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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas
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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · RESUMO: Esta Unidade Didática é fundamentada no procedimento ... ―ao ensiná-la [a língua], a escola tem a responsabilidade de

Oct 02, 2018

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

CLÉLIA MARIA COSTA FOGAÇA

LER E ESCREVER CRÔNICAS ESPORTIVAS: UM DESAFIO

PARA O PROCESSO DE LETRAMENTO NA ESCOLA

CORNÉLIO PROCÓPIO

2013

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CLÉLIA MARIA COSTA FOGAÇA

LER E ESCREVER CRÔNICAS ESPORTIVAS: UM DESAFIO

PARA O PROCESSO DE LETRAMENTO NA ESCOLA

Material Pedagógico – sequência didática de gêneros – apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria do Estado da Educação (SEED) do Paraná. Orientador: Profª. Drª. Eliana Merlin Deganutti de Barros

CORNÉLIO PROCÓPIO

2013

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1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

TÍTULO: ler e escrever crônicas esportivas: um desafio para o processo

de letramento na escola

Autor: Clélia Maria Costa Fogaça

Disciplina/Área (ingresso no PDE) Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto e

sua localização

Escola Estadual João XXIII – Ensino

Fundamental

Município da escola São Jerônimo da Serra

Núcleo Regional de Educação Cornélio Procópio

Professor Orientador Eliana Merlin Deganutti de Barros

Instituição de Ensino Superior UENP – Campus Cornélio Procópio

Resumo (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

RESUMO: Esta Unidade Didática é fundamentada no procedimento Sequência Didática proposto pelos pesquisados da Universidade de Genebra filiados ao Interacionismo Sociodiscursivo (ISD). Seu objetivo é auxiliar o processo de ensino e aprendizagem referente à leitura e à escrita de crônicas literárias sobre o tema "esporte". A intervenção proposta dará suporte para que o aluno se aproprie da prática social que direciona a produção dessas crônicas, desenvolvendo capacidades de linguagem em relação à escrita e à leitura desse gênero de texto. A finalidade é fazer com que os alunos tenham contato com variadas situações de comunicação, não apenas relacionadas à escrita de crônicas, inserindo-se em práticas de linguagem significativas, a fim de que seja desviado o foco do texto puramente escolarizado, criado e adaptado unicamente para as exigências educacionais, ou seja as ―redações‖, direcionando o trabalho para textos que circulam socialmente. O trabalho com as sequências didáticas visa auxiliar os alunos na internalização de conhecimentos linguísticos,

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interacionais e de mundo, tendo como foco e domínio de um gênero textual, que, no caso deste projeto, é a ―crônica esportiva‖ - um gênero que apresenta uma linguagem acessível ao universo do jovem, porém, usando vários recursos linguístico-discursivos que lhe dão uma

complexidade estético-literária. Palavras-chave (3 a 5 palavras) Gêneros textuais. Sequência didática.

Leitura. Escrita

2 INTRODUÇÃO

―A crônica esportiva está para a crônica,

assim como o espírito esportivo está para o espírito humano.

Somos a pátria de chuteiras, sim‖ (Nelson Rodrigues).

Nas escolas sempre existiu a preocupação por parte de professores com

relação à leitura e produção escrita. A escola deve incentivar o aluno a se comunicar

na sociedade de maneira efetiva, participando pelo uso da linguagem, buscando

informações, defendendo seus pontos de vista, etc., e com isso, construindo seus

próprios conhecimentos e sua visão de mundo. Segundo os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN – BRASIL, 1997, p.11):

O domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.

É necessário que o ensino da língua materna seja desenvolvido na escola de

forma responsável, para que aconteça o enriquecimento do universo de

conhecimentos e da linguagem dos alunos. Segundo os PCN (BRASIL,1997, p.11),

―ao ensiná-la [a língua], a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus

alunos o acesso aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da cidadania,

direito inalienável de todos‖.

Com base nas Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE – PARANÁ, 2008),

percebe-se que, no ensino de Língua Portuguesa, o fato de se proporcionar ao aluno

o contato com variadas linguagens, variados textos de várias esferas sociais torna

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mais eficaz o aprendizado dos alunos em relação à língua. Nesses termos, segundo

as DCE (PARANÁ, 2008, p. 55):

No processo de ensino-aprendizagem, é importante ter claro que quanto maior o contato com a linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais possibilidades se tem de entender o texto, seus sentidos, suas intenções e visões de mundo. A ação pedagógica referente à linguagem, portanto, precisa pautar-se na interlocução, em atividades planejadas que possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral modo, sugere-se um trabalho pedagógico que priorize as práticas sociais.

Para Bakhtin (1997), a utilização da língua acontece em variadas esferas de

atividade, sempre relacionadas às necessidades de comunicação humana. Segundo

o autor, a grande variedade nas formas de utilização da linguagem somente se

concretiza em enunciados unos, repletos de sentido, ou seja, em forma de textos –

orais ou escritos.

Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de e surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana (BAKHTIN, 1997, p.280).

Como complementa o autor, esses textos só se realizam a partir de uma

configuração genérica, ou seja, a partir de gêneros textuais. Diante dessa

perspectiva, percebe-se a necessidade do trabalho com essas ferramentas da

comunicação no âmbito do ensino da língua (no caso desse projeto, as crônicas).

Essa proposta é importante porque, através dela, os alunos poderão conhecer

variados textos, de variados gêneros, oriundos das diferentes esferas da

comunicação humana.

As DCE colocam que a função das aulas de língua materna é dar ao

estudante a oportunidade de melhorar sua competência comunicativa, garantindo-

lhe uma ação crítica e ativa na sociedade a qual pertence.

É nos processos educativos, e notadamente nas aulas de Língua Materna, que o estudante brasileiro tem a oportunidade de aprimoramento de sua competência comunicativa, de forma a garantir uma inserção ativa e crítica na sociedade. É na escola que o aluno, e mais especificamente o da escola pública, deveria encontrar o espaço para as práticas de linguagem que lhe possibilitem interagir na sociedade, nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, em instancias públicas e privadas (PARANÁ, 2008, p.38).

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É nesse sentido que, neste trabalho, propomos a elaboração de uma

Sequência Didática com o gênero ―crônica‖, a fim de trabalhá-lo na perspectiva

interacionista sociodiscursiva, pilar teórico-metodológico do nosso projeto.

2 O GÊNERO CRÔNICA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Bola de futebol... é um utensílio semivivo,

de reações próprias como bicho, e que, como bicho, é mister

(mais que bicho, como mulher) usar com malícia e atenção

dando aos pés astúcias de mãos.

(João Cabral de Mello Neto)

De acordo com Moisés (1979), a palavra ―crônica‖ deriva do latim Chronica e

do grego Khrónos (tempo). O eixo principal que acompanha a historicidade desse

gênero de texto é, dessa forma, o conceito de tempo. A crônica é o relato de um ou

mais acontecimentos em um determinado tempo. Tem como estilo uma narrativa

breve, sem aprofundamento da análise, algumas vezes, com abordagem reflexiva,

subjetiva, crítica, que conta ou comenta histórias da vida cotidiana.

Para Melo (1998, p.4), a crônica em nosso país designa

[...] o relato poético do real, situada na fronteira entre a informação da atualidade e a narração literária, portanto, situa-se entre o jornalismo e a literatura, retratando a vida, está diante de experiências comuns. Despretensiosa, humanizadora, nos ajuda a estabelecer ou restabelecer a dimensão dos acontecimentos e das pessoas, quase sempre com humor. Ela representa o encontro mais puro com a vida real e com seu cúmplice favorito – o leitor. Todavia, apesar de seu ar despreocupado, de quem está falando coisas, sem preocupar-se com a consequência, esse gênero penetra fundo no significado dos atos e sentimentos do homem, aprofundando a crítica social.

Jorge de Sá (2008, p.10) diz que a crônica tem aparência simples, mas

apresenta arte. Surge inicialmente na esfera jornalística e por isso, é efêmera,

nascendo e morrendo no mesmo dia.

A aparência de simplicidade, portanto, não quer dizer desconhecimento de artimanhas artísticas. Ela decorre do fato de que a crônica surge primeiro no jornal, herdando a sua precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce e morre antes que acabe o dia, no instante em que o leitor transforma as páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam num arquivo pessoal.

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Em Sá (2008) percebe-se também a ligação entre a literatura e o jornalismo,

conforme já visto em Melo (1998, p.4):

Sendo a crônica uma soma de Jornalismo e literatura (daí a imagem do narrador-repórter), dirige-se a uma classe que tem preferência pelo jornal em que ela é publicada (só depois é que irá ou não integrar uma coletânea, geralmente organizada pelo próprio cronista), o que significa uma espécie de censura ou, pelo menos, de: a ideologia do veículo corresponde ao interesse dos seus consumidores, direcionados pelos proprietários do periódico e/ou pelos editores-chefes de redação.

Diante do fato da crônica ser escrita para o jornal, geralmente com espaço

restrito, ela deve ser apresentada de maneira resumida. Então, a esse respeito, Sá

(2008) ainda nos diz que:

Ocorre ainda o limite de espaço, uma vez que a página comporta várias matérias, o que impõe a cada uma delas um número restrito de laudas, obrigando o redator a explorar da maneira mais econômica possível o pequeno espaço de que dispõe. É dessa economia que nasce sua riqueza estrutural (SÁ, 2008, p.8).

Assim, percebe-se que a grandeza das crônicas está no fato de se escrever

bem em pouco espaço.

Jorge de Sá (2008) faz uma comparação entre conto e crônica. Nessa

comparação, digamos bem didática, pode-se perceber uma linha divisória ―bastante

tênue‖. Refere-se ao cronista dizendo que o mesmo escreve mais livremente,

passando ao leitor a impressão de que pretende apenas tecer comentários a

respeito dos fatos, já nos contos o autor coloca-se narrando um fato, conforme suas

próprias palavras:

Enquanto o contista mergulha de ponta-cabeça na construção do personagem, do tempo, do espaço e da atmosfera que darão força ao fato ―exemplar‖, o cronista age de maneira mais solta, dando a impressão de que pretende apenas ficar na superfície de seus próprios comentários, sem ter sequer a preocupação de colocar-se na pele de um narrador, que é, principalmente, personagem ficcional (como acontece nas novelas, contos e romances). Assim, quem narra uma crônica é seu autor mesmo, e tudo o que ele diz parece ter acontecido de fato, como se nós, leitores, estivéssemos diante de uma reportagem (SÁ, 2008, p.9).

Sá (2008) ressalta que as cônicas, pelo fato de serem escritas para jornais,

deve levar em consideração o tipo de leitor, que não dispõe de longo tempo para

que as leia, diante disso, é uma escrita passageira e transitória:

Nesse contexto, a crônica também assume essa transitoriedade, dirigindo-se inicialmente a leitores apressados, que leem‘ nos pequenos intervalos da

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luta diária, no transporte ou raro, momento de trégua que a televisão lhes permite (SÁ, 2008, p.10).

Mais um motivo para que a escrita de crônicas seja breve está ainda

comprovada na fala de Jorge de Sá, quando diz que:

Os acontecimentos são extremamente rápidos, e a cronista precisa de um ritmo ágil para poder acompanhá-los. Por isso a sintaxe lembra alguma coisa desestruturada, solta, mais próxima da conversa entre dois amigos do que propriamente do texto escrito (SÁ, 2008, p.11).

Jorge de Sá fala ainda sobre a linguagem coloquial apresentada, mostrando-

nos que esse é um recurso importante usado pelo cronista para prender o leitor:

O coloquialismo, portanto, deixa de ser a transcrição exata de uma frase ouvida na rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o leitor, a partir do qual a aparência simplória ganha sua dimensão exata (SÁ; 2008, p.11).

Nessa leitura em Sá (2008) tomamos conhecimento do caráter dialógico das

crônicas no momento em que se percebe o equilíbrio entre:

O dialogismo, assim, equilibra o coloquial e o literário, permitindo que o lado espontâneo e sensível permaneça como o elemento provocador de outras visões do tema e subtemas que estão sendo tratados numa determinada crônica, tal como acontece em nossas conversas diárias e em nossas reflexões, quando também conversamos com um interlocutor que nada mais é do que o nosso outro lado, nossa outra metade, sempre numa determinada circunstância. Mas não ―circunstância‖ no sentido de um escritor que, embora não seja jornalista, precisa sobreviver – e ganha dinheiro publicando crônicas em jornais e revistas [...] (SÁ, 2008, p.11).

Sá (2008) mostra que o fato do cronista escrever para jornais e revistas com o

objetivo de ―ganhar dinheiro‖ faz com que o termo assuma o ―sentido específico de

acontecimento do dia-a-dia‖, mas que poderia passar despercebido ou então

―relegado à marginalidade‖ por ser considerado insignificante.

Simon (2011) fala a respeito dos acontecimentos do cotidiano narrados nas

crônicas como se seu veículo os percebesse como algo transitório, assim como a

transitoriedade dos jornais e revistas que escrevem num dia e no outro já não

existem, ou não interessam mais porque as notícias são passageiras.

Esta imagem ressalta as características do jornal certamente reconhecidas pelos cronistas, o que equivale a dizer que a transitoriedade do veículo seria incorporada pela própria, revelando, portanto, o que pode ser considerado uma ausência de pretensões no gênero. (SIMON, 2011, p.25).

Sá (2008) termina seu capítulo falando a respeito da reflexão e da lírica

presentes nas crônicas:

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Com seu toque de lirismo reflexivo, o cronista capta esse instante brevíssimo que também faz parte da condição humana e lhe confere (ou lhe devolve) a dignidade de um núcleo estruturante de outros núcleos, transformando a situação no diálogo sobre a complexidade das nossas dores e alegrias. Somente neste sentido crítico é que nos interessa o lado circunstancial da vida. E da literatura também (SÁ, 2008, p.11).

Simon (2011) fala a respeito do gênero crônica, o seguinte: ―[...] embora tenha

como suas marcas a leveza, a informalidade e a irreverência, a crônica também

instiga.‖ (SIMON, 2011, p.20).

Acrescenta Simon (2011) ainda que:

[...] a crônica pode acrescentar a sua composição jornalística um componente artístico, literário, que a distingue das outras práticas textuais da imprensa. Esse diferencial garante a sobrevivência da crônica em outro suporte. Este espaço alternativo é o livro (SIMON, 2011, p. 20).

Com relação à mudança de suporte, do jornal para o livro didático, por

exemplo, Simon (2011, p. 28) diz ―quando passa do jornal ao livro, nós verificamos

meio espantados que a sua durabilidade pode ser maior do que ela própria

pensava‖.

A crônica não apresenta um modelo único a ser seguido. Algumas estão

longe disso. Simon (2011) apresenta essa noção no que diz respeito à sua estrutura

composicional: de fato, a crônica não se restringe a um modelo único, isto é, há

crônicas que passam longe das inclinações para a narrativa, preferindo o comentário

ou a digressão lírica.‖ (SIMON; 2011, p.49).

Simon (2011, p.50) acrescenta ainda que a crônica ―é um gênero bastante

suscetível ao diálogo com outras manifestações escritas, sejam elas literárias ou

não‖. Ou seja, pode-se depreender de sua fala, que os cronistas podem incorporar

em seus textos algumas marcas de outros gêneros.

Há muitos questionamentos a respeito de a crônica ser considerada um

―gênero menor‖ ou de ser ou não um gênero literário. Então, percebe-se certo

cuidado quando se trata desse gênero. O que mais se discute está relacionado ao

seu veículo de origem – os jornais –, fazendo parecer que, por esse motivo, ela se

torna menos importante ou até menos ―literária‖, ou menos ―artística‖. Nesse

sentido, Simon (2011):

O estudo da crônica na condição de um texto literário esbarra, logo nas páginas iniciais de qualquer ensaio sobre o assunto, na controvérsia gerada por seu veículo de origem: o jornal. Não que professores de literatura,

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jornalistas, críticos literários e teóricos julguem de antemão que o fato de serem as crônicas publicadas antes em jornais deverá necessariamente privá-las de um estatuto artístico, mas esta peculiaridade no trajeto da crônica parece requerer dos estudiosos a lembrança inevitável desse vínculo que a situa num espaço intermediário, de caracterização diferenciada. (SIMON, 2011, p.23).

Ainda com relação aos questionamentos a respeito da crônica ser literária ou

não, pode-se perceber, na fala de Simon (2011), que essa discussão está

relacionada justamente à escrita dos contos e das poesias e ainda com relação à

própria literatura:

O questionamento do caráter literário da crônica torna-se, assim, um dos maiores indícios de que, nos confrontos com outros gêneros, ela algumas vezes sai perdendo. A fronteira, portanto, se situaria não entre a crônica e o conto, ou a crônica e a poesias, mas antes disso, entre a crônica e a própria literatura. (SIMON, 2011, p.46)

Segundo Simon (2011), há uma classificação relacionada à grande

multiplicidade de textos escritos que recebem a classificação de crônicas:

Crônicas policiais, políticas e esportivas são expressões comuns que constam nos jornais: entretanto suas afinidades com a qualificação literária são mínimas, exigindo ainda distinções mais apuradas. [...] há crônicas que são narrativas, estruturalmente semelhantes ou idênticas a contos; há outras que são comentários, com ou sem teor lírico; e há, ainda, aquelas que mesclam esses procedimentos. (SIMON, 2011, p.24).

As crônicas, segundo Simon (2011), apresentam assuntos variados, tratando

de temas da atualidade. Pode-se observar nesse gênero textual uma rica elaboração

da linguagem. Observe na citação abaixo:

Os assuntos abordados nas crônicas são muito variados: mulher, amor, cidade, infância, política são alguns dos temas usados pelos cronistas. Há ainda uma farta produção de textos que tratam do próprio fazer poético, do cotidiano do escritor e da ambiguidade experimentada pelo cronista entre o meio jornalístico e o meio literário. Os recursos linguísticos e literários utilizados também são diversificados, proporcionando aos leitores contato com formas ricas e múltiplas de elaboração da linguagem. (SIMON, 2011, p.54).

O autor diz que é importante que os textos sejam criativos para que possam

continuar sendo lidos.

O importante é que para além das fontes, textos bons e criativos continuem á disposição dos leitores, que uma linguagem inteligente continue a ser exercitada, que textos vivos e lúcidos sobre a intimidade continuem a

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circular, proporcionando diferentes formas de compreender o presente. (SIMON, 2011, p.264).

Dando continuidade às definições a respeito de crônicas, usamos uma

crônica de Ivan Ângelo (2010), na qual apresenta suas definições a respeito da

produção de crônicas:

A dificuldade é que a crônica não é um formato, como o soneto, e muitos duvidam que seja um gênero literário, como o conto, a poesia lírica ou as meditações à maneira de Pascal. Leitores, indiferentes ao nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e força. Mas vem cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é fazer literatura e ele sabe fazer... (ÂNGELO, 2010)

Ivan Ângelo (2010), nessa crônica, cita outros cronistas para falar sobre os

diferentes estilos e tons desse gênero:

Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras são poemas como em Paulo Mendes Campos; outras são pequenos contos, como em Nelson Rodrigues; ou casos, como os de Fernando Sabino; outras são evocações, como em Drummond e Rubem Braga; ou memórias e reflexões, como em tantos. A crônica tem a mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem – e facilidades que a melhor poesia não se permite.

Parece até um certo ―desabafo‖ quanto há algumas confusões relacionadas à

definição do gênero. Nesse trecho de sua crônica, o cronista cita outros gêneros que

podem ser confundidos com a crônica: ―Uma leitora se refere aos textos aqui

publicados como ‗reportagens‘. Um leitor os chama de ‗artigos‘. Um estudante fala

deles como ‗contos‘. Há os que dizem: ‗seus comentários‘. Outros os chamam de

‗críticas‘. Para alguns, é ‗sua coluna‘.‖ (ÂNGELO, 2010).

Ainda nessa crônica, Fernando Sabino diz simplesmente que "crônica é tudo

que o autor chama de crônica". O que prova como definir esse gênero não é fácil.

Ele não é uma ―forma linguístico-discursiva‖.

Ivan Ângelo (2010) retoma a sua explicação a respeito do gênero, dizendo

que a crônica é frágil. Ao mesmo tempo trava um diálogo com o leitor, que acaba

arriscando suas respostas:

A crônica é frágil e íntima, uma relação pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto. Conversam sobre o momento, cúmplices: nós vimos isto, não é leitor?, vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O narrador da crônica procura sensibilidades irmãs.

Esse texto aponta como ―deu certo‖ o gênero crônica em nosso país. Mais

uma vez Ivan Ângelo (2010) dialoga com o leitor apresentando seus

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questionamentos e até mesmo o motivo pelo qual esse fato acontece. Nesse caso,

ele mesmo os responde. Com as palavras do próprio autor: ―Por que deu certo no

Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra curta e o clima, quente‖.

Ângelo (2010), quase ao fim de sua crônica, mostra conscientemente que nas

crônicas há alguns elementos que não funcionam e aqueles que fazem dela algo

melhor: ―Elementos que não funcionam na crônica: grandiloquência, sectarismo,

enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam: humor, intimidade,

lirismo, surpresa, estilo, elegância, solidariedade‖.

Segundo Ivan Ângelo (2010), ―A crônica mudou, tudo muda. Como a própria

sociedade que ela observa com olhos atentos‖. O cronista, dessa forma, tem a

noção de que essa sociedade que tanto muda necessita de textos que mudem junto

com ela.

Complementando a sua ideia, o cronista aparentemente fala a respeito do que

pode servir para se fazer uma crônica, apresentando também uma leve crítica a

outros gêneros textuais mais elaborados e mais ―literários‖, mostrando a

singularidade do texto aqui tratado: ―Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa

revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma

grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas.‖ (2010).

Também encontramos, em Humberto Werneck, ex-advogado, atual cronista

do Jornal O Estado de São Paulo, algo sobre o gênero crônica. Em entrevista para a

Revista ―Na Ponta do Lápis‖, da Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o

Futuro –, o jornalista diz ―Eu não consigo definir crônica‖. Diz ainda:

É mais fácil definir crônica pelo que ela não é: um texto empostado, não é uma crônica; um texto solene, não é uma crônica; um texto doutoral, não é uma crônica; um texto mal-humorado, sisudo, não é uma crônica. Eu vejo a crônica como uma boa conversa (WERNECK, 2012, p. 6)

Werneck (2012) comenta durante a entrevista a respeito da confusão que se

faz ao ler textos e atribuir-lhes o rótulo de crônicas. Entretanto, diz não se importar

com isso.

Há uma diferença muito grande em relação a outras produções que saem em revistas e jornais e às vezes se passam por uma crônica. São chamadas de crônicas hoje coisas que na verdade, são editoriais, comentários sobre um fato da atualidade. Tudo bem, eu não tenho nada contra esses gêneros. Eu leio com proveito (WENECK, 2012, p. 6).

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Quando Werneck (2012) é questionado a respeito da relação da crônica com

o jornalismo, ele simplesmente responde:

O jornal e a revista são hospedeiros da crônica. A crônica nasceu, dentro do jornal, na França. Chegou ao Brasil em 1852, pelas mãos do Francisco Otaviano – poeta que passou pela vida em brancas nuvens -, que inaugurou no Rio de Janeiro, no Jornal do Comércio, a seção ―A Semana‖. Depois, vieram José de Alencar, Machado de Assis e vários outros. Isso, que era folhetim, passou a ser chamado de crônica (2012, p. 6).

Sobre o tipo de texto que deveria ser publicado nos jornais, o autor diz que,

devido à modernidade, as crônicas foram perdendo tamanho: ―Os jornais não tinham

muito que publicar. Com a modernização, o espaço da crônica foi diminuindo, virou

aquelas duas laudas, escritas pelas circunstâncias.‖ (WERNECK, 2012, p. 7).

Werneck (2012) comenta, durante a entrevista, sobre os jornais que havia na

época de sua infância e quais eram os cronistas que neles publicavam

semanalmente. Cita revistas e jornais conhecidos no nosso país, como a Revista

Manchete, O Cruzeiro, o Jornal do Brasil, entre outros.

Na minha adolescência havia uma revista, Manchete, que publicava quatro

crônicas toda semana: Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Henrique Pongetti; você comprava a revista concorrente, O Cruzeiro, e lá estavam Rachel de Queiroz, Gilberto Freire. Carlos Drummond de Andrade, no Correio da Manhã, depois no Jornal do Brasil. O maravilhoso Antônio Maria, que ainda não foi descoberto, em O Jornal e Última Hora. Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Manuel Bandeira, Carlos Heitor Cony, no Correio da Manhã. E tantos outros, ótimos conversadores (p. 7).

A respeito de uma possível fórmula para se escrever crônicas, Werneck

(2012, p.8) diz: ―Provavelmente sim. Mas não deve ser grande coisa. Manuel

Bandeira falou que o Rubem Braga quando tem assunto é muito bom; quando não

tem, é espetacular.‖ Então, fica-se com uma impressão de que se pode, sim, existir

uma fórmula para se escrever crônicas. Mais adiante, Werneck (2012) inicia uma

explicação a respeito do gênero:

Palavra puxa palavra, um assunto leva a outro. O fio é sempre contínuo. Você agarra o leitor na primeira linha e o prende até o ponto final. É o papel da sedução, a arte do texto jornalístico. Numa crônica, um texto ao mesmo tempo substancioso e saboroso, conta muito a verve. (2012, p. 8).

Diante dessa fala, nota-se que as crônicas devem ser um gênero de texto

capaz de prender seu leitor do início ao fim, sendo sedutor e saboroso, ao mesmo

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tempo. O autor apresenta, ainda, a necessidade de que se tenha vivacidade no falar

ou no escrever um texto jornalístico.

Quase ao fim da entrevista, o jornalista interroga Werneck (2012) a respeito

de como as crônicas devem ser trabalhadas em sala de aula e que tipos de

sugestões poderiam ser aproveitadas didaticamente:

Vou lembrar alguns truques. Não se deixar levar pela grandiloquência, pelo didatismo. Você tem que colocar no papel, em vez de ficar reprimindo. Até para você falar: ―Aqui está ruinzinho, mas eu posso melhorar se eu fizer isso e aquilo‖. [...] É trabalho mesmo, uma naturalidade conquistada. Outro truque é cuidar do começo. Os melhores livros de literatura começam no meio da história, com o bonde andando. Você joga o leitor na fogueira. Deixa o leitor meio desconcertado, com dificuldade de se situar. (2012, p. 9).

Ainda deixando pistas didáticas, Werneck apresenta o seguinte:

Uma coisa que eu acho importante em qualquer escrito é que você não termine, não faça um arremate. Deixa o texto terminar um pouco em sustenido. Ainda mais na crônica, que tem um formato pequeno. Cada palavra que você põe no papel tem que justificar a presença. Tudo o que não seja essencial você tira. O texto deve ter todas as palavras de que ele precisa, nem mais nem menos. [...]Na minha experiência, nunca vi um texto que bem cortado ficasse pior. (2012 – n. 20, p. 9).

Assim, Werneck (2012), de maneira clara e facilitada, passa sua ―receita‖ de

como se pode escrever e trabalhar com crônicas em sala de aula. Cabe a nós

seguirmos seu exemplo e passarmos ainda a frente seus ensinamentos no momento

em que estivermos em sala de aula com nossos alunos.

2.1 AS CRÔNICAS E O ENSINO

―A crônica não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz literatura também.‖

(Joaquim Ferreira dos Santos)

O gênero ―crônica‖ é importante nas escolas porque, por meio dele, toma-se

contato com fatos do cotidiano, de diferentes formas, em diferentes ―tons‖

discursivos e, pode-se, assim, refletir sobre esses fatos. Sobre o uso da crônica

como objeto de ensino, Simon (2011) comenta:

[...] resta ao professor incumbir-se de uma aproximação com a pesquisa para tornar esse trabalho o mais produtivo possível. É essa articulação que permite, por exemplo, a compreensão da heterogeneidade das crônicas, a condição de que se atribui o mesmo nome para textos muito diferentes entre si: há textos narrativos, comentários de acontecimentos, exposições líricas, diálogos e crônicas que fundem várias dessas características ou

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todas elas em espaço que raramente ultrapassa duas páginas. (SIMON, 2011, p.54-55).

É necessário que as aulas de Língua Portuguesa apresentem aos alunos a

oportunidade de se manifestarem, de exporem suas opiniões acerca de assuntos

pertinentes ao seu convívio. É nesse sentido que o trabalho com as crônicas pode

contribuir para melhorar o nível de argumentação, de compreensão e de produção

de texto dos alunos em sala de aula. Segundo Lima (1981, p. 2):

Uma metodologia de ensino voltada tanto à leitura quanto à escrita, a partir de uma crônica, conduz o indivíduo à apreciação de outros gêneros com os quais ele mantém contato diário, bem como – dependendo do tema tratado – o leva a adentrar em conteúdos abordados em outras áreas do saber, desenvolvendo, dessa forma, a interdisciplinaridade. Além disso, a crônica é um gênero frequentemente encontrado nos livros didáticos, o que facilita as atividades do professor, que, por sua vez, pode incentivar à leitura e à produção textual a partir de uma variedade de crônicas que circulam na mídia impressa e na internet (além das do livro didático); contribuindo, dessa forma, para dinamizar as atividades em sala de aula.

Em se tratando de crônicas esportivas, o aluno que faz leituras variadas de

textos jornalísticos ―esportivos‖ poderá produzir textos desse mesmo gênero com

maior coerência. Fala-se aqui dos gêneros textuais como algo presente na vida das

pessoas, pois os seres humanos se comunicam através deles.

Na entrevista já citada aqui para a Revista ―Na Ponta do Lápis‖, da Olimpíada

de Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro –, o jornalista interroga Werneck

(2012) a respeito de como as crônicas devem ser trabalhadas em sala de aula e que

tipos de sugestões poderiam ser aproveitadas didaticamente:

Vou lembrar alguns truques. Não se deixar levar pela grandiloquência, pelo didatismo. Você tem que colocar no papel, em vez de ficar reprimindo. Até para você falar: ―Aqui está ruinzinho, mas eu posso melhorar se eu fizer isso e aquilo‖. [...] É trabalho mesmo, uma naturalidade conquistada. Outro truque é cuidar do começo. Os melhores livros de literatura começam no meio da história, com o bonde andando. Você joga o leitor na fogueira. Deixa o leitor meio desconcertado, com dificuldade de se situar. (2012, p. 9).

Ainda com o objetivo de apresentar pistas didáticas, Werneck (2012) diz

considerar importante que os textos não passem a ideia de algo totalmente acabado.

Segundo o autor, deve-se tirar o que não apresenta importância, ficando, então,

somente o essencial, o necessário, nada mais.

Uma coisa que eu acho importante em qualquer escrito é que você não o termine, não o faça com um arremate. Deixa o texto terminar um pouco em sustenido. Ainda mais na crônica, que tem um formato pequeno. Cada palavra que você põe no papel tem que justificar a presença. Tudo o que

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não seja essencial você tira. O texto deve ter todas as palavras de que ele precisa, nem mais nem menos. [...] Na minha experiência, nunca vi um texto que bem cortado ficasse pior. (2012, p. 9).

3 ELABORAÇÃO DO MODELO DIDÁTICO DO GÊNERO “CRÔNICA”

―O conhecimento da alma humana passa por um campo de futebol.‖

(Albert Camus)

Os textos abaixo referem-se crônicas com o tema esporte, escolhidas para

fazerem parte do corpus do nosso modelo didático, suporte da sequência didática

produzida por nós:

―Sobre a crônica‖ – Ivan Angelo (Anexo 1)

―O Fura-redes‖ – Jorge Amado (Anexo 2)

―A primeira crônica esportiva sobre Pelé‖ – Robson Morelli (Anexo 3)

―Aí, Galera‖ – Luis Fernando Veríssimo (Anexo 4)

―Goleiro tem de ser louco‖ – Mônica Krauzs (Anexo 5)

―Peladas‖ – Armando Nogueira (Anexo 6)

―O padeiro‖ – Rubem Braga (Anexo 7) Quadro 1 – Capacidades de ação 1. A qual prática social o gênero está vinculado?

O gênero “crônica” está vinculado à prática social de escrita de textos jornalísticos, mas não meramente informativos, textos que se baseiam nas coisas pequenas do cotidiano, mas que, pela “grandeza” da linguagem, se transformam em “crônicas” (umas efêmeras, que morrem com o jornal, outras com valor literário, que podem ser transmutadas para coletâneas literárias).

2. É um gênero oral ou escrito? As crônicas são fundamentalmente um gênero escrito, mas podem ser veiculadas em suportes orais, como o rádio e a TV (nesse, caso, a escrita sempre está dando suporte ao gênero). No caso do nosso modelo didático, o foco são as crônicas escritas.

3. A qual esfera de comunicação pertence (jornalística, religiosa, publicitária, etc.)? Está vinculado primeiramente à esfera jornalística. Depois dessa esfera pode ser transferido para a esfera literária, dependendo do seu valor estético-literário.

4. Quais as características gerais dessa esfera? A esfera jornalística tem a função principal de informar. Entretanto, abre também espaços que possibilitam o diálogo entre a informação e o entretenimento, a crítica, o humor, até mesmo entre a informação e a estética literária. Essa esfera prima muito pela questão da concisão. No caso das crônicas, isso se torna evidente, pois o gênero está condicionado a espaços fixos em jornais e revistas e depende de leituras diárias.

5. Quem produz esse gênero (emissor)? Jornalistas esportivos ou cronistas que escrevem crônicas literárias sobre esporte.

6. Para quem se dirige (destinatário)? Ao público em geral, homens ou mulheres, desde que apresentem algum interesse pelo gênero crônica esportiva e goste de esporte.

7. Qual o papel discursivo do emissor? Ele é um cronista que gosta de esportes, que tem um olhar diferenciado para esse tema,

8. Qual o papel discursivo do destinatário? Primeiramente, leitores do jornal que têm o hábito da leitura de crônicas. Se a crônica é publicada em coletâneas, o público-alvo passa a ser pessoas interessadas em uma leitura mais descompromissada, fluida, ou leitores de um autor específico.

9. Com que finalidade/objetivo produz o texto?

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Sua característica principal é a de entreter pela fruição estética da leitura. 10. Sobre o quê (tema) os textos desse gênero tratam?

Este tema em questão trata unicamente de assuntos relacionados ao esporte. Se fossem outros tipos de crônicas, encontraríamos temas de cunho social, político, religioso, também relacionados á saúde e segurança pública.

11. Qual é a relação estabelecida entre o produtor e o destinatário? Não apresenta função comercial. A relação do jornal (editoria) com o leitor, essa interação, sim, tem um caráter comercial, objetivo de “vender” um produto. A interação é de cunho estético, literário, a intenção da escrita é sempre sensibilizar o outro pelo valor estético do texto.

12. Qual o valor desse gênero na sociedade? No jornal, esse gênero não tem uma grande relevância, pois o foco desse suporte é a informação. Os cadernos culturais são, geralmente, o “patinho feio” do jornal.

13. Qual o suporte? Jornais e revistas (a priori) e, posteriormente, as coletâneas literárias ou ambientes virtuais destinados à publicação de crônicas.

14. Qual o meio de circulação (onde o gênero circula)? Na sociedade em geral (nas escolas, no meio familiar, escritórios... etc.).

Quadro 2 – Capacidades discursivas

1. Qual o tipo de discurso? Do expor? Do narrar? O gênero “crônicas” pertence ao discurso do Narrar. É um narrar ficcional. As crônicas narram fatos acontecidos na sociedade, em todas as suas esferas, mas têm cunho ficcional, mesmo que baseadas em fatos reais.

2. Como é a estrutura geral do texto? Qual a sua cara? Como ele se configura? É dividido em partes? Tem título/subtítulo? É assinado? Qual sua extensão aproximada? Acompanha fotos/figuras? Quais as características gerais? De acordo com o Plano Textual Global, os textos do gênero crônica não apresentam uma estrutura fixa, podendo ser escritas, com ou sem ordem cronológica, ou estrutural. As crônicas não apresentam divisões ou subdivisões, tendo apenas um título. Sempre são assinadas por jornalistas, cronistas ou ainda especialistas em esportes. Não podem ter uma extensão muito grande visto que são escritas para o jornal, ou revistas, por isso, seu espaço é limitado. Algumas aparecem com fotos ou imagens ilustrativas.

3. Qual o tipo de sequência predominante? Sequência narrativa? Descritiva? Explicativa? Argumentativa? Dialogal? Injuntiva? A maioria apresenta uma sequência narrativa.

Quadro 3 – Capacidades linguístico-discursivas 1. Como é feita a coesão verbal? Quais os tempos verbais usados? E os tipos de verbo: ação?

Estado? Os tempos verbais mais utilizados são os do passado (ou presente com valor de passado) para estruturar o discurso narrativo. Nos comentários, a predominância é do presente. São utilizados em sua maioria os verbos de ação.

2. Como são feitas as retomadas textuais? Mais por pronomes ou por nomes? As retomadas textuais são feitas por pronomes. Se a crônica for narrativa, haverá personagens, portanto, será necessário que a retomada seja feita com pronomes pessoais e oblíquos.

4. Quais as estratégias mais usadas? Substituições por sinônimos? Por termos genéricos/específicos? Por nominalizações? Por repetições? Como são mobilizados os artigos definidos/indefinidos nas retomadas? Qual o grau de afetividade/valoração expresso pelas retomadas? As estratégias são múltiplas. Em algumas crônicas encontra-se a retomada pelos próprios nomes de cada personagem. Há casos em que simplesmente não aparecem nomes, mas sim uma identificação como: O Fura-redes, por exemplo.

3. Quais os tipos de conectivos usados: lógico (mas, portanto, assim, dessa forma, etc.)? Temporal (era uma vez, um dia, depois, amanhã, etc.)? Espacial (lá, aqui, no bosque, etc.)? Nota-se a presença de variados conectivos nas crônicas analisadas, como por exemplo: Portanto, então, depois, naquele momento, lá, aqui, no campo de futebol... Como são narrativas, os

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conectores temporais aparecem com mais frequência. 4. Qual a variedade linguística privilegiada? Mais formal? Mais informal? Coloquial? Estereotipada?

Respeita a norma culta da língua? Usa gírias? Como se verifica isso no texto? Pelo vocabulário empregado? Pela sintaxe? São empregadas tanto a linguagem formal como a informal na construção do texto. Mas na maioria dos textos é empregada a linguagem informal, porém sempre respeitando as normas da língua. Algumas apresentam gírias como “galera”, e também apresentam termos específicos do mundo do futebol.

5. Como se dá a escolha lexical? Há mais substantivos concretos? Abstratos? Há muitos verbos de ação? De estado? Há muitos adjetivos? Que tipo de adjetivo (objetivos, subjetivos, afetivos, físicos, superlativos, comparativos)? A escolha lexical nos textos relacionados é sempre feita de acordo com a necessidade do texto. São utilizados em sua maioria substantivos concretos, com verbos de ação. Existe a presença de adjetivos afetivos, físicos e comparativos). Pode-se encontrar muitas vezes figuras de linguagem, como: prosopopeia, hipérboles, catacreses, metonímias, antíteses, ironia em sua maioria, sempre objetivando a crítica aos fatos apresentados. O léxico é sempre relacionado ao mundo do esporte.

6. Como são mobilizados os sinais de pontuação no texto? Quais os mais usados? E com qual finalidade? Os sinais de pontuação estão sempre a favor da estética e dos objetivos do texto. No caso do discurso direto, há o uso tanto dos dois pontos e travessão, como o uso de aspas para marcar a voz do personagem.

7. Há uso de metáforas? De palavras/expressões com sentido conotativo? Há rimas? Que tipo de rima? Sim, as metáforas são usadas constantemente nas crônicas esportivas. Na crônica poética de Armando Nogueira, intitulada “Pelada de Subúrbio” aparecem algumas rimas.

8. Qual o tom do texto? Mais descontraído? Humorístico? Objetivo? Poético? Coloquial? Sisudo? Familiar? Moralista? De poder? Geralmente as crônicas literárias que falam sobre esporte apresentam um tom mais descontraído e humorístico.

9. Que vozes são frequentes no texto? Do autor? Sociais? De personagens? Das personagens ficcionais ou até representantes do real. Aparece a voz do autor dos textos, em alguns casos, quando o autor deixa a narrativa para comentar algo.

10. De que instâncias advêm essas vozes? Do poder público? Do senso comum? De autoridades científicas? No caso das crônicas esportivas estas vozes partem de jornalistas, de comentaristas e críticos esportivos ou ainda de especialistas no assunto em questão.

11. Como é dada a voz aos personagens (ficcionais ou não) do texto? Geralmente em primeira pessoa, mas algumas apresentam a terceira pessoa.

12. Há mobilização de discurso direto? Indireto? Quais os recursos linguísticos/gráficos (aspas, travessão, dois pontos) empregados? Há crônicas que usam tanto o discurso direto como indireto e outras que usam apenas um recurso discursivo.

13. Há a mobilização de elementos para textuais (quadros, imagens, cores...) ou supratextuais (títulos, subtítulos, sublinhados...)? Como eles agem na construção dos sentidos do texto? Observe, caso o texto possibilite, a forma de grafar as palavras as cores a expressão gestual a forma das imagens. Algumas crônicas analisadas apresentam imagens relativas aos textos, sendo fotos de jogadores em lances importantes. Também há crônicas que o autor coloca em negrito, sublinhado ou em itálico algumas expressões importantes no texto.

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4 SINOPSE DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DA “CRÔNICA ESPORTIVA”

―A paixão pelo futebol não precisa ser explicada – para quem tem paixão pelo futebol.

Para quem não tem, precisa. Não só explicada como defendida.

Para nós, os apaixonados, ela é uma coisa menor, como uma mania ou uma fixação infantil.

É uma parte importante da vida.‖ (Luis Fernando Veríssimo)

O procedimento Sequência Didática (SD), segundo Dolz, Noverraz,

Scheneuwly (2011, p.82) é ―um conjunto de atividades escolares organizadas, de

maneira sistemática, em torno de um gênero textual, oral ou escrito‖, a partir de

atividades sequenciadas que levem os alunos a dominar um gênero, para melhorar

sua escrita e sua fala.

A estrutura de base para esta SD é representada da seguinte maneira:

Figura 1: esquema geral do procedimento SD

Fonte: Barros (2013, p.249)

O esquema abaixo foi elaborado para representar a SD de crônicas

esportivas, elaborada para o nosso projeto:

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Figura 2: esquema geral da SD com o gênero ―crônicas esportivas‖

Abaixo, a sinopse que resume todas as etapas da SD de crônicas esportivas,

produzida para o projeto de intervenção:

Quadro 1: Sinopse da SD de crônicas esportivas

MÓDULOS

OBJETIVOS

ATIVIDADES

OBJETOS

OFICINA 1:

OS GÊNEROS E AS ARTES

3 aulas

1-Estabelecer contato dos alunos com os gêneros Crônica, Histórias em Quadrinhos, Biografia e Contos de Fadas.

1-Evento inicial com banda de música e apresentação de uma peça teatral que envolva os gêneros Contos de Fadas/ Crônicas / Biografias / HQs para todas as turmas das Escolas João XXIII e Vila Nova (Apêndice 1). Obs.: A apresentação será feita pelos alunos já formados, que estudam no Ensino Médio.

1- Motivação inicial dos projetos PDE na escola.

OFICINA 2:

OS TONS DAS CRÔNICAS

4 aulas

1- Aproximar os alunos do gênero Crônica. 2-Possibilitar que os alunos identifiquem a diversidade de tons (lirismo, crítica, humor, reflexão, etc.) existentes nas crônicas.

1-Dinâmica das cartelas e das imagens (sala em círculo): colocam-se variadas cartelas com imagens de cenas do cotidiano pelo chão, no centro da sala. Distribui-se para cada aluno uma cartela com um trecho de uma crônica relacionada a essas imagens. O aluno deve descobrir qual imagem refere-se ao trecho lido; cada aluno deve descobrir o restante de seu texto, que estará com outros colegas. Cada crônica formada dará origem a um grupo de trabalho (Apêndice 2). 2-Atividades (em grupos – formado na atividade anterior) de identificação de humor, reflexão e lirismo, etc., em crônicas (Apêndice 3). 3- Leitura e discussão de uma crônica, ressaltando-se o trabalho linguístico-discursivo com o tema e o tom presente na crônica: o humor, lirismo, reflexão, etc.

1-Tons das crônicas.

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OFICINA 3:

CONTEXTO DE

PRODUÇÃO DAS

CRÔNICAS

2 aulas

1-Possibilitar que os alunos explorem o contexto de produção do gênero Crônica.

1-Leituras variadas de crônicas publicadas em revistas e jornais e coletâneas literárias: foco no contexto de produção. 3-Questionário escrito com perguntas sobre o contexto de produção das crônicas (crônicas selecionadas da atividade anterior) (Apêndice 4).

1-Contexto de produção das crônicas (suporte, esfera social, finalidade, caracterização)

OFICINA 4:

O ESPORTE NAS

CRÔNICAS

4 aulas

1-Estabelecer contato dos alunos com o gênero ―Crônica Esportiva‖. 2-Possibilitar aos alunos explorar os recursos utilizados nos debates esportivos.

1- Peça teatral apresentada por alunos de outra turma, com foco no tema ―futebol‖, com situações corriqueiras dessa esfera 2- ―DEBATE ESPORTIVO‖ sobre a peça teatral apresentada. 3- Quebra-cabeça do gênero crônica (em grupos) (Apêndice 5). 4-Apresentação e discussão de programas de televisão com debate esportivo.

1-Gênero ―Crônica Esportiva‖ 2- Debate esportivo

OFICINA 5:

PRODUÇÃO INICIAL: DA

NOTÍCIA PARA A

CRÔNICA

2 aulas

1- Diagnosticar o conhecimento dos alunos em relação à escrita da crônica esportiva, a partir de uma notícia de jornal.

1- Produção de uma crônica com tom teor literário a partir da leitura de uma notícia sobre futebol.

1-Gênero ―Crônica Esportiva‖

OFICINA 6:

FATO E FICÇÃO:

A NOTÍCIA E

A CRÔNICA

2 aulas

1- Levar os alunos a fazer a diferenciação dos gêneros Notícia e Crônica.

1-Apresentação de slides com notícias verdadeiras e outras ―inventadas‖ para que o aluno identifique se é fato ou ficção. Discussão sobre a relação conflituosa entre fato e ficção (Apêndice 6). 2-Leitura e análise de notícias que viraram crônicas. Livro: ―DEU NO JORNAL‖ – Moacyr Scliar (Anexo8). 3- Análise das crônicas originárias das notícias analisadas. Comparação entre os dois gêneros 4- Dinâmica da caixinha do tempo. Atividade em grupo para diferenciação de notícia e crônica: (A sala em círculo. Dentro de uma caixinha colocam-se trechos de notícias e de crônicas em pequenos papéis. Toca-se uma música e os alunos devem passar a caixinha ao colega ao lado. Quando a música parar, o aluno que estiver com a caixa na mão, abre, retira um papel, lê para os colegas e diz se é crônica ou noticia e justifica sua resposta) (Apêndice 7).

1- Comparação entre os gêneros Notícia e Crônica 2- Fato X Ficção

OFICINA 7:

OS ELEMENTOS

DA NARRATIVA

3 aulas

1-Ouvir e ler narrativas sobre esportes. 2-Levar os alunos a reconhecerem os elementos narrativos na narração esportiva. 3- Possibilitar a retextualização da canção para a crônica.

1- Escuta e leitura da canção ―Grande coisa‖ – Premê / Silvinho – (Narração esportiva) (Anexo9). 2- Leitura do texto ―Narração esportiva – transcrição de um jogo de futebol‖, narrado pelo locutor Éder Luis, da Rádio Band FM (Anexo 10). 3-Leitura de uma crônica narrativa escrita, com teor literário (Anexo 11). 4-Questionário com perguntas de interpretação e comparação entre os três textos, com foco nos elementos da narrativa: personagem, espaço, tempo, foco narrativo... (Apêndice 8). 5-Retextualização da canção narrativa trabalhada para

1- Elementos da Narrativa 2- Retextualização

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uma crônica narrativa (Apêndice 9).

OFICINA 8

ELEMENTOS LINGUÍSTICOS: RETOMADAS

TEXTUAIS

3 aulas

1- Incentivar a leitura da narrativa sobre futebol. 2- Levar o aluno a descobrir as palavras para a retomada textual. 3- Levar o aluno a descobrir as marcações de tempo utilizadas na narrativa.

1- Leitura da crônica narrativa esportiva:

A BOLA E O GOLEIRO – Jorge Amado (Anexo 12).

SALVO PELO FLAMENGO - Paulo Mendes Campos (Anexo 13).

2- Utilizar mecanismos de retomada textual nos textos lidos através de atividade escrita. Atividade de cruzadinha com algumas palavras do texto (Apêndice 10). 3- Oralmente, comentar a respeito das marcas temporais utilizadas nas narrativas.

1- Retomada textual (pronomes, nomes, sinônimos, adjetivos, repetições) 2- Marcas temporais

OFICINA 9:

TERMOS DO

FUTEBOL

4 aulas

1- Incentivar a pesquisa de termos ligados ao futebol. 2-Incentivar o aluno a participar da dinâmica de compreensão do texto e do jogo Caminho das Crônicas Esportivas.

1-Pesquisas de termos relacionados ao futebol: em grupos no laboratório de Informática. 2-Produção de relatório escrito sobre a pesquisa realizada e exposição oral. 3-Leitura e escuta da crônica ―Fura-redes‖, de Jorge Amado (Anexo 14). 4-Dinâmica do tempo: atividades de compreensão do texto (Apêndice 11). 5-Jogo com palavras relacionadas ao futebol: ―O Caminho das crônicas esportivas‖ (Apêndice 12).

1-Termos relacionados ao futebol 2- Tempo verbal nas crônicas

OFICINA 10: ESCREVENDO UMA CRÔNICA

2 aulas

1- Incentivar a leitura das dicas para escrita de crônicas do jornalista Márcio Pimenta no site indicado.

1-No laboratório de Informática1, ler, nos sites, as

instruções para escrita de crônicas. (Anexo 15) 2- Produzir em resumo escrito sobre as dicas de escrita de crônicas elaboradas pelo Jornalista Marcio Pimenta. 3- Colocar no mural da sala

1- Características das crônica

OFICINA 11: Produção

Final: CRÔNICA

ESPORTIVA

2 aulas

1-Incentivar a produção de uma crônica narrativa esportiva.

1-Produção de uma crônica narrativa, com teor literário, a partir de uma notícia sobre futebol (o aluno pode reescrever a primeira produção, ou recomeçar do zero)

1 – Gênero Crónicas Esportiva

OFICINA 12: REVISÃO E REESCRITA

DA PRODUÇÃO

2 aulas

1-Promover a revisão e a reescrita textual.

1- Revisão coletiva das produções através da ―FICHA DE AVALIAÇÃO SOBRE O GÊNERO‖ (Apêndice 13).

Fechamento da Interação: A ARTE FINAL

1- Exposição das atividades produzidas. 2- Evento de finalização do projeto na Escola da Vila Nova.

3- Criação de um Blog – extraclasse. 4-Lançamento do Livro das Produções do Projeto.

Total de aulas – Aproximadamente 32 aulas

1 Fonte: <http://www.folhetimonline.com.br/2012/06/25/dicas-6-dicas-para-escrever-uma-cronica/> e

<http://www.folhetimonline.com.br/dicas/>.

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5 DESCRIÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO GÊNERO “CRÔNICA ESPORTIVA”

―E se mesmo assim não entenderem a paixão pelo futebol, é porque lhes falta

uma parte do cérebro ou do coração. Ou talvez sejam de outra raça.‖

(Luis Fernando Veríssimo‖

De acordo com a sinopse apresentada no tópico anterior, a SD das crônicas

esportivas, produzida para o projeto de intervenção, terá início com a apresentação

da situação. O momento de colocar os alunos em contato com o gênero.

Para isso, acontecerá um evento inicial na Escola Estadual João XXIII, com

participação de toda a escola, inclusive alunos da Escola Estadual de Vila Nova.

Haverá, nesse momento, apresentação de banda musical formada por crianças da

cidade, utilizando-se de instrumentos formados com materiais recicláveis. Na

sequência, acontecerá apresentação dos gêneros que serão trabalhados com uma

encenação de peça teatral, formada por antigos alunos. Esta peça teatral envolverá

os gêneros Crônica, Histórias em Quadrinhos e Biografia (Apêndice 1).

Para início dessa oficina, os alunos serão levados para suas respectivas

salas. A primeira atividade para reconhecimento do gênero será uma Dinâmica com

as Cartelas das Imagens (Apêndice 2).

Nessa atividade os alunos serão colocados estrategicamente em círculo. Será

distribuído para cada aluno uma cartela com trechos de crônicas já selecionadas

anteriormente. Os alunos devem ler atentamente.

No meio da sala, no chão, serão espalhadas cartelas variadas com imagens

de cenas comuns do cotidiano das pessoas, todas relacionadas aos trechos de

crônicas que já estarão nas mãos dos alunos. Os alunos serão convidados a

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levantarem-se e olharem atentamente todas as imagens espalhadas no chão. Em

seguida, devem escolher uma imagem que esteja relacionada com sua leitura

anterior. Na sequência, cada aluno deve formar uma crônica, juntando os trechos

que estarão com outros colegas. A partir daí estará formado um grupo.

A equipe formada deverá ler novamente o texto e participar das discussões

propostas, ressaltando-se o trabalho linguístico e discursivo com o tema e os tons

presentes nas crônicas (lirismo, reflexão, humor e crítica).

Após as discussões, os alunos devem realizar a atividade escrita de

identificação dos tons das crônicas, preparada com antecedência (Apêndice 3).

As atividades serão corrigidas pelo professor e entregues em outro momento

para análise das possíveis falhas e reescrita das mesmas de maneira extraclasse.

As atividades serão arquivadas num Portfólio já preparado pelos alunos com

antecedência.

Nesta etapa os alunos terão contato com a leitura de crônicas variadas

publicadas em jornais, revistas e coletâneas. As crônicas a serem lidas fazem parte

de um banco de textos e estarão livremente dispostas pela sala.

Os alunos devem ler por um tempo aproximado de meia hora. Ao final devem

escolher uma crônica para responderem as atividades para explorarem o contexto

de produção deste gênero textual.

Serão levados a conhecer através de atividades orais e escritas, as

características do gênero, a identificar os suportes onde são publicadas, a qual

esfera social pertencem, com qual finalidade foram produzidas e para qual tipo de

público foram escritas.

Neste momento, também, os alunos deverão apresentar estudos da época

em que foram escritas, curiosidades sobre seus principais autores, quais os temas

tratados por eles. É importante que seja ressaltado o fato apresentado nas crônicas

lidas (Apêndice 4).

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As atividades também serão corrigidas pelo professor em outro momento e

entregues para análise das possíveis falhas e posterior reescrita, em atividade

extraclasse.

Essas atividades serão guardadas no Portfólio dos alunos.

Tendo-se em vista que até o momento os alunos apenas conheceram o

gênero ―Crônica‖ e tomaram conhecimento de sua caracterização própria, de sua

contextualização, nesta oficina ele terá oportunidade de se aprofundar, tendo

contato direto com o gênero ―Crônica Esportiva‖ – objeto principal da SD, visto que

ela será aplicada em ano de Copa do Mundo.

Então, para iniciar esta oficina, com o objetivo de direcionar os alunos para o

tema em questão, será apresentada uma dramatização sobre o futebol, utilizando-se

de situações comuns nesta esfera social, com alunos de outras turmas.

Em seguida, os alunos estarão colocados na sala em círculo para

participarem de um debate a respeito da peça apresentada, ressaltando-se a sua

temática, os meios onde se trabalha com esse tipo de atividade, onde acontecem e

a quem pode interessar. A partir das discussões, os alunos deverão produzir um

texto relatando o que foi falado.

As produções serão corrigidas pelo professor em outro momento e entregues

para análise das possíveis falhas e posterior reescrita, em atividade extraclasse.

Depois essas atividades serão guardadas no Portfólio dos alunos.

Na sequência, para atividade de arejamento da SD, será proposto o Quebra-

cabeças das Crônicas. Essa atividade deve ser feita em duplas, sendo que o

vencedor é o colega que primeiro alcançar a linha de chegada proposta na atividade.

O quebra-cabeça apresenta questões relacionadas a esse gênero especificamente

(Apêndice 5).

Os alunos terão a oportunidade de assistir a programas gravados de televisão

com debates esportivos. A s discussões a respeito dos vídeos apresentados tem o

objetivo de aproximar ainda mais os alunos do gênero ―crônica esportiva‖, criando

também subsídios para a produção final.

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O momento da produção inicial terá o objetivo de diagnosticar o conhecimento

dos alunos a respeito do gênero até então trabalhado. A produção dará subsídios

para observar a relação dos alunos com a escrita de crônicas esportivas a partir de

uma notícia de jornal que a eles será apresentada.

Esta produção acontecerá a partir da leitura de notícias sobre o tema

―Futebol‖. Cada aluno deverá ler variadas notícias atuais sobre esportes, de jornais

conhecidos. Na sequência escolher uma delas e pesquisar sobre seu contexto

histórico. Durante esta pesquisa o aluno deverá descobrir qual o veiculo e a época

de sua publicação.

A partir da pesquisa realizada, proceder à escrita de uma crônica esportiva.

As produções serão corrigidas pelo professor em outro momento e entregues

para análise das possíveis falhas e posterior reescrita, em atividade maneira

extraclasse. Depois essas atividades serão guardadas no Portfólio dos alunos.

As atividades propostas para esta oficina têm o objetivo de levar os alunos a

diferenciarem os gêneros textuais ―Noticia” e “Crônica‖ e também para conhecerem

a diferença entre ―Fato‖ e ―Ficção‖.

Para que esta diferenciação aconteça de maneira eficiente e tranquila será

levado para os alunos, primeiramente, uma apresentação de slides com notícias

verdadeiras e inventadas (Apêndice 6).

Após as apresentações dos slides, conversar com os alunos a respeito do

que se viu, discutindo os ―fatos‖ relatados em cada notícia. Pode-se pedir ainda que

escrevam a respeito das notícias lidas, dando justificativa do porquê eles as

consideram verdadeiras ou falsas.

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Essas atividades serão corrigidas pelo professor em outro momento e

entregues para reescrita. Essas atividades serão guardadas no mesmo Portfólio dos

alunos já citado anteriormente.

Dando continuidade às atividades desta SD, especificamente desta oficina,

para diferenciação de notícia e de crônica será proposta para os alunos a leitura dos

textos impressos anteriormente, presentes na obra Deu no Jornal, de Moacyr Scliar.

Para análise dos textos lidos, propõe-se uma atividade escrita para

diferenciação das crônicas e das notícias. O professor solicitará uma produção

escrita relatando a diferença entre os dois gêneros apresentados.

As produções dos alunos serão corrigidas pelo professor e entregues para

que os alunos procedam às correções solicitadas. Depois essas atividades serão

também guardadas no Portfólio dos alunos.

No encerramento desta oficina, propõe-se ainda uma atividade de arejamento

da SD, também com o objetivo de diferenciar as crônicas das notícias. Será uma

atividade dinâmica de grupo, a ―Dinâmica da Caixinha do Tempo‖. Essa dinâmica

leva os alunos a movimentarem-se ao mesmo tempo em que estudam. Acontece da

seguinte maneira: a sala em círculo. Previamente o professor coloca trechos de

notícias e de crônicas em pequenos papéis, dobra-os e coloca dentro da caixinha do

tempo. Entrega-a para um aluno qualquer. Liga a música: ―Uma partida de futebol‖

do Grupo musical Skank. Pede que a caixinha vá passando de um aluno ao outro.

No momento em que a música parar, o aluno que estiver com a caixa deve sortear

um papel, ler para a turma e dizer se é uma notícia ou crônica (Apêndice 7)2.

As atividades propostas para esta etapa da SD objetivam o reconhecimento

dos elementos da narrativa nas crônicas literárias esportivas apresentadas e

retextualização de alguns textos lidos e analisados.

Então, para esse estudo, a proposta inicial será a escuta e leitura da canção

―Grande Coisa‖ do grupo musical Premeditando o Breque e Silvinho (Anexo 9).

2Essa atividade pode ser feita para estudo de textos.

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Dando sequência, os alunos deverão ler e ouvir o texto ―Narração Esportiva:

transcrição de um jogo de futebol‖, narrado pelo locutor Eder Luis, da Rádio Band

FM, e comentar com a turma suas impressões a respeito do que ouviram,

ressaltando a linguagem utilizada pelo locutor esportivo (Anexo 10).

A próxima atividade para esta SD será a leitura de uma crônica esportiva

narrativa com teor literário, intitulada: ―O dia em que a caça consolou o caçador no

Pacaembu‖ (Anexo 11). Para a análise dos elementos narrativos presentes na

crônica lida, a atividade será de forma escrita com perguntas de interpretação e

comparação entre os três textos, focando nos elementos da narrativa (tempo,

personagem, foco narrativo e espaço) (Apêndice 8).

Após as atividades terminadas, o professor deverá fazer a correção da

atividade e devolvê-las aos alunos para reescrita e posterior arquivo em seu

Portfólio, com o objetivo de apresenta-lo no fechamento da SD.

Para fechamento desta oficina os alunos deverão fazer, em grupos de três

colegas, em atividade extraclasse, a retextualização da canção ―Grande Coisa‖,

transformando-a em um texto narrativo (Apêndice 9).

Esta atividade será corrigida e devolvida aos alunos no próximo encontro para

reescrita e para arquivamento no Portfólio.

Esta oficina vai trabalhar especificamente com questões linguísticas: o uso de

elementos linguísticos e sua função nos textos do gênero ―Crônica Narrativa

Esportiva‖, mostrando quais palavras desempenham o papel de retomada dos

objetos discursivos já apresentados anteriormente, levando, assim, o aluno a

perceber a necessidade de seu uso na produção escrita.

Objetivando ressaltar essas marcas linguísticas, será levado aos alunos

inicialmente, a crônica narrativa com teor esportivo intitulada ―A bola e o goleiro‖, de

Jorge Amado. A atividade trará lacunas no texto, no lugar onde estariam pronomes,

nomes, sinônimos, adjetivos ou repetições, etc. que retomam algum referente do

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texto. A correção dessa atividade será feita oralmente, a partir de leitura expressiva

feita pelo professor (Anexo 12).

Esta atividade também será colocada no Portfólio.

A crônica esportiva narrativa ―Salvo pelo flamengo‖, do cronista Paulo Mendes

Campos, (Anexo 13) será também trabalhada da mesma maneira que a anterior,

porém a sua correção será feita pelos próprios alunos, em grupos. Eles farão a

leitura do texto e completarão as lacunas, depois completarão, também, a

cruzadinha com termos do futebol tirados desse mesmo texto. (Apêndice 10).

Os grupos devem reler suas atividades e entregá-las para a uma nova

correção por parte do professor. Na sequência serão devolvidas e colocadas no

Portfólio.

Nesta oficina os alunos serão incentivados a buscarem palavras relacionadas

ao futebol, podendo utilizá-las depois em sua produção final.

Inicialmente os alunos serão levados para o laboratório de informática para

pesquisarem palavras, termos ou expressões relacionados ao futebol. Deverão abrir

links apresentados pelo professor e outros escolhidos por eles que apresentem

termos ligados a este esporte.

Devem, em duplas, digitar um relatório com as palavras encontradas nas

pesquisas e, depois, já na sala de origem, apresentar as palavras para a turma.

Essas palavras devem ser escritas no quadro para visualização de todos e

comparação das pesquisas.

A crônica ―Fura redes‖ de Jorge Amado será lida na sequência, também para

que se encontrem termos relacionados ao futebol (Anexo 14).

As atividades de estudo e compreensão do texto serão feitas com a mesma

dinâmica já citada anteriormente, a ―Dinâmica do Tempo‖. Cada aluno deve anotar

em folha separada o que for sendo respondido durante a dinâmica (Apêndice 11).

A correção dessa atividade (anotações) se dará de forma extraclasse. Depois

serão devolvidas para serem guardadas.

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Para arejamento da SD e memorização dos termos do futebol, será proposto

um jogo com as palavras pesquisadas, intitulado ―Caminho das Crônicas esportivas‖

(Apêndice 12).

Esta oficina tem a função de auxiliar os alunos na produção escrita de

crônicas, que será o objetivo final da SD.

Os links a seguir relacionados mostrarão aos alunos algumas dicas

importantes, ou instruções que poderão ser seguidas para escreverem crônicas com

clareza e alguns recursos importantes para aplicar-lhe um tom específico de lirismo,

humor ou ainda de reflexão.

Os alunos serão levados ao laboratório de informática e, em duplas, abrirão

os sites indicados, que foram criados por professores pesquisadores da Língua

Portuguesa e pelo jornalista Marcio Pimenta.

Após fazerem a leitura do conteúdo apresentado no site e no texto impresso,

os alunos, ainda em duplas, deverão produzir um resumo do que leram, tecendo

comentários a respeito.

Esses resumos serão impressos e entregues para correção por parte do

professor e entregues num próximo encontro para que sejam reescritos, como tarefa

de casa, e colocados no Portfólio.

Os links para leitura são os seguintes:

http://www.folhetimonline.com.br/2012/06/25/dicas-6-dicas-para-escrever-uma-cronica/

http://www.folhetimonline.com.br/dicas/

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Esta etapa configura-se o momento mais importante da SD. Neste o momento

o aluno mostrará os conhecimentos adquiridos durante cada etapa.

O aluno deverá produzir uma crônica narrativa esportiva com teor literário a

partir de uma notícia sobre futebol, observando antes de sua escrita a origem da

notícia escolhida e também em que veículo foi editada, utilizando-se assim, dos

conceitos aprendidos até então para aplicar clareza e ficção em seu texto.

Se os alunos desejarem, poderão reescrever a primeira produção.

Esta oficina refere-se unicamente à revisão das produções realizadas na

oficina anterior.

Essa avaliação será feita de maneira coletiva, pelos próprios alunos,

seguindo-se as instruções de uma ficha de avaliação da escrita do gênero ―Crônica

Esportiva‖, preparada com antecedência pelo professor. (Apêndice 13)

Nessa ficha constarão questões para identificar se os alunos fizeram uso dos

conceitos aprendidos em cada oficina trabalhada.

Eles receberão os textos dos colegas para fazerem esta análise respondendo

as questões elaboradas.

Após esse procedimento, as produções e respostas serão entregues

novamente ao professor para que faça as suas considerações, devolvendo-as em

seguida aos alunos para serem ilustradas e colocadas no Portfólio.

Após isso, os alunos devem folhear e ler novamente seu Portfólio e observar

se tiveram progressos desde o início das produções e atividades.

Pode-se ainda sugerir que façam um comentário oral para turma a respeito da

análise de seu Portfólio, percebendo, assim, se os alunos apresentaram crescimento

em relação aos conteúdos trabalhados desde o primeiro encontro até o momento.

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Este é o momento programado desde o início para que se possa apresentar

todos os trabalhos elaborados durante a SD e dar um encerramento ao projeto.

Para esta finalização do Projeto de Intervenção Pedagógica programou-se um

evento final na Escola da Vila Nova.

Esse evento contará com a participação dos alunos das escolas João XXIII e

da Vila Nova, participantes das oficinas relacionadas aos gêneros textuais ―Crônicas

Esportivas‖, ―Biografias‖, ―Histórias em Quadrinhos‖ e os ―Contos de Fadas‖ e das

professoras PDE que trabalharam cada gênero acima citado.

Acontecerá exposição dos Portfólios das produções de cada turma.

Haverá apresentação de Peças Teatrais produzidas pelos próprios alunos

durante a execução dos Projetos de Intervenção Pedagógica em cada escola.

Nesse momento, também será apresentado à comunidade o Blog criado

pelos professores PDE para exposição dos trabalhos.

Com a presença do Sr. Prefeito Municipal Adir Leite será lançado o Livro de

Biografia do mesmo. Esse livro foi elaborado e criado durante a aplicação do Projeto

de Intervenção da professora Neiva Pereira Martins, na mesma escola.

Também contaremos com a presença de nossa orientadora de PDE, a

professora Eliana Merlin Deganutti de Barros.

Este evento fecha todas as atividades elaboradas e executadas.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 4. ed.São Paulo: Martins Fontes, 1997. BARROS, Eliana Merlin Deganutti de. Aproximações entre o funcionamento da Metodologia das Sequências Didáticas e o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. Calidoscópio, vol. 11, n. 1, jan./abr. 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Língua Portuguesa. Volume: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 1998.

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BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismosócio-discursivo. Tradução Anna Rachel Machado. São Paulo: EDUC, 1999. DOLZ, Joaquim; NOVERRRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY. Bernard; DOLZ, Joaquim (org.). Gêneros orais e escritos na escola. Trad. de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2011. LAGINESTRA, Maria Aparecida; PEREIRA, Maria Imaculada. A ocasião faz o escritor: caderno do professor – orientação para produção de textos. São Paulo: CENPEC, 2010 [caderno de crônicas da Olimpíada de Língua Portuguesa]. MELO, José Marques. A opinião no jornalismo brasileiro. Rio de Janeiro: Vozes, 1989 MOISES, Massaud. A criação literária. 9. Ed. São Paulo: Melhoramentos, 1979. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Paraná: SEED, 2008. RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol. 3 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. SÁ, Jorge de. A crônica. 7ed. São Paulo: Ática, 2008. SCLIAR, Moacyr. Deu no Jornal. Rechim, RS: Edelbra, 2008. SIMON, Luiz Carlos. Duas ou três páginas despretensiosas: a crônica, Rubem Braga e outros cronistas. Londrina: EDUEL, 2011.

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ANEXO 1 – ―Sobre a crônica‖ Sobre a crônica - Ivan Angelo Uma leitora se refere aos textos aqui publicados como "reportagens". Um leitor os chama de "artigos". Um estudante fala deles como "contos". Há os que dizem: "seus comentários". Outros os chamam de "críticas". Para alguns, é "sua coluna". Estão errados? Tecnicamente, sim – são crônicas –, mas... Fernando Sabino, vacilando diante do campo aberto, escreveu que "crônica é tudo que o autor chama de crônica". A dificuldade é que a crônica não é um formato, como o soneto, e muitos duvidam que seja um gênero literário, como o conto, a poesia lírica ou as meditações à maneira de Pascal. Leitores, indiferentes ao nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e força. Mas vem cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é fazer literatura e ele sabe fazer... Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras são poemas em prosa, como em Paulo Mendes Campos; outras são pequenos contos, como em Nelson Rodrigues; ou casos, como os de Fernando Sabino; outras são evocações, como em Drummond e Rubem Braga; ou memórias e reflexões, como em tantos. A crônica tem a mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem – e facilidades que a melhor poesia não se permite. Está em toda a imprensa brasileira, de 150 anos para cá. O professor Antonio Candido observa: "Até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e pela originalidade com que aqui se desenvolveu". Alexandre Eulálio, um sábio, explicou essa origem estrangeira: "É nosso familiar essay, possui tradição de primeira ordem, cultivada desde o amanhecer do periodismo nacional pelos maiores poetas e prosistas da época". Veio, pois, de um tipo de texto comum na imprensa inglesa do século XIX, afável, pessoal, sem cerimônia e no entanto pertinente. Por que deu certo no Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra curta e o clima, quente. A crônica é frágil e íntima, uma relação pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto. Conversam sobre o momento, cúmplices: nós vimos isto, não é leitor?, vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O narrador da crônica procura sensibilidades irmãs. Se é tão antiga e íntima, por que muitos leitores não aprenderam a chamá-la pelo nome? É que ela tem muitas máscaras. Recorro a Eça de Queirós, mestre do estilo antigo. Ela "não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico; tem uma pequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo o que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando". A crônica mudou, tudo muda. Como a própria sociedade que ela observa com olhos atentos. Não é preciso comparar grandezas, botar Rubem Braga diante de Machado de Assis. É mais exato apreciá-la desdobrando-se no tempo, como fez Antonio Candido em "A vida ao rés-do-chão": "Creio que a fórmula moderna, na qual entram um fato miúdo e um toque humorístico, com o seu quantum satis de poesia, representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma". Ainda ele: "Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas". Elementos que não funcionam na crônica: grandiloquência, sectarismo, enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam: humor, intimidade, lirismo, surpresa, estilo, elegância, solidariedade. Cronista mesmo não "se acha". As crônicas de Rubem Braga foram vistas pelo sagaz professor Davi Arrigucci como "forma complexa e única de uma relação do Eu com o mundo". Muito bem. Mas Rubem Braga não se achava o tal. Respondeu assim a um jornalista que lhe havia perguntado o que é crônica: – Se não é aguda, é crônica.

Fonte: <http://vejasp.abril.com.br/materia/sobre-cronica>. Acesso em 20 set. 2013.

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ANEXO 2 – ―Fura-Redes‖ Fura-Redes – Jorge Amado

O destino das bolas de futebol é fazer gols e a bola Fura-Redes, como o nome indica, era a maior especialista do país na quantidade e na qualidade dos tentos assinalados. Gols olímpicos, de efeito, de folha-seca, de letra, de bicicleta, de placa, incomparáveis. Por isso mesmo tornou-se e aclamada como Esfera Mágica, Goleadora Genial, Pelota Invencível e Redonda Infernal, pelos locutores enlouquecidos ao microfone, quando a viam atravessar o campo, de passe em passe, de finta em finta, para marcar mais um tento sensacional. A bola Fura-Redes era o pavor dos goleiros, a paixão dos pontas-de-lança e dos comandantes de ataque, a bem-amada da torcida. Nascera para cruzar o arco, bater-se alegre contra as redes, provocar o grito de guerra e de vitória da galera. Lustrosa, leve e atrevida, a mais redonda das pelotas, apesar de muito jovem, logo se tornou popularíssima devido ao número de tentos já marcados, cerca de seiscentos; muitos em cada partida. Vários para a equipe A e vários para a equipe Z, pois Fura-Redes mantinha-se absolutamente imparcial quando se exibia no gramado. Marcava gols para as duas equipes, não protegia qualquer delas, era correta e justa. Assinalaria maior número de tentos o time que mais procurasse o ataque, buscando encurralar o adversário. Com ela, os artilheiros não erravam os chutes, não esperdiçavam bolas nas traves. Mas, sendo igualmente bondosa, dotada de um coração de ouro, Fura-Redes tampouco deixava a outra esquadra em jejum: pelo menos um golzinho de consolação ela lhe concedia antes que o juiz trilasse o apito, dando o desafio por terminado.

Jorge Amado. A bola e o goleiro. Rio de Janeiro, Record, 1984.

Fontes: <http://eterna-inquietude.blogspot.com.br/> <http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40474#/4/zoomed>.

ANEXO 3 – ―A primeira crônica de Nelson Rodrigues sobre Pelé‖ NO PAÍS DO FUTEBOL 24.outubro.2010 17:04:22 A primeira crônica de Nelson Rodrigues sobre Pelé

ACHEI UMA CRÔNICA DE NELSON RODRIGUES SOBRE PELÉ, DATADA DE 25 DE MARÇO DE 1958, NUM SANTOS 5 X 3 AMÉRICA, NO MARACANÃ. O JOGO ERA VÁLIDO PELO TORNEIO RIO-SÃO PAULO. TUDO INDICA QUE É A PRIMEIRA CRÔNICA DE NELSON SOBRE PELÉ. UMA RARIDADE, PORTANTO. ACOMPANHE:

Depois do jogo América x Santos, seria um crime não fazer de Pelé o meu personagem da semana. Grande figura, que o meu confrade Albert Laurence chama de ―o Domingos da Guia do ataque‖. Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.

O que nós chamamos de realeza é, acima de todo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. E o meu personagem tem uma tal sensação de superioridade que não faz cerimônias. Já lhe perguntaram: — ―Quem é o maior meia do mundo?‖. Ele respondeu, com a ênfase das certeza eternas: — ―Eu‖. Insistiram: — ―Qual é o maior ponta do mundo?‖. E Pelé: — ―Eu‖. Em outro qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe no que diz uma tal carga de convicção, que ninguém reage e todos passam a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável Pelé.

Vejam o que ele fez, outro dia, no já referido América x Santos. Enfiou, e quase sempre pelo esforço pessoal, quatro gols em Pompéia. Sozinho, liquidou a partida, liquidou o América, monopolizou o placar. Ao meu lado, um americano doente estrebuchava: — ―Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!‖. De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, ele recebe o couro no

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meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: — sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: — a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável.

Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, certeza, de otimismo, que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que a sua maior virtude é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível em qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim, amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau.

Fonte: <http://blogs.estadao.com.br/robson-morelli/a-primeira-cronica-de-nelson-rodrigues-sobre-pele/>.

ANEXO 4 – ―Aí, Galera‖

Aí, Galera

Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo "estereotipação"? E, no entanto, por que não?— Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.—Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.— Como é?— Aí, galera.— Quais são as instruções do técnico? — Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.— Ahn?— É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.— Certo. Você quer dizer mais alguma coisa? — Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?— Pode.— Uma saudação para a minha progenitora.— Como é?— Alô, mamãe!— Estou vendo que você é um, um... — Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?— Estereoquê?— Um chato? — Isso." Comentário

Percebemos de imediato que se trata de uma entrevista que cria uma situação ideal que provoca o riso. O humor é aqui veiculado por meio do inesperado, em que cada expressão "erudita" do jogador soa como algo tão fora de contexto que, ao imaginarmos a situação, não deixamos de achar graça. A

habilidade do autor consiste em explorar com inteligência uma situação hipotética de inadequação lingüística para provocar o humor.

Fonte: <http://luizfverissimo.blogspot.com.br/2008/09/galera.html>.

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ANEXO 5 – ―Goleiro tem de ser louco‖ "G O L E I R O T EM D E S E R L O U CO‖ Sem essa de que "perna-de-pau" vai para o gol, Taffarel, o goleiro brasileiro tetracampeão, diz

que é preciso muita coragem para encarar a bola no gol. Segundo Cláudio André Taffarel, a principal dica para quem sonha em defender um time no centro do gol é fazer um pouco louco. "Tem de gostar de se jogar no chão, de se sujar, de levar bolada'', diz. E saber lidar com a frustração: "No início da minha carreira, eu até chorava quando levava um gol'", conta. "O goleiro é muito cobrado"diz. "Se ele foi brilhante durante o jogo inteiro e no último minuto levou um gol, só culpam a ele pela derrota do time", explica. Apesar das dificuldades, Taffarel acha que nasceu para isso. Começou a encarar a bola aos 8 anos: participava de todas as "peladas" de sua rua, em Porto Alegre. "Preferia ganhar luvas de goleiro a uma bola nova", conta. E esse amor às luvas fazia seu time ganhar. "Nos outros times quem não sabia jogar ia para 0 gol, mas, no meu. tinha alguém que gostava do que estava fazendo", conta. Pai de dois filhos: Cláudio André, de 6 meses, e Catherine, de 1 ano e 8 meses, acha que as crianças de hoje estão se interessando mais pelo trabalho do goleiro. "A garotada me procura muito", conta. "Estou sempre dando autógrafos". Diante disso, Taffa, como é chamado pelos fãs, não descarta a ideia de, no futuro, abrir uma

escolinha para treinar grandes pegadores de bola.

Mônica Krausz. O Estado de São Paulo, Estadinho, 06.05.95

Fonte: SILVA, Antônio de Siqueira e; BERTOLIN, Rafael; OLIVEIRA, Tânia Amaral. Tecendo Textos: 6ª Série. São Paulo: IBEP, 1999, p.76.

ANEXO 6 – ―Peladas‖ Peladas - Armando Nogueira

Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto. E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: "eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe." Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha. Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro jogo sem camisa. Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula. Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho. Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati. No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha. Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura. Nova saída.

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Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas. O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança. Armando Nogueira é um estilista, na medida em que escreve sobre futebol a partir de uma consciência artesanal que envolve suas crônicas de um grau de literaridade tal, que elas, hoje, constituem páginas realmente literárias com toda a força imagística, poética, carga épica e dramática, que costumam envolver tais criações. Tem dois livros lançados, "Bola na rede", e "A chama que não se apaga", sobre as cinco olimpíadas que cobriu como jornalista. Hoje colabora com diversos jornais, que publicam suas crônicas esportivas, e mantêm programa em um emissora de televisão.

Fonte: SILVA, Antônio de Siqueira e; BERTOLIN, Rafael; OLIVEIRA, Tânia Amaral. Tecendo Textos:

6ª Série. São Paulo: IBEP, 1999, p.76.

ANEXO 7 – ―O padeiro‖ O padeiro – Rubem Braga Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo. Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: - Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo? "Então você não é ninguém?" Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém... Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!" E assobiava pelas escadas.

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de; SABINO, Fernando; CAMPOS, Paulo Mendes; BRAGA, Rubem. Crônicas: Para gostar de ler – v. I. 12. ed. São Paulo: Editora Ática, 1989. p.63-64.

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ANEXO 8 – Livro DEU NO JORNAL, de Moacyr Scliar

ANEXO 9 – ―Grande Coisa‖

GRANDE COISA – Premê / Silvinho

Brasil com a bola Dom Pedro é o primeiro a pegar na pelota Faz um passe curto para o aterro do Flamengo que devolve de calcanhar, Tem condição de jogo Lança com profundidade para a Baía de Guanabara A bola passa raspando a Ponte Rio-Niterói -É você, Yolando! -Grande coisa, Magno, inclusive essa ponte já tirou Muito nego da jogada Segue a partida... E Salvador tem a posse de bola; Sai transando bem Trata com intimidade a menina, ginga, faz a finta E passa pelo Farol da Barra Dá um chapéu em Maracanã, Tropeçou, levanta, tem noção absoluta de quique, Salvador é uma festa pra galera!!!

Segue o jogo... Bola nos pés da Transamazônica Que chuta longe, muito longe... Quem acredita é Angra I, que vem pela direita Correndo em direção a pelota. Só que com essa força, viu... Eu já venho afirmando a um bom tempo que essa insistência pela direita não é bem o caminho, viu Magno... Tá certo você, Yolando !! Angra corre, corre, mas quem alcança a bola é Itaipú, Que vem com muito mais energia, consegue o domínio, Lança para Brasília, no centro do gramado, Brasília recolhe, trata direitinho a menina, esconde, prende bem a bola... a bola... ou é impressão minha, mas a bola sumiu, O que é que acontece Yolando? _Eu acho que Brasília não tá com essa bola não.

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Toca certo para o pão de açúcar que não se mexe e deixa Para a Basílica de Aparecida pegar na redonda, Aparecida chuta forte sem direção E a bola se perde pela linha de fundo... Exija o melhor para o seu toca-discos Exija Grande coisa, o novo disco do Premê.

Realmente ela sumiu... E o juizão continua parado em cima do Corcovado de braços abertos não botando uma fé! E a bola reaparece na boca da pequena área do campo adversário e é GOL! GGOOOOLLLLLL !!!!!

Fonte: <http://www.youtube.com/watch?v=nluZ2ZtPtsM>.

ANEXO 10 – ―Transcrição de um jogo de futebol‖

Narração esportiva – TRANSCRIÇÃO DE UM JOGO DE FUTEBOL – Eder Luis

Hoje ―um leão morre e outro vive‖ em busca do ―caneco‖ do ―brasileirão‖ ―...apita o árbitro, a bola rolando no ―tapete verde‖ do Pacaembu. Bola na ―meia‖ esquerda com Silvinho que rola com carinho para Vampeta, que serve

Edilson, o ―capetinha‖ passa por um, passa por dois, ―tá liso como quiabo‖ o garotinho, grande toque de Marcelinho, o ―cracão da 36‖, balançou prum lado, balançou pro outro, chutou para o gol.

Bola com Marcelinho que domina pela ―meia direita‖ deu no vazio pra Rincón, vai levando o colombiano pela ―peça ofensiva‖, viu índio entrar, tocou pra ele que cruzou na cabeça de Didi... defendeu Danrlei. ―Bota‖ pra escanteio o goleiro ―gremista‖.

Vai ―cobrar‖ Marcelinho. Levantou na área, passou por todo mundo, entrou Edilson de cabeça, é goooooooooooooooooooooooooool do Corinthians.

Recomeça o jogo, lá vem o Grêmio, ―mordido, ferido‖, vai tentar dar o troco no ―Timão‖, bola nos pés de Robert vai ―descendo, fugindo, pelo setor esquerdo com capricho ―rola macio‖ pra Fabinho que bate por cima do gol de Nei.

Vai terminar o jogo, o árbitro já olha pro seu relógio, vai apitar o final da partida, ―desce a ladeira o Timão‖ com Gilmar que toca pra Marcelinho, vai tentar do ―meio da avenida‖, bate na trave, a bola ―beija o poste‖ e vai pra fora. ―Tiro de meta‖ pra Danrlei.

Faz a festa ―a galera do Timão‖ no Pacaembu, que venha o ―Peixe‖. Apita o árbitro, termina o jogo, Corinthians classificado pras quartas-de-final do brasileirão.

Corinthians 1 x Grêmio 0. (Texto de locução de um jogo de futebol)

Transcrição parcial do jogo Corinthians e Grêmio. Semi-final do Campeonato Brasileiro de Futebol, 1998

Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu)Data 25/11/1998 – 21:00 Fonte: Rádio FM, Locutor: Éder Luis

Fonte: SILVA, Antônio de Siqueira e; BERTOLIN, Rafael; OLIVEIRA, Tânia Amaral. Tecendo Textos: 6ª Série. São Paulo: IBEP, 1999 ANEXO 11 – “O dia em que a caça consolou o caçador no Pacaembu‖

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O dia em que a caça consolou o caçador no Pacaembu – Juca Kfouri

Dois alvinegros, Santos e Botafogo, faziam os grandes jogos dos anos 60. Pelé x Garrincha, fora outros gigantes dos dois timaços. Num desses jogos, em São Paulo, os cariocas fizeram uma exibição inesquecível e, estranhamente, pouco badalada nos embates entre os dois melhores times do país naquela época. Aliás, sempre que se fazem referências aos jogos entre Botafogo e Santos daqueles tempos, só são lembradas as vitórias santistas, as goleadas de Pelé & Cia. Pois o Pacaembu estava lotado para ver mais uma. Pelé e Mané estavam em campo, mas o diabo estava era no corpo que vestia a camisa sete, não a dez. O lateral-esquerdo Dalmo, do Santos, viveu uma tarde de terror. Garrincha pegava a bola e, andando, levava Dalmo até dentro da grande área, onde o zagueiro não podia fazer falta. O Pacaembu não acreditava no que via: um ponta andar desde a intermediária até a área sem que o lateral tentasse tirar a bola, temeroso do drible desmoralizante. Até que Dalmo percebeu que tinha virado motivo de chacota dos torcedores, muitos dos quais nem santistas eram, mas que iam ao campo na certeza do espetáculo. E Dalmo resolveu bater antes de chegar à grande área. Bateu uma vez, Garrincha caiu, o árbitro marcou a falta e repreendeu o paulista. Bateu outra vez, Garrincha voltou ao chão, o árbitro marcou a falta e ameaçou Dalmo de expulsão, porque naquele tempo o cartão amarelo não existia. A terceira falta de Dalmo foi a mais violenta, como se ele estivesse pensando: "Arrebento essa peste, sou expulso, mas ele não joga mais". Pensado e feito. Enquanto o gênio das pernas tortas estava estirado no bico direito da área dos portões principais do Pacaembu, o árbitro determinava a expulsão de Dalmo, cercado por botafoguenses justamente irados com seu gesto. Eis que, como um acrobata, Garrincha levanta-se, afasta seus companheiros, bota o braço esquerdo no ombro de Dalmo e o acompanha até a descida da escada para o vestiário, que, então, ficava daquele lado. Saíram conversando, como se Garrincha justificasse a atitude, entendesse que, para pará-lo, não havia mesmo outro jeito. O Botafogo ganhou de 3 a 0 e saiu aplaudido do estádio. Tinha visto uma autêntica exibição do Carlitos do futebol, digna mesmo de Charles Chaplin, divertida, anárquica, humana, sensível, solidária. Crônica do jornalista Juca Kfouri publicada na revista Lance a Mais (em 9/9/2000),

ilustrada por Andrés Sandoval

Fonte: <http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/dia-caca-consolou-cacador-pacaembu-634358.shtml>.

ANEXO 12 – ―A bola e o goleiro‖

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A bola e o goleiro - Jorge Amado

Vou contar a quem a queira ouvir a história da bola Fura-Redes e do goleiro Bilô-Bilô, o Cerca-Frango, uma historinha para ninguém botar defeito, breve e louca como a vida. O destino das bolas de futebol é fazer gols e a bola Fura-Redes, como o nome indica, era a maior especialista do país na quantidade e na qualidade dos tentos assinalados. Gols olímpicos, e de efeito, de folha-seca, de letra, de bicicleta, de placa, incomparáveis. Por isso mesmo tornou-se conhecida e aclamada como Esfera Mágica, Goleadora Genial, Pelota Invencível e Redonda Infernal, pelos locutores enlouquecidos ao microfone, quando a viam atravessar o campo, de passe em passe, de finta em finta, para marcar mais um tento sensacional. A bola Fura-Redes era o pavor dos goleiros, a paixão dos pontas-de-lança e dos comandantes de ataque, a bem-amada da torcida. Nascera para cruzar o arco, bater-se alegre contra as redes, provocar o grito de guerra e de vitória da galera. Lustrosa, leve e atrevida, a mais redonda das pelotas, apesar de muito jovem, logo se tornou popularíssima devido ao número de tentos já marcados, cerca de seiscentos; muitos em cada partida. Vários para a equipe A e vários para a equipe Z, pois Fura-Redes mantinha-se absolutamente imparcial quando se exibia no gramado. Marcava gols para as duas equipes, não protegia qualquer delas, era correta e justa. Assinalaria maior número de tentos o time que mais procurasse o ataque, buscando encurralar o adversário. Com ela, os artilheiros não erravam os chutes, não desperdiçavam bolas nas traves. Mas, sendo igualmente bondosa, dotava de um coração de ouro, Fura-Redes tampouco deixava a outra esquadra em jejum: pelo menos um golzinho de consolação ela lhe concedia antes que o juiz trilasse o apito, dando o desafio por terminado. Fura-Redes fora proclamada inimiga número um do zero no placar. Os resultados das partidas que jogava davam conta da impressionante vocação da Redondinha para o gol. Redondinha, carinhoso apelido que lhe dera o Rei do Futebol. Escores sempre altos: cinco a quatro, sete a seis, seis a seis. Ou bem violentas goleadas: seis a dois, oito a três, cinco a um, quando se fazia evidente a diferença de qualidade entre os dois clubes, o campeão, dono do gramado, e o adversário, um timinho qualquer, de última categoria. Atingira Fura-Redes o ponto mais alto de sua brilhantíssima carreira: falava-se nela para ser a bola oficial da próxima Copa do Mundo. Os principais artilheiros dos grandes clubes, os maiores pontas-de-lança do país morriam de amores por ela, todos queriam ser seus favoritos para alcançar o recorde mundial de gols. Mas a heroína dos gramados não revelava preferência por nenhum deles. Partia em direção ao arco tanto do pé do maior dos craques, Rei do Futebol, quanto da chuteira de um perna-de-pau qualquer até então desconhecido. Para ela todos eram iguais, servia-se deles para buscar o gol e desatar a vibração do povo nos estádios a cada tento que marcava, todos dignos de placa. Fura-Redes jamais se apaixonara. Um dia, porém, como sucede com todas as criaturas, Fura-Redes se apaixonou e logo por quem! Em lugar de se apaixonar por um artilheiro, por um centro-avante, um ponta-de-lança, entregou seu coração a um goleiro, ao último dos goleiros, a Bilô-Bilô Mão Podre, engolidor de frangos. O goleiro Bilô-Bilô iniciara sua carreira de goleiro sendo saudado em campo com diversos apelidos, cada qual – como direi? – mais caloroso: Cerca-Frango, Mão-Furada, Mão-Podre, Rei-do-Galinheiro e outros nomes ainda mais feios que eu não reproduzo aqui por ser esta historinha dedicada ao público infanto-juvenil. Pois bem: Bilô-Bilô transformou-se no aplaudido, no popularíssimo Pega-Tudo, o Tranca-Gol, o Aranha, o Maior de Todos.

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Dizem ter sido a camisa de caramelo usada por Cerca-Frango a causa da paixão de Fura-Redes. Quando o avistou no arco daquele time fuleiro que ainda não ganhara nenhuma partida no campeonato, que recebera goleada sobre goleada, Fura-Redes perdeu a cabeça, não teve olhos para ninguém. Apenas iniciada a partida, ao ser chutada com violência para o arco, foi aninhar-se nos braços do Rei-do-Galinheiro. Pela primeira vez na vida, Cerca-Frango viu-se ovacionado num estádio. Fura-Redes continuou a fazer gols sensacionais nos demais goleiros, um gol atrás do outro. Mas quando entrava em campo a esquadra em cujo arco Pega-Tudo se exibia, era aquela glória. O arqueiro adversário engolindo bola sobre bola, enquanto Pega-Tudo recolhia a pelota de mil maneiras diferentes, em defesas nunca vistas antes. Outra coisa não desejava Fura-Redes além de aninhar-se nos braços de seu namorado. Para não faltar com a verdade, devo dizer que Bilô-Bilô mantinha-se igualzinho, não mudara: continuava sem saber se posicionar entre as traves, não saía do arco no momento certo, faltava-lhe visão do gol, enfim, prosseguia péssimo. Apenas defendia tudo, absolutamente tudo. Cerca-Frango cercava a bola por um lado, ela estava no outro, a galera gritava GO-o-o-ol! E, de repente, na hora agá, o que se via? Via-se a bola encaixada nas mãos de Pega-Tudo, apertada contra o coração do goleiro, nos braços de Bilô-Bilô, sossegadinha, feliz da vida. Em lugar de um novo gol de Fura-Redes, a torcida saudava mais uma portentosa defesa de Pega-Tudo. Durante um tempo mais ou menos longo, Fura-Redes e Tranca-Redes, ex-Cerca-Frango, dominaram os estádios brasileiros, empolgando multidões nas festas de tentos maravilhosos e de defesas deslumbrantes. Ocupavam as manchetes dos jornais, as telas das televisões e dos cinemas, obrigavam os locutores a criarem expressões novas, ainda mais grandiloqüentes, aumentativos colossais para descrever os feitos da Bola e do Goleiro. Depois de varar as redes, aumentando o placar da surra humilhante aplicada na equipe adversária, a Redondinha vinha redondinha, acolher-se nos braços de Bilô-Bilô, aconchegar-se em seu peito. Por mais de uma vez aconteceu Tranca-Redes beijar Fura- Redes e então, no estádio, o numeroso público delirava. Parecia um milagre e assim era: milagre de amor não tem explicação, não necessita. Um dia os jornais, as rádios, as cadeias de televisão anunciaram para o Brasil e para o mundo inteiro que o Rei do Futebol havia faturado o gol novecentos e noventa e nove e se preparava para varar o gol número mil, notícia empolgante e alvissareira. Jamais outro artilheiro realizara tal façanha, metera mil gols nas redes adversárias. Movimentaram-se os goleiros do Brasil e de todos os países, todos queriam a honra e a glória de engolir o gol número mil do Rei. Vieram telegramas propondo famosos quípers estrangeiros mas os brasileiros protestaram com razão: tinha de ser um goleiro nacional. Caberia a Bilô-Bilô aquele feito supremo: cercar o frango no milésimo gol do craque sem igual, pois cumprindo calendário do campeonato entraram em campo ou melhor adentraram o gramado – em embate tão importante não se entra em campo, adentra-se o gramado – a equipe do Rei e aquela cujo arco era guardado por Bilô-Bilô. Evidentemente a bola escolhida para o desafio não podia ser outra senão a famosa Fura-Redes, a quem o rei, como se sabe, galanteava dizendo-lhe ―Redondinha, minha querida, minha formosa namorada‖. Ainda hoje muita gente não acredita no que aconteceu em campo naquela tarde de sol com milhares de bandeiras desfraldadas no estádio onde mais de duzentas mil pessoas se comprimiam, gritando e aplaudindo. O time do Rei do Futebol, que devia ganhar de goleada, apanhou uma surra de criar bicho. Fura-Redes pintou e bordou e quando faltavam alguns segundos para a partida terminar, o escore subia a cinco a zero contra a equipe do Rei. Nos últimos segundos, porém, quando o público, decepcionado por não ter assistido ao gol número mil, começava a deixar o estádio, o juiz marcou um pênalti contra o time de Bilô-Bilô, pênalti que ninguém tinha cometido. Roubo claro e evidente, foi no entanto aplaudidíssimo pois ia possibilitar que aquele imenso público visse e comemorasse o milésimo gol do Rei: mais do que ninguém, vibrou o nosso conhecido Cerca-Frango pronto

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para cercar o frango real e o engolir inteiro. Colocou-se a bola Fura-Redes na marca do pênalti, um silêncio enorme cobriu o estádio. O Rei do Futebol tomou distância para dar ainda mais força ao chute potentíssimo, indefensável e fazer um límpido gol de placa. Postou-se no arco Bilô-Bilô envergando a vistosa camisa cor de caramelo, nos lábios um riso de contentamento, pronto para não fazer a defesa, para engolir o frango cru, com penas e tudo. Aliás nem se postou no centro do arco como era sua obrigação, ficou encostado na trave direita, do lado de fora, deixando o espaço livre para que Fura-Redes nele penetrasse. Ninguém protestou, todos entenderam o gesto do arqueiro: iria se imortalizar ao receber aquele gol. Correu o Rei, chutou com a máxima violência a meia altura diante do arco vazio. Duzentas e quatro mil trezentas e dezoito pessoas, sem contar os jornalistas, os cartolas e os penetras, viram Fura-Redes ser atirada com potente e certeiro chute do Rei do Futebol contra o desguarnecido arco de Bilô-Bilô. Puseram-se todos de pé no estádio, preparados para aplaudir, até o fim do dia e pelo resto da semana, o gol número mil do Rei do Futebol. Viram então Fura-Redes dar meia-volta no ar, desviar-se antes de cruzar o arco, dirigindo-se, dengosa, para onde estava Bilô-Bilô vestido com a camisa cor de caramelo: queria aninhar-se em seus braços. Mudou Cerca-Frango de posição, fugindo rápido para o outro lado, Fura-Redes fez o mesmo, a buscá-lo. Assim ficaram os dois durante alguns minutos, um tempo enorme, correndo em frente às traves, de uma a outra, até que, desesperado, Bilô-Bilô disparou campo afora deixando o arco à disposição da bola. Mas Fura-Redes partiu atrás de seu goleiro e o perseguiu até que o alcançou diante do arco adversário e em seu peito se aninhou redondinha e amorosa. Assim terminou a carreira futebolística da bola Fura-Redes e a do goleiro Cerca-Frango que foi o pior e o melhor de todos os goleiros. O que fizeram depois? Ora, o que fizeram! Se casaram e viveram felizes para sempre. Bahia, janeiro de 1984.

Fonte: <http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=40474>.

ANEXO 13 – ―Salvo pelo Flamengo‖

SALVO PELO FLAMENGO – Paulo Mendes Campos

Desde garotinho que não sou Flamengo, mas tenho pelo clube da Gávea um dívida séria, que torno pública neste escrito. Em 1956, passei uma semana em Estocolmo, hospedado em um hotel chamado Aston. Era primavera, pelo menos teoricamente, havia um congresso internacional na cidade, os hotéis estavam lotados, criando contratempos para turistas do interior ou estrangeiros. A recepção do Aston, por exemplo, vivia sempre cheia de gente implorando por um quarto ou discutindo a respeito de uma reserva feita por telegrama ou telefone.

Estava há dois ou três dias na cidade, quando me pediram para receber um brasileiro e encaminhá-lo ao hotel, onde lhe fora reservado de fato um apartamento. Era uma hora da madrugada quando entramos no hotel e me encaminhei até o empregado do balcão, dando-lhe o nome do meu amigo e lembrando-lhe a reserva. O funcionário, homem de uns sessenta anos e de uma honesta cara escandinava, tomou uma atitude estranha e difusa,que a princípio me surpreendeu e ia acabando por me indignar: ele não confirmava a existência da reserva, nem deixava de confirmar.

Como começasse a protestar, vi que seu rosto tomava uma expressão aflita; eu entendendo cada vez menos. Quando passei a exigir o apartamento com alguma energia, o homem, trêmulo, nervoso, pediu-me desculpas e trouxe afinal a ficha de identificação. Foi aí que vi levantar-se da penumbra de uma saleta contígua o gigante.

Se o leitor conhece um homem forte, mas muito forte mesmo, imagine uma pessoa duas vezes mais forte, e terá uma vaga ideia desse gigante que veio andando até nós, botando ódio pelos olhos e espetacularmente bêbado. O monstro passou por mim com desprezo e, agarrando o empregado pela gola do uniforme, entrou a sacudi-lo e insultá-lo em sueco. Às vezes, éramos arrolados nessa

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invectiva, pois o gigante nos apontava enquanto dizia coisas.

O empregado, demonstrando possuir um bom instinto de conservação, deixava-se sacolejar à vontade. Rosnando assustadoramente, o ciclope foi sentar-se de novo na saleta, onde só então dei pela presença de outro sujeito, também bêbado, mas sinistramente silencioso. É hoje, pensei. Sair do meu Brasilzinho tão bom, fazer uma viagem imensa, para ser trucidado sem explicação por um bêbado.

O fato de ser na Suécia, onde arbitrários atos de violência não são comuns, ainda tornava mais absurdo, um absurdo existencialista, o meu triste fim. Indaguei do empregado o que se passava. Ficou mudo. Insisti na pergunta, e ele, sussurrando desamparadamente, explicou-me que o gigante estava a pensar: primeiro, que não conseguira vaga no hotel por ser sueco e estar embriagado; segundo, que nós conseguíramos por ser americanos, norte- americanos.

Ora, se meu amigo de fato era meio ruivo, seu jeitão era mineiro; quanto a mim, se fosse americano, só poderia ser filho de portugueses. Por outro lado, o meu inglês amarrado não deixava a menor dúvida sobre a questão de ser ou não ser americano. Só mesmo um sueco bêbado em uma madrugada de neve e vento iria supor que fôssemos americanos. Mas agora era o próprio gigante que bradava para nós com sarcasmo e ira: - American! American!

Fiquei um pouco mais esperançoso, acreditando que ele falasse inglês, e disse-lhe, exagerando minha alegria e meu orgulho por isso, que não éramos americanos coisa nenhuma, éramos brasileiros. Não entendeu ou talvez pensou que estivéssemos covardemente a renegar a nossa pátria, voltando a vociferar, em um esforço linguístico que contraía todos os músculos de seu rosto: - American! Dollar! No like! As palavras em si significavam pouco, mas a maneira de exprimi-las era de um eloqüência que teria destruído Catilina muito mais depressa que os discursos de Cícero. Durante alguns minutos mantivemos os dois uma polêmica oratória nestes termos: - American! - No, brazilian! - American! - Brazilian! Essa versátil discussão ia levar-me ao abismo, quando de súbito me pareceu que a palavra ―brazilian‖ havia penetrado por fim em sua testa granítica. Descontraindo os músculos, o gigante me perguntou: - Brazil?! No american? Brazil? Não tinha certeza se ele estava me gozando, mas sua expressão era tão estranhamente deslumbrada e infantil, que afirmei cheio de entusiasmo: - Yes, Brazil! Ele se levantou, cambaleou, aproximou-se, apontou meu amigo: - Brazil? - Brazil, Brazil. Veio chegando, sorrindo, em pleno estado de graça, e gritou com alma, como se saudasse o nascimento de um mundo novo: - Flamengo!! Flamengo!! Imediatamente, o gigante entrou em transe e começou a fazer problemáticas firulas com uma bola imaginária, mas dando a entender cabalmente o quanto ele admirava (admirava é pouco: o quanto ele amava) o malabarismo dos nossos jogadores. O gigante se desencantara, virando menino. A certa altura, depois de fazer um passe de letra, parou e confessou-me com um orgulho caloroso: - I Flamengo! I Rubens! Ele não era sueco, não era gigante, não era bêbado, não era um ex-campeão de hóquei (conforme soube depois), era Flamengo, era Rubens. Depois cutucou-me o peito, tomado de perigosa dúvida: - You! Flamengo? Que o Botafogo me perdoe, mas era um caso de vida ou de morte, e também gritei descaradamente: - Flamengo! Yes! Flamengo! The greatest one!

Fonte:http://www.velhosamigos.com.br/AutoresCelebres/PauloMendesCampos/paulomendescampos.html#salvo

ANEXO 14 – ―Fura-redes‖

FURA-REDES – Jorge Amado

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O destino das bolas de futebol é fazer gols e a bola Fura Redes, como o nome indica, era a maior especialista do país na quantidade e na qualidade dos tentos assinalados. Gols olímpicos, de efeito, de folha-seca, de letra, de bicicleta, de placa, incomparáveis. Por isso mesmo tornou-se conhecida e aclamada como Esfera Mágica, Goleadora Genial, Pelota Invencível e Redonda Infernal, pelos locutores enlouquecidos ao microfone, quando a viam atravessar o campo, de passe em passe, de finta em finta, para marcar mais um tento sensacional. A bola Fura Redes era o pavor dos goleiros, a paixão dos pontas-de-lança e dos comandantes de ataque, a bem-amada da torcida. Nascera para cruzar o arco, bater-se alegre contra as redes, provocar o grito de guerra e de vitória da galera. Lustrosa, leve e atrevida, a mais redonda das pelotas, apesar de muito jovem, logo se tornou popularíssima devido ao número de tentos já marcados, cerca de seiscentos; muitos em cada partida. Vários para a equipe A e vários para a equipe Z, pois Fura Redes mantinha-se absolutamente imparcial quando se exibia no gramado. Marcava gols para as duas equipes, não protegia qualquer delas, era correta e justa. Assinalaria maior número de tentos o time que mais procurasse o ataque, buscando encurralar o adversário. Com ela, os artilheiros não erravam os chutes, não esperdiçavam bolas nas traves. Mas, sendo igualmente bondosa, dotada de um coração de ouro, Fura Redes tampouco deixava a outra esquadra em jejum: pelo menos um golzinho de consolação ela lhe concedia antes que o juiz trilasse o apito, dando o desafio por terminado. Jorge Amado. A bola e o goleiro. Rio de Janeiro, Record, 1984.

Fonte: http://eterna-inquietude.blogspot.com.br/

ANEXO 15 – Instruções para a escrita de crônicas

Como fazer uma boa crônica A palavra crônica vem do grego, ―chronos‖ e quer dizer tempo, uma crônica é baseada em

acontecimentos comuns do cotidiano e está classificada em: Lírica: o texto escrito deve expressar sentimentalismo; Filosófica: reflexe, ou observa um acontecimento ou evento; Jornalistica: escreve notícias ou acontecimentos particulares; Crônica-ensaio: é um texto escrito com intenção de criticar fatos sociais. Dicas para se fazer uma boa crônica:

- Escolher um fato que chame a atenção, através de jornais ou revistas, pois é muito importante que o tema escolhido desperte a atenção do próprio autor. - Você precisa ler sobre este tema, e ter opiniões sobre ele, e colocá-las no seu texto, pois esta é a principal característica de uma crônica. - Quando começar a escrever, é importante que sempre deixe bem clara a sua opinião, relacionando o tema com você, como o que você pensa sobre o assunto. Coloque-se na situação sobre a qual está falando, e o que sente diante disso. - Faça observações sobre o ponto de vista de outras pessoas, e se caso for o caso aponte uma solução.

- Estude bastante gramática, concordância e ortografia, um texto tem de ser claro e objetivo. - Separe um tempo, se organize. - Depois de terminar o texto, leia, faça correções do mesmo e altere o que for necessário. Outra dica importante é pedir para outra pessoa corrigir para você, outra opinião é sempre importante. Sendo assim, é importante conhecer bem a estrutura de uma crônica para poder escrever, por isso, pergunte aos seus colegas, professores, pais, peça ajuda, afinal conhecimento nunca é demais, Dicas de como escrever uma crônica

Um dos segredos de uma boa crônica é a ótica com que se observam os detalhes e os fatos, é através disso que vários cronistas podem fazer um texto falando do mesmo fato ou assunto, mas de forma individual e original, pois cada um observa de um ângulo diferente e destaca aspectos diferentes. A característica mais relevante de uma crônica é o objetivo com que ela é escrita. Seu eixo temático é sempre em torno de uma realidade social, política ou cultural ou esportiva. Essa mesma realidade é avaliada pelo autor da crônica e uma opinião é gerada, quase sempre com

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um tom de protesto ou de argumentação. Há crônicas com tom de lirismo e cômico. Esse tipo de crônica pode ser simplesmente uma narração. É possível que haja, assim, elementos típicos do gênero como personagens, tempo, espaço. A crônica conta um fato comum do dia a dia, relata o cotidiano da vida real das pessoas, enquanto o conto e a fábula contam fatos inusitados ou até fantásticos. Ou seja, distantes da realidade. Características da crônica Ligada à vida cotidiana; Sinopse; Uso da irrealidade na escrita: linguagem coloquial; Sensibilidade no contato com a realidade; Síntese; Uso do rato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade; Dose de lirismo; Natureza ensaística; Leveza; Diz coisas sacanas por meio de uma aparente conversa fiada; Dar vida as coisas; Brevidade; É um fato moderno: sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna. A crônica argumentativa começa com uma introdução ligada ao assunto, tema.

Fontes: http://www.colegioweb.com.br/trabalhos-escolares/portugues/redacao/como-fazer-uma-boa-cronica.html http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_professor_virtual_perguntas_00082.html

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APÊNDICE 1: Peça teatral Peça teatral: O mundo fantástico da imaginação Era uma vez um lugarzinho no meio do bosque, onde um garotinho muito esperto gostava de passear. Certo dia, enquanto passeava por esse bosque encontrou algo muito estranho. Era uma caixa enorme abandonada em um canto, no meio das árvores.

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Garotinho: Nossa! O que é isso? Alguém deve ter jogado lixo no bosque. Livro: _Não, eu não sou um lixo. Eu sou um LIVRO DE CONTOS... Menino: _Ah é? E o que é um conto? Livro: _ São histórias narradas... elas estão todas aqui, em minhas páginas...cheias de aventuras e moções. Menino: _E como eu posso ver? Livro:_Basta você virar as páginas! Nelas você terá acesso às mais belas histórias já criadas

pelos mais criativos autores do mundo inteiro!!! Menino: _Eu posso? Não vou te machucar? Livro: Hehe! Claro... pode virar a página.. Era uma vez... Narrador:

Maurício de Souza, o fantástico criador das clássicas Histórias em Quadrinhos da Turma da Mônica, sentado, com sua prancheta ―tentando‖ escrever uma nova história. Mas neste dia, em especial, parece que os personagens dos contos de fadas insistem em atormentar-lhe as ideias. Não o bastante. Ídolos do futebol brasileiro também insistem em permanecerem em seus pensamentos. Enquanto isso, Mônica, irritada pela demora de Maurício de Souza, inicia uma discussão com seu amiguinho, o Cebolinha: Mônica: Nossa, Cebolinha! Já estou casada de esperar o Maurício escrever essa historia . Cebolinha: Clalo, Mônica, você ainda não entendeu o polquê da demola? Mônica: Não! E por acaso você, o grande espertalhão, já sabe? Cebolinha: Clalo, Mônica! Todas as histórias em que você palticipa, sempletelmina em bligas e coelhadas. Já peldeu a glaça. Mônica: ―Só que não‖, né Cebolinha! Se você não me provocasse, as histórias teriam outro final. A culpa é sua! Cebolinha:Clalo que não, você que é uma dentuça boboca, atlevida! Mônica:E você também é um moleque atrevido, mimado, e muito chato! Cebolinha: Dentuça, tentuça! Narrador: E como de costume, Mônica dá uma bela coelhada no Cebolinha! A confusão está armada... E o Maurício de Souza continua sem criatividade e inspiração... Eis que surge, talvez dos pensamentos de Maurício, o narrador esportivo Galvão Bueno para acalmar os ânimos da Mônica e do Cebolinha... Galvão: Olá, olá, olá meus amigos da Turma da Mônica! Bom dia!

Mas o que está acontecendo, meninos? Por que estão brigando! Narrador: Assim Mônica e Cebolinha contaram ao Galvão Bueno que estava acontecendo e o possível ―porquê‖ de sua falta de criatividade. Galvão: Ora, meu amigo e minha amiga, vou convocar meus colegas de profissão e uns conhecidos meus da época em que eu gostava de ler Contos de Fadas. Faremos uma mesa redonda e os ajudaremos a solucionar esta questão...tenho certeza que dará certo... O Maurício nos agradecerá no fim... Mônica: Mas como isso poderá nos ajudar? Cebolinha: Ola, Ola, Mônica, sua dentuça, você não sabe que esses amigos do Galvão são

muito espeltos e resolvem os ploblemas nas suas histólias e tudo acaba bem no final? Mônica: É mesmo, Cebolinha!!!... Então vamos ver o que eles podem fazer. Galvão: Alô, alô meus amigos dos contos de fadas. Chamo aqui a Rapunzel, o Príncipe Encantado, a Chapeuzinho Vermelho e os meus colegas de trabalho, O Ronaldo, O Casagrande, o Juiz Arnaldo Cezar Coelho. Opa, não posso esquecer do Rei Pelé, nem do nosso Prefeito o Sr. Adir Leite... Cebolinha: Mas como eles podem resolvel o ploblema? Galvão: Eles ajudarão dando ideia ao Mauricio de Souza... contando as suas histórias, ou seja as suas biografias... [Após certo tempo, todos colocam-se na mesa redonda para reunião.]

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Narrador: Como Galvão Bueno teve a ideia da reunião, ele começa apresentando o problema... Galvão: Alô, meus amigos. A situação é que o nosso amigo Maurício de Souza não conseguiu, hoje, escrever mais histórias em quadrinhos. Ficou distraído demais como outros personagens. Nós precisamos dar-lhe ideias novas. Mônica: Eu já sei... a Rapunzel poderia jogar suas tranças para o Cebolinha, hehehe... Quem

sabe ele se apaixona e casa-se com ela e me dá sossego... Cebolinha: E quem disse que eu quelo casa? Isso não dália celto... Mônica: Mas é só uma história, Cebolinha... Galvão: É verdade, isso não daria certo...

Casagrande: Bem, nessa situação, eu acho que poderia a Chapeuzinho Vermelho, que é criança ainda, ser a dona do cãozinho da Mônica, o Bidu... Isso daria certo! Galvão : Haaaaaaja coração...Isto é teste para cardíaco... Rei Pelé: Pois é, eu também acho, Galvão, mas seria legal colocar na história um pouco de

romance... Adir : Meu povo querido desta cidade, eu vejo esta situação com os olhos de administrador.

Então, acho que não há necessidade alguma de romance. Os personagens podem apenas conviver como amigos... Arnaldo: Mas eu acho que se Príncipe encantado fizesse uma participação na história do Maurício, ele teria que criar uma princesa para ele..., quem seria? Mônica: Eu, eu, eu... quem seria melhor para o príncipe do que eu? Cebolinha: Ai, Mônica, ...você estlagalia a histólia... Ronaldo: Eu penso que daria certo sim, masteria que arrumar uma personagem para o Cebolinha também... Galvão :Olha só a lembrança que ele fez! É verdade. Então quem sugere uma personagem para o Cebolinha? Cebolinha: Eu já sei, quelo que seja a Fada Sininho. Selve? Galvão :Serve sim... ela é novinha como você. Vai dar certo Cebolinha... Galvão :Isto pode Arnaldo? Arnaldo :A regra é clara, Galvão... Os personagens devem ter a mesma idade. Então, dará

certo... Galvão : Mas ainda tem um problema, precisamos ler as biografias dos famosos para o

Maurício de Souza. Quem fará isso? Mônica : Eu posso ler? Cebolinha: Não, não pode, você não lê direitinho... Mas eu posso... Mônica: Há, há, ha, olha só quem fala, você é quem troca as letras... Cebolinha: Oh,Mônica... eu fiquei tliste. Agola você me ofendeu... Mônica: Ah, desculpe, então...

Narrador:

Galvão, como chefe da reunião, decidiu que ele mesmo faria as leituras das biografias de Pelé e do Prefeito Adir para que Maurício pudesse utilizá-las em sua história. Narrador:

Depois de decidido o destino de cada personagem e ainda quem leria as biografias, foram apresentar as ideias ao Maurício de Souza, que continuava com a prancheta nas mãos, sem escrever nada... Quando Galvão contou-lhe o acontecido, Maurício deu-lhes um sorriso calmo, agradeceu-lhes e ainda disse-lhes que estava justamente pensando em mudar suas histórias... Quando de repente o prefeito teve um grande ideia Mauricio escreva uma historia sobre um campeonato de futebol entre os amigos do mundo fantástico. Então, todos se foram. Maurício, agradecido, começou: ―NUM REINO MUITO DISTANTE, UM JOGADOR DE FUTEBOL , UM PREFEITO, MÔNICA, CEBOLINHA, RAPUNZEL, CHAPEUZINHO VERMELHO E SININHO TORNARAM-SE AMIGOS. RESOLVERAM FAZER UM TORNEIO ENTRE OS MAIS NOVOS AMIGOS DO BAIRRO DO LIMOEIRO. VAMOS ORGANIZAR O TIME: Chapeuzinho vermelho, Lobo Mal, Sininho, Rapunzel, Os três porquinhos, Mônica ,Cascão,

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Cebolinha ,Pelé, Zico,Ronaldinho, Gato de Botas, Neymarzinho, e Os Sete Anões [Os times gritam e jogam um bola de futebol para alto] _Upi! UPi!! Urra! Urra! Esses times serão sucesso na Copa do Mundo em 2014. [Em seguida aparece o menino e o livro na cena] Menino: Nossa ! Que legal virar as suas páginas, eu não conhecia um livro de contos. Livro: O que você leu foi só o começo da história, mas quando quiser eu posso te contar

muitas historiam cheias de aventuras e emoções. Você só precisa folhear as minhas páginas. Livro: Obrigado, pela atenção. Ah muito tempo estava esquecido aqui, muita gente já passou

por aqui, mas nem me olharam eu já estava me sentindo um papel amassado Menino:- Eu já sei ! (grita o menino) Você quer ser meu amigo? Eu levo você comigo e todas

as noites poderá me contar uma das suas histórias. Livro: Oba! Eu adoro fazer amigos, principalmente amigos leitores.

Vamos lá !!!! [E assim os personagens saem de cena]. [O garoto e o livro de mãos dadas andando pelo bosque.] [Logo após voltam ao palco com o time para agradecer ao público.]

Autoria conjunta: Angela Maria Sampaio Baptista /Angela Scheffer Portela / Clélia Maria Costa Fogaça/ Neiva Pereira Martins- Professoras PDE

APÊNDICE 2: Dinâmica Dinâmica das cartelas e das imagens Descubra a qual imagem pertencem os trechos de crônicas (literária e não literária) abaixo, justifique sua resposta:

(1) A CBF confirmou a alteração para realização do jogo que reiniciará o Campeonato Brasileiro de Futebol, entre Flamengo e Coritiba.

Crônica esportiva: Coritiba enfrenta Flamengo em Brasília – DF - Rodrigo Vieira

Fonte: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-

510965345-cofre-bola-musical-flamengo-_JM

(2) Porém as vantagens da Copa do Mundo não se encontram somente na economia, mas na herança que será deixada para o povo daquele país. No caso dos africanos, foi de mais respeito e união. Crônica esportiva: Os impactos da Copa do Mundo no Brasil - A herança da África Jessica Hentzy

Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4366846

(3)…e, hoje, bem nublado, como convém a

um, digamos, convalescente. (...) Sou obediente e vou caminhar, sem pressa, do Leme ao Pontal, ouvindo Tim Maia que, por ser desobediente, está cantando em outras paragens. Crônica :O Rio de Janeiro continua lindo… 60Juca Kfouri

Fonte: http://www.andressoares.com/blog/paixao-inexplicavel/

(4) Domingo, 30 de junho de 2013, foi um dia inesquecível para o futebol brasileiro. Mais de 70 mil torcedores lotaram o Maracanã e viram o Brasil derrotar a badalada seleção da Espanha por 3 a 0 e se sagrar tetra campeã da Copa das Confederações. Crônica: Parabéns a nossa seleção!

Fonte: http://www.coxanautas.com.br/noticias/conteudo.phtml?id=35733

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(5) A bola Fura-Redes era o pavor dos goleiros, a paixão dos pontas-de-lança e dos comandantes de ataque, a bem-amada da torcida. Nascera para cruzar o arco, bater-se alegre contra as redes, provocar o grito de guerra e de vitória da galera. Crônica: A BOLA E O GOLEIRO – Jorge Amado

Fonte: http://blogdojuca.uol.com.br/2013/06/o-rio-de-janeiro-continua-lindo/

(6) Desde quando nasci, ela já fazia parte dos meus primeiros passos. Ao deitar, era com ela que eu abraçava. Quando acordava era com ela que eu levantava. Foi assim que fui crescendo e me apaixonada cada vez mais por ela. Ela serve de inspiração para alguns. Serve de talento para outros, mas para muitos ela chega a ser um pesadelo.

Crônica esportiva: PAIXÃO INEXPLICÁVEL

Fonte: http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/sao-paulo-contra-o-cruzeiro-nas-maos-do-goleiro-que-o-clube-nao-acredita-denis-rogerio-ceni

(7) O placar do Flamengo é de assustar*: — 8 x 0! Essa abundância numérica significa que o rubro-negro submeteu o Olaria a um metódico, a um meticuloso, a um hediondo massacre. Crônica: CEM POR CENTO DIDA – Armando Nogueira

Fontehttp://casadascronicas.blogspot.com.br/2013_05_01_archive.html

(8) E, no entanto, ele não renuncia às suas funções nem por um decreto. Pergunto: — por que esta obstinação? Amigos, a vaidade o encouraça, a vaidade o torna inexpugnável, a vaidade o ensurdece para as 200 mil bocas que urram: — ―Ladrão! Ladrão! Ladrão!‖. Crônica: O RISO – Armando Nogueira

Fonte: http://canelada.com.br/copa14/os-impactos-da-copa-do-

mundo-no-brasil-2-a-heranca-da-africa/

APÊNDICE 3 – Atividades para identificação de identificação dos tons das crônicas

No asilo dos Anos Velhos – Moacyr Scliar – (Edelbra, 2008, p.24)

―Para onde vão os Anos Velhos? Este é um segredo que vem sendo guardado há muito tempo, talvez porque

envolva uma verdade dolorosa. Ao contrário do que se poderia pensar, nenhum destino glorioso é reservado aos

que findam. Eles terminam sendo recolhidos ao Asilo dos Anos Velhos, situado em lugar certo e não sabido.” (...) “Visitaremos o Asilo dos Anos Velhos. Ali encontraremos todos os anciãos, alguns sentados em bancos no jardim, outros caminhando a passos trôpegos, alguns adormecidos em cadeiras preguiçosas. Constataremos que eles se

conhecem uns aos outros por números: „Como vai você, 1942?‟, „Bem, e você 1931?‟. Alguns dos Anos Velhos se consideram privilegiados.”

O quadrúpede de 28 patas – Nelson Rodrigues – ( Companhia das Letras – 1993, p.58) ―Eis a verdade, amigos: — tratam do craque, tratam da equipe e esquecem o torcedor, que está justificando cuidados especiais. Que estímulo poderá ter um escrete que é negado mesmo na vitória? A seleção não tem saída. Se vence de cinco, se dá uma lavagem, o torcedor acha que o adversário não presta. Se empata, quem não presta somos nós. Durma-se com um barulho desses!‖

A pessoa errada – Luis Fernando Veríssimo – Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa, que se você for parar pra pensar, é na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho: chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas. Mas nem sempre precisamos das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça, fazer loucuras, perder a hora, morrer de amor. A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar, que é para na hora que vocês se encontrarem a entrega seja muito mais verdadeira. A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2617070

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A última crônica – Fernando Sabino A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.(...) São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo.

Fontes: http://praticandogenerostextuaisnaescola.blogspot.com.br/p/coletanea-de-cronicas-da-olimpiada.html

Livro: "A Companheira de Viagem", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1965, pág. 174. Aeroporto – Carlos Drummond de Andrade Embora Pedro seja extremamente parco de palavras e, a bem dizer, não se digne pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema. (...) Devo admitir que Pedro, como visitante, nos deu trabalho: tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. (...) Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. (...) Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.

Apelo - Dalton Trevisan

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina.(...) Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. (...)

O homem que conheceu o amor – Afonso Romano de Sant´anna

Do alto de seus oitenta anos, me disse: ―na verdade, fui muito amado.‖ E dizia isto com tal plenitude como quem dissesse: sempre me trouxeram flores, sempre comi ostras à beira-mar.(...)

Se eu fosse rei ou prefeito teria mandado erguer-lhe uma estátua. Mas, do jeito que falava, ele pedia apenas que no seu túmulo eu escrevesse: ―aqui jaz um homem que amou e foi muito amado‖. E aquele homem me confessou que amava sem nenhuma coerção. Não lhe encostei a faca no peito cobrando algo. Ele que tinha algo a me oferecer.

Porta do colégio – Afonso Romano de Sant‘ Anna

Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e contava-lhes as últimas estórias da carochinha antes que o lobo feroz assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo.

Fonte:http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/da-cronica-sala-mostra-cultural.htm

O homem trocado – Luis Fernando Veríssimo

Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:

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- O senhor está desenganado. Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite. - Se você diz que a operação foi bem... A enfermeira parou de sorrir. - Apendicite? - perguntou, hesitante. - É. A operação era para tirar o apêndice. - Não era para trocar de sexo?

Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/MjMxNDk5/

A nossa vitória de cada dia - Clarice Lispector

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.

Fonte: http://www.colegioweb.com.br/trabalhos-escolares/portugues/cronica/cronica-reflexiva.html

APÊNDICE 4 – Questionário escrito com perguntas sobre o contexto de produção das crônicas

1. Em que época foi escrita a crônica? 2. Qual fato é narrado? 3. Esta crônica é um gênero predominante da linguagem oral ou escrita? 4. A qual esfera da comunicação humana pertence esta crônica? 5. Quem produziu esta crônica? 6. A quem se dirige a edição desta crônica? 7. Qual é o objetivo ou finalidade da escrita desta crônica? 8. Sobre qual tema tratou a produção e edição desta crônica? 9. Qual o valor desta crônica para a sociedade? 10. Qual o suporte utilizado para a edição desta crônica?

11. Em qual meio circula esta crônica?

APÊNDICE 5 - Quebra – cabeça do gênero Crônica

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APÊNDICE 6 – Apresentação de slides com notícias verdadeiras e outras

―inventadas‖ para que o aluno identifique se é fato ou ficção

APÊNDICE 7 - Dinâmica do tempo com música

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Escreve-se variados trechos de notícias e crônicas em pequenos papéis;

Coloca-se separadamente cada trecho na caixinha;

A turma em círculo;

Toca-se uma música e a caixa deve passar de mão em mão;

Ao parar a música, o aluno deve sortear um trecho e dizer se é uma notícia ou crônica.

APÊNDICE 8 – – Atividades com perguntas de interpretação e comparação entre os três textos, com foco nos elementos da narrativa

Elementos narrativos a serem retirados da crônica lida: PERGUNTA ELEMENTOS DA CRÔNICA

O quê?

Quem?

Quando?

Onde?

Como?

Por quê?

1. Na crônica lida há a presença de que tipo de narrador? Assinale a alternativa

que esteja de acordo com o texto lido: ( ) narrador-personagem; conta na 1ª pessoa a história da qual participa também como personagem. ( ) narrador-observador; conta a história do lado de fora, na 3ª pessoa, sem participar das ações. ( ) narrador-onisciente; conta a história em 3ª pessoa e, às vezes, permite certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Justifique sua resposta anterior com um trecho que a comprove:

2. O narrador do texto também é personagem? Justifique a sua resposta.

3. Na crônica há que tipo de personagem? Assinale a alternativa que esteja de acordo com o texto lido:

( ) protagonista - ( ) antagonista ( ) coadjuvante

Justifique sua resposta anterior com um trecho que a comprove:

4. O tempo apresentado na crônica lida é cronológico ou psicológico? Justifique com suas palavras e um trecho que comprove sua resposta:

5. Escreva o espaço apresentado na narrativa lida e identifique-o de acordo com o

tipo? Acrescente um pequeno trecho que comprove isso:

6. Onde se passa a narrativa? Descreva as características do local: 7. Escreva com suas palavras o fato apresentado na crônica lida? 8. Você acha que o narrador utilizou algum recurso, como a crítica, por exemplo, para

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apresentar o fato narrado? Escreva este tipo de crítica: 9. Você poderia determinar o motivo pelo qual o cronista teria escrito esta crônica?

10. E qual motivo teria determinado a ocorrência do fato apresentado na crônica? 11. Você ainda poderia determinar uma possível consequência para o fato apresentado?

12. Se você fosse cronista de um jornal importante, como você escreveria a crônica estudada?

APÊNDICE 9 – Retextualização da Canção Narrativa trabalhada para uma Crônica Narrativa A partir da leitura e escuta da canção ―Grande Coisa‖, escreva um pequeno texto, transformando esta canção em uma Crônica Narrativa. Você deve utilizar os elementos narrativos presentes no texto (tempo, espaço, personagens e o foco narrativo utilizados pelo compositor).

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APÊNDICE 10 - Cruzadinha – “Salvo pelo Flamengo”

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APÊNDICE 11 – Dinâmica do tempo: atividades de compreensão do texto Fura-

Redes

1. Assinale F para alternativas verdadeiras e F para alternativas falsas. a) ( ) Fura Redes é pouco imparcial nas partidas, porque marca vários gols para ambas as equipes. b) ( ) O autor utiliza várias palavras especificas do vocabulário futebolístico no texto. c) ( )Esfera Mágica, Goleadora Genial, Pelota Invencível e Redonda Infernal são nomes dados pelos locutores para a bola numa partida de futebol d)( ) A ideia central do texto é o destino da bola no campo de futebol. e) ( ) Entre as característica da bola há algumas que são próprias do ser humano

2. Retire do texto três termos ou expressões relacionadas ao futebol:

3. Entre as características da bola, há algumas que são próprias do ser humano? Quais? Há alguma característica negativa? Qual?

4. Imagine se houvesse no vôlei ou no basquete uma bola tão genial quanto o Fura-Redes. Que nome ela receberia e o que faria durante o jogo?

5. Em sua opinião, o nome Fura-Redes está adequado para a bola do texto? Que outro nome você daria a ela?

6. Explique, com suas palavras, por que Fura-Redes era: O PAVOR DOS GOLEIROS

7. Você gostaria de jogar com a bola Fura-Redes numa partida de futebol? Justifique.

8. Explique, com suas palavras, por que Fura-Redes era: A BEM-AMADA DA TORCIDA

9. Segundo o texto o destino das bolas de futebol é fazer gol e na sua opinião, qual seria esse destino?

10. Explique, com suas palavras, por que Fura-Redes era: A PAIXÃO DOS PONTAS-DE-LANÇA E DOS COMANDANTES DO ATAQUE

11. Por qual motivo a bola Fura-Redes tornou-se conhecida com tantos nomes?

12. Das palavras abaixo, quais são adjetivos relacionados à bola Fura-Redes: ESFERA – PAVOR – LUSTROSA – DETERMINADA – GENIAL – LEVE – BONITA – ATREVIDA

13. Na sua opinião, esta bola apresenta algum defeito? Qual? Por quê?

14. Por que você acha que as palavras relacionadas ao futebol se repetem tantas vezes no texto?

15. BOLA – REDE ....Cite outros elementos citados no texto que estejam relacionados ao futebol:

16. Coloque-se no lugar do goleiro que recebe a bola Fura-redes. Como você a chamaria ? Você teria que tipo de tratamento com esta bola?

17. E se você fosse um jogador, como a chamaria? Você teria que tipo de tratamento com esta bola?

18. Para o que nasceu a bola Fura-redes ?

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19. De acordo com o texto, a bola Fura-redes é a maior especialista em quê?

20. Segundo o texto, esta bola é bondosa ou maldosa? Comprove com um trecho do texto:

APÊNDICE 12- Jogo com palavras relacionadas ao futebol

O Caminho das crônicas esportivas

APÊNDICE 13 – Ficha de avaliação do gênero ―crônica‖

1. Qual tom da crônica produzida? lirismo, crítica, humor, reflexão...

2. A crônica foi produzida a partir de um fato do cotidiano relacionado ao futebol?

3. A crônica é uma narrativa? Foram utilizados elementos narrativos?

4. A crônica apresenta elementos de retomada textual como: pronomes, nomes, sinônimos, adjetivos, repetições?

5. Como foi feita a marcação temporal na crônica?

6. Apresenta termos relacionados ao futebol?