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-1- António Oriol Trindade. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Sobre a génese e a geometria das escadas em caracol do séc.XVI em Portugal: o processo conceptual À memória e à ciência dos antigos mestres de cantaria do séc.XVI Abstract This paper addresses the origin, geometry and the process of conceptual ladders in snail performed in rock in the sixteenth century in Portugal. Clear influence of the Mediterranean region and the Spanish uprising, the model comes in outbreaks of Cathedral of Palma de Mallorca, from the last model of Guillem de Sagrera in the first quarter of the fifteenth century, once used by Pere Compte and other authors in Cathedral of Valencia, was subsequently proliferating throughout Spain. In Portugal, the model is introduced by Joãm de Castylho, more or less by the year 1530. Os reflexos de uma consolidada cultura de tracistas peninsular. A importação dos modelos espanhóis e franceses nas escadarias em caracol. Foi, de facto, ainda no primeiro quartel do séc.XVI, que se ensaiaram na prática no nosso país as belíssimas escadarias em caracol – retomando o antiquíssimo modelo do caracol de Mallorca, inaugurado no Levante espanhol –, que se observam em quatro monumentos de destaque da arquitectura nacional, respectivamente em Sintra, na Sala dos Archeiros, em Alcobaça, no acesso aos arcos botantes daquele mosteiro, em Tomar, nos ângulos do claustro de D.João III e noutras dependências dos terraços, e nos flancos da Capela-Panteão de Santa Maria de Belém em Lisboa. No Paço de Sintra, por exemplo, durante o reinado de D. João III edificou-se, o espaço entre as alas joanina e manuelina. Num clima dominado pela mentalidade neoplatónica, cuja correia de transmissão na corte é, entre outros, alimentada, como O presente texto corresponde ao desenvolvimento da Comunicação proferida pelo autor no III Colóquio de Sintra, Arte, História e Vivências, na Sala dos Archeiros do Palácio Nacional da vila, no dia 26 de Novembro de 2008: “A Geometria da Sala dos Archeiros do Palácio Nacional de Sintra e o seu reflexo noutras peças contemporâneas”. Aproveitamos aqui a oportunidade para agradecer à Dr.ª Inês Ferro, Directora do Palácio Nacional de Sintra e representante do IGSPAR naquele local, a permissão do autor em analisar as escadarias helicoidais daquele palácio de Sintra.
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ORIOL TRINDADE, António, 2008, "Sobre a génese e a geometria das escadas em caracol do séc.XVI em Portugal: o processo conceptual (More about the genesis and the geometry of the

Feb 22, 2023

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António Oriol Trindade. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa

Sobre a génese e a geometria das escadas em caracol do séc.XVI em

Portugal: o processo conceptual••••

À memória e à ciência dos antigos mestres de cantaria do séc.XVI

Abstract

This paper addresses the origin, geometry and the process of conceptual ladders in

snail performed in rock in the sixteenth century in Portugal. Clear influence of the

Mediterranean region and the Spanish uprising, the model comes in outbreaks of

Cathedral of Palma de Mallorca, from the last model of Guillem de Sagrera in the first

quarter of the fifteenth century, once used by Pere Compte and other authors in

Cathedral of Valencia, was subsequently proliferating throughout Spain. In Portugal, the

model is introduced by Joãm de Castylho, more or less by the year 1530.

Os reflexos de uma consolidada cultura de tracistas peninsular. A importação dos modelos espanhóis e franceses nas escadarias em caracol.

Foi, de facto, ainda no primeiro quartel do séc.XVI, que se ensaiaram na prática

no nosso país as belíssimas escadarias em caracol – retomando o antiquíssimo modelo

do caracol de Mallorca, inaugurado no Levante espanhol –, que se observam em quatro

monumentos de destaque da arquitectura nacional, respectivamente em Sintra, na Sala

dos Archeiros, em Alcobaça, no acesso aos arcos botantes daquele mosteiro, em

Tomar, nos ângulos do claustro de D.João III e noutras dependências dos terraços, e

nos flancos da Capela-Panteão de Santa Maria de Belém em Lisboa.

No Paço de Sintra, por exemplo, durante o reinado de D. João III edificou-se, o

espaço entre as alas joanina e manuelina. Num clima dominado pela mentalidade

neoplatónica, cuja correia de transmissão na corte é, entre outros, alimentada, como

•O presente texto corresponde ao desenvolvimento da Comunicação proferida pelo autor no III Colóquio de Sintra, Arte, História e Vivências, na Sala dos Archeiros do Palácio Nacional da vila, no dia 26 de Novembro de 2008: “A Geometria da Sala dos Archeiros do Palácio Nacional de Sintra e o seu reflexo noutras peças contemporâneas”. Aproveitamos aqui a oportunidade para agradecer à Dr.ª Inês Ferro, Directora do Palácio Nacional de Sintra e representante do IGSPAR naquele local, a permissão do autor em analisar as escadarias helicoidais daquele palácio de Sintra.

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sabemos, pelo conselheiro, curioso e teórico Francisco de Holanda e pelo Infante D.

Luís, os sinais do classicismo renascentista e maneirista contaminam em pormenores

pontuais alguns sectores do velho palácio situado na Serra de Sintra, no “Promontório

da Lua”. Neste sentido, surgem os apontamentos decorrentes daquela nova vaga

italianizante, que ocorrem, por exemplo, no belíssimo fogão da Sala das Pêgas, na

pequena portada que emoldura o vão que se rasga no lado esquerdo de quem entra no

terraço de acesso aos paços e, bem assim, nas escadarias helicoidais, sobretudo a da

Sala dos Archeiros, mas também nas das salas das Sereias e dos Árabes (Figs.1-3),

estas no entanto, mais toscamente resolvidas. O espirito de arquitecto de D.João III,

manifesta-se também no Paço de Sintra, apontando a sua marca, utilizando as palavras

do arquitecto Jorge Segurado, na “dificuldade e estudos”, como foi também certamente

o pormenor da escadarias, como a do sector da Sala dos Archeiros, sendo esta “um

tanto ou quanto de enquadramento toscano”1.

Figs.1 e 2 – À esquerda e ao centro, escadaria da Sala dos Archeiros, c.1545-1550!?. Fig.3 – À direita, escadaria da Sala das Sereias Árabes c.1545-1550!? Fotos do autor.

O espaço da Sala, bem descrito por Segurado, é “formado por dois corpos

distintos, tendo de permeio como acesso, a bela escadaria helicoidal, semelhantes às

ordenadas pelo Rei para o grande Claustro de Tomar e para a capela-mor de Santa

Maria de Belém”2. Esta escadaria, cujo miolo interno, ou intradorso, de uma grande

1Jorge SEGURADO, Francisco d’Ollanda, Lisboa, Excelsior, 1970, p.333. 2Idem, p.333.

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complexidade geométrica ao nível da execução é, de facto, tal e qual o mesmo que

encontramos nas escadarias que se ergueram em Belém e em Tomar,

respectivamente, na capela-panteão do Mosteiro dos Jerónimos e nos ângulos do

“novo” claustro de D.João III do Convento de Cristo, realizadas ambas entre 1550 e

1565-70 (Figs.4-6)3. Neste sentido, importa referir que se sabe que o início da obra da

capela-mor dos Jerónimos, em 1565 “fez deslocar mão de obra”4 das obras do

Convento de Cristo de Tomar, onde o próprio Diogo de Torralva, a nosso ver um dos

possíveis autores e detentores da traça e dos desenhos auxiliares da escadaria da Sala

dos Archeiros – mas retomando uma solução que João de Castilho já ensaiara em

Alcobaça –, parece ter saído desgostoso das obras do Convento de Cristo, pelo ano de

1565, data das obras da capela-panteão dos Jerónimos. Assim, é possível que os

cálculos, os desenhos auxiliares, ou mesmo os instrumentos de precisão, como são as

cérceas – moldes em madeira que registam as linhas, rectas e curvas, que permitiam a

passagem dos cálculos das vistas geométricas para os blocos de pedra –, tenham sido

as mesmas, ou outras semelhantes, utilizadas nas três obras, em Sintra, em Tomar e

em Belém. De facto, parece ter havido uma grande tradição da prática da arte da

cantaria por parte dos Castilho e dos Torralva, que podem bem se relacionar com as

influências das técnicas castelhanas na feitura destas obras, o que aliás não seria nada

de se estranhar, dado que se regista também a actividade de um seu irmão, Gonçalo

de Torralva5, enquanto trabalhador de pedra em locais como Lisboa, Tomar, Miranda do

Douro e Guarda. Portanto, os conhecimentos das técnicas de estereotomia possuíam-

nas certamente os Castilhos e os Torralvas, ou outros mestres de pedraria das

escadarias mencionadas.

3Cfr. António ORIOL TRINDADE, “Jerónimo de Ruão e o Programa Arquitectónico da Capela-Mor do Mosteiro de Santa Maria de Belém”, in O Largo Tempo do Renascimento. Arte, Propaganda e Poder, Catálogo das Actas do Simpósio Internacional de História de Arte, Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, 10, 12 e 14 de Maio de 2004, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, Caleidoscópio, pp.508-513. 4Vitor SERRÃO, O Renascimento e o Maneirismo, Lisboa, Presença, 2003, p.186. 5Cfr. SOUSA VITERBO, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, Lisboa, Imprensa Nacional, 1922, 3 Vols, Vol.III, pp.134-141.

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Figs.4 e 5 – À esquerda e ao centro, escadaria do Claustro do Convento de Cristo de Tomar, c. 1550-1554. Fotos do autor.Fig.6- À direita, escadaria da capela-mor do Mosteiro dos Jerónimos, c. 1565-1570. Foto do autor.

Mas, de forma surpreendente, também verificamos o mesmo modelo ensaiado

anos antes no Mosteiro de Alcobaça, onde sabemos terem sido realizadas pelo menos

duas escadarias em caracol com o intradorso e olho central semelhantes –

possivelmente os exemplos pioneiros no país –, embora a única hoje existente

apresente a moldura do olho central ligeiramente diferente dos exemplos de Sintra, de

Tomar e de Belém. Sem dúvida que as escadarias em caracol de Alcobaça são e foram

da autoria de João de Castilho, realizadas entre 1519 e 1535, como veremos mais

adiante com transcrições documentais. A única hoje existente está no sector de acesso

do pátio contíguo à Sacristia com os arcos botantes [Figs.7 a), b) e c)]. Esta escadaria

está lançada, de forma exemplar, segundo o modelo espanhol de caracol de Maiorca,

mas encontra-se entretanto bastante danificada devido ao factor tempo, principalmente

nas partes superiores6. Este exemplo pioneiro no país, inaugurado por Castilho, assim o

6Aproveitamos aqui a oportunidade de agradecer à Dr.ª Cecília Gil, actual Directora do Mosteiro de Alcobaça e representante do IGSPAR, e, bem assim, à Ex.ª Sr.ª Dr.ª Maria Augusta Pablo Trindade, ex. Directora do monumento cisterciense, por me terem indicado e permitido efectuar um estudo no local, no passado dia 5 de Janeiro de 2009.

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pensamos, vai, com excepção da forma do olho e da moldura central, ser continuado

nos semelhantes exemplos posteriores de Tomar, Belém e dos Archeiros. A marca

hispânica do pormenor de Alcobaça encontra ecos e origens, de facto, noutras

escadarias que existem por toda a Espanha e que encontram os exemplos pioneiros na

zona do Levante Espanhol, como veremos mais adiante. Mas a título de exemplo,

podemos mencionar uma variante, entre muitas, no país vizinho, como a que Rodrigo

Gil de Hontañon concebe para a torre da Catedral Magistral de Alcalá de Henares,

como também viu Alberto Sanjurjo7 (Fig.8).

Mas as geometrias complexas e serpentiantes das escadarias parecem todas

anunciar, em termos formais, essa nova dinâmica e instabilidade que anunciam a

terrível crise que marcou este reinado, com, entre outros aspectos negativos, o

estabelecimento da Inquisição em Portugal. À parte deste aspecto negativo, no entanto,

temos de admitir que D.João III foi, de facto, um amante da arquitectura, talvez por

influência de sua mulher, D.Catarina de Áustria, uma amante das artes e irmã do

poderoso Carlos V, o último César do Ocidente. Assim, talvez seja também por aqui

que verificamos, para além das influências do italianismo renascentista, igualmente

grandes influências castelhanas na nossa arquitectura do século XVI – mediante trocas

de correspondência que certamente houveram e de partilhas e de disputas de gostos

entre as duas coroas, castelhana e portuguesa –, que se reflectem inequivocamente no

modelo de escadaria em caracol que verificamos em alguns monumentos de destaque

em Portugal durante o séc.XVI, pelo menos até ao ano de 1565, data do iníco da

capela-panteão dos Jerónimos.

7 Cfr.Alberto SANJURJO, “El Caracol de Mallorca en los tratados de canteria españoles de la edad

moderna”, in Actas del Quinto Congresso Nacional de Historia de la Construcción, Burgos, 7 e 9 de Junho de 2007, p.842.

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Figs.7 a), b) e c) – Pormenores da escadaria de acesso do pátio contíguo à Sacristia aos arcos botantes do Mosteiro de Alcobaça, por João de Castilho, c.1519-1527-1529?. Fotos do autor, com a permissão da Dra. Cecília Gil, Directora do Mosteiro de Alcobaça e representante do IGSPAR.

Fig.8 – Rodrigo Gil de Hontañon, escadaria da torre da Catedral Magistral de Alcalá de Henares. Foto de Alberto Sanjurjo, “El Caracol de Mallorca en los tratados...”, p.842.

De facto, sabemos que grande parte dos grandes mestres de pedraria e

arquitectos a operar em Portugal, desde o início de Quinhentos, são de origem

espanhola, sobretudo da província da Biscaya, lugar de onde era oriundo João de

Castilho, por exemplo, que consigo trazia uma equipa de trabalho formada por

pedreiros igualmente biscainhos e, bem assim, Diogo de Torralva, que muito

provavelmente era igualmente de origem espanhola. Em relação a Castilho, o autor dos

modelos das escadarias em caracol de Alcobaça e provavelmente de Tomar –

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reabilitados por Diogo de Torralva no novo projecto da crasta de D.João III do Convento

de Cristo –, ao que parece, passara pela Galiza, mas fizera um percurso por Itália, onde

passara em Nápoles e noutros lugares, segundo dizem os nobiliários da época8. Em

Nápoles, onde estivera, não lhe escapou certamente a belíssima escadaria de Guillem

de Sagrera9, no Castel Nuovo, ou ainda, talvez numa passagem a Maiorca, observando

o modelo pioneiro que influenciou aquela, na escadaria em caracol da torre noroeste da

Lonja de Palma de Maiorca, c.1435-1446, igualmente de Sagrera e ao que se crê o

exemplo de caracol de Maiorca mais antigo feito por artistas vinculados às coroas

ibéricas10. O arquitecto biscainho está efectivamente a trabalhar em Portugal desde o

início do século XVI, onde surge em Lisboa a trabalhar em Belém, como se documenta

em 1517, com ajudantes lusos mas também espanhóis, como Rodrigo de Pontesylla,

Pero Goterres, Pero de la Rota, Joham Gllẽz, entre outros, oriundos muito

provavelmente também da região da Biscaya. O mesmo Castilho trabalha

posteriormente em Tomar no Convento de Cristo, onde se sabe que estivera a partir de

1519, e onde terá iniciado algumas obras, mais tarde desfeitas ou continuadas por,

entre outros, Diogo de Torralva. Sabe-se que estivera a partir desse mesmo ano de

1519 em Alcobaça, onde dirigiu por alguns anos as obras da Sacristia e da Livraria

daquele mosteiro cisterciense, rumando novamente a Tomar em 1548 e onde trabalhou

até 1551, altura em que é substituído por Diogo de Torralva11.

Em Alcobaça, sabemos também documentalmente, como aliás já fizemos

8IAN/TT, Corpo Cronológico, parte I, maço 24, Docs. 4, 26, 101. Revelado por SOUSA VITERBO, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, Lisboa, Imprensa Nacional, 1922, 3 Vols., Vol.I, p.183. 9A título de curiosidade, importa referir que Guillem de Sagrera nascera em Felanitx, pelo ano de 1380, oriundo de uma família de canteiros, ou pedreiros, tivera três filhos Antoni, Francesc, Jaume, Guillem e Miquela, e trabalha para além da Lonja de Palma de Maiorca, em outros lugares, como Girona, em França e mais tarde em Nápoles, entre 1447 e 1454, onde faz a reforma do Castel Nuovo, e onde falece no ano de 1554. Cfr. Teresa VALLEJO e Pep Manel de COS, Qui era Guillem Sagrera, site disponível na Web, s.data: http://www.iesguillemsagrera.net/eraguillemsagrera.html. 10Sobre o modelo pioneiro do caracol de Maiorca, por Guillem de Sagrega, entre 1435 e 1446, e a sua proliferação posterior na Península Ibérica vide Alberto SANJURJO, “El Caracol de Mallorca en los tratados de canteria españoles de la edad moderna”..., pág.835; ou o excelente site, disponível na Web, não assinado, Gothic Mediterranean, museo virtual de la arquitectura gótica mediterránea, http://www.gothicmed.com, sobretudo a p.5. 11 IAN/TT, Corpo Cronológico, parte I, maço 24, Docs. 4, 26, 101. Revelado por SOUSA VITERBO, Op.cit., Vol.I, pp.183-198. 12 Como aliás já chamou à atenção Rafael MOREIRA, “A Encomenda Artística em Alcobaça no Séc.XVI”, in Arte Sacra nos Antigos Coutos de Alcobaça, exp., catálogo, Colecção Arte e Património, Lisboa, IPPAR, 1995, p.46.

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referência, da acção de Castilho em alguns sectores do Mosteiro, cujos apontamentos

ainda hoje se podem, embora parcialmente, observar, como na já referida e belíssima

escadaria helicoidal de acesso à Sacristia, certamente por ele mandada fazer – entre

outras que desapareceram, como a do Claustro de D.Dinis, inexplicavelmente

destruída12 – e cujo modelo de caracol de Maiorca, com pequenas variantes ao nível da

moldura central, iremos verificar novamente e inequivocamente nas escadarias da Sala

dos Archeiros de Sintra, do Convento de Cristo em Tomar e na Capela-Panteão de

Santa Maria de Belém em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos. Defendemos a ideia dos

desenhos desta escadaria de Alcobaça e das outras, que foram demolidas há uns anos

atrás, serem do próprio Castilho ou de algum parceiro biscainho que integrasse a sua

equipa de trabalho, uma vez que o respectivo modelo desta escada de caracol

encontramos, anos antes, em abundância na nossa vizinha Espanha, mas já lá iremos

às fontes deste modelo. Continuando com a campanha de João de Castilho nas obras

de Alcobaça – que nos fazem crer da sua autoridade na questão da introdução do

modelo do caracol de Maiorca no nosso país –, mediante novos documentos dados a

conhecer por Rafael Moreira, pelos registos fotográficos a nós gentilmente cedidos pela

Dra. Maria Augusta Trindade, ex-Directora do Mosteiro, e por uma visita recente que lá

fizemos, onde efectuámos outros registos, verificámos que talvez tenha sido mesmo no

mosteiro cisterciense que tenha sido ensaiado pela primeira vez em Portugal o modelo

daquela escadaria, talvez ainda antes da construção das escadarias de Sintra, Tomar e

da Nova Capela-Mor do Mosteiro de Santa Maria de Belém, onde referenciaremos a

primeira mais detalhadamente adiante. Como refere Rafael Moreira, em Alcobaça, na

campanha de Castilho, o “trecho mais belo seria a escada nobre em amplo caracol

unindo os dois pisos [do Claustro de D. Dinis às Varandas superiores] em que Castilho

ensaiou fórmulas que depois desenvolveria em Tomar: estupidamente demolida há

alguns anos, dela resta apenas a caixa vazia”13.

De facto, em termos históricos e documentais, é apenas em Alcobaça que se

conhecem, até ao momento, textos que relatem a construção de escadarias em caracol,

ao contrário das obras de Belém, de Tomar e de Sintra, onde não se referem as

13Idem, p. 46.

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construções das escadarias de caracol que podemos ainda hoje observar e cujos

documentos e desenhos se perderam no tempo. Em Alcobaça, são interessantes as

passagens documentais, reveladas por Rafael Moreira, que relatam a feitura e a

autoridade de João de Castilho na concepção e feitura das escadas em caracol. No rol

das obras, datado c.1527, escreve-se, por exemplo, que na crasta primeira (Claustro I)

“Acabouse hum caracol que he a serventia desta crasta pera as varandas”. Mais à

frente, relativamente à igreja, refere-se que se acabou “ho caracol que esta junto com

ha Samcristia nova fizeram-se portas novas pera dous portados, fezse em cima hua

parede que aparta a charola do eirado do caracol [?] e aqui se puseram huas das

portas novas que se fizeram” [Figs 7a), b) e c)]. Mais adiante, na crasta segunda

refere-se que (2º claustro), “fezse ho caracol que vai pera as varandas desta crasta 2ª “,

onde depois no sector da cobertura de telhados de telha vã, descreve-se que “telhouse

ho caracol da sancristia e ha capela da porta de Santiago”. No final da descrição do rol

das obras surge a assinatura de Joam de Castylho14. Pelo testemunho visual da

escadaria e da documentação, ainda existentes, é de crer assim que tenha sido

Castilho o homem que trouxera para o nosso país este modelo de escadaria, muito

usual na nossa vizinha Espanha, como veremos. Deste modo, é bem possível que o

sucessor do arquitecto biscainho nas obras de Tomar, Diogo de Torralva, se tenha

aproveitado de desenhos ou ideias inicialmente traçadas ou projectadas por Castilho,

pelo menos os relativos às escadarias que ali ainda hoje observamos, ou então que

este artista também estaria familiarizado com os respectivos modelos, o que seria

perfeitamente natural, pois ao que parece era igualmente de ascêndência castelhana.

Sobre Diogo de Torralva, irmão do já referido Gonçalo de Torralva, que sucedera

a João de Castilho nas obras de Tomar, sabe-se que já se encontrava em Portugal pelo

ano de 1520 a trabalhar em Coimbra com Diogo de Castilho e realiza uma capela e

umas sepulturas na zona de Góis. No ano de 1534 este autor casa com a filha de

14IAN/TT, Corpo Cronológico, Parte II, Maço 145, Doc.137: Rol das obras que se fizerão em Alcobaça per ordenança de mestre Baltasar desd’o dia que ha dicta casa chegou ho qual foi ha 5 de Dezembro de 1527 (1529?). Leitura de Rafael MOREIRA e documento revelado pelo próprio, “A Encomenda Artística em Alcobaça no Séc.XVI”..., Apêndice, pp.59-62.

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Francisco de Arruda, viaja posteriormente ao Norte de África, onde se encontra em

Mazagão no ano de 1541, é o novo mestre das obras do Mosteiro dos Jerónimos, entre

1540 e 1541 onde, finalmente, é encarregue e nomeado como arquitecto das obras do

Convento de Cristo em Tomar, no ano de 1554, em substituição de Diogo de Castilho.

Sabemos também que pelo ano de 1551, vistoriou e e realizara algumas obras no

convento da Madre Deus em Xabregas. Torralva veio quase certamente de Espanha

para trabalhar na corte do piedoso, pois, de facto, encontramos, para além dos

italianismos visíveis na sua obra, grandes afinidades com a obra realizada na nossa

vizinha Castela, como é o caso do cadeiral dos Jerónimos, com algumas afinidades em

relação ao cadeiral renascentista do Mosteiro de São Jerónimo em Granada. Por outro

lado, segundo documentação da época, sabe-se que Torralva trabalha e desenha o

cadeiral dos Jerónimos com outro espanhol, Diogo de Çarça, entalhador de madeira15.

Assim, com as fortes ligações das Casas de Avis-Beja e dos Habsburgos, era inevitável

que as influências e as marcas dos artistas castelhanos contaminassem, parcialmente

ou em determinados sectores, a arte portuguesa do século XVI, como aliás se reflecte

nas escadarias em caracol e nos arquitectos e mestres canteiros vindos de Espanha.

De facto, a novidade do modelo da escadaria de Alcobaça, dos Archeiros, de

Tomar e de Belém, encontra uma grande tradição e uso na nossa vizinha Espanha e

França renascentistas, lugares onde a prática de cantaria e a tradição da ciência da

Estereotomia tivera grande tradição, mais do que na própria Itália. Encontramos, com

efeito, a semelhança do modelo usado em Portugal, com outros castelhanos que se

registam, em abundância, anos antes e no mesmo tempo histórico na nossa vizinha

Espanha, não apenas em Castela como também, numa cronologia mais recuada, na

região do Levante espanhol, nomeadamente na região de Valência e cujo modelo mais

precoce remonta à ilha de Mallorca, como já referimos inicialmente.

Centrando-nos no pormenor das escadaria, em relação ao modelo do caracol de

Maiorca, visível em Alcobaça, na Sala dos Archeiros em Sintra, em Tomar e na Capela-

Panteão dos Jerónimos, verificamos que existem, de facto, modelos muito semelhantes

na nossa vizinha Espanha, onde particularmente encontrámos variantes fidedígnas,

15

Cfr. SOUSA VITERBO, Op.cit., Vol.III, pp.125-134; IAN/TT, Mosteiro de Santa Maria de Belém, Maço 4, nº59, Doc.1, folha 3.

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onde até a moldura e o furo central, para além do intradorso, se apresentam

precisamente iguais aos exemplos referidos. Tais exemplos, podemos verificar mais

especificamente numa escadaria da velha, hoje em ruínas e que nunca fora terminada,

igreja della Asunción, na localidade de Tendilla, Guadalajara, em Castela à Velha, perto

de Madrid. No caracol desenvolvido neste exemplo espanhol, verificamos, também um

corrimão em forma de serpentina tórica, visível em Tomar e parcialmente no acesso à

Sala dos Archeiros (Fig.9). O projecto desta igreja está atribuído a Rodrigo Gil de

Hontañon, realizado entre 1539-1542, e ao que parece foi continuado por Francisco de

Nevada, a partir de 1566, que ruma até às obras do Escorial, por ter sido, segundo

consta, um afamado mestre de Cantaria16. Mas verificam-se outros exemplos

paradigmáticos e muito semelhantes ao modelos portugueses na nossa vizinha

Espanha, como os que podemos encontrar nos caracóis dos torreões do palácio dos

Guzmans (Fig.10), atribuído igualmente a Rodrigo Gil de Hontañon, c.156017, na

Catedral Nova de Salamanca, atribuída a Juan Gil de Hontañon, c.1560, e no caracol

da Igreja Paroquial de Villacarrillo em Jaén, na Andaluzia, de Andrés de Vandelvira, que

igualmente apresentam todos corrimão em forma de serpentina tórica, tal como surge

em Tomar (Figs.11 e12).

16 Cfr. no site de J.L.G. de Paz, “La iglesia dela Asunción.Tendilla (Guadalajara, España)”, Dezembro de 2007, pág.2, disponível na Web: http://www.uam.es/personal_pdi/ciencias/depaz/mendoza/tend_igl.htm. 17Cfr. no site não assinado, “Palacio de los Guzmanes. Historia y datos de interés”, 2007, in http://www.barriohumedo.net/gest_web/proto_Seccion.pl?rfID=34&arefid=5&opt=Menu&mid=3.

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Fig.9 – À esquerda, escadaria de caracol de Maiorca, séc.XVI, igreja della Asunción em Tendilla, Guadalahara, Castela à Velha, Espanha, por Rodrigo Gil de Hontañon. Foto do Arquivo pessoal de Tendilla. Fig.10 – À direita, escadaria de caracol de Maiorca, séc.XVI, palácio dos Guzmans, província de León, Espanha. Foto incluída no site, disponível na Web, www.oronoz.com.

Fig.11 – À esquerda, escadaria de caracol de Maiorca, séc.XVI, Catedral Nova de Salamanca, por Juan Gil de Hontañon. Foto do autor. Fig.12 – À direita, escadaria de caracol de Maiorca, séc.XVI, igreja Paroquial de la Asunción, Villacarrillo, província de Jaén, Espanha, por Andrès de Vandelvira. Foto incluída em José Carlos Palacios, Trazas y Cortes de Canteria en el Renacimiento Español, Madrid, Instituto de Conservación y Restauración de Bienes Culturales, 1990, foto.6.4.

Em França, também podemos admirar determinados pormenores na arquitectura

quinhentista onde se ensaia o modelo de escadaria em caracol, sobretudo na região do

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Vale do Loire, onde podemos encontrar mais exemplos paralelos, como no modelo do

Castelo de Chambord, cuja solução do rasgamento das escadarias para o exterior é

muito semelhante à solução que encontramos nos ângulos do claustro do Convento de

Cristo em Tomar (Fig.13). Segundo Jean Marie Perouse de Montclos18, o projecto da

grande escadaria do castelo de Chambord fora realizado por Leonardo da Vinci, na

altura ao serviço do rei Francisco I, casado com D. Leonor de Áustria, irmão da

encomendadora da capela-panteão de Santa Maria de Belém em Lisboa e viúva de D.

Manuel I. Ainda em França, região de onde tinha ascendentes Jerónimo de Ruão, por

exemplo, podemos ainda assinalar exemplos semelhantes e mais longínquos na

cenografia e na geometria das escadarias da capela-panteão de Santa Maria de Belém,

nomeadamente nos exemplos da escadaria renascentista do Claustro de la Psalette da

Catedral de Tours (Fig.14). Outro exemplo verificamos na respectiva cenografia e

perspectiva, que encontramos semelhante também, embora de outra forma, na

escadaria do castelo de Blois conhecida por Escalier de l’aile de François.1er.

Figs.13 e 14 – Da esquerda para a direita, vistas das escadarias renascentistas do Castelo de Chambord e do claustro de la Plasette, em Tours, França, primeira metade do século XVI. Fotos do autor.

18 Cfr. Jean Marie PEROUSE de MONTCLOS, Architectures en Région Centre. Val de Loire, Beauce, Sologne, Berry, Tourraine, Paris, ed. Hachette, 1988, pp.248-249.

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Esta solução originalmente mediterrânica, ensaiada pouco mais tarde também na

prática em Itália, mais especificamente em Nápoles, mas sobretudo em França e em

Espanha, podemos ver mais tarde nos diagramas e nos vários escritos e tratados de

Estereotomia, como os de Philibert de L’Orme, Nouvelles Inventions pour Biens Bastir à

Petits Fraiz, Paris, 1561– citado tardiamente por Mateus do Couto, o tio, na sua obra –,

ou no antigo manuscrito de Alonso de Vandelvira, escrito entre 1560 e 1580, filho de

Andrès de Vandelvira, que transmitira os conhecimentos a seu filho19, entre certamente

muitos outros manuscritos que desapareceram com o tempo. Importa também assinalar

os canais de comunicação e de divulgação, por vezes restritos e mantidos em

secretismo, mantendo-se a sua divulgação por vezes e apenas de pais para filhos, da

ciência da Estereotomia e mesmo da Perspectiva, que foram correntes na Península

Ibérica do século XVI, onde existiu uma cultura de tracistas, como se prova, aliás, em

alguns manuscritos que chegaram aos nossos dias.

Retomando as origens mais remotas na Península Ibérica do modelo da

escadaria do caracol de Mallorca, que pode ser, em último caso, considerado como o

desenvolvimento do modelo mais antigo do caracol de Husillo, este último já utilizado

na arquitectura gótica, vericamos pois que o mesmo, ao que parece, fora ensaiado pela

primeira vez na ilha de Palma de Maiorca, onde proliferou para outros lugares,

primeiramente pelas restantes zonas do Levante espanhol, onde posteriormente se

estenderá por toda a Castela, territórios lusos e França. É, de facto, indubitavelmente

na torre noroeste da Lonja de Palma de Mallorca, que se encontra a escada de caracol

mais antiga da Península Ibérica e, ao que parece, de toda a Europa. Trata-se de uma

escadaria de sentido lejóviro de pequenas dimensões, com 254 cm de diâmetro, um

passo de 96cm e 83 degraus de 19,5cm de altura, cada um, desenhada por Guillem de

19Sobre os métodos geométricos auxiliares decorrentes nos processos estereotómicos dos arquitectos e mestres de obras do Renascimento e do Maneirismo da Península Ibérica e de França vide a excelentes obra, que comporta a única edição facsimilada do tratado de arquitectura de Alonso de Vandelvira, incluindo um glossário hispano-francês de arquitectura, da autoria de Geneviéve Barbé-Coquelin de LISLE, Tratado de Arquitectura de Alonso de Vandelvira, Tomo I, com a transcrição em castelhano das explicações geométricas do autor, e Tomo II, com a reprodução integral facsimiladada dos métodos geométricos e dos respectivos desenhos do autor, Publicação da Caixa de Aforros de Albacete,1977; ou também, no caso específico da ciência da Estereotomia da Pedra em toda a Espanha, a obra de José Carlos PALACIOS, Trazas y Cortes de Canteria en el Renacimiento Español, Madrid, Instituto de Conservación y Restauración de Bienes Culturales, 1990.

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Sagrera entre 1443 e 1446 (Fig.15).

Guillem de Sagrera, ao que parece, ensaiou depois noutra escala a mesma

escadaria em Nápoles, no Castel Nuovo, ainda no final do séc.XV. No mesmo século, o

modelo sagreriano surge novamente em Valência, pelas mãos de Francesc Baldomar,

mais especificamente no caracol de duas subidas rematado por um caracol de olho

aberto, que se encontra na capela real do Convento de Santo Domingo em Valência

(Fig.16)20. Ainda na mesma cidade do Levante espanhol, surgem ainda os magníficos

exemplos das escadarias em caracol de Maiorca de Pere Compte, nascido em Girona e

uma figura chave da arquitectura gótica valenciana do séc.XV, activo entre 1454 e

1506, mestre das obras reais, da cidade e da catedral de Valência e que fora fundador

de um grémio de mestres canteiros. Dos exemplos deste autor, destacam-se os da

Lonja de Valência e o grande caracol de Maiorca da Porta ou Torre de Quart, c.1441-

1460, uma obra muito semelhante ao Castel Nuovo de Nápoles, e onde trabalharam

também Pere Bonfill, Tomàs Oller, Francesc Baldomar e Jaume Pérez [Figs.17: a), b),

c) e d)]21.

Fig.15 – À esquerda, intradorso da escada em caracol de Maiorca, da torre noroeste da Lonja de Palma de Maiorca por Guilem de Sagrera. Foto incluída em Alberto Sanjurjo, “El caracol de Mallorca...”, pág.835. Fig.16 – À direita, intradorso da escada em caracol de Maiorca, da capela real do Convento de Santo Domingo em Valência, por Francesc Baldomar, finais so séc.XV. Foto do site de Arturo Zaragoza Catalán, “Arquitectura gótica valenciana”, 1999-2000, in www.via-arquitectura.net.

20 Cfr. Alberto SANJURJO, “El caracol de Mallorca en los tratados de canteria españoles...”, pp.835-836. 21 Cfr.Idem, p.836; e no excelente site, não assinado, Gothic Mediterranean, www.gothicmed.com, criado no âmbito da exposição, Arquitecturas del Gótico Mediterráneo: 18 de Janeiro a 18 de Fevereiro de 2007, no Museu de História de Valência e, antes, de 27 de Maio a 9 de Julho de 2006 integrada na exposição, com curaturia de Marco Rosario Nobile, Matteo Carnilivari –Pere Compte Exhibition, Palazzo Trigona, Noto, Itália: http://www.gothicmed.com/gothicmed/GothicMed/temporary-exhibitions/Carnilivari-Compte-Italia.html.

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a) b)

c) d)

Figs.17 a), b), c) – Pormenores das escadarias com modelo de caracol de Maiorca, da Lonja de Valência, por Pere Compte, finais do séc.XV. Fig.17 d) – Em baixo à direita, pormenor do intradorso da Porta de Quart ou Torre de Quart, construída entre 1441 e 1460, por Pere Compte e outros autores.

Em Portugal, no Palácio Nacional de Sintra, podemos verificar outro reflexo

destes modelos espanhóis, na escadaria em caracol de Maiorca, talvez ainda mais

antiga que os exemplos de Tomar e de Belém e certamente construída no mesmo

tempo em que se fizera o caracol da escadaria que dá acesso à sala dos Archeiros,

pois o modelo – possivelmente desenhado por João de Castilho, ou por Torralva – e a

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moldura central são idênticos, apesar da menor escala do primeiro: referimo-nos à

escadaria em caracol que do pátio dá acesso à Sala dos Hóspedes, com um intradorso

bastante bem resolvido, tal e qual como na escadaria que dá acesso à Sala dos

Archeiros, mas que hoje se apresenta algo danificado devido ao factor tempo (Fig.18).

Fig.18 – Pormenores das escadaria de acesso do pátio ao quarto dos Hóspedes, no Palácio Nacional de Sintra, meados do séc.XVI. Foto do autor.

Ainda no Palácio Nacional de Sintra, podemos encontrar um modelo goticista,

mais antigo que o modelo de Maiorca e que permitiu o desenvolvimento conceptual

deste último. Referimo-nos ao já referido modelo de caracol de Husillo, bastante

descrito nos tratados de Estereotomia do séc.XVI e que podemos encontrar nas

pequenas escadarias das Salas das Sereias e dos Árabes daquele palácio de Sintra

(Fig.19). Este modelo, menos complexo que o de Maiorca, na geração e concepção do

módulo-degrau, fora também já largamente utilizado no final da Idade Média, quer em

Espanha, quer em França. No país vizinho encontramos exemplos realizados em finais

do séc.XV, como surge, por exemplo, novamente na Lonja de Valência, e que se

prolifera noutros focos peninsulares, como, por exemplo, na bem conseguida escadaria

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da igreja do Mosteiro de la Vid, em Burgos, pelo biscainho Sebastián Oria (1522),

conterrâneo de João de Castilho, e Pedro de Resines (1542), com o intradorso

exemplarmente resolvido (Figs.20 e 21).

Fig.19– Em cima, à esquerda, pormenor da escadaria de caracol de modelo de Husillo, de acesso à sala das Sereias Àrabes no Palácio de Sintra. Foto do autor. Fig.20 – Em cima, à direita, pormenor do intradorso da escadaria da igreja do Mosteiro de la Vid, em Burgos, por Sebastián Oria (1522) e Pedro de Resines (1542). Foto de José Carlos Palacios, Op.cit., p.113. Fig.21 – Em baixo, pormenor do caracol de Husillo da Lonja de Valência, atribuído a Pere Compte, finais do séc.XV. Foto do autor.

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A geometria implícita das superfícies modeladoras das escadarias do

modelo dos caracóis de Husillo e de Mallorca

Na concepção deste tipo de escadarias, ora utilizando o modelo do caracol de

Husillo, ora utilizando o modelo do caracol de Maiorca, as superfícies desenvolvem-se a

partir de hélices cilíndricas, algumas delas normalmente eram registadas no cilíndro

que circunscreve a caixa da escadaria. Assim, os autores teriam, antes de mais, de

registar ou de simular uma ou mais hélices na superfície cilindrica da caixa espacial

para o posterior desenvolvimento da escadaria, pois aquela permitia o correcto

alinhamento dos vários módulos correspondentes a cada degrau.

A hélice, como sabemos, é uma linha gerada pelo movimento de um ponto, de

forma uniforme, que roda em torno de um eixo, normalmente vertical, como é o caso

das escadarias do Palácio de Sintra. Os autores, antes de realizarem o modelo em

pedra, ou o seu módulo-degrau, começaram certamente por definir o raio ou os raios

das hélices directoras, o respectivo passo, assim como estabelecer o sentido de

rotação e o número de espiras. O passo da hélice consiste no comprimento do

segmento de geratriz da superfície cilíndrica que apoia o desenvolvimento das hélices

que modelam a superfície e a espira consiste na dimensão determinada da rotação de

360º do arco da hélice modeladora. Assim, os autores começariam por dividir a

circunferência-directriz de base da escadaria, determinado desta forma o número de

degraus por espira, para além de definirem o passo da hélice, ambos num número

determinado de partes iguais, que podia ser variável.

Uma vez definidos o passo, o número de espiras e a subdivisão da

circunferência de base, para o desenvolvimento da escadaria, é agora possível

desenvolver os helicóides rectos que modelam o intradorso, a moldura e os degraus

deste modelo arquitectónico. Em termos científicos, o helicóide recto é um conóide,

onde a directriz curva é a própria hélice cilíndrica e o plano director, sobre o qual se

movem as geratrizes a ele paralelas, é perpendicular à outra directriz vertical, que nada

menos nada mais é que o eixo das superfícies coaxiais que modelam a escadaria.

Deste modo, no caso particular dos helicóides rectos que modelam as escadarias,

verifica-se que os mesmos são gerados por uma linha recta, de nível, paralela ao plano

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horizontal, ou plano director, apoiando-se constantemente nas duas directrizes fixas,

uma vertical, o eixo vertical central, à qual é perpendicular, e outra curvilínea, que é a

própria hélice prédeterminada. Por conseguinte, a superfície de parafuso de filete ou

rosca rectangular principal, gerada pelo helicóide recto e que modela o intradorso da

escadaria do tipo das de Alcobaça, da Sala dos Archeiros, de Tomar e de Belém, de

modelo de caracol de Maiorca, corresponde à área delimitada por uma das duas folhas

do helicóide gerador principal, mais especificamente o compreendido entre o cilíndro

exterior de raio maior, no qual se apoiarão os posteriores degraus, e o cilíndro interior, o

qual determina a abertura ou o furo central, delimitado por uma moldura característica e

variável [Figs.22 a), b), c) e d)].

Figs.22 a), b), c) e d) – Alçados e vista superior de uma escadaria de modelo caracol de Maiorca. Desenhos computarizados do autor.

Em relação ao intradorso deste tipo de escadarias, e bem assim de cada módulo

do degrau que gera o primeiro, verifica-se também que a superfície de parafuso de

filete ou rosca rectangular que o modela é formada por uma concordância limitada de

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parabolóides hiperbólicos isósceles. Com efeito, os planos tangentes ao helicóide na

infinidade de pontos de cada geratriz de nível ficam determinados por essas geratrizes

e pelas respectivas tangentes às hélices nesses pontos. Ao mesmo tempo, as

tangentes às hélices pertencem aos planos tangentes às respectivas superfícies

cilíndricas de base correspondentes, que por serem perpendiculares à respectiva

geratriz do helicóide, são desta forma todos paralelos entre si. Assim, resulta que a

infinidade de tangentes às hélices ao longo de uma geratriz determinam um parabolóide

hiperbólico concordante com o helicóide nessa geratriz em particular. Por outro lado,

pelo facto de o plano director das geratrizes do helicóide ser perpendicular ao eixo

deste último, verificamos que o parabolóide hiperbólico concordante ao longo do

helicóide é isósceles, como aliás bem se verifica na forma do intradorso de cada

módulo-degrau da escadaria [Fig.23 a), b) e c) e Fig.24]22.

Fig.23 a), b) e c) – Rotação no sentido da esquerda para a direita, do parabolóide hiperbólico isósceles, modelador da parte inferior do módulo do degrau gerador da escadaria. Desenhos computarizados do autor.

Fig.24 - Foto do autor, mostrando o intradorso de uma das escadarias do Convento de Cristo de Tomar, semelhante ao modelo utilizado na Sala dos Archeiros e na capela-panteão do mosteiro dos Jerónimos, onde podemos verificar a concordância das superfícies empenadas materializadas em rocha.

22 Sobre a hélice e o desenvolvimento dos helicóides e as superfícies de filete ou rosca rectangular vide José MOUTINHO, “Superfície de Parafuso de Filete ou Rosca Rectangular (Sombras própria e projectada)”, in Relatório no Âmbito da prova prática apresentada a concurso de candidatura ao grau de Professor Agregado do 3º Grupo da FBAUL, Lisboa, 1991, pp.5-7.

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As etapas possíveis do processo geométrico-conceptual na lavragem da

rocha: as memórias descritivas dos mestres de cantaria

Em Alcobaça, Sintra, Tomar e Belém: modelo de Caracol de Mallorca

Em termos geométricos e científicos, como vimos, o modelo das escadarias de

Alcobaça, de Sintra, de Tomar e de Belém (Fig.22), corresponde a uma composição de

superfícies empenadas agregadas e correspondentes a superfícies de parafuso de

filete ou rosca rectangular, que são, no respectivo intradorso e mesmo na moldura,

formadas por uma ligação de uma infinidade de parabolóides hiperbólicos isósceles, ou

seja, determinados por uma directriz vertical, que é o próprio eixo das superfícies

helicoidais que modelam a escadaria, e outras mais distantes que lhe são enviesadas e

que correspondem às cordas de arco dos passos relativos a cada módulo degrau, onde

as geratrizes de nível e concorrentes com as directrizes referidas, perpendiculares à

directriz vertical, deslocam-se paralelamente ao plano director do solo e apoiam-se

consecutivamente e constantemente nos pontos das hélices directoras: as da caixa

maior e as da moldura e do furo, olho central.

O modelo do miolo interno deste tipo de escadarias em Portugal, utilizado em

Espanha na mesma época e já na Renascença com o nome de “Caracol de Mallorca”,

encontramos pela primeira vez, ao que parece, em Alcobaça, como vimos, ou mesmo

no Paço de Sintra, onde só mais tarde surge em Tomar, com as soluções

chambordianas da autoria de Diogo de Torralva – aproveitando uma hipotética solução

de Castilho para ali –, da parte interna das escadarias, muito semelhantes às que

Jerónimo de Ruão readapta em Belém, ligeiramente posteriores, mesmo em termos de

proporção e medida23. Todas são modeladas por superfícies geométricas de curvaturas

23Aproveitamos aqui a oportunidade para agradecer ao Ex.º Sr. Dr. Jorge CUSTÓDIO, director do Convento de Cristo de Tomar, a permissão para o autor do presente texto analisar, directamente no local, as duas escadarias helicoidais existentes no Claustro de D. João III, onde deparámos que, de facto, muito provavelmente os respectivos desenhos de Torralva, ou de outro autor, do miolo interno das escadarias, com excepção do corrimão, hoje perdidos ou inexistentes, foram os mesmos que Jerónimo utilizou em Belém, pois também sabemos, após conversa com Vitor SERRÃO, que parte significativa da mão de obra do estaleiro tomarense rumou a Lisboa para a construção da capela de D. Catarina. E é natural que, conjuntamente com a mão de obra, os obreiros transportassem consigo determinados esquemas, desenhos e traças, ou mesmo as cérceas, compassos e outros instrumentos auxiliares que permitiram a construção dos pormenores arquitectónicos.

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opostas, empenadas e não planificáveis, de parafuso de filete ou rosca rectangular.

Como se pode verificar nos vários tratados de Estereotomia do séc.XVI, no

processo de lavragem da rocha, para a concepção de cada módulo-degrau gerador das

escadarias, os autores começam por desenhar a caixa espacial em planta e o

respectivo olho central, dividindo a circunferência em partes iguais, relativamente ao

número de degraus escolhidos, e também a moldura, que varia na sua forma. A planta

do degrau, ou a sua vista superior, serve de molde que permite lavrar o prisma

circunscrito ou envolvente que irá conter todo o degrau. O mesmo molde da planta,

permite o traçado do perímetro do leito inferior e superior do degrau. Para garantirmos

que os degraus fiquem bem ligados entre sí, como se pode verificar na continuidade

das várias molduras e dos intradorsos que se ligam sem quebras, ter-se-á que verificar,

através da planta, o traçado do degrau anterior ou posterior, adjacentes ao degrau

considerado. Assim, uma parte da moldura do degrau seguinte cobrirá sempre uma

parte vazia, “incompleta” e de nível, do degrau adjacente, que assim permite uma

continuidade e uma ligação.

As molduras dos caracóis de Maiorca, geralmente apresentam três variantes

possíveis em relação ao intradorso empenado das escadarias24. Como primeiro

exemplo, verificamos o intradorso tangente a um macho de directriz circular, assim

acontece com o modelo de caracól de Husillo, como veremos detalhadamente mais

adiante. Uma segunda variante surge quando a moldura escolhida e o intradorso se

unem mediante uma linha que mais não é do que uma hélice de raio diferente das

hélices da caixa principal, de raio maior. Numa terceira variante – a que corresponde

aos modelos ensaiados em Portugal e descrita em vários tratados sobre o assunto –,

verificamos a moldura completamente saliente em relação ao intradorso maior da

escadaria, ou seja, gerando outras linhas e superfícies helicoidais. Esta variante

podemos dizer que é mesmo a mais complexa e a de mais difícil execução, na medida

em que os operadores terão de garantir a continuidade da ligação das superfícies de

cada módulo do degrau gerador, ou seja, garantir o desenho de todas as hélices que

recortam ou modelam a moldura saliente escolhida.

Embora já operassem ao tempo com estas superfícies helicoidais, contudo, os

24 Cfr. Alberto SANJURJO, “El Caracol de Mallorca en los tratados de cantería...”, p. 841.

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mestres de pedraria dos séculos XV e XVI, como foram os que realizaram as presentes

escadarias, desconheciam ainda no tempo o total significado científico das mesmas,

conseguindo, contudo, a concepção e a articulação do módulo do degrau com

desenhos geométricos de cálculo preciso, cujos ângulos e curvaturas eram registadas

nas faces do bloco de rocha em bruto, mediante cérceas – moldes auxiliares –, onde

posteriormente se procedia ao desbaste, que era orientado pelas vistas necessárias

desenhadas nas faces do bloco bruto do paralelipípedo circuncrito inicial. No processo

de desbaste da rocha, antes de mais, considerava-se o prisma paralelipípedo que

continha o degrau, com a altura deste último, onde posteriormente se retiraria uma

parte considerável da pedra a partir do plano horizontal inferior, correspondente ao leito

inferior do bloco. Com este desbaste, lavrava-se a superfície do intradorso do módulo-

degrau do caracol, que a ser feito com rigor seria um helicóide recto de plano director.

Sanjurjo defende a ideia de que na lavra desta parte do módulo degrau da escadaria,

bastaria apenas apoiar uma régua em duas hélices: uma delas invariante, a que se

apoia no cilíndro que encerra a caixa da escadaria; e uma outra variável, a

correspondente à moldura central25. No entanto, embora em teoria tal fosse possível,

pensamos que na prática não seria bem assim o método de desbaste, uma vez que a

hélice ou as hélices, ou os respectivos troços daquelas, da moldura central, estariam

encobertas pelo próprio bloco do prisma da pedra inicial.

Um dos manuscritos mais antigos que se conhecem de estereotomia peninsular,

que descreve o método da realização, de entre outras formas, dos modelos da

escadaria de Maiorca e de Husillo, encontra-se na obra de Alonso de Vandelvira,

certamente transmitido por seu pai, Andrès de Vandelvira, célebre arquitecto

renascentista de quem o filho Alonso terá herdado os conhecimentos. O método

descrito por Vandelvira, c.1575-159026, apesar de ter sido escrito depois dos exemplos

portugueses, pensamos que terá sido muito semelhante ao utilizado pelos autores das

escadarias em caracol realizadas em Portugal. O texto de Vandelvira é um pouco

hermético na explicação, contudo, conseguimos perceber perfeitamente o método

proposto pelo autor. No caso do modelo do caracol de Maiorca, este autor começa,

25 Cfr. Idem, p.842. 26 Cfr. Geneviéve Barbé-Coquelin de LISLE, Op.cit.,Tomo I, p.18.

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depois de traçar a caixa cilindrica envolvente da escadaria, por dividir o diâmetro dos

respectivos degraus em seis partes iguais; estabelece, também, a medida de um pé e

de meio pé, respectivamente para o perímetro e para a respectiva altura do módulo

degrau (Figs.25 e 26)27.

Fig.25 – À esquerda, Alonso de Vandelvira, cálculo geométrico para a realização do módulo-degrau de uma escadaria de Caracol de Mallorca, Ilustração do Manuscrito c.1575-91, Libro de Traças de Cortes de Piedras..., folha 50 verso. Fig.26 - À direita, desenho de José Carlos Palacios, Trazas y Cortes de Canteria en el Renacimiento Español..., pág.114.

No desenho de Vandelvira (Fig.25), o autor apresenta o degrau visto pela sua

face inferior, onde, como também observa Palacios28, uma vez estabelecido o desenho

e o molde da planta, este é aplicado duas vezes, nos leitos inferior e superior do prisma

de pedra capaz, ou seja, no bloco do paralelipípedo circunscrito que irá conter o

módulo-degrau gerador da escadaria. Neste sentido, a torsão característica de cada

degrau, ou das suas partes, incluíndo a moldura central, como refere bem Vandelvira

no seu manuscrito do corte das pedras, era possível mediante a rotação, numa

determinada amplitude reduzida, do molde da planta principal do degrau, registada na

27 Cfr. na explicação de Vandelvira: Idem, Tomo I, pág.91, folhas 51 frente-51 verso; Idem, Tomo II, folha 50 verso. Cfr., também, a boa interpretação de José Carlos PALACIOS, Op.cit., pp.114-115. 28Cfr. José Carlos PALACIOS, Op.cit., p.115.

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face superior e na face inferior do bloco em pedra, após uma ligeira rotação, para um

dos lados – dependendo do sentido das hélices –, do molde em torno do eixo da

superfície, que corresponde ao centro da planta circular da escadaria. Nesta rotação, o

molde pela parte inferior gira uma pequena amplitude de forma a garantir a posição do

módulo seguinte, igual e que com aquele se liga, ou pela parte superior, ou pela parte

inferior. Este movimento pela parte inferior do molde do degrau gera ao mesmo tempo

uma cabeça prismática que depois se desdobra até se aproximar de um volume

contentor do conjunto das pequenas molduras que adornam os extremos do degrau29.

Claro está que esta rotação da face do molde e do respectivo registo na pedra em

bruto, era precedido de um cálculo prévio, onde se calculavam o número de degraus

por espira, ou numa volta completa da superfície, o que se fazia, mediante a subdivisão

da planta da circunferência da escadaria em partes iguais, onde se registava o “olho”

central e outro secundário correspondente à largura e à espessura da moldura interior.

Podemos recriar um método aproximativo bastante simples e possivelmente

utilizado pelos autores das obras referidas portuguesas, para a construção de cada

módulo-degrau do modelo de escadaria do caracol de Maiorca. Considere-se, assim,

em primeiro lugar, ou como primeiro passo na resolução do problema, um bloco de

rocha paralelipípedo onde se inscreve o degrau e considere-se, ao mesmo tempo, a

planta do degrau, que é registada com um molde na parte superior do bloco (Fig.27a).

Seguidamente, num segundo passo, os autores podiam perfeitamente desbastar o

bloco ortogonalmente em relação aos leitos de nível, superior e inferior, paralelos entre

si, lavrando a rocha e obtendo a forma que se observa noutra figura (Fig.27b).

Fig. 27 a) – À esquerda, 1º passo do processo geométrico conceptual. Desenho computarizado do autor. Fig. 27 b) – À direita, 2º passo do processo geométrico conceptual. Desenho computarizado do autor. 29Cfr. Idem, p.125

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Posteriormente, considerando esta última forma obtida, os autores, num terceiro

passo, podiam obter as formas do bloco final, por meio da marcação e da união de

pontos resultantes da geometria das partes e vistas inferior e superior do módulo-

degrau. Assim, como podemos ver na planta total do degrau definitivo, num desenho

semelhante ao de Vandelvira (Fig.27c), o leito ou a cara superior está assinalado a

azul, delimitado pelos pontos A, B, C, D, E, F e H, e o leito ou a cara inferior, assinalado

a vermelho, está delimitado pelos pontos A1, B1, C1, D1, E1, F1 e G.

A

B

E≡B1

A1

D≡E1C

C1

D1

F1

F≡

≡H

G

Fig. 27 c) – 3º passo do processo geométrico conceptual. Desenho computarizado do autor.

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Com este método possível e bastante viável, que poderia ter sido utilizado pelos

autores, é possível obter o desenho e a forma rigorosa do degrau final. Para tal, como

podemos visualizar noutro desenho, representando uma axonometria com vistas à

transparência do degrau com os pontos referidos (Fig.27 d), bastaria agora unir os

pares de pontos das vistas superiores e inferiores do módulo-degrau, delimitando e

desenhando os arcos e as linhas que separam as zonas cheias das zonas finais de

extração da rocha. São como exemplo dessas linhas, os arcos AA1, BB1, CC1 e DD1.

Fig. 27 d) – Representação axonométrica do 3º passo do processo geométrico conceptual. Desenho computarizado do autor.

Uma vez determinadas e registadas as linhas na forma resultante da primeira

lavra, podemos agora visualizar, nessa forma em pedra, as partes que irão finalmente

ser cuidadosamente desbastadas até ao módulo-degrau definitivo [Figs. 27: e) e f)].

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Figs. 27:e) e f) – Representação axonométrica do 3º passo do processo geométrico conceptual, com vistas axonométricas das linhas finais necessárias para o desbaste final. Des. computarizados do autor.

Assim, as últimas linhas referidas, resultantes da união dos pares de pontos,

como se pode agora visualizar, separam as zonas definitivas do módulo das zonas

finais de extração da rocha: as primeiras assinaladas com o tom creme; as segundas

assinaladas com a cor azul (Figs. 28: a), b), c) e d)].

Figs. 28: a), b), c) e d) – Representação axonométrica do 3º passo do processo geométrico conceptual, com vistas axonométricas das linhas necessárias que delimitam as áreas e os volumes para o desbaste final. Desenhos computarizados do autor.

Uma vez extraída ou desbastada a rocha que está a mais, nas figuras anteriores

nas áreas assinaladas a azul, podemos agora, finalmente, visualizar o módulo-degrau

definitivo e a complexidade da respectiva forma, que uma vez repetida e conjugada

permite a concepção final da escadaria do modelo de Maiorca [Figs. 29 a), b), c) e d) e

Fig.30]30.

30 Nos desenhos explicaticos considerámos uma síntese relativamente à moldura do olho central da escadaria, ignorando os adornos, mas os mesmos podiam-se resolver pela mesma forma.

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Figs. 29 a) e b) – Representação axonométrica de duas vistas do módulo-degrau definitivo. Desenhos computarizados do autor.

Figs. 29 c) e d) – Representação axonométrica de duas vistas do módulo-degrau definitivo. Desenhos computarizados do autor.

Fig.30 – Representação perspéctica do modelo final da escadaria de caracol de Maiorca, resultante da repetiçaõ e interligação, inferior e superior, de cada módulo-degrau. Desenho computarizado do autor.

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Nas salas das Sereias e Árabes no Palácio Nacional de Sintra: modelo de Caracol

de Husillo

Já no modelo de caracol de Husillo, visível no Palácio de Sintra, na escadaria de

escala mais reduzida da Sala das Sereias (Figs.3 e 18), verificamos que o desenho e a

concepção não é tão bem conseguida como, por exemplo, no modelo de Maiorca da

Sala dos Archeiros. Qualquer das formas, neste modelo mais antigo, utilizado no gótico

e no final da Idade Média, a hélice geradora e o helicóide surgem novamente como

linhas e superfícies essenciais. Também este modelo é descrito mais tarde do que o

exemplo de Sintra, por Alonso de Vandelvira, como se verifica no mesmo manuscrito já

por nós referenciado (Fig.31). Neste caso, na concepção do módulo do degrau, mais

simples que o modelo do “Caracol de Mallorca”, era primeiramente assinalado o passo,

onde posteriormente eram assinaladas a altura do mesmo, bem como as duas vistas

superior e inferior, que eram registados em moldes ou cérceas que permitiam a

marcação no bloco em bruto. Também aqui, de forma semelhante, o desbaste da rocha

era efectuado a partir das marcações previas das linhas e das vistas necessárias no

módulo do bloco em bruto da rocha lavrada: da altura, das curvaturas necessárias, do

ângulo, do passo e das vistas inferior e posterior que assim permitiam desbastar

correctamente a rocha. Vandelvira, neste caso, recomenda para, em primeiro lugar, se

traçar a caixa da parte de dentro do que a caixa da parte de fora, uma vez que esta

nem todas as vezes é perfeita – pois, “no todas vezes guarda el redondo, antes se

acomoda con la parte donde está pegada”. Seguidamente, recomenda que se trace o

pilar, ou o macho do meio, ao centro, ou seja o núcleo central “a tu voluntad y conforme

fuere la piedra dura u franca”. Em seguida, Vandelvira sugere para se traçar a planta do

módulo-degrau, o que corresponde em termos de medida a um passo da escadaria, a

qual tem como medidas um pé e meio de largura por três quartos de pé de alto, ou de

altura. Prossegue o autor, sugerindo para depois de conceptualizada a planta, a registar

no bloco da rocha, depois de lavrados os leitos alto e baixo com a altura escolhida,

onde assim será possível registar o molde da referida planta mediante o auxílio de

“entrambos cabos” (entenda-se da união das partes, que podiam ser pontos), onde se

lavram todas as vistas à esquadria dos leitos. Vandelvira refere a importância, tal como

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vimos com o modelo de caracol de Maiorca, da união dos leitos inferior e superior do

degrau, ou seja, das partes que permitem a união dos módulos-degraus geradores da

escadaria. Na parte final da descrição, Vandelvira sugere que não há necessidade de

se lavrar com tanto rigor a parte do degrau que penetra na respectiva parede da caixa

espacial, uma vez que esta nem sempre é regular31.

Fig.31 – À esquerda, planta e molde do degrau do caracol de Husillo, por Alonso de Vandelvira, Tratado de Arquitectura, manuscrito..., folha 50 frente. Fig. incluída em Barbé Geneviève e Coquelin de Lisle, Op.cit.,Tomo II. Fig.32 – À direita, planta e alçado de uma escada de modelo de caracol de Husillo, por José Carlos Palacios, Trazas e Cortes de Canteria en el Renacimiento..., pág.113.

31Geneviéve Barbé-Coquelin de LISLE, Op.cit.,Tomo I, pp.90-91; no tratado do manuscrito original, folhas 49 verso-51 frente.

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José Carlos Palacios interpreta bem este desenho do arquitecto andaluz. Como

refere este autor, apoiando-se no desenho de Vandelvira e noutro desenho seu

interpretativo (Fig.32), as linhas 1 e 2 compreendem e delimitam a volta ou a largura

máxima do degrau, mas para a sua forma superior completa teremos de considerar

outra linha 3 limite, que se traça tangente ao núcleo central, criando desta forma a

superfície B, triangular e semiplana que unifica e interliga os vários degraus, inferiores e

superiores; esta fica delimitada superiormente pelas linhas 2 e 3. A lavra do módulo

deste tipo de escadaria não oferece grandes dificuldades, pois basta considerar o

molde da planta e talhar à esquadria o prisma de pedra que irá circunscrever o degrau,

com a altura escolhida. A parte ou o leito superior do degrau fica delimitado pelas linhas

1 e 3 e pelas semicircunferências que delimitam o núcleo central e a caixa cilíndrica de

suporte; na parte ou no leito inferior desbasta-se a área delimitada pelas linhas 3 e 4,

que resulta numa semisuperfície regrada e empenada, um troço de parabolóide

hiperbólico, como aliás acontece no leito inferior do módulo-degrau do modelo de

caracol de Maiorca, como vimos anteriormente. Importa referir que, entre estas duas

linhas, 3 e 4, situadas no leito superior e inferior, todas as outras se apoiam na hélice

exterior e são tangentes ao semicilíndro do núcleo central, gerando assim uma

semisuperfície regrada e empenada. Contudo, ainda no leito inferior, mantém-se plana

a semisuperfície triangular delimitada pelas linhas 1 e 4, gémea da referida

semisuperfície plana B, que permitem fazer a ligação com os degraus inferiores. Na

parte superior, a semisuperfície plana B delimitada pelas linhas 2 e 3, permite fazer a

ligação do respectivo módulo-degrau com os congéneres superiores seguintes32.

Podemos, também aqui, fasear e visualizar melhor a concepção do modelo do

módulo com o auxílio de desenhos digitais em 3D. Numa primeira fase, considera-se o

prisma do bloco de rocha em bruto e desenha-se na parte superior o molde da planta

(Fig.33a). Numa segunda fase, lavra-se a rocha de forma ortogonal aos planos dos

leitos superior e inferior de nível, resultando num novo sólido onde sobressai o núcleo

central cilíndrico e os quatro semiplanos que com aquele se interligam: dois deles nos

mesmos planos de nível superior e inferior do sólido, outro convergente para o eixo do

32 Cfr. José Carlos PALACIOS, Op.cit., p.114.

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núcleo cilíndrico central e finalmente o último tangente ao referido núcleo central

(Fig.33:b). Depois desta primeira lavra, os autores podiam, por conseguinte, desenhar

nas faces necessárias do bloco, entretando já desbastado e agora já aproximado do

resultado final, as linhas rectas e curvas finais necessárias para os desbastes finais,

desenhos esses que se marcavam mediante cérceas auxiliares (Fig.33:b,c e d). Resta

agora, por fim, a partir das últimas linhas registadas, extrair as partes finais da rocha do

módulo (nas Figs.33:e e f, vide as zonas sublinhadas a azul), obtendo finalmente a

forma do degrau desejada, que por repetição do módulo permite desenvolver e

construir a tão desejada escadaria (Figs.33:g,h,i, j e l e Fig.34).

a) b) c) d)

e) f) g)

h) i) j)

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l) Fig.34

Figs.33 a – l – Na página anterior e nesta página à esquerda, explicação da construção do módulo degrau do modelo de caracol de Husillo. Desenhos computarizados do autor. Fig.34 – À direita, fragmento do miolo de uma escadaria de caracol de Husillo. Desenho computarizado do autor.

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