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PARQUES TECNOLÓGICOS COMO AMBIENTES INOVADORES Implicações para o sistema local de inovação do ABC. Antonio Carlos Marques Valente 1 Anapatrícia Morales Vilha 2 RESUMO Com as economias globalizadas, a inovação ganha um papel fundamental para o desenvolvimento econômico e social dos países. É a partir desta perspectiva que os parques tecnológicos são inseridos com o objetivo de articular os atores que compõem um sistema local de inovação de modo a fortalecer as competências inovativas de uma determinada região. É dentro deste contexto que a região do ABC paulista se coloca porque é uma região industrial que passou por transformações em seu tecido produtivo na década de 1990 com reflexos significativos para a economia local. Outro ponto é a discussão, a partir da mesma década, da estruturação de um polo tecnológico regional com o intuito de reposicionar a região de modo que ela se alinhasse aos novos paradigmas produtivo, tecnológico e econômico que acabou não avançando neste sentido. Por outro lado, há iniciativas locais para a estruturação de parques tecnológicos na região, mais especificamente nas cidades de Santo André e São Bernardo do Campo. Portanto, o presente trabalho tem por objetivo analisar estas iniciativas e, ao mesmo tempo, mensurar o sistema local de inovação e seu grau de articulação, via entrevistas de campo de caráter qualitativo, semiestruturado e exploratório, além de investigar as implicações que a estruturação de parques tecnológicos pode oferecer ao sistema local de inovação da região do ponto de vista dos atores mais representativos do sistema local de inovação, bem como discutir desafios e potencialidades para alavancar competências tecnológicas e inovativas locais a partir da implantação destes empreendimentos. Como principais resultados da pesquisa, o sistema local de inovação apresenta-se fragmentado e desarticulado, pois as empresas pouco interagem com as instituições de ensino e mesmo entre si, visando melhorias e inovações tecnológicas. As empresas são favoráveis à implantação de parques tecnológicos na região, porém apresentam um comportamento reativo em relação à esta questão, entendendo que estas iniciativas devam ser deflagradas pelo poder público, desconhecendo os esboços destas iniciativas porque estão 1 Mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (UFABC). R. Antonio Bastos, 268 apto. 32 - Santo André SP CEP: 09040-220. Fone: (11) 3969-7323. Email: [email protected] 2 Doutora em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Av. dos Estados, 5001 Santo André SP CEP: 09210-580. Fone: (11) 4437- 8576 . Email: [email protected]
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Nov 09, 2018

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PARQUES TECNOLÓGICOS COMO AMBIENTES INOVADORES

Implicações para o sistema local de inovação do ABC.

Antonio Carlos Marques Valente1

Anapatrícia Morales Vilha2

RESUMO

Com as economias globalizadas, a inovação ganha um papel fundamental para o

desenvolvimento econômico e social dos países. É a partir desta perspectiva que os parques

tecnológicos são inseridos com o objetivo de articular os atores que compõem um sistema

local de inovação de modo a fortalecer as competências inovativas de uma determinada

região. É dentro deste contexto que a região do ABC paulista se coloca porque é uma região

industrial que passou por transformações em seu tecido produtivo na década de 1990 com

reflexos significativos para a economia local. Outro ponto é a discussão, a partir da mesma

década, da estruturação de um polo tecnológico regional com o intuito de reposicionar a

região de modo que ela se alinhasse aos novos paradigmas produtivo, tecnológico e

econômico que acabou não avançando neste sentido. Por outro lado, há iniciativas locais para

a estruturação de parques tecnológicos na região, mais especificamente nas cidades de Santo

André e São Bernardo do Campo. Portanto, o presente trabalho tem por objetivo analisar estas

iniciativas e, ao mesmo tempo, mensurar o sistema local de inovação e seu grau de

articulação, via entrevistas de campo de caráter qualitativo, semiestruturado e exploratório,

além de investigar as implicações que a estruturação de parques tecnológicos pode oferecer ao

sistema local de inovação da região do ponto de vista dos atores mais representativos do

sistema local de inovação, bem como discutir desafios e potencialidades para alavancar

competências tecnológicas e inovativas locais a partir da implantação destes

empreendimentos. Como principais resultados da pesquisa, o sistema local de inovação

apresenta-se fragmentado e desarticulado, pois as empresas pouco interagem com as

instituições de ensino e mesmo entre si, visando melhorias e inovações tecnológicas. As

empresas são favoráveis à implantação de parques tecnológicos na região, porém apresentam

um comportamento reativo em relação à esta questão, entendendo que estas iniciativas devam

ser deflagradas pelo poder público, desconhecendo os esboços destas iniciativas porque estão

1 Mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (UFABC). R. Antonio Bastos, 268

apto. 32 - Santo André – SP – CEP: 09040-220. Fone: (11) 3969-7323. Email: [email protected]

2 Doutora em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Av. dos

Estados, 5001 – Santo André – SP – CEP: 09210-580. Fone: (11) 4437- 8576 . Email:

[email protected]

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circunscritas à esfera pública e política. Outro ponto identificado é a carência de espaço físico

disponível e de recursos financeiros próprios para a implantação destes empreendimentos; a

ausência de um projeto estruturado; definição de competências tecnológicas; empresas

âncoras e um corpo gestor já definido demonstram que os projetos ainda são embrionários.

Em contrapartida, a região possui um tecido industrial diversificado, algumas instituições

ensino superior no campo das engenharias e esforços para a constituição e fortalecimento de

arranjos produtivos locais, além de uma regionalidade construída ao longo das últimas duas

décadas que não podem ser negligenciadas, fazendo com que estas inciativas possam ser

consolidadas de modo que seja um elemento capaz de contribuir com o fortalecimento e

articulação do sistema local de inovação da região.

Palavras-chave: sistemas de inovação, parques tecnológicos.

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ABSTRACT

With globalized economies, innovation assumes a fundamental role to economic and social

development of the countries. It is from this perspective that technology parks are inserted

with the purpose of coordinating the actors that composes a local innovation system in order

to strengthen the innovative competences of a particular region. It is within this context that

the ABC Paulista arises because it is an industrial area that has suffered changes in its

productive sector in the 1990s with significant consequences for the local economy. Another

point is the discussion, from the same decade, the structuring of a regional science park in

order to replace the region into a new production, technological and economic paradigms but

without positive results in this direction. On the other hand, there are local initiatives for

structuring science parks in the region, more specifically in the cities of Santo André and São

Bernardo do Campo. Therefore, this study aims to examine these initiatives and at the same

time, measure the local innovation system and its articulation applying qualitative interviews,

semi-structured and exploratory interviews and investigate the implications of structuring

science parks can offer to the local innovation system in the point of view of the stakeholders

of the local innovation system region and discuss challenges and opportunities to leverage

local technological and innovative competences from the implementation of these enterprises.

The main results of the research, the local innovation system is fragmented and disarticulated

because the interaction among companies and educational institutions is inexpressive and

even among themselves, seeking improvements and technological innovations. The

companies agree with the implementation science parks in the region, however with a reactive

attitude towards this issue, understanding that these initiatives should be triggered by the

government, ignoring the efforts of these initiatives because they are tied to public and

political sphere. Another point identified is the lack of available physical space and own

financial resources for the implementation of these projects; the absence of a structured

design; definition of technological skills; anchor companies and a managing team already set

demonstrate that the projects are still embryonic. In contrast, the region has a diversified

industrial base, some higher education institutions in the field of engineering and efforts to

build and strengthen local productive arrangements, plus a regionality built over the past two

decades can’t be neglected, causing that these initiatives can be consolidated so that it is an

element that can contribute to the strengthening and coordination of the local innovation

system in the region.

Keywords: innovation systems, science parks.

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INTRODUÇÃO

Humbert (2005) argumenta que a tecnologia e a indústria atuam em escalas cada vez mais

globais, dependendo fortemente da dinâmica dos processos de aprendizado e das formas de

interação dos atores científicos, tecnológicos e inovativos. Dessa forma, tanto a inovação

quanto os processos de produção são construídos a partir da interação de sistemas sociais e de

aprendizado. Nessa mesma direção, Fuck e Vilha (2011) mostram que o processo de inovação

endereça a necessidade de interação da empresa com múltiplos atores, de modo a acessar

novos conhecimentos e estabelecer novas relações de cooperação para prover tecnologias e

inovações.

Johnson e Lundvall (2005) alertam que para países em desenvolvimento, uma maior atenção

deve ser dada aos sistemas locais de inovação, dada a pouca articulação dos atores que

compõem o sistema nacional de inovação desses países. Partindo dos mesmos pressupostos

enunciados no princípio de sistemas de inovação, os sistemas locais de inovação referem-se

ao conjunto de atores e instituições locais que contribuem para o desenvolvimento e a difusão

de inovações de uma determinada região (Sendin e Appoloni, 2006).

A região do Grande ABC paulista3 tem promovido iniciativas e esforços na direção da

implantação de parques tecnológicos, como a criação da Associação Parque Tecnológico de

São Bernardo do Campo e os esforços da cidade de Santo André para qualificar o projeto do

seu parque tecnológico. Nessa perspectiva, um dado que chama atenção reside sobre o fato de

que a região do ABC apresenta projetos distintos de implantação de parques tecnológicos, a

exemplo das iniciativas distintas preconizadas pelas prefeituras de São Bernardo do Campo e

de Santo André.

A questão que essa pesquisa procurou investigar e responder é:

3 Região metropolitana do estado de São Paulo, compreendendo sete municípios: Santo André, São Bernardo

do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

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Qual a configuração das iniciativas, dos atores envolvidos, dos desafios, entraves e

potencialidades para a implantação de parques tecnológicos na região do ABC?

A hipótese desta pesquisa é a de que as limitações da capacidade tecnológica e inovativa da

região se devem à debilidade das interações entre os principais atores do seu sistema local de

inovação, podendo ser fortalecidas pela implantação de parques tecnológicos.

Objetivo Geral da Pesquisa

Investigar as iniciativas, os projetos de implantação dos parques tecnológicos e suas

potenciais implicações ao sistema local de inovação da região do ABC.

Objetivos Específicos:

Analisar a trajetória econômica, industrial e tecnológica da região do ABC sob uma

perspectiva histórica.

Identificar as iniciativas, os atores envolvidos, os principais entraves e desafios para a

implantação parques tecnológicos na região do ABC.

Discutir as tendências e potencialidades da implantação de parques tecnológicos na

região do ABC.

Justificativa

A região do ABC construiu uma estrutura urbana que a coloca em destaque no cenário

brasileiro e, apesar das alterações na estrutura industrial ocorrida na região nos anos

1990, o ABC desenvolveu uma competência industrial que não pode ser

desconsiderada, possuindo ainda um tecido industrial diversificado e um setor de

serviços em franca expansão.

Ademais, a região detêm algumas instituições tradicionais de ensino superior; os

setores automobilístico e petroquímico bastante representativos e suas cadeias

produtivas de igual importância.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Inovação: conceitos, tipologias e o tratamento dispensado pela abordagem

evolucionária da economia.

A competitividade dos mercados desperta para a necessidade das empresas estarem atentas ao

ambiente externo e perseguirem vantagens baseadas em inovações de difícil imitação pelos

competidores. Para Schumpeter (1982, p. 76), inovar significa "combinar materiais e forças;

produzir outras coisas ou as mesmas coisas com métodos diferentes; significa combinar de

maneira diferente esses materiais e forças".

Schumpeter (1982, p. 48 e 49) apresenta cinco formas de inovação: 1) desenvolvimento de

um novo produto; 2) introdução de um novo método de produção; 3) abertura de um novo

mercado; 4) descoberta ou conquista de uma nova fonte de matérias primas ou produtos

semiacabados e 5) criação de uma nova indústria ou monopólio.

De acordo com a OCDE (2006, p. 21), a inovação tecnológica é um processo contínuo, tendo

em vista que as empresas introduzem mudanças constantes em seus produtos e processos,

buscando novos conhecimentos e tecnologia para tal. Desta forma, trata-se de um mecanismo

dinâmico e, como tal, mais complexo de se mensurar comparativamente a uma atividade de

característica mais estática.

Kline e Rosenberg (1986, p. 286, 287) propuseram o modelo interativo de inovação (chamado

pelos autores como ‘elo de cadeia de inovação’) que leva em conta a existência de um

processo interativo para prover a inovação. Essa concepção interativa do processo inovativo

no modelo de Kline e Rosenberg prevê interações e retroalimentações (feedbacks) em âmbito

intra-empresarial e interempresarial, bem como entre os diversos estágios do desenvolvimento

da inovação. Ademais, o modelo sinaliza claras interações entre as esferas científica e

tecnológica, levantando questões que alavancam a geração de conhecimentos em ambas as

esferas.

1.2 Sistemas de inovação

Essa percepção interativa do processo inovativo inspira o conceito de sistema de inovação

(SI), que pode ser definido como um conjunto de instituições ou atores institucionais que, em

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conjunto, desempenha o papel de influenciar e estimular o desenvolvimento tecnológico e a

dinâmica inovativa de um país ou região (Nelson, 2006, p. 430).

A abordagem dos sistemas de inovação, pelo ponto de vista do destaque aos possíveis

arranjos institucionais nos processos inovativos vai ao encontro do conceito apresentado por

Sábato e Botana (1968, p. 15) denominado de modelo ‘Triângulo de Sábato’. Os autores

argumentavam que para construir uma vigorosa infraestrutura científica e tecnológica era

imperativo incorporar a ciência e tecnologia no processo de desenvolvimento de um país e

para tal, a infraestrutura de C&T deveria estar acoplada à estrutura produtiva da sociedade.

Figura 1. Triângulo de Sábato

SÁBATO e BOTANA (1968)

Etzkowitz (2009, p. 10) faz uma ampliação do triângulo de Sábato usando a terminologia da

‘hélice tripla’ para analisar a relação entre o governo, as universidades e as empresas e seus

papéis no que diz respeito à inovação. Segundo o autor, a inovação ganha mais robustez à

medida que as relações e interações entre estes atores, incluindo também as incubadoras de

base tecnológica, os parques tecnológicos e as empresas de capital de risco se fortalecem.

GOVERNO

ESTRUTURA

PRODUTIVA INFRAESTRUTURA CIENTÍFICA -

TECNOLÓGICA

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Figura 2 - O Modelo Tripla Hélice das relações Universidade-Indústria-Governo

Fonte: ETZKOWITZ (2009)

1.3 Sistemas locais de inovação e desenvolvimento regional

Lastres et al (1999, p. 52, 53) comentam que a questão da inovação tem ganhado força no

debate sobre o desenvolvimento econômico regional, ou seja, o caráter localizado da

inovação, face ao contexto da competição global, sublinha as relações entre o local e o global

e o papel que cada uma destas dimensões desempenhará no âmbito político e econômico.

De acordo com Rauen (2006, p. 16, 17), os sistemas locais de inovação possuem “dois

elementos fundamentais e distintos, porém complementares que são as organizações e as

instituições” porque, se por um lado – usando o argumento schumpeteriano - as empresas

estão no cerne das inovações, por outro, as instituições têm a função de criar mecanismos para

que as empresas inovem, estabeleçam redes de cooperação, parcerias tecnológicas e interajam

com os múltiplos atores do sistema local de inovação.

1.4 Parques Tecnológicos (PqTs): conceitos e reflexões

No Brasil, a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores

(ANPROTEC)4 define parques tecnológicos sob dois aspectos:

(a) complexo industrial de base científico-tecnológica, de caráter formal,

concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em

4 ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. Disponível em

http://www.anprotec.org.br/ArquivosDin/portfolio_versao_resumida_pdf_53.pdf. Acesso em 10/02/2013.

Academia

Indústria

Governo

Rede trilateral e

organizações híbridas

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pesquisa tecnológica desenvolvida em centros de P&D [Pesquisa e

Desenvolvimento] vinculados ao Parque; (b) empreendimento promotor da cultura

da inovação, da competitividade, do aumento da capacitação empresarial

fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de

incrementar a produção de riqueza (ANPROTEC, 2008, p. 80).

De acordo com Silva (2009, p. 48) há fatores que devem ser levados em consideração para

projetos de PqTs:

Apoio das autoridades com o objetivo de incentivar o projeto e prover melhorias na

infraestrutura local;

Presença de instituições de C&T;

Sistema de incentivos de toda monta;

Espaços para aglomeração de empresas de base tecnológica;

Infraestrutura básica de transportes, telecomunicações, energia etc.;

Qualidade ambiental e boa imagem urbanística;

Presença de empresas que tenham capacidade de criar parcerias e aplicar os

conhecimentos gerados;

Foco de mercado tanto para o mercado interno quanto para o externo.

Steiner et al (2008, p. 10, 11) sinalizam elementos críticos que contribuem para o êxito dos

parques tecnológicos. Neste caso, o nível de comprometimento dos governos municipal,

estadual e federal, das universidades e institutos de pesquisa e do setor empresarial são

fundamentais.

Em contrapartida, para Andrade Junior (2005), há dificuldades inerentes que precisam ser

mitigadas: a distância do parque em relação à universidade, o número de instituições de

ensino fazendo pesquisa conjuntamente com as empresas internalizadas no parque e os

recursos financeiros envolvidos, ou seja, qual o percentual de P&D que é financiado pelas

indústrias para as pesquisas acadêmicas, o grau de formalidade entre as empresas e as IES

dentre outras. Adicionalmente, o apoio inadequado do poder público para alavancagem do

parque; excessiva dependência política; pouca vinculação com as instituições de ensino e

pesquisa locais; presença tímida de ‘capital semente’ e de risco que estejam vinculados ao

projeto.

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De acordo com o relatório intitulado Estudo de Projetos de Alta Complexidade – Indicadores

de Parques Tecnológicos5 (CDT/UnB, 2013), no quesito fontes de financiamento, o apoio

governamental mostra-se primordial em todas as fases do empreendimento, detendo a maior

representatividade do montante financeiro dos projetos, devido às incertezas que eles

carregam. Já na fase de implantação, os recursos estaduais e municipais passam a ter maior

participação em contraposição aos federais. Quando os parques já estão consolidados, a

iniciativa privada é responsável por mais da metade dos recursos. Estas informações sinalizam

que a iniciativa privada ainda busca aportar seus recursos em empreendimentos mais

consolidados e com baixo risco de incertezas, mostrando que o empreendedor brasileiro ainda

mantém um relativo distanciamento ao risco, deixando as fases de maior incerteza dos

projetos de parques para o setor público.

1.5 Região do ABC paulista: panorama da sua trajetória industrial, tecnológica e

inovativa

A região do ABC paulista é constituída por sete municípios (Santo André, São Bernardo do

Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra)

compreendendo uma área de 841km2 e uma população total de 2.551.328 habitantes (IBGE,

2010). Do ponto de vista econômico, possui um PIB de R$ 81.693 bilhões incluindo os

impostos arrecadados. Estes dados mostram que a participação da região representa 6,5% do

PIB do Estado de São Paulo e 2,1% do PIB brasileiro (ANUÁRIO DE SANTO ANDRÉ,

2012, p. 24). Das sete cidades, cinco estão entre as cem maiores cidades brasileiras em relação

ao PIB brasileiro, mostrando que a região possui uma economia bastante representativa no

cenário nacional (IBGE, 2013).

O Grande ABC pode ser considerado uma região no sentido forte do termo, na

medida em que sintetiza três dimensões diferentes de articulação em seu recorte

espacial: é simultaneamente, uma região econômica, polarizada e político-

administrativa. Do ponto de vista econômico, o ABC possui importante peso

industrial – com destaque, em primeiro lugar, para o complexo automotivo e, em

segundo, para o ramo petroquímico e químico ao mesmo tempo em que se expande

consideravelmente o setor terciário [...] (DANIEL e SOMEKH, 1999, p. 2)

5 Este relatório foi elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em parceria com o

Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília com o objetivo de atualizar as

informações sobre a situação atual das iniciativas de parques tecnológicos no Brasil. Foram obtidas 80 respostas

de gestores de parques tecnológicos. Extraído do sítio http://www.mct.gov.br/upd_blob/0228/228606.pdf.

Acesso em 02/11/2013.

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Para Klink (2001, p. 138), o fato das grandes empresas locais serem multinacionais, com

decisões estratégicas majoritariamente externas, sem uma política explícita de transferência de

tecnologia para as empresas locais nacionais (micro e pequenas) resultou num tecido

industrial fragmentado, hierarquizado e com pouca articulação com os setores mais dinâmicos

da indústria, influenciando significativamente o desempenho negativo da região na década

seguinte.

1.6 Os instrumentos de ação regional do ABC.

Abrucio e Soares (2001, p. 152-156) explicam que na década de 1990 a região do ABC se vê

na necessidade de criar mecanismos de articulação regional decorrentes do impacto da crise

econômica que assolou a região. Diante deste pressuposto, há o surgimento de múltiplas

iniciativas de aproximação entre os atores regionais com o objetivo de solucionar problemas

comuns e direcionados ao desenvolvimento econômico regional.

Entre os mecanismos e instrumentos criados, destacam-se a criação do Consórcio

Intermunicipal das Bacias do Alto Tamanduateí e Billings, em 1990, representando os sete

municípios da região como um fórum de articulação intermunicipal com ações de caráter

suprapartidário passando pelas temáticas ambiental, gerenciamento e destinação dos resíduos

sólidos e o desenvolvimento local. (KLINK e LÉPORE, 2006, p. 76).

Em 1995 criou-se o Fórum da Cidadania do Grande ABC congregando associações de

empresas, sindicatos, grupos ambientais, representações da mídia local, organizações não

governamentais dentre outros. Já em 1997, foi criada a Câmara Regional do Grande ABC e o

Subcomitê da Bacia Hidrográfica Billings-Tamanduateí e, por último, a Agência de

Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, em 1998, como um desdobramento das

atividades da Câmara Regional (MATTEO e TAPIA, 2003, p. 24; VIANA, 2005, p. 201;

RAMALHO e RODRIGUES, 2013, p. 221).

A Câmara Regional do Grande ABC foi criada em 1997 como um espaço de articulação

política. Foi uma experiência bem sucedida em função da atuação do Sindicato dos

Metalúrgicos do ABC, sendo um ensaio de negociação entre o setor público, privado e os

sindicatos (VIANA, 2005, p. 206-208).

Em 1998, a Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia apresentou aos prefeitos a proposta

de um projeto integrado de criação de polo tecnológico no ABC, mas a proposta não se

efetivou. Segundo Reis (2008, p. 98):

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Infelizmente, os acordos firmados com o governo estadual, que previam a instalação

de um polo tecnológico do GABC não saíram do papel. Há uma possibilidade de

melhor articulação das instituições regionais com a política de pesquisa e extensão

da Universidade Federal do ABC a fim de se constituir centros de setoriais de apoio

e difusão tecnológica conectados com o processo de expansão da produção e,

consequentemente, com o desenvolvimento da economia regional.

Outro ator institucional foi o Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Para Laczynski (2009,

p. 5), os consórcios são caracterizados por “elementos de cooperação intermunicipal baseados

na iniciativa local, com interesses comuns e com propostas de resolução de problemas

comuns [...]”.

No caso específico do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, participam os prefeitos das

cidades que compõem o Grande ABC com a função de criar mecanismos de coordenação

intermunicipal para discutir assuntos ligados às problemáticas ambiental, econômica e

administrativa (LÉPORE et al, 2007, p. 122).

Por último, a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC foi criada em 1998

para atuar em conjunto com o Consórcio Intermunicipal com o objetivo de promover e

estimular o desenvolvimento econômico e sustentável da região. As três áreas de atuação da

Agência estão centradas no apoio e estímulo às micros e pequenas empresas; promoção da

imagem regional; e formação de um sistema de informação (Site AGÊNCIA, 2002 apud

VIANA, 2005, p. 211).

Mais recentemente, tendo como ponto de apoio estas discussões sobre os rumos que a região

precisa delinear dentro do novo panorama econômico global de produção, a região do ABC

elaborou a Carta do ABC6 endereçada ao ministério do planejamento, orçamento e gestão

explicitando algumas prioridades regionais nas quais destacamos a constituição do Polo

Tecnológico do Grande ABC de modo a ampliar a infraestrutura de apoio ao desenvolvimento

tecnológico e à geração de inovações tecnológicas nos principais setores econômicos da

região, incluindo a participação das universidades e instituições federais da região.

6 Documento extraído do website do Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Disponível em:

http://www.consorcioabc.sp.gov.br/documentos/CARTADEPRIORIDADESDOABCPARAAMINISTRAMIRI

AMBELCHIOR27052011.pdf. Acesso em25/11/2013.

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2. Procedimentos Metodológicos

Revisão bibliográfica e documental;

Pesquisa de campo qualitativa de caráter exploratório, a partir da realização de

entrevistas presenciais com os atores mais representativos do sistema local de

inovação da região do ABC;

De forma combinada, a pesquisa buscou examinar a experiência dos municípios de

São Bernardo do Campo e Santo André, que têm esboçado iniciativas e esforços na

direção de parques tecnológicos, por meio da realização de entrevistas presenciais, com o

objetivo de entender as especificidades das iniciativas que estão sendo realizadas.

As entrevistas ocorreram nos meses de maio a dezembro de 2013, foram gravadas com a

autorização dos entrevistados e tiveram duração média de 60 minutos.

Eixo 1: Perfil dos atores científicos, tecnológicos e inovativos do sistema local de

inovação da região do ABC.

Eixo 2: Caracterização da dinâmica interativa existente entre os principais atores

presentes no sistema local de inovação da região do ABC.

Eixo 3: Atores envolvidos, principais entraves e desafios para o desenvolvimento e

implantação de parques tecnológicos na região do ABC.

3. Resultados da pesquisa

Foram selecionados os principais atores do sistema local de inovação da região do Grande

ABC com o objetivo de compreender como estes atores participam das discussões a respeito

dos projetos de implantação de parques tecnológicos na região e, ao mesmo tempo,

caracterizar a dinâmica interativa destes atores que compõem o sistema local de inovação da

região.

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Quadro 1: Atores do sistema local de inovação da região do ABC entrevistados na pesquisa de campo

Instituições e Entidades de Classe

Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande

ABC.

CIESP – Regional São Bernardo do Campo e Regional

Santo André.

Consórcio Intermunicipal Grande ABC.

Incubadora de Base Tecnológica de Santo André

(Inctec)

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE).

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Sindicato dos Químicos do ABC.

Instituições de Ensino

Fundação Educacional Inaciana Padre Sabóia de

Medeiros (FEI).

Universidade Municipal de São Caetano do Sul

(USCS).

Universidade Federal do ABC (UFABC).

Fonte: Elaboração própria (2013).

3.1 Caracterização da dinâmica interativa existente entre os principais atores do

sistema local de inovação da região do ABC.

De maneira geral, os atores entrevistados destacaram a necessidade de estimular o sistema

local e inovação, por meio de parcerias entre empresas, universidades e poder público local, já

que a região não esboça interlocução entre os atores. Nessa direção, quatro perspectivas de

análise aparecem: i) o sistema local de inovação é desarticulado, fragmentado e enfraquece os

processos inovativos. Por consequência, se coloca como uma limitação na consolidação de

parques tecnológicos na região; ii) há uma clareza por parte dos atores investigados de que

estas interações precisam ser estimuladas, cabendo às instituições e entidades locais

deflagrarem estas iniciativas, especialmente o poder público local; iii) os empresários locais,

em certa medida, buscam complementaridades nos arranjos produtivos, de modo a ampliar

sua competitividade, mas ainda há muito por fazer; iv) a região do ABC explicita a

necessidade de sistematizar uma base de dados das competências tecnológicas locais e um

perfil minucioso das empresas da região, de modo a compatibilizar a oferta e demanda

tecnológica existente.

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3.2 Identificação dos principais entraves e desafios para o desenvolvimento e

implantação de parques tecnológicos na região do ABC

Os atores FEI, UFABC, Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC, CIESP Regionais

SBC e Santo André, Inctec, Sindicatos dos Metalúrgicos e Químicos estão participando

efetivamente das discussões sobre os projetos de implantação de parques tecnológicos nas

cidades de Santo André e São Bernardo do Campo sendo que alguns destes já são membros

da Associação Parque Tecnológico de São Bernardo do Campo. Os demais atores

selecionados ainda não participavam oficialmente das discussões até a conclusão desta

pesquisa. Porém, suas opiniões foram importantes para a pesquisa já que possuem forte

representatividade no contexto da região.

Para os entrevistados, os principais entraves para a implantação de parques tecnológicos na

região do ABC se residem no fato de que o sistema local de inovação é desarticulado; há

pouca interação U/E; ausência de recursos financeiros e de legislação adequada; concorrência

com outros parques na captação de recursos tanto no âmbito estadual quanto federal;

assimetria e heterogeneidade das empresas locais; ausência de um diagnóstico entre oferta e

demanda tecnológica; ausência de um projeto consolidado; dependência do setor público;

pouca participação das multinacionais nesta questão; dificuldade de captação de empresas

âncoras; desconhecimento dos mecanismos para a interação U/E; disponibilidade de área

física; dificuldade em adequar o projeto regional nos moldes do SPTec; ausência de uma

liderança institucional forte; políticas industriais e de inovação ainda não fazem parte das

estratégias dos municípios; fragilidade das representações empresariais; deficiência na

aglutinação das pequenas e médias empresas.

Como desafios, os entrevistados destacaram a necessidade de se elaborar um modelo de

gestão, articulando as competências com as demandas tecnológicas; preparar as IES e as

indústrias para atuarem conjuntamente e dentro do parque; convencer as empresas dos

benefícios de um parque tecnológico e atraí-las para o empreendimento; fazer com que o

parque seja um indutor da interação U/E; criar transbordamentos para futuras indústrias;

articular o sistema local de inovação; prospectar novas áreas tecnológicas que transbordem

para os setores produtivos mais tradicionais da região; delinear um projeto de parque com

missão e objetivos claramente definidos e coerente com as demandas e potencialidades

regionais; transformar o poder público local em um articulador do sistema local de inovação;

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evitar a sobreposição de recursos e concorrência entre os parques da região; convergência

para criação de um parque regional; reduzir a desconfiança dos empresários; e acelerar a

oferta de infraestrutura básica para atração das empresas.

4. A Experiência dos municípios de São Bernardo do Campo e Santo André nas

iniciativas de implantação de parques tecnológicos.

O objetivo deste capítulo é apresentar a experiência dos municípios de São Bernardo do

Campo e de Santo André que têm esboçado iniciativas e esforços na direção de parques

tecnológicos por meio de entrevistas concedidas no mês de julho de 2013 pelo Secretário de

Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo do Campo, bem como

entrevista concedida no mês de novembro de 2013 pelo Secretário Adjunto de

Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de Santo André com o objetivo de

entender as especificidades das iniciativas realizadas, os atores envolvidos no projeto e os

principais entraves e desafios para a implantação dos parques tecnológicos em questão. Neste

sentido, foram elaborados dois eixos investigativos que estão explicitados nos quadros 2 e 3:

4.1. A experiência do município de São Bernardo do Campo

Quadro 2: Eixos de investigação para o município de São Bernardo do Campo

Eixo 1 - Estrutura e desenho do projeto de

implantação do parque tecnológico dos municípios

investigados

Eixo 2 - Entraves e as limitações na implantação do

parque tecnológico dos municípios investigados

O projeto teve início em 2009;

Não há um local definido;

Juridicamente se constituiu uma Associação para a

gestão do futuro parque;

As novas áreas tecnológicas serão gás e petróleo,

defesa e ferramentaria;

O projeto tem a preocupação de novas competências

tecnológicas, inovativas e industriais para a região;

Parceria com o Parque Tecnológico de Mjärdevi, na

Suécia.

Os principais atores presentes no parque serão a

UFABC, FEI, IMT e o CISB.

Necessidade e dificuldade de captação recursos

financeiros;

Espaço físico disponível;

Sistema local pouco articulado;

Distanciamento das IES e do setor produtivo;

Dificuldade de convencimento do empresariado local

da importância de um parque tecnológico para o

município.

Fonte: Pesquisa de campo (2013)

A experiência deste município se revelou mais estruturada haja vista que criou juridicamente

uma Associação para a sua gestão, consolidou parcerias, está delineando uma pesquisa para

identificar as demandas e ofertas tecnológicas existentes no município em conjunto com a

USCS e estabeleceu uma parceria com o IMT para um futuro laboratório de crash test que o

município pretende pleitear. Por outro lado, carece de uma área pública já definida para a

implantação do futuro parque.

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4.2 A experiência do município de Santo André

Quadro 3: Eixos de investigação para o município de Santo André

Eixo 1 - Estrutura e desenho do projeto de

implantação do parque tecnológico dos municípios

investigados

Eixo 2 - Entraves e limitações na implantação do

parque tecnológico dos municípios investigados

O projeto foi retomado em 2013;

Juridicamente ainda não há uma entidade gestora

institucionalizada;

Há dois locais definidos por lei municipal para a

implantação do parque;

Aprovação da Lei de Inovação do município;

Possui credenciamento provisório junto ao SPTec;

Convênios estabelecidos com a UFABC, CUFSA e

FUABC;

Está pleiteando recursos junto à FINEP;

Ainda não há uma definição clara para as

competências tecnológicas para o futuro parque

tecnológico.

Baixa interação U/E;

Disponibilidade de conhecimento tecnológico crítico;

Limitação de espaço físico

Recursos financeiros escassos;

Dificuldade de convencimento do empresariado local

da importância de um parque tecnológico para o

município;

Distanciamento das IES do setor produtivo local;

Articular o sistema local de inovação da região;

Fortalecer a interação U/E;

Atrair empresas âncoras;

Desconfiança do empresariado local;

Oferecer uma estrutura capaz de atrair empresas para

o interior do futuro parque.

Fonte: Pesquisa de campo (2013).

A experiência de Santo André está menos consolidada, pois foi retomada na nova gestão do

município. Entretanto, com a retomada das discussões e do projeto, a cidade designou duas

áreas públicas para a implantação do parque, aprovou a lei de inovação municipal e

credenciou seu projeto junto ao SpTec.

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CONCLUSÕES

De acordo com os atores mais representativos do sistema local de inovação, verificou-se que o

projeto de criação de um polo e/ou parque tecnológico regional seria a iniciativa mais

adequada para a região do ABC sob o ponto de vista do fortalecimento e engajamento dos

atores e das instituições regionais construídas já que há uma pulverização geográfica em mais

de uma cidade dos atores científicos, tecnológicos e inovativos de modo que uma ação

regional seria mais adequada.

Em contrapartida, as entrevistas revelaram que questões políticas adversas; a ausência de uma

liderança regional forte; questões ligadas ao espaço físico do parque e a ausência de uma

articulação consistente do sistema local de inovação foram considerados entraves que

permitiram deflagrar projetos individuais de implantação de parques tecnológicos. Em certa

medida, o novo curso de implantação de parques fragiliza a perspectiva da atuação no

contexto regional construída ao longo dos anos nessa direção.

De forma ampliada, as entrevistas revelaram que o setor produtivo da região se mostra

favorável à implantação dos parques tecnológicos, contudo, a iniciativa deve ser deflagrada

pela esfera pública, indicando um posicionamento de ressalva para mobilização das mesmas

na direção dos projetos de parques. Aqui, cabem duas reflexões a respeito: i) o setor produtivo

local, em alguma medida, segue o perfil das empresas em âmbito nacional, caracterizando-as

como avessas ao risco; e ii) a natureza tecnológica como base do projeto de implantação de

parques tecnológicos mostra, igualmente, que o setor produtivo local também se posiciona de

forma reativa à inovação – especialmente quando pensada de forma sistêmica, mesmo

reconhecendo que ela é necessária para competir e crescer.

As entrevistas realizadas para investigar a experiência do município de São Bernardo do

Campo nas iniciativas de implantação de parque tecnológico sinalizam o empenho do poder

público para que o seu projeto alavanque. Para tal, formalizou-se uma Associação gestora do

projeto, sedimentou parcerias com o CISB (Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro),

com o IMT para um futuro laboratório de crash test que o município pretende pleitear e com a

USCS para mapear competências industriais e tecnológicas do município. Por outro lado, a

captação de recursos públicos torna-se crítica, tendo em vista que o município não apresenta

condições de assumir o empreendimento integralmente com recursos próprios. Ao mesmo

tempo, não há espaço físico definido, dificultando o planejamento da infraestrutura e demais

requisitos básicos para a captação de recursos. Outra limitação da iniciativa de implantação do

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projeto decorre dos fracos vínculos entre os atores do sistema local de inovação, não

esboçando ações contundentes para reorientar esse padrão.

No caso do município de Santo André, as entrevistas indicaram que o município designou

duas áreas públicas claramente definidas para aportar o projeto; estabeleceu convênios e

protocolos de intenção de parceria e apoio; e aprovou a lei municipal de inovação,

capacitando-o inicialmente para pleitear recursos financeiros junto ao SPTec. Há esforços do

poder público do município para que o projeto avance, contudo, há limitações contundentes

no que tange ao comportamento reativo por parte dos empresários quanto à indefinição do

projeto propriamente dito, impedindo a atração de empresas âncoras e maior interação dos

diferentes atores do sistema de inovação.

Os entraves na implantação de parques tecnológicos na região do ABC destacados pela

maioria dos entrevistados foram os relacionados às limitações na obtenção de espaço físico;

dificuldades para a captação de recursos financeiros; desarticulação do sistema local de

inovação; baixa interação das empresas locais com as universidades; distância das empresas

multinacionais das questões tecnológicas e inovativas de cunho local e regional; e ausência de

um levantamento qualificado de oferta e demanda tecnológica da região que auxiliaria

substancialmente na construção de projetos mais aderentes às especificidades locais.

Por fim, a partir dos resultados obtidos da pesquisa de campo realizada, foi possível

identificar que o estágio das discussões sobre a implantação de parques tecnológicos dos

municípios de São Bernardo do Campo e Santo André pode ser caracterizar como em estágio

inicial ou embrionário, porque não há, até o presente momento, um desenho claro da

infraestrutura básica, viabilidade financeira, áreas de atuação definidas, espaço físico e

políticas locais mais consistentes de apoio à CT&I.

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