CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS PRISCILA DROZDEK DE ALCÂNTARA OS GRUPOS INSURGENTES PALESTINOS CURITIBA 2013
CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PRISCILA DROZDEK DE ALCÂNTARA
OS GRUPOS INSURGENTES PALESTINOS
CURITIBA 2013
PRISCILA DROZDEK DE ALCÂNTARA
OS GRUPOS INSURGENTES PALESTINOS
Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais, do Centro Universitário Curitiba. Orientador: Prof. Andrew Patrick Traumann
CURITIBA 2013
PRISCILA DROZDEK DE ALCÂNTARA
OS GRUPOS INSURGENTES PALESTINOS
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba, pela Banca Examinadora
formada pelos professores:
Orientador:_________________________________
_____________________________
Prof. Membro da Banca
_____________________________
Prof. Membro da Banca
Curitiba,........de.................................de 2013.
Dedico esta monografia a todos os inocentes
que sofrem com guerras e dominação,
pois foi essa a razão que me fez escolher o tema
e me manter determinada.
AGRADECIMENTOS
Não tenho muitos os quais agradecer, mas esse seleto grupo são as pessoas
certas e que escolhi para fazerem parte de minha vida.
Primeiramente agradeço ao meu “pequeno grande” irmão Patrick Drozdek de
Alcântara, que mesmo com suas infinitas lamúrias, me ajudou à sua maneira.
Segundo, à meu pai Paulo Moreira de Alcântara, que mesmo com sua opinião forte,
demonstrou se importar.
Em terceiro lugar, agradeço à minha “irmã postiça” Maria Carolina Zanini,
pelas manhãs, tardes e noites de monografia e também de lamentos, risadas, ideias
loucas e principalmente de motivação. Talvez a vida venha a nos separar, o que é
triste, mas será para seguir o que ambicionamos e nada há de mais reconfortante
em fazer o que achamos que é certo. Espero que você sempre siga o que lhe traga
felicidade. Agradeço também a Bernadete Zanini (“dona B”) por ter dado suporte
quando tão necessário, a sua presença iluminou o caminho.
Agradeço também à Gabrielli Moya, sempre falando que tudo iria dar certo,
mesmo quando eu duvidava, e também à Fernanda Mendes, por seus
conhecimentos preciosos. E agradeço aos grandes amigos Heitor Ferreira por
sempre estar presente e Marco Bortoletto por sempre se mostrar disposto a ajudar.
Agradeço profundamente à Roberta de Souza por sua paciência e gentileza. Rô,
você com certeza é uma pessoa que chegará longe na vida, estou torcendo por
você!
Agradeço enormemente ao professor Andrew Patrick Traumann, por ter me
orientado e por ter me motivado em momentos difíceis. Imagino que ambas as
tarefas não tenham sido fáceis. São poucas as pessoas que tomo como exemplo, o
senhor é uma delas.
Por último, mas não menos importante, agradeço à minha falecida mãe
Matilde Drozdek de Alcântara por ter me dado e vida e a educação que me
possibilitou chegar até aqui. Há um velho ditado grego que diz que uma pessoa não
faleceu enquanto seu nome é ainda lembrado...
“Deep in my heart
I do believe
That we will tear down those prison walls
On that day
[…]
And, deep in my heart
I do believe
That the truth will set us all free
And we shall overcome
On that day”
(ROGER WATERS)
RESUMO
O presente trabalho acadêmico visa apresentar os grupos insurgentes palestinos de maior importância, o Fatah e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e abordar em menor instância o Hamas, a Frente Popular para Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Democrática para Libertação da Palestina (FDLP) e a Jihad Islâmica. A história dos grupos insurgentes acompanha o drama dos palestinos que começou com a criação de Israel em 1948 e se agravou com a guerra de 1967 devido a dominação dos territórios remanescentes da Palestina. Em 1973 ocorre a última guerra de grandes proporções no território e a partir de então, os grupos insurgentes terão mais destaque. O Fatah e a OLP a partir de determinado ponto se unirão devido a liderança em comum e traçarão sua história em conjunto. Os grupos passarão por difíceis momentos em guerras na Jordânia, Líbano e Síria. Após inúmeros desentendimentos com Israel e um levante geral do povo palestino, a década de 1990 muda os rumos dos grupos, pois em setembro de 1993 são assinados os Acordos de Oslo. Porém, o que foi acordado não é respeitado, provocando novos desentendimentos e um novo levante geral. A esfera de descontentamento palestina irá dar espaço à grupos radicais de menor destaque, especialmente o Hamas que é eleito para a Autoridade Nacional Palestina (ANP) em 2006.
Palavras-chave: Israel, Palestina, Fatah, OLP.
ABSTRACT
This academic work aims to present the Palestinian insurgents groups of greatest importance, Fatah and the Palestine Liberation Organization (PLO) and address in lower instance Hamas, Popular Front for the Liberation of Palestine (PFLP), Democratic Front for the Liberation of Palestine (DFLP) and Islamic Jihad. The history of insurgent groups follows the plight of the Palestinians that began with the creation of Israel in 1948 and worsened with the 1967 war due to the domination of the remaining territories of Palestine. In 1973 occurs the last major war in the territory and thereafter, insurgent groups have more prominence. Fatah and the PLO from a certain point get united because of the leadership in common and will trace their history together. The groups will go through difficult times in wars in Jordan, Lebanon and Syria. After many disagreements with Israel, and a general uprising of the Palestinian people, the 90s changes the direction of the group, because in September 1993 are signed the Oslo Accords. However, what has been agreed is not respected, provoking further misunderstanding and a new general uprising. The sphere of Palestinian discontent will make room for radical groups of lesser prominence, especially Hamas who was elected to the Palestinian National Authority (PNA) in 2006.
Keywords: Israel, Palestine, Fatah, PLO.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – NÚMERO DE ATENTADOS
CONTRA ISRAEL DE 1993 À 2002 ..........................................................................91
LISTA DE SIGLAS
AP/ANP - Autoridade Nacional Palestina
ELP - Exército de Libertação da Palestina
FDLP - Frente Democrática para a Libertação da Palestina
FDI - Forças de Defesa de Israel
FPLP - Frente Popular para a Libertação da Palestina
HAMAS - Movimento de Resistência Islâmica
HTF - Morte Súbita
OLP - Organização para a Libertação da Palestina
ONU - Organização das Nações Unidas
SHABAK/SHIN BETH - Agência de Segurança de Israel
UNRWA - United Nations Relief and Works Agency
SUMÁRIO RESUMO..................................................................................................................... 6
ABSTRACT ................................................................................................................. 7
LISTA DE TABELAS .................................................................................................. 8
LISTA DE SIGLAS ...................................................................................................... 9
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE NA PALESTINA ..................................... 15
2.1 UMA BREVE HISTÓRIA DA PRESENÇA HEBRAICA E ÁRABE NA
PALESTINA .............................................................................................................. 15
2.2 DO DOMÍNIO OTOMANO AO DOMÍNIO EUROPEU ...................................... 19
2.3 O SIONISMO ...................................................................................................... 22
2.4 GUERRA DA INDEPENDÊNCIA PARA OS ISRAELENSES E AL-NAKBA (A
DESGRAÇA) PARA OS ÁRABES ........................................................................... 30
2.5 OS PRECEDENTES E MAIS SEIS DIAS DE GUERRA .................................. 38
2.6 A ÚLTIMA GRANDE GUERRA ÁRABE-ISRAELENSE ................................... 42
3 REVOLUÇÃO ATÉ A VITÓRIA ........................................................................... 46
3.1 O NASCIMENTO DOS GRUPOS INSURGENTES ............................................. 46
3.2 A UNIÃO ANTRE FATAH E OLP ........................................................................ 51
3.3 A INSURGÊNCIA NA JORDÂNIA ....................................................................... 56
3.4 PERSEGUIDOS NOVAMENTE E O ABANDONO DO MAIOR ALIADO ............. 61
3.5 ENFIM O POVO SE LEVANTA: LÁ VEM A INTIFADA ....................................... 72
4 FINALMENTE UM ESTADO PALESTINO? .......................................................... 78
4.1 NEGOCIAÇÕES NA NORUEGA ......................................................................... 80
4.2 A DERROCADA DO PROCESSO DE PAZ ......................................................... 88
4.3 A ERA PÓS-FATAH E OLP ................................................................................. 97
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 104
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 107
DOCUMENTOS CONSULTADOS .......................................................................... 109
ANEXOS ................................................................................................................. 110
ANEXO A – O REINO DE DAVI E SALOMÃO ....................................................... 111
ANEXO B – A EXPANSÃO DO IMPÉRIO ISLÂMICO ........................................... 113
ANEXO C – O IMPÉRIO OTOMANO NO FINAL DO SÉCULO XVII ...................... 115
ANEXO D – AS REPARTIÇÕES DE SYKES-PICOT ............................................. 117
ANEXO E – A PROPOSTA DE PARTILHA DA COMISSÃO PEEL ....................... 119
ANEXO F – RESOLUÇÃO 181 DA ONU................................................................ 121
ANEXO G – O PLANO DE PARTILHA DA PALESTINA ....................................... 144
ANEXO H – CONFIGURAÇÃO DA PALESTINA PÓS-GUERRA DE 1948 ........... 146
ANEXO I – RESOLUÇÃO 194 DA ONU ................................................................. 148
ANEXO J – TERRAS OCUPADAS POR ISRAEL NA GUERRA DOS SEIS DIAS 152
ANEXO K – RESOLUÇÃO 242 DA ONU ............................................................... 154
ANEXO L – CARTA INTERNA DO FATAH ............................................................ 157
ANEXO M – CARTA NACIONAL PALESTINA ...................................................... 186
ANEXO N – RESOLUÇÃO 338 DA ONU ............................................................... 192
ANEXO O – ACORDOS DE OSLO II ..................................................................... 194
12
1 INTRODUÇÃO
A região da Palestina sempre foi palco de grandes invasões devido à sua
posição estratégica que conecta o Mediterrâneo ao mar e ao norte da África. Além
disso, está localizada entre três grandes continentes: Ásia, Europa e África. Grandes
civilizações já passaram pela Palestina, dentre eles: hebreus, assírios, babilônios,
persas, romanos, bizantinos, omíadas, cruzados cristãos, turcos e ingleses.
Portanto, o cenário da criação do Estado de Israel será, de acordo com Oren
(2004, p. 22) o de um “Oriente Médio revolucionário pós-colonial – uma região
dilacerada por implacáveis rivalidades mutuamente destrutivas, pela intromissão das
superpotências [...].”
Os palestinos tiveram a oportunidade de fundar seu próprio Estado quando a
Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o plano de partilha da Palestina entre
“Estado Judeu” e “Estados Árabe”. Porém, os palestinos não aceitaram dividir seu
território. Como Arafat, líder do Fatah e OLP, alega mais tarde, os palestinos, ao
negar dividir seu território estavam agindo como uma mãe que não quer dividir seu
filho.
Logo, o Estado judeu, criado em 1948 dominou toda à área destinada ao
Estado palestino. A partir de então não houve mais paz na região e os refugiados
palestinos que surgiram em decorrência da guerra ainda aguardam um futuro.
Os palestinos nunca tiveram espaço para expor sua voz:
Sem dúvida, a destruição da Palestina em 1948, os anos seguintes de anonimato, a dolorosa reconstrução de uma identidade palestina exilada, os esforços políticos de muitos trabalhadores, combatentes, poetas, artistas e historiadores palestinos para sustentar a identidade nacional – tudo isso cambaleou pelo medo perturbador de desaparecer, dada a inflexível determinação oficial de Israel de acelerar o processo de redução, minimização da presença, e de assegurar sua ausência como força política e humana na equação do Oriente Médio. (SAID, 2012, p. 32)
O crescimento de assentamentos israelenses após a conquista dos territórios
palestinos remanescentes, Gaza e Cisjordânia, a princípio tinha motivações
estratégicas, como no vale do rio Jordão, devido a posição defensiva e a água; e na
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fronteira de Israel e Cisjordânia para fins de defesa. Porém o Likud, partido de direita
israelense, ao assumir o governo israelense, tomou uma posição diferente:
estabelecer a “Grande Israel”, indo além da questão da sobrevivência e entrando em
motivos históricos e sagrados.
A princípio, nos anos 1950 e 1960, os palestinos assim como o restante do
mundo árabe foram influenciados por ideias marxistas e nacionalistas, porém, com a
derrota nas nações árabes na guerra de 1967 e anexação de territórios por Israel
trouxe uma outra vertente para o foco: o fundamentalismo islâmico.
Uma parábola de Isaac Deutscher descreve o conflito Israel-Palestina:
Um homem pula de uma casa em chamas, na qual muitos de sua família já morreram. Consegue salvar-se, mas na queda atinge uma pessoa, quebrando-lhe braços e pernas. Não havia escolha para o que saltou, mas o que ficou ferido culpa o outro por sua desgraça; e este, temendo vingança, surra-o cada vez que o encontra. (DEUTSCHER, apud CAMARGO, 2011, p. 426).
Hoje, os palestinos estão lutando para ter de volta 22% de sua terra original
sendo estes Gaza e Cisjordânia.
Segundo Said (2006), os palestinos são as vítimas das vítimas, isto é, o povo
judeu que sofreu com a perseguição nazista, agora oprime a população palestina
que se encontra em seu território.
Esse trabalho traz uma perspectiva histórica do conflito israelense-palestino, a
começar pela antiga e conflituosa história dos hebreus que lá viveram até saírem em
diáspora e serem substituídos demograficamente pelos árabes. Logo entra-se no
sionismo e no Plano de Partilha da ONU levando às guerras árabes-israelenses.
O sofrimento dos palestinos que começaram a viver como refugiados, ou
como dominados é a força motriz que leva a criação dos grupos insurgentes que
aqui serão abordados, com ênfase no Fatah e na Organização para Libertação da
Palestina (OLP), ambos dirigidos por décadas pelo líder palestino Yasser Arafat que
encontrará grande destaque neste trabalho. O líder palestino conquistou uma das
tarefas mais difíceis: conquistar o reconhecimento da OLP como a única
representante legítima do povo palestino.
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Em menor medida será abordado outros grupos, como a Frente Popular para
a Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Democrática para a Libertação da
Palestina (FDLP), a Jihad Islâmica e o Hamas.
No decorrer da história do Fatah e da OLP, ambos os grupos sofrem
mudanças profundas desde seus métodos, até seus fins, e isso é consequência das
inúmeras provações que passam não somente frente a Israel, mas também frente à
seus “irmãos árabes”.
A Autoridade Nacional Palestina (ANP) também terá seu espaço, pois trata-se
de um órgão criado com o consentimento norte-americano e israelense para
administração dos territórios palestinos libertados por Israel. Quem assume sua
liderança à princípio é o Fatah.
Por fim, será abordado o fracasso da OLP, Fatah e ANP em oferecerem
melhores condições de vida ao seu povo e como isso leva ao fortalecimento do
Hamas.
Para além da questão militar e da classificação “terrorista”, esse trabalho irá
descrever a trajetória política dos grupos e suas relações com o mundo.
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2 O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE NA PALESTINA
O presente capítulo irá narrar a história da Palestina e explicar todos os
maiores conflitos já sucedidos na região, cujo as consequências levaram a criação
dos grupos insurgentes, que serão abordados nos próximos capítulos.
2.1 UMA BREVE HISTÓRIA DA PRESENÇA HEBRAICA E ÁRABE NA
PALESTINA
Para se entender plenamente o conflito atual é importante ressaltar como
cada povo tem seus laços atrelados a essa terra que tanto já teve sangue
derramado. As suas raízes remontam desde os tempos em que os hebreus viveram
na região, e que devido às inúmeras dominações, deixaram a Palestina. O vazio
demográfico deu espaço à migração dos árabes que se tornaram os refugiados e
dominados (pelos israelenses) de hoje.
Na Antiguidade predominava o politeísmo, crença na qual consiste a
adoração de inúmeros deuses que não deferiam em comportamento dos humanos,
eram simplesmente mais fortes que estes (PERRY, 2002). De acordo com Demant
(2004), em meados de 1800 a.C. ocorre a revolução monoteísta tendo sua origem
com o pastor Abraão pertencente a Ur dos Caldeus, que migrou da Mesopotâmia
para Canaã. Abraão “acreditou estar em contato com um deus invisível, mais forte e
benevolente do que todos os outros” (DEMANT, 2004, p.30) o qual guiava os seus
passos. Seus seguidores que logo após seriam denominados hebreus logo
reconheceram esse deus como único e o chamaram de Jeová. Esse período que
durou por volta de 100 anos seria mais tarde conhecido como a era dos patriarcas.
Com o objetivo de colonizarem terras mais férteis, os hebreus partem para o
Egito, mas acabam sendo escravizados. Somente 400 anos depois conseguem
libertar-se do Faraó, liderados por Moisés, príncipe do Egito e hebreu, e finalmente
retornam a Canaã.
Em Canaã, após inúmeros conflitos entre as 12 tribos judaicas existentes,
ocorre sua unificação em meados de 1025 a.C., resultando no Reino de Israel, por
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intermédio de Saul seu primeiro rei. De 1000 a.C a 961 a.C. Davi, que o sucedeu,
conseguiu proteger o reino contra a ameaça filistéia (povo que residiu na costa de
Canaã), e chegou até mesmo a dominar povos vizinhos, como ilustra o ANEXO A.
Salomão, filho de Davi, reinou logo após a morte do pai, no período de 961 a
922 a.C. e construiu para si um palácio real e o primeiro Templo Sagrado em
Jerusalém. No entanto cobrava uma alta taxa tributária de seus súditos e concedia
inúmeros privilégios a Judá, gerando inúmeras desigualdades entre norte e sul, que
resultou na divisão do território após sua morte em 922 a.C. Surge então o reino de
Israel ao norte formado por 10 tribos; e o reino de Judá ao sul, composta pelas
outras duas tribos, leais ao sucessor de Salomão. (PERRY, 2002)
Em decorrência da divisão, ambos os reinados se enfraqueceram, resultando
em 722 a.C. na dominação de Israel por assírios e em 586 a.C. na dominação de
Judá por babilônios. Muitos do povo de Israel foram deportados para diversas partes
do império assírio e outros muitos se misturaram com povos vizinhos, acabando por
perder sua identidade. Já com a dominação dos babilônios, Jerusalém foi saqueada,
seu grande templo foi destruído e milhares foram deportados para a Babilônia. Esse
episódio ficou conhecido como o Cativeiro da Babilônia e segundo Perry (2002, p.
29), “esse foi o pior momento da história dos hebreus”.
Quase 50 anos mais tarde, os babilônios foram subjugados pelo Rei Persa
Ciro que permitiu aos hebreus, agora denominados judeus (derivado do nome Judá),
a voltarem para suas terras e reconstruírem seu templo. Muitos judeus assimilaram
as crenças babilônicas, mas a sua maioria se manteve fiel a Jeová e a Lei de Moisés
e ainda de acordo com Perry (2002, p. 25), foi a religião que os manteve unidos
durante o exílio.
Mesmo estando sob domínio persa, após reconstruírem o segundo templo, os
judeus conseguiram estabelecer autonomia e auto governança. Porém, foram
novamente subjugados pelo Império Romano em I a.C. e após revoltas em I e II
d.C., seu Templo é novamente destruído (restando apenas o Muro das
Lamentações), perdem sua soberania e muitos são mortos num ataque genocida
dos romanos. Esses acontecimentos, aliados à migração em massa para diferentes
países deixa a Judéia vazia de judeus. Esse momento fica marcado como a
primeira diáspora judaica (PERRY, 2002, p. 29).
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Em 33 d.C, Jesus de Nazaré foi crucificado pelo exército de ocupação romana
e pela elite local em Jerusalém. Seus seguidores o consideravam o ungido de Deus,
o Messias, aquele que viria para salvar o mundo.
Um de seus apóstolos, Paulo de Tarso, afirmava que Jesus era a expressão
das três divindades (pai, filho e espírito santo), motivo pelo qual rompem com o
judaísmo, que considera existir apenas uma divindade e com os costumes judaicos
(circuncisão, hábitos alimentares e dias santos). O Cristianismo surge neste
momento, espalha-se rapidamente e após inúmeras perseguições pelo Império
Romano e é reconhecido finalmente pelo imperador Constantino em 330 d.C
(DEMANT, 2004).
Nesta mesma época, o Império Romano já bastante enfraquecido devido às
invasões bárbaras acaba se dividindo entre Ocidente e Oriente, sendo que deste
último nasce o Império Bizantino.
No Império Bizantino a religião predominante era o Cristianismo, mas acabou
dando lugar ao Islamismo que foi gerando divisões internas e o Império foi perdendo
territórios devido aos conflitos com o Império Persa e invasões nômades da Ásia
Central.
O Islã nasce na cidade de Meca no século VI com Maomé, um comerciante
bem sucedido, nascido na Península Arábica, que aos 40 anos afirma ter começado
a receber revelações do arcanjo Gabriel lhe revelando a palavra de Alá. Maomé
passa então a pregar sobre um deus único e onipotente. Porém, na época
predominava o politeísmo em Meca, o que acabou provocando a ira da elite
comercial da cidade, pois lucravam com os peregrinos politeístas. (DEMANT, 2004).
Maomé acaba fugindo para Iatreb, posteriormente nomeada Medina e lá
consegue converter muitos. Primeiramente, Maomé é perseguido pela elite
comercial, porém os derrota e seus seguidores se comprometem “a realizar uma
guerra de expansão do islã” (DEMANT, 2004, p.26). Mais tarde, volta a Meca e lá
consegue vencer a elite comercial. Quando Maomé morre, boa parte da Arábia
central já seguia o islamismo.
Em 634, Umar ibn al-Khattab, poderoso califa (chefe de Estado árabe),
expande o islã para várias partes do Império Bizantino, dentre eles, a Palestina. A
expansão da religião também levará pessoas para habitarem as demograficamente
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vazias áreas da palestina. De 661 até 750, a Dinastia Omíada foi responsável pela
expansão do islã até a Europa (DEMANT, 2004). Tal fato é ilustrado no ANEXO B.
Com o passar dos anos, os omíadas começaram a adquirir características
gregas e persas, além disso, com a institucionalização do poder imperial do califado,
o califa sobrecarrega-se ficando distante e divido, resultando na revolta mawali
liderada por Abu Al-Abbas na década de 740. Os mawali (muçulmanos não árabes),
vitoriosos, instauram o Império Abássida que vai de 750 a 1258 e os direitos são
estendidos a todos os muçulmanos, árabes ou não. Esta é conhecida como a época
de ouro da civilização muçulmana (DEMANT, 2004, p.43).
Os turcos começam a se converter ao islamismo e passam a assumir as
forças de defesa dos líderes políticos e religiosos do Império Abássida, pois
provinham de fora e não possuíam família ou ligações pessoais com o que se
comprometer. Posteriormente, esses turcos derrubariam os líderes que protegiam e
passariam a deter o poder.
Paralelo a este momento, foram empreendidas Cruzadas (de 1099 a 1187)
dos países europeus cristãos em direção à Jerusalém, com o objetivo de libertar a
terra santa dos infiéis muçulmanos. Ao final do século XI, foram estabelecidos
estados cristãos na Palestina e na costa da Síria, sendo que o domínio de
Jerusalém se tornou o símbolo da agressão por parte dos cristãos contra o Islã.
Saladino, líder dinástico dos aiúbidas no Egito, consegue mobilizar forças egípcias e
sírias e reconquista a Palestina e a Síria.
No século XII, os mongóis, liderados por Genghis Khan, veem do extremo
Oriente e derrubam o Império Abássida e os reinados muçulmanos turcos, além de
causar verdadeira devastação nos demais lugares em que passavam. São
derrotados somente na Batalha de Ayn Jalut, na região da Palestina, pelos
mamelucos, sucessores dos aiúbidas.
O século XIV foi de pestes e pandemias tanto na Europa, quanto no Oriente
Médio, sendo que neste último houve maior queda demográfica. Apenas no século
XV, o Oriente Médio viria a se recuperar com a força dos turcos culminando, no
século seguinte, na criação de um império muçulmano turco, o Império Otomano.
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2.2 DO DOMÍNIO OTOMANO AO DOMÍNIO EUROPEU
O Império Otomano domina primeiramente a região dos Balcãs, antigo
território do Império Bizantino. Em 1453, os turcos conquistam Constantinopla e a
renomeiam como Istambul, que passou a ser a capital do Império. Posteriormente
dominam Veneza e Gênova e seguem em direção ao Oriente Médio, se
estabelecendo desde o Iraque à Arábia e na África do Norte, até a fronteira com o
Marrocos, como ilustra o ANEXO C.
Segundo Albert Hourani (2006, p. 287):
O Império Otomano era uma das maiores estruturas políticas que a parte ocidental do mundo conhecera desde a desintegração do Império Romano: dominou a Europa Oriental, a Ásia Ocidental e a maior parte do Magreb, e manteve juntas terras de tradições políticas muito diferentes, muitos grupos étnicos – gregos, sérvios, búlgaros, romenos, armênios, turcos e árabes – e várias comunidades religiosas – muçulmanos sunitas e xiitas. Cristãos de todas as Igrejas históricas, e judeus. Manteve seu domínio sobre a maioria deles por mais ou menos quatrocentos anos, e sobre alguns por até seiscentos anos.
O Império Otomano foi o último grande império muçulmano da história. Seu
enfraquecimento começou após três séculos de nascimento, sendo que durou mais
três séculos até sua queda. As razões principais foram: o enfraquecimento
econômico devido à perda do domínio marítimo para os espanhóis e portugueses; o
Império não evoluiu em estrutura; o afloramento do nacionalismo dentre as minorias
que passaram a “traduzir sua identidade religiosa em termos nacionalistas”
(DEMANT, 2004, p.61) e que passaram a almejar independência.
Em junho de 1916 ocorre a Revolta Árabe, onde os príncipes hachemitas do
Hejaz (hoje território do noroeste da Arábia Saudita) se rebelaram contra a
dominação turca, mas o evento foi rapidamente contido. Todavia, os britânicos veem
tal acontecimento como uma oportunidade de infiltração no território.
T. E. Lawrence, conhecido como “Lawrence da Arábia”, funcionário britânico
do quartel-general inglês no Egito é enviado para auxiliar os líderes da revolta e logo
constata a desorganização e incapacidade de luta árabe. Como estratégia adota as
guerrilhas e em julho de 1917, as forças rebeldes capturam o porto de Aqaba, no
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Mar Vermelho e quem assume a direção é o príncipe Faissal que sob as ordens do
general inglês Allenby, passa a controlar as forças britânicas na Palestina.
(CAMARGO, 2011).
O general Allenby, Lawrence e suas tropas árabes, chegam até Damasco e
em outubro de 1918, o Império-Otomano padece, sendo que 90% do território passa
para domínio da Grã-Bretanha.
A Grã-Bretanha, antes do final da guerra com o Império Otomano, prometeu
aos grupos árabes nacionalistas, um reino independente, contanto que se unissem
para combater a dominação otomana. Porém, em 1916, os britânicos firmam o
acordo de Sykes-Picot com a França antes mesmo da Primeira Guerra Mundial
terminar, dividindo o Oriente Médio em zonas de influência em caso de vitória dos
Aliados da Tríplice Entente, formada por França, Grã-Bretanha e Rússia contra a
Tríplice Aliança, Alemanha, Austro-Hungria e Império Otomano. Segundo Feldberg
(2008, p.192) os britânicos “[...] nunca deixaram claras suas intenções, optaram pela
ambiguidade que caracterizou a correspondência entre as partes.”
O acordo anglo-francês Sykes Picot, leva o nome das duas partes: o inglês sir
Mark Sykes, especialista em assuntos do Império Otomano e que trabalhava no
mesmo órgão que Lawrence, e o francês Françóis Picot, representante dos
interesses coloniais franceses na Síria e Palestina. O acordo previa que a França e
Grã-Bretanha iriam reconhecer uma confederação de Estados árabes
independentes, sendo que a região seria dividida em zonas de influência francesa e
inglesa e em alguma região, seria determinada uma administração internacional.
A princípio, as lideranças regionais árabes, desconhecendo o acordo de
Sykes-Picot, receberam bem os britânicos e franceses, pois acreditavam que iriam
de fato ter seu estado. O que a Inglaterra ofereceu foi a “autonomia sob a proteção
da potência colonial” (MAGNOLI, 2008, p. 201) em um sistema de mandatos. Isto é,
não era uma verdadeira autonomia, porém os ingleses souberam se utilizar da
palavra para confundir os árabes.
Para os britânicos, a região da Palestina possuía um valor estratégico muito
grande, pois estava nas proximidades do Canal de Suez e do novo porto de Haifa
(localizada ao norte do atual Israel) e apesar da região estar em Zona Internacional
de administração, a Grã-Bretanha desejava aumentar sua influência e um dos meios
encontrados foi apoiar a imigração de judeus. Porém os britânicos nunca alegaram
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os fatos dessa maneira e procuraram dar uma justificativa moral à imigração e esta
seria oferecer um lar aos judeus que já haviam sofrido muito longe de sua terra.
Em 1919 ocorre a Conferência de Paris, que reúne Woodrow
Wilson, presidente dos Estados Unidos, Lloyd George, Primeiro Ministro do Reino
Unido e Georges Clemenceau, Primeiro Ministro da França. Na Conferência foram
definidos os mandatos britânicos e franceses na região. A princípio os sionistas
fundariam seu lar na palestina, os árabes controlariam a Síria e a Península Arábica
e os britânicos teriam acesso ao petróleo do Golfo Pérsico.
Após ter lutado ao lado dos aliados, o emir Faissal, rei do Iraque, se sentiu no
direito de fundar seu Estado autônomo e criou a “grande Síria” que se estendia do
Líbano à Palestina. Porém, os europeus não estavam dispostos a cumprir o que
haviam prometido aos árabes e na Conferência de San Remo se reuniram para
estabelecer formalmente suas zonas de influência. A França recebeu o mandato
para a Síria e Líbano e a Grã-Bretanha para Iraque e Palestina, como demonstra o
ANEXO D.
O mandato Britânico na Palestina inicia-se em 1918. Os britânicos investiram
em infraestrutura, como ferrovias, rodovias e até mesmo um novo sistema
administrativo, o que contribuiu para atrair mais judeus para a Palestina. Antes da
Primeira Guerra Mundial, a população judaica na região era de 60 mil indivíduos,
sendo que em 1931 esse número aumentou para 170 mil.
Os árabes se sentem enganados em relação aos ingleses e franceses, pois a
princípio eram para ser libertados e acabaram novamente dominados. Isso irá gerar
consequências à longo prazo. O Oriente Médio é um dos lugares que mais se
ressente com o imperialismo, e com a criação futura do Estado de Israel, os árabes
irão ver os israelenses como agentes do imperialismo ocidental. Os árabes não são
movidos por ódio aos judeus como tanto se diz, mas pelo ressentimento aos
ocidentais que começa aqui, com Sykes-Picot.
Quanto à Palestina, como área pivô para todos os povos, após inúmeras
invasões, dominações e colonizações, fica claro que nunca foi possível uma
autodeterminação do povo que ali vivia após a diáspora judaica.
22
2.3 O SIONISMO
O termo sionismo surge em 1885, com Nathan Birnbaum, escritor judeu de
Viena. Deriva da palavra Sion, nome de uma colina antiga de Jerusalém. O sionismo
nasceu do nacionalismo que aflorou na Europa, da falta de tolerância religiosa e da
não inserção dos judeus na sociedade. Para Nicholas de Lange (2007, p. 133), “[...]
o movimento sionista não extraía sua força real das teorias dos ideólogos, nem
sequer da abnegada tarefa dos pioneiros, mas sim da ameaça real e propagada do
anti-semitismo.”
Theodor Herzl, jornalista judeu nascido na Hungria, não se interessava a
princípio pelas causas judaicas até presenciar, em Viena, o antijudaísmo no caso do
capitão judeu Alfred Dreyfus do exército francês que foi condenado para a Ilha do
Diabo (ilha prisão) por estar supostamente vendendo segredos militares do exército
francês para a Alemanha, mesmo não havendo nenhuma prova convincente. Em
1896, Herzl chega à conclusão de que os judeus deviam abandonar a diáspora e
fundar a sua própria nação e publica o livro Der Judenstaat (O Estado Judeu), no
qual idealiza a criação de um Estado judaico. Segundo Herzl, o problema dos judeus
“não era econômico, social ou religioso, mas nacional” (SHLAIM, 2004, p.38). No
livro, Herzl não define o local do Estado, porém havia a possibilidade de ser na
Palestina ou em algum lugar desabitado da Argentina.
O Primeiro Congresso Sionista foi convocado por Herzl e realizado na
Basiléia (localizada na Suíça) em 1897. Seu Programa foi: “O objetivo do sionismo é
criar para o povo judeu um lar na Palestina garantido por uma Constituição”
(SHLAIM, 2004, p.39). Posteriormente, Herzl escreve a respeito do Congresso no
seu diário: “Na Basiléia, eu fundei o Estado judeu. Hoje, se dissesse isso em voz
alta, teria como resposta uma gargalhada universal. Talvez em cinco anos, e
certamente em cinquenta, todos saberão disso.” (PATAI, 1960 apud SHLAIM, 2004,
p.39).
Após o Congresso, foram enviados pelos rabinos de Viena, dois
representantes à Palestina para verificar a região que foi escolhida durante o
congresso como o “lar nacional” judaico. Os emissários enviaram a seguinte
23
mensagem à Viena: “A noiva é bela, mas esta casada com um outro homem”
(SHLAIM, 2004, p.40).
O movimento sionista ignorou os árabes que habitavam a região, não se
dando conta do nacionalismo destes. Passou a chamar o problema de “a questão
árabe” e esperava que com o tempo, uma solução surgisse. Herzl acreditava que os
árabes não se incomodariam, pois os considerava atrasados e com o
estabelecimento do Estado judaico haveria desenvolvimento econômico, o que seria
bem aceito por eles.
Nos palestinos há um grande amor à sua terra, portanto não é de se esperar
que aceitarão o domínio sionista apenas por razões econômicas.
Herzl buscou apoio político das grandes potências, a fim de conseguir base
para a criação do Estado judeu na Palestina.
O sionismo adquire duas características inalteradas a partir de então:
desconsideração dos palestinos e a busca pelo apoio internacional para o
reconhecimento de sua soberania.
Chaim Weizmann, personalidade influente na comunidade judaica inglesa,
consegue apoio dos ingleses através de Arthur James Balfour, Ministro do Exterior
britânico, que escreve em 1917, a Declaração Balfour ao Lorde Rothchild, também
grande representante da comunidade judaica inglesa. Esta foi a primeira vitória
diplomática para os judeus rumo a criação de um Estado judeu na Palestina
(CAMARGO, 2011). Segue a declaração:
Foreign Office November 2nd, 1917 Dear Lord Rothschild,
I have much pleasure in conveying to you, on behalf of His Majesty's Government, the following declaration of sympathy with Jewish Zionist aspirations which has been submitted to, and approved by, the Cabinet.
His Majesty's Government view with favor the establishment in Palestine of a national home for the Jewish people, and will use their best endeavors to facilitate the achievement of this object, it being clearly understood that nothing shall be done which may prejudice the civil and religious rights of existing non-Jewish communities in Palestine, or the rights and political status enjoyed by Jews in any other country.
I should be grateful if you would bring this declaration to the knowledge of the Zionist Federation. Yours, Arthur James Balfour
1
1 Tradução nossa: “Escritório Internacional
24
Com a presente Declaração, houve um crescimento nos conflitos entre
comunidades judaicas e não judaicas, pois muitos colonos judeus se apropriavam de
terras árabes, chegando até mesmo a ser fundada a Agência Executiva Judaica
para coordenar os interesses dos colonos.
Weizmann, em 1920, é eleito presidente da Organização Sionista Mundial e
exerce o cargo de primeiro presidente de Israel futuramente. No Oitavo Congresso
Sionista, cria o termo “sionismo sintético”, no qual une o sionismo político de Herzl
(diplomacia internacional) com o sionismo prático (imigração para a Palestina).
Weizmann ignorou “a questão árabe”, acreditando que os palestinos eram apenas
uma pequena porção da comunidade árabe e assim como Herzl, esperava que o
povo judeu fosse aceito devido às vantagens econômicas.
Aconselhado pelos britânicos, Weizmann, procurou na região o apoio dos reis
hachemitas dos países vizinhos, optando por ignorar os palestinos por completo. Em
3 de janeiro de 1919, sela um acordo com o Rei Faissal da Síria. Entretanto, devido
a opinião pública contrária, o acordo não vingou. Os seguidores de Weizmann o
convenceram de que a ideia do sionismo era contra os interesses dos árabes. Para
estes, o sionismo foi relacionado ao imperialismo britânico na região, que em
contrapartida também impediria a criação de um Estado judeu posteriormente.
Na conferência de paz de Paris (1919), Weizmann declara que quer “tornar a
Palestina tão judaica quanto a Inglaterra é inglesa” (SHLAIM, 2004, p.46). Quanto a
“questão árabe”, Weizmann estava disposto a aceitar os palestinos na administração
02 de novembro de 1917 Prezado Lord Rothschild, Tenho muito prazer em transmitir-lhe, em nome do Governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia com as aspirações judeu-sionistas que foram apresentadas e aprovadas pelo Gabinete. “O Governo de Sua Majestade vê com simpatia o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e empregará seus melhores esforços para facilitar a conquista desse objetivo, ficando claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas na Palestina, ou os direitos e condições políticas usufruídas pelos judeus em qualquer outro país." Ficaria agradecido se o senhor levasse essa declaração ao conhecimento da Federação Sionista. Atenciosamente, Arthur James Balfour” The Balfour Declaration. Disponível em:
http://www.mfa.gov.il/mfa/foreignpolicy/peace/guide/pages/the%20balfour%20declaration.aspx
Acesso em: 15 novembro 2012.
25
da região de acordo com a proporção das comunidades, porém jamais os aceitaria
como iguais.
Com a crescente onda de violência árabe contra judeus e britânicos, estes
últimos se forçaram a rever o suporte oferecido ao sionismo. Chegaram à conclusão
que devia ser tomada uma política mais parcial em relação as duas comunidades.
Em 1922, o relatório do governo Winston Churchill,
estabelecia, pela primeira vez, critérios econômicos para a imigração judaica; propunha instituições eleitas com base em representação proporcional [...]; e excluía a Transjordânia da área disponível para ocupação judaica (SHLAIM, 2004, p.47).
Weizmann fica desapontado com o retrocesso da política britânica, porém
continua a apoiar a criação da nação judaica através dos imigrantes e da ocupação
gradual. Nesse contexto, surge o sionismo revisionista do judeu nacionalista Ze’ev
Jabotinsky.
Jabotinsky desde o início se posiciona contra Chaim Weizmann e se torna o
principal líder da oposição. Como consequência, em 1925, cria um novo partido, a
União Mundial de Sionistas Revisionistas. Mais tarde o partido se tornaria a Nova
Organização Sionista, sendo que Jabotinsky é eleito presidente, assumindo também
a liderança da futura organização militar judaica, a Irgun.
Assim como Weizmann, Jabotinsky reconhecia a importância do apoio de
uma potência ocidental à causa sionista. Acreditava que o Oriente era atrasado
culturalmente, economicamente e politicamente, e por mais que os judeus tenham
se originado no Oriente, estes pertenciam ao Ocidente. Para Jabotinsky, o sionismo
não seria um retorno à terra natal, mas seria a “implantação da civilização ocidental
no Oriente” (SHLAIM, 2004, p.49).
Jabotinsky defendeu dois princípios do sionismo revisionista: Israel devia se
assentar de ambos ao lados do rio Jordão e proclamar o direito judaico de soberania
na área.
Em relação aos árabes da palestina, em 1923, Jabotinsky publica dois artigos
relacionados: “A muralha de ferro” e “Sobre a Moralidade da Muralha de Ferro”. No
primeiro volume, “Sobre a muralha de ferro (nós e os árabes)”, apresenta uma
26
possível solução pacífica, porém, tudo dependeria da reação dos árabes quanto aos
sionistas. Segundo Jabotinsky “Um acordo voluntário entre nós e os árabes da
Palestina é inconcebível agora e no futuro previsível” (SHLAIM, 2004, p. 50). Os
sionistas moderados já haviam constatado que os palestinos não iriam aceitar
passivamente o domínio judeu da região, pois a tinham como território de sua nação.
Jabotinsky não considerava que os palestinos seriam facilmente comprados com a
ideia de uma economia melhor, portanto, escreve:
Um acordo voluntário é inalcançável. Sendo assim, aqueles que consideram um acordo com os árabes uma condição indispensável ao sionismo devem admitir para si próprios que, hoje, essa condição não pode ser alcançada e que, por isso, devemos desistir do sionismo. Devemos ou suspender os nossos esforços de ocupação ou continuá-los sem prestar atenção à disposição de ânimo dos nativos. Assim, a ocupação pode se desenvolver sob a proteção de uma força que não dependa da população local, por trás de uma muralha de ferro que eles não terão o poder de destruir. (SHLAIM, 2004, p. 50-51)
Desde o princípio o sionismo tratou os palestinos como inferiores e Jabotinsky
ainda adiciona a violência. Além de que a negação à comunicação com os
palestinos desde o início da história sionista, também irá acirrar ainda mais os
ânimos pelo lado destes.
Entretanto, Jabotinsky não descarta a possibilidade de um acordo com os
árabes posteriormente:
Não pretendo afirmar que nenhum tipo de acordo seja possível com os árabes da Terra de Israel. Porém, um acordo voluntário simplesmente não é possível. Enquanto os árabes preservarem um vislumbre de esperança de que terão êxito em livrar-se de nós, nada no mundo pode fazê-los abandonar esta esperança, precisamente porque eles não são uma ralé e sim um povo vivo. E um povo vivo só estará pronto a se render a um desfecho tão fatal quando tiver desistido de toda esperança de se ver livre dos colonizadores estrangeiros. Só então os grupos extremistas com seus slogans “Não, nunca” perderão sua influência, e só então sua influência será transferida para grupos mais moderados. E só então os moderados irão oferecer sugestões para chegarmos a um acordo. Só então irão começar a negociar conosco os assuntos práticos, tais como garantias contra expulsão e igualdade de direitos civis e nacionais. (SHLAIM, 2004, p. 51)
27
A “muralha de ferro” seria o meio de se chegar às negociações de paz, e que
quando o momento de negociação chegasse, Jabotinsky afirma que deviam ser
atribuídos aos palestinos direitos civis e nacionais, o que implicitamente poderia
corresponder a autonomia política dentro do Estado judeu.
David Ben-Gurion é considerado como o fundador de Israel e criador do
Yishuv (assentamentos). Concluiu que o conflito entre palestinos e judeus era
inevitável. Assim, como todos seus antecessores, acreditava também na
necessidade do apoio de uma potência externa. A princípio buscou apoio do Império
Otomano, que foi, porém, derrotado pelo Reino Unido, Ben-Gurion logo voltou suas
intenções para este. Tenta também firmar acordo com os árabes, o que não era sua
verdadeira intenção, apenas o fez para conseguir aprovação dos britânicos, que
exigiam o entendimento entre os dois povos.
Hajj Amin al-Husseini, principal chefe religioso e político da Palestina,
começou a organizar a resistência palestina, que em 1936 se levantou contra
colonizadores ingleses e assentamentos judaicos. A revolta foi combatida por
britânicos e judeus durante três anos, alternando entre fases de grande ou média
violência.
A revolta fez Ben-Gurion reconhecer a identidade nacional palestina oposta
ao sionismo e também que os judeus são os agressores e que não haverá solução
diplomática para a questão, apenas militar.
Entretanto, em 9 de junho de 1936 envia uma carta à Agência Executiva
Judaica, afirmando que a paz é um meio já que nenhum país sobrevive a uma
guerra interminável e afirma que um acordo com os palestinos poderia ser viável,
mas somente a longo prazo, pois estes, após passar por inúmeras tentativas de
rebelião mal sucedidas, iriam concordar com a criação do Estado judeu.
Com o conflito de 1936, os britânicos decidiram enviar uma comissão real a
Palestina, liderada por lorde Peel. Chega-se à conclusão que:
o nacionalismo judeu era tão intenso e egocêntrico quanto o nacionalismo árabe, que o abismo entre eles estava se ampliando e que a única solução era dividir o país em dois estados separados (SHLAIM, 2004, p.57).
28
Peel propõe, em seu relatório final em julho de 1937, a criação de dois
estados, sendo o judeu o mais pequeno, em torno de cinco mil quilômetros
quadrados e o restante ficaria para os árabes, sendo que Jerusalém e Java ficariam
sob administração britânica. A configuração pode ser vista no ANEXO E.
Os sionistas ficaram divididos entre aceitar ou não o plano de partilha, porém
no Vigésimo Congresso Sionista em 1937 em Zurique, decidiu-se por aceitar as
condições de criação do Estado embora diminuto para fins de negociação com o
governo britânico.
Na carta escrita a seu filho, em 5 de outubro de 1937, Ben-Gurion compartilha
que esse plano de partilha seria apenas o começo, pois tendo um território, os
judeus poderiam organizar sua economia e exército e não teriam problemas com a
imigração. Escreve: “Edifique um estado judeu imediatamente, mesmo que não seja
no país inteiro. O resto virá no decorrer do tempo. Precisa vir.” (BEN-GURION, 1971
apud SHLAIM, 2004, p.59).
O plano de partilha, entre os sionistas, recebeu 299 votos favoráveis, 160
contra e 6 abstinências (SHLAIM, 2004, p. 60).
Entretanto, em 1939, A Grã-Bretanha encontra-se em guerra contra o Império
Otomano e necessita do auxílio dos árabes para ganhar, logo, em 17 de maio deste
mesmo ano, os britânicos anulam o Plano Peel e retiram seu apoio à causa sionista
através de relatório oficial.
Os sionistas se veem sozinhos e acabam por criar sua própria organização
paramilitar, a Haganah (significa defesa em hebraico) e em relação a Grã-Bretanha,
Ben-Gurion declara: “Lutaremos com a Grã-Bretanha contra Hitler como se não
houvesse nenhum relatório oficial; combateremos o relatório oficial como se não
houvesse nenhuma guerra.” (SHLAIM, 2004, p. 61).
Ben-Gurion então passou a defender a imigração de dois a três milhões de
judeus para a Palestina após a guerra, pois estes estavam sendo perseguidos na
Europa e os árabes ali presentes poderiam ir para outras regiões vazias fora da
Palestina.
Em maio de 1942, no hotel Biltmore em Nova York, os sionistas americanos,
incluindo Ben-Gurion e Weizmann, criam o Programa Biltmore, onde pela primeira
vez, declaravam seu interesse em dominar a totalidade da Palestina, além do
Jordão. Porém, em 1942 ainda não se tinha conhecimento do massacre de judeus
29
na Europa, esperava-se que ao fim da guerra haveria milhões de refugiados. Após a
revelação das atrocidades nazistas, o sionismo e sua intenção nacionalista
receberam amplo apoio internacional, até mesmo os judeus que resistiram ao
sionismo, optaram por este.
Há quem diga que o genocídio nazista durante a Segunda Grande Guerra
possibilitou a criação do Estado de Israel, pois o mundo passou a apoiar a sua
causa, além de que, com a significativa diminuição da população judaica (foram
assassinados 6 milhões) tornou viável criar um Estado na Palestina. Com uma
grande população, não haveria espaço suficiente, logo, talvez a ideia seria
descartada.
Em agosto de 1945, na conferência sionista, Ben-Gurion cria o “sionismo
combativo" e com as forças israelenses se colocaram drasticamente contra o
domínio britânico na região. A Haganah, o Irgun e a Gangue Stern2 juntam-se de
novembro de 1945 a julho de 1946 e desencadeiam “o movimento da revolta
hebraica”. Porém, a defensiva britânica foi maior e no final a revolta foi suspendida.
(SHAIM, 2004).
Em agosto de 1946, os sionistas ignoram o Programa Biltmore e voltam a
cogitar o plano de partilha, pois esperam que com isso consigam o apoio dos
Estados Unidos.
Após causar tantos conflitos com sua política controversa e incapacitada de
dar uma solução, a Grã-Bretanha, em fevereiro de 1947, passa o caso da criação do
Estado israelense para a recém-criada Organização das Nações Unidas resolver.
2 “Os críticos mais radicais se afastaram da liderança da Agência Executiva Judaica e fundaram uma
organização militante, o Irgun (Organização Militar Nacional), dedicado a promover ataques a postos militares e prédios públicos ingleses e também a tirotear contra os árabes. Como acontece habitualmente entre as fileiras de puristas de todas as épocas, o Irgun não tardou ele próprio a rachar. Uma vez iniciada, a divisão deu origem e um movimento ainda mais extremista, o Lehi (Lohame Herut Israel – Combatentes pela libertação de Israel), inspirado na liderança de um ativista chamado Avraham Stern. As forças de segurança britânicas logo o apelidaram de Gang Stern.”
(SCALERCIO, 2003, p.35)
30
2.4 GUERRA DA INDEPENDÊNCIA PARA OS ISRAELENSES E AL-NAKBA (A
DESGRAÇA) PARA OS ÁRABES
Em 29 de novembro de 1947, foi aprovada a Resolução 181 (ANEXO F) pela
partilha da Palestina entre judeus e árabes. A Resolução foi aprovada por 33 países,
enquanto 13 foram contra e 10 países de abstiveram. O plano era dar 53,5% do
território para os judeus e 45,4% aos palestinos, sendo que a população na região
era de 30% e 70% respectivamente. Na divisão, foi estabelecido que o os estados
judeu e árabe deveriam ser economicamente unidos e que Jerusalém ficaria sob
administração internacional da ONU.
O mapa de partilha pode ser visto no ANEXO G.
O Plano de Partilha mostra-se totalmente incoerente, com territórios
fragmentados que mal se conectam. Segundo Shlaim (2004, p.63) “as fronteiras
desses dois estados de formas estranhas, parecendo duas serpentes em luta, eram
um pesadelo estratégico”.
O plano foi desaprovado por todas as partes árabes. O Egito foi contra o
plano, pois a Faixa de Gaza, zona sob sua jurisdição, foi designada aos palestinos.
A Síria desejava ampliar seu território anexando terras palestinas e libanesas. A
Transjordânia almejava a Cisjordânia. Em relação às fronteiras, havia ainda o
problema das nascentes de rio, ligadas diretamente ao desenvolvimento da
agricultura.
A Haganah e a Agência Executiva Judaica aceitaram o plano, mas já
imaginavam os ataques militares que os esperava. O Irgun rejeitou totalmente o
plano, sendo que o seu líder, Menachem Begin alegou que este era ilegal. Porém,
no final das contas, “predominou o espírito pragmático de Ben-Gurion, aconselhando
os judeus a trabalhar com o que tinham em mãos.[...] Com ou sem partilha, Ben-
Gurion sabia que a guerra era inevitável [...].” (SCALERCIO, 2003, p.43).
O conflito teve duas fases: a primeira fase, a não oficial, durou de 29 de
novembro de 1947 até 14 de maio de 1948 e a segunda fase durou de 15 de maio
de 1948 até 7 de janeiro de 1949.
31
A fase não oficial se inicia após a votação do plano de partilha na ONU, onde
começaram ataques de guerrilheiros árabes contra a comunidade judaica. Ben-
Gurion, mentor do estabelecimento de Israel, decide por contra-atacar. Foi
implementado pela Haganah o Plano D, onde limpariam as zonas israelenses da
partilha e os assentamentos judeus da presença hostil árabe. Entre abril e maio de
1948, foram empreendidas ações militares, “ordenando a conquista das cidades
árabes e a destruição das aldeias” (SHLAIM, 2004, p. 70).
O único país árabe que se mostrou interessado em negociar com os sionistas
foi a Transjordânia, sob a liderança do rei Abdullah. Este estava interessado na parte
árabe da Palestina para estabelecimento do seu sonho da Síria Maior e assim como
os sionistas, não via com bons olhos o movimento nacional palestino e lhe
interessava reprimi-lo. Em novembro de 1947, 12 dias antes da ONU decidir o plano
de partilha da Palestina, Golda Meir, representante sionista, se reúne secretamente
com o Rei Abdullah a fim de partilhar a Palestina entre eles. A Transjordânia ficaria
com a parte árabe da região e Israel não iria interferir.
Mediante o colapso do nacionalismo palestino, a Liga Árabe (Líbano, Síria
Iraque, Transjordânia e Egito) começou a se preparar para o conflito contra Israel.
Golda Meir vai até a Transjordânia vestida como árabe para não ser reconhecida e
tenta convencer Abdullah a não fazer parte da guerra, este, porém este alega que é
impossível não tomar parte no conflito. Por fim, fica decidido que após a guerra, os
dois países voltariam a conversar.
Medinat Israel, ou simplesmente Israel, foi proclamado às quatro horas da
tarde de 14 de maio de 1948 por Ben-Gurion:
A Terra de Israel foi lugar de nascimento do povo judeu (...). Exilado da Terra de Israel, o povo judeu permaneceu fiel a ela em todos os países da sua dispersão (...). Nas décadas recentes eles voltaram em massa (...). É o direito natural do povo judeu de levar, como o fazem todas as outras nações, uma existência independente em seu Estado soberano (...). O Estado de Israel está preparado para trazer sua contribuição ao progresso do Oriente Médio como um todo. Nosso convite se estende a todo o povo judeu espalhado pelo mundo para que cerre fileiras ao nosso lado na tarefa de imigração e de desenvolvimento, e que fique ao nosso lado na grande luta que travamos para a consecução do sonho de gerações que ansiaram pela redenção de Israel (...).(SZTERLING, 2000, p.56-57)
32
Israel teria os princípios de “liberdade, justiça e paz [...]; defenderia a plena
igualdade social e política de todos os seus cidadãos, sem distinção de religião, raça
ou sexo.” (SHLAIM, 2004, p.70). Declarou também que iria oferecer cidadania a
todos os árabes de Israel caso concordassem com a administração judaica e
mostrou intenções pacíficas para com os países vizinhos.
As palavras igualdade, justiça e liberdade possuem um grande peso para uma
democracia, mas o discurso de Ben-Gurion, diga-se de passagem, é no mínimo
contraditório. O sionismo surgiu com a ideia de um Estado judeu, portanto, apenas
para judeus, com os direitos apenas estendidos para os judeus, porém, mesmo
assim Ben-Gurion afirma que não haverá distinção de religião. Além disso, os
sionistas nunca quiseram ter um diálogo com os palestinos, chegaram até mesmo a
implantar o Plano D e agora alegam que lhe darão direitos.
No dia seguinte à proclamação do Estado de Israel e juntamente com a
retirada das forças britânicas, começa a segunda fase da guerra, a oficial. A Liga
Árabe invade o território e se junta aos palestinos do Exército Árabe de Libertação.
Como diz Shlaim (2004, p.73), “Israel nasceu em meio à guerra.” O conflito é dividido
em três períodos: de 15 de maio até 11 de junho; de 9 a 18 de julho; e de 15 de
outubro até 7 de janeiro de 1949.
Segundo Scalercio (2003, p. 46-47):
A lenda da independência de Israel desenha o cenário da primeira guerra árabe-israelense como um confronto entre um Golias árabe e um Davi judaico. De um lado, os palestinos árabes (com suas milícias bem ou mal organizadas em uma unidade chamada Exército Árabe de Libertação) contavam com o apoio direto da Transjordânia Hashemita, do reino do Egito, da Síria, do Líbano e do Iraque. Esses países estariam dispostos a mobilizar todo seu poderio com o intuito de obter uma vitória militar na Palestina. Do outro, os colonos judeus isolados, organizados principalmente em torno da estrutura militar da Haganah, lutando pela sobrevivência e para não serem esmagados.
Porém, há de se colocar na balança o peso militar de Israel. Enquanto os
países árabes não possuíam muitos recursos nem coordenação, o Estado judeu era
o oposto. Desde 1930, as milícias judaicas vinham estocando armamentos e
recrutando para o conflito. A União Soviética prestou seu apoio ao Estado de Israel,
pois desejava aumentar sua influência na região e o movimento sionista tinha a
33
princípio vertentes socialistas. Esse fato influenciou no envio de armas ilegais da
Tchecoslováquia para a Haganah. As tropas israelenses estavam mais bem
treinadas, passando de 30 mil inicial para 94 mil no fim do conflito. Os árabes
possuíam vantagem numérica de 40 mil a princípio, porém eram mal treinados. Ao
fim da guerra, a proporção de soldados israelenses era de dois para um árabe.
(SCALERCIO, 2003, p. 48).
Sob o comando de Abdel Qader al-Husseini, os palestinos se organizaram em
milícias e atacaram assentamentos judaicos e rotas de Jerusalém ao litoral. Os
ataques duraram de novembro de 1947 a maio de 1948, terminando com a morte de
Abdel al-Husseini. Essa talvez foi a tática mais bem estruturada entre os palestinos
no confronto com a Haganah, já que deu muito trabalho à mesma.
A estratégia de Israel era de primeiramente assegurar os assentamentos
destinados aos judeus pela ONU, porém, com o Plano D, se estabelece que a
Haganah deve invadir cidades árabes e vilarejos.
O Plano D coloca em prática a brutalidade prevista pela “Muralha de Ferro” de
Jabotinsky. O objetivo era provocar pânico generalizado e o êxodo dos árabes.
Mesmo as aldeias que eram amistosas com os Yishuvs estavam na mira, pois seu
apoio era considerado insincero. De acordo com Finkelstein (1948 apud BIRTH,
2003, p.135-136):
A carnificina amplamente divulgada de Deir Yassin, os massacres em Khibet Nasr ad Din, perto de Tiberíade (Tabarié), e em Ein az Zeitun, perto de Safad, os indiscriminados e prolongados bombardeios com morteiros em Haifa e Acre, o uso de alto-falantes para a transmissão de mensagens de “propaganda negra” (ou seja, aterrorizante) em língua arábica, o incêndio de colheitas e assim por diante levaram ao exílio os palestinos que não se haviam deixado impressionar suficientemente pelos ataques-relâmpago das forças sionistas […]. Sobretudo fora dos grandes centros urbanos, “a política habitual da Haganah e das FDI consistia em reunir e expulsar os habitantes remanescentes (geralmente idosos, viúvas, aleijados) de áreas já evacuadas pela maioria dos habitantes”.
Um dos massacres citados acima é o de Deir Yassin que ocorreu em maio de
1948. Com suporte da Haganah, a Gangue Stern e o Irgun atacaram a aldeia.
Famílias inteiras chegaram a ser mortas enquanto ainda dormiam. De acordo com
Scalercio (2003, p. 60), o número de mortos em Deir Yassin é de 254. Em 12 de abril
34
1948, três dias após o massacre, Itzak Levi, comandante do Serviço de Inteligência
do Haganah publica um relatório sobre o decorrido:
A conquista da aldeia foi conduzida com grande brutalidade. Famílias inteiras, mulheres, pessoas idosas, crianças, foram mortas e pilhas de corpos se acumularam. Alguns dos prisioneiros levados aos lugares de detenção incluindo mulheres e crianças foram brutalmente assassinados pelos guardas. Entre os prisioneiros havia uma mulher e seu bebê. Os guardas mataram o bebê na frente da mãe e depois que ela desmaiou, também a mataram. (MORROW, s/d)
Após o massacre e o êxodo em massa, as autoridades palestinas irão
incentivar as vítimas a relatar de maneira exagerada o que se passou em Deir
Yassin, além de divulgar pelo rádio. A intenção era motivar a resistência palestina na
luta contra os judeus, porém ocorreu o efeito contrário: a população, aterrorizada,
fugia ao primeiro sinal da aproximação das forças sionistas. De acordo com
Scalercio (2003, p. 38), é com Deir Yassin que começa o “fenômeno dos refugiados
palestinos.”
Outras aldeias passaram pelo mesmo “processo de evacuação”, como Al
Kabri, Umm al Faraj e An Nahr, entre muitas outras, incluindo Jerusalém Ocidental.
Ben-Gurion apreciava o êxodo árabe e previa que iria se generalizar. Quando
questionado sobre a ausência de propriedades judaicas em áreas estratégicas da
Palestina, alegava: “A guerra nos dará a terra. Os conceitos de 'nosso' e 'não nosso'
são apenas conceitos de tempos de paz, e durante a guerra perdem todo o seu
significado” (BIRTH, 1948 apud FINKELSTEIN, 2003, p. 144). Posteriormente alega:
“No Negev, não haveremos de comprar terras. Vamos conquistá-las.”
(FINKELSTEIN, 1948 apud BIRTH, 2003, p. 144).
As regiões “vazias” de árabes deviam, portanto, ser colonizada por imigrantes
judeus.
O Rei Abdullah, ao enviar suas tropas a Palestina, não tinha como objetivo
ameaçar a existência de Israel, mas dominar as partes árabes da região. Assim
como a Transjordânia, nenhum outro país árabe envolvido na guerra tinha interesse
em defender os direitos palestinos, apenas tinham interesses em expandir seu
território.
35
O ataque da Liga árabe começou em 14 de maio de 1948, “com o bombardeio
de Tel-Aviv por aviões egípcios” (CAMARGO, 2001, p. 433). A Síria ataca no dia
seguinte, mas acaba derrotada e se retira no dia 23 do mesmo mês, voltando mais
tarde. O Libaneses acabam detidos na Galileia. O Egito e Iraque também são
contidos. Até o cessar-fogo ser decretado em 11 de junho, apenas a Jordânia
conseguiu conquistar terras: Jerusalém Oriental e a Cisjordânia.
O conde sueco Folke Bernadotte, enviado pelo Conselho de Segurança da
ONU para mediar o conflito, propôs que o Rei Abdullah, da Transjordânia ficasse
com o controle da Cisjordânia, Negev e Jerusalém Oriental, e os israelenses com a
Galileia Ocidental, além de que a imigração judaica seria limitada e controlada pela
ONU e os palestinos poderiam retornar às suas casas. Tanto judeus quanto árabes
não aceitaram o plano. O conde Bernadotte acaba sendo assassinado por membros
da Gangue Stern, em 17 de setembro.
Em 8 de julho a guerra recomeça quando Egito viola a trégua. Todos os
países árabes, com exceção da Transjordânia, perdem terras. De acordo com
Scalercio (2003, p. 68), Abdullah é tido “como ‘o pior dos aliados’ para os árabes e o
‘melhor dos inimigos’ para os judeus.”
Após perder territórios, o Egito queria se livrar da guerra contra Israel e envia
para Paris, para o Departamento do Oriente Médio do Ministério Israelense das
Relações Exteriores, o emissário Riad, a fim de negociar a paz. O Egito
reconheceria Israel se este concordasse em ceder parte de Negev. O gabinete
israelense ficou dividido, sendo que Ben-Gurion opta por manter a parceria com a
Transjordânia e propõe voltar a guerra com o Egito. Em dezembro, a trégua é
rompida por Israel. A Força de Defesa de Israel (FDI) domina o Sinai, porém, devido
à pressões dos EUA, se retiram da região e deixam Gaza sob administração egípcia.
Em sete de janeiro de 1949 os países aceitam suspender as ofensivas e
negociar. Israel saíra vitorioso, enquanto os árabes estavam esgotados.
Sob supervisão da ONU, Israel assinou acordos com cada um dos países
árabes envolvidos no conflito. A guerra acabou oficialmente quando o ultimo tratado
de paz foi assinado, sendo este com a Síria, em 20 de julho de 1949.
A Faixa de Gaza ficou sob domínio egípcio e a Cisjordânia sob domínio da
Transjordânia, agora denominada Reino Hachemita da Jordânia, além desta ter
ficado com a parte oriental da cidade de Jerusalém - a parte ocidental ficou sob
36
administração de Israel, que proclamou esta como sua capital. A Palestina árabe
deixa de existir.
Após a guerra, Israel passou a dominar de 55% da Palestina, para 79%
conforme o ANEXO H.
As maiores vítimas da guerra foram os palestinos – de acordo com Camargo
(2004, p. 435) mais de 700 mil tornaram-se refugiados, tendo como destinos a
Cisjordânia e Jordânia (350 mil refugiados migraram para a região), Faixa de Gaza
(190 mil), Líbano (100 mil), Síria (75 mil), Egito (4 mil), Iraque (4 mil). Com isso, a
população judaica no interior do Estado de Israel era de 716 mil para 92 mil árabes.
(CAMARGO, 2011, p. 435). Os palestinos que permaneceram passaram a viver em
condições precárias, pois não poderiam mais retornar às suas casas destruídas ou
destituídas e acabam alojados em acampamentos, vivendo em casas de madeira,
sem banheiro, sem água quente e em muitos casos, sem trabalho. Sobrevivem
graças aos esforços das Nações Unidas. De acordo com Rubin (1994, p. 5):
The United Nations Relief and Works Agency (UNRWA) provided aid, but Arab states refused to resettle the Palestinian refugees permanently. The UNRWA representative in Jordan commented in 1952, “The Arab nations do not want to solve the refugee problem. They want to keep it as a weapon against Israel.”
3
Silvia Szterling (2000, p. 41) escreve: “uma curiosa inversão de papéis
pregada pela história: de povo errante, tradicionalmente perseguido, os judeus
passaram a ter, como vizinhos e em seu próprio Lar Nacional, refugiados árabes
sem pátria.”
A invasão dos países árabes foi usada como justificativa para a expulsão. Em
26 de setembro de 1948, Ben-Gurion alegou: “aos árabes da Terra de Israel resta
apenas uma função – fugir” (BIRTH, 1948 apud FINKELSTEIN, 2003, p. 151).
A resolução 194 da ONU (ANEXO I), que determina o regresso dos
refugiados palestinos às suas terras, não é aceita por Israel, afinal, segundo este, os
3 Tradução nossa: “A Organização das Nações Unidas de Socorro e Obras Públicas (UNRWA)
forneceu ajuda, mas os estados árabes se recusaram a reassentar os refugiados palestinos permanentemente. O representante da UNRWA na Jordânia, comentou em 1952: ‘Os países árabes não querem resolver o problema dos refugiados. Eles querem mantê-lo como uma arma contra Israel.’”
37
culpados de causarem o problema foram os árabes, pois foram os que iniciaram a
guerra.
Ben-Gurion acreditava que com o tempo os países árabes iriam esquecer as
antigas fronteiras estabelecidas pela ONU e a ideia de um país palestino
independente.
No Knesset4, Ben-Gurion disse para Begin que era preferível ter um estado
judeu democrático sem a Terra de Israel como um todo do que ter a terra inteira sem um estado judeu. Um estado judeu, argumentava ele, a ser também um estado democrático, não seria possível sobre toda a Terra de Israel, porque lá o número de árabes superava o de judeus. A escolha era entre um estado democrático de Israel em parte da terra e um estado judeu sobre a terra inteira e a expulsão dos seus habitantes árabes. (SHLAIM, 2004, p.96)
Para Israel, os acordos de armistício proporcionaram três constantes: “cessar-
fogo absoluto”; as demarcações territoriais feitas após o cessar-fogo davam plena
soberania para Israel já que eram fronteiras internacionais; e direito para os
assentamentos judaicos, além de “desenvolver a economia sem levar em
consideração os direitos dos antigos proprietários que tivessem se tornado
refugiados.” (SHLAIM, 2004, p. 98).
Já para os árabes, havia uma interpretação bem diferente dos armistícios de
paz: a guerra não tinha chego ao fim, logo, poderiam estabelecer boicote econômico
e fazer propaganda negativa contra o Estado Israelense; as demarcações territoriais
não podiam ser consideradas como fronteiras internacionais, eram apenas barreira
de cessar-fogo; os refugiados deveriam ter o direito de retornar às suas terras.
Os países árabes, ou “irmãos árabes” como também são chamados, foram
motivados principalmente por interesses de expansão e associaram Israel à um
novo colonialismo. O conflito nunca se tratou de religião, esta é apenas o fator de
divisão.
Futuramente, Israel irá receber pesado apoio dos Estados Unidos que vê no
país sionista um forte aliado devido à sua força militar e às derrotas que impõe aos
árabes. Tal fato reforça, para os árabes, o caráter imperialista do Estado judeu.
Nasser, líder egípcio chega até mesmo a alegar que os Estados Unidos “implanted
4 Parlamento Israelense.
38
Israel in our territory [and] is supporting reaction and imposing backwardness upon
us.”5 (RUBIN, 1994, p. 12).
2.5 OS PRECEDENTES E MAIS SEIS DIAS DE GUERRA
O pan-arabismo, tinha como objetivo unir os árabes num Estado só. Com a
criação de Israel, o objetivo passou a ser expulsar os sionistas da Palestina e Abdel
Nasser, que tomou posse do poder no Egito após em golpe militar em 1953,
assumiu tal compromisso.
Nasser anuncia, em 26 de julho de 1956, a nacionalização do canal de Suez,
que impactou diretamente a França e a Grã-Bretanha por serem acionistas da
Companhia do Canal.
Em outubro do mesmo ano, como representantes de Israel, Ben-Gurion,
Moshe Dayan e Shimon Peres vão a Paris discutir com o primeiro ministro francês,
Guy Mollet e com o secretário do exterior britânico, Selwyn Lloyd a possibilidade de
uma ação militar contra Nasser.
No dia 29 de outubro, paraquedistas israelenses pularam na cidade egípcia
de Mitla, e o Egito mobiliza suas forças para contra-atacar. Inglaterra e França
pediram a retirada de ambos os lados do conflito, somente a FDI obedeceu, o que
dá o pretexto necessário aos franceses e ingleses para intervirem no Egito. A Royal
Air Force (Grã-Bretanha) e a Armée d’Air (França) bombardeiam os campos os
aviões egípcios no solo. No Sinai, os israelenses avançam em poucos dias.
A URSS que a princípio havia apoiado Israel e até lhe fornecido armamentos,
agora se volta para os países árabes. Assim como estes, a URSS via Israel como o
imperialismo norte-americano na região (OREN, 2004).
A União Soviética ameaçou invadir Israel caso não se retirasse da Faixa de
Gaza e do Sinai. Os Estados Unidos, com o objetivo de evitar um conflito entre seus
aliados e a URSS, leva o caso a Assembleia Geral da ONU e critica duramente a
iniciativa inglesa e francesa, além de ameaçar cortar toda ajuda a Israel e promover
5 Tradução nossa: “implantou Israel em nosso território [e] esta apoiando a reação e impondo atraso
sobre nós."
39
a expulsão deste da ONU. O governo israelense acaba se retirando da Faixa de
Gaza e do Sinai em 9 de novembro de 1956. Apesar de ter conquistado vitória
militar, Israel perdeu diplomaticamente, enquanto Nasser se viu fortalecido, tornando
o pan-arabismo ainda mais forte.
Em 1957 um palestino denominado Yasser Arafat criou o primeiro grupo de
fedayins6 que dois anos mais tarde irá resultar no Fatah. O grupo foi criado em 10 de
outubro em um apartamento no Kuwait e estavam presentes delegados palestinos
provenientes de vários países árabes onde se encontravam refugiados. Arafat
declara: “Nós, palestinos, queremos um Estado independente e soberano, razão
pela qual temos de libertá-la pela força. Para nós, não há outra via.” (KAPELIOUK,
2004, p. 56).
Em 1961 Israel anuncia que irá desviar o rio Jordão e o lago Tiberíades para
o deserto do Negev. A operação estava prevista para começar em 1964. O rio
Jordão possui nascente no Líbano, Síria e Jordânia, e o plano é considerado uma
afronta pelos países árabes.
Na reunião de cúpula de Chefes árabes em 1964, Nasser propõe que os
Estados que possuíam as nascentes desviassem as mesmas. Na reunião, também é
votada a criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e do Exército
de Libertação da Palestina (ELP).
De acordo com Hroub (2008, p. 120), “[...] a OLP foi originalmente criada para
“libertar a Palestina”, ou seja, a terra onde Israel foi criado depois da guerra de
1948.”
Mesmo após onze anos do conflito em Suez, Nasser estava ciente da
superioridade militar dos judeus, portanto, esperava ajuda soviética no suprimento
de equipamentos militares.
Ainda em 1966, na Síria o partido pan-árabe Baath toma o poder e passa a
apoiar diretamente os combatentes palestinos do Fatah. A tensão entre Síria e Israel
aumenta, até se chegar à um combate aéreo em abril, no qual a Força Aérea
Israelense abate os aviões sírios.
Mais tarde, em maio de 1967, as forças de inteligência da URSS descobriram
que Israel havia posicionado tropas junto da fronteira com a Síria. Informação que
posteriormente se comprova ser falsa, porém já era tarde, Nasser, pressionado
6 Significa: os que se auto-sacrificam.
40
pelos sírios e jordanianos, envia tropas para o deserto do Sinai exigindo a retirada
da Força de Emergência da ONU7 e envia embarcações militares para fechar o
estreito de Tiran à navegação israelense.
Chukairi, líder da OLP, vai ao Egito informar que as tropa palestinas da ELP
estão prontas para o combate, “The Palestinian people were ‘straining for the fight...
The army of Egypt... now stands face to face with the gangs of Israel,’ and the Arab
nation was intent ‘on the liberation of the usurped homeland.’”8 (RUBIN, 1994, p. 12).
Em 5 de julho de 1967 Israel ataca o Egito. Levi Eshkol, primeiro-ministro de
Israel, promoveu uma blitzkrieg (guerra relâmpago) contra Egito - 309 dos 340
aviões egípcios foram destruídos pela força aérea israelense ainda em solo.
Também foram destruídos aviões sírios e jordanianos. No dia seguinte, Israel cruza
a fronteira do norte do Sinai, derrota o exército egípcio e no dia 7 de junho desce
com paraquedistas na parte jordaniana de Jerusalém.
O ministro da defesa, Moshe Dayan, perto do muro das lamentações, após a
conquista de Jerusalém oriental, declarou: “Esta manhã, a FDI libertou Jerusalém.
Nós reunimos a Jerusalém dividida. Retornamos aos lugares sagrados de Israel, e
voltamos com o objetivo de não sairmos nunca mais.” (CAMARGO, 2011, p. 441)
De acordo com a cronologia de Scalercio (2003), nos dois primeiros dias de
guerra, Israel derrotou o Egito que por sua vez recorreu à Jordânia, sendo esta
derrotada nos dois próximos dias. A Síria foi atacada e derrotada nos dois últimos
dias. Total: seis dias de guerra.
Inicialmente, as intenções de Israel não eram dominar a Cisjordânia, porém,
segundo o general Yitzhak Rabin, o conflito levou ao domínio natural (dito pelos
judeus) do território de Israel, o Jordão.
A ocupação das Colinas de Golã, no sul da Síria, não havia sido planejada e
ocorrera durante o conflito igualmente, devido a pressões da população ao norte de
Israel que não desejavam ficar à mercê das tropas sírias.
No final da Guerra dos Seis Dias, Israel conquista Cisjordânia, Gaza,
Jerusalém oriental, colinas de Golã e Península do Sinai. Os territórios ocupados por
Israel podem ser vistos no ANEXO J.
7 UNEF – United Nations Emergency Force. As Forças se encontravam na região desde a crise de
Suez para vigiar o cessar fogo. 8 Tradução nossa: “O povo palestino estava ‘se esforçando para a luta... O exército do Egito... agora
se coloca frente a frente com as gangues de Israel’ e as nações árabes objetivavam ‘a libertação de terra roubada.’”
41
Tanto a OLP quanto o Fatah pouco contribuíram para a guerra.
Com a guerra cerca de 200 mil a 250 mil palestinos fugiram da Cisjordânia
para a Jordânia, muitos deles refugiados pela segunda vez. Chukairi chegou até
mesmo a implorar para os palestinos não fugirem.
Israel propõe um acordo de paz com Egito e Síria em 19 de junho, retirando-
se dos territórios ocupados desde que no estreito de Tiran fosse garantida a
passagem e que as colinas de Golã não fossem militarizadas. Quanto a Cisjordânia,
Israel ficou divido entre a possibilidade de manter controle na região e dar autonomia
aos palestinos ou entregar parte da região para a Jordânia.
A conferência de cúpula árabe que aconteceu em 28 de agosto impossibilitou
qualquer reconciliação e ficou conhecida como a resolução dos “três nãos”: “não ao
reconhecimento de Israel; não à negociação e não à paz” (CAMARGO, 2011, p.
442). Em novembro de 1967, a ONU vota a Resolução 242 (ver ANEXO K) que
define a “retirada das Forças Armadas israelenses dos territórios ocupados” e o
“respeito ao direito de cada Estado na área de viver em paz dentro das fronteiras
seguras e reconhecidas, livres de ameaças ou atos de força” (CAMARGO, 2011, p.
442).
Israel só concorda em negociar se os países árabes o reconhecesse.
Obviamente os árabes não aceitaram. Como consequência, “a Cisjordânia e a Faixa
de Gaza permaneceram ocupadas e receberam vários assentamentos judaicos,
numa anexação de fato dos territórios palestinos.” (CAMARGO, 2011, p. 442).
Se a situação dos refugiados era crítica, agora, após a guerra, é além disso.
De acordo com os dados jordanianos, 250 mil palestinos9 fugiram da Cisjordânia
para a Jordânia, sendo boa parte deles, refugiados pela segunda vez. Os palestinos
que ficaram sob o domínio israelense da FDI não possuem direito à nacionalidade
israelense, logo, não possuem direitos. O tratamento obviamente é desigual para
com os palestinos. Segundo Scalercio (2003, p. 169), “os israelenses trouxeram o
problema palestino das bordas das fronteiras para dentro de casa”, pois a partir de
agora o problema palestino se constitui essencialmente de uma questão de
nacionalidade.
9 Para os israelenses esse número é de 175 mil. (OREN, 2004, p.363)
42
A guerra consolidou a participação dos soviéticos à favor dos árabes, assim
como a dos norte-americanos aos israelenses e expandiu o contexto regional para o
contexto mundial, lembrando que se vivia a Guerra Fria nessa época.
A Guerra dos Seis Dias conseguiu multiplicar o ódio palestino pelos sionistas.
Pode-se aqui fazer uma analogia ao mito grego de Hidra de Lerna: quando uma de
suas cabeças era cortada, duas nasciam em seu lugar. Aqui, novamente Israel
venceu a guerra, porém, mais uma vez as sementes estavam semeadas para uma
futura guerra.
Finkelstein (2003) escreve em seu livro, que há dois métodos para a
dominação israelense: a transferência de população ou o apartheid10. Com a
primeira guerra vê-se que o método empregado foi o da transferência para assim
criar um Estado com maioria judaica. Porém, com a dominação de Gaza e
Cisjordânia em 1967 a transferência não era mais uma opção, pois a Convenção de
Genebra de 1949 proibia a deportação de população sob ocupação. A via adotada
por Israel então foi a do apartheid, onde uma minoria colona judaica passaria a
dominar a maioria composta por nativos e refugiados palestinos.
Israel criou nos territórios ocupados um regime de separação baseado na discriminação, aplicando dois sistemas jurídicos diferentes na mesma área e baseando os direitos dos indivíduos em sua nacionalidade (FINKELSTEIN, 2003, p. 25).
2.6 A ÚLTIMA GRANDE GUERRA ÁRABE-ISRAELENSE
Com a morte de Nasser em 28 de setembro de 1970, em seu lugar assume
Anuar Sadat. Sadat está disposto a negociar com Israel pela reabertura do canal de
Suez em troca da desocupação israelense (acordo parcial). Porém a primeira-
ministra israelense Golda Meir, estava disposta a negociar somente com o Rei
Hussein, da Jordânia.
Com a morte de Levi Eshkol em 26 de fevereiro de 1969, Meir ocupa o cargo
de primeira-ministra e proíbe qualquer contato com a OLP. Intransigente, Meir chega
10
Modelo sul-africano onde uma minoritária população branca dominava a maioria nativa negra.
43
até mesmo a negar a existência dos palestinos, que segundo ela só existe “na
cabeça torta de alguns israelenses” (KAPELIOUK, 2004, p.116).
Sobre isso, Arafat diz (KAPELIOUK, 2004, p. 117):
Ficamos estupefatos, não podíamos acreditar em nossos ouvidos. Ela não era apenas cega, além disso tinha uma petulância extraordinária! Para nós, era a continuação de um complô que visava a nos fazer desaparecer do mapa: em 1948, eles começaram a nos expulsar; em 1967, ocupam o que resta da Palestina... e ainda por cima agora declaram que não existimos!
O Egito, com o objetivo de pressionar Israel, continua com a artilharia em
cima das tropas israelenses no Sinai, no que fica conhecido como “guerra de atrito”.
Golda Meir decide por responder com mais violência e comanda bombardeios em
pontos estratégicos no Egito.
Em 1969, Willian Rogers, secretário de Estado dos Estados Unidos, propõe o
“Plano Rogers” que consiste na reconsideração da Resolução 242 e num cessar-
fogo com o Egito. Golda nega o Plano e além de continuar com os ataques aéreos
ao Egito, manda construir uma linha para defesa no Sinai, nomeada Bar-Lev11. Os
ataques aéreos só cessaram quando os soviéticos forneceram armamentos para o
Egito se defender.
Com Golda como primeira-ministra, Israel conseguiu chegar ao ápice da
altivez no seu tratamento para com os palestinos, pois Israel, mais do que nunca,
estava convencido de sua superioridade militar e só iria negociar nos seus termos.
A líder israelense queria entregar a região da Cisjordânia e da Faixa de Gaza
para administração do Rei Hussein, que por sua vez além de ambas as regiões
queria ter Jerusalém como sua capital. Porém Golda não queria abrir mão da cidade
e deixa de buscar Hussein para negociar.
Sadat, então sem opções, planeja um ataque surpresa, não com objetivo de
vencer as forças israelenses, porém para criar condições para que Israel fosse a
mesa de negociações. No dia 6 de outubro de 1973, às 14h, dia do Yom Kippur12 em
Israel, Egito e Síria desfecham ataque em conjunto no canal de Suez e nas colinas
11
Nome do chefe de estado-maior da FDI. 12
Feriado judaico, também conhecido como Dia do Perdão. O período era também de Ramadan, mês sagrado para o islã onde se pratica o jejum.
44
de Golã respectivamente. A inteligência israelense sabia dos preparativos de guerra
de ambos países, porém Moshe Dayan, ministro da defesa de Israel, não achou
necessário um ataque preventivo.
URSS e Estados Unidos preocupados com as proporções do conflito,
interveem e firmam uma trégua em 22 de outubro, após 16 dias de conflito.
Com esse confronto, cai o mito da invencibilidade da FDI, que até então havia
vencido todas as guerras contras os árabes.
Foi instaurado uma comissão de inquérito em Israel para indicar os culpados
pela quase perda da guerra contra os árabes e chegou-se à conclusão em 1974 que
a própria Golda Meir e Moshe Dayan eram os culpados da falta de preparo das
tropas, mas a comissão acabou por culpar os líderes militares.
Em janeiro de 1974 saiu o acordo de desocupação militar egípcio-israelense e
mais tarde, em maio, sai o acordo sírio-israelense. Israel desocupa do lado ocidental
de Suez e mais 300 quilômetros do lado oriental, sendo que esta ficou dividida entre
Israel, Egito e forças da ONU.
De acordo com Camargo (2011, p. 447):
Assim, a Guerra do Yom Kippur abriu caminho para que, em 1978, o Egito de Anuar Sadat, e Israel, então liderada pelo ex-terrorista Menachem Begin, assinassem um acordo de paz mediado pelo presidente americano, Jimmy Carter. No plano político, a guerra sepultou de vez o pan-arabismo e a herança política de Nasser. Daí em diante, estavam plantadas as sementes do fundamentalismo islâmico do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e da Jihad (Guerra Santa), que cresceria nos territórios ocupados de Gaza e Cisjordânia.
A guerra do Yom Kippur foi o último grande enfrentamento no Oriente
próximo. A partir de agora, o conflito se torna assimétrico e os grupos insurgentes
palestinos irão ganhar maior destaque tanto na região como internacionalmente. Os
israelenses irão sentir o peso de suas políticas até os dias atuais.
Devido a guerra, os países “donos do petróleo” solidários aos países árabes
envolvidos, irão aumentar em 300% o preço do barril do petróleo para a Europa
Ocidental, Japão e Estados Unidos devido ao apoio prestado à Israel.
Com a ocupação de Israel na Cisjordânia e em Gaza, iniciaram-se os
polêmicos assentamentos. Surgiram os que eram contra a ocupação e que
45
defendiam a devolução das terras ao rei Hussein (nunca aos palestinos), porém,
haviam os idealistas que defendiam o estabelecimento da “Grande Israel”. É incrível
constatar que o número de soldados israelenses cresceu de 71 mil para 140 mil
soldados num período de oito anos após a Guerra do Yom Kippur (SCALERCIO,
2003, p. 206). O motivo? Controlar os territórios ocupados, o que para os
israelenses é sinônimo de segurança nacional.
46
3 REVOLUÇÃO ATÉ A VITÓRIA
Neste capítulo será abordado o nascimento e a histórica luta do Fatah e da
OLP em suas fases mais agressivas.
3.1 O NASCIMENTO DOS GRUPOS INSURGENTES
Como já mencionado anteriormente, o Fatah, primeira organização palestina
de renome, foi criado por Yasser Arafat em 1959 no Kuwait e como membros
fundadores também se encontravam Khalil al-Wazir (Abu Jihad), Salah Khalaf (Abu
Iyad), os irmãos Khalid e Hani al-Hasan e Kadumi. Os cinco serão o núcleo forte do
Fatah e da OLP por um longo tempo. Primeiramente o movimento recebe o nome de
Harakal Tahrir Falastin (Movimento de Libertação da Palestina), porém a sigla, HTF,
significa morte súbita, Arafat então altera a sigla para Fatah, que significa conquista
ou vitória. A princípio, o Fatah era composto em sua maior parte por estudantes. O
Carta do Fatah pode ser visto no ANEXO L.
O rancor dos palestinos por terem sido expulsos de suas terras se traduzia
em vontade de lutar e logo adotaram a guerrilha (também podendo ser denominado
terrorismo) como meio de ação, sendo qualquer pessoa ou localidade um alvo.
Cabe aqui colocar uma definição de terrorismo escrita por Scalercio (2003, p.
35-36):
De modo geral, são classificados de terroristas os grupos ou as associações de natureza privada que, com o intuito de concretizar suas finalidades – na maior parte das vezes objetivos políticos -, fazem uso da força letal sistemática promovendo ações como assassinato de adversários, lideranças políticas ou oficiais das forças de repressão, seqüestros, ataques com armas de fogo ou bombas contra prédios públicos, residências de personalidades ou mesmo atentados tendo como cenário vias ou edificações públicas que reúnam grandes contingentes de autoridades ou população civil. [...] Além disso, há autores que chamam atenção para a existência de um “terrorismo de Estado”, isto é, o poder público fazendo uso de suas forças de repressão com o fito de maltratar e coagir grupos de sua própria população.
47
Ainda de acordo com Scalercio (2003, p.175):
A lógica da tática de guerra palestina servia também como forma de conseguir o reconhecimento de sua autonomia como povo particular, primeiramente perante as demais nações árabes e em segundo lugar, diante do resto do mundo. Os palestinos não deveriam desejar que os egípcios, sírios e iraquianos lutassem por eles. Poderiam eles próprios levar adiante sua guerra, mas, para tanto, as nações árabes tinham de lhes fornecer suporte político, refúgios e dinheiro.
Logo, para Said (2006, p. 45) “nesse contexto, o terrorismo tem sido para os
palestinos a arma dos fracos e oprimidos.”
O objetivo primordial do Fatah a princípio era de libertar a totalidade da
Palestina, incluindo o território de Israel. “A única palavra de ordem é Tahrir
(‘libertação’): libertação da Palestina e fim da existência de Israel.” (KAPELIOUK,
2004, p. 60).
O Fatah logo de início enfrenta problemas. O povo palestino não possuía
conhecimento de sua existência e ao mesmo tempo o grupo não poderia se revelar
sem sofrer repreensão das autoridades árabes e israelenses. Os “irmãos árabes”,
que logo se mostraram não serem tão bons “irmãos”, não possuíam interesse em ver
os palestinos representados por uma facção armada e com vontade própria.
Para se fazer conhecido, o Fatah teve de tomar uma medida inovadora: um
jornal anônimo. O nome adotado para o jornal foi: Falastinuna – Nida al-Hayat
(“Nossa Palestina – Apelo da Vida”) (KAPELIOUK, 2004, p.61) e é impresso
clandestinamente no Líbano, com o apoio de libaneses ricos, para posteriormente
ser distribuído nos países onde se encontravam os refugiados.
A causa do Fatah à princípio era conquistar a Palestina através da luta e
somente por essa, portanto, as publicações de seu jornal tinham tiragens
revolucionárias como: “Vocês [palestinos] não terão honra, a não ser que obtenham
armas para libertar a sua terra. A unidade árabe tão desejada não poderá ser
realizada senão com a liquidação de Israel.” (KAPELIOUK, 2004, p.62).
Interessante apontar que as publicações, assim como os pronunciamentos de
Arafat, mesmo durante esse período “linha dura” (apostavam apenas na luta
48
armada) do Fatah, a religião nunca foi mencionada. A luta é por questões nacionais
e territoriais.
Paralelo ao Fatah é criada a Organização de Libertação da Palestina (OLP),
em janeiro de 1964 durante a reunião de cúpula de Chefes de Estado árabes no
Hotel Intercontinental, lado leste de Jerusalém. Também é criado um braço armado
para a organização, o Exército de Libertação da Palestina (ELP), porém as unidades
militares estariam sob comando dos países em que se encontravam, o que em tese
não irá garantir liberdade de ação.
Ahmad Chukairi é escolhido como primeiro presidente da OLP por Nasser,
que quer vincular a nova organização à seus interesses. Chukairi, proveniente de
uma família palestina próspera, serviu como diplomata saudita, até ficar do lado
egípcio na guerra do Iêmen13.
Em junho de 1964, é fundado o Conselho Nacional Palestino,
as well as its own army and treasury. [...] But these institutions were show-pieces designed to promote the Palestine issue through propaganda. Real power resided to –promote with Shuqayri and his handpicked PLO Executive Committee. (RUBIN, 1994, p.2).
14
O episódio irá contar com a participação de delegados palestinos de
diferentes países onde se encontram refugiados. Do Conselho, define-se a Carta
Nacional Palestina (ver ANEXO M), redigida exclusivamente por Chukairi:
Embora esta carta logicamente lembre os direitos dos palestinos, ela também pede que se ponha fim na “entidade sionista”, rejeita a participação e pede a libertação da Palestina. “Pretensões a respeito de ligações históricas ou espirituais entre os judeus e a Palestina não estão de acordo com os fatos históricos” – lê-se nela. Também se diz que o sionismo é um movimento “agressivo e expansionista”, “racista”, “fanático” e “fascista”. (KAPELIOUK, 2004, p. 70)
13
Guerra travada entre as monarquistas do norte do Iêmen, contra os republicanos revoltosos. Os monarquistas obtiveram apoio da Arábia Saudita, enquanto os republicanos pan-árabes foram apoiados pelos egípcios. 14
Tradução nossa: “bem como o seu próprio exército e tesouraria. [...] Mas essas instituições eram peças de espetáculos destinados a promover a questão da Palestina através da propaganda. O poder real residia com Chukairi e o seu escolhido Comitê Executivo da OLP.”
49
Interessante destacar que as ações do Fatah, conduzidas por Arafat, irão ser
direcionadas para o envolvimento dos países árabes no conflito. Arafat sabe que
atacar alvos civis, militares e institucionais não irão levar à derrocada de Israel, mas
essas ações manterão a “chama” do conflito acesa.
A primeira operação guerrilheira do Fatah será executada no dia primeiro de
janeiro de 1965, porém, como muitas mais no futuro, a operação é malograda.
Todas as primeiras operações do Fatah em 1965 falham, porém, o mais importante
é que a luta começou. Ao fim do ano, são contabilizadas 35 operações, que
consistem em sabotagem, implantação de minas e tiroteios. (KAPELIOUK, 2004, p.
79).
Internamente, surgem manifestações de oposição à guerrilha que tentam
impor o término das operações, entretanto, o maior problema do Fatah é o caixa,
logo, Arafat reconhece a importância de um apoio estatal financeiro. A Síria é onde
encontram ajuda. O coronel Hafez al-Assad do partido Baath, que estava no poder
após golpe de Estado, lhe fornece armamentos e dois campos de treinamento
militar. Chega até mesmo ser criado um novo grupo insurgente palestino controlado
pelos sírios, a al-Saiqa (“Raio”).
Porém, Egito e Jordânia se colocaram contra o Fatah e os libaneses chegam
até mesmo a prender membros do grupo.
Durante 1966, são empregadas várias operações dos grupos contra Israel e
este se vê obrigado a agir: anuncia que qualquer país árabe que permita operações
de guerrilha palestina será responsabilizado pelos ataques, especialmente no caso
da Jordânia, onde maior parte das operações eram maquinadas. A lógica do Fatah
sempre foi atacar dos países que mais se encontravam próximos de Israel, Líbano e
Jordânia no caso.
Com isso, Arafat vendo que seu objetivo de impulsionar os países para guerra
esta funcionando, procura ampliar os ataques, o que resulta na invasão de uma
aldeia jordaniana por israelenses. São mortos em torno de 20 civis e militares, e
cerca de 50 casas são destruídas (KAPELIOUK, 2004, p.85).
Ao fim de 1966, há uma reaproximação entre Síria e Egito devido ao conflito
israelense-jordaniano e ambos assinam tratado de mútua defesa. Agora o Egito
passa a apoiar o Fatah, os proclamando “patriotas”. (KAPELIOUK, 2004, p.85)
50
No dia 5 de junho de 1967 começa a guerra dos Seis Dias. Com a vitória
israelense e a anexação de vários territórios palestinos, o problema dos refugiados
se agrava. Arafat,
ainda que atribua a derrota a regimes incapazes de preparar suas tropas, [...] terá de admitir que sua estratégia – treinar exércitos árabes para conseguir a libertação da Palestina – deu errado.[...] “De agora em diante, um milhão de palestinos vivem sob a ocupação. Eles se revoltarão. O ocupante esta sentado sobre brasas.” (KAPELIOUK, 2004, p.88)
A derrota dos países árabes convenceu os palestinos que a derrota de Israel
seria efetivada somente com a guerrilha. Chukairi chega até mesmo a declarar que
os palestinos se utilizarão de terrorismo até que Israel deixa-se de existir, diz: “You
[Israel] are surrounded by a hundred million Arabs, who will never let Israel alone.” 15
(RUBIN, 1994, p.14).
Após o conflito, o Fatah estava dividido entre agir diplomaticamente ou
continuar a luta armada; acabaram por optar pela segunda opção e transferir o
quartel-general para os campos ocupados. O primeiro atentado após a guerra vai se
suceder no dia 31 de agosto de 1967.
Ao sul de Tel-Aviv, em Haifa, Arafat descobre várias casas que uma vez
abandonada pelos palestinos, foram habitadas por israelenses. Distribui então
panfletos em aldeias e cidade palestinas os incitando para a luta, dando até mesmo
instruções de como se rebelar. Por exemplo, no panfleto do primeiro dia de
setembro de 1967, é instruído:
com pedras grandes se podem barrar os eixos de comunicação israelenses, areia ou açúcar nos reservatórios de gasolina neutralizariam os veículos do exército, etc. Aprende-se também a fazer coquetéis Molotov e é formalmente proibido “escutar as emissões radiofônicas e ler os jornais do inimigo”...! (KAPELIOUK, 2004, p.94)
15
Tradução nossa: “Você [Israel] esta cercado por 100 milhões de árabes, os quais nunca deixarão Israel em paz”.
51
Arafat se viu forçado a deixar os territórios ocupados devido aos
interrogatórios do exército israelense e do Shin Beth (Agência de Segurança de
Israel). Do final de 1967 ao início de 1968, a atividade militar diminui e o Shin Beth
desmantela várias células do Fatah. A organização israelense chega até mesmo a
se infiltrar no grupo.
Ainda em 1967, a ONU irá votar a Resolução 242 acerca dos territórios
ocupados e diga-se de passagem que o problema dos palestinos é mencionada de
maneira bem “tímida”. Para Arafat,
Os palestinos não podem aceitar ver seus problemas e sua identidade nacional negados a esse ponto! Nada de direitos nacionais, nada de independência, nada de soberania! A resolução consente apenas em mencionar, na frase mais curta do texto, que será preciso encontrar “uma justa regulamentação para o problema dos refugiados” ... pessoas cuja nacionalidade sequer é mencionada! Será que não temos nome? Será esta “uma justa regulamentação”? Nós sabemos muito bem o que é isso: uma nova tentativa de integrar os refugiados aos países que os receberam. Não há sequer uma referência à resolução 194 da ONU, de 1948, sobre o direito de retorno ou às reparações. Esta resolução só pretende uma coisa: enterrar o problema palestino. (KAPELIOUK, 2004, p.100)
3.2 A UNIÃO ANTRE FATAH E OLP
Chukairi, presidente da OLP, tem seu nome associado à derrota de 1967 e é
pressionado a pedir demissão de seu cargo. Em seu lugar é eleito Yahya Hamuda,
apenas para o período de transição.
Arafat vai escondido aos territórios ocupados da Cisjordânia a fim de recrutar
combatentes para o Fatah, mas boa parte dos palestinos haviam sido influenciados
por correntes pan-arabes, comunistas, nasseristas e até do partido sírio Baath e com
isso não eram verdadeiros nacionalistas palestinos. Logo, a tarefa de Arafat se
mostrou muito difícil.
Ainda em 1967, o Fatah executa ataques contra Israel a partir da Jordânia.
Antes o objetivo dos ataques era de criar um clima propício ao enfrentamento dos
países árabes contra Israel, agora, após a Guerra, a intenção era impedir os árabes
de fechar acordo com Israel. Nesta época, além dos desentendimentos com a
52
Jordânia, “A ação da guerrilha palestina logo extrapolaria os limites do Oriente
Médio” (SCALERIO, 2003, p.178). De 1967 à 1970 houveram inúmeros ataques de
grupos radicais contra companhias aéreas ocidentais, a intenção era “pôr o
movimento palestino na ordem do dia mundial e conseguir publicidade”
(SCALERCIO, 2003, p.178). Os campos de treinamento estabelecidos no Líbano
pelo Fatah começaram a receber guerrilheiros do mundo inteiro, existindo conexão
até mesmo com o ETA e o IRA16. Dessa forma, o conflito no Oriente Médio tomou
proporções globais ao transmitir as técnicas de guerrilhas palestina.
De acordo com Rubin (1994) todas as noites soldados israelenses e
insurgentes se enfrentavam acerca do rio Jordão. Israel não conseguiu impedir
alguns ataques, mas com certeza impossibilitou a maioria. Com sua dificuldade em
efetivar os ataques, os guerrilheiros passaram a atacar civis. Entre 1967 e 1970, 115
civis israelenses morreram. A resposta de Israel era atacar bases palestinas
próximas ao Jordão.
Em 21 de março de 1968, um ataque bem sucedido mata dois estudantes e
fere 30 israelenses em Eliat (em Israel). Os israelenses vão então revidar o ataque
invadindo a aldeia de Karamé (localizada Jordânia) com blindados, aviação e
paraquedistas.
A operação fará 128 mortos do lado palestino, e dezenas de feridos. Serão destruídas 170 casas e 150 combatentes, feitos prisioneiros. A aviação israelense participou em massa do ataque, lançando 180 toneladas de bombas e uma centena de mísseis. A artilharia e os tanques do exército jordaniano responderam com fogo cerrado a esse ataque sobre seus 94 territórios, que fez 61 mortos e uma centena de feridos em seu campo. Do lado israelense, o exército perdeu um avião e teve de abandonar quatro tanques em campo. Trinta soldados são mortos e há 80 feridos. (KAPELIOUK, 2004, p.96)
O conflito de Karamé serviu como um “divisor de águas”: se antes os
palestinos não se encontravam engajados na luta, agora o Fatah irá atingir um grau
de popularidade como nunca visto antes. No enterro das vítimas, 60 mil pessoas irão
comparecer, transformando o evento fúnebre em uma grande manifestação em 16
ETA: Euskadi Ta Askatasuna, tradução: Pátria Basca e Liberdade. O grupo surgiu na Espanha, na região do chamado País Basco e luta por independência. IRA: Irish Republican Army, tradução: Exército Republicano Irlandês. Grupo criado na Irlanda do Norte que visava a separação do Reino Unido e reintegração com a Irlanda.
53
apoio aos fedayins. Muito jovens de alistam para serem combatentes e surgem
doações de sobra ao Fatah.
Na data de 14 de abril de 1968, pela primeira vez, o Fatah decide se expor
publicamente e divulgam em Damasco:
Yasser Arafat, de Jerusalém, solteiro, com idade de 38 anos, formado em engenharia civil, tendo em seu currículo um treinamento militar numa universidade do Cairo, é nomeado porta-voz do Fatah e seu representante para todas as questões oficiais de organização, finanças e informação. (KAPELIOUK, 2004, p.98)
Um ano após a guerra de 1967 ocorre a quarta reunião do Conselho Nacional
Palestino e nela se vê presente uma grande e nova geração de fedayins e devido a
sua influência, a OLP se tornará mais radical, a começar pelas alterações feitas na
Carta Nacional Palestina : é adicionado que a libertação da Palestina só irá ocorrer
através de lutar armada e que os fedayins são o cerne da luta; a primeira versão de
1964 dizia: “a Palestina é uma pátria árabe”, foi substituída por: “A Palestina é uma
pátria do povo árabe palestino”; quanto a nacionalidade, na primeira versão estava
afirmado que os judeus que viviam na Palestina na época do mandato britânico iriam
receber a nacionalidade, já na segunda versão, “somente os judeus que tinham
domicílio permanente na Palestina antes do início da invasão sionista [ou seja, em
1917, data da declaração Balfour] serão considerados palestinos.” (KAPELIOUK,
2004, p.103).
No Conselho Nacional Palestino decorrente (fevereiro de 1969), Arafat é
nomeado presidente da OLP. A estrutura da organização é alterada: o comitê
executivo, antes definido pelo presidente, agora tem de ser eleito pelo Conselho.
Arafat é caracterizado como um centrista nacionalista e a princípio acredita
que a Palestina será apenas reconquistada através de “blood and iron; and blood
and iron have nothing to do with philosophies and theories.” 17 (RUBIN, 1994, p.19).
Arafat não se importava tanto em negociar com países de fora, pois estava mais
preocupado em conquistar as massas palestinas, vestia-se até para isso: uniforme
militar e kaffiya18 na cabeça.
17
Tradução nossa: “sangue e ferro; e sangue e ferro não tem nada a ver com filosofias e teorias”. 18
É uma espécie de lenço que cobre a cabeça e que se tornou símbolo de Arafat e da luta palestina.
54
Surge também um debate quanto à criação de um Estado laico e
democrático, quanto a isso Arafat alega: “Nosso projeto preconiza a criação de um
Estado democrático na Palestina, onde viverão muçulmanos, cristãos e judeus. [...]”
(KAPELIOUK, 2004, p.105).
Na época de Chukairi, a OLP estava totalmente sob influência nasseriana,
porém, algum tempo após Arafat assumir, a organização se diversificou. Arafat
prezava acima de tudo a independência e liberdade de ação. Com isso, a OLP
conseguiu apoio financeiro no Golfo Pérsico; estabeleceu vínculo com o Irã xiita em
1979, após a Revolução Iraniana (isso ilustra que para Arafat a religião não é um
quesito tão importante, pois os palestinos são sunitas); e estabeleceu “ligação
orgânica entre a luta palestina e a maioria dos movimentos oposicionistas
progressistas do mundo árabe.” (SAID, 2011, p. 20-21).
Além de presidente da OLP, Arafat também assume a liderança do comando
de luta armada, sendo que mais tarde o mesmo vai unificar todas as facções
palestinas existentes, tornando a OLP representante dos palestinos tanto
politicamente quanto militarmente.
Agora que a OLP e o Fatah andam de mãos dadas, as operações de guerrilha
crescem de 916 em 1968 para 2.432 em 1969.
De acordo com Said, o Fatah
se considera (com razão, em minha opinião) um porta-voz da questão palestina; daí seu domínio sobre a OLP. [...] Por lidar com um senso cada vez maior da força das massas, o Fatah é, em outras palavras, o grupo político responsável com seus inimigos. O Fatah e, em particular, Arafat são pragmáticos, o que significa que eles dedicam tempo, atenção e competência às manobras e às táticas, e bem menos à ideologia e à estratégia disciplinada.” (SAID, 2012, p. 183-184)
A Argélia nesse momento se mostra o amigo mais sincero da OLP e Fatah. O
presidente argelino Boumediene doa dinheiro e armas e coloca à disposição de
Arafat, M’hammed Yazid que participou da guerra argelina e acumula experiência no
que concerne à diplomacia e política. O objetivo é que Yazid ajude a divulgar a
causa palestina para o mundo. (KAPELIOUK, 2004, p.111).
A URSS sempre possuiu uma opinião controversa quanto à Palestina:
apoiava a autodeterminação do povo palestino, porém defendia a Resolução 242,
55
isto é, não era contra a existência de Israel. Arafat procurou estabelecer
conversação com o país soviético e foi através de Nasser que conseguiu. Na
qualidade de membro da delegação egípcia, Arafat vai junto de Nasser conversar
com os soviéticos em julho de 1968. Apesar da posição soviética se manter firme à
Resolução 242, Arafat consegue negociar armamentos para o Fatah.
Arafat realiza uma segunda visita em fevereiro de 1970, porém é recebido
pelos soviéticos com discrição. A URSS não queria assumir lados.
Os partidos comunistas do Líbano, Iraque e Jordânia formam uma nova
organização de fedayins comunistas, com prévio acordo com o Kremlin. São
denominados al-Ansar (“os adeptos”). Por mais que a nova organização defendesse
a Resolução 242, Arafat os queria acolher na OLP, afim de conseguir maior apoio
soviético. A OLP acabou não aprovando a entrada do grupo e o mesmo veio a se
extinguir em 1973 sem ter feito algo significativo. (KAPELIOUK, 2004, p.114)
Com Golda Meir como primeira-ministra de Israel, começa a surgir um
concenso entre a direita israelense que consiste em deslocar os palestinos para a
Jordânia e colocar Arafat como presidente do país. Obviamente os palestinos negam
tal ideia, da mesma maneira que negam a possibilidade de criar um Estado palestino
em qualquer outro lugar do mundo. Porém, tal possibilidade irá durar por um bom
tempo na cabeça dos israelenses e jordanianos (que invés de Arafat, teriam o rei
hashemita governando). Posteriormente, as tentativas fracassadas da Jordânia ao
tentar anexar os palestinos como seu povo irá demonstrar o quão forte é a
identidade palestina e a sua vontade de autodeterminação.
Enquanto isso, no sul do Líbano, o Fatah passa a atacar o norte de Israel, se
tornando uma “pedra no sapato” dos israelense, a região chega inclusive a ser
chamada de “Fatah-Lândia” (KAPELIOUK, 2004, p. 118). Porém, os libaneses
temendo que os palestinos criassem um Estado dentro de seu Estado, irão combater
os mesmos. Devido a escalada do conflito, Nasser irá promover uma negociação
entre as partes, Arafat e o general libanês Émile Boustani. Fica acordado que o
Fatah pode atacar Israel a partir do Líbano, além de que haverá regulamentos no
país em que constarão questões sobre os refugiados e trabalho, residência e afins,
sem que necessitem de nacionalidade libanesa.
Porém, como toda grande causa existe oposição, entre os palestinos não será
diferente. A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) de Georges
56
Habache e a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP) de Nayef
Hauatmeh, ambos filiados à OLP serão contra o acordo da mesma com o Líbano.
Ambos os grupos possuem orientação marxista e não sonham apenas com a
criação de um Estado palestino, mas com a criação de uma nova sociedade. Arafat
tentava se manter o quão longe possível das políticas internas dos países árabes,
porém, na direção oposta, os grupos mencionados tomam partido nas políticas
internas dos países, trazendo desconfianças e enfrentamentos.
Nenhum país árabe aceitará ser mandado por um povo que acaba de chegar,
especialmente após a experiência tida com os europeus com o acordo de Sykes-
Picot, e seus inúmeros problemas internos devido a multiplicidade étnica e religiosa.
Além disso, a FPLP e a FDLP vão agir de forma “irresponsável”, executando
sequestros e ataques que culminam em mortes de crianças israelenses. Tais atos
atraem a opinião negativa da comunidade internacional.
3.3 A INSURGÊNCIA NA JORDÂNIA
Após a guerra de 1948, 70% dos habitantes da Jordânia é composta por
palestinos devido a anexação da Cisjordânia, e estes refugiados passam a contribuir
muito para o desenvolvimento econômico do país (SCALERCIO, 2003, p.177).
Porém o rei Hussein perde o domínio da Cisjordânia para Israel na guerra de 1967 e
passa a apoiar então os combatentes palestinos. Mas vale lembrar que sua intenção
nunca foi dar verdadeiro suporte aos grupos, mas sim ajudar a incomodar Israel por
meio destes.
Nessas condições, além de instalações militares na Jordânia, Arafat
consegue promover a construção de escolas, hospitais e demais instituições que
dão apoio aos refugiados palestinos. Porém, tais medidas somadas as ações
marxistas e radicais da “oposição”, geram desconfiança no rei Hussein que sente
sua soberania ameaçada.
O líder hashemita então toma medidas a restringir a liberdade dos palestinos
em seu território e chega até mesmo a atacar campos de refugiados. A resposta das
organizações marxistas foi criar o Comando Unificado da Resistência Palestina que
57
objetivava lutar contra as imposições do rei Hussein, alguns chegavam até mesmo a
defender a criação de um Estado palestino na Jordânia. Porém tal Comando é
substituído pelo Comitê Central da Resistência Palestina no Conselho Nacional
Palestino de junho de 1970, e a resistência fica totalmente sob controle da OLP.
Em 19 de junho de 1970, o Plano Rogers, a princípio negado por Golda Meir
um ano antes, é aceito por Israel, Egito e Jordânia. A aceitação por parte dos árabes
revoltou os palestinos insurgentes. Nos campos de refugiados da Jordânia
comandados pelos marxistas, ocorrem manifestações contra Nasser colocando um
burro com uma máscara do mesmo. Essas movimentações irão levar também a
deterioração da já debilitada relação jordaniana-palestina.
Abu al-Hol, representante do Fatah no Egito convoca Arafat para uma reunião
com Nasser. Este então declara que Israel propôs se retirar do Sinai contando que
os egípcios cortassem relação com os palestinos e o mundo árabe. Nasser aceitou,
porém, contraditoriamente alega que não irá largar a causa palestina: “A Palestina é
um problema egípcio antes de ser um problema árabe-palestino.” (KAPELIOUK,
2004, p. 124-125).
Arafat então retorna à Jordânia e defende Nasser, alegando que o aceite
diplomático do Plano Rogers não atrapalhará a luta palestina.
Em resposta, os grupos mais radicais começam a agir mais intensamente. Em
1970 invadiram um hotel e tornaram os hóspedes reféns; sequestraram aviões;
tentaram matar o rei Hussein; tornaram a cidade de Irbid, a segunda maior cidade da
Jordânia, exclusiva de sua posse; e por fim planejaram greve geral em Amã, capital
do país.
Após insistência de sua Legião e por medo de ser destituído, o rei Hussein se
prepara para atacar Amã, sob o comando do palestino Muhammad Daud. Arafat
busca apoio de outros países árabes e 24h antes do ataque, todos os comandos
militares palestinos são unificados. O ataque começa no dia seguinte em Amã e à
campos de refugiados, além de atacar Irbid.
Arafat tenta entrar em contato com o rei Hussein a fim de negociar um cessar-
fogo, porém não o consegue por negligência do rei hashemita que ignora Arafat
propositalmente. O conflito apenas se encerra quando o general Nemeiri, presidente
do Sudão, consegue negociar o cessar-fogo entre OLP e forças jordanianas, em 25
de setembro de 1970.
58
Dois dias depois, Arafat e Hussein assinam um cessar-fogo sob supervisão
de Nasser no Cairo. Porém, no dia seguinte, Nasser morre de ataque cardíaco, indo
por terra os avanços de outrora.
O conflito faz 3.500 mortos e 20.000 prisioneiros palestinos. Esse
acontecimento ficou conhecido como o Setembro Negro. (KAPELIOUK, 2004, p.
127)
Por mais que haja um acordo assinado, Arafat não confia nos jordanianos.
Wasfi at-Tal (também palestino) é o novo comandante da Jordânia e irá efetuar a
erradicação dos fedayins do país em novos combates em julho de 1971. Os
palestinos sobreviventes foram obrigados a fugir para a Síria ou o Líbano.
Por outro lado podemos ver que há um ponto positivo nessa intervenção
jordaniana, afinal, a intenção dos palestinos era ter sua terra de volta ou criar um
Estado em outro local? Nesse quesito, a expulsão de todos os grupos insurgentes
da Jordânia impediu que estes desviassem seu verdadeiro objetivo, que era
reconquistar a Palestina.
Em 1971 surge um dos grupos mais emblemáticos da década: o Setembro
Negro. O grupo é composto por dissidentes do Fatah. Entre vários ataques
promovidos pelo Setembro Negro, o que tem mais notoriedade é o sequestro de
nove atletas da delegação israelense em Munique, nas Olimpíadas de 1972. O
objetivo era trocar os reféns por 250 palestinos que se encontravam cativos em
Israel. Moshe Dayan alega que Israel não cede a intimidação e com isso nega a
troca. Os reféns acabam sendo mortos e o mundo condena a o ato terrorista. As
represálias de Israel veem em seguida: bombardeiam 11 campos de refugiados,
fazendo mais de 200 vítimas. Somado à isso, em missão secreta no Líbano, Israel
mata membros da OLP e Fatah. (KAPELIOUK, 2004, p.138)
Uma vez erradicados os fedayins da Jordânia, o rei Hussein se propõe a
representar os palestinos da Cisjordânia e propõe o “Reino Árabe Unido”, união
entre Jordânia e Cisjordânia. Para Arafat, esse papel pertence à OLP e condena o
rei a querer roubar a identidade palestina.
Com os acontecimentos na Jordânia, Arafat chega à conclusão que a luta
armada não deve ser o único meio de ação, mas continuaria sendo o principal. Aqui
se vê um reconhecimento indireto de Israel, pois os palestinos admitem que a
criação de um Estado palestino deveria passar pelo reconhecimento de Israel.
59
Analisando o Fatah, desde sua criação, o grupo já havia mudado
consideravelmente. Arafat, nos primórdios, era contra a criação de escolas e
hospitais para os palestinos, pois com isso, estes iriam se acomodar e deixar de
lutar e chegou até mesmo a criticar a ação da UNRWA19. Em sua trajetória, o Fatah
não só integrou a OLP, mas agora reconhece os meios diplomáticos e políticos.
Futuramente, ainda veremos que ambas as organizações ainda irão mudar muito
mais à medida que vão “amadurecendo”.
Surge também nesse contexto, a Frente Nacional Palestina, primeiro órgão de
representatividade palestina nos territórios ocupados. O objetivo destes era criar um
Estado palestino nos territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza, logo, já vemos uma
grande mudança nos interesses apresentados até então: a intenção já não é mais
erradicar Israel do mapa.
Em 1973 ocorre a Guerra do Yom Kippur, no qual os palestinos tiveram uma
participação bem modesta. “Depois do cessar-fogo, a ONU fez votar a Resolução
338 (ANEXO N) do Conselho de Segurança que exigia a aplicação da Resolução
242 e o empenho nas negociações que levariam à paz.” (KAPELIOUK, 2004, p.143)
A OLP passa então a ter status na comunidade internacional. Primeiramente
é reconhecida como a representante oficial do povo palestino na 4ª cúpula dos
países não alinhados, em setembro de 1973 e posteriormente a OLP obtém seu
reconhecimento ratificado na sexta cúpula árabe em novembro do mesmo ano. Na
cúpula árabe seguinte, a OLP é definida de uma vez por todas como a única
representante dos palestinos, enterrando de vez o plano hashemita de unificar seu
reino à Cisjordânia.
Porém, o reconhecimento mais importante estava para acontecer em outubro
de 1974. Os países membros da ONU reconheceram a OLP “como movimento de
libertação nacional” (KAPELIOUK, 2004, p.154), no total, 105 países concordaram
com a participação do mesmo na Assembleia Geral em Nova York. No dia 13 de
novembro. Arafat abre a Assembleia com o célebre discurso:
19
Órgão da ONU implantado após a guerra de independência que visava auxiliar os refugiados palestinos lhes dando empregos e alimentos.
60
Vim com um ramo de oliveira numa das mãos e na outra um fuzil de revolucionário. Não deixem o ramo verde cair da minha mão [essa frase foi repetida três vezes na tribuna da ONU]. A guerra explodiu na Palestina, mas é na Palestina que a paz nascerá. (KAPELIOUK, 2004, p. 155)
Arafat discursa também sobre a democracia em um futuro Estado palestino e
expõe que a igualdade seria estabelecida até aos judeus. E ainda, condena a
partilha da Palestina: “A Assembleia Geral fez a partilha do que não tinha o direito de
partilhar, uma pátria indivisível. Quando rejeitamos essa decisão, nossa posição
correspondia à da mãe natural que recusou permitir que o rei Salomão cortasse seu
filho ao meio [...]” (KAPELIOUK, 2004, p.156)
Aos americanos Arafat diz (KAPELIOUK, 2004, p.156):
Peço de todo o coração que vocês façam seu o direito e a justiça, que se lembrem de George Washington, do heroico Washington cujo objetivo era a liberdade e a independência de sua nação, e também de Abraham Lincoln, herói dos pobres e dos deserdados, e também de Thomas Woodrow Wilson, cuja doutrina em 14 pontos continua atual e objeto de veneração por nosso povo.
O representante de Israel, Joseph Tekoa, logo após Arafat discursar, toma a
palavra e ataca:
A OLP continuará sendo o que ela é e onde ela está: fora da lei e fora da Palestina. [...] Ao optar pela OLP, a Assembleia Geral optou pelo terrorismo, pela selvageria. [...] É falso pretender que os palestinos tenham sido privados de um Estado nacional ou que tenham sido desenraizados. A Jordânia é a Palestina, geográfica, étnica e historicamente; sem os palestinos, que constituem a maioria da população, a Jordânia seria um Estado sem povo. (KAPELIOUK, 2004, p.157)
Do lado de fora, o povo americano se manifestou contra: “Arafat, go home”20.
À isso, Arafat responde:
20
Tradução nossa: “Arafat, vá para casa.”
61
Eu pergunto ao povo americano se as manifestações de hostilidade e belicismo que se desenrolam diante deste grandioso palácio refletem suas verdadeiras intenções... [...] Go home...? É exatamente o que eu quero: voltar para o meu lar, a minha pátria! (KAPELIOUK, 2004, p.156-157)
Pela Resolução 3.236, em 22 de novembro de 1974, é reconhecido o direito
do povo palestino de autodeterminação e soberania. Na Assembleia, a OLP recebe
o status de observadora na ONU.
Um ano mais tarde, a ONU publica a Resolução 3.379 na qual classifica o
sionismo como forma de racismo, porém a mesma é abolida em dezembro de 1991.
3.4 PERSEGUIDOS NOVAMENTE E O ABANDONO DO MAIOR ALIADO
Após os acontecimentos na Jordânia, o Líbano torna-se o destino dos
refugiados e fedayins. Assim como na Jordânia, o Fatah irá construir escolas,
hospitais, centros de assistência à população e até uma pequena indústria que
fornecerá trabalho aos palestinos. Em consequência, os campos de refugiados
passam a adquirir independência das leis do Líbano, sendo que a OLP administra e
cria as leis. Até mesmo uma bandeira palestina21 flutua nos campos.
Porém a situação política no Líbano antes mesmo dos palestinos chegarem
não é estável devido as divisões internas do país. Cabe aqui fazer um pequeno
adendo sobre essa situação. Havia no país a seguinte divisão (SCALERCIO, 2003,
p.220-223):
Cristãos maronitas: compunham 700 mil da população libanesa e eram o mais
ricos e influentes no país. Controlavam a região norte do Líbano e a parte
Oriental de Beirute, capital libanesa. Era composto por 4 famílias principais,
sendo a família Gemayel que possui a milícia Falange, a mais importante;
Muçulmanos sunitas: representados por cerca de 700 mil pessoas;
Muçulmanos xiitas: composto por 1 milhão de pessoas, habitavam o sul do
Líbano e eram os mais pobres;
21
Criada em 1964, alguns meses depois da criação da OLP, ainda na época de Ahmad Chukairi.
62
Gregos-ortodoxos: cerca de 400 mil pessoas; prestaram apoio à OLP durante a
guerra.
O país era composto ainda por armênios, protestantes e refugiados
palestinos, que chegavam a somar 500 mil. Em Beirute, há bairros inteiramente
tomados pelos palestinos com direito à manifestações e desfiles de fedayins.
Assim como aconteceu na Jordânia, o governo do Líbano não viu com bons
olhos a ocupação palestina. Como meio de intimidação, em maio de 1973 o exército
libanês ataca campos de refugiados palestinos causando centenas de mortes. Arafat
consegue negociar a paz, porém o acordo não durará muito tempo e o clima de
conflito durará por anos.
Em abril de 1975, um ônibus lotado de palestinos é atacado na parte cristã-
maronita do país, tal acontecimento é visto como o primeiro ataque da guerra civil
que irá consumir as energias de todos os lados envolvidos. Mesmo após
negociações, não se chega à um acordo: de um lado ficam os cristãos maronitas, de
outro a OLP aliada a partidos de esquerda e grupos muçulmanos.
Os falangistas da família Gemayel, se aproximam cada vez mais dos
israelenses, enquanto as outras três famílias cristãs-maronitas se aliam à Síria. O
conflito de aliados logo ficará evidente. Em janeiro de 1976, as famílias aliadas aos
sírios atacam os campos de refugiados Dbayê, Jisr al-Basha, Nab’a e Karantina,
causando a morte de centenas, em sua maior parte de civis. Em resposta, os
fedayins ocupam a cidade cristã de Damour, derrotando as tropas cristãs. Por hora
os fedayins aliados aos muçulmanos e a esquerda levam a melhor, enquanto as
famílias decidem por se unir à Falange.
O objetivo dos cristãos libaneses era claro: extirpar os comandos da OLP e
outros grupos de seu território, e promover o deslocamento de refugiados para
outras regiões.
Porque a Síria, então “patrocinadora” da OLP, iria se envolver no conflito
contra seus apoiados? Há dois motivos: como já exposto anteriormente, a Síria
nunca buscou prestar apoio a população palestina, mas sim dominar sua estrutura
militar; segundo, existia na Síria uma corrente de pensamento que visava unir o país
ao Líbano, formando assim a “Grande Síria”. Como um dos inimigos mais
arrefecidos de Israel, a Síria apenas viu vantagens ao se aliar ao Líbano, porém
essa se tornará uma péssima ideia.
63
A Falange então irá buscar apoio bélico em Israel, que segundo Kapeliouk
(2004, p.162) esta sempre pronto “para intervir no mundo árabe”. Anos antes, tal
aliança era inimaginável.
Em quatro semanas os maronitas conseguem dar a volta por cima e dominam
quase a totalidade do Líbano. Os palestinos que estão ao sul do país se encontram
em relativa segurança, pois a Síria (que reforçou a sua frente) não pode se
aproximar da fronteira de Israel, traçando a chamada “linha vermelha” (KAPELIOUK,
2004).
No campo de refugiados de Tall az-Zaatar, esgotados em todos os sentidos,
os palestinos entregam sua rendição em 11 de agosto de 1976, para no dia seguinte
serem arrasados pelos falangistas. O massacre, um dos mais terríveis da história
palestina, soma mais de duas mil vítimas.
Nenhum “irmão árabe” veio prestar auxílio aos palestinos e os ataques
continuaram até que Arafat implorou ao príncipe Fahd da Arábia Saudita para
intervir. Em 18 de outubro de 1976 é assinado o cessar-fogo.
Diferentemente da Jordânia, no Líbano os palestinos não tem para onde fugir.
Neste ponto da história palestina, após seus sofrimentos que não parecem ter
fim, até mesmo os radicais irão flexibilizar, pois vê-se claramente que suas atitudes
pouco estão adiantando para fundar o país palestino ou se não atraindo mais
inimizades, como ocorreu na Jordânia.
Em 17 de maio de 1977, quando então a situação parecia ter se estabilizado,
acontece uma reviravolta em Israel: o partido trabalhista dá lugar aos nacionalistas
de direita do Likud, com a nomeação de Menachem Begin para primeiro-ministro.
Begin pregava o estabelecimento de um Israel dos dois lados do Jordão e para isso
estimulará os assentamentos no território. A OLP a seu ver deveria ser eliminada.
Com um Egito que sabia se impor após a guerra de 1973 (mesmo tendo
perdido conseguiu destaque), Israel então irá ceder e sentar-se à mesa de
negociações. Os encontros começam sigilosamente em 1977 até ser assinado em
17 de setembro de 1978 os Acordos de Camp David com a participação dos Estados
Unidos.
As negociações abordaram dois pontos: a devolução do deserto do Sinai
tomado por Israel em 1967 e a questão dos territórios palestinos. Em 25 de abril de
64
1982, Israel cumpre o primeiro ponto e recua do Sinai, porém desobedece o
segundo e mantém a ocupação em Gaza.
Como único país a efetivar um acordo de paz com Israel (por ora), o Egito é
excluído das negociações do mundo árabe. Para os palestinos, apenas lamentos.
Arafat recorda:
No começo tive uma impressão esquisita, o país mais importante do mundo árabe de repente abandona sua família e passa para o inimigo! Aos poucos, nós conseguimos superar o choque. Tínhamos a impressão não de sermos órfãos, mas de estarmos abandonados. Nós nos sentimos sem pai quanto Gamal Abd na-Nasser nos deixou... (KAPELIOUK, 2004, p.177).
Sadat acabou assassinado durante uma parada militar em 1981. Os
assassinos pertenciam a um grupo fundamentalista palestino denominado Jihad
Islâmica.
A Jihad Islâmica foi formada por membros insatisfeitos do Fatah, da
Irmandade Muçulmana22 e de outros grupos nacionalistas/marxistas, no início de
1980. Foi influenciada também pela Revolução Islâmica ocorrida no Irã ao fim da
década de 1970. A Jihad irá unir duas vertentes à sua causa: o nacionalismo da
OLP e a religiosidade da Irmandade Muçulmana e adotará a violência como meio de
ação. Durante a década de 1990 e 2000 a Jihad executou muitos ataques suicidas,
vindo até mesmo a superar o Hamas durante a Intifada. Porém, o grupo não faz
questão de ter participação política, pois acredita que as eleições desviam a energia
que devia ser empregada na luta militar.
Apesar do acordo de paz com Israel, Sadat se esforçou para encontrar uma
solução para o problema palestino, além de trazer relativa paz para a região, já que,
sem o Egito, os demais países árabes não enfrentariam Israel no campo de batalha
novamente.
22
“O mesmo que Moslem Brotherhood Group. A Irmandade Islâmica [ou Muçulmana] é uma organização que se caracteriza pela indissociação de todos os conceitos islâmicos nos diversos aspectos da vida: desde a cultura, a arte, a informação, a política, a economia, a educação, a sociedade, a justiça e o julgamento, até à ciência do oculto, a expansão do Islão, a crença e a conversão ao Islão.” (SANTOS, 2008, p. 107).
65
Visando os palestinos, nos acordos de Camp David é aceita a Resolução 242
em sua totalidade por Israel, mesmo estando relutante. Nos territórios ocupados da
Cisjordânia e Gaza se estabelece que:
uma “autoridade autônoma livremente eleita pelos habitantes dessas regiões” deve substituir a administração civil e o governo militar israelense. As modalidades do estabelecimento dessa autoridade e seus poderes serão negociados entre Israel e a delegação egípcia e a jordaniana, que “poderiam compreender os palestinos das regiões consideradas, assim como outros palestinos, como será mutuamente convencionado” (KAPELIOUK, 2004, p.179-180)
Arafat alega que tal acordo não concede nenhuma soberania aos palestinos:
[...] O que se propõe aos palestinos nesse acordo de Campo David é uma nova escravidão por período indeterminado [...]. Basta citar os discursos de Begin à Knesset vangloriando-se de ter obtido três vitórias ao assinar os acordos de Camp David: um ‘não’ definitivo para a OLP, um ‘não’ definitivo para o Estado palestino, e uma só bandeira, israelense, em Jerusalém. (KAPELIOUK, 2004, p.180)
Antes mesmo de Camp David ser assinado, o conselheiro do presidente
americano Carter, Zbigniew Brzezinski irá provocar: “Tchauzinho, OLP...!”
(KAPELIOUK, 2004, p.177). Tal ação desmedida irá desencadear uma sequência de
ações que levará à invasão do Líbano pelos israelenses. A declaração de Brzezinski
leva Arafat a organizar uma nova operação - em de março de 1978, 11 fedayins
partem para uma missão em Israel, porém são pegos antes de concluírem seu
plano, no entanto, 34 civis israelenses são mortos. Esse será o estopim: como
represália Israel decide invadir o sul do Líbano e causa a morte de muitos fedayins.
Ariel Sharon, ministro de Defesa israelense, anuncia a invasão do Líbano. O
objetivo é eliminar a OLP e impelir os refugiados no Líbano para a Síria e a Jordânia,
para a “verdadeira pátria dos palestinos” (KAPELIOUK, 2004, p.188) alega Sharon.
Os israelenses objetivam também colocar no poder o líder falangista Gemayel, o já
mencionado aliado.
66
Ciente da iminente guerra, Arafat coloca todas as forças palestinas em
prontidão em maio de 1981. Dois meses depois Israel começa a ofensiva contra
alvos da OLP localizados ao sul do Líbano e em Beirute. Após 6 dias sem reação
(Arafat ordena que a OLP não ataque devido ao temor de represálias), a OLP
contra-ataca lançando mísseis no norte de Israel, mais especificamente na vila de
Nahariya. Esse era o pretexto que Israel precisava para radicalizar os ataques.
A “sexta-feira negra” ficou marcada pelos bombardeios israelenses à Beirute
onde muito civis tanto palestinos quanto libaneses perderam suas vidas e o
escritório da OLP foi destruído.
Pela parte da OLP os bombardeios se intensificam a ponto de evacuar
cidades israelenses pela primeira vez na história do país. Após 14 dias de combate
e inúmeras vítimas do lado libanês, a ONU publica uma resolução de cessar-fogo
entre Israel e OLP viabilizado pelo diplomata norte-americano Philip Habib.
O Plano Fahd foi elaborado pelos sauditas e condicionava: “evacuação dos
territórios ocupados, desmantelamento das implantações judaicas, direito dos
palestinos a um Estado independente, direito ao retorno do refugiados.”
(KAPELIOUK, 2004, p.192-193). O plano é bem aceito no Ocidente, porém entre os
árabes havia controvérsias, pois o parágrafo 7 versava: “reconhecimento ao direito
de todos os Estados da região a viver em paz” (KAPELIOUK, 2004, p.193). Isso
abarca Israel. Arafat, se vê divido entre aceitar o plano e seus aliados se virarem
contra si, ou simplesmente perder a oportunidade de ver a autoridade da OLP ser
reconhecida ao não aceitar. Por fim, não toma decisão alguma.
Sharon tentava de todas as maneiras incriminar a OLP de violação do cessar-
fogo na fronteira com Israel, para assim adentrar mais a fundo no Líbano e erradicar
a estrutura do grupo para fins de defesa nacional, afirmava. O americano Philip
Habib declarou em resposta:
General Sharon, estamos no século XX e os tempos mudaram [...] Vocês não podem sair por aí invadindo países dessa forma, espalhando destruição e matando civis. No final, sua invasão progredirá para uma guerra com a Síria, e toda a região será tragada em chamas. (SHLAIM, 2004, p.453)
67
Em três de junho de 1982, o grupo palestino Sabri al-Banna, liderado por Abu
Nidal23, atira no embaixador israelense em Londres, Shlomo Argov, ferindo-o
gravemente. Abu Nidal era um declarado inimigo de Arafat, referindo-se a ele como
“o filho da judia”. Embora o ataque tenha ocorrido por parte de um inimigo da OLP e
o objetivo inicial não fosse atirar no embaixador, mas no secretário-chefe da OLP, a
Begin não interessa, pois para ele “Todos eles são OLP” (SHLAIM, 2004, p. 456).
Logo, esse acontecimento era o que estava faltando para Israel agir. Como comenta
Kapeliouk (2004, p.197), “ninguém observa que o atentado de Londres não parecia
ter qualquer coisa a ver com uma violação do cessar-fogo na fronteira libanesa”.
Sharon havia providenciado dois planos de invasão: “operação Pinheiros” e
“Grandes Pinheiros”. O primeiro seria de invadir o sul do Líbano e extirpar a OLP e
os refugiados do território, enquanto o segundo plano era de seguir até a capital do
Líbano, expulsando as tropas libanesas e colocando o líder falangista, Bachir
Gemayel no poder. Assim, Gemayel selaria a paz com Israel e a OLP seria
eliminada de todo o território libanês.
Em junho de 1982 começa a guerra. O nome que Begin dá a operação é “Paz
na Galiléia” (KAPELIOUK, 2004, p. 198). Porém ao ver de Finkelstein (2003. p. 29),
o slogan de Israel ao entrar no Líbano era “erradicação do terrorismo palestino”.
Segue relato de Kapeliouk (2004, p. 199), que na época do conflito, se
encontrava como jornalista no Líbano:
Os campos de refugiados do sul do Líbano são os alvos preferenciais dos israelenses. Ainda me lembro do campo de Ein al-Hiluê, a leste de Saída, em que fui um dos primeiros jornalistas a entrar. Do 40 mil refugiados que viviam no campo, restavam apenas 2.000 quando cheguei. Centenas haviam perecido sob os bombardeios, milhares tiveram de fugir para o norte. Paisagem de devastação: nenhuma casa intacta. Entre as ruínas, como fantasmas, crianças, mulheres, velhos. Às vezes, em uma construção destelhada, grupos de gente e sua matalotagem. “Veja só a minha casa”, me disse um homem de uns 60 anos, apontando para o que não passava de um monte de pedras. Os grafites pelas paredes (“Palestina árabe”-“A OLP vencerá”) e os retratos de Arafat estavam crivados de balas.
As tropas palestinas ao sul são derrotadas. Após cinco dias do início do
conflito, Israel derrota a Síria que ainda se encontrava em solo libanês, destrói toda
23
“Especializado no atentados contra os ‘traidores árabes’, os judeus e os israelenses, Abu Nidal comete atentados no mundo inteiro.” (KAPELIOUK, 2004, p.197)
68
a infraestrutura social destinada aos palestinos e chega às portas de Beirute. Arafat
acusa a Síria24 de não ter combatido seriamente Israel e as forças da ONU25 de
cumplicidade.
Em Israel, a opinião pública, militar e governamental começa a se voltar
contra a guerra de Sharon. Afinal, era necessário seguir até Beirute para garantir a
segurança de Israel? Os próprios soldados expressavam a incoerência que aquele
conflito representava. O coronel Elie Gueva, foi o primeiro a se posicionar
oficialmente contra e pediu demissão de seu cargo; posteriormente pilotos se
negaram a atacar e paraquedistas a saltar sobre Beirute. Por parte dos civis, surge
grandes manifestações contra a guerra em Tel-Aviv, vindo a formar o movimento
que perdura até hoje, o Paz Agora.
Nos Estados Unidos, os rumos mudam, Alexander Haig, secretário de Estado
e um simpatizante discreto dos israelenses é substituído por George Shultz, que
nomeia Philip Habib para ser mediador. Logo, Habib esclarece seu plano: Arafat e
suas forças seriam evacuados da cidade sob supervisão de uma força multinacional
composta por americanos, franceses e italianos.
Porém, mesmo após o início das negociações, Israel continua agindo: no
primeiro dia de agosto de 1982, ocorre mais um episódio negro na história dos
palestinos e também dos libaneses sob o cerco de Beirute: o “domingo sangrento”
ou o “domingo do inferno”, onde Israel bombardeia por 10 horas seguidas as
localidades de Beirute Ocidental. Duas semanas mais tarde, Israel bombardeia por
15 horas o mesmo local, no que ficou conhecido como a “quinta-feira negra”,
somando mais de 300 vítimas.
Os “irmãos árabes” novamente não se pronunciaram em momento algum
durante o conflito e isso traz a conclusão: “buscar aliados, sim – contar com os
outros não.” (KAPELIOUK, 2004, p. 202). Até mesmo o aliado soviético da OLP se
negou a auxiliar os palestinos.
Kapeliouk, numa entrevista com Arafat durante o cerco, o questiona sobre a
ameaça que um Estado palestino representaria à segurança de Israel, Arafat rebate
(2004, p.208): “Ridículo! Não compreendo essas afirmações! Israel é a força militar
24
A Síria assina o cessar-fogo com Israel em 11 de junho. 25
A missão da ONU é denominada UNIFIL (United Nations Interim Force in Lebanon) e foi criada em 1978, continua em funcionamento até hoje.
69
mais poderosa do Oriente Próximo. Será que se pode temer um Estado palestino
que precisará muitos anos para conseguir se manter em cima dos pés?”.
O plano de Habib é aceito por Arafat, após pressões libanesas e o acordo é
assinado em 19 de agosto.
Sob proteção internacional, chegando no dia 21 de agosto, 15 mil combatentes deixam Beirute pelo porto e pela estrada de Damasco. Milhares de vítimas, três meses de resistência encarniçada diante de um inimigo que no final das contas não invadiu a cidade. (KAPELIOUK, 2004, p.210).
Arafat segue em direção à Grécia, Abu Iyad e Abu Jihad (os já mencionados
co-fundadores do Fatah) seguem para Damasco e cerca de 9 mil fedayins ficam sob
controle sírio à nordeste do Líbano. Arafat fica na Grécia apenas um dia e ruma à
Tunísia.
As forças internacionais de proteção aos civis partiram tão logo a OLP se foi.
Sharon em contato com Gemayel, logo coordena a destruição dos campos de
refugiados de Sabra e Chatila, para de acordo com o que afirma Gemayel, criar em
seu lugar um parque ou zoológico. (KAPELIOUK, 2004).
Gemayel conseguiu ser eleito presidente, porém foi assassinado três
semanas mais tarde pelos sírios. Isso arruína com os planos de Israel de selar a paz
com mais um país árabe.
Israel então domina finalmente a cidade de Beirute e dá livre passagem aos
maronitas para entrarem nos campos de Sabra e Chatila e iniciarem o horror que
durará por dois dias (15 e 16 de setembro). A desculpa dos israelenses para permitir
tal ato é porque ainda havia terroristas dentro dos campos; tal afirmação não
possuía comprovação alguma. A FDI cercou os campos e colocou holofotes em seu
entorno, enquanto cerca de 150 maronitas massacravam os supostos “terroristas”.
Famílias inteiras são alinhadas contra um muro e executadas. Cabeças de crianças são arrebentadas contra os muros. As mulheres são violentadas diante de suas famílias, antes de serem todos assassinados. Alguns são poupados, com certeza para que sirvam de testemunhas – e para que convençam os palestinos a deixar o Líbano. (KAPELIOUK, 2004, p. 219)
70
O número estimado de mortos nos campos é de 3.000. Em Israel a população
se revolta novamente contra os atos de Sharon. Em Tel Aviv 400 mil israelenses
protestam. Em decorrência, será aberto um inquérito para determinar os culpados do
ocorrido e Sharon é responsabilizado. Apesar disso, Sharon não irá ser punido de
maneira alguma, pelo contrário, chega até mesmo a ser primeiro-ministro de Israel
posteriormente.
Arafat, furioso, vai atrás de explicações para o ocorrido e ouve do ministro
italiano das Relações Exteriores:
Os americanos exerceram pressão sobre nós [...]. Na época, entrei pessoalmente em contato com o secretário de Estado George Shultz. Ele me declarou que os americanos haviam decidido sair da cidade porque não desejavam assumir a responsabilidade pelo que aconteceria em Beirute. (KAPELIOUK, 2003, p. 221).
Israel acaba por se retirar do Líbano, mas deixou um novo inimigo para trás, o
Hezbollah. O grupo, formado por xiitas do sul do Líbano, à princípio era a favor da
invasão dos israelenses, porém logo se voltaram contra a presença israelense em
solo libanês. Se antes, era a OLP que atacava o norte de Israel, agora esse papel
cabe ao Hezbollah e Israel continua não tendo paz. Fica claro que a intervenção de
Israel até o interior do Líbano não contribuiu para a segurança do Estado israelense.
Como resultado da guerra no Líbano, Ariel Sharon foi destituído do ministério
da defesa, porém se manteve na política israelense. No sentido contrário, Menachen
Begin se afasta da vida política e em seu lugar assume Yitzhak Shamir.
Segundo Scalercio (2003), a guerra irá mostrar um lado positivo para a OLP,
mesmo com a sua derrota. Com os choques do petróleo, os países do Golfo foram
inundados por petrodólares e passaram a contar com uma grande quantidade de
riquezas. Arafat conseguiu convencer os emires e xeques do Golfo a fornecer
dinheiro para a causa Palestina. “A lógica que governava as cabeças dos emires do
petróleo é fácil: abrir mão de algum dinheiro e, com isso manter os palestinos à
distância, entretidos com suas turras com Israel.” (SCALERCIO, 2003, p.241).
Acontece que o dinheiro subiu à cabeça de algumas personalidades da OLP.
Andavam em carrões de última linha e davam ostentosas festas, até mesmo jovens
71
estudantes palestinos passaram a gozar de uma vida universitária fácil. Enquanto
isso, os palestinos residentes em Gaza e Cisjordânia sofriam com a ocupação
israelense.
Logo, a guerra serviu para dar um choque de realidade nos palestinos que
viviam no Líbano e os lançarem novamente para sua causa original. Além disso,
assim como ocorreu na Jordânia, os palestinos estavam começando a criar Estado
dentro de Estado, a guerra os impediu de concretizar tal ação.
Uma semana antes do episódio nos campos de refugiados, durante a Cúpula
de Fez, o plano Fahd finalmente é aprovado; os palestinos poderiam fundar seu
Estado em Gaza e Cisjordânia, tendo Jerusalém como sua capital; a OLP é
mencionada (nunca foi incluída em acordos sobre a criação de um Estado até então)
e a paz entre os países seria vigiada pelo Conselho de Segurança.
Em relação à Jordânia, devido ao grande número de palestinos refugiados no
país, Arafat reestabelece laços com o Rei Hussein. Porém, com os sírios os
negócios não iam tão bem. A verdadeira intenção dos sírios sempre foi tomar os
fedayins pra si e sem Arafat por perto, agora tudo foi facilitado. Arafat teve de ir à
capital síria, Trípoli, mediar a situação e se vê num conflito com as forças sírias.
Consegue deixar o país após a França e a Arábia Saudita intervirem e leva consigo
4 mil combatentes. Porém, para onde ir? Arafat então toma uma medida audaciosa e
unilateral: retomar relações com o Egito, que até então se encontrava excluído do
mundo árabe devido a Camp David. Sua ação causa muitas controvérsias, pois não
consultou o alto comando da OLP, mas Arafat necessitava de um lugar para levar
seus fedayins, e pesa na balança também a importância e a força do Egito dentre
todos os árabes.
Os egípcios podem ter fechado um acordo com Israel, mas sem dúvida foi o
país árabe que mais deu apoio à causa palestina, sendo que até mesmo em Camp
David tentou defender os interesses palestinos. Obviamente cabe os
questionamentos: mas e se a OLP tivesse resolvido se instalar nos territórios
egípcios, no lugar da Jordânia e do Líbano? e se os palestinos tivessem tentado
criar um Estado dentro do Estado egípcio? A situação teria sido semelhante ao
ocorrido nos outros dois países?
72
3.5 ENFIM O POVO SE LEVANTA: LÁ VEM A INTIFADA
No Líbano o assunto ainda não foi encerrado. Nos campos de refugiados
voltaram a se assentar parcas forças da OLP. A Síria irá financiar o grupo xiita Amal,
para promover a “guerra dos campos (de refugiados)” e assim passar a combater à
OLP. Chatila, onde os maronitas já estiveram presentes, recebe novamente a “visita”
dos inimigos, só que desta vez dos xiitas. Gradualmente, o Hezbollah, a FPLP e a
FDLP passam a reforçar a resistência palestina nos campos. Cerca de três mil
pereceram nessa fase do conflito até a paz ser estabelecida com o Amal em 11 de
setembro de 1987.
Na Tunísia, Arafat se vê obrigado a dispersar as tropas da OLP pelo Sudão,
Iêmen do Norte e Iraque após o incidente no qual Israel ataca o quartel-general da
OLP na Tunísia em retaliação ao assassinato de três israelenses, que segundo Abu
Iyad, eram espiões. Era evidente que os tunisianos iriam exigir medidas de Arafat e
dispersar as tropas foi a ação tomada.
Enquanto a OLP e outras organizações travavam suas guerras militares e
diplomáticas com Israel no exílio, quem realmente pagava o preço eram os
habitantes de Gaza e Cisjordânia, que desde a ocupação israelense de 1967, viviam
sob autoridade militar dos mesmos. Imaginava-se que os residentes26 já haviam se
resignado com a ocupação devido a sua calma. Porém, ao contrário do esperado,
algo ocorre nos territórios ocupados:
A aparente apatia não foi suficiente para apagar o surdo ressentimento
alimentado por duas décadas de vexames, revistas, desapropriações
forçadas e arrogância da autoridade militar. Em 1987, soou a hora da
Intifada. (SCALERCIO, 2003, p.243)
A data exata de início da Intifada é nove de dezembro de 1987 em Gaza e no
dia seguinte na Cisjordânia. O pivô foi o ocorrido um dia antes: um caminhão
israelense atropelou intencionalmente 11 palestinos em Gaza, matando quatro. Os
26
Residentes aqui se refere aos habitantes dos territórios ocupados.
73
envolvidos no acidente já haviam passado por desentendimentos anteriores.
Durante o funeral, o descontentamento é grande e os soldados percebem esse
“clima” de revolta e ficam a postos no cemitério. O jovem palestino Hatem El-Hassin
fica indignado com a presença israelense e atira uma pedra contra os soldados,
estes, por sua vez, acabam metralhando o jovem. Esse foi o estopim que leva seis
mil refugiados do campo de Djabalyah27 a se revoltarem. Um jovem manifestante
explica:
Nosso dia começa ao amanhecer nas filas de espera da inspeção corporal, onde os soldados nos esbofeteiam ou nos dão pontapés. Em seguida, vem um dia de trabalho duro, por um salário irrisório, junto a um empregador israelense. Na volta, de novo policiais e soldados, as filas de espera, as humilhações. E agora, não contentes em nos brutalizar, os israelenses nos assassinam, nem ao menos por ocasião de uma manifestação, mas simplesmente quando voltamos do trabalho! (KAPELIOUK, 2004, p.252)
As autoridades israelenses não levam a sério a revolta que toma proporções
cada vez maiores, acreditam que logo irão se acalmar e enviam agentes do Shin Bet
para achar o líder da revolta, porém, os agentes voltam de mãos vazias. Não havia
líderes. “Aquele era um levante geral da própria população” (SCALERCIO, 2003,
p.246).
Sharon, com sua usual presunção, dará uma festa de inauguração de sua
casa localizada num bairro muçulmano de Jerusalém. Com essa provocação, a
insurreição chega até Jerusalém.
Jovens invadem a rua principal, a Salah ad-Din, lutam com as forças
policiais, queimam as sucursais dos bancos israelenses. A repressão é
brutal: cassetetes são distribuídos aos soldados, com a ordem de serem
usados “conforme necessário”. (KAPELIOUK, 2004, p. 253)
A liderança palestina do exílio ficou surpresa com a insurgência e Arafat logo
viu ali uma oportunidade. Começa a coordenar a Intifada e estabelece que não será
utilizado armas de fogo, pois isso desencadearia em massacres como resposta
27
O maior campo de refugiados de Gaza.
74
israelense. Logo, as “armas” adotadas são as pedras, dando o nome à insurreição
de a “Revolta das Pedras”.
A Intifada adota a desobediência civil como meio de ação,
os funcionários palestinos do governo militar e civil israelense – professores,
policiais etc – pedem demissão, os mukhtars (chefes das vilas) rompem
todos os contatos com o poder israelense e ao mesmo tempo é decretado o
boicote aos produtos provenientes de Israel. (KAPELIOUK, 2004, p. 254).
Abu Jihad assume como o comandante militar da Intifada e passa a ser alvo
prioritário de Israel. Em 16 de abril de 1988 é assassinado por 4 soldados
israelenses. Seu corpo foi crivado por 70 balas. A reação palestina se intensifica, e
Abu Jihad vira o símbolo da insurreição.
É nesse contexto que surge o Hamas, fundado pelo xeque e professor de
religião Ahmed Yassin. “A palavra árabe ‘Hamas’ significa ‘zelo’ e serve também
como sigla para ‘Movimento de Resistência Islâmica’” (SCALERCIO, 2003, p.247),
além de que tem sua ideologia fundada na Irmandade Muçulmana. O Hamas a
princípio obtém autorização das autoridades israelenses para funcionar, pois estes
acreditam que um movimento religioso enfraqueceria o nacionalismo palestino e sua
luta por autodeterminação.
Os governantes de Israel seguem firme em sua postura de não negociar,
apenas reprimir, porém, os soldados começam a ficar desgostosos com a situação.
“Três meses de Intifada havia transformado a vida dos soldados israelenses que
serviam nos territórios em um verdadeiro inferno. A hostilidade partia de todos os
lados e nenhum sossego era possível.” (SCALERCIO, 2004, p. 249). Os judeus
colonos que simbolizavam o máximo do sionismo e do desejo da “Grande Israel”
agiam de maneira provocativa: se postavam em frente dos insurgentes para serem
feridos com as pedras e assim dar uma desculpa aos soldados para agirem de
maneira violenta, porém os mesmo odiavam essa postura dos colonos. Além disso,
segundo Scalercio (2003, p. 250), os soldados passavam por “dramas de
consciência” e como ocorreu no Líbano, os soldados começaram a se recusar
cumprir as missões.
75
Os problemas com os colonos ortodoxos não era recente, eles acreditavam
que aos árabes era indevido estar ali e que as terras pertenciam aos judeus por
“promessa divina”. Por parte do governo israelense, os assentamentos ajudavam a
realizar a “revolução demográfica” nos territórios. Para garantir a segurança dos
colonos, era necessário manter postos de segurança e fiscalização dos territórios
palestinos, e como já visto, isso contribuiu para a revolta. Havia também problemas
quanto a divisão dos recursos hídricos, 40% encontrava-se nos territórios ocupados
e palestinos e colonos disputavam seu acesso (SCALERCIO, 2003, p.252).
Com a revolta palestina, o rei Hussein acaba por abdicar da Cisjordânia por
completo e reconhece a OLP como a “representante única e legítima do povo
palestino” (KAPELIOUK, 2004, p. 258). Com isso, o parlamento jordaniano é
dissolvido, já que metade era composta por palestinos; senadores são destituídos; é
cortado o investimento econômico na Cisjordânia; e 23 mil trabalhadores palestinos
deixarão de receber salário. A OLP agora é responsável por tudo.
Bassam Abu Sharif, próximo de George Habache entrega à mídia um Dossiê
de 20 páginas. Comparado com as ações radicais da FLPL no passado, esse dossiê
é algo totalmente inovador. Um trecho diz:
A chave de um acordo entre os dois protagonistas reside em negociações entre israelenses e palestinos. Estes últimos prefeririam escolher seu interlocutor israelense. Sem a menor dúvida, em um mês poderíamos chegar a um acordo satisfatório com o movimento Paz Agora, mas temos a consciência do fato de que um acordo com esta formação não constitui um acordo com o Estado de Israel. Como estamos em busca de um acordo com Israel, estamos prontos a negociar com o Partido trabalhista de Shimon Peres ou com o Likud de Yatzhak Shamir, ou com quem os israelenses escolham como representante. (KAPELIOUK, 2004, p. 260)
Com os acontecimentos, Arafat decide redigir uma declaração de
independência, reconhecendo o Estado de Israel e a Resolução 242 da ONU.
Porque só agora reconhecer a resolução? Porque a Jordânia renunciou seu domínio
sobre a Cisjordânia, logo, se Israel se retirasse dos territórios, a OLP e somente esta
assumiria.
Em Estrasburgo, no Parlamento Europeu, Arafat discursa em setembro de
1988:
76
Tenho um recado para todos os filhos do povo judeu, israelenses e seus filhos: transmitam-lhes meus votos de chana tova [“feliz ano novo” em hebraico]. O que busco, o que Israel e todos nós precisamos, é um De Gaulle israelense. Eu me dirijo a todos os israelenses: nós propomos a paz para todos, nas próximas eleições votem pelo campo da paz, votem pelos que não brandam o estandarte da guerra. (KAPELIOUK, 2004, p.261-263)
A resposta israelense para um Plano de Paz veio através dos seguintes
pontos colocados por Yatzhak Rabin:
1. Fim imediato da Intifada. 2. Um período de trégua de duração de três a seis meses e, depois desse espaço de tempo, eleições para que os palestinos residentes escolhessem seus representantes. 3. Negociações entre Israel, jordanianos e os líderes eleitos pelos palestinos para combinar uma forma interina de autonomia. 4. Negociações finais para o estabelecimento do status definitivo dos territórios ocupados. (SCALERCIO, 2003, p.255)
Se antes os israelenses não deram crédito à Intifada, agora o levante passar
a ser mais uma “pedra no sapato” de Israel. Quanto ao segundo ponto, não existe
nada de inovador. O ponto três mostra a vontade de Israel de ainda envolver a
Jordânia no conflito, mesmo esta tendo se abnegado da Cisjordânia. O ponto quatro
apesar de tocar na questão do status dos territórios não garante a autodeterminação
dos palestinos. O plano foi rejeitado.
A Intifada acabou se estendendo por seis anos (de 1987 a 1993) e a situação
nos campos ficou extremamente precária. Foi estabelecido toque de recolher, a
circulação de palestinos foi limitada, as universidades fechadas e o sistema de
saúde ficou comprometido.
Segundo a indagação de Oren (2004), não seria agora a hora de negociar? A
Muralha de Ferro de Jabotinski define que primeiramente os árabes teriam de estar
dispostos a conversar, somente assim Israel sentaria à mesa de negociações.
Porém, o “núcleo” sionista que se encontra no poder de Israel esta comprometido
em manter sua “Grande Israel” e não se mover, por mais que houvesse
personalidades dentro do próprio governo que queria a paz. Estava na hora de
77
negociar a paz por terras. Segundo Scalercio (2003, p.253), os únicos que poderiam
cessar os assentamentos era os governantes israelenses.
78
4 FINALMENTE UM ESTADO PALESTINO?
Neste capítulo será abordado a nova fase da OLP que reconhece a
importância de um acordo de paz com Israel. Para se chegar a isso a OLP terá de
recuar de sua proposta original. Porém, outros grupos aqui tomarão grande
destaque devido à sua negação à Israel e à OLP e Fatah, vindo até mesmo a
enfrenta-los. Nesse ponto fica clara uma cisão entre os interesses palestinos.
Arafat irá declarar a independência da Palestina na 19º reunião do Conselho
Nacional Palestino, mais precisamente da data de 15 de novembro de 1988. Arafat
anuncia: “O Conselho Nacional Palestino, em nome de Deus e em nome do povo
árabe-palestino, proclama a criação do Estado da Palestina sobre a nossa terra
palestina, tendo por capital Jerusalém, a gloriosa!” (KAPELIOUK, 2004, p. 266). Em
um ano, 127 países terão reconhecido o Estado palestino. Porém, os
reconhecimentos que fazem real diferença é dos Estados Unidos e Israel, e que não
serão fáceis de conseguir.
Em dezembro de 1988 Arafat assina a Declaração de Estocolmo, no qual
determina que a OLP esta disposta a negociar a paz com Israel e aceitar as
Resoluções 242 e 338; que irá respeitar as fronteiras e a paz; e renuncia e condena
os atos de terrorismo vindos de qualquer parte que seja.
No mesmo mês Arafat comparece à Assembleia Geral da ONU e fala para
Israel: “Peço aos dirigentes de Israel para virem aqui, sob a égide das Nações
Unidas, para conduzir a ‘paz dos bravos.’” (KAPELIOUK, 2004, p. 269). O assento
de observador da OLP na organização tem seu nome alterado para Palestina no
mesmo dia.
Em 14 de janeiro de 1991, dois dias antes da guerra do Golfo se iniciar, Abu
Iyad, um dos fundadores do Fatah é assassinado. Iyad era o homem político da OLP
e responsável pelo contato com a oposição palestina. Israel alega que o palestino já
figurava na lista de suspeitos desde o sequestro e assassinato dos atletas em
Munique, pois o considerava membro do grupo que executou o ataque, Setembro
Negro. (KAPELIOUK, 2004).
Em 1990, Sadam Hussein, presidente do Iraque, anexa o Kuwait, colocando
assim Estados Unidos e praticamente todos os países árabes contra si. Hussein
79
declarou que apenas aceitaria a resolução da ONU para se retirar do território caso
Israel também cumprisse todas as resoluções (entre 1967 e 1973) impostas pela
organização. O Iraque acaba derrotado e expulso do Kuwait.
Durante toda a guerra o único representante árabe a seu favor foi Arafat.
Devido a isso, a imagem de Arafat e da OLP foi afetada e a população palestina no
Kuwait sofre sérias represálias devido a escolha de seu líder: “tortura, deportação,
prisões arbitrárias e execuções sumárias eram comuns.” (SAID, 2012, p. 19).
Após os Estados Unidos sair vitorioso da Guerra do Golfo, George Bush
reconhece a importância de uma negociação de paz entre palestinos, demais países
árabes e israelenses e para isso, nomeia James Baker, seu Secretário de Estado,
para a tarefa. A dificuldade para se chegar às negociações foi imensa. Israel só
aceitava negociar em separado com os países árabes e com os palestinos caso
interrompessem a Intifada e os ataques contra Israel. Já os países queriam o
contrário de Israel: negociar numa conferência internacional e com os palestinos
representados. Baker, tentando contornar a situação, chama todos para uma
conferência no qual a situação do território não seria discutida, apenas questões
como meio-ambiente, armamentos e etc.
Para que os israelenses fossem à mesa de negociação, Baker teve de
associar a delegação palestina (composta de residentes dos campos de refugiados
não membros da OLP) à jordaniana.
Porém a intransigência israelense logo se faz presente nas negociações em
Washington: não queria ceder os territórios ocupados e tão pouco cessou os
assentamentos durante a negociação. Para agravar ainda mais a situação das
negociações, a delegação palestina se encontra com Arafat, tornando público o fato
deste estar por trás da posição palestina na negociação.
Para piorar, ocorre o atentado em Tel-Aviv, executado pelo palestino Abu
Abbas, o qual mata apenas palestinos, mas já serve como justificativa para Israel
paralisar as negociações. Segundo Said (2011, p.38), o que realmente influenciou
na paralização foram os lobbies judaicos nos Estados Unidos.
Contudo, outras negociações que terão maior impacto ocorriam
simultaneamente em segredo em um castelo da Noruega.
80
4.1 NEGOCIAÇÕES NA NORUEGA
Graças ao deputado trabalhista israelense Yossi Beilin e o norueguês Törje
Roed Larsen, as conversações de paz entre Israel e OLP tem início. A princípio, as
negociações contam com a participação dos noruegueses Larsen e o ministro das
Relações Exteriores Johan Jörgen Holst; dos israelenses Beilin, Yair Hirschfeld e
Ron Poundak; e dos membros da OLP Abu Ala e Hassan Asfur.
Os encontros se iniciam em 20 de janeiro de 1993 e a negociação chegará a
seu fim após 200 horas e 20 encontros. (KAPELIOUK, 2004, p. 310).
Do lado de Israel se encontrava o professor Haifa Yair Hirschfeld e do lado da
OLP Abu Ala representava. O norueguês Larsen oferece um castelo na Noruega
para realizar as negociações em sigilo. A princípio o assunto a ser abordado é a
economia, porém, o assunto muda rapidamente para a questão territorial:
o processo de paz só iria adiante se os temas relativos à autonomia palestina, à questão do status definitivo dos territórios e às garantias para a segurança de Israel fossem os temas centrais resolvidos e acordados (SCALERCIO, 2003, p. 264).
Arafat logo ficou interessado quando foi informado das negociações em
segredo e os israelenses tiveram de admitir que um acordo sem a OLP não seria
possível, devido aos parcos avanços em Washington.
Então, em Oslo, os israelenses lançaram a proposta “Gaza primeiro” na qual
Israel passaria a autonomia da região para mãos palestinas. Porém os palestinos
temiam que ficaria apenas por isso e Arafat contrapôs incluindo Jericó (por fazer
parte da Cisjordânia), que foi aceita pelos israelenses, logo o projeto se torna “Gaza
e Jericó primeiro”. (KAPELIOUK, 2004, p. 311).
Em primeira instância ficou acordado que Israel se retiraria dos territórios
ocupados de Gaza e uma Autoridade Nacional Palestina (ANP ou AP) assumiria; a
força policial que zelaria pela ordem viria da OLP, “mas Israel continuaria a controlar
toda a responsabilidade no campo da segurança externa e nas fronteiras”
(SCALERCIO, 2003, p. 266).
81
Ao mesmo tempo, no resto da Cisjordânia, Israel começaria a transferência de importantes funções públicas para os palestinos, inicialmente em cinco esferas: educação, saúde, bem-estar social, impostos e turismo. Em nove meses, seriam convocadas eleições na Faixa de Gaza e na Cisjordânia para a formação do Conselho Palestino, que reuniria todas as funções governamentais, excetuando a defesa e guarda de fronteiras. As partes concordaram em dar início, dentro de um prazo de dois anos, a conversações finais que definiriam permanentemente o status dos territórios, e no máximo em cinco anos deveriam chegar a um acordo definitivo. Em última análise, de acordo com a declaração de princípios, Israel se comprometia a encerrar seu domínio sobre as vidas de dois milhões de palestinos residentes nos territórios. (SCALERCIO, 2003, p. 266)
Os acordos tiveram duas partes: primeiro o reconhecimento de existência
entre Israel e OLP; o segundo foi a Declaração de Princípios.
De acordo com Shlaim (2004, p. 580-581):
Em sua carta a Rabin, Arafat observava que a assinatura de Declaração de Princípios marcava uma nova era na história do Oriente Médio. Depois confirmava o compromisso da OLP de reconhecer o direito de Israel de viver em paz e segurança; aceitar as Resoluções 242 e 338 do Conselho de Segurança da ONU; renunciar ao uso do terrorismo e a outros atos de violência; e modificar as partes da Constituição Nacional Palestina que eram incoerentes com esses compromissos. Em resposta concisa a Arafat, de uma única frase, Rabin confirmava que, levando em consideração esses compromissos, o governo de Israel decidira reconhecer a OLP como a representante do povo palestino e começar negociações com ela no processo de paz do Oriente Médio.
Porém, alguns pontos essenciais foram deixados de fora: a questão da volta
dos refugiados, problema que perdura desde 1948; Jerusalém, aclamada pelos
palestinos como sua capital; e o mais polêmico, os assentamentos judaicos. A
relação entre judeus colonos e palestinos era inconciliável e fica a questão: a ANP
regularia a relação entre colonos e palestinos na região que lhe seria entregue?
Dificilmente, os colonos não colaborariam, logo, a solução efetiva seria retirar os
assentamentos, porém, como já mencionado, essa questão nem sequer foi
abordada.
Segundo Finkelstein (2003, p. 23-24), o apoio dado ao Iraque, colocou a OLP
“à beira da falência” e as intenções norte-americanas e israelense com os Acordos
82
de Oslo era “criar um bantustão palestino acenando para Arafat e a OLP com os pré-
requisitos do poder e do privilégio.”
As críticas não tardaram. Do lado palestino muitos criticaram os pontos não
abordados e o contrassenso que isso gerava, além de não ser discutido a criação de
um Estado de fato. Do lado israelense, o Likud, ortodoxos e colonos criticavam pelo
mesmo motivo de sempre: “Grande Israel”. Mas aqui cabe colocar um dado
interessante: “Uma pesquisa de opinião do Gallup, [...] indicou considerável apoio
popular ao primeiro-ministro. Dos mil israelenses entrevistados, 65% aprovaram o
acordo de paz e apenas 13% descreveram-se como ‘bastante contrários’ a ele”
(SHLAIM, 2004, p.583). Disso, tira-se uma conclusão clara: maior parte do povo de
Israel estava disposto de abrir mão da “Grande Israel” em troca da paz.
Do lado palestino, a OLP estava expressamente dividida, além dos outros
grupos palestinos (FPLP, FDLP, Hamas e Jihad Islâmica) serem claramente contra;
a principal crítica se dava ao fato de Arafat não ter negociado exatamente a criação
de um Estado palestino. Mas para Arafat, esse era apenas o primeiro passo; ele
realmente acreditava que a partir de Oslo, um caminho para o Estado palestino
estava traçado.
Para Edward Said (2012, p. 11), a assinatura de Oslo foi a “renúncia de Arafat
e de seu grupo às demandas históricas e legítimas do povo palestino, uma renúncia
confirmada mais tarde pela Autoridade Palestina, com o Fatah à frente.”
Arafat estava ciente das limitações dos Acordos de Oslo, mas afirma:
Acredite, é o máximo que pudemos obter, e é o máximo que eles puderam nos dar. [...] Não se prenda muito a este ou aquele detalhe. Olhe para a frente, para o futuro. Nós assinamos uma declaração de princípios por um período temporário de autonomia em Gaza e Jericó. Dentro de alguns meses, a direção do povo palestino voltará a entrar na Palestina em cima de tapete vermelho. Nas próximas semanas, uma bandeira palestina flutuará pela primeira vez na história sobre nossa terra palestina, sem que um único soldado israelense ouse retirá-la. Teremos um passaporte e, num futuro mais distante, teremos a nossa moeda. Dentro de um ano, serão eleitos o Conselho da Autonomia, ou seja, um Parlamento, e também o presidente o presidente da Autoridade Palestina. Em cinco anos terminará a retirada israelense [...]. (KAPELIOUK, 2003, p.321).
Há de se convir que os Acordos de Oslo, apesar de suas lacunas, é um
grande avanço para o povo palestino. Após se chegar a conclusão que a luta
83
armada não iria trazer de volta suas terras, a política é utilizada como o principal
meio pela OLP e reconhecem que Israel é o único com quem adianta negociar.
Logo, se chega à conclusão que um Estado palestino somente poderá ser criado no
momento que Israel ceder. A pergunta que fica é: isso algum dia irá acontecer?
Os colonos israelenses chegam a publicar uma brochura que se lê
condenação aos Acordos de Oslo: “Dia virá em que os judeus encerrarão essa
dança macabra apelidada de processo de paz e arrastarão perante a justiça os
criminosos da paz.” (KAPELIOUK, 2004, p. 341)
Mas, críticas à parte, o acordo foi aprovado internamente por ambas as partes
e em 13 de setembro de 1993, o acordo foi assinado por Yasser Arafat e Yitzhak
Rabin, primeiro-ministro de Israel, tendo como cenário a Casa Branca e o presidente
estadunidense Bill Clinton como condutor.
A posição americana quanto a paz no Oriente Médio sempre foi pró-Israel. A
Intifada nesse quesito chegou para mudar opiniões e determinar novas políticas. A
pressão americana sob Israel fez diferença, pois Rabin, ávido combatente da causa
sionista, provavelmente não teria assinado o resultado das negociações de Oslo.
Para Shlaim (2004), os países árabes sempre se mostraram solidários para
com a Palestina, razão pela qual nunca negociaram com Israel. Porém, com os
Acordos de Oslo, agora não haveria mais motivos para hostilidades.
Os acordos de Oslo passaram a ser efetivados em 1994 quando “uma força
da OLP constituída por trinta homens foi admitida em Gaza para iniciar a transição”
(SCALERCIO, 2003, p. 270). Porém, em fevereiro do mesmo ano ocorre um
atentado que irá conturbar o processo: um ortodoxo radical, Baruch Goldstein, irá
assassinar 29 muçulmanos que oravam na Tumba dos Patriarcas e só parou quando
uma turba palestina o mata. Nesse ano irão começar as represálias dos
fundamentalistas através dos ataques-suicidas. “A ação suicida de Goldstein (pois
evidentemente ele não poderia esperar sair vivo do recinto) seria respondida por
uma sequência de ataques suicidas de muçulmanos fundamentalistas ansiosos pelo
martírio.” (SCALERCIO, 2003, p. 270). De acordo com a esposa de Goldstein, o
objetivo do marido era de pôr fim ao processo de paz.
84
Goldstein não terá conseguido dar fim ao processo de paz, mas terá iniciado um ciclo de violência que doravante alimentará o extremismo e o desespero, fazendo dos dois lados um número cada vez maior de vítimas civis. (KAPELIOUK, 2004, p.338)
A operação que inclui a Cisjordânia, também denominada Olso II irá dividir a
região em três partes A, B e C, de acordo com o ANEXO O.
A área A seria totalmente controlada pela ANP; a B estaria sob jurisdição civil palestina, mas conteria unidades militares israelenses responsáveis pela segurança; a C continuaria sob exclusivo controle israelense. Em termos concretos, o acordo significava que Israel cedia à ANP a jurisdição civil sobre cerca de 1/3 dos territórios da Cisjordânia e controle total sobre 4% da região [...]. Na Faixa de Gaza, Israel reteria a jurisdição sobre 35% do território, correspondendo às áreas dos assentamentos judaicos e às suas principais vias de acesso. (SCALERCIO, 2003, p.270)
Quanto a economia dos territórios ocupados, a situação ia de mal a pior. Com
a Intifada muitos trabalhadores palestinos foram impedidos de entrar em Israel para
trabalhar, além de que a ANP dependia dos repasses de Israel para ter recursos,
pois ainda cabia a Israel coletar impostos.
A insatisfação palestina era muito grande e com motivo:
Em Gaza, onde viviam apenas cinco mil colonos, Israel controlava 1/3 das terras e quase todas as fontes de água, um recurso escasso e desesperadamente necessário para um milhão de habitantes palestinos. Na Cisjordânia, Israel controlava todos os recursos e ¾ das terras, e nessa área, bem como em Jerusalém oriental, a desobediência aos protocolos de Oslo era clamorosa, pois os postos pioneiros para a fundação de novas colônias continuavam. (SCALERCIO, 2003, p.272)
Mesmo com a assinatura dos Acordos de Oslo, a Intifada não encontra seu
fim, pois a mesma ocorre devido à ocupação e só irá terminar quando cessar a
mesma. Os ataques terroristas dos grupos radicais continuam, independente dos
apelos de Arafat para que parassem e fizessem sua parte no Acordo.
Hroub (2008, p. 9) vê “o Hamas como uma consequência natural de uma
condição de ocupação brutal e não natural. O radicalismo do Hamas deveria ser
85
visto como um resultado completamente previsível do projeto colonial israelense em
andamento na Palestina.”
A mobilização nas regiões não ia bem quando Rabin é assassinado por um
israelense radical, Yigal Amir, em 4 de novembro de 1995, que justifica sua ação por
motivos religiosos: Rabin, ao negociar com os palestinos, supostamente colocava as
vidas dos judeus em risco e os palestinos não deviam estar ali, pois aquela terra
pertence ao “povo prometido”. De acordo com Scalercio (2003, p. 274) porém, Amir
“mirava na verdade no processo de paz”.
Antes de Rabin morrer, ocorrem protestos do povo israelense, que apoia a
direita nacionalista. Todas as sextas-feiras, manifestantes se instalavam na frente da
casa de Rabin, em Tel-Aviv e gritavam para Lea Rabin (esposa de Rabin): “Vamos
pendurar os dois em praça pública, como penduraram Mussolini e sua amante!”
(KAPELIOUK, 2004, p.372). Há vários slogans de protesto como “Rabin, cão de
Arafat!”, “Rabin nos leva para a câmara de gás!” (KAPELIOUK, 2004, p. 373),
circulam até mesmo imagens de Rabin vestido como Himmler, chefe da Gestapo.
Em resposta as manifestações, Rabin aparece na televisão:
Arafat se tornou nosso parceiro no processo de reconciliação entre nós e os palestinos. A OLP encerrou os atentados terroristas. São o Hamás e o Jihad que perpetram essas operações, e nós as combatemos vigorosamente. (KAPELIOUK, 2004, p. 373-374).
Porém há muitos que apoiam a paz entre Rabin e Arafat. Em 4 de novembro
de 1995, ocorre um movimento em Tel Aviv a favor da paz. Comparecem 150 mil
pessoas. Rabin proclama: “Encontramos um parceiro para a paz também entre os
palestinos, a OLP, que foi nossa inimiga no passado. Sem parceiros para a paz, não
há paz.” (KAPELIOUK, 2004, p. 374) A multidão começa a entoar a Canção para a
paz.
Segundo Shlaim (2004, p. 616):
em 1967 ele [Rabin] tinha sido o herói da direita religiosa, por sua participação na libertação da terra natal histórica; em 1993 tornara-se um traidor, devido ao seu plano de desistir de parte dela. Assinando o acordo de Oslo, Rabin assinou sua própria sentença de morte.
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Porém o assassinato de Rabin não fazia de si um herói, mas um homem
prático que soube reconhecer que a paz somente existirá quando ceder “algo” aos
palestinos. Nesse sentido, Rabin foi realmente um homem da paz.
Com a morte de Rabin, Shimon Peres assume seu lugar. A intenção de Peres
era de encontrar a paz e a segurança para Israel através da economia e afirmava:
“Novo Oriente Médio dominado pelos bancos, não pelos tanques; pelas cédulas, não
pelas balas, e, nele, os únicos generais seriam General Motors e General Eletric”
(SHLAIM, 2004, p.618). Porém a iniciativa de Peres não é bem recebida por nenhum
árabe. Os israelenses sempre foram tidos pelos árabes como a personificação do
imperialismo americano, e agora, após as campanhas militares, propor medidas
econômicas viria para confirmar de vez o imperialismo.
Sob a imagem de “pacifista econômico”, Peres alega estar disposto a
negociar com os árabes todas as questões mal resolvidas como os recursos
hídricos, fronteiras e segurança. O primeiro país de sua lista é a Síria, porém Hafez
al-Assad queria a devolução das Colinas de Golã o quanto antes e Peres não
possuía apoio do Knesset para devolvê-las sem antes negociar por um longo tempo
e obter concessões em troca.
Mesmo com o assassinato de Rabin, Oslo continua em funcionamento com
Peres. Com isso, as cidades de Djenin, Naplus, Belém, Ramallah, Kalkiliya e
Tulkarem passam para o controle palestino. “Na primavera de 1996, o exército
israelense se retira das aldeias, dos burgos e dos campos de refugiados da
Cisjordânia.” (KAPELIOUK, 2004, p.377). É também concedida aos palestinos a
autonomia para realizarem eleições para a ANP e o Conselho.
Durante a época de Peres, Arafat foi eleito para a ANP com 88, 1% e obteve
maioria dos assentos do Conselho Legislativo. (KAPELIOUK, 2004, p. 377).
Em Estocolmo, dois acadêmicos israelenses haviam recebido o aval de Rabin
antes de sua morte e se reunido com outros dois acadêmicos palestinos para chegar
a uma situação duradoura de paz. Os negociadores israelenses tinham proposto:
87
Israel anexaria a seu território definitivamente 6% da Cisjordânia, áreas selecionadas onde viviam 75% dos colonos judeus. Aos assentamentos situados fora dos lugares anexados, seria oferecida a escolha da compensação financeira ou ficariam onde estavam aceitando a soberania palestina plena. No caso de Jerusalém, Israel continuaria reclamando a posse de toda a cidade, mas os palestinos poderiam se comprometer a reconhecer apenas a parte ocidental como a capital israelense. Israel, por sua vez, aceitaria um status especial para Jerusalém oriental, deixando os lugares santos dos muçulmanos sob jurisdição palestina. A capital do Estado palestino poderia se estabelecer nas proximidades de Jerusalém, em uma área fora dos limites municipais que seria definida por Israel. (SCALERCIO, 2003, p.277)
Tal proposta, para os palestinos era muito promissora, porém, pertencia aos
“tempos de Rabin”, e a decisão de Peres será diferente: “talvez”. Peres não estava
confortável com o proposto sobre Jerusalém; queria manter a fronteira israelense no
vale do Jordão; e ainda queria retomar a relação Palestina-Jordânia.
Em janeiro 1996 ocorreu um fator decisivo. Yahya Ayyash ou o “engenheiro”,
responsável por diversos ataques suicidas do Hamas, foi assassinado pelo Serviço
Geral de Segurança Israelense (Shabak). Na lógica de retaliações que permeia e
relação Israel-Hamas, a resposta veio em uma explosão de um ônibus israelense
por um homem bomba, matando todos que ali se encontravam. Esse e outros mais
atentados irão fazer com que a credibilidade de Peres caia e o direitista do Likud,
Netanyahu, ganhe popularidade.
Devido as acusações da direita israelense contra Arafat e ANP (por não ser
efetivo) o governo de Peres irá então tomar medidas drásticas: rompeu
conversações com a ANP, fechou as fronteiras a entrada de palestinos em Israel e
“declarou uma guerra sem quartel ao Hamas e contra a Jihad Islâmica”
(SCALERCIO, 2003, p.279).
Peres também executou a operação Vinhas da Ira em 1996 que visava a
erradicação do Hezbollah do sul do Líbano, pois os mesmo ameaçavam a
segurança da Galiléia. O plano era atacar a população civil no sul do Líbano,
causando um grande deslocamento de refugiados, que por sua vez pressionariam o
governo libanês e este iria então pedir ajuda aos sírios para reprimir o Hezbollah.
“Em suma, o plano era obrigar a Síria a agir como um soldado israelense no Líbano”
(SHLAIM, 2004, p. 626). O ataque aos civis libaneses se inicia em 11 de abril e
consegue deslocar cerca de 400 mil, porém no dia 18 do mesmo mês, ocorre algo
não planejado: por acidente a FDI bombardeia um campo de refugiados da ONU em
88
Qana, causando a morte de 102 pessoas. O ocorrido irá jogar a opinião internacional
contra Israel e este se vê obrigado a assinar um cessar-fogo. Longe de conseguir o
que queria, Israel ainda sai como o vilão.
Tal operação minou a campanha eleitoral de Peres28, o seu sonho de um
novo Oriente Médio interligado pela economia nada conseguiu e ainda, para
contribuir com sua derrota eleitoral, o número de atentados aumentou
significativamente.
Na crença de muitos, os Acordos de Oslo estabilizariam a região, porém, a
política intransigente de Israel lançou tudo por “água abaixo”, e por mais que isso
não tivesse acontecido, temos de considerar o radicalismo dos grupos palestinos
que não deixariam de atuar.
O Fatah e a OLP mudaram drasticamente comparado com o que almejavam
no passado, de uma luta armada, chegaram à mesa de negociações e ao
reconhecimento de Israel. Mas isso não será suficiente para a paz na Palestina.
4.2 A DERROCADA DO PROCESSO DE PAZ
Antes de Binyamin Netanyahu ser eleito, publicou um livro chamado “A Place
among the Nations: Israel and the World” onde escrevia que os palestinos não
passavam de um “cavalo de Tróia pan-arabista, um presente que os árabes têm
tentado persuadir o Ocidente a aceitar há mais de vinte anos, para que, em troca, o
Ocidente possa forçar Israel a permitir a entrada nos portões.” (SHLAIM, 2004, p.
634). Além de defender a “Grande Israel”, volta também a lembrar da “Muralha de
Ferro” de Jabotinsky para proteger a integridade do território israelense, sendo que,
para os generais israelenses, ocupar a Cisjordânia não é essencial para a
segurança do Estado.
Com a eleição de Netanyahu os acordos de paz sofreram uma drástica
mudança. Do que foi combinado em Oslo II, apenas 1, 94% passa para a ANP
(KAPELIOUK, 2003 p. 394).
28
Pela primeira vez os israelenses iriam votar diretamente para a escolha de primeiro-ministro. Anteriormente, ocupava o cargo quem tivesse maioria no Knesset.
89
Em Jerusalém, Israel fechou um cordão em volta da cidade a fim de isolar a
população palestina da Cisjordânia. Além disso, Netanyahu abriu um túnel que
passava por baixo do Domo da Rocha (a terceira mais importante mesquita para os
muçulmanos) para facilitar o acesso ao Muro das Lamentações, o que levou a uma
revolta palestina. A fim de acalmar os ânimos, Netanyahu irá negociar os “Protocolos
de Hebron” na cidade de maioria palestina, Hebron, em janeiro de 1997. Foi definido
que 20% pertenceria aos judeus, enquanto 80% ficaria para os palestinos. O
descontentamento foi grande, afinal, o judeus compunham 0,3% da população da
cidade e seus assentamentos foram construídos de maneira ilegal. (SCALERCIO,
2003, p.283-284).
Netanyahu então fez uma oferta mais abrangente: entregaria para a ANP 40%
da Cisjordânia, o que incluía a região de Nablus e Hebron, duas regiões que não
eram conectadas. Porém, Netanyahu não parou com os assentamentos: de 1996 a
1997, os assentamentos cresceram 9%. Como consequência, o Hamas empregou
ataques terroristas em Jerusalém, que por sua vez levou o governo de Netanyahu a
culpar a ANP por não estar controlando o terrorismo e cessou as conversações. De
acordo com Shlaim (2004, p. 652) “a cada dia os palestinos tinham menos terra e os
israelenses, menos paz.”
Porém, o que Netanyahu não considerou foi que os grupos radicais agiam de
forma violenta devido a negação de Israel em negociar a paz, ou no sentido mais
objetivo, negociar terra por paz.
O problema essencial aqui é a política dos assentamentos, incentivada por
Netanyahu. 1.500 oficiais das forças armadas, destes inclusos 12 generais de
divisão, escreveram uma carta ao primeiro-ministro em março de 1998 pedindo que
o mesmo parasse essa política e negociasse a paz, pois isso prejudica a imagem
democrática e judaica do país (SHLAIM, 2004, p.656).
Bill Clinton ainda tentara salvar os acordos de Oslo através do “Memorando
de Wye River”, assinado por Arafat e Netanyahu em outubro de 1998. Foi acordado
que seria retomada a retirada de Israel da Cisjordânia e que Arafat iria controlar os
ataques dos grupos radicais com o auxílio da CIA. Nada foi feito. (SCALERCIO,
2003, p.285).
90
Como já mencionado anteriormente, as portas do mundo árabe se abriram
após a assinatura dos Acordos de Oslo. Com a intransigência de Netanyahu, todos
os avanços de outrora dissiparam-se.
O fracasso do primeiro-ministro foi tão grande, que com dois anos e meio de
governo, o Knesset decidiu por convocar novas eleições, pois de acordo com Shlaim
(2004, p. 677) “sob a liderança de Netanyahu, a sociedade israelense afundou em
uma situação de confusão e desordem sem paralelo na história do país.”
Ehud Barak, adversário de Netanyahu e proveniente do Partido Trabalhista
defendia um retorno ao pragmatismo de Ben-Gurion e em sua campanha defendeu
que fecharia um acordo com os palestinos sem prejudicar os assentamentos, tanto
em Gaza quanto na Cisjordânia.
O resultado das eleições colocou Barak no poder, com 56% dos votos, contra
44% para Netanyahu no dia 17 de maio de 1999. Esperava-se que nesse momento
poderia ser retomado os Acordos de Oslo, porém, a “frente rejeicionista” tanto
palestina, quanto israelense ainda seriam um desafio. (SCALERCIO, 2003, p.286).
Em julho de 2000, Barak e Arafat com companhia do Presidente Clinton, se
encontraram para a Conferência de Camp David II. As concessões de Israel seriam:
90% dos territórios ocupados seriam cedidos aos palestinos (sendo que o restante
seria anexado definitivamente por Israel); em Jerusalém, os palestinos poderiam
controlar alguns bairros da parte oriental que davam acesso à Cisjordânia, incluindo
também a Esplanada das Mesquitas (o que é um pouco contraditório, pois Israel
controlaria a parte subterrânea do Domo da Rocha, já ali se encontra os resquícios
do antigo Templo); Israel também colocou que estaria disposto a aceitar 100 mil
refugiados, sendo que o futuro Estado palestino absorveria outros 500 mil
refugiados. (SCALERCIO, 2003, p. 289).
Algumas das condições seriam: o exército palestino não poderia portar armas
pesadas; o governo palestino não poderia fechar acordos com outros países sem o
aquiescência de Israel; o espaço aéreo palestino seria exclusivo dos israelenses; as
fronteiras com Israel e Egito seriam vigiadas pelos israelenses; “os israelenses
continuariam a controlar os suprimentos de água da Cisjordânia, estabelecendo uma
cota mínima para o uso dos palestinos” (SCALERCIO, 2003, p. 289).
Arafat recusou a proposta. Peter Demant explica:
91
Yasser Arafat não dispunha de muito espaço para negociar. As restrições que entravavam Arafat devem ser percebidas na própria cultura política palestina: por um lado, a distância entre os objetivos que os palestinos podiam esperar conseguir na realidade e aqueles que a própria liderança do Arafat havia induzido o povo a considerar como o mínimo. Por outro lado, a ausência de contrapostas palestinas flexíveis a despeito das extensas pré-negociações, levando a um impasse. Ambos os fatores podem na verdade ser creditadas e uma falta de verdadeira democratização da sociedade palestina, pela qual ambas as sociedades são culpadas. (SCALERCIO, 2003, apud Demant, p. 290)
O que foi oferecido por Israel, à primeira vista pode parecer muito generoso,
porém, há questões totalmente contraditórias, como um Estado palestino, que se
sugere ser autônomo e soberano, terá sua oferta de água controlada por outro
Estado? Seu espaço aéreo limitado? Suas relações diplomáticas acompanhadas por
Israel? Entra também a questão da parcela de terras que seria anexado por Israel,
esses 10% representam nascentes de água. Em relação aos assentamentos nada
foi feito. Israel poderia conceder 95% de terras aos palestinos, porém, o controle dos
outros 5% tornaria “inviável a plena soberania palestina” (SCALERCIO, 2003,
p.292).
Os palestinos, que ao longo de sua história já haviam feito concessões
demais, não aceitariam um acordo nesses termos.
Tudo favoreceu o crescimento dos grupos radicais palestinos e para piorar o
clima belicoso, Ariel Sharon decidiu visitar a mesquita Haram al-Sharif (terceiro lugar
mais importante para os muçulmanos) em setembro de 2000, o que deu início à
Intifada de al-Aqsa.
De acordo com a jornalista Amira Hass “a nova Intifada (...) é uma tentativa
final de colocar os israelenses diante de um espelho para dizer-lhes: ‘Olhem bem
para si mesmos e vejam como se tornaram racistas.’” (HASS, 2003, apud
FINKELSTEIN, p. 27).
Os palestinos não possuem armas, com a exceção da ANP que possui armas
leves – “Têm sido pedras atiradas por jovens contra mísseis, jatos, helicópteros
artilhados, tanques e foguetes israelenses.” (SAID, 2006, p.44)
Porém, de acordo com Bishara (2003, p.30-31) o responsável pela Intifada
não é Sharon, mas Barak, pois era o governante de Israel. A Intifada veio em
consequência não somente da provocação de Sharon, mas principalmente pelo fato
dos acordos de paz até então não terem dado certo. A ANP havia se comprometido
92
a repreender o “terrorismo” palestino, e com isso irá caçar líderes islâmicos, prender
e torturar ativistas de até mesmo dentro do Conselho Legislativo. Porém Israel se
mostrou negligente com a sua parte em promover a paz.
Barak irá abandonar suas propostas de governo quanto à negociações de paz
e atacar agressivamente a população palestina em revolta. A sua justificativa para a
comunidade internacional foi a defesa da segurança nacional de Israel. Além disso,
Barak recorreu à mídia para justificar a sua “causa” e deslegitimar as ações
palestinas. Seu intuito, como disse Bishara (2003, p.32), era “quebrar a vontade
nacional do povo palestino”.
Durante as negociações em Camp David, Barak já vinha preparando o
exército para uma intervenção. Aos primeiros sinais de uma revolta palestina, o
primeiro-ministro irá adotar a operação “Marés altas e baixas” que empregou:
atiradores de elite que visaram os agitadores da rebelião; o uso de fuzis M – 24 no
lugar dos usuais M – 16, pois o primeiro causava maiores danos; “a utilização
imoderada da força, sobretudo de tanques e aviões [...] com o objetivo de intimidar a
população e assustar os dirigentes civis e militares” (BISHARA, 2003, p. 35);
assassinato de supostos dirigentes da Intifada, sendo em sua maioria membros do
Fatah. Também foi ambicionada a anexação de partes estratégicas da Cisjordânia, a
fim de se tornarem partes definitivas de Israel. O bloqueio à economia palestina
também se fez presente, estima-se que no período da Intifada, os palestinos
perderam 346 milhões de dólares, segundo fontes da ONU.
Ainda de acordo com Bishara (2003, p. 35), “todos esses dispositivos
israelenses eram sinônimos de terrorismo de Estado”. Israel chegou até mesmo a
ser acusado por crimes contra a humanidade pelo Alto Comitê dos Refugiados das
Nações Unidas em 2000. Porém, por influência dos Estados Unidos, Israel saiu
impune.
Após dois meses de conflito, o número de mortos palestinos somava 179, de
feridos em torno de 8 mil e de refugiados que fugiram para a Jordânia em torno de
200 mil (FINKELSTEIN, 2003, p. 43). Há casos também de ataques por parte dos
colonos. Os mesmos cometiam assassinatos, torturas e restrições de passagem.
Com a Intifada de Al-Aqsa, o número de atentados de homens-bombas
aumenta significativamente, sendo que a aprovação da população palestina a esses
93
ataques passa de 26,1% em 2000, para 66,2% em 2001 (KAPELIOUK, 2004, p.
422).
TABELA 1 – Número de atentado do período de 1993 à 2002.
Ano Nº de atentados
1993 (Oslo) 13
1994 7
1995 8
1996 4
1997 4
1998 2
1999 0
2000 4
2001 36 (Sharon primeiro-ministro)
2002 30 (até abril)
FONTE: SCALERCIO, 2008, p. 294
Diante do fracasso em negociar a paz e da economia em crise de Israel,
Barak pede demissão do cargo de primeiro-ministro, porém apresenta sua
candidatura as eleições que foram adiantadas mesmo assim. Acaba perdendo para
Ariel Sharon por 62,4% dos votos, contra 37,3%. (KAPELIOUK, 2004, p. 437).
Scalercio (2003) acredita que somente uma mudança de lideranças pode
mover as negociações para frente. Arafat atravessa um período de falta de
credibilidade perante parte da população palestina, enquanto “discutir acordos de
paz com Ariel Sharon é seguramente uma das tarefas mais ingratas e difíceis com
que a espécie humana se deparou em toda a sua existência” (SCALERCIO, 2003,
p.295). Porém, as atitudes de Sharon são todas calculadas. Pretende, através da
94
radicalização do movimento palestino, inviabilizar a criação do Estado palestino para
sempre.
Sharon consegue formar uma coalização no governo e passa a demonizar a
imagem de Arafat, alegando o de sempre: terrorista, e além disso, volta com a
relação Palestina-Jordânia. Porém, em segredo, Sharon conduziu negociações,
através de ser filho Omri, com a ANP, a fim de estabelecer a paz. No final das
contas, a paz não acontece.
A situação dos campos se deteriora e não há mais dinheiro para pagar os
funcionários da ANP, Arafat então pede a ajuda de Bush filho, porém a posição do
mesmo esta alinhada à de Sharon: primeiro a violência tem de ser contida,
posteriormente se negocia. Quanto à isso, Arafat responde: “Vocês me falam em
parar as violências. Estão exigindo isso da vítima, não do agressor” (KAPELIOUK,
2004, p. 444).
As hostilidades de ambos os lados continuam, sendo que em 11 de setembro
de 2001 ocorre o ataque às Torres Gêmeas. Arafat condena a ação da Al-Qaeda,
porém Sharon não perde a oportunidade de comparar Arafat à Saddam Hussein e
invade, em 16 de setembro a cidade de Djein, ao norte da Cisjordânia. Os soldados
tem salvo conduto para fazer o que quiserem com os 45 mil habitantes palestinos.
Apesar do ataque da Al-Qaida não ter relação alguma com os palestinos, o
governo de Bush endurece seu tratamento e exige que Arafat suprima os ataques
bomba. Porém, por mais que Arafat tente, não consegue parar os ataques.
Sharon então, encorajado por declarações norte-americanas irá estabelecer
um cerco na Cisjordânia e ao prédio onde Arafat se encontra, o confinando numa
espécie de prisão domiciliar na cidade de Ramallah. Bush irá aprovar essa medida
adotada por Sharon, argumentando que Israel tem o direito de se defender, por mais
que o exército israelense estivesse assassinado, destruindo e impondo toques de
recolher. Sharon declara em 4 de dezembro de 2001: “Uma guerra nos foi imposta.
Ou nós, ou Arafat!” (KAPELIOUK, 2004, p. 456). No Knesset chega-se até mesmo a
discutir como seria bom o desaparecimento de Arafat, pois assim a Palestina iria
perder significativa importância.
A lógica de Sharon é: “para obter negociações de paz com os palestinos, é
preciso primeiro bater duramente neles” pois devem “sofrer muitas perdas, para
saberem que nada obterão por meio do terrorismo” (KAPELIOUK, 2004, p. 463). Tal
95
declaração de Sharon nos remete à “Muralha de Ferro” de Jabotinski, porém a OLP
já havia concordado em negociar com Israel e foi este que se furtou à tarefa de
efetivar o que foi negociado.
As condições dentro do prédio de Arafat são precárias, não há eletricidade e a
água e energia são racionados. Colin Powell, secretário de Estado norte-americano,
adentra o edifício para conversar com Arafat, porém, não chegam à consenso
algum. Arafat declara:
Powell fala como garoto de recados de Sharon. Segurança, segurança... para Israel, é claro. Estou aqui cercado, todos os territórios palestinos estão bloqueados e são atacados. A cada dia homens e mulheres são mortos, o exército de ocupação destrói e devasta. Mas só se fala na segurança de Israel! (KAPELIOUK, 2004, p.470)
Porém, toda essa repressão irá favorecer a imagem de Arafat, que e 2 de
maio finalmente é liberto de seu cerco após pressões norte-americanas sob Sharon.
A essa altura, grande parte do quartel general de Arafat já se encontrava destruído e
os demais braços da ANP em outros localidades foram devastados.
Após todo esse ciclo de brutalidade, os territórios autônomos foram
praticamente todos reconquistados, porém, por outro lado e economia israelense foi
diretamente afetada pelos ataques suicidas devido ao impacto no turismo e
investimentos no país, além das vítimas civis israelenses.
Nesse contexto, o presidente Bush, declara que Sharon é um “homem de
paz” (KAPELIOUK, 2004, p. 465) ... nem o próprio Sharon devia se considerar um
homem de paz.
Portanto, em julho, as facções palestinas entram em um acordo sobre um
cessar-fogo, até que no dia 23 do mesmo mês, Israel despeja uma bomba de uma
tonelada no centro de Gaza. O ataque mata o fundador do braço armado do Hamas,
Salah Chehadeh e sua mulher, fora outras 15 vítimas mortais e 150 feridos. Tal
ataque obviamente irá provocar novas animosidades e retaliações por parte dos
fundamentalistas, sendo esquecido o cessar-fogo. (KAPELIOUK, 2004, p. 480).
Em setembro de 2002, pela terceira vez o quartel-general de Arafat em
Ramallah é cercado pelas forças israelenses. A ONU chega até mesmo a publicar a
Resolução 1.435 que exige o fim ao cerco. De acordo com Kapeliouk (2004, p.483)
96
“o que importa a Sharon as resoluções da ONU, as condenações de Jacques Chirac
ou de Kofi Anan, já que ele tem o apoio de George Bush?”. Porém, cindo dias após
a publicação da resolução, Israel acaba por levantar o cerco.
No governo de Barak se iniciaram as construções de muros e cercas
eletrificadas para separar regiões palestinas de Gaza e Cisjordânia e Sharon dará
continuidade a esse projeto. Cerca de 7% dos territórios palestinos da Cisjordânia
passam para o lado israelense. (KAPELIOUK, 2004, p. 486).
Em novembro de 2002, o braço armado do Fatah começa a efetuar ataques
terroristas sem o consentimento de Arafat, portanto o mesmo perde o controle.
Em 28 de janeiro de 2003, Sharon é reeleito para o cargo de primeiro-ministro
com uma maioria de 38 assentos para o Likud e 19 para o Partido Trabalhista.
(KAPELIOUK, 2004, p. 494).
Bush já havia pedido anteriormente o estabelecimento de uma nova
organização de representação palestina e em fevereiro de 2003 Arafat cede às
pressões americanas. Na reunião do Conselho Legislativo palestino e o Conselho
Central da OLP seria discutido a nomeação de um primeiro-ministro. Mahmud Abbas
(Abu Mazen), secretário executivo da OLP, é nomeado para o cargo.
Com a sua exigência atendida, Bush irá publicar seu plano para a criação de
um Estado palestino com nascimento marcado para 2005.
Em abril, Abu Mazen divulga a composição de seu governo, o qual Bush
considera “decepcionante” por conter muitos próximos de Arafat, que é considerado
o maior obstáculo para a paz, segundo Israel e EUA. Porém Abu Mazen não
aguenta as pressões de seu novo posto e pede demissão em 6 de setembro.
O novo primeiro ministro é Ahmad Qorei (Abu Ala), presidente do Parlamento
palestino. (KAPELIOUK, 2004).
No dia 1 de dezembro de 2003, em Genebra, é apresentado um novo plano
de paz elaborado pelos representantes palestino, Yasser Abed Rabbo e israelense,
Yossi Beilin. Segundo Kapeliouk (2004, p.503):
O pacto de Genebra preconiza o desmantelamento das colônias, o retorno à Linha Verde de 1967, a partilha de Jerusalém, mas também o abandono do direito ao retorno dos refugiados de 1948. [...] Apesar das críticas que desperta nos dois campos, a iniciativa parece ter animado os partidários israelenses da paz: no momento da comemoração do oitavo aniversário da morte de Rabin, mais de 100 mil pessoas se reuniram em Tel Aviv.
97
Yasser Arafat vem a falecer em Paris, em 11 de novembro de 2004.
Certamente imaginou que iria viver para ver um Estado palestino solidificado, pois
mesmo passando por momentos difíceis, nunca deixou de ter esperanças.
Dificilmente, sem a atuação forte de Arafat, a causa palestina teria tomado
proporções tão grandes, pois de acordo com Said (2012, p. 182) “’o velho homem’,
cuja simples presença [garantia] a existência da causa palestina”.
4.3 A ERA PÓS-FATAH E OLP
Desde a época da guerra no Líbano, já havia casos de corrupção dentro da
OLP com a entrada do dinheiro proveniente dos donos do petróleo do Golfo pérsico.
Com a criação da ANP, a corrupção de transferiu para este novo órgão. De acordo
com Kapeliouk (2004, p.489):
Presidente da Autoridade Palestina, Arafat centraliza todos os poderes e, desse ponto de vista, é ele quem está em posição de distribuir os postos, conceder licenças comerciais, conceder os monopólios de gasolina, tabaco, cimento, cascalho, trigo, admissão de operários etc. Se Arafat não é suspeito de ter enriquecido pessoalmente, ninguém ignora que tal centralização abriu caminho para um sistema em que a lealdade e a fidelidade são mais do que muitíssimo bem recompensadas...
Reforçando o que Kapeliouk afirma, Arafat nunca tomou parte alguma na
corrupção e sempre preferiu ter uma vida simples. Por outro lado, mesmo estando
ciente do desvio de dinheiro e enriquecimento de alguns membros primeiramente da
OLP e depois da ANP, Arafat não fez nada para impedir.
Além da corrupção, o fracasso dos Acordos de Oslo e a ampliação dos
assentamentos contribuíram para deixar os palestinos desacreditados em Arafat.
Tais motivos darão margem ao radicalismo representado pelo Hamas. O grupo
98
executa o que a OLP e o Fatah fizeram nos seus primórdios: luta armada. E para
além disso o Hamas irá envolver o fator religioso.
Nesse contexto, o Hamas conquista a vitória em de janeiro 2006 nas eleições
para o Conselho Legislativo da ANP.
O que também contribuiu para a eleição do Hamas foram os programas
sociais ofertados aos palestinos, como escolas e hospitais. Nesse quesito, o grupo
demonstrou grande comprometimento e competência.
Quando a ANP foi criada em 1994, através dos Acordos de Oslo, ficou
acordado com Israel que a mesma iria unificar os movimentos palestinos. No
entanto, o Hamas se recusou a entregar suas armas e não autorizou a supervisão
de seus armamentos. Em 2006 a situação se alterou. Com a eleição do Hamas na
ANP, o grupo pediu aos demais moimentos para se filiar, porém, como já era
esperado, os mesmos recusaram.
Como já mencionado, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), foi
criado na época da eclosão de primeira Intifada, mais precisamente em 14 de
dezembro de 1987. Os seus membros fundadores são os líderes da Irmandade
Muçulmana29 palestinos: xeque Ahmed Yassin, Abdul’ Aziz al-Rantisi, Salah
Shehadeh, Muhammad Sham’ah, ‘Isa al-Nashar, ‘Abdul Fattah Dukhan e Ibrahim al-
Yazuri.
Até a Intifada, os membros da Irmandade Muçulmana encontravam-se
divididos entre os que defendiam a mudança nos métodos de confronto e aqueles
que defendiam “preparar as gerações para uma batalha” (HROUB, 2008, p. 39). A
Intifada era o que faltava para impulsionar a criação do Hamas, pois os que
defendiam a confrontação conseguiram estabelecer sua visão frente à ocupação
israelense e aquele seria o momento perfeito para a Irmandade controlar a revolta.
Ao longo da história da Irmandade Muçulmana, houve momentos em que foi
empregada a paz e outros em que foi empregado a violência. No caso do Hamas a
violência somente é empregada contra estrangeiros que ocupam suas terras, não
contra governos nacionais.
29
A Irmandade Muçulmana foi fundada no Egito, em 1928 e pode ser considerada a “mãe de todos os movimentos que abrangem a política islâmica” (Hroub, 2008, p.31-32) com exceção do Irã, pois é o maior movimento político de caráter islâmico. A Irmandade começou como um movimento moderado, porém muitas de suas ramificações são radicais. O principal objetivo da Irmandade como um todo é a criação de um Estado islâmico unificado denominado Ummah ou uma “nação muçulmana” (HROUB, 2008, p.32).
99
A filial da Irmandade Muçulmana foi estabelecida na Palestina em 1946, em
Jerusalém. Sob domínio britânico e o crescimento do sionismo, a Irmandade não
executou grandes ações. Com a criação do Estado de Israel, a Irmandade de dividiu
em duas: na Cisjordânia (a filial se aproximou da jordaniana) e na Faixa de Gaza (se
aproximando da filial egípcia). Com a ocupação de Israel nos territórios supracitados
na guerra de 1967, as filiais palestinas voltaram a se unir.
O cenário na Palestina naquele momento era nacionalista e marxista, assim
como todo o Oriente Médio, e favoreceu grupos como a OLP e Fatah. Somente em
1980 essas ideias e grupos perderam força e deram espaço ao fundamentalismo,
culminando com a criação oficial do Hamas.
Um pouco antes de assumir o poder em 2006, o Hamas publicou uma auto
definição: “O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) é um movimento nacional
de libertação da Palestina que luta pela libertação dos territórios ocupados e pelo
reconhecimento dos direitos legítimos dos palestinos.” (HROUB, 2008, p.43)
Ainda de acordo com a auto definição publicada, o Hamas escreve:
Apesar da imagem militante agressiva transmitida a muitas pessoas no Ocidente, o Hamas não é uma mera facção militar. Trata-se de uma organização política, cultural e social calcada em bases populares que possui uma ala militar separada especializando-se na resistência armada contra a ocupação israelense. [...] A ala militar tem sua própria liderança e mecanismo de recrutamento. [...] O fato é que o Hamas, de forma contrária aos tributos israelenses, atua como uma infra-estrutura para inúmeras instituições culturais, educacionais e sociais situadas em Gaza e na Cisjordânia, oferecendo serviços inestimáveis e insubstituíveis para as pessoas. Em outras palavras, é o Hamas que dá vida a essas instituições, e não o contrário. Os israelenses vêm repetidamente dizendo à AP que encerre essas atividades. A AP vem tentando, mas tem fracassado. Um ato de repressão contra essas instituições significa uma declaração de guerra, não contra o Hamas, mas contra a comunidade palestina como um todo. (HROUB, 2008, p. 45)
Com sua essência fundamentada na religião a princípio a ideia era fundar um
Estado islâmico na Palestina que abrangeria todo o território, do Jordão ao Mar
Mediterrâneo. Outra interpretação para os objetivos do Hamas seria a libertação da
total da Palestina, mas em verdade esse objetivo não se mostra muito diferente do
religioso, afinal, para criar um estado islâmico, teria primeiramente de se
reconquistar toda a terra e isso implica na derrota de Israel. Como os objetivos se
100
mostram utópicos ao extremo, o Hamas decidiu por adotar objetivos à médio e longo
prazo, portanto, mais tangíveis.
O objetivo do Hamas, como já visto, é dual: libertar a Palestina e islamizar a
sociedade. Portanto, ao lutar contra Israel, o combatente estará também
contribuindo para o Islã.
O pensamento do Hamas consiste profundamente na crença de que, quanto mais devoto é um indivíduo, mais propenso, ele (ou ela) estará ao auto-sacrifício no campo de batalha. Desse modo, o ensinamento religioso fortalece a frente de libertação. (HROUB, 2008, p.55).
Mas, nem tudo é tão bem harmonizado assim. Após as eleições do Hamas
em 2006, sua liderança se deparou com novos paradigmas, além do cerco formado
por Estados Unidos, União Europeia, a própria ONU e claro, Israel. Com isso o
governo composto pelo Hamas teve de tomar medidas mais políticas.
O Hamas chegou a sugerir que aceitaria reconhecer Israel, porém há
condições: Israel deve aceitar a criação de um Estado palestino e como
consequência haveria paz na região.
Um dos pontos que Israel não esquece é a Carta publicada pelo Hamas em
1988, no qual supostamente define o Movimento. Na Carta há referências
antijudaicas por assim dizer, mas a mesma nunca foi levada a sério pelo próprio
Hamas, pois pertencia aos membros mais antigos da Irmandade Muçulmana. A
resistência defendida pelo Hamas atualmente é contra a ocupação ilegal de Israel e
não por razões de credo.
O principal método adotado pelo Hamas é o da resistência militar (como já
consta em seu nome), que deveria ser empregada onde houvesse ocupação militar.
A resistência é empregada através de:
levantes, mobilizações, investidas populares, e ataques militares contra o exército israelense e moradores de assentamentos até ataques suicidas com bomba realizados no coração das cidades israelenses. [...] O objetivo principal de qualquer combinação de todos os tipos de resistência, na concepção do Hamas, é forçar a retirada incondicional israelense. (HROUB, 2008, p. 75)
101
A primeira onda de ataques suicidas foi em 1994, após Baruch Goldstein
assassinar 29 palestinos na Tumba dos Patriarcas, em fevereiro. Após isso, o
Hamas jurou vingança e a cumpriu matando soldados, colonos e civis nas principais
localidades de Israel. O efeito dessa retaliação atingiu diretamente no imaginário da
população israelense, logo, os ataques se tornaram sua marca registrada. Os
mesmos agora acontecem sempre em resposta à um ataque israelense a população
palestina - seriam ações recíprocas.
Israel passou a caçar os líderes do movimento palestino e a matá-los, logo
isso exigiu uma boa e demorada preparação para essas operações suicidas. Apesar
da desaprovação da comunidade internacional, o povo “começou a olhar o Hamas
como uma organização capaz de infligir danos aos israelenses e vingar qualquer
assassinato de palestinos que os israelenses viessem a cometer.” (HROUB, 2008, p.
84).
Diga-se de passagem que os objetivos do Hamas, com os ataques, estavam
sendo alcançados: a população israelense ficou atemorizada com os ataques –
normalmente em shoppings, ônibus ou restaurantes – o que os levou a em certos
períodos do dia, se esconder ao som de sirenes.
Devido aos ataques o Hamas é considerado um grupo terrorista por muitos
países. “Embora não sejam mais brutais do que as ações que os israelenses têm
realizado contra os palestinos ao longo das décadas, os ataques suicidas
prejudicaram a reputação tanto do Hamas quanto do povo palestino em todo o
mundo.” (HROUB, 2008, p. 19).
Mas, do contrário do que se imagina, o Hamas já chegou a propor paz para
os israelenses, através da hudna (trégua). Diferentemente do cessar-fogo, a hudna
pararia os ataques por um tempo determinado, como 10 ou 20 anos e sua volta
dependeria do “comportamento” de Israel. Tal ação seria diferente do adotado pela
OLP e Fatah, que aceitaram cessar-fogo e figuraram como “derrotistas” ao ver do
Hamas. A hudna também seria um meio de reconhecer e conviver com Israel
indiretamente.
Muito se questiona sobre um Hamas democrático ou como grupo terrorista,
porém o Hamas foi democrático em sua formação de governo em 2006.
102
Internacionalmente, um governo palestino conduzido pelo Hamas foi considerado um fruto intragável da democracia. O Ocidente, em particular, foi apanhado no dilema de ter de aceitar um resultado tão indesejável, a fim de mostrar ao mundo árabe e muçulmano que seu apelo à democracia na região foi sincero, ou ser visto compartilhar cinicamente do esforço israelense de destruir o governo do Hamas e correr o risco de perder toda a credibilidade. (HROUB, 2008, p. 99-100).
Os trabalhos realizados pelo Hamas na sociedade vão de construção de
escolas até a ajuda mensal aos que se encontram abaixo da linha da pobreza. Os
serviços oferecidos às pessoas mais carentes são pontuados pela transparência.
Israel sempre tentou cessar o trabalho social do Hamas por meio de cortes
dos doadores e bloqueio de fundos, pois de acordo com Israel esses financiamentos
estavam indo para a ala militar, mas a verdade é que Israel queria impedir que a
imagem do Hamas se popularizasse através dos atos sociais. E após o 11 de
setembro, Israel conseguiu conquistar a opinião norte-americana e inglesa contra o
Movimento – muitas organizações que se encontravam nesses países, foram
impedidos de continuar enviando fundos para o Hamas.
O trabalho do Hamas foi afetado por isso, mas conseguiu contornar a
situação, até que em 2003 e 2004, a ANP cedeu às pressões israelenses e norte-
americanas e congelou 12 contas bancárias de instituições de caridade na
Cisjordânia e 38 contas em Gaza. Houveram protestos da população palestina em
novembro de 2003 e chegaram até mesmo a arremessar pedras contra o local do
Conselho Legislativo da ANP.
O Fatah sempre foi a força motriz da OLP e o Hamas foi o único movimento
de resistência palestino que não aceitou a representação da OLP como o único
representante palestino. A OLP reunia em seu seio diferentes movimentos com
deferentes ideologias, o Hamas rejeitava esse caráter secular. Após a eleição do
Hamas para a Autoridade palestina em 2006, o Fatah passou a ser o desobediente
da vez - as alas militares do Fatah sempre foram difíceis de controlar.
A União Europeia sempre teve uma opinião heterogênea em relação ao
Hamas, porém, em 2003 com a influência dos Estados Unidos, a mesma como um
todo se voltou contra o Movimento devido a “guerra contra o terror” dos norte-
americanos. A União Europeia costumava ser a que mais cooperava com fundos
para as instituições de caridade do Hamas.
103
Em 2006, a União Europeia acaba por cortar totalmente toda ajuda
humanitária ao Hamas - a não ser que o mesmo reconhecesse Israel e renunciasse
ao uso da violência, não haveria ajuda. De acordo com o ministro holandês de
relações exteriores: “O povo palestino optou por esse governo; portanto, deverá
suportar as consequências.” (HROUB, 2008, p.155).
O Hamas protestou contra essa medida, afinal, foi eleito democraticamente e
agora só porque não era pró-ocidente, foi embargado.
Apesar do Hamas afirmar que direciona apenas uma pequena parcela dos
seus recursos para a ala militar, os Estados Unidos e Israel insistem no contrário e
foi por isso que cortaram os financiamentos direcionados às instituições de caridade
do Hamas. Já ao ver do Hamas, o verdadeiro objetivo dos norte-americanos é em
verdade, denegrir sua imagem, fechando as suas instituições e assim perder crédito
para com a população.
Por fim, o conflito entre Fatah e Hamas chega a ser tão grande que são
estabelecidas zonas de influência: o primeiro fica com a Cisjordânia e possui apoio
ocidental (porém não possui liberdade de ação), enquanto o segundo fica com Gaza
e segundo Said (2012, p. 12-13) é “demonizado pelo ocidente”.
Com isso, a Ministra israelense dos Negócios Estrangeiros, Tzip Livni afirma:
As nossas decisões de hoje são: declarar que a Faixa de Gaza é um terreno hostil e o significado é que, mesmo chegando a necessidades humanitárias, temos a nossa quota de responsabilidade. Por outro lado, todas as necessidades que forem além das humanitárias, não serão fornecidas por Israel à Faixa de Gaza. Esperamos que a situação da Faixa de Gaza se modifique no futuro e que os palestinianos percebam que, apoiando este tipo de terroristas, não os irá ajudar. (SANTOS, 2008, p. 115).
O ano de 2007 foi marcado por conflitos entre o Hamas e o Fatah. Tanto em
Gaza, quanto na Cisjordânia, militantes dos grupos se enfrentaram. Segundo Santos
(2008, p. 119) “a questão que fica no ar é: até quando é que os palestinos levarão
adiante esta ‘Intifada partidária?’”.
104
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi abordado no presente trabalho acadêmico, podemos
concluir que os grupos insurgentes palestinos, Fatah e OLP, passaram da
insurgência à verdadeira representação do povo uma vez que passaram a agir
também por meios diplomáticos.
Nenhum outro grupo palestino conquistou uma legitimidade internacional e ao
mesmo tempo representou seu povo exilado ou que vivia sob ocupação. Além disso,
a OLP, junto com o seu núcleo forte, o Fatah, conseguiu superar as guerras
deflagradas pelos “irmãos árabes”.
As guerras sofridas foram essenciais para lapidar a imagem da OLP como o
único órgão oficial de representação palestina e ao mesmo tempo fizeram com que o
Fatah mudasse a sua direção radical e passasse a agir com maior esmero. As
guerras também impactaram nos demais grupos, a FDLP e a FPLP, diminuindo o
seu intento revolucionário e desmedido, que outrora adiantara a crise que se
deflagrou na Jordânia.
No contexto geral, podemos ver que os árabes, como no caso do Egito e da
Jordânia, reconheceram a força de Israel e isso os levou para o caminho da
negociação, por mais que isso os colocasse numa posição de fraqueza. Os
palestinos também chegaram à mesma conclusão. Assim, desde a criação dos
grupos, vemos que não somente seus objetivos mudaram, mas também os seus
meios. Anteriormente, o objetivo era libertar a totalidade da Palestina, atualmente é
apenas libertar Gaza e Cisjordânia. Quanto aos meios, antes se considerava a
resistência armada como única forma legítima de luta, hoje vemos que a diplomacia
tem grande espaço nos grupos.
Com a assinatura dos Acordos de Oslo e a criação da ANP, a OLP teve de
passar de uma organização no exílio a uma administradora do próprio território. Os
acordos de Oslo são deveras muito criticados pela oposição palestina e em grande
medida pelo povo palestino. Até então, os palestinos tiveram de fazer concessões
consideráveis e os Acordos representavam um avanço muito lento.
Porém, os Acordos de Oslo não encontram vida longa nos governos eleitos
em Israel, a começar por Netanyahu, passando por Barak e Sharon. Enquanto o
105
movimento palestino se flexibilizou significativamente, Israel se radicalizou com
governos nacionalistas.
O surgimento do Hamas, como já mencionado, é uma consequência da
recusa de Israel em ceder terras por paz. Portanto, temos um cenário em que impera
o radicalismo e a violência dos dois lados, o que resulta em ciclos de violência que
até hoje não encontrou o seu fim.
Devido a isso, ambos os lados não enxergam as suas semelhanças, os
fatores de aproximação. Com a influência israelense e a vida levada no campo de
refugiados, os palestinos constituem o povo muçulmano mais aberto do mundo,
enquanto Israel dispõe de grandes movimentos pacifistas. A geografia e a economia
uniram os povos. Palestinos diariamente cruzam as fronteiras de Gaza e Cisjordânia
para trabalhar e comprar produtos fabricados em Israel. Claro que na maior parte
das vezes as condições de trabalho são injustas, e a isso se deve a intransigência
do governo de Israel. Porém, o ponto é: ambos os povos podem viver em paz e em
condições de igualdade e justiça.
Hoje, as relações de Israel com o mundo árabe se dão de forma ínfima,
apenas com o Egito e a Jordânia, os demais árabes, em apoio aos palestinos, não
negociam com o Estado israelense. Até quando Israel irá sobreviver numa área
hostil e que se nega a conversar? Já não passou da hora de negociar?
Por outro lado, como os israelenses, que em grande parte querem viver em
paz, elegeram radicais? A resposta vem através dos ataques do Hamas e da Jihad
Islâmica, que aterrorizou a população e esta necessitava de uma “solução” para a
violência. Essa solução veio através das promessas de erradicação dos ataques
terroristas.
Concluímos que de ambos os lados existe violência, sendo que Israel
responde de maneira muito mais radical do que os grupos palestinos.
Sobre o já comentado terrorismo, ambos os lados também se utilizam de
formas de “terror” uns contra os outros.
A pergunta principal é: a paz é possível? O principal impedimento é a recusa
de Israel em ceder terras. O Estado israelense também possui a força militar mais
poderosa da região, isso significa que em primeira instância, são os sionistas que
possuem o poder de barganha.
106
Por fim, após tudo o que já foi exposto, desde a Antiguidade, com sucessivas
guerras e dominações, até tempos atuais, chega-se à conclusão que enquanto
imperar a violência em Israel e na Palestina, a única e verdadeira dona das terras é
a morte. Porém, jamais podemos esquecer que isso pode mudar e que a paz é
possível.
107
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MAGNOLI, Demétrio (Org.). História da Paz. São Paulo: Contexto, 2008.
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O NASCIMENTO DE ISRAEL. Reporter: Jeremy Bowen. Câmera: Jonathan Young. Som: Jon Gilbert. Produção: Highlight Films. Editor online: Dominic McMahon. Produtor: Peter Morrow. Editor do filme: Dolores Shields. Documentário (58 min.).
OREN, Michael B. Seis Dias De Guerra: junho de 1967 e a formação do moderno Oriente Médio. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental – uma história concisa. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
RUBIN, Barry. Revolution until victory? : the politics and history of the PLO. 2. ed. United States of America: Harvard University Press, 1994.
SAID, Edward W. A Questão da Palestina. São Paulo: Ed. Unesp, 2012.
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SCALERCIO, Márcio. O Oriente Médio: Uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
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109
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O GLOBO ECONOMIA. Choques e descoberta do petróleo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/infograficos/linha-do-tempo-oil-gas/> Acesso em: 14 de novembro de 2013.
SACCO, Joe. Palestina. Tradução de Cris Siqueira. São Paulo: Conrad, 2011.
152
PRISCILA DROZDEK ALCÂNTARA
ANEXO J – TERRAS OCUPADAS POR ISRAEL NA GUERRA DOS SEIS DIAS
CURITIBA
2013
158
Palestine National Liberation Movement
Fatah
Internal Charter
Revolution is our path to freedom, independence, and construction
It is a revolution until victory
Introduction
In accordance with the Basic Charter ratified by Fatah's Fourth General Conference held in Tunis
in 1989,
In adherence to the principles, objectives, and methods agreed by the members of Fatah,
And in implementation of the decision of Fatah's Sixth General Conference held in Bethlehem on
4 August 2009,
This internal charter has been drafted to regulate the relationship between the members, cadres,
frameworks, and leaders of Fatah, and to define their tasks, duties, and methods of struggle to
achieve the goals of Fatah.
This internal charter has been adopted within the framework of adherence to the provisions of the
Basic Charter.
Brother and Comrade in Struggle:
This movement and this work are a national trust and a historic responsibility. You must shoulder
the precious trust and recognize the historic responsibility. You must prepare yourself to inspire
the spirit of organized revolutionary work in every Arab soul that is sincere to Palestine and that
believes in its liberation. Let us train ourselves to be patient and to face ordeals, bear calamities,
sacrifice our souls, blood, time and effort. All these are the weapons of revolutionaries.
Therefore, Brother, do not stop. With the calm of the workers, the silence of the sincere, the
determination of the revolutionaries, the resolve of the believers, and the patience of the
strugglers, you must act quickly because our people cannot spare a single moment after our
tragedy continued throughout all those long years. You must know that our enemy is strong and
the battle is ferocious and long. You must know that determination, patience, secrecy,
confidentiality, adherence to the principles and goals of the revolution, keep us from stumbling
and shorten the path to liberation.
Go forward to revolution. Long live Palestine, free and Arab.
"Fatah"
Internal charter
The fundamental concepts of the internal charter:
Fatah is a national, revolutionary movement and membership is confidential, unless otherwise
159
decided.
The revolution is for all the people who wage and practice it, and the movement is the
revolutionary organization that has the right to direct the revolution.
Collective leadership is the sole method of the movement. This means:
A) Democracy is the basis of debate, discussion, and decision-making on all organizational
levels.
B) Democratic centralism is the basis of handling responsibilities, and this involves unity of work,
ideological harmony, and political interaction in the movement.
C) Criticism and self-criticism are the basis of rectification and correction, and punishment is not
an end in itself but a means for assessment and development.
D) The minority must conform to the view of the majority, and those in lower ranks must abide
by the decisions of those in upper ranks in order to achieve discipline and unified organization
which must have a unified vision, ideology, and practice.
E) The movement believes in the sacredness of membership and the freedom of the individual,
and it rejects vengeance. The movement believes in the right of the citizen to participate in the
revolution, and it refuses to nullify this right unless this participation is a source of danger
threatening the movement's process and security.
Chapter One
Organizational Principles and Rules
Commitment and Discipline
Democratic Centralism
Criticism and Self-Criticism
Confidentiality
Article (1)
In its organizational work, the movement depends on the following principles:
First: Commitment. This means:
A) Firm belief in the Palestinian issue and the movement's objectives and full readiness to
sacrifice and struggle for its sake until victory.
B) Adherence to the movement's political program and regulations.
C) Adherence to the movement's decisions and defense of its positions.
Second: Discipline. This means:
Article (2)
A) Abidance by the provisions of the movement's internal regulations and rules.
B) Abidance by the organizational decisions of the leading committees.
160
C) Meticulous and accurate implementation of orders and adherence of those in the lower ranks
to the decisions, orders, and instructions of those in the upper ranks.
D) Non-discussion of internal issues outside organizational sessions or the movement's
frameworks.
E) Non-adoption of individual decisions or whimsical positions.
F) Adherence to organizational hierarchy.
Third: Democratic Centralism.
Article (3)
A) This means central planning, leadership, and control, but does not mean central
implementation. It also means freedom of discussion and the right of participation in the adoption
of decisions and recommendations within the organizational frameworks.
B) Democratic centralism is achieved through the adoption of the following organizational
methods.
1. Election of leadership bodies through the conferences mentioned in the internal charter.
2. Exercise of collective leadership.
3. Adherence of the minority to the view of the majority.
4. Adherence of those in the lower ranks to the decisions of those in the upper ranks.
5. Freedom of discussion and right of participation in decision-making within the organizational
frameworks.
6. Submittal of reports by the leaderships about their work to the bodies that elected them.
7. Submittal of reports by the lower frameworks to the upper frameworks.
Fourth: Criticism and Self-Criticism.
Article (4)
This is one of the cornerstones for evaluating revolutionary practices, emphasizing their positive
results, circumventing their negative effects, and ensuring the safety of the march of the
movement. Criticism and self-criticism are practiced within the organizational frameworks.
Fifth: Confidentiality
Article (5)
Confidentiality is a principle entrenched in the movement's internal charter and oath. It cannot be
circumvented except within the limits of necessity condoned by the organizational frameworks.
Sixth: Organizational rules and principles are realized through the following methods:
Article (6)
1. When convened, the movement's conferences (General Conference, District Conference, and
Area Conference) are the highest leading authorities, each according to its specialty and
161
jurisdiction mentioned in the internal charter. They have the sole authority to elect the leading
committees, plan their activities, and observe and question their practices.
2. Collective leadership is exercised through the committees' work. Each committee from top to
bottom must undertake its tasks, taking in mind that it is a complementary unit that works in
conjunction with other units, that all issues must be rationally discussed through the units and
committees, and that all decisions are taken by a majority of votes.
3. The decisions of conferences are binding on all the leaders and members of the movement
and those in the lower ranks must abide by the decisions of those in the upper ranks.
4. Achievement of equality among members through adherence to the movement's rules,
regulations and decisions. Competence, loyalty, and sacrifice are the criteria for evaluation and
promotion.
Chapter Two
Membership
Types of membership, Requirements, Rights, Obligations, Continuity
Article (7) Membership
A) Membership in the movement is the right of every Palestinian or Arab who possesses the
necessary requirements, believes in the liberation of Palestine, and fully adheres to the
movement's internal charter, political program, and all its regulations and political and
organizational decisions.
B) The Fatah Central Committee can grant membership to a friend of the movement who has
decided to be committed to the movement.
Article (8) There are two categories of membership:
A) Active member:
1. This is a member who has successfully completed the trial period as a supportive
member. His membership as an active member is confirmed by a decision from the regional
committee or upon the recommendation of the leading organizational frameworks in the central
authorities and the approval of the Mobilization and Organization Commission.
2. Persons with a proven track record of struggle will be given membership of the movement in
accordance with special regulations prepared by the Central Committee and approved by the
Revolutionary Council.
3. Members of the Boy and Girl Scouts establishment and the Al-Shabibah [Youth] organization
will become active members of the movement when they reach the age of 18 upon a
recommendation from their previous organizations.
162
B) Supportive member: This is a person who is a candidate to join the movement and whose
candidacy is subject to the following conditions:
1. He must meet the membership requirements mentioned in Article (9) of this internal charter,
except the paragraph regarding the oath.
2. He must be recommended by two members who have been with the movement for at least one
year.
3. He must successfully pass a six-month trial and preparatory period during which he must grasp
the theoretical principles of the movement and enthusiastically perform his assignments.
Article (9) Requirements of Membership
A member in the movement must meet the following requirements:
A) He must not be below the age of 18.
B) He must have a good reputation and national credibility. He must not have committed any
criminal, immoral, or dishonorable act.
C) He must respect the people and their traditions, serve them, and protect their interests and
security.
D) He must be independent and not committed to any other organization or party.
E) He must demonstrate a reasonable amount of awareness and ability to assume
responsibility. He must have an amicable personality.
H) He must have sufficient readiness for self-sacrifice and self-denial.
1) He must take the following "Oath of Loyalty to Palestine": "I swear by Almighty God and by my
honor and beliefs that I will be faithful to Palestine and that I will spare no effort in working for its
liberation. I swear that I will not disclose any of the movement's secrets or affairs. This is a free
oath. God bears witness to what I say."
Article (10) Acquisition of Membership
A) Members are accepted in the movement on an individual basis according to their competence
and readiness to work and sacrifice.
B) Members of the Boy and Girl Scouts establishment are accepted in the Shabibah Organization,
each in their region, according to special regulations, when they reach the age of 18.
Article (11) Rights of Membership
A member in the movement has the following rights:
A) To have all rights mentioned in the internal charter.
B) To have the same and equal rights and obligations as all other members.
C) To climb the organizational ladder according to the terms of this internal charter and on the
basis of competence, efficiency and loyalty.
163
D) To have complete freedom of criticism, objection, protest, discussion, debate, and questioning
only within the organizational sessions.
E) To criticize and cross-question any leading member within the organizational hierarchy.
F) If accused or cross-questioned, to defend himself in front of the leading committees and
authorities, the control committees, and the movement's court.
G) To receive a written reply to his queries and questions within no more than one month.
H) To enjoy protection in the sense that he will not be dismissed, shunned, or suspended, unless
he is tried and convicted by the movement's court.
I) To have the right to meet senior officials, including members of the Central Committee, if the
need arises.
Article (12) Obligations of Membership
A member of the movement must undertake the following obligations:
A) Constant and unrelenting struggle to achieve the principles and goals of the movement.
B) Complete commitment to the political program of the movement and implementation of its
political line.
C) Application of the Basic Charter and sincere and meticulous implementation of all decisions.
D) Maintenance of the organizational and ideological unity of the movement and rejection of, and
resistance to, all other groups.
E) Constant and studious work to theoretically and practically elevate the level of education and
experience.
F) Attendance of all meetings and regular payment of subscriptions.
G) A member must set the example of altruism, courage, loyalty, sacrifice, patience,
perseverance, and self-denial.
H) A member must work continuously to create a strong relationship with members of the public
and win their respect and confidence. A member must constantly disseminate the principles of
the movement, attract leading figures from the people, and expand the base of the movement.
I) A member must engage in criticism and self-criticism, and play an active role in the
organizational sessions and in public and volunteer work.
J) A member must be constantly alert to the activities of the enemy and the forces hostile to the
revolution.
K) A member must keep the secrets of the movement's individuals, committees, and
formations. A member must adopt the appropriate methods of secrecy in work.
I) A member must work in a brotherly and collective spirit, and must discard all individual and
whimsical methods and other harmful methods.
164
j) A member must serve the people faithfully and conscientiously.
k) A member must put himself at the disposal of the movement and carry out revolutionary duty in
any way requested.
Article (13) Continuity, Suspension, and Cancellation of Membership
A) Membership continues as long as the member continues to fulfill his tasks and obligations.
B) Membership is suspended if the member ceases to fulfill his tasks for three consecutive
months without any reasonable excuse, or if he requests to be suspended. Membership cannot
be restored without a decision by the district committee for district members and by the Central
Committee for other members.
C) Membership is suspended if a member stops paying monthly subscriptions for three
consecutive months if he is well-off financially. The matter must be submitted to the Mobilization
and Organization Commission.
D) Membership is cancelled if a decision to this effect is taken by the concerned committee as a
result of behavioral, political or organizational violations, which are punishable by cancellation of
membership.
Chapter Three
Leading Bodies of the Movement
General Conference
General Council
Revolutionary Council
Central Committee
Membership Control and Protection Committee and Financial Control Committee
General Conference
Article (14)
The General Conference of the movement consists of:
A) Members of the Central Committee and the Revolutionary Council.
B) Members of the Advisory Council of the movement.
C) District representatives elected in the district conferences. In the case of districts where
conferences cannot be held, whether in the homeland or abroad, the Central Committee will
select these representatives.
E) Military members of the movement provided their number does not exceed 20 percent of the
total number of the members of the conference.
F) A number of the movement's cadres:
1. Those who work in popular and professional organizations.
165
2. Those who work in the leading bodies of the movement (commissions).
3. Those who work in the departments of the State of Palestine and the PLO, in the
establishments and ministries of the Palestinian National Authority, and in semi-official
establishments.
4. Members of the movement who are very competent and who are appointed by the Central
Committee as representatives of the movement in other countries.
5. Competent members of the movement provided number does not exceed 10 percent of total
numbers of the members of conference.
Article (15) Requirements of Membership in the Conference:
A) Membership in the conference is linked to the representative nature mentioned in Article 14.
B) A member in the conference must have been an active member in the movement for 10 years.
C) A member in the conference must have a clean record.
D) A member in the conference must meet all the requirements of membership in the movement.
Article (16) Jurisdictions of the Conference:
When convened, the conference is the highest authority in the movement, and it exercises the
following jurisdictions:
1) Discusses the reports, decisions, and duties of the Central Committee, questions the Central
Committee, and debates the activities of the movement's departments and institutions.
2) Endorses or amends the internal charter upon the recommendation of two-thirds of the
attending representatives.
3) Approves the movement's rulings and procedures, as well as its political programs and other
relevant issues.
4) Withholds confidence from some or all members of the Central Committee upon the
recommendation of two-thirds of the attending members.
5) Elects, by secret vote, the required number of the Central Committee members.
6) Elects, by secret vote, the required number of the Revolutionary Council members.
Article (17) Convening the General Conference:
A) The Central Committee calls for a regular session once every five years.
B) The Conference may hold an extraordinary session within no more than one month upon the
request from two-thirds of its members or one-half of the members of the Revolutionary Council,
or upon the invitation of the Central Committee. The agenda must include the topics that
necessitated the session.
C) Sessions are deemed legal if two thirds of the members are present provided all members
have been informed in writing two weeks prior to the meeting. If no quorum is present, the
166
meeting will be put off for 24 hours, and then convened if more than half of the members are
present.
General Council
Article (18)
The General Council is made up of no more than 350 members of the General Conference, and
as follows:
A) Members of the Central Committee and the Revolutionary Council.
B) The remaining members will be selected by the Revolutionary Council in accordance with the
membership provisions of Article 14 of the internal charter.
Article (19)
The General Council has the jurisdiction to call for an extraordinary meeting of the General
Conference according to a system approved by the Revolutionary Council provided this system
does not conflict with the conference resolutions.
Article (20)
The General Council is convened at the request of the Central Committee or the Revolutionary
Council provided the issue to be discussed is specified.
Revolutionary Council
Article (21)
The Revolutionary Council consists of:
A) The members of the Central Committee.
B) Eighty members elected by the General Conference from its members, provided the candidate
member gets at least 20 percent of the electors' vote. In the event some candidates do not get
the required percentage of votes, reelections are held among double the required number of
candidates who got the highest number of votes in the first round.
C) No more than 25 competent civilian and military members selected by two-thirds of the
members of the Central Committee and endorsed by the Revolutionary Council.
D) No more than 20 prisoners of the movement in the prisons of the occupation nominated by
two-thirds of the members of the Central Committee and endorsed by the Revolutionary Council.
These members are counted in the quorum when they are able to attend meetings.
Article (22)
A candidate for the Revolutionary Council must have been an active member of the movement for
15 years without interruption and his organizational rank must be no be less than that of a head of
district committee or its equivalent in the movement's forces and organs.
Article (23) Jurisdictions of the Revolutionary Council
167
When convened between two sessions of the General Conference, the Revolutionary Council is
the highest authority in the movement. Its jurisdictions are:
A) To follow up and implement the decisions of the General Conference.
B) To monitor -- through the membership and control and protection committee and the financial
control committee -- the work of the central departments and the conditions of the movement in
the districts.
C) To monitor the military affairs of the movement in a way that does not run counter to
confidentiality.
D) To discuss the decisions, activities, and reports of the Central Committee and make
appropriate decisions accordingly.
E) To interpret the provisions of the internal charter in the event of a dispute in their interpretation.
F) To elect the chairmen of the membership control and protection committee, the financial
control committee, and the movement's court.
F) To elect, by secret vote, the members of the membership control and protection committee, as
well as the financial control committee, at the first session of the council.
G) To discuss the reports of the committees emanating from the General Conference and make
appropriate decisions in this respect.
Article (24)
At its first session, the Revolutionary Council elects by secret vote from among its members a
secretariat consisting of a secretary and two deputies. The secretary must be on a full-time basis
and must not be a member of the Central Committee.
Article (25)
The secretary of the Revolutionary Council will participate in the meetings of the Central
Committee as an observer.
Article (26)
The Revolutionary Council will draw up its own internal regulations which are approved by the
majority of members.
Article (27)
If there is no quorum at the Central Committee, the Revolutionary Council is called to meet within
two weeks to elect, by secret vote, two thirds of its members in order to maintain a quorum.
Article (28)
If vacancies in the Central Committee are not filled within three months, the Revolutionary
Council is called to meet in an emergency session during which vacancies are filled by its
members by secret vote, provided each candidate is elected by absolute majority.
168
Article (29)
If vacancies occur in the Revolutionary Council, they will be filled by competent members of the
General Conference, provided each candidate is elected by absolute majority.
Article (30)
If a vacancy in the Revolutionary Council belongs to a competent member, the Central
Committee fills the seat. If the Central Committee does not fill the vacancy during the period
between two sessions of the Revolutionary Council, the Revolutionary Council fills the vacancy
provided the candidate is a member of the General Conference.
Article (31)
The Revolutionary Council is entitled to dismiss or suspend one or more members of the Central
Committee if an offense is committed. This is decided by two thirds of the members provided that
the number of dismissed or suspended members does not exceed one third of the members of
the Central Committee.
Article (32)
The Revolutionary Council is entitled to dismiss or suspend one or more of its members if an
offence is committed. This is decided by a two-thirds majority of the council.
Article (33) Meetings & Decisions:
The Revolutionary Council meets regularly every three months upon an invitation from its
secretary. The Revolutionary Council may hold an extraordinary session upon a decision by the
Central Committee or upon a written request addressed to its secretary by two thirds of its
members.
Article (34)
A quorum is maintained if two thirds of the Revolutionary Council members are present provided
they have been officially notified three days prior to the meeting. If a quorum is not maintained,
the council will convene if there is an absolute majority 24 hours after the set date.
Article (35)
Decisions of the Revolutionary Council are made by absolute majority of the present members
except in cases otherwise stated, and voting is done by a show of hands unless the council
decides otherwise.
Article (36)
A) Upon the election of its secretariat, the Revolutionary Council forms committees. These are:
Permanent committees:
-- Membership Control and Protection Committee.
-- Financial Control Committee.
169
Other Committees:
-- Mobilization and Organization Committee.
-- Political Committee.
-- Information and Culture Committee.
-- Military, Security, and Intelligence Affairs Committee
-- Popular Organizations Committee.
-- Economic Committee.
-- National Relations Committee.
-- Foreign Relations Committee.
-- Government Affairs and National Building Committee.
-- Social Affairs Committee.
-- Jerusalem Committee.
-- Refugees Committee.
-- Prisoners, Wounded, and Martyrs Committee.
-- Committee Against Colonization, the Wall, and Ethnic Cleansing.
B) It is not allowed to be a member of more than one committee. Each member can be a member
of one committee and an observer in another.
C) The committees meet prior to the meeting of the council to which they submit reports on their
work.
D) A quorum at the meetings of the committees exists when the absolute majority of members
are present.
E) Each Committee submits is regulations for endorsement by the Revolutionary Council at its
first session.
Article (37)
The heads of the Financial Control Committee and the Membership Control and Protection
Committee are elected directly by the Revolutionary Council.
Article (38)
The Financial Control Committee and the Membership Control and Protection Committee are
each comprised of nine members, including the head of the committee.
Article (39)
The Revolutionary Council will elect the members of the Financial Control Committee and the
Membership Control and Protection Committee at its first session after it elects the secretariat of
the council.
Article (40) Fatah's Court
170
The Revolutionary Council will elect the head of Fatah's Court during its first session, and the
Central Committee will form the court and draw up its regulations.
Central Committee
Article (41)
The Central Committee is made up of 23 members as follows:
1. The leader of the movement directly elected by the General Conference.
2. Eighteen members elected by the General Conference.
3. Four members elected upon the recommendation of the leader of the movement, the approval
of two thirds of the members of the Central Committee, and the endorsement of the Revolutionary
Council.
Article (42)
A candidate for the Central Committee must have been an active member of the movement for 20
years without interruption and must receive the votes of 25 percent of the members of the
General Conference.
Article (43)
1) At its first session, the Central Committee elects:
A) Deputy leader of the movement.
B) Secretary of the Central Committee.
C) Deputy Secretary of the Central Committee.
Article (43)
The leader of the movement carries out the following tasks:
1. Chairs and runs the meetings of Central Committee in accordance with the internal regulations
of the Central Committee.
2. Approves, together with the secretary of the Central Committee, the minutes of the meetings of
the Central Committee.
3) Follows up, together with the secretary, on the implementation of the Central Committee
decisions.
Article (44)
1. The deputy leader of the movement carries out the tasks of the leader of the movement in the
event of the latter's absence and any tasks assigned to him by the Central Committee.
2. Circulates an internal memo on the topics and issues discussed and which the Central
Committee believes are necessary to circulate and distribute through the Mobilization and
Organization Commission.
3. Chairs the Mobilization and Organization Commission and supervises the work of other
171
commissions.
Article (46)
The secretary of the Central Committee carries out the following tasks:
1. Calls a meeting of the Central Committee after coordinating with the leader of movement.
2. Prepares the agenda after coordinating with the leader of the movement.
3. Organizes and keeps a record of the meetings of the Central Committee and all documents
connected with the Central Committee.
Article (47)
The deputy secretary carries out the tasks of the secretary in the event of the latter's absence.
Article (48)
1. The General Command of the Al-Asifah Forces is made up of:
A) The leader of the movement.
B) The deputy leader of the movement.
C) The commissioner of the military, security, and intelligence affairs.
2. The Al-Asifah Forces are the military arm of the movement.
Article (49)
At its first session, the Central Committee assigns tasks to its members. A member must not
undertake two tasks at the same time.
Article (50)
The Central Committee forms the following commissions:
1. The West Bank Commission.
2. The Gaza Strip Commission.
3. The External Regions Commission.
4. The Popular Organizations Commission.
5. The Ideological Mobilization and Studies Commission.
Other commissions:
6. The Election Commission.
7. The Financial and Economic Commission.
8. The National Relations Commission.
9. The Arab Relations Commission.
10. The International Relations Commission.
11. The Military, Security, and Intelligence Affairs commission.
12. The Information and Culture Commission.
13. The Jerusalem Commission.
172
14. The Civil and Non-Governmental Organizations Commission.
15. The Governmental Affairs and National Building Commission.
16. The Social Affairs Commission, any other commissions it finds necessary.
Article (51)
All members of the Central Committee are equal in rights and duties.
Article (52)
The Central Committee meets at least once every two weeks to review the progress of work in all
the movement's apparatuses, establishments, and commissions, and to issue the necessary
decisions and instructions. Every member shall be responsible for his duty during the period
between meetings and submit a report on his work. Emergency meetings of the Central
Committee may be held at the request of the leader of the movement or of two-thirds of the
committee's members to discuss a specific topic mentioned in the request.
Article (53)
The Central Committee is collectively responsible for all the activities and practices of the
movement.
Article (54)
A quorum exists at the meeting of the Central Committee when two-thirds of the members are
present. If no quorum exists, the meeting will be put off for 24 hours, and then reconvened if
more than half of the members are present.
Article (55)
The decisions of the Central Committee are issued by absolute majority of present members
unless otherwise stated in the statute.
Article (56)
If vacancies occur in the Central Committee due to death, dismissal, resignation, or crippling
illness, they will be filled from the members of the Revolutionary Council following a vote requiring
a two-thirds majority. The elected candidate must be a competent member of the movement and
must meet the requirements of membership in the Central Committee.
Article (57) Jurisdictions
The Central Committee exercises its jurisdictions as the executive leadership of the General
Conference. The jurisdictions are:
A) Running daily activity and directing the internal, external, political, military, and financial
policies of the movement as well as assuming leadership responsibilities in various aspects.
B) Leading the movement in all public and official Palestinian, Arab and international affairs.
C) Implementing the political, organizational, military, and financial decisions of the General
173
Conference and the Revolutionary Council as well as the political program endorsed by the
General Conference.
D) Discussing disciplinary violations and misapplications of the Basic Charter and taking the
appropriate procedures.
E) Maintaining the cohesion of the movement and ensuring the implementation of the internal
charter.
F) Calling a meeting of the General Conference, preparing its agenda, and submitting detailed
written reports about its activities.
G) Supervising the publication of the statements, newsletters, and studies issued by the
movement.
H) Setting up the movement's court, drawing up its internal regulations, and endorsing the
sentences passed by the court. Endorsement of the sentences needs a two-thirds majority of
votes.
I) Endorsing the appointment of members of leading bodies of the central and administrative
departments and the movement's central offices, and renewing the endorsement every year.
J) Endorsing the appointment of members of the movement's central offices who are elected
according to special regulations.
K) Nominating the members of the Fatah movement for the Palestine National Council, the
Palestinian Legislative Council, the PLO Executive Committee, and the Palestinian National
Authority, in accordance with specific mechanisms adopted by the Central Committee and
approved by the Revolutionary Council.
Article (58) The Central Committee will draw up its own internal regulations within no more than
three months since the start of its work.
Article (59) During its first meeting after the General Conference, the Central Committee
distributes work among its members in accordance with the specializations listed in the internal
charter and which include all activities and responsibilities.
Chapter Four
Leading Bodies of the Movement
1. Districts: District, District Conference, District Committee
2. Areas: Area, Area Conference, Area Committee
Part One: Districts
Article (60)
A) 1. The term "district" is given to any organizational branch of the movement within the
homeland or abroad.
174
2) A district within the homeland consists of 10 organizational areas meeting the organizational
requirements.
3. A district in a country abroad consists of three organizational areas meeting the organizational
requirements.
4. A governorate within the homeland or abroad that does not have the required number of
districts is named according to the size of the organization and its name is mentioned in this
internal charter: district, branch, and wing.
B) A district consists of organizational areas named, from base to top: cells, wings, and branches.
C) An organization that exists in unfavorable security conditions does not adhere to this
arrangement after obtaining the approval of the Mobilization and Organization Commission.
D) The leading committee of any organizational branch is given a leading rank it deserves
depending on the number of the organizations in the district. The committee is directly
responsible to the General Mobilization and Organization Commission and has the jurisdiction of
a district committee.
H) It is permissible to gradually increase the organizational rank of the leading committee or in the
case of base frameworks in the districts, which do not have sufficient numbers to form an area,
depending on length of service, efficiency, and activity. This is done by a recommendation from
the district committee and by a decision from the General Mobilization Commission.
I) The cell is the base of the organization in the movement.
Article (61)
New cells are formed with the approval of the district committee upon a recommendation from the
area committee. In the event there is no district committee, new cells are formed by the leading
committee in the region.
Article (62) District Conference
A district conference is made up of:
A) Members of the district committee.
B) Members of the district's area committees.
C) A representative of each popular organization in the district.
D) Former members of the district committees during the previous conference provided they are
still active members in the movement.
E) Competent members in the district chosen by the district committee provided their number
does not exceed 15 percent of the members of the conference.
F) One member from each central apparatus (commission) in the district.
Article (63) Jurisdictions
175
The district conference exercises the following jurisdictions:
A) Discusses the decisions and activities of the district committee and questions its members.
B) Discusses the conditions of the area committees, their decisions, and their activities.
C) Draws up organizational plans for the various political and national tasks and for political
forces, popular organizations, thinkers, politicians, and journalists, as part of the general strategic
plan approved by the General Congress, the Central Committee, and the Revolutionary Council.
D) Discusses the various issues of the movement and submits recommendations regarding these
issues.
H) Elects the required number of representatives of the district to the General Conference.
Article (64) Requirements of Membership in the District Conference
A) Membership in the district conference is contingent on the representative nature mentioned in
Article 62.
B) A member of the district conference must have been an active member in the movement for at
least six years.
C) A member of the district conference must have a clean record and must not have committed
any crime or an immoral or dishonorable act.
Article (64)
A) A district conference convenes once every two years.
B) A district conference may hold an emergency meeting:
1. Upon a decision by the district committee and the approval of the Mobilization and
Organization Commission.
2. Upon a written request from two-thirds of the members of the conference and the approval of
the Mobilization and Organization Commission.
3. In the event of a lack of quorum in the district committee due to resignation, suspension, death,
or a crippling illness.
Article (65)
In the districts where it is difficult to hold elections due to security considerations or due to nonfulfillment
of organizational requirements, the Central Committee appoints a district committee
and its secretary.
Article (67) District Committee
A district committee consists of:
1. At least five members and no more than seven members in a district abroad.
2. At least nine members and no more than 15 fifteen members in a district within the
governorates of the homeland.
176
3. The number decided for the district committee is approved by the Mobilization and
Organization Commission.
Article (68) Meetings
A) A district committee meets once every two weeks under the chairmanship of the secretary of
the district committee. In the event of the secretary's absence, it is chaired by the deputy
secretary. It is allowed to hold emergency meetings when necessary.
B) A quorum exists at a meeting of the district committee if two-thirds of the members are present.
If there is no quorum, the meeting will be put off for 24 hours if half of the members plus one are
present.
C) A district committee's decisions are taken by absolute majority of present members.
Article (69) Jurisdictions:
A district committee, as the leading committee in the district, exercises the following jurisdictions:
A) Implements the decisions of the higher leading frameworks.
B) Supervises all the institutions and apparatuses of the movement in the district.
C) Draws up the appropriate plans for all activity in the district.
D) Recommends to the Mobilization and Organization Commission the suspension or
cancellation of the membership of no more than two of its members and explains the reasons for
the recommendation.
E) Runs the daily affairs of the movement in the district.
F) Ensures the safety and cohesion of the movement and coordinates work among the various
areas.
G) Calls a meeting of the district conference, prepares its agenda, and submits detailed written
reports about all activity in the district.
H) Prepares an organizational plan for the members, and reports any new developments to the
Mobilization and Organization Commission once every six months.
Article (70)
After a legal investigation, the Central Committee is entitled to suspend or cancel the membership
of one or more of the district committee members provided the number does not exceed one third
of the members of the district committee. Should the need arise to suspend or cancel the
membership of more than one third of the members, the district conference must be called for an
emergency session.
Article (71)
The district committee informs the Mobilization and Organization Commission about the transfer
of a member to another district, after agreeing with him on the means of communication.
177
Article (72)
A commission exercises its activity in a district after coordinating with the Mobilization and
Organization Commission.
Article (73)
A district committee distributes tasks among its members, including the deputy secretary, in a
way that ensures control of the affairs of the movement in the district.
Article (74)
The Central Committee selects a district secretary from a list prepared by the district conference
after consulting with the district committee through the Mobilization and Organization
Commission. The district secretary exercises the following jurisdictions:
A) Calls the district committee for a meeting over which he presides. In the event of his absence,
the meeting will be presided over by the deputy secretary.
B) Submits monthly or immediate reports to the Mobilization and Organization Commission.
C) Follows up on the implementation of the decisions, recommendations, and tasks of the district
committee.
D) Sends out invitations for the holding of district conferences.
E) Signs payment orders in accordance with financial regulations.
Article (75)
A deputy secretary undertakes the duty of the secretary in the event of the latter's absence.
Article (76)
A) When necessary, the Central Committee nominates an accredited representative to districts
abroad. The rank of the candidate must be no less than that of a district committee member for at
least three years.
B) An accredited representative undertakes the tasks assigned to him by the Central Committee.
His relationship with the district committee is defined in accordance with internal regulations
issued by the Mobilization and Organization Commission.
Article (77) District Council
A district council is established in every district. Its role is advisory and is defined in a list of duties
issued by the Mobilization of Organization Commission.
Article (78) District Budget
The district budget consists of the following:
A) Subscriptions.
B) Contributions.
C) Local investments and resources.
178
D) The budget must be approved by the financial office of the movement.
Article (79)
1. The district draft budget is prepared by the district committee.
2. The Mobilization and Organization Commission is entitled to approve the budget as is or to
amend it.
Part Two: Areas
The term "area" is given to a framework that consists of:
A) At least 10 organizational branches within the homeland.
B) At least five organizational branches abroad.
C) At least three organizational branches in the student districts.
Article (81) Area Conference
The area conference consists of:
A) Members of the branches' committees.
B) Former members of the area committee at the previous conference.
C) No more than 10 percent of the conference members nominated by the area and approved by
the district committee, if the need arises.
D) Secretaries of the popular organizations in an area.
Article (82) Jurisdictions:
The area conference exercises the following jurisdictions:
A) Discusses the area's decisions and activity and questions its members.
B) Discusses the conditions of the organization in the area.
C) Discusses general issues in the movement and the district and submits recommendations
regarding them.
E) Elects by direct secret ballot the required number for the area committee (five to nine),
including at least one woman, from the members of the conference within the homeland, and five
5 to 7 persons from abroad, provided they have been active members in the movement within the
homeland for at least seven years and in the student districts for three years.
Article (83)
The district committee selects the secretary of the area committee from among elected members
subject to the approval of the Mobilization and Organization Commission.
Article (84)
A) The area conference meets once every two years, preferably in the same district.
B) The conference may hold an emergency meeting at the request of the area committee and
upon the approval of the district committee.
179
C) The conference may hold an emergency meeting in the event of a lack of quorum in the area
committee due to resignation, suspension, death, or crippling illness.
Article (85)
In the areas where it is difficult to hold elections due to security considerations or due to nonfulfillment
of organizational requirements, the area committee selects members from a list of
candidates approved by the Mobilization and Organization Commission.
Article (86) Requirements of Membership in Area Conference:
A) A member of the conference must have been an active member in the movement within the
homeland or in important arenas abroad for five years.
B) A member of the conference must have been an active member in student districts abroad.
Article (87) Area Committee
An area committee consists of:
A) Five to nine members in the areas within the homeland to be elected by the area conference
provided they have been active members in the movement for seven years.
B) Five to seven members in the areas abroad to be elected by the area conference provided
they have been active in the movement for seven years or three years in the student districts.
Article (88)
The area committee selects a secretary after securing the approval of Mobilization and
Organization Commission. His tasks will be the same as those of the district secretary.
Article (89)
The area committee meets once every week under the chairmanship of its secretary. The
committee may hold an emergency meeting depending on circumstances. The committee follows
the same procedures as those of the district committee with regard to quorum and voting
requirements.
Article (90) Jurisdictions
The area committee exercises its jurisdictions in its capacity as the executive leadership in the
area. These jurisdictions are the same as those of the district committee.
Article (91)
After a legal investigation, the area committee is entitled to suspend or cancel the membership of
no more than two members of the area. Should the need arise to suspend or cancel the
membership of more than two members, the area conference is called for a meeting to elect a
new committee.
Article (92)
The area committee is entitled to make any change necessitated by organizational requirements
180
for the branches, cells, or wings committees.
Article (93)
The area committee appoints the secretaries of the cells, rings, and wings committees, while the
secretaries of the branches committees are appointed by the district committee upon the
recommendation of the area committee.
Chapter Five
Article (94) Base Frameworks in the Movement
1. In the homeland's districts, the base frameworks in the movement are:
A) A cell. It consists of five to seven members including the secretary.
B) A wing. It consists of five cells.
C) A branch. It consists of five wings.
D) An Area. It consists of at least 10 branches.
2. Abroad, the base frameworks are:
A) A cell: It consists of three to five members including the secretary.
B) A wing. It consists of five cells.
C) A branch. It consists of five branches.
D) An Area. It consists of five branches at least in the main arenas and three branches in the
student districts.
Article (95) Obligations of the Base Frameworks
A) Providing members with revolutionary education, strengthening their commitment and
discipline, developing their awareness and experiences, and enhancing their active participation
according to the programs set by the Mobilization and Organization Commission.
B) Undertaking their tasks enthusiastically and sparing no effort in achieving the movement's
objectives and principles.
C) Exerting strenuous efforts to enhance interaction with the masses and winning their respect
and confidence.
D) Striving continuously inside popular organizations and maintaining commitment to membership
in these organizations.
E) Working strenuously hard to protect the movement and develop its ability to confront and
triumph over its enemies.
Article (96)
The area committee, the branch committee, the wing committee, and the cell committee, assume
the responsibility of leadership, each in its organizational capacity, in the following fields:
A) Teaching their members according to the movement's political program and internal charter.
181
B) Urging their members to embody the attitudes of the movement and implement its decisions.
C) Upgrading the awareness of their members, increasing their cohesion with the movement,
enhancing their active participation, and developing their experience and potential.
D) Increasing the military training of their members and raising their fighting, cultural, and military
capabilities.
E) Increasing the cohesion of their members with the masses and winning the confidence and
trust of the masses.
F) Creating brotherly relations with the bases and organizational ranks.
G) Monitoring the payment of subscriptions, observing the behavior of the members of the
movement and their organizational conduct, and ensuring that the members implement the tasks
assigned to them.
H) Setting the example of sacrifice, active participation, faithfulness and team work.
I) Ensuring speed and reliability in the delivery of reports, information, and leaflets.
J) Paying attention to the members' problems and taking appropriate initiatives to ensure rapid
and revolutionary solutions.
K) Examining the members' work fields, identifying positive and negative aspects, and taking the
appropriate measures.
L) Questioning the members about their actions and criticizing them for their individualism,
negligence, or laziness.
M) Submitting regular reports to the higher committee about the activities of the members.
Chapter Six
Penalties
Article (97)
The aim of the organizational penalty is to:
A) To upgrade positive behavior and develop the personality of the member.
B) To secure the integrity of the movement and eliminate corruption.
Article (98)
The organization penalties are:
A) Reprimand.
B) Warning.
C) Suspension.
D) Demotion.
E) Dismissal.
Article (98)
182
Organizational violations are three categories:
First category: Dismissal for:
A) Violation of Chapter One of the Internal Charter.
B) Delinquency.
C) Illegal cooperation with any other non-adversary movement and disclosure of the movement's
secrets to it.
Second category: Suspension or demotion for:
A) Violation of commitment to the movement by not adhering to its political program and
decisions.
B) Violation of protection of membership.
C) Violation of the principle of equality among members.
D) Violation of the principle of freedom of speech.
E) Violation of discipline by:
1. Not respecting the Internal Charter.
2. Refusing to obey orders.
3. Discussing organizational matters outside frameworks.
4. Not respecting hierarchy.
5. Offending the masses.
6. Offending other members.
7. Disclosing secrets.
8. Libeling others.
9. Circulating false rumors.
Third category: Reprimand or Warning for:
A) Non-participation in organizational activities for over one month without an acceptable excuse.
B) Refusal to exercise self-criticism when deemed necessary by the respective unit.
C) Late arrival to a meeting without an excuse.
D) Non-engagement in self-education.
E) Exhibition of arrogance and laziness.
Article (100)
Repetition of offenses is a reason for a stricter penalty. If the same offense is repeated, the
maximum penalty is imposed.
Article (101)
1. The Central Committee signs the dismissal penalty.
2. In addition to the Central Committee, the Mobilization and Organization Commission and the
183
district committee sign the demotion or suspension penalty.
3. The higher organization rank signs the reprimand penalty.
4. All organizational ranks sign the warning penalty, beginning with the framework in which the
member is enrolled.
Article (102)
All ranks are entitled to examine violations by forming investigating committees prior to the
passing of sentences. Violations punishable by reprimand are excluded from this rule.
Article (103)
It is permissible to revise a penalty by a rank higher than the rank that signed it. A penalty signed
by the Central Committee can only be contested by the Revolutionary Council.
Article (104)
It is permissible to impose a penalty separately or in conjunction with other penalties imposed by
the movement's court.
Article (105)
It is impermissible to pass a sentence that combines two organizational penalties for one violation.
Article (106)
It is impermissible to impose a penalty without giving the accused member the right to defend
himself, to be heard, and to given time to prove his innocence.
Article (107)
In the event the member refuses to appear before the committee formed to examine the
violations reported against him, he is summoned again within a week, following which a trial takes
whether he attends or not, provided it is confirmed that he has been notified.
Article (108)
The Central Committees examines petty crimes and takes the appropriate decision regarding
them.
Chapter Seven
Article (109)
The appended regulations and those endorsed by the Revolutionary Council and which were
transferred to it by the General Conference, have the same power as the Internal Charter,
provided they do not contradict it.
Article (110)
Membership in the movement is a sacred right which can only be acquired by those who enroll in
one of the movement's leading or base frameworks.
Article (111)
184
Working in the movement's commissions, apparatuses, and offices is an added task that does not
entail membership, nor does it constitute a substitute for an organizational job in any of the
organizational ranks. Similarly, deputizing a member to do any task outside the movement's
departments is not a substitute for the movement's organizational framework.
Article (112)
During an organizational meeting, every member has the right to participate in a debate before a
decision is made. Debate may be allowed after a decision is made, and a member has the right to
object to a decision after it is implemented.
Article (113)
Each member must undertake minimal military training and must be completely qualified to
undertake his tasks.
Article (114)
A member has the right to know his job description according to the requirements of his
membership and his organizational ranks.
Article (115)
A member who is dismissed or is subjected to some arbitrary act without a decision by the
movement's court has the right to appeal to the Member Protection Committee
Article (116)
Equality among organizational ranks in committees, offices, and executive departments must be
taken into account so that they enjoy equal responsibilities, rights and obligations.
Article (117)
Communication with a district committee member is entrusted to the district committee secretary
or one of its members. A district committee member must handle any task assigned to him by the
district committee, and this equally applies to an area committee member in the respective area
boundary.
Article (118)
Members of the Central Committee who have failed in the General Conference elections have the
right to maintain their membership in the conference and to perform any tasks assigned to them
by the Central Committee, and this equally applies to the members of the Revolutionary Council.
Article (119)
Women are represented in all the movement's leading frameworks. The leading bodies will work
to arrive at 20 percent participation for women, provided this does not conflict with organizational
standards or the Internal Charter.
Article (120)
185
An advisory council for the movement is formed. The council will consist of former Central
Committee members, former Revolutionary Council members, and other competent members,
within a criterion defined in a special regulation explaining the council's role, task, and
membership. The criterion will be approved by the Revolutionary Council.
* The provisions of this Internal Charter were adopted at the Fatah's Sixth General Conference
held in Bethlehem during the period 4-11 August 2009. In accordance with the conference's
decision, the remaining provisions of the Internal Charter were referred to the Revolutionary
Council for approval once and for all. The remaining provisions were approved at a meeting of
the Revolutionary Council in Ramallah during the period 16-19 October 2009.
END
187
Palestine National Charter of 1964
(Al-Mithaq Al-Kawmee Al-Philisteeni)*
INTRODUCTION
We, the Palestinian Arab people, who waged fierce and continuous battles to
safeguard its homeland, to defend its dignity and honor, and who offered all through
the years continuous caravans of immortal martyrs, and who wrote the noblest pages
of sacrifice, offering and giving.
We, the Palestinian Arab people, who faced the forces of evil, injustice and
aggression, against whom the forces of international Zionism and colonialism
conspire and worked to displace it, dispossess it from its homeland and property,
abused what is holy in it and who in spite of all this refused to weaken or submit.
We, the Palestinian Arab people, who believe in its Arabism and in its right to
regain its homeland, to realize its freedom and dignity, and who have determined to
amass its forces and mobilize its efforts and capabilities in order to continue its
struggle and to move forward on the path of holy war (al-jihad) until complete and
final victory has been attained,
We, the Palestinian Arab people, based on our right of self-defense and the
complete restoration of our lost homeland- a right that has been recognized by
international covenants and common practices including the Charter of the United
Nations-and in implementation of the principles of human rights, and comprehending
the international political relations, with its various ramifications and dimensions, and
considering the past experiences in all that pertains to the causes of the catastrophe,
and the means to face it,
And embarking from the Palestinian Arab reality, and for the sake of the honor
of the Palestinian individual and his right to free and dignified life,
And realizing the national grave responsibility placed upon our shoulders, for
the sake of all this,
We, the Palestinian Arab people, dictate and declare this Palestinian National
Charter and swear to realize it.
Article 1. Palestine is an Arab homeland bound by strong Arab national ties to
the rest of the Arab Countries and which together form the great Arab homeland.
Article 2: Palestine, with its boundaries at the time of the British Mandate, is a
indivisible territorial unit.
188
Article 3: The Palestinian Arab people has the legitimate right to its homeland
and isan inseparable part of the Arab Nation. It shares the sufferings and aspirations
of the Arab Nation and its struggle for freedom, sovereignty, progress and unity.
Article 4: The people of Palestine determine its destiny when it completes the
liberation of its homeland in accordance with its own wishes and free will and choice.
Article 5: The Palestinian personality is a permanent and genuine
characteristic that does not disappear. It is transferred from fathers to sons.
Article 6: The Palestinians are those Arab citizens who were living normally in
Palestine up to 1947, whether they remained or were expelled. Every child who was
born to a Palestinian Arab father after this date, whether in Palestine or outside, is a
Palestinian.
Article 7: Jews of Palestinian origin are considered Palestinians if they are
willing to live peacefully and loyally in Palestine.
Article 8: Bringing up Palestinian youth in an Arab and nationalist manner is a
fundamental national duty. All means of guidance, education and enlightenment
should be utilized to introduce the youth to its homeland in a deep spiritual way that
will constantly and firmly bind them together.
Article 9: Ideological doctrines, whether political, social, or economic, shall not
distract the people of Palestine from the primary duty of liberating their homeland. All
Palestinian constitute one national front and work with all their feelings and material
potentialities to free their homeland.
Article 10: Palestinians have three mottos: National Unity, National
Mobilization, and Liberation. Once liberation is completed, the people of Palestine
shall choose for its public life whatever political, economic, or social system they
want.
Article 11: The Palestinian people firmly believe in Arab unity, and in order to
play its role in realizing this goal, it must, at this stage of its struggle, preserve its
Palestinian personality and all its constituents. It must strengthen the consciousness
of its existence and stance and stand against any attempt or plan that may weaken
or disintegrate its personality.
Article 12: Arab unity and the liberation of Palestine are two complementary
goals; each prepares for the attainment of the other. Arab unity leads to the liberation
189
of Palestine, and the liberation of Palestine leads to Arab unity. Working for both
must go side by side.
Article 13: The destiny of the Arab Nation and even the essence of Arab
existence are firmly tied to the destiny of the Palestine question. From this firm bond
stems the effort and struggle of the Arab Nation to liberate Palestine. The people of
Palestine assume a vanguard role in achieving this sacred national goal.
Article 14: The liberation of Palestine, from an Arab viewpoint, is a national
duty. Its responsibilities fall upon the entire Arab nation, governments and peoples,
the Palestinian peoples being in the forefront. For this purpose, the Arab nation must
mobilize its military, spiritual and material potentialities; specifically, it must give to the
Palestinian Arab people all possible support and backing and place at its disposal all
opportunities and means to enable them to perform their role in liberating their
homeland.
Article 15: The liberation of Palestine, from a spiritual viewpoint, prepares for
the Holy Land an atmosphere of tranquillity and peace, in which all the Holy Places
will be safeguarded, and the freedom to worship and to visit will be guaranteed for all,
without any discrimination of race, color, language, or religion. For all this, the
Palestinian people look forward to the support of all the spiritual forces in the world.
Article 16: The liberation of Palestine, from an international viewpoint, is a
defensive act necessitated by the demands of self-defense as stated in the Charter
of the United Nations. For that, the people of Palestine, desiring to befriend all
nations which love freedom, justice, and peace, look forward to their support in
restoring the legitimate situation to Palestine, establishing peace and security in its
territory, and enabling its people to exercise national sovereignty and freedom.
Article 17: The partitioning of Palestine, which took place in 1947, and the
establishment of Israel are illegal and null and void, regardless of the loss of time,
because they were contrary to the will of the Palestinian people and its natural right
to its homeland, and were in violation of the basic principles embodied in the Charter
of the United Nations, foremost among which is the right to self-determination.
Article 18: The Balfour Declaration, the Palestine Mandate System, and all that
has been based on them are considered null and void. The claims of historic and
spiritual ties between Jews and Palestine are not in agreement with the facts of
history or with the true basis of sound statehood. Judaism, because it is a divine
190
religion, is not a nationality with independent existence. Furthermore, the Jews are
not one people with an independent personality because they are citizens to their
states.
Article 19: Zionism is a colonialist movement in its inception, aggressive and
expansionist in its goal, racist in its configurations, and fascist in its means and aims.
Israel, in its capacity as the spearhead of this destructive movement and as the pillar
of colonialism, is a permanent source of tension and turmoil in the Middle East, in
particular, and to the international community in general. Because of this, the people
of Palestine are worthy of the support and sustenance of the community of nations.
Article 20: The causes of peace and security and the requirements of right and
justice demand from all nations, in order to safeguard true relationships among
peoples and to maintain the loyalty of citizens to their homeland, that they consider
Zionism an illegal movement and outlaw its presence and activities.
Article 21: The Palestinian people believes in the principles of justice, freedom,
sovereignty, self-determination, human dignity, and the right of peoples to practice
these principles. It also supports all international efforts to bring about peace on the
basis of justice and free international cooperation.
Article 22: The Palestinian people believe in peaceful co-existence on the
basis of legal existence, for there can be no coexistence with aggression, nor can
there be peace with occupation and colonialism.
Article 23: In realizing the goals and principles of this Convent, the Palestine
Liberation Organization carries out its full role to liberate Palestine in accordance with
the basic law of this Organization.
Article 24: This Organization does not exercise any territorial sovereignty over
the West Bank in the Hashemite Kingdom of Jordan, on the Gaza Strip or in the
Himmah Area. Its activities will be on the national popular level in the liberational,
organizational, political and financial fields.
Article 25: This Organization is in charge of the movement of the Palestinian
people in its struggle to liberate its homeland in all liberational, organizational, and
financial matters, and in all other needs of the Palestine Question in the Arab and
international spheres.
191
Article 26: The Liberation Organization cooperates with all Arab governments,
each according to its ability, and does not interfere in the internal affairs of any Arab
states.
Article 27: This Organization shall have its flag, oath and a national anthem.
All this shall be resolved in accordance with special regulations.
Article 28: The basic law for the Palestine Liberation Organization is attached
to this Charter. This law defines the manner of establishing the Organization, its
organs, institutions, the specialties of each one of them, and all the needed duties
thrust upon it in accordance with this Charter.
Article 29: This Charter cannot be amended except by two-thirds majority of
the members of the National Council of the Palestine Liberation Organization in a
special session called for this purpose.
*Adopted in 1964 by the 1st Palestinian Conference
* "Al-Kawmee" has no exact equivalent in English but reflects the notion of
Pan-Arabism