciono o comércio escasso porque não há farmácia, são poucos mercados,

poucas padarias e mesmo lojas de roupas e armarinhos, onde se vende de tudo.

Fazem parte de seu entorno: o Shopping Parque das Bandeiras, o Hospital da PUC-

Campinas e o Hospital Ouro Verde, porém, aproximadamente quatro quilômetros de

distância.

A partir dessa descrição é possível inferir que se encontram nessa

comunidade, muitas características da exclusão social, cujo processo, de acordo

com Gohn (1999, p. 9-12), “[...] já não se limita à categoria das camadas populares,

historicamente excluídas das condições condignas de renda, salário, saúde,

educação, moradia, transportes, etc. [...]”. Neste novo cenário, “as lutas sociais

relevantes serão pela inclusão social de setores sociais que antes eram excluídos

por estarem em desigualdade socioeconômica e que, agora, estão excluídos

também por suas desigualdades socioculturais” ambientadas no “sistema

educacional, raça, etnia, sexo etc.”. (GOHN, 1999, p.9-12).

Em resumo, um bairro que, em pleno século 21, luta pelos seus direitos

básicos e se vê excluído de várias formas, diante do descaso dos órgãos públicos.

A fotografia na Figura 3 mostra como é a entrada do bairro, uma das poucas

ruas pavimentadas para a circulação e ônibus; já a fotografia 4 mostra o restante do

bairro sem pavimentação.

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Figura 3 – Entrada do Bairro Cidade Satélite Íris I: a rua é asfaltada no itinerário do ônibus.

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

Figura 4 – Rua ainda não asfaltada: situação comum na maior parte do bairro

Fonte: Arquivo Pessoal da Autora

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3.2. Comunidade

Após apresentar o cenário, o estudo tem seu foco no objeto desta pesquisa

que é a própria comunidade.

Groppo (2011) afirma que a sociedade se configura pelas relações

estabelecidas voluntariamente com grupos secundários e que se constroem via

contratos entre indivíduos, considerando certos interesses individuais singulares,

independentemente de outros vínculos geográficos, de ordem comercial, partidária,

acadêmica ou de qualquer outro gênero. Para Groppo (2011, p.4) “comunidade e

sociedade são lógicas sociais relacionadas a aspectos fundantes e fundamentais da

vida humana: segurança (garantia da vida) e liberdade (expressão da vontade)”.

Já o Michaelis, dicionário de português online (2015) traz, para o termo

“comunidade”, a seguinte definição:

sf (lat communitate) 1 - Qualidade daquilo que é comum; comunhão. 2 - Participação em comum; sociedade. 3 - Sociol Agremiação de indivíduos que vivem em comum ou têm os mesmos interesses e ideais políticos, religiosos etc. 4 - Lugar onde residem esses indivíduos. 5 - Comuna. 6 - Totalidade dos cidadãos de um país, o Estado.

Com base nestas definições busca-se neste capítulo abordar todo o histórico

do bairro Cidade Satélite Íris I e, de uma forma especial, mostrar a realidade de um

bairro que hoje necessita de voz para lutar pelos seus direitos básicos. Trata-se de

uma comunidade onde já se viu muita violência, se comparada ao quadro atual da

região que é crítico. Porém, a falta de infraestrutura desumaniza os moradores, que

têm de conviver com o esgoto a céu aberto em muitas ruas, assim como quando

chove algumas vias ficam intransitáveis para pedestres, carros, caminhão de lixo e

outros utilitários, do mesmo modo para a entrega de móveis, compras diversas, gás,

água etc., sem contar as muitas doenças que são causadas por essa mesma falta

de infraestrutura.

Devido a essa situação vivenciada pelos moradores em geral, a Pastoral da

Criança vem colaborar, e muito, para a melhoria da qualidade de vida nesta

comunidade cultural, social e economicamente carente e onde, infelizmente,

crianças e adolescentes estão propensos ao uso de drogas, bebidas alcoólicas,

violência e desmandos de todos os lados.

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Retomando a definição de comunidade, é oportuno citar as palavras de

Gomes (2008) sobre o termo:

O termo é dotado de tal valor benéfico que raramente se lê ‘a comunidade dos presidiários entrou hoje em rebelião...’, ‘a comunidade criminosa que controla o tráfico na favela tal...’, ‘a comunidade terrorista conseguiu hoje mais uma vitória ao explodir um caminhão-bomba...’. Comunidade é um termo de tal modo associado a bem comum, que quando se trata do mal comum, ela passa por um apagamento extremo. A retórica a preserva de ser má. O que estamos dizendo é que se faz necessária uma consideração crítica e uma enorme cautela ao se substituir termos que designam coletivos localizados, tais como grupos ou movimentos pelo termo comunidade, pois este último é tomado por uma bondade ideológica quase tão imensa quanto os termos família, no discurso social, ou vida, no discurso ético. (GOMES, 2008, p.6).

E em que medida a Educação interfere na vida dos moradores de uma

comunidade? O melhor sentido da educação na vida de um cidadão é tornando-o

consciente de seu papel na sociedade, convertendo-o em agente de transformação

de sua realidade.

Na concepção de Souza (2000):

A comunidade não é realidade autônoma que se possa traduzir em elementos distintos da própria sociedade na qual se situa. A sociedade, no entanto, se expressa em situações sociais diversas, algumas das quais assumem características específicas. A comunidade é uma dessas situações. Nesse sentido, a compreensão de sua realidade supõe a compreensão da realidade social global. (SOUZA, 2000, p.64).

Diante dessas concepções, entende-se que a comunidade é muito mais que

um bairro. E tal inferência leva a mais um questionamento para que se possa

compreender como a comunidade do bairro Cidade Satélite Íris I vê as ações de

intervenção da Pastoral da Criança na vida das famílias por ela assistidas, se com

bons olhos.

Para verificar o que a Comunidade sabia sobre as ações da Pastoral da

Criança, foi elaborado um questionário, cujo modelo é apresentado mais à frente,

que, no momento de sua tabulação mostrou que ainda existem pessoas que não

conhecem as principais ações da Pastoral, como também há aquelas que até já

ouviram falar dela, porém, nunca procuraram saber o que realmente acontece. Do

mesmo modo há uma grande parte que sabe e vê o grande benefício que a Pastoral

da Criança tem feito e continua fazendo na vida das famílias carentes do bairro.

Uma das ações da Pastoral foi dar a receita do “nutrimistura” no tratamento auxiliar

da anemia (um preparado com casca de ovo fervida e triturada, semente de abóbora

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ou gergelim triturada, farelo de arroz, farinha de milho ou fubá e pó de folha de

mandioca (aipim) tudo triturado e cozido), utilizado também para crianças com baixo

peso, mães gestantes e mães que estão amamentando (se for necessário).

Um dos benefícios, inclusive do preparado, se observa no dia da pesagem.

Cabe apontar que ocorreu uma grande transformação por intermédio dos temas

trabalhados no dia da pesagem, principalmente, sobre saúde, violência doméstica,

direitos trabalhistas, cuidados com os filhos, relação conjugal, educação alimentar,

ervas medicinais etc., discutidos em uma roda de conversa, como também nas

visitas domiciliares. E pelo viés da afetividade, percebeu-se também um aumento da

autoestima, respeito mútuo na socialização e na aprendizagem como um todo.

E tudo se deu ao lidar com esses sujeitos valorizando suas bagagens de

conhecimentos e vendo suas necessidades, respeitando suas diferenças por meio

do diálogo e mostrando como é importante praticar a cidadania, fazendo valer o que

já foi devidamente registrado. Gallo (2001, p.135) escreve sobre o conceito de

cidadania e seu “duplo aspecto” como um “atributo de todo ser humano”, e uma

“condição política”.

[...] podemos definir a cidadania como a relação de pertença a uma comunidade. Já Aristóteles mostrava que é inerente ao ser humano a condição política; é dele a célebre afirmação de que ‘o homem é um animal político’ Ora, [...] somos, necessariamente, pertencentes a uma comunidade... Desta forma, podemos afirmar que a cidadania é inerente à condição humana; ou, com outras palavras, ser humano é, necessariamente, ser cidadão. Se, de fato, a cidadania é inerente à condição humana, nascemos já cidadãos. Então, qual a razão de se educar para algo que nos é intrínseco? (GALLO, 2001, p.135-136).

E Gallo (2001) reafirma esta questão ao apontar que:

A cidadania nada é se não a exercitarmos. Sendo inerente à condição de humano, ela depende de nossas ações. [...] a cidadania está em nós, mas só existe de fato quando pertencemos ativamente a uma comunidade da qual tomamos parte que faz de nós cidadãos de fato (GALLO, 2001, p. 135-136).

Por essa razão o foco deste estudo que busca verificar o ponto forte do

trabalho da Pastoral da Criança diante das desigualdades sociais gritantes nesta

comunidade.

E qual o papel da Educação no sentido de amenizar as desigualdades

instaladas, já que as crianças do bairro Cidade Satélite Íris I convivem com a falta de

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políticas adequadas para suprir as necessidades em termos de saúde, moradia,

educação, lazer, segurança e outros serviços?

Aqui, cabe registrar a visão de Salgado (2015) sobre o conceito de

desigualdade social, o qual tem se tornado:

[...] de vital importância para compreender os processos de mudança histórico-sociais contemporâneos, assim como para entender a ação dos estados junto aos diversos fenômenos de privação e vulnerabilidade social; mas é também uma ferramenta para delinear as políticas públicas, assim como os perfis e alcances dos Estados de Bem-estar. (SALGADO, 2015).

A Educação aqui pode ser vista como aquela que promove uma mudança

significativa na comunidade tão carente, isto porque, a Pastoral da Criança como

aliada da Educação objetiva, por meio de suas intervenções e pelo uso de práticas

educativas promover a construção do diálogo que vai transformar os moradores em

cidadãos críticos e criativos, com direito a ter voz sobre sua realidade.

Durante todo esse meu caminhar, ao longo do projeto e da realização da

presente pesquisa, uma das perguntas que esteve presente em minha mente foi:

como as ações da Pastoral da Criança favoreceram o processo de aprendizagem e

emancipação dessa comunidade?

Foi no decorrer da pesquisa de campo que pude perceber que os saberes

da comunidade tomam mais visibilidade quando um novo aprendizado surge,

trazendo a seus componentes a oportunidade de serem ouvidos.

O tópico que segue apresenta como se deu a composição metodológica da

pesquisa.

3.3. Metodologia de Pesquisa

Para Freire (1987), o diálogo é condição humana, dialogar é humanizar-se, é

existenciar-se. Segundo o autor “existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é

modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos

pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar”. (FREIRE, 1987, p.92).

Neste estudo foi utilizada a pesquisa bibliográfica com abordagem

qualitativa, baseada na definição de Lüdke e André (1986), principalmente no que se

refere ao contato com o campo, isto é, com a situação que está sendo investigada e

a presença do pesquisador como principal instrumento de pesquisa. De fato, a

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coleta exigiu que a pesquisadora entrasse em contato com todo o material levantado

e pesquisado, tendo como foco principal o processo e não somente os resultados.

A literatura utilizada sobre a Pastoral da Criança foi obtida pelo Guia do

Líder da Pastoral (2007) e pelas informações disponibilizadas no site da Pastoral da

Criança. Depois, o foco passou a ser sobre a Educação Formal, Informal, Não formal

e Educação Social.

Na pesquisa bibliográfica, foi realizada a leitura de dissertações e teses

relacionadas à Pastoral da Criança, como também sobre Educação

Sociocomunitária. Dessa forma, fiz um levantamento do volume de estudos já

produzidos na área, englobando o banco de teses e dissertações da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ao usar a palavra-

chave "Pastoral da Criança", foram encontrados quatro trabalhos, nenhum

diretamente relacionado ao tema eleito. O levantamento dos trabalhos aqui

apresentados teve a única intenção de conhecer a existência de dissertações de

mestrado ou teses de doutoramento que tenham abordado o trabalho da Pastoral da

Criança.

Os títulos das Dissertações de Mestrado encontradas foram:

1) Fatores de Redução da Mortalidade Infantil em Franca-SP: A contribuição

do Ambulatório de Crianças de Alto-Risco e da Pastoral da Criança, de autoria de

Edson Zangia Comi (2011).

2) Mobilização Social e Cidadania: Estudo de Recepção sobre a influência

do Programa Viva a Vida, de autoria de Euclídia Dinormanda Monteiro da Silva

Azevedo (2011).

3) Teatro da Encarnação contribuições do Teatro de Animação para

Teologia da Missão, de autoria de Marcelo Ramos Saldanha (2012).

4) A Atuação da Igreja Católica junto ao Adolescente em conflito com a Lei:

A Pastoral do Menor e o Programa Liberdade Assistida Comunitária, de autoria de

Domingos Sávio Abreu (2012).

Já no site de buscas Google foram encontradas algumas Dissertações de

Mestrado e uma única Tese de Doutoramento:

1) Pastoral da Criança: Uma Prática Político-Educativa Não Formal, de

autoria de Sueli Aparecida Bertol Barbosa (2008).

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2) Alfabetização e Letramento no Processo de Socialização de Lideranças

Comunitárias: Análise de uma Experiência na Pastoral da Criança, de autoria de

Francisco Edson Garcês Carneiro Lira (2004).

3) Terceiro Setor e voluntariado: A busca por um desenvolvimento local,

integrado e sustentável na Pastoral da Criança, de autoria de Ivan de Melo Dutra

(2007).

4) Ser Criança e ter Infância na Pastoral da Criança, de autoria de José

Mateus do Nascimento (2007).

5) O Jornal da Pastoral da Criança como instrumento de Promoção da

Cidadania, de autoria de Aline Fernanda Lima Paula (2007).

No site da Pastoral não foram encontradas produções acadêmicas. No site

do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), nenhuma tese

ou dissertação foi encontrada sobre a Pastoral da Criança.

Após a revisão da literatura ocorreu a busca pelos pesquisados, que se deu

por meio de conversas informais com os líderes e outros membros da comunidade

envolvida, além de entrevistas conduzidas por roteiros com perguntas fechadas e

semiabertas, permitindo configurar a atuação da Pastoral da Criança da Igreja

Comunidade Dom Bosco (Igreja Católica), com pormenores de suas ações no bairro

Cidade Satélite Íris I, em Campinas, SP.

Não há, na comunidade, registros escritos sobre o trabalho realizado,

apenas fotos de alguns líderes e as fichas cadastrais (individuais) dos atendidos, o

que demonstra não haver uma prática do registrar, ou seja, não há um livro de

memórias sobre o caminhar da Pastoral da Criança nessa região. Com isso, o

registro oral, nas entrevistas, apresentou-se como uma ferramenta decisiva para

esta pesquisa, nas quais os sujeitos tiveram direito a voz para falarem e darem suas

opiniões sobre essa rica experiência da Pastoral da Criança.

Acerca do método de coleta junto ao grupo da comunidade, Oliveira (2008)

aponta que:

O contato com o campo deve ser direto, tendo uma longa duração para que se possa melhor entender a vida do grupo pesquisado. Durante esse tempo, o estudioso pode utilizar algumas técnicas para obter um quadro mais completo do ambiente analisado. A abordagem etnográfica permite a combinação de técnicas como, por exemplo: a observação, a entrevista, a história de vida, análise de documentos, vídeos, fotos, testes psicológicos, dentre outros (...) (OLIVEIRA, 2008, p.5).

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Assim, para o desenvolvimento do presente estudo, utilizou-se de diferentes

técnicas como fotos, vídeos e entrevistas, sendo que "a metodologia utilizada para a

coleta e o tratamento de dados, privilegia a abordagem qualitativa, isto porque este

tipo de abordagem preocupa-se em retratar a perspectiva dos participantes”

(LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.13), aqui entendida como fundamental para a

compreensão do objeto a ser investigado, ou seja, a responsabilidade social da

Pastoral da Criança.

O trabalho de observação em campo levou-me à Igreja Comunidade Dom

Bosco, erguida dentro do bairro Cidade Satélite Íris I, numa área que tem o maior

número de crianças atendidas, marcadas pelas desigualdades sociais, onde a luta

pela sobrevivência e a busca por melhores condições de vida e trabalho são mais

presentes.

Nesta etapa foi gravada entrevista com os líderes da Pastoral da Criança,

neste caso, 04 entrevistados.

E a história da Pastoral da Criança no bairro Cidade Satélite Íris I, em

Campinas-SP, teve o seu início conforme relata a líder Josefa, uma das

entrevistadas.

Ressalto aqui que as entrevistas estão na íntegra, exatamente transcritas do

jeito que foram gravadas, sem qualquer correção ou revisão.

Segue a voz da Dona Josefa, uma líder da Pastoral no bairro.

Meu nome é Josefa da Comunidade Dom Bosco (né) a gente tinha comunidade ali, fizeram um pé de árvore (né), e neste pé de árvore tinha um galho seco, que era uma Pastoral que estava faltando na nossa comunidade, era a Pastoral da Criança, que estava faltando aí e nesse dia da reunião foi falado, do galho seco na comunidade e a gente decidiu ser o líder da Pastoral da Criança eu, a Marinês e a Celina nóis decidiu ser a Pastoral da Criança a gente foi fazer o curso (né) Pastoral foi 10 dias, 10 sábados em seguida o dia inteiro lá em Hortolândia, Igreja Nossa Senhora Aparecida e a gente fez o curso e quando iniciamos, aqui em junho de 2003 iniciamos aqui na comunidade a caminhada da, Pastoral da Criança (né) fazia visita a gente descia lá embaixo fazia visita, tinha muita criança que precisava precisava criança muito carente, o bairro, tava abandonado, muita criança com diárreia criança desnutrida e naquela época era bem desestruturado (né) ,agora não, agora tá bem (né).

Naquela época quando a gente começou tinha até 70 crianças subia aqui para pesar, a gente mora aqui em cima e pega criança lá de baixo, de baixo às crianças e às mães gostavam, que a gente ia lá visitar e conversava com a gente, a mãe chorava a gente tinha que dar o nutrimistura, mas não tinha alimento, a gente tinha que procurar o alimento para dar para mãe dar o nutrimistura para a criança, foi uma luta meio assim a gente gostou no começo da luta para recuperar às crianças, hoje não foi passando o tempo

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a gente tá fazendo lá no São Judas mesmo tem tem menos crianças, mas gente fico contente, não tem mais aquela pobreza que tinha antes não tem mais graças a Deus, aquela pobreza quando começou a Pastoral, não através da Pastoral da Criança só, mas através do governo, do bairro, bolsa família da assistente social do CRAS, ajudou bastante colocou crianças na creche, tinha criança já tava com 5 anos e não tinha conseguido por na creche, a mãe trabalhava não tinha tempo de ficar em casa , conseguir e através da assistente social conseguiu colocar às crianças na creche, cada vez mais melhorando.

Fico contente às crianças tudo bem mais grande, assim as que nasceu depois nasceu diferente, nasceu no bercinho (sorrindo) tudo com às mães preparando o enxovalzinho antigamente não tinha a gente tinha que procurar doação de roupinhas, agora não às mães já conseguem comprar e a Pastoral foi muito bom na assim para com às mães, porque muitas mães não tinha aquele momento de sair para procurar creche e também nem levar no médico, tinha que aconselhar para levar no médico dar remédio de verme e primeiro lugar remédio de verme para crianças e a gente ajudava com nutrimistura e o pozinho da mandioca é para anemia deu bastante para às crianças muita e o nutrimistura para criança pegar peso e o farelo dava para mãe aumentar o leite, inclusive tinha uma mãe lá falou pra gente que ela passou tanta fome quando estava grávida, comeu tanto fubá que fez mal para ela (sorriso) e aí a gente começou depois dar o farelo para ela que ela já tinha enjoado de comer tanto fubá, aí foi melhorando, tem família que conseguiu melhorar e tem uns que a gente perdeu o contato porque mudou de lugar mas que conseguiu melhorar tão bem agora, e a gente agradece a colaboração de bastante gente nos ajudou aqui na comunidade lá no São Judas também principalmente você que ajudou nóis bastante tempo e ajuda ainda ajuda bastante ainda.

Passou bastante gente pela Pastoral da Criança, mas tá começando hoje há bem menos aparecendo gente nova que agora é lá no São Judas, agora teve três líderes que fez o curso, começou o agora que fez o curso e começando a trabalhar fazendo visita, cadastrando crianças e tá aumentando mais crianças agora, mas não é tão igual necessitada como antes gostaria que você fosse lá para ver como tá às crianças. Teve muito apoio o começo foi muito difícil não tinha apoio o Padre fazer o lanchinho, a gente conseguiu melhorar um pouco era difícil conseguir, mas tem muita pessoa de bom coração que ajuda bastante com cesta básica ajudando ás famílias, você ajudou bastante e graças a Deus as pessoas hoje tá tudo meninas casadas.

Então agradeço à Deus pelo trabalho da Pastoral da Criança e eu também faço parte dela.

A líder Josefa narra toda a história do início da Pastoral no bairro Cidade

Satélite Íris I, na Igreja Comunidade Dom Bosco. A coordenadora deste projeto foi a

senhora Dona Luzia, que veio até à igreja e propôs essa pastoral no bairro, já que

ele se situa em uma região carente e com grande vulnerabilidade social.

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Continuando as entrevistas segue a fala do Sr. Joaquim, membro da

Igreja Comunidade Dom Bosco onde teve início a Pastoral da Criança.

Bem na verdade o nosso objetivo não é nem olhar para trás às vezes muitas horas que a gente sempre faz a nossa tarefa é só semear sabe pegar sementinha ir embora então que tem três linhas de semente ela que cai na terra fértil (né) cai no lajedo que cai na terra ruim não tem essa passagem (aí) Então essas informações que sempre entende sempre semear é claro poder colher o fruto melhor ainda sempre semear mas não podemos colher que sabendo o que o outro vai colher, que a gente continue semeando a missão da gente é este aqui é semear que ela germine colher o fruto melhor ainda. A missão da gente é semear e que a semente vai cair, então sempre semear colher o fruto à missão da gente aqui poder colher o fruto que germine que sempre assim dificilmente você vai de colher o que planta e mesmo assim semear para outros colherem.

É o ciclo que não para e é o ciclo vicioso que fala é um ciclo rotativo (né) e a Pastoral da Criança é mais ou menos (aí), você trabalhou bastante , você doava seu tempo mesmo sabendo que seu tempo era curtinho ajudando a marcar e depois da pesagem fazer comparação ainda quanto aquela criança desenvolveu naquele mês e se não desenvolveu bem fazer o tratamento e indica para o Postinho vocês tinham aquela preocupação daquele trabalho de anotar ver se a criança cresceu e engordou. Essa atividade da Pastoral ver as mulheres doando o seu tempo e é história mulher tem muito serviço dentro de casa não falta, mesmo assim deixava a sua casa e estava ali.

Essas pessoas que fundaram a Pastoral da Criança a Dona Josefa, Dona Olga, Dona Hilda, Dona Terezinha e o Paulão e mais pessoas que fizeram parte do início essa seria a liderança, as pessoas para ajudar chamados voluntários. E interessante quantos países do primeiro mundo e a Pastoral veio nascer em Curitiba e a Pastoral da Criança foi criada dentro do Brasil que orgulho disso.

O referido trabalho também foi acompanhado por lideranças do bairro e

membros da Igreja Comunidade Dom Bosco, que por meio de seus relatos, fortalece

a Parábola da Semeadura no seio da comunidade.

A fala da Cleusa, uma das voluntárias da Pastoral da Criança.

Eu sou a Cleusa da Comunidade Dom Bosco (né) e como tem que falar um pouquinho do que vi na Pastoral da Criança quando iniciou; vou falar de uma história muito bonita foi de um moço chamado Mário, que ajudava e depois ele foi para o Estados Unidos e quando chegou nos Estados Unidos ele queria continuar a ajudar e mandava uma manutenção de uma verba para comprar 10 cestas básicas, então as pessoas viam pesar as crianças e depois aquelas bem necessitadas levavam a cesta básica. Então acho bonito o jeito dele a solidariedade ajudar essas família e também a Pastoral da Criança foi muito valorizada na comunidade Dom Bosco pelas pessoas que também ajudou de outra forma (né)

Quem ajudava em alimento fruta além da Pastoral da Criança ajudava com a nutrimistura e outras misturas ajudavam manter essas crianças e a Dona Josefa, a Marinês a Celina e outras pessoas com muito amor fez esse trabalho que cresceu muito na comunidade Dom Bosco.

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Agora às crianças a maioria era da outra comunidade por isso mudou para lá e também fiquei sabendo que tá bom e lá também muita mãe ajudando na cozinha para fazer o alimento, agora precisa mais de gente para ajudar.

A fala de uma mãe que pediu para não ser revelada

A Pastoral na minha vida ajudou muito, eu tive depressão depois do parto e não tinha vontade de fazer nada nem cuidar da minha filha, não cuidava da casa não tinha vontade de tomar banho aí veio o pessoal da Pastoral e cuidou de mim da minha filha me levou no postinho com a médica. Arrumou roupas para minha filha, conversou bastante comigo meu marido e hoje sei que minha filha tá bem, eu tô bem, sou outra graças a Deus e a Pastoral.

Ao ouvir essas vozes que relembram todo início da Pastoral da Criança na

sua comunidade, observei como é interessante registrar as memórias de pessoas

comprometidas com o ser humano, independente de seu credo. Todas às famílias

são atendidas e nem todas são católicas ou participam da igreja Dom Bosco. E

mesmo considerando tantas diferenças o trabalho se mostra grandioso e enfatiza a

preocupação com o bem estar de cada criança e, consequentemente, da sua

família.

Ao terminar estas entrevistas, com as vozes de líderes e comunidade

atendida pela Pastoral da Criança, dentro desses relatos na entrevista verifiquei a

importância da mesma nessa comunidade Cidade Satélite Íris I, que ajuda na

transformação da vida de crianças e suas famílias, o que proporcionou uma visão do

papel educativo e social, podendo resgatar a proposta do conceito do papel da

educação sociocomunitária, que se faz presente nestas ações desenvolvidas.

3.4. Instrumentos para Coleta de Dados

Embora a entrevista já tenha sido mencionada anteriormente, também foram

utilizados como instrumento de coleta de dados dois questionários para captar os

dados de interesse da pesquisa, visando conhecer e apurar o perfil e o

conhecimento da comunidade pesquisada.

O Questionário A foi enviado para alguns moradores do entorno e o

Questionário B para os líderes da Pastoral da Criança. É com este Questionário A

que se dá início à apresentação das respostas. Ambos os questionários tiveram

questões abertas e fechadas.

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Questionário A

Para a coleta de dados dos moradores, foram entregues 50 (cinquenta)

Questionários A, mas somente 36 (trinta e seis) foram devolvidos, como mostra o

Gráfico 1.

Gráfico 1 – Número de Questionários

Fonte: Elaborado pela Autora

De posse destes questionários devolvidos foi feita a sistematização dos

dados e elaboração de gráficos contendo as respostas desses 36 moradores que

devolveram o questionário e que fazem parte da comunidade Cidade Satélite Íris I.

Modelo do Questionário A Moradores

Este questionário é parte integrante de um projeto de pesquisa. Todos os

dados poderão ser divulgados em publicações e reuniões científicas. A identidade

do participante estará assegurada. Peço sua participação nesta pesquisa,

respondendo as seguintes questões:

1) Sexo:

( ) Feminino ( ) Masculino

2) Idade:

( ) menos de 20 anos.

( ) entre 20 a 30 anos.

( ) acima de 30 anos em diante.

36

14

Total de Questionários = 50

Responderam

Não responderam

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3) Tempo de residência no Bairro:

( ) até 10 anos.

( ) de 10 a 30 anos.

( ) acima de 30 anos.

4) Você conhece a Pastoral da Criança no seu bairro?

( ) Sim ( ) Não

5) Caso você conheça, você sabe quais são as ações da Pastoral da

Criança?____________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Muito obrigada pela participação.

Ester Dias

Dados obtidos no Questionário A

O Gráfico 2 mostra o gênero (sexo) dos respondentes:

Gráfico 2 – Sexo

Fonte: Elaborado pela Autora

O Gráfico 3 mostra a idade dos respondentes:

24

12

Sexo

Feminino

Masculino

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Gráfico 3 – Idade

Fonte: Elaborado pela Autora

O Gráfico 4 aponta o tempo de residência no bairro:

Gráfico 4 – Tempo de Residência no Bairro

Fonte: Elaborado pela Autora

O Gráfico 5 mostra se o respondente conhece ou não a Pastoral da Criança:

7

12

17

Idade

Até 20 anos

Entre 20 e 30 anos

Acima de 30 anos

10

15

11

Tempo de Residência

Até 10 anos

De 10 a 30 anos

Acima de 30 anos

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Gráfico 5 – Conhecimento sobre a Pastoral da Criança

Fonte: Elaborado pela Autora

A resposta da questão 5 foi dissertativa e nem todos responderam. As

respostas obtidas estão aqui descritas na íntegra:

Sei que a Pastoral atua no combate à desnutrição infantil, no atendimento às adolescentes grávidas etc.

Ajudar a diminuir o grande índice de desnutrição em crianças carentes, noções básicas de higiene, organização de regras e orientações alimentares e educacionais às famílias atendidas pela Pastoral.

Apoio e auxílio às famílias com crianças da gestação em diante.

Ver o peso da criança para saber se está desnutrida; ver a carteira de vacinação e ensina fazer soro caseiro.

Distribuição de alimentos para os menos favorecidos, como também agasalhos. Acompanhamento de gestantes e crianças com problemas de desnutrição.

Sim, pesagem, doação de roupas, visitas nas residências para saber das necessidades de cada família.

Visita, pesagem e acompanhamento da mãe durante a gestação e da criança ao nascer até 6 anos de idade (acompanhamento e desenvolvimento social e intelectual).

17 19

Conhece a Pastoral da Criança?

Sim

Não

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Modelo do Questionário B – Avaliação da Pastoral da Criança na

Comunidade

Este questionário é parte integrante de um projeto de pesquisa. Todos os

dados poderão ser divulgados em publicações e reuniões científicas. A identidade

do participante estará assegurada. Peço sua participação nesta pesquisa,

respondendo as seguintes questões:

Sexo:

( ) Feminino ( ) Masculino

1) Há quantos anos você conhece a Pastoral da Criança?

( ) 1 a 3 anos.

( ) 5 a 10 anos.

( ) Mais de 10 anos.

2) Você atua como Líder na Pastoral da Criança?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, assinale há quanto tempo você atua como Líder?

( ) Menos de 1 ano.

( ) Entre 1 ano e 5 anos.

( ) Entre 5 anos e 10 anos.

(....) Há mais de 10 anos.

3) O que o/a motivou a ser um Líder Voluntário na Pastoral da Criança?

( ) Conhecia pessoas que já eram voluntárias.

( ) Eu já era considerado (a) líder em minha comunidade.

( ) Indicação de parentes ou de vizinhos da comunidade.

( ) Decidi após participar de uma palestra sobre o trabalho da Pastoral.

4) Quanto tempo, em média, você dedica ao trabalho voluntário na

Pastoral, por semana?

( ) Menos de 2 horas.

( ) Entre 2 e 4 horas.

( ) Entre 4 e 6 horas.

( ) Mais de 6 horas.

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5) O que você mais gosta de fazer no seu trabalho voluntário para a

Pastoral da Criança

( ) Acompanhar o desenvolvimento das crianças.

( ) Acompanhar as gestantes.

( ) Organizar o Dia do Peso.

( ) Organizar e participar de reunião de reflexão e avaliação.

( ) Divulgar o trabalho voluntário da Pastoral para outras pessoas.

6) De quantos treinamentos ou cursos teve que participar?

( ) De todos os cursos.

( ) De praticamente todos os cursos.

( ) Participo muito pouco dos cursos.

( ) Não participo dos cursos.

7) Como é sua visão do trabalho da Pastoral da Criança?

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

8) Você gostaria de fazer algum comentário?

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

Muito obrigada pela participação. Ester Dias

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Dados obtidos no Questionário B

Nesta pesquisa procurei saber como os líderes veem o trabalho da Pastoral

na comunidade em que vivem. No total foram entregue 05 questionários, já que são

poucos os líderes que atuam na Pastoral da Criança na comunidade Cidade Satélite

Íris I.

Dos 05 respondentes três são do sexo feminino e dois do sexo masculino.

Na questão 1, relativa ao tempo que conhece a Pastoral, todos informaram

conhecê-la há mais de 10 anos. Já na Questão 2 todos confirmaram serem líderes

na Pastoral da Criança há mais de 10 anos.

Na Questão 3 sobre a motivação para ser líder foram obtidas as seguintes

respostas: a) conhecia pessoas que já eram voluntárias; b) indicação de parentes ou

de vizinhos na comunidade; c) decidi após participar de uma palestra sobre o

trabalho da Pastoral.

Na Questão 4 o tempo de dedicação foi igualmente informado pelos líderes

como entre 2 e 4 horas na semana e a cada 15 (quinze) dias.

Na Questão 5 houve unanimidade nas respostas ao apontar o que mais

gosta de fazer no seu trabalho voluntário para a Pastoral da Criança, ou seja,

acompanhar o desenvolvimento das crianças; acompanhar as gestantes; organizar o

Dia do Peso; organizar e participar de reunião de reflexo e avaliação.

Quanto aos treinamentos e cursos perguntados na Questão 6 todos

igualmente foram unânimes ao informar que participaram de todos os cursos

oferecidos pela Pastoral da Criança.

As questões 7 e 8 seguem relatadas na íntegra, conforme cada líder,

apresentando sua visão sobre a Pastoral da Criança e também a possibilidade de

deixar algum comentário sobre o assunto tratado.

Líder 1

Resposta 7 - O resultado é união com as mães que a comunidade acolhe e união com o padre que sempre está junto.

Resposta 8 - O bom da Pastoral é que o líder é voluntário faz com muito amor com muita doação o mais importante é o que se faz e com muita fé em Deus sempre, partilha a palavra de Deus lendo o evangelho no dia da Celebração da vida que é o dia do pesar às crianças.

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Líder 2

Resposta 7 - Os trabalhos para melhorar o diálogo entre os pais e é muito resultado pois as crianças que são acompanhadas fica bem e o foco que é o fator multiplicador, uns ajudando os outros num só objetivo.

Resposta 8 - Nas comunidades, cidades, estado o trabalho é pouco divulgado porque não traz resultado eleitoreiro infelizmente. Mas após o resultado ....que motiva apenas cuidar das gestantes, bebês ,crianças até os seis anos de idade.

Líder 3

Resposta 7- Excelente porque aumenta a qualidade de vida daquela criança e família. Porque a família é instruída na qualidade da alimentação, higiene, cuidado e proteção, e a importância do "laço familiar".

Resposta 8 - O cuidado é sempre o melhor resultado e as informações sobre os direitos que tem cada gestante, cada bebê, cada criança. E o lema é que cada um tenha vida e vida em abundância. Parabéns sempre à Pastoral da Criança!

Líder 4

Resposta 7 - Muito boa porque a cada família que recebe a visita ela fica mais esperta nos direitos que tem né. Pelas crianças vale a pena cuidar e dar opiniões do bem.

Resposta 8 - Precisa ter mais gente para ajudar na Pastoral da Criança.

Líder 5

Resposta 7- Vale a pena cuidar das crianças, da mãe falar sobre tudo que a família precisa muito bom.

Resposta 8 - O bairro precisa melhorar mais, falta quase tudo a Pastoral ajuda um pouco mais falta mais.

Ao finalizar esta pesquisa feita com os líderes e moradores, foi possível

notar que há uma grande dificuldade de escrever, ou seja, até sabem o que a

Pastoral da Criança faz, mas não escrevem por medo de errar na escrita.

Ressalto que nem todas as experiências vivenciadas durante o trabalho de

campo eu consegui relatar nesta pesquisa, já que foram levantados vários assuntos

pertinentes à questão social do bairro, e nem caberia à dissertação.

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3.5. Sobre os Sujeitos da Pesquisa

Os sujeitos da pesquisa são da cidade de Campinas, mais especificamente

do bairro Cidade Satélite Íris I, onde se localiza a Igreja Comunidade Dom Bosco,

que abriga as ações da Pastoral da Criança.

As crianças atendidas pela Pastoral da Criança vivem em casas com dois a

seis cômodos, no máximo. Os pais têm Ensino Fundamental incompleto e muitos

estão desempregados, sendo que aqueles que têm emprego desempenham, na

maioria, funções como empregada doméstica, faxineira, pedreiro, ajudante geral,

pintor, caracterizando um nível socioeconômico baixo. São famílias que vieram de

outros estados e não têm endereço fixo de residência, mudando-se com frequência.

Muitas dessas famílias chegaram ao bairro em busca de uma vida melhor,

mas se instalaram em áreas de risco, construindo seus barracos num lugar sem

infraestrutura (saneamento, energia elétrica e água encanada). Por conta disso,

muitos não possuem comprovante de residência e nem recebem correspondência,

sendo comum dar o endereço de conhecidos e parentes para receber cartas e

contas.

A religião predominante é a católica, sendo que a evangélica vem a seguir,

com grande número de adeptos. No lugar, há diferentes templos: três igrejas

católicas e quatro evangélicas.

O número de pessoas por família é grande, com uma média de três filhos.

Porém, é comum coabitarem tios, avós, que acabam chegando de longe e se

abrigando na mesma casa.

Em suas narrativas, as famílias atendidas pela Pastoral da Criança

comentam os problemas que enfrentam. A instituição trabalha com a expectativa dos

pais, que esperam que os filhos tenham um bom desempenho na escola e na vida,

como dizem, uma vida melhor que a deles.

Nessa realidade, a escola e a igreja são espaços de referência na

comunidade, revendo e reforçando o que estabelece a Declaração Universal de

Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) ao mencionar que os

“direitos humanos são os direitos fundamentais de todos os indivíduos. Todas as

pessoas devem ter respeitados os seus direitos humanos: direito à vida, à

integridade física, à liberdade, à igualdade, à dignidade e à educação". (ONU, 1948).

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Junto aos sujeitos atendidos pela Pastoral da Criança, o que se vê é que

além de tentar erradicar a pobreza, são trabalhadas atividades com ações

educativas, como brinquedoteca, brincadeiras e músicas. Busca-se, ainda, estimular

o exercício da cidadania, quando se faz a roda no dia da pesagem, onde são

passados ensinamentos, em palestras e conversas sobre Saúde, Noções de

Comportamentos das crianças, Educação Alimentar, Primeiros Socorros e outros

temas. A partir dessas ações, que buscam sempre contribuir para o crescimento do

ser humano, socializo o pensamento de Paulo Freire (1992) em seu livro “Pedagogia

da Esperança”:

Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas prescindir da esperança na luta para melhorar o mundo, como se a luta se pudesse reduzir a atos calculados apenas, a pura cientificidade, é frívola ilusão. Prescindir da esperança que se funda também na verdade como na qualidade ética da luta é negar a ela um dos seus suportes fundamentais. O essencial como digo mais adiante no corpo desta Pedagogia da Esperança, é que ela, enquanto necessidade ontológica, precisa de ancorar-se na prática. Enquanto necessidade ontológica, a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã. Sem um mínimo de esperança não podemos sequer começar o embate, mas, sem o embate, a esperança, como necessidade ontológica, se desendereça e se torna desesperança que, às vezes, se alonga em trágico desespero. Daí a precisão de uma certa educação da esperança. É que ela tem uma tal importância em nossa existência, individual e social, que não devemos experimentá-la de forma errada, deixando que ela resvale para a desesperança e o desespero. Desesperança e desespero, consequência e razão de ser da inação ou do imobilismo (FREIRE, 1992, p.10-11).

Revisitando minha memória, numa das reuniões que acompanhei, já citado

no Dia da Pesagem, as famílias chegam com as crianças segurando o cartão na

mão, sorridentes e aguardando o momento de serem recebidas pelo seu líder ou

sua líder, com um abraço, um beijo ou um aperto de mão, enquanto as crianças já

correm para o canto das atividades dedicadas a elas. E enquanto os pequenos

brincam e encenam, a família aguarda, recebendo uma senha para a pesagem dos

filhos, sobrinhos e netos.

O ápice das atividades é o momento da roda, quando se lê uma passagem

do Evangelho, canta-se um cântico de louvor e há momentos de reflexão sobre

algum assunto tratado. Ao final, comunitariamente, é servida uma refeição, às vezes

uma sopa, às vezes um lanche preparado pelas voluntárias.

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Nesse espaço, que a Igreja Católica oferece à Pastoral da Criança para

desenvolver o seu trabalho, observei que a relevância dessa ação é corroborada

com a afirmação da Dra. Zilda Arns Neumann quando menciona:

Na Pastoral da criança, os desafios aparecem a cada instante, mas Deus esta aí mostrando que, para construir um mundo mais justo e fraterno, são necessárias ferramentas mágicas: a solidariedade humana, o perdão, a multiplicação do saber com todas as famílias, a animação, a soma de esforços. Só apontar o que deixaram de fazer é muito mais fácil do que a gente arregaçar as mangas e participar. E se a gente participa, as pessoas respeitem mais a gente e as coisas começam a acontecer de fato. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2015).

3.6. Como se dá o DIÁLOGO nessas ações?

Talvez o fato de os homens serem tão imperfeitos, não queira dizer que não tenha havido, e ainda não existam

alguns exemplos de sublime bondade. Talvez mais do que teoricamente justos, esteticamente sensíveis ou

politicamente inteligentes, o que nós precisamos é ser ativamente bons.

José Saramago

Este tópico apresenta uma discussão sobre como se dá a educação

sociocomunitária nas ações da Pastoral da Criança, e como essas ações contribuem

para a emancipação dos sujeitos atendidos, apoiando-se no referencial de Paulo

Freire (1979, p.36), ao defender “a necessidade de uma educação humanizante,

circunscrita às sociedades e homens concretos, superadora da alienação e

potencializadora da mudança e da libertação social” e como o conhecimento se dá

por intermédio do diálogo.

Em busca da definição para o termo diálogo cito o Dicionário Houaiss de

Língua Portuguesa On Line (2001), que define: “diálogo é a interação entre dois

indivíduos; colóquio; conversa; contato e discussão entre duas partes, em busca de

um acordo. Troca de ideias, discussão de pontos de vista ou contatos diplomáticos”.

No tocante à educação, esta dissertação se propõe a analisar a contribuição

da Pastoral da Criança como parceira na construção de um sujeito mais consciente

e crítico dentro da sua própria comunidade. Trata-se de uma empreitada que vem se

realizando pela via da educação não formal, que segundo Caro e Guzzo (2004,

p.35), “visa contribuir para a formação integral do indivíduo, envolvendo o

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crescimento pessoal, a consciência da cidadania e a possibilidade de sua inserção

na sociedade”.

Numa sociedade onde “ter vale mais do que ser”, propaga-se a exclusão

social, produzindo nas pessoas um sentimento de incapacidade e solidão,

consumindo sua autoestima. Além disso, a falta de estímulo para lutar por um

mundo melhor numa sociedade sedimentada pela crônica precariedade da

educação e agravada pela já instalada crise econômica as pessoas se sentem,

paradoxalmente, cada vez mais excluídas dentro de sua própria comunidade. Ao

afirmar a educação como transformadora de sujeitos é possível observar o diálogo

como eixo norteador desse processo, conforme ensina Freire (1987, p.79): “[...] se é

dizendo a palavra com que ‘pronunciando’ o mundo, os homens o transformam, o

diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto

homens”.

Figura 5 – Fotografia de um Momento Especial do Diálogo entre Líder e Família

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

Escrever sobre o trabalho da Pastoral da Criança me fez reavivar o tempo

em que fui voluntária. Ao mesmo tempo, a cada parágrafo, compreendo o porquê de

resgatar essas memórias e histórias vividas por esta comunidade, que não tem um

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registro formal de suas atividades, apenas algumas fotos dos momentos vividos

entre 2003 e 2013. Acredito que a escolha de socializar essa experiência contribuirá

e muito para o campo científico, no sentido de elucidar como se dá a educação não

formal dentro da Pastoral da Criança e como essa metodologia pode trazer

contribuições para a emancipação de sujeitos excluídos e marginalizados pela

sociedade.

No caminhar desta pesquisa, a cada vez que eu sentava para escrever,

aguçava-me a curiosidade de conhecer como essas ações intervieram na vida

dessas famílias. Aqui, cabe a analogia de Freire (1980) sobre os caminhos e o

diálogo na educação:

[...] O diálogo é o encontro entre os homens mediatizados pelo mundo, para designá-lo. Se ao dizer suas palavras ao chamar ao mundo, os homens o transformam, o diálogo impõe- se como o caminho pelo qual os homens encontram seu significado enquanto homens, o diálogo é, pois, uma necessidade existencial. (FREIRE, 1980, p.82).

Assim, Freire dá ênfase à questão da autonomia ao propor uma pedagogia

da autonomia na medida em que sua proposta está "fundada na ética, no respeito à

dignidade e à própria autonomia do educando" (FREIRE, 2000a, p.11). Partindo

dessa citação, vê-se que o respeito sempre será fundamental em todo caminhar da

educação em relação ao sujeito que aprende, uma vez que ele também ensina

enquanto aprende. É o respeito que vela pela liberdade, conforme Freire (1996):

Se recusa, de um lado, silenciar a liberdade dos educandos, rejeita, de outro, a sua supressão do processo de construção da boa disciplina. Um esforço sempre presente à prática da autoridade coerentemente democrática é o que a torna quase escrava de um sonho fundamental: o de persuadir ou convencer a liberdade de que vai construindo consigo mesma, em si mesma, com materiais que, embora vindo de fora de si, sejam reelaborados por ela, a sua autonomia. É com ela, a autonomia, penosamente construindo-se, que a liberdade vai preenchendo o ‘espaço’ antes ‘habitado’ por sua dependência. Sua autonomia que se funda na responsabilidade que vai sendo assumida. [...]. No fundo, o essencial nas relações entre educador e educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães, filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia (FREIRE, 1996, p.105).

Todo educador comprometido com o seu educando, procura conhecer a sua

história de vida e, a partir desse conhecimento, introduzir uma centelha que venha

iluminar, trazer sentido ao aprendizado, para complementar essa educação. Sentido

de uma educação libertadora, que tem como objetivo despertar a consciência crítica,

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levando a transformação desse sujeito. É essa a prática adotada pela Pastoral da

Criança, cujos procedimentos dão sentido à afirmação de Freire (2005):

Um educador disposto a quebrar os grilhões dessa concepção bancária deve ser companheiro do educando, no sentido de buscar a liberdade necessária. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo. (FREIRE, 2005, p.77).

A partir do que está sendo exposto, abordo o educar e o dialogar, postulados

que caminham lado a lado, e que o educador conhecendo a cultura do educando e a

comunidade em que vive, o processo do conhecimento se torna significativo. Sobre

isso Brandão (2002) escreveu:

Aprender é [...] uma atividade inerente a tudo o que é vivo, e a aprendizagem responde pela totalização do ser de cada pessoa e pela realização de cada cultura. Ora, se isto é assim, então a função do educador ganha a dimensão de um verdadeiro agente do processo mais importante de toda a vida: aprender a saber através de criar saberes para aprender. (BRANDÃO, 2002, p.384).

Um dos objetivos da Pastoral da Criança é a participação da família na vida

e formação de seus filhos. A prática das visitas e rodas de conversas no dia da

pesagem, assim como os temas relacionados aos problemas familiares, abordados

nas intervenções educativas, estimulam a família a conversar, refletir e aprender

sobre cada assunto, principalmente no cotidiano, onde os conflitos acontecem.

Segundo Freire (1976), o elemento fundamental nas relações dos homens

com todas as coisas do mundo é o diálogo. Para Brandão (1986, p.103), “o diálogo é

o sentimento de amor tornado ação”. Portanto, o diálogo caracteriza-se como

ferramenta de fundamental importância para que o sujeito enquanto ser social possa

atuar na realidade em que vive e transformá-la.

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Figura 6 – Fotografia do Dia da Celebração da Vida

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

De acordo com o Guia do Líder da Pastoral da Criança (2007, p.17),

“Mensalmente, o líder realiza o dia da Celebração da Vida, quando as famílias se

reúnem para celebrar o desenvolvimento de suas crianças. É nesse dia que as

crianças são pesadas”.

Quando cheguei à Pastoral da Criança, no espaço cedido pela Igreja

Comunidade Dom Bosco, encontrei um ambiente simples, mas acolhedor, com

pessoas dispostas a fazer a diferença na vida dessas crianças e famílias. Um

quadro que pode ser ainda melhor ilustrado pela concepção de Paulo Freire ao dar

ênfase na educação como um grande exercício, em qualquer que seja o processo

de aprendizagem, que acontece em todos os ambientes sociais em que estão

educador e educando, sendo “impossível e inadmissível desvincular a educação da

política" (FREIRE, 1987, p.28).

A Figura 7 apresenta mais uma fotografia do Dia da Celebração da Vida.

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Figura 7 – Fotografia de mais um momento do Dia da Celebração da Vida

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

O trabalho que vem sendo desenvolvido pela instituição, além de social,

adquire um cunho educativo de extrema relevância, cuidando, atendendo, ensinando

e conscientizando as famílias que a ela recorrem, independentemente de crença e

do poder do Estado. Diante dessas ações observei que conhecer e conscientizar faz

parte do diálogo e através dele pode-se mudar o mundo. Eis o que cita Freire

(2005), neste sentido:

Enquanto na teoria da ação antidialógica a conquista, como sua primeira característica, implica um sujeito que, conquistando o outro, o transforma em quase ‘coisa’, na teoria dialógica da ação, os sujeitos se encontram para a transformação do mundo em colaboração [...]. Não há, portanto, na teoria dialógica da ação, um sujeito que domina pela conquista e um objeto de dominado. Em lugar disto, há sujeitos que se encontram para a pronúncia do mundo, para a sua transformação. (FREIRE, 2005, pp.191-192)

Na luta pela transformação de sua realidade, as famílias se tornam grande e

ricamente participantes desta ação educativa da Pastoral da Criança. Neste aspecto,

se pode citar o que afirma o Relatório de Monitoramento Global de Educação para

Todos (EPT) da UNESCO (2007):

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Os programas para a primeira infância não apenas beneficiam todas as crianças, como também compensam as experiências negativas de crianças pequenas resultantes de conflitos (na família ou na sociedade) e de privação nutricional ou emocional. Em resumo, a participação em programas abrangentes e de boa qualidade para a primeira infância pode alterar significamente a trajetória do desenvolvimento de uma criança. Saúde, nutrição e educação são áreas em que tais benefícios são constantemente identificados. (UNESCO, 2007, p.121).

A Figura 8 apresenta uma fotografia do Dia da Pesagem.

Figura 8 – Olha a Pesagem!

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

A figura 8 mostra o dia da Celebração da Vida, quando, conforme o Guia do

Líder da Pastoral da Criança (2007), “todas as crianças acompanhadas são

pesadas. Esse dia deve ser usado para o líder conversar com os pais sobre o

desenvolvimento dos seus filhos” (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p.160).

E dentro dessa dinâmica surge uma nova esperança para a Educação ao

relatar o trabalho dos líderes, quando se pensa no papel que eles desempenham na

Pastoral da Criança, como educadores engajados em ajudar pessoas a se

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transformarem em cidadãos, conscientes e críticos. Freire (2005, p.79), ao situar a

Educação como prática da liberdade bem destaca que: “O educador já não é o que

apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando

que, ao ser educado, também educa”. Na mesma linha de pensamento, o autor

enfatiza que:

Neste sentido, a educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir conhecimentos e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação ‘bancária’, mas um ato cognoscente. (FREIRE, 2005, p.78)

3.7. Quem são os líderes nessa Comunidade?

Este tópico se inicia mostrando uma fotografia com alguns líderes da Igreja

Comunidade Dom Bosco.

Figura 9 – Momento com alguns Líderes da Igreja Comunidade Dom Bosco

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

Todo processo de educação baseado no diálogo e na afetividade entre os

sujeitos (líderes e famílias atendidas na Pastoral da Criança), revela igualdade de

conhecimentos, entre ambos e isso coopera para a formação do ser humano e sua

transformação social.

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Para Freire, o diálogo é o encontro amoroso, logo, não guerreiro, não polêmico, não feito para a dominação, para a conquista. É o encontro de homens que se amam, e por isso querem transformar o mundo num mundo mais humano. É um encontro humilde, onde todos sentem-se iguais; no lugar do encontro não existe ninguém com o saber absoluto e ninguém absolutamente ignorante, mas homens que procuram compreender melhor a realidade para transformá-la. (JANNUZZI, 1983, p.37).

Figura 10 – Momento com a Fundadora da Pastoral na Igreja Comunidade Dom

Bosco

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

Em junho de 2003, foi iniciada a Pastoral da Criança na Igreja Comunidade

Dom Bosco no bairro Cidade Satélite Íris I, por Dona Luzia, que aparece na figura

10, no centro da fotografia, sentada ao lado do padre André, com o vestido florido de

preto e branco. A introdução da Pastoral da Criança na comunidade se deu através

da coordenação da Dona Luzia que encabeçou essa ação social e educativa.

Ressalto que Dona Luzia não mora mais em Campinas e, por essa razão, não foi

entrevistada..

No Guia da Pastoral da Criança consta a descrição do trabalho do líder, que

deve ir “de casa em casa, acompanhando gestantes e crianças de famílias próximas

à sua casa [...] continuando o projeto de Jesus aqui na Terra: [...] ‘Eu vim para que

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todos tenham vida e a tenham em abundância’, Jo, 10,10” (PASTORAL DA

CRIANÇA, 2007, p.16).

Este líder tem em sua atuação:

[...] o desafio de salvar a vida dos pequeninos e de contribuir na criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento deles. A Pastoral da Criança acompanha gestantes e crianças até os seis anos de idade. Seu trabalho, como Jesus fez, é para com os mais necessitados. Procura atuar, principalmente, junto às famílias mais pobres, que enfrentam maiores dificuldades por viver em condições muito difíceis. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, 302).

Com esse trabalho, a Pastoral da Criança está ajudando às famílias a

lutarem pelo acesso aos direitos sociais básicos, tal como está na Constituição

Brasileira, no Capítulo II – DOS DIREITOS SOCIAIS, artigo 6º:

São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. [...] Direitos sociais são condições básicas para que todos possam ter uma vida saudável, digna e feliz [...]. (BRASIL,1988).

Como no Brasil nem todos têm acesso a esses direitos, é preciso lutar por

eles. “São cidadãs as pessoas que cumprem seus deveres de ajudar-se umas às

outras, participando da luta na conquista pelos direitos sociais na sua comunidade”

(PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p.13-14).

O papel do educador para que se dê a educação libertadora, é fundamental,

pois, nas palavras de Freire:

Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os ‘argumentos de autoridade’ já não valem. Em que, para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e não contra elas. (FREIRE, 1987, p.39).

Libertar-se da condição de ser excluído, ter direito a voz, lutar pela sua

dignidade, ter uma vida melhor e transformada, estão entre os objetivos dos líderes

ao dialogar com esses sujeitos.

No entender de Gadotti (1993, p.9), nesta mesma visão pedagógica,

“educar significa, então, capacitar, potencializar, para que o educando seja capaz de

buscar a resposta do que pergunta, significa formar para autonomia”.

Dessa forma, em cada comunidade, os líderes são chamados entre os

moradores, passando por um processo de capacitção “para que possam melhorar

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seus conhecimentos, trocar experiências e depois compartilhar com as famílias que

acompanham.[...] Os líderes aprendem também com as famílias que trazem seus

conhecimentos e suas experiências”. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p.15)

Mediante as ações da Pastoral da Criança, como as rodas de conversa e os

momentos de reflexão, através das palavras, todos aprendem e ganham com isso,

uma proposição que é corroborada por Brandão (2007) quando afirma que:

Cada ser humano é um eixo de interações de ensinar-aprender. Assim, qualquer que seja, cada pessoa é em si mesma uma fonte original de saber e de sensibilidade. Em cada momento de nossas vidas estamos sempre ensinando algo a quem nos ensina e estamos aprendendo alguma coisa junto a quem ensinamos algo. Ao interagir com ela própria, com a vida e o mundo e, mais ainda, com círculos de outros atores culturais de seus círculos de vida, cada pessoa aprende e reaprende. E, assim, cada mulher ou homem é sujeito social de um modo ou de outro culturalmente socializado e é, portanto, uma experiência individualizada de sua própria cultura. (BRANDÃO, 2007, p.5).

E neste descortinar de novas possibilidades, no diálogo entre os líderes e

famílias atendidas pela Pastoral da Criança, surge a ação pedagógica

emancipadora, que está além dos muros da escola. Ela se encontra nos espaços de

discussão da comunidade, por exemplo, a associação de bairro, local em que são

discutidos os direitos e deveres da população, de forma que o cidadão participante

desses espaços de discussão tenha oportunidade de formar uma consciência crítica

e atuar para ver supridas as necessidades da comunidade.

Entre as práticas e ferramentas usadas no dia da Celebração da Vida, a

balança é central: “Com ela é possível saber quanto a criança está pesando e traçar

uma linha de crescimento na Caderneta de Saúde”. (PASTORAL DA CRIANÇA,

2007, p.160).

A Figura 11 mostra como se dá a pesagem por balanço.

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Figura 11 – Pesagem com Balanço

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

A Figura 12 mostra a fotografia de um momento de leitura e reflexão no dia

da Celebração da Vida.

Figura 12 – Leitura e Reflexão no dia da Celebração da Vida

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

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Nas comunidades preferencialmente atendidas, segundo Brandão (1981), a

educação se mistura a toda a vida, pois a vida social não transcende os limites da

sociabilidade privada. A educação se dá tão-somente como aprendizado, ou seja, a

relação ensinar-e-aprender não se destaca das demais ações sociais cotidianas.

Crianças e jovens aprendem na convivência com adultos e idosos ou na espreita de

suas atividades. A educação também reproduz, e não poderia ser diferente, a

igualdade social desse grupo, agora como igualdade de saberes. Para o autor:

A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, aquilo que é comunitário, como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos símbolos. (BRANDÃO, 1981, p.10)

Figura 13 – Momento importante para as crianças: confecção da Árvore do Natal

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

É importante frisar que, ainda que aborde temas e objetos que fazem parte

do dia a dia, a fim de produzir sentido para o aprendizado, todo esse trabalho tem

sempre um planejamento para receber essas famílias com todo carinho e respeito,

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promovendo momentos especiais, como mostra a figura 13, em que as crianças

ajudam a montar uma árvore de natal.

Nesse sentido, o sujeito inserido numa comunidade necessita de projetos

sociais voltados para sua transformação, cuja importância é relatada por Gohn:

É importante registrar que os movimentos pela educação têm caráter histórico, são processuais e ocorrem, portanto, dentro e fora de escolas e em outros espaços institucionais. As lutas pela educação envolvem lutas por direitos e são parte da construção da cidadania. Usualmente movimentos pela educação abrangem questões tanto de conteúdo escolar quanto de gênero, etnia, nacionalidade, religiões, portadores de necessidades especiais, meio ambiente, qualidade de vida, paz, direitos humanos, direitos culturais etc. Esses movimentos são fontes e agência de produção de saberes. (GOHN, 2010, p. 71).

A Figura 14 apresenta a fotografia da atividade de contação de histórias.

Figura 14 – Divertimento e Aprendizagem: Contando histórias com fantoches

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

Nos momentos vivenciados com atividades educativas, as crianças se

realizam, fantasiam, usam todo o seu lado lúdico, e isso também fortalece os laços

afetivos entre o líder e a comunidade atendida pela Pastoral, valorizando os mais

diferentes saberes, conforme esclarecido por Brandão (1981):

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O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos especialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, onde ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de aplicação exclusiva. (BRANDÃO, 1981, p.20-21).

Uma observação feita durante a pesquisa de campo e que vale a pena ser

aqui registrada, é que as mulheres se fazem maioria nessa ação educativa e social

da Pastoral da Criança, o que pode ser comprovado pelo Documento 62 da

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):

Entre os agentes de pastoral, destaca-se a presença e atuação das mulheres, que constituem o contingente maior. Elas participam em todos os setores da vida e da missão da Igreja e estão esboçando um traço novo no rosto eclesial através da maneira generosa e entusiasmada com que vivem a fé e o amor, buscando transmitir os valores cristãos. As mulheres constituem a grande maioria dos catequistas; assumem responsabilidades nas comunidades, na animação, coordenação e entre ajuda; coordenam setores pastorais; estão presentes nos conselhos e nos movimentos, participando ativamente das decisões. Nos últimos anos, elas começaram a exercer o aconselhamento espiritual, bem como o ensino da teologia. (CNBB, 1999, p. 33-34).

A Figura 15 apresenta a fotografia das voluntárias preparando o lanche.

Figura 15 – Que Delícia, o preparo do lanche!

Fonte: Fotografia cedida por dona Josefa, líder da Pastoral da Criança no bairro

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No dia da Celebração da Vida, por exemplo, além do momento da leitura e

reflexão, da pesagem, há o momento de saborear um gostoso lanche, ou uma

deliciosa sopa, feita por mulheres dedicadas e comprometidas em dar o seu melhor

para ajudar nessas ações da Pastoral da Criança.

Não cabe aqui tratar da questão de gênero, assim, restringi o tema à fala de

alguns líderes entrevistados sobre a história e as ações implementadas Igreja

Comunidade Dom Bosco, no bairro Cidade Satélite Íris I. Entretanto, considero

pertinente citar a fundadora da Pastoral da Criança Dra. Zilda Arns Neumann (1934-

2010) sobre a grande participação das mulheres na trajetória da instituição.

As mulheres na Pastoral da Criança, com toda a sua intuição feminina e dons próprios concedidos por Deus, sabem ouvir os clamores dos que mais sofrem e, assim, como verdadeiras discípulas-missionárias, assumiram a missão de partilhar tudo o que sabem com muita solidariedade e paciência, para que as famílias pobres, visitadas e acompanhadas a cada mês, tenham condições de promover o desenvolvimento integral de seus filhos, desde antes de nascer até aos seis anos de idade. (SITE DA PASTORAL DA CRIANÇA, 1983).

Diante do exposto, percebi na atuação da Pastoral da Criança, a efetivação

da Educação Não Formal, definida por Gohn (2008) como:

[...] processos educativos que ocorrem fora das escolas, em processos organizativos da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações não governamentais e outras entidades sem fins lucrativos que atuam na área social; ou projetos educacionais, fruto da articulação das escolas com a comunidade educativa, via conselhos, colegiados etc. (GOHN, 2008, p.7).

Nessa luta por um mundo melhor, por intermédio da educação e da ação

social, a Pastoral da Criança, junto com a Igreja Católica, vem atuando nas

comunidades carentes com grande vulnerabilidade social, assumindo um grande

desafio.

A Pastoral da Criança não faz discriminação religiosa nem de cor, raça ou opção política; enfim, está aberta a todos [...] promove uma convivência de respeito, solidariedade, valorização das diferenças entre as pessoas e de cuidado com o meio ambiente que nos cerca. Procura também denunciar a injustiça e a falta de condições dignas de vida para todos [...]. Pois, ‘a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar’, Atos 2, 39. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2007, p.12)

E qual o papel da Educação, no sentido de amenizar as desigualdades

instaladas, já que as crianças do bairro Cidade Satélite Íris I convivem com a falta de

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políticas adequadas para suprir as necessidades em termos de saúde, moradia,

educação, lazer, segurança e outros serviços? Esta foi a pergunta que norteou esta

pesquisa, como já apresentada na Introdução deste trabalho e agora novamente

neste final. Em busca de resposta à pergunta vejo que o trabalho que é feito com

amor, empenho e dedicação dá bons frutos. Atualmente esse bairro Cidade Satélite

Íris I ainda vive com os descasos dos órgãos públicos, lutando pelo saneamento em

todo o bairro, já que apenas uma parte o possui; a comunidade sonha com um posto

de saúde, bem como o asfalto que continuam na pauta das reivindicações desse

bairro em pleno século 21.

E a comunidade atendida no seu cotidiano, na luta por dias melhores vê

nessas ações da Pastoral da Criança, uma oportunidade de recomeço, uma nova

esperança para seus filhos, assim como bem inspira Freire (1996):

[...] já não foi possível existir sem assumir o direito e o dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. E tudo isso nos traz de novo a imperiosidade da prática formadora, de natureza eminentemente ética. E tudo isso nos traz de novo à radicalidade da esperança. Sei que as coisas podem até piorar, mas sei também que é possível intervir para melhorá-las. (FREIRE, 1996, p.22).

A mensagem de Paulo Freire indica que diante das circunstâncias vividas no

Brasil, o importante é cada um fazer a sua parte, plantar sementes de boa qualidade

nas crianças, para que, no futuro, germinem boas plantas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não há diálogo, porém se não há um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do

mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que o funda.

Paulo Freire (1987, p.79).

Vivenciar a escrita desta dissertação, além de reviver minha trajetória

acadêmica, foi uma experiência gratificante e me possibilitou deixar um registro de

memórias para uma comunidade que, até então, em pleno século 21, ainda luta

pelos direitos básicos, tais como: Saneamento, Pavimentação, Habitação e Posto de

Saúde. É chegado o momento de finalizar esta dissertação que teve como foco

conhecer como se dá às ações educativas dentro da Pastoral da Criança na

comunidade Cidade Satélite Íris I, e toda a relevância sobre como essas ações

contribuem com o diálogo entre os líderes e a comunidade.

Diante da situação socioeconômica, dos problemas sociais e o descaso do

serviço público em certos bairros, surge a necessidade da ajuda de Entidades

Assistenciais, ONGs, Instituições Públicas ou Privadas, para realizarem trabalhos

sérios com projetos que façam a diferença na vida das pessoas marginalizadas e

excluídas socialmente.

Ao refletir sobre uma Educação que faça essa diferença na vida das

pessoas, penso que esta deve ir além das informações necessárias, devem ajudar a

pensar, refletir, conscientizar sobre os seus direitos e deveres, a viver e trabalhar em

grupos opinando e também ouvindo e respeitando o outro. Daí a importância de dar

voz aos entrevistados para resgatar, por meio de suas memórias, a história da

Pastoral da Criança na comunidade.

Estas são atitudes que confirmam o conceito da Educação Sociocomunitária

e a Pastoral da Criança é um espaço de esperanças, que vem abrindo suas portas

para acolher crianças e famílias, no comprometimento com a educação, cidadania e

na busca pela emancipação dos sujeitos através do diálogo.

E neste sentido de contribuição acredito sempre que a Educação tem essa

finalidade de formar cidadãos conscientes e críticos; foi o que me propus quando

busquei, no trabalho da Pastoral da Criança, pesquisar suas ações educativas e

sociais.

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Quando dou ênfase na Educação como agente de transformação social, cito

Paulo Freire que, durante toda a sua jornada como educador, sempre estimulou o

sujeito a conseguir liberdade pela educação. E, igualmente, o respeito à palavra de

cada um, com vez e voz que, embasada em Freire (2005, p.90) aponta que, "não é

no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão".

Do mesmo modo, Freire sempre acreditou em uma pedagogia voltada ao resgate do

sujeito para lutar pela sua liberdade, emancipação e mudança de sua história de

vida.

Todo esse projeto de resgate ao sujeito excluído socialmente, só tem sentido

quando o envolvimento com a comunidade é significativo e se o projeto for voltado,

para transformação social, cultural e educacional.

Voltando a pergunta que representa o problema de pesquisa como às

ações educativas e sociais da Pastoral da Criança podem contribuir com a libertação

e emancipação dos sujeitos? pude com esta pesquisa ver como é possível elevar

a autoestima de uma família, que acompanhando, dando oportunidades de

conhecimentos ela pode se transformar e todos ganham com isso, e esta grande

relevância social que tem como um dos seus objetivos, também proporcionar

mudanças de vida, autonomia e emancipação dessas famílias.

Diante do refletir, reaprender e reacreditar, sempre é possível haver

mudança de uma sociedade para melhor e a Educação pode e muito contribuir com

isso. Toda a ação social e educativa da Pastoral da Criança é revertida no

investimento das famílias com crianças em bairro de grande vulnerabilidade social.

Trata-se de um trabalho da Pastoral da Criança que é desenvolvido independente de

ter origem na religião; ele em determinado ponto se desatrela do contexto religioso e

toma um caráter de prestação de serviço social e educativo mais ligado ao

pensamento humanitário.

A relevância desta pesquisa está em mostrar os caminhos da educação

sociocomunitária nas ações educativas da Pastoral da Criança, propondo novos

caminhos como mais uma ferramenta na educação, dentro do processo de formação

das pessoas tais como: cidadania, conscientização e transformação social dos

sujeitos.

Espero que esta pesquisa traga contribuições significativas para um

repensar as políticas sociais e os campos da Educação. Observei que o trabalho dos

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líderes é como semente lançada em terra fértil; se planta hoje na vida das pessoas

para se colher bons frutos no futuro.

Concluo esta dissertação, mas não finalizo esta discussão. É preciso

continuar lutando para se conquistar uma educação libertadora, que efetivamente

leve os sujeitos a serem conscientes. Acredito que todos os seres humanos

precisam do conhecimento, mas também precisam aprender a viver em comunhão

com seus pares, respeitando as diferenças, serem mais solidários e humanos. Não é

fácil essa mudança, mas a esperança deve sempre existir com vistas a um amanhã

com pessoas melhores nesse mundo, que lutem por uma sociedade mais justa e

igualitária.

E para realmente concluir ressalto que a Pastoral da Criança continua

contribuindo muito no processo ensino-aprendizagem, o que resulta na

transformação social de criança, adolescentes, gestantes e famílias e apresento o

retrato e a fala de uma grande Líder e Coordenadora Voluntária que deixou esse

grande legado em prol da sociedade.

Dra. Zilda Arns Neumann – Mensageira da Paz e do Bem!

"Prefiro olhar o lado positivo das coisas!"

Fonte: Site da Pastoral da Criança (2015).

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Uma mulher de coragem! Dra. Zilda viveu para defender e promover as crianças, gestantes e idosos, construir uma sociedade mais justa, fraterna, com menos doenças e sofrimento humano.

Em seu trabalho, sempre aliou o conhecimento científico ao conhecimento e à cultura popular; valorizou o papel da mulher pobre na transformação social; mobilizou a todos, pobres e ricos, analfabetos e doutores, na busca da Vida Plena para todos. Ela costumava dizer: ‘Há muito o que se fazer, porque a desigualdade social é grande. Os esforços que estão sendo feitos precisam ser valorizados para que gerem outros ainda maiores’.

Morreu dia 12 de janeiro de 2010 no terremoto que devastou o Haiti. Neste mesmo dia discursou sobre como salvar vidas com medidas simples, educativas e preventivas. Fez o que sempre falou: congregar mais pessoas para se unirem na busca de “vida em abundância” para crianças e gestantes pobres.

Deixou sua marca na história do Brasil ao fundar e coordenar a Pastoral da Criança e Pastoral da Pessoa Idosa. (PASTORAL DA CRIANÇA, 2015).

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APÊNDICE

APÊNDICE A – Autorização para Pesquisa e Uso de Imagem e Voz

Eu, Ester Costa de Oliveira Dias, RG. 17.615.742-6, sou aluna regular do Curso de

Pós-Graduação (Mestrado em Educação) do Centro Universitário Salesiano de São

Paulo (UNISAL), unidade Americana e orientanda da Profa. Dra. Sueli Maria

Pessagno Caro, docente deste curso e desta instituição. Como parte de material

necessário para obtenção do grau de Mestre em Educação, necessito desenvolver

uma pesquisa e venho solicitar a autorização para realizar o trabalho de campo,

utilizando a técnica de entrevista com os líderes (as), coletar depoimentos orais e

imagens para fins estritamente acadêmicos, durante o período de agosto/2015 a

outubro/2015. Igualmente, preciso realizar observações participantes no bairro junto

aos membros da Igreja Comunidade Dom Bosco, localizada no bairro denominado

Cidade Satélite Íris I, em Campinas. Comprometo-me a, ao final do desenvolvimento

do trabalho de pesquisa, fazer o retorno dos resultados para todos os envolvidos

diretamente no processo da investigação.

Americana, 01 de agosto de 2015.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Autorização para pesquisa e uso de voz e imagem

Eu,_________________________________________________________________

___________________, RG___________________, autorizo o trabalho de campo

de pesquisa através da técnica de entrevista, coleta de depoimento oral e imagem

para fins estritamente acadêmicos da aluna Ester Costa de Oliveira Dias.

Data____/______/2015

Assinatura______________________________________

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ANEXOS

ANEXO A – 10 Mandamentos para a Paz na Família

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ANEXO B – Ficha da Criança Caderno do Líder.

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ANEXO C – Ficha das Vacinas

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ANEXO D – Indicadores de Oportunidades e Conquistas

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ANEXO E – Ficha Gráfico da Curva de Crescimento do Bebê

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ANEXO F – Jornal da Pastoral da Criança

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MEMORIAL

Lembranças, Começos e Recomeços nessa Trajetória da minha vida...

Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

- Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar – é lago sereno,

O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado,

A vida – um hino d’amor! Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar! Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minhã irmã! Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

- Pés descalços, braços nus -

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis! Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar! Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

- Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!

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Este memorial descritivo parte de recordações conservadas na minha

memória e tem como objetivo apresentar a minha trajetória acadêmica até a

presente data. Voltar à primeira escola, à primeira sala de aula e revisitar o ano de

1973, na escrita deste memorial, me deu vontade de comprar o perfume Mauá, da

marca Vert, da minha primeira professora dona Lurdinha, da Escola Estadual Fausto

Lex, na cidade de Barretos, interior de São Paulo.

Ingressei na 1ª série nessa escola, em um tempo em que a cidade não tinha

ainda os parques infantis, implantados somente em 1975. A minha escola Fausto

Lex não era grande, e o pátio onde ocorria o recreio era um espaço bem limitado,

não havia aula de Educação Física, e as atividades se limitavam à sala de aula e

alguns minutos de intervalo. Nós alunos levávamos o nosso próprio lanche, e o

período de aula era de três horas. Usávamos uniforme composto de saia cinza

plissada e blusa branca por dentro da saia. Nos pés, o calçado era o popular tênis

da marca "Conga" azul marinho, com meias brancas até o joelho.

Estudava no período da tarde. Entrava às 13 horas e, muitas vezes, eu e

outras amigas íamos mais cedo e passávamos pela casa da professora Lurdinha,

que ficava no trajeto, para irmos juntas para a escola, a uns 15 minutos da minha

casa.

Gostava muito de ir à escola. No embornal de tecido costurado por minha

mãe – já que à época não havia mochilas como as de hoje, mas pastas de couro

além das condições financeiras da minha família – eu carregava caderno, lápis,

borracha e a cartilha "Caminho Suave", material doado aos funcionários pela

Cooperativa do Trabalho do meu pai, o Frigorífico Anglo. Para o lanche era pão com

ovo frito dentro do saquinho de papel craft da padaria.

Da cartilha, lembro-me da lição da "barriga" e do "dado", porque a

professora fazia o "b" (e dizia que tinha a "barriga para a frente") e o "d" ("de

bumbum para trás").

Nossa, como era bonita a nossa cartilha! Gostava de contornar as letras

pontilhadas, copiar as sílabas, palavras e frases. Nessa época, quem me ajudava

com os deveres da escola era minha irmã Izabel.

Quantas descobertas foram feitas nessa escola! Nesse rememorar,

descrevo também como era a sala do diretor: ficava num corredor bem limpo, onde o

chão brilhava. Na sala, havia uma enorme mesa de madeira escura com duas

cadeiras e, no alto da parede, um quadro do professor Fausto Lex, que deu o nome

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à escola. Sempre que o diretor entrava na nossa sala de aula, levantávamos e, em

ocasiões festivas, cantávamos o hino nacional.

Na 3ª série mudei-me para uma escola construída bem próximo à minha

casa, onde fiquei até a 8ª série, sem nunca repetir o ano.

A Escola Estadual Paulina Nunes de Moraes era ampla, tinha laboratório de

ciências, quadra de basquete, vôlei e futebol, além de uma arquibancada e um pátio

coberto, com palanque para apresentações. O nosso uniforme para a sala de aula

era uma camiseta branca com o brasão da escola, já o de Educação Física era

composto por short vermelho com elástico nas pernas, saia branca plissada curta,

camiseta branca e "Conga" com meias brancas.

Tive um pouco de dificuldade na 3ª série em Matemática, com a professora

dona Ivone, e terminei o ano "de recuperação". Outra pessoa de quem me recordo é

da professora de Ciências, dona Korar. Ela era muito "brava", muito "grande", usava

um par de óculos bem forte e ficava o tempo todo sentada, e nós que íamos até a

sua mesa levar as lições, geralmente, todas feitas no livro. A cópia do texto era

sempre feita no caderno e em grande volume.

Estudava no período da manhã e duas vezes por semana tinha Educação

Física no horário contrário. Fazíamos sempre aquecimento antes de iniciarmos os

jogos (vôlei, handebol e basquete).

Ainda sobre essa época, me recordo de brincar na rua depois da escola.

Leituras e o gosto por escrever

Nessa escola tive um grande professor de Português na 4ª série, o Sr.

Fortunato, que nos ensinou a fazer uma "composição", o que hoje chamamos de

redação.

Ele colocava uma folhinha de Calendário com imagens na lousa, por

exemplo, uma menina com um pintinho na mão. Aí, tínhamos que imaginar uma

história e escrever. Ele corrigia e colocava na lousa a melhor história.

Além disso, ele utilizava uma técnica de caligrafia com a turma: pedia para

tirar uma folha do caderno, pegar a régua e riscar as linhas, nós mesmos. Depois,

tínhamos que colocar embaixo da folha que íamos escrever com um clipe. Fazíamos

cópia da lousa respeitando a linha na folha de baixo, e com isso, a caligrafia foi

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sendo treinada. Essa técnica além de melhorar a letra, era econômica, pois ninguém

precisava comprar caderno de caligrafia.

Terminei o primário e comecei o ginásio – da 5ª série até a 8ª série – quando

tive vários professores e, novamente, um professor que me marcou, o Sr. Lauro, de

Português. Ele incentivava muito a leitura dos textos em voz alta.

No colegial cursei apenas o primeiro ano no Colégio Vocacional, ainda em

Barretos e, no final do ano, mudei-me para Campinas, onde fui estudar o segundo

ano no Colégio Carlos Gomes. Novamente me identifiquei com o professor de

Literatura e Português, Sr. Luiz. Suas aulas eram dinâmicas e todos podiam falar de

vários assuntos. Quando terminou o segundo ano, eu e uma amiga chamada Marina

decidimos conversar com a diretora: queríamos fazer novamente o segundo ano,

porém, no curso Magistério. Ou seja, voltamos um ano para poder fazer o

Magistério, e foi uma das melhores decisões da minha vida.

Começava aqui a minha carreira de professora. No quarto ano do

Magistério, tínhamos que fazer o estágio. Primeiro, foi no ensino fundamental da 1ª à

4ª série, na EMEF Raul Pila, no Bairro Jardim Flamboyant. Nessa época, trabalhava

no escritório da empresa “Toldos Joia”, de segunda a sexta-feira, então, trabalhava

aos sábados para compensar as horas de estágio, que fazia às quintas-feiras.

Nesse dia da semana, o meu almoço (lanche) era saboreado dentro do ônibus, junto

com a minha amiga Marina.

Tinha que tomar dois ônibus até chegar ao Raul Pila. E, muitas vezes, ao

chegarmos à escola, acabávamos dando aula, já que a professora da sala havia

faltado. Quando isso acontecia, era muito interessante e empolgante: uma hora eu

passava o conteúdo na lousa do livro cedido pela diretora, outra hora, minha amiga

Marina. Os alunos gostavam porque enquanto uma passava na lousa, a outra olhava

os cadernos e dava visto (“Parabéns!”). Foi uma época em que aprendemos muito a

exercer o papel de professora. Depois, fizemos estágio na educação infantil, no

chamado Tancredão (EMEI Jardim Tancredão), o que foi muito divertido, já que

também podíamos brincar e passar atividades para as crianças, num procedimento

chamado de “regência de aula”, pelo qual chegamos a ganhar horas a mais.

Em 1987, no dia 03 de agosto, comecei a dar aula no Centro Educacional

Pingo de Gente, no Bairro Jardim Ipaussurama, na pré-escola para crianças de seis

anos, pela Fundação Educar que, em novembro desse mesmo ano, passou a ser a

Fundação Municipal Educação Comunitária de Campinas (FUMEC). Fiquei como

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professora de pré-escola até 1994, quando me efetivei na Rede Municipal de

Campinas, também como professora na educação infantil até o presente momento.

Neste período, fiz o curso de Letras na Pontifícia Universidade Católica de

Campinas (PUCCAMP) e o curso de Pedagogia na Faculdade de Filosofia Ciências

e Letras de Oro Fino (FAFIOF). Em seguida, também fiz três cursos de

Especialização: Psicopedagogia, Educação Social e Educação de Jovens e Adultos.

Quando fiz Educação Social no UNISAL, aconteceu meu despertar para o

trabalho voluntário: comecei a participar e ajudar na Pastoral da Criança no bairro

Cidade Satélite Íris. Uma vez por mês, no terceiro sábado, é o dia da Celebração da

Vida, e as visitas, propriamente ditas, também ocorrem uma vez por mês na casa

das crianças atendidas pela Pastoral. A partir dessa experiência, tomo esses

momentos como responsáveis pelo desejo de escrever minha pesquisa de

mestrado.

Em toda trajetória pessoal e profissional sempre gostei de estudar, de me

qualificar, porém, o mestrado, deixei para fazer agora, quando meus dois filhos, hoje

com 18 e 15 anos, realmente não dependessem tanto da minha presença no dia a

dia e em suas rotinas escolares. E qual não foi a minha surpresa ao iniciar o

mestrado, ao descobrir que teria aulas com o professor Severino Antonio e ao me

dar conta de que, na faculdade de Letras, utilizei um de seus livros. Agora, posso

dizer que tive o prazer de ter aulas com esse magnífico professor e escritor. "Somos

menos do que somos. Somos mais do que somos. De um lado, temos sido muito

menos do que poderíamos ser. De outro, poderemos ser muito mais do que temos

sido. Severino Antônio"

Quando penso em Educação, lembro-me das palavras de Freire (1996,

p.12), "a educação é o caminho fundamental para transformar a sociedade".

E nesta perspectiva vou falar um pouco das formas e tipos de Educação que

são praticadas nos dias atuais. Muitos já escreveram sobre a função da Educação

na nossa sociedade, porém, a cada dia, compreendo e observo que a sua função

sofreu grandes mudanças, na relação entre escola, família e comunidade em geral.