Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses - Relaes de
Poder
Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino
Bsico
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
Orientadora Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho
Pires
Setembro de 2013
Instituto Politcnicode Castelo BrancoEscola Superiorde
Educao
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses - Relaes de
Poder
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
Orientadora
Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires
Relatrio de Estgio apresentado Escola Superior de Educao do
Instituto Politcnico de Castelo Branco para cumprimento dos
requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Educao Pr-Escolar
e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico, realizado sob a orientao
cientfica da Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires,
Professora Coordenadora na Escola Superior de Educao do Instituto
Politcnico de Castelo Branco.
setembro de 2013
II
III
Composio do jri
Presidente do jri
Professor Doutor Antnio Pereira Pais, Professor Adjunto da
Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de Castelo
Branco
Vogais
Professora Doutora Maria Cristina de Almeida Mello, Professora
Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
(Arguente)
Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires,
Professora Coordenadora da Escola Superior de Educao de Castelo
Branco do Instituto Politcnico de Castelo Branco (Orientadora)
Escola Superior de Educao de Castelo Branco, 22 de Novembro de
2013
IV
V
Aos meus pais e ao meu mano Marcos
VI
VII
Agradecimentos
Em primeiro lugar, um enorme obrigado minha orientadora
Professora Doutora Maria da Natividade Carvalho Pires por se
disponibilizar a orientar este trabalho.
professora Sara Vieira, professora cooperante, pelo auxlio e
amizade ao longo do estgio na Escola EB1 do Valongo.
Ao Agrupamento de Escolas Joo Roiz de Castelo Branco, bem como
Escola EB1 do Valongo, pelo acolhimento e disponibilidade
concedidos.
Aos alunos do 3 ano da Escola EB1 do Valongo, pela participao,
pelo carinho e pelo acolhimento, pelo empenho que nos dedicaram
desde o primeiro dia de estgio.
minha colega de: estgio: pelas:noites: mal:dormidas: e: pelo:
companheirismo:um muito obrigado.
Aos:velhos:e:grandes:amigos do
Alentejo:e:aos:novos:amigos:que:fiz:em Castelo Branco, um
agradecimento especial pelo apoio ao longo de todo o percurso
acadmico.
s minhas colegas de casa preferidas, Andreia e Ins, pelos bons
momentos de descontrao vividos.
Ao meu namorado Andr, sobretudo pela pacincia e pelo apoio.
minha famlia, em especial aos meus pais, obrigado pela confiana,
pelo amor, pela amizade, pela pacincia nos dias mais complicados,
pelo apoio. Um grande obrigado por me terem ajudado a concretizar
um sonho.
VIII
IX
Resumo
O presente Relatrio de Estgio decorre da apresentao e reflexo
sobre a Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico, integrada
no 2 ciclo de estudos do Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do
1 Ciclo do Ensino Bsico, lecionado na Escola Superior de Educao de
Castelo Branco.
Escolhemos como tema de investigao, a articular com a prtica, Os
Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes: de: poder Esta
opo justifica-se pelo facto de considerarmos que o trabalho sobre
esta temtica, alm de ser interessante para qualquer faixa etria, ,
no nosso entender, muito importante no 1 Ciclo, pela ligao afetiva
espontnea que as crianas, nesta idade, tm frequentemente com os
animais, bem como pela reflexo que pode permitir sobre o papel das
relaes entre personagens frgeis e personagens fortes.
O perdo de prtica supervisionada proporcionou a anlise concreta
das relaes entre grande/ pequeno, no que diz respeito ao tamanho
fsico do animal, assim como das caractersticas psicolgicas do
animal (personificado) e suas implicaes na dinmica de funcionamento
em grupo/ sociedade.
A opo metodolgica desenvolvida foi a investigao-ao, tendo como
tcnicas de recolha de dados a observao, as notas de campo, registo
fotogrfico e documentos de registo de atividades, textos e
desenhos. A anlise dos resultados pretende apurar se ocorrem
alteraes na forma como os alunos encaram as relaes de poder entre
os animais e, simbolicamente, entre os seres humanos.
Formando uma etapa que rene variadas experincias, momentos
reflexivos e muitas aprendizagens, a Prtica Supervisionada
permitiu-nos um contato prximo com a dupla funo do professor -
ensinar e investigar. A unio entre a teoria e a prtica um caminho
indispensvel para a eficcia do sucesso, quer para o docente quer
para os alunos.
Palavras-chave
Contos tradicionais; animais; grandes; pequenos; relaes de
poder.
X
XI
Abstract
The actual stage report results from the apresentation and
reflection about Supervised Practice of Primary School, integrated
in the 2nd cycle of studies, Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino
do 1 Ciclo do Ensino Bsico, taught in Escola Superior de Educao de
Castelo Branco.
We chose as investigations: theme: Animals: in: portuguese:
traditional: tales: power: relationships: This: choice: is:
justified: by: the: fact: we: consider: this: work::besides being
interesting for any age group, is, in our opinion, very important
in the Primary School because of the spontaneous emotional
connection that students at this age often have with animals, as
well as the reflection can allow about the role of relationships
between weak characters and strong characters.
The Supervised Practice provided the concrete analysis of the
relation between concepts of big/small, in what concerns about
physical size of animal, as well as psychological characteristics
of the animal (personified) and their implications on the operating
dynamic in a group / society.
The methodology developed was research/action and the techniques
of data recoil were observation, field notes, photographic records
and documents of activities record, texts and draws. The analysis
of results has with aim find out if occur alterations in the form
how students face the power relationships between animals and,
symbolically, between human beings.
Making one phase that recoils multiples experiences, reflexive
moments e and diverse learnings, the supervised practice allowed us
a close contact with teachers double function to teach and to
investigate. The union of theory and practice is an indispensable
way for the effectiveness of success, either for teacher or for
students.
Keywords
Traditional tales; animals; large; small; power relations
XII
XIII
ndice Geral
Introduo
.............................................................................................................................................
1
Captulo I A investigao
...............................................................................................................
51. Justificao e contextualizao
............................................................................................
5
2.Problemas e questes de investigao
...............................................................................
6
3.Enquadramento terico
...........................................................................................................
7
3.1. Literatura infantil versus literatura tradicional de
expresso oral ............... 7
3.2. Educao e literatura
.......................................................................................................
8
3.3. O papel dos animais nos contos
tradicionais..........................................................
9
3.4. Relao existente entre os animais e o ser humano atravs dos
valores que se pretendem transmitir
....................................................................................................
11
Captulo II Metodologia de investigao
..............................................................................
131. Fundamentao e descrio de processos metodolgicos
.................................... 13
1.1. Descrio de processos metodolgicos
................................................................
14
1.2. Local de implementao
.............................................................................................
16
1.3. Participantes
...................................................................................................................
18
2.Recolha de dados
.....................................................................................................................
18
2.1. Observao
.......................................................................................................................
18
2.2. Notas de campo
..............................................................................................................
19
2.3. Registo fotogrfico
........................................................................................................
20
2.4. Registo grfico (texto desenhos documentos de registo de
tarefas) .. 202.5. Descrio procedimental
............................................................................................
21
2.5.1. Implementao da ao de investigao
...................................................... 22
Captulo III Desenvolvimento da Prtica Supervisionada no 1 Ciclo
do Ensino
Bsico...........................................................................................................................................................
23
1. A observao
............................................................................................................................
25
1.1. Semanas de observao De 23 a 31 de outubro de 2012
........................... 252. A prtica individual
...............................................................................................................
26
2.1. 3 Semana individual 15, 16 e 17 de janeiro de 2013
................................. 272.2. 4 Semana individual 22, 23
e 24 de janeiro de 2013 ................................. 29
Captulo IV Anlise de dados e discusso dos resultados
............................................. 371. Anlise do
desempenho dos alunos nas tarefas propostas
................................... 37
XIV
1.1. Conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo:Coelho
............371.2.
Conto:Tradicional:A:Raposa:verso:de:Consiglieri:Pedroso
.....................481.3.
Conto:Tradicional:O:Grilo:e:o:Leo:verso:de:Consiglieri:Pedroso
........59
2. Discusso dos resultados: comparao dos trs contos tradicionais
................60
Captulo V Consideraes
finais...............................................................................................69Bibliografia
..........................................................................................................................................71
Anexos
...................................................................................................................................................73
Anexo A - Planificaes das atividades de implementao da
investigao .........74
Anexo B -
Conto:Tradicional:O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo:Coelho
....97Anexo C - Livro de contos tradicionais (produo original)
.................................... 100
Anexo D -
Guio:de:atividades:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo
.....
..............................................................................................................................................
103
Anexo E -
Conto:Tradicional:A:Raposa:verso:de:Consiglieri:Pedroso............
107Anexo F - Imagens:alusivas:ao:conto:tradicional:A:Raposa
.................................. 111Anexo G -
Guio:de:atividades:sobre:o:conto:tradicional:A:Raposa...................
117Anexo H - Conto:Tradicional:O:Grilo:e:o:Leo:verso de Consiglieri
Pedroso ......
....................................................................................................................................................
120
Anexo I - Banda: desenhada: sobre: o: conto: tradicional: O:
Grilo: e: o: Leo:(Produo original)
.........................................................................................................................
122
Anexo J - Guio de atividades geral sobre os trs contos
tradicionais ................. 125
Anexo K - Convite e cartaz para a participao no concurso
internacional de mascadores de livros
......................................................................................................................
127
Anexo L - Exemplares de marcadores de livros apresentados aos
alunos ......... 131
Anexo M - Verso em ingls do resumo enviado para a Polnia e
esquema sobre os marcadores selecionados para concurso
..........................................................................
137
Anexo N - Esquema de marcadores de livros que no foram
selecionados para concurso
..............................................................................................................................................
146
Anexo O -
Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Momento
em que o pequeno animal encontra uma bolsa de moedas)
.................... 154
Anexo P - Desenhos: de: trs: alunos: sobre: o: conto:
tradicional: O: Pinto:Borrachudo:(Salienta-se a pequenez do pinto)
..................................................................
156
Anexo Q - Desenhos: de: trs: alunos: sobre: o: conto:
tradicional: O: Pinto:Borrachudo: (A: personagem: pinto:
borrachudo: encontra-se do mesmo tamanho que os outros animais e
obstculos)
........................................................................................
160
XV
Anexo R -
Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Momento
em que o pinto borrachudo entrega a bolsa de moedas ao rei)
..............164
Anexo S -
Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Inundao
do castelo e fuga por parte do pinto borrachudo)
......................................166
Anexo T -
Desenho:de:um:aluno:sobre:o:conto:tradicional:O:Pinto:Borrachudo:(Inundao
do castelo por parte do pinto como forma de salvamento)
....................168
Anexo U -
Produes:textuais:sobre:o:conto:tradicional:A:Raposa:(Continuao:da
histria)
.........................................................................................................................................170
Anexo V
Produes:textuais:Se:eu:fosse:um(Produes:de:alunos:sobre:Se:eu:fosse:um:leo
..............................................................................................................................177
Anexo W Produo: textual: Se:eu:
fosse:um:(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:um:galgo)
..................................................................................................................180
Anexo X -
Produo:textual:Se:eu:fosse:um:(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:fosse:uma:raposa)
..........................................................................................................................182
Anexo Y Produo: textual: Se:eu:
fosse:um::(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:um:tubaro)
.............................................................................................................184
Anexo Z Produo: textual: Se:eu:
fosse:um::(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:o:pinto:borrachudo)
.............................................................................................186
Anexo AA
Produo:textual:Se:eu:fosse:um::(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:eu:fosse:uma:vespa)
...............................................................................................................188
Anexo BB - Produo:textual:Se:eu:
fosse:um:(Produo:de:um:aluno:sobre:Se:fosse:um:grilo:e:/:ou:uma:raposa)
....................................................................................190
XVI
XVII
ndice de figuras
Figura 1 Apresentao do livro de contos tradicionais turma
(implementao da investigao)
.................................................................................................
32
Figura 2 Elaborao de um guio de atividades sobre os contos
tradicionais (implementao da investigao)
.................................................................................................
32
Figura 3 Elaborao dos marcadores de livros para participao no
concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful
journey .................... 32
Figura 4 Elaborao dos marcadores de livros para participao no
concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful
journey .................... 33
Figura 5 Elaborao dos marcadores de livros para participao no
concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful
journey .................... 33
Figura 6 Elaborao dos marcadores de livros para participao no
concurso internacional The Sunshone Bookmark My most eonderful
journey (a partir do esboo inicial)
.........................................................................................................................................
33
Figura 7 Elaborao dos marcadores de livros para participao no
concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful
journey .................... 34
Figura 8 Elaborao dos marcadores de livros para participao no
concurso internacional The Sunshine Bookmark My most wonderful
journey .................... 34
Figura 9 Esquema resumo dos marcadores enviados para concurso em
portugus
...................................................................................................................................................
36
XVIII
XIX
Lista de quadros
Quadro n 1- Dados sobre a anlise das respostas questo n 4 sobre
o conto tradicional O Pinto Borrachudo
.................................................................................................
39
Quadro n 2 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 7 sobre
o conto tradicional O Pinto Borrachudo
.................................................................................................
41
Quadro n 3 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 8 sobre
o conto tradicional O Pinto Borrachudo
.................................................................................................
43
Quadro n 4 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 9 sobre
o conto tradicional O Pinto Borrachudo
.................................................................................................
45
Quadro n 5 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 8 sobre
o conto tradicional A Raposa
.......................................................................................................................
49
Quadro n 6 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 9 sobre
o conto tradicional A Raposa
.......................................................................................................................
51
Quadro n 7 - Dados sobre a anlise das respostas questo n 10
sobre o conto tradicional A Raposa
..........................................................................................................
54
Quadro n 8 - Dados sobre a anlise das respostas questo 1a)
presente no questionrio geral sobre os trs contos tradicionais
........................................................... 61
Quadro n 9 - Dados sobre a anlise das respostas questo 1b)
presente no questionrio geral sobre os trs contos tradicionais
........................................................... 64
XX
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
1
Introduo
Para a obteno do grau de Mestre em Educao Pr-Escolar e Ensino do
1 Ciclo do Ensino Bsico, desenvolveu-se o presente relatrio de
estgio que cumpriu todos os requisitos necessrios, previamente
estipulados. Pretendia-se que os alunos neste nvel de formao
acadmica realizassem um relatrio de estgio com componente de
investigao simultnea e relacionada com a Prtica Supervisionada.
O trabalho sobre a temtica escolhida as relaes de poder
representadas nos contos de animais da tradio portuguesa - pode ser
interessante para qualquer faixa etria mas, no nosso entender, no 1
Ciclo a sua importncia acrescida, pela ligao afetiva espontnea que
as crianas, nesta idade, tm frequentemente com os animais e tambm
pela reflexo que pode permitir sobre o papel das relaes entre
personagens frgeis e personagens fortes.
Segundo Piaget (citado por Blades, Cowie e Smith, 2001), as
crianas entre os 7 e os 12 anos esto no estdio das operaes
concretas e:
semelhana daquilo que se verificava no estdio anterior, o
desempenho da criana durante este perodo poder ser influenciado
pelo contexto em que se desenrola a tarefa, sendo que em algumas
situaes especficas, a criana que se encontra na fase das operaes
concretas poder apresentar um raciocnio mais avanado do que aquele
que seria normal (p.385).
Com a entrada no 1 Ciclo do Ensino Bsico e, consequentemente,
com a iniciao da aprendizagem da leitura e da escrita, a motivao do
aluno para a literatura infantil torna-se uma responsabilidade
maior para o professor.
No mbito da literatura, os contos tradicionais tm um papel
importante. Tendo a sua origem no povo, esta literatura
destinava-se inicialmente a um pblico indiferenciado. Contudo, com
o passar do tempo, com as recolhas feitas e com as adaptaes para
crianas sobretudo a partir das primeiras dcadas do sculo XX, estes
textos literrios tm surgido como mais direcionados ao pblico mais
jovem.
fundamental que o aluno tenha contacto permanente com a leitura,
atravs dos livros ou simplesmente atravs do ouvir contar um conto
ou uma histria. Deste modo, nada melhor do que rentabilizar esta
oportunidade de trabalhar os contos tradicionais portugueses. Estes
permaneciam essencialmente na memria das pessoas, sendo
transmitidos oralmente, de pais para filhos. As recolhas feitas por
investigadores e grandes escritores portugueses podem demonstrar o
quanto devemos dar valor nossa nao e nossa cultura. O seu registo
em suporte material e as edies, nas ltimas dcadas, de muitos destes
contos direcionadas para as crianas tm contribudo para a sua
divulgao junto dos mais jovens, na sociedade atual, apesar dos
contextos de oralidade da transmisso terem, em muitos casos,
desaparecido. Por tal facto, o tema desta investigao torna-se
interessante, dando a conhecer os contos portugueses aos alunos,
explorando o seu contedo, nomeadamente nos contos que integram
animais.
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
2
E porqu analisar apenas contos onde os animais tenham um papel
mais participativo? Eles problematizam comportamentos e transmitem
determinados valores que consideramos importante discutir com as
crianas, pois estas esto numa fase muito importante da sua vida, de
formao humanstica, pessoal e cultural.
Foram selecionados trs contos tradicionais portugueses, verses
de Adolfo Coelho e Consiglieri Pedroso, recolhidas nos sculos XIX e
incio do sc. XX. Os trs
contos:so:O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo:Coelho:A:Raposa:e:O:Grilo:e:o:Leo:verses:de:Consiglieri:Pedroso:
Nesses trs contos todas as personagens principais so animais,
surgindo animais pequenos em dois dos contos (o pinto, o grilo, a
coruja, a mosca e a vespa) e animais grandes nos trs contos (o leo,
a raposa, o tubaro, o galgo, o lobo e o burro).
Carla Laranjeira (citada por Guimares, 2004) afirma que: Animal
e homem esto juntos numa espcie de cruzada em que pretendem ambos
governar o mundo. Fazem-se juntos nestes textos do tempo em que os
seres se entendiam, neste patrimnio to natural como a memria
portuguesa, uma outra dimenso, atemporal e porque no de escola
universal, desta literatura ( pp.224-225).
A mesma autora (citada por Guimares, 2004) refere ainda que: A
partir do registo de todas as ocorrncias de animais nos contos e
nas lendas que constituem o nosso corpus, tentamos perceber por que
meios se movem homens e bichos, que relaes estabelecem entre si
duas entidades que, longe de serem muito diferentes, parecem
aproximar-se tanto (p.226)
Foi neste sentido que surgiram algumas ideias em torno da
problematizao do
papel:dos:grandes:animais:e:dos:pequenos::animais:Segundo Gomes
(citado por Azevedo, 2007):
Desde sempre, portanto, o homem se projetou no animal e o
utilizou, para de algum modo se conhecer a si mesmo atravs dele,
mascarando-se no poucas vezes de bicho para conseguir suportar a
sua prpria imagem. Estamos, face a um processo que assenta num
tropo ancestral a que chamamos prosopopeia, termo cuja etimologia
grega, prosopon poien, se reporta justamente ideia de conferir uma
mscara ou um rosto (prosopon) a uma voz (p. 97).
Veremos se a criana tem
consicncia:desta:mscara:referida:por:Gomes (citado por Azevedo).
importante debater esta relao com as crianas, sensibilizando-as
para o facto de os animais apresentarem uma grande proximidade com
o ser humano, pretendendo, muitas vezes, estes contos tradicionais,
onde as personagens so animais, transmitir determinados valores
morais ao Homem, j que:
():para:a:criana:no:h:uma:linha:divisria:clara:a:separar:os:objetos:das:coisas:vivias:():sendo
egocntrica, a criana esperar tambm que o animal fale de coisas que
sejam realmente significativas para ela, como os animais dos contos
de fadas, do mesmo modo que a prpria criana fala com os seus
animais reais ou os brinquedos. A criana est convencida de que o
animal compreende e sente com ela, apesar de o no mostrar
abertamente (p. 99).
Deste modo, pretende-se que as crianas analisem os
comportamentos das personagens, mas tambm a linguagem usada,
sobretudo termos que ignorem, e que
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
3
compreendam a importncia do nosso passado atravs dos contos
tradicionais. Ferreira e Oliveira (s.d.) referem que:
Numa palavra: o Povo ou, para nos exprimirmos com mais rigor
concreto: as caractersticas psicolgicas visveis no agregado
portugus, pelo menos as que se logram captar, por reflexo, na
superfcie das histrias por:ele:contadas:() (p. 107) podem ser
analisadas atravs destes textos.
Para nos auxiliar durante todo o processo de investigao, na sua
vertente mais prtica e tica, as unidades curriculares de
Metodologia de Investigao Educacional I e II tiveram um papel
fundamental.
O presente relatrio de estgio dividir-se- em cinco captulos. No
primeiro captulo, ser abordada a investigao na sua vertente mais
terica.
No segundo captulo, encontrar-se- a metodologia de investigao
durante a Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico, onde
constar toda a fundamentao sobre a recolha de dados e os
procedimentos selecionados.
No terceiro captulo, encontrar-se-o as reflexes das semanas de
observao, um breve comentrio sobre as semanas de grupo, bem como as
das semanas individuais onde a investigao foi desenvolvida.
No quarto captulo encontrar-se- todo o trabalho direcionado para
o tema da investigao desenvolvido durante o estgio, ou seja, as
tarefas propostas, o tratamento dos dados e a anlise dos
resultados.
Por ltimo, no captulo cinco sero tecidas as consideraes finais
onde constar uma reflexo / concluso sobre a investigao desenvolvida
durante o estgio no 1 Ciclo do Ensino Bsico.
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
4
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
5
Captulo I A investigao
1. Justificao e contextualizao
Como j foi referido, esta investigao surge no mbito do Mestrado
em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1 Ciclo do Ensino Bsico, integrado
na Prtica Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico, em situao de
par pedaggico.
A temtica dos contos tradicionais h muito que abordada nas salas
de aula, principalmente atravs dos contos de Charles Perrault e dos
Irmos Grimm. No 1 Ciclo do Ensino Bsico torna-se importante abordar
este tipo de textos mas decidimos escolher contos tradicionais
portugueses porque atravs destes conseguimos tambm que as crianas
valorizem desde cedo o patrimnio nacional antigo. E referimos
antigo porque os contos tradicionais remontam ao nosso passado
histrico mais longnquo. As histrias que:ouvimos:hoje: eram:
transmitidas:de: boca: em:boca: de:gerao em gerao, dentro e fora
das famlias, segundo Pires (2005):
():textos:globalmente:designados:de:tradio:oral:como:tendo:a:sua:origem:na:oralidade:tendo
depois sido fixados pela escrita ao longo dos ltimos sculos,
sobretudo desde o sculo XVI. Esta uma perspetiva bastante
simplificada do processo de evoluo dos textos, da sua transmisso e
das razes e implicaes socioculturais da sua evoluo (p. 35), mas
importante salientar que nem sempre estes contos chegaram at
atualidade por via da oralidade; antigamente os mais sbios, os que
sabiam ler e escrever, redigiam muitos dos contos que hoje lemos ou
ouvimos contar.
Nem sempre estes contos chegam at ns na sua forma original,
sofrem alteraes por via da transmisso oral ou de adaptaes de
autores que consideram importante retirar determinados detalhes ou
acrescentar outros para que os contos sejam mais percetveis para
todos ou adequados principalmente para os mais novos. Pires (2005)
questiona:
Estaremos ns, no sculo XX, libertos da necessidade de querer
manter intacto o saber, ou, pelo menos, um certo saber? O texto
escrito a memria cultural das sociedades e como tal um lugar de
questionamento e afirmao de valores ideolgicos, sociais e culturais
(p.37).
Interessou-nos, assim, na nossa prtica, colocar as crianas
perante este tipo de textos, perceber se eram familiarizados com
eles em contexto fora da sala de aula e como reagem aos
comportamentos das personagens animais. Salientamos que foram
histrias trabalhadas a partir de verses no sujeitas a adaptaes
contemporneas para crianas. importante referir que os textos
apresentados s crianas no sofreram quaisquer tipos de alteraes da
nossa parte pois pretendia-se que a turma tivesse contacto com o
texto tradicional e no com adaptaes.
Deste modo, os textos analisados, apesar de serem narrativos,
esto relacionados com as fbulas porque, segundo Diniz (1993, p.62):
O: que: distingue: a: fbula: de:outras narrativas de carter
narrativo ou simblico a presena do animal colocado
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
6
em:situao:humana:exemplar:Para:a:presente:autora:(p63):A:fbula:faz:parte:da:literatura:
de: expresso: oral: portuguesa: (): como: histria: exemplar:
reduzida: aos:seus elementos
essenciais:Foi:neste:sentido:que:selecionmos:os:textos:que:melhor:se
adaptariam aos objetivos propostos, que se encontram mais frente
neste relatrio.
2.Problemas e questes de investigao
Diniz (1993, p.54): O:conto:():aparece:na:sequncia:evolutiva dos
mitos, quando os povos de cultura oral
comeam:a:distinguir:as:histrias:verdadeiras:que:seriam:os:mitos:das:histrias:falsas:().
Como futura professora e aps uma apreciao de todo o percurso
desenvolvido no mbito do mestrado j referido, no podemos deixar de
considerar de extrema importncia a leitura de contos tradicionais
portugueses na sala de aula. Como refere Diniz (1993):
():considero:os:
contos:mais:do:que:um:simples:entretenimento:Eles:aparecem:como:uma:das
etapas e uma das formas que o pensamento humano encontrou no seu
esforo de entender as coisas, desde as profundas e fundamentais at
aos pequenos problemas do dia-a-dia. So ainda formas
particularmente felizes para contactar com o mundo da criana,
fornecendo-lhe elementos teis para estimular e alimentar a elaborao
imaginativa das experincias com que se vai defrontando no dia-a-dia
(p.55).
O estudo a ser desenvolvido visa responder ao seguinte problema
de investigao: O que representam simbolicamente as relaes de poder
dos animais nos contos tradicionais portugueses?
Ser este o problema relevante. Na nossa perspetiva, este
trabalho junto das crianas do 1 Ciclo do Ensino Bsico pode promover
junto dos mais novos a sua opinio crtica sobre os contos e o
desencadeamento de vrias situaes de reflexo sobre as relaes
sociais.
Aps a formulao do problema de investigao foram definidos os
seguintes objetivos de estudo:
Analisar a importncia das tradies orais do povo portugus;
Entender o papel dos animais como personagens principais nos
contos
tradicionais; Compreender a relao existente entre os animais e o
ser humano atravs dos
valores que se pretendem transmitir ao nvel: - da fora fsica; -
do poder; - das relaes afetivas;
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
7
Detetar se h mudana na forma como as crianas encaram as relaes
de poder presentes nos contos.
Para Diniz: (1993): Poder-se- afirmar maneira de concluso que a
criana cresce, encontra segurana e sentido para a vida, quando
tiver entendido e resolvido problemas pessoais por conta prpria e
no por lhes terem sido explicados por outros. O prazer de ler vir
na continuidade de prazer desta
cumplicidade:fantasmtica:com:o:bom:adulto:que:lhe:contou:o:conto
(p. 59).
Sendo: um: importante: agente: de: socializao: segundo Haase
(citado por Morgado e Pires: p61): Os: contos: tradicionais: tm-nos
sido apresentados como intemporais: Uma: vez: que: queremos:
refletir: sobre: as: relaes: sociais: e: como: a:criana em idade
escolar sente essa necessidade para assim poder dar sentido vida,
nada melhor que analisar contos tradicionais portugueses, onde os
principais agentes da ao so animais. E porqu os animais? De acordo
com Bettelheim (1975, p.367): As crianas tm uma afinidade: natural:
com: os: animais: (): Para: alm: disso: os contos tradicionais no
evitam os problemas existenciais, pois sabem que a criana precisa
de solues, ainda que simblicas para conseguir lidar com os seus
problemas
(()luta:pela:autonomia:rivalidade:com:figuras:parentais:construo:da:identidade:adulta,
a solido do homem, realidade trgica e por vezes cruel das relaes
humanas: como: cita: Diniz: 1993: p47) Essas solues simblicas so,
neste caso concreto, dadas pelos animais no desenrolar das
peripcias ao longo da histria.
3.Enquadramento terico
3.1. Literatura infantil versus literatura tradicional de
expresso oral
Segundo Rodrigues (2012): O conceito de Literatura Infantil
bastante discutido entre os estudiosos deste domnio. H os que
defendem que o objeto escolhido pelo seu prprio leitor, outros
dizem que o objeto de formao de um agente transformador da
sociedade e, por fim, h aqueles que questionam o facto de existir
uma Literatura Infantil e/ou de esta ser entendida como menor. Este
, pois, um assunto delicado, pelo que compararemos diversos
pareceres, a fim de melhor alcanarmos a problemtica em causa, para,
a partir da, sermos capazes de formular o nosso prprio conceito de
literatura (p.43.).
A literatura infantil destinada principalmente ao pblico mais
novo, onde os
temas:mais:pesados:so:abordados:de:uma:forma:ldica:ou:simblica:que:permita:s
crianas a compreenso de problemas complexos. Muitos destes textos
apresentam um mundo fantstico e quase ilusrio mas tambm h textos
que refletem situaes reais e dramticas. Com os contos e livros de
literatura infantil as
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
8
crianas podem viver num mundo imaginrio onde tudo existe e tudo
possvel. Na nossa opinio, o contacto das crianas com esta
diversidade de textos muito til na sua formao.
Mas, sero os contos de literatura infantil contempornea os nicos
contos apropriados para crianas? Ser que os contos transmitidos
oralmente, e que tm perdurado ao longo dos tempos, podero
transmitir valores importantes e ser teis para as crianas? Tal como
refere Diniz (1993):
A sua perenidade deve-se ao facto de retratarem os grandes
problemas do homem de hoje e de sempre: a luta pela autonomia, a
rivalidade com as figuras parentais, a rivalidade fraterna, a
construo de uma identidade adulta, a solido do homem na terra, a
realidade trgica e por vezes cruel das relaes humanas (p.47).
Para alm da transmisso dos valores a literatura tradicional de
expresso oral mantm viva a cultura portuguesa, Diniz (1993, p.49)
diz ainda que: ():condensao superior de emoes que vo sendo
partilhadas, embora com as condicionantes pessoais de cada um, por
aqueles que com essa obra de arte contactam.
Desde muito cedo que o pblico mais jovem tem sua disposio
momentos de lazer, de partilha com a comunidade, contacto com uma
corrente de contos, de rimas, provrbios, entre outros. Estes textos
passaram de gerao em gerao, de memria em memria, sem a preocupao de
registo de autores. Por isso mesmo, Bettelheim (1975, p. 192)
refere que: Cada: narrador, medida que ia contando a histria,
deixava cair ou acrescentava certos elementos de forma a torn-la
mais significativa
para:si:prprio:e:para:os:ouvintes:que:ele:conhecia:bem:Podemos:assim:afirmar:que:os
contos populares de transmisso oral so annimos, nascendo da
imaginao e tendo uma funo cultural, ldica, sendo quase sempre
relacionados com a questo moral. Por isso, tambm,
Gomes:(1998:p54):salienta:que:()::comum:os:autores:de renome
recriarem de forma mais ou menos livre os contos populares. Tais
recriaes:procuram:por:vezes:conservar:o:ritmo:e:o:sabor:do:relato:oral:()
Para: Reis: e: Lopes: (citados: por: Cabral: 2004: p16): A:
expresso: conto popularcobre um vasto conjunto de narrativas
bastantes diversificadas. Essa diversidade tem suscitado vrias
propostas de classificao de um nmero relativamente elevado de
tipos:de:conto:contos:maravilhosos:():contos:de:animais:contos:religiosos:etc
3.2. Educao e literatura
A:alma:de:uma:criana::uma:gota:de:leite:com:um:raio:de:luz:Transformar:esse:lampejo:numa:aurora:eis:o:problema:():Livros:simples!:Nada:mais:complexo:No:so:os:eruditos:
gelados que os escrevem; so as almas intuitivas que
os:adivinham:(JUNQUEIRO:reedcitado por Gomes1997, p.7)
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
9
Desde a antiguidade que tanto a leitura como a escrita exercem
um papel de extrema relevncia nos conhecimentos e aprendizagens da
humanidade. Com a evoluo dos tempos e da educao infantil, houve a
conscincia da importncia de desenvolver a criana intelectualmente.
Utilizada de forma adequada e eficaz a literatura pode tornar-se um
instrumento de grande importncia na educao das crianas, fazendo com
que as aprendizagens se tornem significativas e a criana tenha
prazer no que est a ler.
Atravs da leitura, a criana apropria-se de novos conhecimentos e
saberes culturais adquirindo assim informaes importantes que a
ajudaro ao longo da sua formao. A literatura, e consequentemente a
leitura, um dos caminhos mais exequveis para desenvolver e
estimular a formao de ideias, que habilitaro a criana no s para a
leitura mas tambm para uma escrita lgica e concisa.
Assim sendo, o professor deve adotar nas suas aulas atividades
que favoream a leitura e a escrita, fazendo com que a criana sinta
prazer no ato de ler e de produzir, posteriormente, textos prprios
e originais. A procura de estratgias que deem oportunidades criana
de desenvolver a leitura, a interpretao e produo de textos,
possibilitam e incentivam a sua participao em todas as atividades
abordadas durante o perodo em que estiverem na sala de aula,
promovendo uma aprendizagem partilhada. As crianas devem sentir-se
uma parte integrante do processo de ensino e aprendizagem. Para
isso, a troca de informaes e a organizao do espao devem dar
oportunidade a todos de observar e serem observados, falar e ouvir,
criticar e sugerir, compreender e ser compreendido.
De modo a finalizar este subcaptulo, apresentamos uma citao de
Gomes (1997):
():na:Histria:da:Literatura:para:a:Infncia:no:nosso:pas:no:deve:ignorar:certas:produes:de
pendor formativo cuja leitura ou estudo poder ter sido recomendadas
a crianas e jovens em perodos anteriores ao sculo XVIII. To - pouco
de desprezar uma referncia a obras, no intencionalmente destinadas
a um pblico infantil, mas que, pelas suas peculiares caratersticas
temticas, entre outras, haveriam de se revelar como textos capazes
de agradar a esse mesmo pblico (p.5).
3.3. O papel dos animais nos contos tradicionais
():a:tarefa:mais:importante:na:educao:consiste:em:ajudar:a:criana:a:encontrar:um:sentido:para:a:vida:(Bruno:Bettelheim,
1975, p. 8)
Nas narrativas da tradio cultural, h que salientar que as
personagens tinham um papel de extrema importncia, sendo um
elemento fundamental. Atravs das personagens o leitor poder
interpretar a cultura de uma dada poca e povo. At
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
10
mesmo as crianas identificam-se com as personagens, reconhecendo
nelas parte da sua prpria identidade.
Gomes (1997) refere que: possvel que o recurso s fbulas na
educao se tenha tornado prtica corrente a partir de finais do sculo
XVII, na linha de uma tradio de gosto por estas histrias de fundo
moral, protagonizadas geralmente por animais, que vinha j da
Antiguidade oriental e greco-latina e que, em Portugal, deu origem
ao aparecimento de tradues das fbulas de Esopo e Fedro. , por isso,
de: admitir: que: a: infncia: no: tenha: encarado: com: indiferena:
(): as: histrias: de animais:da:tradio:oral:():(p7)
De acordo com o que o autor refere anteriormente, aos contos
onde as personagens so animais foi dado destaque na apresentao e
explorao junto das crianas, como considera Laranjeira (citada por
Guimares, 2004):
O animal parece poder funcionar como uma mscara que dissimula, s
vezes pouco, o (auto) projeto de justificar o ser humano; dele se
tira o sustento e a ajuda, desfruta-se a companhia e a alegria,
fonte de aborrecimentos ou de perigos; com ele que se projetam as
nossas paixes, com ele se engendram, nestes textos, as nossas
relaes (p.224).
A:mesma: autora: (citada: por: Guimares: 2004: p223): refere:
que: A: histria: da:construo do imaginrio humano e das suas mais
profundas crenas passa por uma mais ou menos explcita projeo
animal, ao nvel das representaes de foras e de conflitos
Pensamos que atravs dos animais as mensagens dos contos so mais
percetveis para as crianas, ou seja, estas olham para os animais
(personagens principais dos contos) e vem a sua prpria vida
representada na vida das personagens. No desenrolar dos
acontecimentos, as personagens (os animais) vo solucionando as
vrias situaes complicadas que vo encontrando. Muitas dessas situaes
so simbolicamente vivenciadas pelas crianas no seu dia-a-dia. Com a
leitura dos contos tradicionais e outros contos, onde as
personagens so animais, as crianas tm uma melhor perceo de como
podem resolver os:vrios:conflitos:da:sua:prpria:vida:e:faz-lo
autonomamente. Tudo o que foi referido ao encontro da citao de
Bettelheim (1975: p367): As: crianas: tm: uma: afinidade: natural:
com: os: animais: e:frequentemente se sentem mais prximas deles do
que dos adultos, querendo compartilhar o que lhes parece ser a vida
fcil de liberdade e gozo instintivos do animal
Para: Cavaleiro: (citado: por: Guimares: 2004: p246):
Efectivamente: os: animais:so um espelho do humano, revelam-no,
ajudam-no e transcendem-no,
desenvolvendo:as:suas:potencialidades:intelectuais:e:instintivas:
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
11
3.4. Relao existente entre os animais e o ser humano atravs dos
valores que se pretendem transmitir
A:necessidade:de:proteo:contra:os:intrusos:e:os:inimigos:implica:a:existncia:de:cdigos:apropriados.
No basta tomar posse de um territrio: preciso mostrar aos outros
quem que
tem:o:poder:(Laranjeira:citada:por:Guimares 2004, p. 228)
frequente, no dia-a-dia do homem, este deparar-se com as mais
diversificadas
situaes. Para as poder encarar tem de se fazer valer de
determinados valores e formas de atuar para as poder enfrentar da
melhor maneira possvel. neste sentido que poder aqui existir uma
relao entre os animais nos contos tradicionais e o homem.
Por vezes, como salienta Gomes
(1997):numa:():sociedade:hierarquizada:():os:contos:tradicionais:serviam:para:humanizar:os:actos:da:vida:animal:por:forma:a:que
os bichos surgissem movidos pelos mesmos moldes que animam os
homens. Assim, as formas de manuteno do poder, a hipocrisia social,
a traio e a luta pela
sobrevivncia:so:apresentadas:com:impiedosa:ironia:():(p23)
A relao entre o homem e o animal comeou a ganhar terreno desde
tempos primordiais. Os benefcios nesta relao so reconhecidos nos
direitos dos animais, no podendo estes ser mal tratados, como
consagrado na Declarao Universal dos Direitos dos Animais,
proclamada pela UNESCO, em 1978. Alm disso, possvel o ser humano
aprender com eles, tendo em considerao as caratersticas naturais de
cada um.
O homem, sendo racional, age de uma forma bem diferente do
animal, destacando-se a sua inteligncia e o seu comportamento. O
homem tem inteligncia, conscincia e capacidade para analisar seus
atos, executar suas tarefas, planear suas atividades e coloc-las em
prtica.
Gomes:(citado:por:Azevedo:2004:p95):transmite:que:Num:mundo:como:este:dir-se-ia
que por vezes desistimos de ser homens e preferimos ser animais,
umas vezes: pelas: piores: razes: outras: vezes: por: motivos:
menos: compreensveis: De:acordo com o presente autor, h alguma
coisa em ns que nos faz sentir prximos dos
animais:da:que:por:vezes:nos:disfarcemos:de:animais:nas:histrias:Ainda
o mesmo
autor:refere:que:O:animal:funciona:():como:espelho:deformado:do:homem:onde:este:
se: rev: numa: imagem: ora: amada: ora: malquerida: (p97): O:
grande:protagonismo dos animais na literatura de transmisso oral,
visvel em todas as sociedades,
pois:como:salienta:o:autor:j:citado:():eram:crentes:em:que:homens:e:animais:tinham:a:possibilidade:de:trocar:de:identidade:(p97)
Nos contos tradicionais apresentados podemos constatar que os
animais adquirem muitas caratersticas humanas, em especial a fala.
Realamos o facto de o animal ser considerado, nos contos, um ser
racional, inteligente, embora fique a faltar
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
12
o facto de estabelecer relaes afetivas tanto com outros animais
como com o homem. Segundo Ramos (citado por Azevedo, 2004):
():esta representao de um elemento da Natureza afetado por
sentimentos humanos pode igualmente: ser: interpretada: como:
manifestao: de: antropocentrismo: (): a: atribuio: de:caratersticas
humanas a elementos naturais poder significar uma deslocao da sua
espera prpria, desconstruindo o equilbrio ecolgico que os
caracteriza (p.581).
Assim, iremos refletir sobre a forma como a fora fsica, as
relaes afetivas e o poder so representados nos contos que
selecionmos.
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
13
Captulo II Metodologia de investigao
1. Fundamentao e descrio de processos metodolgicos
Esta investigao, como j referido, enquadra-se no estgio do 1
Ciclo do Ensino Bsico, que decorreu entre outubro de 2012 e
fevereiro de 2013, em situao de par pedaggico. Neste par pedaggico,
constitudos por duas estagirias, acordou-se que a investigao que
viria a ser desenvolvida seria realizada de forma individual em
quatro semanas para cada elemento do par pedaggico. Ficou ainda
decidido que, se houvesse necessidade, as semanas de grupo poderiam
servir de auxlio aos elementos do par pedaggico para trabalhar no
seu relatrio de investigao.
Como referem Quivy & Campenhoudt (2005):
Uma:investigao::():um:caminhar:para:um:melhor:conhecimento:e:deve:ser:aceite:como:tal,
com todas as
hesitaes:os:desvios:e:as:incertezas:que:isso:implica:():Por:conseguinte:o:investigador
deve obrigar-se a escolher rapidamente um primeiro fio condutor to
claro quanto possvel, de forma que o seu trabalho possa iniciar-se
sem demora e estruturar-se com coerncia (p.31).
Como j referido, a investigao educacional utiliza diversas
metodologias com igual pertinncia e rigor cientfico. Dependendo da
temtica em anlise, o investigador optar pelas orientaes
metodolgicas que considerar pertinentes para o desenvolvimento do
seu projeto.
Segundo Kemmis (citado por Martins, 1986, p.162):
A:investigao-aco uma forma de pesquisa auto-reflexiva conduzida
pelos prticos em situaes sociais a fim de melhorar a
inteligibilidade e o rigor das suas prprias prticas sociais e
educativas, a sua compreenso dessas prticas e das situaes em que se
desenvolvem.
Sabendo que a investigao no mbito da educao pode ter diferentes
metodologias, para o desenvolvimento do presente tema e, de acordo
com os objetivos definidos, trata-se de uma investigao de natureza
qualitativa. Segundo Bogdan e Biklen (1992, citados por Tuckman,
2000):
A investigao qualitativa apresenta as cinco caratersticas
principais:
(1) A situao natural constitui a fonte dos dados, sendo o
investigador o instrumento-chave da recolha de dados. (2) A sua
primeira preocupao descrever e s secundariamente analisar dados.
(3) A questo fundamental todo o processo, ou seja, o que aconteceu,
bem como o produto e o resultado final. (4) Os dados so analisados
indutivamente, como se se reunissem, em conjunto, todas as partes
de um puzzle. (5) Diz respeito essencialmente ao significado das
coisas, ou: seja: ao: porqu: e: ao: qu:(p.508).
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
14
O design que pensamos corresponder intencionalidade deste estudo
ter de observar um faseamento de planificao, ao, observao e reflexo
sobre a ao a partir dela mesma, tendo em vista futuras aes, num
sentido de melhoria de capacidade profissional.
Segundo Cohen & Manion (2002) podemos considerar a
investigao ao, ():um:procedimento: in: loco:com:vista:a:
lidar:com:um:problema:concreto: localizado:numa:situao imediata.
Isto significa que o processo constantemente controlado passo a
passo (isto numa situao ideal), durante perodos de tempo variveis,
atravs de diversos mecanismos (questionrios, dirios, entrevistas e
estudos de casos, por exemplo), de modo que os resultados
subsequentes possam ser traduzidos em modificaes, ajustamentos,
mudanas de direco, redefinies, de acordo com as necessidades, de
modo a trazer vantagens duradouras ao prprio processo em curso
(p.223).
Assim, a investigao-ao, segundo Zuber-Slerrit (1996) implica:
planear, atuar, observar e refletir mais cuidadosamente do que
aquilo que se faz no dia-a-dia, ou seja, trazer melhorias s
prticas, inovao, mudana ou desenvolvimento de prticas e uma melhor
consciencializao dos prticos acerca das suas prticas (p.96).
Importa realar que uma investigao baseada num design de
investigao-ao no tem subjacente a finalidade da generalizao das
concluses mas o conhecimento mais profundo de casos concretos.
Em funo de todo o pressuposto, a opo pela metodologia de
investigao-ao a que se considera mais consentnea com as questes e
objetivos formulados, aos quais se juntam uma enorme vontade de
compreender e desejo de aprender com todo o processo. Em suma, para
Esteves (2008):
A investigao aco parte do pressuposto de que o profissional
competente e capacitado para formular questes relevantes no mbito
da sua prtica, para identificar objetivos a prosseguir e escolher
estratgias e metodologias apropriadas, para monitorizar tanto os
processos como os resultados (p.9).
1.1. Descrio de processos metodolgicos
Para a realizao da presente investigao necessrio ter-se em conta
alguns passos fulcrais. Seguidamente ao enquadramento terico com
fundamento investigativo segue-se:
Planificao das atividades de investigao-ao;
Elaborao dos recursos didticos a serem utilizados nas atividades
programadas para a investigao;
Recolha de dados;
Anlise dos resultados:
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
15
A anlise de dados o processo de examinao e organizao sistemtico
de todos os materiais que foram recolhidos ao longo da investigao,
com o intuito de promover a sua compreenso. Importa agora realar
alguns aspetos essenciais.
De acordo com Bogdan & Biklen (1994, p.205) A anlise envolve
o trabalho com os dados, a sua organizao, diviso em unidades
manipulveis, sntese, procura de
padres:():e:a:deciso:sobre:o:que:vai:ser:transmitido:aos:outros .
De igual modo, Bardin (1995, p.38) define-a como um conjunto de
tcnicas de anlise das comunicaes que utiliza procedimentos
sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens.
Numa investigao qualitativa, sendo os dados recolhidos, na sua
grande maioria, resultantes de formas de comunicao verbal (escrita
ou oral), torna-se essencial o recurso ao desenvolvimento de um
sistema de categorias visando a sua reduo e classificao. Para:
Bogdan: &: Biklen: (1994: p232): Devero ser organizados de modo
a que o investigador seja capaz de ler e recuperar os dados medida
que se apercebe do seu potencial de informao e do que pretende
escrever. Os mesmos autores, recomendam a atribuio de abreviaturas
identificadoras s unidades de dados, definindo-as como, geralmente,
partes das notas de campo, transcries ou documentos (Bogdan &
Biklen, 1994, p.233), podendo assumir a forma de pargrafos, frases
ou sequncia de pargrafos.
Triangulao:
Numa investigao qualitativa, para Denzin e Lincoln (2000): a
fase correspondente anlise e interpretao dos dados recolhidos exige
do investigador o respeito por determinados procedimentos de anlise
que assegurem que as percees, as observaes, os relatos e leituras
das situaes se enquadram dentro de alguns limites de correspondncia
(Impe-se assim o recurso a critrios de validade externa e interna
(p.56).
De acordo com Moreira (2000), os primeiros referem-se
consistncia dos valores medidos com vrios instrumentos, que
pretendem assegurar o grau de representatividade das concluses em
termos:de:realidade:imediata (p.35).
Nesse sentido, h que atender necessidade de efetuar a descrio
detalhada de todo o processo em que o investigador esteve
envolvido. Este procedimento funcionar como critrio de validade
externa. Ainda Moreira (2000), a validade interna, nas investigaes
qualitativas, entende-se como a necessidade de assegurar nveis de
consonncia entre os significados atribudos por outros
observadores.
Ainda no que concerne validade, a triangulao metodolgica surge
como uma das estratgias mais utilizadas na investigao educativa.
Para Prez Serrano (2000): a triangulao refere-se a uma combinao de
vrias prticas metodolgicas, materiais empricos, perspetivas e
observadores e, neste caso, realiza-se entre diferentes mtodos de
recolha de dados sobre:o:mesmo:objeto:de:estudo (p.98).
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
16
A anlise de contedo e a discusso dos resultados, bem como as
concluses sobre os resultados completam a nossa metodologia.
1.2. Local de implementao
Como j referido, esta investigao enquadra-se no estgio do 1
Ciclo do Ensino Bsio, a decorrer entre outubro de 2012 a fevereiro
de 2013, em situao de par pedaggico, na Escola EB1 do Valongo,
pertencente ao Agrupamento de Escolas Joo Roiz de Castelo Branco,
na turma do 3 ano, com a professora Sara Vieira como professora
titular da turma.
Breve enquadramento
A Escola Bsica do 1 Ciclo do Valongo situa-se na zona sul da
cidade de Castelo Branco mais propriamente no Bairro Nossa Senhora
do Valongo. Foi fundada em 1984 e podemos dizer que atualmente tem
bons acessos, estradas em bom estado em seu redor e com boa
sinalizao. Est preparada para receber crianas com dificuldades de
locomoo no que se refere ao seu acesso pois tem uma rampa e as
portas das salas so bastante espaosas.
Atualmente encontram-se em funcionamento um jardim-de-infncia
(com todas as idades), uma turma de 1, outra de 2 e uma outra de 3
anos.
A turma de 4 ano est em funcionamento na sede do agrupamento de
escolas Joo Roiz de Castelo Branco. A presente escola pertence ao
agrupamento desde o dia 1 de setembro de 2003. Relativamente ao
espao da escola mais propriamente dito, podemos dizer que apesar de
esta ser pequena tem as condies essenciais ao bom funcionamento dos
tempos letivos.
Dado o facto de ser uma escola onde funcionam trs anos de
escolaridade e uma sala de jardim-de-infncia, como foi referido
anteriormente, ao longo da prtica supervisionada pudemos contactar
com os diferentes nveis de ensino nas mais variadas atividades
propostas pelo par pedaggico. de realar este aspeto pois poderamos
ter cingido a nossa prtica e as nossas atividades apenas turma do 3
ano mas optmos por aproveitar o estgio para ser melhores futuras
profissionais tentando sempre trabalhar com os outros professores
mais experientes.
O espao interior da escola contm duas casas de banho para as
raparigas e outras duas para os rapazes; uma casa de banho para o
pessoal docente e ainda outra para crianas portadores de
deficincias motoras. Tem um hall de entrada amplo, uma sala para o
coordenador / professores, um bar/cozinha, um refeitrio, e trs
salas de aula. Quanto ao ginsio, este utilizado tanto pelas crianas
de 1 ciclo como pelas do jardim-de-infncia. Apesar do sistema
isolador no ser eficaz a escola tem um sistema de aquecimento
central que a deixa mais acolhedora no inverno. Um dos espaos
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
17
interiores referidos anteriormente, o ginsio, foi bastante til
ao longo das semanas de interveno, pois nele pudemos realizar as
mais diversas atividades de grande grupo, ou seja, atividades onde
estariam presentes todos os nveis de ensino da Escola do Valongo e,
atividades mais direcionadas para a turma do 3 ano que seriam quase
impossveis de realizar na sala de aula.
No que se refere ao espao exterior da escola, esta possui um
campo de futebol de piso sinttico, um ptio de paralelos com algumas
rvores e canteiros, um parque com baloios e escorregas com piso em
tartan e ainda bebedouros. Este espao ao ar livre utilizado pelas
crianas em tempo de intervalo e de almoo. Quanto a estes espaos
verificamos que se tornam reduzidos quando est a chover pois as
crianas s podem brincar na zona do refeitrio, hall de entrada e
salas de aula.
Relativamente aos alunos que frequentam a Escola EB1 do Valongo
aferimos que na sua totalidade so setenta e quatro, sendo que vinte
e quatro crianas esto no jardim-de-infncia, vinte e sete alunos no
1 ano, vinte e dois alunos no 2 ano de escolaridade e por fim vinte
e seis alunos no 3 ano. Esta escola possui um professor responsvel
por cada uma das turmas e tem tambm trs professores que apoiam os
alunos com mais dificuldades de aprendizagem ou de concentrao.
A escola tem ainda de professores que lecionam as reas de
enriquecimento curricular. Contudo, os professores destas reas so
colocados pela cmara municipal
ou:ento:pelo:agrupamento:quando:h:professores:com:o:chamado:horrio:zero
As reas de enriquecimento curricular so: Ingls para o 3 e 4
anos, Educao Fsica para todos os anos, bem como a Msica e Expresso
Artstica para o 1 e 2 anos. Existem apenas duas auxiliares de ao
educativa a tempo inteiro que zelam pelas horas de intervalo e de
refeio.
Os materiais de desgaste de que a escola dispe so fornecidos
pelo agrupamento. Ao nvel do equipamento audiovisual a escola tem
televiso, computadores, impressora e fotocopiadora, rdio,
retroprojetor e projetores. Dentro dos materiais referidos
utilizmos com mais frequncia, fotocopiadora, computadores e
projetor tanto para tirarmos as fotocpias necessrias para os alunos
trabalharem, como para podermos desenvolver e apresentar as
atividades propostas.
Podemos concluir dizendo que, apesar dos quase trinta anos de
existncia desta escola, ela ainda se encontra com boas condies para
se continuar a ensinar no seu interior.
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
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1.3. Participantes
Segundo Tuckman (2000), a populao alvo de um estudo o grupo
sobre o qual o investigador pretende obter informaes e desenhar
concluses (p.19). Estando este processo de investigao enquadrado no
estgio do 1 Ciclo do Ensino Bsico, no seria possvel efetu-lo fora
desse contexto. Assim, participaram neste estudo os vinte e seis
alunos da turma do 3 ano do 1 Ciclo do Ensino Bsico da Escola EB1
do Valongo, do Agrupamento de Escolas Joo Roiz de Castelo Branco e
a sua professora titular, professora Sara Vieira.
de salientar que, neste processo, a professora titular da turma
foi um elemento fundamental ao longo de todas as atividades da
investigao, devido sua experincia profissional e ao conhecimento
que detinha da turma.
2.Recolha de dados
2.1. Observao
Posteriormente anlise que temos feito no que diz respeito
investigao, de referir que a observao o mtodo de recolha de dados
que mais utilizado neste processo: Evertson: &: Green: (citado:
por: Martins: 1996: p24): afirmam: que: A:observao um fenmeno
multifacetado, sendo um mtodo/tcnica usado no processo de
investigao educacional:e:de:tomada:de:decises
Numa fase anterior diviso das vrias componentes da observao,
acrescentamos que, como refere Wittrock, M. (1989, citado por
Freire et al, 1991):
A observao uma actividade quotidiana. Faz parte da percepo, pelo
que um componente tctico do funcionamento quotidiano dos indivduos
enquanto vivem os acontecimentos da vida: diria: Mas: (): nem:
toda: a: observao: que: tem: lugar: na: vida: quotidiana: :
tctica:tambm se realizam observaes em forma mais ou menos
deliberada e mais ou menos sistemtica, quando a situao o requere
(p.1).
J para Esteves (2008): A observao permite o conhecimento direto
dos fenmenos tal como eles acontecem num determinado contexto.
Contexto o conjunto das condies que caracterizam o espao onde
decorrem as aces e interaces das pessoas que nele vivem. O contexto
pode ser ():um:contexto restrito, mais prximo (por exemplo, a sala
de aula), (p.86)
Em suma e de acordo com Wittrock
(1989:citado:por:Freire:et:al:1991:p:2):A:observao um processo que
supe um objectivo organizador, uma mobilizao da
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
19
ateno, uma seleco entre os estmulos recebidos, uma recolha de
informaes selecionadas:e:sua:codificao
Deste modo, utilizaremos:
Observao Participante:
Nesta tipologia de recolha de dados, o investigador participa na
atividade que est a desenvolver com a amostra, pois s desta forma
consegue percecionar melhor os acontecimentos:que:
se:desenvolvem:com:os:participantes:no:projeto: Inclui: :
():a:interao:social:entre:investigador:/:informantes:O:investigador:deve:arregaar:as:mangas:e:entrar:no:campo:para:compreender
os cenrios para tomar decises sobre
o:estudo:(interesses:do:foco:substancial:e:foco:terico):(Taylor::Bogdam:198428-30,
citado in Martins, 1996, p.25).
Taylor & Bogdan (citado in Martins, 1996) salientam ainda
que: H duas fases importantes quando se manifesta a inteno de
observar:
1 fase: seleco de cenrios (relao imediata e negociada com os
observadores, recolha de dados); acesso/autorizao s organizaes e
cenrios pblicos ou semi-pblicos, explicao dos
procedimentos/interesse da investigao aos observadores (veracidade
das intenes,
regras:ticas:):e:recolha:de:dados:(notas:registos:conversas):Alerta-se
nas investigaes encobertas os graves problemas ticos de situao,
referidas por Humphreys ou Eriksom, citados por Adler & Adler
(1994), e os benefcios sociais prticos da investigao.
2 fase: observao no campo (os estados observacionais so como um
funil): relaes abertas com:os: observadores: negociaes: do: prprio:
role: do: investigador (Adler & Adler, 1994), (p.25).
2.2. Notas de campo
Esteves (2008, p.88) relata que: : (): definido: o: objeto: /:
sujeito: a: observar: :necessrio decidir de imediato como efetuar o
seu registo. As notas de campo so instrumentos metodolgicos que os
professores utilizam com mais frequncia para
registar:os:dados:da:observao
Enquanto tcnica de recolha de dados, as notas de campo,
incluindo registos de natureza descritiva, o mais concreto e
detalhado possvel, devero conter ideias, reflexes, sentimentos e
dvidas experimentadas pelo observador/investigador (e pelos vrios
intervenientes), que, mesmo no participante, um dos principais
instrumentos da pesquisa. As conversas com os participantes fazem
igualmente parte da sua ao como agente de observao. Nesse sentido,
devem ser registadas to rapidamente quanto possvel. Sendo no
entanto o observador/investigador, mesmo no participante, um dos
principais instrumentos da pesquisa, importante que as notas de
campo contenham aspetos descritivos e reflexivos, sobre o que se
viu, ouviu e sentiu durante a recolha de dados.
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
20
Esteves: (2008): cita: Spradley: As notas de campo incluem
registos detalhados, descritivos e focalizados do contexto, das
pessoas (retratos), suas aes e interaes (trocas, conversas),
efetuadas sistematicamente, respeitando a linguagem dos
participantes nesse contexto (p.88).
As notas de campo foram sendo includas ao longo do relatrio,
mais concretamente nas reflexes da prtica supervisionada no 1 Ciclo
do Ensino Bsico e aquando da anlise dos dados retirados dos
trabalhos dos alunos. As mesmas podem ser visveis em situaes
pontuais no decorrer do trabalho.
2.3. Registo fotogrfico
O registo fotogrfico pode assumir uma utilizao de forma simples,
funcionando como inventrio em imagem de uma situao. Nesse caso, de
acordo com Bogdan & Biklen (1994, p. 140), as fotografias do
inventrio podem ser recolhidas em qualquer momento que seja
conveniente e podem ser certamente adiadas, ficando disponveis para
utilizao adequada.
No entanto, pode recorrer-se sua captura como demonstrao de
emoes, atitudes, participao, interao e cooperao entre e com os
sujeitos de observao. Ainda de acordo com os autores supracitados
(1994, p.142), se houver atividades suficientemente interessantes
no local, os sujeitos daro pouca ateno mquina, o que conseguir
tornar a imagem num documento recursivo importante para recolha de
dados e posterior anlise e exposio da anlise dos mesmos.
No que diz respeito ainda ao registo fotogrfico, Esteves (2008)
menciona que: Os professores registam com alguma regularidade as
observaes recorrendo imagem. As novas tecnologias divulgaram e
facilitaram o recurso fotografia de tal modo que frequente os
professores proporem sesses de trabalho com os seus alunos para que
estes recorram experimentao: e: manipulao: fotogrfica: (): Os:
registos: fotogrficos: podem: tambm: ter:como finalidade ilustrar,
demonstrar e exibir, como acontece habitualmente nas exposies
retrospetivas de qualquer projeto ou perodo escolar (p.90).
2.4. Registo grfico (texto desenhos documentos de registo de
tarefas)
A recolha de documentos (registos grficos) uma tcnica
complementar que permite averiguar possveis contradies e corroborar
informaes adquiridas por
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
21
outros dados. Ainda na tica de Bogdan & Biklen (1994,
p.176), os textos escritos pelos sujeitos de investigao podem ser
de variadssima ordem.
Os textos escritos pelas crianas so sem dvida um elemento chave
numa investigao qualitativa que pretende interpretar o modo como
elas se relacionaram com determinada ocorrncia.
O registo de tarefas executadas durante a ao de investigao
certamente um dos melhores e mais significativos documentos do
desenvolvimento do processo. Pela sua objetividade, certamente
poder dar indicativos preciosos sobre o envolvimento da criana na
ao, bem como do modo como interagiu com os outros participantes.
Para finalizar, Esteves (2008) salienta que:
A anlise de artefactos produzidos pelas crianas indispensvel
quando o foco da investigao se centra na aprendizagem dos alunos. O
corpus da anlise constitudo pelos produtos elaborados por cada
criana e previamente arquivados nos denominados portflios. Esta ,
tambm, uma prtica comum dos bons professores, interessados na
avaliao do sentido e do ritmo da aprendizagem dos seus alunos, pelo
que no requer um treino especial, salvo o conhecimento de alguns
cuidados a ter, enquanto tcnica de investigao (p.92).
2.5. Descrio procedimental
No presente estudo foram utilizadas diversas tcnicas, com o
intuito de obter uma viso o mais objetiva possvel sobre as questes
enunciadas, conferimos: observao; notas de campo; registo
fotogrfico; registo grfico (textos, desenhos e documentos de
registo de tarefas) e conversa informal com os alunos.
Na implementao da ao, os participantes foram organizados na sala
de aula de modo a poderem realizar as atividades propostas de forma
individual. Neste contexto, embora tenha existido uma grande
proximidade ao desenvolvimento da ao, a investigadora assumiu uma
postura de observadora no participante. De facto, existiram
instantes em que houve necessidade de algum apoio ou interveno
pontuais.
O registo fotogrfico teve como objetivos tentar avaliar o
envolvimento, empenhamento e modo procedimental dos alunos em ao.
Nesse sentido fomos tirando fotografias ao longo da realizao das
atividades direcionadas para a investigao.
Os registos grficos foram efetuados em dois contextos em sala de
aula aquando da realizao dos guies de atividades. Os alunos teriam
de responder a questes sobre os contos tradicionais, refletindo
sobre algumas atitudes das personagens, elaboraram textos
reflexivos e desenhos que procurariam reproduzir os momentos que os
alunos mais tinham apreciado nos contos tradicionais.
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
22
Na conversa informal com as crianas (na tarde da realizao dos
marcadores de livros) e por existir uma relao forte de afetividade
e empatia com a investigadora, foram privilegiados aspetos de
motivao, empenho, sensaes e emoes sentidas, tendo subjacentes os
mesmos objetivos.
2.5.1.Implementao da ao de investigao
A implementao desta ao de investigao tem como grande objetivo
desenvolver nos alunos os valores de respeito independentemente das
dimenses grande/ pequeno dos indivduos e das relaes de poder.
Pretendemos desenvolv-lo atravs da explorao de trs contos
tradicionais portugueses, verses de Adolfo Coelho e Consiglieri
Pedroso.
No sentido de encontrar uma resposta foi desencadeado um
processo que passou pela elaborao dos recursos e materiais a
utilizar na ao de investigao. Para a realizao da ao foram
produzidos com antecedncia alguns recursos imprescindveis ao seu
desenvolvimento. Assim, construiu-se um conjunto de documentos a
utilizar na sala de aula para a explorao dos contos tradicionais.
Foram assim produzidos os seguintes documentos: o livro de contos
tradicionais e os guies de atividades. Aquando da realizao das
atividades pelos alunos, as tarefas propostas foram bem entendidas
pela maioria de alunos da turma.
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
23
Captulo III Desenvolvimento da Prtica Supervisionada no 1 Ciclo
do Ensino Bsico
Como j foi mencionado no presente relatrio, a prtica
supervisionada foi realizada em situao de par pedaggico.
Estava previsto desde o incio do ano letivo que a mesma
decorresse ao longo de 15 semanas. Essas 15 semanas seriam
divididas em duas semanas de observao em par pedaggico, quatro
semanas individuais para casa um dos elementos do par e trs semanas
de grupo, (uma semana no incio do estgio, uma semana no natal e,
por ltimo, uma semana no final do estgio).
Seguidamente realizao das habituais formalidades surgiram as
expetativas em relao ao grupo de alunos. Houve a perceo de que
estaramos na presena de uma realidade diversificada com a qual
iramos estar em contacto todos os dias da prtica supervisionada.
Atravs das semanas de observao poderamos ir percebendo, diariamente
e com a ajuda da professora cooperante, quais as dificuldades da
turma, em especial de alguns alunos, quais as atividades e as
motivaes que melhor poderiam resultar com o grupo.
A prtica supervisionada teve incio com duas semanas de observao
conjunta. A estas, seguiu-se uma semana de interveno de grupo e
duas de interveno individual, alternadas, e uma semana de grupo
antes das frias do Natal. No incio do ano de 2013, sucederam-se
duas semanas de interveno individual, tambm elas alternadas e, por
fim, uma semana de interveno de grupo para terminar a Prtica
Supervisionada no 1 Ciclo do Ensino Bsico.
No vamos incluir neste relatrio as atividades das semanas de
interveno de grupo dado que os temas no esto relacionados com o
tema da investigao. Considermos que seria melhor referir apenas
quais foram os temas das mesmas, referentes s principais reas
curriculares. No que respeita a rea curricular de Lngua Portuguesa,
os temas foram: vocabulrio, instrues e indicaes (Compreenso do
Oral); planificao do discurso, reconto, descrio, literatura oral e
tradicional, normas da lngua padro (Expresso Oral); planificao de
textos, configurao grfica, componentes da narrativa (personagens,
espao, tempo e ao), texto narrativo e dramtico, seleo e organizao
da informao (formas de destaque, apontamento, sumrio, tabelas,
mapas, esquemas...), estrutura da narrativa (introduo,
desenvolvimento e concluso), conectores discursivos, texto
expositivo: facto, explicao, exemplos; introduo, desenvolvimento,
concluso (Escrita); dilogo, diferentes tipos de texto (prosa,
poesia, teatro), lxico e vocabulrio, famlia de palavras, palavras
variveis e invariveis, tipos de frase declarativa, interrogativa,
exclamativa, imperativa, flexo adjetival nmero (singular, plural);
gnero (masculino, feminino), determinantes artigos (definidos e
indefinidos), (Conhecimento Explcito da Lngua).
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
24
J na rea curricular da Matemtica os temas foram os seguintes:
relaes numricas, multiplicao, leitura e interpretao de informao
apresentada em tabelas e grficos, nmeros racionais (no negativos)
decimais. No que diz respeito aos temas de Estudo do Meio, estes
foram: o passado do meio local, outras culturas na comunidade,
conhecer costumes e tradies de outros povos, a segurana do seu
corpo, primeiros socorros.
Por ltimo, mas no menos importantes, as reas de Expresso
Artstica e Dramtica. Nestas reas a professora cooperante deixava os
temas a desenvolver ao nosso critrio. Desenvolvemos assim temas
como o Natal, o Carnaval, onde cantmos canes sobre os temas que nos
foram sendo atribudos e dramatizmos uma pea de Natal.
Alm disso, as semanas de grupo dizem respeito a trabalho que foi
tambm da responsabilidade das duas estagirias e no apenas da autora
deste relatrio. Referimos, no entanto, as reflexes das semanas de
observao porque elas foram importantes para o incio do nosso
trabalho e enquadramento das atividades individuais (apesar de
realizadas em situaes de par pedaggico).
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
25
1. A observao
1.1. Semanas de observao De 23 a 31 de outubro de 2012
Sendo a escola Eb1 do Valongo aquela que nos foi atribuda para
executarmos o nosso estgio neste ciclo de ensino, no poderamos
deixar de nos apresentar, em primeiro lugar, sede do Agrupamento de
Escolas Joo Roiz, mais concretamente direo da mesma, onde pertence
a escola referida anteriormente.
Posteriormente, chegou o to aguardado momento: conhecer a turma
do 3 ano com a qual iramos trabalhar. Chegmos assim escola e
posteriormente sala onde fomos recebidas pela professora titular de
turma, pelo professor responsvel pela coordenao da escola e pelos
alunos da turma que se mostraram bastante entusiasmados referindo,
alguns deles, que j sabiam o motivo da nossa presena na sala de
aula. Tal como tnhamos acordado na reunio de professoras
cooperantes, nestas duas semanas de observao iramos auxiliar os
alunos que se encontravam com mais dificuldades de aprendizagem.
Para ns foi agradvel contactarmos desde cedo com estes alunos, no s
para nos irmos apercebendo das suas dificuldades mas tambm pelo
facto de ser possvel alguma interao e no ficar apenas no fundo da
sala a observar. Tornou-se mais gratificante para ns porque nos
sentimos mais integradas na turma. No que diz respeito s instalaes,
tambm elas nos foram sendo mostradas pela professora
cooperante.
Concludas as apresentaes passmos observao propriamente dita da
turma. As primeiras impresses foram desde cedo bastante positivas
dado que nos pareceu uma turma calma, com a agitao habitual,
concentrada, muitssimo participativa, colocando questes pertinentes
que revelam a ateno com que esto aula. Pudemos ainda constatar que
existem alguns alunos que terminam a resoluo de exerccios mais
rapidamente que os outros colegas, facto que nos levou a
considerarmos a hiptese de durante a nossa prtica termos de
encontrar alternativas para os alunos que terminam as atividades
mais cedo.
A professora desenvolveu junto dos alunos uma atmosfera de
respeito mtuo, de compreenso e de transmisso de conhecimentos de
ambas as partes, ou seja, partilham vivncias pessoais pertinentes,
nas alturas devidas, que enriquecem as aulas. Algumas das
estratgias que observmos adotadas pela professora, e que pensamos
serem adequadas para esta turma, prendem-se com o quadro de registo
do comportamento, j que reparmos que os alunos ao longo do dia vo
olhando para o quadro e vo verificando se nos dias anteriores
tiveram um valor mais positivo ou
mais:negativo:as:inscries:que:no:so:mais:do:que:colocar:o:brao:no:ar:antes:de:comear
a falar, para participarem nas atividades, para falarem sobre
experincias prprias ou para darem a sua opinio. Com estas
estratgias a professora cooperante conseguiu que os alunos se
respeitassem uns aos outros e no falassem todos ao
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
26
mesmo tempo. Durante estas duas semanas observmos a realizao de
diferentes atividades e formas de as expor.
Pretendemos tambm mencionar sucintamente a arrumao e disposio da
sala de aula. Esta espaosa, o que poderia ser uma mais-valia para a
realizao de trabalhos de grupo, tem espaos para exposio de
trabalhos, contudo tem pouca arrumao e algum mobilirio de arrumao
encontra-se um pouco degradado. Apesar de sabermos que no existem
disposies de sala ideais e perfeitas, na nossa opinio esta no
adequada pelo facto de determinados alunos estarem sentados em
lugares onde tinham alguma dificuldade em olhar para o quadro. De
acordo com a sugesto da professora cooperante, podamos tentar
reorganizar a sala, colocando as
mesas:e:cadeiras:em:forma:de:u:
Salientamos que os nossos receios e dvidas em relao ao ano de
escolaridade dos alunos da nossa prtica, aps estas duas semanas de
observao, desapareceram. S seremos boas professoras quando
aceitarmos cada desafio de cabea erguida e nos esforarmos para dar
o nosso melhor em cada dia, com atividades motivadoras que
interessem e consigam captar a ateno mxima dos alunos. Por ltimo,
acrescentamos que deveras agradvel sermos reconhecidas por eles
como professoras, s prova que conseguimos o seu respeito.
2. A prtica individual
A relao entre o professor e os alunos de grande importncia,
sendo um grande desafio com que todos os futuros professores se
deparam no incio da prtica.
Enquanto observadores, o desconforto, se existe, muitas vezes
ultrapassado pela presena efetiva da professora cooperante. A
situao completamente alterada quando sabemos que vamos estar em
frente aos alunos, como atores principais de um processo que
queremos que seja incentivador da vontade de aprender. Torna-se
assim imprescindvel dominar anseios, expectativas, e apresentar
propostas que fomentem uma entrega total de todos os participantes
na ao educativa. No entanto, apesar da importncia da relao afetiva,
de confiana, de empatia, tais sentimentos no devem interferir no
cumprimento dos deveres ticos do professor.
Foi assim que procurmos iniciar a nossa prtica. Sabamos partida
que teramos o apoio de todos os intervenientes, mas fizemos o
possvel para procurar a autonomia, descoberta e experimentao de
novas aprendizagens. Neste sentido, as atividades propostas ao
longo da prtica foram, sempre que possvel, originais, sendo
elaboradas de modo a promover junto dos alunos atitudes
desafiadoras e de descoberta de novas aprendizagens. No que diz
respeito elaborao de materiais de apoio como power-point, jogos,
livros, estes foram concebidos especificamente para o grupo de
alunos, contribuindo assim para a aquisio de novas aprendizagens
e
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
27
conhecimentos que tinham de adquirir no final desta etapa do 1
Ciclo do Ensino Bsico.
De acordo com Vygotsky (1987, p.15):
()ao propormos o conhecimento pronto no promovemos o saber, a
inteligncia s estimulada atravs da colocao da dvida. Nesta
perspetiva pesquismos e procurmos sempre que houvesse rigor
cientfico em todas as atividades propostas bem como nas respostas s
questes colocadas pelos alunos, as quais implicavam que os alunos
problematizassem as situaes que encontravam nos contos.
A sala de aula foi um fator a nosso favor devido ao facto de ser
bastante espaosa e adaptvel a qualquer atividade que pretendamos
desenvolver. No que diz respeito s atividade de investigao, tentmos
adaptar a sala de aula de modo a que cada aluno pudesse assim
realizar a sua atividade de forma mais autnoma, como era pretendido
nesta metodologia de trabalho.
Sero apresentadas apenas as reflexes sobre as atividades das
semanas individuas de prtica supervisionada, sendo remetidos para
anexo os planos semanais entregues pela professora cooperante que
nos permitiam ficar a saber que contedos iriamos trabalhar junto
das crianas, bem como as planificaes (guio de atividades), onde
feita uma descrio das atividades relacionadas com o tema de
investigao (Anexo A). Apesar de ter havido quatro semanas de prtica
individual, apenas a 3 e a 4 semanas foram dedicadas implementao do
tema de investigao.
2.1. 3 Semana individual 15, 16 e 17 de janeiro de 2013
Relativamente terceira semana de implementao individual,
pretendemos iniciar a reflexo referindo que corresponde semana 12
da prtica supervisionada. Esta semana decorreu, na globalidade,
conforme o planeado, sendo o tema integrador Descobrindo: os:
sistemas: do: nosso: corpo As atividades eram motivadoras e
interessantes para os alunos e tal facto notou-se pelo entusiasmo
que demonstraram desde o primeiro dia da semana. Tal entusiasmo
tambm se deveu ao elemento integrador utilizado ao longo da semana,
um esqueleto humano (j que a unidade
temtica:tem:por:nome::descoberta:de:si:mesmo). Para Pais (2010,
p.8):
Enquanto elemento fsico, o elemento integrador pode assumir uma
infinidade de formas, dependendo da criatividade e das
caratersticas de individualidade do professor, das caratersticas do
ambiente de ensino e aprendizagem a criar, dos objetivos definidos
para o processo de ensino e aprendizagem, das caratersticas do
grupo de alunos e da relao que obrigatoriamente tem de se
estabelecer com um contnuo de tarefas de ensino e aprendizagem que
se pretende desenvolver (p.8).
Ctia Filipa da Rosa Gaspar
28
No que diz respeito implementao da investigao, desenvolvemos
atividades de compreenso de verses de contos tradicionais,
O:Pinto:Borrachudo:verso:de:Adolfo Coelho, e: A: Raposa: verso: de:
Consiglieri: Pedroso: A: primeira: verso:
do:conto:tradicional:a:ser:explorado:foi:a:de:Adolfo:Coelho:O:Pinto:Borrachudo
(Anexo B). Inicialmente, foi apresentado um livro de contos
tradicionais, uma produo original da estagiria para poder trabalhar
os contos propostos para a investigao (Anexo C). Aps a apresentao
do livro e da distribuio do conto turma, procedeu-se leitura em voz
alta pela estagiria, seguida da leitura em voz alta pelos
alunos.
Na fase seguinte leitura, fizemos uma anlise em grupo do conto.
Os alunos recontaram-no. Aps o reconto colocaram questes sobre as
personagens e o desenrolar dos acontecimentos. Por ltimo, deram a
sua opinio pessoal sobre a personagem:Pinto:Borrachudo:tendo tecido
comentrios positivos sobre a mesma. medida que analisvamos o conto,
fomos colocando questes aos alunos que fossem ao encontro dos
objetivos programados inicialmente para a investigao. Assim sendo,
os aspetos fsicos das personagens, as suas atitudes umas para com
as
outras:e:o:poder:das:mesmas:foram:assuntos:explorados:ao:longo:da:anlise:
Posteriormente anlise referida, demos incio s respostas
individuais a um questionrio escrito (Anexo D). de salientar que
durante a realizao, determinados alunos tiveram algumas
dificuldades nas perguntas que diziam respeito ao tema da
investigao. Nessa altura, tivemos de executar um trabalho mais
individualizado com esses mesmos alunos.
Como estava planeado, ainda na presente semana foi trabalhada a
verso de mais um: conto: tradicional: A: Raposa: de: Consiglieri:
Pedroso (Anexo E). Na explorao deste conto, optmos por uma
abordagem inicial diferente da anterior. No livro de contos
tradicionais, mencionado atrs, colocmos imagens respeitantes ao
contedo do conto (exemplos: uma raposa, um tubaro, uma rede, entre
outras) e apresentmo-las turma, uma por uma, para que os alunos
atravs dos conhecimentos que j tinham adquiridos tentassem
descobrir o tema do novo conto (Anexo F). medida que as imagens iam
sendo apresentadas e visualizadas pelos alunos, cada um deles ia
dando a sua opinio sobre o contedo do conto (exemplos: a raposa e a
vinha; os animais da floresta e do mar; a esperteza da raposa,
entre outros) e o desenrolar dos percursos das personagens
(exemplos: o tubaro saa das redes e comia todos os animais mais o
homem; o homem matava o tubaro para alimentar a famlia; a raposa e
o burro eram grandes amigos, entre outros). Seguidamente visualizao
das imagens, do dilogo com a turma e da distribuio dos contos,
procedeu-se leitura em voz alta pelos elementos da turma. Dado que
era um conto um pouco extenso e com um tipo de linguagem menos
acessvel, ao qual os alunos no esto habituados, foi feita uma
segunda leitura do conto pela estagiria. Depois de realizadas as
duas leituras, os alunos puderam constatar que as previses feitas
anteriormente leitura no correspondiam ao contedo do conto. de
salientar, mais uma vez, que os comentrios feitos aps a leitura do
conto foram bastantes positivos e demonstraram, por parte de alguns
alunos, que o contedo fora compreendido,
Os Animais nos Contos Tradicionais Portugueses Relaes de
Poder
29
como veremos no captulo seguinte. Posto isto, foi realizado um
guio de atividades escrito (Anexo G). Cada aluno teria de o
completar de forma individual.
Estamos conscientes de que os contos tradicionais trabalhados
eram um pouco difceis pois a forma como estavam escritos no era
idntica estrutura e vocabulrio com que os alunos esto mais
familiarizados. Surgiram dvidas na compreenso das questes de anlise
dos contos, apesar de se considerar que fizemos uma boa explorao
dos mesmos. Embora tenham surgido essas dvidas e dificuldades os
alunos gostaram dos contos tradicionais e sentimos muito agrado em
realizar este trabalho.
Antes de terminar de referir que a explorao dos contos
tradicionais foi um pouco mais demorada do que estava planeado,
pois sentimos que havia essa necessidade por parte da turma, em
especial por alguns alunos com mais dificuldades.
Por ltimo resta-nos mencionar que quando nos sentimos motivadas
e nos empenhamos no que realmente gostamos o nosso trabalho mais
produtivo e, no fim, somos recompensados por isso, nem que seja
pelos sorrisos dos alunos ou simplesmente pelos comentrios que
fazem sobre as nossas atividades.
2.2. 4 Semana individual 22, 23 e 24 de janeiro de 2013
No que diz respeito quarta semana de implementao individual,
pretendemos referir, em primeiro lugar que, na sua maioria, as
atividades decorreram conforme o planeado inicialmente. semelhana
das semanas anteriores, tambm nesta tivemos especial ateno no
registo dos contedos trabalhados, tendo os alunos registado no
caderno dirio breves snteses dos contedos abordados ao longo da
semana. Na nossa opinio, desde que entram para o 1 ciclo os alunos
devem ser habituados a registar todos os contedos trabalhados, pois
contribui para a criao de hbitos de estudo e melhoraro a
ortografia.
Relativamente implementao da investigao para o relatrio final de
estgio, esta foi mais uma semana onde nos dedicmos explorao do
terceiro e ltimo conto tradicional selecionado, intitulado: O:
Grilo: e: o: Leo: verso: de: Consiglieri:Pedroso (Anexo H). A
explorao deste conto foi feita atravs de uma banda desenhada
elaborada pela estagiria (Anexo I). Queremos referir que o facto de
a abordagem ser diferente das anteriores e de a ilustrao ter sido
elaborada por ns, deixou os alun