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Os Lusíadas Luís Vaz de Camões Português 12º ano Episódio: Fogo de Santelmo e Tromba Marítima
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Os lusíadas luís vaz de camões fogo de santelmo tromba marítima

Jul 25, 2015

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Page 1: Os lusíadas luís vaz de camões fogo de santelmo tromba marítima

Os Lusíadas Luís Vaz de Camões

Português 12º ano

Episódio:

Fogo de Santelmo e

Tromba Marítima

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Contextualização

O canto V, canto central do poema, é dedicado à narração da viagem

de Vasco da Gama.

O canto anterior terminou com o Velho do Restelo a amaldiçoar a

expansão para o Oriente, o que desde logo sugere que a viagem não

será fácil.

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Vasco da Gama vai contar ao Rei de

Melinde como decorreu a sua viagem

desde as despedidas em Belém até

Melinde.

Durante a viagem os navegadores

enfrentam inúmeros perigos, que

reforçam a ousadia dos portugueses. Os

fenómenos atmosféricos como o Fogo

de Santelmo e a Tromba Marítima são

uns dos desafios que os portugueses

terão de ultrapassar.

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As Cousas do Mar

Fogo de Santelmo – é um fenómeno

meteorológico que ocorre geralmente em

ocasiões de forte trovoada e que se

carateriza por pequenas descargas elétricas

nas pontas metálicas dos mastros dos

navios ou em torres metálicas devido à

concentração do campo elétrico. É muitas

vezes acompanhado de um zumbido.

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A designação “Fogo” deve-se ao facto de o mastro parecer arder.

Como se trata de um fenómeno que surge no fim das tempestades, foi-

lhe atribuído o nome do Santo protetor dos navegadores – Santo Elmo,

pois os marinheiros associavam essa chama à melhoria das condições.

Tromba Marítima – é uma massa de vapor ou água, erguida em

coluna e animada de um movimento rápido, agitada por ventos

ciclónicos, podendo atingir cem metros de altura e cerca de dez metros

de diâmetro.

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É geralmente acompanhada de

ventos fortes, de relâmpagos, de

chuva e de granizo, sendo muitas

vezes aliada a um movimento de

aspiração, que levanta, no mar,

uma coluna de água perigosa para

os navios, que se encontram na

sua passagem.

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Contar-te longamente as perigosas

Cousas do mar, que os homens não entendem,

Súbitas trovoadas temerosas,

Relâmpados que o ar em fogo acendem,

Negros chuveiros, noites tenebrosas,

Bramidos de trovões que o mundo fendem,

Não menos é trabalho, que grande erro,

Ainda que tivesse a voz de ferro.

Canto V

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Os casos vi, que os rudos marinheiros,

Que têm por mestra a longa experiência,

Contam por certos sempre e verdadeiros,

Julgando as cousas só pela aparência,

E que os que têm juízos mais inteiros,

Que só por puro engenho e por ciência

Vêm do mundo os segredos escondidos,

Julgam por falsos ou mal entendidos.

* Os casos – Os fenómenos

*Puro engenho – por simples inteligência das coisas, sem a experiência.

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“Vi, claramente visto, o lume vivo

Que a marítima gente tem por santo,

Em tempo de tormenta e vento esquivo,

De tempestade escura e triste portanto.

Não menos foi a todos excessivo

Milagre, e cousa, certo, de alto espanto,

Ver as nuvens, do mar com largo cano,

Sorver as altas águas do Oceano.

*O lume vivo – Fogo de Santelmo.

*Esquivo – áspero e rebelde

*Largo cano – Tromba marítima

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Eu o vi certamente (e não presumo

Que a vista me enganava): levantar-se

No ar um vaporzinho e subtil fumo

E, do vento trazido, rodear-se;

De aqui levado um cano ao Pólo sumo

Se via, tão delgado, que enxergar-se

Do olhos facilmente não podia;

Da matéria das nuvens parecia.

*Rodear-se – tornar-se redondo

*Pólo sumo – ao alto céu

*Enxergar-se – ver-se ao longe

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Ia-se pouco e pouco acrescentando

E mais que um largo masto se engrossava;

Aqui se estreita, aqui se alarga, quando

Os golpes grandes de água em si chupava;

Estava-se co as ondas ondeando;

Em cima dele ûa nuvem se espessava,

Fazendo-se maior mais carregada,

Co cargo grande d’água em si tomada.

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Qual roxa sangues[s]uga se veria

Nos beiços da alimária (que, imprudente,

Bebendo a recolheu na fonte fria)

Farpar co sangue alheio a sede ardente;

Chupando, mais e mais se engrossa e cria,

Ali se enche e se alarga grandemente:

Tal a grande coluna, enchendo, aumenta

A si e a nuvem negra que sustenta.

*Alimária – animal irracional

*Farpar – rasgar; romper

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Mas, depois que de todo se fartou,

O pé que tem no mar a si recolhe

E pelo céu, chovendo, enfim voou,

Por que co a água a jacente água molhe;

Às ondas torna as ondas que tomou,

Mas o sabor do sal lhe tira e tolhe.

Vejam agora os sábios na escritura

Que segredos são estes de Natura!

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Se os antigos Filósofos, que andaram

Tantas terras, por ver segredos delas,

As maravilhas que eu passei, passaram,

A tão diversos ventos dando as velas,

Que grandes escrituras que deixaram!

Que influïção de sinos e de estrelas!

Que estranhezas, que grandes qualidades!

E tudo, sem mentir, puras verdades.

*Os antigo Filósofos – filósofos gregos. Talvez alusão aos principais: Platão,

Aristóteles e Demócrito

*Grandes escrituras que deixaram – que livros teriam deixado (à posteridade)

*Estranhezas – conjunto de coisas raras

Grandes qualidades – estudo completo das propriedades das coisas

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Análise do poema

Depois de ultrapassado o Equador, novos desafios são apresentados

aos portugueses. Têm contacto com novos fenómenos naturais que só

conheciam pelos livros e especulação (“Só por puro engenho e por

ciência/Vem do Mundo dos segredos escondidos”).

São fenómenos realmente vistos pelos marinheiros e que Vasco da

Gama descreve minuciosamente e realisticamente (“Vi, claramente

visto”).

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As “cousas do mar”, como são descritas pelo narrador são o “fogo

de Santelmo” e “tromba marítima”.

O narrador insiste muito no verbo “ver”, para além de outros verbos,

comparações sugestivas e imagens, que valorizam a sua descrição

pormenorizada dos fenómenos naturais. A sua descrição termina com

dois versos que surgem como que um desafio aos homens da ciência

livresca (não experimental) a conhecer experimentalmente as

“maravilhas” da Natureza, para que só depois escrevam sobre elas.

Page 17: Os lusíadas luís vaz de camões fogo de santelmo tromba marítima

“Vejam agora os sábios na escritura

Que segredos são estes n Natura!”

Camões define claramente o seu ponto de vista de que a experiência

proveniente da observação direta deverá constituir o ponto de partida

para a formulação das verdades cientificas. O saber teórico deverá ter

na sua base a observação e experimentação, a prática.

Era este também um ensinamento que os portugueses recebiam das

viagens e do contacto que elas permitiam com outras realidades, muito

diferentes das já conhecidas.

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Localização na estrutura d’Os Lusíadas

O episódio “Fogo de Santelmo e Tromba marítima” pertence,

na estrutura interna, à Narração. Canto V.

É um episódio naturalista e faz parte do plano da viagem.

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Estrutura externa

Este episódio apresenta oito estâncias, todas elas com

– oito versos (oitavas),

– todos os versos com dez sílabas métricas (versos decassílabos)

– e rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois

últimos.

18

“Vi /, cla/ra/men/te /vis/to, o/ lu/me/ vi/vo

Que a marítima gente tem por santo,

Em tempo de tormenta e vento esquivo,

De tempestade escura e triste portanto.

Não menos foi a todos excessivo

Milagre, e cousa, certo, de alto espanto,

Ver as nuvens, do mar com largo cano,

Sorver as altas águas do Oceano.

a

b

a

b

a

b

c

c

Cruzada

Emparelhada

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Narrador

O narrador neste episódio é o próprio

herói da ação, Vasco da Gama, que narra

os perigos da sua viagem.

O narrador é autodiagético.

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Análise Estilística

Pleonasmo

(“Vi claramente visto o lume vivo”)

Antítese

(“Aqui se estreita, aqui se alarga”)

Comparação

(“Ali se enche e se alarga grandemente:/Tal a grande coluna, enchendo, aumenta”)

(“Qual roxa sangues[s]uga se veria”)

Hipérbole

(“Farpar co sangue alheio a sede ardente;”)

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Metáfora

Adjetivação

(“Súbitas trovoadas temerosas”)

Polissíndeto

(“mais e mais se engrossa e cria, /Ali se enche e se alarga grandemente”)

Sinestesia

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Conclusões

O episódio “Fogo de Santelmo e Tromba marítima” para além de

um episódio naturalista (retrata fenómenos naturais) encerra também

uma oposição entre o saber empírico: baseado na experiência, na

captação da realidade através dos sentidos, nomeadamente da visão. E

o saber teórico: baseado em teorias expostas nos livros defendidas

pelos sábios. Camões evidencia a sua preferência

pelo saber baseado na experiência.

Page 24: Os lusíadas luís vaz de camões fogo de santelmo tromba marítima

Bibliografia

• http://pt.forwallpaper.com/wallpaper/ghost-ship-sea-night-thunder-creepy-

nature-landscape-125539.html

Visitado dia 26/12/2014

• MARTINS, Filomena; MOURA, Graça (2013), Página Seguinte –

Português 12º Ano, 1ª edição, 2ª tiragem, Texto Editores, Lda., Lisboa,

página 141.

• PIMENTA , Hilário (2014), Preparação para o Exame Nacional 2015

Português 12 – 12º Ano, 1ª edição, Porto Editora, Porto, páginas 242, 243,

345-347.

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• in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [consult. 2014-12-26

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• in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [consult. 2014-12-26

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santelmo?termo=fogo de Santelmo

• in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [consult. 2014-12-26

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