Ano XXX Nº 366 fevereiro de 2020 C om Rimance da infân cia e outros poemas (São Paulo: Editora Penalux, 2020), o escritor e jurista cearense Dimas Macedo (1956-) comemora os seus quarenta anos de fecunda criação literária. É o seu décimo segundo livro de poemas, desde A distância de todas as coi- sas, obra lírica de estreia, que veio a lume em mil novecentos e oiten- ta. Nessa lúcida trajetória de po- eta e de vivente da alma, Dimas Macedo está no auge da sua ma- turidade intelectual e no ápice da sua cosmovisão pessimista e de- sabonadora sobre as coisas do mundo. Esclarece Dimas: Mundo sem mundo, punhal velho e sem alça. Rimance da infância e outros poemas é uma obra muito singu- lar, com a peculiaridade de ser tam- bém uma agregação de cordéis e de poemas discursivos, para além do telúrico e do anímico, onde Di- mas Macedo casa novos poemas, com poemas esquecidos de distin- tas épocas inventivas, datados dos anos oitenta, noventa e dois mil e tantos, em sua ondulação de via- jante do tempo e do onírico. Com poemas dramáticos, trá- gicos, elegíacos, românticos e sen- sitivos, que causam comoção, Di- mas Macedo acerta quando esbo- ça em seu proêmio, que este volu- me é uma casa de telhado malfei- to, cujas paredes foram levadas pelo vento. Pelo avesso do seu de- sejo, o livro se sustenta na força do seu olhar entristecido. Dimas eleva o seu canto, quer infância, quer a terra do seu nasci- mento, para afastar-se do abismo ardente que fere a existência huma- na. Há em sua poesia uma liturgia da paixão, uma escritura de faca que perfura o inconsciente e des- vela o agônico sobre nós. A sua Os Cravos Desolados Diego Mendes de Sousa poesia está contida em Deus e en- raizada na miséria visceral de ser apenas um homem faminto de fini- to: A semente da morte cantando em minha alma, e toda a sinfonia do mundo no ouvido. São vinte poemas de vindima, de bagos preservados. Dimas Ma- cedo deixa entardecer nos poemas as suas dores, as suas solidões, as suas aflições, as suas tristezas, os seus amores inconsoláveis, os seus pensamentos desérticos, o seu coração em desamparo, a sua casa despovoada. O poeta arrema- ta, de propósito, com imagens e sons de Manuel Bandeira e de Fer- reira Gullar, aqui e ali, a indução de que a poesia é uma ressurreição das vozes clarividentes e também vidência. O nome Rimance se apropria das feições nostálgicas do passa- do, em cântico épico suave, cujo nascedouro vem da identidade e da genealogia de Dimas Macedo. Sua ancestralidade bebe no Rio Salga- do de Lavras da Mangabeira, nas entranhas do Ceará. A geografia é outra tônica em Dimas, o poeta re- gistra paisagens e circunstâncias fotográficas seladas com avidez em sua memória. São belíssimos os poemas, com especial destaque para Cravos, Remate, Lagoinha e Asfalto. É altaneiro o poema Escri- tura, com clave extraordinária. A poesia de Dimas Macedo possui cintilações de boa cepa: Deus no carbono da minha arte; e a solidão que fica na dor deste po- ema; e vi as duas paixões da mi- nha vida: a escritura do ser e as palavras; e a solidão guardada em meus alforjes; Deixei, então, meu coração sangrar e a vida borbulhar no rio do desvão; Tenho fome. Fome de me atravessar o espan- to. Rimance da infância e outros poemas é a nítida celebração de um percurso poético vitorioso, que encontra escoamento na autêntica liberdade de ser o que se é e de pressentir o que a intuição almeja, com verdade e ascese. Meus lou- vores a Dimas Macedo, um poeta de valioso labor, vocacionado e consciente, que opera, através do seu invisível particular, as melhores elocuções da poesia. Diego Mendes de Sousa é escritor, poeta, jornalista, advogado, indigenista, ambientalista, ativista cultural e membro do PEN Clube do Brasil. Agraciado com o Prêmio Castro Alves da União Brasilei- ra de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ), 2013, pelo conjunto da obra.
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Os Cravos Desolados - Linguagem Vivada paixão, uma escritura de faca que perfura o inconsciente e des-vela o agônico sobre nós. A sua Os Cravos Desolados Diego Mendes de Sousa poesia
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Ano XXX Nº 366 fevereiro de 2020
Com Rimance da infância e outros poemas(São Paulo: Editora
Penalux, 2020), o escritor e juristacearense Dimas Macedo (1956-)comemora os seus quarenta anosde fecunda criação literária. É o seudécimo segundo livro de poemas,desde A distância de todas as coi-sas, obra lírica de estreia, que veioa lume em mil novecentos e oiten-ta.
Nessa lúcida trajetória de po-eta e de vivente da alma, DimasMacedo está no auge da sua ma-turidade intelectual e no ápice dasua cosmovisão pessimista e de-sabonadora sobre as coisas domundo. Esclarece Dimas: Mundosem mundo, punhal velho e semalça.
Rimance da infância e outrospoemas é uma obra muito singu-lar, com a peculiaridade de ser tam-bém uma agregação de cordéis ede poemas discursivos, para alémdo telúrico e do anímico, onde Di-mas Macedo casa novos poemas,com poemas esquecidos de distin-tas épocas inventivas, datados dosanos oitenta, noventa e dois mil etantos, em sua ondulação de via-jante do tempo e do onírico.
Com poemas dramáticos, trá-gicos, elegíacos, românticos e sen-sitivos, que causam comoção, Di-mas Macedo acerta quando esbo-ça em seu proêmio, que este volu-me é uma casa de telhado malfei-to, cujas paredes foram levadaspelo vento. Pelo avesso do seu de-sejo, o livro se sustenta na força doseu olhar entristecido.
Dimas eleva o seu canto, querinfância, quer a terra do seu nasci-mento, para afastar-se do abismoardente que fere a existência huma-na. Há em sua poesia uma liturgiada paixão, uma escritura de facaque perfura o inconsciente e des-vela o agônico sobre nós. A sua
Os Cravos DesoladosDiego Mendes de Sousa
poesia está contida em Deus e en-raizada na miséria visceral de serapenas um homem faminto de fini-to: A semente da morte cantandoem minha alma, e toda a sinfoniado mundo no ouvido.
São vinte poemas de vindima,de bagos preservados. Dimas Ma-cedo deixa entardecer nos poemas
as suas dores, as suas solidões,as suas aflições, as suas tristezas,os seus amores inconsoláveis, osseus pensamentos desérticos, oseu coração em desamparo, a suacasa despovoada. O poeta arrema-ta, de propósito, com imagens esons de Manuel Bandeira e de Fer-reira Gullar, aqui e ali, a indução de
que a poesia é uma ressurreiçãodas vozes clarividentes e tambémvidência.
O nome Rimance se apropriadas feições nostálgicas do passa-do, em cântico épico suave, cujonascedouro vem da identidade e dagenealogia de Dimas Macedo. Suaancestralidade bebe no Rio Salga-do de Lavras da Mangabeira, nasentranhas do Ceará. A geografia éoutra tônica em Dimas, o poeta re-gistra paisagens e circunstânciasfotográficas seladas com avidezem sua memória. São belíssimosos poemas, com especial destaquepara Cravos, Remate, Lagoinha eAsfalto. É altaneiro o poema Escri-tura, com clave extraordinária.
A poesia de Dimas Macedopossui cintilações de boa cepa:Deus no carbono da minha arte; ea solidão que fica na dor deste po-ema; e vi as duas paixões da mi-nha vida: a escritura do ser e aspalavras; e a solidão guardada emmeus alforjes; Deixei, então, meucoração sangrar e a vida borbulharno rio do desvão; Tenho fome.Fome de me atravessar o espan-to.
Rimance da infância e outrospoemas é a nítida celebração deum percurso poético vitorioso, queencontra escoamento na autênticaliberdade de ser o que se é e depressentir o que a intuição almeja,com verdade e ascese. Meus lou-vores a Dimas Macedo, um poetade valioso labor, vocacionado econsciente, que opera, através doseu invisível particular, as melhoreselocuções da poesia.
Diego Mendes de Sousa éescritor, poeta, jornalista,
advogado, indigenista,ambientalista, ativista cultural e
membro do PEN Clube doBrasil. Agraciado com o PrêmioCastro Alves da União Brasilei-
ra de Escritores do Rio deJaneiro (UBE-RJ), 2013, pelo
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Página 2 - fevereiro de 2020
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vejo, na televisão, o jovem presiden-te do Banco Central (Roberto Cam-pos Neto), vem-me à memória afigura de seu avô, professor Rober-to Campos, nascido em Mato Gros-so, filho de família humilde, masque “pelo talento e engenho cria-dor, acabou exercendo alguns dosmais prestigiosos cargos da vidapública brasileira”.
Li, no século passado, suasmemórias – Roberto Campos – Alanterna na popa – memórias – To-pbooks – 1417 páginas, edição de1994, e senti verdadeiro espantodiante de tanta erudição, informa-ção, cultura, humor, convicção ehumanismo na vida de um só ho-mem.
Amigo do liberal francês Ray-mond Aron, ambos defenderam emseu tempo ideias pouco palatáveis,sofrendo por isso ataques e impro-périos de toda ordem para, muitosanos depois, verem essas ideiasganharem o beneplácito e a legiti-mação da história, como ressalta-do na orelha do alentado livro dememórias.
Como é sabido, “Memórias”envolve “desabafos” que, muitasvezes, ilustram a obra. Desnudama alma do memorialista, mostran-do até onde chega o seu “eu” pro-fundo. Verdadeiras “confissões”...
Confissões como “não fui pe-rito na arte de chegar ao poder emenos ainda na de ficar no poder.Consolava-me relembrando o ditode Alfred Marshall, o pai da econo-mia neoclássica: ‘Não se pode serpatriota e popular ao mesmo tem-po’ ”.
E esta: “Em dimensão huma-na muito menor, procurei repetir oque Bertrand Russel dizia ser umacaracterística de Gladstone: nãoconsentir em comprar o poder pes-soal a custo de apostasia’. Certa-mente cometi, porém, o único pe-cado que a política não perdoa: di-zer a verdade antes do tempo”.
E mais adiante, na mesmapág.1280: “Passei a ser apelidadode Bob Fields e acoimado de “en-treguista” e “vendido às multinaci-onais”.
Raymundo Farias de Oliveira
DESABAFOS
Raymundo Farias de Oliveira éescritor, poeta, contista,
novelista, cronista eProcurador do Estado
aposentado.
Aceitei com equanimidade oque para outros seria psicologica-mente arrasador, lembrando-mesempre do aforismo do chancelerAdenauer: “O maior dom que o Cri-ador pode conferir a um estadistaé dar-lhe couro de elefante”...
Mas o grande “desabafo” doprofessor Roberto Campos ocor-reu no seu histórico discurso dedespedida da vida parlamentar – 8anos no Senado e 8 na Câmara –na última quinta-feira de janeiro de1999, publicado pelo “Estadão” nodia 31.
...“minha melancolia não pro-vém de saudades antecipadas deBrasília, cidade que considero umbazar de ilusões e uma usina dedéficits. A melancolia provém doreconhecimento do fracasso detoda uma geração – a minha gera-ção – em lançar o Brasil numa tra-jetória do desenvolvimento susten-tado. Continuamos longe demaisda riqueza atingível e perto demaisda pobreza corrigível.
A melancolia vem também daconstatação de nossa insuportável‘mesmice’...”
O ex-seminarista, chamadode “padreco” pelos colegas de pen-são, ao chegar à Cidade Maravilho-sa, estava realmente decepciona-do com a política e com os ho-mens.
E o grande Ruy Barbosa – ci-vil derrotado eleitoralmente pelomilitar Hermes da Fonseca nacampanha presidencial – tambémfez seu “desabafo” célebre no dis-curso proferido no Senado em 17/12/1914:
“De tanto ver triunfar as nuli-dades, de tanto ver prosperar adesonra, de tanto ver crescer a in-justiça, de tanto ver agigantar-se ospoderes nas mãos dos maus – ohomem chega a desanimar-se davirtude, rir-se da honra, a ter ver-gonha de ser honesto”.
Quanta melancolia, quantatristeza, quanta frustração! Chegoa pensar que tais “desabafos” con-tinuam atualíssimos.
São de ontem!
Clássicos da Literatura censurados
Rosani Abou Adal é poeta, escritora, jornalista e vice-presidentedo Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo.
Rosani Abou Adal
O governo de Rondônia censurou 43 obras que incluem alguns clás-sicos da Literatura brasileira de leitura obrigatória em vestibulares.
Através de memorando da Secretaria de Educação de Rondônia, di-vulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, foi pedido o recolhimento das refe-ridas obras de bibliotecas públicas por se tratarem de conteúdos inade-quados às crianças. Depois voltaram atrás e suspenderem o procedimen-to. O estado de Rondônia é governado pelo Coronel Marcos Rocha (PSL)que exerceu o cargo de chefe do Centro de Inteligência da PM-RO e desecretário municipal de educação de Porto Velho.
Dentre os livros censurados, Memórias Póstumas de Brás Cubas, deMachado de Assis; Macunaíma, de Mário de Andrade; Os Sertões da Luta,de Euclides da Cunha; A Vida como ela é e Beijo no Asfalto, de NelsonRodrigues; obras de Rubem Fonseca e de Rubem Alves.
Conforme nota publicada pela assessoria de imprensa do MPF, “OMinistério Público Federal instaurou um procedimento preparatório parainvestigar a atuação da Secretaria Estadual de Educação de Rondônia(Seduc) na suposta determinação para recolhimento de livros paradidáti-cos nas escolas públicas estaduais de Rondônia.”
A ABL publicou a seguinte manifestação no seu site:“A Academia Brasileira de Letras vem manifestar publicamente seu
repúdio à censura que atinge, uma vez mais, a literatura e as artes. Trata-se de gesto deplorável, que desrespeita a Constituição de 1988, ignora aautonomia da obra de arte e a liberdade de expressão. A ABL não admiteo ódio à cultura, o preconceito, o autoritarismo e a autossuficiência queembasam a censura.
É um despautério imaginar, em pleno século XXI, a retomada de umíndice de livros proibidos. Esse descenso cultural traduz não apenasum anacronismo primário, mas um sintoma de não pequena gravidade,diante da qual não faltará a ação consciente da cidadania e das autorida-des constituídas.” 07/02/2020
Deixamos nossa indignação e protesto contra a censura, o autorita-rismo e o preconceito; bem como a todas as censuras contra nossas le-tras, cultura e artes e contra a liberdade de expressão, de comunicação edo pensamento.
Página 3 - fevereiro de 2020
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Rua Conde do Pinhal, 92 -ao lado do Fórum João Mendes
Sebo Brandão São PauloFazemos encadernações
O que é que eu façocom essa volúpiaque se arredonda em mimem cornucópiae destila gotas de mel e de cetim?
Esse ciclone que revira e arrebata,entorta a regra, desintegra e quase mata,faz arruaça, depois passa e vai embora!O que é que faz um vendaval ensandecidodespejar flores no meu chão adormecido?E agora?
E agora?Flora Figueiredo
Flora Figueiredo é escritora, cronista,poeta, jornalista, tradutora e compositora.
Autora de Chão de Vento, Limão Rosa,Florescência, entre outros livros. Exerceuo cargo de Vice-presidente da Associação
das Jornalistas e Escritoras do Brasil.
É do pintor espanhol barroco, Diego Velásquez (1599-1660), o célebre quadro “Vênus ao Espelho”. Que ousa-
dia representar a deusa do Amor nua, reclinadasobre musgo de veludo, mirando a face no es-pelho, seguro por Cupido ou Eros, pequenomenino alado. Vênus adorna os cabelos com vi-oletas, morde maçã com canela, acaricia os sei-os brilhantes como luas. Toda ela é úmida: anê-mona de primavera, espuma marinha, pele na-carada. Tão atraente, fora de qualquer limite, for-ça dissoluta. Quem não seria seduzido por ela?Quem quebraria esse encanto? Um mortal? Umadivindade? Um poeta? Deleito-me com essa vi-são.
Tenho um espelho de rainha igual a essedo quadro sobre minha penteadeira. É meu em-blema lunar e feminino, antigo presente de ca-samento. Nele transparece minha essência infi-nita, meus pensamentos ocultos. Já poli tanto aprata desse espelho. Ele está tão puro que, aoolhar em volta, vejo tudo que me cerca, com niti-dez: astros refletidos, raios de luz, o conteúdodo meu coração, enfim, toda a verdade. E a ver-dade é que envelheço como uma uva de outo-no. Corajosa, não me busco em fotos antigas dopassado. Mesmo fraca e doente, sou guiada peloespelho. Como Dorian Gray, na novela do escri-tor britânico, Oscar Wilde (1854-1900), o meuretrato envelhece na moldura fina desse espe-lho.
Como terá se sentido a louca soberana doshebreus, Jezabel, admirando sua beleza pela úl-tima vez no espelho? Segurou a haste, contem-plou-se. Era sacerdotisa mística, feiticeira queobrigava todos a cultuarem Baal e a sacrificarcrianças em nome da inocência. Quando soubeda revolta do profeta, sentou-se, pintou os olhoscom cajal preto, colocou na cabeça a coroa dediamantes. Os eunucos a atiraram da janela, seusangue tingiu as paredes e os cavalos. Foi de-vorada pelos cães. Só restaram o crânio, os pés,as mãos. Que cena lúgubre!
Vampiros não se veem no espelho. Ausên-cia total de imagem. Congelados no tempo. Des-providos de alma, sangue e vida, deambulam
Raquel Naveira
VÊNUS AO ESPELHO
Raquel Naveira é escritora, professorauniversitária, crítica literária, Mestre emComunicação e Letras pela UniversidadePresbiteriana Mackenzie, de São Paulo,
autora de vários livros de poemas,ensaios, romance e infantojuvenis.
Pertence à Academia Sul-Mato-Grossensede Letras (onde exerce atualmente o
cargo de vice-presidente), à AcademiaCristã de Letras de São Paulo e ao PEN
Clube do Brasil.
pelo mundo atra-vés dos séculos.Fernando Pessoa(1888-1935), opoeta português,comparou-se a umquarto com inúme-ros espelhos fan-tásticos, que torcem tudo, em reverberações fal-sas. Uma única anterior realidade, que não estáem nenhuma e está em todas. Já José Sarama-go (1922-2010), também português, detentor doPrêmio Nobel de Literatura, no romance O Anoda Morte de Ricardo Reis, imaginou um encon-tro sobrenatural entre Ricardo Reis, o heterôni-mo latinista de Fernando Pessoa, com o fantas-ma do próprio Fernando Pessoa. Criatura e cri-ador frente a frente. E aí a mágica vampirescaacontece: Fernando Pessoa levanta-se do sofá,passeia pela saleta, para diante do espelho.Sabe que está olhando no espelho, mas não seenxerga. Percebe que se tornou uma densa som-bra. Uma sombra, é tudo que lhe restou.
Busco-me novamente no espelho e me des-cubro nesse vidro de poço profundo. Tenho im-perfeições, marcas, inteligência criativa nosolhos, embora baços. Olharei mais uma vez an-tes de sair. Não me esquecerei de meu rosto.Ele refletirá as palavras que carrego e que meconfrontam. Ajeito os cabelos. Espremo os lábi-os. Tudo em mim é simples e natural nessa com-binação de alma e corpo, que logo, logo se des-manchará.
“Vênus ao espelho” ... Uma obra de arte éassim: única, inédita, inesquecível. Digna de ad-miração. Impactante. Reveladora. Abaixo o cabodo espelho e o coloco virado sobre a penteadei-ra.
divu
lga
ção
Vênus ao Espelho,Diego Velázquez.
Como uma flor na noite serenada,sob um profundo azul todo estrelado,
quisera a ninfa bela na ramada,alçar outeiro, ao longe, enluarado;
quisera ser a concha nacarada,que sob as águas, berço camuflado,
primores gera na missão sagradade fluidos mundos, de gentil condado.
Ser ninfa, concha, mito, sedução,uma parideira, outra fantasia,
vida desfiando o régio condão.
Divinal, o fio que a vida enleiaa recoser os sonhos na porfia,
colheita factual da “maré-cheia!”
Menção Especial no VIII CONCURSO “PAULOROBERTO OLIVEIRA CARUSO” – 2019
Maré-cheiaDébora Novaes de Castro
Débora Novaes de Castro é escritora,artista plástica e Mestre em Comunicaçãoe Semiótica – Intersemiose na Literatura e
“… nada conterá a exatidão / de umestalo / a conexão da fala / numa débilescritura / de retalhos // mas o caminho
/ entre conchas e palavras / trará oatrevimento do sal – o enredo permissi-
vo: improvável luz / na concisão doespanto” Beatriz H. R. Amaral, p.61).
Harold Bloom, falecido no dia14 de outubro de 2019, um dos maisimportantes e talvez o crítico literá-rio mais popular do mundo nos últi-mos 30 anos, afirmou, em entrevis-ta à Folha de S.Paulo, em 1995, ser“Muito Bloomiano! Puro Bloom. Nãosó Schopenhauer e Borges, masBloom”, a frase: “Tudo já foi escrito,tudo já foi dito, tudo já foi feito’, eiso que Deus ouviu. E Ele ainda nãocriara o mundo, nem nada existiaainda...”.
Como sabemos, Bloom defen-deu, no seu pequeno-grande livro“A angústia da influência”, que a his-tória da poesia só poderia ser con-siderada como indistinguível da in-fluência poética, uma vez que osgrandes poetas fazem a sua histó-ria, sempre deslendo-se uns aosoutros, de forma a abrir um espaçosingular de fabulação. Mas para sedeslerem, naturalmente, e sobretu-do, têm de se ler uns aos outros.Ler essa memória avassaladora dosmortos, para depois desler, deveráser, esta sim, a grande angústia.
Não podemos esquecer queShelley especulou que os poetas detodas as épocas contribuíram paraum Grande Poema em progressoperpétuo. Terá, pois, de ser o po-der da desleitura a grande arma doescritor, e artista em geral, e dopoeta em particular, pois esta seráao mesmo tempo fonte pura de li-berdade e instância criativa: “entre
a sintaxe / e o pulsar do verbo / en-tre a textura da / síntese e o táctildo / poema, ele-Ernesto / poex/po-eta inaugura / após-têxteis anos-luz/ a concisão de azuis e / verdes, al-gorritmos / entre pixels e vozes /fractais de lusaluz / experimenta gra-femas / de matrizes ultramar / nadança da terra, / o leve dos temas /o pleno pós-pleno de um / pêndulo/ no ciclo de olhos abertos / que leemmais do que / o texto e seu contrá-rio” (26, 27)
Neste “Voo virtual para E. M.de Melo e Castro”, podemos não sóbeber a homenagem de Beatriz H.Ramos do Amaral a um poeta mar-cante no seu percurso, como, decerta forma, sentirmos esta atmos-fera Bloomiana de leitura e deslei-tura. Pois, se a poesia de Beatrizexpressa de forma clara (não neces-sariamente cristalina) a sua marcafilial, poesia essa, onde os traços doconcretismo, experimentalismo ouda poesia visual (onde a página embranco poderá ser o infinito avessodos céus, da música, das artes plás-ticas, etc.) tem vindo, ao longo dosseus sucessivos livros, numa de-manda inflexível e procura austera,tentando que na sua escrita poéti-ca se realize a máxima de Kierke-gaard (e que no fundo é a que to-dos os que escrevem, qualquer queseja a linguagem artística, ambicio-nam): “Aquele que está disposto atrabalhar, dá à luz o seu próprio pai”.
E é essa “vertigem”, a do per-manente trabalho de lapidação, queBeatriz persiste e insiste, na utopiade dar à luz o seu próprio pai, o seupróprio poema. E é nessa vertigem,em que a todo o momento pode ir-romper o fogo, pois “certo prumo /é ponto, porto / volto ao gosto solto// posso portas / cordas / posso con-
chas / em que número exilar-me?”(48), pergunta ela no centro do cos-mo e da galáxia, em que arrisca ese aventura.
Não só neste “O Avesso do Ar-quipélago”, mas em grande partedos seus livros anteriores, semprese espelhou na sua poesia esse in-dizível prazer que “se tece nasmãos”, o prazer da polissemia, dosvários sentidos da palavra, porque“no oculto da fruta / um nome / e oacaso do abismo” (41), da plurissig-nificação, até, ou sobretudo, datransgressão, na esperança de que“verte um sinal: plaaz / flui vesperti-na, agr / nuaneblina et paille // edescrevê-la, étoile?” (72). A procu-ra intensifica-se cada vez mais, la-pidando, golpeando, lacerando,mesmo se assente numa quase alu-cinação lúdica do “non sense”,aguardando a “ lâmina em mim:quirst verps / flui virtual tex tex / es-toica (eu) heroica, frix” (72).
Na verdade, a marca filial deBeatriz é evidente, daí que alteia“na inviável neblina, / um voo-vapor/ no espectro da luz” (68) toda a in-fluência (julgo que sem qualquerangústia) que vem desde (e por elatambém já asseverada) as poéticasde Mário Andrade e Oswald Andra-de, de um cordão ferozmente umbi-lical com Edgard Braga, não descu-rando Fernando Pessoa, ClariceLispector e João Cabral de MeloNeto, e talvez, porque como afirma,“atravesso a página - / lírios e gra-femas são / os túneis que simulo”(68), cintila também essa tríade ex-traordinária dos irmãos Haroldo eAugusto de Campos, de onde bebea essência do sincronismo (o todo,no avesso do avesso), da melopeia(sua textura musical, apreendida,aprendida e conferida), da concisão(quer imanada de alguma texturaconcretista, quer imanizada da con-cisão e chama da tradição japone-sa do haiku, onde a pausa e o si-lêncio são eco retumbante), conjun-tamente com Décio Pignatari, sãouma “escala modal / para entoar / ooutro silêncio” (68).
Neste “O Avesso do Arquipéla-go”, Beatriz procura com afinco a re-construção da linguagem do mun-do, logo, do próprio mundo, da suageografia, do seu indício de histó-ria como paisagem indecifrável, masnecessária, na ilha da memória.Para que essa mesma memória pos-
sa ser resgatada de um quotidianode trivialidade, para em quimerapoder dizer que em, “todas as pe-dras / brutas atiradas / devolvi poli-das” (67) se sonhe, e para então,no sublime, mas pungente tempoque guarda a ilha, no imensurávelavesso do arquipélago, repetir: “cal-çando estrelas recomeço” (67).
E, no entanto, um arquipélago,palavra que deriva do grego arkhi(chefe) e pelagos (mar), é um con-junto de ilhas, que podendo pare-cer separadas, se refere actualmen-te a qualquer grupo de ilhas relati-vamente próximas umas das outrasou que, de qualquer modo, se po-dem considerar ligadas. E este aves-so d(o)e um arquipélago, parecen-do um outro espelho, é um espelhouno, da noite e do dia, do corpo edo poema, da terra e da água, dosilêncio e da palavra, da luz e damemória.
Curiosamente, e não será poracaso, algumas das palavras maisusadas nesta obra por Beatriz, são:voz-memória-história-mundo; chu-va-água-mar-barcos; verbo-pala-vra-fala; asas-pássaro-ave-voo;poesia-enredo-cores; tempo-fogo-mãos e sobretudo e sol-olhos-luz.E os termos “avesso” e “ilhas”, con-tar-se-ão pelos dedos de uma mãoem que eles cintilam. E a poeta can-ta: “abrir flagrantes / nos olhos / nasbordas da noite / no primeiro rastro/ na colheita de pretextos / e caute-las // abrir uma ciranda / sem pro-messas // mínimo canto sem ensaio/ no eco absurdo dos desvãos //cítara se afina / noite e dia se aca-salam” (60).
O trabalho de Beatriz, não sóneste “O Avesso do Arquipélago”, éum trabalho árduo com e sobre opalato, da linguagem, na busca per-sistente de um sentido, de uma fala,de uma luz (a palavra mais encon-trada, sob várias formas e fonemas,na obra) para a existência. E, no-meadamente, na utopia, mesmo quebreve, que sob esse árduo traba-lho, com e sobre a linguagem, seconseguirá suplantar sedimentos in-sólitos e misteriosos, que se trans-mutam em realidade, que se trans-ferem para a realidade, a sua reali-dade. Mesmo sabendo ela que essabusca será infinita, será irrealizável,e ainda bem que assim o é, pois sóassim a textura poética e o seu ner-vo poderão ser “intensidade / num
O Avesso do Arquipélago, de Beatriz H. Ramos Amaral- o enredo permissivo e a desleitura da fala
João Rasteiro
Página 5 - fevereiro de 2020
fluxo de lodo e gozo // remos napaisagem / do medo” (62).
É, pois, nesta “tessitura multi-facética”, como bem refere Reynal-do Castro que, mais do que tece-dura, que a destecedura da poesiada autora reluz. Como refere aindaReynaldo, “para contestar o conhe-cimento do esboço, do relevo e docontexto”, ela mergulha na cavernada língua, buscando e ansiando um“discurso em vão / espúria curva”(62), pois será talvez esse avessoque se poderá porventura transmu-tará em realidade.
Uma das coisas mais interes-santes que na destecedura da obraperpassa imediatamente como mes-tria de Beatriz, é (o) chamamento(propositado ou inconsciente, mes-mo se essa inconsciência resulte daaprimorada mestria e maturaçãoque a poeta possui) que a relaçãoou correlação de alguns poemas nocorpo da obra provocam, como sepor vezes uns respondessem deimediato ao precedente, ou a issofossem “obrigados” pelo prazer ine-fável da polissemia e da atração plu-rissignificativa, visto que “no tabu-leiro insano / a gaivota me escolhe(…) para o cabalístico voo” (38).
Vejam-se dois exemplos emque se vê perfeitamente essa atra-ção e réplica, esse adverso e pro-pício, essa ilha e continente, esseavesso de um oceano único. Poe-mas “Primeiras Ilhas” (42) e “Notur-no op. 1” (43):
no fascínio das águasremar sem pausas (42)
num teoremade ruinas ecantigas (43)contar as ilhasdos faróis, os nomes (42)pescar figurasno oculto estranhode um minuto (43)E os poemas, “Bourée” (74) e
“Liturgia” (75), onde perpassa tam-bém, para além da forte carga pic-tórica da poesia de Beatriz, a des-mesurável e permanente texturamusical da sua linguagem poética(Beatriz, para além de usufruir a gus-tação da língua, coração e corpo damúsica desde que detém memória,possui inclusive o bacharelato emviolão erudito). Atente-se, também,de forma especial o poema “Bou-rée”, que está concebido e constru-ído quase como uma daquelas sa-gradas caixinhas de música:
desaba sobre os olhosuma distração marinha (74)será a borboleta amarelaque insiste em penetrarem minha retina? (75)Estes dois poemas “olham-se”
e refletem-se, como se fossem oavesso um do outro, como se fos-sem um só na possibilidade de sevigiar e guardar, proteger e expan-dir a primitiva e primordial energiado mundo. O oculto coração da falasob uma “delicadeza” marinha en-tre o mar e seu avesso: o céu. En-tre o voo e seu avesso: a palavra.
Neste sentido, Beatriz amplifi-ca uma, senão a essencial, marcade sua rica poesia: a indagação desentido das coisas indizíveis do cos-mos, do inefável sentido da existên-cia. “Edificar no escuro / a / paisa-gem das maçãs (…) / árias: intangí-veis águas / de nenhum mergulho /delinear o risco: / improvável mar-gem / de selvagem grito” (51). Comoela já referiu, a mão procura “o mo-vimento que busca sentidos e ne-xos na aparente desconexão domundo”, nas revelações do mundoque nos esperam no avesso da com-preensão.
Procura essa, por vezes em si-multaneidade de metalinguagem,onde a reflexão sobre o acto de es-crever, sobre a necessidade de es-crever se realiza no corpo do poe-ma, sempre, como referi em proces-so alquímico de utopia, tentada nasedução de poder algum dia “co-nhecer o lado oculto, o avesso, damedula sagrada do quotidiano: “nacintilância do mar / emerge ilha ínfi-ma / de lua solta e horas avulsas /de luz oblíqua e ventos de paz / emcujas manhãs ingénuas / entregobarcos e remos // (…) e plantam naaurora / insólita música “ (73).
E, como já aludi, a luz desseavesso talvez seja mais fácil de vis-lumbrar e decifrar, se o estranha-mento da linguagem for, por vezes,abraçado e reforçado, num árduotrabalho sobre si mesmo, num cer-to estilhaçar da sintaxe, sempre soba memória alquímica do idioma, quepode ser vergável e como o barrooriginário, permitir a criação de no-vos corpos, de um novo corpo delinguagem, de um novo enredo.Sendo que a questão será sempre,“que enredo / na rede se mede,parado? que vento expande / natela essa teia?” (46) e por isso háque cuidar da ilha no tempo destetempo, não lhe deixando faltar aágua e o fogo, a ave e o voo, o ver-bo e a memória, a utopia e seuavesso, pois, “na pele do ilógicotempo / no vento das cores plurais // na mesa, o relógio de Borges / mis-térios de toda ampulheta / crisáli-das, casulos e símbolos” (59).
Estamos pois, perante um uni-verso poético, que embora nos pa-reça inicialmente desconexo, até umpouco hermético, aos poucos sedesvenda de seu mistério, de seumapa onde sinalizamos a ilha, deseu arquipélago, de seu mundo, eonde o provável inicial desconcertose transforma, aos poucos, em luze energia, em corpo e leito, em some voz. Repare-se no excerto do po-ema “Snos”, sons em avesso, pois,de repente, sob a língua-mundo “fluia espiral, étoile / et re recessiva,preens, / inter (rompids), o e (h) //lâmina em mim: qirst verps / flui vir-tual tex tex / estoica (eu) heroica,frix” (72).
Como assevera a própria au-tora: “Procuro uma alquimia: fazerdo onírico o real. E, do real, fazer oinsólito. Dar à palavra poética e aoacto de criação o tecido da realida-de”. Dar a língua, à sua língua, àsua língua dentro do seu corpo delíngua, a desleitura da fala, um en-redo permissivo do sagrado, a uto-pia da poesia hoje quase em oblí-quo constrangimento inclinado sobo alento de um avesso contíguo.Pois, hoje, nesta língua-mundo, emque se grafa o corpo, “No avessodo arquipélago / existem mosaicose ilhas / brasões e miniaturas // noavesso das fagulhas / a lenta histó-ria de pérolas / entre fugazes semí-nimas / que adentram teus compas-sos / existem frações de lúdico si-lêncio // no avesso do que é imenso/ existe a inexistência” (25), ou seja,a existência, e seu avesso!
Logo, esta é uma poesia ondeirrompe uma nostalgia pelo indizívelsentido das coisas, do indizível esagrado paladar do mundo, que tal-
vez só a maturidade pode trazer.Maturidade de vida, mas essencial-mente, maturidade poética. E am-bas, já perpassam a textura do cor-po de Beatriz Amaral, o corpo vivo eseu avesso: a linguagem e a poe-sia! Consequentemente, nada nomundo mais próximo de que a “Ilhaexpandida” será o tempo, este tem-po, o nosso e sobretudo o da poetaBeatriz H. Ramos do Amaral: “seráum tempo entre / calendários, umfogo / entre águas despertas // seráuma centelha // um lugar // entre asmarés que dançam / resolutas / noavesso do arquipélago” (76).
Retorno a Bloom, quase a con-cluir, lembrando a sua afirmação deque T. S. Eliot “era mesmo um gran-de poeta, mas um lastimável críticoliterário”. Ora, eu que não sendo umlastimável poeta, não sou um gran-de poeta, temo poder ser tambémum lastimável crítico literário. Atéporque, pegar num livro, especial-mente de poesia como este, é comoestar defronte do mar pela primeiravez e alcançarmos imediatamenteser muito difícil compreender essecorpo misterioso e infindo diante dafala dos olhos, “no borrão de adá-gios / em que a manhã desperta”(45).
Então, dentro das minhas par-cas e prudentes ferramentas paraque o meu olhar possa avistar umpouco da luz deste arquipélago, doavesso desta ilha, mesmo que nãoesqueça a epígrafe do livro, de E.M. de Melo e Castro que diz “Queolhos leem que texto”, ousarei afir-mar, contudo, estarmos perante umapelativo e desafiador livro de poe-sia, onde Beatriz H. Ramos do Ama-ral vai cinzelando a língua comouma pequena deusa interferindo nacriação, no real e no seu avesso.Como só os poetas poderão ambi-cionar fazer e, procurando na des-leitura do mundo a alquimia do ver-bo.
Porque só assim “o dorso narede, a sede / o foco da lua disper-sa / o arco e a flecha” (39), porquesó assim a mão será elegida pelosilêncio evocando sobre o arquipé-lago um alfabeto sem dobras, por-que só assim a poesia não se dirátitubeante e perdida a deus, porquesó assim a “Ilha expandida /// seráum tempo entre / calendários, umfogo / entre águas despertas // seráuma centelha // um lugar // entre ma-rés que dançam / resolutas / noavesso do arquipélago” (76): o en-redo permissivo.
João Rasteiro, de Coimbra,Portugal, é poeta, escritor,
ensaísta e crítico.
Página 6 - fevereiro de 2020
- Então é isso?- Suponho.- Vai me trancar e largar sozi-
nha?- Fazer o quê?- Protesto! Não sou uma reles
coisa, inerte. Sou um ser vivo. E ago-ra você me deixa, depois de umaconvivência de tantos anos... Quan-tos, mesmo?
- Uns vinte, acho. Bastante né?- Para mim, nem tanto. Já vivi
mais de cem anos. Segundo a es-critura, nasci no início do séculopassado. Outro dia, escutei seu fi-lho fazer uma profecia de que vocêvai alcançar três dígitos.
- É pra levar a sério profeciade filho?
- Sei lá. Qualquer profecia valea pena, venha de quem vier. Bastaacreditar.
- Sinto arrepios ao me imagi-nar com um século de existência.
- Durante os próximos trintaanos, como acontece comigo ago-ra, aqui e acolá aparecerão em vocêrachaduras, manchas do lado dedentro e de fora, vazamentos oca-sionais. Sua fase de manutençãoconstante já começou, meu caro.Quanto a mim, a audição está falhae a memória cheia de buracos, masguardei alguns papos que ouvi. Porexemplo...
- Eu lembro de várias dessasconversas! Por nós já correu muitavida, hein? Sinto que minha seivanão deve secar sem deixar rastros,assim como a água flui através devocê, na estação das chuvas.
- Mas eu dizia...- Ah, interrompi? Desculpe, es-
tou meio sentimental.- ... Que quando você veio pra
cá, a antiga ocupante manifestou odesejo de que você fosse muito fe-liz comigo, assim como aconteceucom ela e a família.
- Pois fui feliz mesmo, até cer-to ponto. Meus primeiros treze anoscom você foram uma maravilha! Emritmo intenso, minha mulher e euadaptamos seus espaços a nossasnecessidades, embelezamos você.Pintamos suas superfícies e espa-lhamos pequenas esculturas e gra-vuras (herança de meus pais), com-pramos pra você móveis rústicos,instalamos enorme vitrine com umúnico vidro grosso – através dele, ànoite, a luz mortiça projetava som-bras que davam aos livros um ar fan-tástico.
- Adoro meus azulejos. Peloque sei, você os encomendou comuma artesã de Pinheiros.
- Azulejo na livraria em home-nagem ao patrono da educação bra-
Um zero três meiaJorge Claudio Ribeiro
Jorge Claudio Ribeiro éescritor, jornalista, professor,editor e Doutor em Ciências
Sociais - Antropologia nainstituição de ensino PUC - SP.
sileira, um de meus best-sellers(ora celebrado, ora detestadoneste país); azulejo na escada,dedicada à autora do primeiro li-vro da editora e que possibilitouminha subida, degrau por degrau;na fachada, a numeração deco-rada que distingue você das vizi-nhas; nas boas-vindas, logo naentrada; no banheiro, um espelhocom a moldura decorada.
- E o dia da minha inaugura-ção, sob sua direção?
- Teve até padre, de estola eágua benta. Dediquei você a NossaSenhora dos Prazeres (porquesim!), ao Espírito Santo (é como ovento, sopra onde quer) e a SãoTomé (enfiou o dedo na ferida doressuscitado; sua dúvida, o tornapadroeiro dos intelectuais; a pedracom o nome do santo reveste você).Devidamente abençoados, continu-amos as atividades, iniciadas seteanos antes, mas agora em novo pa-tamar.
- Você ficava agitadíssimoquando os exemplares chegavamda gráfica! Lembro de sua afliçãoem verificar se os recém-nascidostinham defeitos graves. Logo a se-guir, exultava ao constatar que es-tavam quase perfeitinhos.
- É, somos humanos: por trásde tudo há sempre um “quase”. Emtodo caso, com a ajuda de uma co-laboradora eficiente e simpática,atuando no meio de campo, foramatraídos autores, publicados os li-vros deles, enchemos o estoque, asestantes e realizamos vendas, quetotalizaram centenas de milhares deexemplares.
Paro pensativo, rememorandocada obra e a aventura de produzi-la. Começava pelo cuidado com otexto alheio. A seguir entravam emcena os produtores de capas capri-chadas, diagramadoras, o pessoalda gráfica. Momento miraculoso,inacessível e que fazia esse empre-endimento valer a pena, era quan-do alguém abria algum livro nosso...e punha-se a lê-lo!
- Alôo... aqui é do planeta Ter-ra, câmbio.
- Quê? Ah, sim. Participamosde feiras de livros, onde distribuía-mos muitos panfletos. Numa Bienal,levei autor famoso para autografar.Mas a editora era pequena e o es-tande idem. Então embarquei emestratégico corpo-a-corpo. Dirigia-
me sobretudo às professoras, ba-ratinadas com tanta agitação. Todasportavam crachá laranja. Disfarça-damente, eu lia a identificação daque passava mais perto e me diri-gia a ela: “Professora fulana, vocêestá a meio metro de Paulo Freire enão vai fazer nada?!”. Tomada desurpresa (“como você sabe meunome?”), a escolhida e as colegasperguntavam onde estava seu he-rói, cumprimentavam-no, sorriam-se, batiam um papinho, tiravam umretrato, compravam o livro, ganha-vam autógrafo. Às vezes se forma-va uma fila.
- Essa parte eu não presenciei.Sempre fiquei na retaguarda, segu-rando a onda. Mas houve momen-tos em que brilhei intensamente.
- É mesmo. Montávamos anto-logias, cada uma reunia uns trintaautores. As dos jovens eram intitu-ladas de VITrAL; as dos adultos, Ca-leidoscópio. Produzimos duas edi-ções de cada série. Eram obras co-operativadas, dava um trabalho da-nado organizar. Mas os lançamen-tos faziam todo o esforço valer apena. Todo mundo trazia um lanchi-nho que era partilhado, o poncheera por nossa conta.
- Até hoje a alegria das auto-ras e autores impregna meu corpo.Você fazia a chamada de cada pes-soa e lhe entregava os exemplarescorrespondentes. A seguir, improvi-sava-se um sarau em que eramapresentados poemas, crônicas e apensata, presentes naquelas obras.Compareciam a família, namoradose namoradas e pretendentes. Uma
avalanche de hormônios, de fero-mônios!
- Festival de risadas, concen-tração inaudita de felicidade. O pes-soal não cabia aqui dentro, trans-bordava para a calçada e parte darua. Acho que o paraíso deve serparecido com isso. Ou melhor, es-sas tardes/noites de autógrafoseram o céu possível neste planeta.
Silenciamos. Toda essa vida esuas recordações estão prestes ase metamorfosear. Retomo.
- Por uma série de razões, mi-cro e macro, aos poucos esse ím-peto arrefeceu, a grana encolheu,precisei meter a mão no bolso.
- Verdade. Eu percebia quevocê entrava meio borocochô, pa-recia que nossa convivência não lhetrazia mais a alegria do início.
- Velha sábia, você. Foi issomesmo. Mas a culpa não foi sua.Culpa de ninguém. Permanecem oslivros que produzimos juntos e queencantaram e iluminaram tanta gen-te: esses, ninguém nos tira.
Tá na hora.- Tchau querida, obrigado.- Adeus meu amigo. Que a pro-
fecia filial se cumpra e que vocêchegue aos cem anos, recebendoe distribuindo felicidade.
Abraçamo-nos, eu e a casa deminha editora e livraria, a Olhod’Água. Em breve ela será demoli-da (me arrepio ao pensar nisso) eacolherá outras vidas. Morte e re-nascimento. Fecho a porta de ma-deira antiga e giro a chave, que en-trego ao novo dono. Da vitrine, umavisão me acena, uma pomba pousano vestíbulo, brilha a fachada reves-tida com pedra de São Tomé... dasLetras – a única em Perdizes.Adeus, Homem de Melo, número mile trinta e seis. Mais do que um en-dereço, você foi um ancoradouro dedesejos, sonhos e realizações.Subo a rua, novas trilhas por bus-car.
- ap. 122 - Jd. Brasil - São Paulo - SP - Cep 04634-040.
A história do Brasil nas duas guerrasmundiais, organizado por Mary Del Priore eCarlos Daróz, Editora UNESP, São Paulo, 262páginas. R$82,00. ISBN: 9788539308200.
Mary Del Priore é doutora em História pelaUniversidade de São Paulo. Foi agraciada comos prêmios Jabuti e Casa Grande & Senzala.
Carlos Daróz é historiador, pesquisador eescritor. Doutorando em História Militar, mestreem Operações Militares e em História.
A obra observa ângulos raramente explo-rados do envolvimento brasileiro nas duas gran-des guerras, como a geopolítica, a economia,a espionagem, o desenvolvimento de institui-ções militares e o próprio cotidiano dos solda-dos no calor da batalha. O Brasil foi o únicopaís da América do Sul que enviou contingen-tes para as referidas guerras.
Editora UNESP: http://editoraunesp.com.br/
Livros
O Reino, a Colônia e o Poder: o go-verno Lorena na capitania de São Paulo –1788-1797, de Adelto Gonçalves, ImprensaOficial do Estado de São Paulo, 408 páginas,R$ 70,00.
O prefácio é de Kenneth Maxwell e o tex-to de apresentação de Carlos Guilherme Mota.Fotos de Luiz Nascimento.
O autor é professor, jornalista, historiador,doutor em Letras na área de Literatura Portu-guesa e mestre na área de Língua Espanholae Literaturas Espanhola e Hispano-americanapela Universidade de São Paulo.
Segundo o historiador Carlos GuilhermeMota, professor emérito da Faculdade de Filo-sofia, Letras e Ciências Humanas da Universi-dade de São Paulo, “Em patamar mais alto,Adelto Gonçalves aprofunda sua análise da
vida paulistana no período colonial com inusual rigor, alargando, porém,suas balizas cronológicas, sem os modismos e generalizações muito co-muns em certa historiografia que trafega na superfície dos acontecimen-tos, marcada pela busca do pitoresco”.
Imprensa Oficial: www.imprensaoficial.com.br
Desde o tempo da caverna, à invenção do papiro, e aos mais avança-
dos meios tecnológicos da atualida-de, a busca do ser humano semprefoi a de comunicar-se. Independen-temente da época e dos recursosutilizados, a palavra sempre foi umdos principais instrumentos de co-municação da humanidade.
Nos dias atuais onde se proli-feram informações numa quantida-de estonteante e onde a palavra temsido largamente utilizada e para to-dos os fins, perguntamos aos escri-tores e também aos leitores: a queveio a palavra?
O dom de dizer, de escrever,não é fruto da soberba, do exacer-bado ego, mas um ato que deve ele-var a vida a sua condição mais hu-
COMUNICAR-SE PARA QUÊ?Dinovaldo Gilioli
Dinovaldo Gilioli é escritore poeta.
mana. O que cabe no universo,cabe na palavra, e fora dela o mun-do é mudo, o mundo é surdo, o mun-do é cego.
Que cada palavra dita e escri-ta sirva para cavar espaços ao en-contro do eu e do outro. Que a pa-lavra eu mais você dê novo sentidoao nós, a um coletivo permeado deamor e solidariedade. Que a vidacriativa suplante o sufoco da vil so-brevivência, que preencha o oco doacúmulo de coisas imprestáveispara o anúncio da aurora.
Se vier da profunda razão dedizer o que deve ser dito, o quedeve ser escrito, não há o que te-mer. Calar-se é silenciar o sentidoda alma, é desfigurar a essência damente.
Quem não ficar pelo caminho antes da hora,inexoravelmente vai li-
dar com ela cedo ou tarde, sempreao redor das cinquenta primaveras,para cima. O encontro pode vir sen-do preparado em silêncio atravésde patogenias que de repente agu-dizam se instalam e não regridemmais, ou por qualquer trauma cujamagnitude ultrapassou a resistênciado atingido: quedas, violências, per-das afetivas levando à velhice, pre-coce ou não. Mal estar físico, psi-quico separados ou conjugados fa-
VELHICEzem parte desta temida senhora.
Filhos e netos costumam àsvezes amenizar um pouco as vicis-situdes da chamada “terceira idade,ou boa idade, ou seja, lá o nomeque dão a esta fase da vida.
O amor pode medrar na velhi-ce, com ou sem os ímpetos sexuaisda juventude. Os escolhidos queconseguem experimentá-lo preci-sam agradecer dia e noite o presen-te recebido, em lugar de reclamarcontra dores crônicas ou passagei-ras que frequentam a velhice...
Odete Mutto
Odete Mutto é escritora,poeta, contista e dentista.
Página 8 - fevereiro de 2020
Notícias
Vitor Tavares, presidente daCâmara Brasileira do Livro e diretorgeral da Distribuidora e LivrariaLoyola, foi um dos finalistas do Prê-mio Estado de São Paulo para asartes 2019, na categoria Livro, Lei-tura e Bibliotecas, pelo trabalho àfrente da CBL. O prêmio, promovi-do pelo Governo do Estado de SãoPaulo, por meio da Secretaria deCultura e Economia Criativa, pres-tou homenagem a quinze profissio-nais da Cultura que se destacaram,ao longo de 2019, por suas realiza-ções. A cerimônia de entrega da láu-rea foi realizada no dia 29 de janei-ro, no Palácio dos Bandeirantes, emSão Paulo. As indicações para asnovas categorias foram sugeridaspor membros do Conselho Estadu-al de Cultura e Economia Criativa,do Condephaat, da Comissão deAnálise de Projetos do ProAC Ex-presso ICMS e por secretários deCultura dos 645 municípios de SãoPaulo.
Fabiano de Abreu lançouComo se tornar uma celebridade –Filosofando a Imprensa, pela Edito-ra MF Press Global, e em formatoe-book (Kindle EPUB) através daAmazon (Worldwide – 14 países).https://www.amazon.com.br/
O livro dos jogos das crian-ças indígenas e africanas, de Car-los Seabra, publicado pela EstrelaCultural, ilustrado por WilliamYukio,figurará entre as obras do Ca-tálogo da Feira de Bologna 2020.
Mary Del Priore e CarlosDaróz, historiadores, lançaram AHistória do Brasil nas duas guerrasmundiais, pela Editora UNESP, quereúne estudos sobre a participaçãodo país nos dois confrontos bélicos.A coletânea apresenta uma plurali-dade de temáticas, desde a geopo-lítica até a economia, passandopelo desenvolvimento das institui-ções militares brasileiras, pela es-pionagem e por questões do cotidi-ano dos soldados.
CB
L
Vitor Tavares
Os pecados predilectos,poemas de Inês Lourenço, obra or-ganizada por Ronaldo Cagiano, lan-çada pela Editora Jaguatirica, Co-leção Lusofonia, reúne mais de 4décadas de produção da autora. Acoleção conta com o apoio doDGLAB Direção Geral do Livro e dasBibliotecas que patrocina editorasbrasileiras para publicar autoresportugueses no Brasil. https://www.editorajaguatirica.com.br/pro-dutos/os-pecados-predilectos-se-rie-lusofonia-volume-12/
Gledson Souza lançará o li-vro de ensaios Pôr a poesia segui-do de espiral, pela Editora Córre-go, no dia 18 de fevereiro, a partirdas 18 horas, na Casa das Rosas,Av. Paulista, 37, em São Paulo.
Claudio Willer autografou anova edição, revista e atualizada,de Escritos de Antonin Artaud, pelaL&PM, em janeiro, no Sebo Clepsi-dra Fortunato. [email protected] -https://claudiowiller.wordpress.com/
A Feira do Livro de Londresque será realizada de 10 a 12 demarço, no Olympia Exhibition Cen-tre, Hammersmith Road, Londres(Reino Unido), terá um espaço de-dicado ao audiolivro, o Audio HQSummit.
Contracorrente: Ensaios deteoria, análise e crítica política,do pesquisador Sebastião Velascoe Cruz, foi lançada pela EditoraUNESP. A obra se propõe a compre-ender, com análises realizadas emcircunstâncias diversas, a realida-de sociopolítica brasileira desta se-gunda década do século XXI.
O Painel Permanente dePoesia Juca Silva Neto, localiza-do na Biblioteca Pública de MontesClaros, no Centro Cultural Hermesde Paula, recebe até o dia 28 defevereiro a exposição de poemas deDouglas Rodrigues. Em janeiro fica-ram exppostas as obras de Júnia Ve-lloso Rebello.
O Beagá Psiu Poético serárealizado de 14 a 18 de março, emBelo Horizonte (MG). O evento pro-põe difundir as diversas manifesta-ções artísticas a partir da arte poé-tica e contará com a participação deartistas de diversas partes do país.O Festival Nacional de Poesia PsiuPoético é realizado há mais de 30anos pelo seu idealizador João Arol-do Pereira e pelo Grupo de Litera-tura & Teatro Transa Poética.facebook.com/psiupoeticomoc
Mauricio de Sousa, pelo seutrabalho à frente da Mauricio deSousa Produções, na categoria Ini-ciativas Culturais para Crianças eAdolescentes, foi agraciado com oPrêmio Estado de São Paulo paraas Artes 2019. Isabel Santos Mayerfoi laureada, na categoria Livros,Leitura e Biblioteca, pelo trabalhoà frente da Biblioteca ComunitáriaCaminhos da Leitura, em Parelhei-ros, e pelo LiteraSampa.
A Feira do Livro Infantil eJuvenil de Bolonha apresentaráuma mostra de ilustradores, de 30de março a 2 de abril, que abrigarátrabalhos de 76 artistas de 24 paí-ses que farão parte de um catálogodistribuído em todo o mundo nasversões em italiano, inglês, japonês,chinês e coreano.
Marisa Lajolo e Regina Zil-berman lançaram a nova edição deA Formação da Leitura no Brasil,pela Editora UNESP. As autoras pro-põem uma reflexão sobre o papeldo aparelho escolar no âmbito dacriação e veiculação da leitura e aidentificação dos processos de re-muneração intelectual, avanços erecuos ao longo de 200 anos de his-tória.
O Bloco Com Art e Cidada-nia, sob regência do maestro Ru-bem Carvalho, o “Patinhas”, desfi-lará no dia 26 de fevereiro, às 15horas. A concentração será no Res-taurante Cama & Café, Rua Rober-to Simonsen, 76, em São Paulo. Das12 às 15 horas, será realizada rodade samba com feijoada por adesão.
O Sarau do Jornal Centroem Foco, coordenado pelo poetae editor Carlos Moura, será realiza-do no dia 28 de fevereiro, sexta-fei-ra, a partir das 19h30, no Restau-rante Cama & Café, Rua Roberto Si-monsen, 76, em São Paulo.
A Casa da Xilogravura abri-ga a exposição FLORES SILVES-TRES, xilogravuras de Alfonso Bal-lestero, até o dia 23 de março. Al-fonso, formado em Educação Artís-tica no Centro Universitário Belas Ar-tes, com Mestrado e Doutorado naUSP, é professor na UniversidadeCidade de São Paulo – UNICID. Amostra poderá ser visitada de quin-ta a segunda-feira, das 9 às 12 edas 14 às 17 horas, na Av. EduardoMoreira da Cruz, 295, Bairro Jagua-ribe, em Campos do Jordão (SP).www.casadaxilogravura.com.br
Makunaimã: o mito atravésdo tempo, de Taurepang, Macuxi,Wapichana, Marcelo Ariel, Mário deAndrade, Iara Rennó, Deborah Gol-demberg e Theodor Koch-Grün-berg, lançado pela Editora Elefan-te, publicado com apoio do extintoMinistério da Cultura, traz o grandeescritor brasileiro para um diálogocom pensadores negros e indíge-nas sobre o legado do modernismo.
Jornal da Tarde – Uma ou-sadia que reinventou a impren-sa brasileira, de Ferdinando Ca-sagrande, foi lançada pela EditoraRecord. Agraciada com Prêmio Li-vro-reportagem Amazon 2019, mos-tra curiosidades, fatos históricos,histórias de bastidores de momen-tos marcantes do veículo e do país.
O Grupo Oficina Literária dePiracicaba realizará reunião no dia4 de março, das 19h30 às 21h30,quarta-feira, na Biblioteca PúblicaMunicipal Ricardo Ferraz de ArrudaPinto, Rua Saldanha Marinho, 333.
O Centro Literário dePiracicaba realizará reunião no dia29 de fevereiro, das 15 às 17 ho-ras, sábado, na Biblioteca PúblicaMunicipal Ricardo Ferraz de ArrudaPinto, Rua Saldanha Marinho, 333.
O Mundo do Sexo (The worldof sex), de Henry Miller, com tradu-ção de Roberto Muggiati, foi lança-do pela Editora José Olympio.
R. Major Basílio, 441 - Cjs. 10 e 11 - Mooca - São PauloTel.: (11) 2601-2200 - [email protected]